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EDUCAÇÃO E ALGUMAS VERTENTES 1 Dr. Daniel Sotelo 2 Goiania, 2014 1 Estudos e trabalhos elaborados para professores no doutorado em Educação na UFG, para o pós Dr. Daniel Sotelo 2012 - 2013. 2 Formado em filosofia e Teologia, mestre e Doutor em Ciências da Religião, pós-doutorado em Educação, com 16 livros publicados.

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EDUCAÇÃO E ALGUMAS VERTENTES1

Dr. Daniel Sotelo2

Goiania, 2014

1 Estudos e trabalhos elaborados para professores no doutorado em Educação na UFG, para o pós – Dr.

Daniel Sotelo 2012 - 2013. 2 Formado em filosofia e Teologia, mestre e Doutor em Ciências da Religião, pós-doutorado em

Educação, com 16 livros publicados.

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SUMÁRIO

1 EDUCAÇÃO PARA OS GREGOS

2 A EDUCAÇÃO EM ALGUNS PENSADORES

2.1 SÓCRATES

2.2 PLATÃO

2.3 ARISTÓTELES

5 THEODOR ADORNO POR HABERMAS

HABERMAS E A EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO E TEORIA CRÍTICA

6 GRUPO E PRECONCEITO EM ADORNO E HABERMAS

7 REFLEXÕES SOBRE UM NOVO TIPO DE PROFESSOR

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1 EDUCAÇÃO PARA OS GREGOS3

Werner Jaeger mostra, que a polis é o centro do exercício e do pensar e

a partir do qual se organiza historicamente o período mais importante da

evolução Grega. A polis é o marco social da história da formação Grega

representa um princípio novo, uma forma mais consistente e acabada da vida

social do ser humano.

Tão antiga quanto à filosofia, o pensamento educacional se desdobra

em várias correntes, mas suas raízes estão fundadas na Grécia antiga. São

séculos de reflexão, veremos como a influência desses pensadores, suas

idéias foram incorporados à prática pedagógica.

Contexto histórico começa com questões sobre o próprio homem. No

sec. VIII a. C. os gregos fundam colônias espalhadas pelo mediterrâneo. Desde

a Jônia, na Ásia menos até o sul da Itália. No início predomina uma discussão

voltada para os problemas cosmológicos. A arché, a origem do universo, a

physis: a natureza em processo de transformação perene.

O uso da razão, inicia em Mileto na Jônia. Aqui se mostra como tudo

começou: o assombro, o medo que dominavam os povos antigos dera lugar a

uma nova forma de reflexão: amor à sabedoria.

O século VII e VI a. C representam períodos cheios de grande estímulo

para a formação da civilização grega. Assimilando elementos de outras

culturas, ora adaptando, ora aprimorando. O que é certo é que os gregos

construíram uma civilização admirável.

A educação clássica do homem na Grécia arcaica foi sistematizada por

Homero (Em Epopeia) e se assenta na idéia de uma formação humana

baseada na nobreza – uma ética aristocrática – que busca a excelência

humana atingida pela Aretê = virtude e o prestígio adquirido na polis

Aretê – tema essencial da formação grega. (Virtude - Aretê)

3 Reflexão sobre história da Educação, 2012, trabalho feito como cumprimento parcial para Filosofia da

Educação I.

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O início da Democracia se dá por volta do século V a. C em Atenas.

Esparta que já incentivara um ideal de educação baseada na excelência

humana, perde influência e Atenas assume o protagonismo. A educação deixa

de ser militar e assume conotação civil. A formação do nobre aristocrata se dá

através do exercício físico e da música.

A educação se torna coletiva, grupal. Exige-se a institucionalização da

educação.

O centro da discussão será o homem, seus problemas práticos e

particulares. A educação é Antropocêntrica.

O ideal educativo subordina a conduta humana à educação idealizada

pela coletividade política. O estado assume a educação do indivíduo.

2 A EDUCAÇÃO EM ALGUNS PENSADORES

2.1 SÓCRATES

O primeiro foi Sócrates (469-399 a. C) o qual pensava que os jovens

deveriam ser ensinados a conhecer o mundo e a si mesmos.

O seu pensamento marca uma reviravolta na história humana. Até então

a filosofia procurava explicar o mundo baseado na observação da natureza.

Com Sócrates o ser humano voltou-se para si mesmo. Sua preocupação era

levar as pessoas por meio do autoconhecimento, a sabedoria e à prática do

bem. Também os Sofistas se voltavam para o homem, mas com um objetivo

imediato de um conhecimento enciclopédico. Sócrates concebia o homem

como um composto de dois princípios, alma (ou espírito) e corpo. De seu

pensamento surgiram duas vertentes da filosofia, como tendências do

pensamento ocidental. Uma é a idealista (Platão), ao distinguir o mundo

concreto do mundo das idéias, e deu a estas o status de realidade; e a outra

realista, Aristóteles que submeteu as idéias às quais se chega pelo espírito, ao

mundo real.

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Defensor do diálogo como método de educação (maiêutica – o parto das

ideias). Sócrates considerava muito importante o contato direto com os

interlocutores. Para ele ninguém adquire a capacidade de conduzir-se, ou

conduzir os demais se não possuir a capacidade de autodomínio. Esta noção

de controle pessoal tornou-se o tema central da ética e da filosofia moral. Para

ele o processo de formar o indivíduo para ser cidadão e sábio deveria começar

pela educação do corpo, que permite controlar o físico – valoriza a verdade e

as virtudes, coragem, temperança. - sociais: cooperação, amizade. “Só age

errado quem desconhece a verdade”; o verdadeiro mestre não é o provedor de

conhecimentos, mas alguém que desperta os espíritos. A troca de idéias dá

liberdade ao pensamento.

Questão: nossa educação leva em conta a necessidade de ajudar no

desenvolvimento de um pensamento próprio?

2.2 PLATÃO

O ideal da polis como critério para a educação do homem.

Em 387 a. C. na cidade de Atenas, ele funda a academia. Terá grandes

repercussões históricas. A academia sobreviverá por muitos séculos. É a

primeira escola de caráter permanente preocupara com uma consistente

formação humana e intelectual. Dedicar ao ensino, ao estudo das diversas

ciências da época, tendo como prioridade a matemática, a geometria, à

retórica, e a discussão dos grandes temas éticos e políticos. No topo estarão a

dialética e a filosofia.

A motivação filosófica-chave de Platão consiste em tentar reconstruir os

novos pilares a Paidéia grega.

Werner Jaeger coloca a dificuldade de definir a Paidéia em geral

identificamos como cultura como simples conceito antropológico descritivo.

A Paidéia não é para os gregos um aspecto exterior da vida

incompreensível, fluido e anárquico. Ela está presente a educação do homem

de acordo com a verdadeira forma humana, com o seu autêntico ser. Tem a ver

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com a educação da pessoa física, estética, moral, religiosa e política, uma

educação integral.

Essa motivação parece bem evidente em uma de suas principais obras

“A REPÚBLICA”. No qual vai reservar um espaço considerável para discutir o

problema da educação de seu tempo e o que ele mesmo entende por

educação.

Sua preocupação é com uma educação harmônica que garanta a

felicidade tanto a polis quanto ao individuo. Educação idealizada na figura do

filósofo. O amigo da sabedoria é aquele que vive feliz porque é virtuoso, possui

como ideal da vida viver a justiça, chegar à verdade. Desenvolve todas as suas

capacidades. O objetivo final da educação era a Formação do homem moral, o

cidadão ideal para a polis. Um tipo de formação permanente.

Em A REPÚBLICA ele critica a Democracia de sua época especialmente

a corrupção, a incompetência, o número excessivo de leis, a retórica vazia e

investiga a verdadeira definição da justiça (Dikaiosyne) a partir da cidade. É a

primeira utopia da história ocidental. Um tratado de reforma educacional.

ESTRUTURA DE “A REPÚBLICA”: A obra está dividida em dez livros.

Livro I - (escrito antes da fundação da academia) gira em torno da

questão: o que é a justiça?

Livros II e III. Continua o debate sobre as definições de justiça

examinada em relação à educação do grupo político-militar dirigente.

Livro IV - delineia a estrutura do Estado (a polis) relação entre o cidadão

e a cidade. – aprofunda a busca por uma resposta á pergunta O que é a

justiça? (Que será respondida nos livros VIII e IX).

Livros V; VI, e VII descrevem as formas de vida da classe dirigente e a

natureza do governo, abrindo um parêntese sobre o caráter do filósofo. No livro

VII a alegoria da caverna ilustra a importância da educação do filósofo e

discerne os graus do conhecimento: da doxa à episteme. Quem confunde o ser

com o parecer não sabe o que é melhor para a comunidade.

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Livros VIII e IX Platão ilustram a decadência dos diversos tipos de

constituições e analisa a melhor forma de governo entre a timocracia, a

oligarquia, a democracia e a tirania.

O Livro X – critica a ineficácia educativa da poesia de Homero.

Questão: A partir dessa reflexão podemos dizer que não há educação

consistente sem valores éticos. Até que ponto consideramos a educação como

instrumento para a formação de homens sábios e virtuosos?

2.3 ARISTÓTELES

Ele era o defensor da instrução para a virtude. Via na escola o caminho

para a vida pública e para o exercício da ética.

Até hoje o modo de pensar e produzir conhecimento é influenciado por

Aristóteles. As principais obras de onde se podem tirar informações

pedagógicas são as que tratam da política e da ética. Em ambos os casos o

objetivo final era obter a virtude.

A educação para ele é um caminho para a vida pública. Em suas

reflexões sobre a ética afirma que o propósito da vida humana é a vida boa,

harmoniosa. Porém ninguém nasce virtuoso é um hábito.

Questão: Aristóteles acreditava que educar para a virtude era também

educar para viver bem. Acreditamos ser possível desenvolver uma consciência

ética e ao mesmo tempo apreciar as coisas boas da vida?

O espírito grego, segundo Henrique de Lima Vaz nos legou uma concepção

original de homem em 2 facetas:

1- O homem enquanto animal que fala e discorre (o zoon logikon)

2- O homem animal político que vive e se desenvolve dentro de uma polis

(zoon politikon).

CONCLUSÃO

NA EDUCAÇÃO e por ela o homem não somente assume uma condição

de abertura ao novo, mas, sobretudo, supera a si mesmo, atualiza suas

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capacidades e potencialidades. Por isso, a tarefa primeira da educação é a

humanização. Educar o homem implica ajudá-lo a tornar-se humano.

Daí tem uma velha e antiga pergunta filosófica: sempre nova e sempre

atual: o que é o homem? E o que torna esse homem humano? Qual o modelo

de homem e que sociedade queremos?

3 A PROPOSTA PEDAGÓGICA DE CELESTIN FREINET

Celestin Freinet nasceu numa pequena cidade no interior da França,

em Gars em 1896. Sua família era de camponeses e muito humildes. Cresceu

numa Europa e num contexto social efervescente, numa cultura em

desenvolvimento e num período de guerras. Ele sofreu a influência do

socialismo onde as exigências das classes operárias foram a base de sua

formação. As lutas operárias questionavam as elites dominantes. Nos estudos

sofreu a influência da Escola Nova, na qual se criticava o poder ilimitado do

diploma. As aulas eram tradicionais, expositivas e os alunos eram meramente

expectadores passivos.

Celestin Freinet chama seu método de natural, livre do artificialismo

imposto pelos métodos tradicionais: uma vez que têm como partida o interesse

e a livre expressão da criança. Para ele qualquer criança, mesmo as da

periferia e da classe trabalhadora, pode retirar do meio natural, seus

ensinamentos. A criança segundo Freinet que a todo instante dá provas de

suas aptidões criadoras, imagina, inventa e cria.

Freinet propõe uma metodologia da ação totalmente diferente da

utilizada na época, deixando de lado os manuais escolares, símbolos da

pedagogia opressiva. Eram considerados por Freinet, como pilares na

construção de uma escola viva: os conhecimentos das crianças, relacionados

uns com os outros nas trocas e cooperação mútua. E a questão metodológica é

de inteira responsabilidade, com equilíbrio, domínio e autoridade. Até sem

preparação pode obter resultados satisfatórios, desde que saiba coordenar,

organizar os interesses das crianças, incentivarem a descoberta e aguçar a

curiosidade.

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Freinet diz que dependendo dos procedimentos que utiliza, o

professor pode gerar desprazer e desatenção nas crianças; é o caso das

longas exposições orais.

A sua proposta pedagógica exige uma postura diante da vida que

difere de tudo o que se ensinava nas escolas. Freinet anotava diariamente os

pontos positivos e negativos do desenvolvimento dos seus alunos se era capaz

de apontar o que lhe era necessário.

Ele começou pesquisar e destacar em seus alunos as novas técnicas

de ensino, e foi assim que descobriu o uso da imprensa na escola e lança-se à

execução de um projeto interdisciplinar. “No projeto interdisciplinar não se

ensina, nem se aprende: viver-se, exerce-se”.

Sobre a escola, Freinet diz:

A escola deve colocar à disposição das

crianças os meios para, depois, organizar,

sistematizar, enriquecer ou ampliar as suas

experiências; deve criar situações desafiadoras

que, despertando a curiosidade, as levem a

pensar, mas não sem antes querer resolvê-las.

3.1 EM BUSCA DO EQUILÍBRIO: A ESCOLA DO TRABALHO E DO

PENSAMENTO

O trabalho, por envolver integralmente o ser, fornece abertura para a

sua realização psicológica. Logo o trabalho pedagógico deve ser dinâmico,

deve partir da base, do conhecimento que a criança já domina, e respeitando o

seu ritmo, proceder de forma que a leve à plena realização do seu potencial, da

adaptação à ação.

Ele comparou o ritmo de vida da criança de hoje com as crianças de

outras décadas. E percebe-se que essa criança, habitava, alimentava,

trabalhava da mesma maneira das gerações anteriores. Era um ritmo de vida

quase perfeito. A criança herdava naturalmente os conhecimentos, reflexões e

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o bom senso das gerações que estavam próximas dela. Nos tempos atuais, a

vida da criança é alterada pela tecnologia que ao inovar, desequilibra e

modifica o homem e o meio.

O indivíduo necessita se equilibrar, avançar, realizar, ultrapassar a si

mesmo e dominar os obstáculos.

O educador deve conhecer as tendências naturais da criança para

orientar sua intervenção, para não atrapalhar o seu sentido e ritmo, no sentido

sua construção. As regras não devem ser impostas pelos adultos, mas é a

criança que deve criar essas regras para a sua construção, e se isso não

acontecer, estaremos no campo da domesticação e “domesticação não é

educação”.

Para Freinet, a escola do futuro será a escola do trabalho e do

pensamento, integrada no processo geral da vida: a criança torna-se sujeito, e

o professor, aquele que orienta, estimula e facilita sua aprendizagem.

Os jogos devem ligar o interesse da criança às tendências vitais do

ser.

3.2 A MOTIVAÇÃO: A VIDA DA CRIANÇA

Exigindo atividades vivas ou relacionadas com a vida da criança, ela

deve trabalhar com prazer, e o interesse que a faz avançar. O controle e a

autoridade do adulto devem reduzir-se a fornecer os meios, despertar o

interesse e orientar a criança, que por si só vai querer criar, agir e realizar.

Os conhecimentos, as explicações, as lições só têm valor se ligados

às experiências pessoais. Para Freinet, a escola e o educador tradicionais têm

demasiada pressa. Em vez de buscar enriquecer o ser humano, os conteúdos

que transmitem são alienados da vida; há preocupação apenas com a

quantidade, enchem-se cadernos, expõe-se a memorização.

Na escola, a criança precisa encontrar a continuação da vida, no lar

e não ser transportada para outro mundo.

3.3 A SENSIBILIDADE DO EDUCADOR

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O desafio é que o professor seja formado para entender que a

criança, quando chega à escola, já interage ou tenta compreender que

espécies de sinais são aqueles que se utilizam para ler e escrever.

O verdadeiro educador deve ser sensível para acompanhar a

construção do conhecimento por parte da criança. Mas, para isso, não pode

esquecer as riquezas da infância, que, segundo Bachelard e os artistas e

poetas citados por Freinet, duram toda a vida.

Todos somos pesquisadores: pesquisar é um processo instintivo do

qual o homem busca o próprio crescimento.

3. 4 AS FASES DA ESCRITA

Para Freinet toda tentativa da criança possui um objetivo e uma

finalidade, sendo ela imediata ou não. É o indivíduo que deverá construir seu

conhecimento, e esse conhecimento é presenciado na linguagem aprendida na

escola.

E como pesquisador, Freinet observou o processo do conhecimento

de sua filha Balowette (Ball) atribuindo que esta nunca conheceu o método

tradicional. Nessa observação ele classificou a escrita em cinco fases:

- A primeira fase – atribuiu como grafismo simples. Nesse processo a

criança usa grafismos separados com linhas, curvas e quebradas.

Energia

Vital

Pesquisa

Conquista Recarregamento

de energia

Regra

de

vida

Permeabilidade

á experiência

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- A segunda fase - grafismo diferenciado ou justaposto. Começa a

aproximação das formas das letras e numerais, diferenciando desenho e

escrita.

- Terceira fase – começa a imitação da escrita utilizando as letras do

próprio nome. Pelo método natural a criança interpreta seus desenhos e

escrita.

- Quarta fase – da utilização dos sinais convencionais (letras e

números), com ou sem valor sonoro. A criança já percebe que há regras e

formação fixas a imitar. Começa a interpretar os adultos.

- Quinta fase - da escrita alfabética. A criança domina e identifica um

número razoável e palavras e sabe se comunicar pela escrita. É o começo da

escrita consciente, da qual a criança não se separará mais.

A criança sempre se utiliza de uma etapa anterior para avançar. Aos

poucos, assim como a criança que sai da fase de engatinhar, par caminhar

percebe que, para cada letra do alfabeto, há uma representação dos sons, que

formarão as palavras.

Quando a criança consegue dominar e identificar um número

razoável de palavras, conseguirá ler o texto. É o começo da escrita consciente

e da qual ela não se separará mais.

A criança constrói, pelo processo de tentativa experimental, por atos

conseguidos, sucessivamente encadeados e subordinados a uma visão central

que dominou ao mesmo tempo o todo e a parte.

Freinet propõe partir não do texto do adulto, mais da vida da criança,

da sua expressão oral e escrita, do seu texto livre. Ele diz que as experiências

que nós mesmos construímos são como degraus sólidos de uma escada que

nos conduzirá aos andares superiores. O importante é o educador saber que

todos chegam lá, que tudo é importante. É o educador que sabe que todos

chegam lá, que tudo é questão de tempo. E que não devemos apressar, mas

estimular o processo.

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Comenta Freinet: “Nossa criança saberá ler e para sempre, porque

esta aprendizagem natural fará corpo com a própria vida e o processo de

evolução do indivíduo”.

O trabalho do professor é acompanhar essa evolução em seus

diferentes estágios e registrá-la.

O melhor que Freinet nos deixa é a possibilidade de buscar e

encontrar novos caminhos, compartilhando com os outros, nosso desejo e

esperança por uma vida melhor, mais fraterna e com diretos semelhantes para

todos os indivíduos.

“Se um dia os homens souberem raciocinar sobre a formação dos

seus filhos como o bom jardineiro, ao raciocinar sobre a riqueza do seu pomar

nos deixarão de seguir como os eruditos que, nos seus anexos, produzem

frutos envenenados que matam ao mesmo tempo quem os produziu”.

Este pensamento de Freinet encerra esta reflexão, para que

pensemos em nosso papel de professores e no nosso compromisso social de

educadores.

3.5 A ESCRITA PESSOAL E LIVRE

Freinet se indignou com questões sociais, e procurou fazer dessa

indignação uma ponte para transformar a realidade social.

Para realizar seu trabalho leu Montaigne e Rousseau, Pestalozzi,

educadores com os quais sentiu enorme afinidade.

Freinet valorizava e apostava com muita segurança no poder criador

da criança, no seu modo de pensar, de ser e de ver o mundo e principalmente

o seu.

Para ele é necessário que o aluno inicie a ler textos curtos, ou

melhor, textos simples, pois ele servirá como suporte para a criança produzir o

seu próprio texto. Freinet denomina o texto da criança de “texto vivo”.

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De acordo com o pensamento de Freinet, não existe idade

específica para a criança aprender a ler, isso acontecerá naturalmente no

tempo certo, ou seja, no tempo da criança.

Para ele é fundamental que o professor seja fiel àquilo que a criança

relata sobre a sua escrita, ou seja, o professor funciona como intérprete.

Para se chegar ao conhecimento torna-se necessário propor à

criança atividades diversificadas, que possam ser desenvolvidas tanto na

coletividade quanto na individualidade.

Freinet acredita na democracia como exercício para a cidadania, por

isso insere as crianças nas discussões em sala, promove escolhas do que foi

mais bem produzido pelo grupo sem desvalorizar o dos demais. Todos os

trabalhos devem ser afixados em local de destaque.

Para ele é necessário que haja troca de valores, gentilezas e

atenção, pois, isso auxilia a aprendizagem. Para ele a escrita, precisa

expressar exatamente o que se pretende dizer, facilitando a compreensão.

Afirma ainda que a expressão do pensamento através da escrita só deve

acontecer, quando a criança dominar a escrita com total segurança. E isso só é

possível de forma natural, com o adulto respeitando o ritmo da criança. Para

ele não se aprende nada mediante exercícios e lições controladas. É preciso

criar. Ele diz que “quando a criança cria algo, nasce um gênio”, e que elas

criam, a partir da naturalidade sem a intervenção do adulto para corrigir seus

erros.

3. 6 “A AULA VIVA: UM SONHO A SER REALIZADO”

Sonho → escola → magnífica continuação

Infância (desenvolvimento)

Futuro (frutificação)

Criação do ser • espontaneidade

Poesia → pela palavra a criança exprime: • fantasia

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• sentimentos

• próprios passos

• Sonho → mundo das primeiras palavras

• Uma palavra arrasta a outra

• palavra → frases

Poesia → palavra -- • avalanche de palavras

• palavras se atraem

• liberdade com as palavras

Questionamentos → “Quando os adultos consentirão que as crianças

Caminhem com os próprios passos infantis?".

Quando verão a vida das crianças com olhos de

crianças?

Sala de aula → ambiente → • professor e alunos vivam juntos a

Mesma aventura

• oportunidades de vivenciar uma

Pedagogia libertadora

(Que favoreça a exploração de talentos)

• fundamento, teorias e • ambiente rico inovador.

Experimentos científicos • acolhedor.

Propostas de ensino: incluir Arte e cultura • propício, que dê exemplo

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de amor de Freinet

• Práticas naturais:

• contínua construção do conhecimento

• desenvolvido segundo os modelos de

Vida e de trabalho no meio. (Meio • Texto livre

Popular de linguagem bastante) • Jornal

Os pobres • Correspondência

• imprensa

• aulas – asseio

Os Erros

Freinet → acredita que os erros que a criança comete serão corrigidos

Por ela mesma, mediante experiências e tentativas,

Por isso descarta a cópia e a regra como forma de correção.

• compreender o significado

Ambiente Social e →

Estímulos das histórias

→ Televisão • Palavras ex.: coca-cola

• cartazes

• Rua • paredes

• outdoors

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Metodologia

Aprendizagem da • nova

Leitura realidade

Conduz → educador a rever suas hipóteses

Metodológicas

• a escola e a busca das primeiras leituras são

Decisivas

• canções

• histórias • a criança

* Freinet adivinha aprendia a

* Utiliza cantos populares → ler de forma

* fichas de parlendas natural não

* leitura por receitas se detendo

* trabalhar apenas

Num processo

Estritamente global

• global →familiariza com a

figura

Gráfica de palavras e frases

que

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São de seu conhecimento.

Freinet → frases na • reconstituição ativa → sinais fonéticos

aquisição das palavras e

Da leitura expressões que ela

Própria criou e

Quer aperfeiçoar

• Identificação global → em que a

Criança, quando lê,

Não balbucia (gagueja, defeito)

Isto é, não procura decifrar a palavra.

Caso contrário

• palavras conhecidas conduzam a uma

Técnica falso

Método global

• valoriza a leitura, pesquisa

E descobertas das crianças

Freinet → Aprofunda o conhecimento

Da criança por meio de

Investigação coletiva • levantam e discutem

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Os problemas dos alunos

CONCLUSÃO

Os professores sentem-se encantados com a educação de Freinet. Ele

apresenta teorias revolucionárias e idéias renovadoras. Assim pensamos a

contribuição de Freinet à educação. Ele elaborou idéias e técnicas

desenvolvidas com ricas propostas, inovadoras e coerentes que estimularam a

aprendizagem e a criatividade. Ele faz com que o aluno tenha direito à fala e

seja um protagonista na aula. Ele teve uma formação baseada no socialismo,

recebeu uma forte influência de Rabelais, Pestalozzi, Montaigne, Rousseau e

Marx. Então recebeu uma forte influência do socialismo e das lutas e

reivindicações das classes operárias que questionavam as elites. Ele criticava

com veemência o poder ilimitado do diploma, o tradicionalismo das aulas

expositivas e a passividade dos alunos que era apenas preparado para ouvir e

manter o status social.

Ele criou um método denominado “método natural”, com aplicação de

novas idéias em aulas de campo, fazendo do meio ambiente e do

conhecimento deste ambiente o grande auxílio e de onde retira os recursos e

conteúdos para o seu ensino. Pedia para os alunos que descobrissem como a

natureza sempre estava transmitindo informações e queria que seus alunos a

descobrissem, ensinassem a decifrá-la. Confrontou a rigidez da sala de aula,

as filas de carteiras e o autoritarismo prepotente de um mestre que acreditava

saber tudo. Propôs ousadamente descobrir, partindo da experimentação,

sugerindo a criação de textos de palavras pronunciadas pelas crianças. Suas

aulas eram interdisciplinares e estimulava a descoberta e a criação de textos.

Tinha uma visão de ensino fundada na verdade, isto torna incompatível com

qualquer forma de autoritarismo, currículos tecnocráticos que estimulam a

psicologia do adestramento.

As idéias de Freinet sempre se voltaram contra o adestramento, pela

libertação. Estava contra a seleção, favorável pela acolhida. Contra o modelo

definido de aluno perfeito pela humanização, respeito pelas diferenças e

acolhida às muitas inteligências.

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4 A APLICAÇÃO DA TEORIA DE JEAN PIAGET À EDUCAÇÃO4

Podemos especificar quatro formas de aplicação dos princípios teóricos de

Jean Piaget na prática de ensino.

- A primeira refere-se à utilização das provas como instrumentos de

avaliação do desenvolvimento intelectual da criança e de sua prontidão

para a aprendizagem. É importante salientar que Jean Piaget não se

interessou em transformar suas provas em uma escala de inteligência,

porém alguns de seus colaboradores desenvolvem estes estudos. Por

isso, estas aplicações requerem grandes cuidados e questionamentos,

no que se refere à sua validade preditiva quanto à prontidão para a

aprendizagem e quanto à prescrição de programas de recuperação.

- Uma segunda aplicação se relaciona ao planejamento de currículos. Em

um primeiro momento, diz respeito à distribuição dos diversos conteúdos

nos diferentes graus de escolaridade. Por exemplo, os resultados dos

estudos de Piaget indicam que o melhor período para a aprendizagem

de conceitos abstratos é a adolescência, quando as estruturas formais

do pensamento estão se consolidando. Assim, o grau de abstração dos

diversos conteúdos deve adequar-se ao nível de desenvolvimento da

criança, orientando o que especificamente deve ser ensinado,

considerando as diversas áreas do conhecimento.

- Em um segundo momento, se relaciona à sequência do ensino de um

conteúdo, considerando a organização dos conceitos conforme os pré-

requisitos necessários para maior facilidade na aprendizagem. Por

exemplo, quais seriam os pré-requisitos para a aprendizagem dos

números? As noções numéricas de cardinalidade e ordenação deveriam

ser ensinadas junto ou separadamente? Os pesquisadores que

procuram responder a tais questões geralmente dizem estar

fundamentados nas descobertas de Jean Piaget. No entanto, há muitas

interpretações errôneas ou peculiares dos dados de Jean Piaget. Por

4 Trabalho elaborado para o curso de Educação

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isso, o professor deve estar alerta para analisar os dados de tais

pesquisas.

- A terceira possibilidade de aplicação se refere à questão do seu

tratamento didático. A questão pesquisada vem a ser quais as condições

mais favoráveis à aprendizagem. Um dos princípios da teoria de Piaget

é que as condições estáveis e duradouras da realidade que nos cerca

ocorrem por meio de um intercambio entre o sujeito e o mundo. Esse

princípio, aplicado ao ensino, implica que é preciso levar o aluno a

experienciar situações concretas, através do método da descoberta.

Estas experiências constituem a base da aprendizagem e deve envolver

material concreto tanto quanto a noção a ser ensinada o permitir. As

experiências devem ainda ser repetidas e variadas, pois assim

começarão a ser interiorizadas pelas crianças e coordenadas de acordo

com seus esquemas mentais. O pensamento só está adaptado a uma

realidade particular quando conseguiu assimilá-la aos seus quadros, ao

mesmo tempo em que os acomoda às novas circunstâncias

apresentadas por tal realidade.

- Nesse sentido, a tarefa do professor, que requer muita engenhosidade,

seria primeiramente a de analisar o conteúdo a ser ensinado em termos

das operações nele implícitas. Depois, organizar a seqüência, as

experiências concretas e os conceitos formais. A prática deve servir de

base ao conhecimento conceitual. Portanto, a prática, longe de ser uma

aplicação do conhecimento conceitual, deve ser o ponto de partida do

próprio conhecimento conceitual e a condição necessária para qualquer

reflexão posterior.

- O trabalho didático deve ser organizado de forma a constituir um convite

ao raciocínio dos alunos. O importante é encontrar formas desafiadoras

que estejam dentro das possibilidades da criança para superar as

dificuldades e que ao mesmo tempo, coloquem problemas ao

pensamento, conduzindo a uma reorganização das estruturas mentais.

Nas situações didáticas, portanto, deve haver uma discrepância, dentro

de certos limites, entre a assimilação de que o aluno é capaz num dado

momento e a acomodação subsequente.

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- A quarta possibilidade de aplicação de teoria de Piaget se refere à

ênfase à interação com os companheiros, pois ela é instrumento

formador. A objetividade só pode ser adquirida se percebermos a

relatividade dos fatos, se compararmos os nossos pontos de vista com

os de outras pessoas e notarmos diferenças e semelhanças entre os

dois polos. A cooperação dos alunos entre si tem, neste sentido, uma

importância tão grande quanto a ação do professor. Do ponto de vista

intelectual, é ela que mais favorece o intercâmbio entre o pensamento e

a realidade, por isso, é imperativo que a educação moderna dê lugar de

destaque às atividades grupais, pois a discussão é a melhor forma de

educar o espírito crítico, a objetividade e a reflexão discursiva.

5 THEODOR ADORNO POR HABERMAS: SUBJETIVIDADE E AUTO-

AFIRMAÇÃO E EDUCAÇÃO5

Pretendemos neste pequeno ensaio discutir algumas idéias de Adorno.

Deste modo escolhemos uma via para elaborarmos esta discussão.

Utilizaremos o pensamento de Juergen Habermas sobre Adorno para

entendermos como o filósofo da Escola de Frankfurt que deixou o grupo para

isoladamente entender e criticar a teoria crítica. Habermas entende e muda de

rumo da Escola de Frankfurt, da teoria crítica para a teoria da comunicação.

Como sabemos Habermas se desligou do grupo e elaborou idéias diferentes

desta escola. A sua teoria é denominada de teoria da comunicação e da crítica

à esfera política e da esfera pública. Habermas continuou amigo dos

fundadores da escola de Frankfurt, mas se distanciou do pensamento de todos

eles tomando outra via para entender e explicar a sociedade. Para ele a

solução dos problemas da sociedade não está na crítica à dialética, mas na

crítica à comunicação e à política.

5.1 A SUBJETIVIDADE

Habermas conta-nos uma história do último encontro que teve com

Adorno em 1969. Adorno fala a Habermas o que ele pensava sobre

determinados assuntos que mais gostava. Uma delas era o cinema e o talento 5 Artigo Publicado em Academia.edu

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de Charles Chaplin. O filme que assistiu é interessante. Conta uma história de

um indivíduo que depois da guerra se depara com a perda das duas mãos. Ele

recebe uma homenagem e é o ator principal do filme de Chaplin. Adorno não

percebendo que o ator tem duas mãos mecânicas e estende a sua mão para

cumprimentá-lo. Isto ocorre em Hollywood.

O ator estende a mão mecânica que agarra a mão de Adorno. Este leva

um tremendo susto. Pois possuía uma mão mecânica implantada. Adorno fica

muito constrangido. Chaplin vendo a cena imita o horror de Adorno numa

pantomima e a tentativa de esconder a gafe cometida por Adorno. Todos riram

de Chaplin e de Adorno.

A história de Adorno é uma história de Chaplin e vice versa. A atitude de

Adorno passou a ser entendida como uma atitude burguesa, o espanto de um

burguês com seu corpo completo diante de um corpo esfacelado pelo horror da

guerra.

Para Habermas isto representava “a frieza como o princípio da

subjetividade burguesa, sem a qual Auschwitz não teria sido possível”. Adorno

com esta atitude relembra os horrores da guerra, “decifra que a normalidade

mais insuspeita, a vida sem calor humano”. Sempre estamos desprevenidos

em certas situações. São acontecimentos que nos deixam perplexos. Assim o

metal frio de uma mão mecânica leva o grande ator a fazer uma mímica e

imitar o embaraço de um grande filósofo. Filósofo da hipersensibilidade, aquele

que viu o horror da guerra, vê agora o horror da mão mecânica. O homem que

se assustara é o mesmo escritor que afirma penetrantemente que “a razão é

distinta da natureza”. O homem que tenta recuperar o autocontrole é o mesmo

que recuperou o medo da barbárie. A mímica desfaz a tensão do homem

assustado.

Adorno usa a obra “Odisseia” para mostrar os rastros perdidos de uma

pré-história da subjetividade. O herói nesta obra é um homem astuto que foge

do caminho e da rota para seguir sua peregrinação para não entrar em crise. A

crise é do ego e que forma a sua própria identidade. A astúcia faz parte da vida

de Ulisses. Ele foge dos encantamentos e das forças místicas, foge dos

sacrifícios a que fora obrigado a fazer. Esta fraude não é descoberta. Assim

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esta fuga da fraude leva o herói a aderir à mímesis. O Eu se reelabora. Ele era

difuso e confuso, passa a ser e ter o conhecimento. O Eu se organiza e

controla a natureza interna e externa. A autoconsciência passa a ser autonomia

e dominação da estranha natureza. A certeza é antidialética e é questionada

por Adorno.

5.2 A TÉCNICA

O homem ao se submeter à natureza externa só é possível na opressão

e na sublimação. A manipulação na técnica luta contra a subjetividade da

dominação. O eu original se identifica com o eu mesmo. Para Adorno a

dominação da natureza é diluída com o sacrifício ritual do ego que quer

conservar a opressão.

Na história da humanidade a violência está sendo praticada contra o

próprio homem e a própria natureza. O controlar a natureza paz parte da

manipulação técnica e a dominação pela instituição. O controle da natureza

está ligado à violência introjetada dos homens sobre os homens, a violência do

sujeito sobre sua própria natureza. Os homens foram escravizados pela própria

técnica. Ao manipular a técnica não dá mais para revolucionar as relações

sociais. Os indivíduos foram mutilados por instrumentos criados pela própria

técnica. Aquilo que o homem criou pela técnica para se libertar o escravizou,

manipulou e mutilou o próprio homem.

Adorno afirma: “Com a negação da natureza dentro do homem, não

somente o telos do controle externo sobre a natureza como o telos da própria

vida torna-se confuso e intransparente”. Aqui podemos analisar esta questão

do homem e da natureza. Os homens de hoje pouco diferem dos homens da

caverna. Ou que os homens que alcançaram tal técnica, tecnologia são

capazes de cometer barbárie, opressão e manipulação. O herói vai para o seu

destino, caminha para o seu alvo, mas se a reprodução da vida não for

rompida, a autonomia não for recuperada, o homem continuará bárbaro.

Adorno como que um visionário, vê, prevê e antevê o que acontecerá

em relação ao nosso tempo: uma subjetividade atrofiada da experiência

individual que se apoia ao sujeito antigo que já foi condenado. A subjetividade

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burguesa esvai, e que se decompõe como a substancia no sofrer humano pela

coação social. Adorno interpreta desta maneira em sua própria vida. Adorno

não quer ser infantil nem adulto, nem aceitar o infantilismo, não quis fazer

regressão. Ele era experiente e tinha atitudes de criança. O seu

comportamento era de isolamento e melancolia. A sua ciência era melancólica.

A sua abertura de comportamento leva-o a uma comunicação livre como

pensamento. Ele é aberto à inteligência. Ele não tem medo, mas é melancólico.

Adorno era indefeso. Ele foi perseguido por um destino amargo. Destino aqui

tem o sentido original Hebraico: paqad – onde o próprio indivíduo constrói do

início ao fim o seu caminho. Destino é caminho. Diferente do termo grego:

moira – onde os deuses criam o seu caminho e não tem possibilidades do

sujeito ser sujeito de sua vida. A sua vida já foi traçada.

O exílio de Adorno é forçado, não é o seu destino. Nem moira nem

paqad. Adorno é indefeso por uma razão. Não é a mãe, não é a irmã, mas a

mulher que o faz adulto integral. Ela o ajudou a ser imunizado e adaptado à

realidade, à barbárie. Ele se caracteriza como adulto. Ele é um ger (em

Hebraico - estranho) às instituições. O seu desejo não era este, mas é uma

autodefesa.

Ele nunca foi reconhecido como filósofo no sentido tradicional. A filosofia

acadêmica, se é que a palavra é correta. Os filósofos nunca o reconheceram

esse intelectual pouco comum. Mas os literatos o reconheceram. Ele nunca foi

uma a homenagem. Ele nunca recebeu os prêmios oficiais que ganhou.

Adorno é melancólico. A sua melancolia vem de seu contato com

Kierkegaard. Ao se fazer uma edição da obra de Adorno a editora coloca uma

foto do autor escolhida a dedo mostrando esta face melancólica. Adorno lutou

contra toda desesperança, lutou contra tipo de política absolutista e só a

melancolia podia vencer esta oposição. A própria ciência humana em adorno é

melancólica. Como pensar o totalitarismo, o nazismo e o fascismo? Somente

através de uma semente da melancolia. Adorno leu e releu, estudou

Kierkegaard. A melancolia foi companheira de todas as horas dos dois autores:

Adorno e Kierkegaard.

5.3 AUTO-AFIRMAÇÃO

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Adorno é criticado por vários motivos. Inclusive Adorno foi criticado pela

organização que fez da obra de seu amigo Walter Benjamim. A crítica é Adorno

teria reprimido Benjamim por ser materialista o marxista. É que ele não

aceitava a divisão em três partes a obra de Benjamim sobre Baudelaire. Isto é

um grande erro. Adorno foi mais teórico, e mais refletido e um marxista mais

bem informado e seguro. Adorno sempre esteve ao lado de Benjamim. Depois

de Gershon Scholem é Adorno quem o mais ajudou e estimulou. Adorno é

quem toma o pensamento de Benjamim e o transforma em infalsificável e

insubstituível no debate na Alemanha. Estas acusações a Adorno o afetaram

profundamente. Única coisa que ele aceitou foi a presidência da Sociedade

Alemã de Sociologia.

Para Adorno “os sujeitos são livres... na medida em que são conscientes

de si mesmos e idênticos consigo” A burguesia foi condenada por Adorno ou

não? Ele era um burguês? Por que criticam tanto Adorno por ter criticado os

burgueses sem se libertar do fascínio da burguesia. Adorno achava impossível

abandonar essa subjetividade. O que ele critica na realidade é em sua filosofia

o salvar o que o Espírito, obcecado pela produção do idêntico do objeto e o não

o idêntico. O não idêntico está no mito de Odisseu. Aqui está a desagregação

do ego. A não identidade representa as dimensões da verdade. Adorno então

toma a dialética do universal e do particular que está em Hegel. Isto vem da

comunicação da linguagem comum.

Um objeto particular: coisa, pessoa, acontecimento é apreendido pelo

universal. O sentido porem do particular não acaba com o universal. Adorno

critica Hegel, a dialética que é indiferente ao indivíduo. Hegel não entendeu a

totalidade. Ele não viu que a reconstrução dialética mostra a supressão da

comunicação livre. Os indivíduos não se reconhecem entre si como produtos

de um contexto alienante. “A sociedade é, conforme Adorno, ao mesmo tempo

a essência dos sujeitos e sua negação”.

E se não fosse dessa forma acabava com o contexto de coerção, na

qual a dialética age para acabar com a coerção. Para Adorno a dialética é: a) A

objetividade mostra o caráter coercitivo de um complexo histórico, sujeito da

causalidade do destino. Esta forma pode ser rompida pela auto-reflexão e é

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contingente; b) o objetivo significa o sofrimento que pesa sobre o sujeito. O

conhecer do contexto objetivo é o interesse em afastar o sofrimento. C) A

dialética negativa é a palavra onde a prioridade da natureza está diante de toda

a subjetividade que ela expulsa de si. O eu puro de Kant é mediado pelo eu

empírico. D) O predomínio materialista do objetivo é inconciliável como uma

aspiração cognitiva absoluta. A autorreflexão é uma força finita e é do contexto

objetivo.

Adorno pede mais tolerância. “O cidadão de um mundo imperfeito: ele

estaria mutilado para viver tal mundo... os intelectuais têm que ser mais

tolerantes e que em sua resistência não simpatizem com o espírito do texto”.

A faculdade de conhecer não é isenta da forma frágil do sujeito e de sua

mutilação. Qual é a legitimidade da crítica? Como justificar o pensamento

crítico? Ele nunca quis responder essas questões. A negação do sofrimento

vivido constitui um critério de validade dessa crítica. A negação não teria

nenhuma referência, como na negação em Hegel; mas em Adorno é na

compulsão de recorrer à idéia de reconciliação. Não dá para se livrar da

negação, pois o sofrer é sublimado de forma a transcender a dor física e só

pode ser negado ao se manifestar quando for reprimido pela coação social.

Para este autor: “o mundo reconciliado não anexaria através de um

imperialismo filosófico, o estranho, mas a sua felicidade é manter o estranho, ...

como distante e como distinto, além de heterogêneo e próximo”. Para nosso

autor a idéia de verdade se constrói sobre um modelo de consenso idealizado,

obtido na comunicação isenta de violência. Para ele a verdade das proposições

está junta à intenção de uma vida verdadeira. Então não há possibilidade de

reconciliação nesta sociedade. Se a idéia de reconciliação se reduz à idéia da

autonomia, na vida em comum processo de comunicação livre de violência e

da forma de uma lógica da linguagem comum, e então essa reconciliação não

seria universal.

Na escola de Frankfurt: Benjamim, Horkheimer, Marcuse, Ernest Bloch,

juntamente com Habermas duvidam da possibilidade de uma emancipação dos

homens sem a ressurreição da natureza. Os homens conversam sobre a

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isenção da repressão e do medo, sem que houvesse a natureza de relações

fraternas.

Concluindo, a reconciliação deve ser recomposta, o vínculo foi rompido,

o controle da natureza está presente, e a repressão da natureza está patente e

que a reconciliação com o universal seria uma idéia otimista. A opressão da

natureza é elaborada pela atitude dos métodos da ciência e da técnica. A dor

dessa opressão é abafada por uma tradição cristã milenar e que deixou

vestígios nos subterrâneos da tradição. Queremos a terra e o universo como

nossos vassalos. A dor não é retirada pela teologia ou filosofia, mas a dor não

deve permanecer indiferente em relação a uma sociedade cuja reprodução não

exige mais a exploração das nossas angústias. “A falência da práxis é a culpa

do momento histórico”.

5.4 HABERMAS: A EDUCAÇÃO E A DEMOCRACIA

Ainda queremos demonstrar um pouco do estudo de Habermas:

DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO. Educação como tema principal na vida do

indivíduo, sendo indispensável para estar atuante no meio social. A democracia

tem uma importância na formação da personalidade humana, fazendo com que

o indivíduo tenha boas relações interpessoais.

5.5 A EDUCAÇÃO EM HABERMAS

Habermas fala na teoria do agir comunicativo, que a reflexão vem do

pensamento filosófico e que a razão é um tema básico para sua linha de

pensamento sobre a educação. Outro ponto marcante para ele é a

modernidade. Apesar de ter conduzido problemas para a humanidade, mas

não poderia ficar parado sem progresso de evolução educacional, pois sempre

o ser humano está em busca de um aprendizado e por isso sem dúvida a

necessidade de analisar e rever a cultura reflexiva. Uma questão muito

importante Habermas Iana é que para ele “A educação deveria ser

compreendida no sentido mais abrangente possível, abrigando processos de

formação social, cultural e científico em todos os espaços onde acontecem”.

Diante dessa fala com certeza a leitura é indispensável para o indivíduo tornar

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um cidadão crítico capaz de compreender o significado das falas dos

pensadores sobre o assunto pautado.

No entanto ler não é apenas decifrar códigos e sinais linguísticos, vai

muito mais além. Ler é poder construir um conhecimento baseado na leitura,

sem ser um mero copiador de pensamentos e sim em outras palavras e formas

é construir o seu próprio aprendizado, sabendo-se que na leitura o individuo faz

do seu imaginário um mundo fantástico de ideias e pensamentos capaz de

estar no meio social sendo visto como um cidadão que contribui para uma

sociedade melhor... Para reflexão Paulo Freire em uma de suas falas ele disse:

“Ninguém educa ninguém, como tão tampouco ninguém se educa a si mesmo,

os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. Associando

a teoria de Paulo freire e Habermas percebe-se que o homem é autor de suas

próprias ações, vive em aprendizado construindo novas estratégias e delas

fazendo experimentos, tentado entender a mente humana, mesmo sabendo,

que não é uma tarefa fácil, pelo contrário, além de complicado é dificílimo.

Por isso quando Habermas se dispõe seu pensamento em ação

comunicativa ele deixa claro o entendimento e aprendizagem mútua, e também

as relações interpessoais, fazendo parte de tudo isso, os valores culturais que

contam muito.

Quando se fala de relações interpessoais é um assunto polêmico,

entender o ser humano não é fácil, cada indivíduo tem seu valor próprio, sua

linha de pensamento e não sabe muitas vezes até onde ele pode ir com seu

direito esquecendo que ele termina quando começa o do outro e que junto com

os direitos tem os deveres, o relacionamento com as outras pessoas tem uma

grande influência na personalidade própria. Muitos comportamentos pessoais

são de determinadas maneiras por causa da influência que os outros exercem

sobre eles. Quando se trata de grupo, cada indivíduo concede um significado

aos fatos e ao expressá-los, acrescenta algo de sua parte, por isso o

significado que damos as nossas experiências permanecem alterados,

enriquecidos pela comunicação. Diante disso é bom lembrar que pertencer a

um grupo facilita a mudança de comportamentos desde que saibamos dos

nossos direitos e também dos nossos deveres.

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As relações que se estabelecem com as pessoas representam o meio

principal para situar-se diante do mundo. Os encontros sociais em

determinados contextos e situações nos levam a aprendizagem de

comportamentos no meio social, que é muito importante, pois as pessoas que

expressam boas maneiras diante da sociedade são agradáveis, e podem

perceber que a sobrevivência esteve e está associada à relação com o outro.

5.6 A EDUCAÇÃO NA DEMOCRACIA

Habermas abrange seu pensamento na democracia, levantando

questões sobre tempos e momentos, e que mesmo sabendo que na

democracia tudo é aberto, claro e transparente existem regras, onde a opinião

de todos nem sempre podem ser aceitas. Por essa razão tem o voto onde

todos podem votar, sendo livre mais secreto, valendo a maioria. Ele argumenta

de lado o ser humano diante de Deus, “igualdade para todos”, do outro lado

normas válida na vontade do sujeito. Se existem validades e normas nas

decisões da maioria fazendo valer a ideia da luta pelo poder, diante do

subjetivismo ético quando isso acontece, uma mesma ideia ganha força.

Portanto Habermas em uma de suas colocações sobre a formação do

sujeito e democracia ele destaca: “O homem só adquire consciência de si

mesmo através do outro”. Portanto isso é um ponto de reflexão, pois é muito

importante lembrar que com os erros e acertos das outras pessoas, podemos

chegar a um caminho melhor. Assim ele vai pautando sobre a crise do

capitalismo, da sociedade e do trabalho. Deixando também a filosofia de Marx,

seguindo uma linha de pensamento próprio, onde ele valoriza o

reconhecimento mútuo, mas trabalhando a vontade e opinião no processo do

conhecimento de cada indivíduo.

Em outros estudos Habermas argumentam os três modelos normativos

de democracia. O primeiro trata de duas visões consagradas de política

democrática. A segunda visão procedimentalista versus visão da política. O

terceiro, três imagens de estudo e sociedade. Quando ele fala da política

democrática chamando os membros da comunidade de solitária, lembra a

argumentação anterior já citada que ninguém vive só, e que o indivíduo

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depende um do outro. Quando se trata de política democrática isso é muito

relativo, porque a duas formas de olhar.

Existem pessoas que com suas ideias declaram que o indivíduo pensa e

age como quer, e tem liberdade de ser ele mesmo, de expor tudo o que quer, e

para outros isso é totalmente o oposto. Como se constrói uma linha de

pensamento diante dessa colocação? É nesse momento que você deve ser

você mesmo e traçar sua filosofia ser autor de seus próprios pensamentos e

agir com suas próprias ideias.

5.7 HABERMAS: A EDUCAÇÃO E A DEMOCRACIA

Habermas quando argumenta o processo de evolução da sociedade ele

destaca: O desenvolvimento das capacidades ou competências dos indivíduos,

assim sendo o desenvolvimento é necessário, pois ao desenvolver as

habilidades em qualquer área de trabalho, no estudo das teorias o indivíduo

mostra no discorrer de suas ideias suas capacidades, quando isso ocorre é

notório aos olhos de quem lê. No entanto capacidade é tão necessária na

construção dos mecanismos das descobertas para tomarem rumos os

caminhos da sociedade. Sabendo-se que cabe a educação levar o sujeito a

essa competência, que sejam atuantes, refletindo e desenvolvendo na

construção de um saber significativo dentro das normas democráticas,

exercendo sua cidadania dentro dos direitos que lhes cabem.

Para isso a educação brasileira precisa de um modo especial

melhorando o sistema de ensino. O conhecimento do alcance das metas e da

consecução das diretrizes da política do sistema educacional é uma tarefa que

compete, em contexto democrático, aos integrantes do sistema educacional em

colaboração com outros setores da sociedade. É almejo de todos que a política

educacional pudesse apreciar os resultados em termos de democratização do

ensino, ou seja, da garantia de acesso e permanência na escola, e oferta de

um ensino de qualidade. Para que tenha qualidade no ensino é necessário

levar o indivíduo a procurar interesse por si próprio diante de seu aprendizado,

fazer com que ele descubra a necessidade para a vida, a competência em tudo

aquilo que faz.

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Quando parte para democracia onde a cidadania é uma demanda para

que o sujeito, interage no meio social de forma conveniente podendo colocar

seu pensamento, organizando ideias e agindo de forma democrática. De

acordo com Habermas que está sempre frisando na razão e ação

comunicativa, percebe-se que o sujeito deve ingressar na sociedade fazendo

parte da modernidade, que leva em conta a participação do cidadão no

processo de aprendizagem para evolução social. Outro ponto marcante para

Habermas é o reconhecimento das diferenças na sociedade política,

valorizando a autonomia individual tendo igualdade e diversidade.

6 EDUCAÇÃO E TEORIA CRÍTICA EM THEODOR ADORNO6

“A filosofia que pretende se acomodar em si mesma,

Repousando numa verdade qualquer, nada tem a ver,

Por conseguinte, com a teoria crítica”.

Horkheimer

O presente estudo pretende contribuir para uma reflexão sobre a

importância do ato de refletir e de se educar criticamente. Estudaremos o texto

de Adorno sobre: “Educação após Auschwitz”. A idéia é pensar não a escola,

mas a educação mais ampla à luz da teoria crítica da sociedade. Não que ele

tivesse formulado propostas pedagógicas de educação, mas propostas de uma

educação viva que vise o educador. É uma tentativa de exercitar um tipo de

pensamento reflexivo no âmbito educacional, na esperança de ampliar a

compreensão da educação hoje e apreender o pensar criticamente.

A educação exerce funções fundamentais em todas as sociedades,

auxiliando os homens na aquisição de um conhecimento e um saber ordenado

e sistemático a respeito da natureza e do modo social em que estão situados.

Ela transmite tudo àquilo que a humanidade acumulou na história e, em

6 Dr. Daniel Sotelo, professor, teólogo e filósofo e escritor.

[email protected]; [email protected]

[email protected]

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particular, oferece conhecimentos para que cada um se insira em sua

sociedade.

Segundo Moacir Gadotti (1998) não é possível alcançar a compreensão da

educação sem a compreensão dessa sociedade na modernidade, sem o que

não é possível chegar-se muito longe. Pois não se compreende os nexos

existentes entre organização social e organização econômica, cultural e

política, nem as ligações de tudo isso com a educação.

A EDUCAÇÃO SOB A ÓTICA DA TEORIA CRITICA DA SOCIEDADE

Para a teoria crítica da sociedade, os problemas teóricos começam com a

apreensão das relações existentes na sociedade entre o todo e o particular, o

específico e o universal. Seu raio de ação dá-se no limiar das manifestações

dos homens, na dinamicidade de sua vida no mundo que o cerca. Em seu

elemento constitutivo a teoria move-se além da neutralidade positivista que ela

define, em seu sentido amplo: como soma de diversas doutrinas filosóficas que

incluíram desde o trabalho de Saint-Simon e Augusto Comte até as mais

recentes formas de pragmatismo e empirismo lógico que dominam as ciências

sociais na civilização ocidental.

Na ótica da teoria crítica da sociedade, guardadas as diferenças de cada

doutrina todas elas têm sustentado o objetivo de desenvolver formas de

investigação social que sigam o modelo das ciências naturais. Estas formas

foram baseadas em princípios metodológicos que privilegiam a observação

empírica e a quantificação. A visão de conhecimento e de ciência do

positivismo é despida de suas possibilidades críticas. O conhecimento foi

reduzido a dominação exclusiva da ciência. A própria ciência foi submetida a

uma metodologia que limita a atividade científica à descrição, à classificação e

à generalização de fenômenos. Opondo-se a isso, a teoria deve explicitar os

interesses que representa e pensa-los criticamente, sabendo que não existem

garantias de verdade únicas.

Por isso a autocrítica lhe é imprescindível. Em última instância, a teoria

deve ser crítica, dialética e primar pelo pensamento negativo diante de tudo

aquilo que é tido como pronto e estabelecido. Torna-se a teoria uma atividade

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transformadora cujo elemento transcendental, associa-se ao pensamento

crítico como pré-condição para a liberdade. Ao invés de consubstanciar uma

noção positivista de neutralidade, a teoria posiciona-se ao lado da luta por um

mundo mais digno ao ser humano, a partir da teoria crítica da sociedade se

consegue estabelecer o diálogo da negação do que parece estático, na

existência humana, no mundo moderno. Um diálogo de esperança, a partir do

pensamento, e da teoria, de seu elemento de prática; deve haver um diálogo

preocupado em contribuir para a emancipação do homem.

Conforme Theodor Adorno (1995), a teoria crítica da sociedade é um

símbolo de solidez e de força independente de que um dia, pudesse, na

aparência, fazer parte no mundo do esquecimento, das coisas que vão sendo

suprimidas.

Para pensar a educação sob a base da teoria crítica da sociedade, é

fundamental compreender como ela se refere à necessidade de desenvolver-se

numa teoria/prática de transformação social. E assim esta transformação e

emancipação não sejam fechadas em relação aos seus próprios princípios e às

conquistas que ela almeja. A teoria crítica da sociedade enfatiza tanto uma

escola de pensamento quanto um processo de crítica. Sua dimensão global e

sua dimensão fragmentada tornam-se úteis para a educação. Apontando para

uma educação que, tanto pode exigir uma crítica contínua – nas quais as

condições educacionais devam ser confrontadas com um mundo que essa

crítica examina e descreve o mundo como realmente é – como poderia ser com

base nessa crítica.

Theodor Adorno (1995) inicia seu texto “Educação após Auschwitz” com

uma frase significativa: para a educação a exigência que Auschwitz não se

repita é primordial.

Após analisar as possibilidades de retorno da barbárie a partir da

permanência das condições que a geraram, Adorno (1985) afirma: “a educação

só terá pleno sentido como educação para a autorreflexão crítica”.

A educação é, antes de tudo, esclarecimento (Aufklaerung). Para Theodor

Adorno, as medidas educativas, por mais abrangentes que sejam dificilmente

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poderão evitar o aparecimento de construtores e ideólogos da barbárie. Mas a

educação pelo esclarecimento pode fazer alguma coisa no sentido de modificar

a atitude dos que praticam os atos bárbaros. Para os componentes da escola

de Frankfurt o ato de refletir criticamente representa um elemento fundamental

na luta pela emancipação.

A obra enfatiza o tema da educação, mas, o autor não tem escrito sobre

este assunto especificamente. Ele aborda este tema considerando que tudo

explicita a educação como alicerce da condição existencial humana em toda a

sua complexidade.

Podemos ler a educação sob o prisma da teoria crítica da sociedade. Uma

vez que a educação faz parte desta sociedade e compõe a complexidade dos

temas do mundo. Estes temas do mundo irrompem de uma interpretação que

possuímos nesta ótica. É necessário, muito mais do que qualquer outra coisa,

passar a conceber a educação, suas bases e fundamentos dentro de um

enfoque mais amplo. Assim a visão de mundo proposto na teoria crítica, sem

querer, dizer que essa visão de mundo seja única e verdadeira. Não se pode

reduzir a leitura da educação apenas num aspecto, qualquer que seja o que

chamamos de educação. Precisamos despertar a educação para a tarefa que

Herbert Marcuse chamou atenção: desenvolver nos explorados a consciência e

o inconsciente que afrouxaria as amarras das necessidades escravizantes.

Sem isso é impossível que a educação contribua muito mais para a contra a

revolução do que para a emancipação.

No trabalho de Adorno que estamos analisando, ele frisa a necessidade de

ter uma educação contra Auschwitz. Este autor é um dos poucos pensadores

que tenta ler Freud à luz da grande tradição filosófica do ocidente. Ele entende

a educação na perspectiva da civilização ocidental como plena compreensão

de um indivíduo completo. Conforme Adorno, Freud numa de suas intuições,

afirmava que a civilização produz uma anti-civilização e a reforça

progressivamente. O comportamento do homem, na civilização ocidental está

recheado de um embrutecimento que extrapola as condições econômicas e de

classes. Está imanente no homem, no mundo administrado, um vazio diante de

tudo o que ocorre na sociedade. A própria vida social é um ajuntamento

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coletivo de seres isolados que tem ancorado-se uns aos outros para

persistirem no ciclo vital. O homem não tem mostrado sensibilidade diante da

preservação da vida. A sociedade e a natureza lhes são indiferentes. Tudo e

todos se misturam transformando-se em coisas e constituindo uma sociedade

reificada viva. Conforme o nosso autor, a humanidade vive uma pressão

civilizatória que tem se multiplicado até ao mal estar de uma claustrofobia.

A EDUCAÇÃO E A EMANCIPAÇÃO

Theodor Adorno (1995) fala em Educação e Emancipação:

“Pode-se falar de uma claustrofobia da humanidade no

mundo administrado, uma sensação de clausura em um

contexto mais e mais socializado, densamente

estruturado. Quanto mais apertada a rede, mais quer-se

sair dela, muito embora sua própria estreiteza o impeça.

Isso aumenta a raiva contra a civilização. A revolta contra

ela é brutal e irracional”.

A humanidade tende a sucumbir, vivendo essas condições. A capacidade

do homem de raciocinar, de enxergar, de pensar, foi atrofiada: a atividade de

criação tem sido mutilada, em lugar dela, assimila-se, adapta-se, repete-se. A

humanidade está assim, redigida por uma miopia nos olhos e na mente que

esquece, distorce, confunde, mistura, deturpa e cega diante de si própria e de

seus rumos. Os homens estão perdidos frente à produção de sua própria vida.

A sociedade administrativa é composta não de indivíduos, mas de

individualismos que vivem a coletividade, negando a singularidade.

O nosso autor continua analisando a sociedade, a civilização e os

indivíduos. Ele afirma que:

“Nossa sociedade, embora se integre cada vez mais,

incumba simultaneamente tendências desagregadoras.

Essas tendências desagregadas sob a superfície da vida

organizada têm progredido extremamente. A pressão do

geral predomina sob a particularidade. Os indivíduos e as

instituições individuais tende a desintegrar o particular e o

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individual juntamente com sua capacidade de resistência,

os homens perdem também as qualidades graças às

quais ser lhes ia possível opor-se àquilo que, a qualquer

momento, possa novamente atraí-los para o crime. Talvez

sem querer consigam resistir, quando lhes é ordenado

pelos poderes constituídos que voltem a praticar a mesma

ação, desde que tal aconteça em nome de quaisquer

ideais, nos quais nem precisam acreditar”.

Para Adorno, a educação deve ter a ousadia de não só desmistificar a

realidade que circunda a sociedade moderna, mas também revelar os

meandros que a permeiam: um amontoado de catástrofes e ruínas que não

tem parado de crescer aliada às conquistas humanas. Assim como a educação

não deve desmerecer essas conquistas e tampouco permitir que parta apenas

dela a formação humana. Não deve também contribuir, de alguma forma, para

o esquecimento da história e da vida humanas construídas com suor, sangue e

emoções dos mesmos homens que também a destroem. A educação há que

assumir o compromisso de contribuir para o resgate do homem dos escombros

e ruínas que tem sido autor sem, contudo, apaga-lo da memória humana. É

preciso lembrar-se de Auschwitz para que se possa superá-lo. O trabalho da

educação é ser mediadora entre o velho e o novo, sendo essa uma função que

lhes exige um respeito e uma compreensão do passado.

A EDUCAÇÃO HOJE

Assim a educação hoje, ao contrário de Auschwitz, deve conhecer e

trabalhar contra a inconsciência dos mecanismos que tornam os homens

capazes de atos tais como os de atacarem e matarem, subjugarem e

sacrificarem os outros. Penso que assim como a educação deve conhecer esse

tipo de caráter, assim também deve ela entender o tipo de caráter daqueles

que – em todos os sentidos permitem-se ser mortos, subjugados, sacrificados,

feitos escravos.

Conforme Adorno (1995):

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“A educação só terá pleno sentido como educação para a

autorreflexão crítica. Dado, todavia, que, como mostra a

psicologia profunda, os caracteres em geral, mesmo os

que no decorrer da existência chegam a perpetrar os

crimes, já se tornaram na primeira infância, uma

educação que queira evitar a reincidência, haverá de

concentrar-se na primeira infância”.

Uma educação após Auschwitz dar-se-ia conforme nosso autor, primeiro no

âmbito da educação infantil, sobretudo na primeira infância. Depois no

esclarecimento geral, criando um clima espiritual, cultural e social que não dê

margem a uma reincidência, através da conscientização dos motivos que

levaria ao horror.

O nosso autor fala que: “Crê-se que quanto mais bem forem tratadas as

crianças, quanto menos forem negadas na infância, mais chances elas terão”.

A educação para Adorno tem uma importância primordial na formação das

gerações atuais para a construção de uma sociedade que se guie pela razão,

na luta pela autonomia, pela emancipação.

O processo de “desbarbarização”, ou seja, uma educação após

Auschwitz é global e apresenta ênfases peculiares. Como desenvolver a

educação através do processo de desbarbarização? As propostas que Theodor

Adorno apresenta possuem três vias complementares: a passagem do

inconsciente para o consciente, a passagem do não ciente para o ciente; a

passagem do pseudociente para o ciente. No primeiro caso, passagem do

irracional para o racional, a psicologia profunda presta colaborações

inestimáveis, ajudando os sujeitos a entenderem melhor a dimensão subjetiva

da dominação e da liberação, a captarem os mecanismos da manipulação pela

ideologia dominante, a formarem reações psíquicas novas, mais humanas, em

contra posição à situação repressiva.

Nesse sentido é fundamental desenvolver pela educação as

possibilidades de conscientização da frieza em si e apurar os motivos que a ela

levaram. A passagem do não ciente significa passagem da dimensão da

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ignorância para o conhecimento através do esclarecimento crítico. A ignorância

socrática sempre mostrou sua disponibilidade e potencialidade para o saber.

Ela gera não apenas admiração ingênua, mas também a curiosidade infantil de

quem quer saber o que não sabe. Adorno tenta demonstrar que a não cultura e

o não saber permitem uma relação mais direta com os objetivos do

conhecimento e possibilita uma passagem mais conseqüente e lúcida à

consciência crítica.

Os valores do senso comum ideologizados pela indústria cultural

sedimentam suas representações conceituais. A terceira via da educação, a

passagem do pseudociente ao ciente, apesar das dificuldades geradas pelas

mediações da ideologia onipresente e onipotente, também se fazem pelo

esclarecimento crítico sobre a semi-cultura.

O nosso autor afirma que: “A cultura não tem nenhuma outra

possibilidade de sobreviver senão pela autorreflexão crítica sobre a semi-

cultura”. Portanto, a educação para Adorno tem uma importância fundamental

na questão da formação das gerações atuais no sentido de uma sociedade que

se guie mais pela razão na luta pela autonomia, pela emancipação.

É preciso identificar o que tem permitido que a conduta autoritária

perdurasse numa democracia formal. O autor afirma que o potencial autoritário

continua bem mais forte do que se supõe. Ele diz:

“Antes, é de supor que o fascismo e o horror, embora as antigas

autoridades constituídas do Império, já em plena decadência, houvessem sido

derrubadas, os homens ainda não estavam psicologicamente preparados para

a autodeterminação. Eles não se mostraram à altura, da liberdade que caira do

céu. Por isso, as estruturas de autoridade assumiram aquelas dimensões

destrutivas e.... desvairadas, que não tinham, ou pelo menos não revelou

anteriormente”.

O autoritarismo está entranhado na personalidade do homem moderno

que vive a sociedade organizada no mundo administrado. Quanto mais

progresso e evolução conquistam o homem, mais sutis vão se tornando os

seus mecanismos de sustentação de uma personalidade autoritária que

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corrobora para a manutenção de formas também sutis de, autoritariamente,

Auschwitz permanecer entre os feitos históricos que sustentam a modernidade.

Adorno destaca em as preocupações a supressão da não identidade, ou

seja, a singularidade, assim também faz parte de suas preocupações a

coletivização. As pessoas que se enquadram compulsivamente em

coletividade, omitem-se como seres autodeterminantes transformando-se em

massa bruta e, consequentemente, tratam os demais como massa amorfa.

Adorno denomina essas pessoas possuidoras de caráter manipulativo. Esse

caráter manipulativo evidencia-se pela mania de organização, pela

incapacidade de vivenciar experiências humanas de modo geral, em certo tipo

de ausência de emotividade e num realismo exagerado.

A pessoa possuidora de caráter manipulativo

“Não concebe nem deseja por um segundo sequer que o

mundo seja diferente daquilo que é, possuído pelo desejo

de fazer coisas... indiferente ao conteúdo de tais ações.

Ele faz da atividade, da chamada efficiency, um credo que

soa como propaganda ao homem ativo. Esse tipo,

entretanto... está muito mais disseminado do que se

poderia acreditar. Aquilo que exemplificava apenas alguns

monstros nazistas poderão ser observados hoje em

grande número de pessoas”.

Adorno utiliza para exemplificar a ausência de amor nas pessoas, o

estado de fuga e de indiferença perante o mundo. São pessoas que recusam a

possibilidade de amar e, além disso, repelem essa possibilidade, antes que ela

floresça em outras pessoas, que se não fossem profundamente diferentes,

Auschwitz não teria sido possível. Pois as pessoas não o teriam aceitado.

Quando nosso autor fala que par a educação, Auschwitz não mais deveria

existir, o que ele quer dizer é que tudo o que hoje tem de Auschwitz como

estrutura não deveria existir. A educação, sem dúvida, pode e deve contribuir

para que tudo que tem de Auschwitz como estrutura, de fato, não mais exista.

O autor continua:

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“... Receio que através das medidas educativas, por mais

abrangente que seja, será difícil evitar que assassinos de

escrivaninha tornem a aparecer. Mas que existem

pessoas que lá embaixo, como servos, portanto, praticam

atos que se destinam a perpetuar a sua própria servidão e

se despem de toda a dignidade humana: ... contra isso se

pode fazer alguma coisa, pela educação, pelo

esclarecimento”.

Toda educação deveria ter como fim, centralizar-se no impedimento de

uma reincidência de Auschwitz. E isso só será possível se esta educação,

conforme o nosso autor, sem medo do choque com quaisquer poderes,

pudesse ocupar-se dessa tarefa. Seria preciso um esclarecimento sobre o jogo

dos poderes na sociedade conforme ele mesmo diz: “contra todo tipo de

servidão pode-se fazer algo pela educação, pelo esclarecimento”.

Esta é a tarefa de o educador pensar a reconstrução da educação como

um todo. Pensar mesmo que utopicamente, um projeto de educação que ajude

a repensar a sociedade.

Educação na concepção desta filosofia é a arte da rememoração aliada

ao exercício reflexivo de um pensamento esclarecido que conhece e sabe-se

conhecedor de sua potencialidade. Compreende sua singularidade na

pluralidade e entende sua vida social porque, não somente concebe, mas

compreende o tempo de sua trajetória no mundo. O objetivo desse trabalho foi

fazer uma leitura do escrito de Adorno sobre “Educação após Auschwitz”. A

educação após Auschwitz – campo de concentração nazista – deve ser uma

educação contra Auschwitz. A educação tem de assumir um compromisso de

contribuir para o resgate do homem dos escombros e ruínas de que tem sido

autor, sem, contudo apaga-los da memória humanas. É preciso rememorar

Auschwitz para superá-lo.

A educação deve conhecer e trabalhar contra a inconsciência dos

mecanismos que tornam os homens capazes de atacarem, matarem,

subjugarem e se sacrificarem. O homem enquanto sábio se torna cidadão do

mundo, supera a dimensão do privado, do doméstico, das normas e de todo

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tipo de imposição. A educação pelo esclarecimento pode faze alguma coisa no

sentido de modificar a atitude dos que praticam a barbárie. O nosso autor tem a

coragem de propor o resgate do amor, ao mesmo tempo em que nega

intencionalmente essa possibilidade ao continuar suas reflexões tratando da

conscientização da frieza em si e de desvendar os motivos que a ela levaram.

É necessário trabalhar o medo que impede o esclarecimento e o crescimento

dos indivíduos.

7 GRUPO E PRECONCEITOS EM ADORNO E HORKHEIMER7

Não se pode falar de grupo sem falar de indivíduo, individualismo,

sociedade e preconceito. Adorno e Horkheimer pertencentes à escola de

Frankfurt. O autor faz uma crítica à sociologia de Emile Durkheim que é

positivista e funcionalista. Mas também critica a sociologia de Max Weber e do

próprio Karl Marx. Tanto a linguística como a Sociologia ainda não terminou de

conceber o significado adequado de grupo. Ao falar de grupo entra em conflito

a questão do preconceito que se formam dentro dos grupos ou que o

preconceito está inserido nos próprios indivíduos.

CONCEITOS DE GRUPOS EM ADORNO E HORKHEIMER

Há vários tipos de grupos sociais. Mas os autores fazem uma

conceituação diferente baseada na dialética da escola de Frankfurt. O conceito

de grupo nestes autores parte da ideia de que o homem primitivo organizou os

grupos e depois criou o individualismo. O grupo se reúne em vários lugares

diferentes, assim se torna o espaço vazio e conforme o contexto, a ocasião em

que se reúne – este será o local de um grande sentido e significado.

Grupo é uma comunidade de interesses, aglomeração casual de

indivíduos, saberes é a localização de cada grupo é um circulo de pessoas –

duradouro ou não. O grupo é formado por vários indivíduos vinculados entre si

de tal forma que o indivíduo sente-se integrante de todo. Há que diferenciar as

classificações de massas, grupos, entidades.

7

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As massas são compostas de muitos grupos, com vários processos

sociais em movimento que tem relações próprias do indivíduo. Massa é

coletividade de indivíduo. O coletivo é pensado e sentido como portador de

valores duradouros, não vinculados ao transcurso do prazo da vida do

indivíduo. Dividiram-se os grupos de várias formas por causa de suas

formações sociais.

Os grupos não são só transitórios, efêmeros ou duradouros. Os grupos

podem ser abertos e exclusivos, organizados ou não, voluntários ou

compulsórios, psicológicos e institucionais. Os grupos institucionais são –

igrejas, família, e religião. Os grupos também são micro grupos compostas de

pessoas que se ligam temporariamente, de forma direta ou pessoal, sem

influência de terceiros.

Dentro dos micros grupos podem ser compostos de família, diversão,

vizinhanças. Os grupos podem ser também secundários e primários. Outra

conceituação é que os grupos são unidades da vida societária que tem uma

dinâmica social de composição e decomposição do grupo social. Assim

falamos da dinâmica do grupo a integração social é grande tanto do grupo

como do indivíduo. Kurt Lewin fala que esta dinâmica está associada à Gestalt.

A tendência de pertença de micros grupos e se tornar anônimo em grupos

maiores.

CONCEITOS DE PRECONCEITO

Ao falar de preconceito pensamos em racismo, grupo, sociedade, cultura

e indivíduo. Preconceitos étnicos e nacionalistas são duas variantes que tem

origens em condições sociais e psicológicas da moderna loucura totalitárias.

Há uma ligação entre a ideologia política e as formas psíquicas dos que se

convertem em seus adeptos. As ideologias autoritárias estão ligadas à

propaganda do nacional socialismo. O caráter autoritário e o seu preconceito e

o seu oposto é o homem livre.

O preconceito está ligado às tendências e modos de comportamento dos

tipos psicológicos que compõem a matéria prima para a formação do

preconceito. O preconceito refere-se a um sadismo encoberto, a um tipo de

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personalidade autoritária, a adoração da força, o reconhecer cegamente tudo

que é eficaz, o pensar estereotipado. O caráter totalitário é assim a

personalidade autoritária e a partir disto se tem o preconceito.

O preconceito está ainda ligado às atitudes dos sujeitos sobre as

minorias étnicas, religiosas, políticas, econômicas, opiniões e opções sexuais.

Os preconceitos de forma racial, étnico, religioso podem ter reações na política,

na economia, na propaganda do ódio.

O estudo do caráter totalitário representa uma tentativa de contribuir

para a superação dessa dificuldade. Mostramos estudos que os próprios

indivíduos dividem a humanidade em salvadores e os condenados.

A formação de juízos estereotipados não é um privilégio nos caracteres

livres de preconceitos, entre os quais também se configurou nitidamente a

existência de um tipo rígido.

Concluindo, fazemos parte de grupos sociais. O homem é homo

sociologicus. Ele vive em grupos desde os tempos primitivos. Entram e saem

de grupos dependendo de situações históricas. Estamos numa época de

barbárie. Onde os grupos sociais se digladiam entre si. Torcedores de futebol,

renascimento de grupos de intolerantes marcam os grupos sociais de nossa

época.

9 REFLEXÕES SOBRE UM NOVO TIPO DE PROFESSOR UNIVERSITARIO

ISTO É POSSÍVEL?8

A questão de uma questão de um professor universitário é possível. A

situação de um novo tipo de professor universitário. Como uma nova

universidade é necessária. Devemos ter uma nova forma de docência

universitária.

Existe uma necessidade profunda de um novo de tipo de professor

universitário. Como também há uma necessidade de uma nova universidade.

Necessita uma mudança nas formas de professorado e de instituição

universitária. As situações sociais, políticas e econômicas promovem uma

8 Artigo Científico

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mudança radical para pior na formação do professor universitário, da

universidade e dos próprios alunos. A sociedade deveria promover um contexto

social melhor valorizando o sujeito, a participação da mesma nas decisões e

nas transformações tecnológicas e nos meios de comunicação. Há uma

pressão social exigindo um novo modelo de professor universitário que não

esteja dominado pela tecnologia, mas que saiba unir a ciência com a

investigação e a gestão.

Torna-se cada vez mais importante a forma dessa nova docência e da

formação psicopedagógica para aprender a ensinar, educando os estudantes

em valores e éticas, no domínio das emoções e em todos os aspectos

socioambientais. As novas alternativas sobre a formação do professor para que

este aja de conformidade com o capitalismo, processos sociais e instrumentos

de formação ultrapassados são cada vez mais divulgados pelo neocapitalismo.

A exigência de especializações, cursos de formações para docentes

universitários, uma reestruturação da própria universidade, dos funcionários

desta universidade permite uma autorreflexão sobre os docentes em sala de

aula.

NOVO PROFESSORADO

Tentamos imaginar um novo tipo de professor e uma nova universidade.

Isto obriga a correr um risco, um esforço de imaginar os equívocos que são

gerados pela vida, pela maneira de perceber o contexto social e um futuro

imprevisível. Pensamos num exercício profético que tem lugar um futuro

marcado pela mudança e pela incerteza. A dúvida está na questão da análise

como pode/deve ser a universidade futura e assim como deve ser o docente

universitário.

O enfoque principal e mais elementar nos leva a perguntar sobre a idéia

radical e global: a universidade deve mudar radicalmente e converter-se numa

universidade totalmente diferente. Ela deve mudar conforme as mudanças

cada vez mais velozes que tem ocorrido neste século. A universidade deve

deixar de lado a concepção antiquada de que procede e que tem se tornado

ultrapassado, assumindo uma nova cultura na forma e conteúdo.

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Outra análise consiste de que a sociedade penetrou na universidade e

não vice versa. A sociedade duplicou nesses últimos anos o conhecimento

acumulado pela humanidade. O auge da tecnologia nos grandes meios de

comunicação e informação, a formação contínua da ciência social, a critica do

método cientifico tradicional, o conceito de ciências, as atitudes sociais novas,

o debate do que se deve ensinar, a formação contínua dos indivíduos, o

neoliberalismo veloz, os novos meios de formação, influíram grandemente na

universidade. E deveria servir para que a mesma saísse da tutela, do

estancamento e das rivalidades de grupos de pesquisa. A universidade não

pode se auto renovar e que os que trabalham nela não devem dedicar-se

apenas em decretos e leis, mas em decisões.

A universidade evoluiu neste século e fez isto sem romper as diretrizes

que marcaram o seu nascimento: transmissão, seleção, consciência. A

universidade não é aquela instituição que no século passado ao passar do

centro universitário o estudante tinha um verdadeiro privilégio, este pertencia a

uma elite. Precisamos tem em conta que a educação universitária era um

processo ligado a uma categoria social e não um meio para conseguir essa

categoria social. Esta evolução e extensão de outras camadas sociais, deve

permear a universidade do futuro para que haja uma concepção de instituição

que deve educar na vida e para a vida.

A universidade deve educar realmente na vida e para a vida e superar

estes enfoques tecnológicos, funcionalistas e burocratizantes. A universidade

dentro e fora, nas suas relações e práticas deve ter um caráter mais relacional,

cultural, contextual e comunitário. O seu âmbito deve ter a importância da

interação entre todas as pessoas vinculadas, seja no trabalho nela como

condição de usuário, de agente social ou como apenas membros de uma

comunidade.

A interação dela com a comunidade devem refletir o dinamismo social e

cultural da instituição que é a comunidade e que está a serviço da mesma. A

universidade deve ser o lugar na qual se aprende uma profissão, um ofício,

uma vocação, não importa qual seja para ter a manifestação de vida em todas

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as suas relações e disposições com uma comunidade que seja de modo

institucional de conhecer, investigar e ensinar o mundo e suas manifestações.

O futuro do ensino e do aprendizado deve passar pela questão de como

ser cidadão e como isto se concretiza: democrática, social, solidária, igualitária,

intercultural e meio ambiental. Os lugares que isso deve ocorrer está em

contradição com pobreza endêmica ou a neo miséria, emergida numa

povoação de analfabetos cívicos. A universidade precisa de outros modos

culturais e sociais que ajudem no processo de formar o cidadão. Isso está

dentro da formação universitária, muito mais do que no ensinar/transmitir a

uma minoria homogênea, numa época em que o conhecimento e a gestão

estão em poder de poucas mãos, que monopolizam o saber.

O CONTEXTO SOCIAL

A formação dos seres humanos cada vez mais é complexa. A profissão

de docente universitário também o é. Nessa complexidade vemos a mudança

radical e veloz das estruturas científicas, sociais e educativas que dão apoio e

sentido à instituição do sistema educativo.

A universidade e o trabalho nela serão marcados por um contexto que

se desenvolverá no futuro ou presente:

- A mudança veloz nas formas da comunidade social, no conhecimento

científico e nos produtos do pensamento, cultura e arte;

- A evolução rápida da sociedade através das estruturas materiais,

institucionais, organizacionais, convivência, modelos de família, de produção e

distribuição, refletem na mudança inevitável das formas de pensar, sentir e

atuar das novas gerações;

- Os contextos sociais condicionam a educação e fazem refletir uma serie de

forças em conflito. As mudanças rápidas pelos meios de comunicação e

tecnológica forma acompanhados por transformações profundas na vida das

instituições e organizações, colocando em crise a mera transmissão do

conhecimento e das instituições;

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- Fazendo uma análise da formação dos docentes e da comunidade, dos meios

que esta possui, estabelecemos novos modelos de relações e participações na

prática da educação.

Não podemos esquecer que na atualidade o sistema social educativo, a

desregularização, as idéias e práticas neoliberais, conservadoras e as

tendências de gerenciamento baseadas em critérios de rendimento e mercado.

A organização de uma sociedade democrática deveria permitir criar na

universidade, intelectuais coletivos, espaços de resistência e liberdade

intelectuais suficientes para intervir com crítica e autonomia pessoal e

profissional nestas instituições. O processo de mudança precisa estar alerta

para impedir que se reconceitualize os sistemas econômicos e regulação

(oposto da desregularização do estado) do mercado para colocar na

universidade elementos que são processos de autonomia vigiada, de

ingerenciamento, de mais competência entre as pessoas e de grandes valores.

Nos últimos tempos vemos a questão de um conhecimento de noções e

imutáveis das ciências que se abre para certas concepções em que as

mudanças e a incerteza têm um papel preponderante. Foi-se incorporando,

num debate sobre as práticas universitárias, os aspectos éticos,

relacionamentos, colegiado, atitudes, emoções reflexões. Tudo isso foi

necessário para conseguir uma melhor formação cientifica e democrática dos

futuros cidadãos e cidadãs. Começou assim a valorizar a importância do sujeito

(na modernidade a importância era a razão, objeto e na pós-modernidade a

relatividade e o sujeito). A participação do professor, a relevância que ele

adquire com a bagagem sociocultural - a comunicação, o trabalho em grupo, o

debate democrático, a aprendizagem dialógica, os processos são mais que

produtos, a elaboração conjunta de projetos, a tomada de decisões

democráticas, a análise de situações está na concretização do futuro.

No futuro precisamos de uma universidade melhorada e uma nova forma

de educar em estruturas organizadas universitárias diferentes e isso requer

romper com a burocracia institucional. Para romper esta burocracia precisa-se

reconceitualizar a universidade e a docência universitária. Precisa de uma

forma de novas competências profissionais por parte do professorado. Esta

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nova forma precisa de uma universidade, uma formação universitária e um

docente profissional bem diferente dos atuais.

A FORMAÇÃO DO DOCENTE UNIVERSITARIO

A formação está vinculada ao desenvolvimento profissional, deve ser um

processo continuo que começa com a escolha de uma disciplina concreta

(formação inicial num oficio ou profissão) e domínio (conhecimentos,

habilidades, competências) que vai se aperfeiçoando devagar (formação

contínua e permanente).

A formação inicial é uma primeira fase. O objetivo é ter profissionalidade,

integração das competências para uma socialização profissional. O outro

objetivo que é a segunda fase deve encontrar soluções em situações

problemas que se apresentam no cumprimento das funções profissionais.

A questão insolúvel da formação dos docentes universitários, tanto numa

como na outra fase, a socialização ou formação permanente, deve obedecer

duvidas e indeterminações sobre qual deve consistir realmente a sua

socialização profissional ou seu trabalho profissional especifico como docente.

O professor universitário se forma basicamente no conteúdo cientifico da

matéria que ensina e que investiga. Isto é quase vago ou nulo o interesse do

docente universitário sobre a formação que precisa para transmitir e

compartilhar esse conhecimento com os estudantes.

Pode comprovar-se na experiência a dificuldade de superar o velho e

ultrapassado suposto que o bom professor é aquele que domina a ciência, já

que o conhecimento o capacita por si mesmo para ensiná-la e que o melhor

docente é o que mostra aptidões e boa vontade. Como ultrapassar esse

fantasma da docência universitária? O conhecimento vulgar pedagógico, que

foi interiorizado durante muitos anos de aulas universitárias como estudantes,

antes de ser docente. Isto impõe um modelo de transmissão semelhante, como

aquele currículo que nada vale e que se aprende a ensinar mediante as

estruturas e relações que tiveram e se tem, na formação especifica, na reflexão

e no contraste das idéias.

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Atualmente o professor universitário começa a ter uma consciência de

que o modelo não é suficiente (nefasto), sobre o qual a experiência mostra o

predomínio de uma transmissão normativa ou de noções, e que não tem pré-

requisitos de uma transmissão mais descritiva, mais regulativa.

Há uma nova forma de transmitir e compartilhar o conhecimento

científico, e que a formação inicial e permanente do professor universitário é

imprescindível e também necessária numa universidade que olha o futuro

como uma nova forma de ensinar. A nova universidade deve superar os velhos

esquemas e antigas ideologias acadêmicas sobre a docência predominantes e

obsoletas.

É difícil colocar-se na formação docente universitária se:

- Qual é a função importante da profissão universitária: a investigação, a

docência, a gestão ou todas elas?

O debate sobre a formação do docente universitário deve ser sobre as

estruturas pedagógicas necessárias, sobre a metodologia, os foros didáticos ou

debater sobre a profissão docente de forma completa. Essa discussão ainda

está por se fazer, é necessária a tradição de pensamento e reflexão.

A sociedade pede que a universidade deva mudar totalmente conforme

são as mudanças que tem se produzido nos últimos anos (os rápidos avanços

científicos e técnicos e a mudança do conhecimento, as novas atitudes sociais,

as novas profissões, e o uso das tecnologias). Essa mudança ocorre cada vez

mais na universidade como na investigação cientifica. A docência pertence a

outro mundo já que existem dois mundos na universidade: o mundo do

discurso acadêmico, a teoria cientifica e a investigação, o mundo da docência e

a sua prática. Podemos agrupar e equilibrar, estabelecer formas de convivência

entre esses problemas? Começamos a ver caminhos cruzados nos dois

mundos, com duas culturas. Na docência universitária algo vai mudando.

Removeram-se certos supostos que antigamente não se mudaram.

A ignorância de uma parte do professor universitário, sobre o como

ensinar o que se sabe, o desinteresse e a desconfiança da pedagogia (a

pedagogia como realidade formativa mudou os enfoques conceituais de

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tendências ruins nas técnicas pedagógicas), criou-se uma tímida mudança e

fez surgir novas propostas.

O discurso universitário, a competitividade, os critérios de rendimento e

mercado e alguns fatores sociais (baixa natalidade, mudança de sistema

educativo, novas mudanças sociais) geraram uma preocupação institucional

mais que o próprio interesse do coletivo docente universitário.

CONCLUSÃO

A formação da docência universitária, inicial ou permanente tem uma

parte relacionada com a profissão universitária e os processos de

institucionalização. Não devemos cair em certos erros:

- a realidade social, acadêmica, cientifica mostrou que a profissão docente

universitária é complexa e não é uniforme. As mudanças das estruturas

científicas, sociais e educativas (penetram as disciplinas e atitudes dos

professores e estudantes) incrementando essa complexidade. Faze uma

formação uniforme de todo professorado sem ter em conta essa complexidade

é um grande erro.

A formação na docência universitária é contextual. Não pode explicar os

fenômenos educativos generalizando as ações nesses contextos. A realidade

universitária (estudantes, culturas acadêmicas, contextos, ensinos) mostra que

a interpretação dos fenômenos docentes deve ser contextualizada em cada

realidade. Não se mudará a docência universitária se o objetivo da formação é

só mudar as pessoas e que mediante a mudança pessoal, a formação

personalista se mudará a prática docente.

- a formação deve penetrar as pessoas e os contextos (processo de

comunicação, estruturas, políticas, relações de poder, tomadas de decisão,

autonomia) para gerar inovações na instituição.

- a formação do docente universitário deve estar prenha de valores, de formas

a interpretar a realidade. Esta profissão deve dedicar-se a transmitir e a dividir

conhecimentos e atitudes. A formação é mais baseada em atitudes, em

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processos, que em metodologias. Será maior benefício para a reflexão, para a

mudança e inovação na docência universitária.

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