EDUCAÇÃO FÍSICA NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO

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Universidade Estadual Vale do Acaraú UVA Centro de Ciências da Saúde - CCS Curso de Educação Física EDUCAÇÃO FÍSICA NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO Aspectos Teóricos e Práticos (Artigo) Autor: Jordão Viana Chaves Orientador: Antonio Madeira Filho Artigo apresentado a Coordenação de TCC do Curso de Educação Física da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), como requisito parcial a obtenção do titulo de licenciado em Educação Física. Sobral/2010

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A educação de alunos com deficiências: distúrbios graves de aprendizagem, comportamento e ou outras condições que afetam o desenvolvimento, tradicionalmente têm se pautado em um modelo de atendimento especializado, denominado, de forma genérica, como Educação Especial. No entanto, nas últimas décadas, em função de novas demandas e expectativas sociais, os profissionais dessa área têm se voltado, cada vez mais, para a busca de alternativas mais eficientes desses educandos à escola regular. É o modelo conhecido como Educação Inclusiva.

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Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA

Centro de Ciências da Saúde - CCS

Curso de Educação Física

EDUCAÇÃO FÍSICA NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO

Aspectos Teóricos e Práticos

(Artigo)

Autor: Jordão Viana Chaves

Orientador: Antonio Madeira Filho

Artigo apresentado a Coordenação de TCC do

Curso de Educação Física da Universidade

Estadual Vale do Acaraú (UVA), como requisito

parcial a obtenção do titulo de licenciado em

Educação Física.

Sobral/2010

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Educação Física na perspectiva da inclusão: Aspectos teóricos e práticos

Jordão Viana Chaves1

Antonio Madeira Filho2

RESUMO

A Educação Inclusiva é uma orientação dominante na maioria dos países que subscrevem a

Declaração de Salamanca em 1994. Ao se destacar a educação Inclusiva ―para todos e para

cada um‖, procura-se desenvolver técnicas, métodos e formas de organização que rejeitem a

exclusão e promovam a aprendizagem livre de obstáculos. Com base nisso, propõe-se

investigar a formação e a prática pedagógica do professor de Educação Física em relação a

educação inclusiva a partir de uma revisão de literatura sobre o assunto. Embora legalmente

instituída, a educação inclusiva ainda não se estabeleceu enquanto regra nas instituições de

ensino, sendo muitas as dificuldades e entraves a sua efetivação. Tais dificuldades são

percebidas tanto durante quanto após a conclusão dos cursos de formação em Educação

Física. Sendo esse fato, geralmente atribuído a defasagem dos projetos pedagógicos em

relação a educação inclusiva e a falta de práticas durante o período de formação acadêmica.

Ressalta-se que a Educação Física, enquanto parte integrante e intransferível do currículo,

tem-se mantido a favor deste movimento inclusivo, mesmo não sendo plenamente atendida

em seus aspectos teóricos e práticos.

Palavras-chave: Educação Física, Educação inclusiva, Inclusão, Formação.

ABSTRACT

Inclusive Education is a dominant orientation in most countries that sign the Declaration of

Salamanca in 1994.While highlighting the Inclusive education "for each and every one,"

seeks to develop techniques, methods and forms of organization that rejects exclusion and

promote learning free of obstacles. On this basis, it is proposed to investigate the formation

and practice of teaching physical education teacher in relation to inclusive education from a

literature review on the subject. Although legally established, inclusive education has not

1 Licenciado em Educação Física pela Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA, e-mail:

[email protected]

2 Mestre em Gestão e Modernização Pública pela UVA/UIL, Doutorando em Ciências da Educação pela

Universidad Autônoma de Asunción-UAA, e-mail: [email protected]

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been established in educational institutions, with many difficulties and obstacles pair that

happen. Such difficulties are perceived both during and after completion of training courses in

Physical Education. This fact is usually attributed to lag of pedagogical projects in relation to

inclusive education and lack of practice during the period of academic training. Physical

Education, as part of the curriculum and transferable, it is favorable to the inclusive

movement, although not fully answered in their theoretical and practical aspects.

Word-key: Physical education, inclusive Education, Inclusion, Formation

1 INTRODUÇÃO

A partir das últimas décadas, o mundo vem buscando uma nova proposta

metodológica educacional, para que o ambiente escolar consiga suprir as necessidades de

todos os indivíduos, sendo eles pessoas com deficiência ou não. No Brasil, a Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional (LDB - Lei Federal nº 9.394/96), assegura que todos os

indivíduos com necessidades educativas especiais têm o direito de frequentar uma escola de

ensino regular. Sendo assim, todos os professores com suas respectivas disciplinas necessitam

se adequar a essa nova proposta para conseguir suprir as necessidades educacionais de todos

os indivíduos. A disciplina, Educação Física especificamente consegue se adequar melhor a

essa nova proposta educacional, por ter uma maior flexibilidade na escolha dos conteúdos

programáticos para compor a escola inclusiva.

A educação de alunos com deficiências: distúrbios graves de aprendizagem,

comportamento e ou outras condições que afetam o desenvolvimento, tradicionalmente têm se

pautado em um modelo de atendimento especializado, denominado, de forma genérica, como

Educação Especial. No entanto, nas últimas décadas, em função de novas demandas e

expectativas sociais, os profissionais dessa área têm se voltado, cada vez mais, para a busca

de alternativas mais eficientes desses educandos à escola regular. É o modelo conhecido como

Educação Inclusiva.

A Educação Inclusiva preconiza que todos os alunos, independente de sua condição

orgânica, afetiva, sócio-econômica ou cultural, devem ser inseridos na escola regular, com o

mínimo possível de distorção idade-série. Entre os grupos historicamente excluídos do

sistema regular de ensino, beneficiados pela Educação Inclusiva, destacam-se as pessoas com

necessidades educacionais especiais - deficiências sensoriais (auditiva e visual), deficiência

mental, transtornos severos de comportamento ou condutas típicas (incluindo quadros de

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autismo e psicoses), deficiências múltiplas (paralisia cerebral, surdo, cegueira, e outras

condições) e altas habilidades (superdotados) — antes atendidas exclusivamente pela

Educação Especial.

No Brasil, 24,5 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, incluindo física e

mental, o que representa 14,5% da população em 2000 (IBGE, 2000). Esse dado inclui

também as pessoas que se declaram incapazes de ouvir, enxergar e andar. A maioria dos

deficientes do país moram em área urbanizada, tem até três anos de escolaridade, pertence ao

sexo feminino e quase metade deles (48%) ocupa a posição de chefe de família.

O município cearense de Irapuan Pinheiro, localizado na região Centro-Sul do Estado,

a 335 km de Fortaleza, está entre os cinco municípios brasileiros com maior número de

deficientes físicos (28,84% da população).

Com base nestas informações, pretende-se verificar como a disciplina ―Educação

Física Escolar‖ promove a inclusão de alunos com deficiência no ensino regular, descrevendo

as abordagens teóricas e práticas mais utilizadas para este fim.

Fato é que a temática ―Educação Física Inclusiva‖ ainda é pouco discutida nos cursos

de graduação em Educação Física. Poucos currículos apresentam disciplinas específicas sobre

o assunto e, quando existe como no caso do curso de licenciatura em Educação Física da

Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), constata-se que a quantidade de horas é

insuficiente para uma formação que realmente habilite o professor egresso do curso para atuar

junto a população dita deficiente na perspectiva da inclusão. Isso justifica a elaboração de um

estudo mais aprofundado sobre alguns aspectos legais, metodológicos e pedagógicos

relacionados à inclusão do aluno deficiente no ensino regular, seja para reforçar pontos de

vista já definidos, teorias pedagógicas estabelecidas ou descrever condutas formais mais

comuns a prática de professores de Educação Física.

Destituída da formalidade presentes nas demais disciplinas, a Educação Física é

sempre bem esperada com ansiedade pelos alunos devido às características próprias das aulas.

Constituídas por recreações, jogos, gincanas e esportes essa disciplina apresenta grande

potencial de contribuição para o processo de inclusão de crianças com deficiências na escola

regular. Ratificando isso, vários estudos enfatizam a contribuição da Educação Física para o

melhor desenvolvimento da criança nos aspectos motor, cognitivo, afetivo e social. Afinal,

―desenvolver a motricidade [na perspectiva do movimento humano] não é apenas apresentar

maior rendimento em determinadas habilidades [...]; bem mais que isso, significa adquirir

melhores recursos para se relacionar com o mundo dos objectos e das pessoas‖ (FREIRE,

1989, p. 56).

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Educação Inclusiva

O movimento pela educação inclusiva se intensifica a partir da Conferência Mundial

de Jointiem, Tailândia, realizada em 1990, que apontou a Educação para todos, e é retomada

na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, ocorrida na Espanha, em

1994, que culmina na Declaração de Salamanca. Movimentos que, indiscutivelmente,

configuram um avanço nos direitos dessas pessoas, mas que também devem ser analisados

frente à sintonia existente entre os organismos internacionais e os governos.

A Declaração de Salamanca (1994) propõe que "[...] as pessoas com necessidades

especiais devem ter acesso às escolas comuns que deverão integrá-las numa pedagogia

centralizada na criança, capazes de atender a essas necessidades." (UNESCO, 1994, p. 10).

As escolas regulares, seguindo esta orientação de inclusão, constituem os meios mais

eficazes para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias,

construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos, proporcionando,

assim, uma educação adequada à maioria das crianças, numa relação custo-qualidade, dentro

do sistema educativo. (UNESCO, 1994)

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB (Lei nº. 9.394/96)

estabeleceu, entre outros princípios, a igualdade de condições para o acesso e permanência na

escola e recomendou que a educação para educando com necessidades especiais ocorra,

preferencialmente, na rede regular de ensino. Além da questão normativa, têm-se presenciado,

em nossa sociedade, ao longo das últimas décadas, rápidas e intensas transformações com

importantes mudanças na educação inclusiva. Uma delas é o quanto a discussão a respeito de

exclusão social, configura-se por exclusão social toda situação ou condição social de carência,

dificuldade de acesso, segregação, discriminação, vulnerabilidade e precariedade em qualquer

âmbito. No âmbito escolar, isso se dá em torno da temática da inclusão, porém, tanto no meio

acadêmico quanto na própria sociedade esse assunto tem rendido novas discussões.

(MANTOAN, 2003).

Segundo Duarte (2003), Educação Inclusiva e um processo de inclusão da pessoa

deficiente em toda etapa do ensino aprendizagem no ensino regular. Nesta perspectiva, tanto a

escola como a sociedade vão ganhar com a Educação Inclusiva, pois a troca de conhecimento

entre os alunos e funcionários vai propiciar um contato mais solidário com o próximo.

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Para Rodrigues (2008), A Educação Inclusiva deve ser entendida como uma reforma

educativa, pois todo o sistema educacional vai ter que passar por uma reforma. Alguns

especialistas consideram que um professor de classe regular não é capaz de suprir as

necessidades de todos os alunos. Os professores vão ter que passar por uma capacitação

contínua para atender às necessidades daquele aluno especial e a dos outros alunos ditos

―normais‖. E a infra-estrutura da escola vai ter que ser adaptada para garantir a locomoção do

educando por todo espaço escolar.

2.1.2 Escola inclusiva

Segundo César (2003), escola inclusiva é uma escola onde a diversidade deve ser

encarada como uma riqueza e não como algo a evitar, onde as limitações e características de

cada um devem ser respeitadas permitindo - lhes avançar.

A escola inclusiva, a escola de qualidade para todos os alunos segundo Ainscow,

(1991apud, SANCHES; TEODORO, 2006) faz-se por um lado por aqueles que se encontram

em situações problemáticas e por, todos os que, no momento, não vivenciam essas situações.

Na escola, presume-se conceitualmente, que todos devem participar da vida

acadêmica, em escolas comuns e nas classes regulares onde deve ser desenvolvido o trabalho

pedagógico que sirva a todos, indiscriminadamente (EDLER CARVALHO, 1998).

Segundo a Declaração de Salamanca, (1994), o princípio fundamental das escolas

inclusivas consiste em que todos os alunos devem aprender juntos, independentemente de

dificuldades e diferenças apresentadas. Estas escolas devem adaptar-se aos diferentes tipos de

estilos e ritmos de aprendizagem, garantindo assim um bom nível de educação através de

metodologias adequadas, boas estratégias escolares, estratégias pedagógicas e recursos

adequados. Sendo necessário um conjunto de apoios e serviços para satisfazer as necessidades

educacionais dentro da escola como um todo.

Vale destacar que a Declaração de Salamanca e as Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Especial (BRASIL, 1988), explicitam que a escola regular deve adotar uma

postura inovadora, propondo em seu projeto político pedagógico, no currículo, metodologia

de ensino, avaliação e nas estratégias de ensino, ações que favoreçam e fortaleçam a inclusão

social e práticas educativas apropriadas. Numa escola inclusiva, a diversidade deve ser

valorizada, sendo homogênea, oferecendo assim, a todos os alunos maiores condições e

oportunidades de aprendizado.

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Para oferecer uma educação de qualidade a todos os educandos, inclusive os que

manifestam necessidades educacionais especiais, a escola precisa capacitar seus professores,

preparar-se, organizar-se, enfim, adaptar-se. O próprio Ministério da Educação reconhece, no

acima citado, que inclusão não significa, simplesmente, matricular os educandos com

necessidades especiais na classe comum, ignorando suas necessidades especiais, significa sim,

dar ao professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica (BRASIL, 1988).

Para que as escolas tornem-se mais inclusivas, segundo Ainscow (2000), é necessário

que assumam, valorizem e trabalhem seus conhecimentos na prática, que tenham a diferença

como um desafio e uma oportunidade para a criação de novas aprendizagens, que sejam

capazes de ultrapassar o que está a impedir a participação de todos, que sejam criativos e

mostrem-se disponíveis a recriar e gerar recursos para a aprendizagem, que tenham uma

linguagem de fácil assimilação e que todos estejam preparados para os riscos e desafios.

Para Cardoso (2003), a inclusão de alunos com deficiência na escola regular, constitui

uma perspectiva e um desafio para o século XXI, cada vez mais firme, nos diferentes sistemas

e níveis educativos.

2.2 Educação Física Inclusiva

Freitas e Araujo (2004) defendem que a Educação Física deve ser inclusiva,

esquecendo de uma vez por todas a idéia de "aluno padrão", "corpo perfeito", "rendimento" e

"aptidão física", possibilitando que todos, independentemente de suas limitações, possam

participar das aulas.

Segundo Rodrigues (2006), A Educação Física, como disciplina curricular, não pode

ficar indiferente ou neutra em face deste movimento de educação inclusiva.

No que se refere, especificamente, às pessoas com deficiência, Cidade e Freitas (2002)

afirmam que, no que concerne à área da Educação Física, a Educação Física Inclusiva surgiu

oficialmente nos cursos de graduação, por meio da Resolução número 03/87, do Conselho

Federal de Educação, que prevê a atuação do professor de Educação Física com o deficiente e

outras necessidades especiais.

A Educação Física inclusiva é uma área da Educação Física que tem como objeto de

estudo a motricidade humana para as pessoas com necessidades educativas especiais,

adequando metodologias de ensino para o atendimento às características de cada deficiente,

respeitando suas diferenças. (DUARTE E WERNER, 1995).

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A Educação Física na escola se constitui em uma grande área de adaptação ao

permitir, a participação de crianças e jovens em atividades físicas adequadas às suas

possibilidades, proporcionando que sejam valorizados e se integrem num mesmo mundo. O

Programa de Educação Física quando adaptada ao aluno com deficiência, possibilita ao

mesmo a compreensão de suas limitações e capacidades, auxiliando-o na busca de uma

melhor adaptação (CIDADE E FREITAS, 1997).

Segundo Pedrinelli (1994), todo o programa de Educação Física deve conter desafios,

permitindo a participação de todos, respeitando suas limitações, promovendo autonomia e

enfatizar o potencial no domínio da motricidade.

2.2.1 Considerações teóricas e práticas da educação física inclusiva

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), procurando atender à

diversidade de alunos, sugere que sejam elaboradas

[...] propostas pedagógicas baseadas na interação com os alunos, desde a

concepção dos objetivos; reconhecer todos os tipos de capacidades presentes na escola; seqüenciar conteúdos e adequá-los aos diferentes ritmos de

aprendizagem dos educandos, adotar metodologias diversas e motivadoras,

avaliar os educandos numa abordagem processual e emancipatória, em

função do seu progresso e do que poderá vir a conquistar. (BASIL, 1999,

p.18)

Estas orientações, embora válidas para todas as áreas do conhecimento humano,

adéqua-se com perfeição a proposta da Educação Física Inclusiva, sendo ratificada por

diversos autores.

Freitas (2006. p.179), afirma que ―o necessário compromisso com o sucesso da

aprendizagem de todos os alunos exige que o professor (dês) considere suas diferenças

culturais, sociais e pessoais e, sob hipótese alguma, as reafirme como causa de desigualdade e

exclusão‖.

Já Rodrigues (2003), sugere que para efetiva inclusão, o professor de Educação Física

deva inserir instrumentos significativos em suas aulas, como, técnicas que melhorem a

qualidade de vida dos alunos e acesso a diversidade. Fazendo com que crianças saibam lidar

com as diferenças, possibilitando as pessoas com deficiência uma vida em sociedade. Desta

forma a Educação Física poderá contribuir na área da educação inclusiva, utilizando se de

propostas metodológicas, com criatividade, usando as mais diversas manifestações da cultura

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de movimento (jogos, dança, lutas, expressão e desporto) para relembrarem as diferenças e

proporcionar aos alunos experiências que realcem a cooperação e a solidariedade.

Costa e Bittar (2004) conceituam atividade física e/ ou esportiva inclusiva como toda e

qualquer atividade que, ao levar em consideração as potencialidades e as limitações físico-

motoras, sensoriais e mentais dos seus praticantes, propiciando ao aluno deficiente efetiva

participação nas diversas atividades físicas, sendo estes mencionados; esportes, recreações,

danças e ginásticas, consequentemente, possibilita o desenvolvimento de suas

potencialidades.

Em estudos realizados por Bueno e Resa (1995), alguns aspectos devem ser

considerados pelo professor de Educação Física em função de minimizar as barreiras para a

aprendizagem de alunos deficientes, sendo as mais importantes as que seguem:

1. Aprendizagem global versus aprendizagem por partes - a aprendizagem por partes é

conveniente quando a complexidade da tarefa vai aumentando. O objetivo é conseguir

que o aluno perceba a globalidade do ato motor e seja capaz de executá-lo.

2. Importância da Propriocepção na aprendizagem motora – a aprendizagem do

movimento é influenciado e facilitado pela percepção do movimento. O aluno pode

vivenciar o movimento, visualizar, apontar o outro, observar e comparar seus

movimentos com o do colega.

3. Capacidade linguística – o professor deve conhecer a capacidade linguística de seus

alunos, já que a comunicação verbal é um dos meios mais utilizados no processo de

aprendizagem motora.

4. Tipo de ajuda prestada – o professor de Educação Física deverá prestar ajuda ao aluno

que necessite dele para executar o movimento, procurando escolher a que seja mais

adequada à situação, seja ela verbal ou por demonstração.

5. Conhecimentos dos resultados – o conhecimento dos resultados por parte dos alunos

constitui-se em fator motivacional para a execução do movimento ou tarefa por ele

realizado. O professor deve assegurar-se de que o aluno compreendeu a tarefa

Na escola, os educandos com deficiência leve e moderada podem participar de

atividades dentro do programa de Educação Física, com algumas adaptações e cuidados. A

realização de atividades com crianças, principalmente aquelas que envolvem jogos, devem ter

um caráter lúdico e favorecer situações em que a criança aprende a lidar com suas derrotas e

conquistas. A variedade de atividades também prevê o esporte como um auxílio no

aprimoramento da personalidade de pessoas com deficiência. Assim, crianças com algum

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nível de deficiência (auditiva, visual, física e mental) podem participar da maioria das

atividades propostas uma vez que a ―Educação Física Inclusiva‖ para pessoas com deficiência

não se diferencia da Educação Física regular em seus conteúdos, mas compreende técnicas,

métodos e formas de organização que podem ser aplicados ao individuo deficiente. A atuação

docente nesse caso volta seu planejamento, de modo a atender às necessidades de seus

educandos (ibid.).

É importante que o professor de Educação Física tenha os conhecimentos básicos

relativos ao seu aluno como: tipo de deficiência, idade em que apareceu a deficiência, se foi

repentina ou gradativa, se é transitória ou permanente, e as funções e estruturas que estão

prejudicadas. Implica, também, que esse educador conheça os diferentes aspectos do

desenvolvimento humano: biológico (físicos, sensoriais, neurológicos); cognitivo; motor;

interação social e afetivo-emocional (CIDADE E FREITAS, 1997).

2.2.2 Formação em Educação Física na perspectiva da inclusão

Segundo Nascimento, et al (2007), a Educação Física inclusiva é uma área que

necessita de melhor qualificação profissional. Com o aumento das necessidades sociais em

relação à inclusão social de pessoas com necessidades especiais, cresceu a preocupação sobre

a formação desses profissionais atuantes.

A formação de um profissional de Educação Física tem papel fundamental para a sua

atuação com o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem de seus alunos. Pode-

se dizer que a formação profissional em um primeiro momento deve-se à Universidade, que

tem como função capacitar recursos humanos para o desenvolvimento das atividades

profissionais (PELLEGRINI, 1988).

Na capacitação dos professores, o principal foco são professores executantes como

comenta Pellegrini (1988), a Educação Física, como uma profissão, deve se apoiar em

profissionais que não possuam apenas a habilidade de executar, mas a capacidade de repassar

essas habilidades a outra pessoa com o objetivo de ajudá-los no desenvolvimento de suas

capacidades física, motora e cognitiva.

Com isso, o professor, após passar pela formação acadêmica, tendo tanto experiências

práticas como teóricas, estará apto a formular e organizar as suas aulas para melhor atender às

necessidades de seus alunos respeitando suas especificidades.

Nesse sentido, o professor profissional, é considerado um prático que adquiriu, através

de muitos estudos, o status e a capacidade para realizar com autonomia, responsabilidade e

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criatividade atos na busca de objetivos inseridos em uma situação complexa. (ALTET et al,

2001).

Sobre a formação dada pelas Universidades a futuros professores, Altet et al(2001) e

Tardif (2003) comentam que normalmente os currículos não contemplam conteúdos e práticas

que favoreçam a atuação daqueles profissionais no sentido de lidarem com o "problema‖ da

inclusão do deficiente, assim como não estimulam a produção de conhecimento nesta área, ou

propõem estratégias para resolver situações nas quais alunos com deficiência estejam

excluídos do ensino regular. Espera-se que os professores devem possuir saberes compostos

de conhecimentos, competências, habilidades e posturas. Devendo esses saberes ser

aprendidos na Universidade. Cabe questionar se essa responsabilidade esta sendo assumida ou

se as Universidades estão mesmo interessadas em formar professores profissionais,

capacitados a atuarem independentemente das circunstâncias problematizadas do cotidiano

educacional, ou estão apenas preocupadas em enviar para o mercado de trabalho diplomados

que, protegidos por um território profissional, possam atuar sem conhecimento fidedigno em

uma profissão regulamentada. Acrescendo ainda que embora os conhecimentos profissionais

possam ser baseados em disciplinas científicas, são modelados e voltados para soluções de

problemas concretos.

Uma das dificuldades dos cursos de Educação Física em prepararem profissionais

competentes para atuarem na educação inclusiva se dá pelo fato de que essa disciplina

somente surgiu oficialmente nos currículos dos cursos de graduação, no inicio da década de

1990, por meio da resolução 03/87 do Conselho Federal de Educação. (BRASIL, 1988). O

tempo para que isso se reflita nos currículos e os processos de reformulação curricular, nem

sempre tão rápidos ou eficientes, justificam a presença, na escola, de professores sem a devida

formação técnica e pedagógica para lidar com deficientes numa perspectiva inclusiva.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A atuação do professor de Educação Física na perspectiva da inclusão é decorrente das

suas experiências acadêmicas e profissionais, e depende, principalmente, do interesse

desenvolvido ao longo do processo de formação. Cabendo ao curso de formação fomentar

experiências diversificadas e com a maior abrangência possível, colaborando para o

―despertar do acadêmico‖ em aperfeiçoar-se na área que mais lhe interessa. Compreende-se,

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portanto, que não é possível desenvolver uma prática pedagógica inclusiva sem que a mesma

tenha sido oportunizada no decorrer do processo de formação acadêmica.

Numa perspectiva inclusiva, a prática pedagógica do professor de Educação Física

deve ter como principal objetivo oportunizar ao aluno deficiente, conhecer suas

possibilidades, superar limites e oportunizando a prática de todas as atividades decorrentes

das aulas de Educação Física.

A Educação Física mostra-se como um campo vasto e muito rico para o

desenvolvimento das habilidades das pessoas com deficiência, no entanto existe uma série de

dificuldades enfrentadas pelos professores em suas práticas pedagógicas, principalmente no

que diz respeito a compreensão das diversas deficiências, abordagem e método de

intervenção. Os cursos de formação, em suas estruturas curriculares, cumprem com o objetivo

de formar educadores para atuar na escola de forma eficiente, para um público dito ―normal‖,

porém, não conseguem articular estes conteúdos, de forma a contemplar a inclusão em seu

aspecto mais estrito.

Diante dessas dificuldades se faz necessário repensar o processo de formação do

professor de Educação Física, propondo projetos pedagógicos que contemplem conteúdos e

práticas que estabeleçam competências teóricas e práticas aos professores de Educação Física

para atender ao deficiente na perspectiva da inclusão, oportunizando o desenvolvimento de

ferramentas e metodologias adequadas a este fim.

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Page 15: EDUCAÇÃO FÍSICA NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO

ANEXO A – Folha de Aprovação

JORDÃO VIANA CHAVES

EDUCAÇÃO FÍSICA NA PERSPECTIVA DA INCLUSÃO

Aspectos Teóricos e Práticos

Artigo apresentado a Coordenação de TCC do

Curso de Educação Física da Universidade

Estadual Vale do Acaraú (UVA), como requisito

parcial a obtenção do titulo de licenciado em

Educação Física.

Aprovado em: ____/ ___ / 2010.

BANCA EXAMINADORA

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Prof. MS. Antonio Madeira Filho(Orientador)

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA

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Prof.Tit. ..........................................................

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA

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Prof.Tit. ..........................................................

Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA