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    EDUCAO PELA ARTE

    AUTOR: Professor Doutor Levi Leonido Fernandes da Silva

    Departamento de Artes e Ofcios

    Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro

    Portugal

    RESUMO

    Este artigo aborda, em termos gerais, a relao intensa entre a educao e a arte,

    assim como os conceitos adstritos prpria arte e dela advindos. O movimento da

    educao pela arte, os seus mentores e principais impulsionadores em Portugal, assim

    como as principais linhas orientadoras deste movimento e de aces lectivas

    interdisciplinares levadas a cabo no ensino. So no fundo conceitos e ideias explanados

    neste artigo que, apenas e s, pretende ser uma simples resenha do que ns prprios e as

    nossas prticas lectivas extraem destes movimentos ou escolas que proliferaram e

    continuam buscando respostas para a cada vez mais difcil tarefa de ensinar,

    especialmente ensinar artisticamentequeme oque, principalmentecomo?.

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    A EDUCAO PELA ARTE

    O conceito de Educao pela Arte foi desenvolvido na segunda metade

    do sculo XX, por Herbert Read, numa obra sua intitulada Education throughtart. Embora no represente muito mais que uma transposio para o contexto

    actual da tese original de Plato. Herbert Read tenta de alguma forma tornar

    visvel o papel das artes na educao, bem como apontar caminhos que levem

    sua aplicao s necessidades actuais. Para Herbert Read (1966:17):

    Toda criana criana um artista de qualquer tipo cujas

    capacidades especiais, mesmo que insignificantes, devem ser

    encorajadas como contributo para a riqueza infinita da vida em

    comum.

    Para muitos dos seguidores de Plato esta tese era inaplicvel, mesmo

    assim representava o Belo, o Lgico e o Perfeito, embora s compreensvel a

    sua aplicao numa civilizao perdida. S um dos seus seguidores de nome

    Schiller, considerava como possvel a sua aplicao, pois acreditava que a arte

    deve ser a base da educao (Plato). Enquanto que para Read educar pela

    Arte Educar para a Paz (directamente influenciado pelo choque e o terror que

    viveu logo aps 2 Guerra Mundial, quando escreve o prefcio de Education

    Through Art - 1940-42). Para Herbert Read (1943) A expresso

    efectivamente um acto libertador das energias em ns contidas, por norma,

    grandemente desconhecidas para o prprio, energias geralmente

    desencadeadoras de um processo, o qual afluir para o aperfeioamento e

    desenvoltura harmnica do indivduo, no que diz respeito sua prpria re-

    educao ou re-construo. Ou seja esta tese aponta para que no seja

    apenas aplicada na educao considerada como regular, mas tambm na

    reinsero, reeducao e reconstruo das estruturas fsicas e psicolgicas do

    indivduo, num processo de reconciliao da singularidade com a unidade

    social. A educao deve englobar o processo de individualizao e

    consequentemente o processo de integrao.

    A Educao pela Arte surge como alternativa educativa. Embora para o

    primeiro objectivo do educador pela arte, no entender de R. Reis (2003: 101):

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    Deveria ser determinar o grau de correlao mais elevado possvel

    entre o temperamento da criana e os seus modos de expresso.

    A Associao Portuguesa de Educao pela Arte, fundada em 1965, por

    J oo dos Santos, Calvet de Magalhes, Alice Gomes, Almada Negreiros, J . F.

    Branco, Antnio Pedro, Adriano Gusmo, Ceclia Menano entre outros,

    desenvolve o conceito de educao como um caminho para a formao do ser,

    da pessoa no seu todo: realando o desenvolvimento da personalidade; do

    carcter; da imaginao; da criatividade; da expresso e, entre outros, a

    iluminao do ser. Estabelece um paralelismo entre o que se considera

    Educao e o que no Ensino (simples memorizao de matrias e

    contedos; saber imposto e directivo; transmisso nica de saberes e

    aprendizagens de conhecimentos). preciso ir mais alm e colocar a arte no

    seu devido lugar, usando-a para estimular a aprendizagem e imprimir um ritmo

    mais criativo, livre e ldico ao ensino / educao. A teoria de Plato postula

    este princpio de liberdade: de evitar a compulso e demanda que seja dada

    a forma de jogo s lies de todas as crianas. Pois isto ir por certo ajudar a

    apreciar quais so as suas reais aptides naturais. Read acredita que

    fundamental a insero da educao esttica em todo este processo de

    desenvolvimento, pois vais para alm do conceito adstrito da Educao

    artstica (visual ou plstica) e pode abranger todos os modos de expresso

    distintos: Verbal (literria e potica), musical ou auditiva. A educao Esttica

    no fundo uma Educao para os sentidos, pois a inteligncia e as ideias do

    homem, bem como a conscincia baseiam-se nos sentidos. Para Veiga (s.d.16)

    citando M. Kustow, considera que um aumento de conscincia o primeiro

    passo para a liberdade. Um povo que recusa a arte no um povo livre. Os

    principais objectivos / finalidades da Educao Esttica:

    Educao Esttica

    1- Permitir todos os modos de

    percepo e sensao.

    2- Coordenar os diversos modos de

    percepo e sensao, entre si e em

    relao ao envolvente.

    3- Possibilitar a expresso, de forma

    comunicvel, dos sentimentos e de toda

    a experincia mental.

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    Para H. Read (1943) referindo-se importncia dos sentidos e da

    inestimvel sensibilidade esttica de cada um, considera frontalmente que uma

    personalidade s ser integrada na sua plenitude se os seus sentidos

    estabelecerem uma relao harmoniosa e natural com um todo envolvente.

    A esttica divide-se, para Alberto Sousa, em 5 valncias (Sentidos):

    Esttica

    1- Sentido Original: Deriva

    do grego Aisth, Aisthik

    =Sentimentos, emoes,

    sentidos, afectos etc.

    (Designao actual)

    2- Sentido

    Sensorial1:

    Ligado ao sentircom os sentidos

    fsicos, sensoriais.

    3-Sentido Racional: Cincia

    que trata da Arte2; A Esttica

    a filosofia da Arte

    3

    ;J uzos,raciocnio, reflexo e estudo

    da Arte; Cincia que analisa a

    obra de arte procurando

    estabelecer leis

    (proporcionalidade, mtrica,

    perspectiva etc.).

    4- Sentido Transcendente: No necessariamente

    preciso que a obra de arte seja Bela necessrio

    que estimule o Belo4 e o Bem, a nvel sentimental,

    moral5 e espiritual. As quebras das leis da esttica

    racional, so formas de estimular uma dimenso

    supra cognitiva da pessoa, tais como: O Atonalismo,

    O Abstraccionismo, O Impressionismo, A Dismetria,

    A Arritmia entre outras.

    5- Sem Sentido: Instituto de

    Esttica (cabeleireiro);

    Esteticista (cabeleireiro, calista,

    massagista)

    CONCEITO DE ARTE

    Para M. Veiga (s.d.:14) citando. Andr Malraux:

    1 Designao de Esttica pela primeira vez empregada por Baumgarten (1750).2 Definio de Esttica normalmente encontrada nos dicionrios e enciclopdias de Arte.3 Definio de Esttica defendida por Barilli (1989).4 A Guernica, de Picasso, uma obra de arte propositadamente feia, bizarra, inesttica, pois o seu

    objectivo despertar na pessoa que a contempla o sentimento Belo de repdio pela guerra.5 Plato designava por Kalos o estmulo que a obra exercia sobre o esprito da pessoa,despertando-lhe sentimentos de beleza moral Agathos.

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    Toda a arte uma revolta contra o destino do homem.

    Para Herbert Read (1943) a arte abraa dois princpios fundamentais:

    1) A Forma: uma funo da percepo. O princpio de forma resulta na nossa

    atitude em relao ao que nos envolve, do aspecto objectivo universal e de

    todas as obras de arte.

    2) A Criatividade: uma funo da imaginao. O princpio da criatividade,

    prprio da mente humana, leva criao de smbolos, de mitos e fantasias,

    cuja existncia universalmente reconhecida pelo princpio da forma.

    Existe nesta ambivalncia de princpios, que se aproxima a um jogo

    dialectal, onde se revem todos os aspectos psquicos da experincia esttica,

    mas esta abarca todo um processo: Biolgico (o corpo) e o Social (o grupo, a

    comunidade).

    A Arte integra um processo biolgico da evoluo humana, sendo por

    isso distinto das actividades mais ou menos ornamentais que lhe foi ministrada

    por historiadores, psiclogos, bilogos e outros. A arte um conjunto de meios

    que o homem emprega para exercitar e explanar grandes sensaes, fortes

    emoes e em especial roa o sentimento do belo: e profundamente o prazer

    de ser arte e de fazer arte.

    A educao pela arte ser um processo dinmico somente entre dois conceitos

    por ela definidos: A Educao e a Arte.

    ARTE

    Somente a arte

    exprime os

    sentimentos

    informulveis6.

    Poderemos

    considerar a arte

    como a tcnica social

    do sentimento7.

    A arte expresso. A funo da arte

    no transmitir sentimentos do artista,

    mas estimular modificaes a nvel dos

    sentimentos de quem contempla a obra

    de arte8.

    Definir arte to difcil quanto definir o amor. R. Reis (2003:28) citando

    Read (1942), afirma que:

    Muitos homens inteligentes tm tentado responder pergunta O

    que a Arte, mas nunca satisfazendo toda a gente. A Arte im

    daquelas coisas que, como o ar ou o solo, est em todo o lugar

    6 Definio de Arte de E. Souriau 1973.7 Definio de Arte de Vigotsky 1970.8 Definio de Arte de Herbert Read 1958.

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    nossa volta, mas acerca da qual raramente nos detemos a pensar.

    Porque arte no apenas algo que se encontra nos museus e

    galarias de arte, ou em velhas cidades como Florena e Roma. A

    Arte, como quer que a definamos, est presente em tudo o que

    fazemos para agradar aos nossos sentidos.

    Read, profere que ns com facilidade veremos que h algo existe de

    valorativo na arte, uma espcie de hierarquia das arte, sendo que algumas

    qualidades que se lhe apontem podem definir uma obra de arte do tipo mais

    elevado. Certamente que no h nenhuma obra de arte genuna e autntica

    dentro de padres qualitativos definidos ou no, que no nos apele aos

    sentidos (os nossos rgos fsicos de percepo). Quando questionamos sobre

    o que pode ser a arte, estamos na realidade, a perguntar qual a qualidade ou

    particularidade numa obra de arte que atrai os nossos sentidos. Enquanto que

    para Rui Mrio Gonalves (2000) a arte e a cincia actuais tm algumas

    origens e interesses comuns. So ambas, no sentido mais profundo, filhas da

    experincia e do livre pensamento.

    Nos dicionrios a definio parece estar consentnea com a posio que

    temos sobre o assunto, embora difiram entre elas quanto ao contedo das

    mesmas. Ou seja para o Diccionrio del lenguage filosfico de P. Foulqui

    (1967), a Concepo Esttica e por contraposio aos ofcios que tm por

    finalidade a lavra de coisas teis: as artes tm por finalidade a lavra de coisas

    belas. Sendo que os ofcios so coisas do artesanato; enquanto que as artes

    so do artista. Para oDicionrio Prtico Ilustrado (1974), trata-se de maneira

    de dizer ou efectivar alguma coisa conforme certos mtodos. Emprego dos

    conhecimentos produo de uma criao ou concepo.

    Outras definies estabelecem um maior cunho pessoal busca designificados para o termo em causa. A arte pode ser ou uma actividade que

    perfaz a empreitada de revelar, expressar e comunicar um sentido muito

    pessoal e particular da realidade. Ou ainda, citando o Dicionrio Prtico de

    Filosofia, Elisabeth Clment, Chantal Demonque, Laurence Hansen-Love,

    Pierre Kahn (1999):

    Arte que visa a criao do belo, liberta-se no entanto, partida do

    til e de fim determinado, a menos que encerre o belo em cnonesestticos, ou determine um ideal com o fim de oferecer um modelo

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    aos artistas... Se a arte do gnio rivaliza aqui com a natureza, no

    apenas pelo seu poder criativo, mas porque as suas realizaes

    podem provocar, como espectculo da natureza, o sentimento

    esttico.

    Para o poeta e pensador portugus J os Rgio, no seu livro Em torno da

    Expresso Artstica escreve que a arte uma expresso transfiguradora da

    uma mera expresso vital; ou seja, um jogo em que se declaram todas as

    profundas intenes do ser humano.

    Herbert Read (1943) foi o criador da terminologia e enquadramento

    terico capaz da Educao pela Arte. Quando referirmos criador devemos

    igualmente abalizar os contributos de Walter Smith que criou a prima academia

    profissional para educadores em Massachusetts (1870), assim como Franz

    Ciek que abrigou a arte como procedncia de divertimento e criatividade da

    criana (1880), ou ainda, o trabalho capital dos psiclogos ao investigar a partir

    de 1800 o comportamento dos discentes, e por fim, a forte influncia de J ohn

    Dewey.

    No que diz respeito arte na educao durante a 2 Guerra Mundial,

    Read promove a ideia de que a arte transcende a poltica e o nacionalismo,

    dizendo e querendo que a arte dever caminhar de mos dadas com a paz,

    participando e formando as pessoas devidamente nestes dois domnios.

    Read considera que muito mais que a preparao alcanada na

    Universidade, tinha sido a sua estadia no Clube das Artes que centralizaram a

    sua ateno no pensamento de Plato, nas teorias socialistas, na filosofia

    esttica e, sobretudo, na abstraco artstica.

    Read sobre a educao e a arte reala claramente esta juno ao iniciar

    o seu livro Education Through Art baseado essencialmente nos fundamentosda doutrina que o filsofo grego Plato (discpulo de Scrates e mestre de

    Aristteles) desenvolveu claramente no sculo IV a.C. , afirmando tacitamente

    que a sua tese era: A Arte deve ser a base da educao.

    Para M. Buber (1946) para alm da arte constituir a sustentao

    educao necessrio, sempre que possvel, alerta professores e educadores

    para um pleno conhecimento em termos de pedagogia prtica, assim como

    dominar as tcnicas para a sua real implementao, sabendo de antemoquem o seu pblico-alvo e quais so as suas reais necessidades. Afirma

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    tambm, que antes de mais, que no o exerccio destas funes que importa,

    mas sim a oposio que ele representa. Ou seja, o que e com que objectivos

    vai direccionada a aco educativa e pedaggica segundo as bases

    fundamentais da educao pela arte. A importncia do aluno e as suas

    necessidades, bem como uma pedagogia que no se revista de carcter

    directivo e meramente expositivo, deve-se isso sim, perceber que

    necessidades h no outro lado, nos alunos e na sociedade, da qual tambm

    ns professores fazemos parte.

    O que leva Read a redefinir e redireccionar a sua vida foi a observao

    de inmeros desenhos e pinturas de crianas e, para seu espanto, ao analis-

    los demonstrou-se banzado perante um deles, o qual a prpria criana havia

    baptizado de cobra volta mundo e um barco. Read viu nesse desenho

    confirmada a Teoria Imaginria Ancestral de J ung e alguns dos elementos da

    Teoria de Freud que tanto o haviam surpreendido.

    Naturalmente que este movimento se alastrou pelo mundo fora, na

    dcada de 80. Comeando a ter repercusses mais ou menos acentuadas em

    alguns pases que aderiram Educao pela Arte. Onde (professores,

    educadores, crticos e historiadores de arte, tcnicos de museus) reclamam a

    introduo de disciplinas de carcter esttico no curriculum Escolar e a

    necessidade da redefinio do conceito do aluno (National Art Education nos

    E.U.A. e da INSEA na Gr-Bretanha. Este surto de tentativas e consecues

    so acompanhadas pelos editores e fabricantes de material didctico apelativo

    e relativo educao pela arte e ao ensino artstico.

    Como princpios orientadores este movimento na Educao alerta para a

    necessidade de evitarmos odiar ao mesmo tempo que amamos; evitarmos

    ainda o sadismo e o masoquismo pela unio de sentimentos e aces.Portanto urgente sabermos que no carecemos recorrer represso e

    imposio pura e dura, porque entendemos a educao como um processo

    que, no verdadeiro sentido da palavra nos impede de percorrer os trilhos do

    mal e negativismo. Os verdadeiros mpetos e impulsos que a educao

    desatar precedem e afastam toda e qualquer formao de mpetos e impulsos

    egostas e anti-sociais, os quais so o produto actual mais directo do processo

    social em que nos encontramos.

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    Read segue a linha da liberdade na educao, antecedido por Pestalozzi

    (defensora do uso de materiais manipulveis), Froebel, Montessori e,

    posteriormente J ohn Dewey e Edmond Holmes. Partindo da premissa de, uma

    sociedade democrtica, como aquela em que nos inserimos, a educao deve

    ter como objectivo prioritrio o desenvolvimento pessoal.

    Read celebra que a finalidade essencial do seu estudo, pretende atestar

    uma forma de propiciar esta harmonia que, do seu ponto de vista, a promoo

    no indivduo da educao esttica. Ou seja, a educao dos sentidos na qual se

    fundamenta a conscincia, a inteligncia e o raciocnio do indivduo, sob a forma

    de estabelecer uma conexo harmoniosa entre os prprios e um exigente

    mundo exterior. Ainda para o mesmo autor (2003), a arte constitui e pressupe

    em si mesma a representao e a cincia, bem como a explicao dessa

    mesma realidade. Pode tambm representar uma forma e um poder de, numa

    sociedade global, poder de certa forma ultrapassar barreiras da cultura,

    questes de ndole racial, de idade e de lngua.

    Na educao pela arte, a arte enquanto tema de investigao, tem como

    principais temas: 1) Modelos da Teoria Esttica; Verses da criatividade,

    Interpretao da arte; Cognio e arte; Quando temos arte? A arte como base

    da educao; Filosofia e teoria da educao esttica; Curriculum para a

    Educao pela Arte; Linguagem, Literatura e Arte; Critrios para a qualidade

    musical; Anlise da dana; Princpios de dilogo crtico; O filme na Educao;

    Criatividade e Cultura so indiscutivelmente dois dos temas mais investigados.

    A educao torna-se indispensvel na a avaliao duma aco ou de

    uma obra artstica. Em consequncia disto, a educao pela arte deve auferir a

    cada discente um amplo conhecimento da arte atravs das civilizaes,

    principalmente no que diz respeito criatividade dentro do processo artstico,bem como do vocabulrio da comunicao artstica necessrios para acontecer

    arte. De referir, veementemente, a importncia do jogo e, consequentemente

    para qualquer tipo de aprendizagem, quando os destinatrios so crianas,

    para Reis (2003) parafraseando Froebel: jogo torna-se na mais elevada

    expresso do desenvolvimento humano enquanto criana, porque s por si a

    livre expresso daquilo que est na alma da criana. o produto mais puro e

    espiritual da criana e ao mesmo tempo um tipo de cpia da vida humana emtodas as fases e em todas as relaes que estabelece na sua vida.

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    Assim como a importncia fulcral do brincar, do aprender brincando, como

    forma real de aprendizagem com prazer, duas boas razes para a sua

    utilizao. Margaret. Lawenfeld (1939) vai mais longe ao pronunciar

    categoricamente que v a arte como uma forma de jogo. Uma vez que dado

    assente que, por norma, o desenvolvimento do jogo e do carcter ldico das

    actividades, parece estar destinado somente tenra infncia, o que um

    terrvel engano. Mesmo nestas fases, no se deve encarar o jogo como mero

    passatempo, deve-se isso sim, levar a s coisas srio, dando a coerncia e o

    objectivo ao jogo e, desta forma, convertendo-o em arte.

    No que diz respeito msica, Bullough (1906:6) considera que tambm

    se aplicam:

    anlise duma obra musical, ao seu tipo musical (objectivo,

    fisiolgico, associativo, carcter) e aos correspondentes tipos de

    funes de Jung (pensante, sensao, sentimento, intuitivo).

    Ainda sobre a msica, H. Read (1966) concorda com Plato sobre este

    assunto, pois acha que devemos necessariamente atribuir suprema

    importncia quela parte da educao que encoraja o sentido do ritmo e da

    harmonia, nomeadamente a educao musical, porque o ritmo e a harmonia

    mergulham profundamente nos recnditos da alma e exercem um grande

    domnio sobre ela, trazendo consigo a graciosidade e tornando elegante um

    homem se for convenientemente educado, se no for, o contrrio... mesmo

    quando atinge o raciocnio, a abordagem esttica ter sido a melhor porque

    ter dado ao homem aquele instinto de relao que a chave da verdade.

    Sabe-se atravs da Histria da msica que imperadores, faras, reis,

    senhores feudais, desde remota idade, sempre quiseram que a msica

    estivesse includa nas matrias a ensinar aos seus descendentes. A riquezadeste tipo de pensamento antigo , de certa forma, um reconhecimento da

    importncia da msica no desenvolvimento integral do ser humano. Pois as

    crianas logo entre os 2 e os 4 anos de idade comeam j por distinguir a

    origem do mais artesanal som musical, ou seja das fontes sonoras, como por

    exemplo: o canto da ave, a nota da flauta, a tecla do piano, o rufar leve do

    tambor, o falar baixo e alto, o prego do vendedor ou o simples assobiar do

    colega. Seguidamente ela ser induzida pelo educador a fazer a distino entreum som alto e um som baixo. Naturalmente que a criana inicialmente

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    confundir o grave com baixo, alto com agudo, mas o educador ter que estar

    atento e de imediato ter cuidado com os sons escolhidos como exemplos, de

    forma a evitar uma qualquer sobreposio de conceitos.

    Positivamente, j se vai encontrando referenciado o papel da arte, em

    diversos programas e diferentes mtodos, os quais harmonizam actividades

    aliadas aos conceitos de imaginativo com o lgico, de inventivo com

    didctico e esttico com utilitrio. Sendo que um dos principais

    pressupostos deste movimento implementar e sustentar teoricamente um

    mtodo de ensino formal e fundamentalmente esttico, onde se desenvolvam

    conhecimentos e habilidades manuais, onde estejam presentes a disciplina e o

    respeito, onde s todos eles sejam simplesmente subprodutos da aco natural

    da criana.

    A Expresso Comunicao e ao uso das expresses artsticas, que

    passam a ser ministradas no ensino duma matria especfica de forma insular

    tem sido substitudas ultimamente pela utilizao das vrias expresses

    artsticas (isoladas ou no) havendo at lugar saudvel experimentao das

    bases que fundamentam a interdisciplinaridade ou integrao das artes. A

    mesma rea torna-se fundamental, pois abrange aprendizagens arroladas ao

    aperfeioamento psicomotor e simblico, os quais e por sua vez, estabelecem

    a compreenso e o gradual domnio de distintas formas de linguagem.

    De acordo com o Programa Oficial do Ministrio da Educao em

    Portugal (2001/02) sentimos que o ponto de partida para o educador favorecer

    o contacto com as diversas formas de expresso e comunicao vai

    claramente no sentido de se propiciarem experincias, valorizando sempre que

    possvel as descobertas dos discentes, numa base de apoio reflexo sobre

    as mesmas experincias e descobertas, de modo a possibilitar umaapropriao dos distintos modos de expresso e de comunicao. Estes tipos

    de processos envolvem um esforo de planeamento e capacidade para

    proporcionar conjunturas de aprendizagem diversas e intensas, na senda de

    um objectivo bsico que tornar estas actividades e aces progressivamente

    mais complexas. Importa pois devolver o ensino experimentao e

    progressiva aprendizagem a partir de uma base terica forte, mas com uma

    base prtica bem mais consistente. Onde seja devolvido o papel fundamentaldo aluno no sistema educativo.

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