Eixo 3 - COPEDI · ISSN 2448-1157 819 Dar visibilidade às crianças: suas falas, expressões,...

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ISSN 2448-1157 813 Eixo 3 Formação docente

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  • ISSN 2448-1157 813

    Eixo 3

    Formao docente

  • ISSN 2448-1157 814

    Comunicaes Orais Eixo 3

    As dificuldades em dar voz s crianas nas pesquisas ..................................................... 817

    A Prtica da Observao da Educao Infantil: Um Instrumento de Auto Formao

    Docente ........................................................................................................................... 830

    A periodizao do desenvolvimento psquico como contedo da formao continuada de

    professoras de educao infantil: relato de uma experincia de extenso universitria ... 837

    PROEPRE: Um caminho para o aperfeioamento e desenvolvimento dos profissionais de

    creches ............................................................................................................................ 845

    Objetos de Letramento na Formao da Criana ............................................................ 854

    A formao centrada na escola: da parceria entre Creche e Universidade ao

    reconhecimento e valorizao dos saberes e vozes de professoras de educao infantil.. 865

    Trans-formando professores que atuam na Ed. Infantil: repensando os lugares das

    infncias .......................................................................................................................... 878

    A Formao do professor de Educao Fsica para a Educao Infantil: consideraes a

    partir das matrizes curriculares ........................................................................................ 884

    Encontros e desencontros nas relaes entre as crianas bem pequenas e os adultos na

    creche .............................................................................................................................. 886

    O meu espao na creche .................................................................................................. 900

    Colquios narrativos de prticas na Educao Infantil: avanos e desafios para formao

    docente e gestora ............................................................................................................. 900

    A Produo Cientfica Brasileira sobre a Formao Continuada de Professoras da

    Educao Infantil no perodo de 2009 a 2013 ................................................................. 911

    Ba expressivo: interaes e brincadeira como experincia de formao continuada com

    professores(as) da educao infantil ................................................................................ 924

    O grupo de estudos O papel das atividades ldicas e produtivas na idade pr-escolar,

    enquanto prtica integrante de um projeto de formao continuada de professores de

    educao infantil da cidade de Bauru SP ...................................................................... 936

    O olhar da criana sobre a transio da Educao Infantil para o Ensino Fundamental:

    anseios e expectativas...................................................................................................... 942

    A especificidade do trabalho pedaggico com a pequena infncia na rede municipal de

    Niteri: (des) caminhos de pesquisas colaborativas com as crianas de 0 a 3 anos .... 943

    Experincia esttica na cidade: Crianas pequenas ocupando lugares ............................. 951

  • ISSN 2448-1157 815

    A formao de professoras em uma creche universitria: o papel da documentao

    pedaggica no processo formativo ................................................................................. 962

    Professores de Educao Infantil em meio a movimentos curriculares ........................... 975

    Prticas Pedaggicas e Processos Formativos: Narrativas de Professores da Educao

    Infantil ............................................................................................................................. 984

    Experimentando o Mundo em Nosso Quintal: Uma parceria possvel e necessria entre

    arquitetura e educao ..................................................................................................... 985

    Ttulo: CCI UNESP/Botucatu; lugar de cuidar e educar.................................................. 998

    O PIBID Pedagogia e as possibilidades de compor referncias para o trabalho pedaggico

    e a docncia na Educao Infantil ................................................................................... 999

    O lugar das interaes das crianas e do brincar na educao infantil: contribuies da

    pesquisa para a prtica educativa................................................................................... 1013

    Projeto Brinquemusicando ............................................................................................ 1027

    Educao Infantil Planejamento pedaggico para Educao Infantil a partir de uma

    parceria entre a Pedagogia e a Educao Fsica ............................................................. 1037

    As aprendizagens na fronteira entre a escola e a universidade: um estgio na pedagogia na

    FE/Unicamp .................................................................................................................. 1039

    Estgio Supervisionado na Educao Infantil: os desdobramentos da organizao

    pedaggica. ................................................................................................................... 1046

    A compreenso de fatores que impactaram a constituio de duas diretoras e,

    consequentemente, colaboraram para uma atuao positiva em EMEIs da PMSP ........ 1060

    A no presena do Brincar nas memrias de futuros professores de Educao Fsica:

    desafios da formao para atuar com o Brincar e Se-Movimentar na infncia .............. 1074

    A dimenso humana e a prtica pedaggica na educao infantil ................................. 1087

    Um estudo sobre a prtica pedaggica na educao infantil a partir da teoria histrico-

    cultural .......................................................................................................................... 1100

    Dentro de uma escola, todos so protagonistas: um estudo sobre as Diretrizes Nacionais

    Curriculares para a Educao Infantil em uma unidade do Proinfncia. ...................... 1102

    EDUCUIDAR: prticas docentes em uma escola da rede municipal de Ibirit/MG ...... 1111

    Formao de Docentes na Educao Infantil: A Estratgia dos Pequenos Grupos. ....... 1127

    Planejamento de um curso de formao continuada acerca dos pressupostos da escola de

    Vigotski ......................................................................................................................... 1128

    A formao continuada de professores da educao infantil em Sorocaba/SP frente

    obrigatoriedade da educao bsica (4 aos 17 anos) ...................................................... 1135

    Informar * Formar* Formar-se * Transformar ............................................................ 1136

    Teoria e Prtica na formao inicial de professores de Educao Infantil: Algumas

    reflexes ........................................................................................................................ 1146

    Vamos l pra fora, crianas: docncia e formao continuada na Educao Infantil . 1160

  • ISSN 2448-1157 816

    Docncia na Educao Infantil: como os (as) professores (as) aprendem para atuar nas

    creches? ......................................................................................................................... 1172

    Educao infantil e imaginrio: uma anlise sobre temas de estgio curricular

    supervisionado .............................................................................................................. 1185

    O Cuidar e o Educar: a alimentao como contexto indissocivel na Educao Infantil1198

    O Laboratrio de Jogos e Brincadeiras LABBRINC-VIGOTSKI e a Formao Continuada

    de Professores em Goinia. ........................................................................................... 1203

    Concepes de criana, infncia, educao infantil e professor(a) em um curso de

    pedagogia ...................................................................................................................... 1218

    Linguagens e Escutas: dialogando com as culturas infantis no processo de formao

    continuada das professoras do CEI Lauzane Paulista na zona norte da cidade de So

    Paulo............................................................................................................................ 1231

    Educao Superior do professor da primeira infncia ................................................... 1236

    Grupo de estudo da prtica: tecidos e corpos................................................................. 1254

    Brincadeiras Populares Para Alm do Ms de Agosto................................................... 1264

    Reflexes sobre a formao inicial para atuar na Educao Infantil: uma anlise do curso

    de Pedagogia ................................................................................................................. 1269

    Projetos educativos no ambiente hospitalar ................................................................... 1277

    Formao de docentes para atuar na Educao Infantil: representaes das alunas

    estagirias sobre os espaos das instituies. ................................................................ 1289

    Com a palavra, o professor! uma reflexo sobre as dificuldades no trabalho do docente

    da Educao Infantil ...................................................................................................... 1295

    Elementos significativos da poltica de forma continuada para a educao infantil da rede

    municipal de Rondonpolis - MT: os profissionais da creche e suas concepes acerca das

    contribuies da formao continuada .......................................................................... 1307

    Formao Inicial: Aprendizagens no cotidiano da Educao Infantil ............................ 1317

    Formao de professores de educao infantil e anos iniciais do ensino fundamental:

    contribuies das narrativas sobre infncias e escola .................................................... 1332

    EMEITeC Tecnologia para investigao na infncia ................................................. 1333

    Docncia para e com os bebs e as crianas bem pequenas: percurso(s) em construo na

    formao inicial ............................................................................................................. 1343

    Teoria e Prtica na formao inicial de professores de Educao Infantil: Algumas

    reflexes ........................................................................................................................ 1358

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    As dificuldades em dar voz s crianas nas pesquisas

    1

    Aline Martins de Almeida2

    Julia de Souza Delibero Angelo3

    Resumo

    Este trabalho tem como objetivos analisar a concepo e a constituio de currculo

    junto ao processo de transformao do ensino relacionado s prticas escolares. Tem

    tambm por escopo considerar a fundamentao metodolgica das fontes de pesquisa

    sobre currculo e prticas escolares com base nos pressupostos tericos de Chervel

    (1990), Delgado e Mller (2005), Goodson (1995), Silva, Barbosa, Kramer (2005),

    Hamilton (1992) e os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educao Infantil

    (1998). O trabalho especfico com a educao infantil precisa estar alm do recorte

    fragmentado que reduz o processo educativo aos binmios cabea-corpo, cognio-

    afeto. O ambiente, o espao, deve ser intencionalmente preparado, possibilitando as

    interaes do grupo e as intervenes do professor quando necessrias ao processo, sem

    que esse, no entanto, figure como o centro das aes: tanto na proposta como na

    execuo. necessrio que o modelo meramente escolarizante (aquele em que a

    educao infantil tida apenas como pr-escola ou prontido para o ensino

    fundamental) ou apenas assistencialista (onde os cuidados fisiolgicos so mais

    considerados) cedam espao a uma nova proposta onde educar e cuidar estejam

    interligados e que as vrias linguagens se faam presentes, constituindo os fazeres na

    educao infantil. Desta maneira, dar voz s crianas nas pesquisas acerca das prticas e

    1 Este texto fruto de Pesquisa de Mestrado realizada no perodo de agosto de 2012 a julho de 2013 na

    PUC-SP (Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo).

    2 Doutoranda pelo Programa de Estudos Ps-Graduados em Educao: Histria, Poltica, Sociedade da

    PUC-SP (Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo).

    3 Doutoranda pelo Programa de Estudos Ps-Graduados em Educao: Histria, Poltica, Sociedade da

    PUC-SP (Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo).

  • ISSN 2448-1157 818

    relacionamentos vivenciados no cotidiano escolar que mantm os mecanismos de

    produo e reproduo da rotina e do conhecimento por meio de um movimento

    dialtico: primeiro, a diviso em classes e a vigilncia mais estreita dos alunos; e,

    segundo, veio o refinamento do contedo e dos mtodos pedaggicos viabilizar a

    construo metodolgica de fontes de pesquisa sobre currculo e prticas escolares na e

    para a educao infantil. O estudo sobre fundamentao metodolgica de fontes de

    pesquisa sobre currculos e prticas escolares imprescindvel tanto para a histria

    educacional quanto para repensarmos a qualidade na educao infantil, pois abordar

    seus conceitos conhecer os processos de movimento e de transformao da sociedade

    e dos sujeitos, estes que se d na escola por meio do encontro pedaggico (escola como

    um espao coletivo de prticas e interaes) e como um produto scio histrico,

    construdo com espaos e tempos entre indivduos e grupos.

    Palavras-chave: currculo, prticas escolares, cotidiano escolar e pesquisa na educao

    infantil.

    Introduo

    Ao longo da histria, os conceitos de infncia e de criana passaram por

    transformaes. Primeiramente, conforme aponta Santos (2013), a criana era vista

    como um adulto em miniatura e, portanto, a infncia no passava de um perodo de

    crescimento fsico, sem especificidade nenhuma. Com o passar do tempo, a definio de

    criana como uma espcie de miniadulto foi superada, e a infncia passou a ser vista

    como um perodo que no se resume apenas formao da criana. Seu papel social

    na sociedade mudou.

    Silva, Barbosa e Kramer (2005) apontam que hoje temos o conceito de infncia

    cada vez mais marcado pela indstria cultural. Segundo os autores, atualmente, o

    infantil marcado por uma viso de mercado (infantil consumir determinado tipo de

    produto, o que evidencia a relao da infncia com massificao e padronizao

    cultural) (Silva, Barbosa e Kramer, 2005, p. 53).

    Diante desse cenrio, h um impasse: como, efetivamente, dar voz s crianas

    para a realizao de uma pesquisa? Como mostram Faria, Demartini e Prado (2004):

  • ISSN 2448-1157 819

    Dar visibilidade s crianas: suas falas, expresses, sentimentos,

    gostos, gestos. Esse um grande desafio que se tem colocado a

    professores e pesquisadores da educao, preocupados em

    entender a infncia: o que pensam as crianas a respeito da

    escola, do trabalho, das brincadeiras, dos seus colegas, dos seus

    professores e dos adultos em geral? Enfim, o que e como a

    criana v, sente, pensa a respeito desse mundo que j estava

    pronto quando ela chegou? E como interage com ele? (Faria,

    Demartini e Prado, 2004, p. 233)

    De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educao Infantil,

    proposto pelo Ministrio da Educao, o currculo da educao infantil, considerando-se

    as especificidades afetivas, emocionais, sociais e cognitivas das crianas de zero a seis

    anos, deve contribuir para o exerccio da cidadania com base nos seguintes princpios:

    - O respeito dignidade e aos direitos das crianas, consideradas

    nas suas diferenas individuais, sociais, econmicas, culturais,

    tnicas, religiosas etc.;

    - O direito das crianas a brincar, como forma particular de

    expresso, pensamento, interao e comunicao infantil;

    - O acesso das crianas aos bens socioculturais disponveis,

    ampliando o desenvolvimento das capacidades relativas

    expresso, comunicao, interao social, ao pensamento,

    tica e esttica;

    - A socializao das crianas por meio de sua participao e

    insero nas mais diversificadas prticas sociais, sem

    discriminao de espcie alguma;

    - O atendimento aos cuidados essenciais associados

    sobrevivncia e ao desenvolvimento de sua identidade

    (BRASIL, 1998, p.13)

    O trabalho especfico com a educao infantil precisa estar alm do recorte

    fragmentado que reduz o processo educativo aos binmios cabea-corpo, cognio-

    afeto. O ambiente, o espao, deve ser intencionalmente preparado, possibilitando as

    interaes do grupo e as intervenes do professor quando necessrias ao processo, sem

    que esse, no entanto, figure como o centro das aes: tanto na proposta como na

    execuo. necessrio que o modelo meramente escolarizante (aquele em que a

    educao infantil tida apenas como pr-escola ou prontido para o ensino

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    fundamental) ou apenas assistencialista (onde os cuidados fisiolgicos so mais

    considerados) cedam espao a uma nova proposta onde educar e cuidar estejam

    interligados e que as vrias linguagens se faam presentes, constituindo os fazeres na

    educao infantil.

    Desta maneira, dar voz s crianas nas pesquisas acerca das prticas e

    relacionamentos vivenciados no cotidiano escolar que mantm os mecanismos de

    produo e reproduo da rotina e do conhecimento por meio de um movimento

    dialtico: primeiro, a diviso em classes e a vigilncia mais estreita dos alunos; e,

    segundo, veio o refinamento do contedo e dos mtodos pedaggicos. (Hamilton, 1992,

    p.47) viabilizar a construo metodolgica de fontes de pesquisa sobre currculo e

    prticas escolares na e para a educao infantil.

    Justificativa

    A trajetria deste estudo parte numa perspectiva de apresentao do que vem ser

    currculo, prticas pedaggicas e sua relao com a pesquisa envolvendo a participao

    de todos os envolvidos nesta modalidade, inclusive as crianas. Segundo Apple, para

    compreender o que as escolas fazem realmente, temos que saber muito sobre o que se

    passa dentro das paredes da prpria instituio (1997, p.26).

    Dentro das paredes da instituio escolar, seu funcionamento regido

    principalmente por um currculo formal. Segundo Menezes (2002), podemos

    compreender que o currculo um conjunto de dados relativos aprendizagem escolar,

    organizados para orientar as atividades educativas, as formas de execut-las e suas

    finalidades. Geralmente, exprime e busca concretizar as intenes dos sistemas

    educacionais e o plano cultural que eles personalizam como modelo ideal de escola

    defendido pela sociedade. A concepo de currculo inclui desde os aspectos bsicos

    que envolvem os fundamentos filosficos e sociopolticos da educao at os marcos

    tericos e referenciais tcnicos e tecnolgicos que a concretizam na sala de aula.

    Para Hamilton (1992), o curriculum associado ideia de corrida tem suas bases

    no conceito de classe, estes que tiveram como prioridade a organizao da

    aprendizagem em seu tempo e em seu lugar, com base na institucionalizao, no

    controle da autoridade e na disciplina. Na rea educacional, esta concepo

    Emergiu na confluncia de vrios movimentos sociais e

    ideolgicos. Primeiro, sob a influncia das revises de Ramus, o

    ensino da dialtica ofereceu uma pedagogia geral que podia ser

    aplicada a todas as reas da aprendizagem. Segundo, as vises

    de Ramus sobre a organizao do ensino e da aprendizagem

    tornou-se consoante com as aspiraes disciplinares do

  • ISSN 2448-1157 821

    calvinismo. E, terceiro, o gosto calvinista pelo uso figurado de

    vitae curriculum uma frase que remonta a Ccero (morte: 43

    a.C.) foi ampliado para englobar as novas caractersticas de

    ordem e de sequncia da escolarizao do sculo XVI.

    (Hamilton, 1992, p.47)

    O currculo estabelecido pelos sistemas de ensino e expressos em diretrizes

    curriculares, objetivos e contedos das reas ou disciplinas de estudo mantm o dilogo

    com a tradio, no entanto, as vivncias dentro destas instituies do vida s unidades

    educacionais, gerando o acrscimo de vrias dimenses dentro do prprio currculo, que

    podem ser definidas com base em Moreira e Silva (1997) em:

    Currculo real: o currculo que acontece dentro da sala de aula com professores e

    alunos a cada dia em decorrncia de um projeto pedaggico e dos planos de ensino;

    Currculo oculto: o termo usado para denominar as influncias que afetam a

    aprendizagem dos alunos e o trabalho dos professores, representando tudo o que os

    alunos aprendem diariamente em meio s vrias prticas, atitudes, comportamentos,

    gestos, percepes que vigoram no meio social e escolar. O currculo est oculto por

    que ele no aparece no planejamento do professor.

    Nesta perspectiva, o currculo em ao tambm se faz presente e pode ser

    entendido com base em Gimeno Sacristn (1998) como um processo que envolve uma

    multiplicidade de relaes, abertas ou tcitas, em diversos mbitos, que vo da

    prescrio ao, da organizao do tempo ao espao, das decises administrativas s

    prticas pedaggicas que dizem respeito ao processo de ensino-aprendizagem.

    Desta forma, examinar as prticas culturais e desvendar o currculo real, o oculto

    e o em ao so momentos que preveem no apenas a burocracia instituda nos rgos

    escolares pblicos, mas todos os momentos de interao do cotidiano escolar que se

    iniciam a partir do momento de entrada das crianas na escola, o perodo de aulas, o

    momento de recreio, o momento da sada e de suas respectivas relaes com todos que

    compe este ambiente educativo, com enfoque nas relaes entre alunos, professores,

    funcionrios da escola e comunidade.

    Esta vida dupla propiciar s crianas a aquisio de conhecimentos que as

    tornaro em alunos. Conhecimentos estes que estaro enraizados de uma cultura que

    oscila tanto como um objeto de ensino, na transmisso de normas, regras, valores e

    contedos quanto na cultura que a prpria escola produz nos relacionamentos e nos

    comportamentos.

    Alm deste movimento dialtico, a partir da perspectiva de Chervel (1990),

    tambm podemos compreender a concepo de escola, esta que vista e entendida

  • ISSN 2448-1157 822

    como um mecanismo de transmisso tanto do saber erudito quanto do saber ensinado,

    pois

    A concepo de escola como puro e simples agente de

    transmisso de saberes elaborados fora dela est na origem da

    ideia, muito amplamente partilhada no mundo das cincias

    humanas e entre o grande pblico, segundo a qual ela , por

    excelncia, o lugar do conservadorismo, da inrcia, da rotina.

    (Chervel, 1990, p.182)

    Estudar estes movimentos nos proporciona conhecer o funcionamento da esttica

    nacional, a civilizao e a cidadania e a cultura da sociedade e o sistema escolar, este

    que

    ...detentor de um poder criativo insuficientemente valorizado at

    aqui que ele desempenha na sociedade um papel o qual no

    percebeu que era duplo: de fato ele forma no somente os

    indivduos, mas tambm uma cultura que vem por sua vez

    penetrar, moldar, modificar a cultura da sociedade global

    (Chervel, 1990, p.184)

    Objetivos e referencial terico

    Este trabalho tem como objetivos analisar a concepo e a constituio de

    currculo junto ao processo de transformao do ensino relacionado s prticas

    escolares. Tem tambm por escopo considerar a fundamentao metodolgica das

    fontes de pesquisa sobre currculo e prticas escolares com base nos pressupostos

    tericos de Chervel (1990), Delgado e Mller (2005), Goodson (1995), Silva, Barbosa,

    Kramer (2005), Hamilton (1992) e os Referenciais Curriculares Nacionais para a

    Educao Infantil (1998).

    Metodologia

    A metodologia utilizada neste estudo foi a pesquisa bibliogrfica, pois a mesma

    nos oferece auxlio na definio e resoluo dos problemas j conhecidos, como

    tambm permite explorar novas reas onde os mesmos ainda no se cristalizaram

    suficientemente. Permite tambm que um tema seja analisado sob novo enfoque ou

  • ISSN 2448-1157 823

    abordagem, produzindo novas concluses. Alm disso, permite a cobertura de uma

    gama de fenmenos muito mais ampla, principalmente quando o problema da pesquisa

    requer a coleta de dados muito dispersos no espao.

    A escolha desta metodologia, para o caso especfico desta pesquisa, deve-se ao

    fato de pensarmos e refletirmos como a participao e o envolvimento das crianas nas

    pesquisas acadmicas so imprescindveis, pois a escola deve ser um espao adequado

    convivncia igualitria (Cavalleiro, 1998, p.11) viabilizando a construo

    metodolgica de fontes de pesquisa sobre currculo e prticas escolares na e para a

    educao infantil.

    Para tanto, esta pesquisa analisou tanto o Referencial Curricular Nacional para a

    Educao Infantil (1998) quanto o movimento scio histrico de construo tanto do

    currculo e de suas respectivas funes quanto das prticas e do cotidiano escolar.

    Desenvolvimento da pesquisa

    Para a construo metodolgica de fontes de pesquisa sobre currculo e prticas

    escolares na e para a educao infantil, precisamos compreender qual o papel da escola.

    Desta forma

    A escola, entendida como uma instituio que desempenha

    papel preponderante na constituio dos indivduos e ao mesmo

    tempo, por eles constituda, possui uma rotina diria repleta de

    uma trama institucional social existente (Pavan, 1996, p.30)

    Podendo ser vista e entendida como uma instituio que desempenha papel

    preponderante na constituio de alunos e, ao mesmo tempo, por eles constituda.

    Tambm um local de realizao de prticas pedaggicas mpares: as suas interaes

    que so produzidas por seus atores, sua organizao institucional e seu processo de

    transmisso cultural que varia desde os hbitos e prticas disseminadas no ambiente

    escolar at sua formulao e manuteno de saberes, que se manifestam nos vrios

    espaos de tempo que esto organizados na rotina escolar.

    Para Goodson (1995) estas manifestaes podem ser compreendidas como um

    elo entre as normas e as prticas, pois o currculo concebido nas atividades prticas

    entre alunos e professores em aula, com a realidade social histrica, com o modo

    particular de relao entre os homens, suas intervenes e suas aes acerca do

    cotidiano escolar.

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    As prticas que ocorrem na escola, cercadas de uma rotina desde o momento em

    que todos chegam, principalmente na relao professor-aluno como os ritos de entrada,

    os ritos na sala de aula, os ritos do recreio e os ritos de sada, so dramatizaes

    vivenciadas por todos e legitimados todos os dias devido a repetio destas relaes e

    destas prticas, quer pela prtica docente inconsciente destas aes, quer pelo poder dos

    poderosos ou pela concretude do Estado, estes que so incorporados por meio da

    repetio e da sequenciao destas atividades, mantendo e diferenciado as relaes de

    poder entre alunos e professores.

    Estas prticas tambm revelam que o espao escolar constitudo de

    resistncias, como a falta de comportamento adequado seja na sala de aula ou nos

    arredores, excessivo nmero de faltas, desrespeito aos professores e aos funcionrios; as

    adaptaes, as quais os alunos submetem-se para serem aceitos no espao e as

    transgresses pelos sujeitos em aceitar uma nova ordem imposta que no seja pelos seus

    familiares.

    Com o surgimento de normas e na execuo destas prticas, os processos

    disciplinadores a que os alunos esto expostos passam a ser um mecanismo de

    civilizao e que por meio de seus ritos e rituais legitimam valores a partir das

    estratgias de obedincia do corpo, dos gestos e das aes por meio da escolarizao da

    infncia.

    Estes processos so baseados na homogeneizao e controle e a escola, por sua

    vez, configurou-se como um espao especfico que se ensinam formas concretas de

    transmisso de conhecimentos e de modelao de comportamentos por meio da

    disciplina, do mtodo e dos recursos tecnolgicos que configuram este ambiente e seus

    atores envolvidos numa trama social de conformao.

    Um dos agentes de homogeneizao e hegemonia a lngua e atendendo aos

    princpios propostos pela educao infantil pblica instituda no perodo republicano, a

    escolarizao da infncia se faz necessria e

    A lngua, desta forma, elevada a um status de pronunciadora

    da verdade que a mantm isenta de seu posicionamento ou

    embasamento poltico. este erro epistemolgico que permite

    aos conservadores denunciarem o totalitarismo em nome de sua

    prpria verdade e serve como um artifcio para a expanso das

    atuais formas de dominao. (Mc Laren, 1997, p.118)

    A construo desta trama social e da interiorizao de certas prticas

    conformadoras como os comportamentos clssicos, por exemplo, tem uma nova forma

  • ISSN 2448-1157 825

    de instituir a infncia no sculo XIX como o controle sobre o corpo infantil, ajustando a

    sua atividade as regras da escolaridade e da mxima utilidade. A lngua o espao da

    atuao histrica e parafraseando Mc Laren (1997, p.127), uma vez que toda

    experincia a experincia do significado, precisamos reconhecer o papel que a lngua

    desempenha na produo de experincia.

    De acordo com os estudos de Kramer (1994), o currculo da educao infantil

    deve ser entendido como um conjunto sistematizado de prticas culturais no qual se

    articulam, de um lado, as experincias, os valores e os saberes das crianas, de suas

    famlias, da equipe de profissionais e da comunidade extraescolar e, de outro, os

    conhecimentos que fazem parte do patrimnio cultural, no qual a dimenso de cuidado

    para com as crianas assume um carter tico e os valores democrticos e de

    solidariedade criam laos entre geraes que fortalecem o sentimento de pertencer a

    uma cidadania compartilhada.

    Com isso,

    As experincias vividas no Espao da Educao Infantil devem

    possibilitar s crianas explicaes sobre o que ocorre sua

    volta e consigo mesma, enquanto desenvolvem formas de sentir,

    pensar e solucionar problemas. Nesse processo preciso

    considerar que as crianas necessitam envolver-se com

    diferentes linguagens e valorizar o ldico, as brincadeiras, as

    culturas infantis. Devemos considerar tambm que, quando

    interagem com companheiros de infncia, elas aprendem coisas

    que lhe so muito significativas e que so diversas das coisas

    que elas se apropriam no contato com os adultos ou com

    crianas j mais velhas (Tempos e espaos para a infncia e suas

    linguagens nos CEIs, Creches e EMEIs da cidade de So Paulo,

    So Paulo, SME, 2006, p.24-25)

    Perante a construo desse processo do cotidiano escolar, que as tramas vo

    surgindo, as experincias trocadas, os conhecimentos obtidos que se fazem

    imprescindveis dar vozes s nossas crianas e a todos os agentes envolvidos, de modo

    que, a pesquisa esteja associada interao e aos conhecimentos acadmicos de

    diversas reas do saber entre todos os envolvidos. O grande desafio aqui, no divulgar

    as dificuldades de ar vozes s nossas crianas, mas sim, demonstrar as possibilidades de

    pesquisa e sua respectiva aplicabilidade no cotidiano escolar de modo que tais

    experincias adquiridas no espao da educao infantil faam parte da memria das

    crianas como experincias de sua prpria histria.

  • ISSN 2448-1157 826

    Resultados

    Para conseguir dar voz s crianas, o pesquisador, logo de incio, tem de tomar

    uma deciso: qual concepo terica e metodolgica de infncia e de criana ser usada

    no trabalho. Ao comparar tais concepes, visvel uma grande disparidade. Alguns

    trabalhos realmente valorizam a criana tal como ela , enquanto certas pesquisas

    focalizam o que a criana pode vir a ser. Segundo Delgado e Mller (2005), as

    principais dificuldades a ultrapassar nas pesquisas com crianas esto relacionadas :

    1. Lgica adultocntrica As crianas veem os adultos como seres de fora do

    seu mundo. Muitos pesquisadores, porm, tratam as crianas como meras portas de

    entrada para o mundo infantil (a fim de descobrir leis psicolgicas universais) ou to-

    somente como indicadores do efeito de tratamento de dados. necessrio negar essa

    viso e valorizar, na pesquisa, a criana e seu contexto. Em vez de abordar o que se

    passa dentro delas, preciso verificar o que se passa entre elas.

    2. Entrada no campo As crianas so agentes ativos na construo da sua

    prpria cultura e tambm contribuem para a construo do mundo adulto. Por isso, nas

    pesquisas orientadas por adultos, devemos considerar as crianas como pesquisadores

    de seu cotidiano. Outro desafio a distncia fsica, emocional, cognitiva e poltica

    entre adultos e crianas, tornando a relao adulto-criana muito diferente da relao

    adulto-adulto. Devemos desafiar as ideias pr-concebidas pelas autoridades adultas

    as leis universais que excluem a criana de seu contexto. Para isso, necessrio

    procurar as respostas em lugares que evitamos ou em processos pouco conhecidos.

    3. tica A questo tica na pesquisa com crianas fundamental, pois no

    podemos negar que a relao adulto-criana pressupe poder desigual, uma vez que o

    adulto maior e mais forte. As crianas tm o direito de consentir se quer ou no quer

    participar da pesquisa. Se participam, devem ser informadas de todos os aspectos das

    etapas de investigao da entrada em campo e do uso de filmagem ou fotos anlise

    dos dados e sua posterior divulgao, alm do retorno da pesquisa. Mas, poucas vezes,

    vemos pesquisas que pedem o consentimento para as crianas. Geralmente, o

    pesquisador se contenta em garantir apenas a anuncia dos pais das crianas.

    Postos esses desafios, importante que a pesquisa com crianas constantemente

    retome as concepes tericas que a norteiam, permeando assim todos os procedimentos

    e tcnicas na investigao, desde as definies preliminares at a coleta, o registro e a

    anlise dos dados. Durante esse processo, fundamental no se afastar das concepes

    que consideram a criana como ser ativo produto e, ao mesmo tempo, produtor de

    cultura, com direitos legais, linguagem prpria e capacidade de falar de si mesma.

  • ISSN 2448-1157 827

    Corsaro (2011) divide em dois nveis macro e micro os mtodos de pesquisa

    para o estudo das crianas e da infncia. No primeiro nvel, possvel tratar como

    macrofenmenos vrios aspectos do tema, como natureza da infncia, experincias e

    qualidade de vida das crianas. Tais mtodos so essencialmente comparativos e ajudam

    a identificar a diversidade da infncia. Podemos delimitar trs tipos de pesquisas no

    nvel macro: 1) os estudos demogrficos, baseado em dados do censo, documentam

    mudanas na estrutura familiar e na vida infantil; 2) as pesquisas em ampla escala, com

    coleta e anlise de dados em grande escala, apontam os efeitos da globalizao na vida

    das pessoas da infncia idade adulta; e 3) os mtodos histricos, que tem como um

    dos expoentes Philippe Aris, responsvel por romper, nos anos 1960, o desinteresse de

    historiadores pelo tema, ao introduzir o debate sobre o desenvolvimento histrico da

    concepo de infncia. Nesse ltimo tipo de pesquisa, recorre-se a inmeras fontes para

    documentar e interpretar como foi a vida das crianas no passado.

    Os mtodos do nvel micro se voltam, sobretudo, a documentar as relaes

    sociais entre as crianas e suas manifestaes culturais, mostrando como essa relao

    pode construir sentidos e impulsionar processos de reproduo e mudana social. Esse

    nvel compreende, conforme o autor, trs tipos de tcnica: 1) entrevistas individuais ou

    em grupo, muito indicadas para explorar vises das crianas sobre suas vidas, bem

    como para estudar assuntos pouco frequentes na abordagem de seu dia a dia, tais como

    divrcio e violncia; 2) etnografia e anlise sociolingustica, em geral com prolongado

    trabalho de campo junto ao grupo, de meses ou anos, com observao intensiva de

    aspectos como o cotidiano, o ambiente e os valores da criana; e 3) mtodos no

    tradicionais, que respondem demanda por novas tcnicas de pesquisa da infncia,

    tambm valorizando a viso da criana sobre si mesma e a vida, por meio de desenhos,

    gravao, questionrios feitos pelas prprias crianas, entre outros procedimentos.

    Consideraes finais

    O encontro direto do pesquisador com seu objeto a criana pode resultar

    numa atitude mais reflexiva a respeito dos lugares sociais que um e outro foram

    negociando, conforme Pereira, Salgado e Souza (2009). Para as crianas, as narrativas

    criadas aludem a divergncias entre como ver a si prprias e como ver o mundo. Nessa

    relao, o outro pode se tornar at um obstculo mas tambm busca ou

    complemento.

    Silva, Barbosa e Kramer (2005) completam que outro aspecto de dificuldade

    que no caso da pesquisa com crianas se coloca como fundamental ouvir os ditos e os

    no ditos; escutar os silncios (Silva, Barbosa e Kramer, 2005, p. 45). Para Pereira,

    Salgado e Souza (2009), o prprio pesquisador pode permanecer como objeto pontual

    da criana, alvo de especulaes e vises. Mas explicam: a relao alteritria entre

  • ISSN 2448-1157 828

    crianas e adultos no se constitui apenas como um objeto de estudo, mas como um

    acontecimento que adquire corpo e vida no ato de pesquisar e compreender o outro.

    (Pereira, Salgado e Souza, 2009, p.1024). A pesquisa com crianas que concebe a

    infncia como um perodo de socializao, e a criana como construtora da cultura, abre

    um mundo de informaes, num rico processo de construo de conhecimento e

    sentidos sobre os modos de perceber e significar a cultura contempornea. (Pereira,

    Salgado e Souza, 2009, p.1024).

    O estudo sobre fundamentao metodolgica de fontes de pesquisa sobre

    currculos e prticas escolares imprescindvel tanto para a histria educacional quanto

    para repensarmos a qualidade na educao infantil, pois abordar seus conceitos

    conhecer os processos de movimento e de transformao da sociedade e dos sujeitos,

    estes que se d na escola por meio do encontro pedaggico (escola como um espao

    coletivo de prticas e interaes) e como um produto scio histrico, construdo com

    espaos e tempos entre indivduos e grupos.

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  • ISSN 2448-1157 830

    A Prtica da Observao da Educao Infantil: Um Instrumento de Auto

    Formao Docente

    Aline Perinelli Fuzete4

    Pesquisar sobre a auto formao e a formao continua do professor com foco a

    observao da criana na rotina escolar. Identificar a produo acadmica sobre a

    observao como instrumento de auto formao do professor e caracteriz-la, com foco

    na educao infantil o nosso objetivo geral. A observao ser o objeto de estudo. A

    pesquisa em bases de dados e a pesquisa bibliogrfica foram as estratgias de

    investigao. Acredita-se que o olhar o objeto principal para o estudo e trabalho do

    professor, colocando a criana no centro da ateno, pois elas so competentes, capazes

    e constroem o seu conhecimento de forma significativa. E alm disso, permite ao

    professor olhar para sua prpria prtica com o distanciamento necessrio para uma boa

    reflexo que gere o aprimoramento da ao docente.

    Palavras- chave: Observao. Formao de professores. Educao infantil.

    Esse trabalho nasce do pressuposto de que quando o professor observa a criana

    dentro da rotina escolar, alm de colocar a criana no centro da sua prtica pedaggica,

    ainda tem uma oportunidade de auto formao, ou seja, ele qualifica sua prtica a

    medida que observa a criana, reflete sobre suas necessidades e procura atende-las.

    Desta forma, o objetivo deste trabalho identificar a produo acadmica sobre a

    observao como instrumento de auto formao do professore caracteriz-la, com foco

    na educao infantil.

    Foi realizado inicialmente um levantamento bibliogrfico nas bases de dados

    Pathernon (Unesp) para identificar as produes acadmicas que podem servir de

    subsidio para as reflexes propostas neste trabalho. Foram utilizados como descritores:

    formao de professores, observao, com o recorte na educao infantil.No

    levantamento de dados foram identificados96 publicaes sobre a temtica: trs livros,

    dois artigo em peridicos, uma tese de doutorado e uma dissertao de mestrado.

    Na base de dados integrada das bibliotecas da Universidade de So Paulo (USP),

    com a utilizao dos mesmos descritores foram encontrados 384 produes, entretanto

    4 Aluna do Curso de Pedagogia e Bolsista do Ncleo de Ensino da Faculdade de Cincia e Tecnologia da

    Unesp, Campus de Presidente Prudente. E-mail: [email protected]

    mailto:[email protected]
  • ISSN 2448-1157 831

    que focassem o tema proposto, encontramos um livro, 10 teses de doutorado, dois

    artigos em

    peridicos acadmicos e nenhuma dissertao de mestrado. importante

    mencionar que do total de produo encontrada, muitas se repetem em funo da forma

    de registro no sistema de bibliotecas.

    Pesquisando no sistema de bibliotecas da Universidade de Campinas (Unicamp),

    foi possvel encontrar 104 de produes, algumas delas presentes tambm nas outras

    bases pesquisadas. O resultado gerado pela pesquisa compreende dois Trabalhos de

    Concluso de Curso (TCC), duas teses de doutorado e um livro. Ainda, no portal de

    peridicos da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoalde Nvel Superior (CAPES)

    foram encontrados 210 produes a partir dos descritores j mencionados, porm todos

    j estavam contados, uma vez que j tinham aparecido nas pesquisas anteriores.

    A observao e reflexo so realizadas pelo adulto de forma que est envolvido no

    processo e o olha como um processo que est em desenvolvimento, uma vez que a

    participao da criana se d por meio desse processo dentro do cotidiano escolar.

    Atravs da observao e da escuta atenta e cuidadosa s crianas, podemos

    encontrar uma forma de realmente enxerg-las e conhec-las. Ao faz-lo,

    tornamo-nos capazes de respeit-las pelo que elas so e pelo que elas querem

    dizer. Sabemos que, para um observador atento, as crianas dizem muito,

    antes mesmo de desenvolverem a fala. (GANDINI; GOLDHABER, 2002, p.

    152).

    Ainda concordamos com Rubem Alves (2002, p. 38) quando escreve que

    O olhar de um professor tem o poder de fazer a inteligncia de uma criana

    florescer ou murchar. Ela continua l, mas recusa-se a partir para a aventura

    de aprender. A criana de olhar amedrontado e vazio, de olhar distrado e

    perdido. Ela no aprende. Os psiclogos apressam-se em diagnosticar alguma

    perturbao cognitiva. Chamam os pais. Aconselham-nos a mand-la para

    uma terapia. Pode at ser. Mas uma outra hiptese tem que ser levantada: que

    a inteligncia dessa criana que parece incapaz de aprender , tenha sido

    petrificada pelo olhar do professor. Por isso lhe digo, professor: cuide dos

    seus olhos

    O olhar precisa ser educado, entretanto nos cursos de formao de professores,

    em especial os que formam para o magistrio na educao infantil, no tratam da

    educao do olhar, como aponta Rubem Alves (2002, p. 35), a seguir:

    J li muitos livros sobre psicologia da educao, sociologia da educao,

    filosofia da educao, didtica mas, por mais que me esforce, no me

    consigo lembrar de qualquer referncia educao do olhar, ou

    importncia do olhar na educao.

    Assim, os cursos de formao devem se preocupar com a educao do olhar e

    preciso que se produza conhecimento a respeito desta temtica. Neste sentido, preciso

  • ISSN 2448-1157 832

    que primeiro nos eduquemos para o olhar, para podermos contribuir para a reflexo dos

    professores, uma vez que

    No fomos educados para olhar pensando o mundo, a realidade, ns mesmos.

    Nosso olhar cristalizado nos esteretipos produziu em ns paralisia, fatalismo

    cegueira. [] O ver e o escutar fazem parte do processo da construo desse

    olhar. Tambm no fomos educados para a escuta. Em geral no ouvimos o

    que o outro fala, mas sim o que gostaramos de ouvir. Neste sentido

    imaginamos o que o outro estaria falando... No partimos de sua fala, mas de

    nossa fala interna. Reproduzimos desse modo o monlogo que nos

    ensinaram. [] Um olhar e uma escuta dessintonizada, alienada da realidade

    do grupo. Buscando ver e escutar no o grupo (ou o educando) real, mas o

    que temos na nossa imaginao, fantasia a criana do livro, o grupo

    idealizado. (FREIRE, 1996, p. 1-2)

    A partir destas imagens pr-estabelecidas os educadores elaboraram seus

    planejamentos. Mas qual a referncia para a elaborao destes planejamentos? A viso

    adultocntrica do processo ensino-aprendizagem. Precisamos lutar para a

    [] construo social da infncia como um novo paradigma, com nfase na

    necessidade de se elaborar a reconstruo deste conceito marcado por uma

    viso ocidental e adultocntrica de criana. importante destacar que a

    crtica fundamental diz respeito viso de criana considerada como tbula

    rasa a qual os adultos imprimem a sua cultura. (QUINTEIRO, 2002, p. 139)

    Como diz Montessori (19-, p-23-24)

    O adulto tornou-se egocntrico em relao criana; no egosta, mas

    egocntrico, porquanto encara tudo que se refere criana psquica segundo

    seus prprios padres, chegando assim a uma incompreenso cada vez mais

    profunda. esse ponto de vista que o leva a considerar a criana um ser

    vazio, que o adulto deve preencher com seu prprio esforo, um ser inerte e

    incapaz, pelo qual ele deve fazer tudo, um ser desprovido de orientao

    interior, motivo pelo qual o adulto deve gui-lo passo a passo, do exterior.

    Enfim, o adulto como o criador da criana, [].

    O ato de observar necessita de aprendizageme essa se d por meio de trs

    movimentos, que foi constatado por Freire (1996) em suas pesquisas. So eles:

    Movimento de concentrao para a escuta do prprio ritmo; Movimento que se d no

    registro das observaes e Movimento de reflexo e transformao. O primeiro

    movimento um aquecimento do prprio olhar, definir foco, pauta de observao. O

    segundo exige a disposio de sair de si para colher os dados da realidade significativa e

    no da idealizada. E o terceiro movimento o movimento de traz para si a realidade

    observada, registrada, para interpret-la e pens-la. Neste movimento podemos nos dar

    conta do que ainda no sabemos, pois iremos nos defrontar com nossas hipteses

    adequadas e inadequadas e construir um planejamento do que falta observar,

    compreender, estudar. (FREIRE, 1996, p. 11)

    Essa postura do adulto diante da criana se manifesta na escola de educao

    infantil quando os educadores no olham para a criana como referncia bsica para

  • ISSN 2448-1157 833

    alicerar sua prtica pedaggica, propondo atividades e experincias que nem sempre

    encontram eco nas crianas, muitas vezes porque no representam os verdadeiros

    interesses e anseios das crianas.

    Sabemos que muitos dos conhecimentos que atualmente so trabalhados nas

    escolas de educao infantil derivam-se de uma longa tradio que repete

    aquilo que vem sendo convencionalmente denominado de interesse das

    crianas de 0 a 6 anos. Desde Decroly at hoje, afirma-se que todas as

    crianas dessa faixa etria gostam de plantas e de animais, todas as crianas

    querem aprender sobre meios de transporte, todas as crianas adoram festejar

    efemrides e assim por diante. lgico que elas se interessam pelo mundo

    que est a sua volta e que querem compreend-lo; porm, estudar, criar

    significado, compreender, estabelecer relaes, imaginar cenas, personagens

    e narrativas a partir de uma vivencia um trabalho contextualizado no tempo

    e no espao. (BARBOSA; HORN, 2008, p. 38)

    A observao a principal base para um bom trabalho pedaggico, pois sem a

    observao no h como construir um trabalho com as crianas e suas propostas de

    atividades para aquela turma.

    O professor tem inmeras dificuldades em relao a observao, tem dificuldade

    sobre como observar, qual a importncia da observao na construo de uma prtica na

    educao infantil que seja significativa para todos. Isso ocorre pelo fato de muitos

    educadores no terem vivenciado na sua formao discusso e reflexes sobre essa

    temtica e por no terem uma experincia com o olhar, com isso os educadores no

    conseguem implementar esse conceito dentro da instituio que lecionam.

    A observao caminha junto com o registro e estes dois instrumentos so

    essenciais para o desenvolvimento de uma prtica pedaggica contextualizada e que

    respeite a criana. A observao dos educadores e os registros que possam realizar

    permitem que eles se apropriem mais das crianas em relao as suas mudanas e

    convvio com os pares.

    Os registros contnuos so relatos narrativos detalhados de comportamentos

    registrados de forma sequencial, exatamente como acontecem. Eles incluem

    qualquer comportamento que ocorre dentro de um dado perodo. Como as

    notas anedticas, fornecem informaes ricas, mas exigem que voc saia fora

    da ao. (JABLON; DOMBRO; DICHTELMILLER, 2009, p.90)

    Perrenoud (1999) resgata a observao como instrumento de avaliao formativa.

    Menciona que a observao por interessar-se pelos processos de aprendizagem, pelos

    mtodos de trabalho, pelas atitudes de professores e alunos, pela dinmica do grupo, por

    todos os aspectos cognitivos, afetivos e de prtica pedaggica. Defende ainda, que a

    observao seja sria e sistemtica, denomina de medocre a observao intuitiva ou

    superficial, sem possibilidade de guiar uma prtica eficaz, pois a observao formativa

  • ISSN 2448-1157 834

    quando contribui para otimizar as aprendizagens em curso. Assim, a observao um

    instrumento poderoso de avaliao formativa.Para que o educador seja efetivamente

    autor de sua pratica, preciso que ele se torne objeto de estudo, de observao, de

    reflexo. (LOPES, 2009, p. 35).

    A observao est muito presente no cotidiano escolar dos professores, sendo

    assim

    O olhar do adulto que observa a criana, por mais discreto e silencioso que

    seja, est carregado de mediaes objetivas e subjetivas que, em grande parte,

    no s avalia o que observado, como tambm forma seu objeto de

    observao. (BATISTA, 2011, p. 788)

    Para o educador ser um bom observador, precisa-se cautela e no hostilidade,

    sendo assim a observao tem que ocorrer em um longo tempo com uma mesma criana

    para que possa ver seu desenvolvimento e seu crescimento, assim no ser um

    observador acanhado que s ter uma parte da observao e no a concluso. Freire

    (1996, p. 14) define a ao do observador assim:

    Observar no invadir o espao do outro, sem pauta, sem planejamento, nem

    devoluo, e muito menos sem encontro marcado [...]

    Observar uma situao pedaggica olh-la, fit-la, mir-la, admir-la, para

    ser iluminada por ela. Observar uma situao pedaggica no vigi-la mas

    sim, fazer viglia por ela, isto , estar e permanecer acordado por ela, na

    cumplicidade da construo do projeto, na cumplicidade pedaggica.

    Para Boldioli (2004), assim como para Madalena Freire (1996), uma boa

    observao exige que se tenha foco, mas Bondioli apresenta um novo elemento em

    conjunto com Gariboldi (2003) que alm do foco, a observao deve acontecer em

    episdios. Cada episdio do dia composto por um cenrio, um elenco de atores que

    atuam na cena interagindo socialmente por superviso de um diretor. Os elementos

    significativos do episdio so: o espao (o cenrio onde acontece a cena), os

    participantes (os autores), as atividades (aes representadas pelos atores), os

    agrupamentos (os atores se dividem para representar a ao), as modalidades de gesto

    (so modalidades as quais os atores sero supervisionados pelo diretor), a durao

    (tempo de durao, longos ou curtos), a posio (a sequncia temporal dos episdios).

    A observao dos participantes implica a anotao de qualquer variao em

    relao ao grupo de referncia, variao que se supe que possa ter alguma

    influncia no clima total do episdio ou da situao que se est observando.

    (BONDIOLI, 2004, p. 24).

    Bondioli (2004, p. 22), ainda completa que A posio do observador no ,

    portanto, irrelevante e sua tarefa ser mais fcil ou mais difcil dependendo da distncia

    em relao ao contexto e aos sujeitos de observao.. Para que esse distanciamento

  • ISSN 2448-1157 835

    acontea a qualidade dos registros importante, no basta descrever e/ou narrar,

    realizando um simples e puro registro, mas preciso responder por meio deste registro a

    questo proposta por Goffman que : o que est acontecendo aqui?, essa resposta

    exige que os papis sejam diferenciados, pois quando os papis daqueles que participam

    de uma atividade so diferenciados [] a viso que uma pessoa tem daquilo que est

    acontecendo pode ser muito diferente da viso dos outros. Uma atividade que ldica

    para o jogador de golfe um trabalho para o carregador de tacos. (GOFFMAN, 1974,

    p. 23). Essa diferenciao dos papis ter repercusso nos resultados da observao e

    dos registros.

    Consideraes finais

    O levantamento das produes acadmicas realizado nas bases de dados das

    bibliotecas das universidades pblicas paulistas e no portal de peridico da Capes

    evidenciou uma grande distncia entre o nmero total de produes encontradas, a partir

    dos descritores escolhidos, e o nmero de publicaes apresentado como resultado da

    pesquisa, isso deveu-se ao fato de que muitas das produes apresentadas pelo sistemas

    da bibliotecas, principalmente as teses de doutorado e as dissertaes de mestrado,

    continham a palavra observao, mas na descrio das estratgias metodolgicas e no

    como objeto de pesquisa. O presente trabalho se props a refletir sobre a observao

    como instrumento de trabalho do professor de educao infantil para colocar seu aluno

    no centro do seu planejamento e como oportunidade de auto formao, com esse

    enfoque foram encontrados apenas os trabalhos listados. Consideramos a produo

    relativamente pequena, devido a importncia do tema.

    Observa-se, ainda, que muitos trabalhos bem como base a prtica da reflexo pelo

    professor, no sentido da auto formao docente, mas a grande maioria no menciona a

    observao da prpria prtica como fonte de dados e contedo para esse processo de

    reflexo. Restando a questo sobre qual o contedo da reflexo que est sendo proposta.

    Portanto, conclumos que um bom planejamento, com uma sequncia pedaggica

    que demonstre significado e sentido das prticas desenvolvidas fundamental que os

    professores saibam observar e registrar o processo de desenvolvimento de sua ao e os

    interesses, necessidades e aprendizagens de seus alunos, nesta perspectiva uma boa

    formao inicial e consequentemente uma formao continua so fundamentais. Com

  • ISSN 2448-1157 836

    isso, os educadores podero ter mais propriedade, didtica e autonomia para trabalhar o

    seu olhar para com a criana, no deixando de focar suas aes nas necessidades

    infantis.

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  • ISSN 2448-1157 837

    A periodizao do desenvolvimento psquico como contedo da formao

    continuada de professoras de educao infantil: relato de uma experincia de

    extenso universitria

    Ana Brbara Joaquim Mendona5

    A partir de uma parceria com a Secretaria de Educao da cidade de Bauru,

    iniciou-se em 2011, um projeto de extenso universitria que consiste na construo e

    implementao de uma proposta pedaggica para a educao infantil da cidade. Tal

    proposta tem como objetivo, a partir de uma construo coletiva, organizar, orientar e

    fundamentar teoricamente um documento escrito que sistematize diretrizes e princpios

    didticos que possam orientar a prtica pedaggica das unidades escolares do sistema

    municipal de educao infantil. Com isso, espera-se consolidar uma unidade terico-

    prtica entre as unidades escolares de forma a melhorar a qualidade do ensino ofertado.

    Partindo-se da realidade encontrada no municpio de Bauru foram elaboradas

    algumas frentes de aes que se estruturam em 1) Reunies mensais com a equipe de

    coordenao; 2) Encontros peridicos com as diretoras das unidades escolares; 3)

    Oferecimento de curso de formao continuada para professores (com durao de 12

    semanas); 4) Realizao de grupo de estudos com professoras e diretoras da rede

    visando o aprofundamento do estudo terico-prtico (com durao de 8 semanas); 5)

    Reunies de estudo e discusso com pesquisadores convidados da rea de Educao

    Infantil.

    A prtica relatada neste trabalho diz respeito a terceira frente de ao citada:

    cursos de formao continuada para os professores da educao infantil, que visam

    promover a apropriao da concepo histrico-cultural de desenvolvimento humano e

    ao mesmo tempo impulsionar a atividade de estudo nos professores, entendida como

    condio na converso da teoria em instrumento de requalificao da prtica

    profissional. Os encontros compem-se de exposies de contedo, dinmicas e

    momentos de discusso coletiva, tendo como eixo orientador o texto-base da verso

    5Discente do 4 Ano do curso de Psicologia da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho.

  • ISSN 2448-1157 838

    preliminar da nova proposta pedaggica, previamente enviado a todas as escolas para

    consulta e estudo.

    Mais especificamente, o presente relato refere-se ao curso realizado no primeiro

    semestre de 2015 e intitulado de Periodizao do desenvolvimento segundo a escola de

    Vigotski, que contou com a participao de sete professoras da educao infantil e foi

    realizado contendo com dez encontros.

    O objetivo geral era promover o estudo e a apropriao da teoria histrico-cultural

    da periodizao do desenvolvimento. Assim, foram trabalhados temas como o processo

    de desenvolvimento a partir da viso histrico-social do homem, as pocas e perodos

    do desenvolvimento, bem como aes educativas possveis de serem trabalhadas em

    cada perodo. Desse modo, o curso tinha como pr-requisito que as professoras j

    tivessem realizado algum dos cursos oferecidos anteriormente sobre a teoria histrico-

    cultural da escola de Vigotski.

    Referencial terico

    O projeto apoia-se no referencial terico da Psicologia Scio-Histrica e na

    Pedagogia Histrico-Crtica, que tm como base o Materialismo Histrico Dialtico de

    Karl Marx. Esta possui a concepo de que o homem o resultado do entrelaamento

    do aspecto individual (sentido biolgico) e do social (sentido cultural), e que ao se

    apropriar da cultura e de tudo o que a espcie humana desenvolveu, e est fixado nas

    formas de expresso cultural da sociedade, o homem se torna humano (Moretti, Asbahr,

    Rigon, 2011). Para Leontiev (1978) o homem um ser de natureza social, que tudo o

    que tem de humano nele provm da sua vida em sociedade, no seio da cultura criada

    pela humanidade.

    A sociedade, por sua vez, trata-se da produo histrica do homem, sendo que

    essa produo se da atravs do trabalho. Esse conceito fundamental dentro da viso

    marxista, j que a atividade vital humana e o meio pelo qual ele se relaciona com a

    natureza e com outros homens que criam condies necessrias de produo e

    reproduo da humanidade. Ou seja, o trabalho possibilita o desenvolvimento da cultura

    e promove a humanizao, gerando assim a ruptura entre homens e animais. A partir

    disso, pode-se dizer ento que o homem, alm de garantir sua existncia biolgica deve

    garantir tambm sua existncia cultural (Moretti, Asbahr, Rigon, 2011).

  • ISSN 2448-1157 839

    Podemos dizer que cada indivduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe

    d quando nasce no lhe basta para viver em sociedade. -lhe ainda preciso adquirir o

    que foi alcanado no decurso do desenvolvimento histrico da sociedade humana

    (LEONTIEV, 1978).

    Neste ponto importante ressaltar a importncia da intencionalidade presente no

    trabalho, pois se trata de uma atividade teleolgica em que se tem conscincia da

    finalidade que procede a transformao concreta da realidade natural ou social. A partir

    disso, o homem torna-se capaz de superar sua condio primria como ser hominizado

    em direo condio de ser humanizado. Pode-se concluir, ento, que o trabalho

    engendra a estruturao da conscincia e essa, por sua vez, o regula (Martins, 2007);

    consequentemente promove a humanizao do homem, fazendo-o assim pertencente ao

    gnero humano e capaz de dominar a natureza e controlar seu prprio comportamento.

    Vale ressaltar tambm os mecanismos pelos quais isso se torna possvel, j que

    atravs da dinmica apropriao-objetivao que o indivduo se relaciona com o gnero

    humano. As objetivaes so o patrimnio humano genrico e resultam da prtica social

    efetivada pela produo e utilizao de instrumentos, da linguagem, da cincia, da

    moral, entre outros que se fixam como produtos da histria passada e esteio para a

    histria futura. J a apropriao justamente a aquisio de tal patrimnio, sendo que

    promove no indivduo a formao de suas caractersticas particulares e possibilidades

    aliceradas nas objetivaes presentes no meio em que vive. A partir disso conclui-se

    que a relao do homem com o gnero humano se d de forma mediada.

    A partir desses conceitos possvel perceber a atividade como um elemento

    central dentro da psicologia scio-histrica, pois a partir dela que o homem se

    desenvolve, ou seja, atravs da sua relao com os objetos socialmente construdos,

    feita de forma mediada por outros indivduos, ele passa a se apropriar das obras

    humanas e, portanto, a humanizar-se.

    Neste contexto surge a importncia da educao, que para Leontiev (apud ,

    Asbahr, Rigon, 2011) o principal motor de transmisso e apropriao da histria social

    humana. Sendo assim, a funo da educao promover a humanizao do indivduo,

    ou seja, desenvolve-lo em suas mximas potencialidades. A partir disso pode-se

    concluir que:

    O processo educativo central formao do homem em sua especificidade

    histrica, pois permite que no seja necessrio reinventar o mundo a cada nova gerao,

  • ISSN 2448-1157 840

    permite que se conhea o estgio de desenvolvimento humano atual para que se possa

    super-lo. (Moretti, Asbahr, Rigon, 2011).

    Outro aspecto da educao que ela visa transmisso planejada e intencional

    dos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade. Mas no apenas os

    conhecimentos cientficos sistematizados, bem como todos os conhecimentos

    produzidos pela humanidade, sejam eles filosficos, artsticos, comportamentais, etc.

    O que se percebe ento que h a necessidade de uma educao formal, que seja

    responsvel por essa transmisso do conhecimento em todas as fases do

    desenvolvimento humano, pois para Vigotski o aprendizado adequadamente

    organizado resulta em desenvolvimento mental e pe em movimento vrios processos

    de desenvolvimento, que de outra forma seriam impossveis de acontecer. (Vigotski,

    2007). Isso mostra a importncia das instituies educacionais, pois elas so

    responsveis pela mediao entre as produes humanas e os indivduos que esto

    sendo inseridos nessa cultura.

    Por isso, ao se analisar a escola torna-se necessrio verificar algumas de suas

    especificidades, como o fato de que o aluno no apenas um mero consumidor do que

    transmitido durante uma aula, mas tambm participa ativamente da mesma, o que lhe

    confere um carter de sujeito da atividade de aprendizagem. Nesse sentido, uma das

    responsabilidades do professor organizar situaes didticas que favoream o

    desenvolvimento, no estudante, de um querer aprender uma vez que esse no um valor

    natural, mas construdo historicamente. Construir o motivo de aprender

    fundamentalmente uma funo educativa que, lamentavelmente, vem sendo

    menosprezada por grande parte dos educadores. (Moretti, Asbahr, Rigon, 2011)

    Deve-se atentar tambm para o fato de que o bom aprendizado aquele que se

    adianta ao desenvolvimento em que a criana se encontra, pois para Vigotski,

    desenvolvimento e aprendizado so processos que no se coincidem. Para ele no se

    trata de processos idnticos, mas sim que possuem uma unidade, j que as relaes

    internas dos processos intelectuais so despertadas pela aprendizagem escolar. Desse

    modo, existem relaes dinmicas altamente complexas entre os processos de

    desenvolvimento e aprendizado, as quais no podem ser englobadas por uma

    formulao hipottica imutvel. (Vigotski, 2007)

    Para Elkonin (1987) o problema da periodizao do desenvolvimento psquico na

    infncia um problema fundamental da psicologia infantil. Isso porque a partir do

  • ISSN 2448-1157 841

    momento em que se soluciona o problema da periodizao possvel formular

    estratgias de ensino no sistema de educao. Mostra-se importante ento que os

    profissionais da educao tenham conhecimento sobre a periodizao do

    desenvolvimento humano. Isso porque, apesar de os estgios do desenvolvimento no

    possurem determinaes temporais exatas e imutveis, pois dependem das condies

    concretas em que o indivduo se encontra, elas possuem certa sequncia, que baseada

    na essncia do processo de desenvolvimento psicolgico.

    Um conceito importante a se entender dentro deste contexto o de atividade-guia

    que, de acordo com Leontiev (apud Anjos, 2014), orienta o indivduo atravs de trs

    atributos fundamentais, sejam eles: produo de outros tipos de atividade, possibilidade

    de que outras funes psquicas tomem forma ou se organizem, e por ltimo, promover

    as principais mudanas psicolgicas da personalidade. Esse processo se mostra

    necessrio, pois o aprendizado deve ser orientado para nveis de desenvolvimento ainda

    no atingidos, e para que isso ocorra preciso saber identificar em que estgio o

    indivduo se encontra, a fim de planejar e organizar o modo como os contedos e

    conceitos sero trabalhados. Tal conceito, bem como o estudo da conscincia e do

    desenvolvimento da psique, foi o que permitiu mudar radicalmente as idias sobre as

    foras motrizes do desenvolvimento psquico e da diviso dos estgios da periodizao.

    Desse modo, Elkonin estruturou em pocas e perodos o desenvolvimento

    psquico, em que cada poca composta por dois perodos sendo que um se destaca a

    esfera afetivo emocional vinculada, principalmente a relao criana-adulto social e

    outro perodo em que se destaca a esfera intelectual-cognitiva vinculada a relao

    criana-objeto social. Alm disso, cada perodo possui uma atividade dominante, as

    quais so separadas por crises, que se tratam de momentos de revoluo em que

    mudanas bruscas ocorrem em um curto perodo de tempo tendo como resultado

    contradies vivenciadas pela criana e que assim acabam por produzir uma

    reorganizao do psiquismo.

    Desse modo, a primeira poca foi denominada de Primeira Infncia e composta

    pelo perodo chamado Primeiro Ano de Vida, em que a atividade dominante a

    comunicao emocional direta e tambm pelo perodo chamado Primeira Infncia, em

    que a atividade guia a atividade objetal manipulatria. A segunda poca denominada

    de Infncia e composta pelos perodos da Idade Pr-Escolar e a Idade Escolar, que tm

    como atividades dominantes o Jogo de Papis e a atividade de estudo, respectivamente.

  • ISSN 2448-1157 842

    Por fim, o ltimo perodo a Adolescncia composta pelos perodos Adolescncia

    Inicial e Adolescncia, sendo que a Adolescncia Inicial tem como atividade dominante

    a Comunicao ntima Pessoal e na Adolescncia a atividade dominante a Atividade

    Profissional de Estudo.

    Desse modo, o estudo do processo de desenvolvimento humano, bem como de sua

    periodizao, se mostra de extrema importncia para profissionais da educao, j que a

    compreenso do estgio em que a criana se encontra determinante sobre a escolha

    dos contedos que sero trabalhados com a mesma. Este fato foi o que motivou a

    realizao de um curso que instrumentalizasse as professoras da educao infantil da

    cidade de Bauru quanto a este assunto.

    Caminhos percorridos

    Foram planejados dez encontros sobre a temtica periodizao do

    desenvolvimento. O primeiro encontro tinha como objetivo trabalhar os conceitos da

    teoria que haviam sido estudados em cursos anteriores como a viso do homem como

    ser social (diferena entre homem e animal), trabalho (objetivaes, processo de

    humanizao), apropriao, relao entre desenvolvimento, ensino e aprendizagem

    (zonas de desenvolvimento prximo). As estratgias utilizadas nesse encontro foram a

    projeo de slides com contedos tericos sobre o tema da aula, sendo assim uma parte

    mais expositiva, um vdeo que continha os pricipais conceitos e tambm a leitura de

    trechos do livro Psicologia do Jogo, que visava demonstrar o carter histrico do

    desenvolvimento psquico.

    O segundo encontro tinha o objetivo de introduzir a temtica da periodizao do

    desenvolvimento humano, trabalhando conceitos como o desenvolvimento

    condicionado pela organizao social e momento histrico; mudanas qualitativas e

    processos evolutivos e revolucionrios; crise, perodo de trnsito, atividade e atividade-

    dominante; neoformaes; poca, perodo e alternncia entre esferas. Para realizar essa

    discusso foi feito um formato de grupo de estudo, em que um trecho da Proposta

    Pedaggica foi lido em conjunto e posteriormente foi feita uma discusso grupal. Alm

    disso, a fim de aproximar os conceitos apresentados realidade das professoras tambm

    foi levado o livro de literatura infantil intitulado O menino que aprendeu a ver, em

    que era possvel discutir sobre o conceito salto qualitativo. Tambm foi entregue uma

  • ISSN 2448-1157 843

    tabela contendo uma esquematizao da periodizao que as professoras deveriam usar

    ao longo de todo o curso.

    A partir de ento, foram trabalhos detalhadamente os perodo do desenvolvimento

    psquico abarcados pela educao infantil. Assim, o terceiro encontro trabalhou o

    primeiro ano de vida, em que foram apresentados os principais conceitos como a

    atividade de comunicao emocional direta; possveis aes educativas que

    desenvolvam a formao do vnculo afetivo, comunicao, os sistemas sensoriais de

    manipulao e o complexo de animao. Para esse encontro foi realizada uma

    sensibilizao sobre o tema em que foi lido o poema No aeroporto de Carlos

    Drummond de Andrade, que buscava introduzir o tema do primeiro ano de vida, bem

    como realizar uma problematizao atravs de perguntas que haviam sido formuladas.

    Foi tambm feita uma exposio do tema de forma dialogada e com o auxlio de vdeos

    que mostravam o complexo de animao. Por fim, foi feita uma atividade em que a

    turma se dividiu em dois grupos e cada grupo recebeu um relato fictcio de vis

    naturalizante e maturacionista, dessa forma elas deveriam identificar a concepo de

    desenvolvimento presente na situao e elaborar uma interveno pedaggica

    alternativa.

    O quarto e o quinto encontro trabalharam a primeira infncia, que envolveu o

    estudo da atividade objetal manipulatria, bem como as possveis aes educativas a

    serem trabalhadas neste perodo. As estratgias utilizadas nesses encontros foram a

    exposio oral dos contedos, bem como vdeos que mostravam crianas realizando

    alguma atividade com objetos. Alm disso, foi levado brinquedos a fim de mostrar que

    no devem ser tratados apenas como uma brincadeira sem sentido e finalidade, mas sim

    promotora de vrios O sexto encontro se tratou de uma reviso e sntese dos contedos

    at ento trabalhados. importante ressaltar que este encontro de reviso foi includo

    devido s experincias anteriores, em que eles se mostraram de extrema importncia

    para a fixao dos contedos e por se tratarem de um momento de sntese ativa para as

    professoras. Para explicar isso foi elaborado um questionrio sobre os conceitos j

    vistos em que as professoras poderiam discutir as questes e respond-las.

    J o stimo e oitavo encontros se trataram da idade pr-escolar, que trataram do

    jogo de papis, atividade-guia deste perodo. Nestes encontros alm da exposio oral

    do contedo tambm foi passado um vdeo em que mostra o desenvolvimento de um

    jogo protagonizado dentro de uma sala de aula, em que foi criado um ambiente de pet

  • ISSN 2448-1157 844

    shop, em que cada aluno tinha uma funo dentro da brincadeira. Desse modo os papis

    sociais presentes na sociedade eram protagonizados pelas crianas e mediados pela

    professora da sala.

    No nono encontro foi trabalhada a transio entre a idade pr-escolar e a idade

    escolar, em que a atividade dominante passa do jogo de papis para a atividade de

    estudo. Para esse encontro foi feita uma exposio oral fazendo discusses sobre essa

    transio que est muito presente no contexto de atuao das professoras da educao

    infantil. Por fim, ocorreu um ltimo encontro novamente de reviso sobre todo o

    contedo do curso, em que foi realizada uma atividade em duplas, em que cada dupla

    ficou responsvel por falar sobre um perodo do desenvolvimento e para isso havia

    algumas perguntas orientadoras. Aps as discusses entre as duplas foi feita uma roda

    em que o que foi discutido foi compartilhado com o grupo. Foi pedido tambm que

    escrevessem sobre as questes a fim de que isso servisse como uma forma de avaliao

    do curso.

    Vale ressaltar que esses perodos foram priorizados por se tratarem de professoras

    da educao infantil, ou seja, tais perodos so os que se tem contato direto no cotidiano

    da profisso. Ao final foi possvel perceber o desenvolvimento das professoras em

    relao apropriao dos pressupostos da teoria, alm dos contedos especficos de

    cada perodo do desenvolvimento humano. Isso foi possvel perceber tanto pela

    participao das professoras ao longo do curso quanto avaliao que foi realizada no

    ltimo encontro. Alm disso, analisando as avaliaes que eram entregues ao final de

    cada encontro, em que as professoras eram questionadas quanto ao o que acharam dos

    contedos trabalhados, dos recursos utilizados, das coordenadoras, entre outras, as

    respostas eram sempre positivas, elogiando sempre os mtodos utilizados, a sintonia e

    dedicao da dupla de coordenao do curso, a vinculao entre teoria e prtica que o

    curso se propunha e principalmente sobre como o curso possibilitou um maior

    entendimento da Proposta Pedaggica que vem sendo implementada na Educao

    Infantil.

    Referncias

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    VIGOTSKI, Lev Semenovich. A formao social da mente: o desenvolvimento dos

    processos psicolgicos superiores. 7 Ed.- So Paulo: Martins Fontes,

    2007.SOBRENOME DA/O AUTOR(A), primeiro nome. Ttulo do texto citado, cidade

    da publicao, nome da editora, ano.

    PROEPRE: Um caminho para o aperfeioamento e desenvolvimento dos

    profissionais de creches

    Andra Patapoff Dal Coleto6

    Orly Mantovani de Assis7

    Resumo

    Este trabalho teve como objetivo relatar a experincia do curso de formao continuada

    para professores e educadores de creches, desenvolvido pela equipe do Laboratrio de

    Psicologia Gentica da Faculdade de Educao da UNICAMP.Todos os bebs e

    crianas pequenas precisam de experincias de vida de qualidade que promovam

    avanos em todos os aspectos: afetivo, social, intelectual e fsico em um clima

    relacional de confiana e afeto. Neste contexto, imperativo apresentar a experincia de

    um curso de aperfeioamento para profissionais que trabalham com escolas de

    atendimento a crianas de 0 a 3 anos. O PROEPRE Programa de Educao Infantil e

    Ensino Fundamental - est sendo executado desde 1980, preparando professores para

    uma ao educativa mais adequada visando promover o desenvolvimento infantil. Para

    tanto, este relato discute aimportncia do aperfeioamento dos professores e educadores

    6Doutora em Psicologia Educacional pela Faculdade de Educao da UNICAMP. Membro e colaboradora

    do Laboratrio de Psicologia Gentica da FE/UNICAMP. E-mail: [email protected]

    7Doutora em Educao em Psicologia Educacional pela Faculdade de Educao da Unicamp. Professora

    Colaboradora da Faculdade de Educao UNICAMP. Coordenadora do Laboratrio de Psicologia

    Gentica da FE/UNICAMP. E-mail: [email protected].

  • ISSN 2448-1157 846

    que trabalham com a primeira infncia, reconhece o trabalho pedaggico integrado entre

    o cuidar e educar na busca do desenvolvimento pleno dos bebs e crianas pequenas em

    um currculo que atenda todas as suas necessidades. Relata ainda que investigaes

    cientfica