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VALNER MICHELON EMISSÕES GASOSAS DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA: UMA QUESTÃO INFORMATIVA EDUCACIONAL Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Licenciatura em Química do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Química, sob orientação da Profª. Drª. Cláudia do Nascimento Wyrvalski. CANOAS, 2008

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VALNER MICHELON

EMISSÕES GASOSAS DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA: UMA QUESTÃO INFORMATIVA EDUCACIONAL

Trabalho de conclusão apresentado ao curso de Licenciatura em Química do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, como exigência parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Química, sob orientação da Profª. Drª. Cláudia do Nascimento Wyrvalski.

CANOAS, 2008

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TERMO DE APROVAÇÃO

VALNER MICHELON

EMISSÕES GASOSAS DA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA: UMA QUESTÃO INFORMATIVA EDUCACIONAL

Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Licenciado em Química do Curso de Licenciatura em Química do Centro Universitário La Salle - Unilasalle,

pela seguinte avaliadora:

Profª. Drª. Cláudia do Nascimento Wyrvalski Unilasalle

Canoas, 8 de julho de 2008.

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À minha esposa Angelita que sempre me incentivou que retornasse à graduação e ao Giordano, meu filho e grande amigo.

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AGRADECIMENTOS

A minha Orientadora Profª. Drª. Cláudia do Nascimento Wyrvalski, pelo apoio que deu no

transcorrer deste trabalho, dentro dos níveis energéticos mais variáveis que tivemos na realização

do mesmo.

Ao Prof. Dr. Paulo Fernando Bruno Gonçalves por ter uma forma muito peculiar de

transmitir seus ensinamentos, desmistificando a Físico Química com seu conhecimento e seus

exemplos do cotidiano.

A Profª. Drª. Maira Ferreira que oportunizou em vários momentos o desabafo das angústias

e amarguras decorrentes das experiências dos estágios e, com isso, propiciou valiosas discussões

sobre a realidade do professor.

A minha empresa Braskem Unib-RS, antiga Copesul, por ter oportunizado a experiência

profissional e patrocinado grande parte do custeio da Graduação.

Aos colegas e amigos da empresa pela palavra e confiança que depositaram em mim.

Aos amigos conquistados durante a minha vida que sempre me estimularam.

Aos meus irmãos, irmã, cunhadas, cunhado, sobrinhos, sobrinhas e aos pais da minha

esposa pelo estímulo de voltar para Universidade.

Por fim, aos grandes incentivadores da minha vida, os meus ícones, que aos 35 anos de vida

resolveram dar uma guinada nas suas vidas, saindo do interior de Antônio Prado, montando um

pequeno comércio em Canoas visando dar dignidade, ética e estudo para seus seis filhos. A

minha mãe Elesir e ao meu pai Ampelio que nos deixou há pouco tempo, mas com certeza, está

no andar superior guiando nossos passos.

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RESUMO As indústrias químicas e petroquímicas causam um desconforto na sociedade no que tange a sua capacidade poluidora e, principalmente, ao impacto ambiental que podem acarretar. Um complexo industrial como o pólo petroquímico apresenta emanações gasosas podendo representar poluição para as pessoas que o visitam ou para aquelas que tem potencial para serem seus futuros profissionais. Este trabalho verificou, através de pesquisa específica, o entendimento que alunos das escolas técnicas apresentam quanto às emanações gasosas dos três pontos que mais chamam a atenção pelas suas dimensões: torre de refrigeração, chaminés das caldeiras e tocha. Também faz parte deste trabalho, identificar o ensinamento que as escolas técnicas proporcionam aos alunos, quanto a estes equipamentos, bem como, os produtos obtidos nos processos das empresas que compõem este complexo. A amostragem da pesquisa foi realizada com setenta e sete alunos do último semestre dos cursos técnicos em química de quatro escolas técnicas da região. O resultado da investigação confirmou a hipótese inicial. Contatou-se que os alunos relacionam qualquer emanação como sendo poluidora, tendo a torre de refrigeração reconhecida como de maior problema, denotando que a impressão visual do vapor d’água causa um impacto grande e as outras fontes são menos identificadas, mesmo sendo potencialmente mais poluidoras. Conclui-se que as empresas devem ter como prioridade esclarecer a população sobre os riscos que os equipamentos podem causar ao ambiente. As escolas técnicas precisam aproximar-se delas para que estas possam ser instrumentos de propagação de informações embasadas na verdade, não no pré-julgamento. Palavras chave: Torre de refrigeração. Caldeira. Tocha. Emissões gasosas. Ensino técnico.

ABSTRACT

The chemical and petrochemical industries cause a discomfort in the society in what it plays your pollutant capacity and, mainly, to the environmental impact that can cart. An petrochemical complex presents gaseous emanations could represent pollution for the people who visit or for those that have the potential for to be their professional futures. This work verified, through specific research, the understanding that students of the technical schools present with relationship to the gaseous emanations of the three points that more they get the attention for your dimensions: cooling tower, chimneys of the kettles and torch. Is also part of this work, to identify the teaching that the technical schools provide to the students, with relationship to these equipments, as well as, the products obtained in the processes of the companies that compose this complex one. The sampling of the research was conducted with seventy seven students of the last half of technical courses in chemistry, four technical schools in the region. The result of the investigation confirmed the initial hypothesis. The students relate any emanation as being pollutant, tends the cooling tower of recognized as of larger problem, denoting that the visual impression of the vapor of water causes a big impact and the other sources are less identified, although potentially more polluting. It follows that companies should have the priority to clarify the public about the risk that the equipment may cause to the environment. And the technical schools need to approach of companies that these can be instruments of propagation of information based actually. Key words: Tower of cooling. Kettle. Torch. Gaseous emissions. Teaching technician.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Esquema simplificado de refino de petróleo.................................................................. 30

Figura 2: Característica das principais matérias-primas................................................................ 31

Figura 3: Cadeia de produção de petroquímicos. .......................................................................... 32

Figura 4: Plano diretor do pólo petroquímico do sul..................................................................... 35

Figura 5: Cadeia produtiva do pólo petroquímico do sul .............................................................. 38

Figura 6: Logística de distribuição dos produtos na Unib-RS em 2006........................................ 41

Figura 7: Pontos de monitoramento do ar realizado pela Unib-RS............................................... 51

Figura 8: Ponto fixo de monitoramento do ar realizado pela Unib-RS......................................... 52

Figura 9: Unidade móvel de monitoramento do ar da Unib-RS.................................................... 52

Figura 10: Esquema simplificado de uma torre de refrigeração.................................................... 62

Figura 11: Torre de refrigeração com formação de pluma............................................................ 63

Figura 12: Fluxos no interior de uma torre de contra corrente...................................................... 66

Figura 13: Fluxos no interior de uma torre de correntes cruzadas ................................................ 68

Figura 14: Enchimento tipo película ............................................................................................. 69

Figura 15: Eliminador de gota ....................................................................................................... 70

Figura 16: Difusor e acessórios ..................................................................................................... 71

Figura 17: Problemas em torre de resfriamento ............................................................................ 72

Figura 18: Chaminé das caldeiras da Unib-RS.............................................................................. 76

Figura 19: Esquema da caldeira..................................................................................................... 80

Figura 20: Precipitador eletrostático.............................................................................................. 89

Figura 21: Flare da Unib-RS ......................................................................................................... 92

Figura 22: Flare da Unib-RS em distúrbio operacional................................................................. 93

Figura 23: Representação do selo molecular. ................................................................................ 95

Figura 24: Coroa do flare............................................................................................................... 97

Figura 25: Notícia do jornal......................................................................................................... 102

Figura 26: Freqüência do distúrbio.............................................................................................. 103

Figura 27: Complexidade da notícia............................................................................................ 104

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Figura 28: Conhecimento dos produtos do pólo.......................................................................... 105

Figura 29: Poluição do pólo ........................................................................................................ 106

Figura 30: Fontes de poluição ..................................................................................................... 107

Figura 31: Pólo como perspectiva de emprego ........................................................................... 108

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Evolução das vendas internas por mercado de atuação................................................. 39

Tabela 2: Distribuição da arrecadação de impostos na Unib-RS em 2006 ................................... 42

Tabela 3: Comparação de arrecadação entre municípios Triunfo – São Jerônimo ....................... 43

Tabela 4: Resultados do monitoramento do ar (período 2002-2006)............................................ 54

Tabela 5: Teor de NO2 verificados nos pontos de monitoramento do ar ...................................... 55

Tabela 6: Investimentos em segurança, saúde e meio ambiente na Copesul ................................ 56

Tabela 7: Parâmetros de controle da água de refrigeração............................................................ 74

Tabela 8: Parâmetros de controle da água para caldeira ............................................................... 81

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 11

2 O PROFISSIONAL TÉCNICO NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA............................... 14

2.1 O PCN no ensino médio e o ensino de Química .................................................................. 15

2.2 Referenciais curriculares nacionais para a educação profissional ................................... 17

2.3 Referenciais curriculares nacionais para o ensino técnico em Química........................... 20

3 INDÚSTRIA PETROQUÍMICA NO BRASIL ..................................................................... 24

3.1 Histórico da petroquímica no Brasil .................................................................................... 25

3.2 Tipos e características ........................................................................................................... 29

4 TERCEIRO PÓLO PETROQUÍMICO................................................................................. 34

4.1 Cadeia produtiva ................................................................................................................... 36

4.2 Desenvolvimento da região do pólo...................................................................................... 41

5 A RELAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NO TERCEIRO PÓLO PETROQUÍMICO ....... 45

5.1 Mobilização ambiental na instalação do pólo ..................................................................... 45

5.2 Atuação responsável .............................................................................................................. 47

5.3 Sistemas de qualidade ........................................................................................................... 49

5.4 Monitoramento das emanações gasosas da Unib-RS ......................................................... 51

5.5 Atualização tecnológica ......................................................................................................... 56

5.6 Parque Copesul de proteção ambiental ............................................................................... 57

6 PRINCIPAIS PONTOS DE EMANAÇÕES GASOSAS DA UNIB-RS .............................. 59

6.1 Torre de refrigeração ............................................................................................................ 61

6.1.1 Descrição da torre de resfriamento....................................................................................... 64

6.1.2 Tratamento químico das torres de refrigeração .................................................................... 71

6.2 Fuligem das chaminés das caldeiras .................................................................................... 75

6.2.1 Descrição das caldeiras......................................................................................................... 79

6.2.1.1 Internos do tubulão ............................................................................................................ 80

6.2.1.2 Superaquecedor ................................................................................................................. 82

6.2.1.3 Dessuperaquecedor............................................................................................................ 82

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6.2.1.4 Economizador.................................................................................................................... 82

6.2.1.5 Purga contínua ................................................................................................................... 83

6.2.1.6 Combustão......................................................................................................................... 83

6.2.1.6.1 Oxigênio gasoso (O2)...................................................................................................... 85

6.2.1.6.2 Monóxido de carbono (CO)............................................................................................ 86

6.2.1.6.3 Dióxido de carbono (CO2).............................................................................................. 86

6.2.1.6.4 Dióxido de enxofre (SO2) ............................................................................................... 86

6.2.1.6.5 Óxidos de nitrogênio (NOx)............................................................................................ 87

6.2.1.7 Temperatura dos gases exaustos........................................................................................ 87

6.2.1.8 Partículas em suspensão nos gases emitidos pela chaminé (material particulado) .......... 87

6.2.1.9 Atomização do óleo combustível ...................................................................................... 87

6.2.1.10 Precipitadores eletrostáticos ............................................................................................ 89

6.3 Tocha úmida (TU) ou flare ................................................................................................... 91

6.3.1 Descrição de funcionamento ................................................................................................ 94

6.3.1.1 Selo molecular ................................................................................................................... 95

6.3.1.2 Vapor de baixa (resfriamento/diluição)............................................................................. 96

6.3.1.3 Queimadores pilotos da tocha ........................................................................................... 96

6.3.1.4 Smokless (operação sem fumaça)...................................................................................... 97

6.3.1.5 Controle de injeção de vapor ............................................................................................. 97

6.3.1.6 Uso adequado da injeção de vapor .................................................................................... 98

6.3.1.7 Casos especiais de queima................................................................................................. 99

7 PESQUISA EM ESCOLAS TÉCNICAS ............................................................................. 100

7.1 Notícia da imprensa............................................................................................................. 102

7.2 Produção das empresas ....................................................................................................... 104

7.3 Poluição do pólo ................................................................................................................... 105

7.3 Pólo como opção de emprego.............................................................................................. 107

8 CONCLUSÃO......................................................................................................................... 109

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 112

APÊNDICE A ............................................................................................................................ 114

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1 INTRODUÇÃO

As indústrias químicas e petroquímicas causam um desconforto na sociedade no que tange a

sua capacidade poluidora e, principalmente, ao impacto ambiental que podem acarretar.

Desde a implantação do pólo petroquímico na década de 70, os órgãos ambientais do Rio

Grande do Sul sempre tiveram uma preocupação em saber quais os procedimentos que são

realizados para reduzir e controlar as emissões gasosas, líquidas e até sólidas.

As indústrias químicas de modo geral, e a petroquímica particularmente, transmitem à

comunidade ou a quem vê, enorme impacto visual, relacionando-o à poluição. Essa impressão se

deve as diferentes formas visíveis de emanações de gases e vapores que lançam para a atmosfera,

entretanto, quem trabalha neste ramo industrial ou aquele que busca informações aprofundadas,

acerca do seu funcionamento, toma conhecimento de um grande número de ações e investimentos

que visam reduzir e até eliminar os riscos ambientais que possam produzir.

A relação entre a indústria petroquímica e o meio ambiente gera muita polêmica. O senso

comum preconiza que há uma relação direta entre o que é produzido, na primeira, e a poluição,

do segundo. Essa correlação é devida, principalmente, a visão cotidiana de equipamentos

emissores de gases.

Esses fatos originam uma visão deturpada da realidade e criam a crença que aqueles

equipamentos estão poluindo o ambiente e causando impacto ambiental negativo. Isso nem

sempre corresponde à verdade.

A Unidade de Insumos Básicos-RS da Braskem, empresa petroquímica de 1ª geração do

pólo de Triunfo, conhecedora do potencial poluidor de sua produção de insumos para polímeros e

elastômeros, redobra os cuidados ambientais ao incorporar as mais avançadas tecnologias de

monitoramento e controle de suas emanações. Todavia, para aqueles que limitam sua

compreensão somente a referência visual do seu funcionamento, podem criar uma impressão

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distorcida da realidade. Distorção, essa, baseada em desconhecimentos, desinformações e

preconceitos.

São três os pontos que mais contribuem para esse entendimento e, que chamam a atenção

por suas grandes dimensões: a torre de refrigeração que emana grande quantidade de vapor, as

chaminés das caldeiras que liberam fuligem e, por fim, a tocha úmida ou flare, que realiza a

combustão de produtos. O flare raramente está alto, entretanto quando isso ocorre, causa à

comunidade ou a quem vê, um enorme impacto visual, relacionado à poluição. Esta compreensão

nos remete ao que foi posto no parágrafo acima, as desinformações e desconhecimentos não são

sanados, isto é as escolas, especialmente as técnicas, os órgãos públicos das comunidades

circunvizinhas e até a própria empresa, não cumprem o papel social de divulgar e esclarecer a

população sobre o que são as emanações de gasosas lançadas na atmosfera cotidianamente e os

verdadeiros riscos que trazem.

Deste modo, fez-se necessário realizar uma pesquisa que investigue a percepção social

sobre as problemáticas constatadas, além de contribuir para desmistificar compreensões

equivocadas.

A pesquisa tem, como amostra representativa, estudantes de escolas técnicas, situadas na

capital e região metropolitana gaúcha, que formam a base da mão-de-obra destas empresas.

Realizando a junção desses dois temas: formação técnica e indústria petroquímica e torná-

los objeto de estudo desta monografia, através da investigação, com base em pesquisas, o

entendimento que alunos, pertencentes a escolas técnicas, possuem sobre as emanações gasosas,

produzidas por esse tipo de indústria, e a qualidade de informação, que as instituições formadoras

lhes proporcionam. Outro fator de colaboração será informar a própria empresa para que possa

trabalhar melhor sua imagem, evitando estas distorções.

Além disto, a verificação do funcionamento dos equipamentos destas fontes emanadoras de

gases para a atmosfera e a investigação se estas fontes são poluidoras ou apresentam potencial

poluidor estão no contexto deste trabalho.

A descrição das medidas preventivas e corretivas para os problemas técnicos das emissões

gasosas, a averiguação dos procedimentos de comunicação da Unib-RS quanto ao processo de

informação à população, a representatividade da empresa para região e para o estado e a

necessidade de existir empresas deste porte, também fazem parte do contexto deste trabalho.

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A ignorância da população em relação aos processos petroquímicos e os aparelhos que o

formam originam uma idéia equivocada. Este equívoco espalha-se pela população que,

desinformada, toma como regra: toda emissão de equipamentos de empresas petroquímicas é

poluidora.

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2 O PROFISSIONAL TÉCNICO NA INDÚSTRIA PETROQUÍMICA

Em cada quatro vagas criadas no Brasil, pela indústria em 2007, uma não foi preenchida, foi

o que constatou a pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA1),

evidenciando que há escassez de mão-de-obra qualificada para ocupar esses postos de trabalho.

Essa realidade ressalta a necessidade de aumentar o investimento no ensino profissionalizante.

O ramo da indústria química e petroquímica prescinde que seu profissional atue na

operação e manutenção dos sistemas industriais, assim como, no controle de qualidade dos

produtos, necessitando, então, ter realizado curso técnico de Química, Mecânica, Eletrotécnica,

Eletrônica ou Mecatrônica, conforme a sua área de atuação.

A formação técnica é uma necessidade brasileira antiga, conforme é constatado por Abreu:

Diante dessa escassez de mão-de-obra qualificada, já de início decidiu-se formar os técnicos para operar a unidade do 3º Pólo. Partiu-se quase do zero. Primeiro, buscou-se no mercado pessoal que tivesse informações básicas de física e química e de operações unitárias industriais, com uma boa base para aprender a parte específica do processamento petroquímico. Recorreu-se, fundamentalmente, aos oriundos das escolas técnicas de Novo Hamburgo, de Pelotas e do Instituto Parobé, de Porto Alegre (2007, p. 168).

A indústria petroquímica é um ramo que se expandiu no Brasil após a década de 70 do

século passado com a participação do Estado e, mesmo depois das privatizações, continuou

necessitando deste apoio para se desenvolver. Apresenta como característica principal, a

utilização de tecnologia de ponta e, conseqüentemente, exige mão-de-obra qualificada e

informada.

1 Fundação pública federal vinculada ao Núcleo de Assuntos Estratégicos da Presidência da República que realiza

pesquisas e estudos sociais/econômicos.

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A educação profissional está inserida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional2

(LDB), entretanto, não há um Parâmetro Curricular Nacional (PCN) específico para o ensino

profissionalizante, apenas diretrizes e referências3 que norteiam este tipo de ensino.

O aprendizado de Química no ensino médio é caracterizado pelos estudantes como sendo

de difícil entendimento, devido as suas características microscópicas, quantidade de exercícios

matemáticos, difícil contextualização e grande quantidade de assuntos abordados. Por sua vez, no

momento que o estudante opta por um curso Técnico ligado a esta área, os temores relacionados a

esta aprendizagem são menores.

2.1 O PCN no ensino médio e o ensino de Química

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) fundamentam-se na concepção do

conhecimento científico, entretanto, ao longo do tempo, tem-se constatado uma mudança, pois

além do enfoque científico e do desenvolvimento tecnológico, preocupa-se também com as

questões éticas e morais que acompanham este desenvolvimento e propõe a interação com as

demais ciências da natureza e matemática, fazendo parte deste contexto como um todo.

Os PCNs passam por constantes atualizações com a necessidade constante de reciclagem

dos educadores. O atual documento dos PCNs (BRASIL, 2006, p.107), não foge a esta realidade

e deixa muito claro quando diz que a educação deve visar a “[...] construção de uma visão de

mundo mais articulada e menos fragmentada, contribuindo para que o indivíduo se veja como

participante de um mundo em constante transformação.”

A área de ciências proporciona a sua inserção no mundo da tecnologia dentro de um

processo social, histórico e cultural que são fatores marcantes no desenvolvimento da

humanidade, não podendo prescindir dos valores éticos e morais necessários na formação

humana.

Há uma divisão no PCN quando se refere à forma que deve estar estruturada a educação.

Sendo assim, ela encontra-se em três áreas: Linguagens e Códigos, Ciências da Natureza e

Matemática e Ciências Humanas. O ensino de Química está inserido dentro da área de Ciências

da Natureza e Matemática.

2 Lei Nº 9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. 3 Referências Curriculares Nacionais para a Educação Profissional de Nível Técnico, Parecer CEB/CNE nº 16/99.

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O professor, ao abordar os conhecimentos de Química, requer uma profunda reflexão, pois

estes são muito dinâmicos e estão sempre em constante atualização. Ao mesmo tempo, exige do

professor uma postura voltada ao conhecimento contínuo e a busca incessante de novos métodos

que visem possibilitar ao aluno o melhor entendimento do conteúdo ensinado.

No seu livro “Catalisando Transformações na Educação”, Chassot (1993) enumera três

perguntas importantes na aprendizagem: Por quê? O quê? E como? Portanto, é fundamental no

ensino de Química que o professor possa refletir da seguinte maneira: Por que ensinar química?

O que ensinar? Como ensinar?

No ensino de Química, estas dificuldades se tornam maiores, pois lida-se com o

entendimento de que é uma disciplina cujo grau de complexidade, exige por parte do professor

uma didática que, realmente, favoreça a aprendizagem dos alunos. Para isso, é fundamental que o

professor utilize os conhecimentos existentes dos alunos e, ao explorá-los, durante a

apresentação, tenha-os como base para a formação dos novos conceitos e idéias.

Ausubel4 faz uma proposta, através da aprendizagem significativa, que pode ser uma forma

de ensinar Química. Segundo Moreira, que reflete sobre a temática:

Para Ausubel, a aprendizagem significativa é um processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se com um aspecto significativamente relevante da estrutura do conhecimento do indivíduo (1999, p. 153).

O teórico está em consonância com o que foi colocado anteriormente, é fundamental levar

em conta o conhecimento que o aluno já apresenta, pois ele não é uma “tábula rasa”, que deva ser

preenchida com informações, porque valoriza os seus conhecimentos que devem ser aproveitados

e aprofundados na aula de química. Levando-se em conta que os estudantes trazem muitas

curiosidades (são sedentos para saber o “como funciona” e “como é”) sobre os fenômenos do

cotidiano e os seus efeitos na natureza.

Outro aspecto, é que o ensino de Química deve promover os conhecimentos, as habilidades

e os valores relativos na sua origem relacionando-se com a sociedade e o ambiente que está

inserido, contextualizando: Química como atividade científica, Tecnologia Química, Química e a

sociedade e a Química e o Meio Ambiente.

4 David Paul Ausubel (1918 - ), americano cuja Teoria de Aprendizagem baseia-se na Aprendizagem Significativa,

onde novos conceitos relevantes (subsunçores) ancora-se na estrutura cognitiva do aprendiz.

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As notícias que são veiculadas sobre Química tornaram-na a grande inimiga do meio

ambiente e responsável pelas grandes mazelas que existe na contemporaneidade na sociedade.

Sabe-se que ela pode acarretar conseqüências poluidoras, mas apresenta grande avanço na

quantidade de controles dos processos industriais, tendo como objetivo melhorar o bem estar do

homem e preservar o meio ambiente. Por isto, a escola tem um papel vital na informação correta

desta realidade e que os alunos possam ser os multiplicadores destes conceitos.

No aprendizado de Química, práticas como memorização indistinta de símbolos, fórmulas e

nomes das substâncias devem ser colocadas em segundo plano. Deve ser valorizada a

interpretação das informações obtidas a partir dos processos investigativos, buscando sempre

associá-lo aos fatos do cotidiano.

A utilização de níveis macroscópicos e microscópicos nos conteúdos de Química, a

dependência e a relação entre fatos e generalizações, pois o primeiro é o observável e o segundo a

conseqüência deles e a presença de exemplos e não exemplos são indispensáveis para o ensino de

Química.

A abordagem do ensino desta área de conhecimento é realizada de acordo com os focos de

interesse, ou seja, a partir das substâncias e matérias, possibilitando o estudo e investigação de

suas propriedades, constituição e transformações em situações reais distintas.

A contextualização e a interdisciplinaridade do ensino de Química indicam que esses são os

pilares necessários para o aprendizado, a partir da utilização de abordagens acerca do cotidiano e

privilegiando, sempre que possível, a experimentação na sala de aula.

A interação do indivíduo com o mundo, auxiliando na formação de sua cidadania, são

contribuições fundamentais que o ensino de Química pode proporcionar, pois a realidade que o

cerca durante as 24 horas do dia, são frutos de processos químicos que ocorre externamente ou

dentro do seu corpo humano.

2.2 Referenciais curriculares nacionais para a educação profissional

Na LDB, o ensino profissionalizante foi desmembrado do ensino médio, pois pressupõe que

este último é uma etapa de consolidação da educação básica, porque considera que o educando

aperfeiçoa sua condição humana e cidadã, aprofunda os conhecimentos adquiridos e incorpora a

base necessária para o mundo do trabalho.

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Segundo a LDB, após esta etapa, tudo é educação profissional, podendo ser através do

ensino profissionalizante e tecnológico ou por intermédio de outros cursos de graduação, tendo

como diferença entre eles o nível de exigência das competências, do aprofundamento do

currículo, da qualificação conforme a exigência do mercado e da carga horária entre eles. Deste

modo, o PCN que baliza o ensino profissionalizante é o existente no ensino médio.

Um fator preponderante na educação profissional é que ela não substitui e nem concorre

com a educação básica5, ou seja, valorizar um, não representa a desvalorização do outro. Deste

modo, o ensino profissional terá uma melhor qualidade se o nível da educação básica estiver

fortalecido.

Na sua origem, a formação profissional era voltada às classes menos favorecidas, ou seja,

reservada a trabalhadores treinados para a produção em série e padronizada, onde executavam

tarefas simples e rotineiras. Com o surgimento de um novo cenário mundial, caracterizado por

tecnologias mais complexas, fez-se necessário que o trabalhador desta área mais especializada

fosse também um ser “pensante”, deixando de ser um mero “executante.”

O ensino profissionalizante passou a ser essencial para este tipo de profissional, tornando-o

agente de um processo produtivo através do saber tecnológico, tomando as decisões necessárias e

valorizando a cultura do trabalho.

A educação profissional necessita um processo permanente de atualização onde os

educadores, empregadores e trabalhadores são os principais agentes desta melhoria contínua e

necessária frente às novidades tecnológicas existentes no mercado.

Nas referências da educação do ensino profissionalizante, há alguns princípios que

norteiam esta modalidade, tais como: a articulação com o ensino regular médio, respeito aos

valores estéticos, políticos e éticos e, ainda, alguns princípios específicos como a competência

para a laborabilidade, flexibilidade, interdisciplinaridade e contextualização, identidade dos perfis

profissionais, atualização permanente dos cursos e currículos e autonomia da escola.

Como premissa básica, a educação profissional é educação, portanto, ela deve ser

desenvolvida e articulada com o ensino regular, ou de forma continuada, pois deve ser constituída

visando um desenvolvimento das aptidões necessárias à vida produtiva e utilizando competências

específicas que qualifiquem o futuro profissional nas diferentes áreas.

5 Formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

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Os valores estéticos inerentes às referências do conhecimento ligados à prática necessária

na organização pedagógica devem valorizar a diversidade de trabalhos, produtos e de clientes,

fazendo com que o aluno obtenha certa dose de empreendedorismo, espírito de risco e iniciativa

para buscar a sua trajetória profissional. A estética da sensibilidade está ligada a uma maior

cobrança da qualidade do curso, preparando-o para o trabalho e que não seja improvisado,

maquiado ou de curta duração.

Um dos conceitos mais importantes da educação profissional é que ela se encontra na união

do direito à educação e do direito ao trabalho, contribuindo na essência mais importante que é de

garantir à própria subsistência, reconhecimento e dignidade. Neste sentido, quando se refere a

política de igualdade, a educação profissional deve originar valores de competência e qualidade

que marquem a competição do mercado de trabalho, tendo sempre uma visão crítica a qualquer

tipo de discriminação que possa ocorrer, seja ela de aspecto racial, gênero ou idade.

A educação profissionalizante deve servir para que o aluno possa ter a livre escolha do

curso a ser realizado, objetivando obter competências necessárias dentro da ética de identidade

dos valores do curso, buscando, principalmente, valores de competência, mérito e o realizar bem

feito, servindo de antagonismo a qualquer favoritismo conquistado por caminhos escusos.

O Parecer CNE/CEB 15/986 coloca de forma clara que “sem conhecimento não há

constituição da virtude, mas sozinhos os conhecimentos permanecem apenas no plano

intelectual”, pois sem os valores básicos de refletir, julgar e considerar, não há competência e,

não ocorrendo valores de igualdade e sensibilidade, não há produção de práticas profissionais

para a melhoria da qualidade de vida.

Dentro dos princípios específicos que visam uma nova estrutura para esta educação insere-

se o conceito de competências para a laborabilidade, no qual o seu vínculo com o trabalho passa

pela capacidade pessoal de articular as seguintes compreensões: saber, saber fazer, saber ser e

conviver com as situações reais do trabalho.

A competência profissional relaciona-se com a capacidade de articular, mobilizar e acionar

os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para que ocorra um desempenho que

satisfaça as atividades requeridas pela natureza do trabalho.

6 Parecer do Conselho Nacional da Educação/Câmara da Educação Básica que regulamenta a base curricular

nacional e a organização do ensino médio, aprovado em 01/06/1998.

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Estas competências proporcionam condições para laborabilidade mantendo o trabalhador

em atividades de produção e geração de renda, dentro da realidade de instabilidade que cerca o

setor sócio-econômico, tornando o profissional criativo e agente transformador.

A construção dos currículos requer diferentes opções: na oferta de cursos, na sua

organização, projetos, metodologias e gestão, estando em sintonia com todos os participantes do

sistema educacional da escola, ou seja, docentes, alunos e comunidade.

As escolas possuem a flexibilidade de propor um currículo que venha de encontro à

realidade onde está inserida, entretanto, exige uma maior responsabilidade na oferta eficaz,

conforme as demandas existentes (mercado, comunidade e pessoas).

A identidade de um curso técnico está relacionada com o perfil que o originou, levando-se

em conta as competências profissionais, fruto das condições locais e regionais, direcionadas para

a laborabilidade diante das mudanças, baseando-se na polivalência profissional.

Esta polivalência deve permitir uma superação dos limites de sua ocupação, desencadeando

uma evolução de sua formação, ultrapassando as suas tarefas e tendo conhecimento do processo

global da produção, podendo, assim, influir na sua transformação.

Deste modo, a flexibilidade interage com a interdisciplinaridade, buscando formas de

integrar as diferentes áreas, que busquem o desenvolvimento das competências dos cursos,

possibilitando a relação das disciplinas com as atividades, projetos e pesquisas.

A escola deve utilizar o perfil profissional de conclusão, através dos dados obtidos por ela e

por outros estabelecimentos fornecidos pelo Ministério da Educação.

As escolas devem ter autonomia suficiente para que tenha um projeto pedagógico que

obtenha uma participação efetiva de todos, zelando para uma aprendizagem constante dos alunos.

Este projeto deve atender às normas essenciais da educação nacional e as específicas dos

sistemas, atendendo as demandas da sociedade em que está inserida.

O projeto pedagógico deve envolver toda a comunidade e não apenas os docentes, para que

esta escola possa ser uma referência tecnológica na sua região.

2.3 Referenciais curriculares nacionais para o ensino técnico em Química

O Técnico em Química é um profissional que atua em diversas áreas (laboratório, pesquisa,

processo, etc) e em sistemas que possuem alta tecnologia em plantas de processos industriais,

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possuindo um elevado grau de complexidade, exigindo um padrão de acompanhamento e

controle que garanta a eficiência e qualidade dos produtos gerados nestes processos.

Esta área de trabalho envolve processos de enorme periculosidade e insalubridade

características de sistemas químicos, demandando de seus profissionais, uma forte atuação no

cuidado com a sua saúde e da comunidade que o cerca, aliada a preservação do meio ambiente.

As indústrias químicas tornaram-se geradoras de matérias-primas utilizadas no cotidiano da

nossa sociedade, portanto, evidencia-se uma maior necessidade e importância que o profissional

desta área tenha uma interação mais profunda com estes processos químicos e, principalmente,

com a preservação da natureza.

A base científica do ensino de Química fundamenta-se na aprendizagem de Química, Física

e Matemática (Ciências Exatas), no entendimento dos sistemas ecológicos e sua relação com

agentes abióticos (Ciências Biológicas) e passando, evidentemente, pelas estruturas fundamentais

do ser humano (ética, comunicação, expressão, etc.). Sendo assim, no ensino médio há o

embasamento destas competências, ocorrendo o aperfeiçoamento da área de Química no ensino

profissionalizante.

A mudança decorrente do mundo globalizado em que vivemos, tornou necessário que o

profissional técnico tenha um perfil que mescle a especialidade (requerido até os anos 80) com o

perfil generalista.

A visão especialista ocorre com a formação básica de química, física, matemática,

operações unitárias, controle e automação. Quanto a visão generalista, é importante a

consolidação de conceitos e práticas que englobem segurança, saúde, meio ambiente,

gerenciamento de produção, etc. Sendo assim, o técnico em química deve ter competências

técnico-científicas que possam diagnosticar e solucionar problemas dentro de um sistema

integrado.

Contrapondo ao ensino por disciplinas que está centrado no professor, o ensino

profissionalizante deve instigar e incentivar o aluno para que seja o ator principal no processo de

ensino, através de desenvolvimento de competências e habilidades partindo das bases

tecnológicas que o compõe.

Atualmente, o setor industrial indica que o profissional da área de Química deve apresentar

um perfil comportamental e técnico que possibilite sua atuação na direção correta durante a

aplicação de seus conhecimentos.

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No processo de seleção de pessoas que irão trabalhar nas empresas, estas duas ênfases

(comportamental e técnica) são abordadas e colocadas em prática, pois quando se referem a

aspectos comportamentais, características como: comunicação, trabalho em equipe, relações

interpessoais, visão sistêmica, ética, iniciativa, etc., são fatores fortemente avaliados e, somados

ao aspecto técnico (conteúdos teóricos e práticos), possuem um grande peso na hora de definir as

pessoas que serão admitidas.

Na formação dos currículos é importante que o curso técnico possa desenvolvê-los de

forma inovadora e dinâmica, substituindo o modelo das aulas tradicionais. Além disto, que

possam viabilizar renovação constante e atualização tecnológica através de convênios,

patrocínios e parcerias, obtendo profissionais alinhados com a área produtiva, atualizados e que

tenham qualidade reconhecida.

As indústrias químicas apresentam grande similaridade entre elas, variando o tipo de

processo, quantidade de equipamentos, tipo de matérias-primas e objeto de produção, sendo os

principais processos produtivos: petroquímica, refino de petróleo, alimentos e bebidas, álcool,

fertilizantes, fármacos, papel e celulose, fertilizantes, plásticos, etc.

Como resultado desta elevada quantidade de indústrias químicas, o mercado demonstrou a

necessidade que o profissional de nível técnico de Química tenha formação na modalidade de

análise de processos onde realiza todas as análises quantitativas e qualitativas dos processos

químicos e que tenha formação na operação de processos químicos onde ele opera os processos

industriais das plantas químicas.

A análise de processos envolve as seguintes sub-funções: amostragem e manuseio de

produtos e reagentes, controle de qualidade, controle ambiental, segurança e higiene ocupacional,

manutenção autônoma, gestão do controle qualidade e, também, operação de planta piloto. Por

sua vez, as sub-funções que envolvem a operação de processos são: monitoramento e controle de

processos, operação de sistemas de utilidades, controle de qualidade, controle ambiental,

segurança e higiene industrial, manuseio, estocagem e transporte de materiais e produtos,

manutenção autônoma e, finalmente, gestão de processos.

Partindo destas funções do Técnico em Química, as referências orientam as competências,

habilidades e bases tecnológicas em cada sub-função específica que servem como “currículo

moderno e flexível, permitindo novos modelos alternativos de trabalhos pedagógicos na educação

profissional.”

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A proposta curricular do ensino de Química deve atender as Diretrizes Curriculares

Nacionais no que tange as competências profissionais gerais e que venha a garantir a carga

horária mínima obrigatória de 1200 horas.

A qualidade da formação profissional, alinhado a espaços, atividade e facilidades que

garantam um amplo desenvolvimento cultural aos alunos, são fatores essenciais na formação

deste técnico, pois possibilita que ele venha a tornar-se numa pessoa consciente e comprometida

com o desenvolvimento sócio-cultural e educacional do país.

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3 INDÚSTRIA PETROQUÍMICA NO BRASIL

A idade contemporânea tem se caracterizado como sendo de grande desenvolvimento

tecnológico, pois produtos e bens que não faziam parte do cotidiano acabaram se tornando

fundamentais para o ser humano, acarretando na grande dependência deles.

Neste sentido, não tem como imaginar a humanidade sem a presença de produtos derivados

do petróleo, pois como seria a vida sem gás de cozinha, meios de transporte público e particular,

estradas sem asfalto e, principalmente, sem os produtos derivados da petroquímica.

No final da década de 70, havia um comercial de televisão que fazia menção da importância

dos derivados petroquímicos no qual enfatizava: “Petroquímica! Você usa e não se dá conta!”7,

onde mostrava uma série de produtos oriundos deste setor.

Os produtos petroquímicos são frutos dos avanços tecnológicos existentes neste ramo, pois

daquela matéria plástica quebradiça para os produtos de hoje, ocorreu um desenvolvimento

rápido e impressionante que integra praticamente tudo que é usado e consumido pelo homem no

mundo atual.

Estes produtos começaram a chegar no país após a Segunda Guerra Mundial,

principalmente, através dos brinquedos de plásticos, cortinas de banheiros e plásticos para

embalagens, cuja qualidade eram muito precárias.

Enquanto que nos países desenvolvidos já começaram a existir as primeiras indústrias de

fabricação de plástico a partir do eteno, no Brasil ocorria um movimento popular norteado pela

campanha do “Petróleo é Nosso”8, tendo como objetivo a criação de uma empresa brasileira de

7 Comercial de televisão vinculado na época de implantação do 3º Pólo Petroquímico, visando contrapor as correntes

ambientalistas que se opunham à instalação deste ramo da indústria. 8 Movimento de base nacionalista que culminou com a criação da Petrobrás, sendo um dos principais artífices o

escritor Monteiro Lobato, que escreveu “O Poço de Visconde.”

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petróleo, que visava não se tornar dependente das companhias internacionais de petróleo

existente, as chamadas “Sete Irmãs”9.

Nos Estados Unidos e na Europa, as empresas de petróleo já detinham todo o controle da

cadeia, ou seja, as “Sete Irmãs” preocupavam-se com a produção/refino de petróleo, a primeira e

segunda geração de petroquímicos, deixando a terceira geração para empresas menores

independentes.

3.1 Histórico da petroquímica no Brasil

O início da indústria petroquímica não ocorreu com o surgimento dos pólos petroquímicos,

mas com empresas isoladas que processavam matérias-primas disponibilizadas nas refinarias

existentes no país.

Em 1958, surgiu a Fábrica de Fertilizantes de Cubatão (FAFER) que utilizava insumos da

Refinaria Presidente Bernardes (RPBC)10. Além desta empresa, surgiram nos anos seguintes a

Companhia Brasileira de Estireno (CBE), produtora de estireno, a produção de polietileno de

baixa densidade pela Union Carbide11 e a Companhia Petroquímica Brasileira (COPEBRAS) para

produzir negro-de-fumo12.

Na década de 60, ocorreu uma experiência em fabricação de polietileno no Brasil através da

obtenção de eteno a partir do álcool etílico originário da cana-de-açúcar, cuja tecnologia foi

desenvolvida pela Union Carbide num investimento de 100 milhões dólares, entretanto, a

experiência laboratorial não se comprovou na prática, acarretando num fracasso.

Nesta década, ainda, ocorreu o interesse do capital privado para entrar no negócio

petroquímico, tendo como matéria-prima a nafta, um sub-produto do petróleo. O local escolhido

foi Santo André em São Paulo, próximo a Refinaria de Capuava, cujo projeto foi orçado em 70

milhões de dólares, com uma capacidade anual de 300 mil toneladas de eteno13. Entretanto, o

orçamento estava subestimado, necessitando o dobro que o planejado inicialmente. Além da

9 Compostas pelas: Esso (Exxon), Gulf, Mobil (Socony), Texaco, Standart Oil of California (Chevron), APOC

(British Petroleum) e Royal Duch-Shell, sete empresas européias e americanas que controlavam o mercado internacional de petróleo.

10 Refinaria localizada em Cubatão-SP, teve início das operações em 1955. 11 Empresa americana detentora de tecnologias na área de petroquímica. 12 Aditivo utilizado na fabricação de borrachas. 13 Na petroquímica é utilizado este parâmetro, pois é a matéria-prima básica da maioria dos polímeros e da borracha

sintética, equivalente a 35 toneladas/hora de produção de eteno.

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dificuldade destes investidores, havia resistência de atrair capital estrangeiro, porque o único

fornecedor da matéria-prima era a Petrobrás, pois não queriam depender da instabilidade política

do País.

Com esta dificuldade em conseguir investidores, fez-se necessário à presença do Estado

neste empreendimento, ou seja, seria impossível prosseguir o projeto se não houvesse a entrada

de capital público, pois o empresário brasileiro sabe que todo negócio estratégico no País carece

desta ajuda.

Com o intuito de apoiar este projeto, a Petrobrás criou em 29 de dezembro de 1967, a

subsidiária Petrobrás Química S.A. (Petroquisa), visando desenvolver o planejamento estratégico

e novos negócios que venham a envolver esta área. Além disto, a Petrobrás estava ciente da

necessidade de entrar no ramo da Petroquímica, pois esta era uma estratégia das “Sete Irmãs”, ou

seja, o negócio petróleo atrelado ao negócio petroquímico.

Outro fator que influenciou a entrada da Petrobrás, foi o aumento da demanda por plástico,

pois a produção mundial de eteno que se encontrava na casa dos 20 milhões de toneladas anuais

de eteno, concentrava-se basicamente nos Estados Unidos, Alemanha e Japão. Deste modo, o

País tornou-se uma das primeiras nações a romper com este monopólio e inserir o ramo

petroquímico como estratégico, junto com o petróleo.

Com a ação da Petroquisa e junto com investidores privados, surgiu a Petroquímica União

(PQU) primeira empresa petroquímica de primeira geração, na zona urbana de Santo André. Com

ela, surgiu uma fábrica de polietileno, dentro daquela lógica de empresa de segunda geração

próxima à empresa de primeira geração, mas engessada pela possibilidade de crescimento por

estar dentro de uma região povoada.

O início das operações da PQU ocorreu em 1972, tendo como principais acionistas a

Petroquisa e o grupo Unipar. Nos anos seguintes, ocorreu a chamada de capital14, tendo a

Petroquisa como única empresa que atendeu a convocação, portanto, ela passou a obter o controle

acionário da PQU. No início, ocorreu uma produção anual de 180.000 toneladas de eteno, vindo a

atingir o valor de projeto apenas em 1974.

Nesta época, o crescimento da demanda por produtos petroquímicos estava na ordem de

25% ao ano, portanto, a produção da PQU já era insuficiente para atender este mercado. Como já

14 Dispositivo utilizado pelas empresas para que ocorra um aparte financeiro dos sócios, visando expandir seus

negócios ou quitação de dívidas.

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havia uma decisão do Conselho de Desenvolvimento Industrial (CDI) de 1970, que apontava a

necessidade para um novo pólo petroquímico, foi criado em 1972 a Companhia Petroquímica do

Nordeste (COPENE), localizado na Bahia, cuja principal acionista seria a Petroquisa.

O modelo adotado nesta empresa foi a tripartite, tendo a Petroquisa como sócio estatal e

com participação nunca inferior aos demais sócios. Além dela, havia um sócio estrangeiro

detentor da tecnologia e um sócio nacional de capital privado.

A escolha pela Bahia foi reflexo da necessidade da descentralização industrial, pois a região

sudeste concentrava a maior parte das indústrias do país. Aliado a isto, havia uma decisão política

de desenvolvimento da região nordeste, já observados quando da instalação da Superintendência

do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE15) e do Banco do Nordeste do Brasil, pois estas já

ofereciam incentivos para empresas que viessem a se localizar naquela região. Uma característica

que despontou na escolha deste pólo foi que não houve disputa política para escolha do mesmo,

diferente do outro como será verificado mais adiante.

Na próxima seção será visto que a matéria-prima para a indústria petroquímica pode ser o

gás natural e a nafta, entretanto, nesta época a produção de gás no país era praticamente

inexistente, portanto, o projeto da Copene era de processamento de nafta (similar a PQU), tendo

as empresas de segunda geração dentro do complexo petroquímico, visando facilitar o transporte

dos produtos petroquímicos, utilizando tubovias16 ao invés de meios de transporte.

A entrada em operação da Copene foi em 1978, com uma capacidade de produzir 375.000

toneladas de eteno por ano, logo em seguida, elevou para 475.000 toneladas por ano. Em 1995,

ampliou com outra planta para 1.100.000 toneladas de eteno por ano, sendo que a atual é de

1.200.000 toneladas por ano.

A demanda de produtos petroquímicos estava tão crescente que antes da entrada em

operação da Copene, o CDI através do 2º Plano Nacional de Desenvolvimento (2º PND) resolveu

criar um 3º Pólo Petroquímico no Brasil.

A decisão não foi tranqüila, pois muitos estados, entre eles Rio Grande do Sul, São Paulo,

Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina, postulavam esta escolha. Pesava contra o Rio Grande o

15 Criada em 1959, visando criar políticas e ações buscando diminuir as desigualdades sociais da região. Extinta em

2001 e recriada em 2007. 16 Termo referente ao envio direto dos produtos para outras fábricas através de tubulações, tendo nomes específicos

conforme o produto a ser utilizado (naftoduto, etenoduto, propenoduto, gasoduto, oleoduto, etc.).

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fato de não haver extração de petróleo, distância dos grandes centros consumidores, além de uma

consciência ecológica muito forte.17

A política de descentralização da região sudeste do País, aliado ao fator político foram os

grandes responsáveis pela vinda deste Pólo para o Rio Grande do Sul, já que nesta época um dos

grandes incentivadores da indústria petroquímica, o Presidente da República Ernesto Geisel, fez

muita força para que este empreendimento viesse para o estado em que ele nasceu. Conforme

Severo e Moglia (2005, p. 41), “A escolha do Rio Grande, além da desconcentração geográfica,

pretendia introduzir no estado um novo vetor dinâmico de desenvolvimento para interromper a

perda de espaço no contexto nacional.”

O Estado também se mobilizou para a atração deste complexo industrial, atuações como

dos Governadores Euclides Triches e Synval Guazzeli, tiveram papel decisivo para a definição do

local de implantação do 3º Pólo Petroquímico. Em 1975, ocorreu a definição do Rio Grande do

Sul como sendo este lugar. Em 1976, foi criada a Companhia Petroquímica do Sul (Copesul) na

cidade de Triunfo.

Outra vez, o capital privado teve dificuldades em ingressar neste projeto, o modelo

tripartite adotado na constituição da Copene, não foi suficiente para atrair investidores, porque o

investimento final chegou à casa dos 800 milhões de dólares, sendo que deste montante 51% era

da Petroquisa e o restante era da Fibase, uma subsidiária do Banco Regional de Desenvolvimento

Econômico (BRDE).

A execução do projeto deste pólo, não foi das tarefas mais fáceis, além da dificuldade do

fornecimento de matéria-prima (nafta) pela Refinaria Alberto Pasqualini (Refap18), havia

exigência em utilizar o carvão da região como combustível das caldeiras, normalmente

antieconômico devido sua qualidade e problemas ambientais, como vai ser visto em outro

capítulo deste trabalho, aliada a crise mundial do petróleo e os possíveis reflexos ambientais que

proporcionam este tipo de indústria, quase acarretaram na desistência do projeto. Aos poucos,

estes empecilhos foram sendo vencidos viabilizando a execução deste complexo.

Em dezembro de 1982, entrou em operação a central de matérias-primas mais moderna da

América Latina, cuja capacidade de instalação era de 500.000 toneladas de eteno por ano,

apresentando as melhores referências de preservação ambiental no país.

17 Nesta época ocorreu o fechamento da empresa de celulose Boregaard, que reabriu com outra formação jurídica, após uma série de melhorias e tratamento de efluentes líquidos e gasosos. 18 Localizada em Canoas-RS a 25 Km de Triunfo, não dispunha de toda nafta necessária.

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No ano de 1988, houve ampliação para 620.000 toneladas de eteno por ano. Em 1999, teve

a inauguração da 2ª Unidade de produção de eteno, perfazendo um total de 1.100.000 toneladas

de eteno por ano e, neste ano de 2008, haverá uma nova ampliação de capacidade instalada para

1.200.000 toneladas de eteno por ano.

Durante este período de ampliações das centrais petroquímicas, ocorreu a efetivação do

plano de privatização destas empresas, tendo a Copesul ocorrido em 1992, a PQU também em

1992 e a Copene em 1995. Mesmo assim, a Petroquisa participa com 15% do capital de cada uma

delas.

A descoberta pela Petrobrás do gás natural e o aumento de sua produção, fizeram com que

se colocasse em prática um projeto que envolvia um investimento de um bilhão de dólares,

através da obtenção de produtos petroquímicos a partir dele. Em 2001, foi constituída a Rio

Polímeros no estado do Rio de Janeiro, tendo como acionistas a Petroquisa (25% do capital) e

empresas de grupos privados (Unipar e Suzano) constituindo o restante deste capital.

A Rio Polímeros entrou em operação no ano de 2005 com uma capacidade instalada de

500.000 toneladas de eteno por ano.

Em 2002, a Odebrecht constituiu a Braskem, empresa que absorveu a Copene e no ano de

2007 tornou-se a principal acionista da Copesul, junto com a Petroquisa que ficou com 30% deste

grupo. Em 09 de junho de 2008, a Copesul passou a se chamar de Unib-RS19.

No País há três Pólos Petroquímicos que produzem eteno tendo a nafta como matéria-prima

e um Pólo Petroquímico que apresenta o gás natural.

Considerando todas as expansões de capacidades de todas as centrais petroquímicas

localizadas no Brasil, ocorre uma produção anual de 3.600.000 toneladas por ano de eteno,

aproximadamente 20 vezes mais do que a inicial de PQU em 1972, demonstrando, desta forma, o

acerto na decisão de constituir estas empresas frente à demanda de mercado existente. Novos

pólos estão se constituindo que dentro de 5 anos entrarão em operação.

3.2 Tipos e características

A produção de eteno está relacionada com o tipo de matéria-prima que é utilizada,

dependendo dos locais de exploração destes insumos. Como já foi visto, a oferta de gás natural

19 Unidade de insumos básicos do Rio Grande do Sul da Braskem.

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no país é baixa, com isto há apenas um Pólo que o utiliza. Por sua vez, a extração de petróleo é

grande e dentro dos vários produtos que ele fornece, há uma gasolina de pior qualidade chamada

de nafta que possui grande aplicação no ramo petroquímico.

A utilização do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP20) faz-se numa escala menor, pois o seu

consumo é subsidiado pelo governo para que possa atender a população. Além dele, há o

condensado21 que é um insumo basicamente importado, apresenta características semelhantes à

nafta, mas nem todos os Pólos brasileiros conseguem utilizá-lo devido às características do

processo químico22, apenas a Planta II da Unib-RS se adapta a esta matéria-prima.

As principais características do gás natural referem-se à pequena quantidade de

subprodutos originários do seu craqueamento23, ocorre uma maior conversão em eteno

(aproximadamente 50%) e menor custo em equipamentos, tendo como conseqüência,

investimento menor.

Figura 1: Esquema simplificado de refino de petróleo Fonte: Schuck, 2002, p. 23.

A figura 1 mostra um esquema simplificado das principais correntes obtidas no refino de

petróleo. Na indústria petroquímica, utiliza-se a nafta leve, nafta pesada e, alguns casos, o GLP.

20 Uma mistura de propano e butano de grande utilização nas residências. 21 Componente do petróleo que sai nos poços terrestres, não precisando de refino. 22 Os pólos são projetados baseados nas características da matéria-prima. 23 Principal processo utilizado na petroquímica, onde as moléculas são “quebradas”, ocorrendo rearranjo das ligações

entre os Carbonos.

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No craqueamento de nafta, há uma maior quantidade de subprodutos, necessitando uma

maior prospecção de mercado para eles, menor conversão em eteno (em torno de 30%), maior

quantidade de equipamentos e, com isto, maior investimento.

Figura 2: Característica das principais matérias-primas Fonte: Schuck, 2002, p. 24.

Conforme a figura 2, nota-se uma grande quantidade de matérias-primas que variam de

acordo com o número de átomos de carbono na molécula, no qual o investimento se eleva com o

aumento do número de átomos de carbono na molécula. Na forma inversa, ocorre um aumento no

rendimento em eteno e propeno, com a redução do número de átomos de carbono na molécula.

O eteno e o propeno são considerados os dois produtos mais nobres na indústria

petroquímica devida a grande utilização que os dois apresentam, onde há uma constante pesquisa

visando a aplicação deles, obtendo-se polímeros com qualidade mais elevada, diferentemente que

ocorreu na origem da petroquímica, onde os polímeros eram duros e frágeis.

Como regra geral, as matérias-primas mais leves, produzem maiores quantidades dos

produtos mais nobres.

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32

Os processamentos de nafta e de gás natural representam 79% da produção de eteno do

mundo, sendo que o primeiro representa 50%, variando conforme as diferenças regionais de cada

País. Nos Estados Unidos o gás natural é responsável por 54% da produção de eteno, a nafta

representa 15% e as demais matérias-primas (condensado, GLP e gasóleo) representam 31%. Já

no Brasil, até a entrada em operação da Rio Polímeros em 2005, a nafta representava 85% e o

condensado 15%.

Conforme mencionado antes, a indústria petroquímica é dividida em: primeira geração,

segunda geração e terceira geração. No Brasil, ainda há uma grande distinção entre elas, sendo

que a terceira geração geralmente é realizada por várias empresas de menor porte. Em alguns

países, ocorre uma integração entre refino, primeira geração e produção de resinas (segunda

geração).

A petroquímica de primeira geração produz, além da eteno e propeno, outros importantes

produtos originários do craqueamento de suas matérias-primas, tais como: 1,3-butadieno,

benzeno, tolueno, xilenos, etc, que possuem enorme aplicabilidade no contexto de polímeros,

elastômeros e medicamentos.

As indústrias de segunda geração produzem as resinas necessárias para a obtenção de

polietileno, polipropileno, policloreto de vinila (PVC), poliestireno, politereftalato de etila (PET),

elastômero de butadieno-estireno (SBR), copolímero de etileno-propileno-dieno (EPDM), éter

etil terc-butílico (ETBE), metil etil cetona (MEK), etc.

A terceira geração é responsável pela transformação destas resinas nos produtos que são

entregues ao consumidor final na forma de filmes, embalagens, borrachas, solventes, fibras

sintéticas, entre outros.

Na figura 3 há a esquematização da cadeia produtiva petroquímica, identificando as três

gerações, a matéria-prima de cada uma delas e os produtos gerados por elas.

Figura 3: Cadeia de produção de petroquímicos. Fonte: Schuck, 2002, p. 31.

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33

Os passos que vem sendo dados no Brasil no que se refere à indústria petroquímica, levam

a um modelo similar a outros países, pois os grandes acionistas da segunda geração (Braskem,

Unipar e Suzano) estão sendo os principais acionistas da indústria de primeira geração, cabendo

a Petrobrás o papel de fornecimento de matérias-primas, regulador do mercado e alavancador

para novas empresas.

A Petroquisa é o acionista essencial para este processo, pois ainda há uma necessidade da

sua participação para que ocorra o desenvolvimento deste setor extremamente dependente do

preço do petróleo e do gás natural, para que possa ficar incólume a todos os percalços políticos e

refém do mercado externo.

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4 TERCEIRO PÓLO PETROQUÍMICO

A implantação de indústrias deflagra um processo de disputa entre os municípios para atraí-

las, oferecendo vantagens fiscais com mudanças de leis, doação de terreno, etc, pois entendem

que este tipo de ação política origina outros rendimentos acarretando na possibilidade de

crescimento da região e, principalmente, do município.

As disputas fiscais pela conquista destas indústrias desencadearam uma série de

questionamentos políticos da viabilidade deste processo, enquanto que algumas correntes alegam

que a perda temporária de arrecadação poderia ser utilizada em outros empreendimentos, outras

correntes argumentam que a viabilização destes projetos promove o desenvolvimento da região

resultando em conseqüências positivas para o futuro.

A instalação de um complexo industrial do porte de um pólo petroquímico refletiu

fortemente na elevação da arrecadação de municípios como: Santo André (SP) e Camaçari (BA).

No caso do município de Triunfo no Rio Grande do Sul não foi diferente, pois ao verificar a

evolução da arrecadação deste município com o pólo, obteve um crescimento muito significativo,

como será visto mais adiante.

Na definição do município que seria sede deste complexo, alguns fatores foram levados em

conta, como: próximo a Refinaria Alberto Pasqualini, devido ao fornecimento de nafta, através da

utilização de naftoduto, localização próxima a sistemas hidroviários, ferroviários e rodoviários

facilitando o escoamento dos seus produtos, proximidade com a região carbonífera24, ter uma

fonte de fornecimento de água, facilidade no suprimento de energia elétrica, fácil acesso aos

centros urbanos (no caso Grande Porto Alegre), solo que não houvesse acidentes geográficos, não

apresentar perigos de inundação, área isolada que não houvesse possibilidade de povoamento

24 Uma das premissas do projeto era a utilização do carvão mineral como matéria-prima para as caldeiras.

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(evitar o caso de Santo André-SP e Canoas-RS25) e uma grande área que formasse um bolsão

verde, visando a preservação do meio ambiente.

O pólo encontra-se numa área pertencente ao Município de Triunfo, distante 54 Km de

Porto Alegre, entretanto, poucos profissionais das empresas do pólo foram residir nesta

localidade, optando pelos municípios da Grande Porto Alegre e Montenegro. Esta última sofreu

as maiores conseqüências desta instalação, porque não conseguiu desfrutar da grande arrecadação

deste complexo, mas teve que promover a melhoria da estrutura do município para atender as

demandas deste contingente de novos habitantes.

Figura 4: Plano diretor do pólo petroquímico do sul Fonte: Copesul, 2006b, p. 6.

O plano diretor do pólo é demonstrado na figura 4, onde se verifica os acessos (rodoviário,

ferroviário e hidroviário) para o complexo, os sistemas que assessoram o pólo (ambiental,

elétrico) e as empresas de 2ª geração:

25 Em Santo André, a Petroquímica União (PQU) é separada do centro urbano por uma rua, enquanto que em Canoas e Esteio, a Refap encontra-se no meio destes municípios.

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a) Braskem PE: produz polietileno;

b) Braskem PP: produz polipropileno;

c) Ipiranga Petroquímica (atual Braskem): produz polietileno e polipropileno;

d) Innova: produz etil benzeno e poliestireno;

e) DSM: produz borracha EPDM;

f) Lanxess: produz borracha SBR;

g) Oxiteno: produz metil etil cetona (MEK);

h) Petroquímica Triunfo: produz polietileno;

i) White Martins: produz nitrogênio26 para as empresas do Pólo.

Uma característica comum em empresas deste porte refere-se ao efetivo de pessoas que

fazem parte da sua mão-de-obra. Há uma quantidade de trabalhadores de maior qualificação que

pertencem aos quadros das empresas do pólo, enquanto que uma quantidade significativa de

pessoas com qualificação menor, os chamados prestadores de serviços, caracterizados como

funcionários de empresas terceirizadas27, que foram residir nos pequenos municípios que cercam

o pólo, inclusive Triunfo.

Em março de 2007, ocorreu uma reestruturação acionária das empresas do pólo gaúcho. A

Ipiranga foi adquirida pela Petroquisa (40%) e Braskem (60%) e a parte da Ipiranga que

controlava a Copesul passou a ser controlado, nesta proporção, por estes dois acionistas. Nesta

ocasião, a Petroquisa participava com 10% na Braskem. Em novembro de 2007, ocorreu uma

troca de ativos entre a Petroquisa e a Braskem, no qual a Petroquisa passou o controle

administrativo de suas empresas no pólo para a Braskem, incluindo a Petroquímica Triunfo,

passando a controlar 30% da Braskem.

4.1 Cadeia produtiva

A quantidade de produtos que surgem do petróleo e, neste caso, da nafta é enorme. As

pesquisas tecnológicas e o desenvolvimento nesta área estão cada vez maiores, visando o

aproveitamento total destas matérias-primas, aliado a quantidade de novos polímeros e

elastômeros que estão sendo desenvolvidos.

26 O nitrogênio é muito utilizado em indústria petroquímica, para garantir a eliminação de hidrocarbonetos quando houver abertura de equipamentos, comum durante as paradas de manutenção. 27 Empresas que prestam serviço para indústria, que não estão inseridas na atividade afim.

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Uma característica significativa destes empreendimentos ocorre no início de seu projeto, no

qual é planejado com uma capacidade, mas com a busca constante de modernização dos sistemas

operacionais, aliado ao fator empresarial que busca aumentar o seu faturamento, busca-se elevar a

capacidade de processamento previsto inicialmente, atendendo a necessidade do mercado.

Conforme visto anteriormente, o projeto inicial da Unib-RS indicava uma produção de

500.000 t anuais de eteno, elevando-se gradativamente até os atuais 1.200.000 t de eteno, através

de novas tecnologias que envolveram uma nova planta e atualizações tecnológicas na planta

existente.

Também já foi mencionado, que a utilização do eteno e propeno como produtos nobres da

petroquímica, servem como referência de mercado, mas há outros produtos que são obtidos na

indústria petroquímica de 1ª geração, entre eles, a produção de benzeno, tolueno, C8 aromáticos28,

C9 aromáticos29, éter etil terc-butílico (ETBE)30, 1,3-butadieno, 2-buteno, gasolina automotiva,

GLP31, etc.

A condição necessária para definir os produtos a serem aproveitados no espectro

petroquímico é o aspecto mercadológico, não adiantando definir pelo aproveitamento de certa

corrente, se ela não tiver cliente. É feito um estudo de viabilidade econômica (EVTE), para

referendar ou não a construção de uma unidade que possa produzir determinado produto.

O Brasil carece de empresas que possuam projetos tecnológicos com condições de suprir a

demanda e obter novos produtos petroquímicos, com isto, há grande dependência de empresas

estrangeiras detentoras destas tecnologias. Além deste custo, há a variável equipamentos que,

geralmente, está atrelado ao preço do aço, portanto, para viabilizar qualquer projeto novo, esta

equação: custo de implantação com realidade de mercado dos produtos, deve produzir um retorno

que viabilize o projeto.

No pólo petroquímico do sul, esta realidade não foi diferente, pois no projeto original havia

uma planta de PVC32 não efetivada, pois os estudos para sua implantação não foram viáveis. A

planta de poliestireno, também do projeto original, demorou 15 anos para se tornar viável,

28 Mistura de orto-xileno, meta-xileno, para-xileno e etil benzeno. 29 Mistura de isômeros desta corrente aromática. 30 Produto da reação do isobuteno com etanol, substituinte do aditivo MTBE (reação do isobuteno com metanol) em

outubro de 2007. 31 Gás Liquefeito de Petróleo, utilizado como combustível nos fogões domésticos, industriais e aquecedores de água

domésticos. 32 Polímero policloreto de vinila, utilizado em tubulações domésticas.

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enquanto que a planta de obtenção de 1-buteno e ETBE (não estavam no projeto original) levou 4

anos.

Nos pólos petroquímicos, na primeira geração ocorre a produção de matérias-primas na

forma líquida ou gasosa para a segunda geração, onde produzem as resinas que são enviadas para

as empresas de terceira geração. Estes, por sua vez, produzem a grande diversidade de polímeros

e elastômeros conforme a exigência do mercado.

Figura 5: Cadeia produtiva do pólo petroquímico do sul Fonte: Flach; Sfredo, 2007, p. 32-33.

Como pode ser observado na figura 5, a Unib-RS (ainda representada pela Copesul) é a

empresa de primeira geração que produz as matérias-primas necessárias para as empresas de

segunda geração que também se encontram no complexo. Por sua vez, as empresas de terceira

geração se localizam nos mais diversos municípios do estado e do País.

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Na figura 5 também é verificado os produtos enviados para a 2ª geração: eteno, propeno,

butadieno e benzeno. Além destes, há ainda 1-buteno e o propano que também são enviados para

outras empresas do complexo.

Na Unib-RS, a produção de eteno e propeno atingem 70% de sua produção. Os 30%

restantes, conforme verificado na tabela 1, são os demais produtos da 1ª geração do pólo

petroquímico.

Tabela 1: Evolução das vendas internas por mercado de atuação

Fonte: Copesul, 2006a, p. 13.

A tabela 1 indica a produção da Unib-RS com seus mais diversos produtos e o tipo de

mercado que eles abrangem. Fica evidenciado que o mercado de termoplásticos é apenas um dos

focos de um pólo petroquímico, devido a gama de produtos que há na nafta. O eteno e o propeno

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são as principais matérias-primas para este mercado produzindo o polietileno e polipropileno na

2ª geração.

O mercado de especialidades/intermediários abrange a produção de outros polímeros, como

o poliestireno que necessita benzeno e eteno e do polietileno de baixíssima densidade que

necessita na sua composição o 1-buteno e o propano.

Outro mercado que foi prospectado e possui uma evolução de vendas é o que se refere à

produção dos chamados solventes, utilizados em indústrias de tintas, pesticidas e os mais diversos

tipos de colas.

Com o advento do fim do monopólio da Petrobrás, única empresa que podia comercializar

gasolina e GLP no mercado interno, foi consolidado o mercado de combustíveis, visando

conquistar estes clientes. Na tabela 1, observa-se que com a elevação da venda de gasolina

formulada33 reduziu a venda de tolueno, xilenos e corrente C7-C8 aromáticos, pois estes eram

enviados para as refinarias visando a produção de gasolina.

Nesta tabela, não está disponível a produção do aditivo MTBE que atinge a quantidade de

130.000 t por ano. Este produto, utilizado apenas no mercado externo, é utilizado na gasolina

para melhorar a sua octanagem34, sendo que no Brasil ele foi substituído pelo etanol. Entretanto,

devido os efeitos que o metanol e este éter estavam ocasionando nos lençóis freáticos, o mercado

externo está banindo-o do mercado.

As pesquisas levaram ao ETBE, que não possui esta ação sob o meio ambiente, melhora a

qualidade da gasolina e apresenta o etanol35 como uma das matérias-primas. A Unib-RS foi a

primeira empresa da América Latina que realizou, em outubro de 2007, a conversão da sua

unidade de MTBE para ETBE, num investimento de 15 milhões de dólares, com uma produção

de 100.000 t por ano.

A logística de envio da produção da Unib-RS para seus clientes é realizada de 4 formas:

tubovias, hidroviário, rodoviário e ferroviário.

33 A gasolina é uma mistura de várias correntes nas proporções mais diversas, sendo orientada pelo cliente para obter

a fórmula requerida. 34 Índice de resistência à detonação da gasolina. O índice faz relação de equivalência à resistência de detonação de

uma mistura percentual de isoctano (2,2,4 trimetilpentano) e heptano. 35 Em relação ao metanol, menor custo e menos agressivo ao homem e ao meio ambiente.

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Figura 6: Logística de distribuição dos produtos na Unib-RS em 2006 Fonte: Copesul, 2006, p. 17a.

A maior parte do envio de produtos da Unib-RS é realizado através de tubovias

abastecendo diretamente as empresas de 2ª geração. A figura 6 representa as formas de transporte

da distribuição da produção da empresa.

O transporte hidroviário é possível devido a construção do Terminal Santa Clara36, que

envia os produtos para outros estados ou para exportação através do porto de Rio Grande. O

sistema hidroviário é responsável, também, pelo recebimento do etanol e de 5% da nafta

necessária na Unib-RS.

Outra forma de saída dos produtos é a rodoviária através do carregamento de carretas

utilizadas para este fim. Numa pequena quantidade, há o escoamento via rede ferroviária,

contemplando, basicamente, o transporte de gasolina formulada.

4.2 Desenvolvimento da região do pólo

Um complexo industrial do porte do pólo petroquímico do sul altera significativamente o

perfil econômico de um estado e, principalmente, do município que ele se instalou explicando,

assim, o empenho de governo estaduais e municipais para atrair projeto e investimentos desta

dimensão.

36 O acesso ao terminal é realizado através da construção de um canal com 7000 m de comprimento por 150 m de

largura, tendo calado suficiente para carregar navios com cargas de 4000 t, que desemboca no Rio Jacuí.

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A arrecadação de ICMS37 do estado do Rio Grande do Sul em 2007 foi de R$

12.257.685.273,92, deste montante R$ 429.018.984,59, correspondente a 3,5% foi decorrente do

pólo petroquímico, indicando a importância das empresas que formam o pólo para o Estado, que

auxiliam o Governo na dificuldade financeira que se encontra.

O tributo ICMS não está sozinho, pois há outros que também fazem parte no contexto de

uma empresa, como: PIS38, COFINS39, ISSQN40 e Imposto de Renda, que são importantes para a

receita destes três entes do sistema governamental.

Tabela 2: Distribuição da arrecadação de impostos na Unib-RS em 2006

Fonte: Copesul, 2006a, p. 91.

A tabela 2 indica apenas a arrecadação de impostos da Unib-RS e a distribuição deles com

os três segmentos governamentais, onde se observa o significativo montante, tendo o governo

federal como maior arrecadador de impostos e contribuições. Os reflexos sobre o governo

municipal serão notados nas empresas que produzem as resinas.

A demonstração acima se refere a arrecadação da empresa de 1ª geração, mas cada empresa

de 2ª geração apresenta valores significativos, facilmente verificados na demonstração financeira

anual obrigatória pela regra de sociedades anônimas41.

37 Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços, principal tributo de arrecadação estadual. 38 Programa de Integração Social, arrecadado pelo Governo Federal. 39 Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social, arrecadado pelo Governo Federal. 40 Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza, arrecadado pelo Governo Municipal. 41 Cada empresa considerada de sociedade anônima tem que apresentar os dados de arrecadação e faturamento no

relatório da administração da empresa e deve ficar disponível para a população.

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No que tange ao município de Triunfo, a receita do pólo equivale 90% da sua arrecadação,

pois era um município essencialmente agrícola e tornou-se, em função do pólo, um município

industrial.

Comparando Triunfo, com o município de São Jerônimo que se localiza ao lado, verifica-se

o impacto que este complexo teve, conforme a tabela 3:

Tabela 3: Comparação de arrecadação entre municípios Triunfo – São Jerônimo

Município Agricultura Indústria Serviços Impostos PIB42 População PIB per

capita43

S. Jerônimo 33088 32105 108390 23927 197511 20062 9845,05

Triunfo 50327 3084135 784346 880832 4799641 24824 193346,80

Valores em milhões de reais, ano-base 2005

Fonte: Adaptado do IBGE,2008.

O paralelo traçado entre estes dois municípios, conforme tabela 3, expõe de forma clara a

importância deste grupo de empresas para o município que vem a sediá-lo. São dois municípios

cuja vocação eram eminentemente agrícolas, cujo PIB fazia parte da média nacional (o PIB do

país é de R$ 9.728,8344) e abaixo do PIB do RS em 2005 que é de R$ 13.995,44.

O município de Triunfo apresentou uma grande evolução neste índice, tendo um PIB que

representa o 4º do Estado, cuja arrecadação é superada apenas pela capital (Porto Alegre), Caxias

do Sul e Canoas. A evolução do PIB, em relação a arrecadação estadual subiu, nos últimos 10

anos, de 2,61 % para 3,97 %. Levando-se em conta o PIB per capita, os números são mais

elevados, pois ele representa, conforme o IBGE, o 4º do país.

Entretanto, estes números não se refletem na realidade do município, pois pelo Índice de

Desenvolvimento Humano (IDH)45 de 2000, encontra-se no índice de 0,788, valor similar do

País, mesmo apresentando um PIB diferenciado em relação aos demais municípios.

42 Produto Interno Bruto. 43 Corresponde a divisão entre as riquezas internas pela população. 44 Dados do 2004 do IBGE. 45 Uma medida comparativa de riqueza, alfabetização, educação, esperança de vida, natalidade e outros fatores para

os diversos países do mundo.

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A geração de empregos no pólo é fato que merece destaque. Segundo o Sindicato dos

trabalhadores nas indústrias petroquímicas de Triunfo/RS (Sindipolo), em 2008 há 2400

trabalhadores diretos, sendo 950 na Unib-RS e 3500 trabalhadores indiretos que prestam serviço

dentro do sistema. Antes do processo de privatização e incorporação dos ativos das empresas,

havia 4500 trabalhadores diretos nas empresas (1600 trabalhadores na Copesul). Além disto,

muitos sistemas foram automatizados e modernizados.

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5 A RELAÇÃO DO MEIO AMBIENTE NO TERCEIRO PÓLO PETROQUÍMICO

O Estado do Rio Grande do Sul notabilizou-se pela grande preocupação ambiental

adquirida por sua população, fruto das mobilizações lideradas por ambientalistas que, no início da

década de 70, provocaram o fechamento da Boregaard devido a quantidade de emanações

gasosas.

O projeto de implantação do pólo petroquímico do sul esteve para não ser realizado devido

as várias ações dos grupos de ambientalistas existentes no estado incorrendo numa profunda

reflexão da tecnologia industrial a ser implementada.

A realidade de uma empresa de tecnologia de ponta46 exige na sua concepção um amplo

estudo do impacto ambiental que ela pode exercer para esta geração e para as futuras e o

pioneirismo exercido por estes grupos, propiciaram um pólo petroquímico que estivesse na frente

de seu tempo no que tange a este aspecto, sendo que a mais profunda melhoria decorrente das

atualizações tecnológicas se faz presente, acarretando em constante investimento47 ambiental.

O pólo petroquímico do sul e, de modo especial, a central de matérias-primas, são

referências em termos ambientais, obtendo certificados internacionais de ISO 14001, ISO 18001

e sendo integrante do sistema de Atuação Responsável.

5.1 Mobilização ambiental na instalação do pólo

A questão ambiental era a grande preocupação das pessoas que lideravam o projeto de

implantação do pólo petroquímico, devido à nova cultura que se formava nesta época,

46 Também conhecida como alta tecnologia, referindo-se as mais recentes inovações tecnológicas. 47 Há empresas que consideram este tipo de gasto como custo, mas quando se refere ao meio ambiente, a palavra

investimento é mais correta.

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valorizando a preservação do meio ambiente e, principalmente, as pessoas. Além disto, o

movimento ambientalista gaúcho era muito exigente.

A concepção ambiental no projeto do pólo foi de obedecer as exigentes regras

internacionais garantindo, através da sua localização, que seria afastada dos grandes centros e

instalando um excelente padrão de tratamento dos seus efluentes.

Em contrapartida a isto, estava o sentimento negativo provocado pelos vários exemplos de

indústrias químicas, acarretando em distúrbios ambientais irreparáveis para a natureza, tendo

como exemplo o caso da Boregaard.

Na implantação do pólo, uma das grandes preocupações era o destino que seria dado aos

efluentes líquidos, pois a sua área estava localizada a montante do Rio Guaíba48 e qualquer

problema que viesse a ocorrer poderia contaminar as águas deste rio que abastece Porto Alegre.

Em certo momento, foi proposta a instalação de uma tubulação de 130 Km para enviar os

efluentes no Oceano Atlântico, mas a mobilização das pessoas fez com que esta idéia não saísse

do papel.

Neste momento, havia uma forte reação negativa da população, estimulados pelos

ambientalistas, que tentavam impedir a realização do projeto do pólo, alcançando tamanha

proporção que provocou discriminação nas pessoas e familiares que trabalhavam no

empreendimento.

Após a mal sucedida idéia de lançar os efluentes no mar, surgiu uma nova alternativa de

levá-los até a Lagoa dos Patos através, novamente, de uma tubulação. O movimento

ambientalista comandado por Magda Renner se contrapôs, conforme relato de Bones:

Fretamos um ônibus e fomos pela margem da Lagoa dos Patos. Onde havia um vilarejo, a gente descia. Na frente iam esses guris, de uns 15 e 16 anos, com uma bandeira imensa, com o dizer “Pelo amor à natureza.” E, na retaguarda, vinha a Magda com um megafone para convocar as pessoas[...]. (2002, p. 94).

Diante de toda esta celeuma, a Unib-RS optou por um sistema de tratamento de efluentes

líquidos, tornando-se referência mundial, cuja principal característica é de não enviar qualquer

tipo de efluente para o sistema hídrico que cerca o pólo.

48 Hoje chamado de Lago Guaíba, devido a sua formação.

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Para atender esta situação, foi criada a Sistema Integrado de Tratamento de Efluentes

Líquidos (Sitel), possuindo uma estação de tratamento de água dentro da sua área, onde os

rejeitos são tratados e, posteriormente, aspergidos no solo.

A grande mobilização proporcionada pelos ambientalistas levou a serem reconhecidos pela

Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul, conforme Bones (2002, p.77) “[...] os engenheiros

estrangeiros que vieram para cá diversas vezes disseram que se não fosse por nós o pólo

petroquímico não teria as condições que tem para tratamento de efluentes [...].”

Outra preocupação que havia durante a implantação estava relacionado com a produção de

insumos aromáticos, em especial, o benzeno49.

A Unib-RS adotou medidas que são fortemente restritivas a perda de aromáticos para o

ambiente e que podem proporcionar o contato humano. O transporte naval é realizado por navios

de casco duplo e, no transporte rodoviário, são tomados todos os cuidados especiais no seu

manuseio.

O ideal é evitar o transporte deste tipo de produto, necessitando incentivar a implantação de

empresas que o utilizem como matéria-prima dentro da própria área do complexo industrial.

Conforme pode ser visto a seguir, a atualização tecnológica constante, o respeito ao meio

ambiente e a população são marcas significativas que fizeram da Unib-RS modelo e referência

mundial.

5.2 Atuação responsável

As empresas químicas e petroquímicas possuem uma imagem de potencial poluidora

perante a sociedade, fruto do histórico de muitas indústrias que contribuíram para esta situação e,

também, do senso comum que química é sinônimo de poluição.

Diante desta situação a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim)50 adotou, em

1992, o Programa Atuação Responsável nos moldes do Responsible Care51, cujo objetivo é elevar

o respeito e a confiança do público na indústria química, por meio de um processo de melhoria

contínua em saúde, segurança e meio ambiente.

49 Produto utilizado nas indústrias que pode acarretar em leucopenia pelo ataque aos glóbulos brancos, tendo como

valor máximo de 1 ppm na atmosfera. 50 Representa 190 empresas associadas, sendo 140 empresas químicas, que são responsáveis por mais de 85% da

fabricação de produtos químicos no país e 50 empresas de transporte distribuição e áreas correlatas. 51 Sistema internacional que orienta a responsabilidade social das empresas do ramo químico.

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Este programa tem como premissa a prioridade para saúde, segurança e meio ambiente,

expressa por meio de: prevenção de riscos e impactos à saúde e ao meio ambiente, melhoria

contínua de desempenho com reflexos nas condições de saúde e segurança e no meio ambiente,

comprometimento de toda a Empresa, diálogo permanente e transparente com as partes

interessadas e intercâmbio de experiências.

Os princípios diretivos que dirigem este programa estabelecem os padrões que norteiam a

ética e as políticas da indústria química em relação à proteção à saúde, à segurança e ao meio

ambiente.

Além disto, há os códigos de práticas gerenciais que estabelecem os requisitos através dos

quais os princípios diretivos são efetivamente aplicados. Esses códigos, em número de seis,

contemplam todas as etapas dos processos de fabricação dos produtos químicos, além de tratarem

das peculiaridades dos próprios produtos:

a) segurança de processos: relaciona-se com a prevenção de acidentes nas instalações das

indústrias, voltado ao foco na análise de riscos de processos e nas ações de gestão dos

riscos identificados;

b) saúde e segurança do trabalhador: relaciona-se com a prevenção de acidentes pessoais e

de danos à saúde dos trabalhadores nas empresas químicas, com foco na melhoria das

condições dos locais de trabalho;

c) proteção ambiental: relaciona-se com a prevenção da poluição, com foco na gestão dos

processos industriais, objetivando reduzir a geração de efluentes, emissões e resíduos;

d) transporte e distribuição: relaciona-se com a prevenção dos acidentes no transporte e

distribuição de produtos químicos, com foco na análise dos riscos, na gestão das

atividades logísticas e na atitude a eventuais emergências decorrentes de acidentes;

e) diálogo com a comunidade e atendimento a emergências: relaciona-se a estabelecer

canais de comunicação entre as empresas e as comunidades interna (trabalhadores) e

externa (vizinhos) e preparar o atendimento a emergências nas instalações da indústria;

f) gerenciamento do produto: relaciona-se a fazer com que as questões ligadas à saúde,

segurança e meio ambiente sejam consideradas em todas as fases do desenvolvimento,

produção, manuseio, utilização e descarte de produtos químicos, com foco nas ações

entre a indústria e a cadeia de valor.

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Diante desta realidade e ciente da responsabilidade social que este ramo necessita, a Unib-

RS está inserida no contexto deste programa, tendo um papel ativo na sua comunidade,

disponibilizando recursos para que qualquer ocorrência que venha a comprometer o seu ambiente

possa ser remediado, sendo ele agente protagonista ou não deste evento.

A constante atualização tecnológica existente neste tipo de indústria, onde novos sistemas

são concebidos visando a eliminar ou reduzir a níveis próximos de zero as emanações gasosas ou

líquidas, fazem parte do cotidiano da Unib-RS, acarretando em investimentos vultuosos.

No que se refere ao transporte de cargas, tendo em vista que a Unib-RS transporta seus

produtos através de via rodoviária, ferroviária e fluvial, todo o incidente que possa a ocorrer, ela

possui uma estrutura de pessoas e equipamentos que controlam e amenizam a situação. Do

mesmo modo, caso ocorra algum incidente com empresas do mesmo ramo, ela disponibiliza

pessoas e equipamentos para apoiar no combate a este tipo de evento.

Em 2003 foi criado, em conjunto com as demais empresas do pólo o Conselho Comunitário

Consultivo da Regional Sul, cujo objetivo é estabelecer um canal de comunicação direto e

permanente entre as comunidades dos municípios de Triunfo, Montenegro e Nova Santa Rita e as

indústrias do pólo petroquímico do sul signatárias do Programa Atuação Responsável, visando

discutir assuntos e soluções de interesse comum, enfatizando os aspectos relacionados à

segurança, à saúde e ao meio ambiente associados às atividades das empresas. Ao longo do

tempo foram realizados encontros, treinamentos e a distribuição de cartilhas para facilitar a

comunicação entre as comunidades e as empresas do pólo.

5.3 Sistemas de qualidade

No atual mundo globalizado, uma empresa para obter mercado deve buscar constantemente

a sustentabilidade empresarial que é entendida como o desenvolvimento equilibrado das

responsabilidades corporativas financeira, social e ambiental. Portanto, o mercado observa o

comprometimento que ela possui nestes aspectos.

Os sistemas de qualidade foram desenvolvidos para que as empresas tenham padrões a

serem atingidos que garantam a qualidade dos seus produtos e a interferência que eles podem

exercer sobre as pessoas e o meio ambiente.

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Para atingir estes patamares de qualidade foi adotado os critérios elaborados pela ISO52. A

certificação que se relaciona com o meio ambiente é a ISO 14001, tendo como objetivo geral

fornecer assistência para as organizações na implantação ou no aprimoramento de um Sistema de

Gestão Ambiental (SGA) sendo consistente com a meta de “Desenvolvimento Sustentável” e

compatível com diferentes estruturas culturais, sociais e organizacionais.

O SGA fornece ordem e consistência para as atitudes organizacionais no atendimento às

preocupações ambientais através de suprimento de recursos, definição de responsabilidades,

auditorias das práticas, procedimentos e processos.

A norma que caracteriza a ação das empresas na gestão de saúde e segurança no trabalho é

a ISO 18001, também conhecida como OHSAS53, que garante o compromisso da empresa com a

redução dos riscos ambientais e com a melhora contínua de seu desempenho em saúde

ocupacional e segurança de seus colaboradores.

Ela foi desenvolvida para ser compatível com a ISO 9001 (Qualidade) e com a ISO 14001

(Ambiental). A união dessas três certificações possibilita às empresas a implementação de

Sistemas de Gestão Integrados (SGIs).

A Unib-RS obteve estas três certificações em 1996 (ISO 9001), 1998 (IS0 14001) e 2003

(ISO 18001), através da empresa de auditoria externa BVQI54 consolidando, assim, o Sistema de

Gestão Integrado, mantendo-se atualizado com o mercado internacional. Após a obtenção destes

certificados, a empresa é auditada anualmente para verificar se elas são mantidas ou necessitam

de melhorias. Além disto, a própria empresa realiza auditorias internas anuais visando o

aperfeiçoamento do processo.

52 ISO - International Standardization for Organization é uma organização não-governamental com sede em Genebra,

fundada em 23 de fevereiro de 1947 cujo objetivo é de ser o fórum internacional de normalização, atuando como entidade harmonizadora das diversas agências nacionais.

53 Significa Occupational Health and Safety Assessment Series - entrou em vigor em 1999, após estudos de um grupo de organismos certificadores e de entidades de normalização da Irlanda, Austrália, África do Sul, Espanha e Malásia.

54 Bureau Veritas Quality International, é uma empresa privada de capital francês, especializada em verificar e orientar empresas de forma a adequá-las às normas ISO da Organização Internacional para Padronização da família 9000.

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5.4 Monitoramento das emanações gasosas da Unib-RS

O monitoramento atmosférico tem por finalidade avaliar a qualidade do ar, ao nível do solo,

na área de abrangência do pólo petroquímico do sul. Para tal, foi implantada uma rede de

estações para coleta de amostras, com eixos direcionados com base nos ventos predominantes.

Há 12 estações de monitoramento, sendo 5 localizadas na área interna da Unib-RS e 7 na

área externa, conforme figura 7. A Unib-RS conta ainda com duas estações utilizadas como

“branco”, uma no parque do Delta do Jacuí e outra em Viamão.

Figura 7: Pontos de monitoramento do ar realizado pela Unib-RS Fonte: Copesul, 2006b, p. 112.

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São monitorados, com freqüência mensal, partículas sedimentáveis e sulfatação total,

através de amostradores instalados a cinco metros de altura em cada estação, conforme figura 8.

A análise das amostras coletadas é feita pelo laboratório da Unib-RS.

Figura 8: Ponto fixo de monitoramento do ar realizado pela Unib-RS Fonte: Autoria própria, 2008.

O monitoramento de partículas inaláveis, dióxido de enxofre, óxidos de nitrogênio, ozônio,

monóxido de carbono, hidrocarbonetos totais, metano, pH da chuva e dados meteorológicos, é

feito através da moderníssima Unidade Móvel de Monitoramento da Qualidade do Ar, conforme

figura 9.

Figura 9: Unidade móvel de monitoramento do ar da Unib-RS Fonte: Copesul, 2006b, p. 111.

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A Unidade móvel é uma Van T 35 D Renault equipada com os seguintes analisadores

automáticos:

a) AC31M – analisa NO-NOx-NO2 em baixas concentrações no ar (0,00035 a 10 ppm). O

princípio empregado na análise é o da Quimiluminescência;

b) AF21M - é designado para analisar continuamente SO2 e H2S em baixas concentrações

(0,001 a 10 ppm) no ar. O princípio de medição é a Fluorescência no Ultra Violeta;

c) CO11M - é um analisador contínuo específico para CO (monóxido de carbono) em

baixas concentrações na atmosfera (0,1 a 200 ppm). O princípio de detecção utilizado é

o da correlação no Infravermelho (IR);

d) HC51M- é designado para analisar metano (CH4) e hidrocarbonetos totais (THC), numa

grande região de concentração (0,05 a 1000 ppm), no ar. O princípio usado é o da

Ionização de Chama;

e) BTX61M – analisa butadieno, benzeno, tolueno, etilbenzeno, m/p-xilenos e o-xileno. O

princípio analítico é o de Dessorção Térmica e Cromatografia;

f) O341M - é um analisador contínuo de ozônio específico para baixas concentrações

(0,001 a 10.000 ppm) no ar. Ele usa o princípio de detecção da absorção da luz

ultravioleta (UV) pelo ozônio (O3);

g) MP101M - é usado para medir a quantidade de partículas inaláveis suspensas no ar.

Utiliza o BETA gauge como princípio analítico;

h) analisador de chuva ácida - é composto basicamente por um medidor de precipitação

pluviométrica e um peagâmetro;

i) sensores meteorológicos – direção e velocidade do vento, temperatura e umidade

relativa do ar, pressão atmosférica, radiação solar e precipitação pluviométrica;

j) MGC 101 – é utilizado na calibração dos outros equipamentos.

Além destes parâmetros, a unidade móvel, através de um Espectrômetro de Massas, pode

analisar mais uma série de compostos diferentes, tendo em vista que o Espectrômetro de Massas

possui uma biblioteca com 65.000 fragmentogramas.

Na tabela 4, há um quadro comparativo das principais emanações gasosas nos últimos

quatro anos, demonstrando a qualidade do ar na área do pólo.

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Tabela 4: Resultados do monitoramento do ar (período 2002-2006)

Fonte: Copesul, 2006b, p. 113.

Em 2006 todos os parâmetros de qualidade do ar atenderam os padrões estabelecidos,

indicando a boa qualidade do ar na área do complexo petroquímico.

O parâmetro ozônio ultrapassou apenas uma vez o padrão de 160 mg/m3 estabelecido pela

Resolução Conama 003, de 1990. O ozônio é um poluente que não está presente nas fontes de

emissão, sendo formado na atmosfera por meio de reações que envolvem substâncias produzidas

na combustão, hidrocarbonetos e a radiação ultravioleta do sol.

A Unib-RS tem detectado ozônio quando o vento sopra da região metropolitana de Porto

Alegre para o pólo petroquímico.

A tabela 5 contempla um quadro comparativo do teor de NO2 verificadas pela estação

móvel junto às estações fixas, podendo ser verificado que o teor relativo a este gás manteve-se

abaixo dos valores limítrofes.

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Tabela 5: Teor de NO2 verificados nos pontos de monitoramento do ar

Fonte: Copesul, 2006b, p. 121.

A vantagem de se ter uma unidade móvel, consiste no fato de que ela permite identificar de

maneira ágil, em vários pontos de uma área, a qualidade do ar. Ela fica instalada duas vezes por

ano em cada estação, por um período de 96 horas.

Além dos parâmetros citados acima, também são monitorados, através de bioindicação

vegetal, Cd, Pb e S. Esta análise é realizada pela Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.

Em cada estação são deixadas, para exposição de dois meses, exemplares de bromeláceas, liquens

e gramíneas.

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A Unib-RS monitora a qualidade do ar na área de abrangência do pólo petroquímico do sul,

bem como avalia os resultados obtidos destes monitoramentos.

A FEPAM, como órgão governamental, mantém dentro da área do pólo uma unidade para

que fiscalize a possibilidade de agressão ao meio ambiente.

5.5 Atualização tecnológica

As plantas industriais passam por constante atualização tecnológica, pois com o decorrer do

tempo, as exigências ambientais aumentaram e novos sistemas são elaborados, necessitando por

parte da empresa investimentos na área de segurança, saúde e meio ambiente. O investimento na

Unib-RS desde 2001 é verificado conforme a tabela 6.

Tabela 6: Investimentos em segurança, saúde e meio ambiente na Copesul

Fonte: Copesul, 2006b, p. 29.

Entre as principais atualizações tecnológicas que ocorreram nos últimos anos estão:

instalação de bombas com duplo selo ou acoplamento magnético, melhoria nos sistemas dos

amostradores, atualização tecnológica do carregamento de carretas evitando emanação para

atmosfera, bloqueios que não emitem para atmosfera, instalação de tetos flutuantes nos tanques e

aquisição de equipamentos que medem teor de benzeno e hidrocarbonetos.

Além destes fatores, foram modificados procedimentos de liberação de equipamentos,

evitando o envio para atmosfera e ampliação do monitoramento biológico nos trabalhadores do

pólo.

Os próximos passos nas áreas de segurança, saúde e meio ambiente são mais complexos

como o domínio tecnológico das plantas, dos perigos e riscos associados à saúde ocupacional,

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bem como aspectos relacionados aos potenciais impactos ao meio ambiente. Entre os principais

projetos estão:

a) projeto de atualização tecnológica do carregamento de navios no Terminal Santa Clara,

visando reduzir a emanação gasosa, num investimento de U$ 1.500.000;

b) projeto de medição de hidrocarbonetos no ar nas Unidades Operacionais, investimento

de U$ 720.000;

c) colocação de bombas de duplo selo, num investimento de U$ 3.758.000.

5.6 Parque Copesul de proteção ambiental

Em compasso com a preocupação ambiental que se faz presente na administração da Unib-

RS e aproveitando a idéia de um colaborador da empresa, foi criado na área do pólo um Parque

de Proteção Ambiental.

O Parque Copesul de Proteção Ambiental tem 68 hectares, sendo o único monitorado

cientificamente no Brasil entre os mantidos junto a áreas industriais. O monitoramento é feito

pela Fundação Zoobotânica-RS (FZB).

A Unib-RS investiu cerca de US$ 1 milhão na implantação do parque e destina anualmente

outros R$ 405 mil para manutenção e monitoramento ambiental, incluindo o convênio de

assessoramento realizado com a própria FZB. Outra parceria entre essas duas entidades, com

participação do Instituto Estadual do Livro, deu origem ao Guia Ilustrado de Fauna e Flora do

Parque, com distribuição gratuita.

Este parque foi inspirado em um dos ambientes do Everglades National Park, da Flórida

(EUA). O Parque Copesul é aberto ao público desde 1994 e recebe anualmente milhares de

visitantes, especialmente estudantes. Todas as visitas são acompanhadas por técnicos da Unib-

RS. Há placas indicativas instaladas ao longo de 1.200 metros de trilhas na mata nativa também

possibilitam visitas autoguiadas.

Há três mirantes existentes junto à Bacia de Acumulação e Segurança 7, que recebe parte

das águas pluviais não-contamináveis recolhidas na área do pólo petroquímico e o visitante pode

observar por meio de lunetas os animais que se encontram na ilha e na vegetação aquática.

Na Casa Rosa, prédio-sede do parque, funciona o Museu de Ciências Naturais, com peças

taxidermizadas (empalhadas) da fauna local apresentadas em ambientes que reproduzem seu

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habitat. A Casa Rosa também dispõe de salas para exibição de vídeos e para realização de

atividades de educação ambiental com os visitantes em idade escolar.

O parque oferece instalações apropriadas para a locomoção de portadores de necessidades

especiais, sanitários e espaços para realização de lanches e atividades de recreação.

Durante o ano de 2006 foi dada continuidade aos estudos de monitoramento biológico na

área do parque, com ênfase no inventário de espécies e no acompanhamento das condições da

flora e da fauna dos ecossistemas terrestres e aquáticos que agregaram 13 novas citações para o

parque, sendo cinco novas ocorrências de algas, sete de aranhas e uma nova ocorrência de ave, o

anambé-branco-de-bochecha-parda (Tityra inquisitor).

A FZB já totalizou o número total de 2.504 de espécies de flora e fauna no Parque Copesul

de Proteção Ambiental desde o inicio do trabalho de monitoramento. Destaca-se a descrição até o

momento de quatro espécies novas para a ciência com base em material coletado, sendo duas de

insetos e duas de aranhas.

As atividades de pesquisa tiveram continuidade no local. Entre elas, pode-se citar o

acompanhamento das populações de capivaras estabelecidas no parque, com a finalidade de

observar a dinâmica e a evolução dos grupos em vida livre na área, testes com a ocupação de

substratos artificiais por artrópodes que vivem junto ao solo de florestas e a identificação de

abrigos e marcas odoríferas de lontras no local.

Em 2006, o Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Estado do Rio

Grande do Sul publicou a obra “Cerambycidae (Coleoptera) do Parque Copesul de Proteção

Ambiental, Triunfo, Rio Grande do Sul”, organizada pelos entomólogos doutora Maria Helena

Mainieri Galileo, do MCN/FZB, e doutor Ubirajara Ribeiro Martins, do Museu de Zoologia/USP,

que trata sobre 89 espécies de cerambicídeos coletadas no parque desde 1987. O parque recebeu

mais de 16 mil pessoas, sobretudo estudantes de escolas de cidades vizinhas ao pólo.

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6 PRINCIPAIS PONTOS DE EMANAÇÕES GASOSAS DA UNIB-RS

O petróleo apresenta na sua composição vários componentes orgânicos e inorgânicos. Uma

refinaria tem como objetivo separar estes compostos conforme a demanda do mercado e de

acordo com seu processo químico. Uma destas frações é a nafta petroquímica, cuja mistura

apresenta mais de 200 substâncias diferentes.

A nafta petroquímica é direcionada a uma série de processos químicos cujo grande objetivo

é produzir matérias-primas para a indústria de polímeros e elastômeros.

A Unib-RS é uma central de matéria primas baseado num processo petroquímico que tem

como meta principal a produção de eteno e propeno que são produtos básicos para a fabricação

de polietileno e polipropileno. Além destes dois produtos, há a produção de uma série de 16

outros produtos que são comercializados no mercado interno e externo.

Uma empresa petroquímica apresenta um potencial de emanações gasosas, líquidas e até

sólidas que podem vir a afetar o meio ambiente. As soluções que visam controlar e abrandar estes

sistemas estão cada vez mais evoluídas, além disto, a sociedade está cada vez mais exigente.

As emissões gasosas possuem um grande potencial poluidor devido as diferentes formas

que podem causar impacto ao meio ambiente.

As conseqüências destas emissões podem ser o aumento do efeito estufa, a elevação das

substâncias de gases tóxicos, o incremento de partículas líquidas ou sólidas no ar e formação de

chuvas ácidas que acarretam em problema de saúde à população e impacto a biodiversidade.

O efeito estufa é proporcionado pelo aumento do teor de CO2 nas combustões que ocorrem

nestas indústrias, pois possuem equipamentos que realizam reações químicas produzindo este

tipo de gás. No caso da indústria petroquímica, a formação deste gás é decorrente da queima de

combustíveis (gás e óleo) nas caldeiras e da combustão que há no sistema de tocha.

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Segundo Arrhenius apud Branco e Murgel (2004), a atmosfera apresenta um teor de 0,03%

de CO2, cujo desaparecimento reduziria a temperatura em 21°C, entretanto, um teor acima deste

valor, aumenta as conseqüências deste efeito produzindo o aquecimento global com seqüelas

irreversíveis ao Planeta.

Além do teor de CO2 e H2O que se elevam na combustão, os combustíveis utilizados nas

caldeiras são oriundos do petróleo e/ou carvão que apresentam enxofre, formando óxidos de

enxofre (SOx) que se encontram nestes combustíveis e de óxidos de nitrogênio (NOx), que são

oriundos da quebra da ligação do N2 do ar com o oxigênio. Estes óxidos (SOx e NOx) ao juntar-se

com a água (umidade normal ou da combustão), transformam-se em ácidos (sulfúrico ou nítrico),

originando as chuvas ácidas.

A combustão de carvão apresenta como sub-produto as cinzas que são partículas sólidas

que poluem o ar.

O efeito estufa e as chuvas ácidas provocam um grande impacto ambiental, deste modo,

afetam a saúde das pessoas que estão em torno destas empresas, provocando um desequilíbrio,

afetando todos os sistemas vivos que estão nas circunvizinhanças.

A indústria química/petroquímica requer por parte de sua gestão uma atuação responsável

nestes sistemas para que não provoquem um desequilíbrio ecológico que possam influenciar a

atual geração e as futuras.

A Unib-RS é uma empresa que busca as tecnologias mais modernas visando não afetar a

sua comunidade, seja interna ou externa, pois apresenta equipamentos de última geração para

monitorar a qualidade do ar, além de equipamentos modernos que emanam o mínimo teor

possível de gases e particulados sólidos.

As emissões gasosas da Unib-RS aparentam ser de enorme vulto, mas na verdade trata-se

de fruto do reaproveitamento energético e do sistema de segurança necessário para um processo

deste tamanho que são desconhecidos pela maior parte da comunidade.

Entre as principais emanações gasosas encontram-se os vapores gerados na torre de

refrigeração, a fuligem das chaminés das caldeiras e o sistema de tocha da empresa que serão

tratados neste trabalho de forma separada.

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6.1 Torre de refrigeração

O principal processo petroquímico utilizado na Unib-RS para converter nafta em eteno,

propeno, etc é o craqueamento em fornos de alta temperatura que consiste basicamente na

desidrogenação e ruptura da ligação carbono-carbono, formando radicais orgânicos que se unem

para formar hidrocarbonetos alcenos de baixo peso molecular. São reações endotérmicas que

consomem energia para manter a reação.

Junto com a nafta é utilizado vapor de diluição que serve como diluente no processo,

reduzindo o tempo de residência e diminuindo a formação de coque nas paredes das serpentinas

dos fornos. Este vapor acaba indo para equipamentos chamados de superaquecedores que

produzem o vapor de superalta pressão cuja finalidade será abordado mais adiante.

A temperatura necessária para que ocorra esta ruptura é na ordem de 840ºC, tornando os

hidrocarbonetos instáveis, sendo decompostos em hidrogênio, metano, mistura de olefinas e

mistura de aromáticos que serão separados em outros processos químicos dentro da empresa.

O craqueamento é apenas o primeiro passo para a obtenção dos produtos petroquímicos. A

separação dos produtos dá-se através de diversos processos petroquímicos: fracionamento do

eteno, fracionamento do propeno, reação de hidrogenação de compostos acetilênicos, extração de

1,3-butadieno, produção do éter etil terc-butílico através da reação do isobuteno com etanol,

superfracionamento de 1-buteno, purificação de propano através de reação de hidrogenação,

hidrogenação de gasolina de pirólise, hidrodessulfurização de gasolina de pirólise, extração de

aromáticos, fracionamento de aromáticos, hidrodesalcoilação de aromáticos em benzeno e

extração de benzeno.

Ao ocorrer uma elevação significativa desta temperatura, há necessidade de resfriá-la para

poder armazenar e comercializar os produtos, por isto faz-se necessário à torre de refrigeração.

Há necessidade que ocorra um grande aproveitamento energético no processo químico para

se tornar viável economicamente, portanto, quando há elevação desta temperatura, ao ser

resfriado, o processo passa por uma série de equipamentos visando à redução desta temperatura.

O fluído utilizado é a água de refrigeração que passa através de equipamentos chamados

permutadores55 que visam resfriar ou condensar os fluídos quentes dos processos.

55 É um equipamento que permite trocar calor entre dois fluidos que se encontram a temperaturas diferentes. Um

permutador de calor é normalmente inserido num processo com a finalidade de arrefecer ou aquecer um determinado fluído.

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A água de refrigeração apresenta como característica principal ser isento de sais que possam

obstruir estes equipamentos. Esta água, conforme verificado na figura 10, circula em circuito

fechado, tendo origem na bacia da torre de refrigeração a uma temperatura de 28ºC e pressão de

5,5 Kgf/cm2(56), onde é enviado para o circuito destes permutadores através de bombas com

vazões elevadíssimas, com será visto adiante.

Figura 10: Esquema simplificado de uma torre de refrigeração Fonte: Autoria própria, 2008.

Em todos estes processos ocorrem elevação de temperatura e posterior redução de

temperatura. Estas são operações essenciais para a produção dos produtos comercializados pela

empresa.

56 A unidade de pressão Kgf/cm2 é a mais utilizada na indústria petroquímica. 1 Kgf/cm2 equivale a 1,033 atm.

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Após passar pelos diversos permutadores dos processos químicos, a água retorna a uma

temperatura de 48ºC e pressão de 2,5 Kgf/cm2 para esta torre, onde é novamente resfriada através

de sistemas com tiragem natural ou mecânica para 28ºC, visando entrar no circuito novamente.

Como todo processo termodinâmico de alteração de temperatura da água, há a formação de

uma nuvem de vapores de água (chamada de pluma) sobre esta torre, ocorrendo perda de água

neste processo, necessitando a reposição contínua de 3% da água circulante.

Figura 11: Torre de refrigeração com formação de pluma Fonte: Autoria própria, 2008.

Conforme pode ser verificado na figura 11, estes vapores podem ser vistos como fontes

poluidoras mas, na realidade, são vapores de água oriundos do processo de aproveitamento de

energia do processo petroquímico obtendo o seu máximo rendimento, realizando os processos

termodinâmicos necessários e essenciais nos diferentes processos petroquímicos existentes na

Unib-RS.

A Unib-RS possui três torres de refrigeração com vazões distintas:

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a) torre A: abastece a Planta I de olefinas, com uma vazão de 35.000 m³/h, com reposição

de 500 m³/h;

b) torre B: abastece a Planta II de olefinas, com uma vazão de 27.000 m³/h, com reposição

de 360 m³/h;

c) torre C: abastece a Planta I e II de aromáticos, com uma vazão de 9.000 m³/h, com

reposição de 50 m³/h.

6.1.1 Descrição da torre de resfriamento

A torre de resfriamento é um resfriador evaporativo utilizado para o resfriamento de água

ou de outro meio até uma temperatura próxima ao ambiente, utilizando o vapor da água para

eliminar o calor do sistema.

As torres de resfriamento possuem tamanhos e formatos variados, podendo ser desde

pequenas unidades instaladas no alto de prédios, até grandes unidades hiperbólicas com altura

superior a 120 m (comum em usina nuclear) ou ainda estruturas retangulares de até 40 m de

altura e 100 m de comprimento (utilizadas em indústrias).

A torre de resfriamento pode ser considerada como um permutador de calor, no qual há um

contato direto entre o ar e a água. Neste processo, cerca de 80% da transferência de calor da água

para o ar é feita através da evaporação de uma pequena parte da água circulante, sendo os 20%

restantes transferidos como calor sensível.

A utilização de estruturas para resfriamento de água tem origem no final do Século XIX,

ocorrendo mudanças nos projetos existentes, através da incorporação de novos materiais e de

avanços tecnológicos.

A maior utilização das grandes torres de resfriamento industriais aplica-se para remoção do

calor absorvido nos sistemas de circulação de água de resfriamento utilizada em plantas de

geração de energia elétrica, refinarias de petróleo, plantas petroquímicas, plantas de

processamento de gás natural, outras instalações industriais e até em prédios.

Um exemplo que indica a necessidade de torre de resfriamento ocorre numa planta geradora

de 700 MW de energia elétrica a carvão, pois utiliza aproximadamente 70.000 m³/h, necessitando

uma reposição de aproximadamente 3% desta água (cerca de 2100 m³/h). Se esta planta não

possuísse uma torre de resfriamento e utilizasse água de resfriamento que passasse apenas uma

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vez por seu circuito, necessitaria de 100.000 m³/h, sendo que esta quantidade de água deveria ser

devolvida continuamente ao oceano, lago ou rio do qual o mesmo foi obtido.

A descarga de grandes volumes de água quente em rios ou lagos pode elevar a temperatura

dos mesmos até níveis inaceitáveis para o ecossistema local. Por sua vez, a torre de resfriamento

serve para dissipar o calor para a atmosfera, os ventos e a difusão do ar acabam por espalhar o

calor sobre uma área muito maior do que a água quente pode distribuir o calor em um corpo

aquático.

Há dois modos principais para se caracterizar uma torre de resfriamento, conforme o tipo de

tiragem ou conforme as direções do fluxo de ar e água.

Conforme o tipo de tiragem:

a) tiragem natural: a movimentação de ar é proporcionada pela diferença das densidades

do ar úmido no interior da torre e do ar ambiente. Este efeito é pouco acentuado em

regiões onde as temperaturas ambientes são mais elevadas. São raramente utilizadas no

Brasil;

b) tiragem mecânica: a movimentação de ar é proporcionada através de um dispositivo

denominado de ventilador.

Conforme as direções de fluxo de ar e água:

a) contra corrente: onde a admissão de ar é feita na base da torre, subindo em contra

corrente com a água que é distribuída no topo da torre;

b) correntes cruzadas: onde o ar é admitido horizontalmente em toda a altura da torre e a

água cai verticalmente através do enchimento de contato.

A figura 12 mostra os fluxos em uma torre de contra corrente. Visando permitir uma maior

flexibilidade operacional, em instalações de maior porte, a torre pode ser dividida em várias

células independentes, cada uma com seu ventilador.

Os distribuidores de água quente ficam um pouco acima do enchimento e dos eliminadores

de água ocupando, assim, toda a área transversal da torre. Há, entre os distribuidores e a

plataforma dos ventiladores, um espaço vazio denominado de câmara de plenum, cuja finalidade

é equalizar a pressão de sucção dos ventiladores por toda a área de enchimento, garantindo um

fluxo de ar uniforme na torre.

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Na base da torre ocorre a coleta e acúmulo de água fria, onde é bombeada para os pontos de

utilização e o retorno da água quente é feito através de um tubo (identificado pelo flange na

figura 12).

As laterais da torre são fechadas no espaço entre a plataforma dos ventiladores até uma

altura imediatamente abaixo do enchimento. Deste ponto até a borda da bacia de água fria, a torre

é aberta nas laterais, para que haja entrada do ar.

Nos dois lados, ao longo da bacia, podem ser vistos os coletores de respingo, que servem

para minimizar as perdas.

Sua principal vantagem é que a água mais fria entra em contato com o ar mais seco e a água

mais quente entra em contato com o ar mais úmido, obtendo maior performance.

A área restringida na base e a alta velocidade do ar na entrada aumentam a potência do

ventilador, acarretando numa desvantagem. Além dela, a velocidade do ar não é uniforme,

havendo pouco movimento próximo às paredes e no centro da torre a falta de acessibilidade para

a manutenção durante a operação, são vistos como prejudiciais na sua instalação.

Figura 12: Fluxos no interior de uma torre de contra corrente Fonte: Torres de Resfriamento de Água Ltda, 2007, p. 7.

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Os fluxos da torre de corrente cruzada são mostrados na figura 13. De forma análoga a

anterior, as torres de maior porte também são divididas em células independentes, cada um com

seu ventilador.

A parte central da plataforma é ocupada pelo ventilador, enquanto que as bacias de

distribuição de água quente, com orifícios, ficam à esquerda e à direita dos ventiladores, na altura

da plataforma e um pouco acima do enchimento.

Os eliminadores de gotas ficam ao longo de toda a superfície do enchimento, ao lado da

saída de ar. A câmara de plenum, de forma semelhante nas torres de contra corrente, serve para

equalizar a pressão de sucção dos ventiladores no enchimento.

Na base da torre ocorre a coleta e acúmulo da água de onde é bombeada para os pontos de

utilização. A figura 13 identifica o retorno da água quente realizado através de tubos nos dois

lados da torre.

As venezianas nas laterais das torres melhoram a distribuição de ar para o enchimento,

servindo para conter os respingos de água.

Suas principais vantagens:

a) baixa perda de carga de ar, portanto, menos potência nos ventiladores;

b) arranjo simples de distribuição de carga;

c) fácil acesso ao sistema de distribuição mesmo com a torre em operação;

d) a altura de enchimentos de contato é praticamente a altura da torre.

Suas desvantagens são:

a) há menor resistência à formação de algas no sistema de distribuição, devido à exposição

na atmosfera;

b) necessitam grande correções a serem aplicadas, devido a distribuição das temperaturas

ao longo da torre.

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Figura 13: Fluxos no interior de uma torre de correntes cruzadas Fonte: Torres de Resfriamento de Água Ltda, 2007, p. 8.

Há uma inclinação de 12º entre as superfícies laterais com relação à vertical, para

compensar o recuo da água que percorre o enchimento, arrastada pelo fluxo de ar fluindo na

horizontal.

Uma torre de refrigeração terá melhor performance quanto melhor ocorrer o enchimento da

mesma, cuja função é promover o contato entre o ar e a água, facilitando a transferência de massa

e de calor. Dependendo do modo como é feito este contato, os enchimentos são classificados

como formadores de gotas (respingamento) ou de película.

Entre os principais requisitos para um enchimento destacam-se:

a) facilidade para instalação;

b) boa eficiência na promoção do contato entre o ar e a água;

c) baixa resistência ao fluxo de ar;

d) durabilidade e resistência à água e às possíveis contaminações.

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O enchimento tipo película é mais usado em torres de contra corrente, pois forma uma

película de água em sua superfície, aumentando a área de contato com o ar.

Atualmente, nas torres de contra corrente, são utilizados enchimentos tipo colméia, de alta

eficiência e ocupando pouco espaço, permitindo construir torres com menor altura total. Por este

motivo, é importante terem uma configuração que evite o acúmulo de depósitos, causadores de

obstruções à passagem do ar e da água.

Nas torres de correntes cruzadas, podem ser utilizados enchimentos de película, formados

por placas paralelas, lisas ou corrugadas, dispostas verticalmente, na mesma direção que o fluxo

de ar. A figura 14 mostra um enchimento deste tipo.

Figura 14: Enchimento tipo película Fonte: Torres de Resfriamento de Água Ltda, 2007, p. 11.

Nas torres de contra corrente e nas de correntes cruzadas, o fluxo de ar que atravessa o

enchimento arrasta água na forma de gotículas. Este arraste, além de constituir uma perda

adicional de água, provoca também um acréscimo de produtos químicos utilizados no

condicionamento da água circulante. Tem ainda o inconveniente de causar uma chuva nas

imediações da torre. Para minimizar o arraste são utilizados, justapostos ao enchimento e do lado

da saída do ar, eliminadores de gotas, como mostrado nas figura 15, que limitam estas perdas a

valores entre 0,001% e 0,1% da água circulante, sendo usual perdas em torno de 0,05%.

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Figura 15: Eliminador de gota Fonte: Torres de Resfriamento de Água Ltda, 2007, p. 11.

Conforme verificado na figura 16, nas torres de grande porte, os ventiladores são de

diâmetro bastante grande, atingindo quase 12 m. Neste caso, a fim de se obter uma capacidade

elevada, sem ultrapassar os limites de rotação aceitáveis, utiliza-se um maior número de pás,

chegando às vezes a doze ou catorze. Neste tipo de equipamento, o balanceamento dinâmico é

crítico, sendo assim necessário prever dispositivos de proteção para desligamento, caso ocorra

uma vibração excessiva (chaves antivibratórias ou mesmo sensores de vibração nos mancais do

redutor de velocidade).

Outra parte importante nas torres de refrigeração são os difusores que são utilizados em

torres induzidas e faz parte do conjunto de exaustão da torre e servem, entre outras finalidades,

para melhorar a eficiência do ventilador, evitar a reversão de fluxo no ventilador e minimizar a

recirculação de ar.

Em torres de pequeno porte, são usados difusores cilíndricos e de baixa altura. Nas de maior

porte os difusores, quando no formato cilíndrico, tem altura de pelo menos 1,5 m. Nestas torres é

também comum a utilização de difusores de perfil hiperbólico, geralmente com maior altura,

acima de 2 m. A figura 16 mostra um difusor do tipo hiperbólico.

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Figura 16: Difusor e acessórios Fonte: Torres de Resfriamento de Água Ltda, 2007, p. 13.

As torres de resfriamento podem ser fabricadas a partir de diversos materiais, desde

madeira, PVC, concreto, etc. Por sua vez, os materiais utilizados para a fabricação dos demais

componentes da torre (difusor, pás do ventilador, eliminadores de respingo, enchimento, estrutura

de suportação) são os mais diversos existentes.

6.1.2 Tratamento químico das torres de refrigeração

As torres de refrigeração requerem que haja tratamento químico da água, pois havendo

deficiência neste requisito, pode ocorrer como conseqüências:

a) impacto ambiental através da aplicação de produtos de elevada toxicidade;

b) parada da produção ou redução de carga, em razão de depósitos excessivos nos feixes

dos trocadores de calor (corrosão, incrustação ou slime);

c) reposição, manutenção e aquisição, não previstas, de equipamentos (trocadores de calor

e tubulações);

d) riscos operacionais quanto à garantia da qualidade do produto final.

Conforme figura 17, os principais problemas que podem ocorrer em sistemas de

resfriamento, são:

a) corrosão: tendência natural dos metais retornarem ao seu estado mais estável, ou seja,

na forma de óxidos e sais;

b) incrustação: sólidos em suspensão, sais dissolvidos e características dos sistemas podem

gerar o aparecimento de depósitos nos circuitos;

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c) lama biológica ou slime: formação de depósitos de origem orgânica. Proliferação de

microorganismos.

Figura 17: Problemas em torre de resfriamento Fonte: Torres de Resfriamento de Água Ltda, 2007.

Os fatores que influenciam a taxa de corrosão em tubulações de aço carbono:

a) realização deficiente do tratamento inicial (pré-condicionamento) do sistema da água de

refrigeração, necessitando a remoção de toda sujeira das tubulações;

b) temperatura da água de resfriamento acima de 50ºC;

c) velocidade da água de resfriamento nos equipamentos, com a presença do inibidor há

uma redução da taxa de corrosão, pois o contato do inibidor com a superfície metálica é

intensificado, sem inibidor a taxa eleva-se, pois o suprimento de oxigênio junto ao

metal é intensificado;

d) tratamento adequado da reposição da água de resfriamento quanto a presença de

contaminantes.

Quanto ao processo de incrustação, os fatores que influenciam do processo de deposição

são:

a) temperatura de superfície dos trocadores de calor, pois o processo de precipitação

acelera-se com o aumento da temperatura. Com inibidores de incrustação podem ocorrer

problemas acima de 60ºC;

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b) velocidade de água de refrigeração nos trocadores de calor, quando a velocidade é maior

que 0,6 m/s, mesmo sem inibidor de incrustação, a taxa reduz significativamente.

Abaixo de 0,2 m/s é uma condição de alta criticidade;

c) qualidade da água de reposição da água de resfriamento, pois requer um tratamento

químico que não permita a formação de incrustação.

Para minimizar a incrustação são adicionados ao sistema agentes inibidores de

incrustação que visam evitar a formação do núcleo cristalino (micro cristal), e seu crescimento,

além de impedir que ocorra agrupamento com outros núcleos.

O slime é formado por partículas de microorganismos (algas e bactérias) e de pequenos

grânulos inorgânicos, sendo denominados bioflocos e pode ser do tipo aderido ou sedimentado. O

slime é detectado nos permutadores, topo da torre, bacia e enchimento da torre.

Os tipos de microorganismos em sistema de água de refrigeração podem ser as algas,

bactérias ou fungos.

Os mecanismos da formação de slime podem ser pela aderência dele nas paredes do

sistema, produzindo substâncias gelatinosas (mucilagem) no qual os sólidos suspensos se

aglutinam. O processo é cíclico e a camada de slime cresce na ausência de tratamento químico

adequado.

O crescimento do biofloco ocorre, tornando-o pesado, e o mesmo irá sedimentar-se em

locais de baixa velocidade.

Os fatores que influenciam a formação de slime são:

a) nutrientes de microorganismos: num sistema de água de refrigeração existem 4 formas

do mesmo ser alimentado por nutrientes de microorganismos: água de reposição, ar,

dosagem de produtos químicos e contaminação oriundas do processo. De forma geral,

N, C e P são os principais nutrientes. Algas também funcionam como nutrientes;

b) oxigênio dissolvido onde as bactérias aeróbicas e fungos necessitam do oxigênio

dissolvido na água;

c) luz solar que acelera o crescimento das algas no topo da torre, que servirão de nutrientes

para os microorganismos;

d) a temperatura ideal em que ocorre a proliferação de bactérias é na faixa de 30 a 40ºC;

e) o pH entre 7,0 a 8,5 ocorre a proliferação;

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f) a concentração de bactérias deve ser inferior a 103 colônias/ml, pois diminui a

freqüência de problemas de slime;

g) turbidez e sólidos suspensos num valor inferior a 20 ppm provocam a prevenção da

formação de slime;

h) velocidade baixa provoca a sedimentação de bioflocos. Ex.: Trocadores com água no

casco. Velocidade de água inferior a 0,3 m/s torna a incidência de slime severa.

Os métodos de prevenção do slime ocorrem pela localização e eliminação de vazamentos,

pelo tratamento em caso de contaminação por sólidos e nutrientes durante a etapa de clarificação

e filtração da água, pela aplicação de biocidas com o propósito de esterilização, provocando a

redução da contagem dos microorganismos, através da utilização de cloro, bromo, biocidas não

oxidantes. Evitar a formação do slime, é realizada através da redução da força de aderência diante

a aplicação de biocidas e slimecidas e pela sua remoção, formando bolhas que aderem, podendo

ser removidos fisicamente. O uso de peróxidos é realizado para esta finalidade.

Os principais parâmetros de controle da água de refrigeração são demonstrados na tabela 7.

Tabela 7: Parâmetros de controle da água de refrigeração

PARÂMETROS CONTROLE Turbidez <30 pH (25°C) 8,0 a 9,0 Condutividade (us/cm) <4000

Alcalinidade Total (ppm CaCO3) >50 Dureza Total (ppm CaCO3) 500

Dureza Ca (ppm CaCO3) 200 a 400

Sulfato (ppm SO4) <1000

Sílica (ppm SiO2) <300 Ferro Total (ppm Fe) <5,0 D.Q.O. (Mn) (ppm O2) <20 Zinco Total (ppm Zn) >0,8 Zinco 0,1 (ppm Zn) >0,8 Fosfato 0,1 (ppm ) >5,5 Fosfato Total (ppm) 7,0 a 9,0 Kps (mol/L) 5,0 E-29 Cloro (ppm Cl2) 0,5 a 1,0

Fonte: Adaptado pelo laboratório da Unib-RS, 2008.

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Outros fatores que são importantes no controle de uma torre:

a) temperatura de água: Refere-se a temperatura que entra na torre de resfriamento, após

passar pelo processo industrial, e que deve ser resfriada a fim de obter uma condição de

reuso.

b) temperatura de água fria: Refere-se a temperatura da água da torre de resfriamento, após

ser resfriada, e antes de ser acumulada na bacia de água fria.

c) delta-T: É a diferença entra as temperaturas de água quente e de água, tendo como

exemplo a torre que resfria uma água de 40ºC para 32ºC, cujo Delta-T é de 8ºC.

d) temperatura de bulbo seco: Trata-se da temperatura ambiente normal, verificada nos

termômetros convencionais.

e) temperatura do bulbo úmido: É a temperatura da umidade dissolvida no ar, sendo

impossível uma torre de resfriamento resfriar a água até uma temperatura inferior àquela

do bulbo úmido.

f) approach: Consiste na diferença da temperatura da água fria para a temperatura do

bulbo úmido. Deste modo, quanto menor o approach, maior a potência necessária para o

resfriamento.

6.2 Fuligem das chaminés das caldeiras

Os principais produtos da Unib-RS são o eteno e o propeno que apresentam,

respectivamente, os seguintes pontos de ebulição (PE) -102ºC e -47,8ºC a 1 Kgf/cm² de pressão.

O melhor processo utilizado para separar estes compostos é a destilação fracionada, pois requer

menor investimento e apresenta maior rendimento. O ideal de um fracionamento é que tenha uma

fase líquida. Como essas temperaturas são muito baixas, há necessidade de obter pressões

maiores nas colunas de fracionamento que proporcionem a liquefação destes gases.

Deste modo, há necessidade de aumentar a pressão do processo para 25 Kgf/cm², para que

as temperaturas internas das torres sejam mais altas, favorecendo a separação destes produtos.

A elevação da pressão do sistema é obtida pela utilização de compressores cujo

acionamento é realizado por turbina a vapor de superalta pressão (525ºC e 113 Kgf/cm²). Os

equipamentos que são utilizados para gerar este vapor são as caldeiras e os fornos

superaquecedores.

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As caldeiras utilizam água como fluido que ao ser elevada a temperatura, ocorrendo a

elevação da pressão e temperatura, transformando-a em vapor de altíssima pressão. A unidade de

geração de vapor é provida de cinco diferentes sistemas de combustíveis: óleo combustível, gás,

carvão, borra oleosa e cera de PEAD. O gás e o óleo combustível são sub-produtos da empresa,

que está inserido no contexto, comentado na seção anterior, do máximo aproveitamento

energético. Estes combustíveis podem ser utilizados separadamente ou juntos em cada caldeira,

levando-se em conta a relação custo-benefício de cada um deles.

Cada caldeira da Unib-RS apresenta uma chaminé de 120 m de altura, como há três

caldeiras, há três chaminés que são facilmente vistas pela comunidade, conforme indicado na

figura 18.

Figura 18: Chaminé das caldeiras da Unib-RS Fonte: Autoria própria, 2008.

Os sistemas de óleo combustíveis têm por finalidade suprir a demanda nos acendimentos

das caldeiras (óleo tipo 2), absorver as variações de carga das caldeiras quando em automático,

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complementar a demanda de combustíveis das caldeiras, que queimam preferencialmente carvão,

substituindo-o parcial ou totalmente, quando ocorrer as falha do sistema de carvão.

Dois tipos de óleo combustível, tipo 1 (óleo de refinaria - 4A) e tipo 2 (resíduo aromático

produzido pela própria Unib-RS e comercializado com o nome de Óleo BTE), estão disponíveis

para queima nas caldeiras. Estes dois combustíveis são introduzidos nos anéis de óleo depois de

bombeados e filtrados. O óleo tipo 1 necessita de aquecimento visando atingir a viscosidade

necessária para queima (90 a 115 SSU57). Dos anéis de óleo, estes combustíveis são direcionados

aos queimadores.

Existe uma válvula de emergência montada em cada linha de alimentação dos anéis de óleo

para cortar o fornecimento, caso a pressão do anel cair abaixo de um certo limite ou caso o sinal

de desarme da caldeira for transmitido. Existem também válvulas de controle montadas para

controlar a vazão de óleo combustível para os queimadores. Nas caldeiras a carvão existem

válvulas de controle extras em cada linha de retorno de óleo combustível a fim de facilitar o

controle com pequenas vazões de óleo. Neste caso, a vazão de óleo é controlada por ambas as

válvulas de controle montadas nas linhas de alimentação e de retorno de óleo.

A vazão do gás de baixa pressão varia conforme a disponibilidade desse combustível. As

linhas do gás combustível que entram nas caldeiras são equipadas com válvulas para bloquear o

gás quando for acionado o trip58 da caldeira ou quando a pressão do gás cair abaixo de um certo

limite.

Normalmente, as caldeiras a carvão operam com queima mista de carvão, gás e óleo

combustível. As caldeiras foram projetadas para operar até com queima exclusiva de carvão,

porém, para atender os limites de emissões de SO2, NOx e opacidade da fumaça fixados pelo

órgão ambiental (FEPAM), a queima de carvão e óleo de refinaria são limitadas.

Para secar e conduzir o carvão de forma adequada para a queima na caldeira, o ar primário

quente e frio são misturados e introduzidos nos moinhos. A temperatura da mistura de ar primário

e carvão que sai dos pulverizadores é mantida em aproximadamente 77ºC. Em caso de trip da

caldeira, os alimentadores de carvão e os moinhos param e as válvulas gavetas de ar quente na

entrada dos moinhos são fechadas automaticamente para que seja cortada a vazão de carvão para

a caldeira.

57 Unidade de viscosidade. 58 Significa parada de emergência do sistema.

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Para receber e queimar resíduos de óleo tais como óleo recuperado e borra oleosa, foi

construído um sistema projetado especialmente para esta finalidade. A borra oleosa e o óleo são

misturados e decantados num tanque. O sistema é composto por filtros, bombas e queimadores

apropriados para este tipo de óleo. A queima deste óleo e realizada por bateladas59. Dois

queimadores em cada caldeira a carvão estão disponíveis para a queima.

A cera gerada na produção de polietileno de alta densidade na Braskem-PE chega a Unib-

RS em caminhões tanque, sendo depositada em um vaso projetado especialmente para o

armazenamento de cera. Deste vaso, a cera é bombeada através de tubulação, dotada de camisas

externas para a circulação de vapor de aquecimento, chegando até os queimadores ou mantida

circulando no sistema. Apenas um queimador em cada caldeira a carvão é apropriado para a

queima de cera. A cera também é queimada em bateladas.

A combustão de carvão é a que apresenta o menor custo e está inserido no programa de

incentivo no Estado para queima deste tipo de combustível, pois o mesmo é produzido na região,

garantindo a incursão da empresa no desenvolvimento da Estado. Entretanto, necessita um maior

controle nas emissões fugitivas.

O controle de emissões de cinzas é garantido através de precipitador eletrostático existente

em cada chaminé, que garante a recuperação de 97,5% delas. Além disto, há o controle de NOx,

SOx e da opacidade da fumaça que são controlados pela instalação de vários pontos fixos de

monitoramento dentro da área do pólo (ver seção 5.4), onde estes tipos de análise são feitos. Na

utilização dos outros combustíveis, também é realizado monitoramento ambiental quanto a NOx e

SOx.

A cinza resultante da combustão das caldeiras é enviada para indústrias de beneficiamento

de cimento.

A Unib-RS utiliza outros patamares de pressão na produção de vapor que são: vapor de alta

pressão (400ºC e 42 Kgf/cm²), vapor de média pressão (315ºC e 18 Kgf/cm²) e vapor de baixa

pressão (225ºC e 4,5 Kgf/cm²). Estes vapores são utilizados nas diferentes unidades de processo

na empresa, que servem como fluido de aquecimento nos permutadores das torres de destilação e

para acionamento de turbinas de compressores ou grandes bombas de recalque de líquidos.

A Unib-RS produz a energia elétrica necessária para mantê-la operando. Esta produção é

realizada através de turbo geradores que são acionados por turbinas, cujo fluido é o vapor de

59 Sistema de reposição não contínuo.

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super alta pressão. A produção de energia elétrica é da ordem de 70 MW/h, os seja, produz o

suficiente para abastecer um município equivalente a 50.000 habitantes.

A utilização de caldeiras é essencial para que se mantenha em operação uma indústria como

a Unib-RS, pois o uso de vapor nos seus mais diversos níveis de temperatura e pressão é

fundamental nos processos químicos.

O aproveitamento energético é muito importante numa indústria petroquímica. Ao realizar o

craqueamento de nafta nos fornos de pirólise junto com o vapor de diluição, também ocorre o

aproveitamento desta energia para elevar a pressão e a temperatura da água obtendo vapor de

superalta pressão, portanto, além das caldeiras os fornos também produzem este vapor utilizando

apenas o gás combustível como fluído de aquecimento.

O risco das emissões destes equipamentos (caldeiras e fornos) são as maiores fontes

poluidoras, entretanto, a empresa tem como princípio eliminar ou reduzir para o mínimo possível,

com equipamentos de última geração e acompanhamento constante destas emissões, podendo ser

por aparelhos fixos ou móveis, conforme figuras 8 e 9.

6.2.1 Descrição das caldeiras

A água de alimentação é suprida ao tubulão de vapor através das da tubulação de saída do

economizador. O lado de água do tubulão de vapor é conectado ao coletor inferior através de

quatro tubos de descida (downcomers). Este coletor alimenta os tubos das paredes frontais,

fundos e as paredes laterais da fornalha.

Os tubos da parede do fundo da caldeira sobem na direção do arco da fornalha. Estes tubos

são separados na parte superior da fornalha para permitir a passagem dos gases de combustão. As

paredes da zona de convecção são formadas pelos tubos do superaquecedor (tubos de

resfriamento da parede com vapor), os quais também formam o teto da fornalha.

A água nas paredes laterais da caldeira absorve calor. A mistura resultante de água e vapor

é coletada nos coletores superiores e descarregada no tubulão através de uma série de tubos de

subida. No tubulão ocorre a separação da água e vapor. A água de caldeira mistura-se com a água

de alimentação que chega.

O vapor gerado no tubulão é direcionado para dois coletores superiores existentes na zona

de convecção e através dos tubos das paredes laterais vai para o coletor inferior em forma de U.

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Do lado central do U, saem os tubos que formam a parede frontal da zona de convecção, o teto da

zona de radiação e convecção e a parede traseira da zona de convecção. Todos estes tubos são

coletados em um coletor inferior, localizado no lado posterior. Deste coletor, o vapor vai para o

coletor de entrada do superaquecedor primário. Na saída do superaquecedor primário está

localizado o dessuperaquecedor e, depois, estão os superaquecedores secundários e terciários. A

figura 19 mostra o esquema simplificado de uma caldeira com seus principais equipamentos.

Figura 19: Esquema da caldeira Fonte: SENAI, 2004a, p. 11.

6.2.1.1 Internos do tubulão

A função dos internos do tubulão é separar a água do vapor gerado nas paredes da fornalha

e reduzir o conteúdo de sólidos dissolvidos no vapor a valores determinados. A separação é

geralmente realizada em três etapas, sendo que as duas primeiras são incorporadas ao tubo

separador. O estágio final ocorre no topo do tubulão, próximo à saída do vapor.

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O vapor saturado que entra no tubulão através dos tubos de subida é coletado no

compartimento formado pelas placas defletoras internas. Deste compartimento, o vapor é

conduzido através de duas filas de turbo-separadores. Cada separador consiste em um estágio

primário e em um estágio secundário. O estágio primário é formado por dois tubos concêntricos.

O movimento centrífugo é dado pelas lâminas de hélices à mistura de vapor e água, que

escoam através do tubo interior, provocando assim, o envio de água para o lado externo e

forçando o vapor para o lado externo. A água é retirada pela borda acima das lâminas de hélice e

retorna para a parte inferior do tubulão através dos tubos. Na tabela 8, há os principais parâmetros

de controle de análise da água de alimentação das caldeiras.

Tabela 8: Parâmetros de controle da água para caldeira

ÁGUA DE ALIMENTAÇÃO CONTROLE

pH A 25ºC 8,8 a 9,0

Sílica (SiO2) 0,02 ppm

Oxigênio Dissolvido 0,007 ppm

Ferro (Fe) < 0,010 ppm

Condutividade < 0,3 mho/cm

Óleo Negativo

Cobre (Cu) < 0,003 ppm

Alumínio (Al) < 0,03 ppm

Sódio (Na) < 0,02 ppm

Dureza 0

Fonte: Copesul, 2008a, p. 18.

O vapor prossegue através do estágio separador secundário. Este consiste de dois grupos

compostos de finas folhas corrugadas que direcionam o vapor a um caminho tortuoso e forçam a

água remanescente, arrastada, contra as placas corrugadas. Como a velocidade é relativamente

baixa, a água não é arrastada de novo, mas escorre por elas e, depois, para as bordas do segundo

estágio, pelas duas saídas de vapor. Do separador secundário o vapor flui uniformemente e com

velocidade relativamente baixa para cima, para o terceiro estágio e final do separador. Este é um

secador de tela, consistido de várias camadas de telas e estendendo-se em camadas através do

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comprimento do tubulão. A água arrastada remanescente é depositada no secador de telas. O

vapor seco deixa o tubulão através dos tubos indo aos superaquecedores.

6.2.1.2 Superaquecedor

O superaquecedor é composto de quatro estágios, dois verticais frontais, um horizontal

traseiro e uma parede resfriada a vapor. As seções verticais frontais são os superaquecedores

secundário e final, localizados na parte superior da fornalha, na zona de passagem dos gases. O

passo horizontal traseiro é o superaquecedor primário e está localizado na zona de convecção. A

parede resfriada a vapor forma o teto da fornalha e a parede traseira da zona de convecção. A

temperatura final do vapor superaquecido é controlada pelo dessuperaquecedor, que está

instalado entre os superaquecedores primário e secundário.

6.2.1.3 Dessuperaquecedor

A finalidade do dessuperaquecedor é permitir a redução da temperatura do vapor quando

necessário e manter a temperatura no valor de projeto dentro do limite da capacidade total. A

redução da temperatura é conseguida injetando um borrifo de água no caminho do vapor através

de um bocal na extremidade de entrada do dessuperaquecedor. A fonte de água de borrifamento é

do sistema de água de alimentação. É essencial que a água de borrifamento seja quimicamente

pura e livre de sólidos suspensos ou dissolvidos, contendo apenas material de tratamento

orgânico volátil, de modo a prevenir a deposição de produtos químicos no superaquecedor e o

arraste de sólidos para a turbina.

6.2.1.4 Economizador

O economizador tem por finalidade pré-aquecer a água de caldeira antes de entrar no

tubulão de vapor, aproveitando o calor dos gases de saída, evitando, com ganho de temperatura,

maior consumo de combustível. O economizador está localizado abaixo do superaquecedor

primário no passo traseiro do gás da caldeira. É do tipo com tubos e está instalado na zona de

convecção, na saída dos gases. Os tubos são arranjados em feixes e em corrente cruzada com o

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fluxo de gás.

6.2.1.5 Purga contínua

A água de caldeira contém impurezas que, concentradas através da evaporação, causariam

vários problemas. Existe um sistema de purga contínua da caldeira para manter a concentração de

impurezas dentro do limite permitido. A água contendo impurezas no tubulão de vapor é purgada

para um vaso de purga contínua através de uma válvula de controle na linha de purga contínua.

A água do tubulão expande no vaso e o vapor formado é conduzido ao coletor de vapor de

baixa pressão. A água residual entra no resfriador de purga contínua sob controle de nível do

vaso, troca calor com a água de resfriamento e é enviada para o tanque de onde é bombeada para

o consumidor onde é utilizada para fins diversos.

A linha de purga contínua é derivada para o conjunto de amostradores para análise das

impurezas de água depois de resfriada, de modo a fornecer dados para o controle da concentração

da água do tubulão.

6.2.1.6 Combustão

A combustão pode ser definida como uma reação química entre o oxigênio e os elementos

combustíveis da matéria, liberando energia (calor), sendo a forma mais empregada para a

produção de calor na indústria.

Como resultado da combustão surgem os seguintes produtos: dióxido de carbono (CO2),

vapor de água (H2O), óxidos de enxofre e nitrogênio (SOx e NOx) na combustão completa e

monóxido de carbono (CO) na combustão incompleta.

Sempre se procura fornecer ar em excesso para garantir a queima completa do combustível.

Entretanto, um excesso exagerado, aumenta muito a perda de calor devido ao seu aquecimento à

mesma temperatura dos gases de combustão, exigindo que se mantenha o excesso em níveis

mínimos por motivos econômicos, evitando perda de energia pela chaminé, a qual se traduz em

perda de combustível.

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Outro sério inconveniente do ar em excesso é a formação de óxidos que, posteriormente, se

transformarão em ácidos pela reação com a água. Estes ácidos atacarão e causarão danos aos

equipamentos pela ação da corrosão.

A verificação da eficiência de uma combustão real pode ser determinada pela análise dos

gases de combustão, onde se determina o excesso de ar pela quantificação do teor de CO2 e

O2 nos mesmos.

O objetivo de uma boa combustão é obter a conversão completa dos elementos

combustíveis. Para isto é necessária a combinação de alguns fatores fundamentais, quais sejam:

mistura adequada e turbulência na câmara de combustão, temperatura adequada para proceder à

ignição, tempo adequado de permanência do combustível na câmara de combustão e faixa

adequada de excesso de ar.

A utilização de carvão mineral como energético em caldeiras apresenta uma série de

problemas devido ao seu alto teor de cinza, sendo que os principais são: partículas em suspensão

nos gases emitidos pela chaminé (material particulado) e abrasividade do carvão e suas cinzas

A queima de óleo requer cuidados e equipamentos adequados para tal. Os principais

requisitos operacionais são:

a) queimadores limpos e atomização adequada: o conjunto lança, bico e pastilha deve estar

devidamente limpo e a pressão de atomização devidamente ajustada para que se tenha

um perfeito desempenho do queimador ( mais rendimento e menos fuligem);

b) óleo especificado: os óleos tipo 1e 2 são filtrados na área de estocagem e devem circular

na temperatura ideal de 160ºC para o óleo 1, e 60 a 90ºC para o óleo 2 (RARO60), para

que ao queimar estejam na viscosidade projetada para o queimador.

O suprimento adequado de ar de combustão é vital para se iniciar e manter a queima de

óleo. Para tal deve ser observado:

a) os dampers61 de ar primário e secundário para a caldeira a óleo e secundário para as

caldeiras a carvão devem estar abertos e regulados devidamente;

b) o pré-aquecimento do ar deve ser alinhado conforme a necessidade.

A queima de gás combustível é a mais fácil de se efetuar devido ao seu estado gasoso,

sendo grande a sua afinidade com o ar comburente, e como já está “atomizado”, a sua entrada

60 Resíduo aromáticos misto, composto por cadeias carbônicas com mais de 10 C. 61 Colocado nas chaminés de fornos ou caldeiras, regulando a quantidade dos gases exausto.

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em ignição é praticamente instantânea, porém requer cuidados especiais devido ao risco de

explosão.

A operação dos queimadores requer cuidados especiais no campo quanto a aspectos da

chama, formação de coque no queimador, vazamentos pelos mangotes e furos nos tubos guia. É

extremamente importante, pois racionaliza a utilização de combustível (recursos naturais),

elevando a eficiência da queima.

Vários parâmetros precisam ser controlados e os principais são: os percentuais nos gases de

combustão de oxigênio, monóxido de carbono, dióxido de carbono, as concentrações de óxidos

de nitrogênio, dióxido de enxofre e a temperatura dos gases de combustão exaustos.

As condições de chama das caldeiras devem ser continuamente monitoradas, visto que as

caldeiras não possuem sensores de chama.

6.2.1.6.1 Oxigênio gasoso (O2)

Como referência do projetista das caldeiras, atendendo a carga nominal e com seu

combustível básico, as caldeiras devem operar com teores em torno de 3,0% de O2 para as

caldeiras.

Deve-se procurar operar com os valores de O2 o mais próximo possível dos valores de

referência do projetista, levando-se em conta para isso também os valores de CO e opacidade.

O valor do O2 está diretamente ligado ao excesso de ar. Quanto mais o teor de O2 estiver

acima do valor de referência, mais a queima se tornará antieconômica. Se estiver abaixo poderá

causar combustão incompleta e surgimento de CO.

Podem ocorrer desvios no teor de oxigênio dos gases, principalmente quando há alteração

de carga da caldeira ou durante as manobras operacionais. Nestes casos deve-se atuar no controle

de vazão de ar, alterando a razão ar/combustível se a caldeira estiver em automático ou

diretamente no controle dos ventiladores aumentando ou reduzindo a vazão de ar para combustão

se estiver em manual.

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6.2.1.6.2 Monóxido de carbono (CO)

O teor de monóxido de carbono é indicado em cada caldeira. A presença deste composto

torna a combustão também onerosa, pois o CO ao sair pela chaminé, significará uma parte do

combustível sendo desperdiçado. Seu aparecimento indica combustão incompleta causada quase

sempre por insuficiência de ar, temperaturas baixas ou operação inadequada de queimador.

Na combustão normal com excesso de ar, apenas traços de monóxido de carbono são

observados nos gases de combustão.

6.2.1.6.3 Dióxido de carbono (CO2)

Este composto está sempre presente na combustão completa, porém não é utilizado como

parâmetro operacional. Sendo assim, não foram estabelecidos limites para a concentração de CO2

e seu valor não tem indicação por instrumento, mas somente pode ser obtido pela análise dos

gases (orsat62).

6.2.1.6.4 Dióxido de enxofre (SO2)

Seu valor nos gases de combustão é diretamente proporcional ao teor de enxofre no

combustível queimado. O carvão fornecido a Unib-RS teve seu teor máximo de enxofre fixado

em 1,0 %.

O dióxido de enxofre é nocivo tanto no interior da caldeira como fora. Internamente, sob a

ação de baixas temperaturas, reage com a água e se transforma em ácido sulfúrico que atacará as

superfícies metálicas e causará corrosão. No exterior, reage com a umidade do ar e pode vir a

causar chuva ácida, afetando o meio ambiente.

O limite para emissões de SO2 estabelecido na licença de operação concedida pela Fepam é

de 2000 gramas por milhões de quilocalorias para cada caldeira.

62 Aparelho que mede teor de CO2, O2 e CO.

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6.2.1.6.5 Óxidos de nitrogênio (NOx)

Os limites para emissões de NOx estabelecidos na licença de operação das caldeiras é de

3960 gramas por milhões de quilocalorias.

Se o limite de emissões for ultrapassado, deve-se reduzir o excesso de ar e, se isto não for

possível, reduzir a queima dos combustíveis que tem alta temperatura de chama (gás) ou maior

teor de nitrogênio na composição (carvão).

6.2.1.7 Temperatura dos gases exaustos

É fator de suma importância tanto econômica (perda de eficiência) quanto ambiental, pois

afeta diretamente o desempenho dos precipitadores.

A temperatura estimada para os gases de combustão na saída dos aquecedores de ar

regenerativos e entrada dos precipitadores eletrostáticos é de 142°C na carga nominal.

O limite de resistência mecânica dos componentes dos PE situa-se na faixa dos 200°C,

temperatura que não deve ser ultrapassada.

6.2.1.8 Partículas em suspensão nos gases emitidos pela chaminé (material particulado)

É o subproduto da combustão, a fuligem é emitida pela chaminé, se dispersa e se deposita

posteriormente no solo como agente poluidor. Uma boa combustão (completa) ajuda a minimizar

a quantidade de fuligem.

Há densímetros que indicam a densidade colorimétrica dos gases exaustos ajudando a

monitorar a combustão. O limite estabelecido para as caldeiras é 1,0 na escala Ringelmann.

Já os opacímetros monitoram as emissões atmosféricas auxiliando na verificação da

eficiência dos precipitadores. O limite máximo para a opacidade está fixado em 20%.

6.2.1.9 Atomização do óleo combustível

É um processo pelo qual o óleo combustível é pulverizado pela ação mecânica do vapor. A

pressão do vapor deve ser controlada em 5,0 Kgf/cm2.

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A limpeza dos queimadores é um item importante para uma boa combustão e perfeita

resposta das caldeiras quando da solicitação de incremento de carga.

A ramonagem63 é necessária para remoção de depósitos das superfícies de troca térmica das

caldeiras tais como paredes d’água, superaquecedores e aquecedores regenerativos, pois estas

reduzem a eficiência das caldeiras.

A temperatura muito alta dos gases de combustão pode causar prejuízos aos tubos dos

superaquecedores (fadiga térmica). Os valores máximos são determinados pelo tipo de material

empregado e devem ser controlados pelo monitoramento da temperatura do metal, cujo valor

máximo é de 570oC.

A qualidade da chama deve ser observada aspectos tais como: cor, brilho, fagulhamento,

presença de partículas de carvão na parte interna da boca de visita e pulsação exagerada da

chama.

Os gases exaustos pela chaminé devem apresentar-se com uma coloração clara e volume

com aparência pouco densa, caso contrário poderá ser um indício de combustão incompleta (falta

de ar de combustão) ou deficiência na captação do precipitador.

A operação com carvão requer alguns cuidados específicos, como:

a) combustão espontânea: o enxofre pirítico presente no carvão pode sofrer oxidação,

resultando em uma reação exotérmica que pode vir a causar incêndio em carvão a longo

tempo confinado (parado), como por exemplo em silos fora de operação ou pilhas de

carvão não movimentadas;

b) acúmulo de carvão nas paredes do silo: o carvão se acumula normalmente devido ao

excesso de umidade e teor de finos (partículas finas). Diminui a capacidade (volume

útil) do silo, fazendo com que seja reabastecido mais vezes num determinado espaço de

tempo, e pode causar “furo” do silo pela indicação falsa de nível (peso);

c) parada de escoamento de carvão: é causada basicamente por umidade excessiva no

carvão que se compacta e não é arrastado pela esteira principal. Quando ocorre causa

queda de pressão e aumento de temperatura de descarga do moinho e tem como

conseqüência a redução de carga da caldeira.

63 Operação que consiste em lançar um jato de vapor nos tubos da caldeira para remover a fuligem depositada.

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6.2.1.10 Precipitadores eletrostáticos

Os precipitadores eletrostáticos são peças fundamentais na captação e remoção de cinzas

dos gases que vão à chaminé. Têm a finalidade de remover, com alta eficiência, a cinza destes

gases que vão à atmosfera, controlando as emissões. Operam carregando eletrostaticamente as

partículas e depois captando-as por atração eletromagnética, conforme figura 20.

Um perfeito funcionamento destes equipamentos é vital à manutenção das emissões dentro

dos parâmetros estabelecidos pelo órgão de controle ambiental (FEPAM) para material

particulado.

Figura 20: Precipitador eletrostático Fonte: Copesul, 2008a, p.25.

Os fatores que influenciam a eficiência da captação de cinzas nos precipitadores

eletrostáticos:

a) resistividade da cinza: as cinzas com alta resistividade aumentam o fenômeno chamado

"back corona" que reduz a eficiência da captação. Este fator depende da origem do

carvão (tipo) e só pode ser modificado através de processos específicos tais como

injeção de água, amônia ou queima mista com óleo pesado de alto teor de enxofre;

b) back-corona: o processo normal de coleta de cinza por precipitação eletrostática baseia-

se na formação de um campo elétrico entre placa e eletrodo provocando entre ambos a

chamada "Descarga Corona " que carrega negativamente as partículas de cinza, fazendo

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com que sejam atraídas pelos eletrodos de coleta, os quais são energizados

positivamente. Ocorre que sob certas condições, como por exemplo, alta resistividade

da cinza ou alta corrente entre os eletrodos, pode ocorrer o efeito chamado "Back-

Corona", que se caracteriza pela ruptura do potencial dielétrico existente entre os

eletrodos causando queda de tensão (arco elétrico) e redução do campo, com o quê

decai grandemente a eficiência do precipitador;

c) controle de energização: controla a corrente e a tensão aplicada aos eletrodos,

carregando eletrostaticamente as partículas, com o maior campo possível entre os

eletrodos de descarga e as placas coletoras, sem provocar arcos. O seu perfeito

funcionamento garante não somente uma captação boa como também econômica com

relação ao consumo de energia;

d) temperatura dos gases: a temperatura de projeto dos precipitadores é de 142ºC. Quanto

maior a temperatura dos gases, menor a eficiência na captação de cinzas;

e) velocidade e vazão dos gases: são fatores que estão intimamente relacionados pois

sempre que tivermos aumento de vazão, teremos mais velocidade e por conseqüência

mais volume processado através do precipitador, influenciando negativamente quando

excedem a capacidade do mesmo;

f) limpeza dos eletrodos: fator ligado diretamente ao perfeito funcionamento dos martelos,

fazendo com que a cinza seja removida das placas e eletrodos possibilitando que se

tenha um campo elétrico ideal para uma perfeita e contínua captação de cinza dos gases.

A limpeza é realizada por marteletes que realizam batimento intermitente sobre as

placas (martelos de coleta) e contínuo sobre os eletrodos (martelos de descarga) fazendo

com que a cinza precipite nas tremonhas e de lá seja removida pelo sistema de extração

de cinza;

g) queima mista: a queima de óleo pesado (tipo 1) em conjunto com o carvão, pode afetar

a captação de cinzas. Em grandes quantidades prejudica a captação, pois os resíduos de

óleo podem se agregar às placas e eletrodos e em pequenas quantidades melhora a

captação, pois reduz a resistividade da cinza;

h) distribuição granulométrica: após saírem da fornalha, as cinzas passam pelas tremonhas

do economizador e regenerativo, onde ocorre a deposição das partículas mais

pesadas. Chegando ao precipitador, as mais pesadas serão captadas pelos primeiros e

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segundos campos e as mais leves pelos últimos campos. Evidencia-se assim a

importância da perfeita extração de cinza das tremonhas do economizador e

regenerativos para que o precipitador não seja sobrecarregado e mantenha a sua

eficiência;

i) tamanho das partículas e geometria dos eletrodos: o tamanho das partículas que chegam

aos precipitadores depende da perfeita extração de cinza das tremonhas que o precedem

(economizador, aquecedor de ar). A geometria dos eletrodos é diferenciada, sendo a dos

primeiros campos diferente da dos segundos e terceiros, devido às partículas que

chegam aos últimos campos serem de menor diâmetro.

6.3 Tocha úmida (TU) ou flare

As indústrias químicas e petroquímicas apresentam uma torre que é chamada de flare ou

tocha úmida, cujo objetivo é absorver as emissões de gases decorrentes de distúrbio

operacional64. Entende-se como distúrbio operacional todo fato que gere uma alteração na

operação normal das unidades de processo, podendo ser oriundas de falhas dos equipamentos

(mecânico, elétrico, instrumentação, etc) e humana, ou durante os procedimentos de entrada ou

retirada de operação das unidades.

O flare apresenta no seu topo uma coroa, também chamado de tip, possuindo pequenos

pilotos que são alimentados por gás combustível que estão sempre acesos, para que quando

ocorrer um descarte de gás para este sistema, ele possa fazer a combustão deles.

A figura 21 identifica este equipamento estando numa situação de operação normal, onde

não há ocorrência de distúrbio operacional, ou seja, representa 98% do tempo de operação anual

deste sistema.

64 Na linguagem operacional é chamado de emergência operacional.

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Figura 21: Flare da Unib-RS Fonte: Autoria própria, 2008.

A presença do flare é necessária para manter a segurança da unidade petroquímica e/ou

química. Como no caso da Unib-RS há o processo em torno de 200 t/h de gás (eteno, propeno,

etc) que, num distúrbio operacional, não teria com ser armazenados num tanque ou esfera, pois

há uma despressurização muito rápida dos sistemas operacionais, portanto, haveria uma

possibilidade muito grande de ruptura dos equipamentos de armazenamento. Deste modo, é mais

seguro enviá-lo para combustão num local distante da unidade operacional e com monitoramento

desta queima.

Nos procedimentos de partida da unidade, o gás também é enviado para este sistema até

obter a especificação do mesmo, ou seja, os sistemas de fracionamento e de reação enviam os

produtos não-especificados para o flare.

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Além de serem ponto de descarte de distúrbios operacionais, os processos químicos

apresentam certas peculariedades que necessitam enviar os incondensáveis dos sistemas de

fracionamento das colunas para este sistema. Nos sistemas que trabalham com produtos líquidos

em condições ambientais, o envio deles é para sistemas fechados como tanques, que serão

reprocessados em outro momento.

Conforme comentado na seção anterior, durante o craqueamento da nafta ocorre à produção

de vapor, portanto, durante os distúrbios operacionais, há necessidade de produção deste vapor,

mantendo o flare acionado.

O envio para flare é monitorado pela FEPAM, pois não é permitida uma combustão

excessiva no equipamento, devido a grande geração de CO2 que acarreta na emissão deste tipo de

gás para atmosfera, podendo afetar o meio ambiente. Além deste gás, há também o envio de

pequenas quantidades de SOx e NOx. Na figura 22, há uma combustão no flare decorrente de um

distúrbio operacional.

Figura 22: Flare da Unib-RS em distúrbio operacional Fonte: Autoria própria, 2006.

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O flare apresenta combustão incompleta quando ocorre uma vazão elevada de gases para

este equipamento, acarretando no aparecimento de fuligem. Sempre que ultrapassar 5 minutos de

combustão intensa, a empresa faz um relatório para FEPAM identificando a causa, quando

ultrapassa uma hora, o acordado é que reduza a carga para a planta, sendo passível de multa

ambiental.

Nestes casos, o procedimento é aumentar o tempo necessário para contornar o distúrbio

operacional, vindo a perder mais tempo para especificação dos produtos com perda financeira,

entretanto, ocorre um ganho ambiental muito significativo.

Em condições normais não há envio de gás para este sistema, mas ele se faz necessário para

garantir que não haja um efeito mais catastrófico quando por ocasião de distúrbios operacionais.

Quando houver envio de produto para este sistema, todas as formas de minimizar este efeito são

realizados visando, assim, preservar o meio ambiente em que se encontra a empresa.

6.3.1 Descrição de funcionamento

O sistema de tocha recebe os gases provenientes das unidades operacionais através de uma

linha de grande diâmetro, que é denominada tocha seca devido a estes gases atingirem

temperaturas inferiores a 0°C. Apresentam, ainda, um aquecedor cuja função é impedir a

passagem de gases com temperaturas inferiores a -45°C.

Antes dos gases chegarem na tocha, passam por um vaso de selagem hidráulica que tem por

finalidade:

a) separar algum líquido que possa ser arrastado nos gases;

b) impedir o retorno da chama para dentro das áreas;

c) diminuir a velocidade dos gases a serem queimados.

Há nas seções laterais uma solução aquosa de água e mono-etileno-glicol (MEG) a qual é

responsável pela selagem do vaso, mantendo uma pressão positiva a montante através do nível de

MEG no compartimento. A adição de MEG tem como objetivo baixar o ponto de congelamento

de H2O para evitar o seu congelamento quando submetido a descartes de produtos com baixa

temperatura.

Obs.: É admissível operar com uma solução com ponto de congelamento entre -20ºC e -

35ºC, equivalente a concentração de MEG entre 33% e 50%. Entretanto, para ponto de

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congelamento superior a –25ºC, já se recomenda corrigir a concentração de MEG com base em –

35ºC.

A homogeneização da solução H2O + MEG é garantida por bombas que controlam o nível

dos compartimentos intermediários. No caso de aparecimento de nível no compartimento central

há uma bomba que succiona este líquido e é enviado para tratamento. Com esta mesma bomba se

refaz o inventário de MEG quando necessário, utilizando um alinhamento alternativo.

6.3.1.1 Selo molecular

Com o intuito de se evitar retomo de chama existe uma segunda selagem, chamada selo

molecular. Trata-se de uma injeção constante de um gás de purga (usualmente N2). Este

equipamento, verificado na figura 23, está localizado abaixo da coroa, no topo do flare,

possuindo uma linha de drenagem de líquidos retidos.

Figura 23: Representação do selo molecular. Fonte: Copesul, 2008b, p. 5.

Este dispositivo é utilizado para evitar entrada de ar na chaminé da tocha e,

conseqüentemente, o retorno de chama para o sistema de tocha, sendo constituído basicamente de

chapas e chicanas para dificultar a entrada de ar.

O princípio consiste na formação de um selo com gás inerte nitrogênio (N2), que vede a

entrada de ar no sistema. Caso o gás da purga tiver peso molecular menor do que o ar, o

nitrogênio tende a se acumular na parte superior do selo, conforme figura 23a. Caso o gás de

purga tiver peso molecular maior do que o ar, o nitrogênio tende a se acumular nas partes mais

baixas dos selos, conforme figura 23b.

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6.3.1.2 Vapor de baixa (resfriamento/diluição)

O vapor é utilizado junto ao tip tendo como finalidade resfriar o mesmo, deslocar a

queima para fora da tocha e melhorar a mistura hidrocarbonetos e outros compostos presentes no

descarte para atmosfera. O controle da queima visa obter-se uma combustão eficiente no tip da

tocha, reduzindo a emissão de material particulado e CO.

Também são objetivos do uso de vapor na tocha, a redução dos efeitos das radiações não-

ionizantes (calor) e do impacto visual negativo resultante da operação desta área. Deve-se manter

monitoramento visual da queima do tip. No caso que ocorra a formação indesejável de coque65 no

sistema o mesmo deve ser recolhido.

6.3.1.3 Queimadores pilotos da tocha

Há um sistema de acendimento duplo para a ignição dos quatro pilotos:

a) acendimento eletrônico: junto aos pilotos existe o ignitor que tem duas funções, a de

ignição e a de sensor. Ao constatar a falta de chama, haverá formação de um arco

voltaico e com isto uma centelha capaz de reacendendo os pilotos. O sensor é através da

ionização do ar que se forma junto à chama;

b) acendimento manual: utilizando uma mistura de gás combustível com ar de serviço, há

um sistema de ignição que por meio de vela enviará chama para os pilotos. Usando este

sistema, dizemos que os pilotos são acesos por “frente de chama”.

O princípio de ignição consiste em estabelecer na linha entre o piloto a ser aceso e a caixa

geradora de chama uma mistura de ar e gás combustível de tal maneira que, efetuada a ignição da

mistura no interior da referida caixa, a chama se propagará até o referido piloto pela linha desde o

painel.

Na figura 24, há uma ilustração da coroa do flare com a entrada principal dos gases que

sofrerão a combustão, do vapor utilizado para diluição e dos pilotos.

65 Produto sólido (C) da combustão incompleta.

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Figura 24: Coroa do flare Fonte: Copesul, 2008b, p. 7.

6.3.1.4 Smokless (operação sem fumaça)

A maioria dos hidrocarbonetos contidos no gás que é enviado para tocha, gera fumaça

quando são queimados com pouco oxigênio na zona de combustão. A fumaça é produzida por

reações de craqueamento e polimerização que ocorrem no centro da chama onde existem altas

temperaturas e não tendo oxigênio suficiente para tornar a combustão completa. A formação de

fumaça é freqüentemente acompanhada por elevados níveis de radiação.

As correntes que são enviadas a tocha com baixa vazão e contendo produtos insaturados são

próprias para apresentar fumaça. A injeção de vapor no tip reduz a formação de fumaça e quando

traços de fumaça são eliminados a chama se torna alaranjada e luminosa. Incrementos maiores de

vapor fazem diminuir a luminosidade tornando a chama invisível à luz do dia e aparecendo azul à

noite.

6.3.1.5 Controle de injeção de vapor

Para uma queima ideal sem fumaça e resfriamento de tip, há dois pontos de injeção de

vapor:

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a) bico de injeção central de vapor, possui as seguintes funções:

- evitar geração de fumaça quando a vazão de gás é baixa,

- criar uma turbulência no centro da chama a fim de otimizar a mistura ar/gás no centro

da chama. A injeção de vapor central não aspira ar para a chama, de maneira que a

razão vapor/gás para queima sem fumaça usando o vapor central é consideravelmente

mais alta que o vapor superior. O valor típico da razão de vapor central/gás para evitar-

se fumaça é de 1,0 a 2,0, dependendo da velocidade do gás e sua composição;

b) injeção superior de vapor: O vapor injetado superiormente consiste no principal meio

da tocha obter queima sem fumaça para queima de grande quantidade de gás. A injeção

deste vapor irá aspirar e proporcionar turbulência de grande quantidade de ar na zona de

início da chama (núcleo).

6.3.1.6 Uso adequado da injeção de vapor

Para baixas vazões de gás deve-se primeiramente fazer uso da injeção central de vapor para

evitar a formação de fumaça. O vapor deve ser aumentado gradativamente (de 100 a 5000 kg/h)

de acordo com o aumento da vazão de gás para a tocha. Uma vez que o vapor central esteja no

seu máximo de injeção, a admissão de vapor superior é elevada garantindo uma combinação de

injeção dos dois vapores (central e superior), visando obter uma para queima sem fumaça.

A ótima combinação de injeção central e superior de vapor irão depender da vazão, da

composição do gás queimado, velocidade do vento, pressão e temperatura do vapor, portanto, é

um ajuste operacional. Quando não há nenhuma vazão de gás pela tocha principal as linhas de

vapor devem ser mantidas aquecidas, para enviarem vapor quando necessário, sem riscos de

choques térmicos e formação de condensado com conseqüentes martelos hidráulicos.

O excesso de vapor na parte superior quando existe baixa vazão de gás pode manter a

chama dentro do corpo do tip, superaquecendo a chapa metálica do mesmo. Neste caso, a vazão

de vapor deve ser reduzida para a parte superior até que a chama esteja visível fora do corpo do

tip. A quantidade mínima de vapor que passa pelos orifícios de restrição é suficiente para manter

a linha aquecida e para uso a qualquer momento.

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6.3.1.7 Casos especiais de queima

Quando os gases são enviados para a tocha sob determinadas condições, alguns cuidados

especiais devem ser tomados com o objetivo de minimizar-se a possibilidade de formar-se coque

ou fuligem. A seguir descreve-se cada condição:

a) queima de butadieno, acetilenos e aromáticos, quando estes produtos encontram-se

presentes no fluxo de gás enviado para tocha com baixas vazões, utiliza-se a injeção de

vapor central de maneira descontínua e a vazão gás de purga deve ser elevada com o

objetivo de aumentar-se a velocidade do gás e possa queimar fora do tip;

b) queima de olefinas e parafinas pesadas quando estes produtos são enviados a baixa

velocidade deve ser elevada temporariamente o gás de purga ou o vapor central até que

se tenha reduzido a fumaça e a chama se torne claramente visível acima do tip.

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7 PESQUISA EM ESCOLAS TÉCNICAS

O foco deste trabalho verifica, através de pesquisa específica, o nível de entendimento que

os estudantes das escolas técnicas possuem sobre as emanações gasosas do pólo petroquímico, se

consideram-nas poluidoras e qual das fontes possui maior potencial.

Esta pesquisa foi realizada através da aplicação de um questionário (Apêndice A) composto

por questões de múltipla escolha, onde o aluno optava por uma ou mais alternativas referentes a

itens específicos das emissões gasosas, e composto também por questões abertas, onde ficava

livre para responder com suas próprias palavras, questões referentes aos produtos que o pólo

produz e do motivo de interesse ou não de vir a ser colaborador neste complexo industrial.

O questionário foi elaborado a partir de uma notícia veiculada num jornal da Grande Porto

Alegre, referente a um distúrbio operacional ocorrido no pólo. As questões formuladas

abordavam vários aspectos e tinham como objetivo identificar:

a) se estes estudantes consideravam as informações oriundas da imprensa completas ou

deixavam lacunas;

b) o ensinamento que as escolas técnicas proporcionam a eles, no que tange aos

equipamentos que foram foco deste estudo;

c) o conhecimento dos alunos referentes aos produtos que são obtidos nos processos das

empresas que compõem este complexo industrial;

d) o interesse de serem futuros integrantes destas empresas e o motivo que os levaria

aceitar ou não esta possibilidade.

A opção por este grupo de pessoas deve-se ao fato deles serem, potencialmente, futuros

profissionais deste ramo industrial, pois há no quadro funcional destas empresas um número

significativo de pessoas que são oriundas de escolas técnicas, porque todas as atividades

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relacionadas ao processo (operação, manutenção e controle de qualidade) há necessidade de

formação profissionalizante.

Várias escolas formam, todos anos, centenas de técnicos direcionando ao mercado de

trabalho. A grande maioria deles procuram ser selecionados por empresas pertencentes ao pólo

petroquímico, pois há um processo de seleção de estagiários66 que tornou-se referência no estado,

devido a grande oportunidade que é oferecida dentro da própria empresa ou em outras no futuro.

A amostragem da pesquisa foi realizada com setenta e sete alunos dos cursos técnicos em

química de quatro escolas técnicas da Grande Porto Alegre, sendo uma federal, uma municipal,

uma particular e uma fundação ligada ao governo do estado do RS.

Outro pré-requisito do estudo foi ter como amostra alunos do último semestre do curso,

pelo fato deles possuírem uma base de informações maior que os demais.

A escola federal é ligada à Universidade Federal do Estado do Rio Grande do Sul,

localizada em Porto Alegre, apresenta 11 cursos técnicos, possui 100 alunos do técnico em

analista de processo e a entrada nos cursos é realizada por prova de admissão. Há necessidade de

ter curso médio completo. O ensino é realizado em 4 módulos de conhecimento e tem duração

semestral.

A escola municipal encontra-se no município sede do pólo petroquímico, em Triunfo,

possuindo dois cursos técnicos e 70 alunos no curso de química. Não há processo de seleção. O

ensino é realizado por 3 módulos de conhecimento de duração semestral e há necessidade da

conclusão do ensino médio.

Em Canoas, encontra-se a escola particular, tendo 14 cursos técnicos, sendo que há 150

estudantes no curso de química. Há 3 módulos de conhecimento de duração semestral, não

havendo necessidade de conclusão do ensino médio, podendo ser realizados juntos. Não

apresenta processo de seleção.

A Fundação ligada ao governo do estado do Rio Grande do Sul, localizada em Novo

Hamburgo, tem dois modelos pedagógicos. No primeiro, há a formação seriada anual, sendo

necessários 4 anos para conclusão do mesmo. Realizando os 3 primeiros anos, ocorre a conclusão

do ensino médio, enquanto que o 4º ano garante a conclusão do ensino profissionalizante.

Os módulos semestrais, em número de 4, são a outra forma de aprendizagem. Neste

modelo, há necessidade da conclusão do ensino médio. Nas duas modalidades, o ingresso é

66 Nas empresas do pólo é denominado como talentos.

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realizado através do exame de seleção. Esta escola possui 7 cursos técnicos. O curso técnico de

química possui 450 alunos na primeira modalidade e 250 alunos na outra.

Esta pesquisa contou com a colaboração dos coordenadores dos cursos destas escolas que,

entenderam a proposta e o objetivo dela, dando os subsídios necessários para a realização da

mesma, bem como, fizeram a sua aplicação nas instituições.

O detalhamento da pesquisa será feito de forma genérica citando as Escolas A, B, C e D,

comparando-as entre elas e o total de alunos.

7.1 Notícia da imprensa

No dia 31 de dezembro de 2007, ocorreu um distúrbio operacional no pólo petroquímico,

sendo noticiado pelo jornal Diário de Canoas conforme indicado na figura 25. Neste dia, ocorreu

um distúrbio operacional que provocou a acionamento do flare, conforme explicado na seção 6.3,

sendo que a nuvem branca (pluma), conforme visto na seção 6.1, é normal que ocorra todos os

dias.

Figura 25: Notícia do jornal Fonte: Observatório, 2007, p. 2.

O objetivo de levantar esta questão com os estudantes é obter a percepção deles da

freqüência deste tipo de ocorrência, conforme constatado na figura 26.

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0

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8

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19

60

21

0%

20%

40%

60%

80%

100%

A B C D Total

Escolas

Qual a freqüência deste distúrbio?

Não sabe

Freqüentemente

Ocorre Raramente

Figura 26: Freqüência do distúrbio Fonte: Autoria própria, 2008.

Os alunos possuem a percepção que a ocorrência relatada no jornal é freqüente, ou seja,

ocorre normalmente no pólo. A escola B, mesmo apresentando índice baixo, foi a que mais

apontou para a resposta correta.

Este tipo de distúrbio é raro num complexo petroquímico, porque se ocorresse mais

continuamente a empresa estaria dando prejuízo, pois não há negócio que se perpetue queimando

produtos na tocha.

Um fato positivo na resposta foi o grau de conhecimento que os alunos tinham sobre o

assunto, pois poucos disseram que não sabiam sobre este tipo de evento.

A figura 27 mostra a percepção dos alunos sobre o grau de informação que ela transmite,

ou seja, se todas as informações são completas ou precisam uma maior quantidade de subsídios

visando dar uma resposta mais conclusiva.

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0%

20%

40%

60%

80%

100%

A B C D Total

Escolas

A notícia é completa?

Incompleta

Completa

Figura 27: Complexidade da notícia Fonte: Autoria própria, 2008.

O resultado obtido traduz o sentimento com relação à notícia, ou melhor, todas as escolas

disseram que a quantidade de informações era incompleta, sendo que a escola A teve a totalidade

dos alunos evidenciando esta constatação.

A notícia é incompleta, servindo mais para assustar do que para esclarecer, pois nuvem

branca, conforme verificado na seção 6.1, são os vapores da torre de refrigeração que são

emitidos sempre. Já a labareda é oriunda da queima dos hidrocarbonetos na tocha, característico

de um distúrbio operacional.

7.2 Produção das empresas

O grau de conhecimento dos alunos sobre a produção do pólo é verificado na figura 28,

pois ocorre uma gama enorme de produtos que vão desde combustíveis, matérias-primas de

polímeros, elastômeros e gasolina.

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0

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3

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0%

20%

40%

60%

80%

100%

A B C D Total

Escolas

Conhece os produtos que o pólo produz?

Alguns

Maioria

Não

Figura 28: Conhecimento dos produtos do pólo Fonte: Autoria própria, 2008.

Conforme verificado na figura 28, um pequeno número de alunos desconhece o que o pólo

produz, como são alunos do último semestre do curso técnico, acaba sendo uma surpresa, pois

esta resposta não era esperada, sendo que as escolas B e D apresentam um número que

surpreende.

Como foi comentado anteriormente, a quantidade de produtos produzidos é enorme, no

entanto alguns alunos respondiam simplesmente produtos derivados do petróleo. Havia alunos

que respondiam que produzia nafta, confundindo com a função da refinaria e teve alunos que

respondeu que no pólo havia produção de etanol.

Uma grande parcela de alunos respondeu de forma bastante completa, informando

praticamente toda a cadeia do complexo petroquímico até a 3ª geração.

Neste item, todas as escolas foram muito parecidas, não havendo destaque positivo ou

negativo para nenhuma delas especificamente.

7.3 Poluição do pólo

Um complexo industrial do porte de um pólo petroquímico está sujeito a preocupações

ambientais, pois não se trata de uma indústria simples que produz produtos não-agressivos ao

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meio ambiente, mas sim, produtos que requerem dos seus acionistas e de seus trabalhadores

responsabilidade intensa para evitar emanações para atmosfera. Esta preocupação também se faz

presente para alunos da escola técnica, conforme verificado na figura 29.

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56

44

58

42

70

30

65

35

0%

20%

40%

60%

80%

100%

A B C D Total

Escolas

O Pólo Polui?

Não

Sim

Figura 29: Poluição do pólo Fonte: Autoria própria, 2008.

A grande maioria dos alunos considera que o pólo polui, tendo a escola A apresentando um

número muito significativo de respostas neste sentido.

A compreensão da indústria petroquímica como sinônimo de poluição é identificado na

assertiva dos alunos, sendo que a fonte mais referida, como poluidora, é aquela que não possui

este potencial.

O desconhecimento dos alunos pode estar relacionado com a falta de informação das

empresas do pólo e das próprias escolas para desmistificar este conceito, bem como relatar as

ações que estão sendo desenvolvidas dentro das suas unidades industriais.

A figura 30 identifica qual das três fontes pesquisadas do pólo petroquímico representa

maior poluição na visão dos alunos das escolas técnicas. A escolha por estas fontes deve-se ao

fato de que elas representam muito o aspecto visual para as pessoas que visitam o complexo

industrial.

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7

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43

0

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6

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16

0%

20%

40%

60%

80%

100%

A B C D Total

Escolas

Qual fonte polui mais?

Caldeiras

Torre Refrig.

Flare

Figura 30: Fontes de poluição Fonte: Autoria própria, 2008.

O diagnóstico do resultado da pesquisa mostra que os alunos identificam a pluma que sai da

torre de refrigeração como a maior fonte poluidora do pólo demonstrando, neste caso, que a

visualização de um fenômeno forte, a saída de vapor de água, é visto erroneamente como um

ponto de agressão ao meio-ambiente.

A escola C possui uma percepção mais equilibrada das três fontes, reproduzindo que as

chaminés das caldeiras, possuem um potencial poluidor tão intenso quanto a torre de refrigeração,

ao mesmo tempo, é a instituição que mais fez menções sobre a tocha.

A emanação gasosa enviada pelo flare é a que menos representa, na visão dos alunos, o

potencial poluidor, provavelmente eles não fizeram relação com a notícia o jornal e, na foto da

pesquisa, mas representado na condição que ele está na maior parte o tempo, ou seja, na forma

sem combustão de hidrocarbonetos. A escola D não mencionou este equipamento como potencial

poluidor.

7.3 Pólo como opção de emprego

Para finalizar a pesquisa, foi verificado se estes alunos gostariam de ter o pólo como

possibilidade de emprego, visualizando neste ramo da indústria um local para o desenvolvimento

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de sua futura atividade profissional, tendo em vista o conhecimento que foi adquirido no

transcorrer do curso técnico. O resultado desta pergunta foi evidenciado na figura 31.

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8

92

0

100

4

96

6

94

0%

20%

40%

60%

80%

100%

A B C D Total

Escolas

Gostaria de trabalhar no pólo?

Sim

Não

Figura 31: Pólo como perspectiva de emprego Fonte: Autoria própria, 2008.

A maioria absoluta dos alunos gostaria de trabalhar no pólo, mas a escola A apresenta um

índice superior a média que não enxerga estas empresas como futuro local de trabalho, dando

como motivo a distância do pólo, a possibilidade de outro ramo da química como profissão e a

saída deste ramo.

A escola C marca posição na quantidade de alunos que gostariam de trabalhar no pólo, pois

os motivos são os mais variados, que vão desde possibilidade de evolução profissional,

reconhecimento mundial, desenvolvimento de aprendizagem constante e pela distância da sua

casa.

Outros fatores que foram lembrados nas demais escolas foram a remuneração, plano de

carreira, referência na indústria química, experiência profissional, preocupação com o funcionário

e meio ambiente, utilização de tecnologia de ponta e reconhecimento mundial.

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8 CONCLUSÃO

Em países como o Brasil, onde a qualidade da educação é ainda deficitária, ter acesso à

formação técnica abre possibilidades de concorrer a vagas em empresas que proporcionam

perspectiva de avanço profissional e remuneração digna. Outro fator que aponta para a

importância desta modalidade educacional é que o aluno terá oportunidade de colocar em prática

as bases de conhecimentos desenvolvidos ao longo do processo formativo, além do que

proporcionará outras aprendizagens e atualizações, a partir do trabalho com novas tecnologias

implementadas.

A nova exigência do mercado por uma mão-de-obra qualificada faz com que tanto o poder

público como a iniciativa privada, pressionados pela necessidade de aprimorar e popularizar a

formação técnica, invistam na construção de escolas com esse perfil educacional. Conforme o

Ministério da Educação, o aumento no número de escolas técnicas pelo Brasil está sendo

significativo, até 2002 eram 140, todavia já há previsão para a construção de novas instituições

perfazendo um total de 354 até o final da primeira década do século XXI, ou seja, até 2010.

Constata-se um aumento de algo em torno de 200%.

As empresas do pólo petroquímico gaúcho reúnem as características e necessidades acima

citadas. Os jovens técnicos anseiam pela oportunidade de integrar seus quadros funcionais, pois

vêem a possibilidade de crescimento profissional e pessoal.

Se como foi afirmado, há tanto interesse em trabalhar nesta área, causa surpresa ao verificar

o nível de desconhecimento, conhecimentos parciais ou confusões, constatados na pesquisa, que

os futuros técnicos em química apresentam sobre o que o pólo produz, sendo que alguns chegam

a citar produtos feitos nas refinarias. Esta demanda por conhecimentos corretos, deve ser suprida

pelas escolas técnicas, que devem aliar seus planos de estudos ao uso social das técnicas e

equipamentos utilizados.

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O resultado da investigação, no que concerne ao foco deste trabalho: as emanações gasosas

como causadoras de poluição, confirmou a hipótese inicial. Contatou-se que as pessoas

relacionam qualquer emanação como sendo poluidora. Essa avaliação está calcada sobre o senso

comum de que: qualquer fumaça polui o ambiente. Outro ponto a abordar é que a fonte mais

reconhecida como poluidora foi a torre de refrigeração. Isto denota que a impressão visual do

vapor d’água (também conhecida como pluma) causa um impacto muito grande, então,

normalmente, as outras fontes são menos reconhecidas e identificadas, mesmo que sejam

potencialmente muito mais poluidoras.

As empresas do pólo necessitam desenvolver, junto às comunidades e escolas, estratégias

que enfrentem a falta de informação, desconstituindo, assim, esses entendimentos equivocados.

Essas estratégias visarão alertar, a este grupo de pessoas, que a nuvem de vapor de água não é

fator de risco para a sociedade. Há, também, a necessidade de realizar campanhas esclarecedoras

para evitar distorções na compreensão do funcionamento destes equipamentos.

Neste sentido, as escolas desempenham papel central na tarefa, fornecendo o máximo de

informações aos alunos no intuito de desmistificar essa idéia, cabe a elas mostrar que este

equipamento é comum em indústrias e, caberá a eles, propagar os novos conhecimentos. Além

disto, é premente que haja uma nova base de conhecimentos no que tange aos produtos e

funcionamento do pólo, favorecendo aprendizagens mais conectadas à realidade.

Com relação as outras fontes, sabe-se que o flare e as chaminés das caldeiras possuem um

potencial poluidor muito alto, cabendo as empresas adotarem as tecnologias mais modernas que

possam eliminar ou reduzir ao mínimo possível as emanações. As empresas do pólo estão

buscando freqüentemente o aperfeiçoamento destas práticas, com investimentos vultuosos em

sistemas de ponta, garantindo uma relação de respeito com a comunidade e preservação ao meio

ambiente.

Os resultados destes investimentos são constatados nas tabelas de emissões de gases

(tabelas 4, 5 e 6) para atmosfera, onde não ocorrem valores maiores que a normatização da

legislação ambiental vigente no estado e no país.

As notícias vinculadas pela imprensa quando se refere a sistemas industriais deixa a desejar,

conforme constatado neste trabalho. A insuficiência dos dados fornecidos acarreta informações

incompletas e tendenciosas, que podem causar preocupação nas comunidades circunvizinhas ao

pólo. Neste caso, cabe as empresas estarem atentas, principalmente os departamentos de relações

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públicas, para que supram a mídia com dados corretos e confiáveis sobre os fatos noticiados. Essa

ação estabelecerá uma relação de proximidade com sua comunidade, assim passarão a ser vistas

como agentes de geração de renda e empregos e não como agressoras da natureza.

As escolas técnicas são sabedoras de suas lacunas, que não possuem condições de informar,

aos seus alunos, sobre todas os tipos de indústrias. Isso se evidenciou na solicitação por parte dos

coordenadores dos cursos técnicos, que requisitaram o resultado final, para que o pudessem

utilizar visando balizar a qualidade de seu ensino e das informações prestados por suas

instituições.

Com relação a trabalhar no pólo, há escolas que preparam seus alunos para poderem

participar dos processos de seleção destas empresas. Esta preparação não se realiza apenas no

aspecto educacional, mas também na orientação e treinamento direcionado para que seus alunos

adaptem-se a trabalhar em equipes, simulando aspectos comportamentais que são utilizados

nestas empresas pela consultoria de psicologia durante o recrutamento. Os alunos das escolas

técnicas são sabedores destas práticas e fazem deste objetivo uma prioridade de suas vidas.

Ao analisar todas as inter-relações abordadas, seja a partir da bibliografia estudada, bem

como pelos dados obtidos, estas apontam para a validade deste estudo, pois foi comprovado que

as inquietações que o geraram tinham fundamento. As informações que chegam à população não

contribuem para uma compreensão realista dos processos industriais que realmente causam

poluição. Outro ponto que ficou claro é o descompasso entre a formação técnica e a realidade das

empresas, onde os jovens técnicos podem vir a trabalhar. Os dados analisados indicaram que falta

às escolas formadoras estudar como abordar os conhecimentos teóricos que são utilizados no dia-

a-dia das empresas.

Conclui-se que as empresas devem ter como prioridade divulgar e esclarecer a população

sobre os riscos reais que os equipamentos podem causar ao ambiente. Outra relação que

necessitam estabelecer é com as escolas técnicas, precisam aproximar-se delas, para que estas

possam ser instrumentos de propagação de informações embasadas na verdade, não no pré-

julgamento. As escolas por sua vez devem buscar aproximar-se das empresas no intuito de

possibilitar aos seus estudantes uma maior conexão com a realidade e construir um currículo que

evolua do conteudismo para o que aborde os usos sociais dos conhecimentos técnicos.

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REFERÊNCIAS

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FLACH, Marcelo; SFREDO, Marta. Como funciona o pólo gaúcho. Zero Hora, Porto Alegre, 25 mar. 2007. Economia, p. 32-33. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/pibmunicipios/2005/defaulttab.shtm>. Acesso em 25 mar. 2008. MANO, Eloísa B.; DIAS, Marcos L.; OLIVEIRA, Clara M. Química experimental de polímeros. São Paulo: Edgard Blücher. MOREIRA, Marco Antônio. Teorias de Aprendizagem. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária,1999. OBSERVATÓRIO, Coluna. Diário de Canoas, Canoas, p. 2, 31 dez. 2007. PROGRAMA das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/atlas/tabelas/index.php>. Acesso em 25 mar. 2008. ROCHA, Maria Margarete.: Integração vertical e incerteza: um estudo empírico com a indústria petroquímica nacional. 2002. 201 f. Tese (Doutorado) –Departamento de Economia, Administração e Contabilidade, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2002. ROMEIRO, Ademar R. (Org). Economia do meio ambiente: teoria, políticas e a gestão de espaços regionais. 3.ed. São Paulo: Unicamp, 2001. SCHUCK, Hardi Luiz. Alianças estratégicas para o suprimento de matérias-primas na indústria petroquímica de primeira geração do Brasil. 2002. 147 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002. SENAI. Curso de formação de operadores. Operação de Unidade de Processos: Olefinas. Esteio: SENAI, 2004a. SENAI. Curso de formação de operadores. Operação de Unidade de Processos: Utilidades. Esteio: SENAI, 2004b. SEVERO, José A.; MOGLIA, Luciana. Na churrasqueira da Casa Rosa: histórias da petroquímica gaúcha. Florianópolis: Expressão, 2005. SZKLO, Alexandre S. Fundamentos do refino de petróleo. Rio de Janeiro: Interciência, 2005. TORRES DE RESFRIAMENTO DE ÁGUA LTDA – TRA. Manual de operação: Torre de resfriamento. São Paulo:TRA, 2007.

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APÊNDICE A

3. Idade: ___________________ 4. Sexo: FemininoMasculino

Considerando a seguinte nota de jornal:

Fonte: Diário de Canoas de 31/12/2007, Coluna Observatório, pg 2. Pelo que tu já ouviste falar sobre o Pólo Petroquímico, este tipo de ocorrência: ( ) Raramente ocorre ( ) Acontece freqüentemente no Pólo ( ) Não sei Sobre a notícia do jornal, tu consideras que: ( ) Apresenta todas as informações necessárias ( ) Necessita mais informações Tu sabes o que o Pólo Petroquímico produz: ( ) Não ( ) Sim. Qual(is):______________________________________________________________ Considerando estas 3 fotos, tu consideras que elas caracterizam: 1 2 3

( ) Não indicam poluição ( ) Poluição. Qual representa mais? ___________________ Tu gostarias de trabalhar no Pólo Petroquímico: ( ) Sim. Porque:_________________________________________________________ ( ) Não. Porque:_________________________________________________________

1. Escola: 2. Ano/Semestre: