Enfoques étnicos

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1. Referencia Bibliografica. MURAD, Afonso; LIBANIO, João Batista. Da teologia ás teologias. In: Introdução á Teologia.São Paulo: Loyola, 2004. p.258 – 264. 2. Credenciais dos Autores. João Batista Libanio (Belo Horizonte, 1932 -) é um padre jesuíta, escritor e teólogo brasileiro. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (ISI – FAJE) em Belo Horizonte, e é vigário da paróquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, na Grande Belo Horizonte. Fez seus estudos de Filosofia na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e também cursou em letras neolatinas pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Seus estudos de teologia sistemática foram efetuados na Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, onde estudou com os maiores nomes da teologia européia. Seu mestrado e doutorado (1968) em teologia foram obtidos na Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma. Foi Diretor de Estudos do Pontifício Colégio Pio Brasileiro em Roma durante os anos do Concílio Vaticano II, o que facilitou seu contato com os bispos e assessores de todo o Brasil. Retornou ao Brasil em 1968, onde por mais de trinta anos dedica-se ao magistério e pesquisa teológica, na linha da teologia da libertação. Foi professor de teologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul e do Instituto Teológico da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Posteriormente foi professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Em 1982, Libanio retornou a Belo Horizonte. Leciona atualmente Teologia na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, antigo Instituto Santo Inácio em Belo Horizonte. É autor de cerca de 125 livros, dos quais 36 de autoria própria e os demais em colaboração com outros autores, alguns editados em outras línguas. Além disto, possui mais de 40 artigos publicados em periódicos especializados, e inúmeros artigos em jornais e revistas. Foi assessor da Conferência dos Religiosos

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1. Referencia Bibliografica.MURAD, Afonso; LIBANIO, Joo Batista. Da teologia s teologias. In: Introduo Teologia.So Paulo: Loyola, 2004. p.258 264.2. Credenciais dos Autores.Joo Batista Libanio (Belo Horizonte, 1932 -) um padre jesuta, escritor e telogo brasileiro. Ensina na Faculdade Jesuta de Filosofia e Teologia (ISI FAJE) em Belo Horizonte, e vigrio da parquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, na Grande Belo Horizonte. Fez seus estudos de Filosofia na Faculdade de Filosofia de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, e tambm cursou em letras neolatinas pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Seus estudos de teologia sistemtica foram efetuados na Hochschule Sankt Georgen, em Frankfurt, Alemanha, onde estudou com os maiores nomes da teologia europia. Seu mestrado e doutorado (1968) em teologia foram obtidos na Pontifcia Universidade Gregoriana (PUG) de Roma. Foi Diretor de Estudos do Pontifcio Colgio Pio Brasileiro em Roma durante os anos do Conclio Vaticano II, o que facilitou seu contato com os bispos e assessores de todo o Brasil. Retornou ao Brasil em 1968, onde por mais de trinta anos dedica-se ao magistrio e pesquisa teolgica, na linha da teologia da libertao. Foi professor de teologia na Universidade do Vale do Rio dos Sinos, em So Leopoldo, Rio Grande do Sul e do Instituto Teolgico da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Posteriormente foi professor da Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro. Em 1982, Libanio retornou a Belo Horizonte. Leciona atualmente Teologia na Faculdade Jesuta de Filosofia e Teologia, antigo Instituto Santo Incio em Belo Horizonte. autor de cerca de 125 livros, dos quais 36 de autoria prpria e os demais em colaborao com outros autores, alguns editados em outras lnguas. Alm disto, possui mais de 40 artigos publicados em peridicos especializados, e inmeros artigos em jornais e revistas. Foi assessor da Conferncia dos Religiosos do Brasil e do Instituto Nacional de Pastoral da Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil, alm de assessorar encontros das Comunidades Eclesiais de Base. Atualmente vigrio na parquia Nossa Senhora de Lourdes, em Vespasiano, na Grande Belo Horizonte.Afonso Murad doutor em Teologia Sistemtica pela Universidade Gregoriana. professor de Teologia na Faculdade Jesuta - FAJE, em Belo Horizonte, e pesquisa temas contemporneos como gesto e ecologia.

Enfoques tnicos? O caso da teologia negra e amerndiaParte do dado pratico e terico do etnocentrismo (popularmente denominado racismo), responsvel pela discriminao de multides e povos inteiros em grande parte do planeta. Embora ela possa surgir a partir de experincias mltiplas, o exemplo mais claro e conhecido provm da teologia negra elaborada nos continentes americano e africano. Ao articular reflexo teolgica alternativa e as aspiraes do movimento de negritude, surge a teologia da inculturao ou teologia crist africana. Desenvolvida a partir de meados da dcada de sessenta sobretudo no Zaire, ela procura interpretar a mensagem crist em termos de conceitos africanos bantus. Na frica do Sul, a conscincia negra, despertada pelo movimento da negritude, faz com que nasa nos anos 70 a teologia negra, no cenrio do apartheid. De inicio ela tenta mostrar que Deus consentiu a existncia negra como forma legitima de existncia humana. Como teologia libertadora, a teologia negra parte da historia da experincia concreta de opresso-libertao do povo negro? Deportao da me frica, reduo condio subumana de escravo (sujeito compra e venda, em dependncia do Senhor branco). A luta dos negros inclui elementos polticos, econmicos, culturais, sociais e religiosos. Quando a questo negra e assumida em nvel de f, suscita a pergunta: como ser, total e plenamente, negro e cristo? Como recriar um cristianismo negro, superando os esteretipos do cristianismo branco, engendrado no contexto cultural centro-europeu e de matriz colonialista?O movimento negro eclesial apresenta vertente pratica e terica. A primeira, pratica crist libertadora, desenvolve-se bem mais que a reflexo sistemtica de natureza acadmica, a teologia negra. Vejamos seus aspectos deconstrutores e construtivos, tanto para a vida da Igreja como para a teologia propriamente dita. Enquanto postura critico-deconstrutora, a teologia negra questiona o etnocentrismo que contaminou o cristianismo ocidental. A concepo proveniente de uma etnia a branca com suas expresses culturais correspondentes erige-se na nica correta. Todas as outras passam a ser consideradas inferiores ou mesmo erradas. As outras formas de ser e explicar a realidade, veiculadas por outras etnias e culturas correspondentes, so tidas no mnimo como irracionais e primitivas, indignas de considerao. A teologia negra nascida nas igrejas evanglicas norte-americanas pe em relevo a fora desideologizadora da Palavra de Deus. A teologia negra de matiz catlico acentua outros elementos. O etnocentrismo branco deixou claras marcas na teologia catlica. Ignora-se toda a historia religiosa dos negros, anterior ou concomitante ao cristianismo. No mbito prtico, a discriminao se mostra at na restrio, vigente durante muito tempo, do acesso de negros hierarquia da igreja. Enquanto postura criativo-construtora, a teologia negra prope elementos vitais para curar a anemia branca que assola o cristianismo catlico. A teologia negra no trata da questo da negritude somente em perspectiva tnica, mas tambm cultural e religiosa. No tardam a surgir problemas com algumas instancias oficiais da igreja, que o acusam de induzir a alimentar o sincretismo. Os cristos afro-brasileiros reinterpretam cristmente suas expresses culturais e religiosas. No entanto, permanecem algumas perguntas? O que relativizar, que manter? Como compatibilizar, por exemplo, a f crist com o culto dos orixs e a comunicao com os antepassados mortos? O movimento de afirmao de afirmao de determinada etnia corre o risco de engendrar compreenses restritas. s vezes, recria-se o mito do paraso primitivo, como se a soluo da questo da identidade de determinada etnia consista fundamentalmente em conservar, quase em forma congelada, as expresses, valores e formas de comunicao de sua cultura originaria.Na trilha semelhante a teologia negra, partir da pratica de solidariedade junto as populaes indgenas, esta se elaborando uma teologia amerndia. A obra coletiva O rosto ndio de Deus deu passo importante em vista da realizao de tal programa. Na concepo dos protagonistas da teologia amerndia, os povos indgenas, principal experincia de alteridade da Amrica Latina, constituem potencialmente objeto e sujeito desta nova reflexo. Pem, antes de tudo, o desafio de reevangelizar os cristianismos sincrticos, construdos sobre base indgena, respeitando sua idiossincrasia e transformando-a em elemento configurador para a sntese crist do continente. Em varias partes da Amrica Latina, sobretudo na Bolvia, Guatemala, Peru e Mxico, grupos indgenas ensaiam sua prpria teologia, permitindo assim dar a razo de sua f e de sua esperana(Santo Domingo248). A Teologia ndia uma vertente da luta dos povos indgenas pela descolonizao ideolgica, pela conquista da palavra poltica e pala participao no discurso eclesial. A teologia ndia pode tornar-se instrumento importante na mo dos prprios povos indgenas, para fortalecer sua identidade e defender sua causa. A teologia negra, conforme seus protagonistas, apresenta hoje algumas exigncias: resgate da memria pela reconstruo da historia negada, participao afetiva e efetiva na causa do povo negro, f no Deus libertador e opo preferencial pelos empobrecidos, considerar os negros e as negras como objeto e sujeito da teologia e estimulo a produo coletiva. Embora tratando aqui como um enfoque teolgico distinto, a teologia negra e a amerndia inserem-se inequivocadamente na teologia das culturas.