Entrevista Zigmunt Balman Revista Cult

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Entrevista – Zygmunt BaumanTAGS: Entrevista

O sociólogo afirma que é preciso acreditar no potencial humano para que um outro mundo

seja possível 

Dennis de OliveiraZygmunt Bauman é um dos pensadores contemporâneos que mais têm produzido obras querefletem os tempos contemporâneos. ascido na !ol"nia em #$%&' o soci(logo tem um )ist(ricode vida que passa pela ocupa*+o nazista durante a ,egunda -uerra undial' pela ativamilitância em prol da constru*+o do socialismo no seu pa/s sob a direta influência da e0tinta1ni+o ,oviética e pela crise e desmoronamento do regime socialista. 2tualmente' vive na3nglaterra' em tempo de grande mobilidade de popula*4es na Europa. !rofessor emérito desociologia da 1niversidade de 5eeds' Bauman prop4e o conceito de 6modernidade l/quida7 paradefinir o presente' em vez do 89 batido termo 6p(s:modernidade7' que' segundo ele' virou maisum qualificativo ideol(gico.Bauman define modernidade l/quida como um momento em que a sociabilidade )umanae0perimenta uma transforma*+o que pode ser sintetizada nos seguintes processos; a

metamorfose do cidad+o' su8eito de direitos' em indiv/duo em busca de afirma*+o no espa*osocial< a passagem de estruturas de solidariedade coletiva para as de disputa e competi*+o< oenfraquecimento dos sistemas de prote*+o estatal =s intempéries da vida' gerando umpermanente ambiente de incerteza< a coloca*+o da responsabilidade por eventuais fracassos noplano individual< o fim da perspectiva do plane8amento a longo prazo< e o div(rcio e a iminenteaparta*+o total entre poder e pol/tica. 2 seguir' a /ntegra da entrevista concedida pelo soci(logo= revista >15?.CULT – Na obra Tempos líquidos, o senhor afirma ue o !o"er est# fora "a esfera"a !o$%ti&a e h# uma "e&a"'n&ia "a ativi"a"e "o !$ane(amento a $ongo !ra)o*Enten"o isso &omo !ro"uto "a &rise "as gran"es narrativas, !arti&u$armente a!+sa ue"a "os regimes "o Leste Euro!eu* iante "isso, - !oss%ve$ !ensar ain"a emum resgate "a uto!ia.

Zygmunt Bauman – !ara que a utopia nas*a' é preciso duas condi*4es. 2 primeira é a fortesensa*+o @ainda que difusa e inarticuladaA de que o mundo n+o est9 funcionandoadequadamente e deve ter seus fundamentos revistos para que se rea8uste. 2 segunda condi*+o éa e0istência de uma confian*a no potencial )umano = altura da tarefa de reformar o mundo' acren*a de que 6n(s' seres )umanos' podemos fazê:lo7' cren*a esta articulada com aracionalidade capaz de perceber o que est9 errado com o mundo' saber o que precisa sermodificado' quais s+o os pontos problem9ticos' e ter for*a e coragem para e0tirp9:los. Em suma'potencializar a for*a do mundo para o atendimento das necessidades )umanas e0istentes ou quepossam vir a e0istir.CULT – /or ue se fa$a tanto ho(e "e 0fim "as uto!ias1.Bauman – a era pré:moderna' a met9fora que simboliza a presen*a )umana é a do ca*ador.

 2 principal tarefa do ca*ador é defender os terrenos de sua a*+o de toda e qualquer interferência)umana' a fim de defender e preservar' por assim dizer' o 6equil/brio natural7. 2 a*+o doca*ador repousa sobre a cren*a de que as coisas est+o no seu mel)or est9gio quando n+o est+ocom reparos< de que o mundo é um sistema divino em que cada criatura tem seu lugar leg/timo efuncional< e de que mesmo os seres )umanos têm )abilidades mentais demasiado limitadas paracompreender a sabedoria e )armonia da concep*+o de Deus.9 no mundo moderno' a met9fora da )umanidade é a do 8ardineiro. O 8ardineiro n+o assumeque n+o )averia ordem no mundo' mas que ela depende da constante aten*+o e esfor*o de cadaum. Os 8ardineiros sabem bem que tipos de plantas devem e n+o devem crescer e que tudo est9sob seus cuidados. Ele trabal)a primeiramente com um arran8o feito em sua cabe*a e depois orealiza. Ele for*a a sua concep*+o prévia' o seu enredo' incentivando o crescimento de certostipos de plantas e destruindo aquelas que n+o s+o dese89veis' as ervas 6danin)as7. C do

 8ardineiro que tendem a sair os mais fervorosos produtores de utopias. ,e ouvimos discursos

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que pregam o fim das utopias' é porque o 8ardineiro est9 sendo trocado' novamente' pela ideiado ca*ador.CULT – 2 ue isso signifi&a !ara a humani"a"e "e ho(e.Bauman – 2o contr9rio do momento em que um dos tipos passou a prevalecer' o ca*ador n+opodia cuidar do global equil/brio das coisas' natural ou artificial. 2 nica tarefa do ca*ador éperseguir outros ca*adores' matar o suficiente para enc)er seu reservat(rio. 2 maioria dosca*adores n+o considera que se8a sua responsabilidade garantir a oferta na floresta para outros'que )a8a reposi*+o do que foi tirado. ,e as madeiras de uma floresta forem relativamenteesvaziadas pela sua a*+o' ele ac)a que pode se deslocar para outra floresta e reiniciar suaatividade. !ode ocorrer aos ca*adores que um dia' em um futuro distante e indefinido' o planetapoderia esgotar suas reservas' mas isso n+o é a sua preocupa*+o imediata' isso n+o é umaperspectiva sobre a qual um nico ca*ador' ou uma 6associa*+o de ca*adores7' se sentiriaobrigado a refletir' muito menos a fazer qualquer coisa.Estamos agora' todos os ca*adores' ou ditos ca*adores' obrigados a agir como ca*adores' sobpena de despe8o da ca*a' se n+o de sermos relegados das fileiras do 8ogo. +o é de admirar'portanto' que' sempre que estamos a ol)ar a nosso redor' vemos a maioria dos outros ca*adoresquase sempre t+o solit9ria quanto n(s. 3sso é o que c)amamos de 6individualiza*+o7. E

precisamos sempre tentar a dif/cil tarefa de detectar um 8ardineiro que contempla a )armoniapreconcebida para além da barreira do seu 8ardim privado. (s certamente n+o encontraremosmuitos encarregados da ca*a com interesse nisso' e sim entretidos com suas ambi*4es. Esse é oprincipal motivo para as pessoas com 6consciência ecol(gica7 servirem como alerta para todosn(s. Esta cada vez mais not(ria ausência do 8ardineiro é o que se c)ama de6desregulamenta*+o7.CULT – iante "isso, a esuer"a n3o tem !ossibi$i"a"es "e ter for4a so&ia$.Bauman – C (bvio que' em um mundo povoado principalmente por ca*adores' n+o )9 espa*opara a esquerda ut(pica. uitas pessoas n+o tratam seriamente propostas ut(picas. esmo quesaibamos como fazer o mundo mel)or' o grande enigma é se )9 recursos e for*a suficientes parapoder fazê:lo. Essas for*as poderiam ser e0ercidas pelas autoridades do engen)oso sistema doEstado:na*+o' mas' como observou acques 2ttali em La voie humaine' 6as na*4es perderam

influência sobre o curso das coisas e delegaram =s for*as da globaliza*+o todos os meios deorienta*+o do mundo' do destino e da defesa contra todas as variedades do medo7. E as for*asda globaliza*+o s+o tudo' menos instintos ou estratégias de 68ardineiros7' favorecem a ca*a e osca*adores da vez. O Thesaurus dicion9rio da l/ngua inglesa' de #F$%G de Hoget' obra aclamadapor seu fiel registro das sucessivas mudan*as nos usos verbais' tem todo o direito de listar oconceito de ut(pico como 6fantasia7' 6fant9stico7' 6fict/cio7' 6impratic9vel7' 6irrealista7' 6poucorazo9vel7 ou 6irracional7. ?estemun)ando assim' talvez' o fim da utopia.,e digitarmos a palavra utopia no portal de buscas -oogle' encontraremos cerca de I mil)4es eIJJ mil sites' um nmero impressionante para algo que estaria 6morto7. Kamos' porém' a umaan9lise mais atenta desses sites. O primeiro da lista e' indiscutivelmente' o mais impressionanteé o que informa aos navegantes que 61topia é um dos maiores 8ogos livres interativos online domundo' com mais de FJ mil 8ogadores7. Eu n+o fiz uma pesquisa em todos os I mil)4es de siteslistados' mas a impress+o que tive ap(s uma leitura de uma amostra aleat(ria é que o termoutopia aparece em marcas de empresas de cosméticos' de design de interiores' de lazer paraferiados' bem como de decora*+o de casas. ?odas as empresas fornecem servi*os para pessoasque procuram satisfa*4es individuais e escapes individuais para desconfortos sofridosindividualmente.CULT – Nesta so&ie"a"e $%ui"o5mo"erna, &omo fi&a a i"eia "e !rogresso e "ef$u6os "e tem!o.Bauman – 2 ideia de progresso foi transferida da ideia de mel)oria partil)ada para a desobrevivência do indiv/duo. O progresso é pensado n+o mais a partir do conte0to de um dese8ode corrida para a frente' mas em cone0+o com o esfor*o desesperado para se manter na corrida. Kocê ouve atentamente as informa*4es de que' neste ano' 6o Brasil é o nico local com sol no

inverno7'neste inverno' principalmente se você quiser evitar ser comparado =s pessoas quetiveram a mesma ideia que você e foram para l9 no inverno passado. Ou você lê que deve 8ogar

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fora os ponc)os que estiveram muito em voga no ano passado e que agora' se você os vestir'parecer9 um camelo. Ou você aprende que usar coletes e camisetas deve 6causar7 na temporada'pois simplesmente ninguém os usa agora.O truque é manter o ritmo com as ondas. ,e n+o quiser afundar' manten)a:se surfando L e issosignifica mudar o guarda:roupa' o mobili9rio' o papel de parede' o ol)ar' os )9bitos' em suma' você mesmo' quantas vezes puder. Eu n+o precisaria acrescentar' uma vez que isso deva ser(bvio' que essa ênfase em eliminar as coisas L abandonando:as' livrando:se delas L' mais quesua apropria*+o' a8usta:se bem = l(gica de uma economia orientada para o consumidor. ?erpessoas que se fi0em em roupas' computadores' m(veis ou cosméticos de ontem seriadesastroso para a economia' cu8a principal preocupa*+o' e cu8a condi*+o sine qua non desobrevivência' é uma r9pida acelera*+o de produtos comprados e vendidos' em que a r9pidaelimina*+o dos res/duos se tornou a vanguarda da indstria.CULT – Neste mun"o "e 0&a4a"ores1, e n3o "e (ar"ineiros, n3o h# ent3o umauto!ia !oss%ve$. 2 0aui e agora1 se im!7e &omo a 8ni&a refer'n&ia "a e6ist'n&iahumana.Bauman – O problema é que' uma vez tentada' a ca*a se transforma em compuls+o'dependência e obsess+o. 2tingir uma lebre é um anticl/ma0 que s( se torna atraente com a

perspectiva de uma nova ca*a' com a esperan*a de que essa ca*a ser9 a mais deliciosa @ou anica deliciosaMA. 2pan)ar a lebre prenuncia o fim de todas as e0pectativas' salvo se outraca*ada for plane8ada e imediatamente empreendida. ,er9 que isso é o fim da utopiaM Em umaspecto' é L na medida em que as primeiras utopias modernas previam um ponto em que otempo c)egaria a uma paragem' na verdade' o fim do tempo como )ist(ria. +o e0iste tal pontona vida de um ca*ador' um momento em que se poderia dizer que o trabal)o foi feito' a miss+o'cumprida' e' assim' poder:se:ia ol)ar para a frente' para o descanso e gozo do saque' a partir deagora até a eternidade.Em uma sociedade de ca*adores' uma perspectiva de fim da ca*a n+o é tentadora' masassustadora L uma vez que significa uma derrota pessoal. Os c)ifres anunciam o in/cio de umanova aventura' a doce mem(ria e a ressurrei*+o das aventuras do passado< n+o )aver9 fim =emo*+o universalN ,( eu que fiquei de lado' e0clu/do' impedido de usufruir as alegrias dos

outros' apenas um espectador passivo do outro lado do muro' apenas vendo a outra parte' masproibido de participar.,e' em uma vida cont/nua e continuada' a ca*a é uma utopia' ela é L ao contr9rio das outras Luma utopia sem nen)um efeito. 2 utopia torna:se um fato bizarro se for medida por normasortodo0as< as utopias cl9ssicas prometiam o fim da labuta' mas a utopia dos ca*adoresencapsula o son)o de uma labuta que nunca termina. 2o contr9rio das utopias de outrora' autopia dos ca*adores n+o oferece sentido nen)um = vida' verdadeira ou fraudulenta. Ela apenasa8uda a perseguir o significado da vida longe do esp/rito da vida. ?endo redesen)ado o curso da vida em uma intermin9vel série de persegui*4es autocentradas' cada epis(dio vivido como umaabertura para o pr(0imo' ela @a utopiaA n+o oferece oportunidade de refle0+o sobre a dire*+o e osentido da sua totalidade. uando vem finalmente uma ocasi+o' um momento de queda ou deproibi*+o da vida de ca*a' geralmente é tarde demais para a refle0+o sobre a maneira desuportar a vida' da pr(pria vida como a vida dos outros; é demasiado tarde para se opor = formaatual da vida.CULT – 9as os sonhos !ersistem, n3o. 2 ser humano n3o !o"e viver sema&re"itar em a$guma &oisa, ain"a ue se(a a$go fora "o seu "om%nio ime"iato* E o"ese(o !or um outro mun"o !oss%ve$ !ersiste e mobi$i)a v#rios setores "aso&ie"a"e, !arti&u$armente &om a !er&e!43o &a"a ve) mais forte "as "ifi&u$"a"es"e reso$ver os !rob$emas "a humani"a"e*Bauman – Em um not9vel artigo sobre a persistência da utopia intitulado 6!ersistent utopia7@%JJFA' iguel 2bensour cita Pilliam orris @ A dream of John Ball, Elec BooQ' %JJ#A' queescreve em #FFR que os )omens lutam e perdem a batal)a' e as coisas que eles lutaram paraacontecer' apesar da derrota' transformam:se para n+o ter o mesmo significado que antes' e

outros )omens têm de lutar por aquilo que agora se entende por outro nome. orris escreveusobre os seres )umanos como tais e sugere que lutam por uma 6coisa que n+o é7< é a forma

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como as pessoas s+o' é o car9ter do ser )umano. O 6n+o7 @nicht A como Ernst Bloc) salientou 6é afalta de algo e também o fugir do que falta7< assim' é o que falta para conduzir. ,e estivermos deacordo com orris' ir/amos sempre ter utopias a ser elaboradas' 89 que e0press4essistematizadas como essa fazem parte do aspecto crucial da natureza )umana. 1topias foramtodas as tentativas de enunciar e descrever em detal)es a coisa para a qual a pr(0ima luta seriadirigida. otamos' contudo' que todas as utopias escritas por orris' antecessores econtemporâneos foram esquemas de um mundo em que as batal)as de coisas que n+o s+o n+oest+o longe dos cart4es. Essas batal)as n+o eram e0igidas. Ent+o' se estivermos de acordo comorris' a natureza das coisas para as quais as pessoas lutavam era o fim da guerra' o fim dasnecessidades e dos deveres' e o dese8o e a conveniência de ir = luta. E a grande coisa quemanteve proveniente a ideia de lutar n+o pensando na batal)a perdida' mas em seu significado eem incitar outras pessoas a lutar novamente pela mesma coisa com outro nome' foi o Estado'que n+o usa as m+os para lutar.?emos as )ostilidades que reaparecem ap(s o armist/cio' que ficam muito aquém do ê0tase dequem lutou e esperava pela paz. 2 inquieta*+o do compulsivo' obsessivo' viciado ca*ador deutopias foi impelida e sustentada por um dese8o de descanso. 2s pessoas corriam para a batal)aque sempre persegue o son)o. Outra caracter/stica das utopias de Pilliam orris' e por quase

um século depois' foi o seu radicalismo.CULT – 2 ue vem a ser 0ra"i&a$1.Bauman – 2tos' empresas' meios e medidas podem ser c)amados de 6radicais7 quando elesc)egam até suas 6ra/zes7' =s de um problema' um desafio' uma tarefa. ote' contudo' que osubstantivo latinoradi ' do qual se origina o ad8etivo 6radical7' diz respeito n+o s( =s ra/zes' mastambém a funda*4es e origens. O que essas três no*4es L raiz' funda*4es e origens L têm emcomumM Dois atributos.!rimeiro; em circunstâncias normais' o material de todos os três s+o referentes escondidos da vista e imposs/veis de ser analisados' muito menos tocados diretamente. ualquer coisa queten)a crescido em um deles' como troncos ou caules' no caso das ra/zes' a edifica*+o' no casodas funda*4es' ou as consequências' no caso das origens' foi sobreposta sobre sua parte inferior'cobriu:a e depois emergiu escondida da vis+o. !or isso' tem que ser' primeiro' perfurada' as

partes lan*adas fora do camin)o ou tomadas = parte' se se dese8a um dos ob8etos segmentadosquando pensar ou agir radicalmente. ,egundo; no decurso do tril)ar para esses ob8etivos' ocrescimento desse material deve ser desconstru/do' ou materialmente empurrado para fora docamin)o' ou desmantelado. 2 probabilidade de que' a partir do trabal)o dedesconstru*+oSdesmontagem das metas' emer8am todas as deficiências é alta. ?omar umaatitude radical sinaliza para a inten*+o da destrui*+o L ou mel)or' de assumir o risco dadestrui*+o' mais frequentemente o significado de uma destrui*+o criativa L' destrui*+o nosentido de um lugar para limpeza' ou para lavrar o solo' preparando:o para acomodar outrostipos de ra/zes. 2 pol/tica é radical se ela aceita todas as condi*4es e se orienta por todas essasinten*4es e ob8etivos.CULT – Uma "as &ara&ter%sti&as "os tem!os $%ui"o5mo"ernos - a "e&a"'n&ia "o!$ane(amento a $ongo !ra)o* !oss%ve$ um !ensamento &r%ti&o e uma uto!ia neste&onte6to "e ue"a "a !ers!e&tiva "o !$ane(amento.Bauman – Hussel acoby prop4e distinguir duas tradi*4es' aparentemente coincidentes' masn+o necessariamente ligadas' tradi*4es do moderno pensamento ut(pico; o modelo @o pro8etoutopista de tra*ar o futuro em polegadas e minutosA e a tradi*+o iconoclasta @os utopistasiconoclastas son)aram com uma sociedade superior' mas recusaram:l)e dar medidas precisasA.!ropon)o que se manten)a o nome' como sugere acoby para o segundo' como tradi*+o dautopia do 6n+o pro8eto7. 2 caracter/stica definidora dessa tradi*+o do segundo é a inten*+o dedesconstruir' de desmistificar e' em ltima instância' de desacreditar os valores da vidadominante e suas estratégias de tempo' através da demonstra*+o de que' contrariamente =scren*as atuais' em vez de assegurarem uma sociedade ou vida superior' constituem umobst9culo no camin)o para ambas.

Em outras palavras' o que eu propon)o para descompactar o conceito de utopia iconoclasta' emprimeiro lugar' é sobretudo a afirma*+o de uma possibilidade de uma outra realidade social L

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possibilidade ainda aterrada na revis+o cr/tica dos meios e formas de apresentar a vida. ,endoeste o principal interesse e a preocupa*+o do utopista iconoclasta' n+o é de admirar que aalternativa ao atual permane*a incompleta< a principal causa do utopismo iconoclasta é apossibilidade de uma alternativa = realidade social' apesar de o seu desen)o estar poucodesenvolvido. 2s utopias iconoclastas' presumo' s+o aberta ou tacitamente o camin)o para umasociedade superior' n+o se conduzem por meio de desen)os ou consel)os' mas sim por meio darefle0+o cr/tica sobre pr9ticas e cren*as e0istentes de forma a L para recordar uma ideia deBloc) L e0plicitar que 6uma coisa est9 faltando7 e assim 6inspirar a unidade para a sua cria*+o erecupera*+o7.