Envelhecimento populacional em servidores públicos

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XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E REFLEXOS NO QUADRO DE SERVIDORES DE UM INSTITUTO PÚBLICO DE PESQUISAS Fernanda Maria Guadalupe Nunes 1 , Mauro André Gouveia da Cruz 2 , Rogéria de Arantes Gomes Eller 3 , Jorge Luiz Knupp Rodrigues 4 1 e 2 Unitau/Mestrandos em Gestão e Desenvolvimento Regional – MGDR – Universidade de Taubaté – Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro – 12020-040 – Taubaté – SP – Brasil 3 e 4 Unitau/Professores Doutores Pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté – Rua Expedicionário Ernesto Pereira, 225, Portão 2, CEP 12020-030 - Taubaté/SP – Brasil 1 [email protected] 2 [email protected] 3 [email protected] 4 [email protected] Resumo - O Setor Público tem sofrido mudanças significativas nas suas organizações, como por exemplo, formas diversas de enxugamento dos seus quadros, aumento significativo de aposentadorias e a reposição limitada de pessoal. Muitas vezes essas mudanças não levam em conta características da população trabalhadora, entre elas destacamos o envelhecimento em relação ao trabalho. A força de trabalho está envelhecendo e continuará a envelhecer, este problema tem se tornado uma preocupação crescente dos gestores nas organizações, sendo tema de discussões e estudos. Este trabalho tem como objetivo um levantamento teórico sobre envelhecimento populacional e apresentar através de levantamento de dados, evidências desta problemática em um Instituto Público de Pesquisas. Palavras Chave: Envelhecimento, Instituto Público de Pesquisas, Quadro de Servidores Ativos Área do conhecimento: Ciências Sociais e Aplicadas Introdução Nos dias de hoje, estamos testemunhando um novo fenômeno na história da humanidade: o extraordinário aumento populacional de idosos (HEKMAN, 2004). O processo de transição demográfica, que em poucas décadas mudou o padrão de fecundidade feminino brasileiro, provocou forte desaceleração na taxa de crescimento demográfico do país. A associação da redução da fecundidade com a queda da mortalidade reflete-se na evolução da composição etária do País, que segue em processo de envelhecimento. Com tais mudanças, o reflexo, no Brasil, foi de uma elevação da expectativa média de vida ao nascerem e, atualmente, em valores absolutos, os idosos chegam a 14 milhões de pessoas, uma das maiores populações de idosos do mundo, superior, inclusive, à de países como França, Itália e Grã-Bretanha. Uma estimativa conservadora projeta, para o ano 2025, uma população superior a 32 milhões de idosos – a sexta maior do planeta (HEKMAN, 2004). Ainda segundo Hekman (2004), a expectativa de vida será de 81 anos em 2050, o que significa que uma porção de jovens trabalhadores deverá sustentar a aposentadoria de um número maior de aposentados. Neste sentido, um dos grandes problemas internos nas Instituições Públicas, que vem preocupando seus dirigentes e de modo geral o Governo Federal, refere-se ao envelhecimento de seus servidores, e a não reposição rápida do quadro de pessoal. Neste trabalho faz-se um estudo bibliográfico sobre o envelhecimento da população e um levantamento da idade dos servidores de um Instituto Público de Pesquisas, bem como dos servidores aposentados no período de 1991 a 2009 e dos servidores que se mantém trabalhando, mas já possuem os requisitos para a aposentadoria. Metodologia

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Artigo sobre o envelhecimento de servidores públicos. Fernanda Maria Guadalupe Nunes1 , Mauro André Gouveia da Cruz2 , Rogéria de Arantes Gomes Eller3 , Jorge Luiz Knupp Rodrigues4 1 e 2 Unitau/Mestrandos em Gestão e Desenvolvimento Regional – MGDR – Universidade de Taubaté – Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro – 12020-040 – Taubaté – SP – Brasil 3 e 4 Unitau/Professores Doutores Pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté – Rua Expedicionário Ernesto Pereira, 225, Portão 2, CEP 12020-030 - Taubaté/SP – Brasil 1 [email protected] 2 [email protected] 3 [email protected] 4 [email protected]

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ENVELHECIMENTO POPULACIONAL E REFLEXOS NO QUADRO DE SERVIDORES DE UM INSTITUTO PÚBLICO DE PESQUISAS

Fernanda Maria Guadalupe Nunes 1, Mauro André Gouveia da Cruz 2, Rogéria de Arantes Gomes Eller 3, Jorge Luiz Knupp Rodrigues 4

1 e 2 Unitau/Mestrandos em Gestão e Desenvolvimento Regional – MGDR – Universidade de Taubaté – Rua Visconde do Rio Branco, 210, Centro – 12020-040 – Taubaté – SP – Brasil

3 e 4 Unitau/Professores Doutores Pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Gestão e Desenvolvimento Regional da Universidade de Taubaté – Rua Expedicionário Ernesto Pereira, 225, Portão

2, CEP 12020-030 - Taubaté/SP – Brasil

1 [email protected] 2 [email protected]

3 [email protected] 4 [email protected]

Resumo - O Setor Público tem sofrido mudanças significativas nas suas organizações, como por exemplo, formas diversas de enxugamento dos seus quadros, aumento significativo de aposentadorias e a reposição limitada de pessoal. Muitas vezes essas mudanças não levam em conta características da população trabalhadora, entre elas destacamos o envelhecimento em relação ao trabalho. A força de trabalho está envelhecendo e continuará a envelhecer, este problema tem se tornado uma preocupação crescente dos gestores nas organizações, sendo tema de discussões e estudos. Este trabalho tem como objetivo um levantamento teórico sobre envelhecimento populacional e apresentar através de levantamento de dados, evidências desta problemática em um Instituto Público de Pesquisas. Palavras Chave: Envelhecimento, Instituto Público de Pesquisas, Quadro de Servidores Ativos Área do conhecimento: Ciências Sociais e Aplicadas Introdução

Nos dias de hoje, estamos testemunhando um novo fenômeno na história da humanidade: o extraordinário aumento populacional de idosos (HEKMAN, 2004).

O processo de transição demográfica, que em poucas décadas mudou o padrão de fecundidade feminino brasileiro, provocou forte desaceleração na taxa de crescimento demográfico do país. A associação da redução da fecundidade com a queda da mortalidade reflete-se na evolução da composição etária do País, que segue em processo de envelhecimento. Com tais mudanças, o reflexo, no Brasil, foi de uma elevação da expectativa média de vida ao nascerem e, atualmente, em valores absolutos, os idosos chegam a 14 milhões de pessoas, uma das maiores populações de idosos do mundo, superior, inclusive, à de países como França, Itália e Grã-Bretanha. Uma estimativa conservadora projeta, para o ano 2025, uma população superior

a 32 milhões de idosos – a sexta maior do planeta (HEKMAN, 2004).

Ainda segundo Hekman (2004), a expectativa de vida será de 81 anos em 2050, o que significa que uma porção de jovens trabalhadores deverá sustentar a aposentadoria de um número maior de aposentados.

Neste sentido, um dos grandes problemas internos nas Instituições Públicas, que vem preocupando seus dirigentes e de modo geral o Governo Federal, refere-se ao envelhecimento de seus servidores, e a não reposição rápida do quadro de pessoal. Neste trabalho faz-se um estudo bibliográfico sobre o envelhecimento da população e um levantamento da idade dos servidores de um Instituto Público de Pesquisas, bem como dos servidores aposentados no período de 1991 a 2009 e dos servidores que se mantém trabalhando, mas já possuem os requisitos para a aposentadoria.

Metodologia

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O trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica em artigos, teses e web sites e de levantamento de dados em uma Instituição Pública de Pesquisas, com o objetivo de apresentar evidências do envelhecimento do corpo de servidores da Instituição.

Processo de envelhecimento populacional

No início do século XX, um brasileiro vivia em média 33 anos, ao passo que hoje sua expectativa de vida ao nascer constitui 68 anos. O Brasil é um país que envelhece a passos largos (VERAS, 2003 apud FERNANDES; SANTOS, 2007). O mesmo autor ressalta também que, em nosso país, o número de idosos passou dos dois milhões, em 1950, para seis milhões em 1975 e, para 15,4 milhões, em 2002, significando um aumento de 700%. Estima-se, ainda, para 2020, que esta população alcance os 32 milhões.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), para os países em desenvolvimento, a idade que classifica a pessoa como idosa é a partir dos 60 anos.

Wajnman (1997 apud GIATTI; BARRETO, 2003), estudando no Brasil as perspectivas de crescimento da População Economicamente Ativa (PEA), identifica que o segmento dessa população que mais cresceu no período entre 1980 e 1990 foi o de 25 a 49 anos, e entre 2000 e 2020 será o segmento correspondente às pessoas acima de cinqüenta anos, confirmando a tendência de envelhecimento da PEA.

Conforme Camarano (2002 apud FERNANDES; SANTOS, 2007), as proporções da população “mais idosa”, ou seja, com oitenta anos ou mais, no total da população brasileira, está aumentando em ritmo bastante acelerado, embora ainda represente um contingente pequeno. De 166 mil pessoas em 1940, o segmento “mais idoso” passou para quase 1,9 milhões em 2000.

Tal mudança demográfica deve-se a vários fatores, como o controle de muitas doenças infecto-contagiosas e potencialmente fatais, sobretudo a partir da descoberta dos antibióticos, dos imunobiológicos e das políticas de vacinação em massa; a diminuição das taxas de fecundidade e queda da mortalidade infantil, ocorrendo graças à ampliação de redes de abastecimento de água e esgoto e da cobertura da atenção básica à saúde; a acelerada urbanização e as mudanças nos processos produtivos, de organização do trabalho e da vida (MINAYO, 2000 apud FERNANDES; SANTOS, 2007).

Com o envelhecimento da população trabalhadora e as necessidades específicas de saúde da população idosa (LIMA-COSTA, 2000 apud GIATTI; BARRETO, 2003), alguns autores têm apontado a importância de investigar as

desigualdades em saúde entre os idosos através da qualificação do trabalho.

Em um desses estudos, Marmot; Shipley (1996 apud GIATTI; BARRETO, 2003) identificaram uma associação entre menor qualificação no trabalho e maior morbidade e mortalidade. Esta associação seria explicada pela relação direta entre qualificação ocupacional e escolaridade, renda, auto-estima e condições de vida de um modo geral.

A simples situação de estar trabalhando tem sido apontada como um potente e independente fator preditivo de maior sobrevida (BLANC et al., 1994 apud GIATTI; BARRETO, 2003).

Pouco se sabe sobre os determinantes da permanência na vida ativa em idades mais avançadas em países em desenvolvimento como o Brasil. Estudos sobre a mortalidade em população adulta indicam que o viés do trabalhador sadio é mais acentuado no Brasil que em países desenvolvidos (BARRETO et al., 1996 apud GIATTI; BARRETO, 2003).

Chopra (1994 apud ODEBRECHT, 2003) acredita que pelo fato de a mente influenciar cada célula existente no corpo, o envelhecimento humano é um processo fluido e cambiável; pode ser acelerado, reduzido, parar por algum tempo e até mesmo reverter-se.

Segundo Odebrecht (2003) o elemento chave do envelhecimento parece ser a forma como uma pessoa leva a vida, isto é, o saber viver. As ações e reações diante dos fatos da vida provocam seqüelas que culminam na forma de envelhecer.

A análise da tarefa de cada profissão pode auxiliar a esclarecer a relação entre algumas disfunções encontradas no trabalhador, que podem ou não estar relacionadas com o tempo que o trabalhador exerce a profissão. Cada tarefa tem seus próprios equipamentos e constrangimentos específicos, alguns dos quais podem se tornar onerosos com a idade, tais como: intensas e contínuas cargas físicas de trabalho, constrangimento postural, ritmo e tempos rígidos, alta precisão, trabalho em turnos diferentes entre outros (LAVILLE, 1989 apud ODEBRECHT, 2003).

Da análise do trabalho buscam-se elementos para descrevê-lo, basicamente, segundo: a) as tarefas a serem executadas – critérios de fisiologia; b) os riscos impostos ao trabalhador – verificação das condições do ambiente; c) a adequação do posto de trabalho ao trabalhador – critérios de produtividade; e d) a sua organização - ritmos.

Segundo Odebrecht (2003) em estudos realizados na Finlândia por Ilmarinen (1997) e na Dinamarca por Borg et al (1997), foi constatado que quanto maior o esforço físico, menor é a capacidade para o trabalho ao longo dos anos – o que reforça a tese de que a capacidade física

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diminui mais acentuadamente com a idade do que as outras capacidades (mental e social) do ser humano.

O declínio funcional de uma pessoa (homeostenose) tem início segundo Santana (2001 apud ODEBRECHT, 2003) a partir dos 30 anos, sendo gradual e linear além de ser variável entre as pessoas e, numa mesma pessoa, a taxa de declínio nem sempre é uniforme.

No Brasil existem poucos estudos com dados que relacionem as características de grupo de pessoas ao longo da vida, seus hábitos, saúde e envelhecimento. Na literatura internacional, poucas são as pesquisas, sobre o processo de envelhecimento, com resultados longitudinais (ODEBRECHT, 2003).

De modo geral, o envelhecimento não limita para o trabalho. O envelhecimento compreende diversas facetas, que se conhecidas e respeitadas, permitem exercer quase que qualquer atividade laboral, mesmo com idade avançada. Hayflick (1997 apud ODEBRECHT, 2003) destaca algumas destas facetas, cujas características são predominantes, tais como: a redução da capacidade de adaptação, a redução da velocidade do desempenho e o aumento da suscetibilidade à doença.

O lado positivo de saber aproveitar melhor o tempo e as energias disponíveis, concentrando-se nas tarefas mais importantes parece ser atributo dos profissionais mais velhos, dando lugar a novas abordagens da ergonomia, que estabelecem modelos que incluem a experiência, a familiaridade com as situações de trabalho e o ambiente no qual o trabalho é realizado (CONI; DAVISON; WEBSTER; 1996 apud ODEBRECHT, 2003).

Geralmente o ritmo do envelhecimento das pessoas nascidas no mesmo ano é igual até elas chegarem aos vinte e tantos, trinta e poucos anos – todas são saudáveis e capazes exceto as pessoas que herdaram doenças genéticas raras ou que sofreram acidentes graves. O ponto de transição entre o crescimento e o envelhecimento se dá entre os 28 e 36 anos. Em geral cada função biológica diminui 3 a 6% por década (ROIZEN, 1999 apud ODEBRECHT, 2003).

Segundo Ilmarinen et al. (1991 apud BELLUSCI; FISCHER, 1999) e Ilmarinen (1993, 1994, 1995 apud BELLUSCI; FISCHER, 1999), quando o trabalhador tem mais experiência nas tarefas que executa, as exigências do trabalho, especialmente as mentais, tendem a aumentar, podendo levar ao envelhecimento funcional precoce.

As exigências e os fatores de estresse no trabalho precisam estar equilibrados com a capacidade dos trabalhadores para que eles não envelheçam funcionalmente. Há necessidade de

uma avaliação contínua dos agentes que desencadeiam sintomas, lesões e doenças e das melhorias das condições de trabalho, procurando soluções para incrementar o equilíbrio da relação entre capacidade e demandas do trabalho. Essas soluções são baseadas em estudos sobre o ambiente de trabalho, as alterações fisiológicas, as mudanças na capacidade para o trabalho, e, em especial, na influência da organização e dos aspectos físicos e ergonômicos no trabalho. É enfatizada a necessidade de flexibilização das tarefas e da identificação de requisitos específicos para promover a saúde na população de trabalhadores que perderam a capacidade funcional para o trabalho. Também é recomendado que se leve em conta o estilo de vida e as condições de trabalho, com o objetivo de otimizar a capacidade funcional e a saúde de trabalhadores. Ao mesmo tempo promover eficiência econômica e produtiva para garantir que a habilidade e experiência sejam totalmente utilizadas (BELLUSCI; FISCHER, 1999).

Aposentadoria

Segundo Paschoal (2002 apud CINTRA; RIBEIRO, 2007), economicamente, a pessoa pode ser caracterizada idosa a partir do momento em que cessa sua vida produtiva ou, também, quando se aposenta.

No Brasil, ser velho muitas vezes significa estar excluído dos lugares sociais, onde o mais valorizado é o mundo do trabalho (MERCADANTE, 2002 apud CINTRA; RIBEIRO, 2007).

Para Gatto (2002 apud CINTRA; RIBEIRO, 2007), a perda de ordem econômica social chega junto com a aposentadoria, onde há uma ruptura do vínculo profissional e do papel social. Geralmente, a aposentadoria vem acompanhada com um declínio do padrão de vida e a pessoa enfrenta esta nova etapa sem estar preparada emocionalmente. Torna-se comum, portanto, o surgimento de doenças e depressão, devido à falta de um fechamento bem elaborado de um ciclo importante da vida.

Segundo Veras, Ramos e Kalache (1987 apud CINTRA; RIBEIRO, 2007), na maioria dos países, os sistemas de aposentadoria foram fundados há pouco mais de meio século. No início foi instituído como uma forma de assistência e, cada vez mais, se desenvolve como um direito do trabalhador. Durante o período ativo é obrigatória a contribuição do indivíduo, assim, após o período funcional a aposentadoria garante uma renda vitalícia, a fim de manter a sua subsistência. Portanto, a aposentadoria permite a rotatividade no trabalho, onde os mais velhos são substituídos pelos mais jovens. A aposentadoria, depois de

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determinada idade afasta as pessoas do trabalho e garante o direito de serem mantidas financeiramente pelo sistema.

Para Zanelli; Silva (1996 apud CINTRA; RIBEIRO, 2007), a vida humana é organizada pelo trabalho. Os horários, atividades, relacionamentos pessoais são determinados de acordo com as exigências deste. Portanto a preocupação consigo mesmo é deixada um pouco de lado, tornando-se comum a desorientação da pessoa quando pára de trabalhar, sentindo-se inútil e desestruturada emocionalmente. Na nossa sociedade, o trabalho é definidor do sentido da existência humana e, mesmo antes de entendermos o significado de trabalho, estamos sendo preparados para este através do processo de socialização. Por isso, o trabalho é como o núcleo da vida e quando se é tirada a oportunidade de conviver naquele ambiente e com aquele grupo de pessoas é comum ocorrer um processo de negação, principalmente se a aposentadoria vier de forma abrupta. Concluiu-se que os idosos que mantém boas condições de saúde, autonomia física e mental, conseguem assegurar os papéis que consideram importantes na sociedade. Portanto, a sociedade deve rever os conceitos sobre os idosos e considerar o potencial que estes possuem, possibilitando até mesmo a re-inserção no mercado de trabalho, caso esta seja da vontade do idoso.

No contexto do envelhecimento populacional, inúmeros fatores se inter-relacionam. Entre eles, os de maior relevância são aqueles ligados à previdência social e à saúde, os quais constituem desafios para o Estado, setores produtivos e famílias. Levando em conta as implicações do envelhecimento para a sociedade, o Banco Mundial, em 1994, afirma, através de um documento, que a crescente expectativa de vida nos países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, estava provocando a “crise da velhice”, traduzida por uma pressão nos sistemas de previdência social a ponto de pôr em risco não somente a segurança econômica dos idosos, mas também o próprio desenvolvimento desses países (SIMÕES, 1997 apud FERNANDES; SANTOS, 2007).

Nas sociedades industrializadas, Giddens (1999 apud FERNANDES; SANTOS, 2007) ressalta que o envelhecimento constitui um grande problema por causa da bomba-relógio da aposentadoria.

O Programa de Preparação para a Aposentadoria (PPA) é uma tentativa de levar os pré-aposentados a discutirem e pensarem alternativas de atividades, para um melhor enfrentamento e fortalecimento para uma vida com mais qualidade, após a aposentadoria. (SANTOS, 2007).

O PPA surgiu nos Estados Unidos, na década de 50, iniciando-se com informações sobre o sistema de aposentadorias e pensões e posteriormente vindas a ampliar-se com conteúdos relacionados à saúde e questões sociais. No Brasil, essa iniciativa ocorreu na década de 70, a partir do SESC, no Estado de São Paulo e era composto por dois módulos de atividades teórico práticas: no primeiro discutia-se as questões do envelhecimento; no segundo, apresentavam-se recursos socioculturais e de serviços da comunidade, onde os futuros aposentados pudessem integrar-se. As avaliações deste modelo foram satisfatórias e os pré-aposentados já se engajavam em outras atividades, antes mesmo da aposentadoria. (SANTOS, 2007).

A empresa que oferece o PPA para os trabalhadores apresenta como vantagens: favorecer a renovação do quadro funcional em todos os níveis e a redução na folha de pagamento; exercer a sua responsabilidade social na comunidade funcional; elevar os níveis de produtividade, por meio do desenvolvimento de um processo de repasse de know-how do trabalhador pré-aposentado para aquele que o substituir; desenvolver a motivação e a participação, com influência no clima organizacional; contribuir com a imagem da empresa junto aos trabalhadores e ao mercado; elevar a qualidade de vida no mundo do trabalho (SANTOS, 2007).

O trabalhador necessita ser preparado para a aposentadoria desde o seu primeiro dia de atividade. Implantar programas de preparação para aposentadoria nas empresas significa preocupar-se com a qualidade de vida do trabalhador, principalmente em um período que ele mais precisa estar apto a arcar com responsabilidades maiores e rendimentos menores, em um país de muitas instabilidades financeiras como o Brasil (SANTOS 2007).

Levantamento de dados em um Instituto Público de Pesquisas

Segundo HABE (1993), em setembro de 1991 o quadro de pessoal do Instituto Público de Pesquisas estudado, tinha um total de 1.522 servidores ativos com idade média de 36,7 anos. Conforme dados levantados, atualmente a Instituição totaliza 1.081 servidores com idade média de 50 anos.

Apresentamos a seguir a distribuição atual dos servidores ativos desse Instituto Público de Pesquisas, nas carreiras por faixa etária, separada por sexo feminino (Tabela 1) e por sexo masculino (Tabela 2). O quadro de servidores ativos é

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composto por 25,53% de mulheres e 74,47 % de homens. Tabela 1 – Distribuição do quadro de servidores do sexo feminino: faixa etária X carreira

Faixa Etária Desenvolvimento

Gestão Pesquisa

24 a 45 37 41 10

46 a 65 61 94 30

66 a 83 01 02 00

Total 99 137 40

Fonte: SIAPE (2009) Tabela 2 – Distribuição do quadro de servidores do sexo masculino: faixa etária x carreira

Faixa etária Desenvolvimento

Gestão Pesquisa

24 a 45 113 28 20

46 a 65 325 173 127

66 a 83 04 01 13

Total 443 202 160

Fonte: SIAPE (2009) Tabela 3 – Distribuição do quadro de servidores x faixa etária

Faixa Etária nº servidores Percentual

24 a 45 249 23,03%

46 a 65 811 75,20%

66 a 83 21 1,95%

Total 1081 100 %

Fonte: SIAPE (2009)

Em 1997 e 1998, expectativas de mudanças na forma de concessão da aposentadoria fez um grande número de servidores correrem para garantir seus direitos. A partir de 1999, com alterações na legislação os servidores tiveram que se enquadrar em regras mais rígidas de concessão, o que levou a uma queda no número de aposentadorias. Desde 2006 o fluxo de solicitações vem gradativamente crescendo, devido o cumprimento das regras atuais de aposentadoria.

Apresentamos na Tabela 4, a evolução anual de servidores aposentados, no período de 1991 a 2009, no Instituto estudado. Tabela 4 – Evolução das aposentadorias no período de 1991 e 2009

Ano nº. aposentados

1991 a 1995 199

1996 a 2000 192

2001 a 2005 32

2006 a 2009 50

Total 473

Fonte: SIAPE (2009)

O abono de permanência é um incentivo criado pelo Governo Federal em dezembro de 2003, para beneficiar o servidor que completou os requisitos para aposentadoria voluntária e que opta por permanecer em atividade, podendo manter-se nesta situação até que complete 70 anos de idade.

A média de idade dos servidores que possuem o Abono de Permanência é de 58 anos e equivale a 14% do total dos servidores ativos dentro da Instituição. Tabela 5 – Servidores que possuem abono de permanência x carreira

Carreira nº. servidores

Desenvolvimento 56

Gestão 58

Pesquisa 35

Total 149

Fonte: SIAPE (2009)

Discussão

Com os dados levantados no Instituto Público de Pesquisas, concluí-se que o processo progressivo de envelhecimento no trabalho traz para as organizações uma nova realidade, onde é crucial a conscientização dos gestores quanto à necessidade de se criar soluções estratégicas e criativas para manter a capacidade de trabalho de seus quadros de funcionários, respeitando as limitações provenientes da idade e valorizando o conhecimento e a sabedoria dos mais antigos. As organizações precisam criar medidas para o enfrentamento dessa nova realidade, como por exemplo: fomentar o envelhecimento saudável, aumentar a auto-estima, promover programas de qualidade de vida, valorização do servidor,

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aumentar o contato social, adequação das tarefas e das condições de ambiente.

Os problemas psicológicos causados pela aposentadoria acontecem devido à ligação existente entre trabalho e reconhecimento. Com o envelhecimento e a conseqüente aposentadoria, muitos fatores acabam por extinguir-se como a vida social, o reconhecimento da sociedade, a referência na profissão, os compromissos, os horários, o ser “útil”. A aposentadoria é um período de reestruturação das atividades e dos valores. É neste período de transformações, que a família e amigos evidenciam suas importâncias.

Normalmente os trabalhadores são tão absorvidos pelo ambiente de trabalho que acabam deixando suas famílias e amigos. Muitos autores apontam dois meios de equilíbrio do ser humano: o mundo profissional e o mundo familiar. O momento de aposentadoria pode ser o momento de reflexão e retomada dos vínculos familiares e afetivos. Para que este mudança seja vista como positiva, o servidor precisa estar preparado e consciente dessa nova fase de sua vida.

Conclusão

Conclui-se que o envelhecimento populacional é um problema que cresce gradativamente. A Instituição estudada apresenta um envelhecimento do seu corpo de servidores (que pode ser observado através da idade média de seus servidores no período de 18 anos, entre 1991 a 2009, passou de 36,7 anos para 50 anos) que indica hoje que a maior concentração dos servidores encontra-se na faixa etária de 41 a 60 anos de idade, o que representa 81,77 % do total de servidores ativos do Instituto. Torna-se evidente a necessidade de um trabalho mais aprofundado referente à preparação dos servidores para sua futura aposentadoria, através de um Programa de Preparação de Aposentadoria – PPA, que envolva não somente o aspecto financeiro, mas também o aspecto social e psicológico dos indivíduos. Por outro lado é importante a adoção de uma política de recursos humanos que mantenha a capacidade de trabalho de sua mão-de-obra, ajustadas ao novo perfil etário do quadro de servidores, bem como um programa de treinamento para substituição/reposição das competências.

Referências

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FERNANDES M. G. M; SANTOS, S. R. dos. Políticas Públicas e direitos do idoso : Desafios da agenda social do Brasil contemporâneo. Achegas. net:, v. 34, p. 49-60, 2007.

GIATTI, L.; BARRETO, S. M. Saúde, trabalho e envelhecimento no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 3, Rio de Janeiro, p. 759-771, 2003. Disponível em:<http://www.scielo.org/index. php>. Acesso em: 25 jul 2009.

HABE, Y. Estudo das aposentadorias e formação de recursos humanos do INPE . Publicação Interna do INPE PI (INPE-001/ACI/CPN-001), 1993.

HEKMAN, M. F. de. Simpósio do Envelhecimento – Introdução. Revista Oficial da Associação Médica do Rio Grande do Sul - AMRIGS, Porto Alegre, v. 48, nº 4, p. 225-304, 2004.

ODEBRECHT, C. Indicadores de envelhecimento e trabalho humano. In: XXIII Encontro Nacional de Engenharia de Produção – ENEGEP, 2003, Ouro Preto: UFOP, p. 1-8, 2003.

SANTOS, S. S. C. Programa de Preparação para Aposentadoria na Política Nacional do Idoso e Participação da Enfermeira . Revista de Enfermagem UFPE on-line, v. 1, p. 88-94, 2007.

SIAPE Sistema Integrado de Administração de Pessoal (Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão) Não disponível, na Internet, acesso restrito ás áreas de Recursos Humanos da Administração Pública Federal, acesso em julho de 2009.