Epidemiologia Dos Transtornos Mentais Em Uma Area Definida de Captação de Sp
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7/21/2019 Epidemiologia Dos Transtornos Mentais Em Uma Area Definida de Captação de Sp
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ARTIGO ORIGINAL
Epidemiologia dos transtornos mentais
em uma área definida de captação dacidade de São Paulo, Brasil* Laura Helena S. G. de Andrade1, Cecília Amaro de Lólio2,
Valentim Gentil3, Ruy Laurenti2
RESUMO
As prevalências ao longo da vida, no ano e mês anteriores à avaliação, foram determinadas em umaamostra na área de captação do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP. Foram entrevistadas 1.464 pessoascom 18 anos de idade ou mais. O instrumento utilizado foi o CIDI 1.1, gerando diagnósticos de acordo
com o CID-10. As prevalências e medidas de associação foram calculadas levando-se em conta desviosde seleção; 45,6% da amostra apresentou pelo menos um diagnóstico ao longo da vida, 26,8% no ano
anterior à entrevista e 22,2% no último mês. O transtorno mais comum foi dependência de tabaco (25%ao longo da vida, 11,4% no ano anterior e 9,3% no mês anterior à entrevista), seguido por transtornodepressivo (18,5%; 7,6%; 5,0%), transtorno ansioso (16,8%; 7,1%; 4,5%), transtorno somatoforme (6%,4,2%, 3,2%) e uso nocivo/dependência de álcool (5,5 %, 4,5%, 4%). Excluindo o uso nocivo/dependência
de substâncias, as mulheres apresentam maior risco de apresentar qualquer transtorno mental não- psicótico. Esses resultados confirmam a elevada prevalência de transtornos mentais na comunidade,
similar a estudos realizados em outros países.
Unitermos: Epidemiologia; Transtorno mental; Prevalência; Fatores de risco; Uso de serviços.
ABSTRACT
Epidemiology of mental disorders in a catchment area in São Paulo, Brazil
Lifetime, one year and one month prevalence were investigated in the catchment are of the Instituto dePsiquiatria, HCFMUSP. 1,464 interviews were done by lay interviewers using CIDI 1.1 for assessment of
psychopatology, generating diagnoses according to the ICD-10. The prevalence and association rates
were weighted to adjust for effects of oversampling. 45.6% of the sample had at least one diagnosis ofmental disorder in their lifetime, 26.8% in the year prior the interview, and 22.2% in the month before theevaluation. Tobacco dependence was the most frequent disorder in any period (25% lifetime, 11.4% inthe year prior the interview, and 9.3% in the month before the interview), followed by depressive disorder(18.5%, 7.6%, 5.0%), anxiety disorder (16.8%, 7.1%, 4.5%), somatoform disorder (6%, 4.2%, 3.2%) and
alcohol abuse/dependence (5.5%, 4.5%, 4%). Excluding abuse/dependence of substances, women are athigher risk than men to have non-psychotic disorders. The results confirm the high prevalence of mentaldisorders in the community, similar to other countries.
Keywords: Epidemiology; Mental disorders; Prevalence; Risk factors; Use of services.
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INTRODUÇÃO
Os departamentos de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e deEpidemiologia da Faculdade de Saúde Pública, designados como Centros Colaboradores da OrganizaçãoMundial da Saúde para estudos de saúde mental, realizaram um estudo em parte da área de captação doHospital das Clínicas.
Os objetivos desse estudo são: conhecer a prevalência de transtornos mentais na população de 18 anos oumais residente na área; conhecer a associação de alguns fatores de risco para esses transtornos; verificar a
ocorrência de doenças físicas crônicas e o uso de serviços de saúde, para posterior reestruturação doatendimento médico e psiquiátrico da região.
MÉTODO
A área geográfica estudada é de 10,5 km2, com 412 blocos. A população residente, de acordo com o
censo de 1991 (IBGE, 1995), é de 91.276 habitantes, com 32.136 domicílios. Os sujeitos elegíveis para o
estudo são os com 18 anos de idade ou mais, correspondendo a 77% da população da área. Na região,residem famílias de classe média, porém encontramos domicílios de alta e baixa rendas.
Foram entrevistadas 1.464 pessoas, utilizando-se um questionário com dados demográficos, sintomasfísicos, usos de medicamentos e eventos vitais para idosos, além do questionário estruturado CIDI 1.1
(Composite International Diagnostic Interview; Robins et al., 1988). Os questionários foram aplicados por leigos em uma amostra sistemática da população da área, com oversampling de jovens de 18 a 25anos e de pessoas acima de 60 anos, ou seja, entrevistamos todas as pessoas dessas faixas etáriasresidentes nos domicílios selecionados, para aumentar a probabilidade de encontrarmos quadros psicóticos em jovens e psicopatologia em idosos. Aproximadamente um terço dos indivíduos, 1.464indivíduos entrevistados, com ou sem diagnóstico de transtorno mental ao longo da vida, foram
submetidos a uma avaliação psiquiátrica feita por médicos psiquiatras do Instituto de Psiquiatria doHCFMUSP, utilizando a entrevista clínica semi-estruturada SCAN (Schedule for Clinical Assessment in
Neuropsychiatry; Wing et al., 1990).
Os dados foram analisados a partir do software do questionário CIDI, que gera diagnósticos de acordocom o DSM-III-R (APA, 1989) e CID-10 (OMS, 1993). Foram calculados pesos para a correção dométodo de seleção da amostra (clusters e oversampling). Foram
criadas macros no programa de análise estatística SAS (versão 6.11 para PC) para o cálculo das prevalências corrigidas e dos erros-padrão (utilizou-se o método Jackknife). Vários modelos de regressõeslogísticas foram criados para a determinação dos fatores demográficos associados aos transtornosapresentados pela amostra estudada.
RESULTADOS
Foram entrevistadas 1.464 pessoas, das quais:
• 33,1% são do sexo masculino;
• 52,5% são procedentes de outras localidades que não a cidade de São Paulo. Dessas pessoas, 83% vêm
de outras cidades (10%, de outros países) e 17%, de zonas rurais. Mais da metade está nesta cidade hámais de 20 anos;
• 66,1% são contribuintes de algum instituto previdenciário, como INSS, Ipesp, Previdência Municipal ouCaixa de Militares; 33,9% não são filiados ou dependentes desses órgãos; 70% da amostra paga algumconvênio médico;
• 46% da amostra apresenta ao menos um diagnóstico de transtorno psiquiátrico ao longo da vida, deacordo com a Classificação Internacional das Doenças, 10a edição (CID-10); 26,5% apresentam pelo
menos um diagnóstico no ano anterior à entrevista e 22% apresentam pelo menos um diagnóstico no mêsanterior à entrevista (tabela 1).
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Ainda em relação a essas pessoas:
• a dependência do tabaco é, isoladamente, o transtorno mais comum (25% ao longo da vida);
• excluindo-se a dependência do tabaco, 33% da amostra apresenta ao menos um diagnóstico ao longo davida;
• 26% apresentam pelo menos um diagnóstico de transtorno depressivo ou ansioso ao longo da vida.
Controlando quanto à idade, a probabilidade de se ter ao menos um diagnóstico de transtorno mental aolongo da vida é a mesma para homens e mulheres. Se retirarmos a dependência do tabaco, a chance das
mulheres aumenta para 1,5. Estas têm duas vezes mais chance que os homens de apresentar algumtranstorno ansioso ou depressivo ao longo da vida. O risco de bulimia nervosa é cinco vezes maior emmulheres que nos homens e o de transtorno dissociativo, oito vezes maior. O risco para homens emulheres, ao longo da vida, é o mesmo para o desenvolvimento de quadros psicóticos, afetivos ou não.Homens têm, aproximadamente, duas vezes mais chances que as mulheres de apresentar dependência deálcool ou de drogas (incluindo-se tabaco) (tabela 2).
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Controlando quanto ao sexo, indivíduos entre 26 e 59 anos de idade têm maior chance de apresentar
algum transtorno mental ao longo da vida, se comparados aos da faixa de 18 a 25 anos. A chance diminui para aqueles com 60 anos ou mais, talvez por influência da mortalidade e/ou de o sintoma ter sidoesquecido (tabela 3).
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USOS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE
No mês anterior à entrevista, 34,4% procuraram algum tipo de serviço de saúde, 31% da amostra
procurou atendimento médico não-psiquiátrico no mês anterior à entrevista e 8,3% procuraramatendimento psicológico (psiquiatria, psicoterapia, aconselhamento psicológico). Mulheres e pessoas commais de 60 anos recorreram mais aos serviços de saúde. A presença de transtornos psiquiátricos aumentao uso de serviços, e essa utilização é maior se o transtorno tiver ocorrido no ano anterior à entrevista.Pessoas com transtornos ansiosos ou depressivos são as que mais procuram ajuda psicológica de qualquernatureza (tabela 4).
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CONCLUSÕES
Aproximadamente uma em cada duas pessoas apresentou sintomas compatíveis com um transtornomental ao longo da vida. As prevalências dos transtornos mentais são semelhantes às encontradas emestudos análogos em outros países, como Estados Unidos e Inglaterra, exceto para dependência de drogase transtornos somatoformes. A prevalência de dependência de drogas está subestimada, devido a
características do instrumento e da população estudada. A prevalência de transtornos somatoformes émaior nessa amostra que a encontrada em outros estudos e é correspondente ao transtorno somatoformedoloroso persistente.
O risco em mulheres é maior na maioria dos quadros psiquiátricos, exceto uso danoso ou dependência deálcool, drogas e nicotina. Indivíduos entre 25 a 59 anos são os mais vulneráveis, o que provoca grande
impacto na economia, pois constituem a maior parte da população economicamente ativa. A presença detranstorno psiquiátrico aumenta o uso de serviços de saúde, porém poucos têm acesso a profissionais da
área de saúde mental.
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REFÊRENCIAS
American Psychiatric Association. Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais (3a edição
revisada), São Paulo, Ed. Manole, 1989.
IBGE. Resultados do Censo de População, 1991. Tabulação especial. São Paulo, 1995.
Organização Mundial da Saúde. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde _ Décima Revisão (CID-10), São Paulo, EDUSP/ Centro Colaborador da OMS para Classificação de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 1993.
Robins, L.N.; Wing, J.; Wittchen, H.U. & Helzer, J.E. _ The Composite International DiagnosticInterview: an epidemiologic instrument suitable for use in conjunction with different diagnostic systemsand in different cultures _ Arch Gen Psychiatry 45: 1069-1077, 1988.
Wing, J.J.; Babor, T.; Brugha, T.; Burke, J; Cooper, J.E.; Giel, R.; Jablensky, A.; Regier, D. & Sartorius, N. _ SCAN: Schedule for Clinical Assessment in Neuropsychiatry _ Arch Gen Psychiatry 47 : 589-593,
1990.