Espiral 28

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N.º 28 - Julho / Setembro de 2007 boletim da associação FRA FRA FRA FRA FRATERNIT TERNIT TERNIT TERNIT TERNITAS AS AS AS AS MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO MOVIMENTO ES ES ES ES ESCUT CUT CUT CUT CUTAR A P AR A P AR A P AR A P AR A PAL AL AL AL ALA AVR VR VR VR VRA A espiral espiral espiral espiral espiral Q uase todos nós estamos a acabar as férias, já retomámos o trabalho, a vida continua o seu ritmo habitual, sentimo-nos mais retemperados e fortalecidos. Preparamo-nos para dentro de algum tempo – concretamente a 5 de Outubro – nos encon- trarmos em Viseu, onde o Senhor Bispo, D. Ilídio Le- andro, nos falará e ajudará a reflectir sobre «A força terapêutica da Palavra. Ela é fonte de Saúde e de Paz». Antes de mais, alguns estarão um pouco surpre- endidos pela escolha do local e da data. A Direcção reflectiu sobre um inquérito feito em 2006 aos parti- cipantes no Encontro Nacional – em Fátima –, e re- colheu sugestões que nos pareceram oportunas e ino- vadoras. Uma dessas sugestões era que se mantives- se sempre o encontro anual nacional em Fátima, mas que se procurassem diversificar os outros encontros mais por regiões, embora sempre evidentemente abertos a todos os que quisessem e pudessem parti- cipar, mesmo provenientes de qualquer outro ponto do país. Nesse sentido, e porque inovar e tentar no- vas experiências é sempre salutar, atrevemo-nos a propor no Plano de Actividades para 2007/2008 não um encontro intercalar (chamemos-lhe “curso” ou não, pouco importa) mas sim dois, em alturas dife- rentes do ano. Seria este agora em Viseu, e outro em Évora por alturas de Fevereiro, se assim for possível. Tudo depende da aceitação dos membros da Fraternitas e da sua adesão, evidentemente. Não que esta iniciativa exclua os encontros regionais de um só dia, quando e onde cada região achar oportuno e os conseguir dinamizar, mas esta nossa tentativa po- deria ser uma alternativa interessante e proveitosa. Para este assim chamado “Curso de Actualização Teológica”, convidámos o Bispo de Viseu, como aci- ma se referiu, o qual aceitou de imediato com gran- de simpatia e generosidade. A escolha do tema foi dele próprio, e parece-nos de enorme pertinência e interesse. Se de alguma coisa os nossos tempos ca- recem é, sem dúvida, da capacidade de “escuta”. Porque para escutar é preciso, antes de mais, fazer silêncio! E nos tempos que correm, quase não conse- guimos experimentar o que é o silêncio. As nossas próprias vidas: a saúde (e para quem já não é muito novo essas preocupações agudizam-se e absorvem imenso), os filhos, os familiares em final de vida, o futuro... Quantas e quantas “vozes” que parece que nunca nos largam e pelas quais nos deixamos ab- sorver como se fossem inevitáveis! Ainda bem que temos agora uma oportunidade de fazer algum silêncio dentro de nós, e por um par de dias ouvirmos quem nos queira ajudar a escutar a Palavra, em todas as suas dimensões de Saúde e de Paz. Acho que a maioria de nós, numa idade em que naturalmente se acumulam problemas físicos e limitações, perda de energias e forças, precisa de encontrar esse caminho, nem sempre fácil de desco- brir na Palavra que é Cristo, uma Saúde interior que vai muito para além da que médicos e medicamen- tos nos podem dar. Mas não menos importante é descobrir aquela Paz íntima e profunda, que não se deixa abalar pelos ruídos e inquietações que nos ro- deiam, antes se radica no mais íntimo da nossa vivência quotidiana, e se alimenta dum modo subs- tancial e fecundo naquela Palavra que é Caminho, Verdade e Vida! Uma coisa é fundamental: que encaremos este Curso de Actualização Teológica não como algumas (continua na pág. 8) Escutar a Palavra 1 Liberdade dentro da Igreja 2 Aprenda se quiser 3 Férias missionárias 4 A sorte dos cristãos no mundo do Islão 6 Religiosidade/Espiritualidade 8 SumáRIO SumáRIO SumáRIO SumáRIO SumáRIO

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N.º 28 - Julho / Setembro de 2007

boletim da associação FRAFRAFRAFRAFRATERNITTERNITTERNITTERNITTERNITASASASASAS MOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTO

ESESESESESCUTCUTCUTCUTCUTAR A PAR A PAR A PAR A PAR A PALALALALALAAAAAVRVRVRVRVRAAAAA

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Quase todos nós estamos a acabar as férias,já retomámos o trabalho, a vida continua o

seu ritmo habitual, sentimo-nos mais retemperados efortalecidos. Preparamo-nos para dentro de algumtempo – concretamente a 5 de Outubro – nos encon-trarmos em Viseu, onde o Senhor Bispo, D. Ilídio Le-andro, nos falará e ajudará a reflectir sobre «A forçaterapêutica da Palavra. Ela é fonte de Saúde e dePaz».

Antes de mais, alguns estarão um pouco surpre-endidos pela escolha do local e da data. A Direcçãoreflectiu sobre um inquérito feito em 2006 aos parti-cipantes no Encontro Nacional – em Fátima –, e re-colheu sugestões que nos pareceram oportunas e ino-vadoras. Uma dessas sugestões era que se mantives-se sempre o encontro anual nacional em Fátima, masque se procurassem diversificar os outros encontrosmais por regiões, embora sempre evidentementeabertos a todos os que quisessem e pudessem parti-cipar, mesmo provenientes de qualquer outro pontodo país. Nesse sentido, e porque inovar e tentar no-vas experiências é sempre salutar, atrevemo-nos apropor no Plano de Actividades para 2007/2008 nãoum encontro intercalar (chamemos-lhe “curso” ounão, pouco importa) mas sim dois, em alturas dife-rentes do ano. Seria este agora em Viseu, e outro emÉvora por alturas de Fevereiro, se assim for possível.Tudo depende da aceitação dos membros daFraternitas e da sua adesão, evidentemente. Não queesta iniciativa exclua os encontros regionais de um sódia, quando e onde cada região achar oportuno eos conseguir dinamizar, mas esta nossa tentativa po-deria ser uma alternativa interessante e proveitosa.

Para este assim chamado “Curso de ActualizaçãoTeológica”, convidámos o Bispo de Viseu, como aci-ma se referiu, o qual aceitou de imediato com gran-de simpatia e generosidade. A escolha do tema foidele próprio, e parece-nos de enorme pertinência einteresse. Se de alguma coisa os nossos tempos ca-recem é, sem dúvida, da capacidade de “escuta”.

Porque para escutar é preciso, antes de mais, fazersilêncio! E nos tempos que correm, quase não conse-guimos experimentar o que é o silêncio. As nossaspróprias vidas: a saúde (e para quem já não é muitonovo essas preocupações agudizam-se e absorvemimenso), os filhos, os familiares em final de vida, ofuturo... Quantas e quantas “vozes” que parece quenunca nos largam e pelas quais nos deixamos ab-sorver como se fossem inevitáveis!

Ainda bem que temos agora uma oportunidadede fazer algum silêncio dentro de nós, e por um parde dias ouvirmos quem nos queira ajudar a escutar aPalavra, em todas as suas dimensões de Saúde e dePaz. Acho que a maioria de nós, numa idade emque naturalmente se acumulam problemas físicos elimitações, perda de energias e forças, precisa deencontrar esse caminho, nem sempre fácil de desco-brir na Palavra que é Cristo, uma Saúde interior quevai muito para além da que médicos e medicamen-tos nos podem dar. Mas não menos importante édescobrir aquela Paz íntima e profunda, que não sedeixa abalar pelos ruídos e inquietações que nos ro-deiam, antes se radica no mais íntimo da nossavivência quotidiana, e se alimenta dum modo subs-tancial e fecundo naquela Palavra que é Caminho,Verdade e Vida!

Uma coisa é fundamental: que encaremos esteCurso de Actualização Teológica não como algumas

(continua na pág. 8)

Escutar a Palavra 1

Liberdade dentro da Igreja 2

Aprenda se quiser 3

Férias missionárias 4

A sorte dos cristãos no mundo do Islão 6

Religiosidade/Espiritualidade 8

SumáRIOSumáRIOSumáRIOSumáRIOSumáRIO

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No reinado de D. Filipe II de Espanha, foi sub-metido às autoridades o projecto de tornar

navegáveis o Tejo e o Manzanares, com o fim demelhorar as condições de vida de algumas popula-ções isoladas. A Comissão governamental opôs-se.Reconhecia que a situação dessas populações eradifícil e até insuportável, mas punha de lado o pro-jecto porque, «se Deus tivesse querido que esses riosfossem navegáveis, com uma só palavra Sua o teriaconseguido». Seria intrometer-se de modo ilegítimonos direitos da Providência, tentando melhorar o que,por motivos insondáveis, Ela deixara incompleto.

Este episódio traduz uma mentalidade que per-tence sem dúvida ao passado, mas que ainda sub-siste nos nossos dias sob formas mais subtis. É conhe-cido o dito espirituoso: «A Fé, a Esperança e a Cari-dade permanecem, mas a maior das três é a ordemestabelecida».

O professor Hans Kung, numa conferência pro-nunciada em Lisboa, há já longos anos, começouassim «Igreja ou Liberdade?» Um colega de uma Uni-versidade americana disse-me «Mas que interessan-te. Eu sei que a Igreja existe e sei que existe a liberda-de, mas não sabia que as duas podiam juntar-se».

«A intolerância que se espalhou pelo mundo coma chegada do Cristianismo constitui um dos seus tra-ços mais curiosos», afirma Bertrand Russell no seu li-vro Porque não sou cristão.

A lenda do Grande Inquisidor, nos irmãosKaramazov é precisamente um hino maravilhoso àliberdade que Cristo veio trazer, e, por isso, é aomesmo tempo uma acusação terrível contra a Igrejaque teria tirado aos homens a liberdade de Cristo.

Há na História da Igreja uma vergonha que per-manece. Mal a Igreja conseguiu livrar-se das perse-guições que moviam contra ela, começou ela pró-pria, e com frequência, a perseguir violentamente osheréticos: arianos, donatistas, maniqueus, na antigui-dade, e cátaros, albigenses e valdenses na IdadeMédia. Na época moderna, católicos perseguiramprotestantes e vice-versa. E não falemos da Inquisição!É doloroso que ainda hoje não se possa dizer que oespírito da Inquisição e da intolerância desaparece-ram completamente.

O CASO JON SOBRINOVem isto a propósito de documentos recentes do

Vaticano, e sobretudo da condenação do teólogojesuíta Jon Sobrino, nascido em 1938, em Espanha.

Para Jon Sobrino, a teologia, para ser autêntica,deve exprimir a esperança real dos pobres que en-frentam situações de exclusão, de injustiça e de des-prezo. Todavia, a Congregação para a Doutrina da

Fé formula importantes reservas às ideias e à teolo-gia de Jon Sobrino, e ele não aceita a notificação deque foi vítima.

Este tipo de notificações reflecte o modo de pro-ceder do Vaticano, nos últimos 20 ou 30 anos. Nestetempo, muitos teólogos e teólogas, gente de cora-gem, com amor a Cristo, à Igreja, e grande amoraos pobres, foram perseguidos sem misericórdia.

IGREJA: PÁTRIA DE LIBERDADEÉ preciso afirmar com clareza que toda a mani-

festação de intolerância dentro da Igreja, por muitocândida ou disfarçada, torna a Igreja indigna de queo mundo e os homens acreditem nela, e isso faz muitapena. A Igreja tem que ser pátria da Liberdade!

A Igreja, que anuncia o Evangelho de Jesus, devetransmitir aos homens a liberdade, a autêntica liber-dade. Liberdade primeiramente na Liturgia: um sóDeus, um só Senhor, um só Baptismo, uma só Euca-ristia; mas ritos, línguas, povos, comunidade diver-sos, formas de piedade, preces, cânticos, maneirasde vestir, estilos de arte diferentes.

Em segundo lugar, liberdade na disciplina: um sóDeus, um só Senhor, uma só Igreja, um só ministériosuperior; mas estruturas diferentes, legislações, na-ções, tradições, administrações, costumes distintos.

Em terceiro lugar, liberdade de teologia: um sóDeus, um só Senhor, um só Evangelho, uma só fé;mas diferentes teologias, diferentes sistemas, estilosde pensamento, terminologias, orientações, escolas,tradições, investigações, universidades, teólogos.

No que for necessário, a unidade; no que for du-vidoso, a liberdade; em todas as coisas, a caridade.

Quando é que a Igreja e o Cristianismo tiveramtantas oportunidades como hoje têm? A Igreja não éuma democracia, mas devia ser uma família.

Também é verdade que não podemos viver semestruturas, mas é ainda verdade que Jesus não fezdiscriminação de pessoas e ensinou: «Dou-vos ummandamento novo: amai-vos uns aos outros comoEu vos amei. Nisto reconhecerão que sois Meus discí-pulos» (Jo. 13, 34-35).

Na despedida, Jesus insiste naquilo que conside-ra mais importante. Sem entender que esta era a exi-gência fundamental, pusemos outras coisas à frente:a pureza da doutrina, a manutenção da boa ordem,…, etc. Jesus não exclui ninguém! Questõesirrelevantes ou caricatas…

No século XX, um grupo de teólogos, entre osquais se destaca o padre Haring, reencontrou a mo-ral dos Evangelhos, apoiados pelo papa João XXIII.Contudo, a tentação de voltar atrás está presente.

LIBERDADE DENTRO DA IGREJA

Carlos LeonelCarlos LeonelCarlos LeonelCarlos LeonelCarlos Leonel

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«Sonhos egestos de Vida»

«Sonhos»,porque nadase faz que nãocomece por umsonho. O so-nho é já um

princípio de acção. Sonhar é umarampa de lançamento para oagir. Por isso, o sonho só tem va-lia quando se concretiza em «Ges-tos de Vida». E quando essa vidaé doação e entrega ao serviçodos outros, ela torna-se Vida navida de cada um e na vida detoda uma comunidade. É o Espí-rito de Vida que se transmite!...

O livro tem 213 páginas. Masnão quer ser uma história com-pleta, nem dizer tudo acerca dealguns eventos que marcam a his-tória da minha comunidade pa-roquial, sobretudo desde háuns 30 anos, quando o padreAlbino de Almeida Fernandesaqui entrou a paroquiar.

As linhas que escrevo, têmcomo finalidade deixar patenteo pulsar da vida de uma comu-nidade tocada pelo testemunhoda entrega martirial, desinteres-sada e amorosa do Pastor ao seupovo. É o meu pequenino contri-buto para as grandes lições dosseis grandes eventos que se vãocelebrar e viver nesta comunida-de, em 2007: as Bodas de OuroSacerdotais do padre Albino, o30.º Aniversário da sua entradanesta paróquia, o 30.º Aniversá-rio da Escola de Música, o 25.ºAniversário dos Acampamentos,as Bodas de Prata do «Coro dosPequenos Cantores», e o 16.º Ani-versário (já no passado mês deFevereiro) do Programa «NovaDimensão» da rádio Az.FM, quecriei em 1991. Isto para além deoutros eventos que estão grava-dos na história deste povo.

O preço do livro é simbólico:5 euros.

APRENDASE QUISERJá há tempos apontei em al-

guns jornais várias dificulda-des que muitos encontram no usocorrecto da nossa Língua, tão rica,e por isso tão difícil, e daí tão maltratada. Ela é o Latim falado nosnossos dias, em Portugal, com asalterações inevitáveis de uma lín-gua viva ao longo dos tempos, eenriquecida com o Grego, o Ára-be, e outras línguas. Sobretudo asprimeiras citadas, deixaram-nosmuita da riqueza da civilizaçãogreco-romana.

LIÇÃO NUMA OFICINAHá muitos anos entrei numa

oficina de automóveis, porque omotor da meu carro aquecia mui-to. Disse ao mecânico, homem jáfeito e experiente, que «a avariadevia ser do termóstato». O ho-mem olhou-me com cara de mes-tre e perguntou-me:

- Deve ser o quê?- Acho que será o termóstato.O mecânico espeta uma gar-

galhada para o ar, tão estrondo-sa que os empregados pararam aolhar. E ele, de fato-macaco, sujode óleo, mas com cara de quemdava uma lição mestra a um se-nhor de gravata e calça vincada,diz muito alto:

- Termostato, quer o senhor di-zer!... (e carregou na sílaba «ta»).

- Ou isso - respondi eu, na cer-teza de que nada me adiantavaestar ali a explicar porque eracomo eu tinha dito, e não comoele pensava. Além disso, o carrocontinuava a fumegar, e eu queriaque se visse rapidamente o que sepassava, para seguir viagem...

De facto, o mecânico pronun-ciou a palavra incorrectamente.Aliás, eu nunca tive o prazer deouvi-la bem pronunciada!

A palavra é «termóstato», como acento tónico e gráfico na síla-ba «mós». É uma palavra

esdrúxula, porque vem do grego«thérme» (=temperatura) + «statos»(=estabilização). É um aparelhoque serve para estabilizar a tem-peratura. Ora a palavra grega«statos», quando entra, como se-gundo elemento, na composiçãode uma outra palavra, nuncapode levar acento tónico, e porisso, nem gráfico. Logo, este temde recuar para a última sílaba doprimeiro elemento da composição«thérme».

OBRIGADO/OBRIGADANão é raro ouvir-se uma senho-

ra dizer «Muito obrigado». Isto nãoé correcto. Quando dizemos essapalavra, estamos a confessar, di-ante de quem nos fez um favor,que lhe ficamos na obrigação deretribuir. Daí que um homem fica«obrigado» a retribuir, e uma se-nhora fica «obrigada». Portanto umhomem deve dizer sempre «obri-gado», quer se dirija a uma se-nhora, quer a outro homem, en-quanto que uma senhora dirá sem-pre «obrigada».

SE TE ENTRETIVER...Muita gente diz, por exemplo,

«Se eu entretesse o filho mais tem-po, ele não teria saído para a rua».

A forma verbal «entretesse» nãoé a correcta. O termo é compostopelo verbo «ter» precedido da pre-posição «entre», que fica invariá-vel na conjugação verbal. Ora opretérito imperfeito do conjuntivodo verbo «ter» é «(se) eu tivesse, tutivesses, ele tivesse», ... Logo, de-via dizer-se «Se eu entretivesse ofilho mais tempo...». E se quiser-mos usar o pretérito perfeito doindicativo, deve ser «Eu entretive,tu entretiveste, ele entreteve, ...» E,ainda, o futuro do conjuntivo: «Seeu entretiver, se tu entretiveres, seele entretiver, ...» Conclusão: às for-mas verbais do verbo «ter», ante-põe-se a preposição «entre», semalterações.

Então, é fácil ou não falar Por-tuguês?

Manuel PaivaManuel PaivaManuel PaivaManuel PaivaManuel Paiva

testemunho em livro

M. PaivaM. PaivaM. PaivaM. PaivaM. Paiva

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Férias missionáriasAo terminar mais um perío-

do de férias, que sentimen-tos ficam? Nostalgia? Cumpriram--se os projectos e expectativas, ounem sequer se programou o ócio?

Nós concordamos em que avivência do tempo de repouso éde tanta responsabilidade como ado restante. E se não se idealizaalgo de benéfico e útil para fazer,alguma actividade que nos permi-ta virar para os outros, corre-se orisco de se acabar esta época como mesmo vazio do quotidiano aque a máquina produtiva tantasvezes obriga.

Sendo assim, este ano decidi-mos enveredar por uma opçãoradical: fomos a África! Com umpropósito jornalístico, é certo, masdando igualmente cumprimento aum sonho antigo de ambos.

OUSAR DESINSTOUSAR DESINSTOUSAR DESINSTOUSAR DESINSTOUSAR DESINSTALARALARALARALARALAR-----SESESESESENas vésperas de partir, várias

pessoas nos desejaram sorte e fe-licidades. Umas prometeram ora-ções, outras choravam e afirma-vam ser necessário muita coragempara concretizar um tal intento. Hásempre perigos e dificuldades, masnós estávamos atónitos, porqueafinal só íamos por três semanas,tínhamos guarida assegurada e oshipotéticos inconvenientes estavammais ou menos calculados e acau-telados. Questionámo-nos, então,de que dose ou tipo de coragemteriam precisado os primeiros mis-sionários a pisarem o continenteafricano… viajando durante me-ses em pequenas barcaças quesucumbiam até aos ventos maisleves, de camelo, a pé, com fome,sede, febres e, acima de tudo, natotal incerteza da realidade que osaguardava. Concluímos que nãose trata de coragem mas de Amor!Aquele Amor genuíno que Jesusindicou aos discípulos como únicotrilho de felicidade.

E aqui perguntámo-nos: O queé a felicidade? Provavelmente, asrespostas serão tão variadas comodiferentes são as pessoas que asdão, mas parâmetros como a saú-de, uma casa, um emprego, fa-mília e um pouco de dinheiro es-tarão patentes em muitas delas.Pois bem, em África este conceitoreveste-se de uma dimensão tãodespojada, que confundiria o gros-so dos ocidentais. É de uma pro-fundidade indefinível, só ilustradapor testemunhos vividos na primeirapessoa. Impressionou-nos, sobre-maneira, a história de um senhorde meia-idade que, adoecendogravemente, não se revoltou nempediu contas a Deus do porquê.Solicitou a comparência de umsacerdote e exclamou: «Deus este-ve sempre comigo ao longo davida, mas principalmente de há unsmeses para cá, quando principieia ficar doente». Este exemplo étransmitido por um homem de pou-ca ou nenhuma instrução, oriundoda região de Chikowa, na Zâm-bia, país detentor de missões daÁfrica profunda. O povo zambianonão concebe a existência sem Deuse, mesmo que na sua maioria sejapouco culto, detém o essencial:não se pode ser feliz sem Deus!

CRIANÇASCRIANÇASCRIANÇASCRIANÇASCRIANÇAS: UM ENCANT: UM ENCANT: UM ENCANT: UM ENCANT: UM ENCANTOOOOOJá impressionava observar as

birras que crianças e jovens emPortugal fazem porque querem istoou aquilo que os colegas têm e elesnão, ou dizem que morrem se nãocomprarem aquelas roupas demarca que, supostamente, os fa-rão pertencer ao grupo que idola-tram. Depois desta jornada, po-rém, chega a irritar-nos que pais eeducadores não possuam a cora-gem, agora sim, de contrariar umatendência que esventra qualquervalor mais sulcado no ser do queno ter. Estão a criar pequenos

monstros de egoísmo, ocos pordentro.

Na nossa infância, as possesnão eram muitas, mas tanto emcasa, como na escola e na cate-quese se falava das crianças quepadeciam e morriam de fome, dedoenças, … do nosso abandono.Havia uma sensibilização para osofrimento alheio, num convite adar de si próprio e dos seus have-res aos que mais careciam. Nestaexpedição por terras de além-mar,pudemos constatar que, com fre-quência, um sorriso é suficiente.

As crianças, tanto de Chikowa(campo) como de Lusaka (a capi-tal) têm dificuldades em ir à esco-la, pois embora o Ensino seja ba-sicamente gratuito, vigora o siste-ma inglês, pelo qual é obrigatóriousar sapatos e farda. Ora, habitu-almente, as únicas vestes que pos-suem estão rotas e é impossível nãoandarem sujas, porque, literalmen-te, come-se pó em todo o lado.Apesar de tudo, cantam e dan-çam, com ou sem motivo aparen-te, com um brilho cristalino noolhar. A alegria é, de facto, umavirtude sem complexos…

A DURA REALIDADEA DURA REALIDADEA DURA REALIDADEA DURA REALIDADEA DURA REALIDADEOs pais não têm possibilidades

económicas para quase nada.Além de que existe um elevadonúmero de órfãos por causa dasida. A moeda, por assim dizer já

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Ecos da missão na Zâmbia, em África

que na Zâmbia não há moedas,está muitíssimo desvalorizada. Umeuro vale cerca de 5000 kwacha,pelo que tem que se entregar umcarregamento de notas para a tro-ca mais singela, até porque ospreços de grande parte dos bensessenciais são equiparados ou atésuperiores aos praticados no nos-so país. O ordenado de um cozi-nheiro anda à volta de 268 milkwacha (cerca de 54 euros). Deveser com esta e outras contabilida-des que as estatísticas atestam que86% da população está abaixo dolimiar da pobreza, isto é, sobrevi-ve com menos de um dólar pordia. Médicos são à razão de setepor cada 100 mil habitantes. Nãoobstante, os abortos são assaz ra-ros e socialmente condenados. Osfilhos, independentemente das cir-cunstâncias, são encarados comodom de Deus.

Os Zambianos são dotadosde uma capacidade desuportação quase infinita e paraisso muito contribui a fé. Consci-entes disso, os missionários dis-põem-se a sacrifíciosinacreditáveis para muitos párocosde cá. Participámos numa Euca-ristia em Malama, comunidadeque dista uns 118 km do centroda missão. Gastámos quatro ho-ras na ida e cinco no regresso. Aschuvas abriram estrias tão fundasno caminho de terra, que o cintode segurança se revelava indis-pensável para nos manter no ban-co da pick-up em que seguíamos.Ainda assim, quando os buracos

tinham menos estrada, a cabeçabatia em cima. Só 20 km do per-curso eram asfaltados.

A ESPERANÇA TEM CÔRA ESPERANÇA TEM CÔRA ESPERANÇA TEM CÔRA ESPERANÇA TEM CÔRA ESPERANÇA TEM CÔRNa celebração, que durou cer-

ca de duas horas, mais uma lição:a do Ecumenismo. Sim, essa uni-dade de Igrejas que demasiadosdiscutem e alguns tentam esboçarapresenta já sinais visíveis numanação dita de terceiro mundo, ouseja, atrasada. Em todas as Mis-sas católicas há representantes deoutras Igrejas, nomeadamente aAnglicana, cuja presença não éprotocolar, mas activa e partici-pante. As pessoas estão de talmaneira entrosadas nesta univer-salidade que a mãe Serafina,como lhe chamávamos, uma an-ciã carismática, ao despedir-se denós, mandou cumprimentos e vo-tos de bem para os nossos famili-ares, amigos e para todos os ca-tólicos de Portugal…!

Quem diria que aque-les que nos habituámos aver e a julgar como «coi-tadinhos» nos haviam deensinar tanto de humilda-de, de verdade, dehumanismo… a nós quevivemos na orla (pseudo)civilizada do mundo…

Pensamos que toda agente devia fazer a expe-riência de África, que aju-da imenso a não se ser o que setem, mas a ter, para si e para osdemais, o que se é!

De certeza que iremos viver esteDia Mundial das Missões (21 deOutubro) de forma bem distinta,com visão mais definida e cora-ção mais próximo de uma reali-dade palpável, da qual se costu-ma falar impessoalmente e no abs-tracto, como assunto que não be-lisca e nem sequer toca.

O que nos tocou, pela negati-va, foi que, ao chegarmos à pá-

tria lusa, a rebentar de novidadespara supurar, a receptividade aoque relatávamos das gentes e doque por lá fomos encontrando semostrasse tão diminuta. Por aquinada tinha mudado; continuavamtodos enfronhados nas suasvidinhas do costume, queixando-sedisto ou daquilo (coisinhas ínfimas,comparadas com a necessidadediária de sobrevivência que com-partimos). Que diferença abissal:cá não houve tempo nem paciên-cia para tomar contacto com opulsar africano; lá, indivíduos quenão nos eram nada desdobra-vam-se em simpatias e vários fo-ram os que fizeram questão de nosofertar produtos e objectos emagradecimento pela nossa presen-ça no meio deles. Entristecidos, res-tou-nos render à evidência incon-testável de que pertencemos a umpovo de sofredores convictos… Noentanto, subsiste a esperança de

não deixar morrer as novas pers-pectivas e conceitos de vida, de fe-licidade, enfim, do que é realmenteimportante e bom.

Ainda nos ocorreu apelidar estapartilha de “Histórias que ninguémquer ler”, mas permitimo-nos co-gitar que, já que nos sentimos en-riquecidos e pertencemos àFraternitas Movimento, o nossocrescimento pode subsidiar o en-grandecimento dos nossos irmãose irmãs. Fernando FélixFernando FélixFernando FélixFernando FélixFernando Félix

e Maria José Mendonçae Maria José Mendonçae Maria José Mendonçae Maria José Mendonçae Maria José Mendonça

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Porque, em Regensburg, oPapa Bento XVI citou pala-

vras de crítica ao Islão, o mundoislâmico entrou em alvoroço, comoantes por causa das caricaturas deMaomé. E fez rolar cabeças ino-centes.

No norte do Iraque, o sacer-dote siro-ortodoxo Boulos IskanderBenahm foi raptado e decapita-do por islâmicos, como vingançapelo discurso do Papa. Tambémna mesma altura, uma freira itali-ana foi morta na Somália.

Na Turquia, o padre italianoAndrea Santoro perdeu a vida nodia 5 de Fevereiro de 2006. Gri-tando «Alá é grande», um jovemturco disparou a matar.

Na região indiana deCaxemira, dois fundamentalistasislâmicos mataram um homem,que, dez anos antes, se tinha con-vertido do islão à fé cristã. Bashir

Ahmed Tantry estava na rua a con-versar com amigos muçulmanosquando dois estranhos se aproxi-maram, pedindo-lhe uma informa-ção. «Mal Bashir começou a falar,assassinaram-no», contou o primodele, Ghulam Rasool Tantry. A se-guir fugiram, de moto. O cristãodeixou mulher e três filhos.

No Paquistão, um tribunal deFaisalabad condenou dois católi-cos, um septuagenário e o outro de65 anos, por alegadamente teremrasgado e queimado folhas doCorão, que é o livro sagrado dosmuçulmanos. Segundo a defesa,não havia qualquer prova do fac-to. O parágrafo 295 do código pe-nal paquistanês prevê penas drás-ticas para a injúria aos símbolos is-lâmicos. É um parágrafo de borra-cha que pode ser usado para qual-quer maledicência.

No Uzbequistão, o Ministério daJustiça instaurou um processo con-tra as Missionárias da Caridade, daMadre Teresa de Calcutá. Quer veresclarecido se os objectivos consig-nados nos estatutos das irmãscorrespondem aos requisitos legais,para apurar se a sua presença nopaís é de facto permitida por lei.Ao fim e ao cabo, o que se pre-tende é forçar todas as ONG a sa-írem do Uzbequistão. O regimesuspeita que elas importem «ideo-logias ocidentais perigosas». Nestepaís, cuja população é 90 por cen-to muçulmana, a liberdade de reli-gião é permanentemente violada.O regime exerce um controlo fér-reo sobre todas as movimentações.

Na Turquia, os cristãos são odi-ados tanto por nacionalistas comopor islâmicos. A lamentável situa-ção dos cristãos ortodoxos no paísde Kemal Atatürk voltou de novo àbaila por ocasião da visita doPapa. Nos princípios dos anos 20do século passado, viviam na Tur-quia ainda 300 000 cristãos orto-doxos. Este número tem vindo a

baixar drasticamente até estar re-duzido hoje à dimensão de umaparóquia rural de cerca de 2000membros ao todo.

CIDADÃOS DE SEGUNDACIDADÃOS DE SEGUNDACIDADÃOS DE SEGUNDACIDADÃOS DE SEGUNDACIDADÃOS DE SEGUNDAUns bons cem milhões de cris-

tãos vivem em países de popula-ção maioritariamente islâmica. A«Organização da Conferência Is-lâmica» abrange 57 países. Nesteuniverso verificam-se situações va-riadas, que vão de uma relaçãonumérica equilibrada entre cristãose muçulmanos, como na Nigéria,com cerca de 45 por cento da po-pulação de cada confissão, atéuma percentagem de um por centode cristãos em nações como Ar-gélia, Marrocos e Turquia.

A situação de protegidos, bai-xa nos séculos passados, continuaa existir hoje para os cristãos por-que, na generalidade dos paísesislâmicos, eles são tratados como«cidadãos de segunda classe», enão lhes são reconhecidos nemdireitos nem oportunidades iguais.No entanto, a situação jurídica aeste respeito é variável: estão maisameaçados os cristãos que se tor-nam missionários activos, comopor exemplo os protestantes, ou aspessoas que se convertem do Is-lão para o Cristianismo. Arenegação de um muçulmanopode ser punida com a pena demorte em estados como a Mauri-tânia, o Sudão, a Arábia Sauditae o Irão.

Em países como o Senegal e aGuiné, o relacionamento entre cris-tãos e muçulmanos não é proble-mático e não há perseguição. En-tre os países islâmicos onde a situ-ação é pior contam-se a ArábiaSaudita, o Irão, as Maldivas, o Tur-quemenistão, o Paquistão, o Afe-ganistão, a Somália, as Comorese o Sudão. Na Arábia Saudita enas Maldivas ainda nem sequer épermitido abrir igrejas.

A SORTE DOS CRISTÃOSEnquanto, na Europa, osEnquanto, na Europa, osEnquanto, na Europa, osEnquanto, na Europa, osEnquanto, na Europa, os

muçulmanos, com ex-muçulmanos, com ex-muçulmanos, com ex-muçulmanos, com ex-muçulmanos, com ex-

cepção de alguns deba-cepção de alguns deba-cepção de alguns deba-cepção de alguns deba-cepção de alguns deba-

tes sobre uso de véus,tes sobre uso de véus,tes sobre uso de véus,tes sobre uso de véus,tes sobre uso de véus,

assassínios de honra eassassínios de honra eassassínios de honra eassassínios de honra eassassínios de honra e

casamentos obrigatóri-casamentos obrigatóri-casamentos obrigatóri-casamentos obrigatóri-casamentos obrigatóri-

os, desfrutam, sem incó-os, desfrutam, sem incó-os, desfrutam, sem incó-os, desfrutam, sem incó-os, desfrutam, sem incó-

modo, de ampla liberda-modo, de ampla liberda-modo, de ampla liberda-modo, de ampla liberda-modo, de ampla liberda-

de, e as suas mesquitas,de, e as suas mesquitas,de, e as suas mesquitas,de, e as suas mesquitas,de, e as suas mesquitas,

mais ou menos pompo-mais ou menos pompo-mais ou menos pompo-mais ou menos pompo-mais ou menos pompo-

sas, rebentam como co-sas, rebentam como co-sas, rebentam como co-sas, rebentam como co-sas, rebentam como co-

gumelos do chão, nagumelos do chão, nagumelos do chão, nagumelos do chão, nagumelos do chão, na

maior parte dos paísesmaior parte dos paísesmaior parte dos paísesmaior parte dos paísesmaior parte dos países

islâmicos, as minoriasislâmicos, as minoriasislâmicos, as minoriasislâmicos, as minoriasislâmicos, as minorias

cristãs são oprimidas,cristãs são oprimidas,cristãs são oprimidas,cristãs são oprimidas,cristãs são oprimidas,

vêem cerceados os seusvêem cerceados os seusvêem cerceados os seusvêem cerceados os seusvêem cerceados os seus

direitos e a sua liberda-direitos e a sua liberda-direitos e a sua liberda-direitos e a sua liberda-direitos e a sua liberda-

de e, frequentemente,de e, frequentemente,de e, frequentemente,de e, frequentemente,de e, frequentemente,

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jecto de perseguiçãojecto de perseguiçãojecto de perseguiçãojecto de perseguiçãojecto de perseguição

sangrenta.sangrenta.sangrenta.sangrenta.sangrenta.

Walter Flick*Walter Flick*Walter Flick*Walter Flick*Walter Flick*in Kirche In, 01/2007, ppin Kirche In, 01/2007, ppin Kirche In, 01/2007, ppin Kirche In, 01/2007, ppin Kirche In, 01/2007, pp. 26. 26. 26. 26. 26

Tradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João Simão

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espiralespiralespiralespiralespiral 7

NO MUNDO DO ISLÃONos últimos dez anos é notório

um aumento da violência contraminorias cristãs na sequência deacontecimentos ocorridos no mun-do ocidental. Assim, desde Outu-bro de 2001 até princípios de2004, em resposta ao combateanti-terrorismo dos Estados Unidos,ao qual se aliou o governo paquis-tanês do presidente Musharrafapós o 11 de Setembro de 2001,registaram-se seis ataques severoscontra cristãos e instituições cristãs,tais como igrejas, escolas e hospi-tais, de que resultaram cerca de 50mortos. Em conexão com as ac-ções militares dos USA no Iraque eno Afeganistão, igrejas e edifíciosreligiosos tiveram de ser colocadossob protecção da polícia e dasforças de segurança. No contextoda polémica das caricaturas noinício de 2006, manifestantes, pos-sivelmente islâmicos, da Nigériadescarregaram a sua raiva sobreas minorias cristãs, tendo comoresultado a morte de, pelo menos,15 pessoas.

SHÁRIA DA IDADE DA PEDRASHÁRIA DA IDADE DA PEDRASHÁRIA DA IDADE DA PEDRASHÁRIA DA IDADE DA PEDRASHÁRIA DA IDADE DA PEDRAÉ de registar nos últimos anos

uma ofensiva da sharia (o direitoislâmico). Para além de obrigaçõesreligiosas — como a profissão defé, a oração cinco vezes ao dia eo jejum — em vários países, comoo Irão, partes da Nigéria e do Su-dão, a sharia ameaça comlapidação o adultério e outros de-litos sexuais.

Desde o ano 2000 já foiintroduzida a sharia em 12 dos 36estados da Nigéria. No Níger, em28 de Junho de 2006 uma jovemfoi apedrejada, por ter trabalha-do como missionária cristã de rua.

No Egipto, a lei islâmica é umacoluna fundamental da Constitui-ção. Na província indonésia deAceh, a sharia existe oficialmentedesde 2006. No Iraque e no Afe-ganistão, estão em vigor na Cons-

tituição os princípios fundamentaisdo direito islâmico. Adicionalmen-te, as normas do Islão pressionamos não muçulmanos a usar o véu,a não missionar, a não construirigrejas, a não vender álcool.

LEIS ANTI-MISSÃOLEIS ANTI-MISSÃOLEIS ANTI-MISSÃOLEIS ANTI-MISSÃOLEIS ANTI-MISSÃONos estados islâmicos é fre-

quente os cristãos serem vistoscomo representantes do Ociden-te, particularmente dos EstadosUnidos. Consideram que os missi-onários cristãos são uma ameaçaà cultura autóctone não cristã e àsua identidade. Como medida de-fensiva surgem as «leis anti-mis-são».

Na Argélia, a missionação é,desde Setembro de 2006, punidapelos muçulmanos com cinco anosde prisão. Nas Comores, em Maiode 2006, quatro cristãos foramcondenados a três meses de pri-são exactamente num processodesta natureza. No Iraque, foramassassinados vários missionárioscristãos nos últimos três anos. NoOutono de 2005, o presidenteAhmadinejad intimou a destruiçãodas florescentes igrejas domésticasprotestantes.

Especialmente os protestantesevangelicos desenvolvem esforçosmissionários intensivos e tambémestão prontos a baptizar muçulma-nos. Sob este ponto de vista, mis-sionários norte-americanos ou gru-pos patrocinados pelos EstadosUnidos são particularmente activos.Até mesmo os cristãos das chama-das igrejas indígenas ou autócto-nes são objecto de missão, o queeles, também no Iraque, vêemcomo provocação.

Os cristãos locais, de tradiçãoortodoxa, católica ou luterana,mantêm uma certa reserva ou atérecusam tais actividades missioná-rias dirigidas aos muçulmanos.Nesta base, os cristãos evangelicaiscorrem maior perigo de virem a

sentir as medidas de defesa anti-missionária.

Na sequência do caso do con-vertido afegão Abdul Rahman,que, por ter abandonado o Islãodeveria ter sido supliciado emMarço de 2006, este problemaconheceu, ainda em 2006, vastapublicidade. Segundo a lei islâmi-ca, a pena de morte pela renega-ção da fé, ou «apostasia», tem fun-damento menos no Corão do quenuma hadith, ou sentença deMaomé «Aquele que muda de re-ligião merece a morte».

Em vários países, como a Mau-ritânia e o Sudão, ainda hoje essapena consta do direito penal mu-çulmano; no Irão e na Arábia Sau-dita, ela baseia-se na praxe dasharia.

Os convertidos são especial-mente ameaçados pela própriafamília e pelos extremistas islâmi-cos. Quem trair o Islão perde o di-reito à herança, pode ser forçadoao divórcio e, frequentemente,perde o emprego.

Durante os últimos 20 anos nãoforam conhecidas oficialmente exe-cuções públicas de convertidos.Todavia, é frequente nos países is-lâmicos eles serem encontradosmortos. São exemplo os casos dopastor Gorban Tori, encontradomorto no Irão em Novembro de2005, e de quatro convertidos aocristianismo, encontrados mortosno Afeganistão no Verão de 2004.

Todavia, há muçulmanos mo-derados, como Mohamed Charfy,da Tunísia, especialista em Direi-to, que, querendo conciliar o Islãocom a modernidade, referem odireito de mudar de religião combase na sura 2,256 «Nenhuma co-acção em matéria de religião».

*Walter Flick é relator para a li-berdade de religião da Sociedade In-ternacional para os Direitos Huma-nos (IGFM) em Frankfurt am Main.

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espiralespiralespiralespiralespiral Responsável: Fernando FélixPraceta dos Malmequeres, 4 - 3º Esq.Massamá / 2745-816 Queluze-mail: [email protected]

Boletim daAssociação Fraternitas Movimento

N.º 28 - Julho/Setembro de 2007N.º 28 - Julho/Setembro de 2007N.º 28 - Julho/Setembro de 2007N.º 28 - Julho/Setembro de 2007N.º 28 - Julho/Setembro de 2007www.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.pt

RELIGIOSIDRELIGIOSIDRELIGIOSIDRELIGIOSIDRELIGIOSIDADE/ ESPIRITUADE/ ESPIRITUADE/ ESPIRITUADE/ ESPIRITUADE/ ESPIRITUALIDALIDALIDALIDALIDADEADEADEADEADE

A religiosidade está para a espiritualidade,Como o luar está para o sol.O luar atenua a escuridão,Mas é o sol que mostra o colorido das flores.O luar é compatível com o frio, não aquece.É o calor que faz crescer e frutificar as plantas.

A religiosidade está para a espiritualidade,Como o orvalho está para a chuva.O orvalho refresca, mas facilmente se evapora.Só a chuva, atingindo a raiz, é fertilizante.

A religiosidade alimenta a religião das tradições.As tradições são manifestações culturais.A religiosidade alimenta a religião das devoções.As devoções são luzes intermitentes.A religiosidade alimenta a religião das obrigações.O «cumprir» é um comprimido tranquilizante.

A espiritualidade é a religião do viver.A espiritualidade, porque emerge do florescimento do SER,Gera a integridade que dá autenticidade às pessoas;Gera a interioridade que dá fecundidade às pessoas;Gera a integralidade que dinamiza o «TODO» que a pessoa é.

A religiosidade cava um fosso entre o homem e o pecadorE Deus infinitamente santo – O Deus Transcendente.A espiritualidade abre a pessoa humana ao seu potencial,Porque Deus, sendo Transcendente, é também Imanente.

A religiosidade acena com a felicidade no Céu,como compensação dos sacrifícios passados na Terra.A espiritualidade proclama que o «CÉU do ALÉM»Começa com o «CÉU do AQUÉM».

A religiosidade institui o «tu deves»,como forma de pressão em todas as praias vivenciais.A espiritualidade proclama o «eu quero»,Que brota do binómio CONHECIMENTO/AMOR.

Cristo MartinsCristo MartinsCristo MartinsCristo MartinsCristo Martinsde de de de de A CAMINHO DA CONCIÊNCIA CÓSMICAA CAMINHO DA CONCIÊNCIA CÓSMICAA CAMINHO DA CONCIÊNCIA CÓSMICAA CAMINHO DA CONCIÊNCIA CÓSMICAA CAMINHO DA CONCIÊNCIA CÓSMICA

conferências a que assistiremos passiva-mente sentados, mas como convite sério eprofundo a alguma mudança interior quepermaneça. É essa mudança que nos po-derá fazer sentir e viver cada dia muito maissaudavelmente, muito mais pacificados, es-palhando também à nossa volta o mesmoclima, neste nosso mundo que tanto procu-ra respostas sólidas e fecundas.

Vamos agarrar este desafio? Em Viseunos encontraremos para juntos o concreti-zarmos.

Até lá!Vasco FernandesVasco FernandesVasco FernandesVasco FernandesVasco Fernandes

O livro «Jesus de Nazaré», que JosephRatzinger assina já como Papa Bento XVI, serápublicado em Portugal em Outubro, pela edi-tora A Esfera dos Livros.

Na Itália, Alemanha e Polónia, os três pri-meiros países em que foi editado, o livro jávendeu mais de um milhão e meio de exem-plares. Também em Espanha, onde foi lan-çado a 28 de Agosto, esgotou logo a primei-ra edição.

O livro tem 450 páginas. No prefácio,Bento XVI esclarece que o texto em questão éo resultado da procura pessoal do rosto doSenhor e não quer ser uma lição ou uma lei aseguir.

Joseph Ratzinger segue os Evangelhoscomo fonte segura e de verdade histórica.Recorda que Jesus não é um mito e que oslugares onde viveu podem ser visitados e es-tudados. Também, a Sua ressurreição é teste-munhada por diferentes vozes. E faz umaabordagem crítica das reconstruções da pes-soa de Jesus que algumas religiões e movi-mentos divulgaram ao longo dos tempos eactualmente.

Bento XVI parte também do seu relato so-bre Jesus para reflectir sobre a sociedade eao mundo actuais: desde a pobreza aos con-flitos internacionais, do fundamentalismo àvivência religiosa...

«JESUS DE NAZARÉ» CHEGA EM OUTUBRO

FERNANDO félixFERNANDO félixFERNANDO félixFERNANDO félixFERNANDO félix

(Continuação pág. 1)