Espiral 30

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N.º 30 - Janeiro / Março de 2008

boletim da associação FRAFRAFRAFRAFRATERNITTERNITTERNITTERNITTERNITASASASASAS MOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTOMOVIMENTO

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(continua na pág. 2)

conversãoconversãoconversãoconversãoconversãoe ressurreiçãoe ressurreiçãoe ressurreiçãoe ressurreiçãoe ressurreição

Em plena Quaresma, preparando-nos todospara a maior Festa do Ano, a Páscoa daRessurreição, gostava de partilhar convosco

este espírito de conversão a que, como cristão, mesinto interpelado. Consciente de que é uma tarefade todos os dias, apercebo-me que é este o mo-mento mais propício para ela. Conversão que signi-fica, antes de mais, voltar-me sempre mais para oSenhor, para aquilo que Ele me marcou como pro-jecto de existência, para aquilo que Ele espera demim cada dia e em cada hora, e que tantas vezesnem consigo discernir, porque me falta meditação eescuta da Sua Palavra.

Provavelmente, quando chegar à vossa caixa decorreio este número do nosso Boletim, a Páscoacomo celebração já passou, mas o Tempo Pascalcontinua, como tempo privilegiado de aprofunda-mento interior e de enriquecimento espiritual. Por issomesmo, sei que me compreendereis, sabendo queescrevi esta partilha em plena Quaresma.

O nosso Encontro Nacional, em Fátima, de 24 a27 de Abril, será orientado pelo nosso tão caro ArturOliveira, que vai procurar baseá-lo no seu livro ain-da por publicar, mas já pronto, sobre «Jesus de Na-zaré e as Mulheres». Que oportunidade excelentepara prolongarmos, em Tempo Pascal, o nosso co-nhecimento sobre Jesus, Quem nunca será matériaesgotada para nós, tão longe estamos de O conhe-

cer em toda a Sua riqueza e profundidade!E nunca saberemos agradecer suficientemente ao

Artur por vir de tão longe, para nos falar, para nosajudar a reflectir, para repartir connosco, duma for-ma sempre muito viva e estimulante, tantos anos deprofundo estudo da Escritura e, sobretudo, dos Evan-gelhos! Uma vez mais sairemos do nosso Encontroanual mais ricos em conhecimentos e com a nossaFé reforçada e mais esclarecida.

Não posso deixar de partilhar convosco, umavez mais, aquilo que foi tema do último edi-

torial do Espiral. Estamos em ano de escolha de umaDirecção para um novo mandato de três anos. Te-nho confiança que o nosso Movimento já estará “emmovimento” para encontrar quem assuma esta tare-fa. Todos os sócios se sentem, certamente, responsá-veis por esta escolha que lhes é solicitada e, no diada Assembleia-Geral, uma ou mais listas aparece-rão certamente, para poderem ser votadas. Seria óp-timo que não fosse uma só, mas sim pelo menosduas, porque para haver uma “eleição” é muitomelhor que haja uma “escolha”, e não que vá a vo-tos uma única hipótese. Até porque no nosso Movi-mento há, certamente, diferentes sensibilidades, vári-as maneiras de sentir o que somos e o que quere-mos, e portanto é natural que as escolhas não sejamuniformes. Só significa que somos um grupo rico deideias e projectos, e que não nos acomodamos auma certa passividade de quem deixa para os ou-tros a solução daquilo que queremos.

Pela nossa parte, ao longo destes três últimos anos,procurámos estar atentos aos diferentes desejos dosmembros, tentámos inovar naquilo que nos pareceuser o “bom sentido”, mas temos plena consciênciadas nossas limitações e fraquezas. Demos o nossomelhor, mas parece-nos justo dar lugar a outros, por-

Conversão e ressurreição 1

Enviou-os dois a dois 2

Nova organização para novas paróquias 3

Um livro sobre homens corajosos 4

Anotações sobre a espiritualidade doseguimento de Cristo 5

Cristãos iraquianos 7

Decálogo do sacerdote 8

Que queremos afinal 8

SumáRIOSumáRIOSumáRIOSumáRIOSumáRIO

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(Continuação pág. 1)

Vasco FernandesVasco FernandesVasco FernandesVasco FernandesVasco Fernandes

Enviou-os DOIS a DOIS

A doutrina do venerando Papa Bento XVI, ex-pressa em encíclicas e outros documentos,

bem como em iniciativas oportunas e prudentes dareforma de alguns dicastérios da Cúria Romana, dassuas visitas apostólicas, principalmente à Turquia, eoutros gestos pastorais; alguns documentos doutri-nais, iniciativas pastorais e sócio-caritativas e váriosgestos proféticos dos Bispos portugueses como aoportuna e urgente chamada de atenção da Confe-rência Episcopal aos poderes civis sobre a Concordatae a protecção das IPSS da Igreja; a continuação deordenações sacerdotais em todas as dioceses, em-bora em número não suficiente; os diversos movi-mentos de Fátima, cada vez mais “altar do mundo”:tudo isto são Aleluias no mundo!

Por outro lado, lançando um olhar sobre as vári-as questões deste mundo real, cujo final feliz não sevislumbra a prazo: sejam guerras a ferro, fogo e san-gue, sejam guerras frias que as diplomacias não têmresolvido; seja a fome, as piores doenças endémicas,

principalmente existentesem África, e ainda ou-

tras novas enfer-midades quepululam comoc o g u m e l o s ,para as quais asautoridades e amedicina disse-ram não haver

medicação adequada; seja a praga moderna dorapto de crianças e tráfico de pessoas…

O conjunto destas realidades, positivas por umlado, negativas por outro, impele-me a evocar o la-tente mandamento do Mestre: «Ide e ensinai».

Porquê, Santíssimo Papa, Cardeais, Arcebispos,Bispos, Monsenhores, não partem assim doze decada vez, acompanhados de peritos e teólogos, comoanjos descidos do Céu, para pacificar as nações:«Deixamo-vos a paz. Damo-vos a paz de Cristo»?

Ah! Se um dia, do Vaticano, partisse uma revoadadestas “pombas brancas”, todo o mundo se admira-ria, levantaria os olhos aos céus, acreditaria mais naIgreja católica e exclamaria com júbilo: «Deus visitouo Seu povo».

Tenho consciência de que esta sugestão é arroja-da. Tenho a impressão de que não passa de um belosonho, de um poema. Mas a Sagrada Escritura estácheia de sonhos, de poemas proféticos. E até o Con-cílio Vaticano II, que após “sonhado”, levou JoãoXXIII a não dormir 15 noites (o tempo que levou apromulgá-lo), e a viagem transatlântica de Paulo VIpara ir discursar na sede das Nações Unidas, nãoforam antes também sonhos subtis?

«Deus pensa, o Homem sonha (o que Deus pen-sa), a obra nasce.» O homem não tem o direito depôr em dúvida o que pensa e quer o Espírito Divino,que tem o Seu tempo e o Seu modo, não os nossostempos ou modos. Como dizia o poeta, «o sonhocomanda a vida». José Silva PintoJosé Silva PintoJosé Silva PintoJosé Silva PintoJosé Silva Pinto

ventura mais capazes de assumir essas responsabili-dades.

Eu e mais alguns elementos da actual Direcçãonão nos recandidatamos, é ponto assente, mas ha-verá sempre alguém que pode transitar para umanova lista, entre outras coisas para garantir uma cer-ta continuidade desejável e proveitosa.

Demos aquilo que pudemos e soubemos duranteestes três anos, e confiamos que haverá outros quenos substituirão com vantagem. Por motivos diferen-tes de cada um dos que agora cessamos a nossaresponsabilidade de Direcção, há também um moti-vo comum que se prende com a disponibilidade detempo para cumprir estas tarefas.

Temos que estar agradecidos ao Senhor por po-dermos servir em muitas “vinhas do Senhor”, porqueisso significa que Ele nos dá saúde e forças. Nenhumde nós cessa funções para ficar sem qualquer res-ponsabilidade na construção do Reino. Pelo contrá-rio, porque temos muitas outras tarefas, pedimos com

A toda aA toda aA toda aA toda aA toda aFFFFFAMÍLIA FRAAMÍLIA FRAAMÍLIA FRAAMÍLIA FRAAMÍLIA FRATERNITTERNITTERNITTERNITTERNITASASASASASdesejamos

uma Páscoavivida e plena!E em Fátima nos encontraremos, em júbilo, a partir de 24 de Abril ao anoitecer!

humildade e confiança que nos substituam nestas. Esabemos que “fraternalmente” seremos compreendi-dos.

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Aquestão séria que se põehoje à Igreja, às comuni-

dades e a cada um de nós, é oanúncio e a transmissão da fé fren-te às mudanças culturais e às difi-culdades e aos desafios que levan-tam: Como anunciar hoje? Qualdeve ser o fundamento da evan-gelização? Que caminhos percor-rer para que seja activa e fecun-da? Não podemos contentar-noscom uma religiosidade vaga, ge-nérica e superficial que não re-siste às transformações culturais, àmínima tempestade provocadapor um «Código da Vinci» e outrasficções do género.

O Papa João Paulo II, na«Novo Millennio Ineunte», indicaalgumas linhas programáticas quepoderemos sintetizar em três pala-vras-chave: Contemplação – con-templar o rosto (mistério) de Cristopara ir ao coração da fé e cami-nhar na estrada da santidade. É oreconhecimento do primado deDeus, da Sua graça e do Seu amorna vida e pastoral da Igreja (Pala-vra, Eucaristia, iniciação à fé);Comunhão – descobrir o mistériode comunhão que habita e carac-teriza a forma da existência cristãe da Igreja, como projecção davida trinitária, e se torna espiritua-lidade pessoal e comunitária, queconfigurará a Igreja como “casa eescola de comunhão”, e por con-seguinte, praxis de comunhão; Mis-são – para ser testemunhas alegrese convictas e fermento evangélicono mundo, atentos à vida quotidi-ana das pessoas e à mudança cul-tural do nosso tempo.

PPPPPARÓQUIA E TERRITÓRIOARÓQUIA E TERRITÓRIOARÓQUIA E TERRITÓRIOARÓQUIA E TERRITÓRIOARÓQUIA E TERRITÓRIOA paróquia tem duas referênci-

as fundamentais: a igreja dio-cesana (da qual é uma célula) e oterritório (no qual torna a Igrejapresente no meio das casas dos

homens). O território deve ser en-tendido não só geograficamente,mas também antropologicamente:as características humanas, sociaise culturais. Dada a mobilidade ca-racterística do nosso tempo, as pes-soas já não vivem, nem fazem asua vida, só no espaço e no am-biente da paróquia.

A paróquia é a Igreja presenteno quotidiano das pessoas e dasfamílias, que as acompanha emtodas as idades e etapas da vida.Todavia, não se pode maisconcebê-la isolada e fechada emsi mesma. Já o P.e Congar, nosmeados do século passado, escre-veu, com o título significativo: «Mi-nha paróquia, vasto mundo»!

Uma pastoral de manutenção,voltada unicamente para a conser-vação da fé e assistência da co-munidade, já não basta. É precisouma pastoral evangelizadora e emtodos os campos: ser capaz de criare manter itinerários que aproximamas pessoas à fé, promovendo lu-gares de encontro com quantosandam à busca e com quem, mes-mo sendo baptizado, sente o de-sejo de escolher de novo o Evan-gelho como orientação de fundoda sua própria vida…

PPPPPASTASTASTASTASTORAL INTEGRADORAL INTEGRADORAL INTEGRADORAL INTEGRADORAL INTEGRADAAAAAAcabou o tempo da paróquia

auto-suficiente que respondia atodas as situações e problemas.

Em âmbitos da pastorallitúrgica, da formação na fé, dapastoral dos jovens, da família,caridade, cultura, saúde, etecetera,só se pode trabalhar juntos. Sãoterrenos onde a paróquia tem ne-cessidade e urgência de mover-seem colaboração com as paróqui-as vizinhas, no contexto davigararia, investindo corajosamen-te numa pastoral de conjunto.

E não se trata apenas de uma

colaboração meramente ocasionalpara uma determinada iniciativa,mas de um laço de colaboraçãoduradoiro e programado.

E não se pense que se trata deuma pura “política de crise” resul-tante da escassez do clero. É antesuma perspectiva que se abre parao futuro. Isto resulta da unidade damissão da Igreja (missão em co-munhão) para que seja vivida nabusca de todas aquelas colabo-rações que permitam realizar inici-ativas que superam as possibilida-des de cada paróquia.

Uma pastoral integrada põeem acção todas as energias deque o povo de Deus dispõe, valo-rizando-as na sua especificidadee, ao mesmo tempo, fazendo-asconfluir em projectos comuns, pen-sados, definidos, programados erealizados em conjunto. Ela põe emrede os múltiplos recursos de quedispõe: humanos, espirituais, cul-turais, pastorais.

Mas isto requer o difícil traba-lho em equipa, que pede uma es-piritualidade e uma ascese, a co-meçar pelo “pensar em equipa”:partilha dos diversos pontos de vis-ta com transparência; desejo deaprender com os outros; escuta in-teressada e sem preconceitos;consciência de que se vê e discernea realidade com maior amplitudee profundidade; renúncia ao indi-vidualismo e à indisciplina.

PPPPPASTASTASTASTASTORAL INTEGRALORAL INTEGRALORAL INTEGRALORAL INTEGRALORAL INTEGRALSe acabou a época da paró-

quia auto-suficiente, acabou tam-bém o tempo do pároco auto-su-ficiente (faz-tudo), que pensa o seuministério isolado. O pároco de-verá promover carismas, vocações,ministérios a partir da correspon-sabilidade. (ver texto completo emw w w. a g e n c i a . e c c l e s i a . p t /noticia.asp?noticiaid=55439http).

D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, propõe novos dinamismos para a paróquia e para o párocoperante as mudanças sociais.

Nova organização para novas paróquias

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página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected] * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected] * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected] * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected]

Philippe Brand situa as vidasdos padres casados, de

quem recolheu testemunhos porescrito, no contexto de uma Igrejaem declínio de influência, de con-vicções enfraquecidas e incapaz deassegurar o pleno desenvolvimen-to individual dos seus ministros.Para isso elaborou uma grelha derespostas em que aborda as eta-pas decisivas com que esses pa-dres se depararam: a formaçãoinicial e o despertar da vocação,a ruptura com a Igreja, a nova pro-fissão, a vida de casal e familiar,o lugar na sociedade e, finalmen-te, as posteriores relações, quer como mundo laico, quer com a Igreja.

Os diferentes testemunhos per-mitiram ao autor descrever as pri-meiras fissuras detectadas, istoapesar da moldura moral e disci-plinar que receberam. São tidosem conta diversos factores de in-fluência, tais como acontecimen-tos exteriores (serviço militar, guer-ra da Argélia, Maio de 68, ...),

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«Des Prêtres Épousent Leur«Des Prêtres Épousent Leur«Des Prêtres Épousent Leur«Des Prêtres Épousent Leur«Des Prêtres Épousent LeurHumanité», este é o título ori-Humanité», este é o título ori-Humanité», este é o título ori-Humanité», este é o título ori-Humanité», este é o título ori-ginal de um livro de Philippeginal de um livro de Philippeginal de um livro de Philippeginal de um livro de Philippeginal de um livro de PhilippeBrand (Ph.B.), publicado pe-Brand (Ph.B.), publicado pe-Brand (Ph.B.), publicado pe-Brand (Ph.B.), publicado pe-Brand (Ph.B.), publicado pe-las Editions Llas Editions Llas Editions Llas Editions Llas Editions L’Harmattan (564’Harmattan (564’Harmattan (564’Harmattan (564’Harmattan (564páginas - 28 Euros).páginas - 28 Euros).páginas - 28 Euros).páginas - 28 Euros).páginas - 28 Euros).A partir de uma recolha deA partir de uma recolha deA partir de uma recolha deA partir de uma recolha deA partir de uma recolha de24 testemunhos escritos, de24 testemunhos escritos, de24 testemunhos escritos, de24 testemunhos escritos, de24 testemunhos escritos, depadres casados, Ph.B. analisapadres casados, Ph.B. analisapadres casados, Ph.B. analisapadres casados, Ph.B. analisapadres casados, Ph.B. analisao percurso desses homenso percurso desses homenso percurso desses homenso percurso desses homenso percurso desses homensque escolheram casar-se,que escolheram casar-se,que escolheram casar-se,que escolheram casar-se,que escolheram casar-se,rompendo assim com a disci-rompendo assim com a disci-rompendo assim com a disci-rompendo assim com a disci-rompendo assim com a disci-plina da Igreja católica.plina da Igreja católica.plina da Igreja católica.plina da Igreja católica.plina da Igreja católica.A questão que põe em análiseA questão que põe em análiseA questão que põe em análiseA questão que põe em análiseA questão que põe em análiseé a seguinte: Por que motivoé a seguinte: Por que motivoé a seguinte: Por que motivoé a seguinte: Por que motivoé a seguinte: Por que motivohomens normais, moldadoshomens normais, moldadoshomens normais, moldadoshomens normais, moldadoshomens normais, moldadospor uma rigorosa formação,por uma rigorosa formação,por uma rigorosa formação,por uma rigorosa formação,por uma rigorosa formação,se decidiram por essa opção,se decidiram por essa opção,se decidiram por essa opção,se decidiram por essa opção,se decidiram por essa opção,enquanto outros (com a mes-enquanto outros (com a mes-enquanto outros (com a mes-enquanto outros (com a mes-enquanto outros (com a mes-ma formação) permanecemma formação) permanecemma formação) permanecemma formação) permanecemma formação) permanecemfiéis ao estado clerical?fiéis ao estado clerical?fiéis ao estado clerical?fiéis ao estado clerical?fiéis ao estado clerical?

Florian BrucknerFlorian BrucknerFlorian BrucknerFlorian BrucknerFlorian Brucknerin Golias magazine, n.º116,in Golias magazine, n.º116,in Golias magazine, n.º116,in Golias magazine, n.º116,in Golias magazine, n.º116,

Set/Out 2007Set/Out 2007Set/Out 2007Set/Out 2007Set/Out 2007Tradução: Paulo EufrásioTradução: Paulo EufrásioTradução: Paulo EufrásioTradução: Paulo EufrásioTradução: Paulo Eufrásio

correntes filosóficas como oexistencialismo, a vontade de in-tervenção efectiva no meio (segun-do o modelo dos “padres operá-rios”), e outros. Eles, homens deconvicção e de acção, preocupa-dos em transmitir a mensagem doEvangelho, vão-se dando conta deque a Igreja se vai tornando umsimples “centro de administraçãode sacramentos”. Mas não põema sua fé em causa. É na instituiçãoque situam o problema, devido so-bretudo à sua estreita visão de um“pensamento cristão único”.

«Na medida em que o espíritoera alimentado e satisfeito, as ne-cessidades do corpo encontravam--se limitadas», conclui PhilippeBrand. Para lá da sexualidade, en-carada como um pecado, o en-contro com o feminino fez com queestes homens descobrissem o amore encarassem a possibilidade de

d e s c e n -dência. O

casamento,a s s u m i d o

como um verda-deiro acto de mi-

litância, no sentido de opção poruma união livre, acaba por signi-ficar a ruptura com a Igreja. E estanão pode fechar os olhos – comofaz por vezes com certas uniões“oficiosas” - revelando-se incapazde evoluir nesta matéria.

O autor, ele também um pa-

dre casado, observa de forma lú-cida o facto de que nada se alte-rou entretanto, e como, nesta área,não tem sido possível encetar, atéhoje, qualquer tipo de diálogocom a hierarquia.

Estes testemunhos permitem aPh.B. analisar os diferentes percur-sos destes homens corajosos quecontinuam a acreditar no “tesourodo Evangelho” e na acção colec-tiva. É comovente, sobretudo, adescrição da dolorosa inserção nomundo laico e do trabalho...

Este livro é um dos únicos e, queeu tenha conhecimento, o primei-ro desde há mais de uma déca-da, a evocar colectivamente a ex-periência daqueles que fizeramuma escolha de vida determinan-te, há trinta ou quarenta anos atrás.

Procura interpretar este fenóme-no colectivo através da história das

correntes do pensamen-to e das forças socio-

lógicas e espirituaisdos quatro últimosséculos, após a Re-forma protestantee o Concílio deTrento. Situaigualmente es-tas experiênci-as de vida noquadro dosp rob l emascom os quaissão confron-tados os ho-mens e oscrentes dehoje.

O livronão propões o l u ç õ e s

para a crise da Igreja católica nosnossos dias, como também nãopretende qualquer acerto de con-tas com a instituição. A obra pode,contudo, contribuir para esclareceros espíritos dos responsáveis ecle-siais.

UM LIVRO sobre HOMENS CORAJOSOS

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Descobrir Cristo, significa re-descobrir o Jesus de Na-

zaré dos Evangelhos, entregue anós em narrações de fé, apresen-tado através de mediadores:Deus- Pai, o Espírito Santo, e todaa História da Igreja.

A História da Igreja, e da hu-manidade é lugar do redesco-brimento de Cristo, porque o Evan-gelho tem reencontrado o seu pró-prio lugar, o lugar no qual deveser lido e a partir do qual se fazPalavra de Vida. Esse lugar é omundo dos crentes, que são pro-fetas, sacerdotes, reis, pobres, mis-sionários, mártires, convertidos…

A primeira característica deCristo que pode ser captada pe-los crentes, e dela estes serem me-

diadores, é a da proximidade. Je-sus é o Próximo. Ele, não sóencarnou, mas aproxima-Se daspessoas e da sua realidade, e éassim que faz os Seus julgamen-tos, denuncia, desmascara, per-doa, salva e exige. A proximida-de é, em síntese, a encarnação damisericórdia. É pela proximidadeque todos, e em especial os po-bres, podemos chamar Irmão aJesus. Por esta mesma proximida-de misericordiosa – em que vivemem conjunto alegrias e tristezas, an-seios e conquistas –, é que Jesus écredível, é Verdade.

Uma segunda característica deCristo, a ser captada e clonada pornós, é a de Libertador, Redentor,Salvador, conforme Lc 4,18-19: «OEspírito do Senhor está sobre Mim,porque Ele Me consagrou com aunção, para anunciar a Boa Novaaos pobres, enviou-Me para pro-clamar a libertação aos presos eaos cegos a recuperação da vista;para libertar os oprimidos, e paraproclamar um ano de graça doSenhor». É libertador enquanto li-vra as pessoas das angústias, daresignação, dos individualismos,do desespero; porquanto nos co-

munica uma força interior quenos faz mudar, pessoalmen-te e ao nosso redor, de pes-soas amedrontadas, fecha-das, para homens livres, paraesperar, para nos unirmos,para lutar. Mas esta liberta-

ção só é possível com a fé. Ocontacto de Jesus com os doentesdeixava--os sãos, mas uma era arazão: «A tua fé te salvou». A fé emDeus Pai correlaciona-se com a féna fraternidade universal. Daí quea maior cura para a sociedade dehoje é vencerem-se egoísmos, es-cravidões, ódios.

Isto leva-nos a uma terceira ca-racterística de Jesus: Ele opera

uma profunda libertação na pró-pria noção de Deus, distinguindoDeus verdadeiro dos ídolos. Deusquer a vida das pessoas, que deveser em abundância, mas que co-meça com pão, casa, saúde eeducação. Os ídolos, ao contrá-rio, esvaziam as pessoas: exigem--lhes, cada vez mais, tempo, emo-ções, dinheiro e, até, a felicidade.

O SEGUIMENTO SEGUIMENTO SEGUIMENTO SEGUIMENTO SEGUIMENTOOOOOSeguir Cristo é aderir ao que

Ele nos diz. Começa por não nosconformarmos com este mundo,com as suas verdades, os seus ído-los, mas denunciá-lo, quando ade-re ao pecado. Nisto havemos deser Boa Nova de libertação. Temosde ser fiéis, mesmo quando as con-sequências possam ser todo o tipode perseguições. Neste núcleo fun-damental da espiritualidade, aexistência orienta-se não para adefesa da própria pessoa, nem deuma filosofia, de uma ideologiapolítica ou de um fundamentalis-mo religioso, mas para Deus, quequer ser «tudo em todos».

A vida dos crentes, no mundode hoje, é seguimento de Jesus nodesprendimento, no serviço, noapontar caminhos, na sobriedadebaseada na verdade. Nunca notriunfalismo. Não é por se funda-mentar nos títulos: sou cristão, soupapa, bispo, padre, religioso,catequista, que o crente se faz BoaNotícia, mas por ser Amigo de Cris-to. Ele não é dono da Salvação.O crente não tem soluções paratudo; mas, objectivamente, sabe adirecção para a qual nos devemosmover: o Reino de Deus. E, comoafirmou o profeta Miqueias, cami-nha «sem triunfalismos, por umaparte, e sem complexos de inferi-oridade, por outra, mas humilde-mente, com Deus».

ANOTAÇÕES SOBRE A ESPIRITUALIDADEDO SEGUIMENTO DE CRISTO

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O teólogo Jon Sobrino disse,O teólogo Jon Sobrino disse,O teólogo Jon Sobrino disse,O teólogo Jon Sobrino disse,O teólogo Jon Sobrino disse,uma vez, que Cristo é Alguémuma vez, que Cristo é Alguémuma vez, que Cristo é Alguémuma vez, que Cristo é Alguémuma vez, que Cristo é Alguémque se descobre todos os dias.que se descobre todos os dias.que se descobre todos os dias.que se descobre todos os dias.que se descobre todos os dias.Isto, porque Ele éIsto, porque Ele éIsto, porque Ele éIsto, porque Ele éIsto, porque Ele éeterna novidade;eterna novidade;eterna novidade;eterna novidade;eterna novidade;porque nós, os crentes,porque nós, os crentes,porque nós, os crentes,porque nós, os crentes,porque nós, os crentes,O temos escondido;O temos escondido;O temos escondido;O temos escondido;O temos escondido;e, também,e, também,e, também,e, também,e, também,porque a humanidade estáporque a humanidade estáporque a humanidade estáporque a humanidade estáporque a humanidade estásempre a fabricarsempre a fabricarsempre a fabricarsempre a fabricarsempre a fabricaros seus cristos/ídolos.os seus cristos/ídolos.os seus cristos/ídolos.os seus cristos/ídolos.os seus cristos/ídolos.

Fernando félixFernando félixFernando félixFernando félixFernando félix

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CRISTÃOS IRAQUIANOSEntre a esperança e a fuga

in Kirche In, 09/2007, ppin Kirche In, 09/2007, ppin Kirche In, 09/2007, ppin Kirche In, 09/2007, ppin Kirche In, 09/2007, pp. 30. 30. 30. 30. 30Tradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João SimãoTradução: João Simão

O objectivo da des-locação de uma peque-

na delegação austríaca ao Iraqueera expressar solidariedade aoscristãos refugiados, provenientessobretudo das grandes cidades dosul (Bagdade e Bassorá), mas tam-bém de Mossul, no norte, e estu-dar a melhor forma de os ajudar.Eles pertencem àqueles grupospopulacionais que, na actual situ-ação, são proporcionalmentemais perseguidos e ameaçados.

A viagem até Erbil decorreusem problemas. O visto de entra-da, na forma de um carimbo, foiconcedido gratuitamente.

O CURDISTÃOO CURDISTÃOO CURDISTÃOO CURDISTÃOO CURDISTÃOA região curda tem cerca de

cinco milhões de habitantes, den-tre os quais aproximadamente200.000 são cristãos. Em todo oIraque ainda há actualmente en-tre 400.000 e 500.000 cristãos, oque representa apenas metade dosque lá viviam antes da invasão doexército dos Estados Unidos.

À região curda são atribuídos17 por cento do orçamento naci-onal. O presidente do Governo éMassoud Barzani. Três membrosdo seu Governo são cristãos, en-

A convite do arcebispoA convite do arcebispoA convite do arcebispoA convite do arcebispoA convite do arcebispocatólico caldeu de Kirkuk,católico caldeu de Kirkuk,católico caldeu de Kirkuk,católico caldeu de Kirkuk,católico caldeu de Kirkuk,Louis Sako, uma pequenaLouis Sako, uma pequenaLouis Sako, uma pequenaLouis Sako, uma pequenaLouis Sako, uma pequenadelegação austríacadelegação austríacadelegação austríacadelegação austríacadelegação austríacadeslocou-se ao Iraque com odeslocou-se ao Iraque com odeslocou-se ao Iraque com odeslocou-se ao Iraque com odeslocou-se ao Iraque com oobjectivo de verificar noobjectivo de verificar noobjectivo de verificar noobjectivo de verificar noobjectivo de verificar noterreno a situação local dosterreno a situação local dosterreno a situação local dosterreno a situação local dosterreno a situação local doscristãos na região do Iraquecristãos na região do Iraquecristãos na região do Iraquecristãos na região do Iraquecristãos na região do Iraquecontrolada pelos Curdos.controlada pelos Curdos.controlada pelos Curdos.controlada pelos Curdos.controlada pelos Curdos.Entre os participantesEntre os participantesEntre os participantesEntre os participantesEntre os participantescontava-se também ocontava-se também ocontava-se também ocontava-se também ocontava-se também oDrDrDrDrDr. Johann Mar. Johann Mar. Johann Mar. Johann Mar. Johann Marttttte, presidente, presidente, presidente, presidente, presidenteeeeeda Pró-Oriente.da Pró-Oriente.da Pró-Oriente.da Pró-Oriente.da Pró-Oriente.Apresentamos excertos doApresentamos excertos doApresentamos excertos doApresentamos excertos doApresentamos excertos doseu relatório de viagem.seu relatório de viagem.seu relatório de viagem.seu relatório de viagem.seu relatório de viagem.

tre os quais o Ministro das Finan-ças, Sarkis Aghajan Mamendu, bas-tante influente. Toda a região curdaexperimenta um desenvolvimentoeconómico que se pode classificarde claro a héctico. Isso torna-se evi-dente no elevado número de no-vas construções em toda a regiãoe pelo denso tráfego de camiões.

Apenas os inúmeros controlosarmados nas estradas, principal-mente nas de longo curso, alertampara a tensa situação de seguran-ça. Só na cidade de Kirkuk, que ficana fronteira da região curda, asbarragens de estrada, inúmerasforças policiais e a proibição desaída a partir das 23 horas, assi-nalam o reforço da situação desegurança.

A região curda lucra claramen-te com esta situação. Já antes nãofoi afectada pelo embargo daONU (1991-2003), tendo podidodesenvolver-se mais ou menos tran-quilamente durante esse tempo.

O ministro curdo da cultura,Falak-Addin Kakayee, querimplementar uma «more openkurdish society». Promove intensiva-mente a língua e cultura curdas e

defende a igualdade de homense mulheres. Rejeita em absolutoqualquer extremismo. Considera--se empenhado na luta contra aviolência sobre as mulheres:«Encontramo-nos hoje numa guer-ra fria contra os extremistas islâ-micos. Numa sociedade domina-da por homens, eles tentam excluiras mulheres curdas da participa-ção na vida cultural.»

No que concerne aos direitosdas mulheres, já desde o início dosanos 90 há melhor regulamenta-ção do que na maioria das outrasregiões do Iraque.

CRISTÃOS: A CONDIÇÃOCRISTÃOS: A CONDIÇÃOCRISTÃOS: A CONDIÇÃOCRISTÃOS: A CONDIÇÃOCRISTÃOS: A CONDIÇÃOAntes de 2003, metade dos

cristãos iraquianos vivia emBagdade. Eles dividem-se por ca-torze confissões diferentes. Muitosjá se refugiaram no estrangeiro ouno norte do Iraque (no universo detodos os refugiados, os cristãos sãouma parte desproporcionadamen-te grande) mas ainda há bairros,como Ankawa em Erbil, capital doCurdistão, ou pequenas cidadescomo Karakosh ou d’Alkosh, quesão quase exclusivamente cristãos.

A presença cristã no Iraque émuito antiga e decorre da

pregação do Apóstolo Tomé, quedepois da morte e da Ressurreiçãode Jesus, partiu de Jerusalém eevangelizou, nos anos 42-49, to-das as populações do Oriente Mé-dio. Os protestantes chegaram aoIraque há poucos anos.

Na era pós-Saddam, a comu-nidade cristã manteve o seu espa-ço social e político, lutando pelaedificação de um Estado leigo epluralista, respeitoso das minorias.

As comunidades católicas noIraque são de quatro ritos:Caldeus, Sírio-antioquenos,Arménios e Latinos.

Os Caldeus são a grande mai-oria (setenta por cento) entre oscristãos locais. A sede do Patriar-cado está em Bagdade. Num con-texto de maioria islâmica, vive ecelebra a sua fé com grande vita-lidade, dedicando-se sobretudo àcatequese e à educação. Fervo-rosa na caridade, assiste numero-sas famílias pobres, cristãs e mu-

Comunidades católicas no Iraque

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A Delegação ficou muito sur-preendida com os aldeamentos ecom as igrejas, recém construídospara os cristãos refugiados. Osrecursos para esse efeito foramdisponibilizados pelo Ministro dasfinanças Sarkis Aghajan Mamendu.É evidente que, com estas novasaldeias, se pretende colonizar onorte do país, até agora muitopouco aproveitado.

Ora os cristãos envolvidos nes-ta situação deparam-se com umgrande problema: eles habitamcasas novas (pequenos bangalóstérreos) numa região isolada, masfértil, no entanto sem empregos, namaior parte dos casos sem água esem electricidade.

Na grande maioria, estes cris-tãos provêm de cidades grandes,muitos são intelectuais e não têmexperiência em agricultura. Ora,um trabalho neste sector parece serum pressuposto essencial para asua sobrevivência. Geralmente sen-tem-se felizes por terem escapadoao terror e ao perigo de vida. Tam-bém recebem do Governo regio-nal 100 dólares por mês para asubsistência, o que é muito poucopara viver e não pode constituiruma solução duradoura. O queeles pediram à Delegação foi,concretamente: vacas, ovelhas,bem como tractores, estações detratamento de água, hospitais

móveis, carrinhas para poderemmandar os filhos à escola, porqueo Governo sente-se incapaz de sa-tisfazer estas exigências.

Afectados por esta imediata si-tuação de emergência estão actu-almente cerca de 6000 cristãos(talvez mais de 2000 famílias).

Com raras excepções, os cris-tãos no sul do Iraque são amea-çados ou raptados, não por seremcristãos, mas porque são vítimasmais fáceis (não são protegidospor ninguém) e maiscompensadoras (os raptores espe-ram resgates maiores).

SOBREVIVÊNCIASOBREVIVÊNCIASOBREVIVÊNCIASOBREVIVÊNCIASOBREVIVÊNCIAO maior problema para a so-

brevivência da cultura cristã no Ira-que é a emigração. Aliás, elaacontece muitas vezes mesmo semhaver pressão externa, como nocaso de Akra, onde, talvez desdehá mais de dois séculos, aindaexistia uma diocese, cujo bispo foiantecessor do arcebispo Sako. Oclero desempenha um papel mui-to importante quando se trata decontrariar o fluxo emigratório. Umoutro problema para as Igrejascristãs é o paternalismo generali-zado (espírito de tribo) e asegmentação da sociedade emgrupos, uma situação que neutra-liza a legislação.

Também as relações, muitas ve-

zes amistosas, entre cristãos e mu-çulmanos em nada influem paraalterar a existência de uma divisãofundamental da sociedade numacamada dominante (muçulmanos)e os súbditos (todos os outros), deacordo com Corão 9, 33. A clas-sificação de «dhimitude», o cha-mado «pecado original da dife-rença» (…) e, em consequência dis-so, as sempre recorrentes humilha-ções e discriminações de toda aespécie, a total falta de autorida-de política, mas também persegui-ções sangrentas, não deixaram deter consequências sobre a formade estar na vida dos cristãos.

A preocupação actual comuma todos os cristãos no Iraque é oparadoxo da nova Constituição deOutubro de 2005. Enquanto oArt.º 1 daquele documento funda-mental garante os direitos huma-nos e parece proteger os cidadãoscontra qualquer espécie de discri-minação, estabelece o Art.º 2 quenenhuma lei pode contrariar asharia (lei islâmica). Caso a shariaislâmica se torne a lei suprema, háque contar com um novo êxododos cristãos e, provavelmente, como fim da sua presença no Iraque,onde eles, desde os tempos apos-tólicos, sempre deram uma contri-buição decisiva para a cultura,para a vida social e para o de-senvolvimento económico.

çulmanas, distribuindo alimentos,vestuário e ajudas de vários géne-ros, todos os meses. Na LiturgiaCaldeia, a língua oficial é oaramaico, língua litúrgica, teoló-gica e clássica do Cristianismo detradição semítica.

Os Sírio-antioquenos são umacomunidade de cerca de 75 milfiéis, divididos em duas diocesesentre Bagdade e Mossul. Depoisda missão dos Jesuítas e dosFranciscanos Capuchinhos, inicia-da em Aleppo (Síria) em 1626,uma parte da Igreja sírio-anti-oquena, chamada «Jacobita», de-cidiu unir-se à Igreja de Roma, for-

mando assim a Igreja sírio-anti-oquena católica, que manteve todaa herança patrística e litúrgica. Aslínguas usadas na Liturgia são, tan-to o árabe, sobretudo nas gran-des cidades, como o aramaico,nas aldeias ao redor de Mossul.O Patriarcado dos sírios católicosé em Beirute, no Líbano.

As comunidades arménias pre-sentes no Iraque provêm da imi-gração e das deportações força-das das populações arménias,ocorridas em 1915, depois dosmassacres ordenados pelo regimede Giovanni Turchi. A Igrejaarménia inspira-se na figura de

São Gregório, o Iluminador, quecristianizou a Arménia no século III.Divide-se entre ortodoxos (ouapostólicos) e católicos. Na últimadécada, a comunidade reduziu-semuito devido à marginalização eà pobreza.

A Igreja latina é diminuta: 2500fiéis. É animada por Institutos mis-sionários, que administram paró-quias. Estes aprendem a línguaárabe e a tradição litúrgica e ritualcaldeia, inserindo-se plenamentena cultura local. O arcebispo DomJean Benjamin Sleiman é seu líder.

Fernando FélixFernando FélixFernando FélixFernando FélixFernando Félix

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espiralespiralespiralespiralespiral Responsável: Fernando FélixPraceta dos Malmequeres, 4 - 3.º Esq.Massamá / 2745-816 Queluze-mail: [email protected]

Boletim da AssociaçãoFraternitas Movimento

N.º 30 - Janeiro/Março de 2008N.º 30 - Janeiro/Março de 2008N.º 30 - Janeiro/Março de 2008N.º 30 - Janeiro/Março de 2008N.º 30 - Janeiro/Março de 2008www.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.ptwww.fraternitas.pt

N ão somos pessimistas nemderrotistas, mas temos de aceitar que há pro-

blemas graves que afligem a humanidade.A morte lenta de milhões de irmãos nossos

subalimentados, as discriminações sociais e raciais,e o tormento das guerras, mal desaparecidas de umpaís para se implantarem noutro, quase nos levam adar razão ao filósofo Hobbes, para quem a guerraseria o estado normal do homem sobre a terra.

Não alinhamos nesse pressuposto, até porque afé que nos anima dá-nos outras perspectivas da vida,que para nós não é uma tragédia, mas uma passa-gem, mais ou menos atribulada sim, mas a caminhode uma vida de paz e de amor junto de Deus.

Podem estas considerações parecer uma utopiamoralista, sem impacto na vida real. Sabemos quefalar de moral faz enjoar muita gente! Não somostão pessimistas quanto isso, mas também não quere-mos ser tão ingénuos que nos entretenhamos a es-crever lindos poemas na areia das praias, porque

QUE QUEREMOS, AFINALQUE QUEREMOS, AFINALQUE QUEREMOS, AFINALQUE QUEREMOS, AFINALQUE QUEREMOS, AFINALsabemos que logo viria a fúria das ondas para tudoarrasar, deixando apenas a desilusão da fantasia,que eventualmente acalentáramos, de conservar po-emas e sonhos no que é inseguro e efémero na vida.

Não, amigos! O nosso optimismo assenta numafé que não vacila diante das tempestades da vida, enunca no que é passageiro! Deus é um Deus de vida,de paz e de abundância, mas para todos, e não demorte e de guerras. Deus é libertação e não escravi-dão. Deus é Pai, Deus é amigo, Deus é o compa-nheiro de viagem sempre presente, ainda que muitasvezes nos pareça ausente. A vontade de Deus é quecada um de nós seja feliz. Mas deixa-nos a liberda-de de escolher! E o mal é que nem sequer sabemos,ou não nos interessa escolher!

Todos temos a missão de ajudar a encontrar ca-minhos seguros para sair deste infernal desconchavo.Sabemos isso?... Se não sabemos, então que quere-mos, afinal?!

Manuel PaivaManuel PaivaManuel PaivaManuel PaivaManuel Paiva

É mais importante:1 - Como vivo o sacerdócio, do que aquilo que

faço enquanto sacerdote.2 - O que Cristo faz através de mim, do que

aquilo que faço eu.3 - Que eu viva a comunhão no presbitério, do

que lançar-me até à exaustão sozinho no ministé-rio.

4 - O serviço da oração e da palavra, do queo das mesas.

5 - Seguir e ajudar a formar, espiritual e cultu-ralmente, os colaboradores, do que fazer eu mes-mo e sozinho o mais possível.

6 - Estar presente em poucos, mas centrais sec-tores de acção, com uma presença que irradie vida,do que estar em tudo à pressa ou a meias.

7 - Agir em comunhão com os colaboradores,do que sozinho, mesmo que me considere capaz;ou seja, é mais importante a comunhão do que aacção.

8 - A cruz do que os resultados, muitas vezesaparentes, fruto de talentos e esforços simplesmen-te humanos, porque mais fecunda.

9 - Ter a alma aberta sobre o “todo” (comuni-dade, diocese, Igreja universal, humanidade), doque fixada em interesses particulares, ainda queme pareçam importantes.

10- Que a fé seja testemunhada a todos, doque satisfazer todos os pedidos habituais.

Espaço de Partilha

1.1.1.1.1. Ninguém é indiferente às necessidadesdos outros. Mas, quando os atingidos são osnossos, os que nos são mais próximos (familiares,companheiros de jornada ou de ideal), certamentemobilizamo-nos mais.

2.2.2.2.2. Sabemos que o Movimento tem procuradoacorrer a casos concretos e, por vezes,dramáticos. A Fraternitas fá-lo por imperativo deconsciência e para dar cumprimento aos seusEstatutos. Mas procura que aconteçaevangelicamente: «Não saiba a tua esquerda oque faz a tua direita».

3.3.3.3.3. Só é possível continuar a acorrer a casosde verdadeira necessidade se partilharmospartilharmospartilharmospartilharmospartilharmostambémtambémtambémtambémtambém. Por isso, não esperes que te batamexpressamente à porta. Decide-te, desde já:partilha com os outros através do Movimento.

4.4.4.4.4. Vá já à caixa do multibanco mais próximae faça uma transferência interbancária para aconta nº 00330033003300330033 000045218426660 05000045218426660 05000045218426660 05000045218426660 05000045218426660 05. Omontante é apenas da sua conta e da de Deus.Irá direitinho para quem precisa!

5.5.5.5.5. Também pode depositar na mesma contabancária o valor da quota anual de sócio: 30euros - casal; 20 euros - pessoa singular.

Bem-haja!

Decálogo do sacerdotede D. Klaus Hemmerle, bispo de Achen, Alemanha