Espiral 46

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fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX fERNANDO fÉLIX espiral ANO xiII - N ANO xiII - N ANO xiII - N ANO xiII - N ANO xiII - N.º 46 - J .º 46 - J .º 46 - J .º 46 - J .º 46 - JANEIR ANEIR ANEIR ANEIR ANEIRO/mARÇO de 2012 O/mARÇO de 2012 O/mARÇO de 2012 O/mARÇO de 2012 O/mARÇO de 2012 boletim d boletim d boletim d boletim d boletim da associação fra a associação fra a associação fra a associação fra a associação frater ter ter ter ternit nit nit nit nitas mo as mo as mo as mo as moviment viment viment viment vimento Escr Escr Escr Escr Escre e ev v vo par o par o par o par o para mim mesmo a mim mesmo a mim mesmo a mim mesmo a mim mesmo A Fraternitas existe para que não se apague o carisma – o dom de Deus – que há em nós. É essa a nossa reivindicação. O Senhor chamou-nos. Atraiu-nos a vida sacerdotal, o ministério. O modo de o realizar é como Deus o quer, e já foi diferente do que é hoje, por isso cremos que pode ser através do celibato ou da vida em matrimónio. Na Fraternitas, todos somos uma família. E todos somos necessários: uns mais ativos, outros menos; uns na frente, outros na retaguarda; uns com ação, outros com a oração; uns com forças, outros com mais debilidades… “Temos cinco dedos e nenhum é igual”, diz a sabedoria milenar. Na Fraternitas, sabemo-lo, todos têm a sua função imprescindível. Por isso, nos lembramos uns dos outros, alegramo-nos com a presença de cada membro e damos pela sua falta, sentimos a sua ausência. A vida em Fraternitas não depende se pagamos quotas ou não. A quota é uma questão legal – com a sua devida importância –, por se tratar de uma associação. Todavia, mais importante é o Espírito, são os laços no Espírito, porque somos Movimento. Devemos dinheiro à Fraternitas? Até pode acontecer... Porém, devemos, sobretudo, vida, fraternidade, alegria, partilha de sofrimentos... isso sim. E a nossa dívida nunca estará saldada... E, quanto às dívidas materiais, a associação sempre disse – está registado em Acta da Direção – que se alguém não pode pagar, que não sejam os motivos financeiros a decidir o afastamento. FOLHAS CAÍDAS Se uma árvore, por passar o inverno sem folhas, dissesse que já não merecia florir na primavera, como estaria errado o seu modo de pensar! Ou seja, admitamos que vários membros da Fraternitas estão a viver um período de inverno. E isso independentemente da idade, se é homem ou mulher, e valorizando cada um dos fatores da crise pessoal ou familiar. O que importa é que permitam que floresça a primavera. E o que é ser primavera na vida da Fraternitas? É, tantas vezes, ser portador da seiva que renova a vida. Vários não podem participar nas atividades do movimento – e lembro o nosso Encontro Nacional, em Fátima, de 27 a 29 de abril – . A uns direi: não é preciso que se sintam na obrigação de participar fisicamente para se sentirem membros ativos. Rezar, oferecer os trabalhos, as dores, as canseiras, o dia a dia... isso é estar em comunhão. Como diz Richard Bach, “Podem os quilómetros separar-nos realmente dos amigos? Se você quer estar com alguém a quem ama, já não está lá?” A outros, porém, direi as palavras de Mahatma Gandhi: “Sê a mudança que queres ver no mundo.” Nada na vida dá jeito. Há sempre imprevistos, obrigações, atividades que colidem com os planos pessoais, com as expetativas. Por isso, temos de adaptar-nos, eleger segundo o que é prioritário, conforme o que tem mais valor, dispor-nos a colocar os nossas qualidades de caráter e, também, administrar os nossos bens materiais ao serviço do bem do irmão, do próximo. NÃO HÁ ACASOS No Encontro Nacional, em Fátima, vamos partilhar testemunhos de voluntariado. Vale a pena lembrar estas sabedorias: “Se alguém te procurar com frio... é porque tens o cobertor. Com alegria ... é porque tens o sorriso. Com lágrimas... é porque tens o lenço. Com versos... é porque tens a música. Com dor... é porque tens o curativo. Com palavras... é porque tens a audição. Como fome... é porque tens o alimento. Com beijos... é porque tens o mel. Com duvidas... é porque tens o caminho. Com orquestra... é porque tens a festa. Com desânimo... é porque tens o estímulo. Com fantasias... é porque tens a realidade. Com desespero... é porque tens a serenidade. Com entusiasmo... é porque tens o brilho. Com segredos... é porque tens a cumplicidade. Com tumulto... é porque tens a calma. Com confiança... é porque tens a força. Ninguém chega até ti por acaso, em tudo há propósito...”

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espiralANO xiII - NANO xiII - NANO xiII - NANO xiII - NANO xiII - N.º 46 - J.º 46 - J.º 46 - J.º 46 - J.º 46 - JANEIRANEIRANEIRANEIRANEIRO/mARÇO de 2012O/mARÇO de 2012O/mARÇO de 2012O/mARÇO de 2012O/mARÇO de 2012

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EscrEscrEscrEscrEscreeeeevvvvvo paro paro paro paro para mim mesmoa mim mesmoa mim mesmoa mim mesmoa mim mesmo

A Fraternitas existe para que não se apague o carisma – odom de Deus – que há em nós. É essa a nossa reivindicação.O Senhor chamou-nos. Atraiu-nos a vida sacerdotal, oministério. O modo de o realizar é como Deus o quer, e jáfoi diferente do que é hoje, por isso cremos que pode seratravés do celibato ou da vida em matrimónio.

Na Fraternitas, todos somos uma família.E todos somos necessários: uns mais ativos, outros menos;

uns na frente, outros na retaguarda; uns com ação, outroscom a oração; uns com forças, outros com mais debilidades…

“Temos cinco dedos e nenhum é igual”, diz a sabedoriamilenar. Na Fraternitas, sabemo-lo, todos têm a sua funçãoimprescindível. Por isso, nos lembramos uns dos outros,alegramo-nos com a presença de cada membro e damospela sua falta, sentimos a sua ausência.

A vida em Fraternitas não depende se pagamos quotas ounão. A quota é uma questão legal – com a sua devidaimportância –, por se tratar de uma associação. Todavia, maisimportante é o Espírito, são os laços no Espírito, porquesomos Movimento.

Devemos dinheiro à Fraternitas? Até pode acontecer...Porém, devemos, sobretudo, vida, fraternidade, alegria,partilha de sofrimentos... isso sim. E a nossa dívida nuncaestará saldada...

E, quanto às dívidas materiais, a associação sempre disse– está registado em Acta da Direção – que se alguém nãopode pagar, que não sejam os motivos financeiros a decidiro afastamento.

FOLHAS CAÍDASSe uma árvore, por passar o inverno sem folhas, dissesse

que já não merecia florir na primavera, como estaria erradoo seu modo de pensar!

Ou seja, admitamos que vários membros da Fraternitas

estão a viver um período de inverno. E issoindependentemente da idade, se é homem ou mulher, evalorizando cada um dos fatores da crise pessoal ou familiar.O que importa é que permitam que floresça a primavera.

E o que é ser primavera na vida da Fraternitas? É, tantasvezes, ser portador da seiva que renova a vida. Vários não

podem participar nas atividades do movimento – e lembroo nosso Encontro Nacional, em Fátima, de 27 a 29 de abril –. A uns direi: não é preciso que se sintam na obrigação departicipar fisicamente para se sentirem membros ativos. Rezar,oferecer os trabalhos, as dores, as canseiras, o dia a dia... issoé estar em comunhão. Como diz Richard Bach, “Podem osquilómetros separar-nos realmente dos amigos? Se você querestar com alguém a quem ama, já não está lá?”

A outros, porém, direi as palavras de Mahatma Gandhi:“Sê a mudança que queres ver no mundo.”

Nada na vida dá jeito. Há sempre imprevistos, obrigações,atividades que colidem com os planos pessoais, com asexpetativas. Por isso, temos de adaptar-nos, eleger segundo oque é prioritário, conforme o que tem mais valor, dispor-nosa colocar os nossas qualidades de caráter e, também,administrar os nossos bens materiais ao serviço do bem doirmão, do próximo.

NÃO HÁ ACASOSNo Encontro Nacional, em Fátima, vamos partilhar

testemunhos de voluntariado. Vale a pena lembrar estassabedorias:

“Se alguém te procurar com frio... é porque tens o cobertor.Com alegria ... é porque tens o sorriso.Com lágrimas... é porque tens o lenço.Com versos... é porque tens a música.Com dor... é porque tens o curativo.Com palavras... é porque tens a audição.Como fome... é porque tens o alimento.Com beijos... é porque tens o mel.Com duvidas... é porque tens o caminho.Com orquestra... é porque tens a festa.Com desânimo... é porque tens o estímulo.Com fantasias... é porque tens a realidade.Com desespero... é porque tens a serenidade.Com entusiasmo... é porque tens o brilho.Com segredos... é porque tens a cumplicidade.Com tumulto... é porque tens a calma.Com confiança... é porque tens a força.Ninguém chega até ti por acaso, em tudo há propósito...”

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Vamos anunciando as obrasVamos anunciando as obrasVamos anunciando as obrasVamos anunciando as obrasVamos anunciando as obras

literárias disponíveis noliterárias disponíveis noliterárias disponíveis noliterárias disponíveis noliterárias disponíveis no

Secretariado para seremSecretariado para seremSecretariado para seremSecretariado para seremSecretariado para serem

consultadas por qualuqe sócio. Oconsultadas por qualuqe sócio. Oconsultadas por qualuqe sócio. Oconsultadas por qualuqe sócio. Oconsultadas por qualuqe sócio. O

critério tem sido o biénio ou ocritério tem sido o biénio ou ocritério tem sido o biénio ou ocritério tem sido o biénio ou ocritério tem sido o biénio ou o

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no tempo, e no Espiralno tempo, e no Espiralno tempo, e no Espiralno tempo, e no Espiralno tempo, e no Espiral do quartodo quartodo quartodo quartodo quarto

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nesse mesmo ano.nesse mesmo ano.nesse mesmo ano.nesse mesmo ano.nesse mesmo ano.

No Espiral n.º 44, tratámos oNo Espiral n.º 44, tratámos oNo Espiral n.º 44, tratámos oNo Espiral n.º 44, tratámos oNo Espiral n.º 44, tratámos o

triénio 2006-2008, mas 2007triénio 2006-2008, mas 2007triénio 2006-2008, mas 2007triénio 2006-2008, mas 2007triénio 2006-2008, mas 2007

ficou em branco, e, antes, noficou em branco, e, antes, noficou em branco, e, antes, noficou em branco, e, antes, noficou em branco, e, antes, no

Espiral n.º 42, o biénio 2009-Espiral n.º 42, o biénio 2009-Espiral n.º 42, o biénio 2009-Espiral n.º 42, o biénio 2009-Espiral n.º 42, o biénio 2009-

2010. Como alguns livros2010. Como alguns livros2010. Como alguns livros2010. Como alguns livros2010. Como alguns livros

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anunciados, por ausência deanunciados, por ausência deanunciados, por ausência deanunciados, por ausência deanunciados, por ausência de

dados na altura, vamosdados na altura, vamosdados na altura, vamosdados na altura, vamosdados na altura, vamos

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O Secretariado agradece osO Secretariado agradece osO Secretariado agradece osO Secretariado agradece osO Secretariado agradece os

dados relativos a quaisquer livrosdados relativos a quaisquer livrosdados relativos a quaisquer livrosdados relativos a quaisquer livrosdados relativos a quaisquer livros

publicados pelos associados. Epublicados pelos associados. Epublicados pelos associados. Epublicados pelos associados. Epublicados pelos associados. E

pede que os levem para ospede que os levem para ospede que os levem para ospede que os levem para ospede que os levem para os

Encontros Nacionais!...Encontros Nacionais!...Encontros Nacionais!...Encontros Nacionais!...Encontros Nacionais!...

Parabéns aos autores e seusParabéns aos autores e seusParabéns aos autores e seusParabéns aos autores e seusParabéns aos autores e seus

colaboradores.colaboradores.colaboradores.colaboradores.colaboradores.

UrUrUrUrUrtélia Siltélia Siltélia Siltélia Siltélia Silvvvvvaaaaa

“SONHOS E GESTOS DEVIDA”, Manuel Alves Paiva (Oliveirade Azeméis, maio de 2007), edição doautor [217 páginas].

Afirma o autor: “procurei resumiras iniciativas pastorais sonhadas erealizadas, durante os, até então, 30 anosde paroquialidade do dinâmico etotalmente dado ao serviço dacomunidade, o P. Albino de AlmeidaFernandes, que transformou porcompleto o ambiente espiritual dacomunidade da cidade de Oliveira deAzeméis, conseguindo impulsionar ascrianças, os jovens e os adultos, nacriação de grupos de dinamizaçãocomunitária, cuja responsabilidade poreles foi assumida e vivida.”

Este livro foi publicado para seassociar à celebração das Bodas de OuroSacerdotais do referido P. Albino.

Livros de associados da Fraternitaseditados em 2011

“UM NOVO CONCEITO DEEUROPA E OUTROS ENSAIOS”,Artur Cunha de Oliveira (Angra doHeroísmo, maio de 2009), edição de “ACasa Encantada” [340 páginas], acercado qual o vice-presidente dos GovernoRegional, Dr Sérgio Ávila, escreveu noPrefácio: “Este livro do Dr. Cunha deOliveira reflecte trechos de uma vidafascinante, deambulando pela Política,pela História, pela Construção Europeiamas, sobretudo, por uma participaçãocívica intensa, inconformista, polémicae frontal, traços marcantes do autor. Asua visão, assente num profundosubstrato cultural e numa visão humanistado mundo, foram cimentando ideias,conceitos, perspectivas que, tantas vezesantes do tempo, se foram revelandocorrectas”.

“CASA SANTA MARTA DECHAVES/ Instituição Modelar deAssistência aos Idosos”, texto de AlípioMartins Afonso e pesquisa da Irmã M.do Carmo (Chaves, maio de 2011),edição da Casa Santa Marta,[formato:17x0,8x24, 143 páginas].

D. Amândio José Tomás, 7 de maiode 2011, apresentando o livro - “ 6. Olivro recolhe o testemunho dosintervenientes na obra de bem-fazer: daIrmãs, do co-fundador da obra, nestacidade, o generoso P. Manuel Pita, dospadres Carlos Jorge Alexandre,Norberto Portelinha, do P. Albino LageDias, de Monsenhor Manuel Teixeira edoutros benfeitores. O livro apresentaos depoimentos orais e algunsdocumentos escritos, cartas, decisões etextos legais do arquivo da Santa Casada Misericórdia de Chaves e do arquivoda Congregação, que a Irmã Maria delCármen, uma espécie de ministro de

relações públicas da congregação, nacidade, desde 25 de novembro de 1975,lhe facultou. 7. (…) Cultivar a memóriahistórica ajuda a travar as batalhas dopresente para construir um radiosofuturo de esperança. (…)”.

* João G.M. Batista, Presidente daCâmara Municipal (nosso associado),pág. 11: “ (…) Perpetuar na História aHistória da Instituição é um tributo justoao trabalho solidário de quem faz dasolidariedade uma forma de vida.”

* O autor do texto em EPÍLOGO,pág. 141-142: “ (…) A opção selectiva éda minha inteira responsabilidade.Deixei-me conduzir não por umqualquer direito de justiça social mas porimperativo de pedagogia social – porquesó Deus conhece as capacidadeshumanas, disponibilidades e possibilida-des financeiras de cada qual e mede, porvia disso, a generosidade de cada um.

(…) A solidariedade cristã irmanoupobres e ricos. Foi-me fácil nomearalguns dos mais sonantes (…) queconstam do arquivo. (…) Todos, menosum, cujo gesto vou lembrar e só o gesto,(…). Foi uma senhora de Vila Verde daRaia. A comissão local para a recolha deofertas, destinadas ao 2.º Cortejo deOferendas, em 1958, bateu-lhe à porta.A senhora estava dentro mas, fez-seausente, para não lhes aparecer. Diasdepois, vem ao Lar trazer a oferta - 5escudos - justificando-se perante a Irmãque a recebeu, de não os ter oferecido àComissão por não os possuir no dia dopeditório e que fora por isso que sefingira ausente de casa. À pergunta daIrmã sobre a forma como se deslocaraaté ali, respondeu: «A pé, se não lá se me ia

o dinheiro todo. E a pé regressou. » Aosolhos de Deus de Deus esta oferta igualaa dracma do Evangelho. (…)”

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“MISERICÓRDIAS PORTU-GUESAS – PADRÕES DE FÉ, DEHISTÓRIA E DE CIDADANIA”,Manuel Ferreira da Silva (Lisboa, 2011),edição do autor, [formato: 17 x 2,2 x24, 370 páginas].

Dr. João Afonso Calado da Maia(também prefaciador), na contracapa:“Nesta notável Obra do Dr. Ferreira daSilva, (...) desenvolve-se, de uma formaaprofundada, um estudo bem docu-mentado do candente e preocupanteproblema da natureza jurídica das SantasCasas. O subtítulo do livro: Os direitos da

Razão e a Razão de alguns Direitos é desdelogo significativo de quem nem sempreos direitos legítimos que julgamosirrefutáveis, são entendidos pela Razão;e que, por vezes, esta, por inexplicávelque pareça, nem sempre é traduzida emdireitos. Não se trata de Obra de crítica,nem tem objetivos polémicos, como oautor adverte no Pré-Texto, sobre odiferendo que opõe alguns elementos daHierarquia em Portugal às Santas Casasda Misericórdia, e só em Portugal,quanto à questão de se saber se asMisericórdias Portuguesas são Institui-ções Privadas de Fiéis, constituídas naOrdem Jurídica Canónica, portantoEclesiais, ou se, pelo contrário, sãoInstituições Públicas de Fiéis e, nesse caso,Eclesiásticas. O Dr. Ferreira da Silva, es-critor, ensaísta, grande jornalista, fun-dador e director do Jornal Voz das

Misericórdias, conhece profundamente asSantas Casas e o trabalho que elas desen-volvem na sua acção misericordiosa.Com a sua grande formação literária,jurídica, canónica, pastoral e teológica,grande investigador e brilhante escritor,era a personalidade mais indicada paraproceder a este completo e bemelaborado Estudo do complexo pro-blema, o qual, pela sua actualidade, vem,e no momento próprio, apresentar nestaObra, cuja falta se fazia sentir.”

O autor, em Pré-Texto: “(…) Podeeste escrito-testemunho denunciar-se àprimeira vista e com uma leituraapressadamente sumária ou preconcei-

tuosamente deficiente, como prosa ba-nal de cariz meramente crítico, ou seja,primariamente denunciador de casos,ideias, problemas, situações, afirmaçõesou pessoas. Mas não. (…) Tomam pesosim, e de muito específica verdade,apenas e só, a natureza, o carisma e amissão de uma instituição: as Miseri-córdias. E essas tudo merecem de todosnós. E todos nós muito lhes devemos aelas, para facilmente se compreender quepor elas “tudo vale a pena”.

“AUTOCONSCIÊNCIA - Segundopasso existencial “, Manuel JoaquimCristo Martins (Lisboa, setembro2011), Editora Paulinas [formato:13x1,5x20,5, 240 páginas].

O autor, na contracapa: “Estesegundo livro da trilogia Autoconhecimento,Autoconsciência e Autotranscendência alerta-nos para a urgência em eliminarmos oparadigma fratricida «ganhar/perder»,implantando, na nossa vivência pessoale, por ela, na Comunidade Humana, oparadigma «ganhar/ganhar». É um con-vite a mergulharmos nas profun-dezasdo nosso ser e, a partir daí, deixar o Artí-fice divino purificar e plenificar o nossosentir, para que brote o Amor; purificare plenificar o nosso pensar, para quebrote a Sabedoria; e purificar e plenificaro nosso agir, para que brote a Harmoniae a Paz. Este livro traz nas suas entranhaso segredo das verdadeiras revoluções.As verdadeiras revoluções acontecem nosilêncio ativo da consciência espiritual.”

De Vasco Ventura, na contracapa:“Cristo Martins faz do humanismo oseu sacerdócio, quer através dos seuslivros quer no contacto direto com aspessoas, numa partilha total do que oestudo lhe revela, a reflexão aprofundae a experiência consagra. Na sua peda-gogia peculiar, surpreende-nos com asíntese dos seus diagramas, com a pro-fundidade das suas explicações e com asimplicidade da sua linguagem. O seucampo de acção tem sido largo ediversificado: empresas, escolas,instituições, associações…”

“O MEU OUTRO PAI”, Maria JoséBijóias Mendonça, edição da autora(Lisboa, novembro de 2011).

A autora: “Este livro pretende ser umtributo ao meu pai e à minha mãe, umahomenagem à médica que tratou domeu pai (e que tanta paciência teve paramim) – e nela a todos quantos dignificama medicina –, uma forma de exprimir aprofunda gratidão que sintorelativamente ao meu marido e a quemesteve e continua a estar por perto e amanifestar verdadeira amizade e carinhonesta fase tão penosa, e um meio decomunhão com quem se encontre aviver um processo de luto” (pág. 3).

No Prefácio, do Professor DoutorMário Simões – «Ao iniciar a leitura destelivro, logo na página 3, dei-me conta quea Maria José já tinha escrito o prefácio(…), mas não faz justiça completa aoconteúdo do livro. Na verdade, estequestiona-nos sobre a MORTE, que aMaria José insiste em nomear semrodeios (não a passagem, trânsito, sonoeterno, grande viagem, etc.), acerca dasnossas atitudes em relação a pessoas queperderam um ente querido e é umareflexão sobre a vida e também umalição sobre esta. Ainda, e talvez o maisimportante para ela (a autora), é oreconhecimento simultâneo dadescoberta de um pai “real”, que surgeao “descobrir-se” também a si, sob aforma de um testemunho pungente.

Este testemunho é escrito numalinguagem fluida, inteligente, com humore emotiva, de tal modo que quase seentrevê a mímica e outra linguagemcorporal da autora. A sua personalidadeperpassa ao longo das páginas – (…)!Apetece, pois, ler!

(…). O capítulo II, “E depois (d)ador”, é quase um verdadeiro manual decomo estar no luto com alguém, (…).É no capítulo V, que começa o núcleodo livro, com a descoberta de um novopai, que vai a par e passo com adescoberta de um seu “novo eu”. (…)Outra aprendizagem a fazer é aexpressão dos afectos (…) Oxalá este

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livro mude algo nesta área! (…) Umobjecto da investigação que a PsicologiaPositiva propõe é o perdão. É que estádemonstrado que, tal como outros, taiscomo o amor e o humor, faz bem aopróprio e aos outros. É interessante quea Maria José nomeie os seus pais os“Gurus do Perdão” e, de modo irónico,se distancie do “perdão pastilha elástica”.Este é reconhecido quando se ouve“perdoo, mas não esqueço” ou “vouperdoar, mas primeiro tenho de mevingar” ou ainda “perdoei, mas, quandopenso nisso, ainda me dá volta aoestômago”, isto é, esticam-se demasiadoos acontecimentos até “fazer balões”.Propõe antes que se escreva na areia omal que nos fazem, para que o ventoapague o registo, e na pedra o bemrecebido, para que fique gravado adeternum. (…) É sábio dizer que o temponada cura, mas o que se faz no seudecurso, o que vai acontecendo(passivamente) e o que se faz acontecer.Em relação ao passado vivido comoutras pessoas que nos precedem namorte fica a paz se a consciência do quefoi feito e dito foi o nosso melhor, nãotem que ser o óptimo! As páginas escritassão disso o testemunho e as alegadascaracterísticas “d” do luto – duro,demorado, difícil – são, pela Maria José,transmutadas em “p”, de puro,profundo e perfeito.

Mesmo assim, quando se sente quese disse muito, ainda muito fica por dizere então surge a necessidade de o escrevernuma longa carta de AMOR, sim, amorreconhecido a posteriori, sobretudopelos seus efeitos, na ausência da pessoaamada. É também um ritual necessário,quase sagrado, onde perpassam citaçõesde pessoas que considera Mestres, (…)E “do outro lado” também existemcomunicações, que a Maria José descrevemuito bem sob o tema “Saudadeslegendadas”, (…) No final retorna àVIDA, não à vidinha (O’Neil), citandoLago: “Fiz um acordo de coexistênciapacífica com o tempo – nem ele mepersegue, nem eu fujo dele – um dia agente encontra-se.” Atinge uma

sabedoria quase búdica ao interiorizarque a realidade não é como a vemos,mas pode vir a ser comoconscientemente “fingimos acreditar” –(…) Praticar o humor, (…) é uma dassuas sugestões, entre outras, paraenfrentar a VIDA. (…) Este livro (…) étambém um acto de AMOR. (…)»

Depois da leitura, aceiam-se ecos epartilhas de experiências e sabedorias doluto no blogue amarparaalemdamorte.

Estas obras foram gentilmenteEstas obras foram gentilmenteEstas obras foram gentilmenteEstas obras foram gentilmenteEstas obras foram gentilmente

ofofofofoferecidas à FRAerecidas à FRAerecidas à FRAerecidas à FRAerecidas à FRATERNITTERNITTERNITTERNITTERNITAS, peloAS, peloAS, peloAS, peloAS, pelo

que estão disponíveis, podendoque estão disponíveis, podendoque estão disponíveis, podendoque estão disponíveis, podendoque estão disponíveis, podendo

ser solicitadas a qualquerser solicitadas a qualquerser solicitadas a qualquerser solicitadas a qualquerser solicitadas a qualquer

membro da Direção.membro da Direção.membro da Direção.membro da Direção.membro da Direção.

“A MORTE DO JUSTO”, ArturCunha de Oliveira (Angra doHeroísmo, 2011), edição “A CasaEncantada” [250 páginas] – uma leiturae comentário compreensivos ecompreensíveis do Evangelho da Paixãoe Morte do Senhor Jesus.

“JESUS DE NAZARÉ E ASMULHERES - A propósito de MariaMadalena”, Artur Cunha de Oliveira(Angra do Heroísmo, 2011), edição doInstituto Açoriano de Cultura (IAC),[formato: 17 x 3 x 24, 583 páginas].

Pode ler-se na dedicatória manuscrita:“Às mulheres da Fraternitas”, Antonietae Artur em 7.02.2012.

No Prólogo: “Este é sem dúvida umlivro sui generis. Pode não obedecer aoscânones da bibliografia. Mas responde,ou tenta responder, aos ditames da cir-cunstância e da consciência. Em pri-meiro lugar aos ditames da circunstância,pois vivemos tempos de crise. Crise nãotento de valores que, bem ao contráriodo que às vezes aí se diz, continuamexistindo. (…) A crise residirá, então,mais na linguagem, mais na maneira enos processos de comunicação e davivência, que nos valores em si. (…) semnunca perder de vista o objectivo quefoi cientificamente fundamentarcientificamente a minha convicção arespeito das relações entre Jesus deNazaré e Maria Madalena, aproveiteipara alargar horizontes nalguns Excursos

sobre temas de fronteira e, nomeada-mente, proporcionar ao (…) leitor omais largo e por vezes profundo (quiçárepetitivo) contacto e familiaridade comas fontes primigénias e mais credíveis doCristianismo, que são as SagradasEscrituras (a Bíblia) e os Padres eEscritores Eclesiásticos dos primeirosséculos da Igreja. (…)

Na Contracapa: «Jesus de Nazarécasou de facto com Maria Madalena?Não viria qualquer espécie de mal aomundo, à religião e ao cristianismo seassim tivesse sido. Mas não foi. “Rostohumano de Deus”. Jesus de Nazaré eraperfeito homem. E o casamento fazparte da natureza humana. Sucedeporém que, bem contrário de toda acriatividade literária e cinemato-gráficados últimos trinta anos, a investigaçãohistórica e literária mais desprecon-ceituosa, séria, extensa e profunda, quera partir dos escritos canónicos e dosprimeiros autores cristãos, como dosseus contemporâneos não cristãos e atéanti - cristãos, quer da correcta leiturados evangelhos gnósticos (ao contráriodo que fez Dan Brown), nada milita emfavor do casamento de Jesus de Nazaré.

Quanto a Maria de Madalena amesma investigação o que nos oferece éalguém do círculo íntimo de Jesus deNazaré, senhora de bens e casada nãose sabe com quem, que a primitivatradição cristã aponta como alguém aquem primeiro foi revelada aRessurreição. Tal qual sucedeu a tantasoutras mulheres a quem o itineranteprofeta galileu dispensou humanaatenção, carinho e até ternura, foi curadade grandes males, pelo que Lhe ficoueternamente grata, acompanhando-O esocorrendo-O ( e aos discípulos) comos seus bens. Nada mais.

Foi o Papa Gregório Magno que,numa homilia do dia 21 de setembrode 591, na Basílica de S. Clemente, emRoma, confundiu com a “pecadoraarrependida” do evangelista Lucas (7,36-50). A partir de então terminou aHistória e principiou a Lenda. Agoratenta-se criar o Mito.»

página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected] * blogue: http://fraternitasmovimento.blogspot.com * e-mail: [email protected] * página oficial na Internet: www.fraternitas.pt * e-mail: [email protected]

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UmNo sucesso do presente? Na beleza

fugaz e efêmera? Na moda que se acendee apaga como a noite e o dia? Mas tudoisso não passam de fumaça passageira eenganosa. Sucessos e fracassoscostumam se comportar como ondasalternadas: ora se levantam e seagigantam, ora se curvam e tombam,rebentando irremediavelmente sobre ochão. Ao mesmo tempo, alegram e logoentristecem. Confiar em sucesso é comocaminhar sobre corda bamba. Aqualquer escorregão, tudo vem abaixo.Verdadeiro show pirotécnico: sobe comprofusão de cores, desenhos e brilho;mas, com a mesma rapidez se apaga edesce, convertendo tudo na mais densaescuridão. Quem vive do sucesso, oscilaentre a euforia e a tristeza, sem conhecero repouso do meio termo. Fogos deartifício: após a luz intensa e fugaz, restaum punhado de cinzas que o vento varre.Pó que desaparece ao menor sopro deuma brisa vespertina. O sucesso nopresente não passa de uma fortaleza bemfrágil, sempre ameaçada pelosimprevistos do futuro, ou pelas sombrasdo passado.

“Vaidade das vaidades, tudo évaidade”, diz a sabedoria do Eclesiastes.O sucesso ou o glamour, com seusrevestimentos e cosméticos aparentes,multiplica palcos, cenários, platéias; nutre-se de câmeras e ação, holofotes emicrofones; envolve personalidades ecelebridades com uma auraaparentemente imortal. Porém, o públicoque ergue estátuas e as cultua é o mesmoque, cedo ou tarde, irá reduzi-las a ruínase escombros. Aplausos e vaias semesclam, se confundem e se sobrepõemcom uma alternância espantosa. Oexemplo do futebol bastaria para nosabrir os olhos. Heróis de belos driblesestonteantes e de alguns gols, facilmentese convertem em vilões de inevitáveistropeções. Nada é mais efêmero e

volúvel do que os sentimentos ecomportamentos de uma arquibancadacompacta. A multidão da platéia“aplaude e pede bis”, como diz acanção; mas também, com o mesmoímpeto, distribui palavrões e condena aoostracismo. Vitórias e derrotas sucedem-se, frias e quentes, como as estações doano. A embriaguez da fama, a exemplode qualquer tipo de embriaguez, sedissolve numa noite de sono. Podem seraplicadas aqui as palavras do salmista,embora se refiram a toda a vida humana:“Eles passam como o sono da manhã,são iguais à erva verde dos campos: demanhã ela floresce vicejante, mas à tardeé cortada e logo seca” (Sl 89, 5-6).Coração que descansa sobre o sucesso,rumina e amarga o presságio doesquecimento.

DoisOnde repousa teu coração? Sobre o

dinheiro, a renda e a riqueza; sobre ascontas bancárias e as propriedadesadquiridas; sobre o brilho das jóias e osbens de luxo; sobre a posse de roupas,carros e equipamentos de últimageração? Também aqui os fantasmas domedo rondam as portas e janelas dasmansões e dos palácios, por maisherméticas e intransponíveis que elassejam. Os mais sofisticados sistemas desegurança não conseguem eliminar oespectro da incerteza e da insegurança.Nenhum travesseiro traz tanta insôniaquanto o capital acumulado. Todo o quese acumula sofre de duas enfermidadescrônicas: apodrece e atrai os abutres. Sãoos tesouros que a traça corrói e osladrões podem carregar, como bemmostra a sabedoria de Jesus noEvangelho. E continua: onde está teutesouro, aí está teu coração. Irrequieto esobressaltado em proporção àquilo quetem que defender. Riquezas exigemarmazéns; estes necessitam de guardas;e os guardas formam o olhar do

proprietário. Como repousar diantedessa montanha de riquezas, tão oculta,guardada e silenciosa quanto aparente-mente barulhenta e cobiçada?

As turbulências do mercadoglobalizado, o sobe-e-desce das bolsasde valores, a cotação do dólar, os preçosdos produtos e a possibilidade de lucrossempre maiores... Tudo isso faz trepidaro colchão sobre o qual teu corpoesgotado busca repouso. São extrema-mente tênues e débeis os fios quecosturam a rede da economia capitalista.Com a velocidade de um toque na teclado computador, tudo pode se alterar.Fortunas de muitos zeros podem subire declinar com a mesma rapidez. Não étão raro que milionários e bilionáriostenham de assistir, de um dia para a noite,à evaporação de seus ganhos. Bem dizShakespeare em uma de suas peças: “tenspreocupações em demasia com estemundo; perdem-no aqueles que ocompram à custa do excesso decuidados” (O Mercador de Veneza, AtoI, Cena 1).

TrêsOnde repousa teu coração? Na

compulsão do consumo, noacompanhamento dos últimos objetosda moda, na procura de objetos quepreencham a sede e a fome que assalta atodo o ser humano? Mas todo esseesforço de busca não faz senão aumentara própria sede e a fome. Neste caso, amatemática parece nos trair: quanto maisartefatos, bijuterias e bagatelasacumulamos, mais se aprofunda o vazioda própria existência. Cada vez mais asvitrines dos grandes centros comerciais– shopping centers – nos atraem e nosfascinam. Luzes, cores, variedades edisposição seduzem o consumidorinveterado. Mas a aquisição dos objetosnos frustra. A posse desfaz a magia.Somente desejamos o que ainda estálonge de nossas mãos. Assim que as

Onde repousa o teu coraçãoPPPPP. Alfredo J. Alfredo J. Alfredo J. Alfredo J. Alfredo J. Gonçal. Gonçal. Gonçal. Gonçal. Gonçalves - ves - ves - ves - ves - Assessor dAssessor dAssessor dAssessor dAssessor das Pas Pas Pas Pas Pastastastastastorais Sociaisorais Sociaisorais Sociaisorais Sociaisorais Sociais. - . - . - . - . - AditAditAditAditAditalalalalal

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coisas se tornam nossas, como queperdem o valor que tanto nos atraía. Oresultado é encher gavetas e mais gavetasde produtos que, com rapidezextraordinária, se convertem em lixo.Lixo antes mesmo de desfazer aembalagem, antes de chegar em casa!Tudo mexe com nossos desejos e tudoé igualmente descartável. Pulamosfacilmente de um desejo a outro e, emconsequência, nos empanturramos debens supérfluos. O mais grave é que odesejo tem uma dinâmica crescente. Deum objeto a outro, aumentasimultaneamente o grau de fascínio e derejeição. Nenhum coração poderepousar sobre o verniz falso dasmercadorias que, com um misto desedução e indiferença se adquirem, sebanalizam e se descartam.

Resulta desse processo umainsatisfação progressiva. Compramospara aliviar o desejo, mas este só fazcrescer diante das coisas adquiridas.Voltamos à loja com sede redobradaatrás das últimas novidades. Novacompra e nova insatisfação. E assim ocírculo vicioso vai se ampliando emespiral. Ficamos presos na ratoeira doconsumo, pois sempre um produto aindainusitado e, portanto, mais fortementecobiçado. O marketing e a propaganda,com seus agentes de publicidade, seencarregam de manter girando essa rodado mercado. Criam necessidadessempre novas e, não raro, absolutamentedispensáveis. É o que se poderia chamarde globalização intensiva, que tem afunção de manter vivo e ampliar o desejodos que já estão incorporados aomercado mundial. Paralelo a esseesforço, caminha aglobalização extensiva,que, ao contrário, procura incorporarnovos consumidores e novos territóriosao mercado global. Consolida-se dessaforma o crescimento compulsivo daeconomia capitalista, em detrimento domeio ambiente e da qualidade de vidaem todas as suas formas, como nosalertam os cientistas, os movimentossociais e, em especial os ambientalistas.A ordem é produzir, vender/comprar

e consumir, numa velocidade tal quecaímos no vórtice voraz de umadevastação planetária.

QuatroOnde repousa teu coração? Sobre

títulos, prestígio, nome e renome; sobrea proliferação de mestrados edoutorados, simbolizados no “canudo”;sobre o afã de galgar os degraus dasociedade assimétrica ou da hierarquiainstitucional; sobre o posto conquistadono mercado de trabalho, a cadeira cativano campo legislativo ou o poder deinfluência no labirinto do executivo e dojudiciário? Mas, tal como no caso dosucesso e insucesso, aqui também agangorra não perdoa. O prestígio e ainfluência são tão voláteis quanto afumaça ou as promessas de palanque.Pior ainda: raramente se livram do vírusda corrupção, do nepotismo, do abusoe do tráfico da força e de tantas outrasbactérias que proliferam nos corredoresmuitas vezes infectos da política. Quecoração pode repousar em meio àsintrigas, disputas e ruídos das salas esalões das Câmeras e do Senado? Nojogo de “posição e oposição”, vitóriase derrotas estão sempre á espreita. Asbatalhas se sucedem, os animas seexaltam, multiplicam-se os discursosprolixos...

E que resulta de todo este gasto deenergia? Esquerda e direita deembaralham e se confundem de talforma, que as fronteiras se quedamcompletamente borradas. A ética do bemcomum dá lugar ao jogo de interesses,ao balcão de negócios ou à simplescompra e venda de opiniões. Ospartidos não passam de escadas parasubir da planície ao planalto, do primeiroao segundo andar. Escadas que setrocam e se abandonam como quemtroca de roupa ou calçado. Canais,instrumentos e mecanismos de podersão manipulados de formainescrupulosa, não de acordo com asnecessidades básicas da população, e simconforme as vantagens e desvantagensdas classes dominantes, das elites

históricas ou da “nova companheirada”.A noção de democracia se desgasta compráticas que pouco ou nada respeitamas exigências de uma efetiva decisãodemocrática, participativa. Daí que naárea dos países ocidentais,frequentemente o conceito dedemocracia nada mais é do que oarcabouço legal do sistema deexploração capitalista de filosofia liberal/neoliberal. O jogo de fachada doexercício democrático – eleições,candidatos, urnas, votos, etc. – só fazreproduzir os privilégios históricos eestruturais dos moradores da casaGrande. A democracia ocidental surfanas ondas superficiais da política, ou dapoliticagem, sem mergulhar seriamentenas correntes subterrâneas da economia.

CincoOnde repousa teu coração? Na

astúcia e na malicia que se delicia emorquestrar a vingança? Noentrelaçamento de sentimentos derancor e ódio, cujo objetivo é urdir redesde intrigas e difamações? No terreno dainveja e do ciúme, que só faz crescer acizânia no meio do trigo? Tramas dessanatureza costumam deixar o coração emefervescência e inquietude constante.Não há descanso possível! Bem sabemosque cada mentira necessita de uma sériede outras para manter-se de pé. Omecanismo desencadeado peloressentimento cria uma teia de aranha tãoinextrincável e labiríntica que facilmentecaímos nas próprias armadilhas. “Ofeitiço se volta contra o feiticeiro”, insistecom razão o ditado popular. Quandoentra em jogo não a luz e a verdade,mas a esperteza e a enganação, é precisoarquitetar mil maneiras para superar as“maracutaias” do adversário. Sim, asrelações tornam-se ciladas de um inimigocontra o outro. O conflito se instala eimpõe uma atenção redobrada.Inaugura-se uma espiral de violênciacrescente que só faz acirrar os ânimos.Coração que se lança nesse jogo dexadrez perde completamente o sossego.Vive aos sobressaltos: qualquer ruído,

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ASSEMBLEIA GERALASSEMBLEIA GERALASSEMBLEIA GERALASSEMBLEIA GERALASSEMBLEIA GERAL

A realizar no dia 29 de abril de 2012(domingo), pelas 9h45, no Semináriodo Verbo Divino, em Fátima, com aseguinte ordem de trabalhos:

1. Apreciação e votação da ata an-terior.

2. Informações.3. Apresentação, apreciação e vota-

ção do relatórios de atividades de abril2011a abril 2012 e das contas do anode 2011. Leitura do Parecer do Con-selho Fiscal.

4. Apresentação, apreciação e vota-ção do plano de atividades referentede abril de 2012 a abril de 2013, e doorçamento para 2012.

5. Outros assuntos.

programaENCONTRONACIONAL

Fátima - Seminário do VerboDivino (Rotunda Norte)

Dia 27 de abril (6.ª-feira)20h00 – Jantar21h15 – Informações. Serão22h00 – Descanso

Dia 28 de abril (sábado)8h30 – Pequeno-almoço9h00 – Laudes10h15 – Encontro13h00 – Almoço15h15 – Encontro19h30 – Vésperas20h00 – Jantar21h15 – Tertúlia

Dia 29 de abril (domingo)8h30 – Pequeno-almoço9h00 – Laudes9h45– ASSEMBLEIA GERAL12h00 – Eucaristia13h00 – Almoço

qualquer notícia, qualquer sombra tomaas dimensões de um fantasmaameaçador.

Nem precisaria acrescentar que orancor e o ódio, a discórdia e a vingança,a atitude de revanche e desamorcomprometem seriamente a saúde física,mental e psíquica. O mesmo ocorre como sentimento de culpa, fonte de nãopoucos distúrbios pessoais e relacionais.Quando a culpa e a mágoa se convertemnuma espécie de sensação doentia,podemos imaginar reações inesperadas,que, em freqüentes e rápidas oscilações,vão facilmente da euforia à depressão.Boa parte das pessoas cultiva a mágoase a culpas como verdadeiros bichinhosde estimação. Assim, em meio a um climade alegria e festa, costumam surpreenderseus acompanhantes, como um pássaroerrante que precisa encontrar um galhoonde efetuar um pouso de emergência,para sustentar o peso de seu fardo,muitas vezes falso e imaginário. Tambémneste caso, o coração permanece escravode uma mente mórbida, que não secansa de encontrar motivos para opessimismo mais devastador. Emsemelhante atmosfera, proliferam aspalavras envenenadas, o silêncio oumutismo constrangedor, as brigas cegas,mudas e surdas pelo poder, o prestígio,a influência.

Numerosos personagens da literaturaconstituem personificações exemplaresda farsa e da astúcia, cuja função é minaro caminho dos demais. Nesse campo,destaca-se de forma notória o gênio deShakespeare em criar figuras vivas e ativasque se esmeram em costurar intrigas comconsequências quase sempre trágicas. Asmais evidentes são, sem dúvida, Falstaff,Iago, Edmundo, Lady Macbeth. Sãoseres de inteligência e imaginaçãoextremamente aguçadas e perversas.Trazem ao palco os instintos, impulsos,paixões e interesses que cada um de nósprocura esconder no canto maisescondido do coração. Desnudam ascontradições e incongruências maisocultas nas entranhas do ser humano.Para utilizar a linguagem de Freud, esses

personagens shakesperianos, três sécu-los antes da criação da psicanálise, exi-bem nua e cruamente aquilo que o egoe o superego proíbem ao id de revelar.Se é verdade que Freud sistematiza emtermos de conceitos as “ervas daninhas”que se abrigam no inconsciente, odramaturgo inglês as põe em cena e asescancara na frente do público. Aliás, seusucesso reside no fato de a platéiaidentificar-se tão prontamente com ossentimentos contraditórios trazidos aocentro do palco. Não descansa o coraçãode personagens como Iago, osdemônios de Dostoievski ou o Faustode Goethe. Vivem acorrentados àratoeira que eles mesmos armaram.

SeisE então, onde repousa teu coração?

Inevitável a referência a santo Agostinho:o coração humano debate-se irrequietoaté que não descanse na Casa de Deus,de onde proveio. Também é inevitávelacompanhar as palavras, passos e práticade Jesus. Nu, pobre, livre e alegre,caminha com leveza incrível em direçãoao Reino de Deus. Experimentada aintimidade com o pai (Abba), em noitese noites de silêncio e escuta, relativizabens, títulos, prestígio, poder, riqueza,fama, sucesso, apropria vida... Porqueconhece o tesouro escondido, a pérolamais preciosa, a semente que cresceoculta na terra, como deixa transparecerem suas parábolas. A própria impotênciae abandono, no alto da cruz, revela umnovo poder, o poder infinito do amor,que é capaz de destruir a dialéticaperversa em que a violência gera maisviolência. O perdão como resposta deDeus à agressão humana desfaz adinâmica espiral da própriaagressividade. Ou seja, a vingança deDeus se chama amor e perdão,misericórdia e compaixão. Vale tambémo exemplo de Saulo, o “judeuirrepreensível”, perseguidor dos cristãos,o qual considera toda sua formaçãocomo lixo diante do encontro com aBoa Nova de Jesus cristo, convertendo-se no apóstolo Paulo.

Inscrições - Urtélia Silva:[email protected] | 914 754 706Tesouraria - Fernando [email protected] | 968 946 913

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A minha religião

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– Tens alguma religião?– Sim, sou cristão católico.– Mas tenho-te ouvido muitas críticas.– É certo, sou católico crítico.– Logo para ti, o cristianismo católico é a única

religião verdadeira.– Verdadeiras são todas as religiões que procuram o bem

dos humanos.– Ou seja, todas as religiões se equivalem.– Isso eu não digo. Penso que não são todas iguais.

Conheço algumas que claramente não me parecem tãovaliosas como a cristã católica.

– E as outras religiões cristãs não católicas?– Nesse ponto não estou tão seguro. Sou cristão porque

Jesus de Nazaré disse (diz) e fez (faz) coisas admiráveis. Soucatólico principalmente porque foi essa a fé dos meus pais.

– Se és cristão, embora crítico, quer dizer queacreditas em Deus.

– Sim, acredito. Deus parece-me uma bonita ideia paradesignar todo o mistério, interrogações e aspirações que nosenvolvem.

– Para ti, Deus existe com certeza?– Certeza não é a palavra justa para designar o meu estar

perante Deus. Certeza diz-se de outros saberes: que o calordilata os corpos, ou que estou aqui a dialogar contigo, ou queantes de mim houve gerações de homens com experiênciassemelhantes às minhas. Relativamente a Deus certeza não é apalavra adequada. Deus só pode transcender em absolutoqualquer categoria da nossa linguagem. Bonheufer dizia queum Deus que existe não existe.

– Estás a contradizer-te. Há pouco disseste queacreditavas.

– Acreditar não é o mesmo que ter a certeza. Para comDeus procuro alimentar a atitude que o Novo Testamentodiz para termos. Paulo de Tarso escreveu que a nossa fédeve ser como a de Abraão. E acrescenta que Abraão acreditoucontra toda a esperança. Eu também acredito contra todasas dúvidas que fazem tantas vezes oscilar a minha sensibilidade.

– Porque oscila a tua sensibilidade?– Talvez a razão maior seja o problema do mal, o

sofrimento dos inocentes. A isso penso que se referia Eduardo

Abílio TAbílio TAbílio TAbílio TAbílio Taaaaavvvvvares Cardosoares Cardosoares Cardosoares Cardosoares Cardoso

Lourenço quando escreveu que “O problema não é sobre aexistência de Deus (...) O problema é saber se nós existimospara Deus”…

– Isso são crises de gente agnóstica.– Enganas-te. Quando Bento XVI visitou Auschvitz, em

28 maio de 2006, exclamou: “Onde estava Deus nesses dias?Porque esteve Ele silencioso? Como pôde permitir estamatança sem fim?...”

– Praticas a religião cristã? Parece que a tua presençanas igrejas não vai além do estritamente essencial.

– É verdade. O comodismo tem dificultado a participaçãoem algo diferente de comunidades mudas. Porém, carregandomuito pecado e omissão, procuro honrar o preceito de amaros outros como a mim mesmo. É esse o mandamento. Sópor aí se demonstra que esperamos (amamos) a Deus. Logopratico a religião cristã.

– Isso fazem muitos por aí, procuram fazer o melhorpossível.

– Seguem os caminhos de Jesus de Nazaré sem disso seaperceberem. Católicos não serão. Para isso é preciso aceitarque há uma Igreja, que é o povo de Deus, e que devemosestar dentro dela, ainda que muitas vezes sob a forma decrítica e contestação dos poderes.

– A igreja persegue os seus críticos.– Eu diria com mais propriedade que os poderes

eclesiásticos perseguem os seus críticos. Esses poderes e apompa correspondente (ainda hoje cultivada) fizeram dahistória da Igreja romana, no mínimo, uma procissão deambiguidades. É preciso argumentar com os poderes e, seeles não querem ouvir, ir em frente no que nos parece seremos caminhos de Jesus, que quase sempre não fez o que ossacerdotes queriam que ele fizesse.

– Parece que também há autores que põem em dúvidaa existência histórica de Jesus.

– Por aí não vou. Se nos pomos a especular sobre issoparece que também devemos duvidar da existência deAlexandre Magno, sobre o qual os documentos históricoscoevos ainda são mais escassos.

– Não referiste teres sido ordenado padre.– Evitei mencioná-lo porque não é uma situação simples

e posso ser mal entendido. Mas vou tentar. Os vínculosjurídicos, aliás já desfeitos, não me dizem nada e não tenhoqualquer interesse em reatá-los. Jamais voltarei a ser clérigo.No entanto considero-me padre para sempre. No quadrode uma relação pessoal com Jesus de Nazaré, quero assumirisso como um peculiar e nunca revogável apelo a um estilode viver que até à morte dê testemunho do Evangelho.

Sinto tão agudamente a crise da nossa Igreja,Sinto tão agudamente a crise da nossa Igreja,Sinto tão agudamente a crise da nossa Igreja,Sinto tão agudamente a crise da nossa Igreja,Sinto tão agudamente a crise da nossa Igreja,

que me parece urgente que cada um dê testemunho do que julga essencial.que me parece urgente que cada um dê testemunho do que julga essencial.que me parece urgente que cada um dê testemunho do que julga essencial.que me parece urgente que cada um dê testemunho do que julga essencial.que me parece urgente que cada um dê testemunho do que julga essencial.

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