Espiritismo e má-fé

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  • 8/14/2019 Espiritismo e m-f

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    ESPIRITISMO E M-FESPIRITISMO E M-FResposta ao bispo D. Boaventura Kloppenburg

    "Deixemos nossas diferenas de lado e tentemosconstruir uma melhor relao para o futuro com asconvices que temos em comum". (Joo Paulo II).

    tempo para tirarmos o Cristo e seu Evangelho dapenumbra das igrejas e seitas, do meio dascontrovrsias teolgicas, e lan-las luz meridiana domundo e do universo. O Cristo no telrico, muitomenos eclesistico ele csmico, universal.(ROHDEN).

    Se a pobreza dos argumentos contra o Espiritismo manifesta nas obras srias, sua nulidade absoluta nasdiatribes e artigos difamatrios onde a raiva impotente setrai pela grosseria, pela injria e pela calnia.(KARDEC).

    Introduo

    Temos em nossas mos um livreto - livreto mesmo, pequeno no tamanho e pobre nocontedo -, intitulado Espiritismo e F, de autoria do Frei Boaventura Kloppenburg, O.F.M,bispo emrito da Diocese de Nova Hamburgo, RS, cujo teor iremos comentar no decorrer deste

    estudo. No deve causar estranheza a ningum o fato de o termos lido, objetivando analis-lo,pois a ns, os Espritas, a nica coisa proibida proibir, ou seja, podemos ler tudo, at, eprincipalmente, o que nos seja contrrio, visando nosso aprendizado, e se for o caso,demonstrar qual o verdadeiro entendimento esprita sobre determinado assunto.

    Sabemos, pelas Escrituras, que ... onde se acha o Esprito do Senhor a existe aliberdade (2Cor 3,17), o que justifica outorgar plena liberdade a todos. Diante disso, lemostudo quanto achamos conveniente, sem qualquer tipo de "Index Librorum Proibitorum", j que direito inalienvel de cada um de ns ler o que desejarmos, assim, tambm, como temos ode defender o Espiritismo.

    Por outro lado, na mesma proporo, todos ns temos o dever de respeitar a opinioalheia sobre qualquer assunto, principalmente no campo religioso, cuja liberdade , inclusive,consagrada pela Constituio Brasileira. Fssemos ns advogado, a primeira coisa quefaramos seria escolher uma pessoa de destaque, popularmente se diria, um peixe bemgrado, que tenha desrespeitado esse direito dos Espritas, e entraramos na Justia s parav-lo responder por seu equvoco, o qual seria, atualmente, classificado como um dos tipos dediscriminao, enquadrando-se, portanto, como racismo.

    Ficamos realmente indignados com atitudes deste tipo e, por esse motivo,antecipadamente pediremos desculpas se nos tornarmos, eventualmente, cidos em nossasconsideraes. Confessamos que nossa evoluo espiritual no nos permite alcanar vo maisalto, de modo a agir com total tolerncia e mansido em todos os momentos de nossa vida.

    Quando vemos lderes religiosos, ou qualquer pessoa que tenha a coragem de se dizercrist, cometendo fatos lamentveis como esses, tentamos descobrir de quem o exemploque seguem, uma vez que sempre se dizem cristos. Temos nos esforado para estudar oEvangelho a fim de encontrar ali alguma coisa em que essas pessoas possam tomar como basepara fazerem o que fazem. Felizmente no encontramos, pois, se encontrssemos,admitiramos Jesus agindo de igual modo, coisa incompatvel com sua evoluo espiritual.

    Passemos, agora, s nossas argumentaes e consideraes, item a item, sobre olivreto em questo.

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    Anlise do texto

    A PERPLEXIDADE DOS CATLICOS

    Mil vezes me pediram para explicar por que a Igreja Catlica no aceita o espiritismo.

    a me catlica, aflita porque o filho ou a filha freqentam sesses espritas e que desejasaber como deve comportar-se.

    a esposa atribulada com o marido simpatizante da umbanda. o vivo com saudades da falecida, que estaria baixando no centro. o doente que indaga se pode aceitar os passes do mdium. a catequista desarmada diante das perguntas dos alunos. o agente de pastoral com um amigo esprita, homem excelente. o iludido, alegando que o terreiro tem at nome de santo. o tolerante que no se incomoda com a transgresso da lei divina que probe a evocao

    dos mortos. o simpatizante que no percebe incompatibilidade alguma entre a doutrina esprita e a f

    crist. o curioso que quer conhecer o espiritismo. o crtico que quer saber melhor como so as coisas depois da morte. o ctico para quem todas as religies so boas. o liberal achando que as questes religiosas no se discutem. o entusiasmado, encantado com um livro de Chico Xavier. o caridoso em visita creche mantida pelo centro.

    o folclorista para quem o candombl uma beleza.

    o neurtico que se deixou persuadir de que deve desenvolver a sua mediunidade. o mdium que pretende continuar catlico e se sente realizado no exerccio da caridade

    mediante o alm. o oficial da cruzada dos militares espritas, que se diz guiado por So Maurcio.

    o chofer de txi a meu lado, comentando que Allan Kardec formidvel. o sacristo que me explica com entusiasmo a cura de seu amigo que foi ao terreiro.

    a criana a reclamar contra papai que no a deixa ir ao centro. o telespectador diante da comovente novela esprita.

    o radiouvinte que escutou a mensagem medinica. o amigo a acreditar que o espiritismo s cincia e filosofia, e no religio.

    Foi pensando em todos estes meus consulentes que escrevi o presente opsculo. apenasum resumo. Informaes mais amplas ou crticas mais aprofundadas se encontram na obra maiorcom o ttulo Espiritismo: Orientao para os catlicos, publicada pelas Edies Loyola.

    Peo ao Divino Esprito Santo que ilumine os que lerem estas pginas, para que vejam e

    entendam as razes por que o catlico no aceita o espiritismo. Redigi-as movido pela caridadepastoral, pela urgncia do esclarecimento solicitado por tantos fiis catlicos e pelo desejo de serao mesmo tempo claro na exposio, rigoroso na argumentao, lgico na deduo e fiel doutrina crist. Seu gnero literrio no de dilogo com os espritas, que merecem o meurespeito embora deles divirja, mas de orientao para os catlicos.

    raro, seno rarssimo mesmo, encontrar algum que v falar mal de alguma coisa semque busque apresentar uma boa justificativa para isso, exatamente como acontece aqui comesse lder religioso. Vamos provar, no decorrer desse estudo, que, infelizmente, pelo nvel deconhecimento, que acreditamos esse autor possua, ele deveria ter estudado muito oEspiritismo, pois inadmissvel que algum, de to alta posio em sua hierarquia religiosa,fale daquilo que no conhece. Justamente por esse motivo que percebemos sua m-f.

    Para iniciar, pedimos que se observe estes vocbulos usados no texto: umbanda,

    baixando no centro, terreiro, candombl. Ora, quem estuda o Espiritismo, ou tem umpouco conhecimento das religies, sabe perfeitamente que esses termos no tm nada a vercom seus princpios e muito menos com suas prticas. fcil concluir que isso apenasargumento falacioso que muitos detratores usam como uma boa forma de espantar seus fiisda busca do conhecimento Esprita. Dizemos busca do conhecimento, pois no ficamos atrsde ningum para que se torne adepto do Espiritismo, j que, conforme o sugerimos,respeitamos o direito de cada um seguir aquilo que melhor lhe convier. E quem se deu aotrabalho de ler Kardec, mesmo que somente para combater a Doutrina Esprita, fatalmentedeve ter lido que:

    O Espiritismo tem por fim combater a incredulidade e suas funestas conseqncias,fornecendo provas patentes da existncia da alma e da vida futura ; ele se dirige, pois quelesque em nada crem ou que de tudo dividam, e o nmero desses no pequeno, como muito bem

    sabeis; os que tm f religiosa e a quem esta f satisfaz, dele no tm necessidade.quele que diz: Eu creio na autoridade da Igreja e no me afasto dos seus ensinos, semnada buscar alm dos seus limites, o Espiritismo responde que no se impe a pessoaalguma e que no vem forar nenhuma convico. (KARDEC, 2001a, p. 123). (grifo nosso).

    Interessante que, cada vez mais, nos convencemos de que o Espiritismo deve ser

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    mesmo o caminho certo e verdadeiro; caso contrrio, os lderes religiosos desses seguimentosditos cristos no gastariam tanto tempo e dinheiro para combat-lo. E s o guerreiam pormedo de que venha a mostrar ao povo que esses lderes no pregam a verdade; alis, estobem longe disso. Ningum, em s conscincia, combate aquilo que acha ser insignificante; isso certo.

    Normalmente so hbeis na forma de agir; por isso um leigo, dificilmente, ir perceberas suas verdadeiras intenes. Inclusive, ele ver nisso uma ao de que esto fazendo umbem, ao esclarecer os outros, quando, no fundo, um ataque proposital mesmo, embora

    sutilmente disfarado como prdicas evanglicas, que se parecem doces como mel, mas, nofundo, so amargas como fel.

    CONVERGNCIAS E DIVERGNCIAS

    H muitas coisas em comum entre catolicismo e espiritismo. Catlicos e espritasconcordam em professar que o mundo no s matria; que Deus existe e eterno, imutvel,imaterial, nico, onipotente, soberanamente justo e bom; que 'Deus criou o universo, que abrangetodos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais; que os seres materiais constituem omundo visvel ou corpreo e os seres imateriais o mundo invisvel dos espritos; que os valores doesprito so superiores aos da matria; que o ser humano no s matria; que temos uma almade natureza espiritual; que esta alma no morre quando se separa do corpo no momento dodesenlace; que depois da morte a nossa alma continua viva e consciente; que a vida depois damorte depende do modo como aproveitamos a vida agora no corpo.

    Catlicos e espritas esto de acordo tambm em afirmar que os falecidos no rompem

    seus laos com os que ainda vivem nesta terra; que no mundo do alm nem todos so iguais; queh espritos perfeitos que vivem com Deus; que estes espritos nos podem socorrer e ajudar; queh espritos imperfeitos e at maus que assim se fizeram por prprio arbtrio; que estes nos podemperturbar e prejudicar.

    Catlicos e espritas proclamam e reconhecem a extraordinria figura de Jesus Cristo; queJesus nos ensinou o caminho do bem e da salvao; que as leis morais do Evangelho soexcelentes; que Jesus insistiu principalmente na caridade; que fora da caridade no h salvao;que devemos fazer o bem e fugir do mal; que h pecados e vcios que devem ser evitados; que ospecados devem ser expiados; que a virtude ser premiada depois da morte.

    Catlicos e espritas aceitam outrossim que os espritos do alm podem manifestar-se oucomunicar-se perceptivelmente conosco. Ambos admitem dois tipos de manifestao dos espritos:as espontneas e as provocadas. Por manifestaes espontneas entendem as que tm a suaorigem ou iniciativa no alm, como foi, por exemplo, o caso que nos narrado pelo Evangelho deSo Lucas (1, 26-38): o anjo Gabriel foi enviado por Deus a Maria de Nazar para comunicar-lhe

    que ela seria a me de Jesus. Por manifestaes provocadas entendem as que tm a suainiciativa no aqum, como foi, por exemplo, o caso que nos relatado pelo primeiro livro deSamuel (28, 3-25): a pedido do rei Saul, a necromante de Endor evoca a alma do falecido Samuel,que ento comunica ao rei os castigos divinos.

    Mas neste ponto que comea uma primeira divergncia fundamental entre catlicos eespritas: os catlicos admitem de bom grado as manifestaes espontneas que nos sooferecidas por iniciativa da bondade de Deus, mas consideram divinamente proibidas asmanifestaes provocadas pelo homem mediante o processo da evocao; e os espritastransformam precisamente esta evocao dos falecidos em meio principal para as suas novasrevelaes do alm.

    O espiritismo se especifica, caracteriza e define por sua prtica das manifestaesprovocadas das almas ou espritos dos falecidos, para deles receber mensagens ou algum tipo deajuda. A evocao dos falecidos constitui a essncia do espiritismo. Sem a evocao no hespiritismo. E a evocao a fonte principal de seus conhecimentos especficos ou da suadoutrina.

    H ainda uma segunda discordncia fundamental entre catlicos e espritas: a questo dareencarnao. Os catlicos crem na unicidade da vida terrestre; e os espritas anunciam apluralidade das reencarnaes. Este desacordo tem em si tantas conseqncias lgicas,sobretudo no modo de conceber a salvao eterna, que conduz de fato a dois corpos doutrinriosfrontalmente discrepantes e opostos entre si de modo irreconcilivel.

    Em resumo: apesar das numerosas convergncias entre catlicos e espritas, h duaspalavras que marcam a separao e caracterizam o espiritismo: evocao e reencarnao.

    Se no vssemos o que se ir dizer mais frente, seria at digno de elogio essa parteda fala desse lder religioso, na qual cita vrias convergncias entre os catlicos e os espritas;porm, apesar das numerosas convergncias e apenas duas divergncias, pelo menos o queest dizendo nesse ponto, no deixar de realar como fundamental somente essasdivergncias, em detrimento do maior nmero de convergncias citadas por ele. Veremos que

    sua mscara cai, quando, de duas divergncias, passa a citar uma lista enorme, multiplicando-as sobremaneira. Todavia, no incio no lhe convinha mostrar a que veio. Era melhor cobrir-sede pele de ovelha.

    comum, e esse no est sendo diferente, aos que vo combater o Espiritismoafirmarem que seus argumentos so lgicos, como se os que Kardec desenvolveu fossem

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    balelas sem consistncia. Inclusive, alguns vem no Codificador essa caracterstica de homemracional e de argumentao exemplar; porm, consideram suas altercaes como superioress de Kardec. Puro orgulho de pseudo-sbios, que no entendem mesmo daquilo a que sepropem a combater. interessante que, aps quase um sculo e meio do Espiritismo, aindano apareceu ningum com capacidade de derrubar seus princpios; o que estamos vendo

    justamente o contrrio, que a Cincia, pouco a pouco, se bem que tmida, vem confirmandoaquilo que defendemos.

    Agora, se querem mesmo saber porque um catlico no aceita o Espiritismo, diremos

    que por pura admoestao de seus lderes, que temem a verdade, uma vez que ela lhescontraria os interesses; portanto, julgam ser preciso proibir ou desanimar seus adeptos de ler,ir ou conhecer o Espiritismo, na fonte. Lembramo-nos do que citamos do apstolo Paulo:onde h liberdade a existe o Esprito do Senhor(2Cor 3,17); conseqentemente, o contrriotambm verdadeiro, ou seja, onde no existe liberdade no existe o Esprito do Senhor; oque no o nosso caso, com certeza.

    Em certo ponto, querendo ressaltar a discordncia entre catlicos e espritas, citatambm a reencarnao, para ele uma heresia. Se assim for, ento existem mais hereges nomundo do que catlicos. Segundo os dados atuais, a crena na reencarnao estaria por voltade 70 a 80% da humanidade; com isso, bem se v que, os contrrios so minoria.

    COMO SURGIU O ESPIRITISMO

    A prtica da evocao dos falecidos para deles receber conhecimentos, chamada tambm"necromancia" (do grego nekrs=falecido e manteia=adivinhao), antiga. Mas o seuaproveitamento sistemtico, denominado "espiritismo", vem do sculo passado.

    Surgiu primeiro nos Estados Unidos, em torno dos estranhos acontecimentos de Hydesvillecom as irms Margarida e Catarina Fox, a partir de 1848. Mas j um ano antes, em 1847, aparecianos Estados Unidos uma obra medinica de Andrew Jackson Davis e outra na Frana, de LouisAlphonse Cahagnet, do grupo dos "magnetizadores" de Paris, que se serviam de "sonmbulos"(assim eram ento denominados os mdiuns) para receber revelaes do alm-tmulo. Em 1856,o mesmo Cahagnet publicava em Paris Rvlations d'outre-tombe, com mensagens ditadas,segundo pretendia, pelos falecidos Galileu, Hipcrates, Franklin e outros.

    Foi neste ambiente interessado no "magnetismo animal" imaginado pelo mdico austracoFranz Anton Mesmer (1733-1815), instalado em Paris desde 1778, que nasceu o "espiritismo".Esta palavra foi proposta por Hippolyte Lon Denizard Rivail (1804-1869), mais conhecido pelo seupseudnimo de Allan Kardec, o codificador sistemtico de um tipo especial de espiritismoconhecido tambm como "kardecismo".

    Este o espiritismo dominante no Brasil.Allan Kardec (isto , Denizard Rivail) era de famlia catlica. Com a idade de 10 anos foi

    enviado a Yverdun, Sua, ao Instituto de Educao dirigido pelo conhecido pedagogo Pestalozzi,protestante calvinista e liberal, que identificava religio com moralidade. L esteve o jovem Rivailat 1822, quando .foi a Paris, onde se dedicou ento ao ensino e publicou vrios livrospedaggicos e didticos. De boa formao geral e cultural, era metdico, lgico e claro naexposio das suas idias. Conhecia tambm o alemo e o ingls e trabalhava como tradutor.Bom matemtico, atuou ainda como contabilista. Casou-se em 1826 com Amlie Gabrielle Boudet,nove anos mais velha do que ele e de boa situao financeira. No teve filhos.

    Mas Alan Kardec no era particularmente versado em religio e muito menos em teologia.Em maio de 1855, comeou a interessar-se pelo fenmeno das "mesas girantes e falantes",nascido nos Estados Unidos, e aceitou a teoria da presena e atuao de "espritos" ou almas dosfalecidos nos movimentos de mesas, cestas e outros objetos usados pelos "sonmbulos" dos"magnetizadores". E j dois anos depois, no dia 18 de abril de 1857, publicou O Livro dos

    Espritos. Este dia 18 de abril de 1857 considerado pelos espritas como o dia da fundao doespiritismo.O Livro dos Espritos a obra fundamental da codificao da doutrina espiritista, com o

    seguinte subttulo: "Princpios da doutrina esprita sobre a imortalidade da alma, a natureza dosespritos e suas relaes com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvirda Humanidade - segundo os ensinos dados por espritos superiores com o concurso de diversosmdiuns - recebidos e coordenados por Allan Kardec".

    Outra obra bsica de Allan Kardec para a prtica do espiritismo foi publica da em 1861: OLivro dos Mdiuns, com o subttulo "Guia dos mdiuns e dos evocadores". Note-se aqui a palavra"evocadores", indicando assim a funo determinante da "evocao" para o espiritismo.

    Alm destes dois livros bsicos, Allan Kardec ainda escreveu e publicou O Evangelhosegundo o Espiritismo (em 1864), que a sua obra mais difundida no Brasil, j com cerca de doismilhes de exemplares. Publicou tambm O Cu e o Inferno (em 1865) eA Gnese (em 1868).Depois da sua morte, em 1869, mais alguns textos inditos foram publicados como ObrasPstumas. Em 1858, Allan Kardec comeou a publicar a sua Revue Spirite ("revista esprita"), quedeixou de aparecer com este ttulo em 1976.

    O espiritismo codificado por Allan Kardec foi introduzido no Brasil ainda em vida docodificador, a partir de 1865. Em 1884, foi fundada a Federao Esprita Brasileira (FEB), tendodesde ento como rgo oficial a revista Reformador, palavra que revela um programa.

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    Leiamos as consideraes preliminares de Kardec, na Introduo de O Livro dosEspritos, quando discorre sobre o arcabouo filosfico e doutrinrio do Espiritismo:

    Para se designarem coisas novas so precisos termos novos. Assim o exige a clarezada linguagem, para evitar a confuso inerente variedade de sentidos das mesmas palavras. Osvocbulos espiritual, espiritualista, espiritualismo tm acepo bem definida. Dar-lhes outra, paraaplic-los doutrina dos Espritos, fora multiplicar as causas j numerosas de anfibologia. Comefeito, o espiritismo o oposto do materialismo. Quem quer que acredite haver em si alguma coisamais do que matria, espiritualista. No se segue da, porm, que creia na existncia dosEspritos ou em suas comunicaes com o mundo visvel. Em vez das palavras espiritual,espiritualismo, empregamos, para indicar a crena a que vimos de referir-nos, os termos esprita eespiritismo, cuja forma lembra a origem e o sentido radical e que, por isso mesmo, apresentam avantagem de ser perfeitamente inteligveis, deixando ao vocbulo espiritualismo a acepo que lhe prpria. Diremos, pois, que a doutrina esprita ou o Espiritismo tem por princpio as relaes domundo material com os Espritos ou seres do mundo invisvel. Os adeptos do Espiritismo seroos espritas, ou, se quiserem, os espiritistas. (KARDEC, 1991, p. 13) (grifo nosso).

    Por a deveria ter ficado claro, especialmente s pessoas de boa-f, que o Espiritismo coisa nova e no antiga como quer o articulista. O que antigo, todos ns o sabemos, amanifestao dos espritos e o intercmbio com eles, fatos que acontecem desde que o homemapareceu na face da Terra.

    Espiritismo no tem nada a ver com necromancia; isso , literalmente, no caso emquesto, puro conto do vigrio! Necromancia a evocao dos mortos para fins de

    adivinhao! Que fique bem clara essa definio, para que qualquer pessoa de bom sensoperceba a grande diferena entre as prticas Espritas e as de adivinhao.

    Querendo criar uma imagem distorcida sobre a origem do Espiritismo, o prelado diz queele veio num ambiente interessado no magnetismo animal. Ora, como bom estudioso,deveria saber que o Espiritismo, como o conhecemos, tem como fato de seu nascedouro osfenmenos de Hydesville, nos E.U.A., inclusive, o que cita. Entretanto, como se diz, nocontou da missa a metade, pois esses acontecimentos so importantes para provar que, acontragosto dos fanticos religiosos, tais fenmenos no so proibidos por Deus, como, a todoo momento, quer destacar o sacerdote, tal e qual fazem os detratores.

    Resumindo: Em Hydesville, estado de New York, a famlia Fox, que morava numa casade madeira, passou a ser incomodada por estranhas batidas, os raps. Ningum maisconseguia dormir; os pais, com suas duas filhas, passaram dias difceis com esses

    acontecimentos. Na noite de 31 de maro de 1848, uma das crianas resolve desafiar o queprovocava tais fatos; bate palmas, pedindo para que se repetisse, o que de fato aconteceu.Assim, muito rudemente, comea o intercmbio com o causador dos fenmenos, que

    disse ser um esprito, que havia sido assassinado naquela casa por conta de 500 dlares, queseu cadver estava escondido na adega. Passados 56 anos, foi descoberto um esqueleto noporo da casa, onde residira a famlia Fox, comprovando a realidade daquilo que o espritofalou.

    O que queremos chamar a ateno de voc, leitor, que aqui, nesse episdio, ningumevocou esprito algum, fato que o articulista nem se tocou. Foi o dito de cujus que veio, doalm-tmulo, donde vivem os mortos, incomodar aquela famlia. A pergunta crucial : eleveio com ou sem a permisso de Deus? Se veio sem permisso, segue-se a questo: ele teriaalgum poder maior que Deus para contrariar sua vontade? Cremos que no; da, s pode

    mesmo ter vindo com a permisso de Deus; assim, cai por terra a decantada proibio divinade evocar os mortos, segundo algumas discutveis tradues bblicas. Tal proibio visavacombater o motivo pelo qual se faziam as consultas, e no a comunicao em si. Porm,mesmo que seja verdadeira essa proibio, vejamos isso sob um outro ponto de vista: se, defato, nos comunicarmos, ento podemos ver que, se, por um lado, ela no permite que osevoquemos, por outro, no probe que eles venham at ns por iniciativa prpria, j que foiexatamente isso o que aconteceu e ainda continua acontecendo at os dias de hoje.

    Devemos, ainda, ressaltar que a famlia Fox era da Igreja Metodista. Que ironia! OEspiritismo tem origem no meio protestante e sua codificao aconteceu no meio catlico,provando que Deus no faz mesmo acepo de pessoas.

    Interessante que, citando as qualidades de Kardec, tenha dito: de boa formao gerale cultural, era metdico, lgico e claro na exposio das suas idias; mas, apesar disso, oarticulista pressupe aos seus argumentos mais lgica, conforme disse no incio.

    A sutileza da afirmao de que Allan Kardec no era particularmente versado emreligio e muito menos em teologia fantstica, pois s faltou acrescentar: somente aospadres da Igreja Catlica se pode atribuir tais qualidades; no so eles os escolhidos de Deus?

    H um fato no verdadeiro, Kardec no aceitou a teoria da presena e atuao dos

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    'espritos', ele apenas deduziu dos fatos que se lhe apresentaram, fazendo a seguinteafirmao com relao aos que no admitem a interveno dos Espritos nas manifestaes: osque as atribuem a causas puramente fsicas, agem contrrio a este axioma: Todo efeitointeligente h de ter uma causa inteligente; ento, pelo fato das mesas falarem, issoindicava uma ao inteligente, e, concluiu ele: como as mesas no possuem crebro parapensar, devia, portanto, haver uma causa inteligente que produzia tais fenmenos. Foi essacausa inteligente quem disse ser um esprito.

    A publicao do Guia dos mdiuns e dos evocadores, diante dos estudos dos

    fenmenos medinicos que fizera, surgiu da necessidade de se prevenir, especificamente aosmdiuns ou evocadores, dos inconvenientes e perigos da prtica generalizada, feita por quemno possui o mnimo conhecimento do assunto. No recomendava o contato com os espritospor motivos fteis e de interesse pessoal, mas que s o fizesse de forma elevada e visandobenefcio geral. Kardec no tem tais fenmenos como sobrenaturais, mas como de ordemnatural, ou seja, dentro das leis da natureza; portanto, divinas.

    A prtica medinica, e no o Espiritismo, como diz o sr. bispo, ocorre desde quandotemos informao da existncia do homem, pois, a partir da, passa a existir a possibilidadedos espritos se comunicarem uns com os outros. Apenas um lembrete: os encarnadostambm so espritos.

    A Bblia, por exemplo, est repleta de fatos medinicos tomados conta de poderesque somente pessoas especiais, os profetas, poderiam ter. Kardec demonstra que uma

    faculdade inerente criatura humana; ns todos a possumos; o que varia apenas o seu graue moralidade. Paulo, inclusive, fala dela aos corntios, conforme poder-se- ver na sua primeiracarta aos corntios, nos captulos 12 e 14. Nela, o apstolo dos gentios regulamenta o uso dosdons, que hoje denominamos de mediunidade.

    A mediunidade se processa sempre dentro do mbito das leis naturais; e, em seretirando dela o carter sobrenatural, os interesses seculares da Igreja de Roma so feridos.Assim, por exemplo, passa a lhe faltar base para manter sob seu domnio o povo. No fundoisso significa que: evocar santos pode, espritos no! Parece brincadeira, pois o que so ossantos seno espritos que um dia encarnaram aqui na Terra?

    O QUE PRETENDE O ESPIRITISMO

    Nas Obras Pstumas de Allan Kardec encontramos tambm as suas Previsesconcernentes ao Espiritismo (pp. 263-336 da 29 edio da FEB, que aqui citada). Nela, Allan

    Kardec descreve com simplicidade a sua prpria iniciao no espiritismo e as "revelaes" que foirecebendo, sempre "do alm", acerca da sua misso pessoal e dos principais objetivos domovimento por ele suscitado.

    No dia 15 de maro de 1856, Allan Kardec recebeu a comunicao de ter como "guiaespiritual" o prprio Esprito da Verdade, j prometido por Jesus aos Apstolos no Evangelhosegundo So Joo (16, 12-13): "Tenho ainda muito a vos dizer, mas no podeis agoracompreender. Quando vier o Esprito da Verdade, ele vos conduzir verdade plena". Talconduo verdade plena estaria comeando ento, em 1856, com Allan Kardec [1]. E no dia 12de junho de 1856 o Esprito da Verdade lhe teria revelado a sua misso de reformador:

    "Previno-te de que rude a tua misso, porquanto se trata de abalar e transformar o mundointeiro" (p. 282).

    No dia 15 de abril de 1860, Allan Kardec julga ter recebido (sempre do alm) estamensagem, que define a prpria misso do espiritismo como "a verdadeira religio, a religio

    natural":"O Espiritismo chamado a desempenhar imenso papel na Terra. Ele reformar a

    legislao ainda to freqentemente contrria s leis divinas; retificar os erros da Histria;restaurar a religio de Cristo, que se tomou nas mos dos padres, objeto de comrcio e de trficovil; instituir a verdadeira religio, a religio natural, a que parte do corao e vai diretamente aDeus, sem se deter nas franjas de uma sotaina, ou nos degraus de um altar" (p. 299).

    E pouco depois, no dia 30 de setembro de 1863, a comunicao do alm pronuncia umveredito sobre a Igreja Catlica:

    " chegada a hora em que a Igreja tem de prestar contas do depsito que lhe foi confiado,da maneira por que pratica os ensinos de Cristo, do uso que fez da sua autoridade, enfim, doestado de incredulidade a que levou os espritos. A hora vinda em que ela tem de dar a Csar oque de Csar e de assumir a responsabilidade de todos os seus atos. Deus j julgou, e areconheceu inapta, daqui por diante, para a misso de progresso que incumbe a toda autoridade

    espiritual. Somente por meio de uma transformao absoluta lhe ser possvel viver; mas resignar-se- ela a essa transformao? No, pois que ento j no seria a Igreja; para assimilar asverdades e as descobertas da Cincia [2], teria de renunciar aos dogmas que lhe servem defundamentos; para volver prtica rigorosa dos preceitos do Evangelho, teria de renunciar aopoder, dominao, de trocar o fausto e a prpura pela simplicidade e a humildade apostlicas.

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    Ela se acha nesta alternativa: ou se suicida, transformando-se; ou sucumbe nas garras doprogresso, se permanecer estacionria" (p. 310 s.).

    E assim o espiritismo se considera como sendo a "terceira revelao". A primeira, assimdizem, veio por Moiss; a segunda, por Jesus Cristo; e a terceira, atravs dos "espritos",principalmente do Esprito da Verdade, o Consolador prometido por Jesus. Allan Kardec descrevetudo isso amplamente no captulo primeiro deA Gnese, concluindo no n. 42:

    "O Espiritismo realiza todas as promessas de Cristo a respeito do Consoladoranunciado.Ora, como o Esprito de Verdade que preside ao grande movimento da regenerao, a promessada sua vinda se acha por essa forma cumprida, porque, de fato, ele o verdadeiro Consolador".

    No discurso pronunciado em 1 de novembro de 1863, Allan Kardec apresentou um resumoda doutrina esprita, terminando com estas palavras:

    "Eis o Credo, a religio do espiritismo, religio que pode conciliar-se com todos os cultos,isto , com todas as maneiras de adorar a Deus. Esse o lao que deve unir todos os espritasnuma santa comunho de pensamentos, enquanto se espera que ele ligue todos os homens sob abandeira da fraternidade universal".

    Tal tambm a convico que anima o espiritismo no Brasil. A Federao EspritaBrasileira, por seu Conselho Nacional, em sua reunio de 5 de julho de 1952, declarouoficialmente e por unanimidade: "O Espiritismo Religio sem ritos, sem liturgia e semsacramentos". E em outra oportunidade fez saber:

    "Os espritas do Brasil, reunidos no II Congresso Esprita Internacional Panamericano, comexpresses de maior respeito liberdade de pensamento e de conscincia, afirmam que, no

    Brasil, a Doutrina Esprita, sem prejuzo de seus aspectos cientficos e filosficos, fundamentadano Evangelho de Cristo, certo de ser o Consolador Prometido de que nos falam aqueles mesmosEvangelhos. Por isso que ns outros, que vivemos no Brasil, ligados Doutrina Esprita,consideramo-la a Religio".

    ______________

    [1] A verdade, porm, que a promessa de Jesus acerca do Esprito da Verdade no foi to vaga, para umfuturo to incerto e distante. Jesus se dirigia diretamente aos Apstolos que estavam com Ele na ltima Ceia:Rogarei ao Pai e ele vos dar outro Parclito, para que convosco permanea para sempre, o Esprito daverdade... O Parclito, o Esprito Santo que o Pai enviar em meu nome, que vos ensinar tudo e vosrecordar tudo o que vos disse (Jo 14, 16-17.26). E pouco antes de' sua ascenso mandou aos Apstolos: Eisque euvos enviareio que meu Pai prometeu. Por isso permanecei na cidade at serdes revestidos da fora doAlto (Lc 24, 49). E lhes disse ainda: O Esprito Santo descer sobre vs e dele recebereis fora (At 1, 8).Alguns dias depois, na festa de Pentecostes, quando estavam reunidos na sala de Jerusalm, de repente veiodo cu um rudo semelhante ao de vento impetuoso e encheu toda a casa onde se achavam. E apareceramumas como lnguas de fogo, que se distriburam e foram pousar sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do

    Esprito Santo (At 2, 1-4). Era a vinda do Esprito da Verdade, bem antes de Allan Kardec. Comeou ento avida da Igreja. Ela ter a rdua tarefa de conservar e anunciar a todos os homens, at o fim dos tempos, o queJesus ensinara em nome do Pai. Realiza-se assim a promessa de Jesus: Eis que eu estou convosco todos osdias at a consumao dos sculos (Mt 28, 20). A Igreja cumprir a sua misso, confortada certamente pelafora do Alto e sempre assistida pelo Esprito da Verdade, o Consolador, mas em todo tempo mediante sereshumanos, frgeis e limitados por sua natureza. A j bimilenar histria da Igreja rica na descrio destasvicissitudes humanas, de maior ou menor fidelidade, com aflies e dificuldades internas e externas, entresombras porm com fidelidade substancial.

    [2] O espiritismo nasceu, em meados do sculo passado, num ambiente de mentalidade cientificista quepretendia explicar todos os fenmenos espirituais por meio de "fluidos", "ter", "eletricidade", "magnetismo" etc.Considera-se, portanto, uma doutrina "cientfica". Tanto essa mentalidade, porm, quanto a terminologia estohoje totalmente superadas, no encontrando mais aplicao nem na biologia nem na psicologia modernas.

    Se o Espiritismo no for mesmo uma revelao, ento no haveria razo para o preladose preocupar com ele; caso de repetimos a fala de Gamaliel, doutor da Lei, em defesa dePedro e dos que o acompanhavam, perante o Sindrio:

    Homens de Israel, vejam bem o que esto para fazer contra esses homens... Quantoao que est acontecendo agora, dou-lhes um conselho: no se preocupem com esseshomens, e os soltem. Porque, se o projeto ou atividade deles de origem humana,ser destrudo; mas, se vem de Deus, vocs no conseguiro aniquil-los. Cuidado parano se meterem contra Deus"(At 5,35-39)

    Se o sr. bispo tem o direito de achar que o seu papa o representante de Cristo aqui naTerra, tambm ns temos o de achar que o Esprito da Verdade liderou toda a pliade deEspritos que trouxeram essa nova revelao aos homens. Como da vez anterior, por quem

    Jesus foi rejeitado? Pelo povo? No! No? Infelizmente, foi rejeitado justamente por aquelesque tinham tudo para aceit-lo; os lderes religiosos de sua poca que, entretanto, ao invs dev-lo como o Messias, o enxergaram como algum que estava contrariando seus interesses;da tramaram sua morte de forma vergonhosa. Esse foi o motivo da morte de Jesus, o quenada tem a ver, com o que apregoam por a, dizendo que Ele morreu para nos salvar (Hb

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    9,15).Mutatismutandis o que acontece com o Espiritismo, ao ser perseguido por aqueles

    que tudo tinham para aceit-lo, porquanto vem comprovar, de forma categrica, que a almasobrevive morte fsica, que sofremos as conseqncias de nossos atos; por isso melhoramar ao prximo como a si mesmo, j que o amor a base fundamental dos ensinamentosde Cristo, que devia ser a pedra de toque do verdadeiro cristo. Disse-nos ele: ... amem-seuns aos outros. Assim como eu amei vocs, vocs devem se amar uns aos outros. Se vocstiverem amor uns para com os outros, todos reconhecero que vocs so meus discpulos(Jo

    13,34-35).Se o Esprito Santo baixou nos discpulos, por que a discriminao, j que o quedizem acontecer em nosso meio? No vemos nenhuma diferena, j que ambos so Espritos,e os estudiosos sabem que esse Santo, que aparece vrias vezes na Bblia, simplesacrscimo, visando lig-lo Trindade, tomada do paganismo; por isso, quando encontramosessa ocorrncia devemos t-la no significado de Esprito puro ou Esprito bom. Por outro lado,estamos diante de um grave problema: ele baixou vrias vezes. A primeira vez no domingoseguinte morte de Jesus (Jo 20,22), a segunda no suposto dia do Pentecostes (At 2,2), aterceira no episdio conhecido como o Pentecostes samaritano (At 8,14-17) e a quarta no

    Pentecostes dos pagos (At 10,44-46) (CHAMPLIN, 2005, vol. 3, p. 45). Por que dissemossupostamente em relao ao Pentecostes? Fcil: foi porque os prprios catlicos disseram isso.Quando? Leiamos, em se referindo a Atos 2,1-13, a explicao:

    O relato simblico. De fato, quanto o autor escreveu, as comunidades crists j se haviamespalhado por todas as regies aqui mencionadas. Lucas quer mostrar o que est na base dequalquer comunidade crist: o Esprito Santo faz lembrar, compreender e continuar o testemunhode Jesus (cf. Jo 14,26; 16,12-15). Pentecostes, celebrado cinqenta dias depois da pscoa,comemorava a Aliana e o dom da Lei.... (Bblia Sagrada Edio Pastoral, p. 1391).

    Assim, o tal Pentecostes, segundo uma traduo bblica catlica, de fato, noaconteceu; apenas um fato simblico.

    Por outro lado, se Jesus disse que no poderia dizer tudo aos discpulos, haja vista elesainda no terem capacidade de entender (Jo 16,12), por que, cinqenta e poucos dias depoisde sua morte, e apenas dez de sua ascenso, passaram a ter condies de receber essesnovos ensinamentos, sem que nenhum fato extraordinrio tivesse acontecido? Porm,observando detidamente a passagem, veremos que, na prpria Bblia, o fenmeno de

    Pentecostes relacionado, no ao comprimento do envio do Consolador, como afirma o sr.bispo, mas a uma profecia de Joel (3,1-5), conforme a afirmao de Pedro em Atos 2,14-20.Ele teve oportunidade para dizer que se tratava do Consolador, mas no o fez. Portanto, aintil tentativa de se dizer que a vinda do Esprito de Verdade ocorreu naquela poca, ficafrustrada pela apostasia predita que j se iniciava nos dias apostlicos e, por isso, essapromessa s pode mesmo, por lgica, ser concretizada, na ntegra, em futuro remoto.

    Ao lermos as pinceladas que o bispo retirou de livros espritas, para compor esse item,percebemos que h, de sua parte, ainda que inconscientemente, um medo tremendo pordetrs de tudo isso. Se o Espiritismo vem resgatar os verdadeiros ensinos de Jesus, j que oque a Igreja prega deturpao pura, ele ser o elo que ligar todos os homens numafraternidade universal; conseqentemente, ir ferir o status de poder que a Igreja e sualiderana quer manter. por isso que o sr. bispo teme pela hora em que sua Igreja ir prestar

    contas do depsito que a ela foi confiado; e como sabe que no foi bem guardado, pressenteas inevitveis conseqncias...Quanto insinuao de ser o Espiritismo uma cincia ultrapassada, deixaremos o

    prprio Kardec responder:

    A cincia esprita compreende duas partes: experimental uma, relativa s manifestaes emgeral, filosfica, outra, relativa s manifestaes inteligentes. Aquele que apenas haja observado aprimeira se acha na posio de quem no conhecesse a Fsica seno por experinciasrecreativas, sem haver penetrado no mago da cincia. A verdadeira Doutrina Esprita est noensino que os Espritos deram, e os conhecimentos que esse ensino comporta so por demaisprofundos e extensos para serem adquiridos de qualquer modo, que no por um estudoperseverante, feito no silncio e no recolhimento. Porque, s dentro desta condio se podeobservar um nmero infinito de fatos e particularidades que passam despercebidos ao observadorsuperficial, e firmar opinio. No produzisse este livro outro resultado alm do de mostrar o lado

    srio da questo e de provocar estudos neste sentido e rejubilaramos por haver sido eleito paraexecutar uma obra em que, alis, nenhum mrito pessoal pretendemos ter, pois que os princpiosnela exarados no so de criao nossa. O mrito que apresenta cabe todo aos Espritos que aditaram. Esperamos que dar outro resultado, o de guiar os homens que desejem esclarecer-se,mostrando-lhes, nestes estudos, um fim grande e sublime: o do progresso individual e social e ode lhes indicar o caminho que conduz a esse fim.

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    Concluamos, fazendo uma ltima considerao. Alguns astrnomos, sondando o espao,encontraram, na distribuio dos corpos celestes, lacunas no justificadas e em desacordo com asleis do conjunto. Suspeitaram que essas lacunas deviam estar preenchidas por globos que lhestinham escapado observao. De outro lado, observaram certos efeitos, cuja causa lhes eradesconhecida e disseram: Deve haver ali um mundo, porquanto esta lacuna no pode existir eestes efeitos ho de ter uma causa. Julgando ento da causa pelo efeito, conseguiram calcular-lheos elementos e mais tarde os fatos lhes vieram confirmar as previses. Apliquemos este raciocnioa outra ordem de idias. Se se observa a srie dos seres, descobre-se que eles formam umacadeia sem soluo de continuidade, desde a matria bruta at o homem mais inteligente. Porm,entre o homem e Deus, alfa e mega de todas as coisas, que imensa lacuna! Ser racionalpensar-se que no homem terminam os anis dessa cadeia e que ele transponha sem transio adistncia que o separa do infinito? A razo nos diz que entre o homem e Deus outros elosnecessariamente haver, como disse aos astrnomos que, entre os mundos conhecidos, outroshaveria, desconhecidos. Que filosofia j preencheu esta lacuna? O Espiritismo no-la mostrapreenchida pelos seres de todas as ordens do mundo invisvel e estes seres no so mais do queos Espritos dos homens, nos diferentes graus que levam perfeio. Tudo ento se liga, tudo seencadeia, desde o alfa at o mega. Vs, que negais a existncia dos Espritos, preenchei o vcuoque eles ocupam. E vs, que rides deles, ousai rir das obras de Deus e da Sua onipotncia!(KARDEC, 1991, p. 46-47).

    Que faz a moderna cincia esprita? Rene em corpo de doutrina o que estava esparso:explica, com os termos prprios, o que s era dito em linguagem alegrica; poda o que asuperstio e a ignorncia engendraram, para s deixar o que real e positivo. Esse o seu papel!O de fundadora no lhe pertence. Mostra o que existe, coordena, porm no cria, por isso quesuas bases so de todos os tempos e de todos os lugares. Quem, pois, ousaria considerar-sebastante forte para abaf-la com sarcasmos, ou, ainda, com perseguies? Se a proscreverem deum lado, renascer noutras partes, no prprio terreno donde a tenham banido, porque ela est ema Natureza e ao homem no dado aniquilar uma fora da Natureza, nem opor veto aos decretosde Deus.

    Que interesse, aos demais, haveria em obstar-se a propagao das idias espritas? exato que elas se erguem contra os abusos que nascem do orgulho e do egosmo. Mas, se certoque desses abusos h quem aproveite, coletividade humana eles prejudicam. A coletividade,portanto, ser favorvel a tais idias, contando-se-lhes por adversrios srios apenas osinteressados em manter aqueles abusos. As idias espritas, ao contrrio, so um penhor deordem e tranqilidade, porque, pela sua influncia, os homens se tornam melhores uns para comos outros, menos vidos das coisas materiais e mais resignados aos decretos da Providncia.(KARDEC, 1991, p. 486).

    Talvez nos contestem a qualificao de cincia que damos ao Espiritismo. Ele no poderia,

    sem dvida, em alguns casos, ter os caracteres de uma cincia exata, e est precisamente a oerro daqueles que pretendem julg-lo e experiment-lo como uma anlise qumica, como umproblema matemtico: j muito que tenha o de uma cincia filosfica. Toda cincia deve estarbaseada sobre fatos; mas s os fatos no constituem a cincia; a cincia nasce da coordenao eda deduo lgica dos fatos: o conjunto de leis que os regem. O Espiritismo chegou ao estadode cincia? Se se trata de uma cincia perfeita, sem dvida, seria prematuro responderafirmativamente; mas as observaes so, desde hoje, bastante numerosas para se poder, pelomenos, deduzir os princpios gerais, e a que comea a cincia. (KARDEC, 2001b, p. 3).

    Assim, o Espiritismo no deixar de ser cincia s porque o sr. bispo, em sua opinio,diz que no. Quem tem o direito de definir aquilo que ele , ou no, foi quem o criou; ningummais. Ademais, reconhecemos ser esta uma necessidade capital para os religiosos, poisreconhecer no Espiritismo uma Cincia verdadeira o mesmo que admitir a derrocada de suasreligies, ou a falncia de seus respectivos dogmas.

    A DOUTRINA ESPRITA E A MENSAGEM CRIST

    No Brasil, o movimento criado por Allan Kardec mantido e divulgado pela FederaoEsprita Brasileira, que o prope sistematicamente no apenas como "a religio", mas tambmcomo "espiritismo cristo". Seu rgo oficial, Reformador, que comeou em 1883, ento como"rgo evolucionista", apresenta-se agora no subttulo como "Revista do Espiritismo Cristo". Nofascculo de maro de 1981, em artigo sobre a misso do Consolador, chega a esta concluso:

    " misso, pois, do Espiritismo devolver ao Cristianismo a sua pureza original, libertando-odos dogmas e das idias humanas nele introduzidos" (p. 85).

    Para entender to radical operao libertadora, necessrio comparar a doutrina espritacom a mensagem crist: aos menos em seus elementos fundamentais.

    At aceitamos as justificativas do sr. bispo ao apresentar o Espiritismo como sendo algo

    contra a Doutrina Crist; mais ainda: entendemos porque, com tanto ardor, advoga em causaprpria, pois, at onde sabemos, a sua religio e seus membros, com raras excees,sobrevivem s custas do dzimo dos fiis. Portanto, no vivem para sua religio, mas dareligio que dizem praticar.

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    A prepotncia que vemos nos lderes religiosos dos dias atuais de se auto-atriburemcompetncia exclusiva de definir quem e quem no cristo. Entretanto, quem define, sesegue a doutrina crist ou no, ser a prpria pessoa, como bem disse Paulo: Se algum estconvencido de pertencer a Cristo, tome conscincia, de uma vez por todas, de que assim comoele pertence a Cristo, tambm ns pertencemos a Cristo(2Cor 10,7), fulminando de vez essaidia exclusivista desses lderes.

    Sobre estes, Jesus nos advertiu dizendo que so cegos guiando cegos; caso contrrioteriam visto que o Mestre afirmou Pois onde dois ou trs estiverem reunidos em meu nome,

    eu estou a no meio deles (Mt 18,20); e mais claro ainda que isso, podemos ler estareclamao de Joo: Mestre, vimos um homem que expulsa demnios em teu nome. Mas nslhe proibimos, porque ele no nos segue, sobre a qual, teve de Jesus a seguinte reprimenda:No lhe probam, pois ningum faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal demim. Quem no est contra ns, est a nosso favor. Eu garanto a vocs: quem der para vocsum copo de gua porque vocs so de Cristo, no ficar sem receber sua recompensa. (Mc9,38-41). Da, se ns dissermos que seguimos a Jesus o suficiente. No entanto, o que muitosno suportam termos os nossos prprios pensamentos sobre seus ensinamentos, pois achamque somos obrigados a v-los com a mesma viseira com que os seus seguidores os enxergam,fora as interpretaes de convenincias, cujo objetivo apenas manter domnio sobre seusfiis.

    Se quer comparar a Doutrina Esprita com a mensagem crist, comecemos pelo lema

    que adota: Fora da caridade no h salvao, exatamente o que pregava Jesus; muitodiferente da mxima utilizada pelo sr. bispo, que : fora da Igreja Catlica no h salvao,que est em evidente contraste com os ensinamentos do Mestre.

    A Revelao divina

    Para a generalidade dos cristos de todos os tempos, sejam eles catlicos, ortodoxos ouprotestantes, os livros da Sagrada Escritura so divinamente inspirados. um princpio inconcusso("dogma") dos cristos.

    No credo esprita de Allan Kardec no entra este ponto fundamental. Jamais o afirma emnenhuma de suas obras. Mas com freqncia se compraz em mostrar o que ele consideraabsurdos e contradies da Bblia. No Reformador, janeiro de 1953, p. 23, encontramos bemdefinida a posio dos nossos espritas perante a Bblia:

    "Do Velho Testamento j nos recomendado somente o Declogo e do Novo Testamentoapenas a moral de Jesus; j consideramos de valor secundrio, ou revogado e sem valor algum,mais de 90% do texto da Bblia. S vemos na Bblia toda um livro respeitvel pelo seu valorcultural, pela fora que teve na formao cultural dos povos do Ocidente".

    Aqui se bate na velha tecla, o mesmo surrado argumento, de que a Bblia a palavra deDeus, infalvel ou insuspeita; mas assim se diz apenas por puro interesse, pois, caso contrrio,quem lhes seguiria cegamente? O povo, infelizmente, no dado ao questionamento, acreditapiamente naquilo que fala a sua liderana religiosa; da, a mant-la nesse status, dificilmentese encontrar um fiel que venha contest-la, mesmo que o que lhe fale seja absurdo, como ocaso que estamos analisando, neste momento. Por isso, que o sr. bispo denomina de

    precioso dogma cristo, muito embora para prov-lo, ele deixe de ser to precioso. Mas oque o um dogma seno aquilo que a razo e a lgica no aceitam? Dada a sua aberrao,por ele, o dogma, se abre campo para o creio ainda que absurdo.

    O que nunca falam que Jesus sintetizou tudo quanto existe no Velho Testamento emapenas dois princpios, fundamentais nossa evoluo: amar a Deus sobre todas as coisas eao prximo como a ti mesmo (Mt 22,37-40). Por vrias vezes disse aprendeste o que foidito, eu porm vos digo(Mt 5), colocando seus ensinamentos como superiores aos de Moiss.A parbola da bodas de Can tem exatamente esse sentido, ou seja, o ensinamento de Jesus o vinho melhor que foi servido depois. Numa outra passagem deixa-nos diante dessa verdadeinexorvel: A Lei e os profetas chegaram at Joo; da para a frente o Reino de Deus anunciado, e cada um se esfora para nele entrar, com violncia(Lc 16,16); o que, em outraspalavras, quer dizer que o Antigo Testamento vigorou at Joo Batista, limitando, dessa forma,a sua aplicao at esse tempo, porque depois, conforme disse, devero prevalecer os seusensinamentos. Da sua indisposio com os lderes de sua poca, at que, num dadomomento, disse-lhes: no se coloca remendo de pano novo em pano velho ou vinho novo emodres velhos (Mt 9,16-17), o que no entenderam, mas que significa: deixem osensinamentos de Moiss e observem o que lhes digo; entretanto, a liderana de hoje finge noperceber, j que isso no lhe convm.

    Existem, inclusive, passagens que deixam clara essa questo; quem tiver a curiosidadede confirmar, leia: Rm 7,4-6, Hb 7,18; 10,9; 8,6-7.13 e 2Cor 3,6-14.

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    A doutrina sobre Deus

    Alguns conceitos de Allan Kardec sobre a existncia de Deus e seus atributos coincidemcom a doutrina crist. Vrias vezes se refere em seus livros ao pantesmo [1] para rejeit-lo.Outras vezes, porm, usa expresses de sabor pantesta. Assim quando diz que ignoramos se ainteligncia uma "emanao da Divindade"; quando descreve o "fluido universal" em termospantestas; ou quando esclarece que os espritos "se acham mergulhados no fluido divino", etc.

    J Leo Denis, outro patriarca do espiritismo, resvala para um evidente monismo pantesta.Segundo o seu modo de falar, "Deus a grande alma universal, de que toda alma humana umacentelha, uma irradiao. Cada um de ns possui, em estado latente, foras emanadas do divino

    Foco" (Cristianismo e Espiritismo, 5 ed., p. 246). Fala com freqncia de Deus como "divinoFoco", "supremo Foco do Bem e do Belo", "o grande Foco divino", etc.Tambm em outra obra sua, Depois da Morte, 6 ed., voltam expresses pantesticas:

    "Deus infinito e no pode ser individualizado, isto , separado do mundo, nem subsistir parte"(p. 114); ou: "O Ser supremo no existe fora do mundo, porque este a sua parte integrante eessencial" (p. 124). Em vez do "Deus fantstico da Bblia", ele quer o "Deus imanente, semprepresente no seio das coisas" (p. 213): "O Universo no mais essa criao, essa obra tirada donada de que falam as religies. um organismo imenso animado de vida eterna" (p. 123); e emseguida explica que Deus est para o Universo como a alma para o corpo: "O eu do Universo Deus" (p. 349).______

    [1] Sistema filosfico que nega a distino entre o Criador e a criatura e afirma que "tudo Deus" ou "Deus tudo".

    No a primeira vez, e acreditamos que no ser a ltima, em que, sutilmente, queremrelacionar o Espiritismo com doutrina pantesta, quando Kardec nunca disse isso. Entretanto,podemos, a seguir os argumentos do sr. bispo, afirmar, com segurana, que at na Bblia, aqual acredita ser a palavra de Deus, se encontra esse idia pantesta; vejamos:

    Sb 1,7: O esprito do Senhor enche o universo e ele, que mantm unidas todas ascoisas, no ignora nenhum som.

    Sb 12,1: O teu esprito incorruptvel est em todas as coisas.

    Sl 139,7-10: Para onde irei, longe do teu sopro? Para onde fugirei, longe de tuapresena?Se subo ao cu, tu a ests. Se me deito no abismo, a te encontro. Selevanto vo para as margens da aurora, se emigro para os confins do mar, a mealcanar tua esquerda, e tua direita me sustentar.

    Jr 23,24: Pode algum esconder-se em algum lugar onde eu no possa v-lo? -orculo de Jav. Ser que eu no ocupo o cu e a terra? - orculo de Jav.

    Jo 14,3: Se algum me ama, guarda a minha palavra, e meu Pai o amar. Eu e meuPai viremos e faremos nele a nossa morada.

    At 17,27-28: Assim fez, para que buscassem a Deus e para ver se o descobririam,ainda que fosse s apalpadelas. Ele no est longe de cada um de ns, pois nelevivemos, nos movemos e existimos , como alguns dentre os poetas de vocsdisseram: 'Somos da raa do prprio Deus'.

    Ef 4,6: H um s Deus e Pai de todos, que est acima de todos, que age por meio detodos e est presente em todos.

    Esse relacionamento do Espiritismo com o pantesmo s assusta aos nscios e aos que,encabrestados pela liderana religiosa, no ousam questionar o que ela lhes fala.Ento, se somos pantestas, como quer o sr. bispo levar seu leitor a crer, estamos em

    boa companhia, porque estamos seguindo a palavra de Deus. deveras engraado como certas pessoas no se do conta do ridculo que cometem;

    infelizmente, vamos ter que, literalmente, ensinar o pai-nosso a seu vigrio. Nomes prpriosno se traduzem; assim, o nome correto do autor citado pelo bispo Lon Denis; e Loncontinuar sendo em qualquer lngua; a a insensatez, pois no podemos dizer ignorncianessa atitude de um prelado.

    Uma vez que cita Lon Denis, no podemos perder a oportunidade de colocar esta suafala:

    Como todas as grandes descobertas, o Espiritismo devia receber o batismo das

    humilhaes e da prova. Quase todas as idias novas, particularmente as mais fecundas, tm sidoescarnecidas, insultadas em seu aparecimento, rejeitadas como utopias. [...] Cedo ou tarde, averdade triunfa das infalibilidades conjuradas! (DENIS, 1987b, p. 187-188).

    Ser que o sr. bispo teve, pelo menos, um leve rubor na face ao ler isso?

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    A Santssima Trindade

    Todos os cristos - catlicos, ortodoxos e protestantes - professam a sua f na SantssimaTrindade. o mistrio central da f e mensagem crist, desde os primrdios do cristianismo. Mas ocredo esprita proposto por Allan Kardec desconhece totalmente a Santssima Trindade. A posiode Allan Kardec, no conjunto de suas obras, de absoluto e sistemtico silncio com relao aesta doutrina crist.

    Seu silncio era apenas oportunista. Na realidade, no seu sistema de pensamento nocabia este mistrio cristo, no s porque para ele "absolutamente no h mistrios", mas porqueno h lugar para uma intensa vida divina intratrinitria, dado que, segundo ele, um Deus que no

    criasse incessantemente, desde toda a eternidade, seria um Deus solitrio e ocioso.J Leo Denis, em Cristianismo e Espiritismo, p. 74, abre a sua crtica aos nossosprincipais dogmas com estas palavras: "Comea com a estranha concepo do Ser divino, que seresolve no mistrio da Trindade". Depois explica: "A noo da Trindade, colhida numa lenda hinduque era a expresso de um smbolo, veio obscurecer e desnaturar essa alta idia de Deus... Essaconcepo trinitria, to incompreensvel, oferecia, entretanto, grande vantagem s pretenses daIgreja. Permitia-lhe fazer de Jesus Cristo um Deus" (p. 75).

    No Brasil, o espiritismo em peso ou desconhece ou nega a Santssima Trindade.

    E continuaremos irremediavelmente desse jeito, pois a Trindade no um ensinamentode Jesus, e sim uma corruptela de conceitos pagos, que tinham trs deuses. Tambm essano era a idia no cristianismo primitivo, pois essa questo motivou inmeras controvrsias,aps ser rejeitada por trs conclios, como o mais importante cita-se o de Antioquia (269), foi,em 325, proclamado pelo de Nicia. Essa declarao de que Jesus Deus foi uma forma sutil

    de encaixar nos postulados da Igreja uma figura (a trindade) j aceita pelos povos pagos,visando angariar adeptos a essa nova doutrina. Podemos citar:

    Brahma, Siva e Vischnu dos hindusOsris, Isis e Orus dos egpciosEa, Istar e Tamus dos babilniosZeus, Demtrio e Dionsio dos gregosOrzmud, Arimam e Mitra dos persasVoltan, Friga e Dinas dos celtasApesar de se afirmar, peremptoriamente, que Deus um s (Rm 3,30: De fato, h um

    s Deus...; Gl 3,20: ...Deus um s.; Tg 2,19: Voc acredita que existe um s Deus?

    Muito bem! S que os demnios tambm acreditam, e tremem!), ainda assim sustentam aidia da trindade, fiando-se no tal de trs em um". Como difcil de aceitar um disparatedesse e de justificar o trs em um... Ento esse absurdo passou a fazer parte dos dogmas daIgreja, no qual o fiel obrigado a crer, sob pena de excomunho. Desse modo, podemos dizerque no um ensinamento de Jesus, uma adulterao; isso sim, por parte daqueles que sedizem seu representante aqui na Terra.

    O escritor Aderbal Pacheco, numa referncia trindade, cita-nos a opinio do bispoJames A. Pike, da Igreja Episcopal, Cal. U.S.A:

    E que dizer daquela doutrina popular da Cristandade a trindade? J no nos devesurpreender agora que ela tambm de origem pag. A doutrina, alm de implausvel e irracional, antibblica. Nenhum texto ensina a trindade. Usa-se o texto de I Jo. 5:7, na verso Almeida, paraapoiar a doutrina, mas essas palavras no aparecem nos manuscritos mais antigos e maisfidedignos das Escrituras gregas; por isso, a maioria das verses modernas deixa estas palavrasinteiramente de fora. (PACHECO, 2003, p. 77).

    Isso vem corroborar o que dissemos sobre a origem da trindade estar no paganismo.Entretanto, podemos ir mais alm e dizer que a nica passagem na qual se apegam para

    justificar a trindade uma vergonhosa adulterao.Tivesse o sr. bispo lido mais o patriarca do Espiritismo Lon Denis, veria que em

    Cristianismo e Espiritismo, se encontra o seguinte:

    Depois da proclamao da divindade de Cristo, no sculo IV, depois da introduo, nosistema eclesistico, do dogma da Trindade, no sculo VII, muitas passagens do Novo Testamentoforam modificadas, a fim de que exprimissem as novas doutrinas (Ver Joo I, 5,7). Vimos, dizLeblois (145), na Biblioteca Nacional, na de Santa Genoveva, na do mosteiro de Saint-Gall,manuscritos em que o dogma da Trindade est apenas acrescentado margem. Mais tarde foiintercalado no texto, onde se encontra ainda.

    __________(145) As bblias e os iniciadores religiosos da humanidade, por Leblois, pastor de Strasburgo.

    (DENIS, 1987a, p. 272). (grifo nosso).

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    Convm ressaltar que a origem dessa informao foi tirada da fala de um pastor; isto importante para demonstrar a imparcialidade de quem d a notcia.

    Entretanto, para nossa grata surpresa, conseguimos tambm, por ns mesmo, provaressa interpolao, ao lermos Orgenes (185-254), considerado como um dos Pais da Igreja,que viveu na Antiguidade crist. Na sua obra apologtica intitulada Contra Celso (cerca de248), ele, refutando as crticas desse filsofo pago contra os cristos, transcreve, em seudiscurso, muitas passagens bblicas, e, entre elas, cita Mt 28,19, com o seguinte teor: Ide,portanto, e fazei que todas as naes se tornem discpulos (ORGENES, 2004, p. 154). O que

    atesta que a expresso batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Esprito Santo foi mesmocolocada, posteriormente, para se justificar o dogma da Trindade.O historiador e professor da Universidade Hebraica de Jerusalm, David Flusser (1917-

    2000), que lecionou no Departamento de Religio Comparada por mais de 50 anos, nascido naustria, foi estudioso da literatura clssica e talmdica, conhecia 26 idiomas, informa que:

    De acordo com os manuscritos de Mateus que foram preservados, o Jesus ressuscitadoordenou aos seus discpulos batizar todas as naes em nome do Pai e do Filho e do EspritoSanto. A frmula trinitria franca, aqui, de fato notvel, mas j foi mostrado que a ordem parabatizar e a frmula trinitria faltam em todas as citaes das passagens de Mateus nosescritos de Eusbio anteriores ao Conclio de Nicia. O texto de Eusbio de Mt 28:19-20 antesde Nicia era o seguinte: Ide e tornai todas as naes discpulas em meu nome, ensinando-as aobservar tudo o que vos ordenei. Parece que Eusbio encontrou essa forma do texto nos cdicesda famosa biblioteca crist em Cesaria.75 Esse texto mais curto est completo e coerente. Seu

    sentido claro e tem seus mritos bvios: diz que o Jesus ressuscitado ordenou que seusdiscpulos instrussem todas as naes em seu nome, o que significa que os discpulos deveriamensinar a doutrina de seu mestre, depois de sua morte, tal como a receberam dele. (FLUSSER,2001, p. 156).

    importante transcrevermos tambm a nota 75, na qual Flusser coloca sua base deinformao:

    75.Ver D. Flusser, "The Conclusion of Matthew in a New Jewish Christian Source", Annual of theSwedish Theological lnstitute, vol. V, 1967, Leiden, 1967, pp. 110-20; Benjamin J. Hubbard, TheMatthean Redaction of a Primitive Apostolic Commissioning", SBL, Dissertation Series 19,Montana, 1974. Mais testemunho da concluso no-trinitria de Mateus est preservado numtexto copta (ver E. Budge, Miscelleaneous Coptic Texts, Londres, 1915, pp. 58 e seguintes, 628 e636), onde descrita uma controvrsia entre Cirilo de Jerusalm e um monge hertico. "E o

    patriarca Cirilo disse ao monge: 'Quem te mandou pregar essas coisas?' E o monge lhe disse: 'OCristo disse: Ide a todo o mundo e pregai a todas as naes em Meu nome em cada lugar". Otexto citado por Morcon Smith, Clement of Alexandria and a Secret Cospel of Mark, HarvardUniversity Press, Cambridge, Mass, 1973, p. 342-6. (FLUSSER, 2001, p. 170).

    Na seqncia, Flusser diz que...

    um testemunho adicional das verses mais curtas de Mt 28:19-20a foi descoberto h poucotempo numa fonte judeu-crist... (FLUSSER, 2001, p. 156), citando como fonte: Sh. Pins, TheJewish Christians of the Early Centuries of Christianity According to a New Source, The Israel Academy of Sciences and Humanities Proceedings, vol. II, n 13, Jerusalm, 1966, p. 25.(FLUSSER, 2001, p. 170).

    Para corroborar tudo isso iremos apresentar a opinio de Geza Vermes, um dos maioresespecialistas sobre a histria do cristianismo, que, falando sobre esse passo, disse:

    [...] Nos programas missionrios anteriores, no houve questo quanto ao batismo, emenos ainda quanto a batizar naes inteiras. Alm disso, o batismo administrado em nome doPai, do Filho e do Esprito Santo no tem precedente no s nos Evangelhos, mas tambmem qualquer lugar de todo o Novo Testamento. A frmula que ocorre em Atos dos Apstolos batismo em nome de Jesus (At 2,38; 8,16; 10,48; 19,5) e, em Paulo, batismo em Cristo (Rm 6,3;Gl 3,27). Fora de Mateus, a frmula trinitria, Pai, Filho e Esprito Santo ocorre pela primeira vezno manual litrgico da igreja primitiva intitulado Didaqu ou Instruo dos Doze Apstolos, que datado da primeira metade do sculo II d.C. Tudo isso aponta para uma origem tardia de Mt28,18-20.[...] (VERMES, 2006, p. 377-378). (grifo nosso).

    Podemos colocar dois argumentos para contradizer essa passagem de Mateus, da formacomo atualmente se encontra na Bblia: 1) que Jesus, quando vivo, no recomendou obatismo de gua, mas um outro; 2) em Atos (2,38; 8,16; 10,48 e 19,5) temos a prova de

    que se batizava somente em nome de Jesus, evidenciando falta grave de quem fez ainterpolao por no ter percebido esse pequeno detalhe. Eh!... No h mesmo crime perfeito!

    Mas esse fato no passou despercebido pelos tradutores da Bblia de Jerusalm, que ominimizam dizendo:

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    possvel que, em sua forma precisa, essa frmula reflita influncia do uso litrgicoposteriormente fixado na comunidade primitiva. Sabe-se que o livro dos Atos fala em batizar nonome de Jesus (cf. At 1,5+; 2,38+). Mais tarde deve ter-se estabelecido a associao dobatizado s trs pessoas da Trindade. Quaisquer que tenham sido as variaes nesse ponto, arealidade profunda permanece a mesma. O batismo une pessoa de Jesus Salvador; ora, toda asua obra salvfica procede do amor do Pai e se completa pela efuso do Esprito. (explicao paraMt 28,19, p. 1758).

    Vamos em frente, seguindo com a nossa anlise.

    A doutrina sobre Jesus

    Professam os cristos que Jesus era verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Aafirmao da divindade de Jesus fundamental para a f crist. Mas este Jesus no entra nocredo esprita formulado por Allan Kardec. Ele nos deixou nas suas Obras Pstumas um estudosobre a natureza de Jesus, de 41 pginas, todo ele orientado para provar que Jesus no era Deus.

    Nos dias de Allan Kardec, surgiu um advogado de Bordus chamado Joo BatistaRoustaing, que teve o seu primeiro contacto com o espiritismo em 1861 e em 1865 publicou a suaobra: Espiritismo Cristo ou Revelao da Revelao, em trs volumes. Sua tese central: o corpode Jesus no era real, de carne e osso, mas aparente e meramente fludico.

    No Brasil, a Federao Esprita, desde a sua fundao, propaga a obra de Roustaing.Guillon Ribeiro, que foi presidente da Federao e tradutor das obras de Allan Kardec, compendioua cristologia esprita no ttulo que deu ao livro: Jesus nem Deus nem homem.

    Pena que o sr. bispo no tenha se lembrado de que tambm os cristos professavamque a Terra era o centro do Universo; mas nem por isso tal crena tornou-se uma verdade. Damesma forma, podemos aplicar esse pensamento questo da divindade de Jesus.

    Jesus nasceu, viveu e morreu como judeu, e para um judeu at mesmo a pronuncia donome de Deus lhe era proibido, quanto mais falar que era o prprio Deus; seria apedrejamentona certa. Ningum ainda conseguiu provar que Jesus tenha dito isso; o que encontramos nosrelatos do Evangelho uma falsa acusao dos lderes religiosos de sua poca, que tentaramcolocar palavras na boca de Jesus, a fim de terem um bom motivo para o matar; plano funestoque acabou por se realizar.

    O sr. bispo explora isso, o que nos convence de que realmente estudou o Espiritismo;por isso, as suas colocaes ficam mais graves; s que, mais uma vez, da missa no contou ametade.

    Em janeiro de 1868, data posterior ao lanamento da obra de Roustaing intitulada Os

    Quatro Evangelhos, Kardec publica o livro A Gnese, no qual podemos ver que, num certoponto, ele defende, sem nenhuma sombra de dvida, que Jesus teve um corpo fsico comum atodos ns. No captulo XV Os milagres do Evangelho, encontramos o seguinte pargrafo(item 2):

    Como homem, tinha a organizao dos seres carnais; porm, como Esprito puro,desprendido da matria, havia de viver mais da vida espiritual, do que da vida corporal, de cujasfraquezas no era possvel. A sua superioridade com relao aos homens no derivava dasqualidades particulares do seu corpo, mas das do seu Esprito, que dominava de modoabsoluto a matria e da do seu perisprito, tirado da parte mais quintessenciada dos fluidosterrestres. (Cap. XIV, n 9). Sua alma, provavelmente, no se achava presa ao corpo, seno peloslaos estritamente indispensveis. Constantemente desprendida, ela decerto lhe dava dupla vistano s permanente, como de excepcional penetrao e superior de muito que de ordinriopossuem os homens comuns. (...). (grifo nosso). (KARDEC, 2007a, p. 354-355).

    Kardec no usa de meias palavras para expor seu pensamento de que Jesus comohomem, tinha a organizao dos seres carnais. Ora, a tese levantada por Roustaing queJesus possua no um corpo carnal, mas um corpo fludico, o que fica inevitavelmente contra oque diz a Bblia e o codificador do Espiritismo.

    Mais frente que veremos Kardec detalhar melhor seu pensamento, conformepodemos constatar quando ele diz sobre o desaparecimento do corpo de Jesus.

    Coloca Kardec (itens 64 e 65), demonstrando que, pelo seu teor, essa assertiva tem umdestinatrio certo - a obra de Roustaing:

    Segundo outra opinio, Jesus no teria tido um corpo carnal, mas apenas um corpo fludico;no teria sido, em toda a sua vida, mais do que uma apario tangvel; numa palavra: uma espciede agnere. Seu nascimento, sua morte e todos os atos materiais de sua vida teriam sido apenas

    aparentes. Assim foi que, dizem, seu corpo, voltado ao estado fludico, pode desaparecer dosepulcro e com esse mesmo corpo que ele se teria mostrado depois de sua morte. fora de dvida que semelhante fato no se pode considerar radicalmente impossvel,

    dentro do que hoje se sabe acerca das propriedades dos fluidos; mas, seria, pelo menos,inteiramente excepcional e em formal oposio ao carter dos agneres. (Cap. XIV, n 36). Trata-se, pois, de saber se tal hiptese admissvel, se os fatos a confirmam ou contradizem.

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    A estada de Jesus na Terra apresenta dois perodos: o que a precede e o que se seguiu sua morte. No primeiro, desde o momento da concepo at o nascimento, tudo se passa, peloque respeita sua me, como nas condies ordinrias da vida[1]. Desde o seu nascimento at asua morte, tudo, em seus atos, em sua linguagem e nas diversas circunstncias de sua vida,revela os caracteres inequvocos da corporeidade. So acidentais os fenmenos de ordempsquica que nele se produzem e nada tm de anmalos, pois que se explicam pelas propriedadesdo perisprito e se do, em diferentes graus, noutros indivduos. Depois de sua morte, ao contrrio,tudo nele revela o ser fludico. to marcada a diferena entre os dois estados, que no podemser assimilados.

    O corpo carnal tem as propriedades inerentes matria propriamente dita, propriedadesque diferem essencialmente das dos fluidos etreos; naquela, a desorganizao se opera pelaruptura da coeso molecular. Ao penetrar no corpo material, um instrumento cortante lhe divide ostecidos; se os rgos essenciais vida so atacados, cessa-lhes o funcionamento e sobrevm amorte, isto , a do corpo. No existindo nos corpos fludicos essa coeso, a vida a j no repousano jogo dos rgos especiais e no se podem produzir desordens anlogas quelas. Uminstrumento cortante ou outro qualquer que penetra num corpo fludico como se penetrasse numamassa de vapor, sem lhe ocasionar qualquer leso. Tal a razo por que no podem morreroscorpos dessa espcie e por que os seres fludicos, designados pelo nome de agneres, nopodem ser mortos.

    Depois do suplcio de Jesus, seu corpo ali, inerte e sem vida, foi enterrado como os corposcomuns, e cada um podia v-lo e toc-lo. Depois de sua ressurreio, quando quer deixar a Terra,no morre mais; seu corpo se eleva, se desvanece e desaparece, sem deixar nenhum trao, provaevidente de que o seu corpo era de outra natureza daquele que pereceu sobre a cruz; de onde preciso concluir que se Jesus pde morrer, foi porque tinha um corpo carnal.

    [...]Por virtude das suas propriedades materiais, o corpo carnal a sede das sensaes e dasdores fsicas, que repercutem no centro sensitivo ou Esprito. Quem sofre no o corpo, oEsprito recebendo o contragolpe das leses ou alteraes dos tecidos orgnicos. Num corpo semEsprito, absolutamente nula a sensao. Pela mesma razo, o Esprito, sem corpo material, nopode experimentar os sofrimentos, visto que estes resultam da alterao da matria, dondetambm foroso se conclua que, se Jesus sofreu materialmente, do que no se pode duvidar, que ele tinha um corpo material de natureza semelhante ao de toda a gente._________

    [1] No falamos do mistrio da encarnao, com o qual no temos que nos ocupar aqui e que serexaminado ulteriormente.(KARDEC, 2007a, p. 401-403).

    Continua, Kardec:

    Aos fatos materiais juntam-se fortssimas consideraes morais.Se as condies de Jesus, durante a sua vida, fossem as dos seres fludicos, ele no teria

    experimentado nem a dor, nem as necessidades do corpo. Supor que assim haja sido tirar-lhe omrito da vida de privaes e de sofrimentos que escolhera, como exemplo de resignao. Setudo nele fosse aparente, todos os atos de sua vida, a reiterada predio de sua morte, a cenadolorosa do Jardim das Oliveiras, sua prece a Deus para que lhe afastasse dos lbios o clice deamarguras, sua paixo, sua agonia, tudo, at ao ltimo brado, no momento de entregar o Esprito,no teria passado de vo simulacro, para enganar com relao sua natureza e fazer crer numsacrifcio ilusrio de sua vida, numa comdia indigna de um homem simplesmente honesto,indigna, portanto, e com mais forte razo de um ser to superior. Numa palavra: ele teria abusadoda boa-f dos seus contemporneos e da posteridade. Tais as conseqncias lgicas dessesistema, conseqncias inadmissveis, porque o rebaixariam moralmente, em vez de o elevarem.(KARDEC, 2007a, p. 403)

    E arremata categrico: Jesus, pois, teve, como todo homem, um corpo carnal e umcorpo fludico, o que atestado pelos fenmenos materiais e pelos fenmenos psquicos quelhe assinalaram a existncia (KARDEC, 2007a, p. 404).

    No d, pois, para conciliar a obra Os Quatro Evangelhos de Roustaing, com o queKardec desenvolve na codificao da Doutrina Esprita. E chamamos a ateno para o fato dolivro A Gnese, ter sido lanado depois da obra de Roustaing.

    Entretanto, Kardec fez uma anlise dessa obra, o que talvez a maioria dos espritas nemsaiba. Vamos encontr-la na Revista Esprita, Jornal de Estudos Psicolgicos, relativa ao msde junho de 1866, que vale a pena colocarmos neste estudo, para que tenhamos umesclarecimento mais aprofundado do assunto.

    Passaremos, ento, a palavra a Kardec, no texto intitulado Os Evangelhos Explicados Pelo Sr. Roustaing, onde ele comenta, ao que tudo indica, os recm-lanados livros:

    Esta obra compreende a explicao e a interpretao dos Evangelhos, artigo por artigo,com ajuda de comunicaes ditadas pelos Espritos. um trabalho considerado, e que tem, paraos Espritas, o mrito de no estar, sobre nenhum ponto, em contradio com a doutrina ensinadaporOLivro dos Espritos e o dos Mdiuns. As partes correspondentes quelas que tratamos em OEvangelho Segundo o Espiritismo o so num sentido anlogo. De resto, como nos limitamos s

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    mximas morais que, quase sem exceo, so geralmente claras, elas no poderiam serinterpretadas de diversas maneiras; tambm foram o assunto de controvrsias religiosas. Foi poresta razo que comeamos por ali a fim de ser aceito sem contestao, esperando para o restoque a opinio geral estivesse mais familiarizada com a idia esprita.

    O autor desta nova obra acreditou dever seguir um outro caminho; em lugar de procederpor graduao, quis alcanar o objetivo de um golpe. Tratou, por certas questes que no julgamos oportuno abordar ainda, e das quais, conseqentemente, lhe deixamos aresponsabilidade, assim como aos Espritos que os comentaram. Conseqente com o nossoprincpio, que consiste em regular a nossa caminhada sobre o desenvolvimento da opinio, nodaremos, at nova ordem, s suas teorias, nem aprovao, nem desaprovao, deixando ao

    tempo o cuidado de sancion-las ou de contradiz-las. Convm, pois, considerar essasexplicaes como opinies pessoais aos Espritos que as formularam, opinies que podemser justas ou falsas, e que, em todos os casos, tm necessidade da sano do controleuniversal, e at mais ampla confirmao no poderiam ser consideradas como partesintegrantes da Doutrina Esprita.

    Quando tratarmos essas questes, o faremos sem cerimnia; mas que, ento, teremosrecolhido os documentos bastante numerosos, nos ensinos dados de todos os lados pelosEspritos, para poder falar afirmativamente e ter a certeza de estar de acordo com a maioria; assim que fazemos todas as vezes que se trata de formular um princpio capital. Ns os dissemoscem vezes, para ns a opinio de um Esprito, qualquer que seja o nome que traga, no temseno o valor de uma opinio individual; nosso critrio est na concordncia universal,corroborada por uma rigorosa lgica, para as coisas que no podemos controlar por nossosprprios olhos. De que nos serviria dar prematuramente uma doutrina como uma verdadeabsoluta, se, mais tarde, ela devesse ser combatida pela generalidade dos Espritos?

    Dissemos que o livro do Sr. Roustaing no se afasta dos princpios de O Livro dosEspritos e o dos Mdiuns; nossas observaes levam, pois, sobre aplicao desses mesmosprincpios interpretao de certos fatos. assim, por exemplo, que d ao Cristo, em lugar deum corpo carnal, um corpo fludico concretizado, tendo todas as aparncias da materialidade, edele faz uma agnere. Aos olhos dos homens que no teriam podido compreender, ento, suanatureza espiritual, teve que passar EM APARNCIA, essa palavra incessantemente repetida emtodo o curso da obra, para todas as vicissitudes da Humanidade. Assim se explicaria o mistrio deseu nascimento: Maria no teria tido seno as aparncias da gravidez. Este ponto, colocado porpremissa e pedra angular, a base sobre a qual se apia para explicao de todos os fatosextraordinrios ou miraculosos da vida de Jesus.

    Sem dvida, no h a nada de materialmente impossvel para quem conhece aspropriedades do envoltrio perispiritual; sem nos pronunciar pr ou contra essa teoria diremos queela ao menos hipottica, e que, se um dia ela fosse reconhecida errada, a base sendo falsa, oedifcio desmoronaria. Esperamos, pois os numerosos comentrios que ela no deixar de

    provocar da parte dos Espritos, e que contribuiro para elucidar a questo. Sem prejulg-la,diremos que j foram feitas objees srias a essa teoria, e que, na nossa opinio, os fatospodem perfeitamente se explicar sem sair das condies da Humanidade corprea.

    Estas observaes, subordinadas sano do futuro, no diminui nada a importnciadessa obra que, ao lado das coisas duvidosas do nosso ponto de vista , delas encerra,incontestavelmente, boas e verdadeiras, e ser consultada proveitosamente pelos Espritassrios.

    Se o fundo de um livro o principal, a forma no de se desdenhar, e entra tambm poralguma coisa no sucesso. Achamos que certas partes so desenvolvidas muito longamente,sem proveito para a clareza. Na nossa opinio, se, limitando-se ao estrito necessrio, ter-se-iapodido reduzir a obra em dois, ou mesmo em um nico volume, teria ganhado em popularidade.(KARDEC, 1993b, p. 190-192) (grifo nosso).

    Podemos muito bem perceber que Kardec, embora no condene toda a obra, deixa emaberto, para o futuro, o seu julgamento, uma vez que ele nunca se apresentou como o donoda verdade. Porm, quanto questo do corpo fludico, no deixa de dar sua opinio de queno sancionava essa hiptese. No deixa tambm de falar que falta clareza e objetividade aessa obra. Diz, de forma bastante clara, que a obra de Roustaing, por falta de umaconfirmao mais ampla, no poderia ser considerada como parte integrante da DoutrinaEsprita.

    Da, fica frustrada a tentativa do sr. bispo em levantar essa questo como pontonegativo contra a Doutrina, cuja inteno no vemos outra alternativa seno em v-la comoproduto de m-f.

    importante, deixar claro que opinio pessoal no faz corpo de doutrina, e dentre osprincpios espritas h um que a liberdade de se manifestar, sobre qualquer assunto, plena,mesmo que seja algo contrrio aos seus pontos fundamentais, uma vez que, do nosso lado,no h dogmas nem imposies.

    A doutrina sobre a redeno

    E pelo sangue de Jesus Cristo que temos a redeno, a remisso dos pecados, segundo ariqueza da sua graa que ele derramou profusamente sobre ns, explicava o Apstolo aos Efsios(1,7). A nossa redeno pela paixo, morte e ressurreio de Jesus outra verdade fundamental

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    da f crist. Nisso consiste propriamente a "boa nova" ou o "evangelho".Mas nem esta verdade to central entra no credo esprita de Allan Kardec. Segundo ele,

    cada um deve ser o seu prprio redentor atravs do sistema das reencarnaes. Por isso, noespiritismo a soteriologia (ou doutrina sobre a redeno ou salvao do homem) deslocada dacristologia para a antropologia.

    Leo Denis o enuncia cruamente quando escreve: "No, a misso de Cristo no eraresgatar com o seu sangue os crimes da Humanidade. O sangue, mesmo de um Deus, no seriacapaz de resgatar ningum. Cada qual deve resgatar-se a si mesmo, resgatar-se da ignorncia edo mal. o que os espritos, aos milhares, afirmam em todos os pontos do mundo" (Cristianismo eEspiritismo, p. 88).

    Isso nunca foi doutrina do Cristo, pois ele deixou bem claro a cada um segundo suasobras(Mt 16,27). A doutrina da redeno veio por ignorncia dos telogos, que transferirampara Jesus o que os judeus tinham como prticas ritualsticas de expiao do pecado. Matava-se um boi, que era oferecido em holocausto como vtima dos pecados do povo. Essa de searrumar um bode expiatrio para pagar pelos nossos pecados muito fcil; difcil domarnossas fraquezas, nossos vcios para nos tornamos homens de bem. A manter essa idia, deque o sangue de Jesus redimiu nossos pecados, teremos que resolver o seguinte impasse: outodos estamos salvos ou ento teremos que arrumar outro Cristo para pagar pelos nossospecados. Se para a Igreja Catlica todos ns nascemos com o pecado de Ado e Eva, ento,podemos concluir que, se Jesus no pagou nem o pecado desse nico casal, como, ento,pagaria pelos da humanidade toda? E, pior ainda, o sangue de Jesus, por lgica, s poderia ter

    redimido os pecados de sua morte para trs; alis, foi isso que se disse: morrendo, nos livroudas faltas cometidas durante a primeira aliana(Hb 9,15); assim, conforme j o dissemos,teremos que arrumar outro Cristo, para pagar pelos pecados cometidos pela humanidade, dapara a frente.

    Ser que esse pessoal nunca vai acordar para ver que absurda essa histria daremisso dos pecados pelo sangue de Jesus? Perdo para futuro aprovao da impunidade.

    O sacrifcio de Jesus, pela humanidade, foi o de ter que se encarnar num Planeta tomesquinho igual ao nosso para levar uma mensagem que ningum segue; ter conscincia queseria morto pela liderana religiosa; enfim, passar tudo que passou para, dois mil e poucosanos depois, a humanidade continuar a no seguir os seus ensinamentos. Tambm, pudera:to desvirtuados que foram seus ensinos, pela liderana religiosa, que a essncia se perdeuem meio aos rituais e aos interesses financeiros e de poder.

    Deixaremos para reflexo: Eu digo: Meu projeto se cumprir; eu realizarei tudo o quedesejo"(Is 46,10) e Ele quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimentoda verdade(1Tm 2,4); algum poder contrariar essa vontade de Deus, de que todos sejamsalvos? Mas, pela interpretao religiosa que encontramos, s os adeptos de determinadacorrente que sero salvos, em flagrante contradio com: Deus no faz acepo de

    pessoas(At 10,34).A verdade do Evangelho uma s: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao prximo

    como a si mesmo; fora disso pura deturpao.

    A doutrina sobre a Igreja

    "Creio na Igreja, una, santa, catlica e apostlica". E a profisso crist. Nem esta profissoentra no credo esprita.

    Com a negao da doutrina crist sobre a redeno e santificao dos homens, contestam-

    se conseqentemente tambm todos os meios institudos por Jesus Cristo para a salvao esantificao.A comear pelo Batismo. Jesus mandou aos Apstolos ir pelo mundo inteiro, ensinar a

    todos tudo quanto Ele lhes ordenara, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Esprito Santo(Mt 28, 19-20), esclarecendo: Aquele que crer e for batizado ser salvo; o que no crer sercondenado (Mc 16, 16). No Brasil, os espritas, fiis doutrina codificada por Allan Kardec, j nobatizam nem fazem batizar os seus filhos. Nem teria sentido. Pois pelas reencarnaes que oshomens devem alcanar a perfeio.

    Na ltima Ceia, Jesus instituiu a Eucaristia e ordenou aos Apstolos: Fazei isto em minhamemria (Lc 22, 19). Mas os espritas no o fazem. Nem teria sentido. Pois, segundo eles, omistrio pascal no tem valor de sacrifcio pelos pecados dos homens.

    Jesus disse aos Apstolos:Aqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-o perdoadosJo 20, 23). Mas os espritas no procuram receber o perdo divino que lhes generosamenteoferecido. Nem teria sentido. Pois somente mediante as reencarnaes se alcana o perdo.

    Jesus disse a Pedro: Tu s Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portasdo inferno no prevalecero contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos cus e o que ligaresna terra ser ligado nos cus e o que desligares na terra ser desligado nos cus (Mt 16, 18-19).Mas os espritas no do nenhuma importncia nem a Pedro e seus sucessores, nem Igreja queJesus dizia ser "sua", nem ao poder das chaves que o Senhor Jesus entregou ao chefe do Colgioapostlico.

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    Jesus declarou aos Apstolos: Quem vos ouve a mim me ouve, quem vos despreza a mimme despreza, e quem me despreza, despreza aquele que me enviou(Lc 10, 16). Para os espritas,tudo isso j est superado. Pois eles vo receber as orientaes dos espritos que baixam emseus centros ou terreiros.

    Proclamando a nulidade dos Sacramentos, quer Allan Kardec que o espiritismo no tenha"nem culto, nem rito, nem templos". E a Federao Esprita Brasileira declarou por unanimidade,como vimos, que o espiritismo religio "sem ritos, sem liturgia e sem sacramentos". Proclama-seassim a total inutilidade da Igreja, que ser substituda pelo espiritismo.

    E no seria difcil continuar a lista das negaes. Assim, para dar apenas mais alguns

    exemplos,o espiritismo:

    - nega a criao da alma humana;- recusa a unio substancial de corpo e alma;- afirma que no h anjos nem demnios;- repudia os privilgios de Maria Santssima;- no admite o pecado original;- contesta a graa divina;- rejeita a unicidade da vida humana terrena;- ignora o juzo particular depois da morte;- no concede a existncia do purgatrio;- ridiculariza o inferno;- reprova a ressurreio da carne;- e desdenha o Juzo Final.

    Em uma palavra: renuncia a todo o Credo cristo.Razo tinha a Conferncia dos Bispos do Brasil quando, em 1953, declarava que o

    espiritismo no Brasil o desvio doutrinrio "mais perigoso", j que "nega no apenas uma ou outraverdade da nossa santa F, mas todas elas, tendo, no entanto, a cautela de dizer-se cristo, demodo a deixar em catlicos menos avisados a impresso erradssima de ser possvel conciliarcatolicismo com espiritismo".

    Abundantes so, pois, os motivos por que o catlico no aceita o espiritismo. Pode-semesmo afirmar que o espiritismo no cristo.

    Sabia, sr. bispo, que essa profisso de f: Creio na Igreja, una, santa, catlica eapostlica, tambm no consta do credo protestante, do budista, do hindusta e de inmerasoutras religies que existem no planeta? Mude o discurso e, ao invs de dizer a profissocrist, diga, sem rodeios: uma profisso da Igreja Catlica; o que muito diferente. Alis,segundo estatsticas, os catlicos representam cerca de 1/3 da populao mundial, o que oscoloca como minoria; mas, mesmo assim, deve acreditar o sr. bispo que eles esto certos...

    A santificao dos homens se d pela evoluo espiritual, pois foi Jesus quem disse parasermos perfeitos como o Pai Celestial (Mt 5,48). Pela doutrina da reencarnao todos os sereshumanos estaro, um dia, junto ao Pai, enquanto que pela doutrina da Igreja, somente oscatlicos. Qual das duas opes tem carter de universalidade? Por qual delas fica evidente amisericrdia e o amor de Deus para com todas as criaturas? Onde fica: O mundo inteirodiante de ti como gro de areia na balana, como gota de orvalho matutino caindo sobre aterra. Todavia, tu tens compaixo de todos, porque podes tudo, e no levas em conta os

    pecados dos homens, para que eles se arrependam. Tu amas tudo o que existe, e nodesprezas nada do que criaste. Se odiasses alguma coisa, no a terias Criado (Sb 11,22-24)?

    A questo do batismo deveras interessante, pois Jesus no batizou ningum, como jo dissemos; Ele nasceu, viveu e morreu como um judeu, e essa prtica no era usada entre

    esse povo. Alis, em sua poca, somente Joo Batista batizava; porm ele disse; algum vemdepois de mim que vos batizar no Espirito Santo e no fogo (deve ser por isso que naInquisio se queimou tanta gente). O batismo ritualstico da Igreja de Roma com gua;portanto, no tem nada a ver com o batismo de Jesus. Julgamos conveniente ver essa questomais detalhadamente.

    Sempre nos causa espcie ver passagens bblicas mencionando o ritual do batismo, emparticular a que relata o batismo de Jesus, uma vez que esse rito no fazia parte das prticasreligiosas dos hebreus. Assim, no sabemos por qual motivo que, de uma hora para outra,aparece, na Bblia, algum realizando o batismo, porquanto a circunciso que era o ritualpraticado naquela poca (Lv 12,3) para iniciao religio. Para ns s existe uma explicaopossvel para isso. Embora saibamos que ela no ir agradar aos fundamentalistas, mas, comobuscamos a verdade, no nos resta seno a alternativa de deduzir que tal episdio seja uma

    interpolao.Mais ainda: ficamos convictos dessa possibilidade, quando os prprios textos bblicosnos levam justamente a essa hiptese. o que veremos mais frente.

    Sobre a sua origem Cairbar Schutel, em O Batismo, assim relata:

  • 8/14/2019 Espiritismo e m-f

    19/95

    Esta prtica, que assinala perodos milenrios, parece ter nascido na Grcia Antiga, logoaps a constituio de uma seita que cultuava a Deusa da Torpeza, a quem denominavam Cotito ea quem os atenienses rendiam os seus louvores. Esta seita, constituda de sacerdotes que tinhamrecebido o nome de baptas, porque se banhavam e purificavam com perfumes antes dacelebrao das cerimnias, deixou saliente nas pginas da Histria esse ato como smbolo dapurificao do Esprito. (SCHUTEL, 1986, p. 15).

    Corroborando essa verso, Celso Martins, em Nas Fronteiras da Cincia, afirma:

    [...] Batizando as