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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA COORDENAÇÃO DE PESQUISA Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) - CNPq/UFS Projeto de Pesquisa: Representações sociais dos índios em Sergipe: Infra- humanização, racismo, sentimentos de culpa e solidariedade. Relatório Final: A dissociação entre as crenças pessoais e as coletivas nas representações sociais dos Índios em Sergipe Área de Concentração: Ciências Humanas/Psicologia Social Código CNPq: Ciências Humanas 7.07.00.00-1 / Psicologia Social 7.07.05.00-3 Bolsista: Manuela Vilanova Ribeiro Barbosa Departamento de Psicologia Matrícula: 05141551 Orientador: Professor Dr. Marcus Eugênio Oliveira Lima Responsável: Grupo de Pesquisa Normas Sociais, Estereótipos, Preconceitos e Racismo Departamento de Psicologia /UFS –salas 115-117, Didática 1. http://gruponsepr.wordpress.com/ RELATÓRIO FINAL Janeiro 2007/Julho 2007. 1

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPEPRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

COORDENAÇÃO DE PESQUISA

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) - CNPq/UFS

Projeto de Pesquisa:

Representações sociais dos índios em Sergipe: Infra-humanização, racismo, sentimentos de culpa e solidariedade.

Relatório Final:

A dissociação entre as crenças pessoais e as coletivas nas representações sociais dos Índios em Sergipe

Área de Concentração: Ciências Humanas/Psicologia SocialCódigo CNPq: Ciências Humanas 7.07.00.00-1 / Psicologia Social 7.07.05.00-3

Bolsista: Manuela Vilanova Ribeiro BarbosaDepartamento de Psicologia

Matrícula: 05141551

Orientador: Professor Dr. Marcus Eugênio Oliveira Lima

Responsável:Grupo de Pesquisa Normas Sociais, Estereótipos, Preconceitos e Racismo

Departamento de Psicologia /UFS –salas 115-117, Didática 1.http://gruponsepr.wordpress.com/

RELATÓRIO FINALJaneiro 2007/Julho 2007.

Este projeto foi desenvolvido com bolsa de iniciação científicaPIBIC/Copes.

São Cristóvão - SE2007

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Resumo

Esse trabalho insere-se num projeto mais amplo cujo objetivo é investigar a representação social dos índios em Sergipe. A pesquisa foi realizada no ano de 2007 em 5 cidades de Sergipe e uma de Alagoas.Utilizamos entrevistas estruturadas com questões abertas e fechadas. Neste relatório apresentamos dados sobre as crenças pessoais e coletivas dos sergipanos em relação aos índios. Os resultados encontrados indicam que, na avaliação dos sergipanos, a sociedade brasileira possui uma visão estereotipada e negativa do índio. Observamos, entretanto, que essa imagem “social” não coincide com a imagem que cada um dos entrevistados diz ter pessoalmente dos índios, o que nos leva a refletir sobre a dissociação entre crenças pessoais e coletivas como resultante dos efeitos da norma anti-racista na aplicação dos estereótipos direcionados a este grupo. Palavras-chave: crenças, estereótipos, dissociação

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IntroduçãoNenhum povo que passasse por isso como sua rotina de vida, através de séculos, sairia dela sem ficar marcado indelevelmente. Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles pretos e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós a gente sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da marginalidade destilada e instalada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria. (Darcy Ribeiro, 1996a, p. 120)

Os índios estão no Brasil antes do seu surgimento enquanto país, eles estão nos nossos livros de história, estão na história da nossa formação cultural, política e geográfica, na nossa língua, na nossa culinária, os índios estão em todas as regiões do país e mais que tudo isto eles estão na composição genética do nosso povo. Uma pesquisa feita pela UFMG em 1997 analisando o DNA dos brasileiros, demonstrou que 45 milhões de nós temos ascendência indígena. Por que então para a maioria dos brasileiros os índios são invisíveis? Por que raramente ou mesmo nunca nos sentimos “a mão possessa que os supliciou”? Por que tão perto biológica e geograficamente e tão longe em termos de identidade nacional?

O fotógrafo e antropólogo Siloé Soares de Amorim, estudioso dos índios do Brasil, apresenta um quadro compreensivo das ambivalências nacionais em relação ao índio. Parece que amamos ou aprendemos a cultuar um índio genérico, estereotipado, que anda nu e vive nas matas da Amazônia, ou seja, amamos o índio distante e improvável, o “índio total”. Os índios particulares e reais, ainda segundo Amorim (s/d), que transitam nas periferias urbanas, semi-urbanas, rurais; entre suas aldeias, a selva e as bancadas parlamentares, estes têm a difícil missão de criar paralelos entre seus espaços étnicos e o mundo que os rodeia, entre a imagem demandada por esses espaços sócio-politicos e a imagem visual que tentam construir com a finalidade de se auto-identificar e serem identificados. Nesse embate de “ressurgência”, “transfiguração” e “aculturação” os povos autóctones têm duas alternativas impostas pelos dominantes: mantêm-se “índios” nas matas para desocuparem os espaços sociais nacionais ou ocupam os espaços sociais, mas deixam de ser “índios”.

É nesse cenário complexo que habitam e são construídas as representações sociais dos índios no Brasil. É sobre esta temática que nos interessa compreender como são percebidos os índios por pessoas que vivem próximas e por outras que vivem distante deles e o que é um “índio” no imaginário social nacional?

Este projeto de pesquisa procura investigar as crenças pessoais e compartilhadas dos sergipanos em relação aos índios; verificar se essas crenças coincidem ou se são dissonantes e investigar o papel de fatores macrossociais, tais como a história, e de fatores microssociais, tais como o nível de contato ou de proximidade física com os índios, na produção dessas crenças.

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Com este intuito, coletamos dados nas cidades de Aracaju, Porto da Folha, Pão de Açúcar (AL)1, Estância, Itabaiana e Lagarto. Embora todos os bolsistas tenham participado de todas as fases da pesquisa, cada um deles ficou nas suas análises um elemento específico do objetivo geral. Neste relatório apresentamos uma análise das representações dos índios na história do Brasil. Para esta análise adotaremos como pressuposto teórico o Modelo Dissociativo dos Estereótipos desenvolvido por Patrícia Devine.

1. Crenças Compartilhadas e Crenças Pessoais: A dissociação dos Estereótipos

Como já referimos, esse trabalho tem como propósito investigar as crenças compartilhadas e as crenças pessoais dos sergipanos em relação ao índio. Entende-se que nem sempre estas são coincidentes e, portanto, pode haver dissociação entre as crenças formuladas e compartilhadas pela sociedade e as crenças que são particulares a cada um. Nosso interesse é conhecer o conteúdo dessas crenças, investigar aspectos relacionados à sua formulação, verificar as particularidades dessa dissociação e discutir os fatores macro e microssociais aí imbricados. Para tanto, esse trabalho estrutura-se da seguinte maneira: inicialmente falaremos sobre crenças e estereótipos, em seguida trataremos do modelo dissociativo de crenças e por fim faremos uma breve explanação da história dos índios, procurando mostrar a influência desta na construção das representações sociais.

1.1. Crenças, estereótipos e o modelo dissociativoCrenças

“essas verdades que damos por aceites sem nem sequer pensar nelas”2

Fernando Savater

Que seriam crenças? Há algumas formas de entender esse vocábulo. Uma delas e a talvez a mais básica pode ser encontrada em dicionários. Uma das definições trazidas pelo dicionário da Língua Portuguesa Larousse Cultural define crença como “ação de crer na verdade ou na possibilidade de uma coisa”. Outros campos do conhecimento utilizam definições diferentes que, no entanto, não se distanciam tanto desta. Na filosofia crença seria “a atitude de quem reconhece como verdadeira uma proposição”; a adesão à validade de uma noção qualquer seria uma crença, independente de essa validade ser objetiva ou não (Abbagnano, 1998). Por isso, segundo esse autor podem ser chamadas de crenças tanto as convicções científicas quanto as confissões religiosas, o reconhecimento de um princípio evidente, a aceitação de um preconceito ou superstição.

Na Psicologia Social as crenças são objeto de interesse e muita pesquisa. Nesta perspectiva as crenças podem ser entendidas como um tipo de representação simbólica que temos acerca de fatos, pessoas, condições do mundo e condições internas, como expectativas, desejos, motivações, conflitos (Krüger, 2004). As crenças produzem consequências na cognição, nas emoções e na conduta .

Segundo Milton Rokeach (1981), num livro clássico sobre o tema, nós possuímos milhares de crenças que nos dizem o que é verdadeiro, falso, bom, bonito; essas crenças

1 Pão de Açúcar compôs a amostra por ser a cidade mais freqüentada pelos Xokós nas suas relações com os não índios.2 Dicionário de filosofia online :http://ocanto.no.sapo.pt/lexc.htm#Crenca

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orientam-nos no mundo social e físico no qual vivemos. Para Rokecah, ainda que essas crenças não possam ser diretamente observadas, elas podem ser inferidas.

Krüger (2004) salienta que as crenças têm sempre sua origem em experiências pessoais e são formuladas tanto no âmbito da percepção, quanto no do pensamento, raciocínio e imaginação. Este autor explica que as crenças podem ser estritamente pessoais quando expressam, por exemplo, uma opinião, avaliação ou julgamento a respeito de alguém e podem ser compartilhadas - crenças comuns a um grupo de pessoas seja sobre coisas, idéias ou outros grupos, seriam os casos, por exemplo, de opinião pública e dos estereótipos sociais.

Segundo Kruger (2004), essa distinção é de grande utilidade para a Psicologia Social e possibilita caminhos teoricamente férteis para a investigação das crenças. Um destes seria o de que as crenças compartilhadas indicam a possibilidade de investigar a extensão da concordância social e as crenças pessoais a de avaliar a receptividade das crenças por seus portadores.

Rokeach (1981) estabelece uma outra diferenciação. Ele defende que nem todas as crenças são igualmente importantes para o indivíduo. Para esse autor, as crenças variam ao longo de contínuo periférico-central. Este autor descreve uma classificação que abrange cinco tipos de crenças e explica que as crenças mais centrais são aquelas que são consensuais, ou seja, reforçadas por um consenso social unânime entre todas as referências de pessoas e grupos, e primitivas – aquelas que se originam do encontro direto com o objeto da crença, portanto, não derivadas de outras crenças. São mais periféricas as crenças de autoridade, pois estas são derivadas de outras crenças, não são nem primitivas nem consensuais; as crenças inconseqüentes, crenças de gosto, porque estas não influenciam outros tipos de crenças e as crenças derivadas que são aceitas mais pelo processo de identificação com a autoridade do que pelo encontro direto com o objeto da crença.

É importante destacar aqui que o conceito de estereótipo está intimamente ligado ao conceito de crença. Segundo Pereira (2004) foi Walter Lippman (1922), um publicitário, quem primeiro fez referência à noção de estereótipos, este considerava que os homens formavam “mapas mentais” sobre as pessoas e as coisas, esses “mapas” serviriam como orientadores dos indivíduos nos contatos secundários com exemplares semelhantes do estímulo estereotipado (Dos Santos, 2007).

O estereótipo social é definido por Krüger (2004), como uma crença coletivamente compartilhada sobre algum atributo, característica ou traço psicológico, moral ou físico atribuído extensivamente a um agrupamento humano, formado mediante a aplicação de um ou mais critérios. Para esse autor, os estereótipos sociais podem ser de duas qualidades, positivos e negativos; assim como há duas direções para os quais eles se mobilizam, a que se volta para o grupo, auto-estereótipos e a que visa um grupo distinto, hétero-estereótipos.

Conforme esse autor, quando estão associados a sentimentos, os estereótipos sociais passam a constituir estruturas de maior complexidade, caracterizados como atitudes e preconceitos. Se esses sentimentos e crenças são positivos, temos atitudes sociais; se, no entanto, os estereótipos sociais estiverem combinados a sentimentos de natureza negativa, aversiva, ter-se-á como efeito preconceito social.

Segundo Garcia-Marques (1999), a perspectiva da cognição social pressupõe que o comportamento social dos seres humanos só pode ser explicado a partir da elucidação do papel desempenhado pelos processos psicológicos básicos, o que leva a um raciocínio de que, por exemplo, os estereótipos e preconceito, possam ser entendidos, em grande parte,

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como subprodutos indesejáveis de processos cognitivos como a categorização e a aprendizagem associativa.

Diversos autores discutem a relação entre categorização social e estereótipos. Lima e Vala (2004) apresentam um panorama que trata dessa questão. Apresentam formulações de autores como Tajfel (1981), Taylor (1982), Wilke (1963) sobre o conceito de categorização social. Para estes, o processo de categorização social aporta-se, em síntese, no seguinte modelo: os membros de um grupo tendem a enfatizar as diferenças percebidas na comparação com outros grupos e minimizar as diferenças percebidas dentro do seu grupo. De acordo com essa perspectiva, o processo de categorização social tem como consequência direta a percepção dos grupos sociais e de seus membros em termos de estereótipos.

De acordo com Lima e Vala (2004), uma longa tradição na abordagem cognitivista entende os estereótipos como conseqüência automática e muitas vezes inevitável do processo de categorização social. Pressupõe-se, nessa perspectiva, que os estereótipos são respostas automáticas sobre as quais os indivíduos não possuem consciência e controle e que essa ativação automática resulta de uma necessidade de economia cognitiva, por isso os estereótipos são além de necessários, inevitáveis.

Diante desse panorama, Lima e Vala (2004) levantam uma questão importante, que é a de que nesse modelo o preconceito pode ser entendido como um resultado normal e inevitável da categorização. Dentro da abordagem cognitivista, encontram-se diversos questionamentos nessa mesma linha. Vários teóricos vão não só problematizar essa questão, como desenvolver estudos que indicarão novos fatores, como veremos mais à frente.

Estudos realizados em 1991 por Gilbert e Hixon (apud Lima & Vala, 2004) procuram mostrar que os estereótipos não implicam necessariamente em economia psíquica. Os resultados encontrados nesse estudo colocam em questão teorizações, cujo aporte indica a economia psíquica como justificativa para o processo de estereotipização, uma vez que neste os participantes com maior sobrecarga cognitiva são os que mais ativam os estereótipos. Em contrapartida, nesse mesmo estudo a aplicação dos estereótipos foi maior nos participantes sobrecarregados cognitivamente, o que foi entendido como efeito da norma anti-racista na aplicação, com a justificativa de que a distração mental produzida pela sobrecarga pode ter tornado os participantes menos controlados em suas respostas.

Surgem outras explicações e respostas à questão formulada. Começaremos, então explanando-as recorrendo a Patrícia Devine e Leonel Garcia-Marques e sua teoria do modelo dissociativo – nosso principal referencial teórico-conceitual. Destacamos que os efeitos das respostas dadas por esses autores são poucos sentidos nas nossas vidas, pois se percebe muito facilmente na mídia internacional a proliferação de danos causados por intolerância que tem origem muitas vezes em preconceitos (dos Santos, 2007)

Garcia-Marques responde ao questionamento exposto em duas partes, fazendo uma consideração, ele aponta que se consideramos por inelutável o fato de recorrermos à produção de estereótipos como dispositivos para reduzir a imensa variedade de estímulos que nos chegam aos sentidos e que esse processo implica necessariamente em possuirmos sempre apenas uma visão parcial e por vezes equivocada do mundo, daí concordamos que a produção de estereótipos é natural e algo sobre o qual não podemos fazer muita coisa. Porém, se entendermos os processos de produção de estereótipos como naturais no sentido de naturalizarmos a pertinência de práticas sociais discriminatórias, aí recorreremos ao arcabouço teórico conhecido com modelo dissociativo, formulado por Patrícia Devine e

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colaboradores, para mostrarmos que nem sempre a questão cognitiva é a determinante no comportamento preconceituoso. (dos Santos, 2007)

De acordo com Garcia-Marques (2004), a teoria do modelo dissociativo propõe a distinção entre estereótipos culturais e crenças pessoais. Os estereótipos são adquiridos muito cedo no processo de socialização e são frequentemente utilizados pela sua funcionalidade cognitiva e social. Essa freqüência de utilização proporciona uma forte associação entre os estereótipos culturais e os grupos humanos estereotipados, o que leva à ativação automática do estereótipo.

Segundo o modelo dissociativo, tanto o conhecimento de determinados estereótipos culturais como sua automatização são universais numa dada cultura, o que vem colocar mais uma vez a questão da inevitabilidade do preconceito. No entanto, a teoria escapa ao reducionismo dessa lógica, pois explica que nossas estruturas de conhecimento acerca dos grupos humanos não se limitam aos estereótipos culturais. O modelo aponta para a necessidade de se fazer a distinção entre a ativação automática, portanto inevitável, dos estereótipos e a sua aplicação, que presumivelmente é um processo do qual temos controle e que muitas vezes se sustentam em interesses que extrapolam a dimensão cognitiva. Pressupõe-se que à medida que o desenvolvimento cognitivo vai conduzindo a uma maior autonomia cognitiva, vamos construindo crenças e normas sociais pessoais quer sobre a natureza dos grupos humanos quer sobre a justeza dos valores culturais que sustentam a discriminação. Devine (1989) descobre que a ativação de estereótipos por pessoas não preconceituosas só se processa em meio a grande desconforto cognitivo, isto quer dizer que a atribuição e posterior ativação de estereótipos não têm em todas as pessoas o papel orientador natural das atitudes.

Outros estudos propõem a existência de moderadores cognitivos e motivacionais no controle do “monstro da automaticidade”(Lima & Vala, 2004). Para ilustrar mais sobre como outras funções cognitivas, a exemplo da motivação e da emoção, podem ser moderadores nos processos de ativação e posterior atribuição de estereótipos descreveremos alguns estudos desenvolvidos por pesquisadores que se filiam dentro da tradição conceitual chamada de modelo dissociativo.

Neuberg e Fiske (1987 apud Lima & Vala, 2004b) desenvolveram um estudo que constatou que a atribuição de estereótipos se relaciona com o grau de interesse em se individualizar ou não o outro nas interações entre as pessoas, algo da natureza de se afirmar que, se no processo interativo a atribuição de estereótipos produzir ganhos materiais ou simbólicos, essa atribuição será incentivada, porém se, ao contrário os ganhos se relacionarem ao processo de individualização e minuciosa caracterização do outro, isso sucederá (Dos Santos, 2007)

Outro moderador dos processos de estereotipia é a aprendizagem, nesse âmbito destacamos os estudos de Kawakami, Dovidio, Moll, Hermsen e Russin (2000 apud Lima & Vala, 2004b). Os estudos desses autores demonstram que a ativação de estereótipos pode ser evitada através do treino. Em resumo os experimentos consistiam em fazer as pessoas negarem os atributos estereotípicos dos grupos e afirmarem os contra-estereotípicos, posteriormente se verificou que a atribuição de estereótipos se processava com maior dificuldade em pessoas que passaram pelo treino. Os autores concluem que a prática no sentido de inibir a ativação de estereótipos e o reforço das atribuições contra-estereotípicas podem diminuir ou mesmo anular a ativação de estereótipos.

Wittenbrink, Judd e Park (2001 apud Lima & Vala, 2004b) apontam para a influência e moderação dos ambientes e contextos sociais nos processos de ativação e atribuição de

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estereótipos, essa afirmação se baseia em resultados de estudos que comprovavam que ambientes e contextos socialmente valorizados produziam visões mais valorizadas para as pessoas que a eles estavam ligadas, notadamente quando havia a possibilidade de ativação e atribuição de estereótipos negativos contra grupos socialmente desvalorizados, o processo era inibido ou até mesmo invertido quando esses representantes de grupos minoritários se encontravam em contextos e ambientes socialmente valorizados. (Dos Santos ,2007)

Para finalizar a exposição dos fatores que desempenham papel de inibidores e moderadores da ativação e atribuição de estereótipos, é essencial referir o papel das ideologias e normas sociais. De acordo com Lima e Vala (2004) as nossas crenças e atitudes, sejam elas implícitas ou explícitas, são construídas socialmente pelas normas culturais. Esses autores salientam a importância desses moderadores explicando que determinadas normas sociais ou ideologias, como a tolerância e a igualdade, podem motivar a inibição de respostas automáticas enquanto outras, como o individualismo e a competição podem alimentar e fortalecer o monstro da automaticidade.

Entendendo que as ideologias e normas sociais são construídas pela sociedade, mudam de acordo com o momento histórico e variam conforme o espaço e a época, trataremos, a seguir, superficialmente da história dos índios no Brasil, procurando enfatizar aspectos que consideramos relevantes e que, ao nosso ver, indicam elementos que ancoram as representações sociais dos índios.

1.2 Os índios na história do BrasilComo referem Lima e colaboradores (Lima, Silva & Vieira, 2006). a formação das

imagens sociais dos grupos minoritários no Brasil passa, desde o século XVI, por diversas mudanças que convergem com a versão histórica que se apresenta em cada momento. Sendo nosso interesse investigar as crenças e estereótipos em relação ao índio, apresentaremos recortes dessa história salientando as imagens sobre os índios constituídas nesses contextos.

A história da colonização do Brasil pelos portugueses é marcada por relações conflituosas entre o nativo e o estrangeiro. O europeu chega a uma terra já ocupada e inicia uma colonização que tem por marca a ocupação dessas terras através da violência, expulsão dos índios dos seus territórios e a utilização da mão-de-obra indígena para suprir os interesses econômicos dessas nações.

De acordo com Lima, Silva & Vieira (2006), as imagens construídas sobre os índios na época da colonização mudam conforme os interesses políticos e econômicos dos europeus.

Os primeiros contatos entre brancos e índios eram cordiais e marcados pelo escambo, os índios carregavam o pau-brasil, ajudavam os portugueses a construir fortes e casas e em troca ganham bugigangas; como refere Caldeira, nesse momento eles figuravam como amigáveis e cordiais. De acordo com Allgayer (2005), depois do “primeiro” encontro, Portugal passa algum tempo sem vir o país, mas a costa é “visitada” por franceses, holandeses, ingleses interessados. Essa situação harmoniosa é logo desfeita em virtude da disputa entre portugueses e corsários franceses pela exploração do pau-brasil. Conforme Caldeira (“documento on-line”), aliados aos franceses os índios passam de cordiais a traçoeiros. Allgayer(2005), conta que, além de a exploração de madeira deixar de ser lucrativa, Portugal precisa garantir sua hegemonia e por isso decide efetivamente colonizar o país, para isso passa a utilizar a mão-de-obra indígena na plantação de cana-de-açúcar. Inicia-se dessa forma a escravização de milhares de índios, a expulsão dos índios de suas terras e a dizimização de centenas de milhares de índios, seja pelas guerras, pela

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doenças, seja pela recusa à escravização. Caldeira pontua que a resistência do índio à escravidão é desfigurada pelas versões históricas que geralmente temos acesso e mais uma vez a versão que se formou do fato tende a depreciar o índio; segundo essa autora vários manuais trazem a idéia da resistência do índio à escravidão explicando que estes eram “preguiçosos” e que “sua índole para a liberdade não permitia que ele vivesse sob o jugo da escravidão”.

Segundo Lima, Silva & Vieira (2006), a visão negativa dos índios se altera com o advento do movimento romântico indigenista de caráter nativista do período colonial, que procura construir uma imagem positiva – de um ser natural e ingênuo - elementos que possam ajudar a formar uma identidade nacional brasileira.

Como pontua o autor supramencionado, ao longo da história, a imagem social dos índios varia do cruel e subumano canibal ao selvagem infantil e ingênuo.

Tendo em vista as referências teóricas e conceituais explanadas no primeiro tópico e a importância dos aspectos históricos referidos no segundo, reafirmamos o objetivo do nosso estudo, qual seja, analisar aspectos relativos à formação de imagens estereotipadas sobre os índios do Brasil, o conteúdo desses estereótipos; investigar a reciprocidade entre as formulações enunciadas pelos entrevistados atribuídas a uma imagem social formulada e compartilhada pela sociedade brasileira e as formulações enunciadas como sendo a opinião do próprio entrevistado em relação ao índio.

2. Método

2.1 Participantes Nosso estudo foi constituído a partir de um roteiro de entrevista estruturado aplicado

com 378 moradores de 6 cidades (Aracaju 129 entrevistados; Estância 58; Itabaiana 34; Lagarto 53; Pão de Açúcar 54 e Porto da Folha 50 entrevistados), destas 6 cidades uma é a capital de Sergipe, quatro são do interior sergipano e uma fica no estado de Alagoas, porém na divisa com uma comunidade indígena do sertão sergipano, a saber, a tribo Xokó da Ilha de São Pedro em Porto da Folha/SE. Os entrevistados são em sua maioria mulheres (52,3%) e têm idades variando de 16 a 83 anos (Média = 34,6 anos, Desvio Padrão = 15), com renda familiar mensal que variou de menos de 1 salário mínimo (9,8%) até mais de 9 salários (12%), sendo a faixa de renda mais freqüente a compreendida entre 1 e 2 salários com 42,3% das respostas. A escolaridade dos entrevistados variou de analfabeto (3,2%) até nível superior completo (16,6%); sendo que a maioria dos entrevistados (31,9%) possui ensino médio completo. Dos 378 entrevistados 85 disseram ter parentes indígenas e 281 disseram não ter ou não saberem se tinham, sendo que 12 pessoas não responderam a esse questionamento.

2.2 Procedimentos e InstrumentosAs entrevistas foram individuais e na casa das pessoas. Participaram os pesquisadores

do NSEPR. Depois de ler Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os entrevistados (ver termo de consentimento no Anexo 1), apresentávamos nosso roteiro de entrevista (ver anexo II) e explicávamos os objetivos da pesquisa e as instruções de resposta. Basicamente as instruções diziam respeito ao caráter da entrevista e que eles deviam responder as perguntas com as suas opiniões sobre os questionamentos.

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O roteiro de entrevista era composto de perguntas abertas e fechadas. Primeiramente pedíamos para os entrevistados tentassem dizer quais as palavras, idéias ou coisas lhes viam à mente quando ouviam a palavra “Índios”, quando o entrevistado sentia dificuldade em fazer a associação mental, sugeríamos que ele fizesse associações de palavras com algum termo familiar do seu cotidiano. Por exemplo: às mães era sugerido que elas fizessem associações com a palavra “Filho”, ou com o nome da cidade onde moram, etc. Esse procedimento era usado como forma de “aquecimento mental”, porém se mesmo depois disso a pessoa não conseguisse fazer associações com a palavra “Índios”, pulávamos à 2ª questão e daí para adiante.

No roteiro de entrevista, além de questões abertas para os entrevistados fazerem associações livremente, tínhamos questões abertas com instruções para que algumas temáticas fossem abordadas nas entrevistas, como, por exemplo, sobre fatos históricos que envolviam índios. Pedíamos ainda, depois de enunciarmos algumas sentenças que as pessoas dessem as suas opiniões sobre o que lembravam a respeito do que dissemos, o porquê daquelas coisas acontecerem e quais os sentimentos que tinham a respeito do tal enunciado.

Como já foi assinalado, nosso roteiro era composto por questões diversas abertas e fechadas. Para essa análise, utilizamos primordialmente as questões 13 e 14, cujas indagações eram: "Como os brasileiros vêem os índios, qual o jeito de ser dos índios na visão da sociedade brasileira?" e "E você pessoalmente como vê os índios? O entrevistado podia dar quantas respostas quisesse, no entanto, consideramos na análise as três primeiras respostas enunciadas. Através dessas perguntas, pretendíamos acessar as crenças dos entrevistados e verificar os estereótipos coletivos e pessoais em relação ao índio, sendo possível, portanto, comparar essas crenças e avaliar a concordância ou discordância entre elas.

Para análise das respostas às perguntas fizemos análise de conteúdo seguindo Bardin (1977) e Bauer (2004). Em seguida os dados foram tabulados e analisados no SPSS.

3. Resultados e DiscussãoPrimeiramente, um dado a ser destacado é a dificuldade das pessoas fazerem muitas

enunciações sobre as imagens sociais dos índios, dado que reafirma o processo de invisibilização social do qual são vítimas os índios no Brasil. Comprovamos isso quando percebemos que dos 353 entrevistados que respondem, só 70 (19%) conseguem fazer mais de duas referências sobre como a sociedade brasileira vê os índios. Esse quadro não melhora muito na questão seguinte, sobre as crenças pessoais, dos 371 entrevistados que respondem só 82 (22,2%) conseguem enunciar mais de duas formas sobre como ele próprio considera os índios. Nossos dados mostram ainda que há uma gradativa queda no número de enunciações por parte dos entrevistados, quase todos se sentiam capazes de fazer alguma referência sobre como os índios são vistos pela sociedade brasileira e por eles próprios, porém somente 161 (43,3%) dos entrevistados conseguiram fazer uma segunda enunciação de como a sociedade brasileira percebia os índios e só 178 (47,6%) disseram uma segunda consideração sobre como eles próprios percebiam os índios (ver Figura nº 1).

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Figura 1 Respostas, em dados brutos, que referem Crenças Coletivas e Crenças Pessoais sobre os índios na amostra pesquisada

Tentando investigar os estereótipos sociais ou crenças compartilhadas, perguntamos ao entrevistado sobre sua opinião a respeito do que a sociedade brasileira pensava sobre o índio. As respostas que aparecem com maior incidência caracterizam o índio como inferiores/ignorantes/aproveitadores/preguiçosos;(20,1%); excluído/discriminado(17%); selvagens/bichos (10,8%); perigosos/violentos (9,8%); diferentes (5,8%). Esse resultado indica que para os entrevistados a representação que os brasileiros fazem do índio é basicamente negativa. Com efeito, se somarmos as respostas que referem somente percepções negativas dos índios do tipo, teremos 385 (65,4%) das 588 respostas válidas (ver Tabela nº 1).

Tabela 1: Crenças Coletivas sobre os índios em SergipeCrenças Coletivas Freqüência Percentagem

Inferiores/incapazes/ignorantes, aproveitadores, preguiçosos 119 20,1%Discriminados/excluídos/desrespeitados 100 17%Selvagens 64 10,8%Perigosos/violentos/invasores/arruaceiros/briguentos 58 9,8%Diferentes (costumes/hábitos/raça) 35 5,8%Guerreiros/corajosos/Unidos 18 2,9%São ignorados/São esquecidos/invisíveis na sociedade 17 2,8%Pessoas boas/interessantes 16 2,7%Normais/pessoas iguais às outras 13 2,2%Necessitados/pobres/sofredores 12 2%Contato com a natureza/vivem na selva 12 2%Visão ambivalente(alguns são civilizados outros ignorantes) 12 2%Desorganizados/acomodados/irresponsável/ Destruidores (das terras, não plantam) /Um problema /Rígidos

11 1,7%

Bons/pacíficos/alegres /Importantes/ Inteligentes 11 1,7%Isolados 9 1,5%Sebosos /Cachaceiros/Feios 8 1,1%Marginalizados/ Mal vistos 8 1,3%Trazem a tradição/cultura forte 6 1%Gente que não presta /Arrogantes 6 0,9%

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Dispostos/batalhadores 4 0,6%Modo de vida (simples) 4 0,6%Pessoas nuas/mal vestidas 4 0,6%Ingênuos 4 0,6%Devem manter hábitos e tradição 3 0,5%Em extinção 3 0,5%Descrentes 1 0,1%Outras respostas (festeiro, negro, moreno, injustiçado, menor população, espiritual, livres)

14 2,3%

Não responde/não categorizável 16 2,7%Total 588 100%

Para avaliarmos a relação entre as percepções sociais e as percepções pessoais, solicitávamos que as pessoas dessem suas próprias opiniões sobre os índios e, conforme esperado, o resultado foi bastante dissonante da questão anterior. Mais de 20% das respostas caracterizam o índio como pessoas normais, "iguais a gente"; quase 9% o descrevem por traços cordiais (atencioso, bom, cuidadoso, honesto, educado); são vistos ainda como batalhadores (7,6%), diferentes (4,5%), necessitados (3,9%), discriminados (3,9%), trabalhadores (3,7%).

Observamos que o número de respostas que caracterizam o índio positivamente é bem superior à questão anterior. Das 637 enunciações, temos 8,7% de atribuições negativas e 35,3% de positivas (ver Tabela nº 2).

Tabela 2: Crenças Pessoais sobre os índios em SergipeCrenças Pessoais Freqüência PorcentagemPessoas normais 133 20,8%Características positivas (Atenciosas e amigáveis, bons, educados, especiais, legais, divertidos, cuidadosos, pessoa de bem, honestos, pessoas de bem, melhor que as pessoas normais)

56 8,7%

Batalhadores/ trabalhadores 49 7,6%Diferentes 29 4,5%Necessitados 25 3,9%Discriminados (Humilhados, sofridos) 25 3,9%Destemidos/corajosos/defendem seus direitos 24 3,6%Admiração e respeito 18 2,8%Inteligentes 16 2,5%Pessoas simples 15 2,3%Acomodados/preguiçosos 15 2,3%Povos atrasados 15 2,3%Costumes 13 2%Espírito de coletividade (unidos) 13 2%Criativos/interessantes / importantes 13 1,9%Vivem na floresta/ contato com a natureza 12 1,8%Ingênuos/ puros 12 1,8%Cultura diferente 11 1,7%Autêntico (personalidade forte) 10 1,4%Bonitos 9 1,4%

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Sem preconceito 8 1,2%Alegres 8 1,2%Mudando por causa da sociedade 8 1,2%Não responde 8 1,2%Cultura esquecida 6 0,9%Ignorantes 6 0,9%Livres 5 0,7%Menos acesso (ao conhecimento) 5 0,7%Em extinção 4 0,6%

Violentos (brabos, radicais) 4 0,6%Capitalistas brasileiros (interesseiros) 3 0,4%Fechados / não são alegres/ desconfiados 3 0,4%Inofensivo (não causam medo, pacatos) 3 0,4%Tipo bicho (selvagem) 3 0,4%Vitoriosos (heróis) 2 0,3%São inferiores aos brasileiros 2 0,3%Feios 2 0,3%Aproveitadores (velhacos) 2 0,3%Cultura mais forte 1 0,1%Egoístas 1 0,1%Outras respostas (personagens lendários, desorganizados politicamente, sem casas, saudáveis, exigentes, diferentes entre si, sem identidade, engraçados, amedrontados, sem preocupação com o tempo, pessoas que podemos conviver, movimentos de resistência, faz parte do Brasil, não tem liberdade de crescer, isolados )

30 4,7%

Total 637

Dessa forma, agrupamos as categorias, um que agrupava somente percepções positivas e outro só percepções negativas. Na questão que abordava as crenças coletivas, entraram no bloco das percepções negativas: discriminados/excluídos; selvagens; aproveitadores/preguiçosos; inferiores/incapazes; perigosos/violentos; invasores; arruaceiros/briguentos; ignorados; desorganizados; sebosos; marginalizados; gente que não presta; mau vistos; arrogantes; cahaceiros; feios; descrentes; um problema; rígido; destruidores; no bloco das percepções positivas estavam incluídas: pessoas boas/interessantes; guerreiros/corajosos; bons/pacíficos; unidos; disposto/batalhador; ingênuos; importante; inteligente. Na questão das crenças pessoais, foram considerados negativos: acomodados/preguiçosos; povo atrasado; ignorantes; interesseiros; fechados; violentos; selvagens; inferiores; aproveitadores; radicais: egóistas; foram considerados positivas: características cordiais; batalhadora; trabalhadores; admirados/respeitados; inteligentes; pessoas simples; unidos; ingênuos; bonitos; alegres; criativo; corajosos; importantes; autêntico; inofensivo, cultura mais forte. Todas estas podem ser acompanhadas nas tabelas 1 e 2 com suas respectivas frequências.

No que diz respeito a uma visão favorável ou desfavorável das pessoas em relação ao grupo indígena, fica evidente a discrepância entre a indicação dos estereótipos atribuídos ao índio pela sociedade (os estereótipos são as crenças coletivas – da sociedade) das crenças

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pessoais expressas pelas próprias pessoas. No primeiro caso, das 588 respostas válidas 385 (65,4%) indicam uma percepção negativa e 53 (9%) positiva. Nas crenças pessoais, ocorre praticamente o inverso, das 356 respostas válidas 56(8,7%) são desfavoráveis e 225 (35,3%) favoráveis (ver gráfico 3):

Gráfico 3: Número de respostas que indicam uma visão negativa ou positiva do entrevistado referindo-se às crenças compartilhadas e crenças pessoais

Resultados semelhantes de dissociação entre crenças compartilhadas e crenças pessoais já foram verificados em diversos estudos na Psicologia Social, mas sobre racismo contra negros Assim como acontece com o preconceito e racismo contra negros, essa dissociação parece indicar que a norma anti-racista também produz efeito no preconceito direcionado ao índio. Embora o índio ainda permaneça muitas vezes invisível à sociedade e por mais que algumas pessoas não reconheçam a sua existência, existe uma representação social desse grupo e essa representação permite que a norma do politicamente correto seja exercida.

Outro dado já mencionado na descrição geral dos resultados parece seguir essa mesma linha – 20,8% das respostas dizem que o índio é uma pessoa normal, um ser humano, como qualquer brasileiro. No nosso entendimento, esse dado parece influenciado por uma norma de não-estereotipização, que preza por não rotular o índio como um ser estranho; nesse sentido, o índio é aproximado do “nós ” numa categoria que o inclui - a do humano - mas que é ampla o suficiente para possibilitar subcategorias que, em determinadas situações, o afastem desse mesmo nós.

Procuramos calcular a dissociação entre as crenças compartilhadas e as crenças pessoais. Para tanto, procedemos a uma primeira análise, observamos que na questão que aborda as crenças da sociedade sobre os índios 235 pessoas (85,1% do total) só fazem enunciações negativas e apenas 2 entrevistados fazem três enunciações positivas, ambos da cidade de Porto da Folha, que fica próxima à única tribo indígena do estado. Em contrapartida na questão que aborda as crenças pessoais 39 entrevistados (20,3%) emitem apenas estereótipos negativos, 55,2% fazem uma enunciação positiva e 18 pessoas (9,4%) fazem três enunciações positivas, contrastando fortemente com o resultado correspondente da outra questão (ver tabelas 3 e 4).

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Tabela 3: Frequência de entrevistados em função do número de respostas positivas e negativas enunciadas na questão das crenças compartilhadas

Enunciações Freqüência Porcentagem Porcentagem valida

Somente negativas 235 62,2% 85,1%Uma enunciação positiva 32 8,5% 11,6%

Duas enunciações positivas 7 1,9% 2,5%Três enunciações positivas 2 0,5% 0,7%

Total 276 73% 100%Atribuições neutras 102 27%

Total 378 100

Tabela 4: Frequência de entrevistados em função do número de respostas positivas e negativas enunciadas na questão das crenças pessoais

Enunciações Freqüência Porcentagem Porcentagem valida

Somente enunciações negativas 39 10,3% 20,3%Uma enunciação positiva 106 28% 55,2%

Duas enunciações positivas 29 7,7% 15,1%Três enunciações positivas 18 4,8% 9,4%

Total 192 50,8% 100%Atribuições neutras 186 49,2%

Total 378 100

Em seguida, atribuímos o valor zero para as enunciações negativas e o valor 1 para as positivas. Como cada entrevistado podia fazer três enunciações, obtínhamos um valor que correspondia à soma das enunciações que fazia. De tal forma que se este fizesse apenas enunciações negativas, teria valor 0; se fizesse uma enunciação positiva e uma negativa teria valor 1; se fizesse três enunciações positivas teria valor 3 e assim sucessivamente. Dessa forma era possível verificar se havia ou não dissociação entre as crenças que enunciava, com os valores positivos indicando dissociação positiva (visão pessoal mais positiva que a da sociedade) e os negativos indicando o inverso, o zero indicava a ausência de dissociação entre as crenças pessoais e coletivas) . Chegamos ao seguinte resultado: 67,7% dos entrevistados apresentaram dissociação entre suas crenças pessoais e as crenças compartilhadas, ou seja, para estes essas crenças não foram coincidentes, ao passo que para 32,3% não houve dissociação, o que indica que o entrevistado enunciou o mesmo número de estereótipos positivos e negativos nas duas questões.

Era também possível verificar a “intensidade” dessa dissociação, uma vez que ao diminuir os valores que correspondiam às crenças pessoais dos valores correspondentes às crenças compartilhadas obtínhamos valores (-3, -2, -1, 0, 1, 2 e 3) que indicavam o grau de dissociação. Sendo assim, chegamos aos seguintes resultados. Apenas 3,2% dos entrevistados fizeram uma enunciação positiva a mais que a negativa (na tabela -

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dissociação positiva). Em contrapartida, 41,9% das pessoas dizem um estereótipo negativo a mais (na tabela – dissociação negativa branda). Para quase 19% dos entrevistados a dissociação é ainda maior, estes enunciam dois estereótipos negativos a mais (dissociação negativa). Outros 3,9% atingem a dissociação máxima, que significa que o entrevistado enunciou três crenças pessoais positivas e na questão das crenças compartilhadas só enunciou atribuições negativas ( ver Tabela nº 5). Tabela 5: Análise da Dissociação das crenças pessoais e coletivas

Análise da Dissociação das crenças pessoais e coletivas

nº de respostas Porcentagem

Dissociação positiva 5 3,2%Não há dissociação 50 32,3%

Dissociação negativa branda 65 41,9%Dissociação negativa 29 18,7%

Dissociação negativa máxima 6 3,9%Total 155 100,0

Nota: os casos na Tabela 5 se referem apenas aos participantes que referiram adjetivos positivos ou negativos nas crenças pessoais e nas crenças coletivas sobre os índios.

Os resultados mostram que o índio está inserido numa categoria claramente estereotipada. Conforme mostram os resultados da dissociação de crenças, embora o entrevistado não reconheça o estereótipo como sendo seu, ele o reconhece como crença comum dos outros, o que significa que o estereótipo não desapareceu.

Considerando os objetivos deste trabalho, analisamos os efeitos da proximidade espacial, étnica e relacional no processo de estereotipia dos índios. Para tanto, realizamos Análises de Variâncias (ANOVAS) tomando como variável critério a dissociação das crenças e como variáveis preditoras a cidade da entrevista, a cor da pele do entrevistado e a existência de parentesco com os índios. Os resultados indicam que houve efeitos tendencialmente significativos da cor da pele do entrevistado, F(2, 152) = 2.70, p = .07 e da existência de parentes indígenas, F(1, 149) = 3.57, p = .06. Diferentemente do que esperávamos, o efeito da cidade na estereotipia não foi significativo, F(5, 154) 1, n.s. (ver Tabela 6)

Tabela 6: Médias de dissociação entre as crenças pessoais e coletivas em função da cidade, da cor da pele do parentesco com os índios

Possui parente

indígena?

Cor da pele3 Cidade da entrevista

Sim Não negro branco pardo Aracaju Lagarto Itabai. Estância Porto Folha

Pão Açúc.

1,10 0,79 1,16 0,71 0,93 0,95 0,75 0,89 1,11 0,72 0,94

Verificamos que os entrevistados de cor negra apresentaram uma dissociação mais positiva que os brancos. De maneira semelhante, aqueles que afirmaram ter parente indígena apresentaram uma visão pessoal mais positiva dos índios do que aqueles que não possuem parentes indígenas. Em relação à cidade, chama atenção o fato de Porto da Folha e Pão e Açúcar, cidades que mantêm contatos mais próximos com os índios de Sergipe, não 3 Nesta análise, por motivos estatísticos, consideramos apenas as categorias de cor com mais de 15 pessoas representadas.

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se diferenciarem das demais na relação entre estereótipos e imagens pessoais dos índios. Pensamos que isto pode se dever ao fato de que, de modo geral, as pessoas entrevistadas nestas duas cidades não identificarem os Xocós como índios. Era comum ouvir a seguinte frase durante as entrevistas: “Tem esses aí, mas esses não são índios.”

A partir desses resultados, podemos fazer ainda outras duas observações. Primeira, os negros, por serem também um grupo fortemente estereotipado e vítima de preconceito, podem ter crenças pessoais mais positivas ou menos estereotipadas sobre os índios, grupo também minoritário, conforme já referido. Segunda, é possível pensar que o contato direto com membros do grupo, e consequentemente o conhecimento que se forma de cada pessoa e suas particularidades, levem a uma desuniformização ou não-homogeneização dos membros do grupo minoritário e, por isso, diminuam os estereótipos e o preconceito.

4. Considerações finais

Conforme já mencionado, esse estudo está inserido numa pesquisa maior desenvolvida pelo grupo de pesquisa Normas Sociais, Estereótipos, Preconceito e Racismo. A pesquisa foi realizada este ano com uma amostra significativa e diversificada da população sergipana. Todos os dados já foram coletados e analisados, mas ainda temos uma série de variáveis que merecem ser estudadas com mais profundidade.

Esse trabalho é um dos resultados dessa pesquisa. Procuramos investigar o imaginário social dos sergipanos e observar como o índio, grupo minoritário na sociedade brasileira, é visto por essas pessoas.

Não apenas os dados colhidos através das entrevistas, mas também a própria experiência de aplicação dos roteiros, compartilhada por nós pesquisadores do grupo, reafirmam o processo de invisibilização social do qual são vítimas os índios no Brasil. Observamos que as pessoas têm dificuldade de pensar no índio, muitos dos entrevistados ficavam surpresos quando falávamos do que se tratava a pesquisa, precisavam pensar durante alguns segundos ou minutos para responder às perguntas. O índio não faz parte da realidade, nem material nem simbólica, daquelas pessoas, ou é visto como distante, isolado nas matas, na sua “essência” do ser índio, ou não é visto como índio. Apesar disso, existe uma representação social do grupo e conforme mostram os resultados os sergipanos compartilham uma imagem estereotipada e, em muitos casos, negativa do índio.

No entanto, destaca-se nesse trabalho o papel das normas sociais na aplicação dos estereótipos. Como já relatado, encontramos evidente dissociação entre o conteúdo das crenças em relação ao índio enunciadas pelos entrevistados como sendo suas e os estereótipos que essas mesmas pessoas atribuem ou a imagem que é compartilhada pela sociedade. No nosso entendimento, esse resultado tende a indicar o efeito da norma anti-racista no discurso das pessoas.

Acreditamos que esforços podem e devem ser despendidos para lidar com o problema do preconceito. É preciso pensar em mudanças na educação, nas Universidades, intervenções em comunidades que objetivem produzir críticas às versões históricas cristalizadas e aceitas como únicas e verdadeiras, produzir novas mentalidades.

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LIMA, M. E., SILVA, D. e VIEIRA, R. Racismo e Imagens Sociais dos Índios na Cidade de Aracaju. Artigo ainda não publicado.

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6. Anexos

ANEXO 1.UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIAPROJETO DE PESQUISA: Representações sociais dos índios em Sergipe: Infra-

humanização, racismo, sentimentos de culpa e solidariedade.OBJETIVO DA PESQUISA

Analisar as representações sociais que os sergipanos constroem sobre os índios, tentando entender se elementos de racismo e de infra-humanização estão presentes nessas representações e que papel os sentimentos de solidariedade e de culpa coletiva podem ter na construção dessas imagens.

PROCEDIMENTOS ADOTADOS NA PESQUISA

Serão realizadas entrevistas individuais com duração média de 20 minutos, nas quais as pessoas responderão a perguntas sobre identidade social e auto-categorização étnica.

COORDENADORES DA PESQUISA: Dr. Marcus Eugênio Lima (UFS-SE) assinatura _______________

Dra. Ana Raquel Rosas Torres (UCG-GO) assinatura _______________Dr. Rupert J. Brown (University of Sussex – UK) assinatura _______________

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO Pelo presente documento, declaro ter conhecimento dos objetivos da pesquisa, que

me foram apresentados pelo responsável pela aplicação do questionário, e conduzida pelo Mestrado e o Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Sergipe.

Estou informado(a) de que, se houver qualquer dúvida a respeito dos procedimentos adotados durante a condução da pesquisa, terei total liberdade para questionar ou mesmo me recusar a continuar participando da investigação.

Meu consentimento, fundamentado na garantia de que as informações apresentadas serão respeitadas, assenta-se nas seguintes restrições:

a) Não serei obrigada a realizar nenhuma atividade para a qual não me sinta disposto e capaz;

b) Não participarei de qualquer atividade que possa vir a trazer qualquer prejuízo;c) O meu nome e dos demais participantes da pesquisa não serão divulgados;d) Todas as informações individuais terão o caráter estritamente confidencial;e) Os pesquisadores estão obrigados a me fornecer, quando solicitados, as

informações coletadas;f) Posso, a qualquer momento, solicitar aos pesquisadores que os meus dados

sejam excluídos da pesquisa. g) A pesquisa será suspensa imediatamente caso venha a gerar conflitos ou qualquer mal-estar dentro do local onde ocorre.Ao assinar este termo, passo a concordar com a utilização das informações para os

fins a que se destina, salvaguardando as diretrizes das Resoluções 196/96 e 304/2000 do Conselho Nacional de Saúde, desde que sejam respeitadas as restrições acima enumeradas.

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O pesquisador responsável por este projeto de pesquisa é o Professor Marcus Eugênio Lima, que poderá ser contatado pelo e-mail [email protected], telefone: 3243 1063. Endereço: Rau A, casa 10, Cond. San Diego, Aruana, Aracaju -Se. Nome: ______________________________________________________Assinatura: _______________________________________________________Assinatura do responsável pela pesquisa: _______________________________

Aracaju................ de .............................. de 2006................

ANEXO 2.UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA – NSEPR

Projeto Representações sociais dos índios em Sergipe

Apresentação: Somos um grupo de pesquisa do DPS da UFS e estamos realizando uma pesquisa cujo objetivo é analisar as imagens que os sergipanos têm sobre os índios do Brasil. Para fazer este estudo pedimos a sua colaboração, respondendo a algumas perguntas. Não se preocupe que não existem respostas erradas ou certas. Nos importa apenas a sua opinião sobre o assunto. O(a) sr(a) não precisa se identificar. E pode ter acesso aos dados do estudo, basta nos contatar neste endereço. (entrega um papel com os dados do grupo e da pesquisa). Pode colaborar? Obrigado(a)!

1) Quando você ouve a palavra “Índios”, quais são as três primeiras coisas que você pensa? (caso o entrevistado não consiga, use uma palavra próxima do contexto da pessoa: almoço, futebol, Brasil).______________________________________________________________________________________________________

2) Quando você pensa nos acontecimentos do Brasil, o que lembra em relação aos índios?________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3) Para você, existem índios no Brasil? sim ( ) não ( ) não sei ( )4) E em Sergipe, existem índios? sim ( ) não ( ) não sei ( )5) Você já viu um índio, pessoalmente? sim ( ) não ( ) (em caso negativo salte a questão n. 7)- Em caso afirmativo, foi aqui na sua cidade? sim ( ) não ( )- Viu muitas vezes ( ) Viu Poucas vezes ( ) 6) E pela TV já viu índios? sim ( ) não ( )7) Já manteve algum contato com índios (conversas, amizade, negócios, etc.)? sim ( ) não ( )8) Como você descreveria um índio? ___________________________________________

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_________________________________________________________________________9) Onde os índios vivem? __________________________________________________________________________________________________________10) Na sua opinião, o que nos índios fazem no seu dia-a-dia? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________11) Na sua opinião, qual a coisa mais típica ou mais característica em um índio (o que mais chama a atenção)?__________________________________________________________

12) Agora eu vou ler algumas frases incompletas, gostaria que você tentasse completar as frases do jeito que achar melhor.a) Os índios são........................................................................................................................b) Se eu fosse um índio eu ......................................................................................................c) Se um filho ou uma filha meu(minha) se cassasse com um índio eu...................................

13. Como os brasileiros vêm os índios, qual o jeito de ser dos índios na visão da sociedade brasileira?

14. E você pessoalmente como Vê os índios?

Depois de finalizar as duas listas, releia cada uma das características e pergunte: “........é, na sua opinião, uma coisa positiva, negativa ou neutra. Sinalize as características com um “+”, “-“ ou “+ -“.

15. Vou então ler algumas frases e preciso que indique se concorda ou discorda e que sentimentos ou emoções essas frases lhe despertam. a) Na sua opinião, na história do Brasil houve violência contra os índios? ( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso afirmativo, perguntar:- O que se lembra a este respeito?______________________________________________- Por que acha que aconteceu? _________________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?____________________________________________

b) Na sua opinião, existe discriminação ou racismo contra os índios no Brasil?( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso afirmativo, perguntar:- Por que acha que acontece? __________________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?____________________________________________

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c) Em 20 de abril de 97, cinco jovens de classe média queimaram o índio Galdino Jesus dos Santos, que dormia em um ponto de ônibus em Brasília. O índio morreu. Os jovens foram libertados e estão soltos.- Por que acha que acontece? __________________________________________________________________________________________________________________________- Que sentimentos isto lhe desperta?___________________________________________

d) Em várias regiões do Brasil os índios vivem em pé de guerra com os fazendeiros pela posse da terra. Nesta lutas, às vezes morrem índios, às vezes morrem fazendeiros. - Por que acha que acontece? __________________________________________________________________________________________________________________________

e) Para você, a cultura dos índios é respeitada no Brasil?( ) não ( ) sim ( ) não seiEm caso negativo, perguntar:- Por que acha que acontece? __________________________________________________________________________________________________________________________

f) Qual, na sua opinião a maior semelhança entre um índio e um negro no Brasil?________________________________________________________________________

g) E qual a maior semelhança entre um índio e um branco? ________________________________________________________________________

16. Vou ler uma lista de sentimentos. Dê para cada um deles uma nota de 0 (zero) a 5, em função do quanto eles expressam o que você sente em relação aos índios do Brasil. Quanto maior a nota mais forte o sentimento. Admiração ( )Culpa ( )Simpatia ( )Desprezo ( )

Orgulho ( )Pena ( )Respeito ( ) Outra __________________

Raiva ( ) Indiferença ( )Solidariedade ( )

17) Qual a sua opinião sobre reserva de vagas ou cotas de acesso para os índios a empregos e as universidades públicas?Discordo ( ) Concordo ( ) Não sei responder ( ) Por que? (Justifique)_________________________________________________________________________________________________________________________________

Qual a sua idade____________Nível de escolaridade (estudou até que série/ano)?_____________Sexo: fem. ( ) masc. ( )Renda familiar aproximada: ( ) Menos de 1salário ( ) 1-2 ( ) 3-4 ( ) 5-6 ( ) 7-8 ( ) 8-9 ( ) mais de 9 salários.Qual sua profissão?_____________________________ Cidade da entrevista ___________Tem algum parente indígena? ( ) Sim . Qual?_____________ ( ) Não

Obrigado pela colaboração!

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