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Estudos sobre a Taxa de Câmbio no Brasil Ribeirão Preto, Novembro de 2013 Relatório Final apresentado ao DEPECON-FIESP Equipe: Rudinei Toneto Junior (Coordenador) Luciano Nakabashi Marcio Laurini Sérgio Kannebley Guilherme Byrro Guilherme Henrique Albertin Roberto Mauad

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Estudos sobre a Taxa de Câmbio no Brasil

Ribeirão Preto, Novembro de 2013

Relatório Final apresentado ao DEPECON-FIESP

Equipe:

Rudinei Toneto Junior (Coordenador)

Luciano Nakabashi

Marcio Laurini

Sérgio Kannebley

Guilherme Byrro

Guilherme Henrique Albertin

Roberto Mauad

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Sumário

1. Introdução ............................................................................................................... 3

1.1. Evolução recente da taxa de câmbio e das contas externas no Brasil:

Alguns fatos ................................................................................................................... 7

1.2. A Balança Comercial ........................................................................................... 9

1.3. Transações Correntes e Conta Capital e Financeira ...................................... 19

1.4. Taxa de câmbio e crescimento econômico ..................................................... 27

1.5. Taxa de câmbio e preços .................................................................................. 29

1.6. Considerações finais ........................................................................................ 31

2. Crescimento econômico e a taxa de câmbio. .................................................... 33

2.1. Os canais de influência da taxa de cambio sobre o crescimento

econômico ................................................................................................................... 34

2.2. Relação empírica entre câmbio e desempenho econômico .......................... 38

2.2.1. Análise de regressão dos dados: série de países....................................... 38

2.2.2. Séries de dados da análise para o Brasil ..................................................... 42

2.2.3. Análise de regressão: resultados para o Brasil .......................................... 45

2.2.4. Análise para o Brasil com dados trimestrais ............................................... 50

3. O efeito do mercado financeiro e de variáveis macroeconômicas sobre o

câmbio brasileiro. ........................................................................................................ 61

3.1. Funcionamento do mercado de câmbio .......................................................... 62

3.1.1. Mercado de câmbio à vista ............................................................................ 62

3.1.2. Mercado de câmbio futuro ............................................................................ 64

3.1.3. Instrumentos de intervenção no mercado de câmbio ................................ 65

3.2. Metodologia ....................................................................................................... 66

3.3. Descrição das Variáveis ................................................................................... 68

3.4. Análise Diária ..................................................................................................... 79

3.4.1. O impacto do mercado financeiro e de variáveis macroeconômicas

sobre o câmbio à vista ................................................................................................ 79

3.4.2. Resultados ...................................................................................................... 81

3.5. Análise Mensal ................................................................................................... 89

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3.6. Conclusões ........................................................................................................ 95

4. Câmbio e Preços: Estimativas do Repasse Cambial para o Brasil .................. 97

4.1. Revisão da Literatura sobre Repasse Cambial ............................................... 98

4.2. Abordagem Metodológica............................................................................... 103

4.3. Fonte de Dados e Análise Descritiva ............................................................. 104

4.3.1. Dados e análise descritiva para a economia no agregado ....................... 104

4.3.2. Dados Do Painel Setorial da Indústria de Transformação ........................ 109

4.4. Resultados ....................................................................................................... 111

4.4.1. Repasse Cambial aos Índices de Preços Agregados .............................. 111

4.4.2. Testes de robustez dos resultados para o agregado ................................ 116

4.4.3. Modelos Agregados para preços de Importação com Dados em Painel 121

4.4.4. Resultados de Longo Prazo para os Setores Industriais ......................... 123

4.5. Análise dos Resultados e Considerações Finais ......................................... 126

Referências Bibliográficas ....................................................................................... 133

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1. Introdução1

A taxa de câmbio é um dos principais preços relativos da economia com

influência direta no desempenho macroeconômico do país e na composição de sua

estrutura produtiva. É uma variável extremamente complexa pois se relaciona tanto

com o mercado de bens e serviços como com o mercado de ativos.

A taxa de câmbio nominal corresponde à relação de troca entre duas moedas,

no caso brasileiro em geral é definida como a quantidade de R$ necessária para

adquirir um dólar. A taxa de câmbio real refere-se ao preço relativo entre o produto

estrangeiro e o produto nacional; assim, quando diz-se que a taxa real de câmbio

está valorizada isto quer dizer que o produto nacional está relativamente mais caro

em relação ao produto estrangeiro e o inverso quando diz-se que a taxa de câmbio

real está desvalorizada. Percebe-se que taxa de câmbio real reflete a

competitividade da economia, um país é relativamente barato quando esta é

desvalorizada, ou seja, seu produto é mais competitivo, e o inverso, o país é

relativamente caro quando sua taxa real de câmbio está valorizada.

Diversos trabalhos destacam a sua influência sobre o crescimento econômico

a curto e longo prazo, principalmente, em função das possibilidades e limitações da

sustentabilidade do crescimento com a dependência de poupança externa. A

poupança externa reflete os déficits em transações correntes e seu uso mais intenso

pode gerar maior instabilidade e volatilidade do crescimento em função de acúmulo

de passivos externos e ampliações do risco-país com impacto nos fluxos de capitais.

A taxa de câmbio também pode afetar o desempenho econômico pelos seus

efeitos na composição setorial da economia. O nível da taxa de câmbio refletirá na

maior ou menor presença dos setores de transacionáveis da economia. Quanto mais

valorizada a taxa de câmbio, maior o estímulo à produção de não transacionáveis

em detrimento dos transacionáveis. Isto pode gerar impactos significativos sobre o

crescimento no longo prazo em função da diferença entre os setores no que se

1 Agradecemos os comentários e sugestões de todos os membros da FIESP que contribuíram com

este trabalho, que auxiliaram muito com o desenvolvimento do projeto.

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refere à capacidade inovadora, a agregação de valor, níveis de produtividade, entre

outros aspectos.

Além de influenciar a atividade econômica e a capacidade de crescimento

econômico, a taxa de câmbio também influencia o comportamento dos preços, tanto

em função dos custos dos produtos importados como pela maior atratividade para

venda de produtos nacionais no exterior. A influência sobre o nível geral de preços e

os produtos importados, gera importantes impactos redistributivos com influência

direta no poder aquisitivo dos consumidores e nas margens de lucro das empresas.

Percebe-se, portanto, que a taxa de câmbio possui diversos impactos na economia,

com destaque para seus efeitos redistributivos, o que faz com que os debates sobre

a mesma sejam bastante acalorados.

Mas, o que determina a taxa de câmbio, quais variáveis influenciam o seu

comportamento. Os modelos de determinação do câmbio consideram diferentes

variáveis de acordo com o prazo em análise. Os modelos de curto prazo tendem a

privilegiar a interação com o mercado financeiro, analisando o comportamento do

câmbio a partir dos diferenciais de taxas de juros, as expectativas (mercados futuros

de câmbio e juros), a presença de controles de capitais (incidência de impostos,

restrições a entrada/saída, entre outros). O movimento de capitais explica grande

parte da volatilidade de câmbio, mas o valor do câmbio no médio e longo prazo é

determinado essencialmente pelo comportamento de variáveis relacionadas a

capacidade de oferta e as condições de demanda pelos produtos domésticos. Estas

variáveis são transmitidas aos mercados financeiros e a dinâmica do cambio no

curto prazo pelo diferencial de juros, pela expectativa de diferencial futuro das taxas

de juros, pela expectativa do câmbio futuro.

Os modelos de longo prazo tendem a privilegiar fatores de competitividade e

o comportamento dos agregados macroeconômicos: comportamento das taxas de

inflação do país e do mundo, termos de troca, montante de poupança doméstica e

oportunidades de investimento, taxas de juros de longo prazo, entre outras variáveis.

Nestes modelos pode-se pensar na chamada Paridade do Poder de Compra, que se

origina da chamada Lei do Preço Único, de acordo com o qual produtos

homogêneos na ausência de custos significativos de transação devem ter o mesmo

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valor em diferentes lugares do mundo quando expressos na mesma moeda2. Nesse

caso, a taxa de câmbio real corresponde a relação entre os preços internacionais e

os preços domésticos; se pensarmos os primeiros como o preço dos bens

transacionáveis, cujos preços são dados pelo mercado internacional, e os preços

dos não transacionáveis, a taxa de câmbio real reflete esta relação.

A importância relativa de cada uma das variáveis em sua influência sobre a

taxa de câmbio depende, como destacado, do horizonte temporal considerado na

análise, do quadro institucional do país e seu relacionamento com o resto do mundo,

do desenho e objetivos da política macroeconômica: políticas fiscal, monetária e

cambial. A partir do conceito da taxa de cambio é interessante observar como

choques na demanda doméstica a afetam. Uma maior demanda doméstica se

direciona tanto a bens transacionáveis como não transacionáveis. Na

impossibilidade de atender a expansão dos dois, caso haja restrições para a

expansão da oferta, a maior demanda por não transacionáveis se traduzirá por

aumento de preços atraindo fatores de produção. Já no caso dos transacionáveis

pelo preço ser dado pelo mercado internacional, havendo restrição de oferta esta

demanda deverá ser atendida por importações. Como houve mudança dos preços

relativos a favor dos não transacionáveis deverá haver redução na rentabilidade dos

transacionáveis. Este processo corresponde a valorização da taxa de câmbio real.

A contrapartida do aumento da demanda interna (investimento, consumo ou

gasto público) será a necessidade de captação de poupança externa, que financiará

o aumento das importações. Vale destacar que a contrapartida do movimento de

bens e serviços é o acúmulo de ativos e passivos externos, ou o chamado Passivo

Externo Líquido. Um país não pode acumular indefinidamente ativos ou passivos

externos. Sendo assim, a taxa de câmbio real de equilíbrio, é o preço relativo entre

os bens transacionáveis e não-transacionáveis, sendo determinada no longo prazo

de tal forma a ajustar a demanda e a capacidade produtiva, garantindo que não haja

acúmulo permanente de Passivo Externo pelos países.

Quando se tem um excesso de demanda doméstica esta resultará em

apreciação da taxa de câmbio e vice versa quando a capacidade produtiva se

2 Esta ideia deu origem a Teoria do Big Mac da The Economist que mensura qual o preço do Big Mac

em diferentes cidades do mundo quando medidos na mesma moeda como forma de sinalizar eventuais sinais de desvios das taxas de câmbio, tendo em vista que este seria um produto homogêneo.

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sobrepõe a demanda doméstica. Vale destacar que como o movimento da poupança

externa se reflete no comportamento do passivo externo líquido, e este não pode

crescer indefinidamente, a taxa de câmbio de equilíbrio se refere aquela que define

uma trajetória estabilizadora do passivo externo, do contrário, períodos de

crescimento acelerado do passivo externo serão seguidos de ajustes forçados na

forma de crises cambiais.

Este trabalho busca oferecer um conjunto de estudos que possibilitem uma

melhor compreensão da determinação da taxa de câmbio na economia brasileira e

seus impactos no desempenho econômico. Pretende-se alcançar os seguintes

objetivos:

Analisar a relação entre a taxa de câmbio e crescimento econômico e

os diferentes canais possíveis de transmissão;

Analisar o comportamento da taxa de câmbio e sua relação com

variáveis econômicas que possam influenciá-la: taxa de juros, atividade

econômica, termos de troca, poupança, investimento, entre outras; em

especial, busca-se identificar os determinantes financeiros e

macroeconômicos da taxa de câmbio, isto é a interação entre o

mercado de câmbio e o mercado financeiro;

Estimar o impacto de mudanças na taxa de câmbio sobre os preços, o

chamado pass-through.

O relatório está estruturado em quatro seções. A primeira apresenta a

evolução recente da taxa de câmbio e das contas externas do país. A segunda

destaca os resultados da análise sobre a relação entre a taxa de câmbio e a

atividade econômica e os eventuais canais de transmissão – poupança,

investimento, balança comercial e estrutura setorial. A terceira apresenta a relação

entre a taxa de câmbio e variáveis financeiras e macroeconômicas. E, por fim

verifica-se o impacto de variações cambiais sobre os preços, ou seja, busca-se

estimar o pass-through da taxa de câmbio.

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1.1. Evolução recente da taxa de câmbio e das contas

externas no Brasil: Alguns fatos

Nas últimas décadas a taxa de câmbio no Brasil, tem sofrido significativas

oscilações. Utilizado como instrumento de estabilização ao longo do Plano Real, a

sua apreciação contribuiu para reverter as elevadas taxas de inflação, mas,

provocou uma forte deterioração das contas externas com o surgimento dos déficits

na Balança Comercial e aumento dos déficits em Transações Correntes. Esse

processo provocou um grande aumento do endividamento externo do país e a crise

cambial de 1999.

A desvalorização cambial ocorrida nesse momento e a adoção de um sistema

de câmbio flutuante contribuíram para reverter a tendência de deterioração da

situação externa do país, mas ainda assim, em função de diversos choques externos

e incertezas geradas pelo quadro político interno ocorreu a forte crise cambial em

2002, culminando nas taxas de câmbio mais desvalorizadas da história recente do

país. Este processo, em conjunto com uma forte melhora do quadro internacional e

de forte elevação do preço das commodities, contribuiu para a emergência de

significativos superávits na Balança Comercial e em Transações Correntes, com

significativa redução do Passivo Externo Líquido do País e melhoria dos indicadores

de solvência e do risco-país.

A melhora dos indicadores externos e fiscais levou o país à condição de grau

de investimento. Com o sistema de câmbio flutuante, a entrada de divisas,

inicialmente em função dos superávits em transações correntes e, posteriormente,

com o fluxo de capitais, levou a uma tendência constante de apreciação cambial

desde o final de 2002. Este processo só foi ligeiramente interrompido com a crise

financeira de 2008, mas manteve-se até 2011 como pode ser visto nas figuras a

seguir. Desde então, quando o câmbio atingiu um mínimo na história recente,

observa-se uma perda de valor relativo do real frente ao dólar. Desde janeiro de

2013 até o final de agosto, o dólar saiu de um patamar em torno de R$ 2,00 por

dólar para algo em torno de R$ 2,40 por dólar, cerca de 20% de desvalorização,

valor semelhante ao verificado após a crise de 2008, mas voltou a se retrair nos

últimos meses.

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Figura 1.1.1. Taxa de Câmbio Diária (1994/2013)

Deve-se destacar, porém, que se considerarmos a taxa de câmbio real, isto é,

desconsiderando o efeito da inflação, a taxa de câmbio ainda se encontra em

patamares significativamente inferiores ao verificado no período recente. Calculando

a taxa de câmbio real, descontando-se a inflação brasileira (IPCA-IBGE) e a

americana (IPA) verifica-se que o câmbio encontra-se em um patamar muito próximo

ao observado no inicio do Plano Real. Observa-se que o comportamento do câmbio

real é muito semelhante ao do câmbio nominal.

Figura 1.1.2 Taxa de Câmbio - Brasil (1994/2013)

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Câmbio Deflacionado IPCA Taxa de Câmbio Real

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1.2. A Balança Comercial

O comportamento da taxa de câmbio real possui grande influência sobre o

saldo comercial, mas, deve-se destacar que o saldo comercial como parte da oferta

e demanda de moeda estrangeira também influencia a determinação da taxa de

câmbio. Pode-se verificar na tabela a seguir que a profunda apreciação cambial ao

longo do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, para alcançar a

estabilização de preços, levou a transformação dos significativos superávits

comerciais gerados a partir da crise da dívida externa nos anos 80, em profundos

déficits. Este processo foi interrompido com a crise cambial de 1999 e a introdução

do sistema de câmbio flutuante. Mas, a volta de maiores superávits comerciais só

ocorreu com a desvalorização mais acentuada ocorrida em 2002 e com as maiores

taxas de crescimento econômico mundial e elevação do preço das commodities, em

geral, com significativa melhora dos termos de troca do país.

Pode-se observar que, mesmo com a apreciação cambial ocorrida a partir de então,

enquanto a taxa de câmbio real se manteve em patamares mais desvalorizados o

superávit comercial foi crescente, atingindo patamares superiores a US$ 40 bilhões

anuais no triênio 2005/07. A partir daí, tanto a crise econômica mundial como o

patamar extremamente apreciado atingido pela taxa de câmbio real resultaram em

quedas no saldo comercial culminando na emergência de déficits ao longo de 2013.

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Tabela 1.2.1. Balança Comercial – US$ milhões – 1994/2013

Exportações US$ Importações Balança Comercial

1994 43.545 33.079 10.466

1995 46.506 49.970 -3.464

1996 47.747 53.347 -5.600

1997 52.986 59.842 -6.856

1998 51.120 57.717 -6.597

1999 48.013 49.301 -1.288

2000 55.119 55.850 -731

2001 58.287 55.603 2.684

2002 60.439 47.243 13.196

2003 73.203 48.327 24.876

2004 96.678 62.834 33.844

2005 118.530 73.600 44.930

2006 137.808 91.343 46.465

2007 160.649 120.619 40.030

2008 197.942 173.199 24.743

2009 152.995 127.646 25.349

2010 201.915 181.648 20.266

2011 256.040 226.247 29.793

2012 242.580 223.172 19.408

2013* 156.655 160.418 -3.763

Fonte: IPEADATA (*) 2013 até agosto.

Vale destacar o comportamento das exportações e importações. O

crescimento das exportações no período 1994/2002 foi relativamente baixo refletindo

tanto a apreciação cambial como a situação da economia internacional. As

importações após um salto inicial com o lançamento do Plano Real e sua estratégia

de estabilização baseada na apreciação cambial, também tiveram um crescimento

relativamente lento, em função do próprio crescimento econômico reduzido do país.

A partir de 2002 verifica-se um forte crescimento das exportações respondendo aos

níveis mais desvalorizados da taxa de câmbio real e ao crescimento econômico

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mundial. Este processo de aumento das exportações e de significativos superávits

comerciais colaborou de maneira acentuada para que o período 2004/08 fosse o de

maiores taxas de crescimento econômico médio do país, desde a crise dos anos 80;

o que pode sinalizar a importância da taxa de câmbio para o crescimento econômico

como será visto na próxima seção. O maior crescimento econômico e o processo de

apreciação cambial após a forte desvalorização de 2002 foram impactar de maneira

acentuada no aumento de importações, principalmente, a partir de 2007 quando a

taxa de câmbio já apresentava sinais de apreciação excessiva.

Figura 1.2.1. Exportações, Importações e Saldo Comercial – US$ milhões –

Acumulado em 12 meses

Um aspecto interessante a ser observado em relação às exportações

brasileiras é a sua composição em termos de fator agregado. Observa-se que ao

longo do processo de industrialização e durante o ajustamento da economia a crise

da dívida externa houve um significativo aumento da participação de manufaturados

em detrimento da participação dos básicos. Este processo foi interrompido com a

utilização mais intensa da taxa de câmbio como estratégia de estabilização e,

principalmente ao longo da década passada em função do forte crescimento da

demanda de commodities e de seus preços. Com isso a pauta de exportações foi se

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US$

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Saldo Comercial Exportações Importações

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concentrando nos produtos básicos originários das atividades agrícolas e extrativas.

A retração da participação de manufaturados se dá tanto pela forte expansão das

exportações de commodities como, e este é o ponto preocupante, da perda de

competitividade dos produtos industriais em um contexto de forte apreciação

cambial.

Figura 1.2.2. Exportação Brasileira por Fator Agregado (1964 a Jul/2013 -

Participação %)

Fonte e elaboração: SECEX/MDIC.

Além disso, utilizando o critério da OCDE que classifica os produtos

industriais em alta, média-alta, média-baixa e baixa intensidade tecnológica, pode-se

observar ao longo do tempo uma retração da participação dos produtos industriais

na pauta de exportação (83% em 1996 e 61,6% em 2012), sendo que os setores de

alta e média-alta tecnologia respondem por apenas um quinto das exportações

industriais. Ao se observar as importações verifica-se um processo contrário com

uma tendência de aumento na participação dos produtos industriais com forte

concentração nos setores de alta e média-alta tecnologia, sendo de,

aproximadamente, 60% em 2012.

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BÁSICOS SEMIMANUFATURADOS MANUFATURADOS

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Tabela 1.2.2. Exportação e Importação de Produtos Industrializados, por

Intensidade Tecnológica (US$ FOB)

Setores – Exportações

1996 2002 2007 2012

Valor % Valor % Valor % Valor %

Total 47.747 100,0 60.362 100,0 160.649 100,0 242.580 100,0

Produtos industriais (*) 39.923 83,6 48.652 80,6 121.908 75,9 149.528 61,6

Alta e média-alta

tecnologia (I+II) 12.939 27,1 18.870 31,3 46.760 29,1 50.683 20,9

Alta tecnologia (I) 2.042 4,3 5.935 9,8 10.241 6,4 10.158 4,2

Média-alta tecnologia

(II) 10.897 22,8 12.935 21,4 36.519 22,7 40.525 16,7

Média-baixa tecnologia

(III) 9.807 20,5 10.650 17,6 31.599 19,7 38.817 16,0

Baixa tecnologia (IV) 17.176 36,0 19.132 31,7 43.549 27,1 60.028 24,7

Produtos não

industriais 7.824 16,4 11.709 19,4 38.741 24,1 93.052 38,4

Setores – Importações

1996 2002 2007 2012

Valor % Valor % Valor % Valor %

Total 53.346 100,0 47.243 100,0 120.621 100,0 223.172 100,0

Produtos industriais (*) 45.012 84,4 40.652 86,0 99.950 82,9 194.559 87,2

Alta e média-alta

tecnologia (I+II) 31.046 58,2 30.330 64,2 71.929 59,6 134.274 60,2

Alta tecnologia (I) 10.422 19,5 10.460 22,1 25.284 21,0 41.276 18,5

Média-alta tecnologia (II) 20.624 38,7 19.870 42,1 46.645 38,7 92.998 41,7

Média-baixa tecnologia

(III) 6.920 13,0 6.671 14,1 19.649 16,3 41.719 18,7

Baixa tecnologia (IV) 7.046 13,2 3.651 7,7 8.372 6,9 18.566 8,3

Produtos não industriais 8.334 15,6 6.590 14,0 20.671 17,1 28.613 12,8

(*) Classificação extraída de: OECD, Directorate for Science, Technology and Industry, STAN

Indicators, 2003.

Fonte: SECEX/MDIC

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14

Estas modificações decorrentes da apreciação cambial e da perda de

competitividade da produção nacional podem ser percebidas pelos coeficientes de

importação e exportação dos setores industriais. Entre 2003 e 2012, observa-se um

aumento muito pequeno no coeficiente de exportação da indústria como um todo,

sendo que na indústria de transformação o crescimento foi ainda menor. Enquanto

o coeficiente de importação da indústria geral quase dobrou no período, sendo que

na indústria de transformação o aumento do coeficiente foi da ordem de 120%.

Estão entre os setores que apresentam maior penetração de importados os de maior

intensidade tecnológica: máquinas e equipamentos, eletrônico, instrumentação,

químico e farmacêutico.

Alguns casos devem ser destacados, como por exemplo, o setor de máquinas

agrícolas que tinha um baixo grau de penetração dos importados e atingiu mais de

50%, verifica-se também um forte aumento de máquinas elétricas, setor que o Brasil

tradicionalmente apresentava uma elevada competitividade; outro caso são os

setores de artefatos de couro que importava muito pouco e se tornou um dos

maiores coeficientes de importação, e o setor de artigos de vestuário cujo coeficiente

era 1% e saltou para 13% em menos de 10 anos. De uma forma geral, observa-se

que a ampliação do coeficiente de importação foi uma estratégia defensiva adotada

por quase a totalidade dos setores industriais, para se adaptar ao contexto de

elevados custos de produção no país e taxa de câmbio apreciada.

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15

Tabela 1.2.3. Coeficientes de Importação

Já no caso dos coeficientes de exportação a situação é o inverso, com a

maior importância do mercado externo justamente para a indústria extrativa e

aquelas de baixa intensidade tecnológica e fortemente ligadas às vantagens

agropecuárias e de recursos naturais do país: couro, celulose, madeira e siderurgia.

Alguns poucos setores de maior intensidade tecnológica com maior coeficiente de

Coeficientes de Importação 2003 2007 2012

Indústria Geral 12,5% 18,2% 23,5%

Indústria de Transformação 10,5% 16,4% 22,3%

Indústrias extrativas 49,8% 57,4% 55,0%

Máqs. para escritório e equips. de informática 44,2% 42,6% 57,3%

Equips. de instrumentação médico-hospitalares (2) 36,7% 63,5% 55,7%

Máqs. e equips. para fins industriais e comerciais 28,7% 37,6% 54,5%

Tratores e máqs. e equips. para a agricultura 16,1% 39,9% 51,3%

Material eletrônico e aparelhos de comunicação 26,1% 42,4% 51,2%

Máqs. e equips. para extração mineral e construção 25,9% 27,5% 49,0%

Aeronaves 65,2% 120,0% 43,4%

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 20,5% 23,1% 38,6%

Metalurgia de metais não-ferrosos 26,0% 30,0% 35,4%

Produtos diversos 10,7% 21,6% 33,2%

Preparação de couros e artefatos de couro 9,2% 16,4% 31,6%

Produtos químicos (1) 20,8% 26,8% 31,0%

Produtos farmacêuticos 24,9% 28,4% 27,7%

Produtos têxteis 5,6% 13,5% 24,0%

Outros equipamentos de transporte (3) 7,7% 12,0% 22,1%

Automóveis, caminhões e ônibus 7,2% 12,4% 21,7%

Refino de petróleo e produção de álcool 11,4% 12,5% 19,2%

Fundição e tubos de ferro e aço 5,6% 11,7% 19,1%

Artigos de borracha e plástico 6,7% 10,0% 17,6%

Produtos de metal 4,4% 9,0% 14,6%

Eletrodomésticos 9,7% 13,9% 14,4%

Artigos do vestuário e acessórios 1,0% 4,1% 13,7%

Siderurgia 2,8% 6,7% 13,5%

Ferro-gusa e ferroligas 5,0% 10,3% 12,4%

Perfumaria, higiene e produtos de limpeza 4,2% 5,5% 11,0%

Peças e acessórios para veículos automotores 7,5% 10,5% 10,8%

Celulose, papel e produtos de papel 5,3% 8,2% 10,0%

Produtos de minerais não-metálicos 3,0% 5,1% 9,9%

Calçados 1,4% 4,9% 7,5%

Alimentos e bebidas 2,9% 3,8% 5,9%

Artigos do mobiliário 0,4% 1,4% 3,2%

Edição, impressão e reprodução de gravações 1,2% 1,9% 2,4%

Produtos de madeira 1,9% 3,2% 2,0%

(1) Exceto farmacêuticos e perfumaria, higiene e produtos de limpeza

(2) e instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos para automação industrial,

(3) Embarcações, veículos ferroviários, motocicletas, motociclos e suas partes e

Fonte: FIESP

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16

exportações são os de maquinas agrícolas e para extração mineral e o de

aeronaves. Chama atenção a forte retração do coeficiente de exportações de alguns

setores como: calçados, eletrodomésticos, peças para veículos, artigos de

mobiliário, vestuário, entre outros. Isto pode refletir a perda de competitividade de

setores tradicionais da indústria de transformação.

Tabela 1.4. Coeficientes de Exportação

Coeficientes de Exportação 2003 2007 2012

Indústria Geral 17,5% 20,9% 20,2%

Indústria de Transformação 15,9% 18,6% 17,4%

Indústrias extrativas 49,2% 63,2% 69,1%

Preparação de couros e artefatos de couro 42,7% 56,3% 69,1%

Ferro-gusa e ferroligas 44,7% 54,1% 57,1%

Metalurgia de metais não-ferrosos 40,8% 45,2% 48,4%

Aeronaves 85,1% 111,0% 45,7%

Máqs. e equips. para extração mineral e construção 53,8% 44,7% 39,6%

Tratores e máqs. e equips. para a agricultura 24,9% 49,9% 36,5%

Alimentos e bebidas 21,4% 25,9% 25,2%

Celulose, papel e produtos de papel 19,4% 22,5% 24,7%

Produtos de madeira 41,0% 46,5% 21,2%

Máqs. e equips. para fins industriais e comerciais 20,2% 21,1% 20,1%

Siderurgia 25,1% 20,4% 18,9%

Outros equipamentos de transporte (3) 7,5% 18,7% 17,3%

Produtos têxteis 12,4% 14,0% 17,0%

Máquinas, aparelhos e materiais elétricos 13,1% 17,1% 15,7%

Calçados 34,0% 27,6% 15,1%

Automóveis, caminhões e ônibus 24,5% 21,9% 14,1%

Equips. de instrumentação médico-hospitalares (2) 11,4% 17,6% 12,8%

Produtos diversos 17,1% 20,6% 12,8%

Produtos químicos (1) 11,6% 13,3% 12,3%

Fundição e tubos de ferro e aço 11,1% 8,9% 12,1%

Material eletrônico e aparelhos de comunicação 12,5% 16,9% 10,0%

Peças e acessórios para veículos automotores 12,7% 12,3% 8,7%

Artigos de borracha e plástico 7,3% 9,2% 7,8%

Máqs. para escritório e equips. de informática 15,1% 8,9% 7,7%

Produtos farmacêuticos 5,4% 8,1% 7,7%

Refino de petróleo e produção de álcool 7,9% 11,2% 7,3%

Produtos de minerais não-metálicos 11,2% 12,2% 6,9%

Perfumaria, higiene e produtos de limpeza 4,6% 6,3% 5,8%

Artigos do mobiliário 14,0% 11,8% 5,8%

Produtos de metal 5,4% 6,9% 5,3%

Eletrodomésticos 17,4% 16,4% 3,3%

Artigos do vestuário e acessórios 5,1% 3,1% 1,4%

Edição, impressão e reprodução de gravações 1,3% 1,2% 0,6%

(1) Exceto farmacêuticos e perfumaria, higiene e produtos de limpeza

(2) e instrumentos de precisão e ópticos, equipamentos para automação industrial, cronômetros e relógios

(3) Embarcações, veículos ferroviários, motocicletas, motociclos e suas partes e peças, carrocerias e reboques

Fonte: FIESP

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17

Os dados refletem adaptações que o setor industrial teve que fazer em

resposta ao processo de apreciação cambial ocorrido no país em conjunto com os

elevados custos de produção no país – tributos, deficiências de infraestrutura,

condições de financiamento, entre outros. Estudo do DECOMTEC/FIESP mostra

que o preço interno da Indústria de Transformação situa-se 34,2% do produto

industrial importado dos principais parceiros comerciais, sendo que 25,4% decorre

do chamado custo-Brasil e o restante, em torno de 9% da apreciação cambial. No

cálculo do custo-Brasil foram considerados os seguintes componentes: (i) tributação

– carga e burocracia; (ii) funcionários, (iv) custo de capital de giro, (v) custo de

infraestrutura e logística e (vi) custo de serviços não transacionáveis. Vale notar que

a maior parte desses custos independe da produtividade e eficiência industrial3.

Pode-se dizer, também, que este processo reflete que o país sofreu, em

determinado grau, da chamada “doença holandesa”, em que o sucesso na

exportação de commodities e produtos intensivos em recursos naturais provoca, via

apreciação cambial, um processo de desindustrialização e perda de importância de

setores de maior intensidade tecnológica. Este processo decorre tanto do efeito da

entrada de moeda estrangeira, apreciando o câmbio nominal, como pelo impacto na

demanda de não transacionáveis aumentando seus preços, conforme captado pelo

estudo mencionado no paragrafo anterior. O grande boom na exportação de

commodities decorre da forte elevação de preços de minérios e agrícolas em função

do crescimento econômico mundial, em especial, das economias emergentes, com

destaque para a China.

3 Ver o estudo – “Custo Brasil e Taxa de Câmbio na Competitividade da Indústria de Transformação

Brasileira” – Departamento de Competividade e Tecnologia (DECOMTEC) – FIESP; março de 2013.

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Figura 1.2.3. Evolução dos Preços das Commodities

A grande importância brasileira na produção mundial de carnes, soja, grãos,

açúcar e principalmente minérios fez com que o país fosse um dos principais

beneficiados desse processo. Mas por outro lado este comportamento do preço de

commodities contribuiu para a apreciação cambial4 e para o surgimento, em algum

grau, da chamada doença holandesa. Esta decorre da valorização cambial em

função do forte influxo de moeda estrangeira vindo da exportação dos produtos

primários, do encarecimento dos fatores de produção disponíveis aos demais

setores pela forte pressão exercida no mercado de fatores pelos setores intensivos

em recursos naturais (crescimento da relação câmbio-salário) e da pressão pela

elevação dos preços dos não-transacionáveis em virtude do crescimento econômico

e dos rendimentos.

O reflexo disso é a perda de competitividade dos bens transacionáveis, que

pode ser captado pela evolução da relação entre o rendimento interno e a taxa de

câmbio, destacando-se o processo de perda da importância da indústria de

4 A influencia do preço de commodities na determinação da taxa de câmbio será avaliada no capitulo

3 deste relatório.

0,00

100,00

200,00

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500,00

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700,00

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12

me

ro Ín

dic

e (

20

02

=10

0)

Carnes Grãos, oleaginosas e frutas

Minerais Petróleo e derivados

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19

transformação no produto e na pauta exportadora, a chamada desindustrialização.

Este é um processo bastante preocupante, pois, as mudanças na estrutura setorial é

outro canal por onde a taxa de câmbio afeta o desempenho econômico. Caso a

indústria seja o setor de maior produtividade, aquele por onde se dá a introdução e

difusão da maior parte das inovações e ganhos de produtividade, a sua retração

pode afetar as taxas de crescimento de longo prazo.

Figura 1.2.4. Câmbio-Salário: Índice de Rendimento Nominal (IBGE) dividido

pelo índice da taxa de câmbio nominal (jan 2002 = 100)

1.3. Transações Correntes e Conta Capital e Financeira

Além da balança comercial o movimento de câmbio decorre da balança de

serviços e renda, que juntamente com o saldo comercial determina o saldo em

transações correntes, e da conta capital e financeira. A Balança de Serviços e

Renda contempla um amplo leque de atividades: turismo, frete, seguros, royalties,

remessa de lucros, pagamento de juros, entre outros. O Brasil é tradicionalmente

0

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3

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deficitário nesta Balança em, praticamente, todos os seus itens, mas, com forte

destaque para o montante significativo de remessas de renda ao exterior, em

especial os lucros em decorrência da forte presença de Investimentos Estrangeiros

no país.

O saldo em transações correntes reflete o recurso à poupança externa do país,

isto é, a diferença entre a produção doméstica e a absorção (demanda) doméstica.

Quando o país é deficitário em transações correntes diz-se que o mesmo deve

recorrer à poupança (financiamento) externa para cobrir o seu excesso de

dispêndios; e o inverso quando o país é superavitário. A tabela a seguir apresenta a

evolução do saldo em transações correntes no período recente.

Tabela 1.3.5. Balanço de Pagamentos – Brasil – 1995/2013 – US$ milhões

Balança

Comercial

Serviços e

Renda

Transações

Correntes

Conta

Capital e

Financeira

Saldo do Balanço

de Pagamento

1995 -3.465,62 -18.540,51 -18.383,71 29.095,45 12.918,90

1996 -5.599,04 -20.349,52 -23.502,08 33.968,07 8.666,10

1997 -6.752,89 -25.522,28 -30.452,26 25.800,34 -7.907,16

1998 -6.574,50 -28.299,39 -33.415,90 29.701,65 -7.970,21

1999 -1.198,87 -25.825,31 -25.334,78 17.319,14 -7.822,04

2000 -697,75 -25.047,85 -24.224,53 19.325,80 -2.261,65

2001 2.650,47 -27.502,52 -23.214,53 27.052,26 3.306,60

2002 13.121,30 -23.147,74 -7.636,63 8.004,43 302,09

2003 24.793,92 -23.483,23 4.177,29 5.110,94 8.495,65

2004 33.640,54 -25.197,65 11.679,24 -7.522,87 2.244,03

2005 44.702,88 -34.275,99 13.984,66 -9.464,05 4.319,46

2006 46.456,63 -37.120,36 13.642,60 16.298,82 30.569,12

2007 40.031,63 -42.509,89 1.550,73 89.085,60 87.484,25

2008 24.835,75 -57.251,64 -28.192,02 29.351,65 2.969,07

2009 25.289,81 -52.929,58 -24.302,26 71.300,60 46.650,99

2010 20.226,86 -70.321,51 -47.273,10 99.911,78 49.100,50

2011 29.793,68 -85.250,53 -52.472,62 112.380,15 58.636,81

2012 19.430,65 -76.522,98 -54.246,41 72.761,86 18.899,55

2013* -3.763,00 -49.295,12 -52.471,65 59.651,17 6.747,53

Fonte: IPEADATA (*) 2013 até Julho

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21

Pode-se verificar que o saldo em Transações Correntes foi se deteriorando ao

longo primeiro mandato de Fernando Henrique o que contribuiu para a crise cambial

de 1999. Este processo foi interrompido a partir da crise e os elevados superávits

comerciais ao longo do primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva

possibilitaram a emergência de superávits em Transações Correntes. A apreciação

cambial, a retração do saldo comercial e o aumento do déficit em serviços e renda

fizeram com que o déficit em Transações Correntes reaparecesse e se acentuasse

de forma bastante preocupante nos últimos anos. A contrapartida dos déficits em

Transações Correntes é o aumento do Passivo Externo Líquido do país. Problemas

de crises cambiais e restrições ao crescimento mostram a dificuldade do

crescimento econômico ser dependente da poupança externa. Essas restrições e

impactos sobre o desempenho econômico serão discutidos na próxima seção do

relatório.

Figura 1.3.1. Transações correntes - últimos 12 meses (1990 a jul/2013)

Fonte: IPEADATA

Pode-se observar pela figura que quando o país teve a crise cambial o déficit em

transações correntes em relação ao PIB estava seu mais elevado patamar. A

emergência dos superávits em transações correntes é o determinante da ampla

melhora dos indicadores externos ao longo do primeiro mandato do Presidente Lula

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22

contribuindo para a estabilização econômica, para que o país se tornasse menos

vulnerável a crises externas e para que pudéssemos alcançar o grau investimento.

Estes dados podem sinalizar a importância para o crescimento da menor

dependência de poupança externa e da existência de poupança doméstica.

Além do movimento associado a transações correntes, o comportamento cambial

está fortemente associado ao movimento de capitais, o que faz com que o mercado

financeiro tenda a ter um grande destaque na determinação da taxa de câmbio. O

fluxo de capitais para um país reflete a expectativa dos agentes sobre o retorno das

aplicações naquele país o que reflete as oportunidades de investimento, aos

diferenciais de taxa de retorno (taxa de juros doméstica e internacional), ao risco do

país, a expectativa sobre a taxa de câmbio futura, entre outras variáveis

relacionadas a políticas como a tributação do movimento de capitais e outros

mecanismos de controle e intervenções do Banco Central no mercado de câmbio,

seja no mercado à vista seja no futuro.

Figura 1.3.2. Conta Capital e Financeira Saldo Trimestral (US$ milhões)

Existe um relativo consenso na literatura de que no curto prazo a taxa de

câmbio é determinada no mercado financeiro. Este mecanismo de determinação

financeira da taxa de câmbio é relacionado aos objetivos dos agentes presentes no

mercado cambial, que realizam operações nos mercados à vista (spot) e futuro

-30.000,00

-20.000,00

-10.000,00

0,00

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20

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13

US$

milh

õe

s

investimentos em carteira IDE Conta capital e financeira - saldo

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realizando operações de hedge, arbitragem e especulação. É possível inferir que a

determinação da taxa de câmbio é realizada no mercado futuro de câmbio, e depois

transmitida por arbitragem para o mercado à vista de câmbio.

O principal determinante da taxa de câmbio no curto prazo parece ser o

diferencial de taxas de juros. Assim grande parte do processo de apreciação cambial

brasileiro nos últimos anos decorre dos elevados diferenciais de juros existentes,

tanto pelas elevadas taxas praticadas internamente como pela forte redução das

taxas de juros internacionais que passaram a se situar próximas de zero a partir da

crise econômica de 2008 com o excesso de liquidez proporcionado pelas políticas

monetárias expansionistas nos principais países desenvolvidos. A desvalorização

cambial verificada ao longo deste ano reflete a expectativa dos agentes de elevação

da taxa de juros internacional e da redução do diferencial de retorno esperado.

A maior parte do movimento cambial se dá por motivações financeiras. Assim,

qualquer mudança nos fundamentos da economia ou nas expectativas sobre as

condições futuras da economia, seja nacional seja internacional, é captada por

mudanças nos diferencias esperados da taxa de juros, ou no valor esperado do

câmbio futuro e rapidamente transmitida para a taxa atual de câmbio. Isto explica as

grandes oscilações da taxa de câmbio no curto prazo.

Figura 1.3.3. Taxa de Juros Brasil e EUA (Jan/2000 – Set/2013)

Fonte: IPEADATA e BCB.

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

25,00

30,00

jan

/20

00

set/

20

00

mai

/20

01

jan

/20

02

set/

20

02

mai

/20

03

jan

/20

04

set/

20

04

mai

/20

05

jan

/20

06

set/

20

06

mai

/20

07

jan

/20

08

set/

20

08

mai

/20

09

jan

/20

10

set/

20

10

mai

/20

11

jan

/20

12

set/

20

12

mai

/20

13

% a

.a.

Fed Funds Selic

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O estudo desenvolvido na seção 3 desse relatório mostra que, com base em

dados diários do mercado de câmbio, a exploração das oportunidades de arbitragem

entre as taxas de câmbio à vista e futuras é o mecanismo mais importante de

transmissão de informações do mercado financeiro para a taxa de câmbio. Dada a

importância da taxa de câmbio para o resultado das empresas, para o poder

aquisitivo da população e para as decisões de investimento; em geral as autoridades

governamentais buscam limitar as suas flutuações quando estas extrapolam

determinados limites. As intervenções podem se dar tanto por compras e vendas de

moeda estrangeira no mercado à vista, como por atuações no mercado futuro ou

pela imposição de restrições ao movimento de capitais – tributação dos ganhos,

prazos mínimos de permanência, entre outros instrumentos. A análise desenvolvida

na terceira seção deste relatório mostra que no caso brasileiro, as intervenções do

BACEN com swaps cambiais só é significante com valores até cerca de US$ 2,5

bilhões, a partir deste valor já não é possível exercer esse controle apenas por meio

desse instrumento derivativo.

A introdução das intervenções do Banco Central no mercado à vista também

se mostraram significativas e no sentido esperado das operações. A introdução do

IOF seja sobre o volume de negócios seja sobre as posições excessivas compradas

em Real também se mostraram estatisticamente significativas, mostrando que a

redução do IOF tende a apreciar a taxa de câmbio. Quando se analisa o

comportamento das ações, introduzindo o Ibovespa, verifica-se que este apresenta

uma relação negativa com a taxa de câmbio o que decorre da forte presença de

investidores estrangeiros no mercado de câmbio.

Para verificar a influência de variáveis macroeconômicas realizou-se uma

análise com dados mensais. Nesta verificou-se que os principais determinantes

continuaram os mesmos, em especial o diferencial de taxa de juros, e pode-se

observar também a influência dos preços de commodities. Foram testadas diversas

variáveis macroeconômicas: o IPCA, o saldo da balança comercial, o saldo em

transações correntes, a abertura da balança comercial em exportações e

importações, o fluxo de investimentos externos diretos e em carteira, a taxa SELIC,

o crescimento do PIB mundial, entre outras. Apesar de exercerem influência sobre o

câmbio à vista de acordo com a literatura econômica, algumas dessas variáveis não

apresentaram um resultado estatisticamente significante no modelo desenvolvido na

terceira seção. Este resultado pode decorrer do fato do impacto das variáveis

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macroeconômicas já ser captado na variável de expectativa e no próprio diferencial

de taxa de juros.

Mas, como destacado anteriormente, a taxa de câmbio reflete, a longo prazo,

o comportamento da demanda por bens não-transacionáveis relativamente a

capacidade de produção. Ou seja, o déficit em transações correntes, que determina

a dinâmica do passivo externo líquido, deve ser o determinante da taxa de cambio. E

o déficit em transações correntes reflete o comportamento da taxa de investimento

relativamente a poupança doméstica.

Os dados recentes da economia brasileira mostram que dada a baixa

capacidade de poupança do setor público, na realidade a poupança negativa do

setor publico, sempre que ocorreu elevações na formação bruta de capital fixo e ou

no consumo das famílias, com a consequente queda da poupança doméstica,

verificou-se deterioração do saldo em transações correntes e consequentes

processos de apreciação cambial. O período de superávits em transações correntes

no primeiro mandato do presidente Lula reflete tanto a queda do investimento como

do consumo das famílias, em proporção ao PIB, e a consequente elevação da

poupança doméstica. Este quadro mostra que a demanda de maior crescimento

econômico com maiores taxas de investimento, preservando-se o equilíbrio externo

e uma taxa de câmbio menos apreciada, requer o aumento da poupança doméstica

que pode se dar quer pela recuperação da poupança pública quer pela contenção do

consumo das famílias. Daí a importância da política fiscal como instrumento para

ampliar a poupança doméstica a longo prazo, a capacidade de investimento e o

crescimento equilibrado conforme destacado em estudo recente da FIESP sobre as

condições necessárias para o pais dobrar o PIB per capita em um espaço de quinze

anos.

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Figura 1.10. Transações correntes e formação bruta de capital fixo

Figura 1.11. Transações correntes e consumo das famílias

12,0%

14,0%

16,0%

18,0%

20,0%

22,0%

24,0%

-5,00

-4,00

-3,00

-2,00

-1,00

0,00

1,00

2,00

3,00

mar

/19

91

dez

/19

92

set/

19

94

jun

/19

96

mar

/19

98

dez

/19

99

set/

20

01

jun

/20

03

mar

/20

05

dez

/20

06

set/

20

08

jun

/20

10

mar

/20

12

Transações correntes -últimos 12 meses - (% PIB)

Capital fixo - formaçãobruta

4 por Média Móvel (Capitalfixo - formação bruta)

50,0%52,0%54,0%56,0%58,0%60,0%62,0%64,0%66,0%68,0%70,0%

-5,00

-4,00

-3,00

-2,00

-1,00

0,00

1,00

2,00

3,00

mar

/19

91

dez

/19

92

set/

19

94

jun

/19

96

mar

/19

98

dez

/19

99

set/

20

01

jun

/20

03

mar

/20

05

dez

/20

06

set/

20

08

jun

/20

10

mar

/20

12

Transações correntes -últimos 12 meses - (% PIB)

Consumo final - famílias

4 por Média Móvel(Consumo final - famílias)

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Figura 1.12. Transações correntes e poupança nacional bruta

1.4. Taxa de câmbio e crescimento econômico

A segunda seção desse relatório apresenta o estudo realizado sobre a

influência da taxa de câmbio sobre o crescimento econômico, no qual foi realizado

uma ampla revisão da literatura teórica e empírica destacando os canais de

transmissão do câmbio para o produto. A influência da taxa de câmbio sobre o

crescimento econômico poderia se dar pelo impacto sobre a taxa de poupança

doméstica e, portanto, sobre o investimento; pelo saldo comercial e pelos impactos

sobre a estrutura econômica estimulando os setores de transacionáveis, em

especial, a indústria de transformação. Se um câmbio mais desvalorizado estimular

o aumento da poupança doméstica, tornando o investimento menos dependente da

poupança externa, e favorecer os setores com maior potencial de introdução e

difusão de inovações; ele estimulará tanto maiores taxas de investimento como

facilitará o crescimento da produtividade, e por estes canais influenciar o

crescimento econômico a longo prazo.

O estudo realizado na segunda seção mostra diversos estudos que associam

episódios de maior crescimento econômico a desvalorizações anteriores da taxa de

câmbio, com destaque para as evidências levantadas por Rodrik (2008). Para

verificar este fato o estudo realizou diversos estudos. Em primeiro lugar realizou-se

um teste em painel para 188 países no período 1950-2010. Os resultados sinalizam

que desvalorizações cambiais possuem efeito positivo sobre o crescimento

10,0%

12,0%

14,0%

16,0%

18,0%

20,0%

22,0%

24,0%

-5,00

-4,00

-3,00

-2,00

-1,00

0,00

1,00

2,00

3,00m

ar/1

99

1

dez

/19

92

set/

19

94

jun

/19

96

mar

/19

98

dez

/19

99

set/

20

01

jun

/20

03

mar

/20

05

dez

/20

06

set/

20

08

jun

/20

10

mar

/20

12

Transações correntes -últimos 12 meses - (% PIB)

Poupança nacional bruta

4 por Média Móvel(Poupança nacional bruta)

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econômico. De acordo com as estimativas, uma desvalorização cambial da ordem

de 10% resultaria em aumentos na taxa de crescimento do PIB per capita da ordem

de 0,17p.p.. Este resultado seria maior nos países de menor renda, sendo que para

países com renda de até US$2.000,00 o aumento da taxa de crescimento seria da

ordem de 0,25p.p; enquanto que para os países com renda superior a US$10.000,00

os ganhos ficariam na faixa dos 0,12p.p..

Além do estudo em painel para diversos países foram feitas estimações para

a economia brasileira tanto com dados anuais como trimestrais para o período 1981-

2012. Na análise anual constatou-se que uma desvalorização da ordem de um

desvio-padrão na taxa de câmbio, em torno de 27%, resultaria em aumentos na taxa

de crescimento do PIB da ordem de 1,13p,p ao ano, e da ordem de 3,1 p.p e 2p.p,

respectivamente para a indústria e a indústria de transformação.

Na análise com dados trimestrais verificou-se que uma desvalorização da

ordem de um desvio-padrão, em torno de 17%, resultaria em aumento da taxa de

crescimento econômico do PIB da ordem de 0,8p.p. Considerando que no período

em questão o PIB cresceu a uma taxa de média de 2,6%a.a.; este incremento

levaria o aumento do PIB para a faixa dos 3,4%, ou seja, um aumento de

aproximadamente 30% na taxa de crescimento econômico. Este aumento, caso

fosse permanente já possibilitaria que o país se aproximasse das taxas de

crescimento necessárias para fazer o seu PIB per capita dobrar no período de 15

anos conforme estudo da FIESP. Vale destacar, porém, que na análise do

comportamento do PIB em resposta ao choque cambial ao longo do tempo, observa-

se que após 16 trimestres (4 anos) os ganhos começam a desaparecer até se

extinguirem no vigésimo trimestres. Nesse período, uma desvalorização de 17% da

taxa de câmbio, resultaria em um ganho acumulado em termos de crescimento do

PIB da ordem de 4% do PIB, o que é bastante razoável. Apesar de ser um ganho

transitório que tenderia a desaparecer ao longo do tempo, este resultado mostra que

uma desvalorização cambial possibilitaria um tempo para que fossem feitos os

ajustes necessários da economia para elevar a taxa de poupança doméstica,

possibilitando a sustentação da taxa de câmbio em níveis mais desvalorizados e

garantindo maiores taxas de investimento, com menor dependência da poupança

externa, sustentando maiores taxas de crescimento econômico a longo prazo. Nesse

sentido, é importante que ao longo desse período sejam aprovadas medidas que

restrinjam a expansão das despesas correntes do governo, que se estabeleça metas

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mais ambiciosas de superávit primário e para o montante do déficit nominal; enfim,

políticas que permitam a ampliação da poupança pública e criem condições de

investimento e melhora do sistema tributário que contribuam para a redução do

custo-Brasil; além da criação de um ambiente favorável para ampliação das taxas de

poupança das empresas e famílias.

1.5. Taxa de câmbio e preços

O último aspecto analisado foi a questão do repasse da taxa de câmbio para

a inflação, isto é, o chamado pass-through. Se por um lado verificou-se que um

câmbio desvalorizado tende a ter impactos relevantes para o desempenho

econômico seja pela melhora da balança comercial, pelo maior nível de poupança

doméstica e menor dependência de poupança externa, além do possível impacto

sobre a estrutura setorial da economia, com maior relevância dos setores

transacionáveis que tendem a influenciar de maneira mais relevante a produtividade

dos fatores. Por outro lado, a desvalorização cambial tende a gerar pressões

inflacionárias e afetar o poder de compra da população. A desvalorização cambial

tende a aumentar os preços dos produtos importados, assim como dos produtos

exportáveis que são cotados no mercado internacional. Com isso, os preços de

produção tendem a ser influenciados pelo aumento do custo de matérias-primas

importadas e exportadas, assim como os preços ao consumidor tendem a crescer. A

questão chave é saber quanto de uma desvalorização cambial é repassada para os

preços.

A quarta seção deste relatório apresenta um amplo detalhamento teórico

sobre os mecanismos do pass-through, uma ampla revisão da literatura teórica e

empírica tanto para o Brasil como para outros países, e realiza testes para estimar o

impacto da desvalorização cambial sobre os preços no Brasil, considerando os

preços de importação, preços domésticos industrializados (IPA) e preços ao

consumidor (IPCA), além de preços setoriais da indústria.

Da revisão da literatura pode-se depreender que a magnitude do pass-

through depende do país e do período, refletindo, principalmente a forma de

condução da política econômica e o tipo e grau de inserção externa das economias.

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Chama a atenção a forte retração do pass-through na maior parte dos países a partir

dos anos 90 do século passado quando houve um grande processo de desinflação

em termos mundiais, com significativas reduções das taxas de inflação na maior

parte do mundo.

As estimativas realizadas para o caso brasileiro mostram que o grau de

repasse estimado para os preços de importação situa-se em torno de 75% da

variação cambial. O grau de repasse sofreu algumas variações significativas

conforme a forma de inclusão de variável de produto que captasse choques de

demanda. Para os preços dos produtos industrializados ao atacado (IPA) o repasse

aos preços no longo prazo varia entre 14% e 33%. Já o repasse cambial ao IPCA é

o de menor variabilidade e de dependência da especificação do modelo, tanto no

que diz respeito à ordenação dos modelos, quanto à inclusão da variável de PIB,

situando-se entre 1,1% e 1,25% da variação cambial. Ou seja, uma depreciação

cambial em 10% da moeda nacional deve produzir um aumento na inflação do IPCA

em torno de 1,1 a 1,25 pontos percentuais. De acordo com as estimativas

produzidas, grande parte do impacto inflacionário se dá em 1 ano, isto é, até o

quarto trimestre; principalmente a partir do segundo trimestre após o choque

cambial, sendo o auge alcançado até o oitavo trimestre.

Além do estudo do repasse no agregado, foram feitas estimativas de

repasses setoriais. A magnitude do repasse está muito relacionado às condições de

concorrência no setor, seja em função da concentração de empresas, seja pela

possibilidade de substituição de produto importado pela produção doméstica seja

pela substituição de produtos (essencialidade, capacidade de reação da produção

doméstica, existência de bens substitutos, entre outros).

A estrutura diferenciada do repasse entre os setores abre a possibilidade de

se trabalhar em reduções tarifárias de determinados produtos, com destaque para

os insumos, para reduzir o impacto inflacionário. Deve-se destacar, porém, que

dados os níveis de tarifas praticados no país, e combinando-se as tarifas com os

graus de repasses setoriais pode-se verificar não ser possível compensar

plenamente o efeito da desvalorização sobre o preço com reduções tarifárias.

Como a taxa de inflação do país já vinha em patamares relativamente

elevados, isto é, próximos ao limite superior da meta de inflação; a desvalorização

cambial tende a ampliar a dificuldade para o cumprimento das metas. Parcela do

efeito poderá ser compensada por reduções tarifárias, como já adotadas em algum

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grau pelo governo, mas o restante deverá ser compensado por políticas monetárias

e fiscais mais restritivas.

Nesse sentido, vale a pena combinar este aspecto com o que nos diz os

modelos econômicos de determinação da taxa de câmbio e os resultados obtidos na

terceira seção deste relatório. Alcançar uma taxa de câmbio real mais desvalorizada

que possibilite um melhor desempenho dos setores transacionáveis, em especial a

indústria, e com isso nos possibilite maior inserção externa e uma estrutura

produtiva que gere maior potencial de ganhos de produtividade e de crescimento

econômico, depende, no longo prazo, essencialmente da elevação da taxa de

poupança. Assim, sustentar, a longo prazo, a desvalorização cambial ocorrida em

função das mudanças no cenário externo, requer ampliação da taxa de poupança

doméstica para o qual o aumento da poupança pública é peça central.

1.6. Considerações finais

Os estudos desenvolvidos ao longo deste trabalho mostraram que:

(i) A taxa de câmbio possui forte influência sobre o crescimento

econômico, tanto para a análise de dados em painel para diversos

países, como para os dados da economia brasileira, seja para a série

anual seja trimestral. Na análise trimestral em que se considerou como

o impacto do câmbio se dissipa ao longo do tempo em termos de

crescimento do produto, verificou-se que o crescimento acumulado do

PIB brasileiro em 20 trimestres, após uma desvalorização do câmbio da

ordem de 17%, é da ordem de 4% o que é bastante expressivo e

possibilita um tempo necessário para que seja feitos ajustes na

economia que permitam a elevação das taxas de poupança domestica;

(ii) Os estudos sobre os fatores que influenciam a determinação da taxa

de câmbio e sua relação com o mercado financeiro mostraram a

primazia do diferencial da taxa de juros (DI em relação a LIBOR).

Mostrou-se que os mecanismos de arbitragem se dão do mercado

futuro para o mercado à vista e que um conjunto de variáveis podem

influenciar a taxa de câmbio seja por serem incorporadas ao diferencial

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de juros seja pela expectativa do câmbio futuro. A taxa de câmbio

ainda sofre influência de diversas variáveis: o risco-pais, o preço de

commodities, o índice de preços, entre outras. Deve-se sempre lembrar

que a longo prazo a taxa de câmbio é definida pelas condições de

oferta e demanda do país que no modelo de determinação da taxa de

câmbio acabam sendo captadas pelo diferencial da taxa de juros;

(iii) E, por fim, verificou-se o impacto da taxa de câmbio sobre os preços de

produtos importados, preços no atacado e preços ao consumidor, além

do impacto em preços industriais setoriais. Verificou-se que o repasse

é incompleto e que este é relativamente baixo frente aos benefícios

que um câmbio mais desvalorizado pode provocar em termos de

crescimento econômico.

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2. Crescimento econômico e a taxa de câmbio.5

Uma questão que frequentemente se coloca é qual influência da taxa de

câmbio sobre o crescimento econômico. Diversos analistas destacam que uma taxa

de câmbio mais desvalorizada tende a ampliar a competitividade da economia e,

portanto, o seu crescimento econômico. Mas, quais são os determinantes da taxa de

câmbio, como mantê-la em um patamar mais desvalorizado? Como argumentou-se,

na seção introdutória, a taxa de câmbio no curto prazo é determinada basicamente

por fatores financeiros e, no longo prazo, reflete as condições de equilíbrio entre a

demanda doméstica e a capacidade de oferta. Em última instância, reflete o

comportamento das oportunidades de investimento e a poupança doméstica. Assim,

níveis mais elevados de poupança doméstica, que possibilitassem maiores taxas de

investimento sem o recurso a poupança externa, definiriam taxas de câmbio mais

desvalorizadas e maiores taxas de crescimento.

Algumas evidências e teorias apontam que a taxa real de câmbio é uma das

variáveis relevantes na determinação do desempenho econômico. Por exemplo,

Hausmann, Pritchett e Rodrik (2005) identificam 83 episódios de aceleração do

crescimento em que a taxa de crescimento do produto per capita eleva-se em 2 p.p.

ou mais sustentando-se neste nível mais elevado por, pelo menos, oito anos. Os

autores constatam que há forte desvalorização do câmbio anos antes dos episódios

de crescimento. Rodrik (2008) encontra evidências de que o câmbio desvalorizado

estimula o crescimento. Essa relação para o caso brasileiro pode ser ainda mais

relevante visto que as evidências encontradas por Rodrik (2008) apontam que o

câmbio é mais importante na determinação do crescimento econômico em países

em desenvolvimento.

Os dados para a economia brasileira parecem favorecer a noção de que

desvalorizações da taxa de câmbio estimulam o crescimento econômico.

Desconsiderando o período da crise econômica internacional (a partir de 2007),

depreciações cambiais estiveram relacionadas a períodos de aceleração, em geral.

5 Esta seção é um resumo do estudo desenvolvido por Luciano Nakabashi, Prof. Doutor do

Departamento de Economia da FEARP-USP, e por Guilherme Byrro Lopes, mestre em Economia

Aplicada da FEARP-USP.

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2.1. Os canais de influência da taxa de cambio sobre o

crescimento econômico

A literatura ressalta que o câmbio possui um efeito relevante sobre o

crescimento por três vias: 1) câmbio afeta a relação entre poupança doméstica e

investimento, sendo que a taxa de poupança doméstica é a principal determinante

da taxa de investimento no longo prazo; 2) câmbio impacta o desempenho do setor

externo via balança comercial, com efeitos sobre o desempenho econômico via

restrição externa (crescimento com restrição no balanço de pagamentos); 3) câmbio

altera a estrutura da economia. Se os setores mais dinâmicos e com maior potencial

de crescimento e encadeamento são os mais afetados, ocorrem mudanças no

potencial de crescimento.

Em relação a primeira via, sabe-se que no longo prazo, a taxa de poupança

doméstica é a variável mais importante na determinação da taxa de investimento

doméstica (Feldstein e Horioka, 1980). Desse modo, se a apreciação cambial está

relacionada a uma redução da poupança doméstica (e aumento da participação da

poupança externa), o efeito no longo prazo (média dos períodos) pode ser de uma

redução na taxa de investimento. Apesar dos efeitos benéficos sobre os

investimentos no curto prazo, a utilização de poupança externa com o consequente

aumento do passivo externo, gera incertezas e necessidade de envio de divisas

(pagamento de juros e lucros) que reduzem o potencial de crescimento futuro.

A necessidade de captação de poupança externa ocorre quando tem-se uma

elevação da demanda por investimentos sem o aumento da poupança doméstica o

que tende a elevar a taxa de juros e apreciar a taxa de câmbio. Deve-se notar,

porém, que esse processo pode se dar também por retração da poupança

doméstica, seja por elevação do consumo das famílias seja da administração

pública. No Brasil tem-se verificado que os momentos de deterioração do saldo em

transações correntes estão associados tanto a elevações da taxa de investimento

quanto a retrações da poupança doméstica.

A apreciação cambial tende a estimular o consumo pela elevação do salário

real em detrimento dos lucros dos exportadores e dos produtores que concorrem

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com os importados. Se esse for o caso (aumento do consumo e redução dos lucros),

ocorre uma redução da taxa de poupança doméstica reduzindo a capacidade de

investimento e de crescimento econômico. Assim, políticas voltadas para a

desvalorização cambial podem induzir, durante um certo período, elevações da taxa

de poupança doméstica, desde que consigam provocar a redução do consumo das

famílias (pela redução do poder de compra) e o aumento da poupança das

empresas pelo aumento dos lucros. Se durante o período em que se consiga uma

maior taxa de poupança em função do câmbio desvalorizado se realizem mudanças

nos fundamentos que possibilitem aumentos permanentes na taxa de poupança

doméstica, esta política pode induzir ganhos mais duradouros na taxa de

crescimento econômico.

O segundo canal considerado para a influência da taxa de câmbio sobre o

desempenho econômico é pela influência sobre o saldo da balança comercial. A

literatura destaca que, sendo válidas as condições de Marshall-Lerner, depreciações

reais da taxa de câmbio provocariam aumento das exportações líquidas. Vários

estudos empíricos mostram que essa relação é satisfeita, como Krugman e Baldwin

(1987) para a economia norte-americana, Gupta-Kapoor e Ramakrishnan (1999)

para a economia japonesa, Boyd, Caporale e Smith (2001) para os países da OCDE,

Onafowora (2003) para os países do leste asiático, além de Gomes e Lourenço

(2005) para a economia brasileira. A figura a seguir mostra que esta relação se

verifica no caso brasileiro, como já discutido na primeira seção deste relatório.

Figura 2.1 Taxa real de câmbio (eixo direito) e saldo da balança comercial (eixo

esquerdo)

50

70

90

110

130

150

-20,0

0,0

20,0

40,0

60,0 Taxa real d

e câm

bio

Bilh

õe

s U

S$

Balança comercial US$ (milhões 2012)Taxa de câmbio efetiva real - INPC - exportações manufaturados (média 12 meses)Taxa de câmbio efetiva real - INPC - exportações (média 12 meses)

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Fonte: elaboração própria a partir de dados do IPEA e Funcex.

Algumas evidências e teorias apontam que existe uma relação entre

crescimento econômico e desempenho da balança comercial e da conta corrente.

De acordo com essa abordagem é fundamental um bom desempenho do setor

exportador para manter a conta corrente equilibrada quando há um nível adequado

de investimentos e de crescimento (THIRLWALL, 1979; MCCOMBIE e THIRLWALL,

1994; THIRLWALL, 2011). Se esse for o caso, o câmbio é uma variável importante

na determinação do desempenho econômico.

Vários estudos já testaram empiricamente a relação entre restrição externa e

desempenho econômico, encontrando uma relação significativa entre essas

variáveis. Por exemplo, Bértola, Higachi e Porcile (2002) fazem uso do modelo mais

simples e encontram uma relação de longo prazo entre o desempenho do PIB

brasileiro, os termos de troca e o crescimento da renda mundial, no período 1890-

1973, favorecendo a Lei de Thirlwall.

Na análise do período 1955-1998, Jayme Jr. (2003), utilizando o método de

cointegração em séries temporais, encontra que há cointegração entre o

crescimento das exportações e o crescimento econômico, indicando a validade do

modelo de Thirlwall. Ferreira e Canuto (2003) consideram os efeitos das remessas

de lucros, dividendos e pagamentos de juros sobre a restrição externa e concluem

que estas reduziram o crescimento médio anual da economia brasileira em 1%, no

período 1949-1999.

Em um estudo relacionando os parâmetros estruturais do modelo de Thirlwall

(1979) e a restrição externa em diferentes subperíodos de 1930-2004, Carvalho e

Lima (2009) também apresentam evidência da relevância das restrições externas

sobre o crescimento da economia brasileira. Porcile, Curado e Bahry (2003) e

Barbosa-Filho (2004) empregam o modelo de Thirlwall para analisar questões de

curto prazo. Os primeiros combinam o modelo de Thirlwall com o conceito

minskyano de fragilidade financeira adaptado para uma economia aberta para

analisar a conjuntura econômica latino-americana, enquanto o segundo tem como

objetivo estudar o trade-off entre crescimento e taxa de câmbio.

Os resultados apresentados por Barbosa-Filho (2004) indicam que para

elevar a taxa de crescimento da renda da economia brasileira em 1% seria

necessária uma desvalorização cambial de 7% para que a razão saldo da balança

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comercial/PIB se mantivesse constante. Bagnai (2010) encontra evidências de que a

restrição externa é relevante na determinação do crescimento de 22 países da

OCDE, entre 1960 e 2006. Os resultados de Holland, Vieira e Canuto (2004) para

uma amostra de dez países latino-americanos, entre 1950-2000, também dão

suporte para a hipótese de que o desempenho das contas externas é fundamental

para o desempenho econômico.

Além de relaxar a restrição externa, o crescimento das exportações favorece

o crescimento econômico por meio de outras vias. A primeira delas seria o

descolamento entre o consumo e a produção domésticos. Esse processo de

descolamento possibilita uma elevação da produção de bens de maior conteúdo

tecnológico com destino aos países desenvolvidos de acordo com Eichengreen

(2008). Isso ocorre porque a demanda interna de países em desenvolvimento tende

a ser direcionada, principalmente, para bens de baixo valor agregado e reduzido

conteúdo tecnológico como consequência do baixo nível de renda média da

população. A segunda via é que o aumento da oferta de bens para a economia

mundial não tem efeitos significativos nos preços devido ao tamanho do mercado

mundial em relação à economia doméstica, ou seja, um crescimento dos bens

exportados não teria impactos negativos relevantes sobre seus respectivos níveis de

preço (Eichengreen, 2008). A terceira via é formada pelos maiores ganhos de

produtividade do setor exportador provenientes do processo de absorção de

tecnologia do resto do mundo e por seu maior potencial de learning by doing quando

se compara aos demais setores da economia (Eichengreen, 2008).

Tomando este último ponto tem-se o terceiro canal por onde a taxa de câmbio

pode influenciar o crescimento econômico. O setor exportador reflete quais os

setores da economia são mais competitivos. Desse modo, mudanças em sua

composição causam alterações em sua estrutura produtiva, provocando mudanças

em seu desempenho econômico dependendo do grau de dinamismo e

encadeamento dos segmentos que estão perdendo e dos que estão ganhando

participação. No Brasil, onde os recursos naturais são abundantes e, desse modo,

onde a produção de bens primários é naturalmente competitiva, períodos de

valorização cambial prejudicam, sobretudo, os manufaturados. Isso justifica a

preocupação de muitos analistas econômicos com as mudanças estruturais pela

qual a economia brasileira vem passando, com perda de participação relativa de

setores mais dinâmicos – como a indústria – no PIB e no emprego, principalmente a

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partir de meados dos anos 80. Alguns exemplos são os estudos realizados por

Meyer e Paula (2009), Marconi (2008), Cruz et al. (2007), Palma (2005), Feijó,

Carvalho e Almeida (2005) e Bresser e Nakano (2003).

No próximo item desta seção serão estimados alguns modelos para verificar a

influência da taxa de câmbio sobre o crescimento econômico.

2.2. Relação empírica entre câmbio e desempenho

econômico

A presente seção busca analisar a relação entre taxa real de câmbio (RER –

Real Exchange Rate) e desempenho econômico (taxa real de crescimento do PIB).

A primeira parte da análise verifica a relação entre taxa de câmbio e crescimento

para uma série de países utilizando a metodologia proposta por Rodrik (2008),

atualizando o período de análise e utilizando dados da Penn World Tables 7.1

(PWT). A segunda verifica essa relação focando apenas nos dados da economia

brasileira. Os dados de desempenho são taxa de crescimento do PIB, taxa de

crescimento do PIB da indústria e taxa de crescimento da indústria de transformação

(dados anuais e trimestrais).

Os resultados encontrados indicam que o câmbio é uma variável relevante

para explicar o desempenho econômico. Comparativamente, os efeitos são mais

importantes para o Brasil em relação aos resultados encontrado com a utilização da

amostra de vários países.

2.2.1. Análise de regressão dos dados: série de países

Nessa primeira parte, estimamos a taxa de câmbio real para vários países de

acordo com a metodologia utilizada por Rodrik (2008)6. As regressões foram

estimadas para um grupo de 188 países entre 1950 e 2010. Os dados foram

retirados das Penn World Tables 7.1. Após a estimação da taxa real de câmbio, a

6 A metodologia e os resultados da estimação da taxa de câmbio se encontram em anexo.

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análise consiste em estimar os efeitos do câmbio sobre a taxa de crescimento do

PIB per capita. A equação base empregada para a estimação dos coeficientes é a

seguinte:

(1)

Onde é a média da taxa de crescimento de cada intervalo de cinco

anos, é o ln do nível de renda per capita (média cinco anos),

é o ln da taxa real de câmbio calculada anteriormente (média cinco

anos), corresponde a série de dummies para cada país com o intuito de capturar

o efeito fixo, é o conjunto de dummies de tempo e o é o termo de erro

estocástico. Na sequência, apresentamos na Tabela 2.3.1 a estimação da taxa real

de câmbio ( ) realizada pelo método de Efeitos Fixos (EF)7.

Os resultados apresentados na Tabela 2.1 são semelhantes aos

apresentados na Tabela A.2 (em anexo), onde a taxa real de câmbio foi estimada

por MQO (no presente caso também foram detectados problemas de autocorrelação

e heterocedasticidade), com a diferença que os coeficientes da taxa real de câmbio

se elevaram e são significativos em todos os casos. De acordo com os resultados

apresentados nas duas últimas colunas (já corrigido para os problemas de

heterocedasticidade e autocorrelação), uma desvalorização da taxa de câmbio em

50% levaria a um aumento da taxa de crescimento do PIB per capita em cerca de

0,85 p.p. ao ano. Assim, um país que tivesse uma taxa de crescimento de 2% ao

ano e experimentasse uma desvalorização de 50% de sua moeda passaria a crescer

a uma taxa média esperada de 2,85% ao ano, mantendo tudo mais constante.

Considerando que a taxa de crescimento média do PIB per capita dos países foi de

2,41% ao ano, no período analisado, essa elevação de 0,85 p. p. equivale a um

aumento de 35% nessa taxa. Cabe ressaltar que o efeito é temporário, como ficará

claro na análise do caso brasileiro apresentada na próxima subseção.

7 Também foi estimada a taxa real de câmbio (ln〖UNDERVAL〗_it) por MQO (dados empilhados) para fins

de comparação visto que esse foi o método utilizado por Rodrik (2008) Os resultados estão em anexo. Os testes

estatísticos indicam que o método de Dados em Painel é mais adequado para estimar a taxa real de câmbio.

Assim, os resultados apresentados na Tabela 7 são os mais indicados. De qualquer forma, os resultados

apresentados em ambas as tabelas mostram a importância do câmbio para o crescimento dos países analisados.

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Tabela 2.1 - taxa de crescimento real do PIB per capita e taxa real de câmbio

Variável dependente: taxa de crescimento do PIB per capita – média 5 anos

EF (SD) EF (CD) EF (CD)

R

EF (SD) AR GLS (SD) GLS (CD)

Coeficiente

lnunderval2

0.0110 0.0103 0.0103 0.0144 0.0171 0.0166

desvio padrão (0.0036) (0.0035) (0.0042) (0.0049) (0.0027) (0.0025)

teste t (3.03)*** (2.93)*** (2.46)*** (2.96)*** (6.45)*** (6.52)***

Coeficiente

laglnrgdpch

-0.0214 -0.0325 -0.0325 -0.0436 0.0010 0.0017

desvio padrão (0.0026) (0.0035) (0.0049) (0.0042) (0.0006) (0.0006)

teste t (8.25)*** (9.36)*** (6.61)*** (10.47)*** 1.61 (2.86)***

Constante 0.201 0.270 0.270 0.388 0.015 0.009

desvio padrão (0.021) (0.027) (0.037) (0.023) (0.005) (0.005)

teste t (9.37)*** (10.08)*** (7.21)*** (16.53)*** (2.88)*** (1.72)*

teste F 41.17 16.47 17.4 63.69 42.34 249.21

P-valor (0.0000)*** (0.0000)*** (0.0000)*** (0.0000)*** (0.0000)*** (0.0000)***

R2 0.0579 0.1294 0.1294 0.0994

Observações 1529 1529 1529 1342 1528 1528

Teste de Wald para

heterocedasticidade

8.00E+06 3.10E+05

P-valor (0.0000)*** (0.0000)***

Teste de Wooldridge

para autocorrelação

44.619

P-valor (0.0000)***

Teste F para todo ui =

0

3.46 3.7 2.22

P-valor (0.0000)*** (0.0000)*** (0.0000)***

corr(u_i, Xb) -0.7778 -0.8547 -0.8547 -0.9034

Notas: (***) significativo a 1%. (**) Significativo a 5%. (*) Significativo a 10%.

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EF (SD): estimação pelo método de Efeitos Fixos sem dummies de tempo. EF (CD): estimação pelo método de Efeitos Fixos com o emprego de dummies de tempo. EF (CD) R: estimação pelo método de Efeitos Fixos com o emprego de dummies de tempo e erros robustos para correção de problemas de heterocedasticidade e, em menor grau, não-normalidade dos erros. EF (SD) AR: estimação pelo método de Efeitos Fixos sem dummies de tempo com transformação do modelo para corrigir problemas de autocorrelação de primeira ordem do termo de erro. GLS (SD): estimação por painel sem dummies de tempo, corrigindo para problemas nos erros de heterocedasticidade, autocorrelação de primeira ordem e correlação contemporânea entre as unidades de corte. GLS (CD): estimação por painel com o emprego de dummies de tempo, corrigindo para problemas nos erros de heterocedasticidade, autocorrelação de primeira ordem e correlação contemporânea entre as unidades de corte.

A Tabela 2.2 apresenta os resultados das equações de regressões separando

as estimativas de acordo com o nível médio de renda per capita (RGDPCH). A

amostra foi dividida em quatro grupos de países para verificar se o câmbio real é

mais relevante para os países menos desenvolvidos, como sugerido pelos

resultados apresentados por Rodrik (2008), sendo eles: 1) com renda real per capita

menor que U$ 2.000,00; 2) com renda real per capita menor que U$ 5.000,00; 3)

com renda real per capita menor que U$ 10.000,00; 4) com renda real per capita

maior que U$ 10.000,00. As estimações já estão corrigidas para os problemas de

heterocedasticidade e autocorrelação e foram feitas com e sem as dummies de

tempo. Cabe lembrar que a renda real per capita (pela paridade do poder de

compra) é a média do período 1955-2010. Por exemplo, de acordo com os dados da

PWT, a média dessa variável para o Brasil é de U$ 5.202,46.

Os resultados indicam que o câmbio é mais importante para estimular o

crescimento dos países menos desenvolvidos. Por exemplo, uma desvalorização

cambial de 10% elevaria, em média, a taxa de crescimento dos países com renda

inferior a U$ 2.000,00 em 0.25 p.p. ao ano, enquanto o efeito sobre os países

desenvolvidos seria de 0.12 p. p. ao ano. Uma possível explicação para esse

fenômeno, como ressaltado por Rodrik (2008) é que em países menos

desenvolvidos as instituições são de pior qualidade penalizando o setor de bens

transacionáveis e as desvalorizações cambiais seriam medidas para compensar o

fraco arcabouço institucional.

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Tabela 2.2 - taxa de crescimento real do PIB per capita separada por nível de renda média do período 1955-2010 e taxa real de câmbio (esta sendo estimada por Efeitos Fixos)

Variável dependente: taxa de crescimento do PIB per capita – média 5 anos

RGDPCH < 2,000 RGDPCH < 5,000 RGDPCH < 10,000 RGDPCH > 10,000

GLS

(SD)

GLS

(CD)

GLS

(SD)

GLS

(CD) GLS (SD)

GLS

(CD)

GLS

(SD)

GLS

(CD)

Coeficiente

lnunderval 2 0.0260 0.02375 0.01864 0.01636 0.01384 0.01255 0.00210 0.01293

desvio padrão 0.00398 0.00423 0.00356 0.00350 0.00322 0.00319 0.00388 0.00476

teste t (6.54)*** (5.62)*** (5.24)*** (4.67)*** (4.30)*** (3.93)*** 0.54 (2.71)***

Coeficiente

laglnrgdpch

-

0.0061 -0.0072 -0.0004 -0.0020 0.0008 -0.0004 -0.0223 -0.0273

desvio padrão 0.0034 0.0035 0.0016 0.0017 0.0012 0.0012 0.0015 0.0018

teste t (1.77)* (2.05)** -0.26 -1.18 0.65 -0.33 (15.31)*** (15.29)***

Constante 0.0534 0.0550 0.0202 0.0215 0.0135 0.0149 0.2467 0.2842

desvio padrão 0.0233 0.0233 0.0120 0.0122 0.0091 0.0092 0.0142 0.0163

teste t (2.29)** (2.36)* (1.68)* (1.76)* 1.48 (1.62)* (17.34)*** (17.45)***

teste Wald

chi2 43.78 46.11 27.46 45.59 19.17 31.49 314.15 327.44

P-valor (0.000)*

** (0.000)*** (0.000)*** (0.000)*** (0.0001)*** (0.000)*** (0.000)*** (0.000)***

Observações 468 468 818 818 1076 1076 452 452

Notas: (***) significativo a 1%. (**) Significativo a 5%. (*) Significativo a 10%. GLS (SD): estimação por painel sem dummies de tempo, corrigindo para problemas nos erros de heterocedasticidade, autocorrelação de primeira ordem e correlação contemporânea entre as unidades de corte. GLS (CD): estimação por painel com o emprego de dummies de tempo, corrigindo para problemas nos erros de heterocedasticidade, autocorrelação de primeira ordem e correlação contemporânea entre as unidades de corte.

2.2.2. Séries de dados da análise para o Brasil

Na sequência será feita a análise da relação entre taxa real de câmbio e

crescimento econômico para a economia brasileira. Para a taxa real de câmbio

utilizou-se o trabalho de Marçal (2011) que utiliza os índices de preços ao

consumidor dos parceiros comerciais e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor

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Amplo (IPCA) brasileiro8. Pode-se verificar na figura a seguir que, exceto em

determinados períodos (sobretudo nos anos 1970), pode-se observar uma relação

entre as variáveis.

Figura 2.2. Taxa real de câmbio (eixo esquerdo) e desempenho econômico

(eixo direito)

Fonte: elaboração própria a partir de dados de Marçal e IBGE.

Para verificar a influência do câmbio estimou-se o chamado desalinhamento

cambial que corresponde a diferença deste em relação a qual seria a taxa de câmbio

de equilíbrio. Marçal (2011) calcula esta variável para a economia brasileira com

base na metodologia de Kubota (2009) e Faruqee (1995) a partir dos fundamentos

da economia. O autor utiliza as seguintes variáveis: câmbio real, passivo externo

líquido, termos de troca, produtividade relativa entre bens transacionáveis e não

transacionáveis e diferencial de juros reais. Na análise, ele considera que melhores

termos de troca possibilitam um câmbio real mais apreciado sem acúmulo de

desequilíbrio externo. Em relação aos passivos externos líquidos, como estes não

podem ser sustentados de forma crescente e duradoura, aumentos desta variável

devem induzir a depreciação. O diferencial de produtividade entre o setor de

transacionáveis e o de não comercializáveis tende também a afetar a taxa real de

câmbio (efeito Balassa-Samuelson). Os ganhos de produtividade elevam a produção

8 Dados fornecidos pelo autor Marçal, a quem gostaríamos de agradecer.

-10,0

-5,0

0,0

5,0

10,0

15,0

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

RER2 PIB - var. real anualTaxa real de câmbio PIB var. real anual

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e a demanda por trabalho e os salários, provocando a valorização da taxa real de

câmbio. E, por fim, o diferencial de juros pode contribuir para a valorização cambial.

Com base nessas variáveis o autor estimou o que seria a taxa real de câmbio

de equilíbrio, de tal forma que quando o câmbio se encontra acima daquele baseado

nos fundamentos significa que o câmbio está desvalorizado, enquanto o câmbio está

valorizado quando ocorre o oposto. Desse modo, a diferença entre as duas variáveis

indica qual a magnitude do desalinhamento cambial.

Figura 2.3. Câmbio Real e Câmbio baseado nos Fundamentos (índice)

Fonte: elaboração própria a partir de dados de Marçal.

Como a taxa de câmbio baseada nos fundamentos tende a variar menos que

o nível da taxa real de câmbio, o comportamento desta última tende a ser o principal

determinante do desalinhamento cambial, como pode ser visto na figura a seguir.

90,00

110,00

130,00

150,00

170,00

190,00

19

70

19

71

19

72

19

73

19

74

19

75

19

76

19

77

19

78

19

79

19

80

19

81

19

82

19

83

19

84

19

85

19

86

19

87

19

88

19

89

19

90

19

91

19

92

19

93

19

94

19

95

19

96

19

97

19

98

19

99

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

20

11

20

12

RER2 Fundamentos 2Taxa real de câmbio Fundamentos

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Figura 2.4. Taxa real de câmbio (eixo esquerdo) e desalinhamento cambial

(eixo direito)

Fonte: elaboração própria a partir de dados de Marçal

2.2.3. Análise de regressão: resultados para o Brasil

A seguir apresentamos uma série de resultados de regressões relacionando

variações no nível do câmbio real e taxa de crescimento da economia. Cabe lembrar

que o câmbio é um índice para o nível dessa variável, enquanto a variável explicada

se encontra em taxa de crescimento (pontos percentuais por ano). A análise foi

realizada para o período 1981-2012.

Todas as séries são estacionárias ao nível de 5% de significância, exceto pela

taxa de câmbio (não seria nem a 10%). Esse motivo explica a decisão em se utilizar

as duas séries (taxa real de câmbio e desalinhamento cambial) como variáveis

explicativas.

Pode-se verificar que os coeficientes do câmbio real e do desalinhamento cambial

são positivos e significativos (Tabela 2.3.3). Considerando que há problema de

autocorrelação nos dois casos, os resultados mais confiáveis são aqueles

apresentados na quarta e sétima colunas.

Focando nos resultados dessas duas colunas, uma elevação de um desvio

padrão do índice da taxa efetiva de câmbio (27,23) teria um efeito sobre a taxa de

crescimento de 1,13 p.p. ao ano, sendo esse efeito considerável. Já uma elevação

de um desvio padrão no desalinhamento cambial (20,08) elevaria a taxa de

-40,0%

-30,0%

-20,0%

-10,0%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

140,0

160,0

180,0

200,01

97

0

19

72

19

74

19

76

19

78

19

80

19

82

19

84

19

86

19

88

19

90

19

92

19

94

19

96

19

98

20

00

20

02

20

04

20

06

20

08

20

10

20

12

Ce

nte

nas

RER2

Desalinhamento cambial

Taxa real de câmbio

Desalinhamento Cambial (%)

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crescimento do PIB em 1,03 p.p. ao ano. Desse modo, se a taxa de crescimento

estivesse em 3%, passaria para 4,03%, ceteris paribus (lembrar que as variáveis

explicativas estão defasadas em 1 ano). O efeito é elevado, mas como ficará claro

na análise de dados trimestrais, ele é temporário. Desse modo, o efeito do câmbio é

relevante em um curto período de tempo, mas limitado em períodos mais longos9

Tabela 2.3. Resultados das regressões para o período 1981-2012: PIB total da economia

Variável dependente: taxa real de crescimento do PIB

MQO MQO R

Prais-

Corc MQO MQO R

Prais-

Corc

Coeficiente taxa de

câmbio 0.0362 0.0362 0.0415

desvio padrão (0.0198) (0.0145) (0.0207)

teste t (1.83)* (2.51)** (2.01)*

Coeficiente

desalinhamento 0.0351 0.0351 0.0511

desvio padrão

(0.0280) (0.0224) (0.0294)

teste t

(1.25) (1.57) (1.74)*

Constante -2.304 -2.304 -2.750 2.349 2.349 2.551

desvio padrão (2.713) (2.075) (2.835) (0.577) (0.575) (0.652)

teste t (0.85) (1.11) (0.97) (4.07)*** (4.09)*** (3.91)***

teste F 3.34 6.28 4.04 1.57 2.45 3.02

P-valor (0.0775)* (0.0179)** (0.0539)* (0.2193) (0.1278) (0.0931)*

R2 0.1002 0.1002 0.1222 0.0498 0.0498 0.0942

Observações 32 32 31 32 32 31

teste heteroced (BP) 0.13

0.02

P-valor (0.7227)

(0.8849)

teste autocorrelação

(DW) 1.494

1.494 1.473

1.473

Rho

0.182

0.202

DW corrigido

2.070

2.098

9 Na análise com dados trimestrais, foi possível utilizar a metodologia VAR para analisar a relação entre as

variáveis devido ao maior número de observações em relação à análise com dados anuais. O emprego dessa

metodologia é importante porque explicita os efeitos entre as variáveis ao longo do tempo, apontando com maior

precisão os efeitos de longo prazo de uma variável sobre a outra.

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47

teste normalidade

(Skewness/Kurtosis) 0.89

1.37

P-valor (0.642)

(0.504)

Notas: (***) significativo a 1%. (**) Significativo a 5%. (*) Significativo a 10%.

MQO: estimação por Mínimos Quadrados Oridinários. MQO R: estimação com erros robustos para

corrigir problemas de heterocedasticidade e, em menor grau, não normalidade dos erros (estimadores

Huber-White sandwich). Prais-Corcn: estimação com o modelo transformado (transformação

Cochrane-Orcutt) para corrigir problemas de correlação do termo de erro do tipo AR1 (Mínimos

Quadrados Generalizados - MQG). Esse método não recupera a primeira observação, ou seja, perde-

se uma observação na transformação do modelo. Ele foi utilizado por melhorar o DW do modelo

transformado em relação ao método que recupera a primeira observação.

O mesmo teste foi realizado considerado o PIB da indústria, uma vez que este

se trata de um setor mais exposto a concorrência internacional. Portanto, a taxa de

câmbio tenderia a ter um efeito maior sobre a sua dinâmica. Além do problema da

autocorrelação, foi detectado, pelos testes realizados, o problema de não

normalidade dos resíduos. Para amenizar tais problemas, optou-se por utilizar o

método dos mínimos quadrados iterativos com redistribuição de pesos (Iteratively

Reweighted Least Squares – IRLS). Esse método consiste em proceder a regressão

por MQO e desconsiderar os valores residuais muito elevados, sendo adequado

para reduzir problemas de heterocedasticidade e não normalidade dos erros. A

correção de autocorrelação pelo método de Prais-Winsten é realizada com erros

robustos para amenizar o problema de não normalidade e heterocedasticidade.

O que se percebe é uma elevação considerável dos efeitos de variações do

câmbio real e do desalinhamento cambial sobre o desempenho da indústria quando

se compara com a economia como um todo (Tabela 2.4). Uma elevação de um

desvio-padrão na taxa de câmbio e no desalinhamento cambial teria o efeito de

elevar o crescimento da indústria em 2,37 p.p. a 3,18 p.p. e 2,23 p.p. a 2,99 p.p.,

respectivamente.

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48

Tabela 2.4 – resultados das regressões para o período 1981-2012: PIB da indústria Variável dependente: taxa real de crescimento do PIB da indústria

MQO MQO RR

Prais-

Winsten* MQO

MQO

RR

Prais-

Winsten*

Coeficiente taxa de

câmbio 0.1110 0.0870 0.1168

desvio padrão (0.0542) (0.0407) (0.0405)

teste t (2.05)** (2.13)** (2.88)***

Coeficiente

desalinhamento 0.1393 0.1111 0.1488

desvio padrão

(0.0753) (0.0563) (0.0594)

teste t

(1.85)* (1.97)* (2.50)**

Constante -13.625 -9.140 -14.411 0.450 1.924 0.372

desvio padrão (7.419) (5.578) (6.198) (1.554) (1.161) (1.790)

teste t (1.84) (1.64) (2.33)** (0.29) (1.66) (0.21)

teste F 4.2 4.55 6.13 3.42 3.9 4.73

P-valor (0.049)** (0.041)** (0.006)*** (0.074)* (0.058)* (0.016)**

R2 0.1227

0.1202 0.1023

0.1016

Observações 32 32 32 32 32 32

teste heteroced. (BP) 0.99

0.98

P-valor (0.319)

(0.323)

teste autocorrelação

(DW) 1.826

1.826 1.796

1.796

Rho

0.085

0.097

DW corrigido

1.948

1.940

teste normalidade

(Skewness/Kurtosis) 13.95

13.86

P-valor (0.001)

(0.001)

Notas: (***) significativo a 1%. (**) Significativo a 5%. (*) Significativo a 10%. MQO: estimação por Mínimos Quadrados Ordinários. MQO RR: outra versão de regressão com erros robustos. Esse método é conhecido como Mínimos Quadrados Iterativos com Redistribuição de Pesos (Iteratively Reweighted Least Squares – IRLS) e ele consiste em estimar a regressão pelo Método dos Mínimos Quadrados Ordinários (MQO) e desconsiderar os valores residuais muito elevados. Posteriormente, o processo iterativo começa com pesos atribuídos a cada resíduo de modo que os que possuem maiores valores recebam os menores pesos. O processo iterativo termina quando a maior variação de um peso para o outro, na mudança de iteração, não ultrapassa um determinado valor mínimo. Prais-Wisten*: estimação com o modelo transformado (transformação Cochrane-Orcutt) para corrigir problemas de correlação do termo de erro do tipo AR1 (Mínimos Quadrados Generalizados - MQG) e com erros robusta para problemas de heterocedasticidade e, em menor grau, não-normalidade do termo de erro. Esse método recupera a primeira observação usando a transformação Prais-Wisten.

E, por fim, realizou-se o mesmo exercício apenas para o PIB da indústria de

transformação excluindo a indústria extrativa e outros segmentos do setor industrial

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49

que podem apresentar menor sensibilidade a taxa de cambio. É interessante notar

que os testes dos resíduos não indicam problemas, ou seja, não é possível rejeitar

as hipóteses de homocedasticidade, normalidade e mesmo de ausência de

autocorrelação. Desse modo, os resultados utilizando o método MQO (reg) são

apropriados. Os resultados com os demais métodos são apresentados meramente

para fins de comparação.

Observa-se uma elevação considerável do efeito de variações da taxa de

câmbio e do desalinhamento cambial sobre o desempenho da indústria de

transformação quando se compara com a economia como um todo. No entanto, os

efeitos são menores em relação aos resultados apresentados para a indústria. Uma

elevação de um desvio-padrão na taxa de câmbio e no desalinhamento cambial teria

o efeito de elevar o crescimento da indústria de transformação em 2,01 p.p. e 1,72

p.p., respectivamente.

Tabela 2.5. Resultados das regressões para o período 1981-2012: PIB da indústria de transformação Variável dependente: taxa real de crescimento do PIB da indústria de transformação

MQO MQO R

Prais-

Winsten MQO MQO R

Prais-

Winsten

Coeficiente taxa de

câmbio 0,0738 0,0738 0,0724

desvio padrão (0,0350) (0,0251) (0,0320)

teste t (2.11)** (2.94)*** (2.26)**

Coeficiente

desalinhamento 0,0855 0,0855 0,0953

desvio padrão

(0,0491) (0,0406) (0,0451)

teste t

(1.74)* (2.11)** (2.11)**

Constante -8,542 -8,542 -7,993 0,855 0,855 1,204

desvio padrão (4,795) (3,616) (4,388) (1,014) (1,013) (0,936)

teste t (1.78)* (2.36)** (1.82)* (0,84) (0,84) (1,29)

teste F 4,44 8,64 5,12 3,03 4,44 4,46

P-valor 0,0436 0,0063 0,0314 0,0921 0,0435 0,0435

R2 0,1289 0,1289 0,1500 0,0917 0,0917 0,1333

Observações 32 32 31 32 32 31

teste heteroced. (BP) 0,14 0,03

P-valor (0,713) (0,864)

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teste autocorrelação

(DW) 1,887 1,887 1,852 1,852

Rho -0,024 -0,008

DW corrigido 2,017 2,042

teste normalidade

(Skewness/Kurtosis) 0,26 0,55

P-valor (0,877) (0,759)

Notas: (***) significativo a 1%. (**) Significativo a 5%. (*) Significativo a 10%. MQO: estimação por Mínimos Quadrados Ordinários. MQO R: estimação com erros robustos para corrigir problemas de heterocedasticidade e, em menor grau, não normalidade dos erros (estimadores Huber-White sandwich). Prais-Wisten: estimação com o modelo transformado (transformação Cochrane-Orcutt) para corrigir problemas de correlação do termo de erro do tipo AR1 (Mínimos Quadrados Generalizados - MQG). Esse método recupera a primeira observação usando a transformação Prais-Wisten.

Os resultados apresentados na corrente seção indicam que os efeitos de

desvalorizações cambiais são relevantes para acelerar o crescimento do PIB per

capita, mas esses efeitos são pequenos quando considerado o conjunto de países

analisados. Para o Brasil, os efeitos parecem ser significativamente maiores de

acordo com a análise realizada com os dados para a economia brasileira.

A Tabela 2.6 sumariza os efeitos de variações do câmbio e do

desalinhamento cambial sobre a taxa de crescimento do PIB, do PIB da indústria e

do PIB da indústria de transformação.

Tabela 2.6. Efeito do câmbio na taxa de crescimento (pontos percentuais)

Variável Variação de um desvio-padrão

no câmbio

Variação de um desvio-padrão

no desalinhamento

Variação de um 10% no

câmbioa

Crescimento PIB 1,13 1,03 0,55

Crescimento PIB Industrial 3,18 2,99 1,55

Crescimento PIB Ind Transf 2,01 1,72 0,98

Notas: a: variação de 10% é em relação à média da variável no período: 133,27 entre 1980 e 2012. Fonte: elaboração própria a partir de dados de Marçal e IBGE

2.2.4. Análise para o Brasil com dados trimestrais

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51

Esta seção buscou completar a seção anterior com base em dados

trimestrais, os dados de taxa real de câmbio foram obtidos junto ao IPEADATA e as

taxas de crescimento trimestral do PIB no IBGE (SIDRA). O período de análise foi do

primeiro trimestre de 1980 ao primeiro trimestre de 2013. O objetivo da utilização de

dados trimestrais é aumentar o número de observações para que os resultados

sejam mais confiáveis em relação à analise realizada anteriormente com dados

anuais. Adicionalmente, a elevação de grau de liberdades permite aprofundar a

análise com a utilização do método de estimação VAR (Vector AutoRegressive

models).

A análise com dados trimestrais possui forte influência de fatores conjunturais

que acrescentam grande volatilidade às séries. O fato da taxa de câmbio apresentar

maior volatilidade no curto prazo enquanto a resposta do produto ocorrer em

períodos mais longos pode prejudicar a análise. Isto é, quando sucedem mudanças

bruscas e transitórias da taxa de câmbio não deverá haver efeitos sobre a taxa de

crescimento do PIB. Adicionalmente, considerando que em um período de três

meses a taxa de crescimento do PIB está variando por uma série de fatores

conjunturais, a relação entre as variáveis pode ser ainda mais difícil de ser captada.

Por fim, ainda existe a possibilidade de que problemas na economia afetem

negativamente a taxa de crescimento, provocando fugas de capitais, o que

pressiona para a ocorrência de uma depreciação cambial, levando a uma relação

negativa entre as variáveis. Para contornar esses problemas, optamos por utilizar

média móvel de quatro trimestres das duas variáveis, o que tende a eliminar parte

dos fatores conjunturais na flutuação das variáveis consideradas, além da relação

negativa entre as variáveis.

Na Figura 2.5. podemos verificar a evolução das duas séries no período do

primeiro trimestre de 1980 ao primeiro de 2013, sendo que a evolução de ambas é

da média móvel de quatro trimestres. Visualmente, parece ocorrer uma relação entre

as variáveis em alguns momentos, sobretudo nos anos 1980 e primeira metade dos

anos 2000. Cabe lembrar que existe uma defasagem na interação entre as variáveis

pelos dados serem trimestrais, mesmo sendo médias móveis.

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Figura 2.5. Câmbio real e taxa real de crescimento do PIB – média móvel 4

trimestres

Fonte: elaboração própria com base nos dados do IBGE e do IPEA.

Os testes de causalidade de Granger entre taxa real de câmbio e taxa real de

crescimento do PIB indicam que o efeito vai mais do câmbio para o crescimento,

apesar de um possível efeito feed-back do crescimento para o câmbio quando se

considera a primeira defasagem e com o câmbio em logaritmo natural10.

Na Tabela 2.7. encontram-se os resultados das estimações do câmbio real

sobre a taxa real de crescimento do PIB. As séries são compostas por médias

móveis de quatro trimestres. Pelos resultados apresentados, verificamos a

importância da primeira e segunda defasagem do câmbio real sobre a taxa de

crescimento econômico. A magnitude do efeito também é importante.

Por exemplo, considerando que a média anualizada do crescimento foi de

2,6% e que o câmbio médio foi de 95,77, no período analisado, uma elevação de um

desvio padrão no câmbio real (o que equivale a uma elevação de 17%) teria um

impacto sobre a taxa de crescimento real em 0,8 pontos percentuais, considerando o

coeficiente estimado pelo primeiro método e com uma defasagem. Portanto, a

economia passaria de um crescimento de 2,6% a.a. para uma taxa de 3,4% a.a., o

10

Os resultados não foram apresentados por um questão de espaço, estando disponíveis com os autores se

solicitados.

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

-10,0%

-7,5%

-5,0%

-2,5%

0,0%

2,5%

5,0%

7,5%

10,0%

12,5%3

/19

80

9/1

98

1

3/1

98

3

9/1

98

4

3/1

98

6

9/1

98

7

3/1

98

9

9/1

99

0

3/1

99

2

9/1

99

3

3/1

99

5

9/1

99

6

3/1

99

8

9/1

99

9

3/2

00

1

9/2

00

2

3/2

00

4

9/2

00

5

3/2

00

7

9/2

00

8

3/2

01

0

9/2

01

1

3/2

01

3 Taxa

de

câm

bio

- e

feti

va r

eal

- IN

PC

(m

éd

ia 2

00

5=1

00

)

Taxa de crescimento trimestral do PIB (anualizada)

Taxa de Câmbio Real, INPC (fim do período)

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53

que equivale a uma elevação de quase 30% da taxa de crescimento. No entanto,

conforme veremos nos resultados apresentados posteriormente, onde são

consideradas as interações entre câmbio e crescimento, de acordo com os

resultados da estimação de um VAR com seis defasagens, o efeito tende a se diluir

ao longo do tempo, com o impacto total sobre o nível do PIB sendo limitado. Em

outras palavras, uma depreciação câmbio possui um efeito sobre o crescimento por

alguns trimestres, mas ele tende a se dissipar ao longo do tempo.

Um problema nos resultados apresentados é que os coeficientes não são

significativos, ou seja, não são estatisticamente diferentes de zero quando se

controla para os problemas de autocorrelação e heterocedasticidade

simultaneamente (resultados na coluna prais), pois o problema da autocorrelação foi

recorrente nas estimativas realizadas.

Tabela 2.7. Resultados das estimações entre taxa de crescimento e taxa de

câmbio

Variável dependente: taxa crescimento PIB trimestral anualizada

Reg Rreg Prais

Câmbio (nível)

Câmbio 0,00032 0,00023 -0,00025

(Valor – P) (0,116) (0,270) (0,577)

Constante -0,00436 0,00495 0,04951

(Valor – P) (0,833) (0,810) (0,294)

Câmbio (ln)

ln Câmbio 0,03280 0,02478 -0,02055

(Valor – P) (0,098) (0,221) (0,642)

Constante -0,12287 -0,08529 0,11949

(Valor – P) (0,177) (0,354) (0,562)

Câmbio uma defasagem (nível)

Câmbio (-1) 0,00048 0,00042 0,00061

(Valor – P) (0,019) (0,054) (0,238)

Constante -0,01972 -0,01207 -0,03335

(Valor – P) (0,337) (0,562) (0,536)

Câmbio uma defasagem (ln)

ln Câmbio (-1) 0,04995 0,04418 0,07082

(Valor – P) (0,012) (0,031) (0,186)

Constante -0,20052 -0,17323 -0,29671

(Valor – P) (0,027) (0,062) (0,229)

Câmbio duas defasagens (nível)

Câmbio (-2) 0,00060 0,00057 0,00064

(Valor – P) (0,002) (0,008) (0,138)

Constante -0,03016 -0,02575 -0,03584

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(Valor – P) (0,111) (0,207) (0,423)

Câmbio duas defasagens (ln)

ln Câmbio (-2) 0,06059 0,05791 0,06452

(Valor – P) (0,001) (0,004) (0,134)

Constante -0,24840 -0,23487 -0,26796

(Valor – P) (0,003) (0,010) (0,178)

Notas: valor-p entre parênteses.

Fonte: elaboração própria com base nos dados do IBGE e do IPEA.

Mesmo utilizando o menor coeficiente das variáveis defasadas, uma

depreciação de um desvio padrão da média do câmbio do período teria um efeito em

elevar a taxa de crescimento da economia em 0,7 p.p. (estimação corrigindo para

problemas de heterocedasticidade e não normalidade dos resíduos - rreg).

Utilizando os coeficientes da segunda defasagem, os efeitos seriam ainda maiores,

assim como nas especificações onde é empregado o ln do câmbio. O efeito é ainda

maior quando corrigimos para os problemas de autocorrelação e

heterocedasticidade. No entanto, como já enfatizado, os coeficientes estimados não

são estatisticamente diferentes de zero.

Na Figura 2.6. apresentamos o comportamento das funções resposta ao

impulso e da decomposição da variância11. No seu lado esquerdo, verificamos que

uma elevação de um desvio padrão no câmbio eleva a taxa de crescimento nos

períodos subsequentes, com um pico no oitavo trimestre. A partir desse ponto, o

efeito começa a se reduzir até desaparecer por volta do décimo sexto trimestre. É

interessantes notar que o efeito acumulado de uma depreciação do câmbio em um

desvio-padrão (ou 17%) fica em torno de 4% do PIB, sendo um ganho considerável.

Cabe salientar que o efeito é limitado, indicando que para elevar a taxa de

crescimento de forma persistente, seria preciso manter uma política contínua de

11 Há um problema nos resultados estimados no modelo VAR: seus coeficientes só deram significativos quando

se referia a própria variável defasada. Quando coloca a própria variável defasada ela incorpora os efeitos de

outras variáveis (que afetaram sua variação passada) e isso tende a tornar outras variáveis pouco ou não

significativas. Quanto maior a persistência (inércia) da variável no tempo, mais a inclusão de suas defasagens

tende a fazer com que as outras percam significância estatística. Optamos por apresentar os resultados porque

eles indicam que os efeitos do câmbio são temporários, sendo este um ponto importante para políticas públicas,

além do efeito temporário estar de acordo com a teoria que relaciona câmbio e crescimento. Adicionalmente, o

exercício de decomposição da variância indica que 20% da variância da taxa de crescimento é explicada pelo

câmbio, o que é um efeito relevante.

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depreciação cambial. Esse resultado está de acordo, por exemplo, com o modelo

teórico de Thirlwall (1999) onde depreciações reais do câmbio seriam capazes de

afetar a taxa de crescimento apenas de forma temporária, mas, com efeitos

permanentes no nível do PIB da economia. Este efeito transitório sobre o PIB pode

se dar por elevações temporárias nas taxas de poupança e de investimento, sobre o

desempenho da balança comercial e eventuais mudanças setoriais em direção

aqueles mais produtivos com efeito sobre a produtividade

Desse modo, os resultados indicam que o impacto de mudanças cambiais

sobre o crescimento é transitório e ocorre apenas no curto e médio prazo. Para

atingir maiores taxas de crescimento econômico de forma sustentada são

necessárias medidas que modifiquem os fundamentos da economia no sentido de

ampliação das taxas de poupança doméstica e de investimento e da criação de um

ambiente propicio ao aumento da produtividade.

No lado direito da Figura 2.6. é possível verificar que um choque positivo no

câmbio o afeta forma positiva (efeito de um choque no câmbio sobre ele mesmo),

em um primeiro momento, fazendo com que esse efeito perca força até o vigésimo

trimestre. Considerando apenas essas duas variáveis, a importância da taxa de

crescimento do PIB sobre o seu próprio desempenho é de 80%, o que seria de se

esperar devido à inércia dessa variável em curtos períodos de tempo, enquanto que

do câmbio é de 20%, aproximadamente, como podemos ver na parte inferior da

Figura 2.6 (decomposição da variância).

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Figura 2.6. funções resposta ao impulso e decomposição da variância: taxa

real de câmbio e taxa real de crescimento PIB

Fonte: elaboração própria com base nos dados do IBGE e do IPEA.

Considerando a relação do câmbio real com as taxas reais de crescimento do

PIB da indústria e do PIB da indústria de transformação, os testes de causalidade

de Granger indicam que o câmbio parece afetar a indústria de transformação,

enquanto o oposto não ocorre. Os testes não indicam relação de precedência

temporal entre o câmbio real e a taxa de crescimento do PIB da indústria12.

Na Tabela 2.8. se encontram os resultados dos efeitos do câmbio real sobre a

taxa de crescimento do PIB da indústria (parte superior da tabela) e sobre a taxa de

crescimento do PIB da indústria de transformação (parte inferior da tabela).

Pode-se notar que os efeitos do câmbio são positivos e significativos na taxa

de crescimento do PIB indústria e da indústria de transformação e que estes são

superiores aos impactos sobre o PIB. É importante ressaltar que o problema de

autocorrelação esteve presente em praticamente todos os casos, sendo importante

levar em consideração os resultados das regressões que corrigem tal problema. Nos

12

Os resultados não foram apresentados por um questão de espaço, estando disponíveis com os autores se

solicitados.

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57

resultados apresentados na Tabela 2.8. os resultados são significativos em todos os

casos quando se considera a segunda defasagem.

Olhando para o menor coeficiente estimado do câmbio no PIB industrial (reg –

uma defasagem), o efeito de uma depreciação em um desvio padrão do câmbio

(17%) seria elevar a taxa de crescimento da indústria em 1,1 p.p.. Considerando que

a indústria cresceu a uma taxa anual de 2,1% no período, o efeito seria de uma

elevação nesta para 3,3%, o que representa um aumento de, aproximadamente,

50%.

No caso da indústria de transformação, para o menor coeficiente estimado

(reg com uma defasagem), uma elevação cambial em um desvio padrão teria o

efeito de elevar a taxa de crescimento em 1,5 p.p., representado uma elevação de

quase 100%, visto que o setor cresceu a uma taxa média de 1,8%, no período

analisado.

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Tabela 2.8. Resultados das estimações entre taxas reais de crescimento da indústria e indústria de transformação e câmbio real – média móvel quatro trimestres e séries anualizadas

Variável dependente: taxa crescimento PIB indústria trimestral anualizada

Reg Rreg Prais

Câmbio

Câmbio 0.00037 0.00029 -0.00017

(Valor – P) (0.303) (0.441) (0.805)

Constante -0.01415 -0.00595 0.03657

(Valor – P) (0.695) (0.871) (0.610)

Câmbio uma defasagem

Câmbio (-1) 0.00066 0.00064 0.00073

(Valor – P) (0.067) (0.095) (0.325)

Constante -0.04160 -0.03885 -0.05007

(Valor – P) (0.250) (0.291) (0.516)

Câmbio duas defasagens

Câmbio (-2) 0.00089 0.00092 0.00109

(Valor – P) (0.011) (0.014) (0.096)

Constante -0.06289 -0.06534 -0.08395

(Valor – P) (0.070) (0.071) (0.218)

Variável dependente: taxa crescimento PIB indústria de transformação trimestral anualizada

Reg Rreg Prais

Câmbio

Câmbio 0.00059 0.00062 0.00012

(Valor – P) (0.120) (0.131) (0.872)

Constante -0.03862 -0.04157 0.00653

(Valor – P) (0.321) (0.298) (0.932)

Câmbio uma defasagem

Câmbio (-1) 0,00092 0,00102 0,00106

(0.015) (0.014) (0.165)

Constante -0.07015 -0.07994 -0.08441

(Valor – P) (0.069) (0.046) (0.287)

Câmbio duas defasagens

Câmbio (-2) 0.00116 0.00132 0.00137

(Valor – P) (0.002) (0.001) (0.050)

Constante -0.09152 -0.10701 -0.11297

(Valor – P) (0.015) (0.006) (0.118)

Notas: valor-p entre parênteses. Fonte: elaboração própria com base nos dados do IBGE e do IPEA.

Novamente, cabe lembrar que apesar do grande efeito apontado pela

magnitude dos coeficientes estimados, o efeito não é permanente como é possível

perceber nos resultados das funções resposta ao impulso derivadas do modelo

VAR, com a utilização de seis defasagens. Na Figura 2.7. verificamos que uma

depreciação cambial tem um efeito consideravelmente maior nas taxas de

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crescimento da indústria e da indústria de transformação, como visto anteriormente.

Com uma depreciação cambial de 10%, o efeito acumulado nos 16 trimestres

seguintes seria a uma elevação da taxa de crescimento acumulada em,

aproximadamente, 4,0%, 3,4% e 2,8% no PIB da indústria de transformação, no PIB

da indústria e no PIB total da economia, respectivamente.

Figura 2.7. funções resposta ao impulso: câmbio real e taxas reais de crescimento do PIB, do PIB da indústria e do PIB da indústria de transformação: choque no câmbio em 10%.

Fonte: elaboração própria com base nos dados do IBGE e do IPEA.

Com a análise de dados trimestrais que permitem um aprofundamento da

análise com o emprego da metodologia de modelo VAR devido ao aumento do

número de observações, os resultados indicam que os efeitos de depreciações

cambiais são consideráveis no curto e médio prazo, mas temporários sobre a taxa

de crescimento. Desse modo, para dinamizar a economia de forma sustentável,

medidas que afetam os fundamentos da economia são necessárias. Associá-las a

uma depreciação da taxa de câmbio é relevante para facilitar a adoção das outras

medidas apontadas anteriormente ao reduzir os impactos negativos de curto prazo

das mesmas, além de potencializar seus resultados no longo prazo. Adicionalmente,

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associar políticas de depreciações cambiais com outras medidas que afetam o

crescimento, no longo prazo, ajuda a gerar um ciclo virtuoso de crescimento onde o

melhor desempenho econômico propicia criação de novas oportunidades que

estimulam ainda mais o crescimento como, por exemplo, recursos adicionais para

investimentos em infraestrutura física, social e em uma melhora institucional.

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3. O efeito do mercado financeiro e de variáveis macroeconômicas

sobre o câmbio brasileiro.13

Nesta seção serão analisados modelos sobre a determinação da taxa de

câmbio. Haverá uma análise mais detalhada dos modelos de curto prazo nos quais a

determinação da taxa de câmbio é realizada fundamentalmente no mercado

financeiro, como pode ser visto, por exemplo, no survey de Lyons (2001). O

mecanismo de determinação financeira da taxa de câmbio é relacionado aos

objetivos dos agentes presentes no mercado cambial, que realizam operações nos

mercados à vista (spot) e futuro realizando operações de hedge, arbitragem e

especulação. Como discutido em Garcia e Urban (2004) e Ventura e Garcia (2012),

é possível inferir que a determinação da taxa de câmbio é realizada no mercado

futuro de câmbio, e depois transmitida por arbitragem para o mercado à vista de

câmbio.

Este mecanismo é compreendido pelo fato de que o volume transacionado no

mercado futuro é muito superior ao mercado à vista, devido à possibilidade de

elevada alavancagem possível neste mercado, somente limitada pelas margens

estabelecidas. Isso contrasta com a necessidade de compra e venda do ativo no

mercado à vista que, além dos custos de financiamento e de transação com o ativo

físico realizados no mercado spot, são limitadas pelas regulamentações

estabelecidas pelo Banco Central.

Vale destacar que a determinação da taxa de câmbio no curto prazo, baseada

nas decisões de investimento em portfólio e arbitragem de juros, pode ter

consequências negativas sobre a dinâmica real da economia, prejudicando a

competitividade dos produtos brasileiros no exterior, amplificando os efeitos de uma

elevada estrutura de tributação e custos que afetam a indústria brasileira.

Um ponto fundamental na determinação financeira da taxa de câmbio é o

papel das expectativas que faz com que as incertezas sobre o ambiente

macroeconômico e muitas vezes problemas políticos são instantaneamente

13

Esta seção é um resumo do estudo desenvolvido por Marcio Poletti Laurini, Prof. Doutor do

Departamento de Economia da FEARP-USP, e por Roberto Mauad, mestrando em Economia

Aplicada da FEARP-USP.

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incorporadas na taxa de câmbio. Estes mecanismos de incorporação de informações

no preço de ativos podem levar a movimentos bruscos na taxa de câmbio, e

especialmente a uma excessiva elevação na volatilidade da taxa. Estas correções

abruptas no mercado cambial podem ter consequências negativas sobre fluxos de

caixa e, consequentemente, sobre a estrutura financeira das empresas e, embora

parte destes movimentos possa ser eliminada via posições de hedge no mercado

futuro, em especial grandes movimentos no câmbio não são facilmente previstos e

assim a estruturação de posições de proteção não é factível.

Nessa seção buscou-se obter uma descrição econométrica dos determinantes

financeiros da taxa de câmbio no Brasil, utilizando um amplo conjunto de variáveis

relacionadas a este mercado, como as cotações da taxa de câmbio Real/Dólar nos

mercados à vista e futuros, a estrutura a termo de taxas de juros dos mercados

domésticos e externos, medidas de intervenção cambial no mercado futuro, prêmios

de risco e também variações de preços de commodities e, adicionalmente, variáveis

macroeconômicas para estudar os efeitos de médio prazo. Também foi avaliado o

impacto das medidas macroprudenciais adotadas no período recente, em especial o

impacto de alterações no Imposto sobre operações financeiras nos preços, volumes

e volatilidades das taxas de câmbio a vista e futuras.

3.1. Funcionamento do mercado de câmbio

3.1.1. Mercado de câmbio à vista

De acordo com Ratti (2006), há cinco principais categorias de transações que

são realizadas em um mercado cambial, a saber: transações entre bancos e clientes

dentro do país, entre bancos no mesmo país, entre bancos localizados em diferentes

países, entre bancos e bancos centrais dentro do mesmo país e entre bancos

centrais localizados em diferentes países.

A estrutura do mercado cambial compreende basicamente exportadores e

importadores, bolsas de valores, bancos, corretores e outros elementos que, por

qualquer motivo, tenham transações com o exterior. Eventualmente, pode abranger

as chamadas autoridades monetárias (Tesouro e Bancos Centrais).

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Os participantes do mercado cambial estão divididos, portanto, entre grupos

de compradores, vendedores e intermediários. Entre os compradores encontram-se

todos aqueles que necessitam comprar divisas, como os importadores e

compradores de serviços ou de títulos estrangeiros, por exemplo. O grupo dos

vendedores inclui exportadores, tomadores de empréstimos no exterior, dentre

outros que desejam vender divisas. Já o grupo dos intermediários inclui

principalmente os bancos e os corretores de câmbio, sendo que a intermediação

bancária é obrigatória no Brasil e está regulamentada por Resolução da autoridade

monetária.

Os atuantes diretos nesse mercado são os operadores de câmbio, que

encarregam-se da compra e venda de moeda estrangeira nos bancos, e os

corretores, que são os intermediários entre os bancos e as partes interessadas.

Assim, os operadores muitas vezes não realizam as transações diretamente com os

clientes, mas utilizam-se, por conveniência, dos corretores.

A determinação da taxa, por sua vez, é feita com base nas tabelas de

cotações cambiais dos bancos, que apresenta os preços de compra (bid) e de venda

(offer ou ask) de diversas moedas. Assim, o câmbio é determinado de forma livre, de

acordo com a oferta e a procura de divisas. Porém, a interferência do poder público

pode ocorrer em caráter eventual, no sentido de evitar oscilações excessivas de

taxas.

De acordo com Rossi e Carneiro (2012), as operações com divisas

estrangeiras no Brasil devem ser formalizadas em contratos de câmbio e realizadas

por intermédio das instituições autorizadas a operar no mercado de câmbio pelo

Banco Central. São exemplos dessas operações a venda de divisas de receitas de

exportações, a compra de divisas para uma importação ou compra e venda de

moeda para turismo no exterior.

Quando os bancos realizam essas operações de intermediação, eles

acumulam posições de câmbio, que são os resultados líquidos de suas operações à

vista e para entrega futura, acrescido ou diminuído da posição do dia anterior.

Assim, as posições podem ser “compradas” ou “vendidas”, dependendo do total de

compras e vendas em moeda estrangeira.

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3.1.2. Mercado de câmbio futuro

O contrato futuro de Dólar é um instrumento celebrado entre duas

instituições financeiras segundo o qual a instituição compradora se obriga a

comprar da instituição vendedora uma determinada quantidade de dólares numa

determinada data a um preço acertado na data presente; e o inverso para a

instituição vendedora. (Garcia (1997))

Atuam nesse mercado basicamente os especuladores, os hedgers e os

arbitradores, que possuem expectativas e informações diferentes entre si. Os

especuladores esperam um ganho com a transação, enquanto os hedgers

podem até ter uma expectativa de perda em alguma transação, desde que essa

lhe possibilite reduzir o risco de seus negócios. O arbitrador, por sua vez,

aproveita-se de eventuais diferenças entre os preços de um mesmo ativo em

diferentes mercados.

Pode ser intuitivo imaginar que o valor do câmbio no mercado futuro seja

uma média das estimativas do valor do Dólar à vista na data de vencimento do

contrato futuro. Porém, levando em consideração que as razões pelas quais os

investidores operam nesse mercado diferem bastante, o valor futuro não reflete

meramente a média das diferentes expectativas do câmbio à vista no futuro. Este

caso seria uma enorme coincidência (Garcia (1997)).

A arbitragem é bastante importante para estabelecer uma faixa de

variação do Dólar futuro uma vez conhecidos os valores do Dólar à vista, as

taxas de captação e aplicação do exterior e as taxas de juros domésticas.

Os mercados à vista e futuro interagem, de acordo com Rossi e Carneiro

(2012), com o mercado de derivativos de câmbio sendo importante instrumento

de hedge, ou seja, oferecendo proteção às exposições cambiais quando

combinadas operações à vista e futuras. Especificamente, se um banco

apresenta uma posição vendida em Dólar no mercado à vista, por exemplo, e

realiza uma operação de compra no mercado futuro em montante equivalente, é

possível eliminar o risco da variação cambial. No mercado essa operação é

muitas vezes chamada de “Dólar casado”.

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3.1.3. Instrumentos de intervenção no mercado de

câmbio

O primeiro instrumento a que nos remetemos ao mencionar a intervenção

cambial é o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), que pode apresentar

alguns efeitos importantes sobre o valor da moeda estrangeira em relação a moeda

nacional. Esse imposto incide basicamente sobre operações de renda fixa, títulos

corporativos de longo prazo, ações, depósitos de margens em operações com

derivativos, dívida externa e posições excessivas compradas em Reais.

As alterações nas alíquotas do IOF observadas nos últimos anos tiveram por

objetivo, basicamente, reduzir o fluxo de capitais para o país. No caso, as condições

relativamente mais estáveis da economia brasileira e o cenário internacional em

forte expansão até a crise de 2008 incentivaram intenso fluxo de capitais para o

país, que auxiliou para a apreciação do câmbio. Com a crise internacional, o câmbio

inicialmente se desvalorizou devido à procura por Dólares como reserva de valor,

mas logo voltou a apreciar. Assim, o IOF foi sendo utilizado como instrumento para

tentar conter a apreciação cambial.

Outro instrumento de intervenção utilizado no mercado de câmbio são as

intervenções do Banco Central no mercado à vista. As intervenções normalmente

acompanham o fluxo cambial, ou seja, o governo procura comprar ou vender

Dólares numa magnitude similar à entrada ou saída de moeda estrangeira, para

manter uma suavidade nas oscilações do câmbio.

Além disso, o Banco Central pode utilizar também instrumentos derivativos,

como swaps cambiais. Esse derivativo consiste em um instrumento que troca a taxa

de variação cambial por uma taxa de juros pós-fixada. Assim, a autoridade

monetária vende os swaps cambiais no mercado para ganhar a variação cambial no

período, enquanto as instituições compradoras recebem a taxa de juros.

No ano de 2005 foi criado pelo Banco Central uma nova modalidade de

derivativo: o swap cambial reverso. Esse instrumento é justamente o oposto do swap

cambial tradicional, pois a instituição compradora recebe a variação cambial, e o

Banco Central, que é o vendedor do produto, recebe variações nos juros. Assim, em

períodos de valorização do Real, é essa operação que normalmente acontece.

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3.2. Metodologia

A metodologia de análise econométrica utilizada neste estudo é um modelo

de forma reduzida, utilizando um modelo de correção de erros vetorial. Esta

metodologia permite incorporar duas características fundamentais do mercado de

câmbio. A primeira característica é a imposição das relações de arbitragem entre o

mercado futuro e o mercado à vista, através da estimação dos vetores de

cointegração entre a taxa de câmbio à vista e os diversos vencimentos do mercado

futuro de câmbio negociadas na BM&F. A segunda característica dessa

metodologia de forma reduzida é permitir a incorporação de um grande conjunto de

variáveis exógenas na determinação das taxas de câmbio à vista e futuras, usando

defasagens das variáveis determinantes do câmbio como explicativas das variações

das taxas.

Esta modelagem de forma reduzida permite obter uma descrição estatística

dos movimentos no mercado câmbio, evitando os problemas de endogeneidade e

identificação existentes nas metodologias econométricas baseadas em modelos

estruturais como os estudos dinâmicos estocásticos de equilíbrio geral (DSGE),

como por exemplo Furlani et al (2009). E, também, permite incorporar de forma

exploratória um conjunto maior de variáveis na análise, levando a uma descrição

mais precisa dos movimentos no mercado de câmbio possibilitando melhores

previsões dos movimentos futuros do câmbio, já que todas as variáveis explicativas

são observadas no passado e, assim, podemos obter naturalmente previsões um dia

e um mês à frente para o câmbio à vista e os vencimentos do câmbio futuro. Esta

metodologia não permite uma interpretação estrutural dos parâmetros estimados,

mas se justifica pelo maior poder explicativo, especialmente devido à ausência de

modelos econômicos que incorporem informações como a estrutura a termo

completa das taxas de juros, prêmios de risco e preços de commodities.

O estudo consiste na aplicação deste modelo de correção de erros vetorial

para duas diferentes frequências de dados, diários e mensais. Estas duas

frequências permite analisar os determinantes do câmbio no curto e médio prazo, e

são distintas no conjunto de informação que pode ser incorporado em cada modelo.

Na análise com dados diários temos acesso somente a variáveis financeiras,

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cotadas diariamente, enquanto que no modelo mensal podemos incorporar algumas

variáveis macroeconômicas que são mensuradas nesta frequência.

Também realizamos uma análise do impacto de algumas medidas

macroprudenciais, baseadas na alteração do Imposto sobre operações financeiras,

sobre as taxas de câmbio a vista e futuras, verificando os impactos sobre cotações,

volumes e volatilidades destas taxas. Nesta parte utilizamos modelos

autoregressivos para o volume das operações de câmbio futuro registradas na

BM&F, e modelos de volatilidade estocástica para analisar o impacto das

intervenções no IOF sobre a volatilidade das taxas a vista e futuras de câmbio.

As principais variáveis financeiras utilizadas neste estudo são a taxa de

câmbio à vista, os vencimentos do câmbio futuro, incluindo informações de volumes

transacionados em cada vencimento e intervenções no mercado à vista e futuro de

câmbio (contratos de swap cambial), as curvas de rendimentos (estrutura a termo de

taxas de juros) dos contratos de Depósito Interbancário (DI) e LIBOR com a

maturidade até um ano, como medidas de juros domésticas e externas, medidas de

prêmios de risco interno (EMBI) e externos (VIX), e finalmente diversas medidas de

preços de commodities. Também colocamos na análise mensal variáveis

macroeconômicas como exportações e importações, inflação (IPCA), utilização de

capacidade instalada, saldo na conta de capital, transações correntes e a variação

de reservas externas.

Esse estudo suplementa os resultados encontrados na extensa literatura de

modelagem de taxas de câmbio, em especial, os resultados sumarizados no survey

de Lyons (2001), que mostra que no longo prazo os fundamentos da taxa de câmbio

são dados pela paridade do poder de compra –PPC - (no mercado de bens) e a

paridade descoberta da taxa de juros – PDTJ - (no mercado de ativos). Segundo a

PPC, uma mesma cesta de bens comprada em diferentes países, cotada em uma

mesma moeda, deve ter o mesmo custo. Já a PDTJ diz que a rentabilidade de um

mesmo ativo deve ser a mesma em diferentes países. No entanto, no curto e médio

prazo a determinação da taxa de câmbio é dominada pelo mercado de ativos.

O artigo de Garcia e Ventura (2012) também é utilizado como referência.

Segundo esse trabalho, há uma considerável influência do mercado futuro de

câmbio sobre o mercado à vista, mas não o contrário. É mostrado que o volume

transacionado no mercado futuro de câmbio é cerca de 5 vezes superior ao do

mercado à vista. No artigo, os autores utilizam o conceito de microestrutura da taxa

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de câmbio para identificar em qual mercado a taxa se forma primeiro. Em nosso

trabalho as evidências são de causalidade bidirecional, já que encontramos

transmissão de movimentos no câmbio spot para o câmbio futuro, mas

comprovamos que as relações de arbitragem entre o mercado futuro e spot são

fundamentais na determinação do câmbio.

Uma contribuição metodológica desse trabalho é a incorporação mais

completa do conteúdo expectacional existente na estrutura a termo de taxas de

juros, utilizando toda a curva de juros em nossa análise, em contraste aos métodos

usuais que utilizam apenas a taxa de juros de curto prazo ou então apenas o spread

entre taxas longas e curtas de juros. Esse trabalho incorpora a informação

recuperada pelos modelos de fatores latentes de estrutura a termo de taxas de juros,

como por exemplo, Chen e Tsang (2010). Essa informação é incorporada através do

uso dos fatores de nível, inclinação e curvatura da estrutura a termo de taxas de

juros como variáveis explicativas no modelo de correção de erros. Como discutido

em Diebold e Rudebusch (2013), esses fatores permitem recuperar expectativas

sobre valores futuros de atividade econômica, inflação e produto, que estão entre os

principais determinantes da taxa de câmbio.

Outra contribuição do trabalho é a incorporação dos efeitos dos preços de

commodities sobre a taxa de câmbio, utilizando índices de ações relacionadas ao

mercado de commodities, utilizando as subcarteiras do Dow Jones-UBS Commodity

Index. Estas informações permitem recuperar de forma parcimoniosa o efeito de

preços de commodities em frequências diárias e mensais.

Mais precisamente, a metodologia utilizada é um modelo de macro-finanças

em que é analisado o efeito de diversas variáveis sobre a taxa de câmbio, tais como

diferencial de juros, câmbio futuro, volatilidade, volume e medidas de risco. As

variáveis macroeconômicas já citadas são acrescentadas como variáveis de

controle. Assim, é feito uma extensão do trabalho de Chen e Tsang (2010) usando

variáveis macroeconômicas e de risco. Vale lembrar que a curva de juros é

decomposta em fatores de nível, inclinação e curvatura, com a utilização do modelo

Nelson-Siegel, e são esses fatores que entram no modelo VAR utilizado.

3.3. Descrição das Variáveis

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O período analisado foi de Janeiro/2000 a Agosto de 2013, compreendendo o

período mais recente da economia brasileira. Este período é determinado

especialmente pela disponibilidade de informações no mercado futuro, divulgados

pela BM&F após 1999.

Figura 3.1. Taxas Spot e Futuras

A Figura 3.1 mostra a evolução das taxas à vista e futuras de câmbio, em que

utilizamos como taxas futuras os três primeiros vencimentos do futuro de câmbio.

Estes três vencimentos concentram o maior volume no mercado de câmbio, e

apresentam as medidas mais liquidas deste mercado.

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70

Figura 3.2. Volume dos 5 primeiros vencimentos do mercado futuro de câmbio.

US$ Milhões de Dólares

Na Figura 3.2 pode-se notar que os três primeiros vencimentos concentram a

maior parcela das operações no mercado futuro de câmbio e, assim, sumarizam as

informações contidas nesse mercado.

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Figura 3.3. Curvas de Juros – DI e Libor

Na Figura 3.3 observa-se a evolução das curvas de juros do Depósito

Interbancário brasileiro e as cotações das curvas Libor com maturidades entre uma

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semana e um ano, que são as curvas de referência para operações de arbitragem

de juros.

Além disso, sabe-se também que o maior volume de negócios se dá no

câmbio futuro com o vencimento mais curto, e a volatilidade da série de câmbio

geralmente aumenta com o prazo até a maturidade. Com relação à curva de

rendimento, tanto a americana quanto a brasileira, é perceptível que normalmente o

rendimento é maior para vencimentos mais altos. Da mesma forma que as curvas de

rendimento americana e brasileira, a LIBOR também oferece retornos maiores,

geralmente, para os contratos de vencimento mais longo (na nossa análise o

vencimento mais longo é de 12 meses). Na época da crise americana, observa-se

uma queda muito considerável no rendimento dos contratos e alguma inversão da

relação “Rendimento X Prazo até a maturidade”.

Figura 3.4. Fatores de Nelson-Siegel

Como as curvas de juros apresentam uma elevada dimensão, não é possível

incorporar diretamente esta informação em nosso modelo. Para incorporar esta

informação na determinação financeira do câmbio, utilizamos a abordagem de

modelos fatorais de Nelson-Siegel, como discutido em Diebold e Rudebush (2013).

Para isso estimamos os fatores de Nível, Inclinação e Curvatura para cada curva em

separado, e utilizamos como fatores os diferenciais entre estes fatores para as

curvas de DI e Libor. Dessa forma conseguimos sumarizar a informação presente

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nestas duas curvas em apenas três variáveis. A última informação retirada do

mercado futuro de câmbio é o volume acumulado das operações de swap cambial

(SCC), que são agora o principal mecanismo de intervenção cambial do Banco

Central no mercado futuro de câmbio.

Figura 3.5. Volume de Operações de Swap Cambial – Milhões de US$.

Conforme observado na figura acima, o volume de negócios de Swap

Cambial foi bastante elevado no ano de 2002, em que houve uma desvalorização

considerável no câmbio devido ao risco país elevado. Em 2005 novamente houve

bastantes negócios com esse derivativo, e o câmbio estava valorizando

persistentemente nessa época, até que atingiu o valor de aproximadamente R$ 1,60

no auge da crise americana, em setembro de 2008.

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Figura 3.6. Índices de Preços de Commodities – Dow Jones- UBS

Na Figura 3.6 mostramos os índices – Dow Jones- UBS de preços de

commodities, que representam índices de preços relacionados a preço de

commodities, e permitem sumarizar o impacto de preços de commodities sobre

preços de ativos.

Figura 3.7. Ibovespa – Fechamento

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Na Figura 3.7 apresentamos o valor de fechamento do índice Bovespa, que

serve como referência dos preços de ações no Brasil, e em nosso modelo é a

estatística suficiente para obter a influência de variações de preços no mercado

acionário sobre as taxas de câmbio.

As Figuras 3.8 e 3.9 apresentam nossas medidas de prêmio de risco do

mercado financeiro, mostrando o prêmio de risco doméstico medido pelo Índice

EMBI e o prêmio externo, medido pelo índice de volatilidade do mercado futuro

americano, VIX.

Figura 3.8. EMBI

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

03/01/2000

02/01/2001

07/01/2002

08/01/2003

09/01/2004

10/01/2005

11/01/2006

11/01/2007

14/01/2008

14/01/2009

15/01/2010

19/01/2011

18/01/2012

24/01/2013

EmergingMarketsBondIndex(EMBI)

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Figura 3.9. VIX Volatility Index

A figura 3.10 a seguir apresenta as intervenções do Banco Central sobre o

mercado de câmbio à vista. É apresentado na análise diária que essa variável

exerce uma influência significativa sobre a taxa de câmbio.

0,00

10,00

20,00

30,00

40,00

50,00

60,00

70,00

80,00

90,00

15/01/04

15/01/05

15/01/06

15/01/07

15/01/08

15/01/09

15/01/10

15/01/11

15/01/12

15/01/13

VIXClose

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Figura 3.10. Intervenções do BC no mercado à vista de câmbio

Já a próxima tabela mostra os valores do IOF sobre operações de renda fixa,

que é utilizada na análise diária para mostrar o efeito dessa variável para afetar o

câmbio à vista via seu efeito direto sobre o volume no mercado de câmbio.

Tabela 3.1. IOF sobre as operações de renda fixa

Data mudança Valor do IOF sobre operações de renda fixa

12/03/08 1.50% 19/10/09 2.00% 04/10/10 4.00% 18/10/10 6.00%

Fonte: Ministério da Fazenda.

-5000

-4000

-3000

-2000

-1000

0

1000

Volume em milhões de dólares

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Figura 3.11. Variáveis macroeconômicas – IPCA e Saldo da Balança Comercial

Finalmente mostramos na Figura 3.11 as variáveis macroeconômicas que são

incorporadas no modelo mensal, IPCA e Saldo da Balança Comercial. Outras

variáveis estudadas no presente trabalho não foram estatisticamente significantes.

-0,50

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

2000.01

2001.01

2002.01

2003.01

2004.01

2005.01

2006.01

2007.01

2008.01

2009.01

2010.01

2011.01

2012.01

2013.01

IPCA(%a.m.)

-6000

-4000

-2000

0

2000

4000

6000

8000

20

00

.01

20

00

.07

20

01

.01

20

01

.07

20

02

.01

20

02

.07

20

03

.01

20

03

.07

20

04

.01

20

04

.07

20

05

.01

20

05

.07

20

06

.01

20

06

.07

20

07

.01

20

07

.07

20

08

.01

20

08

.07

20

09

.01

20

09

.07

20

10

.01

20

10

.07

20

11

.01

20

11

.07

20

12

.01

20

12

.07

20

13

.01

Balança Comercial

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79

3.4. Análise Diária

3.4.1. O impacto do mercado financeiro e de variáveis macroeconômicas sobre o câmbio à vista

A primeira análise para medir o efeito de variáveis do mercado financeiro e

macroeconômicas sobre o câmbio à vista foi feita com dados diários, para captar

impactos de curto prazo. Embora a frequência diária não permita a incorporação

direta de informações macroeconômicas, essas informações estão contidas nos

fatores de juros, que carregam conteúdo expectacional sobre variáveis

macroeconômicas, como discutido em Diebold e Rudebusch (2013).

Para medir a influência de fatores financeiros, com periodicidade diária, sobre

a taxa de câmbio à vista (expressa em R$/US$), foi desenvolvido um método de

vetores auto regressivos (VAR), no qual cada variável é explicada pelo seu passado

e pelo passado das demais variáveis do modelo, permitindo identificar as estruturas

de dependência e causalidade existentes, evitando os problemas de endogeneidade

existentes na estimação de modelos com variáveis contemporâneas.

No entanto introduzimos neste modelo a dinâmica de arbitragem entre taxas à

vista e futuras de câmbio, introduzindo no modelo o mecanismo de correção de

erros entre as relações de equilíbrio entre a taxa spot e os três primeiros

vencimentos futuros do câmbio. A formulação do modelo de correção de erros

também é importante por incorporar as estruturas de não-estacionaridade e

cointegração observadas em séries de preços de ativos. Neste modelo

especificamos como as variações de cada variável endógena são explicadas pelos

desvios da relação de cointegração (equilíbrio entre variáveis não- estacionárias),

incorporando a dinâmica de longo prazo, e também são explicadas pelas variações

de outras variáveis exógenas no passado, capturando os movimentos de curto

prazo.

Esta formulação permite incorporar no modelo econométrico duas

características fundamentais de variáveis financeiras. A primeira é a já comentada

estrutura de arbitragem entre taxas spot e futuras. A exploração das possíveis

arbitragens no curto prazo leva a uma relação de equilíbrio de longo prazo,

representada em nosso modelo pelo vetor de cointegração. A segunda característica

fundamental em variáveis financeiras é o papel das expectativas no preço corrente.

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Em um mercado financeiro eficiente toda informação disponível é incorporada de

forma imediata nos preços correntes, e dessa forma apenas movimentos

inesperados (chegada de novas informações) pode afetar os preços. Isso é

incorporado no modelo através da especificação em diferenças. Nessa forma as

diferenças nos preços refletem a nova informação transmitida pelas demais

variáveis, também colocadas em diferenças. Assim a variação dos preços mede o

impacto da chegada de novas informações.

No caso, as variáveis escolhidas foram os três primeiros vencimentos do

câmbio futuro, o diferencial entre o rendimento do DI e da LIBOR, sumarizados pelos

fatores de Nível, Inclinação e Curvatura, o índice de risco do mercado americano

(medido pelo VIX), o índice de risco brasileiro (medido pelo EMBI), o volume dos

swaps cambias operados pelo Banco Central, o Índice da Bolsa de Valores de São

Paulo (Ibovespa), o volume do primeiro vencimento do câmbio futuro, algumas

medidas de preços de commodities divulgadas pela Dow Jones e as intervenções do

Banco Central no mercado à vista de câmbio. As variáveis consideradas no vetor de

correção de erros são o próprio câmbio à vista e os três primeiros vencimentos do

câmbio futuro (vencimentos mensais).

Foi testado também o modelo com as mudanças no Imposto sobre Operações

Financeiras (IOF) no período de análise (do início de 2000 até o início de 2013). Nós

analisamos o efeito das variações do IOF em vários mercados ocorridas neste

período, em especial variações no IOF sobre operações de renda fixa, investimento

em ações, investimento estrangeiro em diversas maturidades e sobre posições

excessivas no mercado de câmbio. Obtivemos duas relações estatisticamente

significantes de modificações no IOF.

Concluímos que mudanças no referido IOF sobre operações de renda fixa

afetam diretamente o volume do primeiro vencimento do câmbio e, dado que esse

volume afeta o câmbio à vista, há uma relação indireta de influência do IOF sobre o

câmbio à vista. A segunda influência significante obtida é a zeragem do IOF no

mercado de derivativos realizada em junho de 2013, que reduz de forma significante

a volatilidade nas taxas de câmbio. Esses resultados são apresentados com mais

detalhes no decorrer dessa seção.

Ainda com relação ao IOF, há estudos que mostram que a introdução de

taxas em transações com moeda estrangeira aumenta a volatilidade nos mercados,

como o trabalho de Aliber et. Al (2003). Essa linha de pesquisa mostra que as taxas

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podem reduzir a eficiência informacional do mercado, diminuindo as operações de

arbitragem que levam ao preço correto do ativo. No presente trabalho, constatamos

que um aumento no IOF diminui a volatilidade em todos os vencimentos do câmbio,

e também afeta seu valor à vista, de forma indireta através da redução do volume de

operações, que é uma das variáveis que no período em análise tem efeito de

valorização da taxa de câmbio.

Com relação às intervenções do Banco Central por meio de swaps cambiais,

constatamos que apresentam influência sobre o câmbio à vista, mas com algumas

restrições que são apresentadas a seguir.

A estrutura da análise com dados diários desse relatório é a seguinte: falamos

sobre as relações de equilíbrio de longo prazo entre as variáveis endógenas citadas,

fazemos uma interpretação dos resultados do modelo, mostrando como as variáveis

afetam o câmbio à vista e, ao final, realizamos uma exposição da função de impulso

resposta, que nos ajuda a direcionar políticas que podem ser adotadas para manter

uma taxa de câmbio mais desvalorizada no Brasil, sendo esse o objetivo principal

deste trabalho. Já na segunda seção do trabalho, com a análise de dados mensais,

acrescentamos algumas variáveis macroeconômicas no modelo e tiramos algumas

conclusões da influência de informações financeiras sobre o câmbio brasileiro.

3.4.2. Resultados

O primeiro passo para medir a relação entre diversas variáveis endógenas e

exógenas é o teste de cointegração entre as séries. Caso elas cointegrem, o

modelo a ser utilizado é o VEC, ou modelo de correção de erro. Como as séries

endógenas cointegram, há uma relação de equilíbrio de longo prazo entre essas

variáveis, que em nosso modelo pode ser interpretado pela existência de operações

de arbitragem entre taxas à vista e futuras de câmbio. Esse resultado corrobora a

hipótese de exploração das oportunidades de arbitragem entre as taxas de câmbio à

vista e futuras, que é o mecanismo mais importante de transmissão de informações

do mercado financeiro para a taxa de câmbio. O modelo VEC apresenta as

variações de curto prazo com relação a esse equilíbrio, e mostra também a

velocidade com que o retorno para o equilíbrio acontece.

Conforme mencionado, as variáveis consideradas endógenas na estimação

foram o câmbio à vista e os três primeiros vencimentos do câmbio futuro. E as

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variáveis foram a diferença entre os fatores (nível, inclinação e curvatura) que

compõem a curva DI e a LIBOR (que forem extraídas pelo modelo Nelson Siegel), o

índice de risco do mercado americano (VIX) publicado pela Bolsa de Valores de

Chicago, o risco país medido pelo EMBI (calculado pelo banco JP Morgan e

divulgado pelo IPEA), o volume de swap cambial negociado pelo Banco Central, o

Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), o volume do primeiro

vencimento do câmbio futuro, os índices de commodities computados pela Dow

Jones e a intervenção do Banco Central no mercado à vista. A defasagem escolhida

foi de dois períodos, e as variáveis exógenas são computadas em sua primeira

diferença, com exceção do volume de swap cambial do Banco Central e das

intervenções no mercado à vista.

Na Tabela 2 são apresentadas as estimações desse modelo. Os termos

Equação 1, Equação 2 e Equação 3 são as relações de cointegração entre as

variáveis. No caso, a nossa variável de referência para as relações de cointegração

é o primeiro vencimento do câmbio futuro, auferido com defasagem de um dia

(representado por DV1(-1) na estimação abaixo). Assim, observa-se que há três

relações de cointegração: entre o câmbio à vista e o primeiro vencimento, entre o

segundo e o primeiro vencimentos e entre o terceiro e o primeiro vencimentos.

Na Tabela 3.2, fica claro que o primeiro vencimento do câmbio futuro auferido

com um dia de defasagem apresenta uma relação de longo prazo bastante próxima

com o câmbio à vista, o segundo e o terceiro vencimentos da taxa. Há uma

tendência, porém, que se repete nas três relações: o câmbio futuro é sempre um

pouco maior que o à vista (o primeiro vencimento é maior que o à vista, o terceiro

vencimento é maior que o primeiro e assim por diante), no período analisado.

Nas relações de curto prazo, na tabela logo abaixo, observa-se que há

significância estatística nas variáveis câmbio à vista e no próprio primeiro

vencimento. Assim, apenas mudanças nessas duas variáveis podem restaurar o

equilíbrio de longo prazo apresentado no quadro das relações de cointegração. Já a

segunda e a terceira relação de equilíbrio de longo prazo, entre os dois próximos

vencimentos e o primeiro vencimento da taxa, pode ser restaurada por meio de

mudanças em quaisquer uma das quatro variáveis endógenas.

Vale ressaltar dos resultados abaixo que a variável volume dos swaps

cambiais do Banco Central só é significante se impusermos uma restrição. Com

volumes acima de aproximadamente o total diário de negócios do mercado futuro de

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câmbio, que é normalmente cerca de US$ 2,5 bilhões, a variável se torna cada vez

mais insignificante estatisticamente. Pode-se depreender desse fato que, até certo

ponto, a autoridade monetária tem poder para controlar a taxa de câmbio à vista por

meio de operações com swaps cambiais, mas a partir de determinado valor já não é

possível exercer esse controle apenas por meio desse instrumento derivativo,

existindo um limite para a eficácia de intervenções cambiais através de operações

de swap cambial.

O Ibovespa, por sua vez, apresenta uma relação negativa com a taxa de

câmbio. Esse fato é empiricamente esperado já que grande parte dos investidores

da bolsa brasileira são estrangeiros. Assim, quando as ações estão em forte queda,

os investidores não residentes retiram seu capital do país e compram dólar para

remeter seus recursos para o exterior via ajuste de portfólio. Dessa forma, a moeda

estrangeira se valoriza e a taxa de câmbio se eleva.

Já os índices de preços de commodities Dow Jones mostram que o efeito de

algumas commodities agrícolas e energia sobre o câmbio brasileiro em geral é

negativo, de modo que o aumento nos preços desses bens levam a um maior fluxo

de capitais externos para o país e causam a queda no câmbio.

Com relação à variável de volume, observamos que sua influência sobre o

câmbio à vista é negativa, de modo que um maior volume de negócios no primeiro

vencimento do câmbio futuro leva a uma apreciação cambial no mercado à vista.

Pode-se depreender desse fato que a maior parte dos negócios no primeiro

vencimento do mercado futuro deve ser de compra de moeda estrangeira.

Finalmente, a variável de intervenção no mercado à vista pelo Banco Central

também apresenta um coeficiente negativo, indicando que intervenções maiores

levam à apreciação cambial considerando o período analisado. Assim, a autoridade

monetária deve ter realizado majoritariamente operações para evitar uma

depreciação da moeda no período em questão.

O R quadrado, ou seja, o coeficiente de explicação desse modelo, é

relativamente elevado, sendo que mais de 34% das variações no câmbio à vista são

explicadas pelas variáveis escolhidas. É possível notar que a explicação das

variações no câmbio futuro são pouco explicadas pelas variáveis em questão, o que

pode ser devido à grande liquidez desse mercado (que lhe confere menos

previsibilidade), devido a maior velocidade de incorporação de informações nos

preços, significando uma maior eficiência neste mercado.

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Tabela 3.2. Vetor de Correção de Erros – Relações de longo prazo Dados em Frequência Diária

Equação de

cointegração: Equação 1 Equação 2 Equação 3

CAMBIOSPOT(-1) 1.000000 0.000000 0.000000

DV3(-1) 0.000000 1.000000 0.000000

DV2(-1) 0.000000 0.000000 1.000000

DV1(-1) -0.994582 -1.024707 -1.012185

(0.00360) (0.01821) (0.00955)

[-276.387] [-56.2687] [-106.028]

Constante -0.003408 0.021022 0.010253

A próxima tabela indica os coeficientes das relações entre mudanças nas

variáveis endógenas e exógenas sobre a nossa variável de interesse, o câmbio à

vista

Tabela 3.3. Vetor de Correção de Erros – Dinâmica de curto prazo

Dados em Frequência Diária

Correção de erro D(CAMBIOSPOT) D(DV3) D(DV2) D(DV1)

Equação 1 -0.486445 0.116808 0.122521 0.225236 (0.03406) (0.04325) (0.04358) (0.04425) [-14.2829] [ 2.70078] [ 2.81132] [ 5.09042] Equação 2 -0.685936 -0.067060 -0.031382 -0.500804 (0.04856) (0.06166) (0.06214) (0.06309) [-14.1259] [-1.08750] [-0.50505] [-7.93839] Equação 3 1.126157 0.142782 0.085416 1.033953 (0.08204) (0.10418) (0.10498) (0.10658) [ 13.7269] [ 1.37050] [ 0.81363] [ 9.70076]

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D(CAMBIOSPOT(-1)) -0.146898 -0.116506 -0.117042 -0.049236 (0.02531) (0.03214) (0.03238) (0.03288) [-5.80476] [-3.62535] [-3.61430] [-1.49757] D(DV3(-1)) -0.278127 -0.318203 -0.247480 -0.304076 (0.15341) (0.19482) (0.19631) (0.19931) [-1.81293] [-1.63333] [-1.26065] [-1.52564] D(DV2(-1)) 0.641253 0.446409 0.402398 0.435910 (0.16309) (0.20710) (0.20869) (0.21188) [ 3.93201] [ 2.15552] [ 1.92822] [ 2.05739] D(DV1(-1)) -0.167912 -0.120790 -0.142628 -0.125989 (0.03723) (0.04728) (0.04764) (0.04837) [-4.50997] [-2.55479] [-2.99373] [-2.60470] Constante 0.028011 0.026366 0.028679 0.029387 (0.01440) (0.01829) (0.01843) (0.01871) [ 1.94506] [ 1.44172] [ 1.55628] [ 1.57073] D(NS1(-1)) -0.492022 0.196602 0.110153 -0.394069 (0.22072) (0.28030) (0.28245) (0.28676) [-2.22912] [ 0.70141] [ 0.39000] [-1.37421] D(NS2(-1)) 2.461458 -0.699497 -0.747693 0.634149 (0.57140) (0.72562) (0.73119) (0.74235) [ 4.30773] [-0.96400] [-1.02258] [ 0.85424] D(NS3(-1)) -0.132930 -0.106970 -0.138139 -0.208578 (0.03674) (0.04665) (0.04701) (0.04773) [-3.61853] [-2.29299] [-2.93860] [-4.37028] D(VIX_CLOSE(-1)) -0.000649 -0.000640 -0.000676 -0.000753 (0.00021) (0.00026) (0.00026) (0.00027) [-3.14122] [-2.44013] [-2.56030] [-2.80651] D(EMBI(-1)) 0.000197 0.000145 0.000171 0.000266 (2.2E-05) (2.8E-05) (2.9E-05) (2.9E-05) [ 8.78691] [ 5.08806] [ 5.94431] [ 9.13047] D(IBOV(-1)) -2.16E-06 -2.19E-06 -2.03E-06 -1.96E-06 (5.6E-07) (7.1E-07) (7.2E-07) (7.3E-07) [-3.83897] [-3.07020] [-2.81805] [-2.67703] D(VDV1(-1)) -1.86E-07 -1.18E-08 -1.20E-08 -8.42E-08 (7.6E-08) (9.7E-08) (9.7E-08) (9.9E-08) [-2.45116] [-0.12177] [-0.12321] [-0.85165] D(DJUBS(-1)) 0.001985 0.001923 0.002029 0.002547 (0.00064) (0.00082) (0.00082) (0.00083) [ 3.09146] [ 2.35893] [ 2.47001] [ 3.05341]

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86

D(AGRI_DJ(-1)) -0.004156 -0.005369 -0.005556 -0.005865 (0.00149) (0.00190) (0.00191) (0.00194) [-2.78088] [-2.82870] [-2.90473] [-3.02065] D(ENER_DJ(-1)) -0.000518 -0.000315 -0.000317 -0.000346 (0.00017) (0.00021) (0.00022) (0.00022) [-3.07869] [-1.47476] [-1.47395] [-1.58036] D(GRAOS_DJ(-1)) 0.002957 0.003533 0.003660 0.003937 (0.00134) (0.00170) (0.00171) (0.00174) [ 2.20769] [ 2.07681] [ 2.13503] [ 2.26210] D(PET_DJ(-1)) 0.000251 2.21E-06 -1.28E-05 -4.52E-05 (0.00012) (0.00015) (0.00015) (0.00015) [ 2.14976] [ 0.01494] [-0.08598] [-0.29881] SUMCCT<2900 -0.028491 -0.026759 -0.029086 -0.029838 (0.01441) (0.01829) (0.01843) (0.01872) [-1.97780] [-1.46278] [-1.57786] [-1.59430] INTERPRONTO -4.01E-06 -2.83E-06 -2.96E-06 -3.39E-06 (2.2E-06) (2.8E-06) (2.8E-06) (2.8E-06) [-1.84667] [-1.02648] [-1.06360] [-1.20136]

R-quadrado 0.343558 0.040561 0.043840 0.159088 R-quadrado ajustado 0.338954 0.033831 0.037133 0.153190

Os resultados apresentados acima podem ser utilizados para encontrarmos o

efeito das principais variáveis sobre o câmbio. Conforme discutido, espera-se que o

diferencial entre a taxa DI e a LIBOR exerça influência bastante significativa sobre o

câmbio à vista e sobre os primeiros vencimentos da taxa. Além disso, as

intervenções do Banco Central no mercado de câmbio, seja por meio de swaps ou

com intervenções diretas no mercado à vista, também apresentam alguns efeitos

que devem ser analisados.

A variável de diferencial entre as taxas de juros doméstica e estrangeira foi

dividida entre os fatores de nível, inclinação e curvatura, de acordo com o modelo de

Nelson Siegel. Assim, o fator de nível, por exemplo, que apresentou coeficiente de -

0,4920, pode ser interpretado da seguinte maneira: o efeito real dessa variável sobre

o câmbio é dado pela multiplicação do parâmetro deste coeficiente pela relação

média entre o fator nível e o spread entre taxas domésticas e internacionais. No

caso, o fator de correção em questão é de aproximadamente 0.995, sendo que o

efeito final é dado por -0,4875, o que significa que um aumento de uma unidade na

diferença entre a taxa DI de um mês, por exemplo, e a taxa LIBOR para o mesmo

período leva a uma redução de 0,4875 unidades no câmbio à vista (valorização

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cambial). Vale lembrar que a taxa LIBOR pode ser considerada como dada, já que

não temos controle sobre ela e, dessa maneira, uma ação do governo brasileiro

poderia ter influência apenas sobre o DI. Além disso, o efeito sobre o DI é indireto, já

que a taxa de juros diretamente controlada pelo governo brasileiro é a SELIC, que

tem sua meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional.

No caso do efeito de inclinação da curva de diferencial entre a taxa de juros

brasileira (DI) e a estrangeira (LIBOR), o coeficiente encontrado pelo modelo que

apresentamos é igual a 2,4614. O fator de correção, nesse caso, é 0,3095, sendo

que o efeito da variável em questão sobre o câmbio à vista é 0,76. Assim, pode-se

depreender que um aumento de uma unidade na diferença entre o diferencial do DI

e da LIBOR de 12 meses e dessas taxas de um mês (ou seja, [(DI 12m – LIB 12m) –

(DI 1m – LIB 1m)]) desvaloriza o câmbio à vista em 0,76 unidades. A intuição é que

uma expectativa de aumento no diferencial de retorno no Brasil em relação ao

exterior deve levar a uma saída de divisas do país em busca de bons retornos,

sendo que uma nova entrada de capitais deve acontecer quando há o aumento do

diferencial das taxas. Assim, essa saída momentânea de divisas causa uma

desvalorização no câmbio.

É importante analisar também o efeito direto da intervenção do Banco Central

sobre o câmbio por meio de leilões de swaps. Neste caso o coeficiente foi modelado

através de um efeito de intervenção (variável binária) com valor 1 quando houve

intervenção e zero em caso contrário. O coeficiente estimado para este efeito pelo

modelo é de -0,028, indicando que quando ocorre uma intervenção no mercado de

swap cambial a taxa de câmbio real/dólar se aprecia em 0,028 unidades em média.

Lembrando que os negócios com swaps acima de US$ 2,9 bilhões não apresentam

significância estatística em relação a mudanças no câmbio.

Finalmente, o coeficiente das intervenções diretas no mercado à vista pode

explicar parte da variação na taxa de câmbio. O valor de – 4,01E-06, expresso em

notação científica, mostra que o efeito das intervenções no mercado à vista

normalmente mantém o câmbio praticamente inalterado. Uma compra de US$ 500

milhões, por exemplo, levaria a uma desvalorização cambial de 0,002 unidades.

Sendo assim, pode-se depreender que as intervenções em questão devem ter sido

realizadas com o objetivo de não permitir uma variação brusca no câmbio, ou seja,

mantê-lo em um patamar estável.

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Ainda foram realizados os testes de Granger, as relações de cointegração e

analisadas as funções de impulso resposta. Um resultado interessante dessa última

análise foi verificar que a resposta do câmbio à vista a choques no primeiro

vencimento futuro do câmbio é bem reduzida, sendo que, primeiro observa-se uma

influência negativa, e posteriormente essa resposta é praticamente nula. Já os ativos

com vencimentos mais longos afetam o câmbio à vista mais significativamente.

Assim, como os vencimentos mais longos normalmente são mais afetados por

fundamentos da economia, como a paridade da taxa de juros e a paridade do poder

de compra, podemos depreender que o câmbio à vista deve ser bastante

influenciado por tais fundamentos.

Para fins de política cambial, é importante notar que medidas que afetem o

diferencial entre a taxa de juros brasileira e a taxa internacional (alterando a

paridade da taxa de juros), além de medidas que afetem o nível de preços

brasileiros (alterando a paridade do poder de compra), podem auxiliar a manter um

câmbio mais desvalorizado.

E, por fim realizou-se um estudo para verificar a influência do IOF sobre o

volume de negócios no mercado de câmbio. Observou-se que o volume de negócios

do primeiro vencimento do câmbio futuro sofre influência negativa do IOF sobre

operações de renda fixa. Como o volume apresenta influência negativa sobre o

câmbio à vista, o efeito indireto dessa incidência do IOF sobre o câmbio permite

reduzir a valorização da taxa de câmbio, reduzindo a pressão ocorrida neste

período.

Tabela 3.4. Efeito do IOF sobre o volume do primeiro vencimento do câmbio futuro Dados com Frequência Diária

Variável Coeficiente Erro padrão Estatística t Prob.

Constante 4178.331 564.0931 7.407166 0.0000

IOF sobre RF(-1)>0 -1860.410 520.9373 -3.571274 0.0004

Volume do primeiro

vencimento(-1) 0.743018 0.015130 49.10748 0.0000

R-quadrado 0.559980

R-quadrado ajustado 0.559719

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Também analisamos o efeito do IOF incidente em posições excessivas

compradas em Real. Os testes mostram que uma redução nesse IOF leva ao

aumento no volume negociado do câmbio futuro, que indiretamente afeta o câmbio à

vista negativamente. Esse resultado corrobora o efeito esperado para esse imposto:

uma redução do IOF sobre posições excessivas compradas em Real leva a uma

apreciação do câmbio, lembrando que esta modificação pode ser utilizada agora

para combater a desvalorização do Real frente ao Dólar.

O último ponto analisado no modelo com dados diários foi o impacto do IOF

sobre a volatilidade cambial. Para tal utilizou-se o modelo de volatilidade estocástica

univariado proposto por Taylor (1980). O modelo foi adicionado com as intervenções

no IOF, e verificou-se a significância e o efeito dessas intervenções sobre a

volatilidade do câmbio a vista e futuro. Os resultados mostram que quanto maior é o

imposto, menor será a volatilidade da série.

3.5. Análise Mensal

O objetivo de realizar a análise com dados mensais é mostrar a influência de

algumas variáveis macroeconômicas sobre o câmbio à vista, além das variáveis do

mercado financeiro. Como as informações macroeconômicas em geral não

apresentam uma dinâmica de curtíssimo prazo (um dia) como os dados financeiros,

a análise mensal pode apresentar mais precisamente os impactos dessas variáveis

sobre o câmbio à vista. Vale lembrar que estamos repetindo nessa seção algumas

variáveis já analisadas com dados diários para fins de controle da influência das

covariadas sobre o câmbio.

No caso mensal, considerando variáveis macroeconômicas, além do IPCA e

do saldo da balança comercial apresentados, testamos também o saldo em

transações correntes, a abertura da balança comercial em exportações e

importações, o fluxo de investimentos externos diretos e em carteira, a taxa SELIC,

o crescimento do PIB mundial, dentre outras. Foi constatado que muitas dessas

variáveis, apesar de exercerem influência sobre o câmbio à vista de acordo com a

literatura econômica, não apresentaram um resultado estatisticamente significante

em nosso modelo. Nossa suposição é que as variáveis apresentadas nas análises

diária e mensal, em especial o diferencial de rentabilidade entre a curva DI e a

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LIBOR, já captam grande parte do impacto de outras variáveis sobre o câmbio. Esse

foi o motivo para não incluirmos todas essas variáveis mencionadas no modelo.

Utilizamos o mesmo modelo já apresentado na seção anterior para

desenvolver essa análise e constatamos que os resultados são basicamente os

mesmos. Então, a contribuição principal dessa seção é corroborar para o fato de que

o diferencial de rentabilidade entre o DI e a LIBOR, que são as principais taxas de

captação de recursos no mercado brasileiro e estrangeiro, é o principal fator de

influência sobre o câmbio à vista.

No caso, as variáveis escolhidas foram os três primeiros vencimentos do

câmbio futuro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice

de risco brasileiro (medido pelo EMBI), o volume dos swaps cambiais operados pelo

Banco Central, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), o diferencial

de retorno entre o DI e a LIBOR e o saldo da balança comercial. As séries

consideradas endógenas são o próprio câmbio à vista e os três primeiros

vencimentos do câmbio futuro (vencimentos mensais).

O teste de cointegração de Johansen para os dados mensais também aponta

também para três relações de cointegração, assim como na análise com dados

diários.

Para a construção do modelo VEC, as variáveis consideradas endógenas

foram o câmbio à vista e os três primeiros vencimentos do câmbio futuro. Já as

variáveis consideradas exógenas incluídas na especificação final do modelo foram o

diferencial entre a curva DI e a LIBOR (utilizamos o fator de inclinação da curva

extraído pelo modelo Nelson Siegel), o risco país medido pelo EMBI (calculado pelo

banco JP Morgan e divulgado pelo IPEA), o volume de swap cambial negociado pelo

Banco Central, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa), o IPCA e o

saldo da balança comercial. A defasagem escolhida foi de um período com exceção

da variável IPCA, que foi incluída em sua primeira e sétima defasagens no modelo,

capturando os efeitos de curto e médio prazo da inflação sobre a taxa de câmbio.

Nas tabelas seguintes são apresentadas as estimações desse modelo. Os

termos Equação 1, Equação 2 e Equação 3 novamente mostram as relações de

cointegração entre as variáveis, agora na frequência mensal. Assumimos como

variável de referência para as relações de cointegração o terceiro vencimento do

câmbio futuro, auferido com defasagem de um mês (representado por DV3(-1) na

estimação abaixo). Assim, observa-se que há três relações de cointegração: entre o

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câmbio à vista e o terceiro vencimento, entre o primeiro e o terceiro vencimentos e

entre o segundo e o terceiro vencimentos, confirmando os resultados da análise

diária. As relações encontradas e o mecanismo de correção de erros também são

similares as encontradas no modelo diário, mostrando a estabilidade dessas

relações.

A principal diferença em relação ao modelo diário é a possível incorporação

de variáveis macroeconômicas, que podem ser observadas nesta frequência. O

IPCA, escolhido como medida da inflação brasileira nesse modelo, foi acrescentado

na análise em sua primeira e sétima defasagens, já que as seis primeiras

apresentam uma influência não esperada sobre o câmbio à vista. A inflação pode

afetar a taxa de câmbio tanto pela sinalização para os investidores em relação à

credibilidade da política econômica e sua influência no fluxo de capitais como pelo

seu impacto em termos de custos e competitividade do produto brasileiro com

impactos na Balança Comercial. Nos dois casos tem-se uma redução do fluxo de

dólares para o país e uma desvalorização cambial.

O risco país (EMBI) tem o sinal esperado tendendo a provocar a

desvalorização cambial quando este se eleva. As intervenções cambiais também

apresentam uma influência limitada na análise de frequência mensal. A partir de

certo valor, o Banco Central já não tem mais controle sobre o câmbio por meio dos

instrumentos derivativos. O Ibovespa também apresenta a mesma relação negativa

com a taxa de câmbio observada nos dados diários, mostrando a importância dos

investidores estrangeiros no mercado.

O diferencial de rendimento entre o DI e a LIBOR continua bastante

significativo na determinação da taxa de câmbio à vista, assim como foi constatado

na análise com dados diários. Uma diferença é que no caso mensal apenas o fator

inclinação, que mede o spread esperado entre taxas domésticas e estrangeiras, é

significante. Uma interpretação é que nos dados mensais as variações no nível já

estão precificadas corretamente e, assim, somente surpresas na inclinação têm

poder explicativo sobre variações nas taxas de câmbio. O diferencial de retorno

mensurado pelo fator inclinação embute as expectativas com relação ao seu valor

futuro, de modo que quanto maior a inclinação da curva, maior é a esperança de

aumento no rendimento do DI em relação ao rendimento da LIBOR. Assim, sua

influência sobre o câmbio à vista deve ser negativa, já que a expectativa de um

diferencial maior de rentabilidade no futuro atrai capital externo para o Brasil,

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valorizando o Real (câmbio cai). E o inverso quando a expectativa desse diferencial

se reduz como ocorrido recentemente com as expectativas de término da política

monetária expansionista do FED que elevariam as taxas de juros internacionais.

Finalmente, o saldo da balança comercial também foi utilizado na análise

mensal, e se mostrou significativa na influência sobre o câmbio à vista. O efeito é

negativo, já que um aumento no saldo significa que exportações estão crescendo

mais que importações, de modo que haja um fluxo maior de dólares para o país

(levando em conta apenas a transação de bens). Assim, o Real aprecia (câmbio cai)

com o aumento do saldo da balança comercial, por isso o sinal do parâmetro é

negativo.

O R quadrado, ou seja, o coeficiente de explicação desse modelo, é

relativamente elevado, sendo que mais de 55% das variações no câmbio à vista são

explicadas pelas variáveis escolhidas. É possível notar que a explicação das

variações no câmbio futuro são também bem explicadas, com menor coeficiente de

explicação sendo do terceiro vencimento futuro do câmbio com 46%. Podemos

perceber que o modelo com dados mensais oferece maior coeficiente de explicação

que o modelo com dados diários, pois, além de acrescentarmos algumas variáveis

macroeconômicas como IPCA e Balança Comercial, o câmbio à vista parece ser

mais afetado por variáveis de prazo mais longo, e que a frequência maior de análise

permite mensurar melhor o efeito de variáveis macroeconômicas sobre taxas futuras

de câmbio.

Tabela 3.5. Vetor de Correção de Erros – Dados em Frequência Mensal

Equação de

cointegração: Equação 1 Equação 2 Equação 3

CAMBIOSPOT(-1) 1.000000 0.000000 0.000000

DV1(-1) 0.000000 1.000000 0.000000

DV2(-1) 0.000000 0.000000 1.000000

DV3(-1) -0.989386 -0.992012 -0.995688

(0.01540) (0.01284) (0.00615)

[-64.2424] [-77.2796] [-162.016]

Constante 0.019109 0.016223 0.007463

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A próxima tabela indica os coeficientes das relações entre mudanças nas

variáveis endógenas e exógenas sobre a nossa variável de interesse, o câmbio à

vista.

Tabela 3.6. Vetor de Correção de Erros – Dados em Frequência Mensal

Correção de erro D(CAMBIOSPOT) D(DV3) D(DV2) D(DV1)

Equação 1 -3.142138 -1.933825 -2.170013 -2.160858

(2.79011) (2.82716) (2.86555) (2.89316)

[-1.12617] [-0.68402] [-0.75728] [-0.74688]

Equação 2 9.748172 8.356353 8.454521 7.131975

(4.14921) (4.20430) (4.26139) (4.30245)

[ 2.34941] [ 1.98757] [ 1.98398] [ 1.65765]

Equação 3 -11.13584 -11.19495 -10.67433 -7.827245

(4.55328) (4.61374) (4.67639) (4.72145)

[-2.44567] [-2.42644] [-2.28260] [-1.65780]

D(CAMBIOSPOT(-1)) -3.180010 -3.171702 -2.695782 -2.377318

(1.82400) (1.84822) (1.87332) (1.89137)

[-1.74342] [-1.71608] [-1.43904] [-1.25693]

D(DV1(-1)) -1.107445 -1.329113 -1.766933 -1.832440

(3.01921) (3.05930) (3.10084) (3.13072)

[-0.36680] [-0.43445] [-0.56982] [-0.58531]

D(DV2(-1)) 8.285274 8.663790 8.086172 7.246787

(3.22402) (3.26683) (3.31118) (3.34309)

[ 2.56986] [ 2.65205] [ 2.44208] [ 2.16769]

D(DV3(-1)) -3.905594 -4.065010 -3.515436 -2.922644

(1.61154) (1.63294) (1.65511) (1.67106)

[-2.42352] [-2.48938] [-2.12399] [-1.74898]

Constante 0.173806 0.178563 0.168540 0.163143

(0.03830) (0.03881) (0.03934) (0.03971)

[ 4.53799] [ 4.60109] [ 4.28465] [ 4.10787]

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IPCAREV(-1) -0.049404 -0.050663 -0.050037 -0.047298

(0.01751) (0.01775) (0.01799) (0.01816)

[-2.82073] [-2.85469] [-2.78162] [-2.60428]

IPCAREV(-7) 0.020411 0.021191 0.023290 0.023852

(0.01421) (0.01439) (0.01459) (0.01473)

[ 1.43690] [ 1.47226] [ 1.59640] [ 1.61932]

D(EMBI(-1)) 0.000181 0.000153 0.000113 8.15E-05

(5.6E-05) (5.7E-05) (5.8E-05) (5.9E-05)

[ 3.21573] [ 2.67583] [ 1.94668] [ 1.39336]

SUMSCC(-1)<2900 -0.145401 -0.149030 -0.140118 -0.136385

(0.03376) (0.03420) (0.03467) (0.03500)

[-4.30746] [-4.35711] [-4.04168] [-3.89646]

D(IBOV(-1)) -6.11E-06 -6.34E-06 -6.69E-06 -7.00E-06

(2.2E-06) (2.2E-06) (2.2E-06) (2.3E-06)

[-2.79511] [-2.86197] [-2.98075] [-3.08735]

D(NS2(-1)) -5.519944 -5.278600 -4.876388 -4.297342

(2.82187) (2.85934) (2.89817) (2.92609)

[-1.95613] [-1.84609] [-1.68258] [-1.46863]

BALCOMERCIAL(-1) -7.18E-06 -7.70E-06 -7.76E-06 -7.76E-06

(3.6E-06) (3.6E-06) (3.7E-06) (3.7E-06)

[-2.01614] [-2.13517] [-2.12201] [-2.10199]

R-quadrado 0.558615 0.529539 0.495279 0.465087

R-quadrado ajustado 0.515998 0.484116 0.446548 0.413441

Observa-se no teste de causalidade de Granger com dados mensais que,

quando o câmbio à vista é considerado como variável dependente, esta é observada

pelo segundo e terceiro vencimentos, mas não pelo primeiro. O segundo e o terceiro

vencimentos são significantes para explicar as variações nas outras variáveis

endógenas, corroborando a constatação de que a maior influência sobre o câmbio

se dá por variáveis de prazos mais longos, ou seja, os fundamentos da economia

são mais significativos na determinação do câmbio à vista. A ausência de influência

do câmbio à vista sobre os vencimentos considerados corrobora uma constatação

de outros trabalhos da literatura, dentre eles o de Garcia e Urban (2004).

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3.6. Conclusões

As informações e análises apresentadas levam a algumas conclusões a

respeito da influência de fatores do mercado financeiro e macroeconômicos sobre a

determinação do câmbio à vista. Primeiramente, conclui-se que, em geral, a taxa de

câmbio futura é fundamental para o processo de formação de preços no mercado de

câmbio, sendo que seu valor à vista sofre influência dos dados futuros e, portanto, o

câmbio à vista é determinado por arbitragem. Esse fato corrobora outros estudos,

como o de Garcia e Ventura (2012).

Podemos concluir também que, de acordo com a análise com dados diários,

as principais variáveis financeiras que afetam o câmbio à vista são os vencimentos

mais longos do câmbio futuro, além do diferencial de retorno entre o DI e a LIBOR,

os índices de risco dos mercados brasileiro e americano, os principais índices de

preços de commodities publicados pela Dow Jones, além da intervenção do Banco

Central no mercado de câmbio à vista e as alterações no IOF. Uma das conclusões

que podemos depreender desses resultados é que uma política monetária menos

austera, de redução da taxa básica de juros brasileira, pode impactar sobre cotações

futuras do câmbio, e reduções no spread e na inclinação da curva de juros tem

efeitos significantes de desvalorização do Real, afetando o rendimento de ações e

títulos, com efeitos sobre alocações internacionais de portfólio. Também

confirmamos o impacto de outras variáveis financeiras sobre o câmbio, que

responde a alterações no prêmio de risco e preços de ativos, novamente via efeitos

de realocação internacional de portfólios. Observamos ainda que intervenções

diretas no mercado futuro têm efeitos limitados sobre taxas à vista e futuras, pelo

efeito de limiar observado nas intervenções no mercado futuro. As intervenções no

mercado à vista, por sua vez, apresentam influência significativa sobre o câmbio,

enquanto variações no IOF, especialmente sobre operações de renda fixa e sobre

posições excessivas compradas em Real, apresentam influência sobre o volume

negociado no mercado, afetando indiretamente o valor do câmbio à vista.

Estas observações mostram que o design de políticas de estabilização

cambial pode se valer dos resultados encontrados nessa análise. Dos mecanismos

de possível intervenção podemos observar que alguns dos instrumentos sobre o

controle direto das autoridades são o diferencial de juros, que é afetado pela escolha

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da taxa básica de juros e sua transmissão para o mercado interbancário, e

intervenções limitadas no mercado futuro usando swaps cambiais. Além disso,

variáveis como as intervenções no mercado à vista e uma política fiscal de alteração

no IOF podem auxiliar no controle do câmbio.

As demais variáveis que explicam de forma significante os movimentos nas

taxas de câmbio são essencialmente preços de ativos (commodities e mercado

acionário) e prêmios de risco (Embi e VIX) que não estão sobre influência direta das

autoridades monetárias. Nesse aspecto a única forma de atuação é via construção

de expectativas favoráveis nesses mercados, que normalmente são associadas pelo

mercado financeiro a condução adequada das políticas monetárias e fiscais.

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4. Câmbio e Preços: Estimativas do Repasse Cambial para o

Brasil14

Em termos acadêmicos, a análise do impacto sobre os preços é abordado

pela literatura de repasse cambial (exchange rate pass-through), sendo as

estimativas de repasse cambial tanto de interesse acadêmico quanto dos

formuladores de política econômica. O repasse pode ser reduzido tanto pela

utilização dos instrumentos clássicos de política econômica - monetária e fiscal –

como por políticas tarifárias15.

A literatura teórica e empírica sobre repasses cambiais tem sua evolução

recente mais fortemente marcada pelos modelos teóricos formulados na década de

1980 a fim de buscarem racionalizações sobre a persistência dos déficits comerciais

americanos, mesmo com a forte desvalorização cambial verificada em meados da

década. Esses modelos evoluem para questionamentos sobre a formação de preços

para mercados específicos (pricing to market), sendo posteriormente incorporados

ao arcabouço de modelos macroeconômicos, estabelecendo a relação entre a

formação de preços nos mercados internacionais e o repasse final das variações

cambiais aos preços ao consumidores finais.

Desta forma, o objetivo desta seção é a estimativa do repasse cambial tanto

em nível agregado, como setorial, aos preços de importação, produtos

industrializados domésticos e ao índice de preço ao consumidor amplo. Para isso

são utilizados modelos econométricos tanto em séries temporais, como com dados

em painel, a fim de produzir estimativas em diferentes níveis de agregação e permitir

a checagem da robustez dos resultados.

14

Esta seção se baseia no relatório desenvolvido pelo Prof. Dr. Sérgio Kannebley Junior do

Departamento de Economia da FEARP-USP e do mestrando em Economia do Programa de

Mestrado em Economia Aplicada da FEARP-USP.

15 Um exemplo deste tipo de ação é a recente redução das alíquotas do imposto de importação sobre

insumos básicos, que voltarão ao patamar médio de 8% e 12%, a partir de 1º de outubro. O nível

atual dessas tarifas está em torno de 25%, desde a sua elevação em setembro de 2012, para uma

lista de aproximadamente 100 produtos a fim de contrabalançar os efeitos da forte apreciação da

moeda.

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4.1. Revisão da Literatura sobre Repasse Cambial

Define-se como repasse cambial a elasticidade dos preços (P) com relação à

taxa de câmbio nominal (E), representada na equação (1) com o uso de logaritimos

naturais. Sendo que P pode referir-se aos preços das importações, preços das

exportações ou preços domésticos.

(1)

A relação entre os preços de importação em moeda doméstica e os

preços em moeda do país exportador , é dada por , em que

é a taxa de câmbio nominal, definida em unidades monetárias do

exportador por unidade monetária doméstica. Em termos da elasticidade dos preços

de importação em moeda doméstica e dos preços de exportação em moeda externa,

esta relação pode ser descrita pela expressão em (2).

(2)

A expressão em (2) torna clara a relação existente entre o repasse cambial

aos preços de importação e a contrapartida nos preços determinados pelo

exportador. Um repasse cambial completo significa que os exportadores mantêm

fixos os preços em suas respectivas moedas, de modo que a variação cambial é

repassada integralmente ao preço de importação em moeda doméstica

. De acordo com Dornbusch (1987) essa seria a situação suposta no modelo

Keynesiano, com preços rígidos, em que cada país é produtor de seu próprio bem,

que não são homogêneos entre si e com salários rígidos. No extremo oposto, os

preços internacionais, em moeda estrangeira, seriam totalmente flexíveis,

compensando integralmente a variação cambial de modo que em moeda doméstica

os preços dos produtos importados permanecem inalterados .

Efetivamente, o caso de interesse mais evidenciado na literatura internacional

é o de grau de repasse incompleto, em que tanto os preços em moeda doméstica,

como estrangeira se ajustam parcialmente à variação cambial, produzindo um grau

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99

de repasse incompleto aos preços de importação em moeda doméstica (0

Utilizando elementos da teoria de organização industrial os modelos

desenvolvidos por Dornbusch (1987), Froot e Klemperer (1989), Yang (1997), entre

outros, buscam relacionar os determinantes do mark-up em mercados

concorrenciais imperfeitos, com diferentes graus de concentração de mercado,

diferenciação e substitutibilidade de produto, participação de firmas estrangeiras,

capacidade de absorver choques de custos, entre outros fatores que permitem às

firmas compensar parte dos movimentos do câmbio com ajustes do mark-up. Vale

destacar que vários modelos destacam o caráter diferenciado a choques cambiais

tidos como transitórios e permanentes, destacando que a reação das empresas se

dá de forma estratégica para a maximização intertemporal do retorno.

Supondo uma firma maximizadora de lucros a formulação geral para

formação de preços do exportador, em moeda doméstica, poderia ser expressa por

meio da equação de mark-up :

(3)

em que , sendo a elasticidade-preço da demanda, que seria em última

instância função da taxa de câmbio em razão da presença do produtor estrangeiro

no mercado doméstico.

A estrutura de mercado - grau de concorrência, diferenciação de produtos e o

impacto da taxa de câmbio sobre a formação de preços do produtor estrangeiro –

também será a determinante da formação do preço pelo produtor doméstico:

(4)

em que é o nível de preços do produtor doméstico, fazendo face à

concorrência internacional, sendo o mark-up do produtor doméstico, CDom o

seu custo marginal, ambos denominados em moeda doméstica.

Empiricamente, segundo Goldberg e Knetter (1997) a regressão típica de

“pass-through” tem a seguinte forma funcional:

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100

(5)

sendo que as variáveis, usualmente em logaritimos são: o preço de um bem

específico (preço de importação ou preço de exportação); uma variável de

controle principal (custos do exportador); a taxa de câmbio , um grupo de

variáveis de controle opcionais (renda, preços dos concorrentes) e que denota

o termo de erro, sendo o subescrito t denotando o tempo. Esta estrutura é o ponto

de partida para diversos trabalhos que envolvem diferentes metodologias, diferentes

níveis de desagregação setorial, respostas de curto ou longo prazo, a

estacionariedade, ou não, das séries temporais, além de considerações sobre

exogeneidade/endogeneidade das variáveis.

Na tabela 4.1 são apresentados alguns resultados para o repasse cambial

aos preços de importação revisados por Goldberg e Dillon (2007), aplicados a

diferentes países e períodos. Nota-se que prevalece a evidência de repasse cambial

incompleto, mas, com bastante diferença entre os países, por exemplo, 42% no caso

dos EUA e 81% para países na Área do Euro. No caso do Japão, as estimativas

diferem consideravelmente, chegando ao caso de repasse completo.

Tabela 4.1. Resultados grau de repasse cambial de longo prazo para o preço

das importações

Países Grau de repasse

OCDE 0.64

Estados Unidos 0.42

Área do Euro 0.81

Japão 0.57-1.00

Outras economias

desenvolvidas 0.60

Período: 1975 a 2003.

Fonte: Goldberg e Dillon (2007) apud Campa e Goldberg (2005) e Faruquee (2006).

Outro ponto a ser destacado na questão do repasse cambial é o ambiente

macroeconômico. De acordo com Taylor (2000), em uma economia com baixa

inflação as empresas tem menor poder de precificação, gerando menor repasse de

choques de custos para os preços finais em função da percepção de que as

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101

Autoridades Monetárias regiriam não sancionando as elevações de preços. Este

último argumento também é usado por Devereux e Yetman (2002) que mostram que

quando a politica monetária não consegue controlar a inflação as firmas ajustam os

preços com maior frequência e o repasse cambial é maior.

Bailliu e Fujii (2003) apresentam evidências de declínio do grau de repasse

cambial entre o período de 1977 a 2001, a partir de dados de onze países

industrializados, devido à mudança de ambiente inflacionário em razão da mudança

de regime monetário. Ihrig, Marazzi e Rothenberg (2007) corroboram esse resultado

para países do G-7 a partir de 1990.16

Campa e Goldberg (2010) demonstram que o repasse cambial aos preços de

produtos não transacionáveis depende da importância dos insumos importados para

o setor e da possibilidade de substituição por insumos domésticos. Já o repasse

cambial ao consumidor dos preços dos produtos transacionáveis é função da

importância relativa dos custos dos insumos importados e dos custos de distribuição

internos no preço do produto. Quanto maior a importância desses últimos frente aos

insumos importados menor será o repasse. O repasse é maior no preço dos

importados, reduzindo quando se considera a totalidade dos transacionáveis e

sendo ainda menor nos não-transacionáveis. Evidências desse declínio progressivo

são fornecidas pelos estudos de Bailliu e Fujii (2003) e Ihrig, Marazzi e Rothenberg

(2007) conforme tabela a seguir.

Tabela 4.2. Resultados repasse cambial de longo prazo para preço das

importações, e preços domésticos

Amostra Período Preço das

importações

Preços produção doméstica

Preços ao consumidor

Média para 11 países industrializados

1977-2001 0,892 0,303 0,155

Média para os países do G7

1975-1989 0.715 - 0.134

1990-2004 0.475 - -0.007

Fonte: Bailliu e Fujii (2003) e Ihrig, Marazzi e Rothenberg (2007).

16

Esta evidência em Ihrig, Marazzi e Rothenberg (2007) pode ser observada na tabela 2 na redução do grau de

repasse entre os dois períodos. Bailliu e Fujii (2003) utilizam variáveis dummy para os diferentes regimes

monetários.

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102

Para o caso brasileiro Prince e Kannebley (2013) estimaram o repasse

cambial ao preço de produtos importados indicando uma elasticidade entre 0,31 a

0,38 para os preços em moeda estrangeira, resultando em uma elasticidade entre

0,62 e 0,69 em moeda doméstica. Para os índices agregados de preços

Albuquerque e Portugal (2005) avaliam o repasse para o Índice de Preços no

Atacado (IPA-FGV), e Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-IBGE) para o

período de pré-estabilização 1980 a 1994 e pós estabilização da economia brasileira

1995 a 2002. Os resultados mostram uma redução expressiva das estimativas de

repasse cambial para o período 1998-2002. Belaisch (2003) estima para o período

1999/2002 um repasse cambial completo para os preços domésticos (IPA) e um

grau de repasse de 0,23 para o IPCA. Diversos outros estudos foram realizados

considerando diferentes períodos e metodologias, os resultados estão resumidos na

tabela a seguir.

Tabela 4.3. Resultados para a economia brasileira do repasse cambial de longo

prazo

Autores Período Dados Resultados

Prince e Kannebley (2013)

1996 a 2008

Preços de importação

desagregados para 16 setores

CNAE 1.0.

Repasse cambial incompleto e divergindo

entre os setores: intervalo de 0,37 a 0,60.

Albuquerque e Portugal (2005)

1980 - 2002 Preços

agregados IPA e IPCA.

Intervalo das estimativas para diferentes períodos:

IPA=0,86-0,90; IPCA=0,48-0,04.

Belaisch (2003) 1999 - 2002 Preços

agregados IPA e IPCA.

Repasse completo para o IPA e incompleto para o

IPCA = 0,23.

Nogueira, Mori e Marçal (2012)

1999 a 2010 Preços

agregados IPA, IPCA.

Repasse cambial: IPA = 0,18 e IPCA= 0,06.

Nogueira Junior (2010)

1995 - 2007 Preços ao

consumidor no agregado.

Repasse preços ao consumidor:

0,27 se inf. > 10% ao ano;

0,08 se inf < 10% ao ano.

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103

4.2. Abordagem Metodológica

Inicialmente serão produzidas estimativas do repasse cambial para os preços

das importações, dos produtos domésticos e aos consumidores no agregado. A

estimação para o repasse cambial em nível agregado será conduzido segundo

metodologia proposta por Belaish (2003), adaptada a partir do trabalho de McCarthy

(1999), e adotada por Nogueira, Mori e Marçal (2013). A estimação consiste no

cálculo de função de resposta ao impulso para o modelo VAR estimado em

primeiras diferenças com a inclusão dos vetores de cointegração como variáveis

exógenas conforme o modelo VCE ajustado17. A concepção da estimativa tem como

objetivo avaliar sobre a determinação dos preços – de importação, domésticos

(industrializados) e ao consumidor – no período (t), a influência conjunta de choques

de oferta e demanda, além do choque cambial, evidenciando uma cadeia de

transmissão para os choques.

Ainda que o modelo VAR seja capaz de capturar as interações entre as

diferentes variáveis, ele não permite revelar o mecanismo causal por trás das

variáveis uma vez que na sua forma geral corresponde a uma modelo na forma

reduzida. Assumindo-se algumas hipóteses sobre relações econômicas, o modelo

VAR Estrutural (SVAR) permite identificar choques estruturais, que se manifestam

por meio da interação entre as variáveis.

Modelo 1

Modelo 2

Modelo 3

Segundo McCarhty (1999) a estrutura recursiva do modelo (1) adota a

suposição de que os choques de oferta são identificados a partir da dinâmica dos

preços internacionais, os choques de demanda são identificados por meio da

dinâmica do produto, os choques externos são identificados a partir da dinâmica da

17

No trabalho de McCarthy são apenas consideradas as variáveis em primeira diferença, definindo um modelo

VAR estacionário. No entanto, verificada a cointegração entre as variáveis, a ausência do termo de correção de

erros na especificação configura a omissão de uma variável relevante para o modelo, viesando a estimativa dos

erros do modelo.

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104

taxa de câmbio, após levar em conta o efeito contemporâneo dos choques de oferta

e demanda. Sob essas suposições são então estimadas as funções de respostas ao

impulso dos choques cambiais sobre os preços de importação, produtos

industrializados e ao consumidor. O cálculo do repasse cambial entre o período t e t

+ s é dado pela razão entre as respostas acumuladas dos preços com relação ao

acumulação das respostas ao impulso do câmbio:

(7)

A fim de testar a robustez da suposição de estrutura imposta em McCarthy

são estimados dois modelos adicionais. No modelo (2) é invertida a ordenação entre

as variáveis PIB doméstico e taxa de câmbio, alterando-se a suposição de

precedência entre os choque de demanda e os choques domésticos. No modelo (3)

os choques de demanda são excluídos, fim de captar apenas as relações

provenientes no mecanismos de transmissão entre os preços e a taxa de câmbio,

sendo incluí o hiato do PIB como variável exógena.

4.3. Fonte de Dados e Análise Descritiva

4.3.1. Dados e análise descritiva para a economia no

agregado

As estimativas de repasse cambial para os índices de preços de importação,

de produção doméstico e aos consumidores são conduzidas para o período de 1999

a 2012, a partir de dados trimestrais, com as respectivas variáveis e fontes:

índice de preço das importações brasileiras / FUNCEX.

índice de preço doméstico / IPA-FGV.

: índice de preços ao consumidor - IPCA / IBGE.

: taxa de câmbio nominal dólares em reais, média das cotações

diárias para o trimestre / BCB.

: valor adicionado trimestral a preços básicos para a economia brasileira,

dados dessazonalizados / IBGE.

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105

preços internacionais– índice de preços das importações dos Estados

Unidos íncluíndo petróleo / BLS.

calculado por meio da aplicação do filtro de Hodrick-Prescott à série

do PIB.

A tabela 4.4 apresenta as estatísticas descritivas das variáveis que compõem

as estimações dos modelos VAR-VEC. Como é possível perceber, a hipótese de

estacionariedade, ainda que não testada formalmente, é pouco plausível nas séries.

Os preços de importação são mensurados em dólares conforme disponibilizados

pela FUNCEX.

Tabela 4.4. Estatísticas descritivas das variáveis

Variável Estatísticas

Média Máximo Mínimo Desv. padrão

IPCA (PCons) 96.204 138,569 57,501 23,810

IPA (PDom) 96,666 151,611 39,993 32,010

PImp 100,953 143,280 69,830 24,782

Cambio

US$/R$ 2,191 3,668 1,594 0,505

PIB 100,291 122,583 79,998 14,072

(PInt) 105,844 138,234 85,387 13,314

Número de observações: 56

Verifica-se que as inflações no período diferem entre os diversos índices de

preços utilizados. Quando calculadas para o período total primeiro trimestre de 1999

ao quarto trimestre de 2012, a inflação para o IPCA (PCons) é 140,9%, enquanto

que para o IPA (PDom) é de 279,1%. A inflação em dólares dos Preços de

Importações (PImp) é 105,2%, enquanto os preços de Importações dos EUA (Pint) é

de 61,9%. Com relação à taxa de câmbio em todo período a desvalorização nominal

foi de apenas 16,2%, mas apresentando um desvio absoluto de 130% entre as taxas

máximas e mínimas verificadas no período, o que denota a grande variabilidade da

taxa.

A figura 4.1 com as trajetórias temporais fornece uma visão geral das

variáveis em questão. Há uma tendência de aumento nos índices de preços,

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106

observada de forma mais suavizada para os preços ao consumidor e com maior

variabilidade para os demais. Ainda que em termos acumulados os índices de

preços de produtos importados e internacionais apresentem trajetórias semelhantes

entre si, diferem bastante em variabilidade, estando a variabilidade dos preços de

importações mais próxima à variabilidade dos índices de preço de bens em moeda

doméstica.

Figura 4.1. Logaritimos das variáveis do modelo agregado

A trajetória da variável da taxa de câmbio pode ser dividida em três

subperíodos. 1999 a 2002, 2003 a 2008/09 e de 2010 em diante. Após a

implementação do regime de taxas cambiais flutuantes em 1999 o Real (R$)

apresenta uma subsequente depreciação que atinge seu ápice em 2002, com uma

4.4

4.5

4.6

4.7

4.8

4.9

5.0

99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

PInt

4.3

4.4

4.5

4.6

4.7

4.8

4.9

99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

PIB

4.2

4.4

4.6

4.8

5.0

5.2

99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

Cambio US$/R$

4.2

4.4

4.6

4.8

5.0

99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

PImp

3.6

4.0

4.4

4.8

5.2

99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

PDom

4.0

4.2

4.4

4.6

4.8

5.0

99 00 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12

PCons

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crise de confiança que provoca saída de capitais. Um dos temores neste período era

o efeito das desvalorizações na taxa de câmbio para os preços e a manutenção da

estabilidade inflacionária. De 1999 a 2012 a taxa de câmbio nominal acumulou uma

desvalorização de 107,21% (calculada para os dados trimestrais) enquanto os

índices de preços da produção doméstica (IPA) e aos consumidores (IPCA)

acumulam alta de 95,13% e 34,23% respectivamente. Isto representa uma razão

entre a variação dos preços e a variação da taxa de câmbio de 0,88 para o IPA e

0,31 para o IPCA. Estes resultados ilustram, em um período de consolidação da

estabilidade da economia brasileira, um alinhamento para com a evidência

apresentada nos demais países industrializados de um menor efeito das variações

cambiais para os preços aos consumidores em relação ao impacto sobre os preços

dos produtos ao atacado.

Ainda, nota-se que os preços de produção domésticos seguem mais de perto

o aumento da taxa de câmbio, o que durante o choque de 2002 resulta em

deslocamento para cima na média desta variável e, ainda que em menor magnitude,

também observa-se na trajetória dos preços aos consumidores. Neste mesmo

período os preços internacionais (em dólar) apresentam um comportamento cíclico

em torno de uma média constante e os preços de importação, após manterem-se

constantes nos anos de 1999 e 2000, apresentam queda em 2001, consequência da

baixa demanda interna diante da crise energética que afeta o PIB neste ano e da

forte desvalorização cambial no período.

No período subsequente, de 2003 a 2008/09 as trajetórias das variáveis

ilustram um panorama distinto ao primeiro subperíodo. A moeda nacional segue um

tendência contínua de apreciação, com uma variação acumulada de menos 52,24%

entre 2003 até o terceiro trimestre de 2008, enquanto os preços da produção

doméstica acumularam alta de 44,89% e os preços aos consumidores de 34,86%

para o mesmo período. Os preços internacionais passam a exibir uma trajetória de

crescimento que é acompanhada pelos preços das importações, estes ainda mais

acelerados em consonância com o período de forte demanda interna e externa.

O período do último trimestre de 2008 até o fim de 2009 é um caso a parte,

devido a crise internacional que provoca uma inflexão nas trajetórias das variáveis.

Com o contágio da crise na economia brasileira, a taxa de câmbio sofreu forte

desvalorização, mas os preços de importação tiveram queda em função do ambiente

de queda da atividade econômica mundial, os preços industriais também

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apresentaram variação negativa de 4,49% (1998:4 à 1999:1), e os preços ao

consumidor se mantiveram estáveis. De 2010 a 2012 o taxa de câmbio acumulou

uma depreciação de 18,41%, sendo a inflação para este intervalo trienal de 27,93%

para os preços de produtos ao atacado e de 18,93% para os preços aos

consumidores.

Essa análise descritiva demonstra que é bastante difícil isolar os efeitos das

variações cambiais sobre os preços, dada a forte associação entre não apenas o

câmbio e o comportamento dos preços domésticos, mas também as influências dos

preços internacionais e o comportamento da demanda doméstica. A taxa de câmbio

apresenta maior variabilidade em momentos de crise, com picos de desvalorização

nestes períodos. Durante a desvalorização de 2002, observa-se, em concordância

com o esperado na teoria, que as variações cambiais encontram maior associação

com os preços domésticos e em menor magnitude com os preços ao consumidor.

Nos preços de importação ocorre um ajuste defasado em direção contrária ao

movimento cambial, dado que os preços estão em moeda estrangeira. Assim, diante

de uma depreciação da moeda doméstica os produtores externos ajustam suas

margens de lucro para baixo, produzindo um repasse cambial incompleto para os

preços de importação em moeda nacional. Também destaca-se o período descrito

de 2003 a 2008, com tendência de queda da taxa de câmbio, de variação crescente

no preço das importações e variação decrescente nos preços domésticos e estável

nos preços aos consumidores.

A observação da correlação entre os componentes cíclicos extraídos por meio

do filtro HP auxiliam na mensuração da associação entre as variações cambiais e os

diversos índices de preços. A tabela 5 apresenta a correlação entre as variações da

taxa de câmbio com os preços de produção domésticos (0,407), que é

significativamente maior do que sua correlação com os preços aos consumidores

(0,089). A correlação negativa e baixa do cambio com os preços de importação em

dólar (-0,282) expressa o fato de que em Reais (moeda doméstica) os preços

desses mesmos produtos sofrem ajustes contra cíclicos a fim de amortecer as

variações do câmbio, indicando um repasse incompleto, porém de magnitude mais

elevada. Também é interessante notar a correlação positiva entre a variação no

preço das importações e os preços domésticos e ao consumidor, respectivamente,

que conforme os canais de transmissão dos preços decresce em magnitude.

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Tabela 4.5. Correlação da variação no câmbio com a variação nos índices de preços

Cambio US$/R$ PImp PDom

PImp -0,282

PDom 0,407 0,224

PCons 0,089 0,156 0,688

4.3.2. Dados Do Painel Setorial da Indústria de Transformação

Nas estimações setoriais serão utilizadas informações referentes a 22 setores

da indústria de transformação segundo classificação CNAE 2.0, após a exclusão do

setor 19 – Fabricação de Coque e derivados de petróleo e 33 - Manutenção

instalação e reparação de máquinas à indústria de transformação. Os dados

utilizados nas estimações, possuem frequência trimestral e estão em número índice

com a base 100 igual à média dos trimestres de 2006. A construção de

compatibilização entre os preços domésticos, classificados segundo o sistema

CNAE, e os índices de preços internacionais, classificados segundo o sistema

harmonizado, foi realizada a partir dos tradutores NCM-CNAE. As variáveis e a

respectivas fontes de coletas de dados são:

: índice de preços das importações / FUNCEX.

índice de preço doméstico / IPA-FGV.

índice de custos domésticos / FUNCEX (denominador do indicador de

rentabilidade das exportações).

índice de custos estrangeiros representados pelos preços

internacionais de importações para os EUA / Bureau of Labor Statistics (BLS).

: taxa de câmbio nominal dólares em reais, média das cotações

diárias para o trimestre / BCB.

: câmbio dólares por moeda externa / IFS-FMI, podenderado pelo

peso dos principais países (englobando aproximadamente 85% do comércio)

nas importações da economia brasileira.

: tarifas de importação / sistema World Integrated Trade Solutions (WITS)

do Banco Mundial.

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110

A tabela a seguir apresenta as estatísticas descritivas para as variáveis no

painel em geral, e também para a variação entre os setores (between) e para a

variação no tempo (within). As tarifas de importação estão reportadas em pontos

percentuais e taxa de câmbio nominal em dólares por real, porém para cálculo das

correlações conforme a tabela 4.6, assim como na estimação dos modelos, são

utilizadas as variáveis transformadas em números índices, no caso das tarifas a

transformação é feita para a variável ( ). Nota-se que além da reduzida variação

das tarifas em cada setor (within), esta também é pequena entre os setores

(between) o que compromete a produção de estimativas do efeito desta variável

para os preços.

Tabela 4.6. Estatísticas descritivas para as variáveis setoriais em painel

Variação Variável Estatísticas descritivas

Média Máximo Mínimo Desv. Padrão

106,431 185,647 44,243 22,735

93,098 163,196 28,362 27,729

Geral

94,602 168,345 35,390 29,347

101,213 240,122 51,746 17,271

2,192 3,669 1,595 0,501

114,445 977,769 23,342 82,922

12,132 33,329 2,060 6,020

119,877 85,390 81,464

107,042 81,477 6,182

Between

101,615 90,675 3,225

111,248 86,363 5,148

2,191 2,191 0

307,591 77,312 46,134

24,374 3,531 5,179

172,200 65,283 21,295

153,335 34,429 27,062

Within

161,454 37,117 29,177

230.560 55.434 16.521

3,668 1,594 0,501

784,622 -99,214 69,590

21,728 2,833 3,256

Número de observações: 1232 (n=22, t=56)

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111

Cabe destacar na tabela 4.7 a correlação negativa entre as tarifas e os preços

de importação, indicativa um possível ajuste endógeno deste instrumento às

variações dos preços internacionais. A correlação negativa entre cambio e preços de

importação é cabível diante de um repasse cambial incompleto. No entanto, o sinal

igualmente negativo tratando-se da correlação com preços domésticos não é o

resultado esperado e não tem uma explicação intuitiva.

Tabela 4.7. Correlação entre as variáveis em painel

0,662

0,723 0,861

0,661 0,644 0,631

-0,470 -0,240 -0,276 -0,336

-0,084 -0,177 -0,218 -0,179 -0,023

-0,194 -0,359 -0,338 -0,322 0,044 0,094

4.4. Resultados

4.4.1. Repasse Cambial aos Índices de Preços

Agregados

Para cada uma das especificações dos modelos VAR foram realizados testes

econométricos para seleção da ordem de defasagem das variáveis, inclusão de

dummies de modo a garantir a normalidade e ausência de autocorrelação nos

resíduos do modelo estimado. Em seguida foi determinada a melhor especificação

VEC para obtenção dos vetores de cointegração incluídos como variáveis exógenas

na estimação do VAR final, para cada modelo verificou-se a existência de três

vetores.

A partir dos modelos VAR finais foram produzidas as funções de resposta dos

preços de importação, preços domésticos (IPA) e preços ao consumidor (IPCA) ao

choque na taxa de câmbio. Os resultado apresentados nas figuras seguintes (4.2 a

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112

4.4), mostram ocorrer um esgotamento do impacto do choque após 8 ou 9

trimestres.

Inicialmente é importante observar que as formulações, bem como as

hipóteses de identificação, adotadas reproduzem os principais fatos estilizados

sobre o repasse cambial, quais sejam: um maior impacto nos preços de importação

e uma resposta defasada dos índices de preços domésticos (IPA e IPCA). Um

choque de um desvio padrão no câmbio faz os preços de importações (em moeda

estrangeira) responderem imediatamente, no entanto, inicialmente na mesma

direção o que significa que tanto em Reais como em Dólar haveria um aumento dos

preços das mercadorias importadas. Posteriormente começaria haver uma correção

para baixo dos preços de importação no intuito de neutralizar parcialmente a

elevação dos preços em moeda doméstica do bem importado. Já o aumento do

índice de preço ao atacado (IPA) atinge maior magnitude no segundo trimestre,

sendo que após esse período passa ocorrer uma correção do IPA, que atinge maior

magnitude no quarto trimestre. Nos preços ao consumidor também verifica-se um

aumento gradual dos preços, no entanto, com menor variabilidade para o movimento

oscilatório.

No geral as três especificações apresentam comportamento semelhante,

principalmente os modelos (1) e (2) que diferem apenas quanto ao reordenamento

das variáveis. No modelo (3), que exclui o PIB como variável endógena, e inclui o

hiato do PIB como variável exógena, as trajetórias de dissipação dos choques

apresentam-se mais suaves, deixando de existir as oscilações nos preços

domésticos e aos consumidores. Ilustrando com o caso de uma desvalorização da

taxa de câmbio, este resultado poderia ser explicado, pela ausência do efeito de

política recessiva combatendo a inflação, que provocaria o efeito de redução e a

oscilação na resposta dos índices de preços e que parece não ser captado pelo

hiato como variável exógena.

A tabela 4.8 a seguir apresenta o grau de repasse cambial acumulado para as

especificações adotadas. Observa-se para os três modelos que o período de um ano

(quatro trimestres) pode ser considerado o longo prazo em termos do grau de

repasse cambial pois seus resultados divergem pouco daqueles obtidos após a

convergência total observada em dois anos. O grau de repasse estimado para os

preços de importação varia entre 77% e 93% da variação cambial. Esse último valor

extremo é obtido no modelo sem a inclusão da variável de PIB, sendo o grau de

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113

repasse apresentando maior variabilidade dependendo da inclusão ou não dessa

variável.

A revisão dos resultados presentes na literatura para a economia brasileira

não provém evidências para o repasse cambial aos preços de importação da

economia no agregado, no entanto a evidência de repasse incompleto e o nível de

repasse (em torno de 80% da variação cambial) demonstra um resultado alinhado

com o observado para outras economias industrializadas.

Figura 4.2. Funções de resposta dos preços de importação ao choque no câmbio

Figura 4.3. Funções de resposta do IPA ao choque no câmbio

-.008

-.006

-.004

-.002

.000

.002

.004

.006

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

-.0008

-.0004

.0000

.0004

.0008

.0012

.0016

.0020

.0024

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

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114

Figura 4.4. Funções de resposta do IPCA ao choque no câmbio

Tabela 4.8. Grau de repasse cambial acumulado

Trimestres

Modelo 1

Modelo 2

Modelo 3

após choque

Pimp IPA IPCA

Pimp IPA IPCA

Pimp IPA IPCA

1

1,081 0,170 0,037

1,111 0,133 0,043

1,074 0,116 0,029

2

0,978 0,311 0,094

0,991 0,255 0,094

0,980 0,241 0,065

3

0,819 0,333 0,133

0,817 0,237 0,119

0,895 0,282 0,084

4

0,754 0,266 0,153

0,736 0,154 0,133

0,892 0,308 0,104

5

0,764 0,213 0,135

0,728 0,102 0,119

0,918 0,326 0,110

6

0,788 0,214 0,115

0,754 0,109 0,103

0,936 0,328 0,106

7

0,794 0,235 0,118

0,767 0,130 0,106

0,939 0,325 0,106

8

0,794 0,243 0,126

0,771 0,138 0,112

0,933 0,316 0,106

9

0,799 0,243 0,125

0,778 0,141 0,111

0,929 0,309 0,102

10

0,801 0,246 0,125

0,778 0,145 0,112

0,928 0,312 0,101

11

0,797 0,245 0,126

0,774 0,142 0,113

0,928 0,317 0,104

12

0,796 0,241 0,125

0,773 0,137 0,112

0,929 0,317 0,105

As figuras 4.5 a 4.7 ilustram o repasse cambial acumulado ao longo do

tempo. Nestes fica mais evidente o overshooting existentes nos resultados dos

modelos (1) e (2), nos quais o repasse cambial para o IPA e IPCA declina

ligeiramente após atingir a maior magnitude no terceiro e quarto trimestre para os

respectivos índices. Para os preços dos produtos industrializados ao atacado (IPA) o

repasse aos preços no longo prazo situa-se entre 14% e 33%. No caso do IPA, as

-.004

-.002

.000

.002

.004

.006

.008

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

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115

estimativas são também dependentes da forma de ordenação da variável PIB,

representante dos choques de demanda nos modelos (1) e (2). No modelo (1), que

segue a especificação convencional de McCarthy (1999) temos a estimativa

intermediária de 24,5% da variação cambial. Com relação aos resultados existentes

na literatura para a economia brasileira, observa-se uma grande redução do grau de

repasse para os preços domésticos em comparação com os apresentados em

Belaisch (2003) e Albuquerque e Portugal (2005) sendo os resultados obtidos pelas

diferentes especificações mais próximos ao estimado em Nogueira, Mori e Marçal

(2012) que se situa mais próximo ao apresentado nos estudos para outros países.

Já o repasse cambial ao IPCA é o de menor variabilidade e dependência da

especificação do modelo, tanto no que diz respeito à ordenação dos modelos,

quanto à inclusão da variável de PIB, situando-se entre 11% e 12,5% da variação

cambial. Assim, uma depreciação cambial em 10% provocaria um aumento do IPCA

em torno de 1,1 a 1,25 pontos percentuais.

Figura 4.5. Grau de repasse cambial acumulado para o preço das importações

0.7

0.8

0.9

1.0

1.1

1.2

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

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116

Figura 4.6. Grau de repasse cambial acumulado para os preços de produção

domésticos - IPA

Figura 4.7. Grau de repasse cambial acumulado e pontual - IPCA

4.4.2. Testes de robustez dos resultados para o agregado

Os resultados obtidos sinalizam um efeito maior das variações cambiais para

os preços aos consumidores medidos pelo IPCA em comparação com outros

estudos. Albuquerque e Portugal (2005) estima um repasse de 4% das variações

cambiais para o IPCA no período 1995/2002 e Nogueira Junior (2010) um repasse

de 8% para o mesmo índice após a estabilização. Tendo em vista a relevância deste

efeito em termos de política econômica, sendo o IPCA o parâmetro para regime de

metas de inflação adotado no país, o Banco Central do Brasil também monitora seu

resultado e conforme divulgado nos relatórios de inflação considera um grau de

repasse cambial para o IPCA inferior, situado no intervalo de 3% a 5% das variações

cambiais.

.10

.15

.20

.25

.30

.35

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

.02

.04

.06

.08

.10

.12

.14

.16

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20

Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3

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117

Como as estimativas de repasse cambial divulgados pelo Banco Central não

são resultantes do modelo VAR em particular, mas de fato correspondem às médias

ou medianas dos resultados obtidos por diversas especificações e metodologias,

não é possível comparar o nível de repasse cambial divulgado no relatório de

inflação de junho de 2012 com as estimativas produzidas neste trabalho.

No entanto, como o trabalho de Nogueira, Mori e Marçal (2010) utiliza a

mesma metodologia e apresenta um nível de repasse cambial para o Índice de

Preços ao Consumidor cheio (IPCA) mais próximo ao apresentado pelo Banco

Central, sendo este de 0,52, ou seja, 5,2% de uma desvalorização da taxa de

câmbio consumidores (IPCA) em um período de 12 meses que representa o

resultado de longo prazo, é possível tomá-lo como base para buscar explicar o maior

repasse cambial para o IPCA.

Nogueira, Mori e Marçal (2010) obtêm o resultado supracitado partindo da

estimação de um modelo VAR para o seguinte conjunto de variáveis representadas

de acordo com o ordenamento em termos da transmissão contemporânea dos

choques:

Neste modelo são incluídas as seguintes variáveis: o preço do petróleo que

identifica os choques de oferta, a produção industrial que identifica os choques de

demanda, a taxa de câmbio nominal (US$/R$) e os preços medidos pelo IPA e pelo

IPCA. Esta estrutura teórica é similar à empregada neste trabalho, mas com a

ausência dos preços de importação representando a cadeia completa de distribuição

de um choque cambial para os preços.

Seguindo esta estrutura o modelo 1 pode ser reescrito como o modelo 1.A

descrito abaixo diferentes apenas pela exclusão da variável .

Modelo 1.A

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Estimando-se o modelo 1.A, obtêm-se os resultados descritos na tabela 4.9

que estabelece a comparação para com o modelo 1. Assim como nos demais

modelos, são realizados os procedimentos metodológicos descritos na seção 4.2,

partindo do ajuste de um modelo VAR(2), com as defasagens definidas de acordo

com os critérios de informação e incluídas dummies de ponto, de modo a obter

testes estatísticos que assegurem as hipóteses de ausência de autocorrelação e

normalidade dos resíduos. Então é estimado o modelo VEC para obtenção do termo

de correção de erros incluído como variável exógena no modelo VAR em primeiras

diferenças para o qual são obtidas as funções de resposta ao impulso na taxa de

câmbio e calculado o repasse cambial.

Tabela 4.9. Comparação dos resultados do repasse cambial acumulado para IPA e IPCA obtidos pelos modelos 1 e 1.A.

Trimestres Modelo 1

Modelo 1.A

após

choque IPA IPCA

IPA IPCA

1

0,170 0,037

0,163 0,020

2

0,311 0,094

0,241 0,046

3

0,333 0,133

0,274 0,064

4

0,266 0,153

0,266 0,079

5

0,213 0,135

0,234 0,083

6

0,214 0,115

0,199 0,072

7

0,235 0,118

0,181 0,059

8

0,243 0,126

0,188 0,053

9

0,243 0,125

0,206 0,055

10

0,246 0,125

0,218 0,061

11

0,245 0,126

0,219 0,065

12

0,241 0,125

0,212 0,065

Na tabela 4.9 observa-se que o repasse cambial estimado pelo modelo 1.A é

menor tanto para os preços de produção domésticos medidos pelo IPA quanto para

os preços aos consumidores medidos pelo IPCA. Porém tratando-se do IPCA a

redução do repasse cambial para os preços aos consumidores é ainda maior,

passando a ser aproximadamente a metade do estimado pelo modelo 1 ao longo

dos períodos, assim uma desvalorização de 10% da taxa de câmbio nominal, pelo

modelo 1, levaria a uma elevação de 1,25pp no IPCA em um período de oito

trimestres (2 anos), enquanto pelo modelo 1.A o aumento no IPCA seria de 0,53

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p.p., resultado bastante próximo à média de resultados divulgado pelo Banco Central

e similar ao obtido por Nogueira, Mori e Marçal (2010). A figura 4.8 ilustra a

comparação entre as especificações e por meio deste observa-se uma convergência

mais lenta no modelo 1.A para o resultado de longo prazo (6,2%), também nota-se

que no modelo 1.A o pico do repasse cambial (8,3%) passa a ocorre agora em 5

trimestres ante 4 trimestres no modelo 1.

Figura 4.8. Comparação entre o repasse cambial acumulado para o IPCA calculado para o modelo 1 e para o modelo 1.A.

A discrepância entre o repasse cambial calculado conforme o modelo 1 e o

modelo 1.A indica a relevância da variável para os preços de importação ( ) e da

representação completa da cadeia de distribuição do choque no câmbio para os

preços para o resultado final. A comparação, em termos da qualidade do

ajustamento dos dados, pode ser realizada por meio da observação dos critérios de

informação de Akaike e Schwarz, conforme a tabela 4.10. Neste caso o modelo com

o menor critério de informação é considerado de melhor qualidade de ajuste, sendo

o modelo 1 aquele que apresenta os menores critérios de informação.

Tabela 4.10. Critérios de parcimônia dos modelos

Modelo 1

Modelo 1.A

Akaike Schwarz

Akaike Schwarz

-33,489 -29,251

-28,239 -25,079

.00

.02

.04

.06

.08

.10

.12

.14

.16

2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

Modelo 1 Modelo 1.A

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120

Assim, pode-se concluir que a diferença de resultados do repasse cambial

estimado neste trabalho com relação ao apresentado em Nogueira, Mori e Marçal

(2012) é devido às diferenças de especificações empíricas utilizadas, que neste

trabalho, são oriundas das relações teóricas consideradas relevantes para a

determinação da relação entre o câmbio e os preços, considerando-se a cadeia de

distribuição de um choque no câmbio para os preços que ocorre dos preços de

importação para os preços domésticos e aos consumidores e que envolve efeitos

diretos e indiretos para o resultado dos preços aos consumidores.

Por fim, de modo a testar a estabilidade dos parâmetros dos modelos

estimados com relação ao período amostral, as especificações 1, 2, 3 e 1.A foram

re-estimadas para uma amostra reduzida que compreende os anos de 2003 a 2012.

A escolha desta subamostra busca verificar se durante os anos de 1999 a 2002 em

que ocorrem seguidas depreciações do Real e desvalorizações da taxa de câmbio

Real – Dólar a estabilização ainda não estava consolidada implicaria em um maior

efeito inflacionário das variações cambiais neste período, ou seja, excluir possíveis

quebras estruturais no comportamento das variáveis que pudessem comprometer a

magnitude dos parâmetros estimados e dos resultados calculados para o repasse

cambial.

Os resultados para o repasse cambial calculados neste caso são

apresentados na tabela 4.11. Embora haja alguma diferença, o que é natural tendo

em vista que é utilizada uma amostra diferente, não é possível observar uma

mudança substancial dos resultados, comparando-os com os da tabela 10, ao

contrario de uma redução é observado um aumento no repasse cambial para os

preços de importação e preços domésticos (IPA) e permanecem no mesmo patamar

os resultados para os preços aos consumidores. Este resultado reforça a conclusão

de que a diferença dos resultados estimados neste trabalho com relação aos

revisados na literatura para a economia brasileira ou para com os resultados

divulgados pelo Banco Central ocorre devido à diferença nas especificações

empíricas utilizadas. Cabe destacar que esta estrutura empírica está presente na

literatura internacional de repasse cambial, porém ainda não foi utilizada para dados

da economia brasileira.

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Tabela 4.11. Resultados do repasse cambial estimados para as diferentes

especificações com a amostra reduzida aos anos de 2003 a 2012.

Trimestres Modelo 1*

Modelo 2*

Modelo 3*

Modelo 1.A*

após

choque Pimp Pdom Pcons

Pimp Pdom Pcons

Pimp Pdom Pcons

Pdom Pcons

1

1,142 0,224 0,010

1,162 0,215 0,025

1,059 0,168 0,030

0,161 0,016

2

1,017 0,419 0,040

1,009 0,386 0,061

0,963 0,302 0,054

0,237 0,034

3

0,890 0,475 0,085

0,877 0,408 0,104

0,914 0,351 0,083

0,302 0,055

4

0,940 0,409 0,108

0,891 0,348 0,126

0,965 0,352 0,104

0,275 0,071

5

0,947 0,400 0,106

0,881 0,324 0,124

1,021 0,332 0,104

0,219 0,075

6

0,923 0,384 0,097

0,874 0,314 0,116

1,016 0,319 0,094

0,195 0,065

7

0,934 0,374 0,099

0,892 0,315 0,119

0,992 0,322 0,091

0,206 0,055

8

0,925 0,387 0,101

0,884 0,327 0,120

0,981 0,330 0,095

0,227 0,055

9

0,908 0,389 0,097

0,870 0,327 0,116

0,987 0,333 0,097

0,239 0,060

10

0,917 0,384 0,098

0,879 0,325 0,116

0,996 0,330 0,097

0,238 0,062

11

0,929 0,390 0,101

0,888 0,329 0,120

0,998 0,329 0,096

0,231 0,062

12

0,928 0,392 0,100

0,887 0,330 0,119

0,994 0,329 0,096

0,226 0,062

*Modelos estimado para amostra reduzida: 2003T1 a 2012T4.

4.4.3. Modelos Agregados para preços de Importação

com Dados em Painel

A estimação da relação de cointegração com dados em painel com uso de

métodos de estimação adequados, neste caso, Fully Modified Least Squares

(FMOLS) desenvolvido em Pedroni (2000), tem a vantagem, com relação a

estimação para os dados agregado por considerar a heterogeneidade e as

idiossincrasias de cada setor (efeito fixo). Embora a dimensão seccional para o

painel de dados inclua 22 setores, durante os procedimentos de estimação setoriais

foram observadas quebras estruturais nas séries dos preços de importação para os

setores 11 e 12 que foram excluídos da estimação.

Os resultados para os preços das importações apresentados na tabela a

seguir mostram que as estimativas para o coeficiente da taxa de câmbio efetiva

( ) não apresentaram significância estatística em nenhum especificação, e

assim, os resultados discutidos correspondem às estimações excluindo esta variável

de controle, descritas na tabela por (15’), (16’) e (17’).

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122

Observa-se uma estimativa de -0,225 para o coeficiente associado à variável

, que representa a elasticidade câmbio dos preços de importação em

dólares, que resulta em um repasse cambial de 0,775 para os preços de importação

medidos em moeda nacional. Na mesma especificação observa-se que o coeficiente

associado ao log das tarifas, ln(1 + τ) é igual a -0,774, expressando o fato de que na

aplicação em Reais o impacto da tarifa sobre os preços de produto importado é de

22,6%. No entanto, esse coeficiente não é estatisticamente significativo, devido,

muito provavelmente, à fragilidades dos dados de tarifa.

Desta forma será suposto aqui a existência de um impacto simétrico entre

câmbio e tarifa, conforme especificado em (16), (17), (16´) e (17´). Nesse caso os

coeficientes estimados nessas equações situam-se no intervalo de -0,203 a -0,255.

Isto representa que o repasse cambial para o preço das importações permanece

próximo ao estimado nos modelos não restritos situando-se no intervalo de 0,745 a

0,797.

Como a imposição das restrições não gera estimativas divergentes para o

repasse cambial, de maneira que o grau de repasse obtido pelo modelo geral situa-

se dentro do intervalo formado pelas estimativas dos modelos restritos, (0,745;

0,775; 0,797). Este resultado pode ser concebido como um indício da validade das

restrições e do efeito simétrico entre as variações no câmbio e nas tarifas para os

preços de importação da indústria de transformação.

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123

Tabela 4.12. Resultados das estimações para o preço das importações

Variável Especificações

15 16 17 15' 16' 17'

0,194* 0,193* 0,218* 0,220*

(6,931) (7,947) (10,359) (10,474)

-0,922 -0,774 (-1,064) (0,323)

-0,209* -0,225* (-12,230) (14,595)

0,026 -0,009 0,009

(-0,018) (-0,536) (0,536)

1,405* 1,577* 1,148* 1,485* 1,636* 1,201* (14,003) (14,879) (12,151) (15,295) (17,155) (13,060)

0,242* -0,255*

(-

13,070)

(14,831)

0,203* 0,216* (11,599) (13,005)

Número de observações: 1120 Estatística t entre parênteses: * significância a 10%; ** significância a 5%, *** significância a 1%.

4.4.4. Resultados de Longo Prazo para os Setores

Industriais

As estimações para as séries de tempo setoriais tem como base as

equações (3) e (4), para bens importados e produzidos no mercado doméstico

respectivamente. Sendo assim, o conjunto de variáveis Yt tem n = 5, sendo

.

Considerando que foi verificado a existência de dois vetores cointegrantes é

interessante observar que, adotando a restrição a priori para a normalização dos

coeficientes associados a serão estimados dois vetores de cointegração

dados por 18:

(8.A)

18

Havendo, consequentemente, três tendências estocásticas comuns no vetor de cointegração.

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124

(8.B)

Nesse caso os parâmetros e representarão o grau de repasse

cambial, respectivamente, aos preços de importação e preços de industrializados

produzidos domésticamente. É interessante observar que essas equações refletem

um processo de formação de preços simultaneamente determinados, em que em

última instância refletem as condições competitivas domésticas e internacionais,

além da taxa de câmbio19. As tendências comuns dos modelos representam então

esses fatores. Complementarmente os parâmetros dos modelos (8.A) e (8.B) serão

estimados por FM-OLS para séries de tempo conforme proposto em Phillips e

Hansen (1990) de modo a obter comparação dos resultados de repasse cambial

entre diferentes metodologias.

As figuras a seguir apresentam os resultados do repasse cambial para os

setores da indústria de transformação para os vetores de cointegração para os

preços de importação e domésticos, ajustados conforme a metodologia de Johansen

(1988). Também são apresentadas as estimativas por FM-OLS para comparação e

verificação de robustez dos resultados. Para alguns setores não foi possível obter

ajustamento estatisticamente coerente, não sendo apresentados então seus

resultados.

Nos resultados obtidos por ambos os estimadores do repasse cambial aos

preços de importação dos setores industriais prevalece a evidência de repasse

cambial incompleto, apenas nos setores 18 – Impressões e gravações, 27 –

Máquinas elétricas e 30 – Outros equipamentos de transporte observa-se uma

estimativa indicativa de repasse cambial completo. No setor 14 não foi rejeitada a

hipótese de repasse cambial nulo pela metodologia de Johansen, no entanto este

resultado é divergente do obtido por FM-OLS (repasse de 0,648). Os resultados

também divergem nos setores 24 – Metalurgia e 32- Indústrias diversas. Contudo

para os demais o grau de repasse é semelhante por ambos estimadores

demonstrando-se robustos.

19

Obviamente aqui não se argumenta sobre a exogeneidade das variáveis, ainda que as hipóteses de

exogeneidade fraca e forte possam ser testada partir da estimação dos modelos VCE.

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Figura 4.9. Grau de repasse cambial setorial para o preço das importações

Média das estimativas de repasse para o preço das importações por Johansen: 0,552 Média das estimativas de repasse para o preço das importações por FM-OLS: 0,739

A média das estimativas obtidas pela metodologia de Johansen é similar aos

resultados obtidos em Prince e Kannebley (2013). Já a média dos resultados de FM-

OLS apresenta-se mais elevada e similar aos resultados obtidos para o agregado da

indústria de transformação. Avaliando o grau de repasse estimado por FM-OLS,

observa-se na maioria dos setores um alto grau de repasse cambial (de 0,80 a 1,00)

ou um repasse intermediário de (0,60 a 0,80).

Nos resultados do repasse cambial para os preços domésticos, apresentados

na figura 4.10, comparando-se com os obtidos para os preços de importação,

observa-se uma redução no grau de repasse para todos os setores indicando que, a

despeito da participação apenas parcial dos insumos importados na composição de

custos das mercadorias domésticas, os produtores domésticos absorvem parte das

variações cambiais em suas margens de lucro. Cabe destacar que a média

apresentada, (0,11 na média para ambos os estimadores) inclui diversos resultados

negativos, o que significaria que diante de uma desvalorização cambial, os

0,502

0,734

0,000

0,399

0,542

0,705

0,832

0,273

0,055

0,782

1,000

0,666

0,742

0,807

0,248

0,455

0,801

0,648

0,930

0,436

0,734

0,987

0,599

0,212

0,759

0,944

0,688

0,659

0,968

0,855

0,770

0,808

1,114

0,774

0,639

0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000 1,200

10 - Alimentos

11 - Bebidas

12 - Fumo

13 - Têxteis

14 - Vestuário

15 -Couro

16 - Madeira

17 - Papel e celulose

18 - Gravações e impressões

20 - Químicos

21 -Farmacêuticos

22 - Borracha e plástico

23 -Minerais não metal

24 - Metalurgia

25 - Produtos metal não máquinas

26 - Informática

27 - Maquinas elétricas

28 - Maquinas equipamentos

29 - Veículos

30 - Outros equip. transporte

31 - Móveis

32 - Diversas

Repasse Pimp / Johansen Repasse Pimp / FM-OLS

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produtores mais do que compensariam seus efeitos reduzindo o preço doméstico.

Desconsiderando os resultados negativos, bem como o caso de repasse cambial

nulo, a média passa a ser 0,160 e 0,107 para os resultados de Johansen e FM-

OLS, respectivamente, próximas então da estimativa agregada fornecida pelo

modelo VAR número 2, de repasse igual a 0,137.

Figura 4.10. Grau de repasse cambial para o preço de produção dos setores da indústria de transformação doméstica

Média das estimativas de repasse para os preços domésticos por Johansen: 0,146 Média das estimativas de repasse para os preços domésticos por FM-OLS: 0,081

4.5. Análise dos Resultados e Considerações Finais

A tabela a seguir apresenta uma síntese dos resultados produzidos pelos

diferentes estimadores e diferentes níveis de agregação dos dados. De um modo

geral, os resultados obtidos nas diversas análises estão coerentes com aqueles

apresentados pela literatura internacional tanto em termos de ordenamento, como

em magnitude.

0,000

0,252

0,114

0,000

-0,052

0,320

0,000

0,000

0,078

-0,123

0,000

0,436

0,413

0,064

0,079

0,0470

0,0830

0,0000

-0,0140

-0,0200

0,2440

0,0880

-0,0460

-0,1230

-0,0240

0,1700

0,4680

-0,0740

0,6950

0,0000

0,0220

0,0000

-0,0910

-0,0760

0,0730

-0,200 0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000

10 - Alimentos

11 - Bebidas

12 - Fumo

13 - Têxteis

14 - Vestuário

15 -Couro

16 - Madeira

17 - Papel e celulose

18 - Gravações e impressões

20 - Químicos

21 -Farmacêuticos

22 - Borracha e plástico

23 -Minerais não metal

24 - Metalurgia

25 - Produtos metal não máquinas

26 - Informática

27 - Maquinas elétricas

28 - Maquinas equipamentos

29 - Veículos

30 - Outros equip. transporte

31 - Móveis

32 - Diversas

Repasse PDom / Johansen Repasse PDom / FM-OLS

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Tabela 4.13. Síntese dos resultados

Dados

Metologia Modelos Importação Domésticos Consumidor

Indústria de transformação

1 0,775

Painel FM-OLS* 2 0,745

3 0,784

Média

setorial

Johansen

0,552 0,146

FM-OLS

0,739 0,081

1 0,796 0,241 0,125

Agregado

VAR-VEC 2 0,773 0,137 0,112

3 0,929 0,317 0,105

*Segue o ordenamento do modelo mais geral (1) para o mais restrito (3)

Já com relação à literatura empírica nacional, que possui maior dispersão em

seus resultados, nossos resultados se aproximam mais daqueles obtidos por em

Nogueira, Mori e Marçal (2012), o que decorre da semelhança da abordagem

metodológica. Este trabalho ofereceu evidências adicionais tanto em termos de

melhor especificação do modelo agregado como em nível setorial para identificar o

repasse em setores da indústria de transformação. O modelo VAR - 2 parece ser o

mais representativo para a economia nacional, indicando, portanto, um repasse

cambial de longo prazo ao índice de preço ao consumidor de 0,112; ou seja, uma

desvalorização cambial de 10% provocaria um aumento na inflação em 1,12 pontos

percentuais.

Diante dos resultados o interesse volta-se para a possibilidade de

compensação dos efeitos das variações na taxa de câmbio sendo. Um instrumento a

ser utilizado neste sentido seriam as tarifas de importação, considerando a sua

influência simétrica à taxa de câmbio para os preços dos produtos importados. Desta

forma, dado o conhecimento do grau de repasse cambial para os preços de

importação seria interessante determinar o tamanho do ajuste necessário nas tarifas

em contraposição ao movimento da taxa de câmbio. Assim sendo, em setores em

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128

que há um repasse cambial reduzido, seria necessária também uma pequena

redução das tarifas para compensar uma desvalorização da taxa de câmbio, sendo o

inverso recomendado para setores com maior grau de repasse cambial.

Agregando-se as estimativas de repasse cambial para as importações e o

nível tarifário, para o ano de 2012, segundo a classificação por categoria de uso dos

setores industriais, observa-se que o maior grau de repasse cambial se dá nos

setores produtores de bens de capital (entre 0,746 e 0,892) e de bens de consumo

duráveis (0,737 e 0,879). Esses resultados são de certa forma esperados dadas as

características de maior diferenciação e menor grau de substitutabilidade desses

tipos de bens. Quando a média é ponderada pelos pesos de cada setor na matriz de

insumo produto este resultado permanece. Observa-se, porém um menor grau de

repasse cambial em termos efetivos para os bens de consumo não duráveis e

semiduráveis. Para os bens de consumo não duráveis o menor grau de repasse é

explicado pelo efeito concorrência com os produtos domésticos, sendo mais

facilmente substituíveis.

Para o caso de interesse dos insumos da indústria de transformação

classificados como bens intermediários, observa-se um grau de repasse cambial de

70% aproximando-se de 80% em termos efetivos ao considerar o peso dos setores

para a produção. Analisando também pela média ponderada, verifica-se que em

termos efetivos os bens intermediários já possuem um menor nível de tarifas com

relação aos demais tipos de bens.

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Tabela 4.14. Repasse cambial com setores por categorias de uso e tarifas de importação em 2012 e na média para o período 1999-2012

Classificação

Média simples

Média ponderada*

setores

Johansen FM-OLS

Tarifas 2012

Johansen

FM-OLS

Tarifas 2012

Bens de capital

0,746 0,892 11,155

0,739 0,875 11,057

Bens intermediários

0,580 0,719 11,849

0,484 0,706 7,616

Bens

consumo duráveis

0,737 0,879 11,922

0,728 0,847 11,501

Bens

consumo não duráveis e

semiduráveis

0,459 0,623 13,677

0,496 0,415 9,856

* Ponderação conforme o peso relativo entre os setores para a matriz insumo produto - fonte IBGE

Além disso, outra classificação é realizada conforme o Coeficiente de

Penetração das Importações (CPI) nos diferentes setores analisados, sendo a média

do repasse cambial para as importações calculados para os setores agrupados do

CPI (os grupos situam-se entre um desvio padrão do CPI médio e abaixo e acima

destes limites). Esta classificação ilustrada na tabela seguinte sugere que os setores

com menor coeficiente de penetração das importações apresentam maiores tarifas,

porém com menor variação no que tange ao repasse cambial. As figuras 4.11 e 4.12

ilustram respectivamente, a correlação positiva entre o CPI e o grau de repasse

cambial para as importações dos setores e também a relação negativa entre o CPI e

as tarifas de importação.

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Tabela 4.15. Média dos resultados agrupados conforme os intervalos para o coeficiente de penetração das importações

Médias para os setores classificados conforme os intervalos do CPI

Parcela de mercado

< 1,6%

1,6% a 11,4%

11,4% a 24,4%

> 24,4%

Repasse Johansen

NA

0,54

0,56

0,58

Repasse FMOLS

NA

0,73

0,73

0,77

Tarifas 2012

14,65

13,02

12,63

8,31

Este resultado está de acordo com o esperado em termos teóricos de que

quanto menor a proteção tarifária, maior o coeficiente de penetração das

importações (proxy para a parcela de mercado das importações), maior seria então

o poder de mercado dos exportadores externos e maior o grau de repasse cambial.

Por outro lado, quanto maior o nível de tarifas, menor a parcela das importações

devido a maior proteção, menor o poder de mercado e menor o grau de repasse

cambial.

Figura 4.11. Relação entre CPI e o grau de repasse cambial estimado conforme as metodologias de FM-OLS e Johansen

.0

.1

.2

.3

.4

.5

0.2 0.4 0.6 0.8 1.0 1.2

Repasse PImp Setores (FMOLS)

Co

ef.

de

Pe

ne

traçã

o d

as

Imp

ort

açõ

es

Se

tore

s

.0

.1

.2

.3

.4

.5

0.0 0.2 0.4 0.6 0.8 1.0

Repasse Pimp Setores (Johansen)

Co

ef.

de

Pe

ne

traçã

o d

as

Imp

ort

açõ

es

Se

tore

s

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Figura 4.12. Relação entre CPI e tarifas de importação média de 1999 a 2012.

Por fim, a tabela 4.16 apresenta um cálculo de quanto seria necessário de

reajuste das tarifas de importação supondo uma depreciação cambial da ordem de

20% para compensar o repasse cambial. No presente exemplo, considera-se o grau

de repasse para os bens intermediários obtidos pela média simples dos resultados

da estimação por FM-OLS, (0,719 para o repasse cambial e 11,1% de tarifas de

importação em 2012). Neste caso, no longo prazo, os produtores externos

compensariam 0,381% da desvalorização na taxa de câmbio. Tomando-se como

valor inicial de US$ 100,00 o preço do bem importado, para que o aumento dos

preços em moeda doméstica (de 222 para 252,22) fosse anulado, seria necessária

uma redução de 13,30% pontos percentuais na tarifas de importação. Tendo em

vista que as tarifas se encontram no patamar de 11%, isto significaria que seria

necessário um subsídio de 2,80% para compensar uma desvalorização de 20% da

taxa de câmbio nominal. Ou seja, dada a magnitude da desvalorização cambial

corrente parece ser inviável a compensação dos seus impactos inflacionários

apenas por meio da correção tarifária aos produtos importados; mas esta pode

contribuir de forma significativa para reduzir os impactos inflacionários.

.0

.1

.2

.3

.4

.5

.00 .04 .08 .12 .16 .20 .24 .28

Tarifas de Import. Média período

Co

ef.

de

Pe

ne

traçã

o d

as

Imp

ort

açõ

es

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Tabela 4.16. Caso de compensação das tarifas na indústria de transformação

Preço Importações em US$ 100

94,679

94,679

Taxa de cambio 2

2,4

2,4

Variação em % 0

20%

20%

Preço importações em R$ 200

227,23

227,23

(1+Tarifas de importação) 1,11

1,11

0,9770

Variação das tarifas em

pontos % 0%

0%

-13,30%

Preço final em R$ 222

252,225

222

Mas, como mostrado também pela revisão da literatura, o repasse cambial

tende a ser menor em países e em períodos caracterizados por menores taxas de

inflação. Assim, a diminuição do repasse cambial para os preços depende da

sinalização do governo de seu comprometimento com a estabilização, por meio das

políticas fiscal e monetária, de tal forma que os agentes se sintam desestimulados a

repassar os choques cambiais para os preços sob o risco de perderem parcelas do

mercado.

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