Fases Do Processo - Acp

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1 PSICOTERAPIA CENTRADA NA PESSOA FASES DO PROCESSO TERAPÊUTICO A Psicoterapia na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa pode ser encarada como um “encontro existencial” (Holanda) ou um “encontro interpessoal” (Puente), onde o primordial é a qualidade do encontro. Mais especificamente, Rogers descreve sete etapas que seriam designativas de um processo terapêutico. A primeira fase seria justamente a fase da “rigidez de do distanciamento” de sua experiência. Seriam características desta fase a recusa de uma comunicação pessoal, ficando esta no plano da superficialidade, dos assuntos “externos”. O indivíduo tem pouco ou nenhum reconhecimento do fluxo e do refluxo da sua vida afetiva (...) No seu modo de viver a experiência atual, ele é limitado pela estrutura da sua forma de experienciar (...) O indivíduo, nesta fase, está representado em termos de imobilidade, fixidez, em oposição a qualquer fluxo ou mudança” (Rogers, 1977). Além disso, o indivíduo não reconhece seus significados pessoais, e suas relações pessoais são encaradas como perigosas, ou seja, há um grande bloqueio na comunicação interna. A segunda fase ocorre “quando o indivíduo é capaz por si mesmo, durante a primeira fase, de fazer a experiência de que é totalmente aceito (...) A expressão em relação aos tópicos referentes ao não-eu começa a ser mais fluente” (Rogers, 1977). Nesta, os problemas são percebidos como externos a si próprio, mas já alcançam o nível perceptual, embora ainda não exista o sentimento de responsabilidade pessoal. A experiência do indivíduo está alicerçada sobre uma estrutura do passado. Na terceira fase ocorre que, caso não haja bloqueio para o prelúdio de expressão da fase anterior e, caso o indivíduo se sinta aceito, passa-se a um momento de descontração e “fluência simbólica”. O “eu” se expressa mais livremente como objeto; suas expressões de vivências pessoais também guardam uma característica objetal. Neste momento, “uma aceitação muito reduzida dos sentimentos. A maior parte dos sentimentos são revelados como forma de não aceitação. Manifestam-se sentimentos e, nesse caso, algumas vezes são reconhecidos com tais (...) Os constructos pessoais são rígidos, mas podem ser reconhecidos como constructos e não como fatos exteriores (...) A diferenciação dos sentimentos e dos significados é mais nítida, menos global do que nas fases precedentes” (Rogers, 1977). O sentimento de aceitação, por parte do cliente, é fundamental para quarta fase. Nesta, os constructos se distendem e há uma fluência mais livre dos sentimentos. Estes já são descritos como objetos no presente, e por vezes, são expresso no presente. Esta tendência à experimentação de sentimentos no presente é acompanhada por desconfiança e medo, mas já se manifesta certa aceitação em relação a esses sentimentos. “Surge um relaxamento na forma como a experiência é construída. Ocorrem algumas descobertas sobre os constructos pessoais; dá-se um reconhecimento definitivo do seu caráter de

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PSICOTERAPIA CENTRADA NA PESSOA

FASES DO PROCESSO TERAPÊUTICO

A Psicoterapia na perspectiva da Abordagem Centrada na Pessoa pode ser encarada como um “encontro existencial” (Holanda) ou um “encontro interpessoal” (Puente), onde o primordial é a qualidade do encontro.

Mais especificamente, Rogers descreve sete etapas que seriam designativas de um processo terapêutico. A primeira fase seria justamente a fase da “rigidez de do distanciamento” de sua experiência. Seriam características desta fase a recusa de uma comunicação pessoal, ficando esta no plano da superficialidade, dos assuntos “externos”. “O indivíduo tem pouco ou nenhum reconhecimento do fluxo e do refluxo da sua vida afetiva (...) No seu modo de viver a experiência atual, ele é limitado pela estrutura da sua forma de experienciar (...) O indivíduo, nesta fase, está representado em termos de imobilidade, fixidez, em oposição a qualquer fluxo ou mudança” (Rogers, 1977). Além disso, o indivíduo não reconhece seus significados pessoais, e suas relações pessoais são encaradas como perigosas, ou seja, há um grande bloqueio na comunicação interna.

A segunda fase ocorre “quando o indivíduo é capaz por si mesmo, durante a primeira fase, de fazer a experiência de que é totalmente aceito (...) A expressão em relação aos tópicos referentes ao não-eu começa a ser mais fluente” (Rogers, 1977). Nesta, os problemas são percebidos como externos a si próprio, mas já alcançam o nível perceptual, embora ainda não exista o sentimento de responsabilidade pessoal. A experiência do indivíduo está alicerçada sobre uma estrutura do passado.

Na terceira fase ocorre que, caso não haja bloqueio para o prelúdio de expressão da fase anterior e, caso o indivíduo se sinta aceito, passa-se a um momento de descontração e “fluência simbólica”. O “eu” se expressa mais livremente como objeto; suas expressões de vivências pessoais também guardam uma característica objetal. Neste momento, “há uma aceitação muito reduzida dos sentimentos. A maior parte dos sentimentos são revelados como forma de não aceitação. Manifestam-se sentimentos e, nesse caso, algumas vezes são reconhecidos com tais (...) Os constructos pessoais são rígidos, mas podem ser reconhecidos como constructos e não como fatos exteriores (...) A diferenciação dos sentimentos e dos significados é mais nítida, menos global do que nas fases precedentes” (Rogers, 1977).

O sentimento de aceitação, por parte do cliente, é fundamental para quarta fase. Nesta, os constructos se distendem e há uma fluência mais livre dos sentimentos. Estes já são descritos como objetos no presente, e por vezes, são expresso no presente. Esta tendência à experimentação de sentimentos no presente é acompanhada por desconfiança e medo, mas já se manifesta certa aceitação em relação a esses sentimentos. “Surge um relaxamento na forma como a experiência é construída. Ocorrem algumas descobertas sobre os constructos pessoais; dá-se um reconhecimento definitivo do seu caráter de

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construções; começa a pôr-se em questão a sua validade (...) Dá-se uma apreensão das contradições e das incongruências entre a experiência e o eu” (Rogers, 1977).

A partir disto, pode-se qualificar a quinta fase como uma fase de maior abertura e uma “renovada liberdade” do fluxo organísmico. Neste momento os sentimentos já são expressos no presente estão “prestes a ser plenamente experimentados”. O indivíduo começa a perceber que a experiência de um sentimento envolve uma “referência direta” e, mesmo com receio e medo, os sentimentos emergem. “Há cada vez mais uma chamada a si dos próprios sentimentos e o desejo de vivê-los, de ser o ‘verdadeiro eu’ (...) A experiência é mais maleável, já não distante (...) Há muitas descobertas originais dos constructos pessoais como constructos e uma análise e discussão crítica destes (...) O indivíduo aceita cada vez com maior facilidade a sua própria responsabilidade perante os problemas que tem de enfrentar, e sente-se cada vez mais afetado pelo comportamento que perante eles manifestou. O diálogo interior torna-se mais livre, melhora a comunicação interna e reduz-se o bloqueio” (Rogers, 1977).

Supondo-se que o clima de aceitação permanece, surge uma sexta fase, caracterizada pela experiência imediata de um sentimento anteriormente bloqueado. Este sentimento flui, é experimentado no seu presente diretamente e com riqueza, além de ser aceito como algo real. A experiência é então vivida subjetivamente, o que faz com que tenda a desaparecer o “eu” como objeto. “A incongruência entre a experiência e a consciência é vivamente experimentada no momento mesmo em que desaparece no interior da congruência. O constructo pessoal correspondente dissolve-se no momento dessa experiência e o cliente sente-se separado do seu anterior quadro de referência estável (...) A diferenciação da experiência é clara e fundamental (...) Nesta fase, já não há ‘problemas’ exteriores ou interiores. O cliente está vivendo subjetivamente uma fase do seu problema. Este não é um objeto” (Rogers, 1977).

Rogers assinala que a sexta etapa tende a ser irreversível, o que faz com que a sétima fase possa ser vivenciada fora do ambiente terapêutico. Nesta, “são experimentados novos sentimentos com um caráter de imediatismo e com uma riqueza de pormenor, tanto na relação terapêutica como fora dela. A experiência de tais sentimentos é utilizada como um claro ponto de referência (...) Há um sentido crescente e continuado de aceitação pessoal desses sentimentos em mudança e uma confiança sólida na sua própria evolução” (Rogers, 1977). O indivíduo percebe-se num fluxo contínuo, num processo, o que faz com que experiencie as situações não mais como eventos passado, mas como novidades. O indivíduo é o próprio processo. E este processo implica numa “transformação das formas de experiência”.

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Texto extraído do livro abaixo:

GOBBI, Sérgio L.; MISSEL, Sinara T. Vocabulário e noções básicas da abordagem centrada na pessoa. São Paulo: Vetor, 2002.