FERNANDA CHRISTINA DA SILVA...
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FERNANDA CHRISTINA DA SILVA CASTANHEIRO
A EDUCA<;:AO ESCOLAR EM ARTE NO ENSINO FUNDAMENTAL DA REDE
PUBLICA DE ENSINO: PROPOSTA TRIANGULAR E MATERIAlS DE APOIO
DlDATICO.
MONOGRAFIA APESENT ADAAO CURSO DE POETICASCONTEMPORANEAS NOENSINO DA ARTEUNIVERSTDADE TUIUTI DOPARANA.PRQF.a ORlENTADORA: JOSELIASALOME.
CURITIBA
2004
SUMARIO
1. Introdu9iio .... .................... 02
2. Urn olhar sobre a situa9iio do ensino da arte 04
3. Proposta Triangular e a relag80 com os materiais didaticos .. . 11
4. Observagoes a cerea do ens ina de arte nas escolas municipais de Curitiba ..14
5. Conclusao ... . 19
Referencias bibliograficas .. . 20
INTRODUC;:AO
Esse trabalho toi desenvolvido no senti do de tra9ar urn olhar sobre a situa9ao
atual do ens ina de artes nas escolas de ensina particular e especificamente no
ensina publico, ande S8 da a educac;ao da grande maieria. Analisando, (1& 1.°
capitulo como 0 profissional S8 organiza, de que materia is de suporte S8 utilizam
para a elaborac;ao das aulas, como e conduzido 0 processo de leitura das imagens,
S8 este ocorre realmente no ens ina das artes visuais. Juntamente com uma
discussaa breve sabre 0 papel do estado para com a educac;ao, 0 aceSSD a arte
disponivel para uma elite e para a escola privada. Tendo surgido inicialmente como
observal!(oes de arte educadora, 0 assunto acabou par S8 tarnar tema deste
trabalho.
Enquanto professora pude observar 0 ensina particular e 0 publico, prestando
maior atengao ao ensino de artes por ter formagao na area, embora nao atue como
tal. As preocupar;oes apareceram no dia-a-dia, ao perceber a dificuldade de alguns
profissionais nao especialistas em trabalhos com questoes artisticas e a falta de
aprimoramento e cursos de reciclagem, ate mesmo de apoio dentro do ambiente
escolar para os profissionais atuantes e com formagao.
No segundo capitulo uma analise sobre 0 material comumente utilizado nas
escolas discutindo a proposta triangular e a relar;8a desta com os materials de apoio,
dando uma ideia de como deveria 58 dar a ens ina da leitura de imagens em artes
visuais, de como preparar e conduzir estas aulas tendo como suporte metodos como
comparativo e a de multiprop6sito. Para num terce ira capitulo apresentar como 8sta
o ensina de artes hoje.
Essa monografia nao tem a pretensao de esgotar ou solucionar 0 assunto
proposto, e sim servir como reflexao, reflexao esta que falta a muitos profissionais da
area que muitas vezes por motivos varios, nao estao vendo 0 caminho a seguir, nao
sabendo exatamente onde querem chegar com seus educandos.
Urn olhar sobre a situayao do ensino da arte
Compram-se seres humanos calados, domesticadosQue nao pensem, nem opinem, aD serem questionados.
Que nao vejam nem escutem,nem sintam-se incomodados.
Professor Ze MariaEldorado dos Carajas - por carta.
Segundo Rubens Alves (2000, p.98),Nao e possivel ao investigadorficar de fora dos problemas que ele investiga, come~ esle trabalhotra~ndo urn breve olhar sobre a educayao publica hoje e 0 ensino de artesnas escolas, especificamente das artes nas escolas, especificarnente dasartes visuais, bern como os materiais utilizados pelos educadores.
E generalizada a convic~o de que 0 ensino publico esta a contento, 0 ensino
publico bem como a ensina de arte nas escolas.
Tudo comeya com a evoluC;aode uma cultura escolar elitista, advinda do
tempo do Imperio no Brasil, seguidos de problemas governamentais, acrescidos de
uma gestao publica ineficiente. E quase consenso que ha multo tempo 0 Governo
Federal nao se articulou com Estados e Municipios para a elaborac;ao e
implementac;aodas polfticas educacionais, deixando de exercer 0 seu papel. Com
respeito a leis educacionais para educac;aonacional, segundo Saviani, delas pode-
se dizer: "e uma lei com a qual a educac;ao pode ficar aquem, alem ou igual a
situa~o atual" 1 Ou seja, da forma como foi aprovada naD impedia nem obrigava 0
Estado a realizar alterac;6essubstanciosas na educac;ao.
Nesta aproximac;aoentre saber'o que se deve fazer e realmente concretizar,
a educa~o segue 0 que se pode chamar de uma "pedagogia da exclusao", onde as
polfticas privatizante e descentralizantes encontram caminho livre, para mediante
uma palitica de reforma cultural, conseguir aos poucos tarnar 0 sonho de uma
educac;ao democratica, publica e de qualidade cada vez mais distante, numa
1 Demerval Saviani em coluna publicada par Leonardo Bolf no 18 de 23/0412004 de tHulo criLico, criativos,cuidalllcs.
Polftica cultural que pretende negar a existemcia do direito a educac;ao,
transformando-a, em educaC;80 para a emprego.
Fatos este que ainda hoje se fazem realidade, segundo GENTILLI (2000, p.
249).
uA eduCat;80 para a emprego pregada pelos profetas neoliberais, quando
aplicada ao conjunto das maiorias exclufdas, nao e outra coisa senao a educat;ao
para 0 desemprego e a marginalidade".
Ainda ha desinforma9iio da sociedade alienada pela midia, que faz parecer
um ens ina de qua Iida de corresponder ao ens ina que e dado nas escolas
particulares, onde hoje e a eduC8c;ao das maiorias da elite. Vale analisar a que fala
GENTILLI (2000, p. 249) sobre esta educa9iio.
A restaurayao conservadora sentencia a educayao das maiorias aomais perverso destino: transformar-se na caricatura de um passado quenunca chegou a efetivar suas promessas democratizadoras, dentro de ummodelo social ja irreversivelmente marcado pela desigualdade e peladualizac;ao.
Tambem ha 0 problema da estrutura precaria de forma9iio dos educadores 0
que s6 colabora para a nossa educaC;80 estar aquem do desenvolvimento e
evolu9iio do seculo XXI.
Em entrevista a urna revista direcionada a edUC8t;aO, Guiomar Nama de
Melo,2 foi indagada quanta ao que seria urna escola de qualidade. Em resposta diz
que a escola publica foi programada para alunos que pertenciam a famflias
escolarizadas quando comet;ou a receber alunos que nao tin ham esta bagagem a
escola publica literalmente "entrou em crise". Segundo ela, estatisticas rnostram que
a escola publica brasileira foi desenhada para quem ja sabe e niio para aqueles que
nao sabem e que rem aprender.
2 Revista Nova Escolajunho/julho de 2004 - Fala MC51re/Escoia boa c aqucla em que lod05 aprendem.
6
Arte-eduC8C;80, como 0 nome ja informa, e uma area de conhecimento dentre
duas Qutras, a arte e a educ8980, como descreve Ana Mae, esta vern sofrendo
desde 0 Periodo do reinado e do Imperio no Brasil, ende a arte era encarada como
superflua, acessorio da cultura, e a educ8g8o atributo importante para a elite que
govern aria 0 pais". (BARBOSA, 2001. p. 43)
Algo nao muito diferente do que acontece neste seculo XXI.
A esse respeito Paulo Freire fala sobre estes dais mundos dualizados em
que S8 encontram a sociedade brasileira e a educ8C;80 que cada urn dos lados
recebe.
UA historia da educ8C;80brasileira e uma historia de autoritarismo e
centralismo a moda da politica brasileira , quer dizer :0 centro saba e tala, a periferia
do pais escuta e segue".(FREIRE, 1982, P. 38).
Hoje a reaJidade do ensine da arte e Dutra, esta incluida no curriculo escolar
como area do conhecimento e os problemas se caracterizam outros mais pontuais e
especificos de aceita<;ao e desmistifica<;ao par parte dos governantes, profissionais
e da clientela escolar.
LANIER 3 citado por Ana Mae relata como costumam ser em geral as aulas de
arte .."exercicio intelectual alienigena, divertido como aula espa<;o "facil" no contexto
das outras disciplinas, mas distante do excitamento provocado pelas artes da rua ou
das telas" ..
Nas escolas publicas 0 ensino da arte esta acontecendo desde a Educa<;ao
Infantil, porem ate a 2' Etapa do 2.0 Cicio e trabalhado com professores nao
especialistas, os quais, com a maior boa vontade lentarn chegar perto do que seria
uma aula de arte .
.3LANIER, Viccnt. Publicado Ila rcvista Ar'te, ano 3, 0.° 10, 19R4. Tmdu~;lo de Silvana Garcia. Ver. Cristinade SOUZ.1Santos.
Ha os cursos de capacita<;ao ofertados a estes profissionais, em geral, um por
ano de algumas horas, onde basicamente se recebe instru<;6es de como fazer, ou se
respondem a duvidas que os educadores trazem do seu cotidiano escolar. A grande
maioria dos profissionais que estao atuando nestes ciclos nao gostam do que fazem,
e os que estao interessados e comprometidos sentem dificuldades de trabalhar com
algo que nao conhecem.
Na realidade estes fatos apenas vem a contribuir para aumentar a preconceito
com rela<;ao a area dentro da escola e com a comunidade escolar. Dentro da escola
pela fato das crianc;as passarem do 1.° ao 2.° Cicio achando que a aula de arte e s6
pintar, desenhar e preparar murais para datas comemorativas au assistir a filmes e
depois desenhar 0 que mais gostou ..
E na continuac;ao dos estudos do ensina fundamental(5.a a 8.a),continuarem a
reproduzir este pensamento de que as aulas de Educac;ao Artistica sao
desvinculadas da realidade, nao percebendo que esta pode oferecer diferentes
maneiras de ver e ler 0 mundo. E 0 momento da ~descontra98o" principal mente se
vier ap6s uma aula de Matematica por exemplo.
Muitas escolas contam com condic;6es materia is precarias, especial mente as
publicas, para 0 desenvolvimento dos objetivos a que se propoe 0 ensino da arte e
para sua afirma980 como disciplina, sem condic;6es de tempo,espac;o, materiais e
qualifica9fjo permanente para as professores, principal mente atualizac;ao
tecnol6gica, as aulas ganham 0 aspecto de aulas "passatempo"
Com a comunidade escolar 0 preconceito e resultante de urna mentalidade
de os pais acharem que a arte e uma atividade ~aristocratica" , fora do alcance da
maiaria que precisa trabalhar para viver e nao pode se dar ao luxo de perder tempo
com banalidades. 0 importante e saber ler e escrever.
Banalidade tambem presente na elite consumidora que transforma a arte em
decOra9ao de ambientes e que utiliza como criterios para aquisic;ao de obras, 0
pre90 ou a criterio de que a obra precisa combinar com a decora9ao da casa "Nao
percebem que conhecer arte e tao importante quanto comprar" 4
A mentalidade dos pais da elite com relayao ao ensino da arte bem como a
educac;aode uma maneira geral, segue a ideia de uma eduCa9aOmercadoria, como
bens que se compram, se vendem, se possuem. E nao podem ser julgados por isso,
nao podem compreender a arte se na~ a conhecem.
E esta realidade vern sendo reproduzida nao somente de pai para filhos,
governantes e politicas publicas para a sociedade, como tambem de educadores
para educandos, tornado 0 ensino de artes algo massante, sem vida, como tern
ocorrido nos diversos niveis de educag80 no ensino publico.
Na rede particular, 0 profissional especialista que e contratado desdobra-se,
tornando-se um profissional polivalente onde tem que dominar danc;a,musica, artes
cenicas e artes visuais tornando-se literalmente um generalista, um profissional sem
foco. da polivalencia, eles devem trabalha na sua area de forma9ao.
A arte educadores nao tem que dar conta da polivalencia, eles devem
trabalhar na sua area de format;:ao,mas muitas das expectativas esperadas deste
profissional sao exageradas. Pelo ambito social, e esperado do educador que ele
elabore aulas de arte a partir de recursos existentes no ambiente cultural em que ele
ira atuar. U As competencias esperadas do profissional de arte-educa9aO, vem a
cada dia exigindo mais conhecimentos, tornando 0 arte - educador um generalista. ~5
Na rede particular 0 profissional tem a sua disposi980, computadores,
softwares na area, materiais, espa90s, podendo assim desenvolver um pouco
I Ga7..clildo Povo.Cadcrno G. Domingo 25 dcjulho de 2004. "Procum-se 11m outro olhar."5 Descnvolvimento de compctcndas no Ensino de Arle: Solm;:6cs ou pro\'oca~Ocs'! XIV ConFAEB - ProcaJurelll<l Luzia de Freitas Smnpaio Ralha, Pror.8 Ms. Anna Rila Ferreira de Amitio.
melhor seu trabalho. 0 bam resultado dependera do profissional. 0 que nao
justifica a rna qualidade do ensina de artes e 0 preconceito com a area e a
profissional tambem estarem presentes no ensino privado.
o ensino publico ja disp6e de computadores e de um projeto em educag80
tecnologica, porem as capacita96es demoram a acontecer, e nao atingem a todos,
tem-se as computadores mas as professores nao sao capacitados em tempo real de
trabalharem com as educandos e muitas vezes as computadores aguardam
consertos devido a falta de verbas da escola e pela demora do 6rg80 competente
realizar a manuteng80 dos mesmos.
Ha uma riqueza em programas que podem ser utilizados pelo professor de
arte, porem a dificuldade esta na aquisi9ao pela escola e no dominio de
conhecimento destes programas pelo profissional, que muitas vezes para se
capacitar precisa investir com recursos proprios.
Dentre todas as modalidades da area de Arte, as artes visuais foram
aclamadas como preferencia geral, mesmo porque ha uma oferta muito maior de
cursos de formagao nesta modalidade com relagao as demais, raramente se
trabalham quest6es sobre danga ficando esta a cargo do profissional de Educag80
Fisica e as demais para quando as educandos forem ao teatro ou a apresentac;6es
musicais, mesma estando previsto que ate a final do ensina fundamental a escola e
as projetos contemplem todas as modalidades, segundo orientar;6es encontradas
nos peN's, documentos muitas vezes seguidos a risca pelos profissionais que
acabam interpretando que 0 arte educador deva ser um profissional polivalente.
As artes visuais, afem das formas tradicionais (pintura, escultura,desenhos, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), incfuem outrasmodalidades que resuftam dos avam;os tecnof6gicos e transformacaesesteticas a partir da modemidade (fotografia, artes graficas, cinema,televisao,video,computa~o,pertormance)'
6 Parametros Curricularcs Nacionais- Artc. Vol. 6. p. 61.
10
Percebe-se que sao dadas enfase as formas tradicionais au as resultantes
dos avan90s tecno!6gicos, segundo depoimentos de profissionais do ens ina publico:
"Procuro trabalhar juntamente com 0 professor de Hist6ria, assim nossos conteudos
estao casados e contextualizados historicamente seguido pelos movimentos au
manifestagoes artisticas ocorridas"
Outra relata:
"Sinto dificuldades em falar de avangos tecnol6gicos e novas esteticas
art/sticas contemporaneas, pois naD tenho segurany8 em ensinar algo que 0 Maximo
de experiencia que eu tive fai ler sobre 0 assunto em uma revista. Dificilmente you a
exposi<;oes, you aos domingos pois a entrada e gratuita em alguns estabelecimentos
e mesmo porque trabalho tres periodos, isso dificulta urn pouco. Quero em breve,
se tudo der certo, comec;ar uma p6s-graduac;ao" (Profissionais atuantes no ens ina
publico no 3.° e 4.° ciclos)
Juntamente com 0 profissional de Hist6ria aproveitando 0 desenvolvimento
historico e situando a arte nesta cronologia privilegia-se as formas tradicionais das
artes visuais. Qutras modalidades decorrentes de transforrnac;6es da modernidade,
sao apresentadas superficialmente, dificilmente aprofundadas. Num geral pelo
despreparo ou inseguranc;a do profissional que ainda se sente deslocado, embora
muitos nao confessem.
"Precisamos conquistar um espac;o para a Arte dentro da escola, espac;o que
fieou perdido no tempo e que, se reeuperando podera rnostrar-se tao significativo
como qualquer outra materia do curriculo."(8uoro, 1998, p. 35).
E aeirna de tudo precisamos de programas de artes visuais que sejam
significativos para as crianc;as e adolescentes, que estes programas possam
capacita-Ios a pensar sobre a arte e suas manifestac;6es e importancia no mundo.
11
PROPOSTA TRIANGULAR E A RELACAO COM OS MATERIAlS oloATICOS.
"Nao ves que 0 olho abra,a a beleza do mundo inteiro?( .. .}E janela do corpo humano, por onde a alma especula e (ruia beleza do mundo, aceitando a prisao do corpo que, semEsse poder seria um tormento(. ..) 6 admiravel necessidade!
Quem acreditaria que um espa,o tao reduzido seria capaz deabsorver as imagens do universo?(. ..) 0 espirito do pintor
deve (azer-se semelhante a um espelho que adota a cor do queO/ha e se enche de tantas imagens quantas eoisas fiver diante
desi.7
E exatamente sobre esse "absorver" sobre este "captar" que nos fala
Leonardo da Vinci, que deveriamos trabalhar, nos utilizando da Metodologia
Triangular para a leitura de imagens e obras de arte.
Para compreendermos 0 mundo que nos cerea, utilizamos nossos sentidos,
nossas experiEmciase nOSSO$aprendizados. Nas artes visuais esta compreensao S8
da atraves da apreensao e do processamento da imagem. Entao "temas que
alfabetizar para a leitura da imagem"(BARBOSA, p.34).
Embora a metodologia triangular tenha sido proposta no Brasil desde a
decada de oitenta com 0 intuito de priorizar a conhecimento da arte e sua
aprecia~ao, ainda ha resqufcios de uma educa9fia em arte baseada somente no
fazer. Aulas que ate mesmo alguns de nos presenciaram ands os conteudos vern
descontextualizados, au a cada aula fala-se sabre urn artista diferente e cuja
avaliayao e reproduzir urna obra utilizando uma tecnica diferente a do artista
estudado, esta pratica ainda e cornurn.
Tambem ha a realidade onde as imagens utilizadas pelo professor sao as de
uso cotidiano, propagandas, encartes, capas de revista ou cenas cinernatograficas.
As reprodu90eS das obras de arte sao deixadas de lado. Para Ana Mae:
7 Leonardo da Vinci apud Marilena Chaui. Janela da alma, cspelho do lIIundo in 0 olhar- Adauto Neves (ORG)S.P. Pcrspcctiva: Companhia das Ictras, 1998, p. 31.
12
A produyao de arte faz a crian~ pensar inteligenlemente acerca dacria~ao de imagcns visuais. mas somente a prodw;ao nao e suficientepara a Icitur8 e 0 julgamento de qualidade das imagens produzidas porartistas ou pelo mundo cotidiano que nos cerca. Atraves da leitura deobras de artes plasticas estaremos preparando a crianC;8 para adecodifical;ao da gramatica visual, da imagem ern movimento. Essadecodific8v8.0 precisa ser associada ao julgamento da qualidade do queesta sendo vista aqui e agora em relac;ao ao passado. (BARBOSA,1991. p-35)
Eo importante fazer rela~6es entre passado e presente, para que os
educandos percebam as transformagoes e evolw;6es do pensamento do artista com
relayao ao seu tempo e a aplicabilidade destas constatac;6es pelo educando no seu
presente.
E responsabilidade do professor propiciar aos alunos tais atividades e a
apresentatyao de reproduc;6es de obras de arte, de possfveis visitas a exposic;6es e
tudo 0 mais que venha a enriquecer e dar respaldo as aulas de artes como 0 uso da
metodologiatriangular.
Com base em trabalhos desenvolvidos par ingleses e americanos que ja
priorizavam 0 conhecer, 0 apreciar e 0 fazer artistico, Ana Mae Barbosa contribui
para um curricula que priorize 0 fazer artistico, a hist6ria da arte e a analise da obra
de arte, nao somente para 0 desenvolvimento dos educandos mas tambem para que
as aulas de arte nas escolas passassem a ter significado, deixanda de serem aulas
incompreendidas ou simples aulas de "descontrac;ao"
A Metodologia Triangular propOe 0 conhecer arte que possibilita 0
entendimento da arte dentro de um contexto, tempo e espac;o. E a hist6ria da arte
contextualizada.
o apreciar arte prepara 0 educando para a decodificac;ao da gramatica visual.
o fazer arte, desenvolve a criaC;ao de imagens expressivas, as alunos assim
podem experimentar formas diferentes de linguagens, as tecnicas existentes e a
inventar novas formas de se expressar.
13
o professor ao escolher uma determinada obra de arte para ser estudada
deve ter claro quais objetivos querem alcanc;:ar, depois deve elaborar urn roteiro
contendo informar;oes sabre 0 artista, descri98o, interpretaC;80 , produc;ao e
avalia9ao.
Os alunos avaliarao os trabalhos, fazendo a leitura e interpretac;:ao do que fai
produzido.
Estes sao apenas meies que podem auxiliar 0 educador no seu trabalho
diario, nao devendo fazer destes uma receita a ser seguida sempre. 0 usa destes
faz-s8 necessaria para estimular a curiosidade e para que as educandos tenham
refer€mcias e base para que produzam suas proprias imagens. Eo importante lembrar
que tudo isso seja agregada 80 aspecto social, necessaria a qualquer pratica
educacional nos dias de hoje.
Quanta a selec;ao do material didatico, esta S8 da ap6s a determinac;ao dos
conteudos a serem trabalhados e pelas neeessidades que irao aparecendo no
decorrer da aprendizagem. Os profissionais da eseola publica contam com a
aquisi9aO de livros didaticos por parte da escola. Muitos ao longo dos anos montam
urn acervo pessoal, com c6pias de obras de arte, transparencias, slides, filmes e
documentarios, este acervo cresce conforme a necessidade exige.
Nas escolas privadas a diversidade de materiais e livros didalicos se da pel a
aquisi9ao da escola. Tais livros trazem a historia da arte adaptada para iovens e
erianr;as. Ah~m do aeervo do profissional, eabe ao professor de arte usar da
criatividade e adequar tudo isso no trabalho diario de sala de aula.
14
COMO ESTA SENDO TRABALHADA A PROPOSTA LEITURA DE IMAGENS
Observac;6es acerca do ensina de arte nas escolas municipais de
Curitiba.
Para tamar minha tinta mais concrela,para faz-Ia destacar-se, usei gessoembaixo dela. Quando isso naD mesatisfez, traduzi 0 gesso para villil, queme permitiu mexer com ele. 0 fato dequerer ver alguma caisa voando aovento levou-me a fazer urn pedayo depano, au 0 fato de desejar razef algumacaisa fluir levou-me a fazer umacasquinha de sorvete.
Claes Oldemburg
Enquanto arte educadores, 0 que fazer para tarnar nassas aulas mais
concretas e assim faze-Ia destacar-se? 0 que nos faz sentir a desejo de fazer algo
melhor como diz OLDEMBURG?
Acredito estar faltando aos profissionais S8 perguntarem todos as dias S8 0
que estao ensinando esta sendo apreendido e se tornando relevante para a vida do
aluno. So mente assim ira sair da mesmice da rotina e do medo de colocar em
pratica 0 planejamento "maravilhoso" que muitas vezes fica somente no papel.
o ensino da arte prima ria e secunda ria muitas vezes e baseado no
espontaneismo da crian9a e no fata de paupa-Ia do cantato cam as obras de arte, ao
se pensar que isla poderia servir de incentivo para que a crian98 au 0 jovem
copiasse.
Muitas aulas estao recheadas de imagens, produzidas pela industria cultural,
o que por um lade tais imagens padem gerar amilises e discussoes sabre
multiculturalismo, etnografias pobre visual men Ie, por outro lado tomam 0 ensino de
15
artes baseado somente neste tipo de imagens e condenando-o a repetitividade, ao
marqueting de alga.
~O inevitavel mimese visual e exercida portanto sobre as hist6rias em
quadrinhos as ilustra90es de livres didaticos (em geral de baixa qualidade estetica) e
sabre imagens da TV" (BARBOSA, 2001, p. 12).
Sabemos que 0 curricula em arte devera estar mais concentrado na educ89ao
estetica, e que os profissionais, alguns sQzinhos, sem Qutros profissionais da mesma
area dentro da escola, sentem-se sobrecarregados e muitas vezes tambem
esvaziados ", trabalhando sozinho, quando deveriam ter a perceP9ao de que a arte e
natural mente transdisciplinar".
Hoje 0 que so ensina em sala de aula muitas vezes promovem 0
crescimenlo pessoai individual, aspectos estes que sao ou nao deveriam ser
o principal rOCQ para 0 professor de artes plasticas que a sua principal
referencia deveria ser 0 progresso no dominio dos procedimentos esteticos
visuais. 0 que S6 propaes e que sa avalie mais objetivamente tudo 0 Que
se faz em sala de aula e que se reorientem as condutas numa dire~ao que
Irate mais especificamente da aprendizagem em arte do que do
desenvolvimento pessoal de qualidades naD necessariamente relacionadas
com art•. (BARBOSA, 2001, P. 45)
Em alguns casos percebe-se que os planejamentos das aulas de arte sao
maravilhosos por contemplarem tudo 0 que 0 educando necessita, porem, por
motivos como trocas constantes de profissionais e outros tantos, 0 planejamento
"maravilhoso" nao acontece, nao e colC?cado em pratica. Tambem ha os casos
onde os pr6prios profissionais argumentam que as aulas VaG sendo dad as conforme
a receptividade dos alunos, confessando que em algumas regi6es onde a clientela
escolar e mais coerente e apresentam maiores problemas sociais, alunos vindos
16
desta realidade geralmente sao indisciplinados, alienados e que nao vale a pena
gastar fichas com eles, pois nao estao ~interessados mesmo.n
UE preciso levar mais a serio, a bagagem cultural de seus
estudantes."(BARBOSA, 2001, P-49).
Assim como tambem sao noticiados em jornais que veiculam no meio escolar,
experiencias e resultados que deram certa, de trabalhos desenvolvidos em parcerias
e interdisciplinares, ande as educandos tern a oportunidade de mostrarem 0 que
sabem e do que sao capazes. Oportunizar experiencias assim sao essenciais, as
alunos S8 interessam e ficam mais motivados.
Em entrevista com Ernest Gombrich, Ana Mae, pergunta qual a posi~ao de
Gombrich com relac;ao a tao comentada crise da arte atua!. 8 Em resposta a esta
questao argumenta:
Nao temos leoria da arte. Obviamente esta crise tern efeito sobre 0ensino da arte, pois se voce nao sabe,_ onde Quer chegar corn seus alunos,voce nao pode ensinar. E claro que nao se pode, atraves da educa~ao,forrnar urn grande mestre, islo e, claro Que 56 ele rnesmo podera fazer setiver 0 que dar, mas pode-se mostrar a ele quando estar satisfeito e quandonao estar .(BARBOSA, 2001, P. 35)
Ainda sobre este assunto Ana Mae pergunta ate que ponto a arte pode ser
ensinada. Como resposta:
"Ela deve sar ensinada. Ela tern que ser ensinada de outra forma morrara. E
a crise sobre a qual falavamos." (BARBOSA, 2001 - P. 39).
Privar a educando do seu direito ao conhecimento e uma questao de etica,
bern como a educat;ao autorititria onde somente 0 professor decide, gare, ordena e
os alunos jamais ouvidos nas escolhas, se acomodam ao que e ensinado.
Paulo Freire chamava este ensino autoritario de "Educar;ao bancaria", e 0 uso
da educa9<3o como pratica de dominat;ao. Uma pedagogia do controle onde nao hit
gEm 1982. Tradu~10 de Carlos Fernando Nogueim. Publicad.1 na rcvisla AR'TE, ana 2, n.06, 1983 in Me-Eduea~lo: Lcilum no subsolo. Ana M:1eBarbosa.
17
dialogo e 0 professor julga 0 aluno como algo vazio a ser preenchido, suas aulas
tornarn-se monologos, verbaliz8c;6es sem significado.
Outra questeo de importante reflexeo e a do professor contribuir afetiva e
cognitivamente para 0 desenvolvimento da expressao dos educandos, para que
estes S8 torn em livres, soltos, criativQs e criticos.
Outra questeo de importante reflexeo e a do professor contribuir afetiva e
cognitivamente para 0 desenvolvimento da expressao dos educandos, para que
estes S8 tornem Ilvres, solt05, criativos e criticos.
Ha que S8 "estar atenta para nao fazer parte desta realidade. Paulo Freire diz
ainda:
Nesta educa~o vazia de dialogo e de criticidade 56 ha passividade econdicionamento de ambos as sujeitos deste processo: educandoscondicionados a apenas ouvir passivamente e educadores condicionados a
. discursar sem estabelecer relacoes entre 0 conhecimento e a realidadeconcrela. (SOUZA, 2002. P . 91-92)
Quando indagados sobre 0 que estao estudando nas aulas de artes os alunos
sabem informar, quando Ihes e perguntado sobre a importancia, ou 0 que tiraram do
conteudo para uSO'na sua vida, os alunos nao sabem po is nao percebem ligagao por
esta rel8gaO.
Para que a crianca perceba que 0 modo de fazer arte tambem revelaconteudo. como as materiais usados, tecnicas, formas. 0 processoindividual de cada artista, a construcao espacial, a disposityao e interacaodos elementos, e uma visao de mundo do artista, num tempo e lugar.(BUORO, 1998, P. 30-32)
Podemos permitir que os alunos ao longo dos anos esquegam de seus
professores mas nao do que estes ensinaram, nem tao pOUCO 0 objetivo ou' relac;ao
dos conteudos aprendidos com a vida. Sen do assim vale refletir:
18
... "Eu sempre sonho que uma caisa gera, nunca natia esta marta.! 0 que nao
pareee vivo, aduba.l 0 que pareee estatico, espera." 9
9 Pocma "Lcitum". Adelia Pmdo iu 0 prese.ntc da Icmbmm;a. Mario Sergio Cortclla. (p. 48)
19
CONCLusAo
Ao iniciar a pesquisa para 0 trabalho, sentiu-se a necessidade de saber como
S8 deu 0 desenvolvimento da arte educac;ao em nossa cidade para melhor
compreender a Situ8C;80 atua1.
Informac;6es estas encontradas em urn trabalho de pesquisa de hist6ria da
educaC;8o para a Universidade Federal do Parana que revelava que as primeiros
passos da arte educaC;8o em Curitiba nao S8 deram via instituig6es, au par meio do
ensine formal. Partiram de iniciativas isoladas de pessoas, ou melhor dizendo de
"imigrantes" que aqui vieram e deram suas contribuic;6es.
Oesde entao 0 ens ina da arte das escolinhas caminharam para 0 ens ina
formal de hoje, que durante a elaboraC;8o deste trabalho, provou ainda apresentar
diversos problemas desde a forma9iio do profissional ate a maneira de trabalhar e
as materia is didaticos utilizados, bern como a au sen cia destes causando 0
empobrecimento das aulas de arte e 0 desestimulo do profissional, resultando em
urn completo des interesse pela disciplina par parte dos pais, e aulas sem sentido par
parte dos alunos.
Ha urna necessidade de maior investimento no profissional do que em
materia is, estes vern a ser suportes juntamente com metodologias de trabalho, como
a Metodologia Triangular de trabalho que aparece como alternativa.
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