FICHA PARA CATÁLOGO - Operação de migração para o ... · Produção e consumo. As DCE ......
Transcript of FICHA PARA CATÁLOGO - Operação de migração para o ... · Produção e consumo. As DCE ......
FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA
Título: Ensino de língua portuguesa: um enfoque no trabalho com a sala de apoio.
Autor Marlene Neri Sabadin
Escola de Atuação Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli
Município da escola Cascavel / PR
Núcleo Regional de Educação
Cascavel / PR
Orientador Sanimar Busse
Instituição de Ensino Superior
UNIOESTE/ Cascavel / PR
Disciplina/Área (entrada no PDE)
Língua Portuguesa
Produção Didático-pedagógica
Objeto de Aprendizagem Colaborativa – OAC
Relação Interdisciplinar (indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)
Arte, História e Geografia.
Público Alvo (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)
Professores da Sala de Apoio à Aprendizagem de Língua Portuguesa
Localização (identificar nome e endereço da escola de implementação)
Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli
Cascavel / PR - Rua Minas Gerais, 1555
CEP: 85.812-030
Apresentação: (descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)
Após analisarmos como material didático utilizado na Sala de Apoio de Ensino Aprendizagem de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, trabalha a variedade linguística de prestígio e as variedades populares, sugerimos uma produção didático-pedagógica em que o tema é a variação linguística. A proposta consiste em não considerar a variedade culta como única, mas sim, apresentar as demais variedades da língua portuguesa e como elas se realizam nos diferentes contextos sociais, com a finalidade de reconhecer as outras modalidades expressivas e, assim, diminuir as atitudes discriminatórias. Nosso objetivo é possibilitar, por meio das atividades propostas aos alunos, meios para que eles desenvolvam suas capacidades linguísticas e superem as dificuldades identificadas ao entrarem para a Sala de Apoio à Aprendizagem de Língua Portuguesa. Para dar conta da proposta, apresentamos nesta produção didático-pedagógica procedimentos para trabalhar as questões relativas à variação linguística, como variedades de prestígio, variedades populares, dialetos, norma, gírias, estigma, preconceito, bem como as variantes dos alunos; e algumas sugestões de intervenção que o professor pode fazer quando os alunos utilizam variedades estigmatizadas.
Palavras-chave ( 3 a 5 palavras)
Variação. Preconceito. Língua Portuguesa. Escola.
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
PRODUÇÃO DIDÁTICO- PEDAGÓGICA
CASCAVEL
MARLENE NERI SABADIN
ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA: UM ENFOQUE NO
TRABALHO COM A SALA DE APOIO.
Objeto de aprendizagem Colaborativa –OAC desenvolvido sob a orientação da Profª. Drª Sanimar Busse, elaborado e apresentado como um dos requisitos necessários na participação do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, idealizado e mantido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED/PR, em convênio com a Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE.
CASCAVEL2011
SUMÁRIO
1 IDENTIFICAÇÃO.............................................................................................042 PROBLEMATIZAÇÃO DO CONTEÚDO........................................................053 INVESTIGAÇÃO DISCIPLINAR.....................................................................084 PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR............................................................095 CONTEXTUALIZAÇÃO..................................................................................106 SUGESTÃO DE LEITURA..............................................................................147 PROPOSTA DE ATIVIDADES........................................................................171ª AULA.............................................................................................................182ª AULA.............................................................................................................223ª AULA.............................................................................................................254ª AULA.............................................................................................................275ª AULA.............................................................................................................326ª AULA.............................................................................................................347ª AULA.............................................................................................................368 DESTAQUES..................................................................................................389 SUGESTÃO DE SÍTIOS..................................................................................40REFERÊNCIAS..................................................................................................42
3
OBJETO DE APRENDIZAGEM COLABORATIVA - OAC
1 IDENTIFICAÇÃO
Autora: Marlene Néri Sabadin
Estabelecimento: Colégio Estadual Marilis Faria Pirotelli
Ensino: Fundamental
Disciplina: Língua Portuguesa
Conteúdo Estruturante: Discurso como Prática Social
Conteúdo Básico: Língua oral e escrita: prática de produção de textos orais e
escritos.
Conteúdo Específico: Análise linguística: variação linguística: modalidades,
variedades, registros.
Título: Ensino de língua portuguesa: um enfoque no trabalho com a sala de
apoio.
4
2 PROBLEMATIZAÇÃO DO CONTEÚDO
Conforme preconizam as DCE de Língua Portuguesa, “devemos lembrar
que a criança, quando chega à escola, já domina a oralidade, pois cresce ouvindo
e falando a língua, seja por meio de cantigas, [...] grupo social, [...] TV e outras
mídias” (PARANÁ, 2008, p. 15). Para tanto, ainda de acordo com as DCE “o
professor precisa ter clareza de que tanto a norma padrão quanto as outras
variedades, embora apresentem diferenças entre si, são igualmente lógicas e
bem estruturadas” (PARANÁ, 2008, p. 15). Cabe, portanto, ao professor perceber
as lacunas que se apresentam no processo de aprendizagem do aluno para que
possa elaborar propostas de intervenção. Trata-se de reconhecer as variedades
linguísticas do português, valorizar o conhecimento que o aluno traz consigo, para
mostrar que a língua padrão é uma variedade que o aluno precisa conhecer para
utilizar nas diferentes situações de comunicação.
No texto que discute a “Dimensão histórica do ensino da língua
portuguesa” (DCE, 2008), destaca uma questão que tem rondado a sala de aula e
as aulas de língua portuguesa. Trata-se do conflito entre a língua utilizada no dia
a dia para se comunicar e a língua da escola. A primeira o aluno conhece e
domina, segundo pesquisas descritivistas, de forma lógica e coerente, a segunda,
é a língua escrita, segundo alguns encaminhamentos metodológicos, confinada
aos livros e aos dicionários.
Segundo as DCE, “não basta dar a palavra ao outro, é necessário aceitá-la
e devolvê-la ao outro” (PARANÁ, 2008, p.38). Precisamos delimitar duas questões
com relação à citação: (a) que palavra estamos dando e devolvendo?; (b) quem é
esse outro? São questões que podem nos auxiliar a prever, em nossos planos de
aula, nas atividades e nas avaliações, a distinção entre língua escrita e língua
falada, a lógica e a funcionalidade das variantes do português, nos níveis
fonético-fonológico, lexical e gramatical, que somos brasileiros com
características físicas, orais, sentimentais, culturais muito peculiares, que nem
todos residem por um longo tempo num mesmo espaço geográfico, que
migramos, nos misturamos, e interagimos.
5
Estes seriam alguns aspectos introdutórios para desenvolver a consciência
linguística dos alunos, para então apresentar a língua escrita e a língua oral em
todas as suas especificidades linguísticas.
Os pressupostos teóricos das DCE estão no trabalho com os gêneros
textuais, na modalidade escrita e oral. Postula-se que “o aprimoramento da
competência linguística do aluno acontecerá com maior propriedade se lhe for
dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o caráter dinâmico dos
gêneros discursivos” (PARANÁ, 2008, p. 53). Quanto às esferas de atividade
humana, as DCE compreendem que “o trânsito pelas diferentes esferas de
comunicação possibilitará ao educando uma inserção social mais produtiva no
sentido de poder formular seu próprio discurso e interferir na sociedade em que
está inserido” (PARANÁ, 2008, p. 57).
Dessa forma, os PCN e as DCE apresentam uma tabela de gêneros que
devem ser trabalhados na sala de aula, a partir das nove esferas sociais de
circulação. A seguir, apresentamos as nove esferas presentes nos PCN: I.
Privadas (abrangendo as esferas cotidiana e familiar); II. Literatura; III. Ciência; IV.
Escola; V. Imprensa; VI. Publicidade; VII. Política; VIII. Jurídica; XIX. Produção e
consumo. As DCE apresentam nove esferas também, porém com algumas
adaptações: I. Cotidiana; II. Literária/Artística; III. Escolar; IV. Imprensa; V.
Publicitária; VI. Política; VII. Jurídica; VIII. Produção e consumo; XIX. Midiática.
Nessas adaptações, percebemos que foram englobados gêneros da esfera
“ciência” e houve a inclusão da esfera midiática. Cada esfera oferecida pelas DCE
traz um conjunto de gêneros discursivos orais e escritos. Conforme o documento,
a tabela é uma sugestão, cabendo ao professor selecionar os gêneros,
preocupando-se com “a qualidade do encaminhamento, com a compreensão do
uso do gênero e de sua esfera de circulação” (PARANÁ, 2008, p. 90). Portanto,
proposta de produção didática aqui apresentada está pautada no gênero oral,
com o tema variação linguística.
Com relação à oralidade, os PCN apresentam um enfoque um tanto quanto
confuso. Conforme o trecho abaixo:
[...] cabe à escola ensinar o aluno a utilizar a linguagem oral no
6
planejamento e realização de apresentações públicas: realização de entrevistas, debates, seminários, apresentações teatrais etc. Trata-se de propor situações didáticas nas quais essas atividades façam sentido de fato, pois é descabido treinar um nível mais formal da fala, tomado como mais apropriado para todas as situações (BRASIL, 1998, p. 25).
A oralidade deve ser trabalhada atentando-se esses aspectos, e não deve
ser desvalorizada quando posta ao lado das outras práticas. Já do ponto de vista
das DCE, a escola deve privilegiar o contato com a oralidade contextualizada:
Isso não significa valorizar em excesso as variedades linguísticas em prejuízo da norma padrão; ao contrário, a sala de aula é o espaço de apropriação deste conhecimento, porque é o único lugar que possibilita, à grande maioria dos alunos, contato com a norma culta da língua (PARANÁ, 2008, p.18).
Refletindo sobre o que falam os documentos, nas aulas de Língua
Portuguesa, devemos possibilitar um conhecimento cada vez maior e melhor
acerca das variedades linguísticas, para que a sala de aula deixe de ser um
“espaço exclusivo das variedades de maior prestígio social e se transforme num
laboratório vivo de pesquisa do idioma em sua multiplicidade de formas e usos”
(BAGNO, 2002, p. 32).
Como vimos na citação acima, não se trata, entretanto, de substituir uma
variedade por outra. A proposta consiste em não considerar a variedade culta
como única, mas sim, apresentar as demais variedades da língua portuguesa e
como elas se realizam nos diferentes contextos sociais, com a finalidade de
reconhecer as outras modalidades expressivas e, assim, diminuir as atitudes
discriminatórias.
Outra tarefa é possibilitar, por meio das atividades propostas aos alunos,
meios para que eles desenvolvam suas capacidades linguísticas e superem as
dificuldades identificadas ao entrarem para a Sala de Apoio à Aprendizagem de
Língua Portuguesa.
7
3 INVESTIGAÇÃO DISCIPLINAR
Diante disso, após analisarmos o material didático utilizado na Sala de
Apoio de Ensino Aprendizagem de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental,
não somente como o material trabalha a variedade linguística de prestígio, mas
também as variedades populares, sobretudo as variantes dos alunos, que quase
sempre se distanciam da variedade de prestígio no que diz respeito a alguns
aspectos formais, como o material aborda esse assunto e a partir dessa análise
sugerimos a proposta de produção didático-pedagógica em que o tema é a
variação linguística.
Para dar conta da proposta, apresentamos nesta produção didático-
pedagógica procedimentos para trabalhar as questões relativas à variação
linguística, como variedades de prestígio, variedades populares, dialetos, norma,
gírias, estigma, preconceito, bem como as variantes dos alunos; e algumas
sugestões de intervenção que o professor pode fazer quando os alunos utilizam
variedades estigmatizadas.
Para tanto, tomamos por base os estudos fundamentados na
sociolinguística variacionista, sobretudo, nas pesquisas desenvolvidas por Bagno
(1999, 2007), Bortoni-Ricardo (2001, 2005), Scherre (2005), entre outros.
Logo essa proposta pedagógica visa: I. reconhecer a existência de
variações de uso da língua Portuguesa decorrentes de fatores diversos:
geográficos, sociais, profissionais, culturais e situacionais; II. refletir sobre a
variação linguística e desenvolver um pensamento crítico sobre a língua e seus
usos sociais; III. perceber a importância de estar atento à situação comunicativa,
que envolve: interlocutores, contexto, finalidades e outras circunstâncias de
interlocução, levando em consideração a quem está se dirigindo, por escrito ou
oralmente; IV. tomar consciência de que as escolhas que se faz ao produzir um
discurso não são aleatórias, mas decorrentes das condições em que o discurso é
realizado; V. argumentar e combater o preconceito linguístico.
8
4 PERSPECTIVA INTERDISCIPLINAR
A interdisciplinaridade pode ocorrer com as disciplinas de Arte, confecção
de cartões, envelopes, entre outras; com História e Geografia, por considerar que
essas disciplinas tratam de pessoas e de suas peculiaridades referentes à visão
diacrônica e diatópica. Fato esse que resulta em informação sobre a variação
linguística, porque abordam a singularidade e as diferenças pelas quais o mundo
e as pessoas passam em seu modo de agir, vestir, pensar, falar e expressar,
tendo em vista que a língua está em constante mudança.
O aluno poderá verificar as mudanças da Língua Portuguesa e constatar
como esta é mutante e se modifica de tempos em tempos, de região para região,
e de pessoa para pessoa.
É importante perceber que amigos e parentes de outras cidades,
principalmente, têm sotaques e vocabulários que lhe são muito peculiares.
O crescente número de estrangeirismos oriundos da língua inglesa que são
incorporados a Língua Portuguesa constantemente.
Dessa forma os conteúdos não são trabalhados de forma fragmentada,
porque eles passam a ser explorados numa perspectiva interdisciplinar tendo em
vista a formação global do aluno.
9
5 CONTEXTUALIZAÇÃO
O Programa Salas de Apoio à Aprendizagem foi criado em 2004 pela
SEED, seu objetivo é atender as defasagens de aprendizagem apresentadas
pelas crianças que frequentam o ensino regular da 5ª série/6º ano do Ensino
Fundamental. A Sala de Apoio à Aprendizagem atende os alunos, no contraturno,
nas disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, com o objetivo de trabalhar
as dificuldades no que diz respeito à aquisição dos conteúdos de oralidade,
leitura, escrita, e também às questões relacionadas às quatro operações básicas.
A implementação das Salas de Apoio à Aprendizagem foi instituída pela
Resolução n° 371/08 da SEED/PR, a qual em seu art. 1º resolve: “Criar as Salas
de Apoio à Aprendizagem, a fim de atender os alunos da 5ª série do Ensino
Fundamental, nos estabelecimentos que ofertam esse nível de Ensino no turno
contrário ao qual estão matriculados”.
E a Instrução nº 022/08, da Secretaria de Estado da Educação do Paraná
(2008) que propõe: “Critérios para a abertura da demanda de horas-aula, do
suprimento e das atribuições dos profissionais das Salas de Apoio à
Aprendizagem – 5ª série do Ensino Fundamental, da Rede Pública Estadual”.
Ambos os documentos foram redigidos por técnicos da SEED, a proposta
objetiva a reversão do fracasso escolar nas 5ª séries do Ensino Fundamental,
bem como atende aos dispositivos legais que incidem sobre o direito a uma
educação que subsidie os alunos no desenvolvimento de sua cidadania.
De acordo com as Diretrizes Curriculares do Paraná,
[...] quando se assume a língua como interação, em sua dimensão linguístico-discursiva, o mais importante é criar oportunidades para o aluno refletir, construir, considerar hipóteses a partir da leitura e da escrita de diferentes textos, instância em que pode chegar à compreensão de como a língua funciona e à decorrente competência textual. O ensino da nomenclatura gramatical, de definições ou regras a serem construídas, com mediação do professor, deve ocorrer somente após o aluno ter realizado a experiência de interação com o texto (PARANÁ, 2008, p. 16).
10
O que se constata ao comparar as DCE e as pesquisas relativamente
recentes publicadas sobre ensino de português, incluindo a análise da língua
falada, é que nem sempre fica explícito, para o docente da educação básica, o
que deve ser priorizado em sala de aula e que tipo de material deve ser
trabalhado.
Na natureza do material textual a ser escolhido, aponta-se para a
diversidade de gêneros, de temas e de suportes. Em vista dos inúmeros gêneros
textuais existentes, não é possível trabalhar com todos, porém as escolhas devem
estar relacionadas à relevância social que exercem, conforme destacam os PCN,
[...] a seleção de textos deve privilegiar textos de gêneros que aparecem com mais frequência na realidade social e no universo escolar [...] A diversidade não deve contemplar apenas a seleção dos textos; deve contemplar, também, a diversidade que acompanha a recepção a que os diversos textos são submetidos nas práticas sociais de leitura (BRASIL, 1998, p. 26).
Entretanto, a preferência por textos representativos da norma padrão e da
tradição escrita é evidente, o que prejudica o conhecimento linguístico do aluno,
pois o condiciona a refletir apenas sobre norma padrão da língua, acentuando
alguns preconceitos relacionados à variedade popular.
Percebemos que o aluno não aprende mais repetindo e decorando as
informações, como ocorria na escola tradicional, o trabalho deve ser conduzido de
forma que o aprendiz seja estimulado a agir e pensar sobre a língua nos
processos de interação. Essa é uma ação pedagógica proposta pelos PCN e
pelas DCE, os quais prevêem uma ação de uso-reflexão-uso sobre a língua. O
aluno vê como a língua é usada, ou percebe na fala, e tem a oportunidade de
criar hipóteses sobre a organização da fala escrevendo e após isso refletir e
reorganizar o que produziu.
As DCE destacam essa necessidade e explicam a importância do uso e
reflexão[...] para haver reflexão com e sobre a língua é necessário considerar, como ponto de partida, a dimensão dialógica da linguagem, presente em atividades que possibilitem aos alunos e professores, experiências reais de uso da língua materna (PARANÁ, 2008, p. 14).
11
Agindo e interagindo dessa forma com a língua, o aluno poderá refletir
sobre a língua, compreender seus processos e utilizá-la de uma forma mais
eficaz. Seus “erros”, nesta visão, são considerados fases da aprendizagem, em
que ele está supondo soluções para a transcrição da fala. É também importante
destacar que nesta fase o aluno já tem conhecimento sobre o funcionamento da
fala, portanto, o que está aprendendo não é algo novo é apenas uma nova
maneira de representar o que ele já conhece. Ativar esse conhecimento prévio
pode fazer com que ele estabeleça a relação entre a variação linguística popular e
a norma padrão, aumentando a compreensão do aluno a respeito do significado
de cada uma delas.
A língua portuguesa apresenta uma variedade de formas funcionais e
aceitáveis que se diferenciam de algum modo, sobretudo, na pronúncia, no
vocabulário e na gramática. Essa constatação deve servir de impulso e
autorização para nós, professores, oportunizarmos interações na escola
condizentes com o que está presente nos documentos norteadores da educação
nacional e estadual, como um dos objetivos de ensino-aprendizagem de língua
portuguesa para o Ensino Fundamental: “Conhecer e respeitar as diferentes
variedades do português, combatendo todo tipo de preconceito linguístico”
(BRASIL, 1998, p. 20). Logo, o professor terá como objetivo
[...] acrescentar uma variedade considerada socialmente mais culta ao repertório linguístico que o aluno traz do lar. Não é marginalizar sua variedade linguística, mas acrescentar outras variedades, a fim de que o aluno tenha opções de variedades linguísticas conforme o contexto social exija (BELTRAN, 1989, p. 99).
A superação da noção de língua como objeto homogêneo vem sendo
descortinada por meio de pesquisas realizadas por linguístas e sociolinguistas,
nos últimos anos, por meio da necessidade não só de conhecer a língua
portuguesa brasileira que falamos, mas também para adequar o ensino da língua
materna as realidades linguísticas regionais.
A língua muda ao longo do tempo para se adaptar às necessidades de
seus usuários. Podemos observar o fenômeno por meio da comparação de textos
12
— cartas pessoais, produções literárias, documentos oficiais, propagandas etc. —
do momento atual com textos de épocas passadas. Há também a variação
geográfica ou regional que pode ser facilmente percebida pela diversidade de
formas na pronúncia, no vocabulário e na construção das frases entre habitantes
das distintas regiões brasileiras.
As distinções linguísticas entre as regiões são graduais, e por isso nem
sempre coincidem. Trata-se de formas variadas no falar praticado entre pessoas
de diferentes regiões em que se fala a mesma língua, por isso têm-se os falares
gaúcho, nordestino, carioca e o chamado dialeto caipira. Assim, como a cultura de
cada região é singular, o mesmo acontece com a língua. Notam-se facilmente as
diferenças quando se observa a pronúncia de cada região. Os cariocas, por
exemplo, tem um jeito muito particular de realizar a sibilante /s/ e a vibrante
velar /r/, assim, com paulistas e gaúchos. O léxico também varia de região para
região, como no caso de: pipa – papagaio – pandorga - maranhão; pão francês -
pão de trigo - cacetinho; aipim – mandioca - macaxeira. Como algo que enfatiza
os vocabulários diversos e específicos de cada região brasileira.
A comprovação de que o idioma difere de um lugar para outro fica mais
notável quando se observa o português falado hoje no Brasil e em Portugal. A
divisão da sociedade em grupos diversos, considerando sexo, idade,
escolaridade, classe social, profissão etc., determina diferenças entre eles no
plano da expressão (pronúncia, escolha lexical, gramatical, produção de gêneros
textuais específicos). É a prova da variação social. Além disso, a situação de uso
da língua (falante/escritor, ouvinte/leitor, grau de intimidade entre eles, nível de
formalidade, objetivo textual etc.) orienta a variação estilística: um mesmo usuário
faz escolhas diferentes de modalidade textual, palavras, estruturas sintáticas etc.
conforme mudam as condições de produção.
Enfim, entre os estudiosos, prevalece o pressuposto de que devemos
considerar a questão da variação linguística no planejamento das aulas, na
elaboração/organização do material didático e nos critérios de avaliação das
produções textuais dos estudantes.
13
6 SUGESTÕES DE LEITURA
ARTIGO
TEXTOS DE HUMOR: UMA FORMA DIVERTIDA DE REFLETIR SOBRE A LÍNGUA1
Centro de Formação Continuada de Professores
Trabalhar com textos humorísticos em sala de aula pode ter várias
utilidades: 1) atrair o interesse dos alunos para a aula, já que serão utilizados
materiais que muito provavelmente eles gostarão de ler; 2) refletir sobre os juízos
de valor, os preconceitos, enfim, os problemas da sociedade, que, muitas vezes,
servem de base para a construção desses textos; 3) chamar a atenção para os
aspectos linguísticos que ajudam a provocar o efeito de humor. Com relação a
isto, em “Aprendendo a escrever (re)escrevendo”, Possenti destaca alguns dos
mecanismos explorados por esse tipo de material (brincadeiras com a ortografia,
com as variedades linguísticas, entre outros) e recomenda o uso desses materiais
em sala de aula com o objetivo de explicitar os recursos linguísticos que eles
utilizam, de esclarecer em que situações eles ocorrem e até mesmo para mostrar
alguns problemas do nosso sistema de escrita e tentar entender porque eles
acontecem.
1Disponível em: http://www.iel.unicamp.br/cefiel/alfaletras/biblioteca_professor/arquivos/49Text os
%20de%20humor.pdf Acessado em: 20 de maio de 2011.
Centro de Formação Continuada de Professores - Alfabetização e Linguagem - Rede Nacional de Formação Continuada de Professores de Educação Básica
14
LIVROS
BAGNO, M. Nada na língua é por caso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo, Parábola, 2007.
Nada na língua é por caso: por uma pedagogia da variação linguística
apresenta, de modo acessível e esclarecedor, os fundamentos necessários para
que professores em atuação e em formação, autores de material didático,
gestores da educação, estudantes de letras e de pedagogia, jornalistas e
comunicadores em geral possam abordar conceitos como variação e mudança,
norma-padrão e norma culta, estigma e prestígio, letramento e oralidade — entre
outros — de maneira consistente e sem as distorções que, infelizmente,
aparecem com tanta frequência em documentos oficiais, diretrizes curriculares,
livros didáticos e, principalmente, nos meios de comunicação, onde imperam
noções arcaicas e pré-científicas sobre língua e linguagem que em nada
contribuem para a construção de uma democracia linguística no nosso país.
Além de apresentar e discutir os principais conceitos da sociolinguística, o
livro propõe atividades práticas para o tratamento da variação em sala de aula, o
que lhe confere um caráter assumidamente didático.
BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália. Novela Sociolinguística. Ed. Contexto. 1997.
“Língua de Eulália”, de Marcos Bagno, narra a temporada que Vera, Sílvia
e Emília, três estudantes passam no sítio de Irene. A receptiva anfitriã, professora
aposentada e patroa de Eulália, convida as moças a conhecerem o mundo da
língua de Eulália, uma variedade geralmente estigmatizada do português do
Brasil. As reuniões que acabaram virando produtivas aulas. Aos poucos Irene
mostra as meninas a coerência de construções "percurá os hôme" (procurar os
homens) dentro do sistema gramatical da variedade sociolinguística falada por
Eulália e tantas outras comunidades brasileiras. A linguagem descomplicada de
15
Bagno e a trama do livro torna a discussão sobre preconceito linguístico acessível
a leitores das mais diferentes áreas.
O livro argumenta que as variedades da nossa língua possuem suas
próprias regras, explicáveis pela história da língua portuguesa ou pela
comparação com línguas estrangeiras. A língua de Eulália demonstra que falar
diferente não é falar errado e o que pode parecer erro no português padrão tem
uma explicação científica (linguística, histórica, sociológica, psicológica). Numa
agradável narrativa, uma leitura importante para quem quer aprender um pouco
mais do nosso idioma e saber que não existe apenas uma língua materna.
BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora? Sociolinguística & Educação. São Paulo: Parábola, 2005.
Este livro intitulado Nós cheguemu na escola, e agora?—Sociolinguística &
Educação, é uma amostra significativa do saber e saber-fazer sociolinguísticos,
obra centrada no reconhecimento, no trato digno das diferenças sociolinguísticas
e culturais que ocorrem no português dos alunos-usuários em nosso contexto
educacional.
O livro é resultado da pesquisa sociolinguística realizada no Brasil, traz
exemplificação de entrevistas sociolinguísticas, eventos de oralidade, análise de
erros, episódios comunicativos reveladores de problemas sociais e comunitários.
SCHERRE, M. M. P. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação linguística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola, 2005.
A obra, uma luta contra o preconceito linguístico por parte da mídia
brasileira, traz em seus quatro capítulos, a análise de trabalhos de pesquisa da
autora e de linguístas brasileiros e europeus, os quais corroboram a concepção
de que a concordância de número no português é um fenômeno variável, mesmo
em sua variedade escrita monitorada, o que faz o leitor repensar sua posição em
relação às verdadeiras funções da comunicação e refletir sobre os conceitos de
erro exacerbados pelos gramáticos normativos.
16
7 PROPOSTA DE ATIVIDADES
As atividades aqui propostas são destinadas aos alunos da Sala de Apoio a
Aprendizagem de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental, mas também
poderão ser adaptadas, para as demais séries do Ensino Fundamental.
Trabalharemos com os seguintes Temas: a) Língua oral e escrita: prática de
produção de textos orais e escritos e b) Variação linguística: modalidades,
variedades e registros. Para desenvolvermos tais tarefas traçamos os seguintes
os objetivos:
1) Refletir sobre a variação linguística;
2) Perceber a coexistência de diferentes variantes da língua oral em que
envolve: interlocutores, contexto, finalidades e outras circunstâncias
comunicativas;
3) Refletir sobre o preconceito linguístico;
4) Fazer com que os alunos percebam a necessidade de dominar a
variante padrão da língua, para um pleno exercício da cidadania, nas mais
diversas situações de comunicação em que essa variante é exigida.
Para desenvolver as atividades, aqui propostas, estima-se um tempo
aproximado de 350 minutos que correspondem a sete aulas. Para que os
objetivos sejam alcançados é preciso que os alunos já tenham desenvolvido as
habilidades de leitura e de escrita, tendo em mente o que preconizam as
Diretrizes Curriculares Estaduais (2008) e os Parâmetros Curriculares Nacionais
(1998). Espera-se que os alunos saibam reconhecer, comparar, relacionar
informações entre diferentes gêneros textuais e a partir de uma argumentação
fundamentada sobre o tema de estudo, expor na forma oral e escrita os dados de
análise.
17
1ª AULA (50 min)
Apresente o texto aos alunos para que percebam que não escrevemos
assim, porque se trata de um registro da oralidade, mas que em muitas regiões de
Minas Gerais possuem um dialeto falado parecido com esse com que foi escrito o
texto. Surge, então, a importância de destacarmos para os alunos que esse é
apenas um dos muitos dialetos falados no Brasil. E a partir dessa exposição
mostrar o respeito que devemos ter diante de variantes tidas como não de
prestígio pela sociedade: o que faz com que se escolha uma variante da língua
como norma padrão, ou não, é simplesmente o fator cultural, econômico e político
de uma sociedade. Não há uma variedade da língua melhor do que outra, logo
não devemos julgar uma variedade da língua melhor que outra. O que existe na
verdade é a adequação linguística de acordo com o contexto em que estivermos
inseridos.
1. Antes fazer a leitura do texto “Receita cazêra minêra”, de autor
desconhecido. Explore com os alunos: a) Observe o título e destaque o que
chama atenção; b) Por que o título está escrito dessa forma? Vamos à leitura do
texto.
RECEITA CAZÊRA MINÊRA
2
2 Disponível em: http://arrozdoce.nababu.org/2007/02/receita-cazera-minera/ Acessado em: 13 de março de 2011.
18
Após a leitura, converse com os alunos sobre o que diferencia a linguagem
oral da linguagem escrita. Alguns pontos a serem observados:
LINGUAGEM ORAL X LINGUAGEM ESCRITA
3 4
Marcuschi (2004) define a oralidade como prática social ligada ao uso da
fala, enquanto, o letramento é a prática social relacionada ao uso da escrita. Ao
discorrer sobre letramento, o autor destaca que a escrita está presente em quase
todas as práticas sociais, inclusive para as pessoas analfabetas. Por esse motivo,
chama a atenção para a necessidade de que a escola conceba e relacione fala e
escrita como atividades comunicativas no uso real da língua.
No quadro estão alguns parâmetros que diferem as duas modalidades da
língua falada e da língua escrita.
FALA ESCRITA
Interlocutor presente. Interlocutor ausente ou à distância.
Planejamento simultâneo ou quase simultâneo à execução.
Planejamento anterior à execução.
Ampla possibilidade de reformulação: essa reformulação é marcada, pública,
A reformulação pode não ser tão marcada, é privada e promovida apenas pelo
3 Disponível em: http://3.bp.blogspot.com/-6JijfvBpizQ/TdheukTqfpI/AAAAAAFNk/kA4t3kXMAXQ/s400causos.gift. Acessado em: 22 de março de 2011.
4 Disponível em: http://educaja.com.br/wp-content/uploads/2011/02/escrita.gif. Acessado em: 22 de março de 2011.
19
pode ser promovida tanto pelo falante como pelo ouvinte.
escritor.
A fala é redirecionada a partir das reações do ouvinte.
A escrita é processada a partir das possíveis reações do leitor.
Um ambiente propício: gestos, expressões faciais, tons de voz que completam, modificam, reforçam o que dizemos.
Não podemos introduzir nossos gestos, nosso tom de voz, tudo isso para ficar claro precisa ser escrito.
Texto oral: conversação espontânea, debate, entrevista, conferência, etc.
Texto escrito: carta familiar, bilhete, email, notícia, conto, etc.
c) Depois de verificar a diferença de fala e escrita, que tal fazer uma
relação de textos ou situações de comunicação em que se usa apenas a escrita e
situações em que se usa apenas a fala.
2. Mostre para os alunos que, por meio do texto “Receita cazêra minera”,
percebemos como a linguagem pode ganhar novo sentido dentro de um
determinado grupo social. Pesquise outros textos em que a variação linguística
esteja presente. Faça uma apresentação para os colegas com o resultado de sua
pesquisa.
3. Em nosso contexto, isto é, região, cidade e escola, a presença desse
tipo de linguagem é utilizada em que situação? Crie pequenos textos com
diferentes personagens, em diferentes situações, para registrar diferentes tipos de
linguagem (variantes linguísticas).
4. Agora, diga aos alunos que participarão de um concurso de receitas de
culinária que será transmitido pela televisão, ou por um jornal de grande
circulação na seção de variedades. Qual o estilo de linguagem que eles utilizarão
para que atinjam o maior número de pessoas possíveis? Para essa atividade eles
poderão utilizar o mesmo texto “Receita cazêra minera”, ou o texto originário da
pesquisa realizada.
5. Após realizar a atividade anterior, questione os alunos sobre a variedade
linguística escolhida.
20
É também preciso dizer aos alunos que o Brasil é um país de território
extenso, com várias etnias resultando em variações linguísticas. Dessa forma, é
interessante chamar a atenção dos alunos para o fato de que essas variações
não ocorrem apenas na língua portuguesa, todas as línguas apresentam variação
porque a língua é viva e por isso apresenta mudanças e varia de acordo com
fatores diversos: geográficos, sociais, profissionais, culturais e situacionais.
Professor(a), como sugestão seria interessante levar o mapa do Brasil para
a sala de aula, mostrar as diferentes regiões, estados que apresentam variação
linguística e trabalhar determinados traços da língua. Veja na seção 9 em que há
indicação de sítios que poderão ser levados para a sala de aula que tratam da
variação em diferentes regiões. Tais como:
Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.Síncope: tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas:
arve/árvore; figo/fígado; xicra/xícara.Monotongação: redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe.Ditongação: transformar uma vogal em ditongo: nóis/nós; feiz/fezSimplificação da concordância: as menina/as meninas.Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo:
“Chegou” duas moças.Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós
pegamos “ele” na hora.Assimilação do “ndo” em “no” (falano/falando) ou do “mb” em “m”
(tamém/também).Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.Apócope: redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar;
amô/amor.Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama.Rotacismo: uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais:
pranta/planta; broco/bloco.Aférese é quando se retira um fonema ou uma sílaba no início da palavra. Ex.:
ta/ está
21
2ª AULA (50 min)
Explique para os alunos que os falantes de uma língua aprendem desde
cedo algumas estruturas básicas que permitem o uso para a comunicação. Essas
estruturas são relativamente fixas e uniformes, mas elas podem sofrer variações
devido a alguns fatores específicos como a idade do falante, cultura, local de
origem. Um adolescente dificilmente usaria o mesmo vocabulário que o avô, por
exemplo, ou vice-versa. Mencione diferenças entre o vocabulário ou expressões
usadas por eles, pelos pais ou pelos avós. Provoque-os para que falem de gírias
que costumam usar na fala coloquial e ainda das palavras estranhas que
aprenderam com os mais velhos. Por vezes, o dialeto é usado por um grupo
fechado, por exemplo, o dos surfistas, dos pescadores, dos pagodeiros, dos
caminhoneiros, etc. E tem palavras que são conhecidas e entendidas apenas por
quem pertence ao grupo. Essa linguagem é chamada de gíria.
A gíria é usada na linguagem coloquial falada, por adultos e crianças.
1. Peça para que os alunos façam duas listas com as gírias utilizadas por
eles ou pelos adolescentes de uma forma geral e as gírias que eram comuns na
época dos pais e avós, isto é, pelas pessoas mais velhas.
2. Após a elaboração dessas listas, peça para que os alunos criem um
diálogo, isto é, criem uma situação (engraçada ou não) em que um adolescente
procure dialogar com seu pai/avô ou outra pessoa mais velha, porém eles não
conseguem estabelecer um diálogo porque ambos utilizam gírias. O adolescente
usa as gírias comuns a sua faixa etária e o adulto faz o mesmo. Será que eles
conseguirão se entender? Só saberemos a partir da sua criação, então, mãos a
obra!
3. Peça aos alunos que identifiquem nas charges expressões populares
que aparecem nos balões de acordo com cada época. Estimule-os a justificar o
uso de tais expressões. Qual a função da linguagem nesse contexto.
22
a) A evolução das gírias...
5
Como podemos perceber a "gíria", são as palavras que entram e saem da
moda, de tempos em tempos. A gíria como uma linguagem específica de grupos
específicos, como os jovens.
Peça aos alunos se eles conhecem o "Dicionário dos Mano"? Aqui vão
alguns exemplos:
• Mano não briga: arranja treta.
• Mano não cai: capota.
• Mano não entende: se liga.
• Mano não passeia: dá um rolê.
• Mano não come: ranga.
b) Grupos sociais distintos têm seus "modos de falar", como é o caso dos
mais escolarizados e, até mesmo, os grupos profissionais que se expressam por
meio das linguagens técnicas de suas profissões. Que tal propor aos alunos para
que montem um glossário com os diferentes tipos de gírias?
5 Disponível em: http://blog.educacional.com.br/videverso/ Acessado em: 12 de maio de 2011
23
c) De posse do glossário elaborado pelos alunos, peça que criem um
diálogo em que seus personagens farão uso das gírias do glossário elaborado por
eles.
Converse com os alunos a respeito das variações situacionais, isto é, da
adequação da língua à situação de comunicação: o lugar, a função e os objetivos,
o grau de (in)formalidade entre os sujeitos.
4. Proponha aos alunos as seguintes situações: a) Um médico encontra um
outro médico, colega de consultório, em um clube no fim de semana e diz:
— “E aí, amigão, tudo em cima?”
a) Peça aos alunos o que acham disso?
b) Está adequada ou não a fala e por quê?
Ouça com atenção os argumentos dos alunos e avalie se eles percebem
que não há problemas nessa fala, porque eles estão em uma situação informal,
fora do trabalho.
6. Construa na lousa, junto com os alunos alguns exemplos de variação
situacional. Depois dessa chuva de ideias, peça ao alunos para criarem uma
charge utilizando uma situação formal: no local do trabalho, numa audiência
pública, ou em outras situações que poderão ser sugeridas por eles.
24
3ª AULA (50 min)
Após trabalhar com algumas situações em que as variedades linguísticas
estavam em destaque, chegou a hora de explicar para os alunos sobre o conceito
do que é considerado certo e errado na língua. Mostre a eles que um dos
principais critérios usados para estabelecer o padrão linguístico é eleger o modo
de falar do grupo social que tem maior prestígio, isto é, a língua padrão está
associada ao poder social. E que muitas vezes as demais variedades linguísticas
(linguagem informal, coloquial, regional entre outras) passam a ser consideradas
erradas. No entanto, precisa ficar claro aos alunos que não há uma forma errada
ou certa de uso da língua. O que existe é uma norma (lei) padrão estabelecido
pela gramática normativa, que nos orienta para o que é gramaticalmente correto,
mas as outras formas variantes linguísticas, dependendo do contexto em que
estiverem inseridas, também são consideradas linguisticamente corretas. Logo,
cabe ao falante compreender as estruturas e regras da língua, para que possa
utilizá-la de forma eficaz, isto é, em situações em que o contexto exigir. Para
exemplificar essa etapa, fica como sugestão a exibição de dois pequenos vídeos,
da série Orto e Grafia, disponibilizado pelo MEC no portal do Domínio Público.
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?
v=mpEMoB6jNGQ&feature=related. Acessado em 05 de maio de 2011. - O vídeo
traz um típico diálogo familiar em que são colocados na tela exemplos de
concordância verbal no uso de eu, nós e a gente no ato da fala das personagens.
1. Mostre o vídeo para os alunos e converse com eles sobre a cena. Peça
a eles se o diálogo apresenta uma estrutura formal do uso da língua. Essa
compreensão deve ser ilustrada pelos alunos com trechos percebidos. Se houver
necessidade, destaque o fato do emprego dos verbos de acordo com a norma
padrão pelos personagens.
2. Exiba novamente o vídeo e escreva na lousa algumas frases que
aparecem no decorrer da conversa entre as personagens. Na sequência, analise
25
com os alunos a concordância verbal, fazendo-os verificar o emprego da pessoa,
o número, o tempo verbal etc.
3. Depois de estabelecida as duas discussões nas atividades anteriores, os
alunos devem concluir que a linguagem utilizada, é uma variante da norma
padrão do português brasileiro.
4. Nesta terceira aula estamos tratando da norma padrão, exiba outro vídeo
que trata do uso de: a turma, o pessoal, nós, a gente, eles e o verbo:
Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=ohRqPR7Vwus&feature=related.
Acessado em: 05 de maio de 2011. Por se tratar de um contexto familiar,
converse com os alunos sobre a forma com que as personagens utilizam a língua.
Qual é a impressão que eles têm dessa variante?
26
4ª AULA (50 min)
A quarta aula está voltada para o estereótipo criado em torno do homem do
campo, geralmente lembrado como uma pessoa sem cultura e conhecimentos é
marcado por um modo de falar característico. Conforme a tira a seguir.
MEIO RURAL
6
Tendo como referência a tira, percebe-se que o homem do campo,
conhecido por caipira, torna-se sinônimo de ingenuidade e ignorância, com
características bem familiares e é um ótimo exemplo de variação linguística
sociocultural, com seu modo de falar caipira.
1. Estabeleça um rápido debate em que os alunos devem apontar as
principais diferenças da fala considerada caipira. Qual é o diferencial da
linguagem utilizada? Isso causa algum efeito na tira? Qual? Os alunos devem
reconhecer que o tom de humor da tira é atribuído, em especial, à variação
linguística do personagem principal. É ele que faz confusões devido a sua
6 Disponível em: http://www.agrega.tv/?p=2462. Acessado em: 22 de maio de 2011.
27
“ignorância” em relação ao significado da palavra e à sua pronúncia e isso atribui
humor a tira.
2. Peça para que os alunos pesquisem o significado da palavra caipira.
3. Agora que todos sabem o significado da palavra caipira, peça aos alunos
quais as regiões do Brasil cujos habitantes têm essa denominação. Leve o mapa
do Brasil para a sala de aula para melhor visualizar as regiões.
4. Em nossa cidade, fala-se da mesma forma?
PERIFERIA
Para você, o que é periferia?
Após discutir com os alunos sobre a definição de periferia, seria
interessante, apontar a definição de periferia de acordo com a urbanista Raquel
Rolnik (2010) 7, o conceito de periferia surgiu de um desenvolvimento urbano que
se deu a partir dos anos 1980. Esse modelo de desenvolvimento privou as faixas
de menor renda de condições básicas de urbanidade e de inserção efetiva à
cidade dos loteamentos distantes do centro. Porém, a periferia é marcada pela
precariedade e pela falta de assistência e de recursos, mais do que pela
localização. Hoje há condomínios de alta renda em áreas periféricas que, claro,
não podem ser considerados da mesma forma que seu entorno, assim como há
periferias em áreas nobres da cidade.
Adoniran Barbosa retratava em suas composições a fala e o cotidiano dos
imigrantes italianos de baixa renda residentes em São Paulo. Ele indicava a
diversificação dos falares, apontava o tempo inteiro para o falar diferenciado, de
quem tinha pouca instrução escolar.
O preconceito linguístico está ligado em boa medida à confusão que foi criada no curso da história entre língua e gramática normativa. Nossa tarefa mais urgente é desfazer essa confusão. Uma receita de bolo não é um bolo, o molde de um vestido não é
7 Disponível em: http://raquelrolnik.wordpress.com/2010/06/14/o-que-e-periferia-entrevista-para-a-edicao-de-junho-da-revista-continuum-itau-cultural/ Acessado em: 07 de julho de 2011.
28
um vestido, um mapa-múndi não é o mundo. Também a gramática não é a língua (BAGNO, 1999, p.09).
Adoniran Barbosa foi alvo de duras críticas sociais e por consequência de
preconceito, pois compunha usando um linguajar diferenciado dos outros
compositores.
Adoniran criava polêmica com suas composições. Era do seu
conhecimento que suas músicas chegavam às escolas e que eram discutidas
entre alunos e professores que mostravam que era assim que se falava, mas que
a grafia deveria ser diferente.
Na língua, nada é por acaso: tudo tem uma explicação. Ninguém fala errado porque é burro ou preguiçoso: as pessoas falam diferente porque empregam regras gramaticais diferentes (BAGNO, 2002, p. 26).
1. A seguir apresento a letra da música Samba do Arnesto de Adoniran
Barbosa. Disponível em: http://letras.terra.com.br/adoniran-barbosa/43968/.
Acessado em 07 de julho de 2011.
2. Distribua cópias da música para os alunos, ou leve-os ao laboratório de
informática ou exiba letra e a música na TV PENDRIVE. Deixe que os alunos
ouçam a música. Na primeira vez, eles vão apenas ouvir, observando o
vocabulário e a linguagem utilizada. Em seguida, peça que destaquem as
palavras que estão escritas fora do que é considerada norma padrão. Analise com
os alunos todas as palavras destacadas e procure saber deles em que situações
essas palavras são utilizadas.
29
8
Samba do ArnestoAdoniran Barbosa
O Arnesto nos convidô prum samba, ele mora no Brás
Nós fumos não encontremos ninguém
Nós vortemos com uma baita de uma reivaDa outra vez nóis num vai mais
Nóis não semos tatu!
No outro dia encontremo com o Arnesto
Que pediu descurpa mais nóis não aceitemosIsso não se faz, Arnesto, nóis não se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
Um recado assim ói: "Ói, turma, num deu pra esperáAduvido que isso, num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever"
8Adoniran Barbosa nasceu em 1910, com o nome de João Rubinato em Valinhos, interior de São Paulo. De origem humilde, era filho de Fernando e Ema Rubinato, imigrantes italianos que aportaram em Santos, com o intuito de trabalhar e de se estabelecer no Brasil. Em 1934 fixou residência na capital paulistana. A partir de então esteve sempre envolvido com rádio.
Disponível em: http://s.play.me/p/images/album/2092007/256/us/adoniran-barbosa/adoniran barbosa .jpg?ts=20110509 http://pt.wikipedia.org/wiki/Adoniran_Barbosa#Biografia Acessado em: 07 de julho de 2011.
30
4. Ainda tendo como referência a letra da música, discuta com os alunos
porque essa música foi escrita na modalidade coloquial da língua portuguesa, isto
é, faz menção a tradição rural do país ou não? Justifique a resposta.
5. Levar os alunos ao laboratório para pesquisarem sobre variantes
linguísticas. Peça que façam as anotações do que acharem interessante, curioso
ou que mereça destaque. Para realizar esta atividade, indique os sites abaixo:
Línguas do Brasil – Bloco 01: http://www.youtube.com/watch?v=XKqWOJwe6cQ.
Acessado em 25 de junho de 2011.
Línguas do Brasil – Bloco 02: http://www.youtube.com/watch?
v=JPrYyFnUQIE&feature=related. Acessado em 25 de junho de 2011.
Línguas do Brasil – Bloco 03: http://www.youtube.com/watch?
v=JDLC99exokc&feature=related . Acessado em 25 de junho de 2011.
Línguas do Brasil – Bloco 04: http://www.youtube.com/watch?v=59-
3D7EHqyc&feature=related. Acessado em 25 de junho de 2011.
31
5ª AULA (50 min)
Após a exibição dos vídeos - na aula anterior -, converse com os alunos
sobre as suas impressões a respeito do que viram e ouviram. Investigue se há
algum aluno na classe ou na escola que seja de uma região diferente. Caso haja,
conversem sobre o que há de peculiar na fala desse colega.
Questione os alunos se no contexto familiar (parentes, vizinhos e amigos),
eles percebem que a língua é utilizada de diferentes maneiras.
Nesta atividade, os alunos farão um inquérito com as pessoas da família,
ou alguém conhecido que tenha vindo de outra região, de diferentes profissões,
que tenham frequentado a escola ou não, de diferentes faixas etárias, isto é,
jovens e pessoas mais velhas. O objetivo desta atividade é analisar as variações
linguísticas encontradas. Oriente para que os alunos gravem ou filmem os
inquéritos realizados e que utilizem os aparelhos que dispuserem para realizar as
atividades.
Oriente-os a fazer anotações depois de ter realizado o inquérito, colocando
além das perguntas e respostas obtidas, as impressões que tiveram com as
respostas dos questionários.
A seguir segue um modelo de questões para realizar o inquérito:
Informações pessoais
Nome:
Idade:
Sexo:
Naturalidade:
Onde vive atualmente:
Escolaridade:
Profissão:
32
Questionário linguístico:
1. Você se lembra de alguma expressão que é típica do lugar onde você mora?
2. Por que as pessoas falam de maneira diferente?
3. Há diferença entre fala e escrita?
4. O que você entende por norma padrão da língua e por linguagem informal?
5. Em relação à língua, existe "certo" e "errado"?
6. Você já foi criticado alguma vez por falar/escrever alguma palavra errada?
Lembra-se qual foi o erro cometido?
7. Você costuma corrigir as pessoas quando as ouve dizer/escrever alguma coisa
"errada"?
8. A escola deve ensinar a norma padrão?
9. Você acha que, em nossa sociedade, há preconceito linguístico?
AVALIANDO O PROCESSO
Verificar se os alunos conseguiram identificar a variação dialetal presente
em nossa língua, a partir dos inquéritos realizados, assim como se foram capazes
de fazer as anotações destacando as variantes, identificando a variante padrão,
ou norma culta e correlacionando-a com a não padrão.
33
6ª AULA (50 min)
CARTAS
9
9http://2.bp.blogspot.com/- FSsOQFnKLC8/TWbA0YhclFI/AAAAAAAAHrI/DtK56kjXd4U/s1600/Image31.jpg imagem do convite. Acessado em 20 de março 2011. http://4.bp.blogspot.com/_rRFoPnIHBl0/TF94FFCCphI/AAAAAAAAAkU/U3eZDruO9tc/s320/Modelos+de+cartas+de+amor.jpg imagem dos envelopes. Acessado em 20 de março 2011.http://asset.zcache.com/assets/graphics/z2/mk/custom/mantles/zazzle_postcards_stampAsset.v7.jpg imagem do cartão postal. Acessado em 20 de março 2011.http://gi164.photobucket.com/groups/u35/LI6P4USJFJ/telemovel-protege-bens-pessoais.jpg imagem do celular. Acessado em 20 de março 2011.http://cr.i.uol.com.br/juninas/correioelegante.gif imagem do correio elegante. Acessado em 20 de março 2011.http://eshopmais.mercadoshops.com.br/900-modelos-de-cartas-contratos-comerciais-apenas-r-390_iZ4XvZgXpZ1XfZ23217746-4-1-O.jpgxIM.jpg imagem de diversas cartas. Acessado em 20 de março 2011.http://res1.windows.microsoft.com/resbox/pt-Ptb/Windows%207/Main/0/5/05b04a57-94b2-4dc1-bbbd-a0cfebdd8e2a/05b04a57-94b2-4dc1-bbbd-a0cfebdd8e2a.jpg imagem de email. Acessado em 20 de março 2011.http://delta2imagens.no.sapo.pt/bilhete.jpg imagem do bilhete com coração. Acessado em 20 de março 2011.http://3.bp.blogspot.com/_hGGq2Bji6rE/Sc0JXfCi1rI/AAAAAAAAGno/O2qtV8VPSDY/s400/Bilhetinhos+e+recadinhos+(14).jpg imagem de bilhete de material escolar. Acessado em 20 de março 2011.
34
Converse com os alunos a respeito das cartas, peça a eles quais os tipos
de cartas que conhecem e se eles têm o hábito de escrever cartas. Se já
receberam algum tipo de correspondência e qual é o tipo de correspondência
mais comum entre seus familiares. Anote sempre as contribuições dos alunos e
os incentive a fazer anotações do que acharem importante.
1. Leve para a sala de aula diferentes tipos de correspondência. O ideal
seria apresentá-las em slides, explore todas as informações possíveis. Comece
pelo envelope, as informações que devem ser colocadas no envelope: na parte da
frente, coloca-se o nome e o endereço do destinatário (para quem vai a carta),
endereço completo, isto é, nome da rua, bairro, cidade, estado e CEP (Código de
Endereçamento Postal) e selo. No outro lado do envelope, onde o envelope é
fechado, coloca-se o nome e o endereço completo do remetente (quem está
enviando a correspondência).
2. Apresente as cartas. Antes da leitura do conteúdo das cartas, peça aos
alunos que digam o que eles veem na folha, que elementos compõem uma carta:
local e data, saudação ou vocativo, o corpo do texto, uma despedida, assinatura.
3. Pergunte se todas as cartas são iguais. Quais são as diferenças? Por
quê? Como? A ausência de um dos elementos composicionais interfere na
compreensão da mensagem? Como isso ocorre? De que forma esse problema
poderá ser resolvido?
4. Vamos ao conteúdo das cartas: Qual a forma de apresentação? Qual o
tipo de carta que está sendo analisada? Qual o assunto principal? Que outros
assuntos aparecem? Qual a ordem dos assuntos? Chame a atenção dos alunos
para a linguagem (formal ou informal) do texto: que elementos (palavras,
expressões, formas de tratamento e assunto) comprovam isso? Faça o mesmo
com as demais correspondências.
5. Os alunos escrevem bilhetes. Proponha aos alunos que escrevam um
bilhete a um colega da sala de aula. Verifique se o texto escrito corresponde à
estrutura analisada anteriormente. Ao receber o bilhete, o destinatário deverá,
além de ler e apreciar a leitura, enviar outro bilhete ao remetente.
35
7ª AULA (50 min)
CORREIO ELEGANTE
10
Inicie a aula, conversando com os alunos sobre uma prática de
comunicação muito utilizada em festas juninas: o correio elegante. Peça a eles se
conhecem esse tipo de bilhete e como é feito. Note que é muito semelhante à
estrutura de um bilhete, embora o contexto em que é escrito é bem definido é um
bilhete de amor. Portanto, a função de linguagem utilizada na maioria das vezes é
a poética, por se tratar de uma conquista amorosa. O interessante dessa forma de
comunicação é manter segredo sobre quem está mandando o bilhete, pois faz
parte da brincadeira não se identificar.
1. Confecção dos bilhetes. Os alunos preparam os cartões onde as
mensagens serão escritas. Depois de prontos, coloque-os em uma cesta e pronto.
No intervalo disponibilizarão aos colegas os cartões em branco para que possam
escrever suas mensagens. Ao retornarem à sala de aula, após o intervalo, peça
para que os carteiros relatem a experiência para os demais:
10 Fonte: http://2.bp.blogspot.com/--K4KW0Xab9I/Teqx0FC1ZUI/AAAAAAAAB-M/9-La_YsBYf0/s1600/Correio+Elegante+053.jpg. Acessado em 20 de março 2011.
36
a) Se os colegas sabiam o que é um correio elegante. Se eles precisaram
explicar como se faz.
b) Que reações dos destinatários foram percebidas diante das mensagens
escritas?
c) Que vocabulário foi mais utilizado pelos autores das mensagens?
Outra forma de se corresponder atualmente é o “torpedo” que tem a
finalidade de enviar mensagens curtas e instantâneas via celular e estas na
maioria dos casos, não são anônimas.
2. Pergunte aos alunos se eles utilizam esse recurso, com que frequência
o fazem? Que tipo de mensagem enviam? E como elas são escritas? Nesse
momento, os alunos escrevem exemplos de mensagens enviadas por torpedo.
3. Peça aos alunos, voluntários, para irem à lousa e escrever a mensagem
enviada por torpedo.
4. Questione sobre o estilo de escrita utilizado e por quê de escrever dessa
forma?
AVALIAÇÃO
O processo de avaliação desta sequência de aulas deve ser feita de forma
contínua e progressiva.
As atividades viabilizam avaliações das competências linguísticas
individuais dos alunos. Possibilita também a verificação de como cada um produz
seu texto.
É de suma importância ouvir os alunos na hora da avaliação, para que se
descubra realmente o nível de aprendizado que tiveram sobre o assunto
específico e a forma como fazem uso da expressão escrita e oral da língua. Além
disso, essa é uma prática para ajudar a desenvolver a visão crítica sobre suas
ações em termos de propor uma avaliação do que foi positivo e como os pontos
negativos devem ser aprimorados.
37
8 DESTAQUES
A oralidade deve ser trabalhada em sala de aula, e não deve ser
desvalorizada quando posta ao lado das outras práticas. Segundo as DCE, a
escola deve privilegiar o contato com a oralidade contextualizada:
Isso não significa valorizar em excesso as variedades linguísticas em prejuízo da norma padrão; ao contrário, a sala de aula é o espaço de apropriação deste conhecimento, porque é o único lugar que possibilita, à grande maioria dos alunos, contato com a norma culta da língua (PARANÁ, 2008, p.18).
Conforme a citação acima, nas aulas de Língua Portuguesa, nós devemos
possibilitar um conhecimento cada vez maior e melhor de todas variedades
sociolinguísticas, para que a sala de aula deixe de ser um “espaço exclusivo das
variedades de maior prestígio social e se transforme num laboratório vivo de
pesquisa do idioma em sua multiplicidade de formas e usos” (BAGNO, 2002,
p.32).
Como vimos na citação acima, não se trata, entretanto, de substituir uma
variedade por outra. A proposta é não considerar a variedade culta como única,
com a finalidade de reconhecer as outras modalidades expressivas e, assim,
diminuir as atitudes discriminatórias.
A partir do que foi exposto, esta proposta buscou, por meio de orientações
teórico-metodológicas da Sociolinguística, desenvolver atividades para o trabalho
com a oralidade, com a intenção de analisar e reconhecer o contexto de
produção, construção composicional e o estilo dos diferentes gêneros discursivos
para serem trabalhados na Sala de Apoio à Aprendizagem de Língua Portuguesa
contemplando o trabalho com a oralidade, tendo em vista a variação linguística do
português brasileiro.
Apesar dos documentos oficiais já tratarem do tema, nós, professores, não
conseguimos, ainda, identificar e trabalhar com as diferenças entre a fala a
escrita. E esta, segundo alguns estudiosos, pode ser uma das razões para as
38
deficiências no ensino da língua escrita na escola.
Quando compreendemos as diferenças entre fala e escrita, é que podemos
conduzir o aluno, a partir das formas conhecidas na fala, para o conhecimento da
língua escrita e da modalidade padrão. Nós, professores, de língua portuguesa
devemos, portanto, conhecer as peculiaridades de cada modalidade para termos
como conduzir o aluno à transposição do oral para o escrito, sem traumas e
respeitando o ritmo de aprendizagem de cada um, já que temos à nossa frente
alunos reais, e não ideais.
Cabe à escola, sem inibir o usuário de qualquer dialeto, levá-lo a
compreender que a língua apresenta várias formas de manifestação, e essas
formas permitem-nos chamá-las de multidialetismo. Conforme Cardoso (1995), há
a variante que ele adquiriu ao longo de sua vida em sociedade e a de prestígio
com a qual deve familiarizar-se para obter a sua inserção no mundo do trabalho e
nas diversas atividades sócio-político-culturais.
Vale enfatizar que não estamos aniquilando o ensino da norma padrão,
mas propondo um ensino sem preconceitos que considere todas as formas
possíveis de o falante expressar-se adequadas a cada contexto discursivo e ao
registro linguístico, uma vez que não existe falante de estilo único. Como nos diz
Bagno (2007, p. 45): “o falante opera o monitoramento não só na língua falada,
mas também na língua escrita”. Trata-se, portanto, de um comportamento que é
adquirido no convívio social.
É de nossa competência, enquanto professores reconhecer essa
pluralidade linguística e cultural dos alunos, porque nunca haverá uma sala de
aula ou qualquer grupo social uma homogeneidade linguística.
39
9 SUGESTÕES DE SÍTIOS
SITES
http://www.youtube.com/watch?v=g_YB5fr-RZg Trata da língua falada e da língua
escrita (24/05/2011). Debate com Marcos Bagno. Acessado em 25 de junho de
2011.
http://www.youtube.com/watch?v=VkywM4GNvjs&NR=1&feature=fvwp Trata do
preconceito linguístico. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=XKqWOJwe6cQ&feature=related As línguas do
Brasil. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=EPhxDKebHFY&feature=related Preconceito linguístico, Marcos Bagno. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=yaySkgcmIJ0&feature=related Regionalismo do Nordeste do Brasil, presente no trecho do filme Auto da Compadecida. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=HP-dpfIxV4I Regionalismo do Rio Grande do Sul do Brasil, presente na música em homenagem a Leonardo Gaúcho – Céu, sol, sul, terra e cor do grupo Alma de Campo. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=7eGdMtvUzps&feature=related Regionalismo do Rio Grande do Sul do Brasil, presente na entrevista com Leonardo no Galpão Crioulo em Chapecó/SC. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=0VAvuqEB4Xs&feature=related Regionalismo presente na letra da música Gaúcho – Eu sou do Sul. Com lindas paisagens, vestimenta, cenas da cultura local, vale a pena assistir. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=IaXfpStlgqg Variação Linguística na fala dos gaúchos, no Jornal NH, conversa com Moacir Scliar em que fala sobre a tradição literária gaúcha. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=uf-cZMJIlP0 Variação Linguística na fala dos Catarinenses, o falar açoriano, um luxo cultural. Várias pessoas de Florianópolis dando seu depoimento. Acessado em 25 de junho de 2011.
40
http://www.youtube.com/watch?v=aNp8wGhc3Xw&feature=related Variação Linguística na fala dos Catarinenses, Açorianos de Floripa, vários termos próprios daquela região. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=VEK_CTSsyHk&feature=related Variação Linguística na fala dos Gaúchos. Gaúcho tem sotaque? Mas bem capaz! Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=gIihr2YPm5k&feature=related Variação Linguística na fala dos Gaúchos. Sotaques do Sul, sotaques de Porto Alegre. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=J_kYGjqredI&feature=related Variação Linguística na fala dos Paranaenses - Como ser um bom curitibano, algumas expressões típicas de Curitiba/ PR. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=EonRdRXTBB4 Variação Linguística na fala dos Cariocas, depoimentos de moradores do Rio de Janeiro. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=Vp0pMLsTSk0&feature=related Sotaques de Paulistanos e Cariocas em ritmo de comédia. Programa do Jô, Marcelo Adenet faz tipos paulistanos. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=Oslwneaoc5I&feature=related Variação Linguística , diferentes situações com transcrições e comentários a respeito da variedade utilizada na fala de um estrangeiro, no português técnico e na música de Adoniran Barbosa. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=xntp4Pz5x7I&NR=1 Variação Linguística com enfoque maior no léxico a partir de falantes de várias regiões do Brasil. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=Wi87drqEEtg&feature=related Variação Linguística o sotaque de Minas Gerais. Sotaque mineirês parte 1. Várias expressões utilizadas pelos mineiros com suas devidas explicações. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=qpILDIckT7Y Variação Linguística e o falar de Cuiabá. Programa Caximbocó – O falar cuiabano. Várias expressões utilizadas pelos cuiabanos com suas devidas explicações. Acessado em 25 de junho de 2011.
http://www.youtube.com/watch?v=U5xZ3r0L91s Sotaques brasileiros. Descobrimento do Brasil Oficial – portal do professor do MEC. A Variação Linguística a partir dos vários imigrantes que aqui chegaram. Acessado em 25 de junho de 2011.
41
REFERÊNCIAS
BAGNO, M. Nada na língua é por caso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo, Parábola, 2007.BAGNO, M. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Paulinas, 1999.BELTRAN, J. L. O ensino de português: intenção e realidade. São Paulo: Moraes, 1989.BORTONI-RICARDO, S. M. Nós cheguemu na escola, e agora? sociolinguística & educação. São Paulo: Parábola, 2005.BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: Língua Portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.CARDOSO, S. A. M., MOTA, J. A.. Dialectologia e ensino da língua materna. In: GORSKI, Edair e COELHO, Izete Lehmkuhi. Sociolinguística e Ensino: contribuições para a formação do professor de língua. Florianópolis: EDUFSC, 2006. CARDOSO, S. Dialectologia: trilhas seguidas, caminhos a perseguir. São Paulo: Delta, 2001. CARDOSO, S. A. M. Variação e Ensino numa sociedade multidialetal. In: I Seminário Nacional de Linguística e Língua Portuguesa Discurso, sociedade e ensino. Universidade Federal de Goiás. Goiânia. Anais. UFG, 1995.MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2004. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares de língua portuguesa para a educação básica. Curitiba: SEED, 2008.SALAS DE APOIO A APRENDIZAGEM. <http://www.diaadia.pr.gov.br/deb/ modules/conteudo/ conteudo.php?conteudo=62>. Acessado em 06 de setembro de 2010.SCHERRE, M. M. P. Doa-se lindos filhotes de poodle: variação linguística, mídia e preconceito. São Paulo: Parábola, 2005.Legislação EstadualPARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Instrução n° 022/08. Critérios para a abertura da demanda de horas-aula, do suprimento e das atribuições dos profissionais das Salas de Apoio à Aprendizagem – 5ª série do Ensino Fundamental, da Rede Pública Estadual. Paraná, 2008.PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Resolução nº 371/0. Criar as Salas de Apoio à Aprendizagem, a fim de atender os alunos da 5ª série do Ensino Fundamental, nos estabelecimentos que ofertam esse nível de Ensino, no turno contrário ao qual estão matriculados. Paraná, 2008.
42