ficha_indústria farmacêutica

4
As formado ras: Glória Ribeiro e Raquel Marques Pág. 1 AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS DE PAREDES Curso de Educação e Formação de Adultos (EFA) Nível Secundário Sociedade, Tecnologia e Ciência 2011/2012 Unidade de Competência 3: Compreender que a qualidade de vida e bem-estar implicam a capacidade de acionar fundamentada e adequadamente intervenções e mudanças biocomportamentais, identificando fatores de risco e de proteção, e reconhecendo na saúde direitos e deveres em situações de intervenção individual e do coletivo.  Núcleo Gerador: Saúde (S) Domínio Tema Competência Critérios de evidência DR3 Medicinas e Medicação Reconhecer os direitos e deveres dos cidadãos e o papel da componente científica e técnica na tomada de decisões racionais relativamente à saúde Sociedade Atuar no campo da saúde, entendendo-o como um campo composto por instituições com competências especializadas na produção e distribuição de medicamentos, mas incluindo também áreas de liberdade, desigualdade e conflito. Tecnologia Atuar no relacionamento com serviços e sistemas de saúde reconhecendo as possibilidades de escolha e os limites da automedicação, bem como intervindo no sentido de conhecer a fiabilidade de técnicas e produtos para a saúde. Ciência Atuar na promoção e salvaguarda da saúde recorrendo a conhecimentos científicos para a tomada de posição em debates de interesse público sobre problemas da saúde (planeamento familiar, terapêuticas naturais, toxicodependência, etc.), suportando essas posições em análises matemáticas que permitam perspetivar medidas de forma consistente.  Doenças que não valem nada Sábado, 11 de Setembro de 2010 por Glauco Faria e Nicolau Soares Entre 1975 e 1999, foram desenvolvidos 1.393 remédios. Dentre eles, apenas 13, ou seja, menos de 1%, destinavam-se ao tratamento de doenças que matam milhões de pessoas nos países pobres. É a lógica da indústria farmacêutica, o que vale é o lucro. A malária mata de 2 a 3 milhões de pessoas no mundo por ano. A doença não possui nenhuma vacina aprovada pela comunidade científica e só existem cinco remédios para combatê-la. Boa parte dos doentes não responde mais ao tratamento, já que tais drogas estão ultrapassadas. Mesmo que não venha a falecer, quem já adquiriu malária pode contrair a moléstia novamente, o que fatalmente ocorrerá se continuar morando numa área de risco. Há quem contraia a enfermidade mais de vinte vezes durante a vida, sofrendo com seus efeitos, como febres altíssimas e delírios. No ano de 1989, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o combate à malária como uma prioridade mundial, em função do recrudescimento da doença. Esse apelo foi renovado pelo mesmo organismo em 1993. Não adiantou. Embora seja uma das principais causas de morte no mundo, a malária não recebe atenção da indústria farmacêutica, da mídia ou dos governos. Ela é uma das chamadas doenças negligenciadas. As que só matam aqueles que moram em países pobres. F Fo or rma ando o -   _  _ _  _  _  _  _  _ _  _  _  _  _  _ _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _ _  _  _  _  _  _ _  _  _  _  _  _ _  _  _  _  _  _  _  _  _  _ _  _  _  _  _  _ _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _ _  _  _  _  Da at t a a:_  _  _  _  _  _  _  _  /  / _  _  _  _  _  _  _  _  /  /  _  _  _  _ _  _  _  _  

Transcript of ficha_indústria farmacêutica

8/4/2019 ficha_indústria farmacêutica

http://slidepdf.com/reader/full/fichaindustria-farmaceutica 1/4

As formadoras: Glória Ribeiro e Raquel Marques Pág. 1

AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS DE PAREDES

Curso de Educação e Formação de Adultos (EFA) – Nível

Secundário

Sociedade, Tecnologia e Ciência

2011/2012

Unidade de Competência 3: Compreender que a qualidade de vida e bem-estar implicam a capacidade de acionar

fundamentada e adequadamente intervenções e mudanças biocomportamentais, identificando fatores de risco e de

proteção, e reconhecendo na saúde direitos e deveres em situações de intervenção individual e do coletivo.  

Núcleo Gerador: Saúde (S)

Domínio Tema Competência Critérios de evidência

DR3 Medicinas eMedicação

Reconhecer osdireitos e deveresdos cidadãos e o

papel dacomponente

científica e técnicana tomada de

decisões racionaisrelativamente à

saúde

Sociedade  Atuar no campo da saúde, entendendo-o como umcampo composto por instituições com competências especializadasna produção e distribuição de medicamentos, mas incluindotambém áreas de liberdade, desigualdade e conflito.Tecnologia Atuar no relacionamento com serviços e sistemas desaúde reconhecendo as possibilidades de escolha e os limites daautomedicação, bem como intervindo no sentido de conhecer afiabilidade de técnicas e produtos para a saúde.Ciência Atuar na promoção e salvaguarda da saúde recorrendo aconhecimentos científicos para a tomada de posição em debates deinteresse público sobre problemas da saúde (planeamento familiar,terapêuticas naturais, toxicodependência, etc.), suportando essasposições em análises matemáticas que permitam perspetivarmedidas de forma consistente. 

Doenças que não valem nadaSábado, 11 de Setembro de 2010 

por Glauco Faria e Nicolau Soares 

Entre 1975 e 1999, foram desenvolvidos 1.393 remédios. Dentre eles, apenas 13, ou seja, menos de 1%,

destinavam-se ao tratamento de doenças que matam milhões de pessoas nos países pobres. É a lógica da indústria

farmacêutica, o que vale é o lucro.

A malária mata de 2 a 3 milhões de pessoas no mundo por ano. A doença não possui nenhuma vacina

aprovada pela comunidade científica e só existem cinco remédios para combatê-la. Boa parte dos doentes não

responde mais ao tratamento, já que tais drogas estão ultrapassadas. Mesmo que não venha a falecer, quem já

adquiriu malária pode contrair a moléstia novamente, o que fatalmente ocorrerá se continuar morando numa área de

risco. Há quem contraia a enfermidade mais de vinte vezes durante a vida, sofrendo com seus efeitos, como febres

altíssimas e delírios.

No ano de 1989, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o combate à malária como uma

prioridade mundial, em função do recrudescimento da doença. Esse apelo foi renovado pelo mesmo organismo em

1993. Não adiantou. Embora seja uma das principais causas de morte no mundo, a malária não recebe atenção da

indústria farmacêutica, da mídia ou dos governos. Ela é uma das chamadas doenças negligenciadas. As que sómatam aqueles que moram em países pobres.

FFoorrmmaannddoo --  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _  _   DDaattaa:: _  _  _  _  _  _  _  _  /  /  _  _  _  _  _  _  _  _  /  /  _  _  _  _  _  _  _  _  

8/4/2019 ficha_indústria farmacêutica

http://slidepdf.com/reader/full/fichaindustria-farmaceutica 2/4

As formadoras: Glória Ribeiro e Raquel Marques Pág. 2

A ONG internacional Médico Sem Fronteiras (MSF) divulgou o relatório Desequilíbrio Fatal, levantamento das

actividades de pesquisa e desenvolvimento de novas drogas dos onze maiores laboratórios do mundo. Segundo o

documento, doenças tropicais, como a malária, a doença do sono e a leishmaniose, foram abandonadas pelas

pesquisas da indústria farmacêutica. Entre 1975 e 1999 foram desenvolvidos 1.393 remédios. Dentre eles, apenas

13, ou seja, menos de 1% do total, destinavam-se ao tratamento das doenças tropicais.

"Para essas doenças, a indústria não faz pesquisa porque não se consegue formar um mercado consumidor.

Os tratamentos acabam sendo feitos com remédios muito ruins, com baixa eficácia e diversos efeitos colaterais",

explica Michel Lotrowska, economista e membro da MSF. Como exemplo do descaso da indústria com as "doenças

de pobres", ele cita o exemplo da doença do sono, causada pela mosca Tsé-Tsé, moléstia que atinge 100 mil

pessoas por ano apenas no continente africano. "O tratamento para essa doença é feito à base de arsênico,

altamente tóxico. Depois de algumas aplicações, isso simplesmente mata o paciente", relata Lotrowska.

Outra doença que atinge índices alarmantes em todo o mundo é a tuberculose, que ressurgiu graças às

condições de miséria em várias partes do planeta e ao alastramento da Aids, que debilita o organismo e facilita o

contágio pelo bacilo causador. De acordo com a OMS, são registados cerca de 10 milhões de novos casos por ano

no mundo, com aproximadamente 3 milhões de mortes. Somente no Brasil calcula-se entre 90 mil a 100 mil novos

casos anuais. O mais dramático nesse quadro é que há mais de trinta anos não é desenvolvida nova droga para ocombate à doença. "Actualmente, o tratamento dura de seis a nove meses e, devido aos efeitos colaterais, o paciente

abandona a medicação muito cedo, antes de a doença ser totalmente curada. Isso provoca o aparecimento de formas

mais resistentes de tuberculose", esclarece a professora Ida Caramico Soares, da Faculdade de Ciências

Farmacêuticas da USP.

A indústria farmacêutica mundial movimenta mais de 300 bilhões de dólares por ano. O seu principal nicho de

mercado são os Estados Unidos que, sozinhos, são responsáveis por 40% de todas as vendas de produtos

farmacêuticos. Como a preocupação principal da indústria é o lucro, os remédios desenvolvidos são voltados para as

doenças que preocupam mais o Primeiro Mundo, como câncer, doenças cardíacas, obesidade e problemas

dermatológicos como calvície.A Aids é um caso à parte. A doença, que surgiu como epidemia nos países desenvolvidos, tem à disposição

uma imensa quantidade de recursos. Para ter ideia, neste ano o Banco Mundial destinou mais de 1 bilhão de dólares

para 99 projectos ligados ao HIV. Enquanto isso, o mesmo organismo, em conjunto com a OMS e o Instituto para

uma Sociedade Aberta, do "benemérito" e megaespeculador George Soros, anunciou com pompa um programa

mundial de combate à tuberculose, ao custo estimado de 9,3 milhões de dólares em cinco anos.

Mas o dinheiro investido na pesquisa de novos medicamentos contra a Aids não reverteu em benefícios para

os países pobres, que hoje são os mais atingidos pela doença. Enquanto a vida média de um seropositivo aumentou

muito em países desenvolvidos, na África, que possui 28,1 milhões de pessoas infectadas, isso não ocorreu. Em

Botswana, por exemplo, calcula-se que a média de vida esteja 23 anos abaixo que ficaria sem a epidemia. O

continente sofre 76% das 3 milhões de mortes causadas pela doença no mundo anualmente, alcançando 2,3 milhões

de mortos apenas neste ano. De novo o imperativo económico fala mais alto. A maior parte da população não

consegue ter acesso ao coquetel de drogas anti-aids, já que o custo do tratamento é muito alto, chegando a 15 mil

dólares por doente ao ano. Para efeito de comparação, o PIB per capita de Zâmbia, por exemplo, não chega a mil

dólares anuais.

No caso africano, não bastaria ameaçar as gigantes farmacêuticas com a quebra da patente dos remédios

contra Aids como foi feito no Brasil. "A situação deles é muito mais complicada, pois a maioria dos países do

continente não tem estrutura para fabricar remédios em escala industrial", destaca o médico sanitarista TuyoshiNinomya. As condições miseráveis da África e de outros países subdesenvolvidos impedem grande parte das

tentativas de barrar epidemias como a Aids ou as doenças negligenciadas. As doenças endémicas, em geral, estão

8/4/2019 ficha_indústria farmacêutica

http://slidepdf.com/reader/full/fichaindustria-farmaceutica 3/4

As formadoras: Glória Ribeiro e Raquel Marques Pág. 3

associadas à pobreza, desnutrição e condições ambientais desfavoráveis. "Seria necessário não só um melhor

direccionamento de investimentos financeiros da indústria farmacêutica, mas também melhora das condições gerais

da população", defende a professora Ida Caramico Soares. Deu para entender qual é a diferença entre um rico e um

pobre doente?

Medicamentos, doenças e pobreza no mundo

“As grandes indústrias farmacêuticas investem somas fantásticas para encontrar a solução da obesidade e da

impotência, enquanto ignoram a tuberculose e a malária, doenças que matam mais de cinco milhões de pessoas a

cada ano”. Quem acusa é Bernard Pecould, responsável pelas campanhas para acesso aos remédios essenciais, dos

Médicos Sem Fronteiras, que trabalham em lugares de alto risco.

A desculpa das indústrias é que os novos remédios para Aids e doenças contagiosas são frutos de custosas

e sofisticadas pesquisas que duram anos e, portanto, querem um retorno financeiro dos elevados royalties e anos de

monopólio das patentes, para poderem continuar as pesquisas. Os países pobres, geralmente com o maior número

de doentes, querem, por sua vez, a isenção do pagamento dos royalties e versões genéricas dos mesmosmedicamentos.

Na verdade, pedem isenção para 325 medicamentos declarados como essenciais pela Organização Mundial

da Saúde. Os Estados Unidos, prensados pelo lobby das indústrias farmacêuticas, opõem-se aos pedidos dos países

pobres. Numa primeira proposta feita no Tribunal Mundial do livre Comércio, as indústrias estavam dispostas até a

vender sem lucro os remédios antiaids aos países pobres, desde que se lhes reconhecesse o princípio da protecção

da patente que impediria copiar esses remédios, por um período de 20 anos, assustadas pelo fato de que a África do

Sul, já em 2001, começou a fabricar esse tipo de medicamento a preços bem inferiores.

Cerca de 30 indústrias farmacêuticas denunciaram a violação do contrato e, em 2002, os Estados Unidos

bloquearam uma tentativa de acordo com medo de que, dominando a técnica, os países pobres poderiam“contrabandear seus remédios mais baratos até nos mercados de países ricos”, causando grande prejuízo às

indústrias que tanto investiram em pesquisa.

O acordo ainda não foi selado, causando gravíssimos danos aos países mais pobres, enquanto países em

desenvolvimento e com pesquisas avançadas, como a Índia, o Brasil e a África do Sul, conseguiram descobrir

remédios mais em conta. Há denúncias bastante fundadas de que a Índia já esteja invadindo o mercado norte-

americano com seus produtos farmacêuticos “pirateados”. Os países em desenvolvimento, liderados pelo Brasil, Índia

e África do Sul, insistem em ter acesso a esses medicamentos e continuam fabricando remédios salva-vidas.

O presidente dos Médicos Sem Fronteiras, James Orbinski, reclama que “estamos cansados de ver homens,

mulheres e crianças morrerem de Aids e outras doenças, sabendo que a cura existe e, se quisessem, esses

medicamentos estariam disponíveis”, até para os países mais pobres.

Medicamentos

Só 20% dos medicamentos produzidos no mundo são vendidos nos países em desenvolvimento, todavia, eles

abrigam 80% dos doentes da população global. Para exemplificar, mais claramente, 42% são consumidos nos

Estados Unidos e somente 1%, em toda a África. Nos últimos 25 anos, 1.233 medicamentos foram lançados no

mercado, mas somente 13 foram fabricados para curar doenças típicas dos países tropicais.

8/4/2019 ficha_indústria farmacêutica

http://slidepdf.com/reader/full/fichaindustria-farmaceutica 4/4

As formadoras: Glória Ribeiro e Raquel Marques Pág. 4

Doenças

Mais de 2 bilhões de pessoas no mundo não têm acesso a cuidados médicos ou a medicamentos. Cerca de 18% das

mortes no mundo são causadas por pneumonia, disenteria e tuberculose, sendo que, na África subsaariana, 50%

ocorrem por causa de doenças infecciosas. Além disso, a cada ano, 15 milhões de vítimas de doenças provêm de

97% dos países menos desenvolvidos. Bastaria 1 bilhão de dólares para reduzir pela metade os casos de malária.

Os vírus dos pobres

  AIDS

As estatísticas mundiais afirmam que 42 milhões de pessoas contraíram o vírus, sendo que 70% encontram-se na

África. Nesses dados, incluem-se 3,2 milhões de crianças até 15 anos infectadas. Em 2002, morreram 3,1 milhões de

aidéticos, entre os quais, 610 mil crianças.

  MALÁRIA

Calcula-se entre 300-500 milhões, ao ano, o número de novos casos. Entre 1-2 milhões de mortes acontecem todo

ano; 90% só na África, sendo que, entre 1981 e 1997, os casos quadruplicaram.  TUBERCULOSE

Estima-se em 50 milhões o número de doentes no mundo. Mais de 8,2 milhões de novos casos surgem a cada ano,

com um aumento de 20% em relação aos anos 1990- 2000.

Mortes em 2002: 1,5 milhão.

Proposta de atividade

1. A indústria farmacêutica não faz pesquisa para determinadas doenças. Porquê?

2. Uma doença que atinge índices alarmantes em todo o mundo é a tuberculose.

Porquê? Há cura para esta doença?

3. À Indústria Farmacêutica, para que doenças mais interessa encontrar medicamentos? Porquê?

4. Quais as razões apresentadas pela Indústria Farmacêutica para não efectuarem novos estudos sobre

determinadas doenças?

5. Que solução foi encontrada pelos países pobres para ultrapassarem o difícil acesso aos medicamentos?

Bom Trabalho!