Fichamento: Antropologia dos Objetos

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ANTROPOLOGIA DOS OBJETOS: COLEÇÕES, MUSEUS E PATRIMÔNIOS JOSÉ REGINALDO SANTOS CONÇALVES "Sem sistemas de classificação, os objetos materiais (assim como seus usuários) não ganham existência significativa". OS ANTROPÓLOGOS E SEUS OBJETOS: "Acompanhar as interpretações antropológicas produzidas nos paradigmas teóricos é até certo ponto acompanhar as mudanças nos paradigmas teóricos ao longo da história dessa disciplina." (p.16) "E, fins do século XIX e início do século XX, na condição de "objetos etnográficos", eles foram alvos de colecionamento, classificação, reflexão e exibição por parte de autores cujos paradigmas evolucionistas e difusionistas situavam-nos no macro-contexto da história da humanidade." (p.16) "(...) eram re-classificados com a função de servir como indicadores dos estágios de evolução pelos quais supostamente passaria a humanidade como um todo." (p.16) "A cultura humana, para eles, era raramente um assunto de difusão, mas de transmissão." (p.17) "A cultura era concebida como um agregado de objetos e traços culturais. Isto significa dizer que estes eram interpretados como elementos que responderiam a questões e dificuldades universais." (p.17) "A antropologia nessa época era de certo modo produzida nos limites institucionais dos museus." (p18) ANTROPOLOGIA PÓS-BOASIANA:

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Destaque de passagens do texto Antropologia dos Objetos, de José Reginaldo Gonçalves.

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ANTROPOLOGIA DOS OBJETOS: COLEES, MUSEUS E PATRIMNIOS

JOS REGINALDO SANTOS CONALVES

"Sem sistemas de classificao, os objetos materiais (assim como seus usurios) no ganham existncia significativa".

OS ANTROPLOGOS E SEUS OBJETOS:

"Acompanhar as interpretaes antropolgicas produzidas nos paradigmas tericos at certo ponto acompanhar as mudanas nos paradigmas tericos ao longo da histria dessa disciplina." (p.16)

"E, fins do sculo XIX e incio do sculo XX, na condio de "objetos etnogrficos", eles foram alvos de colecionamento, classificao, reflexo e exibio por parte de autores cujos paradigmas evolucionistas e difusionistas situavam-nos no macro-contexto da histria da humanidade." (p.16)

"(...) eram re-classificados com a funo de servir como indicadores dos estgios de evoluo pelos quais supostamente passaria a humanidade como um todo." (p.16)

"A cultura humana, para eles, era raramente um assunto de difuso, mas de transmisso." (p.17)

"A cultura era concebida como um agregado de objetos e traos culturais. Isto significa dizer que estes eram interpretados como elementos que responderiam a questes e dificuldades universais." (p.17)

"A antropologia nessa poca era de certo modo produzida nos limites institucionais dos museus." (p18)

ANTROPOLOGIA PS-BOASIANA:

"O ponto forte da argumentao de Boas de que esses antroplogos pensavam os objetos materiais em funo de seus macro-esquemas de evoluo e difuso, esquecendo-se de se perguntarem pelas suas funes e significados no contexto especfico de cada sociedade ou cultura onde foram produzidos e usados." (p. 18)

"(...) desloca-se o foco de descrio e anlise dos objetos materiais (de suas formas, matria e tcnicas de fabricao) para os seus usos e significados e consequentemente para as relaes sociais em que esto envolvidos os seus usurios." (p.18 e 19)

"Nas dcadas subsequentes (...) A formao desses antroplogos no passava necessariamente pelos museus e pela ateno "cultura material" e as teorias antropolgicas com as quais operavam vieram a deslocar o seu foco de discusso dos objetos materiais para as relaes sociais e para significados dessas relaes." (p.19)

"os objetos materiais so pensados como um sistema de comunicao, meios simblicos atravs dos quais indivduos, grupos e categorias sociais emitem (e recebem) informaes sobre seu status e sua posio na sociedade." (p.20)

"E vo sugerir que os objetos no apenas demarcam ou expressam tais posies e identidades, mas que na verdade (...) organizam ou constituem o modo pelo qual os indivduos e os grupos sociais experimentam subjetivamente suas identidades e status." (p.21)

A HISTORIZAO DA ANTROPOLOGIA: REAPROXIMAO ENTRE ANTROPLOGOS E OS MUSEUS

"Mas a partir dos anos oitenta (...) que os objetos materiais (...) viro a ser tematizados como foco estratgico para a pesquisa e reflexo sobre as relaes sociais e simblicas entre os diversos personagens da histria da antropologia social ou cultural" (...) "Assiste-se nesse perodo a reaproximao entre os antroplogos e os museus, os quais passam a ser considerados como objetos de pesquisa, descrio e anlise. Ao mesmo tempo, assiste-se a um trabalho de problematizao sistemtica (e denncia) do papel desempenhado por essas instituies enquanto mediadores sociais, simblicos e polticos no processo de construo de diversos grupos e categorias sociais, especialmente aqueles que foram tradicionalmente eleitos como "objetos" de estudo da antropologia." (p.22)

O COLECIONAMENTO COMO CATEGORIA DE PENSAMENTO

"No contexto da recente literatura produzida sobre colees e museus etnogrficos, o centro da discusso est evidentemente nos limites da representao etnogrfica do outro. (...) as colees e museus etnogrficos deixam de aparecer como conjuntos de prticas ingnuas ou neutras, para serem redesenhadas como espaos onde se constituem formas diversas de autoconscincia moderna." (p.26)

OBJETOS MATERIAIS COMO PATRIMNIOS CULTURAIS

"A sugesto que sem objetos no existiramos enquanto pessoas socialmente constitudas." (p.27)

"o fato importante a considerar aqui que eles no apenas desempenham funes identitrias, expressando simbolicamente nossas identidades individuais e sociais, mas na verdade organizando (na medida em que os objetos so categorias materializadas) a percepo que temos de ns mesmos individual e coletivamente" (p.27)

O autor comea expondo a relao do antroplogo com o objeto. Traa, de certa forma, uma linha histrica: comea pelo sculo XIX trazendo o tempo em que objetos eram exibidos e classificados sob paradigma evolucionista- museus, principalmente ocidentais, fazem dos objetos uma ilustrao da evoluo scio-cultural da histria da humanidade. Tal histria supostamente traaria a humanidade como um todo. Eram classificadas dessa forma de acordo com as tecnologias do objeto: quanto mais avanada, mais evoluda a sociedade de onde viera.

Alm de evolucionista, a ideia de cultura humana era tratada sempre como uma questo de transmisso, gerando a difuso dos objetos e traos culturais (que eram , pra poca, o que definia a cultura). Ou seja, a antropologia nesse tempo dependia dos museus para tal tarefa.

Segue com o perodo ps Boas, que pedia que a antropologia pensasse nos significados e nas funes do objeto no contexto de sua poca e sua localizao, o que muda a discusso da poca focando nas relaes sociais (identidade e status) dos usurios e os significados destas, distanciando a relao do antroplogo com o museu.

A partir dos anos 80 a relao se reaproxima; antroplogos passam a ver os objetos materiais e os museus como objetos de pesquisa e comeam a problematizar o papel das instituies, questionam o poder destas de construir uma narrativa para e categorizar diversos grupos sociais.

Museus passam a ser vistos como uma forma de autoconscincia moderna. Objetos materiais so vistos como patrimnios culturais, organizando como nos vemos individual e coletivamente.