Fichamento Evolução Da Historiografia Da Africa

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FICHAMENTO FAGE, J. D. “Evolução da historiografia da África”. In: KI-ZERBO, J. (org). “História Geral da África I – metodologia e pré-história da África – vol. 1” . São Paulo: Ática, 1982 Objetivo do texto: analisar a evolução da historiografia sobre a África, sobretudo na parte ocidental, central, oriental e meridional. “Os primeiros trabalhos sobre a história da África são tão antigos quanto o início da história escrita. Os historiadores do velho mundo mediterrânico e os da civilização islâmica medieval tomaram como quadro de referência o conjunto do mundo conhecido, que compreendia uma considerável porção da África [...] A história do norte da África , que continuou a ser parte essencial dos estudos históricos até a expansão do Império Otomano, no século XVI” (pg. 43). “Após a experiência de Napoleão Bonaparte ao Egito em 1798, o norte da África tornou-se novamente um campo de estudos que os historiadores não podiam negligenciar. Com a expansão do poder colonial europeu nessa parte da África um ponto de vista europeu colonialista passou a dominar os trabalhos sobre a história da porção norte da África. ” (pg. 43). “A partir de 1930, o movimento modernizador no Islã, o desenvolvimento da instrução de estilo europeu nas colônias da África do Norte e o nascimento dos movimentos nacionalistas norte-africanos começaram a combinar-se para dar origem a escolas autóctones de história que produziam obras não apenas em árabe, mas também em francês e inglês, restabelecendo assim o equilíbrio nos estudos históricos dessa região do continente .” (pg. 43). “As informações fornecidas pelos antigos autores no que se refere mais particularmente a África ocidental eram raras e esporádicas. Heródoto, Manetão, Plinio, o Velho, Estrabão e alguns outros descrevem apenas umas poucas viagens através do Saara, ou breves incursões marítimas ao longo da costa atlântica, sendo a autenticidade de alguns desses relatos objeto de animadas discussões entre especialistas. O périplo do Mar da Eritreia e as obras de Claudio Ptolomeu e de Cosmas Indicopleustes constituem ainda as principais fontes da história antiga da África ocidental. As informações clássicas a respeito do mar Vermelho e do oceano Indico têm um fundamento mais

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FICHAMENTOFAGE, J. D. Evoluo da historiografia da frica. In: KI-ZERBO, J. (org). Histria Geral da frica I metodologia e pr-histria da frica vol. 1. So Paulo: tica, 1982Objetivo do texto: analisar a evoluo da historiografia sobre a frica, sobretudo na parte ocidental, central, oriental e meridional. Os primeiros trabalhos sobre a histria da frica so to antigos quanto o incio da histria escrita. Os historiadores do velho mundo mediterrnico e os da civilizao islmica medieval tomaram como quadro de referncia o conjunto do mundo conhecido, que compreendia uma considervel poro da frica [...] A histria do norte da frica, que continuou a ser parte essencial dos estudos histricos at a expanso do Imprio Otomano, no sculo XVI (pg. 43). Aps a experincia de Napoleo Bonaparte ao Egito em 1798, o norte da frica tornou-se novamente um campo de estudos que os historiadores no podiam negligenciar. Com a expanso do poder colonial europeu nessa parte da frica um ponto de vista europeu colonialista passou a dominar os trabalhos sobre a histria da poro norte da frica. (pg. 43).A partir de 1930, o movimento modernizador no Isl, o desenvolvimento da instruo de estilo europeu nas colnias da frica do Norte e o nascimento dos movimentos nacionalistas norte-africanos comearam a combinar-se para dar origem a escolas autctones de histria que produziam obras no apenas em rabe, mas tambm em francs e ingls, restabelecendo assim o equilbrio nos estudos histricos dessa regio do continente. (pg. 43).As informaes fornecidas pelos antigos autores no que se refere mais particularmente a frica ocidental eram raras e espordicas. Herdoto, Maneto, Plinio, o Velho, Estrabo e alguns outros descrevem apenas umas poucas viagens atravs do Saara, ou breves incurses martimas ao longo da costa atlntica, sendo a autenticidade de alguns desses relatos objeto de animadas discusses entre especialistas. O priplo do Mar da Eritreia e as obras de Claudio Ptolomeu e de Cosmas Indicopleustes constituem ainda as principais fontes da histria antiga da frica ocidental. As informaes clssicas a respeito do mar Vermelho e do oceano Indico tm um fundamento mais slido, pois certo os mercadores mediterrnicos, ou ao menos os alexandrinos, comerciavam nessa costa. (pg. 44). Os autores rabes eram mais bem informados, uma vez que em sua poca a utilizao do camelo pelos povos do Saara havia facilitado o estabelecimento de comercio regular com a frica ocidental e a instalao de negociantes norte-africanos nas principais cidades do Sudo ocidental [...] Assim, as obras de homens como al-Masudi, al-Bakru, al- Idrisi, Ibn Battuta, Yakut, Abul-Fida, alUmari e Hassan Ibn Mohammad al-Wuzzan so de grande importancia para a reconstruo da histria da frica, em particular a do Sudo ocidental e central, durante o perodo compreendido entre os sculos IX e XV (pg. 44). [...] por mais uteis que sejam essas obras para os historiadores modernos, pairam dvidas [...], essas obras apresentam o inconveniente de que, em geral, no h nenhum meio de avaliar a autoridade da informao, de saber, por exemplo, se o autor a obteve por sua observao pessoal ou a partir da observao direta de um contemporneo, ou se ele simplesmente relata rumores correntes na poca ou a opinio de autores antigosContribuio dos relatos antigos: cada um deles consiste numa descrio das regies da frica a partir das informaes que puderam recolher na poca em que escrevera. (pg. 44).

Entre os primeiros historiadores da frica, porm, encontra-se um muito importante, um grande historiador no sentido amplo do termo: referimonos a Ibn Khaldun (1332 1406), um norteafricano nascido em Tnis, o qual consagra parte da obra ao estudo da frica e s suas relaes com os outros povos do Mediterrneo e do Oriente Prximo. (pg. 45).Ibn Khaldun distinguese de seus contemporneos no somente por ter concebido uma filosofia da histria, mas tambm e talvez principalmente por no ter, como os demais, atribudo o mesmo peso e o mesmo valor a todo fragmento de informao que pudesse encontrar sobre o passado; acreditava que era preciso aproximarse da verdade passo a passo, atravs da crtica e da comparao. (pg. 45).Ibn Khaldun , realmente, um historiador muito moderno e a ele que devemos o que se pode considerar quase como histria da frica tropical [...] permanece at hoje como uma das bases essenciais da histria desse grande Estado africano. (pg. 46).Quando o Isl atravessou o Saara e se expandiu ao longo da costa oriental trazendo consigo a escrita rabe, os negros africanos passaram a utilizar textos escritos ao lado dos documentos orais de que j dispunham para conservar sua histria. Os mais elaborados dentre esses primeiros exemplos de obras de histria atualmente conhecidos so provavelmente o Tarikh alSudan e o Ta rikh elFattash, ambos escritos em Tombuctu, principalmente no sculo XVII (pg. 45).Tarikh alSudan e o Ta rikh elFattash [...] fazem um relato dos acontecimentos de sua poca e do perodo imediatamente anterior, com muitos detalhes e sem omitir a anlise e a interpretao (pg. 46).Em funo disso, importante distinguir os Tarikh de Tombuctu de outras obras histricas escritas em rabe pelos africanos, tais como as conhecidas pelos nomes de Crnica de Kano e Crnica de Kilwa. Estes ltimos nos oferecem somente anotaes diretas, por escrito, de tradies que at ento eram, sem dvida alguma, transmitidas oralmente. (pg. 46).No sculo XV os europeus comearam a entrar em contato com as regies costeiras da frica tropical, fato que desencadeou a produo de obras literrias que constituem preciosas fontes de estudo para os historiadores modernos. Quatro regies da frica tropical foram objeto de particular ateno: a costa da Guin na frica ocidental; a regio do Baixo Zaire e de Angola; o vale do Zambeze e as terras altas vizinhas; e, por fim, a Etipia. Nessas regies, durante os sculos XVI e XVII, houve uma considervel penetrao em direo ao interior. Mas, como no caso dos escritores antigos, clssicos, ou rabes, o resultado no foi sempre, e em geral no de forma imediata, a produo de obras de histria da frica. (pg. 46).A costa da Guin foi a primeira regio da frica tropical descoberta pelos europeus; ela foi o tema de toda uma srie de obras a partir de 1460, aproximadamente (Cadamosto), at o incio do sculo XVIII (Barbot e Bosman). (pg. 47). Nas outras regies que despertaram o interesse dos europeus nos sculos XVI e XVII a situao era um pouco diferente. Isso talvez se deva ao fato de terem sido o campo de atividade dos primeiros esforos missionrios [...] Os missionrios, ao contrrio, sentiamse obrigados a tentar alterar o que encontravam e, nessas condies, um certo grau de conhecimento da histria da frica poderia serlhes til. (pg. 47).Obras histricas sobre a Etipia foram elaboradas por dois eminentes pioneiros entre os missionrios, Pedro Paez (morto em 1622) e Manoel de Almeida (15691646), e uma histria completa foi escrita por um dos primeiros orientalistas da Europa, Hiob Ludolf (16341704). (pg. 47).De fato, importantes elementos de histria podem ser encontrados em livros de autores como Pigafetta e Lopez (1591) e Cavazzi (1687). Em 1681, Cadornega publica uma Historia das Guerras Angolanas.(pg. 47).A partir do sculo XVIII, parece que a frica tropical recebeu dos historiadores europeus a ateno que merecia (pg. 47). E a razo pela qual essas obras foram publicadas naquela poca devese ao fato de que, no fim do sculo XVIII, comeava a acirrarse a controvrsia em torno do trfico de escravos, que tinha sido o principal elemento das relaes entre a Europa e a frica tropical havia pelo menos 150 anos. (pg. 49). Obs: esses trabalhos tinham como objetivo fornecer argumentos a favor ou contra a abolio do trfico negreiro, num momento em que o prprio trfico era causador de um caos social cada vez mais grave em numerosas partes do continente (pg. 48). Se no fosse por isso, no se tem como certo se esses livros teriam compradores, pois nessa poca a principal tendncia da cultura europeia comeava a considerar de forma cada vez mais desfavorvel as sociedades naoeuropeias e a declarar que elas no possuam uma histria digna de ser estudada. Essa mentalidade resultava sobretudo da convergncia de correntes de pensamento oriundas do Renascimento, do Iluminismo e da crescente revoluo cientfica e industrial (pg. 48).O resultado foi que, baseandose no que era considerado uma herana grecoromana nica, os intelectuais europeus convenceramse de que os objetivos, os conhecimentos, o poder e a riqueza de sua sociedade eram to preponderantes que a civilizao europeia deveria prevalecer sobre todas as demais [...] (pg. 48).Hegel (17701831) definiu explicitamente essa posio em sua Filosofia da Histria, que contm afirmaes como as que seguem: A frica no um continente histrico; ela no demonstra nem mudana nem desenvolvimento. Os povos negros so incapazes de se desenvolver e de receber uma educao. Eles sempre foram tal como os vemos hoje (pg. 48).Ainda que a influncia direta de Hegel na elaborao da histria da frica tenha sido fraca, a opinio que ele representava foi aceita pela ortodoxia histrica do sculo XIX. Essa opinio anacrnica e destituda de fundamento ainda hoje no deixa de ter adeptos. (pg. 49). Por ironia do destino, foi durante a vida de Hegel que os europeus empreenderam a explorao real, moderna e cientfica da frica e comearam assim a lanar os fundamentos de uma avaliao racional da histria e das realizaes das sociedades africanas. Essa explorao era ligada, em parte, reao contra a escravido e o trfico de escravos, e, em parte, competio pelos mercados africanos. (pg. 49).Alguns dos primeiros europeus eram impelidos por um desejo sincero de aprender tudo o que pudessem a respeito do passado dos povos africanos e recolhiam todo o material que encontravam: documentos escritos, quando os havia, ou ainda tradies orais e testemunhos que descobriam sobre os traos do passado. A literatura produzida pelos exploradores imensa. Alguns desses trabalhos contm histria no melhor sentido do termo, e em sua totalidade, tal literatura constitui um material de grande valor para os historiadores (pg. 49).Como essas tentativas pareciam necessitar de uma justificativa moral, as consideraes hegelianas foram reforadas pela aplicao dos princpios de Darwin. O resultado sintomtico disso tudo foi o aparecimento de uma nova cincia, a Antropologia, que um mtodo naohistorico de estudar e avaliar as culturas e as sociedades dos povos primitivos, os que no possuam uma histria digna de ser estudada, aqueles que eram inferiores aos europeus e que podiam ser diferenciados destes pela pigmentao de sua pele. (pg.50).As coisas ficaram ainda mais difceis para o estudo da histria da frica aps o aparecimento, nessa poca e em particular na Alemanha, de uma nova concepo sobre o trabalho do historiador, que passava a ser encarado mais como uma atividade cientfica fundada sobre a anlise rigorosa de fontes originais do que como uma atividade ligada literatura ou filosofia. evidente que, para a histria da Europa, essas fontes eram sobretudo fontes escritas, e nesse domnio a frica parecia especialmente deficiente. (pg. 51).a frica no possua nenhuma histria antes da chegada dos europeus. A histria comea quando o homem se pe a escrever. Assim, o passado da frica antes do incio do imperialismo europeu s podia ser reconstitudo a partir de testemunhos dos restos materiais, da linguagem e dos costumes primitivos, coisas que no diziam respeito aos historiadores, e sim aos arquelogos, aos linguistas e aos antroplogos (pg. 51). Os historiadores coloniais profissionais estavam, assim como os historiadores profissionais em geral, apegados concepo de que os povos africanos ao sul do Saara no possuam uma histria suscetvel ou digna de ser estudada. Como vimos, Newton considerava essa histria como domnio exclusivo dos arquelogos, linguistas e antroplogos. Mas se verdade que os arquelogos, assim como os historiadores, por fora de sua profisso se interessam pelo passado do homem e de suas sociedades, eles estavam quase to desinteressados quanto os historiadores em dedicarse a descobrir e elucidar a histria da sociedade humana na frica subsaariana (pg. 52). Enquanto a maioria dos arquelogos e dos historiadores considerava a frica subsaariana, at os anos 50, aproximadamente, no digna de sua ateno, a imensa variedade de tipos fsicos, de sociedades e de lnguas desse continente despertava o interesse dos antroplogos e linguistas medida que suas disciplinas comeavam a desenvolver se. (pg. 52).Mas essa adoo do mito da superioridade dos povos de pele clara sobre os de pele escura era somente uma parte dos preconceitos correntes na Europa no fim do sculo XIX e no incio do sculo XX. Os europeus acreditavam que sua pretensa superioridade sobre os negros africanos estava confirmada por sua conquista colonial (pg.54).tema reaparece ao longo de muitas outras obras do perodo que vai de 1890 a 1940 [...] essas obras foram escritas por homens e mulheres que tinham participado pessoalmente da conquista ou da colonizao e que no eram nem antroplogos, nem linguistas, nem historiadores profissionais. Tratavase sim de amadores no melhor sentido da palavra, que se interessavam sinceramente pelas sociedades exticas que haviam descoberto, e que desejavam obter mais informaes a seu respeito e partilhar seus conhecimentos com outras pessoas (pg.54)."O crescimento do interesse dos europeus pela frica havia proporcionado aos africanos grande variedade de culturas escritas, que lhes permitia exprimir seu interesse por sua prpria histria. Foi esse o caso principalmente da frica ocidental, onde o contato com os europeus havia sido mais longo e mais constante, e onde sobretudo nas regies que se tornaram colnias britnicas uma demanda pela instruo europeia j existia desde o incio do sculo XIX. Assim como os eruditos islamizados de Tombuctu se puseram rapidamente a escrever seus tarikh em rabe ou na lngua ajami, no fim do sculo XIX tambm os africanos que haviam aprendido a ler o alfabeto latino. Sentiram necessidade de deixar por escrito o que eles conheciam da histria de seus povos, para evitar que estes fossem completamente tragados pelos europeus e sua histria. (pg. 56).Por outro lado, certos colonizadores, espritos inteligentes e curiosos, tentavam descobrir e registrar a histria daqueles a quem tinham vindo governar. Para eles, a histria africana geralmente apresentava um valor prtico. Os europeus podiam ser melhores administradores se possussem algum conhecimento sobre o passado dos povos que eles haviam colonizado. Alm do mais, seria til ensinar um pouco de histria da frica nas escolas, cada vez mais numerosas, fundadas por eles e seus compatriotas missionrios, ainda que fosse apenas para servir como introduo ao ensino, mais importante, da histria da Inglaterra ou da Frana. Isso possibilitaria aos africanos obter os school certificates e os baccalaureats e ser recrutados depois como preciosos auxiliares pseudoeuropeus. (pg. 57). Alguns dos mais slidos trabalhos britnicos por exemplo, History of the Gold Coast and Ashanti (1915) de W. W. Claridge ou History of the Gambia (1940) de Sir John Gray (exceo feita a alguns de seus artigos mais recentes sobre a frica oriental) possuam uma forte tendncia eurocntrica. conveniente notar tambm que, quando de seu retorno Frana, alguns administradores franceses (como Delafosse, Georges Hardy, Henry Labouret29) elaboraram breves histrias gerais a respeito de todo o continente ou do conjunto da frica subsaariana (pg. 57-8).A partir de 1947, a Socit Africaine de Culture e sua revista Presence Africaine empenharam se na promoo de uma histria da frica descolonizada. Ao mesmo tempo, uma gerao de intelectuais africanos que havia dominado as tcnicas europeias de investigao histrica comeou a definir seu prprio enfoque em relao ao passado africano e a buscar nele as fontes de uma identidade cultural negada pelo colonialismo. Esses intelectuais refinaram e ampliaram as tcnicas da metodologia histrica desembaraando a, ao mesmo tempo, de uma srie de mitos e preconceitos subjetivos. A esse propsito devemos mencionar o simpsio organizado pela UNESCO no Cairo em 1974, que permitiu a pesquisadores africanos e naoafricanos confrontar livremente seus pontos de vista sobre o problema do povoamento do antigo Egito. Do ponto de vista da historiografia africana, a multiplicao das novas universidades a partir de 1948 foi seguramente significativa [...] Por outro lado, as novas universidades que existiam na frica do Sul em 1940 eram prejudicadas pela poltica segregacionista do regime de Pretria: tanto a pesquisa histrica quanto o ensino eram eurocentristas, e a histria da frica no passava da histria dos imigrantes brancos. Todas as novas universidades, ao contrrio, organizaram logo departamentos de histria, o que, pela primeira vez, levou um nmero considervel de historiadores profissionais a trabalhar na frica.Os professores africanos que se tornaram historiadores profissionais sentiram necessidade de ampliar a parte reservada histria da frica em seus programas e, quando essa histria fosse pouco conhecida, de incluila em suas pesquisas.A partir de 1948, a historiografia da frica vai progressivamente se assemelhando de qualquer outra parte do mundo. evidente que ela possui problemas especficos, como a escassez relativa de fontes escritas para os perodos antigos e a consequente necessidade de lanar mo de outras fontes como a tradio oral, a lingustica ou a arqueologia.O estudo da histria africana constitui hoje uma atividade bem estabelecida, a cargo de especialistas de alto nvel. Seu desenvolvimento ulterior ser assegurado pelos intercmbios interafricanos e pelas relaes entre as universidades da frica e as de outras partes do mundo. Mas preciso ressaltar que esta evoluo positiva teria sido impossvel sem o processo de libertao da frica do jugo colonial: o levante armado de Madagscar em 1947, a independncia do Marrocos em 1955, a heroica luta do povo argelino e as guerras de libertao em todas as colnias da frica contriburam enormemente para esse processo j que criaram, para os povos africanos, a possibilidade de retomar o contato com sua prpria histria e de controlar a sua organizao.