Fichamento - História da Riquesa do Homem. 1

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Livro: História da Riqueza do Homem. Autor: Leo Huberman Editora: LTC Ano: 1986 Sacerdotes, guerreiros e trabalhadores. Os diretores dos filmes antigos costumavam fazer coisas estranhas. Os personagens rodavam pela cidade sem pagar taxi, se divertiam, trabalhavam, e era tudo. Não haviam atividades básicas. Assemelhavam-se em muito à maioria dos livros da Idade Média, que falavam de lindas damas, cavalheiros brilhantes e viviam sempre em castelos esplêndidos. Em ambos os casos, poucos sinais existiam de que alguém deveria produzir essas coisas. Na idade média, alguém tinha que fornecer alimentação e vestuário para essas damas e cavalheiros. Para isso existia um grupo: os trabalhadores. A sociedade feudal compreendia três classes: Sacerdotes, Guerreiros e Trabalhadores, sendo que o homem que trabalhava, produzia para as outras classes: “For the Knight and eke the clerk, live by him Who does the work.” Como era feito este trabalho? Nas fábricas ou usinas? Não. Era cultivando a terra, para a produção de grão, e cuidando das ovelhas para utilizar a lã no vestuário. Era um trabalho totalmente diferente de hoje, onde são utilizadas máquinas, fertilizantes, e alta tecnologia. Na Europa Ocidental e Central, a maioria das terras agrícolas estava dividida em áreas que consistiam apenas de uma aldeia e as várias centenas de acres de terra arável que a circundavam,e nas quais o povo da aldeia trabalhava. Eram os Feudos.

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Livro: História da Riqueza do Homem.Autor: Leo HubermanEditora: LTC Ano: 1986Sacerdotes, guerreiros e trabalhadores.

Os diretores dos filmes antigos costumavam fazer coisas estranhas. Os personagens rodavam pela cidade sem pagar taxi, se divertiam, trabalhavam, e era tudo. Não haviam atividades básicas. Assemelhavam-se em muito à maioria dos livros da Idade Média, que falavam de lindas damas, cavalheiros brilhantes e viviam sempre em castelos esplêndidos. Em ambos os casos, poucos sinais existiam de que alguém deveria produzir essas coisas.

Na idade média, alguém tinha que fornecer alimentação e vestuário para essas damas e cavalheiros. Para isso existia um grupo: os trabalhadores. A sociedade feudal compreendia três classes: Sacerdotes, Guerreiros e Trabalhadores, sendo que o homem que trabalhava, produzia para as outras classes:

“For the Knight and eke the clerk, live by him Who does the work.” Como era feito este trabalho? Nas fábricas ou usinas? Não. Era cultivando a terra, para a produção de grão, e cuidando das ovelhas para utilizar a lã no vestuário. Era um trabalho totalmente diferente de hoje, onde são utilizadas máquinas, fertilizantes, e alta tecnologia.

Na Europa Ocidental e Central, a maioria das terras agrícolas estava dividida em áreas que consistiam apenas de uma aldeia e as várias centenas de acres de terra arável que a circundavam,e nas quais o povo da aldeia trabalhava. Eram os Feudos.

Cada propriedade feudal tinha um senhor. Esses senhores viviam em uma moradia grande e fortificada, onde o senhor feudal vivia (ou o visitava, já que as vezes possuía vários feudos) com sua família, empregados e funcionários que administravam a propriedade. Tudo ao redor, os pastos, os prados, os bosques, eram usados em comum, mas a terra arável se dividia em duas partes. A terça parte do todo, pertencia ao senhor e era chamada de seus domínios, e a outra ficava por conta dos arrendatários, que trabalhavam a terra. Só que esta divisão de terra não era contínua: Era dividida em faixas de mesmo arrendatário, não eram juntas uma das outras (vide figura 1). Exemplo: a terra arrendada por A, se espalha por três campos, e está dividida em faixas, nenhuma das quais vizinha da outra.

A cultura em faixas foi típica do período feudal, ela era muito dispendiosa e com o tempo foi posta de lado. Hoje, nós sabemos muito mais sobre essas plantações alternadas utilizando fortificantes e conseguindo maior produção do solo, do que os camponeses feudais. Grande progresso na época foi o sistema de dois por três campos. Os camponeses feudais não tinham conhecimento sobre quais as melhores colheitas e se sucederiam, mas sabiam que plantar a mesma cultura todos os anos acabaria com o solo. Assim faziam os rodízios

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entre as culturas (vide figura 2), ficando sempre um campo em repouso (posto de lado para um descanço). Os arrendatários trabalhavam não só as terras que arrendavam, mas também a propriedade do senhor.

O camponês vivia de uma forma miserável em uma choça sem nenhum conforto. Trabalhava duramente em suas faixas de terra de onde conseguia tirar do solo apenas o suficiente para uma vida miserável. Além disso, dois ou três dias na semana, tinha que trabalhar na terra do senhor, sem pagamento por este trabalho. Na época de colheita, primeiramente tinham que colher o grão nas terras do senhor, para depois trabalhar na sua. Sempre a terra do senhor era mais importante: Arada primeiro, semeada primeiro e ceifada primeiro. O camponês era um escravo não no sentido que atribuímos a palavra, eles não eram considerados mercadoria para ser vendida. As famílias não eram desmembradas. O servo não podia ser vendido fora de sua terra, diferente do escravo. Seu senhor poderia transferir a posse do feudo a outro, ele teria outro senhor, mas permaneceria em seu pedaço de terra.

Haviam vários graus de servidão: Haviam os ‘servos dos domínios’, ligados a casa do senhor e trabalhavam em seus campos durante toda a semana. Os ‘fronteiriços’, camponeses muito pobres que mantinham pequenos arrendamentos de um hectare, mais ou menos a orla da aldeia. Os ‘aldeães’, que as vezes possuíam apenas uma cabana, e trabalhavam para o senhor como braço contratado, em troca de comida. Os ‘vilões’ eram servos com maiores privilégios pessoais e econômicos, e gozavam de menores deveres para com o senhor. Os deveres que realmente assumiam eram mais precisos que os dos servos, não podendo o senhor, fazer-lhes novas exigências. Alguns não faziam qualquer tarefa, mas pagavam ao senhor uma parcela de sua produção, como os nossos meeiros. Se o servo não podia ser vendido sem a terra, tampouco podia deixá-la, era o chamado ‘’título de posse’’.

Os servos, ou seus filhos não podiam casar-se fora dos domínios, exceto com permissão especial. Quando um servo morria, seu herdeiro direto podia herdar o arrendamento mediante o pagamento de uma taxa.

O senhor do feudo, como o servo, não possuía terra, mas era ele próprio arrendatário de outro senhor mais acima na escala. Ele arrendatava a terra de um conde que já arrendara de um duque que por seu lado, arrendara do rei. As vezes um rei arrendava terra de outro rei. Alguns nobres possuíam vários feudos, as vezes espalhados por lugares diferentes. As pessoas que arrendavam diretamente ao rei eram chamadas de ‘’principais arrendatários’’.

As propriedades maiores, tendiam com o tempo a ser divididas em arrendamentos menores, mantidos por um número cada vez maior de nobres de uma linhagem ou de outra, porque os senhores tinham necessidade de ter tantos vassalos quanto pudesse. Hoje em dia, chamamos um homem de rico pelos bens que ele possui, mas no período feudal a terra e apenas a terra era a chave da fortuna de um homem, sendo por isso tão disputada continuamente. O período feudal foi um período de guerras.

Para vencer as guerras, era preciso aliciar tanta gente quanto possível,e a forma de fazê-lo era contratar guerreiros concedendo-lhes terra em troca de certos pagamentos e auxílio quando necessário.

Os arrendatários não podiam dispor da terra como desejassem, pois tinham que obter o consentimento de seus senhores, e pagar certos impostos, se a

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transferissem a outro. Se um arrendatário morria e o herdeiro não completar a idade de entrar em posse da herança, o senhor tomava conta da terra até que ele atingisse a maioridade, e nesse meio tempo guardava todos os lucros.

Os herdeiros mulheres tinham que obter o consentimento do senhor para casar. Se uma viúva desejava casar outra vez, devia pagar uma multa a seu senhor. Por outro lado, se uma viúva não queria casar outra vez, tinha que pagar para não ser obrigada a fazê-lo, segundo a vontade de seu senhor.

Se o senhor era tomado como refém por um inimigo, estava entendido que seus vassalos ajudariam a pagar por sua libertação. Quando o filho do senhor era sagrado o cavalheiro, devia receber uma ajuda de seus vassalos: talvez para pagar as despesas das festividades comemorativas.

O clero e a nobreza constituíam as classes governantes. Controlavam a terra, e o poder que dela provinha. A igreja prestava ajuda espiritual, enquanto a nobreza, proteção militar. Em troca, exigiam pagamento das classes trabalhadoras, sobre a forma de cultivo das terras. O professor Boissonnade competente historiador deste período, assim o resume: “O sistema feudal em última análise, repousava sobre uma organização que em troca de proteção, freqüentemente ilusória, deixava as classes trabalhadoras à mercê das classes parasitárias, e concedia a terra não a quem cultivava, mas aos capazes de dela se apoderarem.”