Folclore Na Educação Básica- Apresentação ProdocênciaFINAL
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Folclore na Educação Básica: Recriação a partir dos Folguedos e da
Mítica Popularpor
Prof. Luciana Diláscio Neves – Coordenadora do PIBID-Belas Artes da UFRRJ
eBolsistas do projeto PIBID, licenciandos do curso Belas Artes.
Bolsistas:-Camila Cristina Batista-Gildásio Miranda do Carmo-Gisele Silva Soares-Igor Luiz Oliveira Dias-Jéssica Cristina Gomes-João Chrysostomo-Karina Sugio-Lucas Paes Leite-Lucas Moratelli-Luciana França da Costa-Mariana Rodi Thomas-Natalia Mano Saraiva-Pablo Ferreira de Lima-Paolo Xavier Martins-Rogério Corrêa Alves-Sarah Figueiredo-Susana Monteiro-Thaís Souza
• Trabalho na licenciatura
(Formação docente)
• Trabalho na educação básica
(junto às escolas conveniadas)
Folclore e Cultura Popular
Como surge o conceito de folclore e cultura popular?
Período Medieval:
-cultura da maioria, transmitida informalmente nos mercados, nas praças, nas feiras e igrejas.
-ausência de simetria
-cultura transmitida formalmente nos liceus e demais instituições
- tradição erudita x tradição popular
Cultura popular X cultura legitimada(periférica) normatizada pelos modelos da
sociedade civil e religiosa
- verdade [ conhecimento verdadeiro x conhecimento falso]- racionalidade [ práticas aceitáveis e coerentes na sociedade estabelecida]-convenção [ código social determinado ]
Peter Burke (A Cultura Popular na Idade Média,(1989)→ o interesse pela cultura popular surge no momento em que ela tendia a desaparecer sob o impacto da Revolução Industrial em meados do séc. XIX.
-Fins do séc. XIX e início do XX que ocorre a “descoberta” da cultura popular sendo definida por
oposição à erudita.
- “Antiguidades populares” recolhidas na literatura oral como os contos, as lendas, as narrativas mitológicas...
- A difusão do movimento se realiza paralelamente com a ampliação do interesse, merecendo pesquisas
também as festas, as práticas religiosas, a música vocal e instrumental, os usos e costumes...
- O termo e conceito “folclore” surgem no seio destas questões
- termo criado pelo inglês Willian John Thoms (1846)
FOLK-LORE = sabedoria do povo povo saber
→ se referia aos estudos dos “usos e costumes, cerimônias, crenças, romances, supertições, refrãos [...]”
No Brasil:
→ os ecos destes estudos europeus chegaram na segunda metade do séc. XIX, liderados por nomes tais como:
- Celso de Magalhães (1844-1879)- Silvio Romero (1860-1914)- João Ribeiro (1860-1934)
E no séc XX:
-Mario de Andrade (1893-1945)- Renato Almeida (1895-1981)- Câmara Cascudo (1898-1986)- Gilberto Freire (1900- 1987)- Edson Carneiro (1912-1972)- Darcy Ribeiro (1922-1997)
- Ainda no início do séc. XX, no Brasil:
- Os estudos do folclore incidiam basicamente sobre a literatura oral, sobretudo, a poesia popular.
- Renato Almeida: propõe que se estudasse, não só a literatura, mas também outros aspectos da vida social, material e concretos, como artesanatos, as indumentárias, os instrumentos musicais e suas formas de execução, as coreografias, os componentes rituais...
- Mario de Andrade: estrutura um curso de formação de folcloristas e cria a Sociedade de Etnografia e Folclore
- Renato Almeida (como presidente do Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura do Ministério do Exterior vinculado à unesco, cria em 1946 a Comissão Nacional do Folclore, liderando grande movimento em todo território brasileiro.
-1951: Carta do Folclore Brasileiro – I Congresso Brasileiro de Folclore [a partir de uma posição consensual dos folcloristas brasileiros]
“Constitui o fato folclórico a maneira de pensar, sentir e agir de um povo, preservada pela tradição popular e pela imitação, e menos influenciadas
pelos círculos e instituições, que se dedicam ou à renovação e conservação do patrimônio científico e artístico humano ou à fixação de uma orientação
religiosa e filosófica”.
“O fato folclórico caracteriza-se pela sua espontaneidade e pelo seu poder de motivação sobre os componentes da respectiva coletividade. A
espontaneidade indica que o fato folclórico é um modo de sentir, pensar e agir, que os membros da coletividade exprimem, ou identificam como seu,
sem que a isto sejam levados por influência direta de instituições estabelecidas. O fato folclórico, contudo, pode resultar tanto de invenção
quanto de difusão”
-Em decorrência das grandes transformações sociais e do avanço das ciências:
-Releitura da Carta em 1995 no VIII Congresso Brasileiro de Folclore.
- tradição, anonimato, aceitação coletiva, espontaneidade
“A cultura popular é a criança que continua em nós, em nossa formação cultural e social. Tudo numa paralela: de um lado, as supertições, os mitos e as histórias que nossa mãe nos contou, de outro o que aprendemos na
escola, no dia-a-dia da cidade, as viagens e as máquinas. A cultura primitiva prolonga-se na cultura
geral e nunca desaparecerá.(Luís da Câmara Cascudo, O Folclore está vivo, 1972,
p.5)
-Trabalho em torno dos folguedos brasileiros.
-Viagem pelo imaginário a eles relacionados num contato com a realidade folclórica do Brasil.
- Como tornar compreensível para os graus escolares envolvidos o que é o folclore, apresentando as origens,
as significações e as ramificações do imaginário que envolvem um folguedo popular?
- NAU CATARINETA – teatro de bonecos
-BUMBA-MEU-BOI - encenação do auto
-Adaptação do livro “MARTIM-CERERÊ de Cassiano Ricardo – teatro de sombras
Etapas:-Pesquisa e levantamento das fontes
(textos, fotos, DVDs, músicas, imagens em torno dos temas)
- Refletir sobre a transposição didática
deste material
- Trabalho nas escolas da educação básica – CAIC (recriações)
- Festas Populares no Brasil (vindas em grande parte, por intermédio dos países ibéricos)
- O folclore revela a permanência de uma “alma popular” pelo qual “séculos depois, um prato, um gesto, uma forma de representar,
folgar, dançar” resgatam uma memória de outros tempos e de outros lugares do mundo, numa colaboração anônima que vem de milênios.
(Brasil: Festa Popular, Prefácio de Câmara Cascudo)
- “alma popular” – mesmo em suas especificidades locais preserva traços de uma universalidade, encontrando correspondências no
imaginário dos povos de espaços e tempos diferenciados.
- elemento que motiva as manifestações espontâneas de qualquer coletividade / mítico, imaginário
Bumba-meu boi
( boi-bumbá, boi calemba, reis-de-boi, boi-de-mamão, boi-surubi...
- animal que aparece amplamente no folclore universal
-no Brasil, o imaginário ao redor do boi foi se constituindo no complexo processo de colonização
brasileira.
animal de prestância econômica e material com vivência cotidiana expressas no pastoreio, nas aventuranças pelos cenários selvagens do Brasil, nos “engenhos de cana-de-açúcar que por então começavam a pontilhar a paisagem de sensuais e ondulantes verdes a picar os ares de pertubadores e agridoces cheiros” (Domingos Vieira Filho in BRASIL: Festa Popular, 1980, p. 40)
“A notícia das façanhas desses animais indomáveis, que desafiavam a coragem e a
destreza dos vaqueiros em desusadas correrias nas solidões áspera dos campos,
impressionavam vivamente a imaginação dos colonos e povoadores e serviam de comentários
nas horas em que descansavam das rudes labutas campeiras”
- A poesia popular também foi fixando a memória dos feitos dos bois “quase sobrenaturais”, como o boi
Surubim
- Em torno do boi, surgem lendas, narrativas heróicas, folganças, cultos
- passagem do boi para o universo folclórico da gente que se amalgamava na terra brasileira / transposição
para o plano lendário da figura do animal
O imaginário que motivou e constituiu o auto do boi reflete o universo cultural do Brasil colonial, “com as boiadas se espraiando sertão adentro, avassalando campos e brenhas, irmanadas ao próprio homem aventureiro e obstinado que palmilhava ousadamente as imensidões da terra brasileira para plantar as sementes de vilas e povoados com um escasso aparato civilizatório e uma vida cercada de perigos e desconfortos, e marcados para sempre pela saudade de seus maiores, que expressava nas modinhas dolentes e nos aboios que ecoavam na solidão dos campos perdidos” (Domingos Vieira Filho)
- A motivação que realiza a manifestação folclórica não provém apenas do real, mas de uma sublimação desta realidade, numa fusão mito/realidade que é uma de
suas principais características.
- o bumba-meu-boi é um auto teatralizado que indubitavelmente surgiu nos tempos coloniais,
atravessando o tempo, com variantes aqui e ali, ao sabor das influências locais.
- O folguedo do boi encerra muito mais do que a referência a uma realidade do Brasil já distanciada, pois
agregam inúmeros sentidos e valores, se adaptando habilmente às circunstâncias de tempo e espaço, sem
perder, no entanto, sua fabulação básica, sua fonte primitiva.
- Na fusão de diversos e complexos elementos que compõem o imaginário de um povo, nos aprofundamos
nesta porção essencial da imaginação – As Imagens - reproduzindo-as e reatualizando-as infinitamente.
- Levando-se em conta os graus escolares envolvidos, nossa questão se baseia em como trabalhar os
folguedos de maneira que as significações, origens e ramificações do imaginário que os envolvem fossem
apreendidos.
Trabalhos realizados com o 6º ano do CAIC- desenhos com pastel oleoso sobre papel preto a partir das referências e imagens em torno do
imaginário do bumba-meu-boi
Exemplos de trabalhos realizados na licenciatura a partir de referências da cultura Marajuara
Referências de ornatos e padrões decorativos da cultura Marajoara
Trabalhos realizados pelo 7º e 8º ano do CAIC – tinta PVA artesanato sobre papel
preto
Proposta didática a ser desenvolvida na licenciatura
Painel decorativo
NAU CATARINETA
- Tema encontrado no folclore brasileiro, a Nau Catarineta é uma dança dramática, um auto popular, como é conhecido no Nordeste, inspirado nas viagens marítimas portuguesas e retratando episódios
marítmos imaginários.
- Dependendo da região: Cheganças, Fandango, Barca, Marujada.
- O tema da nau à deriva no mar, narrando uma trágica travessia oceânica está presente na literatura oral de vários povos
navegadores.
- colonizadores – povos de tradição navegadora que favorece o aparecimento deste tema no imaginário popular / forma teatral de
enredo popular, convergências de cantigas brasileiras e xácaras portuguesas
- Composta por 21 partes (jornadas) com diversas coreografias e cantos [saudamos todos, rema que
rema, o roubo da Saloia...] que narram os acontecimentos da longa travessia marítima.
- A mais conhecida destas jornadas é o “Romance da Nau Catarineta” que após tantas desventuras narra a
última provação: a tentação diabólica e, então a intervenção divina, levando a nau finalmente à terra
firme.
- Alguns pesquisadores sugerem que, no Brasil, o motivo da Nau Catarineta teve origem na viagem da nau que
transportara Jorge de Albuquerque de Olinda para Lisboa.
- Para Mario de Andrade a Nau Catarineta não deriva de nenhum fato histórico, sendo simplesmente uma tradição
universal convertida pelos portugueses na sua grande criação popular.
- Assim, derivaria de um velho romance de fundo mítico ( a jornada de uma travessia, o “despatriamento” rumo ao
desconhecido; a viagem ao desconhecido e o mito do retorno ao seu local de origem fechando um ciclo) que teria se
completado com o tempo, assimilando situações dramáticas distintas (o drama da antropofagia, a tentação diabólica/tema cristão tradicional em que o diabo se propõe a salvar e pede a
alma em paga do salvamento...)
- Antiguidade Clássica- transformação do tema universal eternizado no episódio de Penélope, da
mulher que reconhece o marido, ainda que transfigurado, no retorno da sua viagem [o
“reconhecimento” como afirmação de um elo que não se rompe, de uma natureza que mesmo transformada
mantém sua raízes imutáveis (de origem).
-Mario de Andrade sugere que este tema do “reconhecimento” frequenta bastante o romanceiro
ibérico e afirma esta sugestão simbólica na situação em que o Capitão reconhece suas três filhas, nas meninas
da praia, que o Gajeiro-diabo diz avistar.
Adaptação do livro “Martim-Cererê de Cassiano Ricardo
-Cassiano Ricardo (1895-1974)- poeta, jornalista e ensaísta brasileiro, representante do modernismo de
tendência nacionalista.
-Martim Cererê (1928) é uma espécie de narrativa em versos, inspirada nas lendas do folclore brasileiro,
narrando uma espécie de mito da formação do Brasil [uma construção mítica do povo do Brasil, em forma de
versos].
- No modernismo houve grande intenção em resgatar nossas raízes culturais; muitos modernistas, a exemplo de Mario de Andrade e Renato Almeida foram grandes
folcloristas e dedicados pesquisadores da cultura do povo brasileiro.
-Muitos artistas consagrados produziram suas obras inspirando-se e bebendo desta fonte que é o folclore e a cultura popular a exemplo do compositor Heitor Villa-Lobos (na música), Cândido Portinari, Di Cavalcanti (na
pintura), Mario de Andrade, Cassiano Ricardo (na poesia), entre outros.
- Na história, Uiara e Aimberê, o marinheiro português e o africano são componentes da narrativa, remetendo às três raças que foram essenciais para a formação do
Brasil e do povo brasileiro.
- Conta a história de uma terra grande, de Palmeiras, pássaros e animais, onde vivia Uiara e Aimberê. Nesta
terra, só havia sol, não havia noite.
“Não havia medoDe perder a hora”
- Aimberê e o fruto de tucumã.
- Segundo Lélia Coelho Frota, a geração modernista partiu para a conscientização sobre o Brasil, sem discriminar entre o
popular e o culto, fator que contribuiu fortemente para a abordagem do saber das camadas populares. Aumentava-se a
consciência da circularidade, do vaivém de dados culturais entre as classes sociais.
- Mario de Andrade saiu em 1920, como turista aprendiz, procurando o mundo mágico das cheganças, dos bumbas-meu-boi, dos pastoris, dos maracatus, dos caboclinhos...
Mergulhando fundo na fantasia de nosso povo; recolhendo e registrando esses temas humanos.
- Devemos a estas personalidades, o reconhecimento por tudo o que nós, brasileiros, conscientizamos de nossa
personalidade cultural.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, Mario de. Danças Dramáticas do Brasil.1º e 3º tomo. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 1982
ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore nacional I. Festas, bailados, mitos e lendas. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
CARVALHO, Rafael de. Boi da Paraíba. Editora Gráfica mar, 1971.CASCUDO, Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. Rio de Janeiro: Ediouro,
1954.FRADE, Cascia et al. BRASIL: Festa Popular. Prefácio de Câmara Cascudo. Rio
de Janeiro: Livroarte, 1980.FROTA, Lélia Coelho. Pequeno Dicionário da Arte do Povo Brasileiro. Rio de
Janeiro: Aeroplano, 2005.LIMA, Rossini Tavares. Abecê do Folclore. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
MIRCEA, Eliade. Imagens e Símbolos. São Paulo: Martins Fontes, 1996.RICADO, Cassiano. Martim Cererê (O Brasil dos meninos, dos poetas e dos
heróis). Rio de Janeiro: José Olimpio, 2001.
Referências Audiovisuais:
- GURGEL, Deífilo. Nau Catarineta: Auto e dança da Marujada. Rio de Janeiro: Funarte, 1988. dvd vídeo (18 min). Projeto de Documentação da Dança Brasileira nº 2. Centro Nacional de
Folclore e Cultura Popular.
- SANS, Sergio. Eh! Boi. Bumba meu boi do Maranhão. Rio de Janeiro: Fundacen; Funarte, INF, 1998. dvd vídeo (25 min). Projeto de Documentação da Dança Brasileira n º 4. Centro
Nacional de Folclore e Cultura Popular.
- O Povo Brasileiro (inspirado na obra de Darcy Ribeiro)- dvd
- Companhia Folclórica do Rio – UFRJ (dvd)