Foram evidenciadas 23 casas de farinha, sendo 20 em São ... · Rua principal de acesso à...
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Foram evidenciadas 23 casas de farinha, sendo 20 em São Salvador (área 2) e
3 entre Porteira Preta e Cuxio (área 1). Diversas religiões e crenças estão
presentes entre os posseiros, encontrando-se desde a religião católica, à
evangélica e os cultos afro-brasileiros, como expressões da religiosidade. Para
uma melhor compreensão das diversas situações encontradas ao longo do
trabalho estão apresentados a seguir resumo de cada rua e localidade, como
também figuras (Figs. 50 a 66 para a área 1 e Figs. 67 a 85 para a área 2) que
ilustram as respostas obtidas durante o levantamento.
Figura 50 – Mapa da reserva Gurjaú, mostrando o adensamento populacional de posseiros.
Área 1
Rua da Capela:
Rua principal de acesso à estação de tratamento de água da COMPESA. Nela
localizam-se as casas mais antigas, construídas pelo então Departamento de
Saneamento e Esgoto (DSE). Nessa rua foram contactadas oito famílias. A
média de idade dos entrevistados foi de 45,8 anos. A maioria é nascida e
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criada em Gurjaú, apesar de alguns desenvolverem atividades em outras
localidades. Nela encontra-se instalada uma escola que atende uma pequena
parte das crianças do Ensino Fundamental do entorno. O Ensino Médio é
assegurado pelas escolas da cidade do Cabo e de outras localidades. Existe
uma capela católica que atualmente não exerce atividades religiosas, estando
fechada.
Rua da Cachoeira:
Rua de maior movimento de Gurjaú. Foram contactadas 25 famílias, cuja
média de idade dos entrevistados foi de 42,24 anos. Todas as casas, em
alvenaria, foram construídas pelo DSE, visando abrigar os seus funcionários.
As moradias possuem em média dois quartos, duas salas, cozinha e banheiro.
São abastecidas com água da COMPESA e possuem energia elétrica.
Entretanto, atualmente não são saneadas. O sistema de esgoto implantado na
gestão do DSE, não mais funciona. Consistia em sistema de tubulação
conduzindo os esgotos domésticos a uma espécie de lagoa de decantação,
situada próximo ao portão principal da ETA. Atualmente este sistema encontra-
se desativado, tendo a maioria das casas um sistema de fossa séptica ou até
mesmo lançamento de seus dejetos diretamente no rio Gurjaú. Em todas as
casas entrevistadas há presença de crianças em idade escolar. Foi
evidenciada uma igreja evangélica. Nessa rua podem ser encontrados os
moradores mais antigos de Gurjaú, dentre eles, D. Báia, com 103 anos de
idade, nascida e criada em Gurjaú. Sua família constitui a maioria dos
moradores da rua da Cachoeira, entre filhos, netos e bisnetos. No final dessa
rua pode ser encontrada uma cachoeira, que, nos finais de semana, constitui a
única forma de lazer para os moradores de Gurjaú, atraindo também turistas da
região. Esse tipo de atividade favorece a economia local, onde alguns
moradores montam barracas visando a venda de diversos produtos, a exemplo
de bebidas alcoólicas e alimentos. Esse tipo de atividade, apesar de agradar a
alguns, desagrada à maioria dos moradores que se queixa do aumento de
pessoas estranhas transitando nas imediações, diminuindo a tranqüilidade. A
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totalidade dos moradores aprecia a moradia pela calma do local. Esse ponto é
extremamente importante, já que a maior riqueza para eles é a tranqüilidade e
calma de Gurjaú, motivo pelo qual não demonstram interesse em morar em
outro lugar. Do total de entrevistados dessa rua, 68% foram mulheres, das
quais 100% não possuem atividade fora do domicílio. Trinta e sete crianças
foram registradas, sendo a maioria em idade escolar. Dessas, poucas estudam
na escola situada na Rua da Capela. A maioria freqüenta escolas em São
Salvador e outras na cidade do Cabo. Dos entrevistados do sexo masculino
(32%) a maioria é aposentada do então DSE e COMPESA. Uma pequena
quantidade possui roçado em pequenos latifúndios próximos à barragem de
Gurjaú e outra tem plantação de subsistência no quintal de casa. Essas
culturas são basicamente constituídas por roça, macaxeira e banana. Apenas
um morador negocia com frutos extraídos da mata. Do total de casas
existentes nessa rua, 64% delas retiram lenha seca da mata para fogões à
lenha, alegando a falta de condições financeiras para adquirirem botijões de
gás que atualmente apresentam preço elevado. Quando indagados quanto às
questões relacionadas ao Meio Ambiente, nota-se uma falta de informação
muito grande e um despreparo, mesmo entre aqueles que possuem certa
escolaridade. Entretanto, quando perguntados sobre o estado de conservação
da Reserva Gurjaú, a grande maioria respondeu que a área não estava sendo
bem cuidada e sempre se referem a períodos remotos em que a segurança da
ETA era efetiva, atribuída ao maior número de pessoal de vigilância, os portões
sempre fechados e um maior cuidado com o ambiente. Alguns consideram que
a área está abandonada e que qualquer pessoa pode adentrar. Apesar do
desconhecimento sobre conceitos que poderiam aferir o conhecimento
ambiental da comunidade, algumas questões são ligadas ao bom senso de
cada um e aparecem claramente. Um exemplo é a apreensão de animais
silvestres. A maioria das casas possui animais silvestres em cativeiro, sem
objetivar o comércio, visto a pouca quantidade encontrada. Culturalmente, as
pessoas costumam ter esse tipo de atividade sem envolver tráfico. Foi
observado que, ao serem abordados sobre a questão, muitos tentavam omitir
tais informações, temendo que a equipe de entrevistadores pertencessem ao
165
IBAMA ou CPRH, e levassem seus animais de estimação, o que segundo
informações fornecidas por eles, aconteceu em algum momento. Após
absorverem o verdadeiro objetivo da pesquisa, tratavam de informar o mais
próximo à realidade, ajudando sobremaneira a melhor diagnose. Um dos
problemas aqui detectado foi o lançamento de poluentes no rio Gurjaú. Apesar
de não se identificarem temendo represálias, afirmam que constantemente é
colocado carrapaticida no rio para facilitar a pesca do Pitú, camarão
pertencente à espécie Machrobachium carcinus, comumente encontrada na
região, apesar de seu declínio populacional. Para uns, são pessoas de fora da
comunidade que realizam esse tipo de crime ambiental, para outros são
antigos moradores de Gurjaú que atualmente residem em outras localidades,
mas que têm conhecimento sobre esse recurso faunístico e que voltam para tal
atividade. Para outros, existem moradores atuais que praticam tal ação. Na
realidade, a totalidade dos entrevistados lamenta esse tipo de atividade. Outro
problema apontado por eles é a falta de um posto médico. Uma questão
relevante foi levantada não só nessa rua como também nas demais levantadas
foi a ausência completa de coleta de lixo. Todo o lixo produzido é lançado entre
as bananeiras (atrás de casa) próximo à estrada, ou então à margem do rio.
Esse tipo de problema é o mais preocupante, uma vez que a comunidade
tende a aumentar e, conseqüentemente, produzir maior quantidade de lixo.
Eles não têm idéia de reciclagem. Propõem para a futura uma ação mais
efetiva no sentido de viabilizar oficinas que permitam minimizar esses impactos
ao meio ambiente, capazes de comprometer sobremaneira a qualidade
ambiental da Reserva Gurjaú.
Rua dos Ventos:
Rua situada nas proximidades da Sede da ETA Gurjaú, fazendo a ligação entre
a rua da Capela e a rua da Cachoeira. Foram entrevistadas 25 famílias, com
média de idade entre eles de 33,5 anos. O acesso a essa rua é assegurado
pela rua da Capela. O conjunto de casas é bem heterogêneo, possuindo
construções mais antigas, da época do DSE, como também outras em taipa.
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Quarenta e quatro crianças vivem entre os entrevistados, em sua maioria
estudando em escolas da localidade ou de São Salvador. As casas possuem
em sua maioria dois quartos, duas salas, banheiro e cozinha. Pelo relevo, os
quintais das casas ficam localizados nas encostas dos morros, o que de certa
forma representa um fator negativo às atividades de agricultura de
subsistência. A criação de animais se restringe às aves (Passeriformes em
cativeiro, como animais de estimação e poucas galinhas para o consumo). São
raras outras criações, exceto alguns que possuem criação de suínos, atividade
esta que incita controvérsias entre moradores, alegando mau cheiro, etc. Da
mesma forma, na rua anterior a maioria dos entrevistados foi do sexo feminino,
representando 64%. A grande maioria nasceu e foi criada em Gurjaú. As
mulheres se ocupam do lar, não contribuindo em termos de remuneração para
a renda familiar. As atividades exercidas pelos moradores da rua dos Ventos
assemelham-se aquelas da rua da Cachoeira. Foram identificados funcionários
da COMPESA e outros possuindo atividades externas a Gurjaú, como, por
exemplo, funcionários de empresas de bebidas, localizadas na região, assim
como zeladores e porteiros de prédios da Zona Sul da Região Metropolitana do
Recife. O nível de escolaridade dos entrevistados vai desde o analfabetismo
até o primeiro grau menor, muitas vezes incompleto. Apesar dessa situação,
todos acreditam na educação, e esforçam-se para que seus filhos freqüentem a
escola. Da mesma forma que as demais ruas levantadas, são unânimes em
reivindicarem um posto médico para a comunidade, pois alegam que é grande
a distância que separa Gurjaú do posto médico mais próximo, agravada pela
falta de transporte em caso de emergência. Não existe coleta de lixo nessa rua
como também nas demais.
Porteira Preta
Área mais afastada da Sede da ETA Gurjaú. Essa área conhecida como
Porteira Preta é distinta de outra localidade conhecida como Sítio Porteira
Preta. Essa divisão deve-se ao fato da área ser muito grande e de difícil
configuração para a localização. Os próprios moradores fazem essa diferença.
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A área levantada tem início na estrada que liga à Usina Bom Jesus a São Braz
até a Fazenda de Sr. Manoel. As coordenadas de cada casa foram anotadas,
com a intenção de, no futuro, apresentar um mapa com a localização, visando
uma melhor compreensão. Nesse trecho são evidenciados desde conjuntos de
casas construídas de taipa até granjas de pequeno, médio e grande porte,
constituindo os maiores latifúndios dentro da área da reserva. Os moradores de
baixa renda são originários de Gurjaú, tendo nascido nas imediações, mas há
até os que já constituem a terceira geração de posseiros de Gurjaú. Outros têm
suas propriedades utilizadas apenas em finais de semana. Outros possuem
atividade pecuária envolvendo gado leiteiro e ovino. É nesse trecho que pode
ser observada uma maior ação antrópica que vem diminuindo a área da
reserva Gurjaú. As propriedades avançam em direção às matas, tornando mais
e mais escasso este recurso. Foi observada uma grande quantidade de
caçadores nesse trecho. Foram entrevistadas 15 famílias, cuja média de idade
entre as pessoas entrevistadas foi de 45,8 anos. Existem poucas crianças. As
atividades exercidas pela comunidade de baixa renda são variadas, indo desde
o plantio de roça para a extração da farinha, até fruteiras (banana, graviola,
acerola, mamão, etc:), como também o plantio de cana-de-açúcar para a Usina
Bom Jesus. Entre os posseiros, poucos utilizam agrotóxicos, exceto aqueles
que possuem uma maior área e que plantam cana-de-açúcar. Estes recorrem à
utilização de adubos químicos e defensivos agrícolas para a obtenção de
melhores colheitas. Nesse trecho encontram-se instaladas duas casas-de-
farinha que, além de servirem aos proprietários (posseiros), são alugadas aos
demais interessados pelo valor médio de R$ 5,00/dia (Cinco reais/dia). No local
pode ser evidenciado no entorno a vegetação de Mata Atlântica,
constantemente ameaçada pelo desmatamento. São duas matas importantes
da região, a do Cuxio e a do Manoel do Doce, nomes esses bastante
conhecidos dos moradores locais. Dos 38 moradores, 15 são crianças em
idade escolar. Do total de entrevistados, 60% são do sexo feminino. As
mulheres participam das atividades agrárias, trabalhando no plantio.
168
Jaqueira
Trecho localizado entre a Porteira Preta e o Sítio Porteira Preta. São poucas
famílias de posseiros que ali vivem. A atividade exercida pela maioria é a
agricultura. Foram entrevistadas sete famílias, cuja média de idade entre eles
foi de 46,14 anos. Existem 26 adultos e 13 crianças em idade escolar morando
nessa “rua”. Como nas demais localidades, o índice de analfabetismo é
elevado e a percepção ambiental é limitada. Todas as atividades exercidas
pelos posseiros não são por eles consideradas como prejudiciais ao meio
ambiente. As construções são em sua maioria de alvenaria, possuindo fossa
séptica. A coleta do lixo não é assegurada e quando perguntados sobre que
destino se dá ao lixo gerado, a maioria afirmou que, quando em grande
quantidade, queimam, mas normalmente jogam nas bananeiras como forma de
adubo. Nota-se que, de forma geral, para essa e outras localidades os
entrevistados não têm consciência do que seja reciclagem. Para eles, mesmo
os sacos plásticos servem de adubo para as bananeiras que após essa ação
tornam-se viçosas e produzem frutos de melhor sabor. Entretanto, já
verificaram que garrafas tipo PET não são ideais e nesse caso, as queimam.
Muitos dos posseiros não possuem empregos, exceto um deles que trabalha
na COMPESA. Nessa área foi registrada uma casa de farinha que atende não
somente ao proprietário, como também aos vizinhos que utilizam essas
instalações no sistema de aluguel.
Sítio dos Periquitos/ Sítio Porteira Preta
Encontra-se perfazendo o conjunto Porteira Preta, entretanto constitui-se de
dois sítios de mais ou menos 10 hectares cada, pertencentes a duas famílias,
originárias da região. Com a morte de um dos posseiros, um desses sítios foi
dividido entre os herdeiros que possuem casas na localidade. Essas
habitações são construídas em taipa e não possuem saneamento básico
fazendo com que os posseiros utilizem a natureza para as suas necessidades
fisiológicas. Não existe coleta de lixo, piorando ainda mais as condições
169
sanitárias locais. Poucas casas possuem fossas, que atendem, muitas vezes,
vários moradores que não tiveram condições de construírem as suas. O
segundo sítio também em condições próximas ao primeiro possui atividade de
agricultura, plantando cana-de-açúcar, roça e banana. Ao total têm posse no
Sítio Porteira Preta 23 famílias, cuja média de idade entre os entrevistados é
40,13 anos. Foi observado um número elevado de desempregados e como nas
demais localidades uma ociosidade acentuada por parte das mulheres.
Localidade mais afastada das demais abriga apenas uma família que não é
originária da região. A ocupação desse sítio foi decorrente de uma ação
idenizatória por parte de Governo do Estado ao posseiro que vivia em outro
sítio próximo à Barragem Pirapama. Há dois anos foi comprada a posse e
atualmente é exercida a atividade de agricultura, com o plantio de milho, feijão,
banana, maracujá, roça, macaxeira, tanto para o comércio, como para
subsistência.
Figura 51 - Percentual de adultos e crianças residentes da Área 1, entre agosto e dezembro de 2002.
67%
33%
Adultos
Crianças
170
Figura 52 - Grau de instrução dos posseiros na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
Figura 53 – Tipos de construção encontrados na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
Grau de Instrução
22%
2%
33%
17%
22%
3%
1% Analfabeto
Alfabetizado
1º Grau Menor
1º Grau Maior
Ensino Médio
Magistério
Contabilidade
71%
29%
Alvenaria
Taipa
171
Figura 54 – Número de cômodos por casa encontrados na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
Figura 55 – Situação do fornecimento de energia elétrica por casa na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
0%
100%Sim Não
6%
27%
5%
62%
Cacimba
Poço
Poço e cacimba
Compesa
172
Figura 56 – Estado de saneamento na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
Figura 57 – Coleta de lixo na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
37%
9%18%
36%
Rio Gurjaú
Córrego
Céu aberto
Canalização comunitária
0%
100%
Sim Não
173
Figura 58 – Prática de atividade agrícola na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
Figura 59 – Situação da utilização de defensivos agrícolas na agricultura na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
64%
36%Sim
Não
3%
97%
Sim
Não
174
Figura 60– Situação da utilização de fertilizantes na área 1 da reserva Gurjáu, entre agosto e dezembro de 2002.
Figura 61 – Prática de atividade pecuária na área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
10%
90%
Sim
Não
47%
53%
Sim
Não
175
Figura 62 – Objetivo das atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú, entre agosto e dezembro de 2002.
Figura 63 – Retirada de lenha seca da mata pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú para os fogões de lenha, entre agosto e dezembro de 2002.
2%
30%
25%
43%
Comércio
Subsistência
Comércio/Subsistência
vazias
59%
41%
Sim Não
176
Figura 64 – Utilização de recursos vegetais pelos posseiros da área 1 da reserva Gurjaú, para fins medicinais, construção e subsistência, entre agosto e dezembro de 2002.
Figura 65 – Atividade de caça exercida pelos posseiros da área 1, entre agosto e dezembro de 2002.
25%
75%
Sim
Não
Retira algum outro recurso vegetal?
22%
1%
2%
71%
2%2%
Casca deÁrvores
Casca/Resina/Folha
Casca/Folhas
Raiz
Caibros eLinhas
Não utiliza
177
Área 2
São Salvador:
Esta área corresponde àquela de maior adensamento populacional da reserva
Gurjaú. Ao total foram contabilizadas 177 moradias de posseiros, em sua
maioria de taipa (89%), sendo detectada uma forte expansão de construção de
novas casas. O trabalho de aplicação de questionários foi desenvolvido entre
dezembro de 2002 a abril de 2003, apesar de terem sido realizadas visitas
desde abril de 2002. Existe no local uma atividade de subsistência indo desde
pequenos lotes ao redor das casas até sítios de maior importância, onde se
verifica uma diferença social entre os moradores. Foram evidenciadas cerca de
20 casas de farinha, atividade esta que requer uma maior vigilância pelo
processo em si, desde a utilização de madeira para os fornos e fogões o
resíduo que é lançado diretamente no ambiente sem qualquer tipo de
tratamento. Desde que a área foi visitada pela primeira vez até a conclusão das
entrevistas, houve um aumento considerável nas construções de novas casas.
Acredita-se que o fato de estar por vir um novo direcionamento para a reserva
fez com que os posseiros se interessassem em ampliar as suas posses para
uma posterior indenização. Este crescimento é notado pelos posseiros quando
são questionados sobre as novas construções. As posses também são
ampliadas pelo crescimento da família. As crianças crescem e formam novas
famílias próximas às casas dos pais. As atividades ali realizadas vão desde a
cultura de subsistência até às atividades comerciais, a exemplo de cana-de-
açúcar, banana, mamão, entre outras. São Salvador sofre fortemente o
problema do desmatamento, seja por alguns moradores que aumentam suas
posses avançando em direção às matas, com técnicas silenciosas
(estrangulamento de árvores de grande porte, técnicas estas comuns na
região), até pela utilização de equipamentos mais sofisticados por exploradores
de madeiras de lei que não residem na localidade. Estes últimos realizam o
corte da madeira, muitas vezes durante o dia, vindo buscar os toros caídos
durante à noite. Os moradores têm ciência dessas atividades, entretanto, não
178
comentam por temerem represálias contra a família. A situação financeira dos
posseiros em sua maioria é bastante crítica, tendo sido encontradas algumas
famílias vivendo em total miséria, sem ter condições mínimas de vida. Poucos
são aqueles que se destacam dessa situação, tendo esses um trabalho digno,
como agricultor, comerciante, ou então trabalham fora da reserva, mantendo,
entretanto, suas casas na reserva. O desemprego é o maior problema
enfrentado pelos posseiros. É geral a desocupação seja pelas mulheres quanto
pelos homens. As famílias são numerosas e a quantidade de crianças é muito
grande. O índice de analfabetismo é considerável por parte dos adultos. As
crianças vão à escola, apesar da distância entre as moradias e a mesma.
Existe uma linha de ônibus que assegura o transporte dos moradores. Trata-se
de uma empresa particular pertencente a um dos moradores da reserva.
Durante a estação chuvosa, os deslocamentos ficam bastante prejudicados já
que as condições das estradas de barro impossibilitam o acesso. Existem
muitas igrejas nessa área, em sua maioria, evangélicas. Os posseiros que
moram perto dos açudes utilizam a água para a irrigação de suas lavouras,
para o consumo humano e de animais, assim como para a lavagem de roupa.
Nos finais de semana, a área é visitada por parentes e amigos dos posseiros
que, em busca de lazer, utilizam-se dos açudes da COMPESA para banho,
esportes. As figuras 67 a 85 mostram a realidade de São Salvador a partir de
informações obtidas durante a aplicação dos questionários sócio-econômico-
ambientais.
179
Figura 66 – Faixa etária dos posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Figura 67 – Percentual de adultos e crianças de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
61%
39%
Adultos Crianças
7%
23%
21%14%
12%
12%
7%
3%
1%
< 20
20 - 29
30 - 39
40 - 49
50 - 59
60 - 69
70 - 79
80 - 89
> 90
180
Figura 68 – Grau de instrução dos entrevistados em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Figura 69 – Tipos de construção encontrados em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
40%
6%
40%
9%5%
Analfabeto
Alfabetizado
1º Grau Menor
1º Grau Maior
Ensino Médio
Magistério
11%
89%
Alvenaria
Taipa
181
Figura 70 – Número de cômodos por casa em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Figura 71– Situação de fornecimento de energia elétrica entre os posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
2% 4%
7%
9%
11%
13%
16%
18%
20%
1
2
3
4
5
6
7
8
9
99%
1%
Sim
Não
182
Figura 72- Estado de saneamento das casas situadas em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
45%
55%
Fossa
No mato
91%
9%
Cacimba
Poço
Poço e cacimba
Compesa
183
Figura 73 – Formas de abastecimento d´água das casas de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Figura 74 - Coleta de lixo em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
0%
100%
Sim Não
82%
18%
Sim Não
184
Figura 75 – Atividade agrícola em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Figura 76 - Situação da utilização de defensivos agrícolas na agricultura em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
19%
81%
Sim Não
19%
81%
Sim Não
185
Figura 77 - Situação da utilização de fertilizantes em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Figura 78 – Prática de atividade pecuária em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
45%
55%
Sim
Não
98%
2%
Sim
Não
186
Figura 79 - Objetiva das atividades agrícolas e pecuárias desenvolvidas pelos posseiros em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Figura 80 - Retirada de lenha seca da mata pelos posseiros em São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Utiliza outro recurso vegetal?
9% 2%
2%
87%
Casca de Árvores
Casca/Resina/Folha
Casca/Folhas
Folha
Caibros e Linhas
Não utiliza
Cultivo e Criação destinado a que?
2%
37%
61%
Comércio
Subsistência
Comércio/Subsistência
187
Figura 81 – Utilização de recursos vegetais pelos posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
14%
86%
Sim
Não
188
Figura 82– Retirada de frutos da mata para uso de subsistência pelos posseiros de São Salvador (área 2 da reserva Gurjaú) entre dezembro de 2002 e abril de 2003.
Conclusões
Tanto a área 1 quanto a 2 não possuem nenhum tipo de saneamento
básico ou coleta de lixo, fazendo com que os dejetos sejam lançados a
céu aberto ou diretamente no rio. O lixo não sofre nenhum tipo de
reciclagem, sendo queimado, lançado à beira da estrada ou
simplesmente jogado entre as bananeiras. Não existe nenhum tipo de
coleta de lixo, agravando os impactos ambientais;
O índice de analfabetismo ultrapassa 70% dos entrevistados;
A totalidade dos entrevistados preocupa-se com a qualidade da água,
mesmo contribuindo para a poluição da mesma;
As atividades exercidas nas proximidades das matas põem em risco a
integridade da biodiversidade;
A maioria dos entrevistados não tem conhecimento das questões
relacionadas ao Meio Ambiente;
Com relação à biodiversidade encontrada na reserva Gurjaú, assim
como a forma de uso do solo entende-se que:
Considerando,
26%
74%
Sim
Não
189
Os anfíbios endêmicos da Mata Atlântica (Bufo crucifer, Hyla atlantica,
H. branneri, H. semilineata, Phyllodytes cf. luteolus, Scinax auratus,
Adenomera sp., Eleutherodactylus sp. e Pseudopaludicola sp.);
Os répteis endêmicos da Mata Atlântica (Enyalius catenatus, Strobilurus
torquatus, Mabuya macrorrhyncha e Anotosaura sp.);
As aves ameaçadas: Thalurania watertonii, Momotus momota
macgraviana, Picumnus exilis pernambucensis, Conopophaga liineata
cearae, Conopophaga melanops nigrifons, Curaeus forbesi, Tangara
cyanocephala corallina, Tangara fastuosa, Xenops minutus alagoanus,
Myrmeciza ruficauda, Pyriglena leuconota pernambucensis,
Thamnophilus aethiops distans, Thamnophilus caerulesces, Platyrinchus
mystaceus niveigularis.
Os mamíferos: Monodelphis americana, endêmico da Mata Atlântica,
Callithix jachus, endêmico para o Nordeste e Leopordus tigrinus
ameaçado de extinção;
As espécies vegetais endêmicas para Pernambuco (Maprounea sp ,
Calathea cf. pernanbucensis, Ctenanthe pernambucensis Arns et Mayo
e Maranta andersoniana Arns et Mayo);
As espécies vegetais endêmicas da Mata Atlântica (Erythroxylum cf.
grandifolium Mart. e Henriettea succosa DC.);
Que a Mata Atlântica constitui um dos biomas mais ameaçados do
Planeta sendo considerado um dos “hotspots” de biodiversidade;
A baixa densidade da população humana, historicamente composta por
funcionários de Gurjaú, próximos aos fragmentos onde foram
relacionadas às espécies endêmicas/ameaçadas;
Propõe-se uma unidade de conservação do tipo proteção integral, a
exemplo de uma Estação Ecológica (ESEC).
Considerando,
O grande adensamento populacional em São Salvador, o uso e
ocupação do solo (atividades de subsistência, agricultura de cana-de-
190
açúcar, banana e pecuária) que vem ao longo dos anos ocasionando
uma grande perda da cobertura vegetal original;
Propõe-se então para esta área, uma unidade de conservação de uso
sustentável, a exemplo de uma Área de Proteção Ambiental (APA).
Figura 83 – Mapa proposto para a criação de duas unidades de conservação em Gurjaú, a em azul compreende a UC de uso sustentável e a de linha pontilhada vermelha a linha a UC de proteção integral.
191
Figura 84 - Cenas de uso dos recursos hídricos em São Salvador, onde são observadas famílias lavando roupas. Área sugerida de uso sustentável.
192
Anexo I
QUESTIONÁRIO SOBRE DADOS SÓCIO-AMBIENTAIS DA POPULAÇÃO RESIDENTE NA
RESERVA ECOLÓGICA DE GURJAÚ, CABO DE SANTO AGOSTINHO, JABOATÃO DOS
GUARARAPES E MORENO.
PESQUISADOR: DATA: / /
NOME:
Sexo: M ( ) F ( ) Idade: Estado Civil: casado ( ) solteiro ( ) viúvo ( ) outros:
Nº residentes: adultos ( ) crianças (
)
Quantas crianças estudam:
Instrução: analfabeto ( ) alfabetizado ( ) 1º grau menor ( )
1º maior ( ) ensino médio ( ) outros:
Quantos trabalham: Em que:
Ocupação pesquisado: Renda: R$ Renda da família: R$
Tempo de moradia na Reserva:
Moradia construída pela COMPESA:
S N
Outros:
Motivo: nascido ( ) trabalha ETA ( ) chegou criança ( )
Casamento ( ) outros:
Tipo de construção: alvenaria ( ) taipa ( ) outros: Nº cômodos: Eletricidade: S N
Saneamento: S ( ) N ( ) Tipo:
Se for fossa, qual a localização:
Água: poço ( ) Compesa ( ) outros:
Coleta de lixo:
Se não tiver saneamento nem coleta de lixo qual os tratamentos dados aos dejetos e aos resíduos:
Atividade agrícola: S ( ) N ( ) Onde: Por quem:
Pecuária: S ( ) N ( ) Tipo:
Localização:dentro da Reserva ( )fora ( )
Criação: confinado ( ) solto ( )
Tipo de cultivo:
Dentro da reserva: S ( ) N ( )
Local: várzea ( ) Próximo ao açude ( )
encosta ( ) clareiras ( ) outros:
Tempo cultivo ( )
Criação e/ou cultivo destinado a que: comércio ( )
subsistência ( )
comércio e subsistência ( )
Tempo: pecuária ( )
Utilização de agrotóxicos: S ( ) N ( ) como é utilizado:
Utilização de fertilizantes: S ( ) N ( ) Quais:
Onde compra:
Utiliza irrigação no cultivo: S ( ) N (
)
Como é feita:
Tira lenha da Mata: S ( ) N ( ) Como é retirada:
193
Que outro tipo de recurso vegetal?
Folhas ( ) casca de árvores ( ) outros
( )
Quais?
Como é retirado:
Para que fim?
Caça: S ( ) N ( ) Quais: cutia ( ) teju ( ) aracuã ( ) tatu ( ) quati ( ) capivara ( ) rolinha ( ) pomba
( ) jacaré ( ) outros:
Tipo: comércio ( ) subsistência ( ) lazer ( )
Captura animal silvestre: S ( ) N ( )
Quais: curiatã ( ) pinto( ) sabiá ( )
Outros:
Para que fins: criação( )comercialização ( )
Retira frutos da mata?
ingá( )inhame( )jaca( )outros ( )
Quais:
Para que fins:
Aspectos positivos de se morar dentro da Reserva:
Aspectos negativos:
Se tivesse opção de morar fora da Reserva, se mudaria?
O que vem a ser meio ambiente?
Acha que a Reserva está sendo bem protegida?
Por que?
A presença de pessoas morando na Reserva põe em risco sua conservação?
Por que?
As atividades exercidas dentro da Reserva comprometem sua conservação?
Por que?
Qual a importância da Reserva para a região?
O que poderia ser feito para manter ou melhorar a Reserva?
Como morador o que poderia fazer para conservar a Reserva?
194
4.3 Meio Antrópico 4.3.1 Característica da população da Reserva
O perfil dos moradores da Reserva Ecológica de Gurjaú tem mudado desde o
último cadastramento feito pela COMPESA em 1988, no levantamento
realizado próximo a ETA Gurjaú (CAMINHA 2002), a área apresentou um
significativo aumento populacional, com o crescimento familiar novas casas
foram sendo construídas para absorver as novas famílias que iam sendo
criadas, os chefes de família deixavam seus filhos recém-casados construírem
nos “quintais” de suas casas aumentando o número de residências como
caracterizado abaixo:
30,30% não apresentam nenhum vínculo com a COMPESA;
25,50% são parentes de funcionários da COMPESA;
14,00% são funcionários da COMPESA;
11,65% são ex-funcionários/aposentados da COMPESA;
11,60% são funcionários de firmas terceirizadas pela COMPESA;
6,95% são funcionários do Estado de Pernambuco.
O número de pessoas sem vínculo com a COMPESA é quase um terço da
população moradora no entorno da ETA, o que representa uma invasão da
área. O número de parentes de funcionários também é expressivo, justificado
pela construção de moradias nos quintais das casas dos pais, quando os filhos
casam ou, como expressou uma entrevistada: - “meu pai se aposentou, para
não entregar a casa preferiu deixar eu morar aqui”.
Segundo Caminha (2002), a religião de quase metade dos moradores é a
Católica Apostólica Romana, com 48,84%, seguida da Evangélica, com
37,20%, distribuída entre Batista e Adventista. 13,96% dos entrevistados não
têm religião.
Os dados referentes à escolaridade do chefe de família mostram que 18,60%
não têm escolaridade; 6,98% são alfabetizados; 30,24% possuem o 1º grau
menor; 20,93% o 1º grau maior e 23,25% estão cursando ou cursaram o 2º
grau, um percentual elevado de moradores não iniciaram o 2º grau. Dentre os
195
chefes de família, 39,54% apresentam uma renda familiar mensal menor que
dois salários-mínimos; 4,65% estão desempregados; 34,88% apresentam uma
renda entre 2 a 4 salários-mínimos e 9,30% recebem mais de 4 salários-
mínimos. Destes últimos, muitos são aposentados da COMPESA.
No que diz respeito à relação homem /mulher entre os moradores da ETA de
Gurjaú a proporção é de 48,65% de homens para 51,35% de mulheres
(CAMINHA 2002).
4.3.2 Condições de Infra-estrutura
As moradias são, em sua maioria, de alvenaria tendo ainda algumas casas
construídas de taipa, o abastecimento de água é realizado pela COMPESA na
grande maioria, havendo poucas casas com poço/cisterna onde consomem a
água sem nenhum tratamento.
Com relação às condições de manejo de resíduos sólidos o destino final do lixo
representa um grande problema, já que não há coleta na Reserva e nenhuma
das três Prefeituras dos municípios que a integram têm uma ação sistemática
para coleta de lixo. Os moradores jogam seus resíduos diretamente na mata,
fazem queimadas destes a céu aberto ou criam seus próprios “pontos de lixo” ,
criando um grave impacto por conta da poluição tanto do solo quanto dos
lençóis freáticos e proliferação de ratos.
No que se refere ao saneamento básico, a maioria das casas possuem
banheiro e fossa séptica, entretanto a grande maioria não possui nenhuma
forma de tratamento do esgoto que é lançado no Rio Gurjaú causando a
contaminação da rede hidrográfica que leva a morte de vários peixes e
camarões. A situação tende a causar sérios problemas tanto para a população
local que utiliza a água do rio para beber e cozinhar, como para a região
metropolitana do Recife que utiliza a água tratada do mesmo rio. Apesar das
condições precárias de saneamento e destino final do lixo, não há relatos de
doenças infecto-contagiosas, sendo a gripe e a diarréia as mais comuns
principalmente nas crianças.
196
Outros responsáveis pela poluição hídrica e do solo são as populações
flutuantes (sitiantes e veranistas), que após as estadias dos finais de semana e
feriados deixam seus resíduos sólidos acumulados nas margens da cachoeira,
barragens e mata.
Dentro da Reserva existe a Escola Municipal Dr. Eudes Sobral de 1ª a 4ª séries
e com turma de Alfabetização para Jovens e Adultos. A escola faz parte do
Projeto Criança Cidadã que paga aos pais R$ 25,00 (vinte e cinco reais) para
que as crianças permaneçam na escola e é mantida pela Prefeitura do Cabo de
Santo Agostinho, contando com verbas do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério
(FUNDEF), o tema “ Meio Ambiente” é desenvolvido com os alunos através de
uma proposta pedagógica da Secretaria de Educação.
4.3.3 Visão das Comunidades sobre a U.C.
Nos últimos cem anos, o homem adquiriu o poder de influenciar decisivamente
na constituição e equilíbrio dos ecossistemas, de alterar os padrões de
distribuição geográfica dos animais, plantas, microorganismos e de acelerar o
ritmo dos processos de evolução da crosta terrestre e da biosfera (ROCHA
1997).
Erosão, poluição e extinção das espécies animais e vegetais constituem
eventos ou processos naturais, mas sua aceleração e desorganização como
subprodutos das atividades humanas descontroladas, comprometem a
estabilidade dos sistemas ecológicos e dos ciclos naturais.
A Reserva Ecológica de Gurjaú retrata a aceleração do esgotamento dos
recursos naturais por possuir uma grande quantidade de moradores em seu
interior, que tendo em vista a precariedade em que vivem sob diferentes
aspectos sociais, como a falta de trabalho, infra-estrutura precária, crescimento
desordenado da população e outros, vêm-se tendo que desmatar a área para
cultivo da cana-de-açúcar e agricultura de subsistência, além de utilizarem a
madeira para lenha e construção de casas.
197
Partindo dessas problemáticas, faz-se necessária a caracterização de todos os
moradores da Reserva, pois o envolvimento da comunidade é de total
importância. Sem o entendimento, o apoio, a participação e a colaboração da
população nenhum projeto tem sustentabilidade. Para Ellen (1982, apud
MORÁN, 1990), as relações ambientais do Homo sapiens só podem ser
compreendidas se incluírem o papel da cultura e das instituições sociais que
intervêm entre o homem e o ambiente.
Cada pessoa, psicologicamente, tem uma percepção do meio ambiente e de
sua qualidade que é individual, incomunicável e irreversível. Conforme Morán
(1990, p. 89), a percepção influi no comportamento, tanto ou mais do que a
realidade física do ambiente. Biologicamente, esta percepção encontra-se
limitada às condições anatômicas e fisiológicas da espécie humana e se
processa dentro dos padrões culturais, geográficos e históricos. Sendo, então,
os mecanismos perceptivos e cognitivos para conhecer o meio ambiente
próprios da espécie humana, a imagem mental que as pessoas constroem
desse meio ambiente segue determinados padrões e o somatório destas
imagens individuais representa a imagem pública, que determina a qualidade
ambiental. Assim, como variam as percepções e as imagens mentais a respeito
da qualidade ambiental, também variam as atitudes diante do meio ambiente e
os valores a ele atribuídos. As respostas ao meio ambiente variam, então, de
acordo com as escalas de percepção e de valor (OLIVEIRA, 1983, apud
MACHADO, 1997).
Partindo de todos esses pressupostos, é que foi iniciado um trabalho
classificado como Etnoecológico, onde procura-se entender a percepção que o
indivíduo tem do local a partir de sua experiência de vida. Pois entende-se que
a criação de uma verdadeira Unidade de Conservação não pode terminar com
a publicação ou determinação do ato público.
Dando continuidade ao trabalho etnoecológico iniciado com a população
residente do entorno da ETA, partiu-se para outras duas áreas denominadas:
198
Engenho São Salvador e Engenho Porteira Preta.
O Engenho São Salvador localiza-se ao norte da ETA, onde as maiorias das
atividades agrícolas são exercidas e possui duas associações (Associação dos
Pequenos Produtores Rurais de São Salvador- ASPROSA e Associação dos
Pequenos Moradores de São Salvador). Com uma população acima de 1000
pessoas e mais de 550 famílias, segundo informação de Everaldo José da
Silva, vice-presidente da última associação citada, a área apresentou um
aumento populacional grande por conta de construções desordenadas,
provenientes da especulação imobiliária realizada por alguns moradores do
local, como cita um morador “nem a COMPESA, nem a polícia podem me tirar
daqui, pois a madeira que eu construí a minha casa eu comprei em uma
madeireira, e o terreno eu comprei por R$ 2.500,00”, “ aqui nesse local há 10
anos havia uma casa, hoje tem 18”
A maioria dos moradores do local demonstram nostalgia ao falar de como era a
Reserva no passado “é uma pena ver isso aqui sendo tomado pela cana,
principalmente pela queimada que deixa a terra pobre”, “isso aqui era uma
beleza, dava gosto, cada morador pagava para morar aqui e quando não podia
trabalhar dava um dia de serviço para limpar ou fiscalizar, hoje tá tudo
abandonado” “a mata acabou-se porque o pessoal foi fazer roça” “ meu pai
dizia, meu filho não entre no asseiro, antes o dono do sítio tinha o compromisso
de deixar o asseiro quando havia vigilância, hoje todo mundo invade a mata
para roçado”.
Quando questionados sobre qual seria a alternativa para que a mata voltasse a
ser como antes, a grande maioria diz que “se voltasse a vigilância, não tinha
mais derrubada de madeira”, “ aqui só tinha um vigia e dava conta da mata
todinha, meu pai quando quiz fazer a casa dele teve que dar 10 viagens a
Gurjau para conseguir autorização para construir a sua casa, cada casa era
construída assim o cabra tinha que batalhar muito para conseguir autorização
para construir ou derrubar um pau” “ se a comunidade for envolvida, isso aqui
volta a ser mata”, “quando a estrada é ruim, não tem como passar carro
pesado e não tem como tirar madeira”.
199
A população apesar de não entender os termos: Reserva Ecológica, Unidade
de Conservação, Área protegida; demonstram conhecimento nativo com
relação à importância de preservação da área ao fazer comentários do tipo
“esse Engenho é rico em água, tem pra mais de 200 olhos d’água aqui, moça”,
“sabe porque não tem bicho? por causa da caça e derrubada da madeira”,
“daqui a pouco a gente não vai ter mais água, porque quase não tem mais
planta aqui”, “era bom que a associação comprasse outro engenho e coloca-se
algumas famílias lá, porque São Salvador tá lotado” “ o bicho é ser vivo, tem
direito de viver, a mata sem criação não é mata” “ só o céu é melhor para morar
do que São Salvador” .
Outro Engenho levantado foi o de Porteira Preta. Localizado a leste da ETA,
possui os dois maiores fragmentos de mata da Reserva: Mata do Cuxio e Mata
da Zabé. Possui o menor núcleo populacional de toda a Reserva, mas nem por
isso os problemas são menores, como em toda a área há pequenos sítios com
culturas de subsistência, plantio de cana-de-açúcar com conseqüente prática
de queimada, falta de coleta de lixo e o mais agravante: grandes propriedades
particulares, com pastos, viveiros, canis e cultivos que avançam subtraindo a
mata.
A visão da comunidade também não destoa das demais. Segundo moradores,
a invasão e o desmatamento ocorrem por “falta de vigilância, quando tinha
vigia na mata, ninguém tirava um pau seco daqui” “a gente vê o desmatamento,
mas não pode fazer nada, vem gente de fora desmatar, quando o governo
tomava conta era muito diferente” “moça, aqui tem até canil, como é que numa
terra do Governo, o cabra chega, faz a casa e cria até cachorro para caçar? Se
tivesse vigilância isso não acontecia não”.
Desde que se iniciou o contato com os moradores, reforçou-se a idéia da
Reserva só existirá enquanto Unidade de Conservação quando sua função
sócio-cultural estiver assegurada, ninguém pode apreciar ou proteger uma
coisa que não conhece ou julga ser inútil ou até mesmo perigosa ou nociva. É
na educação que reside o principal problema a ser superado para despertar
uma consciência geral do povo, da necessidade e importância da conservação
dos ecossistemas (ROCHA 1997).
200
4.4 Análise de risco ambiental 4.4.1 Fogo e energia
A Reserva Ecológica de Gurjaú situa-se numa área considerada de risco de
incêndios devido a uma prática secular implantada nos cultivos da monocultura
cana-de-açucar que usa o fogo como auxiliar na limpeza de cana para o corte,
além da queima do lixo doméstico praticado pela comunidade.
O cultivo da cana-de-açucar, no entorno imediato da Reserva, nos engenhos
pertencentes à Usina Bom Jesus, não contam com nenhuma faixa de proteção
ou aceiro em todo o perímetro que possa impedir a disseminação do fogo,
durante a época da colheita.
Na Área de Gurjaú, não há coleta de lixo, motivo pelo qual os moradores
armazenam e queimam os resíduos sólidos atrás de suas casas, podendo
ocasionar incêndios na mata.
A maioria das residências localizadas no interior da reserva possui energia
elétrica, sendo este mais um fator de risco, visto que um curto circuito poderá
provocar incêndios. Outra situação de risco é a presença de ligações
clandestinas, com fios desencapados, atravessando as matas para energizar
algumas residências mais afastadas.
4.4.2 Passivo ambiental
Como passivo ambiental pode-se destacar as principais intervenções
antropicas. A presença de estradas no interior da Reserva é potencialmente
danosa para a conservação desta, pois favorece a exploração clandestina de
madeira e o acesso de pessoas à procura de novas áreas para moradia e
atividades agrícolas.
Existem três estradas principais que cortam a reserva:
Estrada de Secupema tem aproximadamente 3,7 km que margeia o
açude de Gurjaú, desde a Barragem até o açude de Secupema. É uma
estrada estreita cuja manutenção esporádica é feita pela COMPESA.
Normalmente é interditada por troncos acidentalmente caídos durante o
201
período de chuvas. É usada pela comunidade para retirada de lenha
seca, e transporte dos produtos agrícolas colhidos nas roças existentes
dentro da mata, bem como para lazer e caça. Possui uma estrada
secundária que leva ao Engenho Roças Velhas e várias trilhas estreitas
que levam a roças existentes nas matas. Esta estrada corta as matas
do Macaco Macuca, Limão e Periquito.
Estrada do Cuxiu, com aproximadamente 1,8Km se inicia atrás da
casa de D. Maria Cabocla indo até à Mata de Cau, e termina no acesso
ao perímetro de entorno da Reserva. Apresenta-se em estado razoável
de conservação. Esta estrada corta as matas do Cuxiu e São Brás,
possui algumas trilhas secundárias que levam a cultivos nas margens
do Açude de Gurjaú.
Estrada de São Salvador corta toda a Reserva na sua porção Norte. É a
mais extensa e com intenso fluxo de veículos dando acesso aos três
municípios (Cabo, Moreno e Jaboatão), onde transitam os transportes
coletivos. Apresenta diversas pontes de madeira que cobrem cursos
d’água e muitas estão em péssimo estado de conservação, ficando
intransitáveis nos períodos de chuvas. A manutenção da mesma é feita
pela Usina Bom Jesus no período que antecede a colheita da cana.
Outro passivo ambiental é o gasoduto da Transpetro que corta a Reserva, tem
uma extensão de 556m por 12m de largura. O duto está a 1,5m de
profundidade do solo e transporta gás natural. Todo o percurso da tubulação
dentro da Reserva é marcado com piquetes de 5m em 5m. A inspeção da área
é realizada trimestralmente por helicóptero e semanalmente por andarilhos
(funcionários que passam no local). O corte da vegetação é feito com
freqüência, mensalmente no período chuvoso, o que mantém esta faixa sempre
aberta impossibilitando a recuperação natural da vegetação.