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Dentre as principais alterações encontradas na rotina clínica do médico-veterinário, aquelas que envolvem o mau funcionamento de órgãos metabolicamente ativos como o fígado são as mais desafiadoras. Esse órgão é responsável pela realização de muitas funções essenciais à vida e desempenha papel fundamental no metabolismo de proteínas, carboidratos e gorduras, fazendo com que o manejo nutricional seja um dos pontos-chave no tratamento desses pacientes. 1 1. IMPORTÂNCIA CLÍNICA INTRODUÇÃO DIETA HEPATIC EQUILÍBRIO VETERINARY É EFICIENTE EM PREVENIR A PROGRESSÃO DAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO SHUNT PORTOSSISTÊMICO FÓRUM VET HEPATIC 10 minutos de leitura

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Dentre as principais alterações encontradas na rotina clínica do médico-veterinário, aquelas

que envolvem o mau funcionamento de órgãos metabolicamente ativos como o fígado são as mais desafiadoras. Esse órgão é responsável pela realização de muitas funções essenciais à vida e desempenha papel fundamental no metabolismo de proteínas, carboidratos e gorduras, fazendo com que o manejo nutricional seja um dos

pontos-chave no tratamento desses pacientes.1

1. IMPORTÂNCIA CLÍNICAINTRODUÇÃO

DIETA HEPATIC EQUILÍBRIO VETERINARY É EFICIENTE EM PREVENIR A PROGRESSÃO DAS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DO SHUNT PORTOSSISTÊMICO

FÓRUM VET HEPATIC

10 minutos de leitura

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O desvio portossistêmico (DPS) ou shunt portossistêmico caracteriza-se pela comunicação anormal entre a circulação portal e sistêmica, fazendo com que o sangue do trato gastrintestinal flua para a circulação sistêmica sem ter sido apurado pelo fígado. Assim, a circulação sistêmica passa a receber toxinas endógenas e exógenas, as quais podem alcançar o sistema nervoso central e fazer com que esses pacientes manifestem a encefalopatia hepática (EH), além de anorexia, vômitos, poliúria, polidipsia, déficit de crescimento e de ganho de peso em filhotes e urolítiase por urato e outras purinas.1,2,3

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ENCEFALOPATIA HEPÁTICA

ANOREXIA, VÔMITOS, POLIÚRIA,

POLIDIPSIA

DÉFICIT DE CRESCIMENTO E GANHO DE PESO

EM FILHOTES

UROLITÍASE POR URATO E OUTRAS

PURINAS

Comunicação anormal entre a circulação portal e sistêmica

Sangue do trato gastrintestinal flui para a circulação sistêmica sem ter sido filtrado pelo fígado

Toxinas endógenas e exógenas na circulação sistêmica

ou desvio portossistêmico (DPS)SHUNT

O tratamento do DPS pode ser tanto cirúrgico para a correção do desvio quanto clínico conservador1,4. Para ambos tratamentos (se não conservador, no pré e pós-cirúrgico), o ponto principal é o manejo alimentar do paciente, que tem a finalidade de evitar a ocorrência das manifestações de encefalopatia hepática.1,3 O objetivo do tratamento nutricional é diminuir a produção e absorção intestinal de toxinas (amônia, mercaptanos, ácidos graxos de cadeia curta, indóis, aminas biogênicas), evitando que atinjam a circulação sistêmica. As principais estratégias nutricionais utilizadas focam na diminuição ou modificação da proteína dietética, modulação da microbiota intestinal e redução do tempo de trânsito intestinal.3,5 Conhecer o perfil de aminoácidos da dieta oferecida a animais com DPS também parece ser fundamental ao êxito do tratamento, pois a redução das funções hepáticas pode estar associada a aumentos nas concentrações plasmáticas de aminoácidos aromáticos (fenilalanina, tirosina e triptofano) que não estariam sendo adequadamente retirados da circulação portal e metabolizados pelo fígado, assim como diminuição dos aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina) que estariam sendo mais utilizados pelo tecido muscular e adiposo.3

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Foram selecionados nove cães de diferentes raças com diagnóstico clínico de desvio portossistêmico e nove cães da raça Yorkshire hígidos, provenientes do Serviço de Clínica Médica do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo e do Serviço de Gastroenterologia Canina e Felina da Gastrovet. Os critérios para inclusão no estudo para os cães doentes foram possuir diagnóstico de desvio portossistêmico, não possuir nenhuma outra afecção concomitante, que fossem de pequeno porte e possibilidade dos proprietários em seguir o protocolo estabelecido para realização do estudo (grupo shunt). Os critérios de inclusão no grupo controle foram cães hígidos, raça Yorkshire, escore de condição corporal entre 4 e 56, que aceitassem alimento comercial e possibilidade dos responsáveis em seguirem o protocolo estabelecido pelo estudo.

O estudo foi realizado na rotina do Serviço de Clínica Médica do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo e do Serviço de Gastroenterologia Canina e Felina da equipe Gastrovet, ambos localizados na cidade de São Paulo - SP.

3. MATERIAL E MÉTODOS

2. OBJETIVOS

Avaliar os efeitos do emprego de um alimento com baixo teor de proteína no perfil aminoacídico de cães portadores de desvio portossistêmico congênito. Avaliar a eficiência da dieta em aumentar os aminoácidos de cadeia ramificada em detrimento dos aminoácidos aromáticos na circulação. Avaliar os efeitos da dieta no controle das manifestações clínicas e variáveis bioquímicas de cães com desvio portossistêmico congênito.

a. Local de conduçãodo ensaio

b. Seleção dosanimais

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Os animais receberam por 08 semanas o alimento coadjuvante Equilíbrio Veterinary Hepatic Cães (HE), recomendado para cães com doenças hepáticas. Esse alimento é formulado com teores nutricionais que atendem recomendações do NRC (2006)7 e AAFCO (2012)8 para cães adultos, com exceção do teor de proteína, visando manejo das hepatopatias. A dieta foi fornecida gratuitamente aos tutores dos animais selecionados e estes foram orientados a seguirem as recomendações do protocolo experimental. A quantidade de alimento foi calculada de acordo com a necessidade energética de manutenção (NEM) individual de cada paciente. Os proprietários foram instruídos a alimentarem o animal três vezes ao dia. As reavaliações referentes ao manejo alimentar foram realizadas em intervalos de 15 dias.

Os animais foram avaliados no dia um (T0) e após 60 dias (T60) de ingestão da dieta Equilíbrio Veterinary Cães HE. Nos dois momentos foram coletadas amostras de sangue para realização de hemograma, leucograma, bioquímica sérica, determinação dos aminoácidos séricos e amônia. A análise estatística dos resultados referentes aos hemogramas e exames

bioquímicos foi baseada em um modelo misto que considerou efeitos fixos de grupo,

tempo e interação e, para os aminoácidos, somente efeitos fixos de grupo (p<0,05).

c. Dieta experimentale manejo dietético

dos animais

d. Colheita de material,exames realizados

e estatística

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Durante os 60 dias de estudo, a maioria dos animais participantes apresentou boa aceitação do alimento HE e manutenção do escore de massa muscular. Em relação ao peso corporal, apenas um animal do grupo shunt apresentou redução de 200g após 60 dias de tratamento, já o escore de condição corporal (ECC) e o escore de massa muscular (EMM) mantiveram-se constantes. Importante ressaltar que nenhum animal apresentou episódios convulsivos no decorrer do período experimental. Todos os animais do grupo shunt apresentaram resultados de hemograma, hematócrito, plaquetas, proteína total, ureia plasmática, creatinina, albumina, globulina, dentro dos valores de referência para cães adultos tanto no tempo 0 quanto 60, sem diferença estatística na avaliação de tempo dentro desse grupo.

Os animais do grupo shunt apresentaram atividade sérica da enzima alanina-aminotransferase (ALT) maior do que o intervalo de referência e os valores diferiram dos observados no grupo Controle (p=0,0253). Da mesma forma, a enzima fosfatase alcalina (FA) nos animais do grupo shunt apresentou concentrações mais altas quando comparadas ao grupo Controle (p=0,0004). É importante ressaltar que apesar de ambas enzimas estarem acima do intervalo de referência para cães adultos, suas concentrações não diferiram entre os tempos 0 e 60, demonstrando que não houve progressão da alteração hepática no período de alimentação da dieta. No presente estudo, as concentrações de amônia em jejum e pós-prandiais dos animais demonstram que os cães do grupo Controle apresentaram valores dentro do intervalo de referência para a espécie, enquanto os animais do grupo shunt apresentaram hiperamonemia tanto em jejum quanto pós-alimentação, ambos valores diferindo do grupo

4. E DISCUSSÃORESULTADOS

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9 CÃESSHUNT PORTOSSISTÊMICO

CONFIRMADOMANEJO ALIMENTAR

3 porções diáriasPor 8 semanasAvaliação a cada 15 dias

Dia 0

60 Dias

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Controle (p=0,0083; p=0,0036). No entanto, tanto os valores de amônia em jejum quanto de amônia pós-prandial não diferiram entre os tempos 0 e 60 entre os cães com DPS. Ainda, apesar de não haver redução das concentrações de amônia, houve controle das manifestações clínicas de encefalopatia hepática. Em relação aos aminoácidos séricos, o grupo shunt apresentou maiores concentrações séricas quando comparados ao grupo Controle dos aminoácidos fenilalanina (p=0,0054), glutamato (p=0,0066), serina (p=0,0054) e tirosina (p=0,0106); já o aminoácido alanina (p=0,0280), a razão de Fischer (p=0,0093) e a razão da concentração sérica de aminoácidos de cadeia ramificada e tirosina (p=0,0243) foram maiores no grupo Controle. Brunetto e colaboradores9 apontaram que o aumento dos aminoácidos aromáticos (fenilalanina, tirosina e triptofano) em relação aos aminoácidos de cadeia ramificada (leucina, isoleucina e valina) pode ser um dos fatores responsáveis pelo desenvolvimento da encefalopatia hepática. Além disso, em 1976, Soeters e colaboradores10 relataram que a razão molar entre os aminoácidos de cadeia ramificada e os aminoácidos aromáticos é importante para se avaliar as funções hepáticas, a gravidade das suas disfunções e status da nutrição proteica, e que a razão de Fischer diminui à medida que a hepatite crônica progride para cirrose.

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RAZÃO DE FISCHER =

(Leucina + Isoleucina + Valina)

(Fenilalanina + Tirosina)

No presente estudo foi calculada a razão de Fischer e os animais do grupo shunt apresentaram menores valores dessa razão (p=0,0093) quando comparados ao grupo Controle. No entanto, a razão de Fischer dos animais que possuem o DPS não diferiu entre os tempos 0 e 60, o que significa que a doença pode não ter progredido nesse período com o consumo da dieta.

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Com base nos resultados encontrados no presente estudo: manutenção das concentrações séricas dos aminoácidos, da razão de Fischer e da razão aminoácidos de cadeia ramificada e tirosina, podemos concluir que o manejo nutricional de cães com shunt portossistêmico com a dieta Equilíbrio Veterinary HE foi eficiente em prevenir a progressão da doença e controlar as manifestações clínicas.

5. CONCLUSÕES

AUTORES DO ARTIGO:Fabio Alves Teixeira

Médico-veterinário, MSc, DSc - FMVZ/USP

Residência em Nutrição e Nutrição Clínica de Cães e Gatos - FCAV/UNESP Jaboticabal

Mestre e Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Clínica Veterinária da FMVZ/USP

Docente da Faculdade Anclivepa - Coordenação de Projetos de ExtensãoCoordenador Curso de Pós-Graduação em Nutrição

e Nutrologia de Cães e Gatos - Anclivepa-SP

Membro fundador da Sociedade Brasileira de Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos do Colégio Brasileiro de Nutrição Animal

Nathália Spina ArtachoGraduada em Medicina Veterinária pela Faculdades Metropolitanas Unidas - UniFMU em 2009

Residência Médica em Clínica de Pequenos Animais no Hospital Veterinário - UniFMU em 2011-2012 Mestre em Saúde e Bem Estar Animal - FMU

Atualmente é membro e fundadora da equipe de atendendimentoem gastroenterologia canina e felina Gastrovet

Márcio Antonio BrunettoGraduado em Medicina Veterinária pela Universidade do Estado

de Santa Catarina - UDESC (2002)

Residência em Nutrição e Nutrição Clínica de cães e gatos pela UNESP-FCAV Mestrado (2006) e Doutorado (2010) em Medicina Veterinária, área de concentração em Clínica

Médica (Nutrição Clínica) também pela UNESP-FCAV

Atualmente é vice-presidente da Sociedade Brasileira de Nutrição e Nutrologia de Cães e Gatos, professor do Departamento de Nutrição e Produção Animal da FMVZ/USP e coordenador do

Centro de Pesquisas em Nutrologia de Cães e Gatos - CEPEN Pet, Grupo de Estudos em Nutrição Pet da FMVZ/USP e responsável pelo Serviço de Nutrologia Veterinária do HOVET/FMVZ-USP

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6. REFERÊNCIAS