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Fátima Patrícia Ferreira Barbosa O enriquecimento do espaço pedagógico com materiais naturais e reciclados: uma abordagem no jardim-de-infância e na creche Outubro de 2014 UMinho | 2014 Fátima Patrícia Ferreira Barbosa O enriquecimento do espaço pedagógico com materiais naturais e reciclados:uma abordagem no jardim-de-infância e na creche Universidade do Minho Instituto de Educação

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Fátima Patrícia Ferreira Barbosa

O enriquecimento do espaço pedagógico

com materiais naturais e reciclados: uma

abordagem no jardim-de-infância e na creche

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Universidade do Minho

Instituto de Educação

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Fátima Patrícia Ferreira Barbosa

O enriquecimento do espaço pedagógico

com materiais naturais e reciclados: uma

abordagem no jardim-de-infância e na creche

Outubro de 2014

Relatório de Estágio

Mestrado em Educação Pré-Escolar

Trabalho Efetuado sob a orientação do

Professora Doutora Cristina Parente

Universidade do Minho

Instituto de Educação

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DECLARAÇÃO

Nome: Fátima Patrícia Ferreira Barbosa

Endereço electrónico:[email protected] Telefone:912931680

Número do Bilhete de Identidade: 13732752

Título do Relatório: O enriquecimento do espaço pedagógico com materiais naturais e reciclados:uma abordagem no jardim-de-infância e na creche

Supervisora: Professora Doutora Cristina Parente

Ano de Conclusão: 2014

Designação do Mestrado: Mestrado em Educação Pré-Escolar

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTE RELATÓRIO APENAS PARA EFEITOS DE INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE COMPROMETE;

Universidade do Minho, __/__/___

Assinatura:___________________________

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Agradecimentos

À Professora Cristina Parente, por ter estado sempre presente, por ter

prestado todo o apoio e carinho e por ter sido uma excelente amiga, que ouviu

e ajudou todas as suas orientandas nos momentos mais complicados do

estágio. Por me ter sempre apoiado e motivado a continuar, valorizando tudo o

que ia realizando, o que na verdade me deu imensa força para agir da melhor

forma possível.

À professora Fátima Vieira, pelas palavras de apoio e pela preocupação

que teve em todo o nosso percurso no Mestrado.

Aos restantes professores da licenciatura e do mestrado que me

proporcionaram conhecimentos e me fizeram crescer enquanto futura

profissional na área da educação.

Às crianças que da sua forma especial e com o seu sorriso me deram

forças para continuar e fazer ainda melhor.

Aos meus pais e irmão por terem sempre acreditado que eu era capaz, e

por me terem dado força e carinho para continuar o longo caminho.

Ao meu namorado por ter sido o meu braço direito em toda a minha

permanência no estágio e por toda a ajuda na realização de materiais assim

como no acompanhamento das noites trabalhosas e mal dormidas.

À melhor amiga que me escutou sempre com um sorriso e sempre disse

as palavras certas no momento certo.

Aos meus amigos de sempre e da universidade que acompanharam

todas as minhas ideias e prestaram apoio em todas elas, incentivando-me

sempre com palavras motivadoras.

À minha grande companheira de estágio, pelas conversas e pela escuta

ao longo de todo o percurso.

III

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Resumo

O presente relatório de estágio surgiu no âmbito da Prática de Ensino

Supervisionado do Mestrado em Educação Pré-Escolar na Universidade do

Minho. Durante sensivelmente quatro meses imergiu-se na prática pedagógica

em contexto de jardim-de-infância e de creche. Este tempo de estágio repartiu-

se em fases importantes e impulsionadoras da prática que mais tarde viria a

ser desenvolvida. Na verdade foi depois de uma observação atenta e cuidada

que se criaram condições para a ação. De facto, depois de serem conhecidas

as questões, interesses e necessidades dos grupos, estavam reunidas as

condições necessárias para o desenho e implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica. É fundamental salientar-se a importância da reflexão

no decurso do projeto desenvolvido. O Projeto de Intervenção Pedagógica que

se apresenta tem como principal objetivo o enriquecimento do espaço e das

respetivas áreas de interesse com materiais estimulantes e desafiadores para

as crianças que os exploram. Este objetivo foi concretizado com a participação

integral das crianças que agiram ativamente neste enriquecimento das áreas

que compõem a sala de atividades. Tanto em creche como em jardim-de-

infância o Projeto desenvolveu-se em torno do enriquecimento das áreas,

preferencialmente com materiais reciclados, que apresentavam maior

necessidade de intervenção e em ambas as valências foram as próprias

crianças que construíram todos os materiais que mais tarde foram introduzidos

nas diferentes áreas de interesse. A intervenção pedagógica que se apresenta

teve em conta a abordagem da metodologia de investigação-ação, pois a partir

da observação, ação e reflexão conseguiu-se desenvolver um Projeto

adequado ao grupo, nomeadamente aos seus interesses e necessidades.

Afinal a observação foi uma peça desencadeadora de toda a ação e esta por si

só estimulou também uma reflexão profunda. Afinal um aprendiz só aprende se

refletir sobre as suas ações. Todo o estágio serviu para o desenvolvimento de

um Projeto de Intervenção Pedagógica que suscitou mudanças e melhorias,

concedendo às crianças novas e mais desafiadoras oportunidades de

exploração e aprendizagem nos contextos educativos em questão.

IV

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Résumé

Le rapport de stage ici présenté est apparu en vertu de la Pratique de

l’Enseignement Supervisée du Master en Éducation Préscolaire à

l'Universidade do Minho. Pendant près de quatre mois, il s’est produit une totale

immersion dans la pratique pédagogique dans le cadre de l'école maternelle,

jardin d'enfants et garderie. Toute la durée du stage s'est divisée en plusieurs

phases importantes et qui ont stimulées toutes pratiques ensuite développées.

En vérité, seulement après une observation attentive et minutieuses ont étés

créer toutes les conditions nécessaire pour l’action. En effet, après connaitre les

questions, intérêts, et besoins des groupes, toutes les conditions nécessaires

pour la conception et la mise en œuvre du Projet d'Intervention Éducatif ont

étés réunies. Il est fondamental de souligner l'importance de la réflexion au

cours du projet développé. Le projet d'intervention pédagogique qui se présente

vise principalement à enrichir l'espace et les respectifs secteurs d'intérêt avec

des challenges et des matériaux stimulants pour les enfants qui les découvrent.

Cet objectif a été atteint avec la pleine participation des enfants qui ont

contribués activement à l'enrichissement des secteurs qui composent la salle

d'activités. À la maternelle comme à la garderie, le projet s'est développé autour

de l'enrichissement des secteurs qui avaient le plus besoin d'intervention, de

préférence avec des matériaux recyclés. Dans les deux cas, se sont les enfants

eux-mêmes qui ont construit tout le matériel qui, plus tard, a été introduits dans

les différents secteurs d'intérêt de la salle d’activités. L'intervention

pédagogique qui se présente a pris en considération la démarche de la

méthodologie de la recherche-action, car à partir de l'observation, l’action, et la

réflexion, il a été possible de développer un projet approprié pour le groupe, y

compris pour leurs intérêts et leurs besoins. Après tout la phase d'observation a

été une partie qui a déclencher l'action et ce, par elle-même a stimulée une

profonde réflexion. Après tout, un apprenti n'apprend que si il réfléchit sur ces

actions. Tout le stage a servi à développer un Projet d’Intervention pédagogique

qui a incité des changements et des améliorations, en donnant aux enfants de

nouvelles opportunités intéressantes de découverte et d'apprentissage dans les

contextes éducatifs en question. V

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Índice

Agradecimentos……………………………………………………………………….III

Resumo………………………………………………………………………………..IV

Resumé…………………………………………………………………………………V

Introdução………………………………………………………………………………1

Capítulo 1- O espaço pedagógico e os Materiais………………………………….4

1.1 Organização do espaço como um indicador de qualidade…………...4

1.2 O espaço pedagógico destinado às crianças em ação (entre os 0 e 3

e entre os 3 e 6 anos)…………………………………………………….4

1.3 Organização do espaço pedagógico para crianças na creche………7

1.4 Organização do espaço pedagógico para crianças no jardim-de-

infância……………………………………………………………………12

1.5 O papel do educador na organização do espaço e dos materiais…16

1.6 Qualidades e requisitos dos materiais…………………………………17

1.7 Papel do educador na organização dos materiais…………………...18

Capítulo 2 – Jogo e Brinquedo……………………………………………………..19

2.1 Importância do Jogo e do Brinquedo na vida da criança……………19

2.2 Papel do educador no apoio ao Jogo na educação infantil…………20

Capítulo 3 – Importância do contacto com o exterior e com os materiais

naturais………………………………………………………………………………..22

Capítulo 4 – Contexto de Intervenção e Investigação……………………………23

4.1 Caraterização Global do Contexto……………………………………..23

4.2 Contexto de Jardim-de-Infância………………………………………..23

VI

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4.2.1 Caraterização do Grupo de Crianças e Recursos

Humanos............................................................................................................23

4.2.2 Caraterização do espaço……………………………………..24

4.2.3 Caraterização da Rotina Diária………………………………26

4.3 Contexto de Creche……………………………………………………..28

4.3.1 Caraterização do Grupo de Crianças e Recursos

Humanos……………………………………………………………………………...28

4.3.2 Caraterização do espaço……………………………………..29

4.3.3 Caraterização da Rotina Diária………………………………32

Capítulo 5 – Projeto de Intervenção Pedagógica…………………………………33

5.1 Como Surgiu?...................................................................................33

Capítulo 6 – Plano de Intervenção Pedagógica…………………………………..35

6.1 Projeto de Intervenção Pedagógica em Jardim-de-Infância………...35

6.1.1 Avaliação da Intervenção Pedagógica em Jardim-de-

Infância…………………………………………………………………….………….42

6.2 Projeto de Intervenção Pedagógica em Creche……………………...48

6.2.1 Avaliação da Intervenção Pedagógica em Creche………...54

Capítulo 7 – Considerações Finais…………………………………………………57

Referências Bibliográficas…………………………………………………………..64

VII

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Índice de Figuras

Figura 1 – Contexto de Intervenção………………………………………………..23

Figura 2 – Sala de Atividades de Jardim-de-Infância…………………………….24

Figura 3 – Rotina Diária da Sala dos 3 anos……………………………………...27

Figura 4 – Sala de Atividades da Creche………………………………………….29

Figura 5 – Rotina Diária da Sala de 1 ano………………………………………...32

Figura 6 – Exploração do exterior………………………………………………….36

Figura 7 – Materiais naturais………………………………………………………..37

Figura 8 – Conversa e exposição de imagens ao grupo………………………...37

Figura 9 – Decoração do Jogo da Reciclagem…………………………………...39

Figura 10 – Momento da utilização e partilha do Jogo da Reciclagem………...39

Figura 11 – Leitura da história: “Todos no Sofá” de Luísa Ducla Soares…...…39

Figura 12 – Decoração dos Fantoches…………………………………………….40

Figura 13 e 14 – Exposição de brinquedos construídos com materiais

reciclados……………………………………………………………………………..41

Figura 15 – Consulta do álbum……………………………………………………..43

Figura 16 – Jogo do faz-de-conta na Área da Biblioteca………………………..43

Figura 17 – Espetáculo musical com Fantoches…………………………………45

Figura 18 à 21 – Exploração dos materiais naturais na Área da Expressão

Plástica………………………………………………………………………………..48

Figura 22 – Página do Livro – “Animais da Quinta” (galinha)…………………...50

Figura 23 – Página do Livro – “Animais da Quinta” (cão)……………………….50

Figura 24 – Capa do Livro – “Animais da Quinta”………………………………..50

VIII

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Figura 25 – Cenário da história: “ A que sabe a Lua”……………………………51

Figura 26 e 27 – Exploração do tapete de texturas………………………………52

Figura 28 – Observação e exploração do aquário………………………………..52

Figura 29 – Associação dos animais de plástico às imagens reais…………….53

Figura 30 – Máscaras dos animais aquáticos…………………………………….53

Figura 31 – Observação de um cartaz…………………………………………….54

Figura 32 – Exploração do livro: “Animais da Quinta”……………………………55

Figura 33 – Exploração de uma maraca…………………………………………..55

Figura 34 – Observação das máscaras no momento do lanche………………..56

Figura 35 – “Condicionantes de la organización de los espacios” Zabalza (1996,

pág.248)……………………………………………………………………………….57

IX

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Introdução

O presente relatório de estágio surgiu no âmbito da Prática de Ensino

Supervisionado do Mestrado em Educação Pré-escolar na Universidade do

Minho. A prática pedagógica realizou-se, durante quatro meses, em contexto

de jardim-de-infância e em contexto de creche. A observação cuidadosa das

crianças e do contexto e o diálogo com as educadoras tornou possível

desenhar um Projeto de Intervenção Pedagógica para cada grupo de crianças.

Para a reunião de todas essas informações, foi necessário partir de uma

observação atenta e pormenorizada, afinal segundo o Ministério da Educação

“a intencionalidade do processo educativo que carateriza a intervenção

profissional do educador passa por diferentes etapas interligadas que se vão

sucedendo e aprofundando o que pressupõe: observar, planear, agir, avaliar,

comunicar e articular” (1997, p:25-28). Posto isto, é importante que o educador

observe para ter o conhecimento da criança, analise e reflita, tenha uma base

para o planeamento e avaliação e assim seja também capaz de atender a

diferenciação pedagógica. Assentando nesta ideia e num momento inicial, a

observação foi bastante importante para a intervenção, e por isso do modo

como iria desenvolver a minha prática.

Foi a partir do registo de observações, fotografias, conversas e situações

que me despertaram interesse e curiosidade, que refleti e tirei algumas ilações,

construi também diversas aprendizagens, quer relativamente às crianças e ao

espaço mas também em relação à ação das educadoras. A observação tornou

possível um conhecimento mais profundo sobre os mais variados aspetos

relacionados com a criança e o espaço envolvente.

É nesta perspetiva que surge o Projeto de Intervenção Pedagógica, no

âmbito da intervenção sobre o espaço que “deve incluir objetos e materiais que

estimulem as capacidades de exploração e criatividade das crianças” (2007 p:

160).

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O Projeto teve na sua índole, como um dos principais objetivos o

enriquecimento de algumas áreas de interesse estando sempre presente e

sendo valorizada, a aprendizagem ativa. Pois Hohmann & Weikart argumentam

que “num contexto de aprendizagem ativa as crianças necessitam de espaços

que sejam planeados e equipados de forma a que essa aprendizagem seja

efetuada.” (2007, p:161).

Com base em tudo o que foi referido anteriormente, expõe-se a estrutura

do relatório de estágio iniciando-se com o primeiro capítulo sobre o espaço e

onde se reflete sobre este como um indicador de qualidade. Debruça-se

também sobre as caraterísticas do espaço pedagógico destinado às crianças

em ação nas diferentes faixas etárias (entre os 0 e 3 anos e os 3 e 6 anos de

idade), abordando igualmente a forma como deve estar organizado em ambas

as valências e o papel que o educador deve desempenhar nessa mesma

organização. Outro dos temas abordado neste capítulo, e que se relaciona

inteiramente com os tópicos assinalados anteriormente, refere-se aos materiais

pedagógicos, nomeadamente, as qualidades e requisitos de devem abarcar

assim como o papel do educador na organização dos mesmos.

No segundo capítulo reflete-se sobre a importância que a representação

criativa, o jogo e o brinquedo têm para a criança e por conseguinte o papel que

o educador deve desempenhar para o apoio dos mesmos.

É feita uma breve alusão da importância que o contato com o exterior e

os elementos naturais têm para a criança no terceiro capítulo.

E assim depois de terminada esta primeira parte do relatório que será

mais teórica é tempo de expôr o contexto onde toda a ação se desenrola,

apresentada no quarto capítulo. É neste, que é caraterizado o Contexto de

Intervenção, em que tanto em creche como em jardim-de-infância, debruça-se

sobre tópicos como: a caraterização do grupo de crianças, dos recursos

humanos, do espaço e da rotina diária.

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No quinto capítulo retrata-se a forma como o Projeto de Investigação

Pedagógica surgiu e no seguinte (sexto capítulo) descreve-se o Projeto de

Intervenção Pedagógica realizado em creche e jardim-de-infância. Neste

capítulo descreve-se a intervenção e a avaliação da mesma. Com o suporte de

fotografias, dar-se-á a conhecer algumas estratégias utilizadas para a

realização do Projeto.

Como forma de conclusão de todo o relatório, no sétimo capítulo serão

apresentadas as considerações finais onde estará incluída uma reflexão

pessoal sobre a intervenção pedagógica em ambas as valências. Serão

também detalhadas algumas das diversas aprendizagens construídas nos dois

contextos relativamente a vários factores como: o espaço, os materiais, o papel

do educador, o modelo pedagógico e algumas concepções prévias que tinha

construídas e que mudaram com o realizar de todo o projeto interventivo.

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Capítulo 1. O Espaço Pedagógico e os Materiais

1.1. Organização do espaço como um indicador de qualidade

Antes de delinear e explicitar como estão organizados os espaços

destinados a crianças na faixa etária dos 0 aos 3 anos e dos 3 aos 6 anos é

essencial salientar que faz parte dos indicadores de qualidade da educação

infantil, a organização dos espaços pedagógicos (Zabalza, 1996). Esta

organização espacial traz bastantes benefícios para a criança, pois como refere

Zabalza “A necessidade do aluno viver num ambiente favorável para o seu

crescimento, incluí também, e de uma maneira preferível, um marco para o seu

desenvolvimento. O estado de espírito, o interesse e a motivação são

influenciados pelo envolvimento na escola. Criar um clima e um ambiente

estético e de convivência que favoreça os aprendizes chega a ser uma

necessidade de aprendizagem e por sua vez um objetivo de ensino

(Zabalza,1995 citado por Martin, 2005, p:187). Assim este indicador de

qualidade torna-se importante para o desenvolvimento da criança, sendo

necessário ter em conta, alguns critérios que devem ser seguidos para a

criação de um espaço de qualidade. Pensar no espaço tendo sempre em

mente as crianças e as condições do ambiente físico como: a luz, a visibilidade,

a comunicação/ligação para o exterior, a temperatura, os odores e os ruídos

são alguns dos critérios a seguir. A flexibilidade, a segurança, a acessibilidade

e um espaço que evoque o prazer sensorial são outros dos critérios básicos de

qualidade (Martin 2005).

1.2. O Espaço pedagógico destinado às crianças em ação:

Um dos objetivos fundamentais do currículo High Scope é o de criar

oportunidades para que as crianças possam encontrar respostas para os seus

interesses num contexto de aprendizagem ativa. Segundo Brickman & Taylor a

aprendizagem ativa “é uma abordagem para a infância que permite às crianças

o pleno uso das competências que estão a despertar. Além disso os

professores podem aprender mais sobre cada uma das crianças em situações

de aprendizagem ativa; em atividades totalmente dirigidas pelos professores,

tudo o que os adultos podem descobrir é a competência das crianças

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para seguirem instruções” (1991, p:12). Nesta linha de ideias, penso que

será fundamental que a prática do educador assente na aprendizagem ativa,

pois quando é levada a cabo, tem aliados a si alguns benefícios. Se o educador

for sensível aos interesses das crianças irá conseguir suscitar nelas, um maior

empenhamento e prazer na realização das diferentes atividades e assim a

criança em ação, poderá ganhar confiança e capacidade de tomar decisões e

resolver problemas (Brickman & Taylor, 1991). Uma das formas que os adultos,

no programa High Scope, têm de orientar e apoiar as crianças passa, como já

tinha referido anteriormente, pela atenção aos seus interesses mas também

pelo planeamento cuidado do ambiente educativo. Portanto como refere

Rogers citado por Brickman & Taylor “uma das responsabilidades mais

importantes dos adultos que ensinam as crianças é criar e manter um ambiente

físico que encoraje as brincadeiras ativas” (1991, p:151).De seguida, debruçar-

me-ei pormenorizadamente sobre o ambiente para a aprendizagem ativa entre

os 0 e 3 anos e entre os 3 e 6 anos:

Entre os 0 e 3 anos:

Para que seja construído um ambiente de aprendizagem ativa para bebés e

crianças até aos três anos é necessário ter em conta as suas necessidades,

que nesta faixa etária que segundo Post & Hohmann (2011), passam por:

necessidades sociais e emocionais de segurança, cuidados relativos à higiene,

nutrição, descanso, movimento e proteção e necessidades cognitivas e de

comunicação.

No entanto para que tudo isto seja possível é necessário que os

educadores organizem o espaço, estabeleçam horários e rotinas, observem as

crianças e planifiquem de acordo com os conhecimentos que têm sobre elas

mas também de acordo com os seus interesses e necessidades.

Para além do importante papel do educador na promoção da aprendizagem

ativa, as crianças até aos três anos, aprendem aquilo que querem, com todo o

seu corpo e sentidos, num contexto de confiança, comunicando aquilo que

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sabem. (2011).

Assim de acordo com Post & Hohmann (2011), os bebés agem e aprendem

sobre o mundo através de ações como: mexer, pontapear, agarrar, empurrar, e

também pelo seu próprio desejo e motivação de exploração. Nessa mesma

exploração utilizam todo o seu corpo: mãos, pés, boca, olhos, etc. e muitas das

vezes comunicam como sabem, quer gestualmente ou verbalmente. E isto tudo

só se torna possível num contexto de confiança, onde as crianças se sintam

seguras.

Entre os 3 e 6 anos:

Segundo Hohmann & Weikart (2007) o planeamento e equipamento dos

espaços são fundamentais para que se desenvolva a aprendizagem ativa da

criança. Para que esta aprendizagem seja efetivamente realizada é necessário

que nestes espaços sejam incluídos objetos e materiais que estimulem as

capacidades de exploração e criatividade das crianças. (p:160-161).

Os objetos e materiais mas também a manipulação, decisões, linguagem

da criança e apoio dos adultos são para Hohmann & Weikart os “ingredientes

da aprendizagem ativa”. (2007, p:162). Para Carneiro, Leite & Malpique “o

espaço é, portanto, e fundamentalmente relação. E a relação é ação. Aprender

é agir” (1983, p:190). Neste sentido, o espaço pedagógico é então muito mais

que o mobiliário e materiais que o envolve, pois é nele que surgem diversas

aprendizagens não só relativamente aos objetos mas também às interações

com outras crianças e adultos, rotinas, decisões, etc.

De uma forma simples e concreta e refletindo um pouco sobre esses

“ingredientes da aprendizagem ativa”, o que se pretende para um espaço-sala

que favoreça a aprendizagem ativa, é a presença de uma grande variedade de

objetos e materiais que estejam devidamente organizados para que haja a

possibilidade por parte das crianças da sua manipulação. É igualmente

importante que a sala esteja dividida por diferentes áreas de interesse para que

as crianças possam escolher e tomar decisões no próprio espaço de ensino-

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aprendizagem e por isso possam ser motivadas a expressar as suas ideias e

sentimentos. O apoio dos adultos terá de ser permanente, tendo estes o

importante papel de observar, apoiar e desafiar as crianças nas suas

brincadeiras (2007, p:162).

1.3. Organização do espaço pedagógico para as crianças na creche

Para as crianças dos zero aos três anos de idade, o espaço pedagógico

deve ser pensado e organizado para que lhes sejam proporcionados conforto,

segurança, entre outros aspetos importantes. Para tal é igualmente importante

que as crianças possam ter a oportunidade de seguir os seus interesses. Assim

se houver uma correta organização e planificação do espaço estarão reunidas

fortes condições de desenvolvimento ao nível físico, cognitivo, social e ao nível

da comunicação das crianças. Para o apoio e promoção da aprendizagem ativa

da criança e também para a organização dos espaços da sala de

aprendizagem existem três grandes critérios que o currículo High Scope (Post

& Hohmann, 2011) segue e evidencia.

A criação de ordem e flexibilidade no ambiente físico é um dos critérios a

seguir para a organização do espaço no contexto de creche e constitui uma

forma de dar resposta aos interesses da criança que por muitas razões podem

divergir. Neste critério assenta a necessidade da existência de áreas distintas

de cuidados e brincadeira. Por assim dizer, deve fazer parte da sala de

atividades o fraldário onde são prestados os cuidados de higiene, o dormitório

onde as crianças podem descansar depois de uma manhã agitada e ainda uma

zona para a preparação e realização das refeições. As áreas de brincar devem

ser amplas e conter por isso um espaço central vazio para que as crianças se

movimentem e brinquem livremente, afinal se for proporcionado um espaço

amplo e agradável para a criança desenvolver a sua brincadeira, esta terá a

oportunidade de se desenvolver a vários níveis: quer da linguagem, das

interações com os outros e por isso ao nível social, e também terá a

oportunidade de se desenvolver cognitivamente, pois terá ao seu dispôr um

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espaço com as condições necessárias para desenvolver e explorar os variados

jogos que compõem a sala de atividades. Para além disso, a criança através da

brincadeira “restabelece o seu controle interior, sua auto-estima e desenvolve

relações de confiança consigo mesma e com os outros” (Garbarino 1992 citado

por Bomtempo 2001 p:69) No que se refere ao mobiliário que deve compor

uma sala de atividades para bebés e crianças mais pequenas, todo ele deve

ser da maior segurança possível, sendo composto por esquinas arredondadas

e estando sempre que possível fixo ao chão.

O acesso fácil ao exterior é imprescindível visto que os bebés e crianças

mais pequenas precisam todos os dias de brincar no exterior, porque é nele

que pode existir: uma vasta gama de superfícies (relva, areia, madeira), um

variado número de brinquedos (utensílios de escavação, carros, etc), uma

grande diversidade de superfícies e texturas (pedras, relva, areia, plantas), e

ainda a luz natural que propicia às crianças infinitas oportunidades de

exploração sensório-motoras (Post & Hohmann, 2011).

Para proporcionar conforto e segurança a crianças e adultos é

importante que o mobiliário se apresente à medida das crianças, pois segundo

Post & Hohmann “dá-lhes um sentido de pertença e de controlo” (2011, p:109).

No entanto é igualmente necessária a presença de mobiliário à escala do

adulto pois segundo os autores citados anteriormente “proporcionam um local

confortável para as crianças e adultos!” (2007, p:110). Quanto às paredes,

tetos e chãos estes devem-se apesentar sempre limpos, com boa temperatura

e confortáveis. Para esse conforto é necessária a existência de

superfícies/objetos semelhantes a alcatifas, tapetes, almofadas e mantas pois

segundo Post & Hohmann “um tapete, uma manta e uma

almofada…proporcionam suavidade ao espaço” (2007, p:108). O espaço

poderá ainda incluir elementos familiares das crianças, pois é uma forma de

ajudar “as crianças a lidar mais calmamente com os altos e baixos da vida

quotidiana longe de casa” (2011, p:112).

A última linha orientadora para a organização do espaço pedagógico na

creche assenta no apoio à abordagem sensório-motora das crianças

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à aprendizagem. Nestas idades as crianças aprendem muito através da

exploração sensorial dos diferentes objetos que as rodeiam, explorando-os

visualmente, tocando-lhes, levando-os à boca, cheirando-os, etc. E por tal

razão é importante que o adulto crie um ambiente dinâmico com as pessoas,

materiais e objetos desafiantes e estimuladores para as crianças mais

pequenas. Assim, para apelar aos sentidos das crianças é importante que na

sala de atividades exista uma grande variedade de materiais naturais, versáteis

e de diferentes texturas. Este tipo de materiais podem ser utilizados pelas

crianças de diferentes maneiras tendo assim a possibilidade de os manipular

de forma adequada ao nível de desenvolvimento individual em que se encontra

(Post & Hohmann, 2011).

No que diz respeito às áreas específicas que compõem a sala de

atividades de creche podemos constatar a existência de: área de refeições e

preparação dos alimentos, área de dormir, área de higiene, espaços interiores-

destinados às brincadeiras das crianças e espaços exteriores. Debruçando-me

pormenorizadamente sobre as distintas áreas de brincadeira propõe-se a

existência da: área do movimento, a área de areia e de água, a área dos livros,

a área das artes, a área dos blocos, a casinha e a área dos brinquedos (Post &

Hohmann, 2011).

Post & Hohmann defendem, também, algumas ideias de como deverá

estar organizado o espaço e os diversos materiais na creche. Segundo os

autores referidos, a área do movimento deve traduzir-se num espaço amplo de

fácil movimentação, onde as crianças possam fazer grandes movimentos sem

se sentirem confinados ao espaço. Como a todo o tempo há bastante

movimento, esta área deverá ser inteiramente ampla e aberta para o resto do

espaço. Assim as crianças terão a oportunidade de correr e andar. A

introdução, neste espaço, de objetos e plataformas que lhes concedam a

liberdade de trepar, rebolar, gatinhar, saltar, escorregar, empurrar e puxar terão

impacto nas crianças e no seu desenvolvimento. Relativamente à área de areia

e água esta propicia diversas explorações significativas às crianças porque

através destes materiais poderão desenvolver inúmeras atividades como:

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encher, esvaziar, molhar, chapinhar, etc. No que diz respeito à área dos livros

esta deverá encontrar-se num lugar acolhedor, porque é neste local que as

crianças poderão apreciar os livros e “contar histórias”. Para que isso seja

possível, é importante e aconselhado que esta área não seja fortemente

delimitada, concedendo a liberdade às crianças de se movimentarem e

incluírem outros objetos nele, por exemplo: a inclusão de uma boneca neste

espaço para que as crianças lhes possam ler uma história. Quanto aos livros

propriamente ditos, estes deverão ser de uma grande diversidade em

tamanhos, cores e texturas para apelar à sua exploração. Além dos livros

convencionais, poderão ser introduzidos outros formatos para suscitar a

surpresa entre o grupo e também será aconselhado que sejam introduzidas,

neste espaço, imagens e fotografias das crianças, da família, animais, flores,

locais, para que possam observar atentamente toda a realidade do mundo que

os rodeia. Para se tornar num ambiente calmo e aconchegante é importante

que este espaço contenha superfícies macias, como: colchões e almofadas e

que também se situe longe das áreas que invocam maior movimento e

agitação. A área das artes é um local que prima pela exploração e

experimentação de materiais da expressão artística. A experimentação destes

materiais é feita através de movimentos que deixam marca, como: espalhar a

tinta com as mãos, experimentar o barro e a plasticina, etc. E é através destas

experiências sensório-motoras que as crianças começam a compreender as

propriedades dos materiais artísticos. Quanto à sua localização, esta deverá

estar perto de janelas que lhes conceda claridade e também de um ponto de

água, para a fácil limpeza dos diversos materiais artísticos. O papel, a

plasticina, o barro e os materiais de pintura e desenho são os materiais que

devem estar sempre incluídos na área das artes. A área dos blocos é um

espaço onde as crianças podem começar a construir um entendimento das

relações espaciais através da exploração de blocos e formas básicas. Como

Post & Hohmann referem “a brincadeira com os blocos oferece às crianças

uma experiência satisfatória que envolve todo o seu corpo” (2011, p:156). Este

espaço, por evocar muita atividade e movimento, deverá ficar situado longe da

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área dos livros e num local alargado onde haja espaço para a exploração dos

blocos. Os blocos devem ser grandes, leves e de fácil manipulação. Podendo

ser compostos: por plástico, espuma, madeira e devendo estes estar

arrumados em estantes baixas e por isso de fácil acesso às crianças. Para

além dos blocos, nesta área estão ainda incluídos animais, carrinhos e

pequenos bonecos de plástico. Já relativamente à área da casinha, nela são

incluídos todo o tipo de materiais que invoquem a vida familiar como: peças de

vestuário, utensílios de cozinha, etc.Com estes objetos as crianças envolvem-

se inteiramente no jogo do faz-de-conta, levando a cabo ações como: encher,

esvaziar e imitar. Como neste espaço há bastante imitação da vida quotidiana,

é importante que esta área se encontre perto da zona de preparação dos

alimentos, e para que seja incentivado e promovido este jogo do faz-de-conta é

importante que nesta área estejam contidos materiais como: electrodomésticos

e mobílias próprias da vida quotidiana. Os utensílios de cozinha, as bonecas,

uma cama, um carrinho de bebés e alguns adereços (máscaras, chapéus,

bolsas) também devem fazer parte desta área que se caracteriza por ser um

lugar de simbolismo, representação e imaginário. Para finalizar as áreas

interiores, temos então a área dos jogos que é o lugar onde as crianças podem

manipular, explorar e brincar com diversos objetos. Objetos esses que podem

ser de: encaixar, separar, juntar, enfiar, ligar/desligar e abrir/fechar. Este

espaço, por se caracterizar por um jogo mais calmo, pode-se situar perto da

área dos livros.

Para além dos espaços interiores já falados, existem outros igualmente

importantes para as crianças, os espaços exteriores. É nele que as crianças

evocam as diversas sensações e estímulos que podem vivenciar,

nomeadamente com os elementos e animais que envolvem este meio. Todo

ele é rico em texturas, cheiros cores e oportunidades de movimento, alargando

assim “o reportório das experiências sensório motoras das crianças (Post &

Hohmann,2011). O recreio deverá estar diretamente acessível e quando isso

não acontecer os bebés poderão ser transportados com o apoio de cadeiras ou

carros. Os materiais que podem estar presentes durante o contacto da criança

com o exterior são: materiais para o movimento (banco-baloiço, troncos),

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superfícies para gatinhar (relva, areia e folhas), objetos para trepar e materiais

de exterior (escorregas, árvores, arbustos, hortas), materiais para brincar com

areia e com água (pás, colheres, baldes), espaços para arrumação e casas-de-

banho (com sanitas e lavatórios apropriados á altura das crianças).

1.4. Organização do espaço pedagógico para crianças no jardim-de-

infância

Tal como na valência de creche, também na de jardim-de-infância

existem linhas orientadoras de ação para a organização do espaço pedagógico

(Post & Hohmann, 2011). De uma forma geral, o espaço deverá ser atraente,

dividido pelas diversas áreas de interesse, bem organizado, deverá ainda

conter objetos variados que reflitam as vivências familiares das crianças e que

estejam devidamente arrumados de forma simples para que a criança possa

também participar no ciclo de “encontra-brinca-arruma” (Post & Hohmann,

2011). Abordando todas estas linhas orientadoras pode-se afirmar que o

educador tem um importante papel na organização do espaço pedagógico, pois

terá que atuar a vários níveis, demonstrando sempre curiosidade, interesse e

motivação para proporcionar às crianças um espaço agradável e estimulante.

Este deverá ser atraente, e para que isso seja possível é necessário que a sala

de atividades contenha cores e texturas agradáveis, sítios tranquilos, mobiliário

e objetos que suscitem suavidade, segurança e naturalidade. Neste espaço

deverá reinar a tranquilidade e o conforto para que as crianças se sintam bem

e em segurança. Relativamente às áreas de interesse, estas deverão estar

bem distintas de modo a ser apoiado todo o tipo de brincadeiras. Fazem parte

destas áreas: a área de areia e água, a área dos blocos, a área da casa, a área

das atividades artísticas, a área dos brinquedos, a área da carpintaria, a área

do movimento e da música, a área dos livros e da escrita e a área dos

computadores.

A área da areia e da água tem muita importância para as crianças

porque lá elas levam a cabo múltiplas atividades estimulantes como: encher,

esvaziar, moldar, escavar, alisar e além de todas estas ações podem ainda

brincar ao faz-de-conta. Mas para que todas estas atividades possam ser

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desenvolvidas, nesta área, deverão estar incluídos alguns materiais como:

baldes, caixas, ferramentas, que lhes permitam assim dar asas às suas

brincadeiras. A área dos blocos é conhecida pelo seu sucesso e popularidade

onde as crianças sentem prazer em explorar os diversos materiais que

envolvem este espaço, podendo assim: amontoar, encaixar, empilhar, despejar

e arrumar blocos e outros materiais como animais de plástico, carrinhos,

pessoas, fotografias de referência e materiais naturais. Ao conjugarem todos

estes materiais, em grande parte das vezes, dão origem a brincadeiras

prazerosas de simulação/faz-de-conta. Essas brincadeiras, por vezes, são

bastante vigorosas e por isso necessitam de um espaço amplo e calmo longe

de locais de passagem. Como muitas das vezes as brincadeiras de faz-de-

conta estendem-se para a área da casa, é importante que estes dois espaços

se situem próximos um do outro. Na área da casa as crianças têm a

oportunidade de imitarem atividades de cozinha e outras situações relativas às

suas vivências familiares. Esta é uma das áreas onde reina a brincadeira do

faz-de-conta e em que muitas das vezes esses momentos de exploração se

estendem para a área dos blocos, daí a importância de se situarem perto uma

da outra. Relativamente aos materiais que esta área deve incluir, estes passam

por todo o tipo de materiais para a brincadeira do faz-de-conta e instrumentos

de cozinha como: equipamentos para cozinhar e comer, recipientes para

cozinhar, utensílios de culinária, instrumentos de padaria, pratos, toalhas,

esponjas, objetos para cozinhar e servir, recipientes de alimentos, materiais de

faz-de-conta e representação, materiais de casa, instrumentos de cozinhar

verdadeiros e fotografias e livros de receitas (Hohmann & Weikart 2011). A

área das atividades artísticas é um lugar de exploração e descoberta de

materiais onde levam a cabo ações como: misturar, enrolar, cortar, virar,

dobrar, alisar, furar, marcar, juntar, separar, combinar e transformar e a partir

delas podem realizar as suas próprias criações. Para que haja um bom

funcionamento deste espaço é necessário que além dos diversos materiais

artísticos (papel, materiais: de pintura, colagem, impressão, modelagem,

moldagem e desenho e corte) estejam presentes também: água, várias

superfícies de trabalho assim como espaço de secagem e exposição dos

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mesmos e ainda uma boa luminosidade da área. Para a dinamização e

sucesso desta área é importante que as crianças sejam envolvidas em

atividades diferentes das que realizam habitualmente, porque uma simples

pintura em papel de cenário, a decoração de grandes cartões/caixas ou ainda a

realização de atividades artísticas no exterior, são exemplos de tarefas que

estimulam e envolvem ativamente as crianças. A área dos brinquedos, como

sugere Hohmann & Weikart, “é um local onde as crianças brincam com jogos

simples, puzzles e conjuntos de materiais lúdicos que podem ser manipulados

e usados de diversas maneiras” (2011, p:199). Nesta área podem encaixar,

montar e desmontar, encher e esvaziar e ainda utilizar os materiais para o jogo

do faz-de-conta. Para as atividades realizadas nesta área é necessário que

esta seja ampla e esteja separada dos espaços onde se realizam brincadeiras

vigorosas como a área da casa e dos blocos. Para que seja proporcionado o

devido conforto à criança é conveniente que este espaço reúna algumas

condições como: a existência de prateleiras baixas e por isso de fácil acesso,

cadeiras e uma mesa. Já relativamente aos materiais, estes de uma forma

geral são de tamanhos pequenos mas de grande variedade como: materiais de

construção, de brincar ao faz-de-conta, jogos e de montar e desmontar

(Hohmann & Weikart, 2011). A área da leitura e da escrita proporciona às

crianças um primeiro contacto com o código escrito. Assim os livros, as

revistas, os jornais entre outros, são observados e explorados à maneira de

cada uma. Este espaço deverá estar situado numa zona calma e relaxante

onde possa assim reinar a tranquilidade. Para que aconteça, será importante

que esta área se situe longe das outras mais ativas e perto da área das

atividades artísticas, pois assim será mais fácil para as crianças recorrerem aos

materiais de escrita. Na área da carpintaria as crianças podem contactar com

ferramentas, madeira, materiais de construção e materiais de junção e assim

podem fazer as suas próprias criações ou tirar apenas prazer de exercer a sua

força, martelando e serrando. Relativamente à área da música e do movimento,

nesta as crianças podem: cantar, tocar, dançar e ouvir variadas músicas. De

facto, a educação musical deve acompanhar a criança em todo o seu processo

de crescimento, desde a creche até aos níveis de educação superior

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adaptando-se, em cada momento às suas capacidades e interesses. Como

refere Perry “a música está entre as primeiras experiências sociais da criança”

e está presente na vida delas em variados momentos como “experiências em

família, contacto com a rádio e a televisão, a participação em serviços

religiosos, as disciplinas de música do currículo escolar, e o jogo e atividades

recreativas organizadas (2002, p:461). Esta área é importante, porque nela as

crianças podem criar música através da experimentação de vários

instrumentos. Devido ao carater ativo e sonoro que ela possui, é fundamental

que esta esteja localizada perto de outras áreas mais barulhentas como: a da

casa, dos blocos e da carpintaria. Instrumentos de percussão, de sopro

simples, de gravação e de dança são tipos de materiais que devem estar

incluídos na área da música e movimento. A área dos computadores deve ser

ampla de modo a integrar um a três computadores onde as crianças possam

participar em jogos de adequação, comparação, contagem e memória, elaborar

padrões, fazer experiências com letras e escrever as suas próprias histórias

(Hohmann & Weikart, 2011). Esta área deverá estar localizada fora de um local

de passagem e perto da área das atividades artísticas. Para além dos

computadores existem outros materiais que esta área pode albergar como:cd’s,

impressoras, máquinas de escrever, etc.

Tal como todas as áreas interiores também a área exterior tem

importância para a criança e o seu desenvolvimento. Como refere Hohmann &

Weikart “ o recreio é uma área maravilhosa…” onde as crianças podem “correr,

andar em brinquedos com rodas, empurrar e puxar carrinhos de mão, atirar

bolas, descer montes a rolar, cavar, andar de baloiço, subir escorregas e fazer

todas as outras coisas que os adultos avisam para não fazer quando estão

dentro de casa” (2011, p:212). Esta área deverá ser separada por duas áreas

distintas: a área para brincadeiras intensas e a área de brincadeira focalizadas.

Quanto aos materiais que devem incluir este espaço exterior estes serão

diversos: estruturas fixas (baloiços, escorregas, estruturas de equilíbrio e

lugares altos), brinquedos com rodas (como por exemplo – carrinhos de mão,

triciclos, etc) e materiais soltos (equipamentos para: saltar, atirar, pontapear e

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atingir, de construção, para brincar com a areia e água, de jardinagem,

para brincar ao faz-de-conta, para atividades artísticas e instrumentos

musicais. (Hohmann & Weikart, 2011).

1.5. O papel do educador na organização do espaço e dos materiais

A organização do ambiente educativo é importante nos contextos de

creche e jardim-de- infância porque ele influencia as crianças e também é por

elas influenciado. Segundo o Ministério da Educação “os espaços de educação

pré-escolar podem ser diversos, mas o tipo de equipamento, os materiais

existentes e a forma como estão dispostos condicionam, em grande medida, o

que as crianças podem fazer e aprender” (1997, p:37). Já para Yawkey, Melizzi

& Jones “a primeira coisa a ter em consideração no espaço, não é quantidade

mas sim a delineação e flexibilidade do espaço disponível” (2002, p:692) Nesta

linha de ideias, o educador tem o importante papel de planear e organizar o

ambiente educativo de acordo com as necessidades e evolução do grupo e

devendo ainda ter em conta os diferentes critérios de qualidade. Pois para

Dempsey & Frost “uma melhor organização dos espaços leva a

comportamentos desejáveis em contextos de educação de infância” (2002,

p:692).

Além do espaço interior, o exterior não deverá ser esquecido pelo

educador que terá também a importante tarefa de planear e proporcionar

momentos educativos nesse mesmo espaço (Ministério da Educação, 1997).

Partindo destas ideias, o educador deverá ser atento e interventivo

relativamente a tudo o que acontece no espaço de ensino-apendizagem. Assim

será importante que este aprecie e tome notas acerca do seu ambiente

educativo, sempre que seja necessário. A partir da documentação que faz,

poderá refletir e cruzar as anotações com algumas indicações teóricas e só

assim poderá intervir com maior conhecimento e segurança.

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Depois de todo o planeamento, será tempo de agir e perceber o efeito

que as mudanças tiveram nas crianças. Para tal será importante, como refere

Post & Hohmann “começar com simplicidade…e identificar apenas uma ou

duas coisas que se querem alterar ou mudar…” (2011, p:169). A junção de

novos materiais ou a reorganização de alguns já existentes é outra das tarefas

que o educador pode levar a cabo para a organização do espaço. Esta deverá

ser desempenhada com calma e de forma gradual, visto que as crianças já

estão habituadas aos equipamentos antigos e que por isso lhes confiam um

ambiente previsível. Para além disso, o educador também deverá ter em conta

que os materiais/brinquedos não terão, obrigatoriamente, de ter um lugar

marcado para ser utilizado, pois segundo Post & Hohmann “quando os

materiais estão consistentemente acessíveis às crianças diariamente, as

crianças do grupo infantil aprendem depressa que, por exemplo, os materiais

que sujam como a tinta têm que ficar em área pré-determinada onde a limpeza

é fácil, ao passo que os materiais como os blocos, os livros ou os bonecos

bebés podem ser levados para onde lhes apetece brincar” (2011, p:170).

Depois com o ciclo: escolher-brincar-arrumar os materiais que saíram do lugar

predestinado poderão voltar ao mesmo.

Como refere Post & Hohmann “proporcionar uma área e materiais

adequados para todas as crianças que utilizam o espaço para brincar” (2011, p:

170) também faz parte do importante papel do educador na perspetiva da

organização do ambiente educativo. Este deverá ser pensado e planeado de

acordo com aspetos como: os interesses, necessidades, características, feitios

e motivações do grupo em geral e particular. A arrumação do espaço também é

preciso ter em conta, porque não deve ser criado ruído visual, aquando o

contacto da criança com o ambiente físico, e por isso é tão importante a

arrumação e acessibilidade aos diferentes materiais e áreas.

1.6. Qualidades e requisitos dos materiais

Para além dos espaços, também os materiais deverão ser organizados e

responder a uma série de requisitos. Só assim poderão ser considerados de

qualidade e ser introduzidos no espaço de ensino-aprendizagem.

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A higiene e segurança dos materiais é um dos primeiros requisitos que o

educador deverá ter em conta, pois fatores como: o peso, a forma e o tamanho

dos objetos poderão causar danos nas crianças. As qualidades estéticas e

sensoriais fazem parte de outro dos requisitos pensados para os materiais, pois

a cor, a qualidade e a forma jogam a favor da beleza do objeto e portanto

torna-o mais apelativo para quem o manipula. Os materiais naturais também

deverão fazer parte das escolhas dos adultos para a introdução nas áreas, pois

segundo Martin, estes “interessam muito às crianças porque evocam odores,

sabores, sons, texturas, cores, pesos… muitíssimo mais variados…e são

dadas aos meninos e meninas muitas mais oportunidades de explorar

qualidades e desenvolver os sentidos” (2005, p:204). O educador poderá

também construir e introduzir na sala de atividades, alguns objetos compostos

por materiais reutilizados (Martin, 2005).

1.7. Papel do educador na organização dos materiais

O educador tem o importante papel de escolher os materiais que acha

que devem fazer parte do espaço de ensino-aprendizagem e é ele que deve

decidir quem, como e quando utiliza os mesmos, de acordo com as

planificações que elabora diariamente. É importante que o educador tenha em

conta que estes têm de estar organizados e devidamente etiquetados para que

as crianças tenham fácil acesso aos mesmos. No entanto, relativamente à

acessibilidade das crianças aos materiais, só deverão estar ao seu alcance

aqueles que estas poderem usar sozinhas e em segurança, não evidenciando

por isso algum perigo (Freeman & Brunson, 1991). Quanto à quantidade, estes

não deverão estar concentrados em excesso no espaço de aprendizagem, para

não causar confusão e desarrumação e deverão ser renovados

constantemente, pois estes têm que se adequar às necessidades e novos

interesses que suscitam nas crianças (Martin, 2005).

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Capítulo 2– Jogo e Brinquedo

2.1. Importância do jogo e do brinquedo na vida da criança

Nos contextos de jardim-de-infância e creche, assistimos na maior parte

das vezes, à realização de brincadeiras que recriam e simbolizam a vida e por

isso o quotidiano das pessoas. É através de brincadeiras de faz-de-conta que,

para Hohmann & Weikart, “as crianças mais novas expressam uma

compreensão do seu mundo” (2007, p:474). Assim os adultos têm o importante

papel de apoiar e encorajar as crianças a “experimentar os materiais de arte e

a brincar ao faz-de-conta para criar os seus próprios símbolos e textos

narrativos. Estes apoiam a jocosidade das crianças e as necessidades em

manter o controlo sobre as suas criações” (2007, p:480).

Para Kishimoto “há uma forte presença da situação imaginária” no faz-

de-conta (2001, p:13), e por isso é também considerado como um jogo. A

presença do jogo em geral e também da representação criativa na educação

infantil é fundamental, pois na visão de Bomtempo “a simulação ou faz-de-

conta” promove o desenvolvimento cognitivo e afetivo-social da criança (2001,

p:58).

Outro recurso que promove esse desenvolvimento é o próprio

jogo/brinquedo educativo que está inteiramente presente na educação infantil.

Este, para Kishimoto “ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa” (2001,

p:36) materializando-se por exemplo em “brinquedos de encaixe…brincadeiras

que envolvam música, danças, expressão motora, gráfica e simbólica” (2001,

p:36).

Perante todas estas vantagens que o jogo/brinquedo traz para o

desenvolvimento infantil saliento a riqueza e importância que este tem para a

criança e como refere Kishimoto o jogo “contempla várias formas de

representação da criança ou suas múltiplas inteligências” (2001, p:36).

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A utilização do jogo na educação infantil “potencializa a exploração e a

construção do conhecimento, por contar com a motivação interna, típica do

lúdico, mas o trabalho pedagógico requer a oferta de estímulos externos e a

influência de parceiros bem como a sistematização de conceitos em outras

situações que não jogos” (2001, p:37-38).

2.2. Papel do educador no apoio ao jogo na educação infantil

Para apoiar a representação criativa, é importante que o educador seja

atento e desafiador e como Hohmann & Weikart referem este, deve fornecer

materiais com aspetos sensoriais diversos como: partes de coisas (folhas,

paus, sementes, etc), coberturas e coisas para esconder, objetos com texturas

diferentes (cascas de árvore, pedras, bolas de algodão, lã, etc), coisas

aromáticas (flores, animais, alimentos, etc), objetos que façam barulho, etc.

(2007, p:483).

A realização de desenhos com fricção é outra das tarefas que podem

apoiar a representação criativa pois fazerem impressões, desenhos ou pinturas

que usem o atrito ou a fricção são formas de incentivar a exploração sensorial

utilizando os próprios objetos (2001, p:484). Nesta perspetiva o educador pode

promover oportunidades de trabalho ricas e significativas para a criança

proporcionando oportunidades de realização de marcas/carimbagens com os

vários materiais que rodeiam a criança e que estão por isso presentes no seu

dia-a-dia.

A criação de oportunidades para a imitação na rotina diária é outra das

formas de apoiar e incentivar a representação criativa. Pois à medida que o

adulto vai desafiando as crianças a brincar ao faz-de-conta, estas

desenvolverão mais a sua criatividade, raciocínio e compreensão do mundo à

sua volta. Como Hohmann & Weikart defendem, nos tempos de pequeno e

grande grupo, existem várias oportunidades de incentivar o faz-de-conta, pois

por exemplo: quando o adulto lê uma história pode incentivar o grupo a imitar

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as personagens da mesma e ao cantar canções pode sempre alterar a

letra de acordo com ações que as crianças realizem no dia-a-dia incentivando,

assim, o jogo simbólico (2007, p:487).

As imagens, fotografias e ilustrações são objetos que devem estar

sempre presentes na sala de atividades nas diferentes áreas de interesse.

Como refere Hohmann & Weikart as crianças gostam de brincar com

reproduções e devem ser “encorajadas a comparar os modelos que estão a

usar aos objetos que representam…” (2007, p:491).

O adulto deve também fornecer “materiais e adereços para a

representação de papéis e para o faz-de-conta" (2007, p:495) assim como deve

proporcionar uma grande diversidade de materiais que possibilitem

reproduções, como por exemplo: “materiais naturais e de desperdício” (2007, p:

506).

Relativamente às crianças mais pequenas e que por isso frequentam a

valência de creche, é igualmente importante que o educador/adulto esteja

atento e desafie a criança. No entanto, como refere Post & Hohmann “desde o

ínicio das explorações sensório-motoras, os bebés e as crianças acumulam um

conjunto considerável de experiência direta” (2011, p:42), por isso a criança

representa de variadas formas agindo diretamente, com as várias partes do

seu corpo, sobre os objetos que deseja explorar. Assim pode-se concluir que a

representação criativa, nestas idades é ainda feita através das sensações

sendo que o apoio do adulto não é tanto afincado como se consta na valência

de jardim-de-infância.

Em ambas as valências, quer a representação criativa, quer o jogo deve

ser sempre motivado e incentivado pelo educador, sendo estas consideradas

“atividades lúdicas…” onde o mais importante, “é a forma como é dirigida e

como é vivenciada, e o porquê de estar sendo realizada. Toda criança que

participa de atividades lúdicas, adquire novos conhecimentos e desenvolve

habilidades de forma natural e agradável, que gera um forte interesse em

aprender e garante o prazer” (2011, p:1).

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Contudo é importante salientar que durante este apoio prestado pelo

adulto, é fundamental que este desempenhe um papel de observador mas ao

mesmo tempo comente também as produções/representações das crianças,

porque só assim as pode motivar e desafiar.

Capítulo 3 - Importância do contacto com o exterior e os materiais naturais

No espaço exterior as crianças podem explorar os diversos sentidos,

pois nele têm a possibilidade de ouvir, cheirar, sentir o vento e diferentes

temperaturas assim como ver árvores, nuvens e as diferentes tonalidades de

luz (Post & Hohmann, 2011). Neste espaço as crianças sentem-se livres

podendo dar asas ao movimento, tendo assim a possibilidade de correr, atirar,

espernear, trepar, baloiçar, cavar e explorar tudo minuciosamente. É

importante que nos contextos de creche e jardim-de-infância seja incluído nas

rotinas um momento de recreio ou exploração exterior, porque segundo

Hohmann & Weikart, este momento é “essencial para o crescimento e

desenvolvimento das crianças…” (2011, p:212). No exterior, as crianças podem

deparar-se com diferentes tipos de vegetação, animais, texturas, sons, cheiros

e por isso vêm a oportunidade de alargar, em muito, o reportório das

experiências sensório-motoras (Hohmann & Weikart, 2011). Existe cada vez

mais a necessidade de planear e ter em conta os materiais existentes neste

espaço, porque cada vez mais estes se tornam importantes para o

desenvolvimento da criança. Assim o desenho destes recreios exteriores são

papel do adulto e em certo sentido é, como refere Dempsey & Frost, “a

aplicação mais pura dos conhecimentos existentes acerca do jogo e dos

ambientes lúdicos (1993, p:707). Estes autores referem ainda que o desenho

dos recreios exteriores é importante pois é uma forma de acomodarem o jogo e

através dele se relacionarem com o espaço que o rodeia.

22

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Capítulo 4 – Contexto de Intervenção e Investigação

4.1. Caraterização Global do Contexto

A instituição cooperante onde foi realizado e implementado o Projeto de

Intervenção Pedagógica, quer em creche como em jardim-de-infância, é uma

instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) sem fundos lucrativos.

Presta à comunidade os serviços de Creche, Jardim-de-Infância e CATL

(Centro de Atividades e Tempos Livres). Situa-se no centro urbano mas ao

mesmo tempo é isolada do mesmo. O seu espaço exterior é bastante denso,

sendo este composto por três parques infantis, uma horta, a mata, um campo

de futebol e vários jardins repletos de diversos tipos de vegetação. Quanto ao

espaço interior ele é igualmente abrangente, sendo composto por quatro salas

de jardim-de-infância, quatro salas de creche, duas cozinhas, um berçário, dois

dormitórios, uma secretaria, uma sala para as educadoras, três refeitórios, um

ginásio, um salão e cinco balneários.

4.2. Contexto de Jardim-de-Infância

4.2.1. Caraterização do Grupo de crianças e Recursos humanos

O grupo é constituído por 26 crianças, com idades compreendidas entre

os 2 e 3 anos. Relativamente ao género do grupo, este divide-se em 14

crianças do sexo feminino e 12 do sexo masculino, 11 ingressaram pela

23

Figura 1 - Contexto de Intervenção

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primeira vez. O agregado familiar é constituído na generalidade por pai, mãe e

um ou dois filhos, vivendo estes no concelho de Braga. No que concerne às

habilitações académicas estas estão compreendidas entre o quarto ano de

escolaridade e o bacharelato. Fazem parte dos Recursos Humanos do grupo

observado: uma Educadora, uma Ajudante da Ação Educativa e uma

Trabalhadora Auxiliar na hora de almoço. As crianças deste grupo são bastante

ativas e curiosas, precisando de estar constantemente ocupadas pois é desta

forma que se mostram disponíveis para trabalhar e brincar com entusiasmo. Na

sala as crianças trabalham em todas as áreas encontrando estratégias que as

motivem a trabalhar em todas elas. Gostam de participar em atividades de

todas as áreas de conteúdo e demonstram os seus interesses através da

manifestação das suas ideias e sugestões.

4.2.2. Caraterização do espaço:

A Sala de Atividades dos 3 anos está composta por distintas Áreas de

interesse que abarcam mobiliários e materiais adequados. Em termos gerais, o

espaço revela-se flexível, organizado, limpo, centrado na criança e bem

iluminado.

24

Figura 2 - Sala de Atividades de Jardim-de-Infância

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Neste espaço percebi a inexistência de superfícies suaves, como por

exemplo: tapetes, almofadas, etc. Quanto ao mobiliário, todo ele é composto

por esquinas arredondadas concedendo segurança às crianças. Observei

atentadamente os materiais que envolvem as diferentes áreas de interesse,

pois acredito que na maior parte das vezes estes ditam um pouco o “sucesso”

das áreas. Isto é, na minha opinião, se uma área estiver bem pensada,

posicionada e planeada tem tudo para dar certo e ser escolhida mais vezes

pelas crianças. Na área das construções/blocos, as crianças dão aso à

imaginação, descobrindo coisas interessantes para fazer com o material. Neste

espaço, em geral, gostam de cooperar e participar umas com as outras,

fazendo construções, amontoando peças e despejando objetos das caixas.

Quanto à sua localização e segundo o Modelo High Scope esta encontra-se

num espaço amplo, onde as crianças podem facilmente alargar as suas

explorações e brincadeiras. Faz parte deste espaço, materiais de construção

(blocos de diversas dimensões e ferramentas de plástico); separar e encaixar

(carros e camionetas de plástico, linhas de comboio e legos); encher e esvaziar

(caixas, cestos, baldes, pequenos blocos e veículos) e faz-de-conta (carros e

camiões). A área dos jogos é um local onde as crianças exploram brinquedos

simples como puzzles e outros materiais lúdicos. Constatei que nesta área já

conseguem fazer sem dificuldades os encaixes e que gostavam imenso de

encher e esvaziar as caixas dos jogos. Para além das funcionalidades que

estes materiais têm, as crianças dão-lhes muitas outras. Faz parte deste

espaço: materiais de montar e desmontar (brinquedos de madeira, figuras de

encaixe, puzzles, conjuntos de classificação de formas) e dominós (com

imagens de animais). No entanto, apesar de rica em jogos, é nesta área que se

observam muitos conflitos. A área da biblioteca apesar de ser a menos

escolhida tem uma boa localização, estando situada perto da janela.

Relativamente à cozinha e ao quarto, estas são duas áreas que estão em

contacto e em que muitas das vezes há o prolongamento da brincadeira entre

os dois espaços. No quarto percecionei a existência de bonecos de diferentes

etnias. Na minha perspetiva este fator, torna-se interessante porque é

essencial a presença destes objetos nos contextos de educação infantil, pois

25

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constitui uma forma de trabalhar o respeito pela diversidade, contribuindo para

que as crianças não criem preconceitos e estereótipos. Ao brincarem

livremente com diferentes tipos de bonecos, têm a oportunidade de se

preparem para a vida em sociedade. Já segundo Hohmann & Weikart “devem

existir bonecos e bonecas multirraciais, com diversas cores de pele e texturas

de cabelo” (2007). Já na Área da Expressão Plástica as crianças, sobretudo,

realizam: desenhos e fichas. A observação realizada permitiu constatar que,

por vezes, as crianças manifestavam o seu desagrado, não prestando muito

atenção à tarefa que era proposta e desviavam o olhar para as brincadeiras

que iam surgindo nas áreas. Esta situação sucedia-se porque estas fichas

eram realizadas na hora da exploração das áreas, sendo fichas extensas e

tendo na sua índole o objetivo principal de alfabetização. Pelo que pude

constatar com a observação realizada neste espaço, muitas das vezes as

crianças sentem-se saturadas não prestando atenção à tarefa e desviando

sempre o olhar para as brincadeiras que decorrem nas outras áreas. Esta área

seria mais rica e bem recebida pelas crianças se nela fossem incluídos outro

tipo de materiais como: telas, materiais e formas diversificadas (botões, feijões,

fitas, tecidos), caixas de madeira e papel. A área onde percebi que as crianças

descarregavam todas as energias e que eram verdadeiramente felizes nas

suas explorações, era na área exterior. Hohmann & Weikart defendem que “é

essencial para o crescimento e desenvolvimento das crianças pequenas a

brincadeira num recreio exterior seguro. No exterior estão em maior contacto

com a natureza e com tudo aquilo que ela lhes pode oferecer, como: os

cheiros, as texturas, os sons, etc (2007, p:212). No que diz respeito ao espaço

para as produções criativas das crianças, este é ocupado apenas por um

placard que não se encontra ao nível das mesmas.

4.2.3. Caraterização da Rotina Diária

No contexto de jardim-de-infância, percebi que a Rotina é organizada e

previamente estabelecida pela Educadora, desenvolvendo-se da seguinte

forma:

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Todos os dias é seguida a Rotina descrita anteriormente, sendo que há

quarta-feira esta sofre uma mudança pois o grupo tem Sessão de Expressão

Musical e Sessão de Expressão Motora. Os dias são iniciados, sempre, pelo

acolhimento sendo este realizado numa sala situada no piso inferior. Esta é

destinada à receção dos dois grupos de três anos. Um dos factos bastante

percetíveis, nos tempos de transição, é a centralização no bem-estar das

crianças e dos pais. Pois todos os momentos de acolhimento e separação são

desenvolvidos de forma calma. Depois do Acolhimento matinal, o grupo ruma à

sala onde se inicia o dia com um momento musical, cantando uma música de

bons-dias. Depois de saudarem os colegas, partilham as novidades que têm do

dia anterior. Segue-se o tempo de grande grupo, que segundo Hohmann &

Post “é um tempo que constrói nas crianças um sentido de comunidade” (2007,

p:231).

É de salientar que neste tempo de grande grupo, sente-se a satisfação

das crianças em participar nas atividades. Estas oferecem novas ideias e

mostram-se felizes por permanecerem num momento de reunião.

Depois do Reforço Alimentar segue-se o tempo que a educadora nomeou

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Rotina Diária

Acolhimento

Tempo de Grande Grupo

Reforço alimentar

Tempo de Atividades Livres

Tempo de Pequeno Grupo

Atividades no Exterior

Higiene

Almoço

Higiene

Descanso

Lanche

Higiene

Atividade no exterior

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de Atividades Livres. Cada criança inicia este momento escolhendo a área que

quer explorar, elaborando na maior parte das vezes um “Plano Vago” em que

apenas indicam a escolha verbalizando ou apontando para a área que desejam

explorar. O plano do que querem fazer é feito no centro da sala, sendo este um

sítio onde todos os materiais são visíveis. Depois da escolha, dirigem-se para

as áreas e brincam livremente com os materiais e pessoas envolventes. No

final não há qualquer revisão do que fizeram, o que de facto seria bom que

acontecesse pois segundo Hohmann & Weikart “ao fazer planos diários, ao

segui-los e depois, ao relembrar aquilo que fizeram, as crianças mais pequenas

aprendem a articular as suas intenções e a refletir sobre as suas ações” (2007,

p:247).

Já relativamente, ao tempo das refeições, percebi que para além destas serem

feitas num ritmo adequado, calmo e agradável, as crianças já se alimentavam

sozinhas, recebendo apenas algum apoio por parte do adulto (situações que

sentissem dificuldades). O momento de descanso decorre das 13:30 às 15:30

h, e depois do termino desse mesmo tempo, as crianças são acarinhadas e

apoiadas na sua higiene que decorre toda ela no dormitório. Os momentos de

higiene, também são parte constituinte da rotina das crianças e ao longo do dia

estas participam ativamente nesses momentos revelando iniciativa perante os

mesmos. Para os momentos de higiene, há sempre um aviso prévio sobre o

que terão de fazer, sendo sempre acompanhados à casa-de-banho pela

Auxiliar. O dia termina com um tempo dedicado à exploração do exterior.

4.3. Contexto Creche:

4.3.1. Caraterização do Grupo de crianças e Recursos humanos

Trata-se de um grupo homogéneo que é constituído por 13 crianças,

com idades compreendidas entre os 11 e os 23 meses. O grupo é composto

por 5 crianças do sexo feminino e 8 do sexo masculino. O agregado familiar

pertence a um grupo com condições socioeconómicas médias de habilitações

académicas diversas divergindo desde 3º ciclo de estudos e ensino secundário

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até à formação superior. Fazem parte dos Recursos Humanos do grupo

observado: uma Educadora, uma Ajudante da Ação Educativa e uma

Trabalhadora Auxiliar na hora de almoço. Quanto ao grupo, constatei que por

vezes existiam dificuldades no cumprimento das regras da sala, sendo difícil

manter o grupo sentado. No entanto também demonstravam ser interessados e

curiosos, querendo sempre saber mais. As atividades que se notam maior

interesse são as de livre exploração do material e algumas ligadas à música e

dança.

4.3.2. Caraterização do espaço:

A Sala de Atividades de 1 ano está composta por distintas Áreas de

Cuidados e Brincadeiras que abarcam mobiliários e materiais adequados. Em

termos gerais, o espaço revela-se flexível, organizado, limpo, centrado na

criança e bem iluminado. Particularmente, este está organizado de acordo com

as diferentes Áreas: a Área de Sono/Dormitório - que é composta por berços

adequados ao tamanho das crianças; a Área das Refeições que está incluída

na Sala de Atividades apesar de haver um local adequado para o efeito; a Área

dos Cuidados, que está sempre organizada, limpa e acessível a todas as

crianças; a Área do Jogo /Sala de Atividades, que é bastante pequena e por

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Figura 4 - Sala de Atividades de Creche

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isso condiciona o espaço de exploração e brincadeira. Assim, as crianças

acabam por ter limitado o espaço para se movimentarem, utilizarem os

materiais e interagirem socialmente. A ausência de espaços privados é

colmatada pelas próprias crianças porque mesmo não existindo tendas ou

túneis colocados pela Educadora, as crianças tentam ficar sozinhas adotando

outras estratégias como: isolarem-se atrás/debaixo e dentro de móveis. Apesar

de se tratar de uma sala pequena, houve sempre a preocupação por parte dos

adultos em organizá-la da melhor forma possível, localizando as áreas aos

cantos da sala para, de certa forma, manter uma zona de chão livre dando

assim a oportunidade às crianças de se movimentarem livremente.

Relativamente às áreas, existe: a Área dos Blocos, dos Livros, dos Jogos e da

Casinha. A Área dos Livros situa-se numa prateleira acima da Área dos Jogos

que é de difícil acesso para as crianças e no que concerne aos livros que

compõem o espaço, estes encontram-se um pouco degradados. São

explorados, na maioria das vezes, nas mesas onde são realizadas as

refeições, não havendo assim um espaço destinado e confortável à exploração

dos mesmos. Quanto à Área dos Blocos apesar de rica em materiais, não

contém muito espaço para a sua exploração. Em muitas situações percecionei

que as crianças sempre que desejavam explorar esta área acabavam por

“perturbar” as outras devido à escassez de espaço. Já durante uma

observação pormenorizada aos materiais, apercebi-me da existência de

poucos animais de plástico nesta área, e este fator talvez se deva ao grande

interesse que as crianças tinham por estes, sendo por isso bastante utilizados.

Relativamente à Área dos Jogos apesar de conter diversos puzzles poderia ser

enriquecida com outros materiais como por exemplo: de “juntar, encaixar ou

separar, brinquedos ou recipientes de tamanhos em série que se encaixam uns

nos outros, blocos magnéticos, etc…” (2007, p:161). A Área da Casinha é das

áreas mais completas do espaço pois está composta por uma cama, bonecos,

acessórios, mobília de cozinha e loiça e utensílios de cozinha. O que poderia

ser introduzido ainda nesta área seriam roupas e acessórios para mascarar

visto que é uma forma de incentivar o faz-de-conta. No que diz respeito ao

espaço exterior, apesar da existência de uma grande área exterior de jogo, o

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acesso ao mesmo torna-se limitado pelo vasto número de escadas que as

crianças têm que descer para acederem ao piso inferior. Tendo ainda que se

dirigir à porta lateral, sair para o exterior e passar por um portão que limita esta

área. Apesar do acesso ser limitado, notei que no espaço exterior há extrema

segurança. Trata-se de um espaço isolado e apenas utilizado pelos bebés e

crianças mais pequenas, estando protegido visualmente do tráfego através de

árvores e arbustos. Para segurança das crianças nesta área, existem

superfícies de amortecimento (por exemplo perto dos escorregas e baloiços) e

ainda zonas relvadas. Para além disso é observável ainda a presença de

materiais para movimento (banco-baloiço, troncos, etc); superfícies para

gatinhar (relva, areia e folhas); objetos para trepar (escorrega); materiais para

brincar com areia e água (pás, colheres, baldes, etc); espaços de arrumação e

casas-de-banho (com sanitas e lavatórios apropriados á altura das crianças).

Voltando ao espaço interior, e relativamente ao mobiliário que compõe a

sala, todo ele é da maior segurança possível, tendo as esquinas arredondadas

e estando fixo ao chão. Este mostra-se à medida das crianças o que segundo

Post & Hohmann “dá-lhes um sentido de pertença e de controlo” (2007, p:109)

no entanto, existe pouco mobiliário à escala do adulto o que na verdade

deveria ser uma constante pois segundo os autores citados anteriormente

“proporcionam um local confortável para as crianças e adultos!” (2007, p: 110).

Quanto às paredes, tetos e chãos estes, apesar de limpos, não são muito

confortáveis, pois existem poucas almofadas ou superfícies revigorantes que

as crianças possam disfrutar. Daí a importância da introdução de tapetes e

outro tipo de almofadões, porque segundo Post & Hohmann “um tapete, uma

manta e uma almofada…proporcionam suavidade ao espaço” (2007, p:108).

Relativamente aos objetos de conforto para as crianças, como por exemplo: as

fotografias de família, estas estão completamente presentes na sala e com

uma boa acessibilidade. Depois de uma observação pormenorizada, constatei

a importância que as fotografias da família têm para as crianças, pois em

variadas situações sentem a necessidade de recorrerem às mesmas. No que

diz respeito ao espaço para as produções criativas das crianças, este é

ocupado apenas por um placard que não se encontra ao nível das mesmas.

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Este tipo de exposição tem muito significado para as crianças, pois de acordo

com Post & Hohmann “ao verem exposto aquilo que criaram, as crianças

adquirem um sentimento de pertença” (2007, p:114). No que concerne ao apoio

da abordagem sensório-motora das crianças à aprendizagem acredita-se que é

importante incluir nas salas de atividades uma grande diversidade de materiais

que estas possam explorar. Assim no decorrer da observação dos materiais

que compõem a sala, constatei a inexistência de materiais naturais, que é algo

que deveria fazer parte do espaço pois evoca os vários sentidos e exploração

inerentes à curiosidade das crianças.

4.3.3. Caraterização da Rotina Diária

No contexto creche, percebi que a Rotina é organizada e previamente

estabelecida pela Educadora, desenvolvendo-se da seguinte forma:

O dia é organizado em torno de acontecimentos diários regulares e

rotinas de cuidados. Estão nele presentes o momento de chegada e de partida

32

Rotina Diária

Acolhimento

Tempo de Grande Grupo

Reforço alimentar

Tempo de Atividades Livres

Tempo de Pequeno Grupo

Atividades no Exterior

Higiene

Almoço

Higiene

Descanso

Lanche

Higiene

Atividade no exterior

Figura 1 - Rotina Diária da sala de 1 ano

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que, pelo que percebi e de uma forma geral, se revelam bastante positivos,

pois as crianças reagem muito bem à chegada e partida dos pais. Isto acontece

porque o acolhimento é feito de uma forma calma e com muito carinho, quer

por parte dos pais que se despedem dos seus filhos, mas também por parte da

Educadora e Auxiliar que acolhem e acalmam as crianças com as suas

palavras e afetos. Por vezes presencia-se alguns episódios em que as crianças

mostram relutância à entrada da sala, mas nestes momentos os adultos estão

sempre presentes para acariciar e acalmar as crianças. É visível a antecipação

de momentos da Rotina através de determinadas verbalizações, como por

exemplo: quando a Educadora quer dar início a uma atividade explicita

oralmente, sempre que possível, o que vão fazer: “Agora vamos cantar os bons

dias”…”Vamos passar de imediato para as Atividades Livres”… “Já podem ir

brincar”. O período em Grande Grupo é planeado previamente por esta, mas o

tempo de exploração das áreas é integrado no Tempo de Atividades Livres em

que cada um tem a liberdade de escolher a área que pretende explorar.

Durante as refeições, o clima é sempre de grande suavidade pois, na maior

parte das vezes, a Educadora liga o rádio com músicas calmas para que o

momento de torne tranquilo. Neste momento algumas crianças já conseguem

comer sozinhas enquanto outras necessitam de apoio por parte dos adultos.

Alternados com estes momentos, decorrem os cuidados individuais que são

tempos aproveitados ao máximo pelos adultos para interagir, cuidar e mimar as

crianças. Depois do descanso e já perto das 16:00h passam à realização do

lanche. Depois de terminado o lanche é feita a higiene e procedem ao

momento de exploração exterior.

Capítulo 5 - Projeto de Intervenção Pedagógica

5.1. Como Surgiu?

Logo no início do estágio, fui desafiada a construir um olhar atento sobre

o contexto e as valências onde teria de intervir. Durante o tempo de

observação tive a oportunidade de conhecer melhor os grupos com que iria

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trabalhar e em variados momentos pude registar verbalizações,

acontecimentos e situações que se iam sucedendo e que despertavam a minha

atenção. Assim, tanto em creche como em jardim-de-infância foi desenvolvido

e levado a cabo um Projeto de Intervenção Pedagógica com dimensão

investigativa sustentado na abordagem da investigação-ação. Assentando

nesta linha de ideias, a investigação inicial foi conduzida pelo prático, em que a

primeira etapa foi a identificação do problema (McKernan, 1998,citado por

Máximo-Esteves, 2008, p:20). Nesta fase e decorrente da observação, análise

e reflexão dos registos recolhidos, foi então identificada uma questão, que de

uma forma geral e em ambas as valências, se traduziu na introdução de

melhorias na organização do espaço pedagógico assim como no

apetrechamento de algumas áreas de interesse. Para além da questão

identificada ao nível do ambiente físico, os interesses das crianças e a consulta

do Projeto Curricular de Turma também contribuíram para a planificação das

estratégias de intervenção a levar a cabo em ambos os contextos. Assim com a

conjugação de todos estes aspetos, estavam reunidas as condições para

delinear objetivos de intervenção assim como o próprio “plano de ação”

(McKernan, 1998,citado por Máximo-Esteves, 2008, p:20). Neste sentido e por

outras palavras, o “plano de ação”/plano de intervenção passou pela

intervenção no espaço pedagógico com a colaboração das crianças,

reapetrechando as áreas de interesse mais debilitadas com materiais

pedagógicos, composto, essencialmente por materiais naturais, de desperdício

e outros presentes no quotidiano da criança. Perante esta ideia de intervenção,

tracei alguns objetivos, nomeadamente para a intervenção em jardim-de-

infância: proporcionar a aprendizagem ativa do grupo; reorganizar algumas

áreas de interesse (nomeadamente a área dos jogos, das construções e da

biblioteca) diversificar os materiais de jogo e apetrechar o espaço com

elementos naturais e reciclados.

Relativamente às estratégias de intervenção, foram inicialmente

pensadas algumas possibilidades, no entanto, foi ao longo das intervenções

que elas foram sucedendo naturalmente. Inicialmente as crianças começaram

por explorar o exterior e a partir dessa mesma exploração reuniram variados

34

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materiais naturais. Mais tarde foi também iniciada uma pequena conversa

sobre reciclagem (para perceber o que sabiam sobre a reciclagem e os

ecopontos e quais os hábitos de reciclagem em casa) e foi visualizado um

vídeo sobre o tema. Da visualização deste vídeo surgiu a construção de um

jogo sobre a reciclagem. Realizou-se também o registo fotográfico de todas as

atividades para uma posterior construção, com as crianças, de um álbum de

todo o projeto para colocar na área da biblioteca.

O Projeto de Intervenção em creche foi desenhado tendo em conta os

interesses das crianças mas também alguns “problemas” do espaço e materiais

da sala. Aqui, foi importante desenvolver um olhar atento a tudo que envolvia o

espaço de aprendizagem e as crianças, desde os seus gostos, os sinais que

iam dando, os materiais que estavam incorporados nas áreas, etc.

Capítulo 6 - Plano de Intervenção Pedagógica

6.1. Projeto de Intervenção Pedagógica em Jardim-de-Infância

O início do Plano de Intervenção Pedagógica surgiu no âmbito de

algumas observações realizadas, nomeadamente a determinadas reações das

crianças aquando a exploração do exterior, pois mostraram sempre bastante

entusiasmo, brincando na maior parte das vezes com as plantas, os paus, as

pedras, as frutas, as árvores e outros elementos naturais que envolviam o

espaço. Outro dos fatores relevantes para a elaboração do projeto de

intervenção foi a constatação do interesse das crianças pela natureza, pelo

comportamento dos animais e pelos “elementos” envolventes. Já relativamente

ao espaço interior, a observação de cada área e dos materiais que compõem

as áreas de interesse constituiu também outro dos fatores importantes para o

desenho do Projeto de Intervenção. Nesta atenção dada aos diversos materiais

que compõem as áreas de interesse, foram cruzadas as indicações teóricas

relativamente aos materiais que cada área deve ter com o que realmente cada

uma possuía e foi constatado que a Área das Construções/Blocos assim como

a Área da Expressão Plástica eram muito ricas e completas, mas no entanto

35

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não continham qualquer tipo de material natural. O espaço onde se gerava

maior número de conflitos, era na Área dos Jogos, visto que era uma área

muito escolhida, os puzzles eram de grandes dimensões e já há muito tempo

que não eram trocados por outros. Por outro lado, uma consulta ao Projeto

Curricular de Grupo permitiu-

me perceber que uma das

intenções de trabalho para o

ano letivo presente assentaria

na exploração da Reciclagem.

Esta temática iria ser

abordada brevemente pela

Educadora e esta mostrou

bastante interesse no tema.

Assim conjugando todos estes

aspetos, procurou-se proceder

a uma reorganização do espaço e apetrechamento das áreas com materiais

reciclados e naturais. Com base em toda a informação recolhida, a intervenção

pedagógica inicia-se assim com um momento de exploração do exterior,

porque neste espaço as crianças evidenciam outras capacidades diferentes

daquelas que demonstram no interior (Hohman & Weikart, 2011). Por isso seria

importante preparar e planificar um primeiro momento em que o grupo pudesse

explorar um espaço que tanto prezam. Pegando no interesse e imaginação que

revelavam, principalmente nas suas brincadeiras do faz-de-conta, procurou-se

realizar uma atividade que permitisse o contacto com a natureza, mas também

a “dramatização”, por assim dizer. Neste enquadramento as crianças teriam o

importante cargo de encontrar um tesouro, composto por diversos materiais

naturais que estavam ilustrados num cartão que lhes foi previamente fornecido

e assim, ao mesmo tempo, teriam a possibilidade de explorar o exterior (figura

6). Depois de reunidos todos os materiais naturais, foi-lhes concedida a

liberdade de explorarem o espaço sem qualquer intenção ou tarefa, tendo

assim a oportunidade de se deslocarem pelas pequenas montanhas, arvoredos

e outro tipo de vegetação de grande porte que faziam parte do espaço e que

lhes concediam oportunidades inimagináveis e diversificadas de movimento.

36

Figura 6 - Exploração do exterior

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Neste momento de exploração livre do espaço, foram testemunhados vários

movimentos de extrema diversão como: rebolar pela relva, atirar folhas secas

simulando a chuva, gatinhar, subir, descer, saltar, etc. Foi notável todo o

envolvimento que estas crianças demostraram ter com a natureza. Depois de

recolhidos todos os materiais e terminada a atividade foi possível constatar que

estas tiveram um contexto de aprendizagem ativa e a atividade proposta

permitiu a recolha de materiais naturais para a Área da Plástica e também

foram levados para o interior da sala os respetivos elementos naturais (figura

7).

Depois de introduzidos os

materiais na Área da Expressão

Plástica, as atividades realizadas na

mesma diversificaram-se. Inicialmente

as crianças utilizavam apenas os

marcadores e lápis-de-cor para

realização dos seus desenhos e mais

tarde, com a inclusão de objetos

naturais, estas passaram a usar os

materiais naturais como carimbos,

realizando as suas próprias criações, e dando outra cor e técnica aos seus

desenhos.

Já numa observação direcionada à Área dos Jogos, foi percetível os

conflitos que iam sucedendo no momento

de escolha pois os Jogos eram os

mesmos de sempre e os mais apelativos

eram os mais disputados e perante esta

situação tornava-se cada vez mais

importante introduzir alguma novidade

nesta área. Reconheceu-se a

necessidade de introduzir novos materiais

e jogos.

37

Figura 7 - Materiais Naturais

Figura 8 - Conversa e exposição de imagens ao grupo

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Partindo do gosto que tinham pelo exterior e o entusiasmo demonstrado na sua

exploração realizou-se uma pequena conversa sobre alguns cuidados a ter

com o meio ambiente. Foi também conversado com o grupo, o tema dos

ecopontos, a quantidade e cores dos mesmos, a reutilização de certos

materiais, entre outros assuntos, sendo estes sempre acompanhados com

imagens ilustrativas (figura 8) para a melhor compreensão do tema por parte

das crianças. Após o momento de diálogo, visualizaram um vídeo que permitia

ver como se separa o lixo. O vídeo envolveu música e vocabulário acessível

para que as crianças pudessem visualizar melhor tudo o que se estava a falar.

Assim partindo deste diálogo concretizado com o grupo, todos puderam

contribuir para a realização do jogo da reciclagem onde tiveram a oportunidade

de decorar os ecopontos e de colorir as imagens do “lixo” (figura 9). Durante a

decoração dos mesmos notava-se o interesse, dedicação e entusiasmo, pois

podiam-se ouvir comentários como: “que giros ecopontos”, “depois vamos

poder separar tudo”, “ Paticia obigada por deixares pintar com tintas, sabes é

que gosto muito de tintas”,” este jogo vai ser fixe, vamos poder bincar sempe”,

etc. Quando terminaram a atividade, notava-se a ansiedade em proceder logo

à experimentação do jogo e foi a partir deste interesse das crianças e algumas

sugestões da Educadora que se percebeu a necessidade de proporcionar um

tempo para que as crianças pudessem livremente fazer a exploração do jogo.

Nesse momento foi feito um registo fotográfico dessa mesma exploração,

dando origem a um álbum composto e decorado com materiais

reciclados/naturais, que mais tarde foi introduzido na área da biblioteca.

38

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Depois de introduzido o jogo

da reciclagem na Área dos jogos,

percebia-se que as crianças

utilizavam frequentemente o mesmo,

em pequenos grupos ou

individualmente. Quando o

exploravam em grupo havia

bastante cooperação estando

atentos ao modo como os colegas

utilizavam o jogo e se colocavam a imagem nos ecopontos certos. Também

identificavam as imagens que pintaram e

incluíam nos seus discursos os termos

certos, correspondendo de forma correta as

imagens aos ecopontos. Com a introdução

deste jogo na área, as crianças cooperavam

mais entre si e utilizavam-no de forma

adequada (figura 10).

Também decorrente de uma

observação atenta durante uma ida com as

crianças a um espaço comum da instituição,

surgiu a ideia para a realização de

uma nova atividade. Nesse mesmo

espaço estavam concentrados os

mais variados livros que tinham sido

doados pelos pais à instituição. Este

espaço, dedicado ao livro,

encontrava-se dividido por diversas

áreas (“imaginolândia”,

“leiturolândia”, “fantocholândia” entre

outras).

39

Figura 9 - Decoração do Jogo da Reciclagem

Figura 10 - Momento de utilização e partilha do Jogo da Reciclagem

Figura 11 - Leitura da história: "Todos no Sofá" de Luísa Ducla Soares

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Quando o grupo observado, já se encontrava a explorar o espaço, percebia-se

que uma das áreas com maior afluência era a “fantocholândia”, composta por

fantoches e por um “fantocheiro”. Apesar de toda a excitação e entusiasmo, só

um pequeno grupo de crianças poderiam explorar esse mesmo espaço.

Perante algumas conversas, assim como a reação de intensa energia e alegria

das crianças face aos

fantoches, estavam reunidas

as condições necessárias para

se proceder à elaboração de

uma nova atividade. Seria

interessante pegar neste

interesse do grupo e passar

assim à construção de

fantoches e de um fantocheiro

para introduzirem e

enriquecerem a própria

biblioteca da sala de atividades. Comecei por mostrar um fantoche realizado

com pacotes de leite e outro realizado com uma meia. De seguida foi-lhes lida

a história de Luísa Ducla Soares - “Todos no Sofá” (figura 11). A escolha desta

história foi pensada, pois aborda os mais variadíssimos animais, um dos

interesses observados no grupo. Durante a leitura da mesma, as crianças

foram incentivadas a participar ativamente, sendo pedida a sua ajuda na

leitura. Como se tratava de um álbum narrativo, e por isso prima pelas

imagens, este tornava-se bastante interessante e empolgante para as crianças

mais novas. O tempo de pequeno grupo foi dedicado à realização dos

fantoches (figura 12). Neste momento foi perguntado a cada criança que animal

gostariam de construir e, depois de combinado, cada três crianças tiveram a

oportunidade de fazer um fantoche. Depois de terminados os fantoches e numa

outra sessão foi decorado, pelo grupo, o fantocheiro que também iria ser

introduzido na área da biblioteca. Penso que estas estratégias fizeram com que

o grupo tivesse participado ativamente na realização dos fantoches e

decoração do fantocheiro, assim com também foi possível o

40

Figura 12 - Decoração dos Fantoches

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apetrechamento da biblioteca com materiais diversificados. Para o colminar de

todo o projeto, foi levada a cabo a realização de uma exposição (figura 13 e 14)

à comunidade escolar que se compôs com a ajuda e colaboração dos pais. Em

conjunto com os seus filhos criaram objetos/brinquedos com diversos materiais

(reciclados e de desperdício) e todas as criações foram expostas num local

visível e de

passagem da

instituição

Para além do empenho e da dedicação das crianças em todas as

atividades, percebeu-se também que todas elas foram significativas para o

grupo, porque com o passar do tempo ainda se puderam ouvir vários

comentários relacionados com o projeto, como por exemplo: “Bom dia Paticia.

41

Figura 13 - Exposição de brinquedos construídos com materiais reciclados

Figura 14 - Exposição de brinquedos construídos com materiais reciclados

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Olha sabes eu reciclei muito bem, o meu pai ajudou-me” R; “Paticia não vamos

fazer mais tabalhinhos? Não?” J. O comentário do R foi relativamente ao objeto

que construiu juntamente com o pai, quanto ao comentário do J, este mostrou

que o projeto o motivou e que portanto teria o gosto de vivenciar muitas mais

experiências. Fala-se em experiências, porque se procurou sempre que eles

vivenciassem ao máximo todas as atividades e tinha-se o desejo que todas

elas ficassem materializadas. Pois desta forma, poderão continuar a

brincar/jogar mesmo que a estagiária já não esteja presente.

6.1.1. Avaliação da Intervenção Pedagógica em Jardim-de-Infância

Assim depois de terminado todo o projeto, foi tempo de atentar e

observar a maneira como as crianças utilizavam os materiais que construíram.

Logo numa primeira fase, e durante a inclusão de todos os materiais nas

devidas áreas (visto que estavam expostos na entrada, junto com os outros

objetos feitos com os pais) notou-se bastante agitação e ansiedade no tempo

de planeamento da área pretendida. Ao entregar-lhes as fotografias, muitas

crianças colocavam o dedo no ar mostrando estar muito inquietas e o ruído era

maior do que o habitual. Já na escolha das áreas percebia-se que tanto a área

dos jogos como a da biblioteca eram sempre objeto de escolha das crianças.

Notava-se ainda alguma insatisfação nas crianças quando reparavam que

estas áreas já estavam cheias e que teriam de escolher outras, como se pôde

verificar com a intervenção que se segue:

42

Durante o tempo Planear-Fazer-Rever, o R reparou que a área da biblioteca estava completamente cheia e ficou com um semblante triste:

Estagiária: R a biblioteca já está cheia. Podes escolher outra.”

R: “Mas eu quia bincar com os fantoches”.

Estagiária: “ Pois eu compreendo, mas sabes que já estão quatro crianças e se forem muitas mais, vai ficar muita confusão e não vai haver espaço para brincarem. Escolhes outra área hoje e amanhã vens para a biblioteca ok?

R: “ Oh está bem. Então posso ir para os jogos bincar com os ecopontos? Ajudas-me?

Estagiária: “Sim claro que sim.“

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Já numa observação mais profunda reparou-se numa brincadeira do J

em que este tentou imitar a peça de teatro que se realizou com eles numa das

últimas atividades:

Para além das peças de teatro que iam elaborando em conjunto deram

também outra utilidade quer ao fantocheiro, aos fantoches mas também ao

álbum, conseguindo envolver estes três materiais na mesma brincadeira do

faz-de-conta (figura 16). Nela, encararam os fantoches como comida, o

fantocheiro como uma casa e restaurante e o álbum como um livro de receitas.

Isto pode comprovar-se com o relato da brincadeira e fotografias que se

seguem:

43

J: “Tem orelhas grandes e vamos imitar o som que ele faz? Muuuuuu…

(e assim foi sucessivamente com os restantes animais)

Passado já algum tempo de estarem a brincar com os fantoches o J dirige-se a mim e diz:

“Paticia podes-nos contar a peça de teatro da outa, vez com os animais todos?”

E perante este pedido irrecusável, decidi então fazer novamente a peça de teatro.

Figura 15 - Consulta do álbum Figura 16 - Jogo do faz-de-conta na área da

biblioteca

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Para além das utilidades relatadas anteriormente, algumas crianças faziam

também espetáculos musicais, de acordo com o fantoche que tivessem a

explorar, e realizavam “duelos” para verem qual o animal mais forte do grupo,

como se pode comprovar com os episódios significativos que se seguem e a

figura 17:

44

A M dirige-se ao F.F, com o coelho na mão, e diz:

- “ Olá porquinho. Eu sou o coelhinho que vive na horta e come muitas cenouras. Olha vou-te cantar a minha canção: de olhos vermelhos, de pêlo

banquinho, aos saltos bem altos eu sou o coelhinho. Comi uma cenoura

com casca e com tudo ela era assim tão gande que eu fiquei um barrigudo.

Aos saltos pá frente aos saltos pa tás, eu sou um coelhinho que de tudo

sou capaz –paz-paz”

Colocando o fantocheiro mais fechado, pegaram em todos os fantoches e alguns panfletos e encostaram-nos ao biombo:

L.B: “Vamos cozinhar? (…) “J” pega na tua receita”

(o J dirige-se às prateleiras, pega num folheto e no álbum e sentasse à beira da L.B)

D intervém:“ Eu fico a tomar conta dos animais na quinta”

L.B e J: “ Está bem, nós vamos cozinhar”

L.B: (pede ao J) “ Dá-me quatro ovos… (entretanto J dirige-se à prateleira e traz-lhe um livro),

agora um bocadinho de sal…”

J: (olha para mim e diz) “ Paticia estás a ver o que estamos a fazer?”

Estagiária: “ Sim claro, vocês estão a cozinhar. Mas essa comida toda que estão a fazer é para dar aos animais?”

J: “ Não Paticia. Os animais são para comer, vamos só buscar uma faquinha e já os vamos

cortar”

Estagiária: “ Oh coitadinhos dos animais, ainda são tão pequeninos”

L. B: “ Não te peocupes Paticia eles estão a cescer, (chegou perto do meu ouvido e disse: “ isto é faz de conta Paticia”)

J: “ Já está ponto o jantar. Póximo cliente! (falando pela janela do fantocheiro para a D)

D: “ Eu quero milho com arroz e cane”

J: (pega no fantoche da vaca e entrega à D).

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Já relativamente ao álbum, percebeu-se que várias crianças o gostavam de

consultar indo sempre em busca das suas fotografias, assim como estando

sempre atentos aos diversos pormenores que o compõem, como se pode

comprovar com o seguinte episódio significativo:

45

R: “Eu sou uma girafa muito fote. Tenho um pescoço muito

gande e vou-te comer burrito e

ratito.

(….)

Ganhei a luta… Sou muito fote e comi te a ti e a ti

R: “Olha eu aqui em primeiro. Olha tu M…olha o G..

F: “Olha eu aqui…”

M: “Olha a D…”

R: “Olha Paticia nas fotografias estão todos a jogar ao jogo da reciclagem”

(entretanto volta para a sua fotografia)

- “Olha eu pus a imagem no azul”

(e à medida que iam folheando o álbum iam estando atentos aos diversos pormenores)

M: “Olha Paticia os carimbos das folhas. Gostei muito. Podemos fazer outa vez?”

Estagiária: “Sim claro M. Amanhã na área da expressão plástica vamos pegar nos materiais naturais que apanhamos lá fora e vamos fazer um desenho sim?

M: “Booaaaa. Quero fazer com todos sim Paticia? Com todos os matiais do tesouro”

Figura 15 - Espetáculo musical com fantoches

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No que se pôde observar na área dos jogos, as crianças usavam o jogo dos

ecopontos/reciclagem em pequenos grupos ou individualmente. Quando o

exploravam em grupo havia bastante cooperação estando atentos se os

colegas colocavam a imagem no ecoponto certo:

Verificava-se também que algumas crianças corrigiam os colegas,

identificavam as imagens que pintaram, mas também incluíam nos seus

discursos os termos certos e correspondendo de forma correta as imagens aos

ecopontos:

46

Enquanto jogavam, o D decidiu colocar uma

imagem de garrafas de vidro no ecoponto

vermelho e o R disse de imediato:

“Não D. O vidro é no verde”

Estagiária: “Lembraste como é que se chamam estes caixotes?

G: “Ecopontos… eu vi os lá fora. Olha Paticia ajuda-me a jogar”

Estagiária: “ Sim claro.

Durante o jogo percebi que o G conseguia associar corretamente as imagens aos ecopontos certos. Como já tinha acabado o jogo perguntei:

- Posso arrumar o jogo G?

G: “ Não. Vamos fazer outa vez sim? Eu gosto deste jogo Paticia”

G: “Olha fui eu que pintei”

(em seguida a L coloca o papel no ecoponto azul e G intervém)

G: “Chim é no papelão que se mete o jornal.”

(…)

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Por último e no que diz respeito aos materiais naturais, ao início

estava previsto que estes pudessem ser incluídos na área das construções, no

entanto por algumas exigências, foi feita uma pequena alteração, passando a

estarem presentes na área da expressão plástica.

Muitas das atividades realizadas nessa mesma área, estavam única e

exclusivamente ligadas à realização de desenhos onde utilizavam os lápis-de-

cor, marcadores e tintas. Pensou-se que a inclusão de objetos naturais na

mesma, poderia possibilitar a diversificação de tarefas realizadas. Percebia-se

então que as crianças passaram a usar os materiais naturais como carimbos,

realizando as suas próprias criações (figura 18 à 21).

47

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6.2. Projeto de Intervenção Pedagógica em Creche

Ao observar atentamente o espaço e os materiais envolventes da sala

de um ano estavam sustentadas as condições para dar início ao Projeto de

Intervenção, pois tal como em jardim-de-infância também nesta valência seria

necessário atuar sobre o espaço e o apetrechamento de algumas áreas de

interesse. A sala de atividades apresentava materiais pouco desafiadores e

estimulantes para quem os explorava. Na maior parte eram compostos por

plástico, não sendo observado qualquer tipo de objetos compostos por outro

48

Figura 20 - Exploração dos materiais naturais na Área da Expressão Plástica

Figura 19 - Exploração dos materiais naturais na Área da Expressão Plástica

Figura 21 - Exploração dos materiais naturais na Área da Expressão Plástica

Figura 18 - Exploração dos materiais naturais na Área da Expressão Plástica

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tipo de materiais que tivessem caraterísticas próprias e estimuladoras dos

sentidos das crianças mais pequenas. Assim, depois de identificada a questão,

foi importante explicitar as áreas que deveriam ser alvo de maior

apetrechamento, e assim antes de ser dado início a essa tarefa, seria

importante descobrir qual o interesse maior das crianças daquele grupo. E ao

longo da observação feita ao grupo durante os períodos de atividades livres, e

outros momentos da rotina, foi percetível que o grande interesse do mesmo

eram os animais. Assim partindo deste interesse das crianças, e tendo em

conta a problemática identificada, foi tempo de intervir nas áreas menos

completas da sala de atividades. Assim tracei alguns objetivos para a posterior

intervenção, como: proporcionar a aprendizagem ativa do grupo; reorganizar

algumas áreas de interesse (como a área da cozinha, dos livros e o restante

espaço em geral) diversificar os materiais de jogo apelando aos diversos

sentidos das crianças e apetrechar o espaço com elementos naturais e

reciclados explorados e manipulados pelas próprias crianças.

A primeira atividade realizou-se por se estar a avizinhar o dia da criança

e como modo de celebração dessa mesma data construímos um conjunto de

lembranças. A ideia de decorar um quadro com materiais naturais e reciclados

emergiu porque nestas idades, as crianças não conseguem resistir a tocar ou

explorar qualquer coisa com que se sintam atraídas em termos sensório-

motores, ficando fascinadas com materiais naturais, materiais macios, entre

outros (Hohmann & Weikart, 2011).

Depois, durante o tempo de observação, as crianças mostravam-se

fascinadas com a exploração dos livros, manuseamento dos mesmos e a

audição de histórias. Muitas das vezes, após o lanche tinham a oportunidade

de explorarem os livros, em que a maior parte deles já se mostravam

degradados e por isso com pouca qualidade. Para além disso, apesar do gosto

que tinham pelos livros, não existia nenhum recanto confortável para que estes

pudessem explorá-los mais à vontade. De facto, era importante criar uma Área

dos Livros, no entanto o espaço da sala não o permitia, mas era possível atuar

e colmatar o problema da degradação dos livros. Assim pensou-se que seria

interessante construir com as crianças um livro que eles gostassem muito e

49

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que pudessem recorrer sempre que quisessem. Visto que gostavam muito de

animais, criou-se um cartaz dos animais da quinta com imagens reais que

poderiam colar e descolar sempre que quisessem de modo a poderem explorar

as imagens por todas as áreas de interesse, não permitindo assim que a

criança esteja confinada apenas a um espaço. Com base nos animais do

cartaz construíram um livro com a carimbagem das suas próprias mãos, e

assim foi possível enriquecer e apetrechar a Área dos Livros (figura 22 à 24).

Para além do gosto que mostravam ter pelos livros, o grupo mostrava

excitação sempre que eram cantadas canções no tempo de acolhimento e

após o lanche. A atenção aos sinais que as crianças iam dando permitiu

apreender o gosto musical inerente ao grupo e foi tal fator que fez despertar

uma observação mais atenta relativamente aos materiais/objetos musicais

existentes na sala. Foi nessa observação pormenorizada que se percebeu a

inexistência desses mesmos instrumentos, o que na verdade como referem

Post & Hohmann se torna importante, pois “as crianças pequenas…precisam

de instrumentos musicais seguros e de qualidade para poderem brincar

sentadas ou andando de um lado para o outro” (2007, p: 147). Partindo destas

observações seria interessante desenvolver uma atividade inteiramente ligada

ao domínio da música. Esta iniciou-se com a exploração das treze maracas,

em que as crianças tiveram o espaço e liberdade de explorar o som produzido

50

Figura 22 - Página do livro “Animais da quinta” (galinha)

Figura 23 - Página do Livro "Animais da Quinta" (cão)

Figura 24 - Capa do Livro "Animais da Quinta"

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pelos instrumentos. Feita esta exploração, passaram a explorar a música –

“Quinta do Tio Manel”, com a ajuda de um cartaz ilustrativo. Depois de se

familiarizarem com o tom e ritmo da música, acompanharam a mesma com o

som das maracas e criou-se assim um verdadeiro momento musical. De

seguida, tiveram a oportunidade de decorar as maracas ao seu gosto, com

materiais de expressão plástica ou com as próprias mãos envolvidas na tinta.

Todas as maracas ficaram disponíveis perto de um móvel que fazia parte da

Área da Casinha. A adesão a esta atividade foi tão grande que houve a

necessidade de criar uma outra semelhante para a satisfação das crianças,

pois para o grupo estes momentos musicais eram verdadeiramente

significativos e estimulantes. Como se percebia, pela reação das crianças, a

importância que os momentos musicais tinham para estas, também era

percetível através de uma observação atenta, a necessidade que tinham de

tocar e explorar com detalhe todos os objetos que os envolviam. Assim tonava-

se cada vez mais fundamental criar momentos de verdadeira exploração

sensorial e de texturas. Aliando assim

o gosto que tinham por ouvir histórias

e fugindo um pouco à leitura

convencional do livro, foi

proporcionado às crianças um

momento de dramatização da história

“A que sabe a Lua” de Michael

Grejniec com fantoches (construídos

com paus de madeira, goma eva e

cartolina – figura 25) e uma caixa de

sapatos que se transformou num cenário. Depois de ouvirem a história foi

realizada uma conversa sobre os animais intervenientes na mesma e passaram

a explorar alguns materiais (como: cartolina ondulada e lisa, pêlo, papel crepe,

lã e goma eva), que poderiam ser comparados à textura da pele dos mesmos.

Esses mesmos materiais foram posteriormente colados em cartolinas para

mais tarde comporem o tapete de texturas. Depois de seco e acabado e numa

outra sessão, as crianças puderam explorar com todas as partes do seu corpo,

51

Figura 25 - Cenário da história: "A que sabe a Lua?"

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as texturas presentes no tapete realizado por eles mesmos (figura 26 e 27)

Devido ao espaço-sala ser bastante pequeno, este tapete não pôde ser

introduzido em nenhuma área de interesse específica, tendo que ser arrumado

no dormitório e sempre que as crianças o quisessem explorar, a educadora

poderia recorrer ao mesmo. Ainda nesta linha de ideias, de exploração dos

sentidos e texturas, seria importante desenvolver um outro momento de

exploração para evocar assim a satisfação e prazer nas crianças. E decorrente

de uma observação pormenorizada à área dos blocos, percebeu-se a

existência de poucos animais de

plástico e nenhuns marinhos.

Partindo desta observação, e como

já se tinha falado sobre os animais

da quinta e os selvagens, seria

interessante abordar os animais

marinhos. Assim, foi levado para a

sala o habitat desses mesmos

animais, criando-se um momento

de verdadeira exploração livre de

um aquário. Depois de poderem

tocar e observar livremente os animais dentro de água (figura 28) e já

52

Figura 26 - Exploração do tapete de texturas Figura 27 - Exploração do tapete de texturas

Figura 28 - Observação e exploração do aquário

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quando estavam mais calmos, passaram à exploração das imagens reais dos

animais em questão. Essas mesmas imagens foram devidamente plastificadas

e puderam ser coladas na página de um livro sobre os animais marinhos.

Depois da identificação de cada animal passaram à associação do

animal de plástico à imagem

real (figura 29). Neste momento,

percebia-se que não prestavam

atenção à associação do animal,

o que mais queriam era explorar

a água, tirando e colocando os

animais no aquário, vezes sem

conta e explorando-os até

mesmo com a boca. Isto

mostrou esta parte da atividade

teria de ser novamente realizada

no dia seguinte, pois a adesão foi

muito grande e a curiosidade aguçava-se cada vez mais. Nada mais justo do

que realizar novamente este momento de pura exploração. Já num momento

de pequeno-grupo passaram à elaboração de máscaras, com pratos de

plástico, sobre os animais que tinham estado a explorar.

Neste momento, eram

encantadoras as expressões de

satisfação quando pegavam no

pincel podendo pintar livremente

os pratos, com o instrumento de

desenho ou com as próprias mãos.

Depois de terminadas as máscaras

estas foram expostas no vidro do

dormitório e depois iriam fazer

parte da Área da Casinha, pois

neste espaço era percetível a falta

53

Figura 29 - Associação dos animais de plástico às imagens reais

Figura 30 – Máscaras dos animais aquáticos

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de objetos de faz-de-conta, e assim com estas máscaras (figura 30) poderiam

ter mais elementos para realizarem diversos jogos de simulação e brincadeira.

6.2.1. Avaliação da Intervenção Pedagógica em Creche

Depois de terem sido construídos e introduzidos, os materiais nas

respetivas áreas ia-se percebendo a sucessão de comentários, escolhas e

reações diferenciadas das crianças face às novidades. Percebia-se que nestas

idades as imagens funcionavam muito bem, pois é algo que lhes suscitava

atenção e curiosidade mostrando sempre a vontade de as explorar com as

próprias mãos e até outras partes do corpo como: a boca, os pés, etc. Por

vezes ao passear na sala paravam, observavam e manuseavam as imagens

presentes nos cartazes, nos livros, como se pode comprovar com as seguintes

fotografias (31 e 32) e episódios significativos:

54

J estava a passear pela sala quando olha para o cartaz da música “A quinta do tio Manel” e

decide parar. Começa a olhar atentamente para o cartaz e estica o braço para descolar uma parte

do cartaz. Depois de descolar a primeira vez essa mesma parte do cartaz, repetiu a ação

inúmeras vezes, até que decidiu parar com o que estava a fazer e dirigiu-se para a Área da

Cozinha.

Figura 31 - Observação de um cartaz

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Os restantes materiais eram utilizados também com bastante

frequência, nas horas de escolha livre, sendo igualmente exploradas com todas

as partes do corpo como é o exemplo: das máscaras, maracas e do tapete,

vejamos as seguintes imagens e episódios

significativos:

55

G: “Oia o ao ao …”

Estagiária: “Muito bem G, é o cão. Eu gosto

muito de cães e tu gostas G?”

G: “tim. O ao ao … quinta…”

Estagiária: “Pois é G ele vive na quinta mas

também podemos ter cães em casa. Tu tens

algum cão em casa?”

G: “Não e tu patitia?”

Estagiária: “Também não tenho G, mas gostava

muito.”

No tempo de atividades livres R decide

explorar uma maraca. Pega na maraca e

ouve um barulho. Repara que ao abanar o

objeto reproduz um som e decide repetir a

ação continuadamente. Mais tarde decide

parar de agitar a maraca e continua a

explorá-la com as mãos, passando-a de uma

mão para a outra, amaçando uma das

partes. De seguida decide explorar o objeto

levando-o à boca. Mais tarde torna a agitá-la

para ouvir o som que reproduz.

Figura 32 - Exploração do Livro "Animais da Quinta"

Figura 33 - Exploração de uma maraca

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Percebeu-se que todos os materiais introduzidos nas diversas áreas

suscitaram várias reações nas crianças, pois estavam presentes novidades que

lhes agradavam e que lhes suscitava interesse, tendo sido todos eles bastante

explorados e manipulados pelas crianças. Alguns desses mesmos materiais

foram utilizados pela educadora de sala em questão e também por outras da

instituição. A educadora da sala chegou a utilizar diversos materiais como o

cartaz dos animais da quinta para explorar as imagens e os sons dos animais.

A educadora da outra sala de um ano usou com o seu grupo: os cartazes das

músicas, dos animais e as maracas.

56

Enquanto estavam expostas as máscaras

que tinham sido construídas pelo grupo, e

durante o lanche a M decide olhar

atentamente para toda a exposição.

Figura 34 - Observação das máscaras no momento do lanche

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Capítulo 7 - Considerações Finais

A intervenção em creche e jardim-de-infância durante os longos e ao

mesmo tempo quatro curtos meses, serviu como mote para melhorar a

compreensão da importância da organização do espaço e dos respetivos

materiais para as crianças. No entanto percebeu-se também a importância das

relações entre o espaço e as pessoas envolventes do mesmo pois como refere

Zabalza “la idea de espacio alude, más que a los componentes aislados que lo

forman, a la particular relación que se estabelece entre ellos y com las

personas que lo frecuentan” (1996, p: 246).

Nesta linha de ideias e baseando-me no seguinte quadro estabelecido

por Zabalza, pude retirar algumas conclusões significativas que também

constatei no decorrer de todo o Projeto:

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ELEMENTOS CONDICIONANTES

DE LA ORGANIZACIÓN DEL

ESPACIO DEL AULA

PLANTEAMIENTO

S PEDAGÓGICOS

Modelo Educativo

PLANTIAMIENTOS

DIDÁCTICOS

Método

ELEMENTOS CONTEXTUALES

Macro contexto

Micro contexto

ELEMENTOS PERSONALES

Profesor/a

Alumnos/as

Figura 35- “Condicionantes de la organización de los espacios” – Zabalza (1996, pág: 248)

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Todos estes elementos do esquema acima referido condicionam o papel

do educador na organização dos espaços de ensino-aprendizagem.

Debruçando-me agora sobre os elementos contextuais, de facto, elementos

como: as condições climáticas, os espaços exteriores/anexos, os materiais, o

espaço da instituição, entre outros, são fatores condicionantes da organização

do ambiente educativo. Nos elementos contextuais destaca-se a importância

da presença de materiais naturais na sala de atividades, pois segundo Zabalza,

o equipamento do espaço com estes materiais “permitem enriquecer as

atividades e desenvolver tanto dentro como fora dela (sala de atividades)”

(1996, p:249). O espaço exterior também é outro dos aspetos relevantes na

atuação do educador. De facto, torna-se cada vez mais importante que nos

contextos de creche e jardim-de-infância seja incluído nas rotinas um momento

de recreio ou exploração exterior, porque segundo Hohmann & Weikart, este

momento é “essencial para o crescimento e desenvolvimento das crianças…”

(2011, p:212).

Relativamente ao micro contexto, e nomeadamente à sala e aos

materiais que a compõem percebeu-se que é essencial fornecer às crianças

uma grande diversidade de materiais que, segundo Zabalza, tenham a

capacidade de “estimular, “provocar”, um determinado tipo de atividades”

(1996, p:253).

A abordagem pedagógica está relacionada diretamente com o modelo

pedagógico adotado, que na minha opinião é importantíssimo, pois é com base

num modelo que o educador pode formar a sua ideologia educativa e é ele que

nos dá as devidas indicações para a organização dos espaços, dos materiais,

mas não só, também dá-nos indicações de como se pode organizar as rotinas,

a forma de interação com as crianças e os pais, entre outros aspetos

fundamentais. A meu ver o estudo do modelo adotado pela instituição onde

permaneci durante o estágio foi muito importante, pois com ele aprendi e retirei

ideias essenciais sobre a forma de agir com as crianças, com o espaço e os

materiais, entre outros fatores. O modelo pedagógico ofereceu-me diversos

conhecimentos que foram fundamentais para todo o desenvolvimento da minha

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prática e também para o resto da vida.

No que concerne aos Itens/Elementos pessoais, a atitude do educador

enquanto observador atento das crianças é fundamental, pois este deve

atender à diversidade das crianças de uma sala e com base nas suas

necessidades e interesses deve ser capaz de organizar todo o espaço para

que todas elas se sintam bem e pertencentes ao mesmo. No contexto onde

pude intervir, aprendi muito através da observação direta da ação das

educadoras sobre as crianças, os adultos, o espaço, os materiais e as

atividades. Por isso concordo plenamente com Hohmann & Weikart quando

referem que “os adultos são apoiantes do desenvolvimento” e são eles que

“tentam reconhecer os interesses e capacidades particulares das crianças,

oferecer-lhes apoio e colocar-lhes desafios” (2011, p: 27).

Partindo agora para uma reflexão mais ao nível pessoal, confesso que

antes de começar o estágio tinha certos medos: de como seria a minha entrada

e permanência na sala, se as crianças se iriam adaptar a mim, se seria capaz

de responder às necessidades delas e se iria conseguir implementar um

projeto com lógica e por isso com um fio condutor. Na verdade tudo isto me

fazia sentir nervosa e ansiosa. No entanto depois de conhecer o grupo de

jardim-de-infância, todas estas incertezas desapareceram.

Num primeiro contacto com a instituição fui muito bem recebida e

orientada, já na sala as crianças foram bastante afáveis conseguindo assim

criar, logo nas primeiras semanas, laços muito fortes. A sensação que tive foi

que, desde logo, iria criar ali ligações vigorosas e estavam reunidas as

condições para a realização de um projeto onde as crianças iriam ter o papel

principal. Quer nas brincadeiras como nas conversas sentia que, passo a

passo, estava a conhecer cada vez melhor o grupo. A observação, como já

referi anteriormente, foi um passo fundamental porque foi com ela que me

apercebi de vários fatores que na verdade revelaram-se fundamentais para a

implementação do projeto. A observação nunca teve um término, porque

durante todo o estágio estive bastante atenta e observadora.

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Antes de ter sido dado início à primeira atividade, voltaram os medos e

as incertezas, afinal será que iria correr bem? E se houvessem falhas? E se as

crianças não gostassem? Mas depois de implementada a primeira atividade

todos os medos se transformaram em alegrias e todas as incertezas em

certezas. Sentia-me realizada por ter levado a cabo uma atividade em que

percebia, de facto, a alegria que se fazia sentir entre as crianças, onde ouvia

comentários motivadores que só me davam vontade de pensar em mais

estratégias motivadoras para aquelas crianças que já faziam parte de mim. As

restantes atividades foram surgindo das observações e também dos desafios

que lhes ia colocando.

Na última atividade realizada em jardim-de-infância, já sentia a nostalgia

de ter que deixar para trás os “meus meninos” que me acompanharam e

ajudaram na longa caminhada. Nessa última implementação recebi um bom

feedback dos adultos participantes no contexto, pois como se tratava de uma

exposição, toda a comunidade escolar pôde ter acesso, desde crianças a

educadores, funcionários e pais. Esta foi a melhor forma que vi de terminar um

projeto tão enriquecedor para mim, porque com ele e com as crianças aprendi

bastante. Assim já acabada a minha permanência no jardim-de-infância,

deparei-me com alguns medos pois era tempo de transitar para uma sala com

crianças mais pequenas que necessitavam ainda de maior atenção e onde as

atividades deveriam ser pensadas com o maior cuidado para que funcionassem

bem com o grupo. Dediquei-me ao máximo para que todas elas fossem

significativas para o grupo de creche assim como foram para o de jardim-de-

infância.

Logo na primeira semana, deu para me adaptar à rotina da sala e estar a

par do que estavam a trabalhar assim como pude perceber também as grandes

evoluções ocorridas no desenvolvimento das crianças e no espaço. Fui muito

bem recebida e acolhida quer pela educadora como pela auxiliar da ação

educativa fazendo-me desde logo sentir parte integrante do grupo. Para mim foi

fundamental toda esta hospitalidade porque me fez sentir muito bem,

acontecendo o mesmo com as crianças, pois desde logo consegui criar laços

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com os verdadeiros companheiros de trabalho e carinho.

Na verdade, quando soube que iria estagiar em creche, formei a ideia

que as crianças pequenas não fazem nada, não falam e assim iria ser difícil de

realizar atividades, o que na realidade não foi constatado. A creche é o início

de formação do ser humano, pois esta etapa de educação não se resume a

alimentar, mudar fraldas e tomar conta como muitas pessoas referem, mas é

sim uma fase onde a criança tem o seu primeiro contacto com o mundo que a

rodeia, onde começa a construir-se como pessoa/ser humano.

Percebi que na creche, os principais momentos não eram o das

atividades planeadas, ainda que adequadas à faixa etária, mas sim as rotinas e

os tempos de atividades livres. Tal como é enunciado por Gabriela Portugal,

“as crianças muito pequenas não se desenvolvem muito bem em ambientes

escolarizados, onde realizam atividades em grupos, dirigidas por um adulto,

mas em contextos calorosos e atentos às suas necessidades individuais”

(2000, p:88).

Por isso concordo quando Bronfenbrenner refere que “os tempos por

excelência de aprendizagem das crianças mais pequenas ocorrem durante

interações didáticas entre o adulto e a criança, isto é durante os tempos de

cuidados à criança (1979, p:88). De facto eram nos tempos de higiene que

eram criadas inúmeras oportunidades de interação com a criança envolvendo

linguagem, carinhos e todo o tipo de atenção que deve ser dada à mesma. Ao

dar esta mesma atenção, quer neste tempo quer no tempo de brincadeira

estamos a contribuir para o bem-estar e desenvolvimento das crianças. Tal

como Magda Gerber defende, todo este tempo em que os educadores se

mostram disponíveis e presentes nas brincadeiras das crianças é chamado um

“tempo de qualidade” (1979, p:92). No entanto uma das dificuldades que senti

ocorreu exatamente nesse âmbito, pois por vezes apesar de tentar

acompanhar ao máximo todas as brincadeiras das crianças, acabava por de

forma não intencional, tornar-me diretiva. Em algumas interações que

estabelecia com o grupo tentava sempre perceber se sabiam as cores,

tamanhos, etc. Durante a minha permanência em creche, fui-me apercebendo

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deste aspeto e tentei mudá-lo. Agora olhando para trás percebo o quanto é

importante colocar a criança no meio dos brinquedos/materiais e deixá-la

explorar o espaço não intervindo nesse controle e exploração.

Outra das aprendizagens que construí foi nunca subestimar as crianças

relativamente às suas formas de comunicação. Foi a partir da ligação e

conhecimento (construído através da observação) que tive das crianças, que

consegui perceber o que elas desejavam comunicar-me, mesmo quando em

grande parte das vezes essa comunicação era feita por gestos/sinais.

Concordo com Gabriela Portugal quando refere que “a creche não deve ser

apenas um lugar seguro e limpo, com boa alimentação e ar fresco. Os bebés

devem aprender a expressar e compreender emoções, comunicar, aprender

coisas acerca dos outros, objetos e situações” (2000, p:104).

Relativamente ao espaço, nesta valência tive a oportunidade de atuar

ainda mais do que em jardim-de-infância, atendendo sempre às necessidades

da criança, onde tive sempre a ajuda dos adultos e a abertura que necessitava

por parte da educadora e da auxiliar da ação educativa, que sempre me

apoiaram em toda a prática. Com este clima de confiança, consegui enriquecer

algumas das áreas da sala com materiais estimulantes e desafiadores para as

crianças mais pequenas. Em cada atividade, senti um enorme envolvimento do

grupo, e acredito plenamente que todo o meu empenho nesta valência foi

reconhecido pelas crianças e adultos, que se evolveram em todos os sentidos

no projeto levado a cabo.

Olhando para trás, percebi que tudo se modificou, porque com base no

trabalho extenso e consistente que levei a cabo, percebi diferenças

significativas nas crianças e no seu envolvimento com o espaço. Essas

diferenças fizeram-se sentir nas suas atitudes e brincadeiras que

desempenhavam antes e depois do projeto. A sala ganhou outra dinâmica e

energia, pois sentia-se mais motivação e empolgação no momento de trabalho,

não existindo qualquer área vazia, pois todas elas se tornaram estimulantes,

interessantes e diversificadas para a exploração das crianças. Os materiais que

todo o grupo teve a oportunidade de construir, eram os mais escolhidos nas

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devidas áreas que incorporavam e percebia-se de facto a motivação na

exploração dos mesmos. Apesar da minha vontade de inovar e envolver ao

máximo as crianças, sinto que este projeto teve algumas limitações e lacunas.

Em jardim-de-infância apesar do tempo de permanência ter sido maior do que

em creche, sinto que se houvesse ainda mais tempo poderia ter feito mais

atividades de carater exploratório, pois percebi que o grupo aderiu muito bem à

exploração do exterior e dos respetivos materiais naturais. Penso que poderia

também envolver muito mais os pais e a comunidade escolar no projeto, pois

tive a prova de que todas estas pessoas se envolveram ativamente numa parte

do projeto e que por isso poderiam ter sido criadas tantas outras situações do

mesmo cariz. Se o tempo fosse alargado poderia ter em conta tantos outros

interesses das crianças e tentá-los assim conjugar no mesmo projeto. Já em

creche também existiram situações que me fizeram refletir e perceber que

poderia ter levado a cabo mais atividades de carater exploratório/sensório-

motor. A observação neste contexto foi diminuta o que se tivesse outra

oportunidade teria tentado colmatar.

Em jeito de conclusão, espero que toda esta experiência no estágio

nunca se apague da minha memória, pois acho que tal coisa também seria

impossível. Porque neste curto espaço de tempo construí aprendizagens,

vivenciei momentos que não se conseguem explicar e que foram sentidos

intensamente. No futuro tentarei ao máximo ser uma educadora atenta,

formada, capaz e acima de tudo desafiadora.

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