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FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO AMBIENTE AVALIAÇÃO X REPETÊNCIA E OS REFLEXOS DO SISTEMA EDUCACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DE ADOLESCENTES: UM ESTUDO REALIZADO COM ALUNOS DO INTERIOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS E DO INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Josefina Elvira Novaes Rêgo de Araújo Volta Redonda- RJ 2009

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FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E DO MEIO

AMBIENTE

AVALIAÇÃO X REPETÊNCIA E OS REFLEXOS DO SISTEMA EDU CACIONAL

NO DESENVOLVIMENTO DE ADOLESCENTES: UM ESTUDO REALI ZADO

COM ALUNOS DO INTERIOR DO ESTADO DE MINAS GERAIS E DO

INTERIOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Josefina Elvira Novaes Rêgo de Araújo

Volta Redonda- RJ

2009

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

CURSO DE MESTRADO PROFISSIONAL EM ENSINO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE E

DO MEIO AMBIENTE

AVALIAÇÃO ESCOLAR X REPETÊNCIA E OS REFLEXOS DO SIS TEMA

EDUCACIONAL NO DESENVOLVIMENTO DE ADOLESCENTES: UM ESTUDO

REALIZADO COM ALUNOS DO INTERIOR DO ESTADO DE MINA S GERAIS

E DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,

Josefina Elvira Novaes Rêgo de Araújo

Volta Redonda, RJ

2009

Trabalho apresentado ao curso de Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente do Centro Universitário de Volta Redonda sob a orientação do Prof. Dr. Fábio Aguiar Alves .

A659a Araújo, Josefina Elvira Novaes Rêgo de. Avaliação x repetência e os reflexos do sistema educacional no desenvolvimento de adolescentes: um estudo realizado com alunos do interior do estado de Minas Gerais e do interior do estado do Rio de Janeiro / Josefina Elvira Novaes Rêgo de Araújo. – Volta Redonda: UniFOA, 2009. 117 f.: il., gráfico. Dissertação (Mestrado) – Centro Universitário de Volta Redonda – UniFOA. Mestrado Profissional em Ensino em Ciências da Saúde e do Meio Ambiente, 2009.

1. Educação em saúde – avaliação – Rio de Janeiro.

Ao meu orientador Prof. Dr. Fábio Aguiar Alves

por sua delicadeza e atenção.

.

Ao meu marido e filhos que me incentivaram

em todos os momentos de desânimo.

Ao filho Guilherme por sua grande ajuda e paciência.

Minha homenagem especial ao querido Mestre Marcelo Genestra que esteve presente em

todos os momentos do meu caminhar no mestrado, dando apoio, orientando, e assistindo

todas as apresentações que fiz, sempre com uma palavra de admiração e carinho. Agradeço

por esta presença marcante de homem ético, gentil e extremamente competente na vida de

todos nós. Tenho certeza que estará assistindo mais uma vez a apresentação deste trabalho

de onde estiver. Meu agradecimento do fundo do coração.

“Comprometer-se com a desumanização é assumí-la

e, inexoravelmente, desumanizar-se também.”

(Freire, 1979, p. 19)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO----------------------------------------------------------------------------10

1. As formas de avaliação na realidade escolar-------------------------------------------14

1.1 Tipos de avaliação e sua aplicabilidade no cotidiano escolar------------------------17

1.2 A avaliação quantitativa e suas conseqüências----------------------------------------20

2. Repetência e evasão escolar no ensino brasileiro-------------------------------------22

2.1 O fracasso escolar visto como doença--------------------------------------------------24

2.2 O fracasso escolar um problema de nosso tempo-------------------------------------27

3. Fatores que influenciam uma boa escola-----------------------------------------------30

3.1 Avaliar para não excluir------------------------------------------------------------------31

4. Exercício de solidariedade e justiça----------------------------------------------------34

5. Algumas conseqüências da exclusão escolar precoce--------------------------------35

Objetivos-----------------------------------------------------------------------------------37

Metodologia------------------------------------------------------------------------------38

Resultados--------------------------------------------------------------------------------39

Discussão---------------------------------------------------------------------------------47

Conclusões-------------------------------------------------------------------------------52

Referências bibliográficas-------------------------------------------------------------54

Anexos-----------------------------------------------------------------------------------59

RESUMO

A presente dissertação tem como objetivo mostrar a importância da avaliação na

formação e na vida dos estudantes. É uma prática necessária no trabalho do professor, que

deve estar sempre presente no processo ensino aprendizagem. A avaliação é uma reflexão

sobre o nível de qualidade do trabalho escolar e é importante para que a educação cumpra

seu papel. O professor deve oportunizar ao aluno refletir sobre o mundo e levá-lo a

construção de um conhecimento necessário a formulação e reformulação de hipóteses.

O que vemos na avaliação hoje é que ela está a serviço do autoritarismo do professor

desde os primórdios da educação no lugar de estar em benefício da educação. Esta prática

está vinculada a metodologia e práticas educativas tradicionais ligadas a um modelo

político social amplo. Não podemos esquecer que a escola faz parte da sociedade.

Existe ainda uma grande contradição entre o discurso e a prática da maioria dos

professores que ainda usam a avaliação classificatória e autoritária. Esta prática pode ser

explicada em parte por um reflexo de sua história de vida como aluno, o professor

reproduz inconscientemente a arbitrariedade e o autoritarismo que recebeu e que a

sociedade impõe. Temos que dar um novo significado à avaliação desligando-a do passado.

O exemplo mais vivo dessa pedagogia autoritária está no ensino médio, mais

especificamente no último ano, onde os alunos são treinados a resolver provas voltadas

para o vestibular. No ensino fundamental, onde está nosso foco de estudo, o sistema de

ensino está preocupado com os índices de aprovação dos educandos, e os pais interessados

que seus filhos “passem de ano”. Os alunos estão sempre preocupados com a situação de

serem aprovados ou reprovados. Nossa pedagogia está mais voltada a provas e exames do

que para o ensino- aprendizagem.

O resultado desta pedagogia é a exclusão do aluno, apesar de haver esforço

governamental em incluí-lo na escola, ele acaba sendo excluído pela forma que é feita a

sua educação e sua avaliação.

Palavras-Chave: Avaliação – Exclusão – Saúde

ABSTRACT

The herein presented study has as main objective, to show the relevance of the evaluation

during the formation of a student. It is a needed practical within th actions for the teacher

work, being important in the learning process. The evaluation is a reflection of the quality

of the work performed by the school. The teacher should induce the interest of the student

about a reflection over the world and lead him to the knowledgement construction for

hypothesis formulation.

Since the begining of the education, the evaluation is related to authority by the

teacher, instead of being in benefit of education. This practice is associated to traditional

methodologies of education linked to a wide social-political model. We should not forget

that school is part of the society. There are still controversial between speech and practice.

Most of teachers still use authority and classifying evaluation. This practice can be

explained, in part, by a reflex of a story of a student life, the teacher reproduces

unconsciously the arbitrarily and authority received and that the society imposes. We need

to give a new meaning to evaluation, disconnecting it from the past. The live example of

this pedagogy is within the high school, more specifically in the last year, while the

students are trained to an examination (vestibular). For the fundamental school, where we

have the focus, the system is aware with approving index of students and the family and

students themselves, interested in not to fail. Our education is more directed to evaluation

than the learning.

The result of this pedagogy is the student exclusion, despite the efforts from the

government are to include them into school, and the student is excluded by the way the

evaluations actually are applied.

Key words: evaluation; exclusion and health.

INTRODUÇÃO

A democratização do ensino implica no acesso escolar e a permanência do

aluno até um nível de terminalidade. Segundo o INEP/MEC (2001), de cada 100

alunos que ingressam na primeira série do ensino fundamental apenas 59 chegam

ao final da 8ª série, os outros 41 alunos param de estudar no meio do caminho. No

ensino fundamental, 39% dos alunos têm idade superior à adequada para série

que cursam. Na quinta série do ensino fundamental (sexto ano escolar) e na

primeira série do ensino médio localizam-se os maiores índices de atraso escolar.

Nestas séries as distorções idade série são de 50% e 56% respectivamente. É

cada vez mais difícil manter os alunos na sala de aula principalmente a partir das 5

ª e 6ª séries, (6º e 7º ano escolar) dos cursos noturnos.

Manter os alunos na escola deve ser a responsabilidade de cada unidade de ensino

e principalmente de cada professor. Segundo Jussara Hoffman:

a continuidade da ação pedagógica tem por referência, assim, o

processo vivido pelos alunos, interesses, avanços e necessidades. A

intervenção pedagógica do professor será mais consistente e

significativa à medida que este se questionar constantemente, sobre os

alunos procurando ampliar e complementar seu entendimento sobre a

trajetória percorrida por cada um e por todo o grupo, ajustando suas

ações educativas à multiplicidade de referências que uma situação de

aprendizagem acarreta. (HOFFMAN- 2002, p. 108).

A avaliação de rendimentos, validade e relevância social da aprendizagem

são sem dúvida, qualidades importantes e deverão ser perseguidas pelo educador.

Este estudo é relevante porque mostra que o professor ainda utiliza apenas

tarefas escritas e individuais como provas e testes para dar nota ao aluno. Este tipo

de avaliação puramente quantitativa ainda é muito utilizado nas escolas. Por esta

razão estudos e pesquisas sobre a avaliação ainda carecem de maior

aprofundamento.

- 10 -

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9.394 de 1996,

estabelece que a avaliação deva ser contínua e priorizar a qualidade, isto é,

acompanhar o processo de aprendizagem ao longo do ano e não em uma prova ou

um só trabalho e é chamada de formativa pois se opõe à avaliação quantitativa ou

somativa.

A avaliação quantitativa ou somativa caracteriza-se por ser realizada ao final

de um programa com o objetivo de definir uma nota ou conceito, ou seja, dizer à

quantidade que o aluno aprendeu e ordená-los de acordo com esta nota obtida.

Serve também para concursos e vestibulares. A avaliação formativa ou qualitativa

deve ser usada no dia a dia do professor em sala de aula e serve como importante

instrumento para ajudar no ensino-aprendizagem. Deve também servir para

compreensão do estágio de aprendizagem em que o aluno se encontra levando em

consideração seu currículo oculto. A partir da avaliação diagnóstica o professor

tomará decisões que possam ajudar seu aluno a avançar na aprendizagem.

A avaliação centrada em provas, exames e notas usadas pelo professor e

sua definição por um ensino baseado em tarefas escritas individuais, por alunos

ouvintes na maioria do tempo, fará o limite de sua observação sobre a

aprendizagem do estudante. Esta prática desestimulará o aluno, fará com que ele

obtenha notas que o façam ficar retido na série em que está estudando. O grande

índice de abandono escolar no ensino fundamental no Brasil e conseqüentemente a

exclusão social do aluno são fatos que devem ser estudados. Desta forma, é

necessário buscar novas concepções de avaliação e o repensar das práticas

pedagógicas atuais. É necessário reconfigurar o cenário educativo e as relações

professor-aluno. Este é o grande desafio da escola atual. A importância deste estudo

reside na convicção de que mudar é possível. É fundamental respeitar os alunos

como seres de múltiplas inteligências que devem ser estimuladas, facilitando assim

seu pertencimento na escola e socialmente. Procurar descobrir porque a avaliação

pode se tornar um fator de exclusão social e se a repetência escolar está ligada à

forma com que o aluno é avaliado é a meta deste trabalho.

Espera-se com este estudo contribuir para a melhoria do ensino que deve

ser a proposta de cada professor, diminuindo assim a repetência e a exclusão

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escolar precoce. Foi feita uma pesquisa para buscar dados para o

entendimento do fenômeno do ponto de vista dos observados. O estudo busca este

entendimento, através de um questionário de 13 perguntas a 97 alunos de 5ª e 6ª

séries,( 6º e 7ºano escolar), acima de 14 anos do curso noturno da rede pública de

ensino de duas cidades do interior de Minas Gerais e do interior do Estado do Rio de

Janeiro. A pesquisa bibliográfica uniu conceitos teóricos acerca do tema discutido.

Para estes alunos repetentes e excluídos, (78,4% já repetiram alguma

série escolar) nos turnos noturnos, foram elaborados materiais dissemináveis em

forma de cartilhas educativas sobre prevenção de DSTs e AIDS e sobre como cuidar

de um recém-nato. Estudos apontam para uma maior incidência de DSTs entre

jovens com baixa escolaridade e maior índice de mortalidade infantil entre bebês

cujas mães têm baixo nível de escolaridade.

Este trabalho estuda as formas de avaliação na realidade escolar, os tipos

de avaliação existentes e as conseqüências da avaliação quantitativa. A seguir,

aborda a repetência e a evasão escolar no ensino brasileiro, e o fracasso escolar

visto como doença. O terceiro item trata da prática da avaliação na quinta e sexta

série do ensino fundamental e como avaliar para não excluir. Finalmente, trata dos

fatores que influenciam uma boa escola e estuda as conseqüências da exclusão

escolar precoce.

Este projeto foi elaborado baseado em vários autores e principalmente

calcado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), ou Lei número

9.394, aprovada em 1996, que determina em seu artigo 24 – inciso V: a avaliação

será contínua e cumulativa do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos

qualitativos sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de

eventuais provas finais.

Luckesi diz que “o erro no lugar de ser fonte de castigo deve ser fonte de

virtude” ( 2005. p 48).

HOFFMAN diz que “a intervenção pedagógica deve adaptar-se ao processo de

construção do aluno, com situações de ensino-aprendizagem concebidas para

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superar desafios, que possam ser enfrentados pelos alunos e que possam fazê-los

avançar sempre”. ( 2002, p. 105)

LUCKESI e HOFFMANN estão ligados por pensamentos comuns. FREIRE,

o mestre de todos foi o quem mais desejou e praticou a democratização do ensino:

“Ensinar exige querer bem aos educandos, ensinar exige disponibilidade para o

dialogo” (1996, p. 159). LUCKESI diz que é preciso desejar ensinar de certa forma é

preciso ter paixão nesta atividade. Diz também que a avaliação deve estar para além

do autoritarismo. (1994, p. 117). Como FREIRE diz: “Não há educação do medo.

Nada se pode temer da educação quando se ama” (1979, p.29).

LIBÂNEO “entre outros conceitos vemos na prática docente o uso da

avaliação como recompensa a bons alunos e punição aos indisciplinados e

desinteressados” (1994, p. 199).

MORIN diz: “O problema da compreensão tornou-se crucial para os

humanos. E por esse motivo, deve ser uma das finalidades da educação do futuro”

(1994, p. 93). Como FREIRE, o amor, a compreensão e o diálogo são também as

metas de MORIN. Tantos especialistas bons e esperançosos farão com que este

trabalho também possa contribuir mesmo de forma pequena para alguma melhoria

na educação e conseqüentemente para a sociedade em que vivemos

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1- AS FORMAS DE AVALIAÇÃO NA REALIDADE ESCOLAR.

A avaliação é uma prática necessária no trabalho do professor e deve estar

sempre presente no processo ensino aprendizagem como reflexão sobre o nível de

qualidade do trabalho escolar.

Segundo Jussara HOFFMANN, avaliar nesse novo paradigma é

dinamizar oportunidades de ação-reflexão, num acompanhamento

permanente do professor e este deve propiciar ao aluno em seu

processo de aprendizado, reflexões acerca do mundo, formando seres

críticos, libertários e participativos na construção de verdades formuladas

e reformuladas. (HOFFMANN, 2002, p.19).

A ação avaliativa está intimamente ligada á compreensão do processo de

cognição. O professor deve oportunizar ao aluno refletir sobre o mundo e levá-lo a

construção de um conhecimento necessário a formulação e reformulação de

hipóteses, não há começo nem fim nesta construção.

O que se vê hoje na avaliação é que ela está a serviço do autoritarismo do

professor desde os primórdios, no lugar de estar em benefício da educação. Esta

prática está vinculada a metodologias educativas tradicionais ligadas a um modelo

político social mais amplo. Não podemos esquecer que a escola faz parte da

sociedade. Como diz Paulo FREIRE: “a escola não é uma ilha de pureza no interior

da qual as contradições e antagonismos de classes não penetram” (1979.p.13).

Existe uma grande contradição entre o discurso do professor e sua

atitude na maioria das vezes classificatória e autoritária. Esta atitude

pode ser explicada em parte por um reflexo de sua história de vida como

aluno. O professor reproduz inconscientemente a arbitrariedade e

autoritarismo que recebeu e que a sociedade impõe. (HOFFMANN,

2002, p. 12).

Desmistificar esta prática dando um novo significado à avaliação,

desligando-a do passado se faz necessário. O exemplo mais vivo dessa pedagogia

autoritária está no ensino médio mais especificamente no último ano onde os alunos

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são treinados a resolver provas voltadas para o vestibular. No ensino

fundamental, onde está o foco deste estudo, o sistema de ensino está preocupado

com os índices de aprovação e reprovação dos educandos, e os pais interessados

que seus filhos 'passem de ano'. Os alunos estão sempre preocupados em serem

aprovados ou reprovados. Esta pedagogia está mais voltada para provas e exames

do que para o ensino aprendizagem.

Um professor que está procurando desenvolver crianças

inteligentes não pode se contentar com a simples formação de

automatismos, respostas emitidas que não tem nenhum sentido. Uma

aprendizagem compreensiva requer que o professor conheça o processo

de pensamento do aprendiz, apresente problemas que lhe pareçam

interessantes e para as quais ele possa oferecer respostas. “Isto significa

em outras palavras, que o professor precisa sondar a prontidão da

criança antes de planejar o ensino”. (GOULART, 1884, p.16)

Decisões políticas encaminham a questão no sentido de eliminar das

escolas o fenômeno da reprovação nas séries iniciais. Tais medidas procuram

minimizar o prejuízo social decorrente da concepção de avaliação como função

burocrática, punitiva e obstaculizante ao projeto de vida de nossas crianças e

adolescentes. (HOFFMANN, 2002, p. 16).

Com as exigências da LDB nº 9.394/96, a maioria dos regimentos

escolares estão introduzidos por textos que enunciam objetivos ou

propósitos de uma avaliação contínua, mas estabelecem normas

classificatórias e somativas, revelando a manutenção das práticas

tradicionais.(HOFFMANN, 2002, p. 23).

Outro uso autoritário da avaliação escolar é sua transformação em

mecanismo disciplinador de condutas sociais. É uma prática comum, no meio

escolar, utilizar o expediente de ameaçar os alunos com o poder e o veredicto da

avaliação, caso a “ordem social” da escola ou das salas de aula seja infringida. Uma

atitude de “indisciplina”, por vezes, é imediatamente castigada com um teste

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relâmpago, que poderá reduzir as possibilidades de aprovação de um aluno; ou às

vezes, os alunos são advertidos, que “se vierem ferir a ordem social da escola”

poderão sofrer conseqüências nos resultados da avaliação, a partir de testes mais

difíceis e outras coisas mais. “De instrumento de diagnóstico para o crescimento, a

avaliação passa a ser um instrumento que ameaça e disciplina os alunos pelo

medo”. (LUCKESI, 2005 p.40).

A título de lembrete, pode-se ainda recordar os expedientes de conceder

“ um ponto a mais” ou o de “ retirar um ponto” da nota ou conceito do

aluno. O arbítrio do professor aqui é total. Ele decide, olimpicamente,

sem critério prévio e sem relevância dos dados, conceder ou retirar

pontos. A competência aí é desconsiderada. Vale a gana autoritária do

professor. (LUCKESI, 2005, p. 41).

“No cotidiano escolar, a única decisão que se tem tomado sobre o aluno

tem sido de classificá-lo num determinado nível de aprendizagem, a partir de

menções, sejam elas em notações numéricas ou notações verbais”. (LUCKESI,

2005, p. 76).

Sara PAIN diz que “se não houver uma forma de avaliar o que os alunos

aprendem a escola vai fracassar”. (PAIN, 1993, p. 23).

A avaliação deve ser contínua, permitindo que o aluno reflita sobre o que

não aprendeu e refaça sua aprendizagem. Na maioria das escolas isto não

acontece, pois a avaliação é feita sempre no final do bimestre, priorizando a

aplicação de provas, e o uso de pontos por participação, excluindo alunos tímidos,

punindo assim os que, por alguma razão, não fazem parte do 'rol dos participantes'.

A recuperação daquilo que o aluno deixou de aprender deveria ser paralela

ao ensino, mas somente é feita no final do bimestre, onde apenas é aplicada uma

nova prova, não recuperando o que o aluno deixou de aprender. Aliada a esta

prática errônea de avaliação, existe o medo que o aluno sente ao fazer provas ou

testes como foi constatado em pesquisa feita entre noventa e sete alunos de 5ª e 6ª

séries do ensino fundamental, onde eles optaram por serem avaliados diariamente

durante as aulas. O aluno ao ser avaliado desta forma é na maioria das vezes

reprovado, pois dos noventa e oito alunos pesquisados, setenta e seis já foram

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retidos em alguma série do ensino fundamental, apesar disto, ainda sonham

conseguir chegar ao ensino médio.

O resultado desta pedagogia é a exclusão do aluno, apesar do esforço

governamental em incluí-lo dentro da escola, ele acaba sendo excluído pela forma

como é feita sua educação e avaliação.

Um educador, que se preocupe com que sua prática educacional esteja

voltada para transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Cada

passo de sua ação deverá ser marcada por uma decisão clara e explícita do que

está fazendo e para onde está encaminhando os resultados de sua ação. A

avaliação, neste contexto, não poderá ser uma ação mecânica. Ao contrário, terá de

ser uma atividade racionalmente definida, dentro de um encaminhamento político e

decisório a favor da competência de todos para a participação democrática da vida

social (LUCKESI, 2002, p. 46)

1.1 Tipos de Avaliação e sua Aplicabilidade no Coti diano Escolar

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96),

estabelece que a avaliação deva ser contínua, priorizar a qualidade, isto é,

acompanhar o processo de aprendizagem ao longo do ano e não em uma prova ou

um só trabalho. Esta avaliação que prioriza a qualidade é chamada de formativa e

se opõe à avaliação quantitativa ou somativa (classificatória). A avaliação deve

também ser diagnóstica e será estudada em primeiro lugar.

A avaliação diagnóstica como o próprio nome diz serve para que o

professor faça uma avaliação prévia do estágio de conhecimento que o aluno tem

sobre determinado assunto. Isto significa que a avaliação deverá ser vista e

assumida como um instrumento de entendimento da aprendizagem em que o aluno

se encontra, para tomar decisões que o levem a avançar de forma satisfatória. O

papel do professor é compreender este estágio de aprendizagem do aluno e que

avance com ele em busca de conhecimentos necessários a formulação de novas

hipóteses. “Professor e aluno buscando coordenar seus pontos de vista, trocando

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idéias, reorganizando-as” (HOFFMANN, 2002, p.63). Quando determinado

conhecimento ou habilidade é essencial na aprendizagem do aluno, ele deverá

adquiri-la, pois faz parte do acúmulo de conquistas da humanidade e não poderá

ser negada a ele para que esta avaliação seja realmente inclusiva. Sendo assim, a

avaliação não seria apenas um instrumento de aprovação e reprovação dos

alunos, mas sim, uma forma de diagnosticar a sua situação, tendo em vista um

encaminhamento adequado para sua aprendizagem. Se um aluno encontra-se

defasado em certo nível de conhecimento não há que pura e simplesmente,

reprová-lo e mantê-lo nesta situação.

Para que a avaliação diagnóstica seja possível, é preciso compreendê-la e

realizá-la comprometida com uma concepção pedagógica histórico-crítica. A

avaliação diagnóstica não se propõe e nem existe de uma forma solta e isolada. É

condição de sua existência a articulação com uma concepção pedagógica

progressista (LUCKESI, 2002, p.82).

A avaliação formativa ou qualitativa está intimamente ligada a uma

aprendizagem que tenha perspectiva crítica, que leve o aluno a apropriar-se do

conhecimento de forma contextualizada e não de forma isolada do meio em que

vive. Deve ser “promotora de uma democracia participativa, exigida para fazer face

aos novos problemas que desafiam a escola de massas numa época de

globalização”.(STOER,1992, p.74). Esta forma de propor a avaliação faz com que

ela seja um instrumento auxiliar na aprendizagem e não um instrumento de

aprovação ou reprovação. Por esta razão, a avaliação formativa está

comprometida com uma proposta pedagógica que deve vir junto a uma auto-

compreensão do professor do sistema de ensino em que está inserido. “A primeira

condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz

de agir e refletir” (FREIRE, 1979, p.16).

A avaliação formativa deve ser variada e constante. Da análise diária do

professor dos trabalhos dos alunos surgem maneiras de fazer com que todos

aprendam. Podemos então, dizer, que a avaliação escolar é um componente do

processo de ensino que visa através da qualificação dos resultados obtidos em

provas, testes, trabalhos em aula, trabalhos em grupo, observação do aluno e

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outras atividades, verificar a correspondência destes resultados com os objetivos

propostos e daí orientar as decisões em relação às atividades seguintes.

“Nos diversos momentos do processo, fazem parte da avaliação: a verificação,

qualificação, e a apreciação qualitativa ”(LIBÂNEO, 1994, p. 196).

Verificação é a coleta de dados sobre o aproveitamento dos alunos através

de provas, exercícios, tarefas individuais e em grupo, entrevistas e outras

atividades.

Qualificação é a comprovação dos resultados alcançados em relação aos

objetivos propostos e, conforme o caso atribuição de notas e conceitos.

Apreciação qualitativa é a avaliação propriamente dita dos resultados,

referindo-se aos padrões de desempenho esperados.

Ao se comprovar sistematicamente os resultados do processo ensino-

aprendizagem evidencia-se a necessidade ou não do professor, reavaliar o seu

trabalho junto aos alunos e o trabalho dos alunos, para tomar iniciativa no sentido

de refazer quando necessário, o processo, para que a aprendizagem exista

realmente. Com isto, o professor levará o aluno a ter uma atitude responsável em

relação aos estudos assumindo-o como um dever social, além de contribuir para

assimilação e fixação de conteúdos. A correção dos erros cometidos feitos de

forma conjunta possibilita o aprimoramento, ampliação de conhecimentos e

habilidades de forma democrática e ética, desenvolvendo as capacidades

cognitivas dos alunos.

A avaliação quantitativa ou somativa é aquela que se limita a ter uma

função de controle, mediante a qual se faz uma classificação quantitativa dos

alunos relativa às notas que obtiveram nas provas. “Os professores não têm

conseguido usar os procedimentos de avaliação, que sem dúvida, implicam o

levantamento de dados por meio de testes, trabalhos escritos, etc. - para atender a

sua função educativa” (LIBÂNEO, 1994, p. 198).

- 19 -

1.2- A avaliação Quantitativa e suas Consequências

A prática da avaliação na maioria das escolas tem sido quantitativa e

classificatória, utilizando as notas obtidas pelos alunos em testes e provas. O

professor reduz a avaliação à cobrança do que o aluno memoriza e usa a nota

como instrumento de controle. Ainda hoje o poder de aprovar ou reprovar o aluno

agrada o professor que faz disso sua prática diária. Ouvimos dizer que em tal

escola o ensino é muito 'puxado', poucos alunos conseguem aprovação, como se

isto fosse normal. Estas atitudes ignoram a complexidade de fatores que envolvem

o ensino. Ao fixarem critérios unilaterais, o professor avalia os alunos pelo seu

mérito individual, pela sua capacidade de se ajustar aos seus objetivos, ignorando

fatores externos e internos que interferem no rendimento escolar.

Pedagogicamente a atenção é centrada nos exames, o que não auxilia na

aprendizagem. Psicologicamente, é útil para desenvolver personalidades

submissas. Usa a recompensa aos bons alunos, como pontos extras, e pune aos

desinteressados indisciplinados como arma de intimação, tirando pontos. Aplicam

provas quando a turma está indisciplinada para mostrar poder e vingar-se.

Sociologicamente esta forma de avaliar é útil para os processos de seletividade

social. Se os procedimentos de avaliação estivessem articulados ao processo de

ensino-aprendizagem não haveria possibilidade de dispor-se deles como se bem

entende. Estariam ligados a procedimentos de ensino e não conduziriam ao

arbítrio. Neste caso a avaliação está mais articulada à reprovação do que com a

aprovação auxiliando a seletividade social, que já existe independente dela. Esta

prática, aparentemente ingênua e inconsciente, hoje se realiza dentro de um

modelo teórico de compreensão que pressupõe a educação como mecanismo de

conservação e reprodução da sociedade.

A avaliação classificatória não auxilia em nada o crescimento e o avanço

do aluno. Somente com uma função diagnóstica e formativa ela servirá a este

objetivo. É necessário modificar as práticas rotineiras e automatizadas a partir de

uma tomada de consciência coletiva do significado desta prática.

- 20 -

Para PERRENOUD, é preciso cada vez mais o trabalho em equipe e a

cooperação entre colegas que ensinam em outros níveis.

O verdadeiro desafio é o domínio da totalidade da formação de um ciclo

de aprendizagem, e se possível, da escolaridade básica, não tanto para

ser capaz de ensinar indiferentemente em qualquer nível ou ciclo, mas

para inscreverem-se cada aprendizagem em uma continuidade em longo

prazo, cuja lógica primordial é contribuir para construção das

competências usadas ao final do ciclo ou da formação.

(PERRENOUD, 2000, p.46)

A recuperação é usada após a prática da avaliação quantitativa aplicando-

se testes que já foram feitos, oportunizando trabalhos sobre temas já estudados

para a recuperação das notas. Várias escolas estipulam semana de recuperação

em seus calendários com liberação dos alunos já aprovados no período. A

dificuldade da escola como um todo e dos professores de instituírem a verdadeira

recuperação que é chamada de paralela por ser feita durante o processo ensino-

aprendizagem é muito grande. O professor que trabalha com turmas numerosas,

neste caso, é por não saber como parar e voltar a explicar a alguns que não

acompanham a aprendizagem enquanto os outros esperam. É mais prático para a

escola e seus professores fazerem uma recuperação no final do bimestre, mesmo

sabendo que seu efeito é fictício. Como diz LUCKESI, Cipriano:

o médico receita o remédio e o paciente fica curado. O aluno não se

recupera nunca, pois, a sua nota é somada e dividida com a que havia

tirado antes da prova de recuperação. Portanto, até mesmo a nota do

aluno de recuperação é sempre duvidosa e relativa. Isso tudo sem falar

na aprendizagem que fica sempre defasada. (LUCKESI, 2005, p.77)

O ato de avaliar exige a entrega do professor à construção satisfatória da

experiência, deve ser integrativo e inclusivo. Para que isso aconteça, deve-se

separar avaliação de julgamento e vê-la como um diagnóstico que tem por objetivo

a inclusão e não a exclusão, elevando sempre em conta o que diz FREIRE:

- 21 -

“ensinar exige compreender que a educação é uma forma de intervenção no

mundo.”

( FREIRE, 1997, p. 110)

2- REPETÊNCIA E EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO BRASILEI RO

O Brasil não está conseguindo vencer, no ritmo desejado, o combate

contra o que é considerado por muitos educadores o maior mal de nossa

educação: a repetência. Dados recém tabulados pelo Ministério da Educação por

meio do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) mostram

que um em cada estudante do ensino fundamental e médio repetiu em 2002, a

mesma série cursada em 2001. Dados recentes indicam que houve uma queda

após três anos. Na passagem de 1998 para 1999, o índice estava em 21,7% e em

2001 e 2002 recuou para 20%. Em números absolutos, forma 7 milhões de alunos

que não conseguiram avançar para a fase seguinte. Apesar da queda no último

ano, as taxas do ensino fundamental ainda podem ser consideradas absurdas se

comparadas a índices internacionais. Um relatório da Unesco divulgado em 2006

mostrou que o percentual de reprovados no Brasil se assemelhava ao de nações

muito pobres, como Moçambique, e era superior inclusive ao de outras bem menos

desenvolvidas, como Camboja, Haiti ou Ruanda.

Além de ser prejudicial ao aluno a repetência no Brasil tem também um

alto custo para o governo. Se o estudante leva 10 anos em vez de 8 anos para

completar o ensino fundamental o poder público terá de investir 25% a mais nesse

aluno para que ele consiga atingir o nível de ensino desejado. O MEC estima em 7

bilhões o gasto anual com repetência no ensino fundamental. Esse valor leva em

conta o número de estudantes com mais de 14 anos, idade esperada para a

conclusão do ensino fundamental que ainda estão neste nível de ensino. (

INEP/MEC) As altas taxas de repetência no Brasil ainda poderiam ser justificadas

se os jovens chegassem ao final do ensino médio com um bom nível de ensino.

Mas as avaliações internacionais mostram que isto não acontece de fato. Estamos

nos últimos lugares no PISA ( sigla em Inglês para Programa Internacional de

- 22 -

Avaliação de Alunos). Para a secretária do ensino infantil e fundamental do MEC

Maria José Féres:

“apesar desses índices altos de repetência, o SAEB (exame do MEC que avalia a

qualidade do ensino) mostra que 59% das crianças na 4ª série não sabem ler e

52% ainda não sabem fazer operações matemáticas simples”.(2006, p. 21)

O modelo de avaliação escolar vigente no país não apenas reprova, mas

faz um número significativo de crianças em idade própria não querer estudar,

porque não reconhece na escola espaço para desenvolver sua capacidade de

aprendizagem. Conhecer esta realidade deve ser o ponto de parida para adequar a

prática pedagógica ao aluno nela inserido, e não como vem sendo feito, usar este

conhecimento como motivo para eximir a escola de seu papel na produção do

fracasso escolar.

Será necessário definir o fracasso escolar? Ao ser pronunciada a

palavra, não deixa ninguém indiferente; todos repassam uma a uma,

suas lembranças, felizes ou infelizes, em que se misturam desgostos,

nostalgia... às vezes rancor. Existem aqueles cujo fracasso escolar não

impedir que fossem bem sucedidos na vida e que se vangloriam disso;

há os que jamais se refizeram dele; e os que felizmente em maior

número, nunca o conheceram. Está em situação de fracasso escolar a

criança que não 'acompanha' pois na escola, é preciso acompanhar:

primeiro o programa que diz o que é necessário aprender, em que

ordem, em quanto tempo; depois, acompanhar sua turma, não se

distanciar do rebanho (CORDIÉ, 1996, p.11)

Os primeiros passos para resolver o problema do fracasso escolar e da

evasão é o professor conhecer bem os alunos e saber quais as suas

necessidades. Muitas vezes, o professor esquece que seu trabalho é feito para o

aluno e se prende a conteúdos e atividades repetitivas transformando a sala de

aula em local de tortura. A partir do momento em que o professor sabe quem é seu

aluno, ele passa a utilizar a realidade do mesmo para se aproximar dele buscando

alternativas que despertem a vontade de permanecer na escola, descobrindo

aplicação na sua vida prática daquilo que a escola oferece.

- 23 -

2.1 O Fracasso Escolar Visto Como Doença

“Essencial é respeitar a criança para acabar com essa escola em que os

professores reprovam alunos e saem de férias.” (LIMA, Lauro de Oliveira. 1996,

p.12)

A exclusão no dia a dia da sala de aula tem sido uma constante na história

de nossas escolas. A exclusão dos alunos que apresentam uma dificuldade de

aprendizagem vem sendo praticada desde o século passado. Ao longo dos anos,

alunos são condenados ao fracasso, justamente aqueles que mais precisam

aprender. É uma longa história de culpa como vemos a seguir: no século XIX e

início do século XX, a dificuldade de aprendizagem é taxada como anomalia

fisiológica. O comportamento humano é objeto de estudos em laboratório com o

desenvolvimento das ciências médicas e biológicas, sobretudo a psiquiatria. Na

década de trinta o médico Arthur Ramos atribui o fracasso escolar a desajustes

familiares. O aluno com dificuldades passa a ser chamado de criança-problema e o

médico propõe que ela seja educada longe de casa. Na década de sessenta as

causas do insucesso ainda são atribuídas somente a fatores orgânicos e

psicológicos. Quem tem dificuldade de aprendizagem continua a ser encaminhado

ao médico e psicólogo. Na década de setenta estudiosos afirmam que as

dificuldades de aprendizagem advêm das péssimas condições de vida da criança.

É a teoria da privação cultural. Surge a tendência de questionar a responsabilidade

da escola. Em 80 e 90, pesquisas e trabalhos concluem que o erro não está na

criança, mas na escola e professores que estão despreparados para lidar com a

realidade de seus alunos. Para a psicopedagoga MANTOVANINI, Maria Cristina

Labate “quando o professor retoma sua potência e assume seu papel, ele não

exclui nenhum aluno”(2000,p. 21). Após estudar durante um ano os critérios

utilizados por uma escola da periferia de São Paulo para classificar os alunos em

bons e maus, MANTOVANINI conclui:

- 24 -

“são os educadores que discriminam os 'problemáticos' isolam-nos num canto da

classe e não os chamam ao quadro negro. O pior é que as crianças assumem

integralmente o julgamento de fracassadas e passam a acreditar que são de fato

incapazes”(2000, p. 22)

O trabalho de MANTOVANINI revelou que os dois grupos e dos 'bons' e dos 'maus'

tinham a mesma capacidade intelectual. A diferença era gritante, no entanto, no que

diz respeito à auto-estima:

O professor idealiza o estudante que não existe, sem problemas

familiares, é como se, ao se dar conta de que é impossível trazer de

volta o pai que partiu ou tornar a mãe mais presente na vida do filho, o

educador assina uma sentença definitiva: 'esse não tem jeito'.

Professores de escolas públicas e particulares excluem, de forma

inconsciente e indiscriminada, toda vez que não se sentem valorizadas.

(Nova Escola, 2000, p.22)

É necessário que o professor deixe de agir com preconceito evitando

julgamentos prematuros, afastando-se de idéias estereotipadas, como por

exemplo: “ele é preguiçoso porque é de tal estado do país, de tal religião, de tal

etnia, de tal raça, pobre etc”.Neste momento, é fundamental considerar como

premissa básica, o direito do outro de ser incluído no mundo do aprender e realizar

um trabalho pautado na crença das possibilidades infinitas de transformações do

ser humano, sem limitar suas ambições e sem classificá-lo em categorias

estanques e imutáveis. “E necessário darmos oportunidade para que os educandos

sejam eles mesmos. Caso contrário, domesticamos o que significa a negação da

educação. Um educador que restringe os educadores a um plano pessoal impede-

os de criar”. (FREIRE, 1979, p. 33)

Para que uma aprendizagem ocorra, deve ser significativa,o que exige que

seja vista como a compreensão de significados, relacionando-se às experiências

anteriores e vivências pessoais dos alunos, permitindo a formulação de problemas

de algum modo desafiantes, que incentivem o aprender mais, o estabelecimento

de diferentes tipos de relações entre fatos, objetos, acontecimentos, noções e

- 25 -

conceitos, desencadeando modificações de comportamentos e contribuindo para a

utilização do que é aprendido em diferentes situações.

Falar em aprendizagem significativa é assumir que aprender possui um

caráter dinâmico que exige ações de ensino, direcionadas para que os alunos

aprofundem e ampliem os significados elaborados mediante suas participações

nas atividades de ensino-aprendizagem. Nessa concepção, o ensino é um conjunto

de atividades sistemáticas, cuidadosamente planejadas, em torno das quais,

conteúdo e forma articulam-se inevitavelmente e nas quais o professor e o aluno

compartilham parcelas cada vez maiores de significados com relação aos

conteúdos do currículo escolar. O professor guia ações para que o aluno participe

de tarefas e atividades que o façam se aproximar cada vez mais dos conteúdos

que a escola tem para lhe ensinar. Uma aprendizagem significativa está

relacionada à possibilidade dos alunos aprenderem por múltiplos caminhos e

formas de inteligências, permitindo aos estudantes usar diversos meios e modos

de expressão. De fato, se analisarmos os princípios da aprendizagem significativa

já não parece ter lugar a concepção dominante de inteligência única, que possa ser

quantificada e que sirva como padrão de comparação entre pessoas diferentes,

para apontar suas desigualdades

A aula deve ser um fórum de debate e negociação de concepções e

representações da realidade, um espaço de conhecimento compartilhado no qual

os alunos sejam vistos como indivíduos capazes de construir, modificar e integrar

idéias. Funciona como oportunidade de interagir com outras pessoas, com objetos

e situações que exijam envolvimento, dispondo de tempo para pensar e refletir

acerca de seus procedimentos, de suas aprendizagens, dos problemas que têm

que superar. É inegável a importância da intervenção e mediação do professor e a

troca com os pares para que cada um vá realizando tarefas e resolvendo

problemas, que criem condições para desenvolverem competências e

conhecimentos.

- 26 -

2.2. Fracasso Escolar – Um Problema Do Nosso Tempo

Cada época produz suas patologias. Houve a peste e o cólera, e

mais próximos de nós a tuberculose e a sífilis. Se os antibióticos deram

conta dessas doenças, se as vacinações extinguiram muitas epidemias,

outros males, no entanto, apareceram, fazendo fracassar o médico, tal

como a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), que vem nos

lembrar os limites da medicina e o triunfo derradeiro da morte (CORDIÉ,

1996, p.15)

Assim como a medicina busca nova alternativa a cada patologia que

emerge, o professor também deve encarar o fracasso escolar como um desafio,

uma patologia que pode ser curada e extinta das salas de aula.

O fracasso escolar é um problema recente. Com a instauração da

escolaridade obrigatória no fim do século XIX e tomou um lugar considerável nas

preocupações de nossos contemporâneos em conseqüência de uma mudança

radical da sociedade (CORDIÉ, 1996, p. 17) e é a partir dos anos sessenta que

esse problema mais se manifesta. Foi a partir daí que se começou a exigir que as

escolas, por razões econômicas e igualitárias, encontrassem formas de garantir o

sucesso escolar de todos os seus alunos. A culpa do seu insucesso escolar

passou a ser assumida como um fracasso de toda comunidade escolar.

Muitas vacinas anti - fracasso escolar têm sido aplicadas em massa, mas

os resultados ainda são lentos. Esse mal é, antes de tudo, um problema social

complexo, cuja solução requer decisões políticas importantes e atuações de muitos

membros e instituições da sociedade.

Grande parte dos alunos, confrontados com situações avaliativas,

especialmente frente às atividades escritas podem ser influenciados pelas atitudes

apresentadas pelo professor, muitas vezes, chegam à sala de aula com toda sorte

de traumas e medos, pelas mais diversas situações familiares e ou de experiências

negativas absorvidas por fracassos em anos anteriores. Cabe ao professor levar o

aluno a superar seus medos e enfrentar as situações surgidas com confiança,

- 27 -

evitando que este aluno corra o risco de ser um excluído do saber escolar e um

excluído da sociedade tornando-se um doente social.

Para SOARES “A escola transforma a cultura e a linguagem dos grupos

dominantes em “saber escolar legítimo e impõe tal saber aos grupos

dominados”(1993, P.54). Uma das principais causas do fracasso escolar é o

conflito que há entre a linguagem utilizada pela escola e a que o aluno traz de casa

e das ruas. O aluno se sente constrangido por não compreender a linguagem

escolar e mais ainda por não saber como utilizá-la. Segundo Bourdieu, “funciona

como um mercado lingüístico onde se constrói a legitimação da língua oficial, que

sendo obrigatória em espaços oficiais, como a escola, torna-se norma teórica pela

qual todas as práticas lingüísticas são objetivamente medidas”(1996, p.32). É

importante que a escola se interesse e utilize aquilo que a criança já sabe, já

conhece e necessita ter valorizado. As pessoas muitas vezes aplicam no seu

cotidiano, saberes que deveriam ser transmitidos pela escola, mas que na verdade,

o mundo ensina. É preciso saber desenvolver a leitura de mundo dos alunos e

tornar mais práticos os conteúdos escolares.

Muitas vezes os alunos não sabem a aplicação dos fundamentos

ensinados na escola. Os alunos então vão perdendo a motivação e se sentindo

realmente incapazes de aprender e vão se resignando com o fracasso. Surgem

então as reprovações e o abandono à escola.

Desse modo, poucas são as alternativas para essa grande maioria que se

vê excluída da escola, que acabam por se convencer de que fracassaram porque

são menos capazes. E guardam da escola, apenas a lembranças de um lugar de

onde fizeram de tudo para se livrar.

O fracasso escolar comumente é atribuído a criança, que na verdade é a

vítima, e a sua família, mas não se deve deixar de atribuir à escola a sua parcela

de responsabilidade pelo fracasso escolar. Existe uma preocupação central entre

os professores em exercer controle e contenção da conduta dos alunos.

A avaliação da aprendizagem é predominantemente realizada utilizando-se

provas escritas, por isso as reprovações sucessivas que dão lugar a grandes

- 28 -

desníveis entre a idade cronológica do aluno e o nível escolar levam a evasão e ao

fracasso.

Há uma expectativa dos professores quanto ao aluno ideal o que o afasta

completamente da realidade, e consideram o aluno como o principal responsável

pelo seu fracasso escolar. A relação entre a escola e a família é fragmentada e

pouco cooperativa.

Sem dúvida, as dificuldades que o aluno tem na vida interferem no

desempenho escolar, mas a escola deve se adaptar às suas necessidades,

compensando os efeitos da dificuldade em que vivem, levando em conta o trabalho

da criança, suas experiências, suas linguagens. Da forma como a escola está

organizada o fracasso é inevitável, tratar da mesma maneira alunos que se

encontram em situação desigual, afirmando que todos têm a mesma possibilidade

de aprender o que a escola ensina, significa não apenas manter a desigualdade,

mas até aumentá-la. Logo depois do aluno, a família, e a condição social, terem

sido apontadas como culpadas pela reprovação e insucesso, descobriu-se que o

nó estava principalmente na escola e na incapacidade dos sistemas de atender as

diferentes necessidades de aprendizagem. O sistema optou então para as classes

de aceleração. Consiste em reunir em uma mesma turma, durante um ano,

estudantes em defasagem e aplicar um programa para os alunos reconquistarem a

confiança em sua capacidade de aprender. As redes que reduziram a distorção

investiram na capacitação de toda equipe pedagógica, conseguindo o

compromisso de todos no sucesso escolar.

- 29 -

3 - FATORES QUE INFLUENCIAM UMA BOA ESCOLA

Uma boa escola é aquela que permite a entrada do aluno e sua

permanência nela até ao seu nível de terminalidade. A escola é uma instituição

fundamental para promover a igualdade, proporcionar o desenvolvimento de

saberes básicos, contribuindo para a inclusão social e econômica do cidadão,

independente de sua origem social, promovendo o aprendizado de qualidade para

todos. É preciso implementar políticas públicas que impactem o cotidiano da

escola, onde o aprendizado efetivamente aconteça.

“Uma prática educativa centrada no educando, torna-o como centro de

atenção e ponto de partida para toda e qualquer decisão que se venha tomar

pedagogicamente.”(LUCKESI, 2006)

O clima da sala de aula deve promover o aprendizado, os alunos devem

ser conduzidos a um bom relacionamento coletivo, produtivo e prazeroso. Os

professores devem acreditar em seus alunos (a boa expectativa do aprendizado do

aluno influencia diretamente sobre os seus resultados). A escola deve ter um

projeto pedagógico feito coletivamente e direcionado para as evoluções da escola

e para a sua integração com a comunidade. O professor precisa dominar o

conteúdo de sua disciplina e estar aberto para interagir com a coletividade. Sua

remuneração deve ser condizente para que possa viver com dignidade, comprar

livros e poder reciclar seus conhecimentos.

As instalações da escola devem ser dignas, com biblioteca e materiais

pedagógicos adequados. A direção precisa ter qualificação especifica para gestão

escolar e qualidades pessoais de liderança para bem acompanhar todo corpo

docente e discente.

A reprovação e o abandono escolar são fatores que interferem na

aprendizagem, segundo o SAEB (2005) os alunos que nunca foram reprovados se

saem melhor quando avaliados do que aqueles que já foram reprovados ou

abandonaram a escola por mais de uma vez. O atraso escolar, conseqüência da

reprovação e do abandono são fatores de baixo desempenho nas avaliações.

- 30 -

São muitos os fatores que influenciam para se obter uma boa escola, onde

a inclusão é sua meta. Algumas estão citadas aqui, mas outras mais poderiam ser

estudadas e utilizadas para que houvesse uma mudança mais significativa na

educação do país.

3.1 Avaliar Para Não Excluir

“O que meu aluno compreende? Porque não compreende? ” (Hoffmann,

2002, p.61) Estas perguntas fornecerão suporte para que o professor auxilie o

educando no seu crescimento, ajudando-o na apropriação de conteúdos

significativos e no seu processo de crescimento como pessoa e cidadão,

articulando-o com o coletivo, porque a escola tem uma grande responsabilidade

social.

A avaliação da aprendizagem neste contexto é um ato amoroso, na

medida em que inclui o educando no seu curso de aprendizagem, cada

vez com qualidade mais satisfatória, assim como na medida em que o

inclui entre os bem sucedidos, devido ao fato de que esse sucesso foi

construído ao longo do processo de ensino aprendizagem o sucesso não

vem de graça..(LUCKESI, 2005,p. 175)

Desta forma, a avaliação deve ter como objetivo, averiguar o rendimento

do aluno certificar-se de que o conteúdo foi aprendido, corrigir possíveis distorções

ou deficiências no processo de ensino-aprendizagem. Estas têm sido as

justificativas, comumente apresentadas, para a aplicação de testes e provas nas

diversas instituições de ensino. Dificilmente nos deparamos com uma reflexão

profunda acerca dos objetivos da avaliação, todavia a incerteza dos instrumentos

adequados que reflitam com clareza o desenvolvimento do aluno é um nó difícil de

desatar no laço que amarra a avaliação ao processo de aprendizagem.

O pior é ao aluno o que realmente acaba interessando é a nota, com isso

ele acaba estudando para 'ser promovido'. Procura já de início saber quais os

mecanismos da nota para tentar obtê-la mais facilmente e se enquadra nos

- 31 -

padrões de sucesso de ser um 'bom aluno'. Segundo LUCKESI (1994, p. 23) “as

notas são operadas como se nada tivessem a ver com a aprendizagem”.

Como reduzir conhecimentos transmitidos de meses em uma simples folha

de papel? A prova em si não mostra o quanto o aluno aprendeu. Não mostra se o

aluno tem condições de fazer relações do que ele aprendeu com outras matérias

ou até com a própria vida. A prova não possibilita ao professor um conhecimento

mais individual do seu aluno. Não permite ao professor respeitá-lo de maneira

correta. Respeitá-lo no sentido de lembrar que embora esteja lidando com uma

turma, essa turma não é homogênea. A heterogeneidade dos alunos não pode ser

negada. Conforme já dissemos, cada um tem um modo de aprender. Uns mais

lentos outros mais rápidos. Esse é o ponto chave da questão. Entender de que

maneira o aluno constrói o conhecimento. Analisar esse caminho percorrido, quais

as suas dificuldades, suas vitórias, enfim, compreender o processo.

A avaliação por mais bem formulada que seja não garante a qualidade do

pensamento. “Vale lembrar, desde já, que o mecanismo ação, reflexão, ação é

importante para que a avaliação cumpra seu papel vamos dizer ontológico”

(LUCKESI, 1994, p.172). Estabelecer a dialética entre ação e reflexão, entre meios

e fins é um dos desafios de uma educação comprometida com uma aprendizagem

significativa.

Resgatar o sentido do avaliar como um processo, pois esta, nunca deveria

ser referida a um único instrumento, nem restrita a um só momento, ou a uma

única forma. Somente múltiplos recursos de avaliação podem possibilitar canais

adequados para a manifestação de múltiplas competências e de redes de

significados, fornecendo condições para que o professor, analise, provoque,

acione, raciocine, emocione-se e tome decisões junto a cada aluno. Assim, a

avaliação no contexto de uma aprendizagem significativa ocorre no próprio

processo de trabalho dos alunos, no dia-a-dia da sala de aula, no momento das

discussões coletivas, da realização de tarefas em grupos ou individuais. Nesses

momentos, o professor pode perceber se os alunos estão ou não se aproximando

dos conceitos e habilidades considerados importantes, localizar dificuldades e

auxiliar para que elas sejam superadas através de intervenções, questionamentos,

- 32 -

complementando informações, buscando novos caminhos que levem à

aprendizagem. Em razão disso, cabe a nós, educadores, avaliar novos

procedimentos a fim de que cumpramos o trabalho de ajudar a desvendar os

signos da construção do homem, do conhecimento e da cultura.

Mas o que há de novo nessa idéia? Não se servem todos os professores

da avaliação durante o ano para ajustar o ritmo e o nível global de seu ensino?

Não se conhecem muitos professores que utilizam a avaliação de modo mais

individualizado, para melhor delimitar as dificuldades de certos alunos e tentar

remediá-las?O diagnóstico é inútil se não der lugar a uma ação apropriada. Uma

verdadeira avaliação formativa é necessariamente acompanhada de uma

intervenção diferenciada, com o que isso supõe em termos de meios de ensino, de

organização dos horários, de organização de grupos de monitores, até mesmo de

transformações radicais das estruturas escolares. É preciso desmistificar e

resignificar vários processos educacionais.

A idéia de processo não é fácil de ser assimilada. Porém, é o seu

entendimento que determina o quanto se pode compreender sobre os vários

aspectos e as várias dimensões que a avaliação possui. A avaliação na escola

ainda precisa ganhar, realmente, a preocupação dos coletivos constituídos. Sair do

campo de preocupação individual, da angústia de cada um e ganhar as dimensões

dos grupos de trabalho, de toda a escola. O enfoque sobre os conteúdos, a

maneira de professores e alunos se relacionarem, os projetos de trabalho

desenvolvidos, os objetivos do projeto da escola, pensando este como resultado

dos desejos do coletivo, estão ligados à concepção de avaliação que se vai

trabalhar. Ela é uma dos componentes do sistema da Escola, não está separada

de outros elementos. Não deve ser discutido em separado, não é mais importante

que discutir regras de convivência ou como criar maneiras mais eficazes de

ensinar, ou ainda como trabalhar a inter-relação das várias áreas do conhecimento,

(interdisciplinaridade).

Avaliar não significa necessariamente medir e nem o referencial

quantitativo significa necessariamente objetivo. A prática de uma educação

positivista deixou-nos esse ranço. Aliás, quando tentamos traduzir em números ou

- 33 -

'conceitos' frios, o que é incomensurável, as aberrações são evidentes. Que tipo de

avaliação tem um aluno que 'tirou' 5 ou C? Significa 'suficiente', mas suficiente para

que? O que ele não sabe, não vai fazer falta? A avaliação medida mais esconde do

que mostra. E não adianta transformar nota em conceito, pois o que tem que

mudar é o objeto da avaliação.

4. EXERCÍCIO DE SOLIDARIEDADE E JUSTIÇA

“Faz parte igualmente do pensar certo, a rejeição mais decidida a qualquer forma de

discriminação. A prática preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a

substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia”( FREIRE,1996,

p. 40).

Não é justo que um aluno seja ajudado e outro seja abandonado a sua

própria sorte. Também não é justo que sejam dadas atividades que agradem a uns

e desagradem a outros, que o professor confie em uns alunos e fiscalize os outros.

O aluno 'queridinho' do professor vive na lembrança em muitos de nós. “É preciso

destacar que violência, preconceitos, abusos de poder, injustiças, faz sentido. As

competências distinguidas para a clareza da análise fazem parte de um conjunto

coerente”. (PERRENOUD. 2000 p.153)

Solidariedade e justiça andam de mãos dadas com a responsabilidade.

Faz-se necessário romper com uma pedagogia que traduz os anseios de uma

sociedade conservadora e autoritária que oprime o educando impedindo seu

crescimento. Isto depende de uma consciência crítica do professor que não é

neutro, mas ideologicamente comprometido, pois ninguém é indiferente ao mundo

em que vive. O ser humano é um ser que avalia em todos os instantes de sua vida

e estará sempre tomando uma posição mais simples ou mais complexa, portanto,

nunca será um ser neutro.

A responsabilidade de um ser crítico é que levará o professor à busca da

justiça e solidariedade na sua prática em sala de aula, lembrando sempre que

educar é um ato de amor.

- 34 -

5- ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS DA EXCLUSÃO ESCOLAR PRECOC E.

Existe uma profunda ligação entre educação, qualidade de vida e saúde.

Quando falamos em educação para saúde estamos pensando em práticas que

devem ser aplicadas pela escola para transformar e promover em seu espaço o

que é um direito do aluno e um desafio da escola atual. Segundo a Organização

Mundial da Saúde as escolas que fazem diferença são as que contribuem para

promoção da saúde de seus alunos.

O acesso à educação e os melhores níveis de saúde estão interligados e

verifica-se isto em muitas situações como, por exemplo: as taxas de mortalidade

infantil são inversamente proporcionais ao número de anos de escolaridade da

mãe no ensino básico em diferentes realidades. A comunicação verbal e escrita

prioridade no ensino fundamental é muito importante na saúde: quando se

compreende mensagens dos programas educativos e da mídia em geral, quando

se lê uma prescrição médica ou uma bula de remédio. O processo educativo

favorece a autonomia e leva a uma busca de melhor qualidade de vida com saúde.

A baixa escolaridade está ligada ao maior índice de gestação na

adolescência e início sexual precoce. “Se o adolescente tivesse mais oportunidade

de estar nas escolas e se estas escolas fossem mais sedutoras este quadro

poderia ser revertido.” (JAKOB, 2008).

“Também a morte fetal está associada à baixa escolaridade materna, como

mostrado em trabalho com mais de oitocentos mil nascimentos, o qual se utilizou

de um banco de dados do Centro Latino-Americano de Perinatologia, entre 1985 e

1997” (CONDE et al., 2000).

As doenças sexualmente transmissíveis também têm seu índice

aumentado em jovens de baixa escolaridade. A influência da escolaridade sobre as

condições de saúde foi evidenciada pelos resultados da Pesquisa sobre Padrões

de Vida (PPV), realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) analisando as variáveis sócio-econômicas no estado de saúde

- 35 -

de indivíduos como: anos de estudo, ocupação e renda mensal, observou-se que a

variável “anos de estudo” foi a segunda mais relevante. (FONSECA, et al.,1999).

Segundo IBGE os filhos de mulheres com pouca escolaridade ( até 3 anos

de estudo) têm 2,5 mais riscos de morrer antes de completar 5 anos de idade do

que as crianças cujas mães estudaram por oito anos ou mais.( 2006, p. 42).

Os dados da publicação “Aids no Mundo” mostram um aumento da Aids

na faixa etária de 20 a 25 anos aponta para a urgência de programas de prevenção

efetivos destinados a jovens pois a infecção, dado o longo período de incubação ,

ocorre na maioria dos casos, na adolescência e início da vida adulta. Os fatores

que contribuem para esta vulnerabilidade são a pobreza, a violência, deficiência

dos serviços e programas de saúde e educação. É primordial, portanto o trabalho

da escola como local privilegiado para o trabalho preventivo e para a promoção da

saúde.

- 36 -

OBJETIVO GERAL

Orientar a instituição escolar sobre a necessidade de mudanças na forma de

avaliação, auxiliando assim na inclusão escolar e social do aluno.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Verificar o significado da avaliação para os alunos de 5ª e 6ª séries(6º e 7º ano

escolar) do turno noturno do ensino fundamental.

Relacionar a baixa escolaridade com a maior incidência de DST e mortalidade

infantil.

Elaborar cartilha informativa sobre como cuidar de um bebê, para adolescentes,

possíveis mães com baixa escolaridade.

Elaborar cartilha informativa sobre DSTs e AIDS para jovens com pouca

escolaridade.

- 37 -

METODOLOGIA

A pesquisa feita foi de natureza qualitativa. Foram aplicados 97 questionários

em turmas de 5ª e 6ª séries do ensino fundamental de duas escolas públicas no

interior de Minas Gerais e no interior do Estado do Rio de Janeiro. As duas

localidades são fronteiriças e possuem apenas uma escola de ensino fundamental.

As séries pesquisadas são de turno noturno. Os dados por meio de questionário

foram tabulados e analisados um a um, de forma a equiparar semelhanças e

disparidades, permitindo assim a análise das respostas.

Foi feito amplo levantamento bibliográfico sobre os temas relevantes para

este estudo, permitindo assim o embasamento teórico necessário para o trabalho.

Foram confeccionadas duas cartilhas educativas ilustradas sobre “Como prevenir

DSTs” e “Como cuidar de um recém nato” para jovens de baixa escolaridade com o

objetivo de ajudar na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e na

prevenção de mortalidade infantil. Estas cartilhas foram aplicadas para 20 jovens do

ensino fundamental do turno noturno do Colégio Santos Dumont, Volta Redonda,

RJ.

- 38 -

RESULTADOS

A PRÁTICA DA AVALIAÇÃO NA 5ª E 6ª SÉRIE DO ENSINO F UNDAMENTAL

Foram respondidos 97 questionários em turmas de 5ª e 6ª série do ensino

fundamental noturno de duas escolas públicas no interior do Estado do Rio de

Janeiro e no interior de Minas Gerais. As duas localidades são fronteiriças e

possuem apenas uma escola de ensino fundamental.

97 Questionários Respondidos

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%70,00%

5ª série (40,2%) 6ª série ( 59,8%)

Responderam ao questionário 97 alunos sendo 32 alunos entre 13 e 14 anos e 65

alunos com mais de 14 anos, 39 alunos são de 5ª série e 58 de 6ª série

- 39 -

Idade

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

13 a 14(33,0%)

mais de 14(67,0%)

Pergunta: Como é a avaliação em sua escola?

94 alunos responderam que é através de provas. 69 alunos responderam que

através de trabalhos em grupo, 46 alunos disseram que recebem pontos por

participação e 30 alunos disseram que com trabalhos individuais. Podemos concluir

que apesar de trabalhos diversificados serem feitos, a grande maioria dos

professores adotam a prova como forma de avaliação e distribuem pontos de

participação. Isto é uma forma de punir ou premiar o aluno de acordo com seu

comportamento, mais disciplinado ou menos, mais participativo ou mais tímido, e

daí por diante.

Como é a Avaliação em sua Escola?

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

120,00%

Sem provas(0,0%)

Com provas(100,0%)

Pergunta: Onde são feitos os trabalhos passados pelo professor?

Obteve as seguintes respostas: 57 alunos responderam que eram feitos com o

professor em sala de aula. Em casa, individual ou em grupo 47 alunos. Em sala de

aula com o grupo 45 alunos.

- 40 -

Onde são feitos os trabalhos passados?

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

Em sala de aulacom o professor

( 38,3%)

Em casa ( 31,5%) Em grupo nasala de aula (

30,2%)

Ao responderem se teriam material de pesquisa em casa, apenas 19 disseram que

sim e 79 alunos responderam não. Demonstrando que a grande maioria dos alunos

não tem recursos para fazer trabalhos de pesquisa fora da escola.

Você tem material de pesquisa em casa?

0,00%20,00%40,00%60,00%80,00%

100,00%

Sim(19%,4%)

Quando perguntados se a avaliação ajuda para que ele aprenda melhor 69 disseram

que sim e somente 28 disseram não.

- 41 -

Você acha que a forma de avaliação, facilita a continuidade dos seus estudos

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

Sim (69,1%

Não(30,9%)

Apesar destas respostas na questão seguinte onde foram perguntados se já foram

reprovados em alguma série, 76 alunos disseram sim e 21 disseram não. Estas

questões também demonstram a total falta de conhecimento do aluno de sua

situação e de um senso crítico que deveria ser desenvolvido pela própria escola

para o próprio exercício da cidadania. É alto o índice de alunos que já foram

reprovados e que estão fora da idade limite na série.

Você já foi reprovado em alguma série?

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

100,00%

Sim(78,4%)

Não (21,6%)

Pretendem chegar até a 8ª série 38 alunos e 59 intencionam fazer o ensino médio.

- 42 -

Você pretende estudar até que série?

0,00%

20,00%

40,00%

60,00%

80,00%

8ª Série(39,2%)

EnsinoMédio

(60,8%)

Os motivos que os levam a parar com os estudos foram 5 respostas dizendo: que

eram as provas, 2 disseram que eram as aulas, 28 que eram por notas baixas e 67

por motivos pessoais.

Quais motivos levaram a parar o estudo?

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%70,00%

Aulas eProvas(6,9%)

NotasBaixas(27,5%)

MotivosPessoais (

65,7%)

Pergunta: Como é feita a recuperação em sua escola?

Setenta e dois alunos disseram que era no final do bimestre e apenas 25 disseram

que era durante o bimestre, demonstrando que a Lei de n.º 9.394/96 Diretrizes e

Bases da Educação Nacional não é seguida quando estabelece que a recuperação

do aluno deve ser feita paralela ao período letivo, para os casos de baixo rendimento

escolar.

- 43 -

Como é feita a recuperação em sua escola?

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

No final do Bimestre( 57,7%)

Durante o Bimestre(25,8%)

No final do Semestre( 16,5%)

Pergunta: Como se sente ao fazer provas?

Sessenta e nove alunos responderam que ficam nervosos e com medo, 3 ficam

indiferentes, 25 ficam tranqüilos e seguros. Isto demonstra como a prova não pode

ser considerada o único meio de avaliar o aluno e que seus dados não podem ser

considerados isoladamente e com grande relevância, como é usada até hoje em

nossas escolas.

Como se sente ao fazer a suas provas?

0,00%10,00%20,00%30,00%40,00%50,00%60,00%70,00%80,00%

Nervoso ecom medo

(71,1%)

Indiferente,tranquilo e

seguro (28,9%)

Pergunta: Como você gostaria de ser avaliado?

Apenas 11 alunos responderam com provas, 38 alunos com trabalhos em grupo e

56 alunos gostariam de ser avaliados durante as aulas, mostrando que o aluno se

sente mais à vontade sendo avaliado diariamente como sugere a Lei de Diretrizes e

Bases 9394/96 no artigo V. Esta lei diz que avaliação deve ser contínua e cumulativa

do desempenho do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os

quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas

finais.

- 44 -

Como você gostaria de ser avaliado?

-10,00%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

Com Provas10,5%

ComTrabalhos emGrupo 36,2%

Diariamentedurante as

Aulas 46,7%

Foi aplicada a cartilha de DST em 20 alunos do ensino fundamental

noturno da seguinte forma: aplicou-se um questionário para diagnosticar o

conhecimento dos alunos sobre doenças transmitidas pelas relações sexuais

obtendo-se os seguintes resultados: a primeira pergunta foi sobre o que eram

DSTs. 3 alunos disseram ser a doença transmitida por não se usar camisinha. 17

alunos não responderam. Foi pedido que citassem algumas doenças que

conhecessem. 20 alunos citaram a AIDS, 5 citaram AIDS mais gonorréia e 2

alunos citaram AIDS, Gonorréia e Sífilis.. Quando perguntados se usavam

camisinha 6 alunos responderam não e 14 alunos responderam sim. A pergunta

que dizia se era importante conhecer o parceiro antes de se relacionar

sexualmente, todos os 20 alunos disseram sim. Perguntados se conversam sobre

sexo com alguém da família 9 alunos responderam sim e 11 disseram não.

Após a aplicação da cartilha e feita a discussão sobre as informações

contidas nela, aplicou-se outro questionário para verificar a eficácia do estudo. Ao

serem perguntados se a linguagem usada na cartilha estava de fácil entendimento,

os 20 alunos responderam sim. Ao serem perguntados se o estudo sobre DSTs foi

esclarecedor todos responderam sim., e se tomariam mais cuidado a partir deste

estudo ao se relacionarem sexualmente, todos os 20 alunos responderam que sim.

Foi perguntado por último se gostariam de saber mais sobre o assunto. Um aluno

gostaria de saber mais sobre a sífilis, 6 disseram que gostariam de ter mais aulas

como esta porque gostaram das informações e 13 alunos responderam que o

estudo foi satisfatório.

- 45 -

Foi feito também um estudo com 20 alunos do ensino fundamental noturno

(EJA) com a cartilha: “A Felicidade do bebê”. Aplicou-se um questionário

diagnóstico para verificar o que os alunos sabem sobre o assunto. Ao serem

perguntados se tem irmãos menores, 11 alunos disseram que não e 9 alunos

disseram sim. Foi perguntado se já presenciaram alguém cuidar de um bebê, 18

alunos disseram sim e 2 disseram não. Perguntados se já assistiram a um parto, 5

responderam sim e 15 alunos responderam não. Quando perguntados se já

presenciaram o banho de um recém nascido 12 disseram sim e 8 disseram não.

Foi solicitado que citassem alguns cuidados que sabem ser necessário para a

saúde de um bebê. Foi citado: 1-lavar os seios antes de amamentar, 1-lavar as

mãos, 3-dar banho no bebê, 1-cuidar do umbigo, 1-não dar comida estragada, 1-

não andar com o bebê na chuva. Sobre amamentação no peito, 9 alunos disseram

ser bom para a saúde do bebê e onze não opinaram. Após o estudo com a cartilha

foi feito outro questionário para verificar a eficácia das informações contidas na

cartilha. Perguntados se as informações foram claras e de fácil entendimento, 20

responderam que sim. Sobre a validade de se estudar o assunto, 19 disseram sim

e um aluno disse não. Dezoito alunos disseram não serem necessárias outras

informações e 2 disseram que sim. Dezoito alunos pretendem usar as informações

em seu dia a dia e 2 disseram que talvez.

- 46 -

DISCUSSÃO

De acordo com a pesquisa realizada em 97 alunos de 5ª e 6ª série do

ensino fundamental do curso noturno de duas escolas públicas, pode-se concluir

que a realidade da avaliação utilizada é completamente oposta à filosofia da

educação problematizadora, tão necessária em nossas escolas. A maioria dos

alunos entrevistados está fora da faixa etária para a série em que estão cursando,

demonstrando que já foram reprovados em alguma série ou abandonaram os

estudos em alguma época de suas vidas. A forma que os alunos são avaliados não

está de acordo com o que dita a LDB 9.394/96, onde a avaliação deve ser

diagnóstica, formativa e priorizar a qualidade. É necessário acompanhar a

aprendizagem do aluno ao longo do processo, oportunizando refazer o seu

conhecimento, através da recuperação paralela que deve acompanhar todo o

processo de ensino- aprendizagem. Observa-se que as escolas fazem a

recuperação de seus alunos no final do bimestre ou semestre contrariando o que a

LDB estabelece em seu artigo 24 – incisoV.

A avaliação mais utilizada é a quantitativa ou somativa, baseada em

provas e distribuição de pontos. Verificou-se a falta de recursos dos alunos para

ampliarem seus conhecimentos fora da escola (em casa), por não possuírem

material de pesquisa para seus estudos. Portanto, não é exagero dizer que a

evasão escolar e conseqüentemente a exclusão social dos alunos é uma epidemia

em nossas escolas e pode ser considerada uma doença, mediante tudo que esta

exclusão, através da reprovação, pode causar ao indivíduo, impedindo-o de

exercer plenamente sua cidadania.

Avaliar é um ato extremamente complexo, cuja responsabilidade não é

competência única do professor, mas sim de todos os elementos integrantes do

processo educacional (alunos, pais e administradores). Essa centralização no

professor apenas consolida o modelo sócio-econômico mundial e suas relações de

poder, plenamente exercidas em nossas escolas e está a serviço do autoritarismo,

vinculada a uma pedagogia tradicional. Sara Pain, diz que se não houver uma

- 47 -

forma de avaliar o que os alunos aprendem, a escola vai fracassar. ( PAIN,1993,

p.23). A avaliação como a aprendizagem deve ser compreendida como um

processo que deve facilitar a construção do conhecimento do aluno. Para que isto

seja possível, é necessário que o professor se pergunte sempre: “o que o meu

aluno compreende? Porque não compreende? (HOFFMANN, 2002, p.61)

O sistema sócio-econômico atual não preconiza a educação de todos,

pois se trata de um sistema excludente, que não está preocupado com a

totalidade, vendo a educação, e conseqüentemente suas formas de avaliação de

desempenho, como meio para agilizar o desenvolvimento econômico, e não como

compromisso ético com as pessoas.

Assim sendo, a dinâmica de estrutura das sociedades de classes dominantes

utiliza a educação como um instrumento de dominação. As sociedades são

governadas por grupos dominantes e a cultura é postulada conforme o interesse

desses grupos, enfatizando essa influência na escola, por sua condição de

produção de saber por excelência.

Além da atribuição de notas, outras questões comprometem o sistema

tradicional de avaliação. Não há pior agressão à auto-estima do aluno

que obrigá-lo, no caso de uma recuperação ou de uma repetência, a

rever todo o conteúdo da mesma forma como se tentou ensiná-lo na

primeira vez. "A repetição não significa evolução. O professor tem de

identificar por que o aluno não aprendeu e procurar novas estratégias,

(HOFFMANN,,2007)

O fracasso escolar é visto então, como uma questão individual, própria de

cada aluno e seus problemas. No entanto, não se pode responsabilizar somente o

aluno, nem tão pouco o professor, que muitas vezes não é preparado para esta

outra função – a de avaliador. É necessário, sobretudo, rever os paradigmas da

avaliação de desempenho escolar, bem como da educação como um todo, para

que a aprendizagem do aluno possa ir além da sala de aula.

O modelo classificatório de avaliação, onde os alunos são considerados

aprovados ou não aprovados, oficializa a concepção de sociedade excludente

- 48 -

adotada pela escola. De acordo com o INEP/MEC (2002) sete milhões de alunos

repetiram a série escolar em que estudavam em 2001.

A baixa escolaridade está associada ao aumento dos índices de gestação

precoce, doenças sexualmente transmissíveis e mortalidade infantil. (Centro Latino

Americano de Perinatologia, 1997, IBGE). Os filhos de mulheres com pouca

escolaridade (até três anos de estudo) têm 2,5 mais risco de morrer antes de

completar 5 anos de idade do que as crianças cujas mães estudaram por oito anos

ou mais (IBGE, 2006).

Foi possível, ainda, observar na aplicação da cartilha sobre DSTs que os

alunos que participaram do estudo desconhecem a maioria das doenças

transmitidas pelo sexo, somente a AIDS é conhecida por todos os alunos, além de

gonorréia e a sífilis. Os mesmos desconhecem o termo DST e muitos não se

previnem com o uso de preservativos e nem conversam sobre sexo com familiares.

Pode-se concluir deste questionário diagnóstico que as informações que os alunos

possuem ainda são precárias pois somente a AIDS é de conhecimento de todos.

Ainda podemos ver que vários jovens não usam camisinha se expondo ao perigo

contrair inúmeras doenças. A conversa sobre sexo dentro da família ainda é um

tabu inexistindo para a maioria dos jovens. Após o estudo com a cartilha os alunos

responderam um questionário sobre o que acharam do estudo. Todos os alunos

acharam que a linguagem usada estava de fácil entendimento e que o estudo foi

esclarecedor. Disseram que tomarão mais cuidado ao se relacionarem

sexualmente. A maioria achou o estudo satisfatório, mas muitos alunos gostariam

de ter mais aulas sobre este assunto o que mostra que são desinformados e que

gostariam de ser orientados a respeito. Constatou-se que apesar dos parâmetros

curriculares estarem apontando para que os alunos tenham orientação sexual na

escola o assunto ainda não é prioridade. Foi perguntado por último, se gostariam

de saber mais sobre o assunto. Um aluno gostaria de saber mais sobre a sífilis,

enquanto outros preferiam ter mais informações abrangendo o conteúdo como um

todo, porém a maioria se apresentou satisfeita com o conteúdo apresentado.

- 49 -

Todos demonstraram grande interesse no assunto, evidenciando a utilidade e a

melhoria sobre a desinformação a respeito do assunto.

Finalmente, foi aplicada a cartilha: “A Felicidade do bebê” e através dos

questionários respondidos observou-se que apesar da maioria dos alunos já terem

presenciado cuidados com um bebê, muitos não conheciam os cuidados de

higiene corretos para evitar doenças como mostrou as respostas dadas pelos

participantes a respeito do assunto. Poucos alunos disseram que a amamentação

materna é primordial para a saúde do bebê, demonstrando que esta informação,

importante para prevenir a mortalidade infantil, não é de conhecimento de todos. A

maioria achou as informações claras e de fácil entendimento, acreditando na

relevância dos conhecimentos adquiridos e que pretendem usar as informações

que receberam.

Deve-se observar que estes alunos, que estudam em turnos noturnos do

ensino fundamental, tanto do primeiro seguimento quanto do segundo seguimento,

adquirem as informações práticas para sua vida de forma muito receptiva como se

vê nas respostas da maioria dos alunos a respeito do estudo com as cartilhas. Por

esta razão, a educação deve estar de acordo com a realidade de vida destes

educandos, para que desperte seu interesse pelo conhecimento e pela escola. A

educação mudará o futuro de cada jovem e o fará exercer sua cidadania de forma

plena. O jovem bem informado agirá dentro de sua família e da comunidade

auxiliando na prevenção de DSTs e diminuindo o índice de mortalidade infantil,

alta entre os jovens com baixa escolaridade. Deve-se preocupar principalmente

com a avaliação destes jovens, que repetem vários anos a mesma série e acabam

abandonando a escola por muitas reprovações seguidas. Muitos destes alunos

voltam mais tarde aos estudos em turnos noturnos porque geralmente trabalham

durante o dia.

Rever a concepção de avaliação é rever, sobretudo, as concepções de

conhecimento, de ensino, de educação e de escola. Impõe pensar em um novo

projeto pedagógico, apoiado em princípios e valores comprometidos com o

crescimento do cidadão. Segundo LUCKESI, “avaliar a aprendizagem escolar

implica em estar disponível para acolher nossos educandos, no estado em que

- 50 -

estejam, para, a partir daí, poder auxiliá-los em sua trajetória de

vida.”(LUCKESI,2004). Somente após uma consciente revolução pedagógica é

que a avaliação será vista como função diagnóstica e transformadora da

realidade.

- 51 -

CONCLUSÕES

O processo avaliativo é oposto à filosofia da educação problematizadora que vê a

avaliação como um processo, e como tal, deve ser acompanhada diariamente,

permitindo uma autocrítica do trabalho do professor e ao aluno uma reflexão sobre o

que não aprendeu.

Avaliação usada nas situações atuais do país, não condiz com o que dita a LDB

9.394/96, não podendo ser restrita a um só momento ou forma. A idéia da avaliação

como processo não é fácil de ser assimilada, porém é o seu entendimento que

determina o quanto se pode compreender dos vários aspectos que a avaliação

possui;

Os 97 alunos pesquisados estão fora da idade escolar normal, demonstrando que

78,4% alunos já foram reprovados e 21,6 abandonaram a escola em alguma

época;

Os índices de doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce e mortalidade

infantil são mais prevalentes em indivíduos jovens de baixa escolaridade. Existe uma

grande ligação entre educação, qualidade de vida e saúde.

Entre os alunos avaliados na aplicação das cartilhas sobre DSTs e cuidados do

bebê, foi observado o desconhecimento das doenças causadas por relações

sexuais, com exceção da AIDS e a falta de atenção sobre o uso de preservativos e

ignorância sobre procedimentos básicos de saúde e higiene dos bebês.

A escola deve estar próxima da realidade dos alunos e da sociedade observando as

necessidades do ensino para buscar uma melhoria de vida do educando e da

sociedade em que está inserida a escola, ficando atentos às necessidades surgidas.

Rever a concepção de avaliação é rever, sobretudo, as concepções de

conhecimento, de ensino, de educação e de escola. É impositivo pensar em um

novo projeto pedagógico apoiado em princípios e valores comprometidos com a

educação do jovem para o exercício de sua plena cidadania.

- 52 -

“A sala de aulas é um lugar especial para trabalhar com nossos estudantes na sua

formação, como sujeitos, cuidadores de si mesmos, e como cidadãos cuidadores de

si, dos outros e do meio ambiente, ao mesmo tempo.” ( LUCKESI, 2007)

- 53 -

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ANEXOS