gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA ESCOLA POLITÉCNICA DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO GERENCIAMENTO DO RESÍDUO GERADO NA CLARIFICAÇÃO DE ÁGUA DA RLAM POR JESUÍNO DIAS DOS SANTOS FILHO EDMUNDO SANTANA SANTA RITA SALVADOR, BA. DEZEMBRO/2002

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

ESCOLA POLITÉCNICA

DEPARTAMENTO DE HIDRÁULICA E SANEAMENTO

GERENCIAMENTO DO RESÍDUO GERADO NA CLARIFICAÇÃO DE ÁGUA DA RLAM

POR

JESUÍNO DIAS DOS SANTOS FILHO EDMUNDO SANTANA SANTA RITA

SALVADOR, BA. DEZEMBRO/2002

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JESUÍNO DIAS DOS SANTOS FILHO

EDMUNDO SANTANA SANTA RITA

GERENCIAMENTO DO RESÍDUO GERADO NA CLARIFICAÇÃO DE ÁGUA DA RLAM

Monografia apresentada à Escola Politécnica – Departamento de Hidráulica e Saneamento, como parte das exigências do Curso de Pós-Graduação em Gerenciamento e Tecnologia Ambientais na Indústria, para a obtenção do título de “especialista”.

Prof. orientador: José Erasmo de Souza Filho

SALVADOR - BAHIA DEZEMBRO /2002

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Agradecemos a Deus pelo dom pleno e sublime e ao nosso mestre e orientador José Erasmo pela valiosa contribuição para a nossa formação profissional.

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A Soraia e Leonardo, minha mulher e meu filho, pelo carinho, amor, compreensão e incentivo. As pessoas certas nas horas mais incertas.

Jesuíno Dias

A Ritinha, Akinyemi, Akhenaton e Akinjogbin, minha mulher e meus filhos, pelo apoio e carinho, em todos os momentos desta construção.

Edmundo Santa Rita

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“O que farão com as velhas roupas? Faremos lençóis com elas.

O que farão com os velhos lençóis? Faremos fronhas.

O que farão com as velhas fronhas? Faremos tapetes com elas.

O que farão com os velhos tapetes? Usá-los-emos como toalhas de pés.

O que farão com as velhas toalhas de pés? Usá-las-emos como panos de chão.

O que farão com os velhos panos de chão? Sua alteza, nós os cortaremos em pedaços, misturá-los-emos com o barro e usaremos

esta massa para rebocar as paredes das casas. Devemos usar com cuidado e proveitosamente, Todo o artigo que a nós foi confiado, pois não é

“nosso” e nos foi confiado apenas temporariamente”.

Siddhartha Gautama BUDA

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RESUMO

O estudo versa sobre a geração de resíduo no processo de tratamento d’água convencional

para fins potável e industrial.O intuito do trabalho é alertar para as possíveis medidas que

podem e devem ser tomadas no sentido de minimizar os impactos ambientais causados

pela disposição no meio ambiente dos resíduos gerados em estação de tratamento de água,

a partir do estudo das diversas tecnologias disponíveis.

O trabalho chama a atenção para a tomada de atitude proativa em relação à utilização de

recurso hídrico devido a crescente demanda da população e as exigências legais.

A ETA RLAM foi selecionada como unidade do estudo, em função do contínuo

crescimento tecnológico e comprometimento da organização rumo a excelência no

desempenho ambiental. A pesquisa levada a efeito constou de levantamento bibliográfico e

análise do processo.

Com base no estudo podemos afirmar que as tecnologias apontadas para destinação dos

resíduos são oportunidades que contribuirão para o gerenciamento ambiental e a redução

de utilização de recurso hídrico.

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ABSTRACT This survey deals with the generation of residue in the process of conventional water

treatment for drinking and industrial use. This work brings a warning about the possible

measures acknowledged from the study of several available technologies, that can and

must be applied, in order to minimize the environmental impacts caused by the deposition

of the residues produced in the water treatment processes.

This work depicts the importance of a proactive attitude towards the hydraulic resources

use faced to the crescent population needs and the legal obligations.

The selection of ETA RELAM to study was motivated by its continuous technological

development and its commitment with the search of excellence in environment

performance. The work is divided in two parts, a bibliographic survey and the analyses of

the processes.

Based on this study we can stand the technologies aimed to disposal of residues are

opportunities that can lead to good environmental management and reduction in the

consumption of hydraulic resources.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS............................................................................................................9

LISTA DE TABELAS..........................................................................................................10

LISTA DE SIGLAS.............................................................................................................11

1- INTRODUÇÃO ..............................................................................................................12

2 – O USO DA ÁGUA NA RLAM.......................................................................................13

3 - CLARIFICAÇÃO DE ÁGUA NA RLAM.........................................................................14

3.1 – O Processo Utilizado ............................................................................................14

3.1.1 - Mistura e Floculação ......................................................................................15

3.1.2 - Decantação ....................................................................................................16

3.1.3 - Floculadores Decantadores............................................................................18

3.1.4 - Filtração..........................................................................................................18

3.2 – Impurezas Presentes na Água .............................................................................20

3.2.1 - Colóides..........................................................................................................20

3.2.2 - Coagulação ....................................................................................................21

3.2.3 - Coagulantes ...................................................................................................23

3.2.4 - Auxiliares de Coagulação...............................................................................27

3.2.5 - Controle de gosto e de odor ...........................................................................29

3.3 - Rejeitos..................................................................................................................31

3.3.1 - Rejeitos da coagulação ..................................................................................33

3.3.2 - Perdas físicas operacionais............................................................................33

4 - TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS DA CLARIFICAÇÃO .....................35

4.1- Disposição em Lagoas de Lodo .............................................................................41

4.2 - Leitos de Secagem................................................................................................42

4.3 - Espessamento por Gravidade ...............................................................................44

4.4 - Filtros- Prensa .......................................................................................................45

4.5 - Centrífugas ............................................................................................................47

4.6 - Utilização de LETAs como Auxiliares de Floculação ............................................49

4.7 - Lançamento no Solo..............................................................................................49

5 – CONCLUSÃO..............................................................................................................51

6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................53

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LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - Processos de clarificação de água ................................................................14

FIGURA 1.1 - Câmara de mistura e floculação .................................................................15

FIGURA 1.2 – Decantador retangular com ponte raspadora mecânica ...........................17

FIGURA 1.3 - Desenho esquemático de um Filtro ............................................................19

FIGURA 1.4 - Diagrama da Lavagem de filtro...................................................................19

FIGURA 1.5 - Filtro com a válvula de drenagem à esquerda............................................19

FIGURA 1.6 - Desestabilização das cargas dos colóides com o sulfato de alumínio .......22

FIGURA 1.7 - Sistema de cloração de água .....................................................................30

FIGURA 1.8 - Decantador em fase de drenagem e limpeza .............................................32

FIGURA 1.9 - Sistema de purga de lama dos decantadores ............................................32

FIGURA 2 - Etapas de Desidratação de LETA’s em Leito de Secagem ...........................43

FIGURA 2.1 - Filtro-prensa................................................................................................46

FIGURA 2.2 - Centrífuga ...................................................................................................48

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LISTA DE TABELAS TABELA 1 - Média de pH, alcalinidade,dureza total, cloreto, turbidez e cor ....................23

TABELA 2 - Vantagens e Desvantagens do Uso de Leitos de Secagem .........................45

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LISTA DE SIGLAS RLAM – Refinaria Landulpho Alves

ETA – Estação de Tratamento de Água

LETAs – Lodos das Estações de Tratamento de água

CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente

THM – Trihalometano

SABESP – Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

CAESB – Companhia de Água de Brasília

SRAL – Sistema de Recuperação de Água de Lodo

ETE – Estação de Tratamento de Esgotos

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1- INTRODUÇÃO

O desenvolvimento humano tem a finalidade de proporcionar à população

uma melhor qualidade de vida. Isso pode ser feito, melhorando as condições de

habitação e da infra-estrutura a ela associada. Nas áreas urbanas, os sistemas de

abastecimento de água e coleta de esgotos são serviços essenciais.

Na indústria, em geral, há uma demanda muito grande por água de boa

qualidade. No tratamento dessa água (clarificação) o resíduo gerado retorna ao

meio ambiente, em geral aos corpos hídricos próximos. A indústria da água de

abastecimento e para fins industriais é a mesma, até certo ponto, quando utiliza o

tratamento convencional (coagulação, floculação, decantação e filtração),

transformando a água inadequada para o consumo humano e/ou industrial, em

produto especificado para esses fins. Para tal finalidade são usados diversos

processos e produtos químicos que ao reagirem com alguns constituintes da água

nos equipamentos usados na clarificação (floculadores, decantadores e filtros),

dão origem a esses resíduos. No caso da RLAM o tal resíduo é despejado na

Represa São Paulo (Coréia), que é um importante manancial da refinaria.

O trabalho tem o objetivo de alertar a gerência da UN-RLAM para possíveis

medidas que podem e devem ser tomadas no sentido de minimizar os impactos

ambientais causados pela disposição atual do lodo (LETA) gerado na estação de

clarificação de água (ETA).

O contínuo crescimento tecnológico e o comprometimento da organização

rumo à excelência no desempenho empresarial faz com que haja necessidade de

se adotar atitude proativa, trabalhando não apenas no cumprimento da legislação,

mais a antecipando.

No Brasil, o problema da disposição do lodo gerado no processo de

clarificação da água ainda precisa ser completamente equacionado pela indústria

de tratamento de água.

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2 – O USO DA ÁGUA NA RLAM

A Refinaria está localizada entre dois rios, o Mataripe (Rio dos Papagaios,

em linguagem indígena) e o São Paulo, na área de uma antiga fazenda. A

escolha desse local foi feita em função da não existência de rodovias, quando da

construção da refinaria, no final dos anos 40. Assim, localizada entre dois rios,

seria mais fácil à chegada dos materiais e equipamentos e, posteriormente, o

escoamento da produção. Além disso, havia nessas mediações uma represa (São

Paulo), que garantiria o indispensável suprimento de água doce para as diversas

atividades. A RLAM ocupa hoje, uma área de 6.400.000 m2.

A intensidade do ritmo de transformação revelada nas diversas ampliações

fez com que sua capacidade de processamento de petróleo aumentasse dos

2.500 BPD, em 1950, para 306.000 BPD, em 1998, com um processo totalmente

informatizado. Daí pode-se ter uma idéia do aumento da demanda de recurso

hídrico. Em janeiro de 1966, é inaugurada a represa e a adutora de Catu, com

capacidade de bombeamento de 32.400 metros cúbicos de água por dia e 26.000

metros cúbicos diários de adução. Em 1974 são ampliadas a Estação de

Tratamento de Água e o Sistema de Águas de Refrigeração.

A ETA da RLAM, U-52, trata hoje cerca de 1.000 m³/h de água bruta

oriunda da Adutora de Catu (U-54) e Pedra do Cavalo. Ocasionalmente utiliza-se

a água proveniente da Represa São Paulo (U-55) ou Coréia, em caso de

problemas com a Adutora de Catu.

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3 - CLARIFICAÇÃO DE ÁGUA NA RLAM

O objetivo do tratamento d’água é fornecer um produto potável, química e

bacteriologicamente seguro para consumo humano. Para usos domésticos, a

água tratada clarificada deve ser esteticamente aceitável, sem turbidez aparente,

cor, odor ou gosto objetável. Os padrões de qualidade, para uso industrial, são

mais severos que para consumo doméstico. Assim, tratamento adicional pode ser

necessário para o abastecimento da indústria. Por exemplo, a água que alimenta

as caldeiras deve ser desmineralizada para evitar a formação de incrustações.

3.1 – O Processo Utilizado

As águas superficiais, geralmente, contêm sólidos em suspensão e

coloidais, oriundos da erosão do solo, decaimento da vegetação,

microorganismos e compostos produtores de cor. Materiais mais graúdos, como a

areia e silte, podem ser eliminados a um grau considerável pela (pré) decantação

(anterior ao tratamento químico) simples, mas as partículas mais finas devem ser

quimicamente coaguladas para produzirem flocos, os quais são removidos na

decantação e filtração subseqüentes. Esses processos constituem o que a

indústria de tratamento de água denomina de clarificação (Figura 1)

Também, nas áreas superficiais, em determinadas épocas do ano, podem

ocorrer o crescimento excessivo de algas (floração), que provocam aumento de

turbidez e problemas de gosto e odor, de difícil solução.

FIGURA 1 - Processo de clarificação de água

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3.1.1 Mistura e Floculação

Os reatores químicos, no tratamento d’água, e os tanques de aeração, nos

processos biológicos de tratamento de esgotos, são projetados para mistura

completa ou para escoamento empistonado. Numa unidade ideal de mistura

completa, o afluente é imediatamente disperso no meio, e a concentração de

reagente no efluente é igual àquela do interior do reator. As aplicações da mistura

completa, no tratamento d’água, são tanques de mistura rápida, usados para

misturar as substâncias químicas na água bruta, para efetuar a coagulação e a

mistura e zona de reação em floculadores-clarificadores, como ocorre na RLAM.

No tratamento dos esgotos, os processos de lodo ativados de alta taxa e aeração

prolongada são de mistura completa.

Num sistema ideal de escoamento empistonado, a água flui através de

uma câmara longa, segundo uma taxa uniforme, sem intermistura. A

concentração do reagente decresce ao longo do escoamento. Na prática, é muito

difícil atingir-se o escoamento empistonado ideal, devido ao curto-circuito e a

intermistura causada pela resistência friccional ao longo das paredes, correntes

de densidade e fluxo turbulento. Os tanques de floculação, usados no tratamento

(Figura 1.1) químico da água, são projetados com unidades de scoamento

empistonado, usando-se chicanas para reduzir os curto-circuitos.

FIGURA 1.1 - Câmara de mistura e floculação

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A unidade linear de mistura e floculação, apresenta hélices para prover a

mistura rápida dos condicionantes da água bruta e pás horizontais para a mistura

lenta, com objetivo de estabelecer flocos decantáveis. Os floculadores, com pás

de madeira são separados por chicanas e são de velocidade variável, de modo

que a velocidade periférica das pás possa se situar entre 0,2 e 0,5 m/s, para a

floculação ótima.

3.1.2 - Decantação

Decantação ou clarificação é a remoção das partículas da suspensão, por

ação da gravidade. Os critérios comuns para o dimensionamento são: período de

retenção, taxa de aplicação superficial, taxa do vertedouro e, para tanques

retangulares, velocidade horizontal. O período de retenção, expresso em horas, é

calculado dividido-se o volume do tanque pela vazão média diária, conforme

equação:

Qvt 24×

= t = período de retenção, horas; v = volume do tanque m 3 ; Q = vazão média diária, m3 ; 24 = nº de horas por dia.

onde:

A taxa de aplicação superficial é igual à vazão média diária dividida pela

área superficial total do tanque de decantação, é expressa em metros cúbitos por

metro quadrado por dia (m3/m2-d), conforme:

AQv =0 V0 = taxa de aplicação superficial, m3/m2-d;

Q = vazão média diária, m3/d; A = área superficial do decantador, m2.

Boa parte dos decantadores usados no tratamento d’água é clarificador de

fluxo ascendente, onde a água flui verticalmente, descarregando em canais

efluentes; assim, o decantador ideal, pode ser usado para fins expositivos. A água

entrando num decantador é forçada para o fundo, ao passar sob um septo, e,

depois, ascende verticalmente, extravasando no vertedouro de um canal de

descarga, localizado na superfície do tanque. As partículas floculadas decantam,

numa direção oposta à da área, e são removidas do fundo por um equipamento

mecânico de remoção de lodo. As partículas com velocidade de decantação v

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maior que a taxa de aplicação superficial Q/A são removidas, enquanto que os

flocos mais leves, com velocidades de decantação menores que a taxa de

aplicação superficial, são carreadas no efluente do decantador.

A taxa do vertedouro é calculada dividindo-se a vazão média diária pelo

comprimento total do vertedouro, expressando-se os resultados em m3/m-d.

Os decantadores podem ser retangulares, circulares ou quadrados. São

projetados para que ocorra um movimento lento da água, com um mínimo de

curto-circuito. O decantador retangular (Figura 1.2) contém chicanas para dirigir o

fluxo verticalmente para calhas coletoras, que se estendem transversalmente e ao

longo da periferia do decantador. Os raspadores inferiores, do tipo corrente-sem-

fim, movem vagarosamente os sólidos decantados para um poço de lodo situado

na extremidade de montante. A ponte de remoção de lodo, que gira, lentamente,

apoiada num pivô central, é construída com tubos que apresentam perfuração e

ao longo de seu comprimento. No lugar de raspar, o equipamento suga o lodo e o

transporta ao longo da ponte, para que seja descarregado pelo centro do tanque.

FIGURA 1.2 – Decantador retangular com ponte raspadora mecânica

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3.1.3 – Floculadores Decantadores

Os floculadores-decantadores, também conhecidos como unidades de

contato ou tanques de fluxo ascendente, combinam os processo de mistura,

floculação e decantação num único tanque compartimentado. Os coagulantes, ou

substâncias químicas para abrandamento, são introduzidas na tubulação afluente

e se misturam à água, sobre um cone, é dirigida através de um lençol que se

localiza no fundo do tanque, para promover o desenvolvimento desse

conglomerado de partículas. A água sobe á zona periférica de clarificação e

extravasa em vertedouros periféricos ou em calhas circulares concêntricas,

localizadas na superfície. Essas unidades são, particularmente, vantajosas no

abrandamento das águas subterrâneas empregando cal, pois os sólidos

precipitados ajudam a manter o floco, desenvolvendo maiores cristais de

precipitado que formam, assim, um lodo mais espesso. Recentemente, os

floculadores-clarificadores têm recebido aplicações mais extensas no tratamento

químico de despejos industriais e no tratamento de águas superficiais. A principal

vantagem do seu uso é o reduzido espaço necessário e um investimento inicial

menor. Entretanto, a natureza da unicidade de construção, geralmente, resulta no

sacrifício da flexibilidade operacional.

3.1.4 - Filtração

O filtro de areia rápido por gravidade é o tipo mais usado no tratamento de

água, para a remoção de flocos não-decantáveis remanescentes, após a

coagulação química e a decantação.

Um leito filtrante típico é colocado numa caixa de concreto com

profundidade de cerca de 2,70. O filtro de areia, cerca de 0,60m de profundidade,

é suportado por uma camada de brita graduada, contendo drenos. Durante a

filtração, a água passa de cima para baixa, através do filtro, devido a uma

combinação da pressão da água somada à sucção do fundo. Os filtros (Figura

1.3) são limpos por lavagem contracorrente (revertendo-se o fluxo) do leito (Figura

1.4).

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FIGURA 1.3 - Desenho esquemático de um Filtro

FIGURA 1.4 - Diagrama da Lavagem de filtro

As calhas de lavagem, suspensas sobre o leito coletam as águas de

lavagem e as afastam da caixa do filtro.

FIGURA 1.5 - Filtro com a válvula de drenagem à esquerda

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3.2 – Impurezas Presentes na Água

Uma grande variedade de substâncias encontradas em águas poluídas e

que provocam turbidez, não é capaz de decantar, como por exemplo, compostos

que causam coloração, partículas de argila, organismos microscópicos e matéria

orgânica proveniente de despejos municipais ou da decomposição de vegetais.

Essas partículas, denominadas colóides, apresentam diâmetro entre 1 e

500 milimícrons e não são visíveis quando se usa um microscópio comum. Uma

dispersão coloidal formada por essas partículas é estável em águas quiescentes,

pois as partículas individuais formam uma enorme área superficial em relação ao

seu peso, de tal modo que as forças gravitacionais não influenciam na sua

suspensão.

3.2.1 - Colóides

Os colóides são classificados em hidrofóbicos (possuem aversão à água) e

hidrofílicos (possuem versão à água).

Os colóides hidrofílicos são estáveis devido à sua atração para com as

moléculas da água, e não devido à ligeira carga que possam apresentar. Exem-

plos típicos são o sabão, goma de roupa solúvel, detergentes sintéticos e soro de

sangue. Devido à sua afinidade com água, não são tão facilmente removidos de

suspensões como os colóides hidrofóbicos, sendo necessárias dosagens 10 a 20

vezes maiores que as usadas no tratamento convencional para coagular materiais

hidrofílicos.

Partículas hidrofóbicas, não possuindo afinidade com água, dependem da

sua carga elétrica para manterem sua estabilidade na suspensão. A maior parcela

de turbidez oriunda de matérias orgânica e inorgânica, encontrada nas águas

naturais, é dessa espécie. As partículas individuais são mantidas separadas por

forças de repulsão eletrostáticas, desenvolvidas por íons positivos absorvidos na

sua superfície provenientes da solução. Uma analogia é a força repulsiva que

existe entre os pólos iguais de duas barras magnéticas. A magnitude da força

repulsiva desenvolvida pela camada dupla eletrizada dos íons atraídos para uma

partícula é denominada potencial zeta.

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Uma força natural de atração existe entre duas massas quaisquer (força de

Van der Waals). O movimento aleatório de colóides (movimento Browniano),

causado pelo bombardeamento de moléculas de água, tende a aumentar essa

força física de atração, ajustando as partículas. Entretanto, uma suspensão

coloidal permanece dispersa indefinidamente, quando as forças de repulsão

excedem àquelas de atração e as partículas não colidem.

3.2.2 - Coagulação

O objetivo da coagulação química, no tratamento da água, é desestabilizar

os contaminantes em suspensão, de modo que as partículas entrem em contato e

se aglomerem, formando flocos que decantam.

A desestabilização de colóides hidrofóbicos é obtida através da adição de

coagulantes químicos como, por exemplo, os sais de alumínio e de ferro. Os íons

metálicos hidrolisados, altamente carregados eletricamente produzidos por esses

sais em solução, reduzem as forças repulsivas entre os colóides através de

compressão da camada dupla difusa que envolve as partículas individuais. Com

as forças de repulsão anuladas, a mistura lenta provoca contato das partículas, e

as forças de atração causam a aglomeração progressiva das partículas.

Auxiliares de coagulação podem ser usados para melhorarem o processo

de floculação. Por exemplo, polímeros orgânicos provocam uma ligação entre as

partículas aderindo-as às superfícies absorventes dos colóides, provocando

massas floculadas de maior porte (Figura 1.6).

A remoção da turbidez por coagulação depende do tipo de colóides exis-

tentes na suspensão; da temperatura, do pH, e da composição química da água,

conforme Tabela 1, do tipo e da dosagem de coagulantes e auxiliares de

coagulação; e do grau e o tempo de mistura para a dispersão química e formação

de floco.

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FIGURA 1.6 - Desestabilização das cargas dos colóides com o sulfato de alumínio.

Média de pH, alcalinidade,Dureza total, cloreto, Turbidez e Cor.

pH Alcalinidade Dureza total Cloreto Turbidez Cor

Setembro 7,3 37,2 44,2 46,9 56,3 52,3

Outubro 7,1 39,3 56,6 52,0 17,1 41,5

Novembro 7,0 43,7 67,3 61,7 15,8 66,2

Dezembro 7,3 46,0 62,0 65,0 18,0 30,0

Janeiro 7,2 41,0 63,0 57,0 8,8 31,0

Fevereiro 6,9 38,0 76,0 64,0 32,0 38,0

Março 7,2 40,0 46,0 52,0 18,0 36,0

Abril 7,1 38,0 54,0 58,0 16,0 34,0

Maio 7,0 34,0 38,0 36,0 18,0 38,0

Junho 7,2 42,0 48,0 50,0 14,0 38,0

Julho 6,9 38,0 50,0 48,0 48,0 30,0

Agosto 7,2 44,0 68,0 74,0 6,8 32,0 Tabela 1 - Média mensal de 10 amostras diárias de pH, alcalinidade,dureza total, cloreto,

turbidez e cor. Fonte: Pedra do Cavalo e Represa Catu. Setembro2001/agosto 2002.

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Embora, em Química, o termo coagulação signifique a desestabilização de

uma dispersão coloidal pela supressão da camada dupla, e floculação signifique a

agregação das partículas, os engenheiros não têm, tradicionalmente, restringido o

uso desta tecnologia para descrever, apenas, os mecanismos químicos. Mais

freqüentemente, a coagulação e a floculação estão associadas com os processos

físicos usados no tratamento químico. A mistura, envolvendo agitação violenta, é

usada para dissolver e dispersar os coagulantes químicos pela água em

tratamento. A floculação é um processo lento, seguindo a dispersão química,

durante a qual as partículas formam flocos de suficiente tamanho de modo a

permitir a sua decantação. A palavra coagulação é comumente usada para

descrever a operação completa englobando a mistura e floculação. As unidades

usadas no tratamento químico podem ser construídas em série (mistura-

floculação-sedimentação), ou podem ser englobadas em um único

compartimento. Um sistema em série, normalmente apresenta uma retenção de

um minuto para a mistura rápida, trinta minutos para a floculação e quatro horas

para a decantação, seguida de filtração em leito de areia para remoção das

partículas não-decantáveis. Um floculador-clarificador mistura a água bruta e os

coagulantes aplicados com sólidos previamente floculados no compartimento

central de mistura, provocando, dessa maneira, o contato de sólidos decantáveis

com a água bruta e coagulantes. Os sólidos decantados na zona periférica

automaticamente retornam a área de mistura e os sólidos em excesso são

drenados do fundo para disposição.

3.2.3 - Coagulantes

A coagulação e a floculação são sensíveis a diversas variáveis, por

exemplo, a natureza das substâncias produtoras da turbidez, tipo e dosagem do

coagulante, pH da água, e outros. Dentre as variáveis que podem ser controladas

na operação de uma estação de tratamento, o ajuste de pH parece ser mais

importante. Geralmente, o tipo de coagulantes e auxiliares de coagulação a serem

usados são definidos pelo esquema de processo da estação, pelas características

da água e por fatores econômicos.

As águas de lagos possuem uma qualidade mais uniforme ao longo do

ano, o que, geralmente, não acontece com as águas provenientes de rios, que

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exigem um processo de tratamento mais extenso, com grande flexibilidade

operacional. Assim, as dosagens dos coagulantes e auxiliares devem ser

reguladas para atender as variações diárias que há na qualidade da água bruta,

principalmente oriunda dos rios. Também a floculação mecânica pode ser

ajustada, variando-se a velocidade das pás dos floculadores.

Os testes de floculação são extensivamente usados para determinar as

dosagens químicas ótimas no tratamento. Esse teste de laboratório, prova do

Jarro, tenta simular processo de coagulação-floculação e pode ser conduzido

numa extensa variedade de condições.

A interpretação dos resultados dos testes envolve testes visuais e químicos

da água clarificada. Em geral, uma estação de tratamento em escala natural

fornece melhores resultados que um teste de floculação para as mesmas

dosagens químicos. Para confirmar as dosagens químicas ótimas, a água deve

ser tratada a diversos estágios do processo, incluindo o efluente final. Uma

técnica de controle comum é a análise da água filtrada com relação a turbidez;

outra é a observação do período de tempo entre o início e o fim de cada

campanha do filtro.

Cerca de doze substâncias químicas podem ser usadas sob diversas

condições operacionais, na coagulação, para produzir uma água de qualidade

final satisfatória.

Os coagulantes metálicos comumente usados no tratamento da água são:

(1) aqueles cujo alumínio é a base, como o sulfato de alumínio, aluminato de

sódio e outros; (2) aqueles cuja base é o ferro, como o sulfato férrico, sulfato

ferroso e cloreto férrico. A descrição que se segue fornece algumas das

propriedades relevantes e as reações químicas dessas substâncias na

coagulação da água. Estas últimas são apresentada na forma de equações

hipotéticas, com a consciência de que elas não representam exatamente o que

acontece na água. Estudos têm mostrado que a hidrólise dos sais de alumínio e

ferro é bem mais complicada do que indicam estas fórmulas, entretanto, elas são

de utilidade na obtenção aproximada dos produtos das reações e das relações

quantitativas.

Page 25: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

25

O sulfato de alumínio, Al2(SO4)3 14,3H2O, é, de longe, o mais utilizado

entre os coagulantes. O sulfato de alumínio é um sólido cristalizado de cor

branca-acinzentada, contendo, aproximadamente, 17% de Al2O3 solúvel em água,

e é disponível em pedras ou em pó, bem como em soluções concentradas.

O sulfato de alumínio em pedra é, geralmente, medido em aparelhos

gravimétricos, enviado para um tanque de solução do qual é transmitido ao ponto

de aplicação por meio de uma bomba. O sulfato de alumínio líquido, em cor de

âmbar, contém cerca de 8% de Al2O3 disponível.

A hidrólise do íon de sulfato de alumínio em solução é complexa e não é

completamente definida. Em água pura, com pH baixo, a maior parte do alumínio

aparece em forma de Al+++ , enquanto que nas soluções alcalinas, os complexos

aparecem como Al(OH)-4 e Al(OH)-5 , principalmente. Nas equações hipotéticas

de coagulação, o floco de alumínio é representado por Al(OH)3. Esta é forma

predominante encontrada numa solução diluída com pH perto da neutralidade, na

ausência de íons complexos, com exceção do hidróxido. A reação entre o

alumínio e a alcalinidade natural é dada na equação abaixo:

Al2(SO4)3 14,3H2O+3Ca(HCO3)2 2Al(OH)2+3CaSO4+14,3H2O)+6CO2

Se cal ou carbonato de sódio são adicionados à água com os coagulantes,

as reações teóricas são as mostradas a seguir:

Al2(SO4)3 14,3H2O+3Ca(OH)2 2Al(OH)3+3CaSO4+14,3H2O

Al2(SO4)3 14,3H2O+3Na2CO3+3H2O 2Al(OH)3+3Na2SO4+3CO2+14,3H2O

Com base nessas reações, 1,0 mg/l de sulfato de alumínio, com peso

molecular 600, reage com: 0,50 mg/l de alcalinidade natural, expressa como

CaCo3; 0,39 mg/l de cal hidratada como Ca(OH)2 com 95% de pureza ou 0,33

mg/l de cal virgem como CaO, 85% pura; ou 0,53 mg/l de carbonato de sódio

como Na2CO3 . Quando a cal ou o carbonato de sódio reagem com o sulfato de

alumínio, a alcalinidade natural da água não se modifica. Os íons de sulfato,

adicionados juntamente com o sulfato de alumínio, permanecem na água tratada.

No caso de alcalinidade natural e carbonato de sódio, dióxido de carbono é

produzido. As dosagens de sulfato de alumínio usadas no tratamento de água

estão na faixa de 5 a 50 mg/l, sendo as concentrações maiores as necessárias

Page 26: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

26

para clarificar águas superficiais turvas. A coagulação com sulfato de alumínio é,

geralmente efetiva na faixa de pH entre 5,5 e 8,0.

O aluminato de sódio, NaAlO2 pode ser usado com coagulante em casos

especiais. A forma comercial tem uma pureza de aproximadamente, 80% e pode

ser obtida na forma sólida ou em solução. Devido ao seu alto custo, o alumínio de

sódio é, geralmente usado como auxiliar de coagulação secundária de águas

superficiais com alto teor de cor, e com coagulante no processo de abrandamento

com cal e carbonato de sódio, para aumentar a decantabilidade do precipitado.

O sulfato ferroso, FeSO4 7H2O, é um sólido cristalino de cor branca-

esverdeada, que é obtida como subproduto de outros processos químicos,

principalmente na decapagem do aço. Embora disponível em forma líquida na

solução gasta do processo de decapagem, é encontrado, comercialmente, na

forma granular. O ferro ferroso adicionado à água precipita na forma oxidada de

hidróxido de ferro; assim, a adição de cal ou cloro é geralmente, necessária para

prover uma coagulação efetiva. A coagulação com sulfato ferroso e cal, mostrada

a seguir, é efetiva na clarificação de águas turvas e outras reações conduzidas

com alto valor de pH, por exemplo no abrandamento com cal.

2FeSO4 7H2O+2Ca(OH)2+1/2 O2 2Fe(OH)2+2CaSO4+13H2O

A caparrosa clorada é preparada adicionando-se cloro para oxidar o sulfato

ferroso. A vantagem desse método, com relação à adição de cal, é que a

coagulação pode se obtida numa extensa faixa de pH, entre 4,8 e 11,0.

Teoricamente, de acordo com a equação:

3FeSO4 7H2O+1,5Cl2 Fe(SO4)3 = FeCl3+21H2O, cada mg/l de sulfato ferroso

requer 0,13mg/l de cloro, embora cloro adicional seja, geralmente, adicionado

para assegurar a reação completa.

O sulfato férrico, Fe2(SO4)3 , é disponível, comercialmente, na forma de um

material granular marron-avermelhado, que é rapidamente solúvel na água.

Reage com alcalinidade natural da água, de acordo com a equação:

Fe2(SO4)3+3Ca(HCO2)2 2Fe(OH)3+3CaSO4+6CO2 ,

No caso de alcalinidade adicionada, como a cal ou carbonato de sódio, de

acordo com a equação: Fe2(SO4)3+3Ca(OH)2 2Fe(OH)3+3CaSO4

Page 27: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

27

Em geral, os coagulantes férricos são efetivos numa extensa faixa de pH.

O sulfato férrico é particularmente, efetivo quando usado para remover cor em pH

baixo; a pH alto, pode ser usado para a remoção de ferro e manganês, ou como

coagulante no abrandamento por precipitação.

O cloreto férrico, FeCl3 6H2O, é usado primariamente, na coagulação de

esgotos sanitários e industriais, e encontra aplicações limitada no tratamento

d’água. Normalmente, é produzido clorando-se aparas de ferro, e é disponível

comercialmente, nas formas sólida e líquida. Sendo altamente corrosivo, o líquido

deve ser armazenado e manuseado em tanques e dosadores resistentes à

corrosão. As reações do cloreto férrico com a alcalinidade natural ou adicionada

são similares às do sulfato férrico.

3.2.4 - Auxiliares de Coagulação

Dificuldades com a coagulação, freqüentemente, ocorrem devido aos

precipitados de baixa decantabilidade, ou flocos frágeis que são facilmente

fragmentados sob forças hidráulica, nos decantadores e filtros de areia. Os

auxiliares de coagulação beneficiam a floculação, aumentando a decantabilidade

e o enrijecimento dos flocos. Os matérias mais usados são os polieletrólitos, a

sílica ativada, agentes absorventes de peso e oxidantes.

Os polímeros sintéticos são substâncias químicas orgânicas de cadeia

longa e alto peso molecular, disponíveis numa variedade de nomes comerciais.Os

polímeros são classificados de acordo com a carga elétrica na cadeia do

polímero. Os que possuem carga negativa são chamado aniônicos, os carregados

positivamente são chamado de catiônicos, e os que não possuem carga elétrica

são os não-iônicos. Os aniônicos ou não-iônicos são freqüentemente usados com

coagulantes metálicos para promoverem a ligação entre os colóides, afim de

desenvolver flocos maiores e mais resistentes. A dosagem requerida de um

auxiliar de coagulação é, geralmente, da ordem de 0,1 a 1,0 mg/l. Na coagulação

de algumas águas, os polímeros podem promover floculação satisfatória, com

significativa redução das dosagens de sulfato de alumínio. As vantagens

potenciais do uso de polímeros são a redução da quantidade de lodo e a sua

maior amenidade à desidratação.

Page 28: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

28

Os polímeros catiônicos têm sido usados com sucesso, em alguns casos,

como coagulantes primários. Embora o custo unitário dos polímeros catiônicos

seja cerca de 10 a 15 vezes maior que o custo do sulfato de alumínio, as

reduzidas dosagens requeridas podem igualar o custo final com substâncias

químicas para os dois casos. Adicionalmente, ao contrário do lodo gelatinoso e

volumoso oriundo do uso do sulfato de alumínio, o lodo formado pelo uso de

polímeros é relativamente mais denso e fácil para ser desidratado, facilitando o

manuseio e disposição. Algumas vezes, polímeros catiônicos e não-iônicos

podem ser usados conjuntamente para formar um floco adequado, o primeiro

sendo o coagulante primário e o segundo um auxiliar de coagulação. Embora

significativos progressos tenham sido feitos na aplicação de polieletrólitos, no

tratamento d’água, sua principal aplicação ainda é como auxiliar de coagulação.

Diversas águas não podem ser tratadas usando-se apenas polímeros. Testes de

floculação devem ser feitos para determinar a eficiência de um determinado

polieletrólito na floculação de uma determinada água.

A sílica ativada é o silicato de sódio tratado com ácido sulfúrico, sulfato de

alumínio, dióxido de carbono, ou cloro. Uma solução diluída é parcialmente

neutralizadas por um ácido e, depois, deixada amadurecer por um, certo período

de até 2 horas; o amadurecimento em excesso, corre o risco da solidificação de

toda a solução. A solução de sílica amadurecida é, em geral, novamente diluída

antes da sua aplicação à água. Como um auxiliar de coagulação, oferece as

seguintes vantagens: aumenta a taxa de reação química, reduz a dosagem de

coagulante, aumenta a faixa de pH ótimo e produz um floco com melhores

propriedades de decantação e resistência. Uma das desvantagens em relação

aos polieletrólitos é a necessidade de um controle preciso de preparo e dosagem.

A sílica é, normalmente, usada com coagulantes à base de alumínio, com

dosagens entre 7 e 11% da dosagem do coagulante primário, expresso em mg/l

de SiO2.

Argilas bentoníticas podem ser usadas no tratamento de águas contendo

alto teor de cor, baixa turbidez e baixo conteúdo mineral. O floco de ferro ou

alumínio, produzido nessas condições, é em geral, demasiado leve para decantar

rapidamente. A adição de argila resulta num aumento do peso do floco,

melhorando a decantabilidade. As partículas de argila podem, também, adsorver

Page 29: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

29

compostos orgânicos, melhorando o tratamento. Embora a dosagem exata deva

ser determinada por meio de testes, 10 a 15 mg/l geralmente resulta na formação

de bons flocos. Outros agentes usados para aumentar o peso dos flocos são a

sílica em pó, calcário e carvão ativado; sendo que o último tem a vantagem

adicional de possuir alta capacidade de adsorção.

Problemas na clarificação de águas superficiais e remoção de cor,

freqüentemente, podem ser minimizados, aplicando-se oxidantes. A prática mais

comum é a cloração breakpoint da água bruta. Nesse caso, suficiente quantidade

de cloro é adicionada para oxidar compostos orgânicos que causam interferência.

Outros oxidantes menos usados são o permanganato de potássio, o ozônio e o

dióxido de cloro.

3.2.5 - Controle de gosto e de odor

Um dos objetivos do tratamento da água é atingir um produto agradável ao

paladar. A repetida presença de gostos, odores ou cores objetáveis na água pode

fazer com que o público questione a sua adequação para o consumo. O gosto

pode ser afetado por sais inorgânicos ou íons metálicos, por uma variedade de

compostos orgânicos encontrados na natureza resultantes de descargas

industriais ou por produtos de desenvolvimentos biológicos. As algas são a causa

mais comum dos problemas de gosto e odor nos mananciais de superfície. Suas

atividades metabólicas geram compostos que produzem odores desagradáveis.

Os problemas relacionados com a potabilidade de água são geralmente,

particulares de cada sistema, e devem ser estudados individualmente para

determinar a melhor solução para a sua prevenção e cura. No tratamento de

águas subterrâneas, a aeração é, freqüentemente, efetiva, pois os compostos que

causam odor são, em geral, gases dissolvidos que podem ser removidos da

solução. Entretanto, a aeração é raramente efetiva no processamento de águas

superficiais, onde as substâncias produtoras de odores são geralmente, não

voláteis.

Primeiramente, consideração deve ser dada as medidas preventivas nas

águas superficiais. Se a interferência puder ser atribuída a uma descarga

industrial, a mesma deve ser cessada. Num lago ou reservatório eutrofisado,

aplicações regulares de sulfato de cobre à água são efetiva na supressão de

Page 30: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

30

desenvolvimento de algas, que causam gosto e odor, além de colmatarem os

filtros.

A oxidação pela cloração breakpoint é a técnica mais comum para a

destruição de odores. Esse processo, como primeira medida no tratamento,

provoca, além do controle de odor, a desinfecção. Ocasionalmente, permaganato

de potássio é mais eficiente que o cloro, com agente oxidante e pode ser usado

em conjunção com a cloração, na destruição de gosto e odores. Embora pouco

comum, o ozônio, um oxidante forte, podes ser utilizado.

FIGURA 1.7 – Sistema de cloração de água

O carvão ativado pode ser aplicado em conjunto com os processos de

coagulação, decantação e filtração, no controle de gosto e odor. O carvão usado

no tratamento d’água é preparado, principalmente, da queima de papel ou

madeira, e são ativados pela combustão controlada para desenvolver

características absorventes. Cada partícula possui milhares de poros se

dimensões moleculares, que adsorvem substâncias causadoras de odores. O

carvão ativado é disponível na forma granular ou em pó. Leitos de adsorção com

carvão granular não têm sido extensivamente usados no tratamento de águas,

devido às considerações econômicas; entretanto, são usados extensivamente

pelas industrias de água engarrafada para a purificação do produto. O carvão, no

tratamento municipal, é um pó fino, insolúvel e preto, podendo ser aplicado por

Page 31: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

31

meio de dosadores a seco ou na forma de lama. Pode ser introduzido em

qualquer estágio do tratamento a montante da filtração, onde haja mistura

adequada para dispensar o carvão, ou onde o período de contato seja de 15

minutos ou mais, a montante da decantação e filtração. O ponto ótimo de

aplicação é, geralmente, determinado por tentativas ou experiências similares. O

carvão adsorve o cloro e, portanto, essas duas substâncias não devem ser

aplicadas simultaneamente ou em seqüência, sem um intervalo de tempo

apropriado.

3.3 - Rejeitos

O lodo gerado nas estações de tratamento de água (LETA) é formado

dentro das instalações de clarificação (floculadores, decantadores e filtros).

Apresentam uma composição bastante variada, sendo constituído,

principalmente, do material em suspensão originalmente presente na água bruta e

das substâncias químicas adicionadas a água (coagulantes) para tratá-la.

São produzidos continuamente e descarregados intermitentemente. Os

flocos decantados são acumulados nos decantadores durante períodos

relativamente longos, enquanto que a lavagem dos filtros produz uma grande

vazão por um período de alguns minutos, geralmente uma vez por dia para cada

filtro (Figura 1.8).

Cada uma dessas linhas geradoras de resíduos sólidos apresenta

características distintas em termos de vazão e concentração de sólidos, razão

pela qual diferentes concepções de tratamento devem ser considerada.

Pelo fato do decantador ser a unidade se separação sólido-líquido que

permite a remoção dos sólidos em suspensão presentes na água floculada, este

volume de lodo em seu interior tem de ser eliminado de modo a não comprometer

a sua operação. Deste modo, o volume de água gasto na operação dos

decantadores compreende não apenas o volume de água que corresponde à

descarga de lodo, como também o volume de água gasto em sua limpeza. Em

termos volumétricos a vazão descarregada é bem menor quando comparada com

a vazão de água de lavagem. No entanto, em termos de carga de sólidos esta é a

maior.

Page 32: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

32

FIGURA 1.8 - Decantador em fase de drenagem e limpeza

FIGURA 1.9 - Sistema de purga de lama dos decantadores

No Brasil, a grande maioria das ETA’s são do tipo convencionais. Apenas

serão analisados os resíduos líquidos e sólidos gerados nesse tipo de concepção.

Page 33: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

33

3.3.1 - Rejeitos da coagulação

O constituinte principal do lodo da coagulação é o alumínio hidratado,

quando se emprega sulfato de alumínio, ou os óxidos de ferro, quando se

empregam coagulante à base de ferro. Pequenas quantidades de carvão ativado

e auxiliares de coagulação, como os polieletrólitos e a sílica ativada, podem ser

incluídas. As partículas entranhadas nos flocos são essencialmente inorgânicas

em natureza, principalmente silte e argila. Como a fração orgânica é pequena, o

lodo não entra em decomposição biológica. O lodo de hidróxido de alumínio é

gelatinoso em consistência, o que o faz difícil desidratação. Os lodos decantados

possuem baixa concentração de sólidos, geralmente entre 0,3 a 2,5%. Os

precipitados de ferro são mais densos que os de sulfato de alumínio. Os sólidos

totais produzidos na coagulação de águas superficiais, com sulfato de alumínio,

podem ser estimados usando-se a seguinte relação:

Sólidos de lodo(mg/l)= dosagem de sulfato (mg/l) + turbidez da água bruta (U.J.) 4

Quando as águas de superfície turvas recebem pré-decantação, os sólidos

acumulados consistem em areia fina, silte, argilas e matéria orgânica. Algumas

vezes, o cloro e outras substâncias químicas são aplicadas à água bruta para

melhorar a decantabilidade, embora, raramente, representem uma quantidade

mensurável de sólidos no total. Os resíduos da pré-decantação podem ser

transportados para aterro sanitário ou, em alguns casos descarregados para o

curso d’água.

3.3.2 - Perdas físicas operacionais

O controle de perdas em ETA não é uma atividade isolada e envolve tanto

a diminuição do volume de água gasta na operação do processo quanto o

tratamento dos resíduos sólidos e líquidos gerados no tratamento.

As perdas consideradas dividem-se basicamente em três segmentos:

- Volumes operacionais gastos no processo de tratamento e lançados no

corpo receptor, sem reaproveitamento;

- Volumes operacionais excedentes àquele estritamente necessário à boa

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34

operação da ETA; e

- Volumes devidos a vazamentos.

No primeiro caso, o controle de perdas compreende um processo de

tratamento e reaproveitamento dos volumes utilizados na lavagem dos filtros e na

descarga de lodos dos decantadores.

No segundo caso, a redução dos desperdícios se dá pela revisão do

processo de tratamento, por meio de adequação de suas instalações e /ou dos

métodos operacionais, de forma a utilizar o volume mínimo de água necessário.

Segundo a AWWA (1987) em média, uma ETA gasta de 2% a 5% do

volume de água produzido no processo de lavagem dos filtros. Sem sombra de

dúvida, é o maior volume de água gasto no processo de tratamento.

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35

4 - TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO DOS REJEITOS DA CLARIFICAÇÃO

Referências sobre sistemas de tratamento de resíduos sólidos e líquidos

Na prática, duas diferentes situações são comumente encontradas. A

primeira delas é quando o sistema de tratamento do lodo é dimensionado

conjuntamente com o tratamento da água. Neste caso, a principal vantagem é a

compatibilização dos tratamentos da fase líquida e da fase sólida. No entanto,

como desvantagem, uma vez que a ETA está em fase de projeto, a produção de

lodo e suas características não são conhecidas a priori, o que impõe dificuldades

na obtenção dos parâmetros de projeto das unidades para o tratamento da fase

sólida e sua conseqüente recuperação de água.

A segunda situação é para ETA já existentes, onde o projeto e construção

do tratamento da fase sólida são efetuados a posteriori. Ao contrário do primeiro

caso, o fato da ETA já esta em funcionamento possibilita a utilização da fase

sólida gerada durante o processo de tratamento pra fins de ensaios piloto visando

à determinação da sua concepção mais adequada, bem como de seus

parâmetros de projeto. Por outro lado, pelo fato da ETA já estar fisicamente

construída, pode haver uma limitação do ponto de vista construtivo na adequação

do sistema de tratamento da fase líquida visando um projeto econômico do

tratamento da fase sólida.

Tratamento e recuperação da água de lavagem dos filtros

Uma das etapas mais importantes do processo de filtração é a limpeza do

leito filtrante, uma vez que encerrada a carreira de filtração.

Os problemas oriundos das lavagens inadequadas de meios filtrantes no

que se refere a qualidade do efluente produzido por uma unidade de filtração

após sua lavagem, bem como aqueles crônicos que porventura podem resultar da

ineficácia do processo de lavagem utilizado, têm sido bem documentados na

literatura. Além disso, a ineficácia de um sistema de lavagem não apenas

compromete o processo de tratamento de água como também pode exigir uma

maior volume de água de lavagem, o que, sem dúvida, traz prejuízos

consideráveis no que diz respeito ao reaproveitamento da água de lavagem dos

filtros.

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36

Os principais métodos de lavagem de meios filtrantes podem ser

classificados em quatro grandes categorias, a saber: a) lavagem exclusivamente

com água; b)lavagem com água e sistema de lavagem superficial com auxiliar; c)

lavagem com ar unicamente seguido de água; d)lavagem com ar e água,

simultaneamente.

Cada método apresenta suas vantagens e desvantagens e, justamente em

função destas, aliadas, às características da água decantada, do arranjo físico e

da concepção da ETA, é que uma determinada metodologia de lavagem deve ser

selecionada.

A concepção do sistema de recuperação de água de lavagem é

profundamente dependente das características da água bruta, dos sistemas de

filtração e de lavagem, do tipo de pré-tratamento ao qual a água afluente aos

filtros é submetida e das características exigidas para a água recuperada.

Podem ser utilizadas duas diferentes concepções no tocante à recuperação

da água de lavagem. A primeira delas é a imposição, por motivos de ordem

sanitária, da reciclagem da água de lavagem com um menor teor de sólidos e

microrganismos possível.

O principal motivo para a sua imposição é que, no caso a água de lavagem

apresente uma qualidade microbiológica não satisfatória ou presença de ferro e

manganês, pelo fato do processo de filtração ser uma operação de pré-

concentração de sólidos e microrganismos, quando de sua reciclagem integral a

água de lavagem pode prejudicar o processo de tratamento da fase líquida.

Uma vez que seja necessário a separação de parte dos sólidos presentes

na água de lavagem antes do seu retorno, devido à fragilidade do floco formado

pelo hidróxido de alumínio ou férrico, a operação do sistema de recuperação de

água deverá ser preferencialmente em batelada, pois a ocorrência de correntes

de velocidades no interior do tanque de separação pode fazer com que haja

ressuspensão dos flocos sedimentados, retornado-os para a fase líquida.

Uma preocupação importante relativa a recirculação de águas diz respeito

a possibilidade, ainda que pequena, do aumento da concentração de organismos

patogênicos, tais como cistos de protozoários (por exemplo, Giárdia sp., Criptos

poriduim sp.) quando associados às águas afluentes aos filtros oriundos de

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37

decantadores ou de unidades de coagulação-floculação.

De maneira análoga, há uma preocupação com a possibilidade de

amplificação de vírus e outros microrganismos. Existe ainda a possibilidade de

que certos problemas estéticos (gosto, sabor) e problemas da produção de

compostos organoclorado (por exemplo, THM) dentre outros, possam ser

amplificados pelo tipo de prática de recuperação de águas de lavagem

empregada. No entanto, de acordo com a AWWA (1987), na prática, nenhuma

demonstração quantitativa foi apresentada que substanciasse tais preocupações.

Na realidade, as práticas de reaproveitamento das águas de lavagem já

existentes, devidamente monitoradas, deverão fornecer elementos para a sua

utilização crescente nos casos em que for possível controlar com segurança os

riscos envolvidos.

A segunda hipótese de concepção ocorre nos caso em que a água de

lavagem passa ser reciclada integralmente para início do processo de tratamento

sem a necessidade de remoção de sólidos em suspensão presentes. Passaria a

trabalhar apenas como um tanque de equalização. Caso a água proveniente da

lavagem de filtros seja retornada de forma integral para o início do processo, é

recomendável uma homogeneização neste tanque.

Uma recomendação usual é que o retorno da água de lavagem não

ultrapasse a 10% da vazão da água bruta afluente a ETA de modo a permitir que

não haja nenhum prejuízo no processo de coagulação-floculação, dosagem de

coagulante e sobrecarga hidráulica nas unidades de tratamento.

Três ETA’s que realizam com sucesso a recuperação integral de suas

águas de lavagem são as do Guaraú e Alto da Boa Vista, ambas operadas pela

SABESP, e a do Rio Descoberto, operada pela CAESB. As duas primeiras

operam os seus sistemas de água de lavagem em sistema semi-contínuo e a ETA

do Rio Descoberto opera em sistema contínuo após clarificação em adensadores

providos de raspadores mecanizados, sendo que a desidratação do lodo gerado é

efetuada em “decanters” centrífugos.

As duas primeiras são responsáveis pelo abastecimento de parte da

Região Metropolitana de São Paulo, e possuem capacidade de 33,0 m3 /s e 110,0

m3/s, respectivamente. A ETA do Rio Descoberto, responsável pelo

Page 38: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

38

abastecimento de cerca de 60% da população do Distrito Federal, tem

capacidade de 6,0 m3/s.

Os resultados operacionais obtidos nestas ETA’s têm mostrado que o

impacto da reciclagem dos sólidos em suspensão presentes na água de lavagem

no processo de coagulação-floculação e no aumento da turbidez da água bruta

tem sido desprezível. Acredita-se que, pelo fato da água bruta das três ETA’s

apresentarem durante a maior parte do ano valores de turbidez inferiores a 10 UT,

a presença de sólidos em suspensão em algumas situações tem-se mostrado

extremamente positiva por acrescentar partículas na água bruta que servirão

como núcleos responsáveis pela melhoria do processo de floculação, permitindo

uma maior probabilidade choques entre as partículas primárias presentes

originalmente na água bruta, os flocos do coagulante metálico introduzido e os

sólidos em suspensão introduzidos pela reciclagem da água de lavagem.

Historicamente, no Brasil, o tratamento dos resíduos sólidos gerados

durante o processo de lavagem de filtros e posterior reaproveitamento da água é

o que tem recebido maior atenção.

O reaproveitamento das águas de lavagem dos filtros das três ETA’s é

significativo, representando cerca de 880 L/s nas operadas pela SABESP e de

170 L/s para a da CAESB, suficientes para o abastecimento de aproximadamente

450.000 habitantes com um per capta de 200 L/hab/dia.

Portanto, além de se evitar um dano ambiental, a recuperação de água de

lavagem constitui-se em uma alternativa para o aumento da produção de água

tratada, o que é especialmente importante em regiões cujo aumento na

capacidade de produção é muito oneroso devido à escassez de mananciais

próximos ao centro consumidor e nos casos em que a disponibilidade de recursos

humanos e tecnológicos é capaz de assegurar a higidez da operação com a

minimização dos riscos. Uma simples comparação econômica entre os custos de

implantação e operação de um sistema de recuperação de águas de lavagem e o

de captação e adução de idêntica vazão indicará a solução a adotar, devendo-se

considerar, evidentemente, os benefícios ambientais resultantes do tratamento e

da disposição adequada dos resíduos liquido e sólidos gerados na ETA.

Um aspecto de grande importância no sucesso de um sistema de

Page 39: gerenciamento do resíduo gerado na clarificação de água da rlam

39

recuperação da água de lavagem é a conscientização da equipe de operação da

ETA. Em muitos casos, devido a concepção do sistema de tratamento, os filtros

são muitas vezes lavados seqüencialmente sem o devido controle operacional, o

que é especialmente comum em ETA de grande porte que apresentam um grande

número de unidades filtrantes.

Desta forma, o que muitas vezes representa uma otimização do processo

de filtração é, na verdade, um complicador do processo de recuperação de água

de lavagem, pois caso o sistema de recuperação não apresente condições de

receber todo o volume de água de lavagem produzido na unidade de tempo, a

sua recuperação será apenas parcial.

Fica evidente o fato de que quanto melhores forem as condições de pré-

tratamento da água bruta, mais eficiente será o processo de filtração e mais longo

serão as carreiras de filtração e, sendo estas mais longas, mais facilmente o

sistema de recuperação de água de lavagem poderá ser otimizado visando seu

reaproveitamento integral.

Tratabilidade dos resíduos sólidos gerados em sistemas de separação sólido-líquido

No tratamento de águas de abastecimento são comumente utilizados

decantadores convencionais ou decantadores de alta taxa com unidades de

separação sólido-líquido. Em alguns poucos casos é utilizada a flotação com ar

dissolvido a montante da filtração.

Cada uma destas operações unitárias apresenta significativas implicações

no tratamento da fase sólida.

Em decantadores convencionais, o processo de remoção de lodo pode ser

mecanizado ou hidráulico, caso este possua tubulações e demais acessórios que

permitam a descarga de lodo em intervalos regulares de tempo sem que seja

necessária a sua interrupção.

A remoção de lodo em sistemas com descarga mecanizada ou hidráulica é

semi-contínua e todas as operações unitárias envolvidas no tratamento da fase

sólida deverão ser dimensionadas para trabalharem da mesma forma.

Infelizmente, a grande maioria das ETA no Brasil não possui sistemas de

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40

remoção de lodo por via mecanizada ou hidráulica e, em geral, a sua remoção é

efetuada por batelada. Assim sendo, após um período de operação do

decantador, em geral da ordem de 20 a 40 dias, este é colocado fora de

operação, sendo efetuada a sua descarga. Esta descarga, evidentemente, implica

em perda de um volume de água significativo. Neste caso, não apenas água, mas

também todos os sólidos acumulados em seu interior durante o seu período de

operação.

Normalmente, em sistemas desta natureza, o lodo é descarregado em

corpos d’água sem nenhum tratamento e a concepção de sistemas de tratamento

da fase sólida é, em geral, a mais difícil, isto porque, em muitos decantadores

convencionais, é difícil a instalação de sistemas de remoção semi-contínuo de

lodo, seja pelo preço dos equipamentos e tubulações, como também por

problemas de ordem construtiva ou operacional.

Evidentemente, decantadores convencionais com remoção semi-contínua

de lodo apresentam grande superioridade com relação a sistemas sem remoção

de lodo (casos em que o lodo é retirado por meio de descarga do decantador, por

permitirem a sua operação ininterrupta sem trazer prejuízo ao processo de

tratamento de água, evitando-se, assim, sobrecarga hidráulica nas unidades de

decantação).

Como é de esperar, as características dos lodos gerados em decantadores

com sistemas de remoção semi-contínua e descarga em batelada são bastante

distintas.

Lodos gerados de forma semi-contínua com sistema de bombeamento

automatizado são, em geral, programados para remoção de lodo em intervalos de

2 a 4 horas, com duração da ordem de 5 minutos, sendo que os teores de sólidos

variam temporalmente da ordem de 0,3% a 2,5%.

Embora seja possível aumentar a concentração de sólidos do lodo

aumentando-se o tempo entre as remoções, tal prática não é recomendável, pois,

para que o decantador funcione adequadamente não é conveniente que o mesmo

trabalhe como reservatório de acumulação de lodo. Além disso, esse acúmulo de

lodo nos decantadores com remoção mecanizada é altamente indesejável por

trazer prejuízo ao funcionamento dos raspadores de lodo. Também deve ser

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41

considerado o fato de que lodos com altos teores de sólidos podem causar

entupimento nas tubulações, além de trazer prejuízos a seu escoamento.

Consideração de caráter econômico-financeiro

A construção de sistemas de tratamento dos resíduos sólidos e líquidos

gerados em uma ETA é, evidentemente, onerosa. No entanto, deve ser

considerado o benefício do reaproveitamento de um determinado volume de

água. “No exemplo anteriormente citado da ETA do Rio Descoberto no Distrito Federal, o custo de implantação do Sistema de Recuperação da Água de Lavagem (SRAL) foi de R$ 2.200.000,00 (dois milhões e duzentos mil reais) e representou cerca de 11% (onze por cento) do custo total das obras de ampliação da ETA, o que comprova a afirmação acima de que representa uma instalação onerosa. A ETA do Rio Descoberto trata atualmente uma vazão média de 3,4 m3/s recuperando-se uma média de 170 L/s, ou seja, exatamente 5%, suficiente para o abastecimento de uma população de cerca de 73.000 habitantes com um per capta de 200 L/hab/dia. Numa análise expedita, sem considerar-se os custos operacionais e adotando-se o mesmo valor estimado de R$ 0,25 por metro cúbico, o investimento realizado na implantação do SRAL é recuperado em cerca de 20 meses. Se considerada apenas a economia de energia elétrica para recalque de água bruta desde o ponto de captação à entrada da ETA, o retorno deverá ocorrer em um prazo de 4 a 5 anos, conforme estudo realizado pela CAESB, o que comprova que neste caso, o investimento apresenta ter bom nível de retorno.” Ferreira Filho & Laje Filho (1999)

Face às exigências cada vez maiores da sociedade no que tange ás

questões ambientais, a decisão da necessidade de implantação de sistemas de

recuperação de águas de processo e de tratamento e disposição final dos

resíduos da ETA não passa obrigatoriamente pela viabilidade econômica do

empreendimento, mas também pelo aspecto de preservação ambiental.

4.1- Disposição em Lagoas de Lodo

A disposição de lodos em lagoas é comum no EUA. Essas lagoas podem

ser naturais ou construídas através de diques ou escavações. Esse método

poderá ser viável para locais que possuam áreas próximas as ETA’s, com

condições topográficas e geofísicas adequadas.

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A desidratação de lodos em lagoas ocorre em três fases: drenagem,

evaporação e transpiração. Algumas experiências têm mostrado que a drenagem

é independente da profundidade da lagoa, ressaltando-se que a evaporação é um

dos principais fatores para a "desidratação".

O projeto de lagoas de lodo deve incluir: sistema de tubulações de entrada

de lodo e saída do decantado, sistema de bombeamento (se necessário), sistema

de coleta do drenado (opcional) e equipamentos de remoção mecânica do lodo. O

sobrenadante decantado poderá retornar ao sistema de tratamento.

O tempo para "desidratação" pode variar bastante, principalmente quanto

às variações climáticas ocorridas.

Vários são os fatores que devem ser avaliados nos critérios de projeto,

podendo ser citados: clima, permeabilidade do subsolo, características do lodo,

profundidade da lagoa, área superficial, etc. Quanto ao clima, devem ser

conhecidas: precipitação (índices pluviométricos, distribuição anual e sazonal);

temperaturas extremas; taxas de evaporação (média anual e flutuações anuais e

sazonais), intensidade de ventos, etc. As principais características do lodo que

devem ser analisadas são: tamanho e distribuição das partículas, resistência

específica, filtrabilidade e compressibilidade.

4.2 - Leitos de Secagem

Os leitos de secagem utilizados na remoção de água dos LETA’s

obedecem basicamente os mesmos critérios de projetos destinados à secagem

de lodos de estações de tratamento de águas residuárias industriais e sanitárias.

Constituem-se no método mais utilizado para "desidratação" de lodos de

esgotos sanitários nos EUA. Praticamente dois terços (2/3) das estações de

tratamento utilizam esse método. Pesquisas para remoção de água dos lodos em

leitos de secagem têm sido efetuadas desde 1900, quando se verificou que lodos

digeridos "desidratavam-se" mais rapidamente do que os lodos brutos. Os dados

de projeto, no entanto, são muito empíricos e somente há pouco tempo é que a

preocupação com os parâmetros envolvidos no projeto tem sido mais efetiva.

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43

Os leitos de secagem caracterizam-se por serem um sistema multifásico,

envolvendo algumas etapas de funcionamento. A Figura 4.1 mostra o esquema

do leito de secagem típico, com as etapas envolvidas.

Os leitos são tanques rasos, com duas ou três camadas de areia, com

granulometrias diferentes e cerca de 30cm de espessura. O sistema completo é

composto por camada suporte, meio filtrante e sistema drenante. A camada

suporte tem por finalidade:

- manter a espessura do lodo uniforme;

- facilitar a remoção manual do lodo;

- evitar a formação de buracos devido à movimentação de funcionários

sobre o leito.

A camada filtrante possui a espessura de 0,3 m de areia, com tamanho

efetivo de 0,3 a 0,5 mm e coeficiente de não uniformidade menor que 5,0. A

camada suporte é constituída por britas graduadas de 1/8 a 1/4, com espessura

da camada de 0,15 a 0,3 m. O sistema drenante é constituído por tubos de 150 a

200 mm de diâmetro.

LODO MEIO POROSO - ESTRUTURA SUPORTE

EVAPORAÇÃO DEVIDO À RADIAÇÃO E CONVECÇÃO

PRECIPITAÇÃO SOBRE LEITO

DESCOBERTO

FIGURA 2 - Etapas de Desidratação de LETA’s em Leito de Secagem

DRENAGEM DE ÁGUA ATRAVÉS DO MEIO POROSO

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44

O fundo do leito é geralmente o próprio solo, podendo algumas vezes,

receber uma camada de concreto simples.

O lodo é espelhado em camadas de 20 a 30 cm, e uma nova camada

somente deve ser lançada após a secagem total da primeira.

O sistema é afetado por diversos parâmetros, tais como: temperatura,

umidade do ar, viscosidade ao lodo, ventilação, etc.

Na Tabela 2 são apresentadas vantagens e desvantagens da utilização de

leitos de secagem.

TABELA 2 -Vantagens e Desvantagens do Uso de Leitos de Secagem

Vantagens Desvantagens

Baixo custo inicial, quando o custo

da terra é baixo.

Pequena necessidade de

operação.

Baixo consumo de energia.

Pouca ou nenhuma necessidade de

condicionamento químico.

Alta concentração de sólidos.

Necessidade de maior área em

relação a equipamento mecânico.

Necessidade de conheci mento

sobre dados climatológicos.

Trabalho intensivo para remoção

do lodo

Fonte: CRHEA – Companhia de Recursos Hídricos do Estado de Alagoas

4.3 - Espessamento por Gravidade

Espessadores por gravidade podem ser usados como passo inicial no

processamento do lodo, visando a redução do seu volume, quando a

concentração do lodo em bacias de decantação se toma inadequada. Os

polímeros, ou outros auxiliares de coagulação podem ser aplicados para melhorar

a decantabilidade dos sólidos do lodo. Comparado com um tanque de decantação

convencional, apresenta maior profundidade para acomodar um maior volume de

lodo e possui um mecanismo mais pesado. Peças pontiagudas, presas aos

braços do equipamento, provocam cavidades no lodo, liberando a água

entranhada. O lodo entra por trás de um poço de alimentação, no centro do

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tanque, e é direcionado para baixo. O sobrenadante extravasa num vertedouro

periférico, enquanto que o lodo adensado é retirado de um poço no fundo do

tanque. No tratamento de esgotos, o adensamento de lodo é, normalmente,

considerado como um processo contínuo, mas, quando empregado com lodo de

estação de tratamento d’água, geralmente é intermitente. Enquanto efetua a

clarificação, os tanques alimentados intermitentemente podem ser projetados

para permitir o armazenamento do lodo acumulado. Essa função de

armazenamento é, freqüentemente, essencial para as unidades de desidratação

mecânica subseqüentes, como filtros ou centrifugas. Os espessadores são,

geralmente, dimensionados na base de carregamento de sólidos por metro

quadrado de superfície do tanque. Valores na faixa de 2 500 a 5 000 kg/m2-d, são

comuns. Entretanto, diversos lodos podem variar, consideravelmente, nas suas

características de adensamento, e os espessadores devem ser selecionados com

base nas condições locais.

4.4 - Filtros- Prensa

O sistema de filtro-prensa para remoção de água de lodos funciona de

forma intermitente. O lodo é introduzido em câmaras, onde "telas" (mantas)

filtrantes estão alojadas. Através da aplicação de pressões diferenciais, inicia-se a

compressão do material sobre o meio filtrante, fazendo com que o filtrado seja

removido, formando-se na câmara uma mistura com teor elevado de sólidos,

usualmente denominado de "torta".

O sistema de filtro-prensa envolve basicamente duas operações: a primeira

é a aplicação de pressão sobre a massa (lodo) e a segunda é a filtração da água

contida na massa.

Os filtros-prensa de placa são constituídos por uma estrutura metálica que

tem como guia uma viga, onde as placas são colocadas. Essa guia pode ser

superior ou lateral.

Os filtros de placa têm funcionamento batelada, onde as câmaras são

preenchidas com o lodo e parte móvel do filtro provoca a compressão, de tal

maneira, que é formada uma "torta" com a retirada do filtrado através da câmara.

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46

A medida em que as tortas de lodo se formam no interior das câmaras, a

pressão de alimentação aumenta, mantendo constante a vazão. Essa pressão

aumenta gradativamente até atingir um valor máximo, a partir da qual, qualquer

aumento torna-se anti-econômico.

Figura 2.1 - Filtro-prensa

A pressão de operação dos filtros varia de 2 a 15 bar (2 a 15 kg/cm2 ou 0,2

a 1,5 MPa) podendo chegar em certos casos até 20 bar (2,0 MPa). Essa pressão

deve ser fixada em função do tipo de lodo e do teor de sólidos que se deseja na

torta. A espessura da torta depende da filtrabilidade do lodo.

As placas utilizadas nos filtros-prensa podem ser construídas com diversos

materiais: ferro fundido cinzento, ferro fundido nodular, alumínio, aço inox e ligas

especiais, poliéster reforçado com fibras sintéticas, polipropileno, madeira,

"nekulit.

Para o meio filtrante podem ser usados tecidos de fibras orgânicas

sintéticas, tais como: nylon e propileno.

A escolha do tipo de tecido é um fato importante no projeto de filtro-prensa,

uma vez que o tecido promove influência direta na eficiência da operação. Assim

a abertura da trama e a espessura do filamento devem ser bem adaptadas ao

tamanho da partícula que se deseja reter.

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A adição de produtos químicos ao lodo bruto visa principalmente melhorar

as condições de filtrabilidade do mesmo e a possibilidade de formação de um

floco forte.

Os produtos químicos utilizados são:

- cloreto férrico + cal;

- sulfato ferroso + cal;

- sulfato férrico + cal;

- polieletrólitos.

Essa técnica foi introduzida para lodos de estações de tratamento de água

- LETA na Inglaterra, segundo Young (1968), utilizando-se condicionadores, com

certo sucesso. Em Armfield, Inglaterra, os lodos resultantes do tratamento da

água com cloreto férrico como coagulante primário, eram "desidratados" em filtro-

prensa, produzindo 80 tortas de 1,2 m2 de área e 25 mm de espessura. Nesse

sistema era utilizado cal como condicionador e o filtrado era bombeado para a

entrada da estação.

4.5 - Centrífugas

A centrifugação de lodos é uma operação que tem como base à

sedimentação pela aplicação de força centrífuga, a qual fornecerá valores para a

aceleração de 500 a 4.000 vezes a aceleração da gravidade. As centrífugas são

equipamentos que, utilizando esse princípio, realizam a separação dos sólidos

presentes no lodo. Esse material é depositado nas paredes do equipamento,

fazendo com que a água seja drenada. Os sólidos são removidos através de um

helicóide que gira concêntrico ao tambor. As centrífugas utilizadas para

"desidratação" dos lodos podem ser de eixo horizontal (centrífugas decantadoras)

que funcionam continuamente e de eixo vertical (centrífugas de cesto), cujo

funcionamento é em batelada.

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FIGURA 2.2 - Centrífuga

As centrífugas foram primeiramente utilizadas para desidratação de lodos

de ETEs nos EUA, durante o ano de 1920 em Milwauker, Wisconsin, e em 1921

em Baltinome, Maryland, mas esses sistemas não estavam adequados para esse

tipo de resíduo o que criou uma série de restrições entre os engenheiros,

decorrentes dos problemas de operação e manutenção, apresentados por esses

equipamentos. A partir de 1960 os fabricantes passaram a projetar e desenvolver

novos projetos com o objetivo de atender ao mercado de lodos de ETE’s e o

sucesso cresceu. Esse desenvolvimento levou a sistemas que em 1979 utilizavam

bem menos energia com menores problemas de manutenção.

Esse equipamento promove um estágio intermediário entre a secagem e o

adensamento do lodo. O lodo é introduzido no tambor, através de um tubo de

alimentação no centro do sistema.

Os sólidos são obrigados a ocupar as paredes da cavidade. Um parafuso

espiral movimenta os sólidos depositados no tambor para a parte posterior, onde

são dispostos. A saída do tambor age como um vertedor para o controle de

descarga do efluente clarificado. A localização dessa saída, com respeito ao eixo,

é ajustada e determinada em relação ao nível da pasta fluida retirada da cavidade

(tambor).

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4.6 - Utilização de LETAs como Auxiliares de Floculação

A dificuldade de coagular compostos coloidais presentes na água tem sido

controlada com a busca de métodos e produtos químicos que possam resolver

esse problema, que possui várias origens. Uma delas é a formação de flocos

pequenos, com baixa velocidade de sedimentação, decorrente de águas de baixa

turbidez. A melhoria da sedimentabilidade desses flocos tem como conseqüência

vários fatores positivos na produção de água tratada.

A utilização do material sedimentado nos decantadores pode auxiliar o

processo de coagulação - floculação, fornecendo flocos maiores e mais densos.

Cordeiro (1981) trabalhando em laboratório com solução preparada com

Kaolin (R-3 Fisher Scientific Company -USA), realizaram ensaios, utilizando

quatro tipos de água: a primeira com baixa turbidez (12 UT) e alcalinidade igual a

58 mg/1; a segunda com mesma turbidez e 24 mg/l de alcalinidade; a terceira

com turbidez igual a 52 UT e 58 mg/l de alcalinidade; a quarta com turbidez 52 UT

e 24 mq/l de alcalinidade. A metodologia utilizada nos ensaios de floculação foi

apresentada por Campos e Di Bernardo (1975).

A utilização dos LETA’s como auxiliares de floculação mostrou que: pode

alcançar redução de até 60% da dosagem ótima de sulfato de alumínio: o pH do

sobrenadante sofria pouca variação; com a redução da dosagem de sulfato,

também deveria ser reduzida a dosagem de cal, quando esta era adicionada; a

remoção da turbidez inicial era muito maior para águas de baixa turbidez; a

sedimentação dos flocos nas amostras com lodo era praticamente imediata, em

virtude da alta concentração de partículas; os flocos formados nas águas com

baixa turbidez eram grandes e densos; os exames bacteriológicos revelaram que

não houve problema com o sobrenadante em relação ao número de coliformes; a

constante de agregação era maior; a constante de ruptura era menor.

4.7 - Lançamento no Solo

O lançamento de lodos de estações de tratamento de água LETA no solo é

ainda pouco divulgado e os resultados que se dispõem não permitem avaliações

mais profundas.

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A aplicação de LETA’s no solo, apesar do baixo custo envolvido, pode

infringir leis de controle de poluição, pois existe a probabilidade desse material

conter altas concentrações de certos metais, o que exige cuidados especiais no

seu manuseio.

Grabarek e Krug (1987) analisaram a possibilidade de lançamento no solo

de dois tipos de lodos - LETAs, resultantes da coagulação com sulfato de

alumínio. Um dos sistemas utiliza o tratamento tradicional e, o outro, filtração

direta. Os testes realizados envolveram duas partes: a aplicação direta em

plantações e a remoção de ferro e alumínio para estudar o potencial existente

para aderência ao fósforo (principalmente porque o alumínio pode apresentar

toxicidade quando da fixação de P - PO4 pelas plantas).

Segundo os autores o lançamento dos LETA’s no solo não apresentou

inconvenientes tanto no crescimento das plantas quanto na questão de lixiviação

de alumínio. É sugerido que para solos com baixas concentrações de

sesquióxidos de fósforo reativo, a adição de LETA’s poderia ser possível e com

pequeno impacto ambiental. No trabalho é colocada a possibilidade dessa prática

vir se tornar viável e de baixo custo.

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5 – CONCLUSÃO

A partir do estudo efetuado sobre o processo de tratamento d’água da

RLAM, podemos concluir que essa atividade necessita de uma abordagem mais

técnica que aponte para as preocupações do pensamento industrial moderno,

com o propósito de reduzir a geração de resíduos na fonte e contemplando ao

mesmo tempo a sua reutilização no processo de tratamento.

Quando foram analisados o volume de água captada e os descartes na

forma de efluentes, percebemos a importância da atividade e seu potencial de

impacto para o meio ambiente, sobretudo nas alterações da qualidade dos

mananciais, podendo inclusive comprometer em alguma medida a continuidade

do processo da ETA.

Essas preocupações devem ser balizadas em reflexões no sentido de

aprimorar o sistema de tratamento d’água, com destaque para as oportunidades

de reutilização de resíduos nas diversas etapas do tratamento d’água. O estudo

identificou as diversas tecnologias de controle de geração de resíduos, sua

recuperação e destinação final de forma econômica e ambientalmente

adequadas.

Os constituintes químicos do processo e suas variáveis físicas devem ser

melhor avaliados para possibilitar a escolha da tecnologia mais adequada às

particularidades do empreendimento.

O trabalho trouxe também referências de gerenciamento que podem

avalizar medidas locais para atender a redução da utilização de recursos naturais,

bem como ao atendimento das exigências legais, onde estão refletidos os anseios

da sociedade.

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Tendo em vista o crescimento da população e conseqüentemente o

aumento da demanda por recursos hídricos é necessário desde já, atitudes

proativas em busca do desenvolvimento sustentado, onde a produção limpa é um

dos caminhos.

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6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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