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GRUPO HOSPITALAR CONCEI˙ˆO Diretoria Joªo Constantino Pavani Motta - Diretor Superintendente Gilberto Barichello - Diretor Administrativo e Financeiro RogØrio Amoretti - Diretor TØcnico Conselho de Administraçªo Gastªo Wagner de Sousa Campos Humberto SØrgio Costa Lima - Presidente Joªo Constantino Pavani Motta Ademar Arthur Chioro dos Reis Silvestre SØrgio Cachanoski Osmar Gasparini Terra RogØrio Santanna dos Santos Rosa Anacleta Soares Vaz Carvalho Sandra Maria Sales Fagundes Conselho Fiscal Bolivar Tarragô Moura Neto JosØ Erickson Alencar Vidal Reis Valcler Rangel Fernandes HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEI˙ˆO S.A. Gerente de Serviços Auxiliares de Diagnóstico e Tratamento Juarez Wolf Verba Gerente de Unidade de Internaçªo SØrgio Antônio Sirena Gerente de Pacientes Externos Luiz Ronaldo Huber Gerente de Administraçªo Sandro Depromocena Santander Gerente de Saœde ComunitÆria Eno Dias de Castro Filho Gerente de Unidades de Apoio Eunice Virgina Lopes Silva Gerente de Ensino e Pesquisa Jœlio Baldisserotto HOSPITAL CRISTO REDENTOR S.A. Gerente de Unidades de Internaçªo Joªo Luiz de Mello Gerente de Administraçªo Marina InŒs Silva Gomes HOSPITAL DA CRIAN˙A CONCEI˙ˆO S.A. Gerente de Unidades de Internaçªo Joªo Vicente Bassols Gerente de Administraçªo Cristina Rimolo Simıes HOSPITAL F˚MINA S.A. Gerente de Unidades de Internaçªo Carlos Eduardo Nery Paes Gerente de Administraçªo JosØ Pedro Silva da Luz

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GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO

Diretoria

João Constantino Pavani Motta - Diretor SuperintendenteGilberto Barichello - Diretor Administrativo e Financeiro

Rogério Amoretti - Diretor Técnico

Conselho de Administração

Gastão Wagner de Sousa CamposHumberto Sérgio Costa Lima - Presidente

João Constantino Pavani MottaAdemar Arthur Chioro dos Reis

Silvestre Sérgio CachanoskiOsmar Gasparini Terra

Rogério Santanna dos SantosRosa Anacleta Soares Vaz Carvalho

Sandra Maria Sales Fagundes

Conselho Fiscal

Bolivar Tarragô Moura NetoJosé Erickson Alencar Vidal Reis

Valcler Rangel Fernandes

HOSPITAL NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO S.A.

Gerente de Serviços Auxiliares de Diagnóstico eTratamento

Juarez Wolf Verba

Gerente de Unidade de InternaçãoSérgio Antônio Sirena

Gerente de Pacientes ExternosLuiz Ronaldo Huber

Gerente de AdministraçãoSandro Depromocena Santander

Gerente de Saúde ComunitáriaEno Dias de Castro Filho

Gerente de Unidades de ApoioEunice Virgina Lopes Silva

Gerente de Ensino e PesquisaJúlio Baldisserotto

HOSPITAL CRISTO REDENTOR S.A.

Gerente de Unidades de InternaçãoJoão Luiz de Mello

Gerente de AdministraçãoMarina Inês Silva Gomes

HOSPITAL DA CRIANÇA CONCEIÇÃO S.A.

Gerente de Unidades de InternaçãoJoão Vicente Bassols

Gerente de AdministraçãoCristina Rimolo Simões

HOSPITAL FÊMINA S.A.

Gerente de Unidades de InternaçãoCarlos Eduardo Nery Paes

Gerente de AdministraçãoJosé Pedro Silva da Luz

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Momento &Perspectivas em Saúde

Editor:

Alberto S. Molinari

Conselho Editorial:

Momento &Perspectivas em Saúde

Volume 18 - Número 1 - JANEIRO/JUNHO 2005

Publicação técnico-científica do Grupo Hospitalar Conceição, sociedade anônima de capital fechado comcontrole acionário da União Federal e ligada à Gerência de Ensino e Pesquisa - GEP/GHC.

MOMENTO & PERSPECTIVAS EM SAÚDE tem como escopo divulgar a experiência técnico-científica dos

profissionais do GHC e difundir conhecimentos, de qualquer origem, que contribuam para aperfeiçoar o

momento e desenvolver tendências de melhoria das perspectivas para a saúde no País.

CORRESPONDÊNCIA: os trabalhos para publicação, os livros para análise e as revistas empermuta devem ser encaminhadas para "Momento & Perspectivas em Saúde" Revista Técnico-Científica do GHC - Serviço de Editoria - Av. Francisco Trein, 596 - CEP 91350-200 - PortoAlegre-RS - Brasil - Telefone: 0 xx (51) 3357.2407 - e-mail: [email protected]

Airton SteinAlexandre MorettoBalduino TschiedelCharly F. CamargoCristiane Valle TovoEdelvis Vieira RodriguesEdmundo Lima ZagouryJosé Luiz PedriniJulio BaldisserottoLisete Maria AmbrosiEmilio Moriguchi (PUCRS)Jorge Luiz de Lima Hetzel (FFFCMPA)Noé Zamel (CANADÁ)George L. Irvin III (USA)

Luiz ZiegelmannMarilia Gerhardt de OliveiraMateo BaldisserottoPaulo R. S. SilvaPedro Pimentel FilhoRaul PruinelliRomeu WarkenSergio Antônio SirenaSergio M. EspinosaVera Lúcia PasiniMaria Ines Schmidt (UFRGS)Luciano Basto Moreira (ULBRA)Alberto Bujardon (CUBA)A. Diniz da Gama (PORTUGAL)

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unimed

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Editorial ........................................................................................................................................... 07Alberto Molinari

SUMÁRIO

Avaliação Pré-Operatória dos Pacientes com Coledocolitíase ............................................................................ 08

Leonardo Ortigara, Gilberto Laurindo Almeida, Luis Felipe Araújo, Enilde E. Guerra

Úlcera de Pressão nos Pacientes Internados em UTI: O que mais fazer? .......................................................... 16

Maria Cristina dos Santos Antunes

Desenvolvimento Puberal Precoce em Meninas .................................................................................................... 20

Rui Francisco Medeiros de Souza, Zélia Berenice Rocha Posser, Ana Maria Passos de Oliveira Ayala de Sá

Profilaxia Antimicrobiana em Biópsia de Próstata ............................................................................................... 26

Ana Luft, Ana Cristina Reinher Ferreira, André Bonfanti, Paulo Roberto Ferreira, Pedro Alves d'Azevedo

Gangrena de Fournier ................................................................................................................................................. 30

Gilberto Laurino Almeida, Hamilton Hilgert

Anticoagulação na Gestante com Prótese Metálica de Válvula Cardíaca: Um Relato de Caso ...................... 39

Ângelo Zambam de Mattos, José Eugênio Rache, Túlio Trevisan

Hipertensão Arterial Pulmonar Primária e Gestação - Relato de Caso ............................................................ 44

Pedro Pimentel Filho, Alfeu Roberto Rombaldi, Sérgio Moreira Espinosa, Fabiano Rodrigo de Godoy

Kissner, Leocádio Tesser, Carolina Ávila Vianna, Estefania Inêz Wittke

Infarto Agudo do Miocárdio Durante Gestação - Relato de caso ......................................................................... 48

Pedro Pimentel Filho, Alfeu Roberto Rombaldi, Sérgio M. Espinosa, Carolina Ávila Vianna, Fabiano Rodrigo

de Godoy Kissner, Leocádio Tesser, Estefania Inez Wittke, Anderson Dal Pozzo, Leonardo Fábio Carelli,

Leonardo Augusto Espíndola

Metástase de Adenocarcinoma de Cólon em PSOAS - Relato de caso ............................................................... 52

Luiz Felipe Lopes Araujo, Hamilton Hilgert

ARTIGOS ORIGINAIS

MOMENTOS EM MEDICINA

ARTIGOS DE REVISÃO

Normas para Publicação de Artigos na Revista �Momento & Perspectivas em Saúde� ............. 63

RELATO DE CASOS

Aplausos a um Esquecido....! ..................................................................................................................................................... 55

Zinid R. B. Diniz

CARTA AO EDITORAtenção à Saúde do Trabalhador no Grupo Hospitalar Conceição ..................................................................................... 57

Mõnica Villela Pereira, Elza Maria Vernet de Borba

Os Adolescentes e seus Hábitos Alimentares ........................................................................................................................ 62

Zinid R.B. Diniz

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EDITORIAL

O conselho editorial da Revista do GHC, Momento & Perspectivas em Saúde, está muitoentusiasmada com o número e qualidade das contribuições que está recebendo para manter a periodicidadee regularidade da nossa publicação. Entusiástica também são as manifestações de bibliotecas e faculdadesde Medicina e Odontologia em busca dos periódicos, bem como procurando contato com os autores, dasedições anteriores.

Neste número selecionamos para publicação alguns artigos que deverão ter repercussão no manejode condições clínicas importantes e que propõem sistematizar este manejo, como no trabalho de LeonardoOrtigara e cols que discute e sugere escores para diagnosticar antes da cirurgia, a presença ou não decoledocolitíase. A insatisfação dos resultados no manejo da úlcera de pressão em pacientes de UTI, estimulouMaria Cristina S. Antunes a estudar o problema partindo dos agentes encarregados do tratamento ou daprevenção desta complicação, tão freqüente em pacientes criticamente enfermos como os de UTI.

Em artigos de revisão o ginecologista Rui F. M. de Souza, através de uma revisão sistemática sobreo desenvolvimento puberal precoce em meninas, vai além ao indicar metodologicamente um roteiro de avaliaçãoe manejo desta condição. Ana Luft e cols. pela Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas, revisa aprofilaxia antimicrobiana em biópsia de próstata, estimulada pela disciplina de microbiologia da FFFCM.Gilberto L. Almeida em excelente revisão sobre gangrena de Fournier, enfatiza a importância dos cuidadosintensivos com o tratamento dos tecidos envolvidos e com as medidas de suporte para o manejo destacondição de extrema gravidade.

Na sessão de Relatos de Casos, usualmente os leitores esperam curiosidades ou exceções à regraem Medicina. Neste número felizmente, Ângelo Z. de Mattos, Pedro Pimentel Filho e Luiz Felipe L. Araújo,fogem a esta regra, porque os assuntos aqui abordados são: anticoagulação, hipertensão arterial pulmonarprimária, infarto agudo do miocárdio e metástases de adenocarcinoma de cólon, em algumas situaçõesespecíficas que, com certeza estimularão muito os leitores.

Em Momentos em Medicina, Zinid R.B. Diniz resgata a memória de um dos precursores no nossomeio, da medicina baseada nos problemas, como Lawrence Weed preconiza até hoje. Certamente aquelamaneira de pensar no ensino e atendimento médico foi a base do hoje instituído prontuário eletrônico. Noscongratulamos com este resgate feito pelo Dr. Diniz.

É claro que uma Instituição como o GHC não pode prescindir de uma política de saúde para seusfuncionários, como o descrito aqui, em carta ao editor, por Mônica V. Pereira e Elza M.V. Borba, desde a suacriação e normatização nos modelos atuais. O mesmo Zinid R.B. Diniz, na sua inquietude, propõe um projetopara a educação do adolescente e seus hábitos alimentares que devem ser estimulados a serem implantadospor todos nós.

Boa leitura!Alberto Molinari

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A litíase biliar é uma patologia de alta prevalência.Em torno de 10-18% dos pacientes com colelitíase tambémapresentam cálculos nas vias biliares. Atualmente, existeuma considerável diversidade de opções diagnósticas eterapêuticas que visam solucionar este problema tentandoaliar resolutividade, baixa morbidade e custo reduzido. Noentanto, há muita discussão sobre quais pacientes teriamrisco aumentado para coledocolitíase, e vários protocolosde triagem já foram propostos. Para avaliar a presença decoledocolitíase no pré-operatório, possibilitando umaconduta diagnóstica e terapêutica mais racional, foi realizadoum estudo transversal retrospectivo durante o período dejulho de 2004 a julho de 2005, analisando todos os pacientessubmetidos à colecistectomia com colangiografia intra-operatória ou com exploração de vias biliares no HospitalNossa Senhora da Conceição de Porto Alegre. As variáveisanalisadas foram dados da anamnese e exame físico, exameslaboratoriais e ecográficos. Foram excluídos os pacientescom neoplasia associada ou doenças hepatocelulares. Foramutilizadas análises estatísticas univariadas com o teste "t"de Student e "x2", e regressão logística. 96 pacientes foramincluídos no estudo. Destes, 43 apresentaram coledocolitíase.As variáveis idade, sexo, índice de massa corporal, dor emhipocôndrio direito, dor lombar, dor referida em ombro,bilirrubina total, gama GT, transaminases, e dilatação devias biliares à ultrassonografia não apresentaram significânciaestatística para presença de coledocolitíase. As variáveisprurido, icterícia, pancreatite, fosfatase alcalina e bilirrubinaconjugada apresentaram significância estatística na análiseunivariada (IC 95%). Na análise multivariada, as variáveisprurido e icterícia apresentaram significância estatística parapresença de coledocolitíase (p<0,05), enquanto que a variávelpancreatite apresentou significância estatística para ausênciada mesma (p<0,002). A análise conjunta da associação deicterícia, prurido e pancreatite possibilitou criar um sistemade escores que permite determinar a probabilidade de umpaciente apresentar coledocolitíase, com sensibilidade eespecificidade de 73%. A utilização de escores paradeterminar a possibilidade da presença de coledocolitíase éfactível, existindo uma tendência em utilizar critérios

ARTIGOS ORIGINAIS

AVALIAÇÃO PRÉ-OPERATÓRIADOS PACIENTES COM COLEDOCOLITÍASE

RESUMO

* Residentes de 2º ano em Cirurgia Geral do HNSC** Preceptora da Residência de Cirurgia Geral do HNSC

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:Leonardo OrtigaraRua Cel. Aurelio Bitencourt, 150 / 601 - Bairro Rio BrancoCEP 90430-080 - Porto Alegre / RS

Leonardo Ortigara *Gilberto Laurino Almeida *

Luis Felipe Araújo *Enilde E. Guerra **

ABSTRACTPREOPERATIVE EVALUATION IN

CHOLEDOCHOLITIASIS

Calculous biliary disease is a clinical condition withhigh prevalence. About 10-18% of patients with gallstonesalso have choledocholitiasis. To date, there is a considerablediversity concerning diagnostic and therapeutics tools to managethis situation trying to join resolutibility, low morbity and lowcosts. However, there is much discussion about which patientsdo have elevated risk for choledocholitiasis, and many guidelineshave been proposed yet. To analyze the presence ofcholedocholitiasis preoperatively, allowing a more rationaldiagnostic and therapeutic conduct, we made a retrospectivetransversal study between July 2004 and July 2005, studyingall the patients who underwent cholecystectomy withintraoperative cholangiography or common bile duct explorationat Hospital Nossa Senhora da Conceição de Porto Alegre, Brazil.Analyzes variables were data from history and physicalfindings, laboratorial and ultrasonography studies. Patients withassociated neoplasia or hepatocellular disease were excluded.We used statistical analysis from Student "t" Test and "x2",and logistic regression. 96 patients were included in the study.43 of which had choledocholitiasis. Variables age, sex, bodymass index, right upper quadrant pain, lumbar pain, referredshoulder pain, total bilirubin, gamma-glutamyltranspeptidase,transaminases, and bile duct dilation on ultrasound did notshowed statistical significance for choledocholitiasis presence.Variables pruritus, jaundice, pancreatitis, alkaline phosphataseand conjugated bilirubin showed statistical significance in aunivariate analysis (CI 95%). In a multivariate analysis,variables pruritus and jaundice showed statistical significancecholedocholitiasis presence (p<0,05), while variable pancreatitisshowed statistical significance for its absence (p<0,002).

clínicos, laboratoriais e de imagem para indicar métodosdiagnósticos mais sofisticados; mais estudos são necessáriospara permitir a utilização de escores para o diagnóstico pré-operatório de coledocolitíase.

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INTRODUÇÃO

A litíase biliar é uma doença com alta prevalênciana população geral. Segundo dados do DataSus,estima-se aproximadamente 5000 casos de colelitíasecom ou sem colecistite por ano somente na regiãometropolitana de Porto Alegre. Cálculos em viasbiliares podem estar presentes em 10 a 18% dospacientes com colelitíase1, podendo atingir níveis de32% em pacientes acima de 70 anos de idade2. Aidentificação pré-operatória dos casos com risco decoledocolitíase associada permitiria a indicação racionalde colangiografia trans-operatória3, principalmente nascolecistectomias por videolaparoscopia, por se tratarde um procedimento que requer um maior grau dehabilidade cirúrgica, recursos específicos e não serisento de riscos ao paciente. Soma-se a isso o fato deque possibilitaria selecionar os pacientes suscetíveisà realização de testes invasivos e de maior custo,porém altamente precisos, como a colangiografiaendoscópica retrógrada (CPRE).

Novos protocolos para estabelecer o risco deum paciente apresentar coledocolitíase estão sendocriados e empregados em demais centros. Empublicação recente, Sarli e colaboradores, utilizandoseis parâmetros pré-operatórios, classificaram ospacientes em risco baixo, médio ou alto para a presençade coledocolitíase, justificando o uso de exames comocolangiopancreatografia endoscópica retrógrada(CPER), colangiografia trans-operatória ecolangiografia endovenosa. No entanto, sóconseguiram determinar com precisão os pacientesque apresentavam cálculo no colédoco na vigência detais exames de imagem4.

Este será restrito a pacientes que apresentemque realizaram colangiografia trans-operatóriaassociada ou não a coledocolitíase, com investigaçãoem suas histórias (clínicas e físicas) prévias aodiagnóstico e exames laboratoriais.

O interesse do presente estudo é empregarformas já existentes de exames laboratoriais, de fácilacesso e baixo custo para determinar ou descartar apresença de coledocolitíase, possibilitando mais

resolutividade ao processo diagnóstico e terapêuticodessa doença tão comum.

ANATOMIA DAS VIAS BILIARES

As vias biliares podem ser divididas em intrae extra-hepáticas. As vias intra-hepáticascompreendem uma trama biliar bilateral que drena abile produzida pelos lobos hepáticos de formatotalmente independente, sem comunicações entre eles.As duas tramas confluem-se para a formação dosductos hepático direito e esquerdo, dando origem àsvias biliares extra-hepáticas. Esses dois ductos se unempara formar o ducto hepático comum, que drena abile para o colédoco (figura 1). Este, por sua vez, vaià direção ao pâncreas unindo-se ao ducto pancreáticoprincipal (ducto de Wirsung). Neste ponto há umconjunto de esfíncteres chamado de complexo deOddi, que regula a drenagem biliar para o duodenopela papila maior (papila de Vater).

Conjoined analysis of the association of pruritus, jaundice andpancreatitis enables the creation of a score system which permitsto determine the likelihood of a patient presentscholedocholitiasis, with specificity and sensibility of 73%.Applying score systems to determinate the presence ofcholedocholitiasis is factious, with a tendency to use clinical,laboratorial and ultrasound data to indicate more sophisticateddiagnostic tools; more studies are needed to allow the utilizationof score systems to diagnoses choledocholitiasis on apreoperatively basis.

Figura 1: anatomia do trato biliar extra-hepático

A vesícula biliar é um órgão sacular medindoem torno de 10 cm em média, com 3-5 cm dediâmetro, localizado abaixo dos segmentos IV e V dofígado, e pode ser dividida em fundo, corpo,infundíbulo e colo. Sua função é de armazenar econcentrar a bile produzida pelo fígado. Comunica-se com o restante da via biliar extra-hepática pelo ductocístico, que se unindo ao ducto hepático comumforma o colédoco. O colo da vesícula e o ducto císticoapresentam projeções espiraladas na mucosachamadas de válvulas de Heister.

É comum a presença de variações anatômicas

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biliares, como a presença do ducto hepático posteriordireito unindo-se ao ducto hepático comum após aunião do ducto hepático direito anterior com o ductohepático esquerdo. Já as variações anatômicas davesícula biliar são bem mais raras, havendo registrosna literatura de agenesia de vesícula biliar e deduplicação de vesícula.

A vesícula biliar é nutrida pela artéria cística,que normalmente é ramo da artéria hepática direita.A artéria cística também pode originar-se dasartérias hepática esquerda, hepática própria,hepática comum, gastroduodenal, ou mesentéricasuperior. A artéria cística geralmente cursa aoparalelo ao ducto cístico dividindo-se em ramossuperficial e profundo ao penetrar na vesícula. Umponto referencial importante para localizar a artériacística é o trígono de Callot, formado pelo ductohepático direito, pelo ducto cístico e pela bordahepática. A artéria cística normalmente encontra-se no interior deste trígono.

Já o suprimento arterial dos ductos extra-hepáticos é derivado de ramos das artériasgastroduodenal, pancreatoduodenais superiores,cística e hepática direita, cursando em paralelo comos ductos hepático comum e colédoco. Existemtambém variações anatômicas do suprimento arterialbiliar, sendo que a anatomia "normal" é encontradaem cerca de 60% da população em geral.

FISIOLOGIA

A vesícula biliar tem a capacidade de armazenarem torno de 40-50ml de bile. Além de secretar bilepara o ducto cístico, ela apresenta uma enormecapacidade absortiva, sendo considerado o órgão commaior capacidade absortiva por área do corpo. Essaabsorção se dá pelo transporte ativo de NaCl e passivode água.

Os principais hormônios reguladores do tratobiliar são secretina, colecistoquinina e gastrina. Asecretina aumenta o fluxo biliar através do estímuloda secreção de fluído rico em cloro pelos ductos. Acolecistoquinina e a gastrina também agem destaforma. A colecistoquinina é a principal responsávelpela contratilidade da vesícula após uma refeição. Ohormônio motilina também exerce função contrátilsobre a vesícula. Este processo de contração biliarse deve a eventos coordenados envolvendo fatoreshormonais e neurais da fase III do complexomioentérico migratório. A distensão gástrica tambémestimula a contração da vesícula e o relaxamento doesfíncter de Oddi. A colecistoquinina também ageno relaxamento do esfíncter de Oddi. Qualquerdefeito nesse processo contribui para a patogênese

da litíase biliar.

PATOGÊNESE DA LITÍASE BILIAR

A bile produzida no fígado é útil para facilitara digestão de lipídios e outros compostoslipossolúveis. Também serve para excretar solutosorgânicos como colesterol, sais biliares, bilirrubinae fosfolipídios. Bilirrubina é o produto final dometabolismo das hemácias. O principal soluto é ocolesterol. O organismo secreta em média 1200 mlde bile por dia.

O colesterol permanece diluído no interior davesícula biliar graças à formação de micelas,complexos de colesterol, sais biliares e fosfolipídios.Cálculos biliares formam-se quando ocorre umasuperprodução de colesterol que sobrecarrega asmicelas, precipitando cristais. A maioria dos cálculosformados é de colesterol. Também há os cálculospigmentares pretos e marrons, sendo estes maisrelacionados com cálculos de ductos biliares e infecçãobacteriana.

COLEDOCOLITÍASE

Coledocolitíase é a presença de cálculosbiliares no colédoco. A grande maioria desses cálculosforma-se na vesícula biliar e migra para o colédocoatravés do ducto cístico. Estes cálculos sãochamados de cálculos secundários. Os cálculos quese formam no próprio colédoco são chamados decálculos primários.

Outra classificação utilizada é quanto aomomento do diagnóstico. Existem os cálculosresiduais, que são aqueles diagnosticados até dois anospós-colecistectomia, e os cálculos recorrentes, quesão aqueles que são diagnosticados dois após umacolecistectomia.

Cálculos primários são mais associados comestase biliar, sendo geralmente do tipo pigmentadomarrom e frágeis, quebrando-se facilmente àmanipulação. Existem várias causas que expliquema estase biliar, dentre elas estenose biliar, estenosede papila e disfunção do esfíncter de Oddi. Quandoidentificada uma causa de estase biliar, esta deve sercorrigida para prevenir recorrências. Outra forteassociação é com infecção biliar, pois a maioria dospacientes apresenta cultura de conteúdo biliarpositiva.

A prevalência de coledocolitíase em pacientessubmetidos à colecistectomia é de 7-15%. Geralmentea obstrução biliar é transitória e os exames laboratoriaisencontram-se normais. Aproximadamente 1-2% dospacientes submetidos à videocolecistectomia sem

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colangiografia intra-operatória apresentam-se no pós-operatório com coledocolitíase residual.

Sinais e sintomas de obstrução biliar incluemicterícia, dor em quadrante superior direito ouepigástrio, acolia e colúria. Febre e calafrios podemocorrer se houver colangite. Níveis elevados debilirrubinas, fosfatase alcalina e transaminases sãocomuns, mas não são nem sensíveis nem específicospara coledocolitíase, pois cerca de um terço dessespacientes apresentam exames laboratoriais normais.Destes exames, a bilirrubina sérica apresenta o maiorvalor preditivo positivo (28-50%).

O exame padrão ouro para o diagnóstico decoledocolitíase é a colangiopancreatografiaendoscópica retrógrada (CPRE), que tem a vantagemde ser também potencialmente terapêutica. Suascomplicações incluem pancreatite, perfuração de tratogastro-intestinal e colangite, ocorrendo em cerca de5% dos exames.

Ecografia abdominal pode sugerir a presençade coledocolitíase quando houver dilatação igual ousuperior a 0,5 cm de diâmetro no colédoco empacientes com diagnóstico de colelitíase (prevalênciade 58%). A ecografia abdominal também pode mostrarcálculos no colédoco, mas somente em 60-70% doscasos. A ecografia endoscópica tem sido muito utilizadanos últimos anos. Por não precisar de canulação dapapila, é mais segura que a CPRE, mas ainda é menossensível que esta.

Nos últimos anos tem-se alcançado grandesavanços com o advento da colangiorressonânciamagnética, que apresenta sensibilidade de 95% eespecificidade de 85%. Este exame pode evitar cercade metade das colangiografias endoscópicasretrógradas.

A escolha de exames de imagem para odiagnóstico de coledocolitíase deve ser baseada nasua probabilidade. Atualmente é indicada CPRE parapacientes considerados de alto risco paracoledocolitíase, e colangiorressonância magnética paraaqueles considerados de risco intermediário. Já ospacientes considerados de baixo risco devem sersubmetidos à videocolecistectomia com colangiografiaintra-operatória. Se positivo, devem seguir exploraçãolaparoscópica de vias biliares ou conclusão da cirurgiacom plano de CPRE terapêutica no pós-operatório.Um dos algoritmos mais utilizados na atualidade é deLiu, baseado em critérios clínicos, ecográficos elaboratoriais (Quadro1).

MANEJO

O procedimento terapêutico de eleição paracoledocolitíase é a CPRE antes da colecistectomia,

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Quadro 1: critérios de Liu (BT: bilirrubina total; FA: fosfatasealcalina; TGO/TGP: transaminases; VC: videocolecistectomia;CIO: colangiografia intra-operatória; CRM:colangiorressonância magnética)* Deve haver pelo menos 2 dos 4 critérios laboratoriais citadosem cada coluna** Se positivo, deve-se realizar CPRE terapêutica; se negativa,prosseguir com VC + CIO

principalmente em instituições onde não há aparatolaparoscópico disponível para realizar a exploração devias biliares. Esta conduta evita uma cirurgia aberta,ou, em havendo falha endoscópica, permite aprogramação de colecistectomia aberta comexploração de vias biliares ou procedimento dedrenagem biliar. Em instituições onde não é possívelrealizar exploração laparoscópica de vias biliares, masexistem condições físicas e profissionais paraterapêutica endoscópica, é preconizada a conclusãoda cirurgia seguida de CPRE no pós-operatório.

A CPRE terapêutica consiste na canulação dapapila maior seguida de esfincterotomia com retiradade cálculos. A morbidade é de cerca de 5-8%, e amortalidade geral é de cerca de 0,2-0,5%. O índicede sucesso terapêutico fica em torno de 71-75% noprimeiro procedimento, e de 84-95% após múltiplosprocedimentos.

A exploração biliar laparoscópica permite aresolução do quadro de coledocolitíase em um únicoprocedimento invasivo. É aceitável que seja a condutade eleição em instituições que possuem disponibilidadee experiência laparoscópica para tanto, e é realizadacom a utilização de cateter de Fogarty ou guias emcesta introduzidas sob orientação fluoroscópica. Aexploração pode ser realizada via ducto cístico ouvia coledocotomia anterior. Se o ducto cístico forusado com sucesso, não há necessidade da inserçãode uma sonda de Kehr. Já se for necessária acoledocotomia anterior, o uso de sonda de Kehrtambém o será. Índices de sucesso de exploraçãolaparoscópica de vias biliares ficam em torno de 75-95%. A morbimortalidade da exploraçãolaparoscópica é similar à videocolecistectomia isolada,

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e os resultados dessa conduta são similares tambémem relação ao uso da terapêutica endoscópica pós-videocolecistecomia, com exceção do tempo dehospitalização (menor no grupo submetido a umúnico procedimento invasivo).

A exploração de via biliar aberta já não é tãorealizada quanto antes. Em instituições maiscapacitadas, se tornou um procedimento de exceção.Hoje em dia, fica reservada para casos onde osmétodos de eleição descritos previamente falharam,ou onde não havia condições clínicas para oprocedimento (gastrectomia, divertículo duodenal,cálculos impactados na papila), ou havia alguma outraindicação para cirurgia aberta. Está indicada acolocação de sonda de Kehr sempre que houverviolação do colédoco. Se houver insucesso naexploração por via biliar, deve-se proceder aduodenotomia após manobra de Kocher, eesfincterotomia seguida de esfincteroplastia. Pacientesque apresentem estenose definitiva, cálculos múltiplos,cálculos intra-hepáticos ou colédoco com diâmetromaior que 2,0 cm, está indicada a realização dederivação bilio-digestiva através decoledocojejunostomia em Y de Roux oucoledocoduodenostomia. Os índices de mortalidadecom procedimentos abertos são de cerca de 0-2%,com morbidade de cerca de 8-16%.

OBJETIVOS

Avaliar a sensibilidade e especificidade dahistória clínica e exame físico associados aos métodosdiagnósticos não invasivos e de baixo custo pré-operatórios na detecção de coledocolitíase.

Determinar se exames laboratoriais ou clínicospodem indicar a presença de coledocolitíase ou mesmodescartar a sua possibilidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Realizado estudo transversal no período deJulho de 2004 a Julho de 2005, sendo realizadaavaliação retrospectiva dos pacientes submetidos acolangiografia trans-operatória neste intervalo detempo.

As variáveis estudadas neste presente estudose referem a dados clínicos, valores laboratoriaissangüíneos e ecográficos. Entre os dados clínicos,analisamos a faixa etária, sexo, etnia, peso, presençade dor em hipocôndrio direito (localização anatômicada vesícula biliar), dor em ombro direito (dor referida),dor lombar, febre, prurido e icterícia.

A dilatação em milímetros do colédoco tambémfoi estudada quando presente, considerando-se como

8mm o valor anatômico normal pela ecografia.Os critérios de inclusão foram os pacientes

submetidos à colecistectomia com colangiografiatrans-operatório e ou exploração de vias biliares porlitíase biliar.

Já os critérios de exclusão eram pacientescom litíase biliar associado a neoplasias malignas edoenças hepatocelulares, os quais as colangiografiastrans-operatórias apresentavam outra finalidade alémdaquele de detectar a presença de cálculos na viabiliar.

Os resultados foram obtidos através daanálise estatística univariada (teste �t� Student e�x²�) e regressão logística através do programaSPSS12.

O enfoque foi o de �teste diagnóstico baseadoem probabilidades�, avaliando especificidade esensibilidade dos testes pré-operatórios, assim comoa estimativa do valor preditivo positivo e negativo.Através de resultados anormais (aumentados quandocomparado com a normalidade), foram realizadoscomparações entre os casos com presença decoledocolitíase na tentativa de determinar se há umpadrão que tenha um valor preditivo positivo ounegativo válido.

Análise retrospectiva de publicações médico-científicas atuais através do portal CAPES pesquisandopublicações no MEDLINE e LILACS. Os artigospesquisados foram o que possuíam análises e objetivossemelhantes ao nosso trabalho.

RESULTADOS

A amostra obtida no período determinado foide 96 pacientes submetidos à colangiografia trans-operatória. Destes 43 apresentaram coledocolitíase.O Quadro 1 demonstra as características da populaçãoestudada.

Idade, sexo, IMC, dor em hipocôndrio direito,lombar, e referida em ombro, bilirrubina total, gamaGT,transaminases, e dilatação de vias biliares àultrassonografia, quando submetidas à análiseestatística univariada não apresentaram significânciapara diagnóstico de coledocolitíase pré-operatório porapresentarem p=0,05 em um intervalo de confiançade 95%.

As variáveis prurido, icterícia, pancreatite,fosfatase alcalina e bilirrubina conjugada, quandoaval iadas individualmente em uma anál iseunivariada apresentaram significância estatísticas.Os valores obtidas em um intervalo de confiançade 95% foram:

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Tabela I: Análise Univariada

Quando realizada a análise multivariada, atravésda associação das variáveis que obtiveram valorestatística com p<0,05 (regressão logística) somenteprurido, icterícia e pancreatite apresentaram valorsignificativo. (Tabela I)

Enquanto a variável de prurido e icterícia foramfatores associados com a presença de coledocolitíase(assim como as demais variáveis estudas na análiseunivariada que apresentaram significância), apancreatite determinou uma relação inversa com aapresentação de coledocolitíase, ou seja, constitui-seem um fator protetor.

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Tabela II � Associação das variáveis com significância estatística

A associação entre icterícia, prurido epancreatite apresentou sensibilidade e especificidadede 73%, com intervalo de confiança entre 56 a 86%.O valor preditivo negativo (no caso, o paciente teriaapresentado quadro de pancreatite, e ausência deprurido e icterícia) foi de 93,3% e o valor preditivopositivo (ausênica de pancreatite e icterícia e prurido

clínico) de 82,4%.A análise conjunta dessas três variáveis mostra

uma tendência a estratificar a população de risco paracoledocolitíase, com a criação de um escore conformea apresentação clínica. Através da análise multivariadacom regressão logística, prurido apresentou peso 1 eicterícia peso 2 associados positivamente comcoledocolitíase; já a presença de pancreatite (peso 2),negativamente para a possibilidade de cálculos em viabiliar. O peso de cada variável, conforme apresentaçãodo quadro de coledocolitíase por parte dos pacientes,fornecia um soma. O valor então, após análise daregressão logística determinou a probabilidade domesmo em apresentar coledocolitíase antes doprocedimento cirúrgico. (Figura 2)

O cálculo de amostra para o trabalho emquestão foi de aproximadamente 300 pacientes paraque o mesmo apresente validade externa.

Figura 2 � Escore de risco para coledocolitíase combase em avaliação clínica do pré operatório

DISCUSSÃO

A colecistectomia, como previamente dito, éum dos procedimentos cirúrgicos mais realizados emnosso meio e no mundo, sendo o mais freqüente noHNSC. Dada a alta incidência de colelitíase associadaa coledocolitíase, justifica-se a utilização de métodosde rastreio para esta doença.

A literatura médica atual mostra a intensaprocura em valorizar testes não invasivos e de baixocusto para a detecção da litíase em vias biliares, vistoque, o seu tratamento difere da litíase biliar. Os testesavaliados como possíveis métodos de rastreio são osjá descritos na literatura e largamente utilizados.Procura-se, no entanto, estabelecer dentre estes qualseria o de maior poder diagnóstico, permitindo umplanejamento diagnóstico (uso de exames mais

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apurados e até invasivos) e cirúrgico diferenciado.Tendo alcançado os objetivos almejados,

estabelecerá uma orientação na utilização destes testescomo fatores preditivos como indicador decoledocolitíase, permitindo uma racional indicação deexames mais invasivos, diminuindo, portanto, oscustos hospitalares com a realização de tais exames ecom internações mais prolongadas, além de diminuiro risco cirúrgico (não exploração de vias biliares).

Desta forma, a condição ideal seria aclassificação de fatores preditivos quanto à presençade cálculos em vias biliares, que associados a examesdiagnósticos hoje disponíveis, ofereceria umacombinação ótima dos métodos terapêuticosdisponíveis. Estes testes preditivos deveriam ser,preferencialmente, não invasivos e de ampladisponibilidade.

Na era atual, onde o tratamento preconizadopara a colelitíase é por meios laparoscópicos, anecessidade de descartar eventuais patologias nas viasbiliares (principalmente a coledocolitíase) se tornafundamental.

Há diferentes formas de determinar ou não apresença de alteração em via biliares pré-operatório,sendo com maior ou menor sensibilidade. Aspossibilidades de investigação incluem história clínica,exames laboratoriais ou exames de imagem (comodito previamente). Esses exames isolados ou emassociação podem determinar patologias associadas àcolelitíase, evitando surpresas no trans-operatório. Noentanto, a solicitação indiscriminada de exames tornaesse processo muito caro e demorado, sendoimpraticável em um modelo como o Sistema único deSaúde (SUS). Devido a essa importância, algunstrabalhos específicos nessa área foram realizados,semelhantes ao nosso presente estudo.

Grande e colaboradores em uma análiseretrospectiva, através de análises multivariadas,criaram um modelo o qual foi empregado em estudoprospectivo com 160 pacientes. Entre 19 variáveisestudadas, apenas quatro apresentaram valorestatísticos, entre eles fosfatase alcalina, número decálculos na vesícula biliar, bilirrubina sérica total ediâmetro do colédoco. O valor preditivo dasensibilidade e especificidade forma de 92,9 e 99,3%respectivamente.

Parreira e colaboradores, utilizando comoparâmetro a fosfatase alcalina, a Ggt e a ecografiaabdominal como fatores preditivos para coledocolitíaseem paciente com pancreatite biliar aguda. A análisedeterminou a importância da ecografia abdominalcomo método para avaliar a dilatação das vias biliares,sendo esse valor útil na tentativa de determinar quaispacientes eram portadores de coledocolitíase.

Sgourakis e colaboradores, em recentepublicação, semelhante ao trabalho de Grande ecolaboradores, realizou análise retrospectiva de 294pacientes operadores por colelitíase para criar ummodelo, o qual aplicou de forma prospectiva. Essedeterminou que a presença de valores de maior ouigual a duas vezes o limite superior de TGO, fosfatasealcalina, bilirrubina conjugada, assim como umadilatação das vias biliares (colédoco) maior ou igual a10mm na ultrassonografia eram fatores preditivospositivos para coledocolitíase. Através de análisemultivariada regressiva, encontrou um valor preditivopositivo de 93,3% quando todos as variáveis estavamalteradas, e um valor preditivo negativo de 88,8%quando as mesmas não preenchiam os critérios, comuma sensibilidade e especificidade de 96,5 e 80%respectivamente.

CONCLUSÃO

A utilização de escores para determinar apossibilidade da presença de coledocolitíase, assimcomo a necessidade de exames mais sofisticados oucondutas além da colelitíase videolaparoscópica éfactível, apresentando respaldo na literatura mundial.

O presente estudo confirma a tendência emutilizar critérios como exame clínico e físico,laboratorial e ultrassonográfico para indicar a utilizaçãode meios diagnósticos mais sofisticados, assim comoa conduta terapêutica a seguir.

Mais estudos serão necessários para permitir autilização de escores quanto à presença decoledocolitíase na prática médica, assim como umpadronização em dos estudos para determinar qualvalores preditivos apresentam uma maior sensibilidade.

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É difícil acreditar que mesmo após o términodo milênio, cercados de alta tecnologia aindaencontramos pacientes que sofrem com odesenvolvimento de úlcera de pressão durante ainternação hospitalar, mas a teoria difere da prática.Há literatura sobre profilaxia e tratamento, mas aindaprecisamos conhecê-la mais profundamente parapodermos atuar de forma efetiva na solução doproblema.

Outro aspecto que merece destaque são asimplicações financeiras relacionadas ao tratamento dasúlceras de pressão, tendo como conseqüência anecessidade de prorrogar os dias de internaçãohospitalar. Atualmente já existem estudos quemencionam os custos do tratamento de um pacientecom úlcera de pressão crônica. Apesar do tratamentoser mais caro que a prevenção, Oot-Giromini (1989)5,salienta que as medidas preventivas são onerosas:equipamentos extras, camas e colchões especiais e otempo da enfermagem. Entretanto de acordo comMaklebust (1987)5, quando uma úlcera desenvolve-se, o custo aumentado, só do cuidado de enfermagem,é estimado em 50%. No entanto, a preocupação daequipe de enfermagem não se refere tão somente aoscustos, mas principalmente a humanização daassistência.

De acordo com a Agency for Health Care Policyand Research - AHCPR (1992-1994), a avaliação e otratamento das úlceras de decúbito devem ser

INTRODUÇÃO

Este estudo surgiu em 2002 da proposta da equipede enfermagem noturna de um hospital da cidade de PortoAlegre (RS), visando a melhoria dos cuidados prestados aospacientes com úlcera de pressão internados na Unidade deTerapia Intensiva (U.T.I.). A razão da escolha do tema foi osurgimento freqüente de úlcera de pressão. O objetivo eraconhecer a percepção da equipe quanto ao cuidado da úlcerade pressão e o domínio de conhecimento da mesma. O tipode estudo desenvolvido foi exploratório descritivo com umaamostragem de 45 funcionários intensivistas. O resultadoevidenciou um bom nível de conhecimento, sendodemonstrado a necessidade de programar e manter umaeducação permanente, fisioterapia noturna e criação de umprotocolo de prevenção e tratamento da úlcera de pressão.

UNITERMOS: úlcera de pressão, prevenção etratamento.

ÚLCERA DE PRESSÃO NOS PACIENTES INTERNADOS EM UTI:O QUE MAIS FAZER?

RESUMO

* Especialista em Formação Pedagógica em Educação Profissionalna área de saúde: enfermagem, especialista em Assistência deEnfermagem em Nefrologia e Administração em Serviços deEnfermagem. Enfermeira intensivista do Hospital Nossa Senhorada Conceição. Professora de enfermagem do Instituto deAdministração Hospitalar e Ciências da Saúde

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:Rua Oswaldo Pereira de Freitas, 175 / 916,CEP 91530-080, Porto Alegre, RS,E-mail: [email protected]

* Maria Cristina dos Santos Antunes

ARTIGOS ORIGINAIS

ABSTRACTPRESSURE ULCER IN-PATIENTS AT INTENSIVE

CARE UNIT: WHAT ELSE TO DO?

This study has started from a hospital in Porto Alegre.Which aims better care to in patients with ulcer pressure at theIntensive Care Unit (ICU). We have chosen this theme due tothe frequency of ulcer pressure in-patients. Our objective wasto identify the incidence of ulcer pressure to verify if thepreventive methods against ulcer pressure were effective andto know the procedures taken by the team concerning the careof pressure ulcer and their knowledge about it. This was anexploratory descriptive study, with a sample of 45 intensivistworkers which answered a questionnaire about the care of ulcerpressure. Also, a follow -up with the patients was done fromSeptember to october 2001 to evaluate its incidence. As a resultwe have noticed that the incidence of ulcer pressure was low.We conclude that a good level of knowledge was shown, but

we need permanent education and makes better nightphysiotherapy and create a protocol of prevention andtreatment to pressure ulcer.

KEY-WORDS: ulcer pressure, prevention, treatment

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baseados em pesquisa. Com base nisto foi criado uminstrumento para avaliação da prática assistencial dospacientes internados, para conhecer a percepção daequipe quanto ao cuidado da úlcera de pressão.

REVISÃO DA LITERATURA

A úlcera de pressão ocorre quando há umadiminuição na integridade da pele que ocorre comoconseqüência de uma pressão prolongada, irritaçãoda pele ou imobilidade (POTTER & PERRY, 1999)8.

A Úlcera de Pressão para Campedelli5 é umalesão cuja etiologia é bastante conhecida, pois aisquemia dos tecidos é causada pelas forças decompressão e cisalhamento na imobilidade do pacientepodendo comprometer a epiderme, a derme, ahipoderme e o tecido muscular chegando até asaponeuroses provocando trombose capilar eprejudicando a nutrição da região sob pressão. Semfluxo sangüíneo adequado as células morrem por faltade oxigênio e nutrição.

Potter e Perry5 colocam com clareza os fatoresque podem predispor o cliente à formação de úlcerade pressão, os quais são: diminuição do recebimentosensorial, diminuição da função motora, alterações donível de consciência, gesso, tração, equipamentosortopédicos e outros equipamentos. Conforme estesautores existem fatores adicionais que podem aumentaro risco do cliente desenvolver uma úlcera de pressãocomo: cisalhamento e força de fricção, umidade,nutrição pobre, anemia, infecção e febre, circulaçãoperiférica reduzida, obesidade, caquexia, edema eidade. O que vem comprovar a necessidade de umaabordagem multidisciplinar tanto na prevenção quantono tratamento destas lesões.

Recentemente acreditava-se que a úlcera dedecúbito era conseqüência de uma enfermagemdeficiente. Dealey5 cita Charcot, médico francês queachava que os médicos nada podiam fazer, e na épocaeste tipo de ferida era discutida pela equipe médicacomo "um problema da enfermagem". Atualmente nosdamos conta o quanto Dealey estava certa quandosugeria que as responsabilidades das enfermeirasdeveriam incluir uma prática atualizada, coordenandoa assistência e facilitando o uso de equipamentos, assimcomo o envolvimento e a promoção em pesquisas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa é do tipo exploratório descritiva,foi realizada com 45 funcionários intensivistas doHospital Nossa Senhora da Conceição. Para a coletade dados foi realizado um instrumento (questionário),composto de 08 perguntas fechadas, sendo 02

perguntas fechadas com alternativas livres. Oinstrumento foi entregue na U.T.I., podendo osfuncionários levar para casa com um prazo máximode 36 horas para responder e entregar o questionário.Para os dados quantitativos foi realizada uma análiseestatística descritiva com tendência centralapresentada em números absolutos e percentuais epara as informações qualitativas a análise de conteúdo(POTTER & PERRY, 1999)8.

RESULTADOS, APRESENTAÇÃO EDISCUSSÃO

Percebe-se que 74%, portanto a maior partedas pessoas que responderam o questionário situam-se na faixa etária entre 25 à 45 anos de idade. A minoriaencontra-se na faixa etária acima de 55 anos de idade(21%). Nota-se claramente que, a enfermagem aindaé uma profissão exercida, principalmente pelo sexofeminino (71%), o que nos leva a suspeitar de umarelação entre o sexo feminino e a dificuldade delateralizar pacientes de grande peso corpóreo com aocorrência de cisalhamento.

Com relação à equipe de enfermagem se vêclaramente que 89% é formada por técnicos e auxiliaresde enfermagem e apenas por 11% é formada porenfermeiros. Fica evidenciado que, de acordo com aamostra, no momento, os técnicos de enfermagemna U.T.I. do H.N.S.C. são a maioria (49%).

Todos os indivíduos (100%) identificam amudança de decúbito como o tipo de cuidado que serefere a úlcera de pressão. O que dificulta então arealização deste cuidado? Para Dealey5 a mobilizaçãoperiódica é tudo o que é necessário para a prevençãodas úlceras de pressão. Os pacientes devem sermudados de posição à cada 2 à 4 horas, dependendoda necessidade. "Nenhum equipamento sozinho eliminaos efeitos da pressão da pele" (POTTER & PERRY,1999)8. Atkinson & Murray1 nos falam que o primeiropasso para a cura da úlcera de pressão é a remoçãodas causas da lesão, que são a pressão, a fricção ouforça de cisalhamento. A pressão capilar normal,segundo Brunner & Suddarth (1994)8 é de 32 mmHg.Sabemos que qualquer pressão superior a esta, porlongo período de tempo, pode levar os tecidos molesa isquemia. A estatística nos mostrou claramente que85% dos funcionários que responderam o questionárioacreditam que o primeiro passo para tratar úlcera depressão seria eliminar toda a pressão.

Nove por cento ainda acredita que o primeiropasso é a massagem vigorosa dos locais hiperemiados.Segundo Maklebust5 e AHCPR (1992) a áreaavermelhada nunca deve ser massageada, poisaumentam as soluções de continuidade e o risco de

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formação da lesão. Brunner & Suddarth2, Potter ePerry8 também falam que áreas hiperemiadas quandomassageadas podem sofrer um aumento na soluçãode continuidade dos capilares e tecidos subjacentessubjacentes.

Com relação ao menor risco para odesenvolvimento da úlcera de pressão, a grandemaioria, 93% responde que onde há menor risco é noindivíduo lúcido e orientado. De acordo com Atkinson& Murray1, o paciente de alto risco é aquele incapazde reagir as sensações de pressão sobre a peleconseguindo mudar de posição.

Dos indivíduos que responderam aoquestionário, 82% acreditam que a contençãomecânica contribui para a formação da úlcera depressão e 13% acredita que a contenção mecânicanão interfere na formação da úlcera de pressão.Atkinson & Murray1 nos orientam que a confusãomental por si só, não justifica a restrição e que esta,aumenta a imobilidade no leito e, se usadadesnecessariamente pode ser uma forma deaprisionamento inclusive ilegal.

A equipe de enfermagem aqui representada(96%) sabe da importância do Serviço de Fisioterapiapara a Terapia Intensiva já que 80% a classifica comomuito importante e 16% como Importante. Nenhumfuncionário acredita que o atendimento fisioterápiconão seja importante. O atendimento do Serviço deFisioterapia ocorre apenas no turno diurno nãototalizando 50% do dia.

Quarenta por cento acredita que a úlcera depressão ocorre pela gravidade do paciente e 27% pelafalta de pessoal, o que interfere na realização damudança de decúbito. Em terceiro lugar encontramoso item falta de interesse com 20% ficando a perguntafalta de interesse real ou falta de informação que levaa falta de interesse?

Com relação a questão "Como você trataria oeritema?" 29% profissionais trataria o eritema comobservação e mudança de decúbito, 22% apenas comobservação, 9% apenas com mudança de decúbito,14% trataria também com fototerapia, 13% adicionariatambém o TCM, 4% utilizaria curativo hidrocolóide e7% curativo tradicional. O eritema é o sinal inicial queocorre devido a hiperemia reativa de um tecido quepoderá tornar-se isquêmico ou anóxico, segundoBrunner & Suddarth2. A questão é que no eritema nãoexiste área para ser protegida com curativo tradicional,devendo o eritema ser reduzido ou eliminado atravésda redução da pressão capilar. Também com relaçãoa fototerapia e fluxo de ar sobre a ferida atualmentenão é mais usada por haver a promoção de um ambienteseco, ressecando ainda mais a pele.

Quando a úlcera de pressão estiver instalada,

14% programaria o tratamento baseado emtriglicerídeos de cadeia média (TCM) e mudança dedecúbito, 12% só trataria com TCM e 12% só commudança de decúbito. Os ácidos graxos essenciaissão capazes de alterar funções leucocitárias,modificando reações inflamatórias e imunológicas,acelerando o processo de granulação. São utilizadostanto no tratamento de lesões abertas, como naprofilaxia da úlcera de pressão formando uma películaprotetora sobre a pele. Suas vantagens são: fácildisponibilidade, baixo custo e associação a diversascoberturas (fonte site feridologo)5. Com relação aogrupo de trabalho 10% trataria úlcera de pressão comgaze vaselinada, 2% associaria papaína, 2% o uso decurativo tradicional. Dezessete por cento associaria afototerapia a algum outro tratamento (TCM, mudançade decúbito...). O American Health Policy Reseach(AHCPR) aborda claramente as vantagens da cura delesões cutâneas crônicas, especialmente úlcera depressão com técnicas de cura através de ambienteúmido e não ambiente seco. Cuidado de las heridas(fonte site coloplast)9.

Dos profissionais que responderam aoquestionário, 43% seguem a orientação dada pelaComissão de Estudos de Úlcera de Pressão da U.T.Itratando à úlcera de decúbito com sangramento comgaze vaselinada. Preocupa o fato de que 2% usariapapaína, 2% TCM e 2% acredita que o tratamentopossa ser o desbridamento, o que poderia provocarum aumento ainda maior no sangramento.

O número de profissionais que não responderamcomo tratariam a escara (úlcera de pressão com placanecrótica) foi elevado (12%), Doze por cento tratamcom TCM ou com papaína , 16% associariam odesbridamento cirúrgico à papaína e a mudança dedecúbito. Dois por cento associariam a gaze vaselinadaà papaína, e 7% ao desbridamento cirúrgico e apapaína. Quando a úlcera de pressão tem tecidonecrosado ou mostra sinais de crosta necessita serdesbridada. A exceção para o desbridamento é a úlcerade decúbito seca no calcanhar que, segundo AHCPR(1994) não precisa ser desbridada se não tiver edema,eritema ou drenagem (POTTER & PERRY,1999)8. Odesbridamento é realizado com o objetivo de eliminardetritos, esfacelos e tecido necrótico porque a presençadestes interfere na cicatrização da ferida.(www.feridologo.com). Os métodos dedesbridamento são mecânico, autolítico, químico/enzimático e cirúrgico (POTTER & PERRY, 1999)8.A papaína usada no tratamento de escaras provém dolátex do mamoeiro Carica Papaya. É um compostopor enzimas proteolíticas e peroxidases, quimiopapaínaA e B e papayapeptidase. Atua como desbridantequímico provocando proteólise. Tem ação

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bacteriostática, bactericida e antinflamatória. (Fontesite feridologo)11.

O curativo com hidrocolóide é composto degelatina, pectina e carboximetilcelulose sódica nafase interna e espuma de poliuretano na fase externa.Age promovendo umidade através da interação dacamada interna do curativo com a lesão formandoum gel que proporciona desbridamento por autólise.É indicado no tratamento de feridas limpas emmédia e pequena quantidade de exsudato, naprevenção de úlcera de pressão, em protuberânciasósseas e em queimaduras de 2º grau. É contra-indicado em feridas colonizadas ou infectadas, emnecrose extensa, em úlceras resultantes detuberculose, sífilis ou fúngicas e, em queimadurasde 3º grau (fonte site feridologo)11.

Quando o dano muscular estiver presente semnecrose, 40% acreditam que o tratamento indicadoseria o desbridamento cirúrgico, 2% utilizariam apapaína e 7% papaína e desbridamento cirúrgico, ouseja, usariam um tratamento que aumentaria ainda maisa lesão, por quê? Não há necrose. Dealey5 nos falaque o desbridamento cirúrgico é um dos tratamentospara remover a escara, embora nem mesmo para aescara seja o tratamento mais adequado. Dezoito porcento trataria com curativo hidrocolóide e 11% nãorespondeu. Segundo Dealey5, os hidrocolóides podemser utilizados ajudando a amaciar e liquidificar o tecidonecrosado.

CONCLUSÃO

Ficou evidenciado o bom nível deconhecimento da equipe de enfermagem da U.T.I. doH.N.S.C. que responderam ao questionário quandopor exemplo, soube identificar o tipo de cuidado dadono tratamento da UP (100 %) e onde há o menor riscopara a formação da UP (93 %). Além disto, todosdeixaram clara, em 2002, a necessidade de um serviçofisioterápico efetivo nas UTI'S em todos os turnos.Mas, ainda há um longo caminho, pois notou-se quealguns indivíduos tratariam o eritema, a UP, a UP c/sangramento, a UP com necrose e com dano muscularde forma indevida. A partir daí foi iniciada umaeducação continuada com a equipe de funcionáriosdas UTI'S.

O outro objetivo era verificar se os métodospreventivos contra a formação da UP o que, na épocafoi constatado a efetividade dos mesmos.

Criamos uma escala de mudança de decúbito,mais rigorosa que a anterior e, conseguimosautorização para que os nossos pacientes tivessemacesso ao uso do TCM, infelizmente apenas de formacurativa e não preventiva em 2003.

AGRADECIMENTOS

Aos enfermeiros intensivistas que participaramdesta pesquisa.

A equipe de auxiliares e técnicos de enfermagemque tornaram possível este trabalho.

Ao Dr. Airton Stein e a Enf. Maria HelenaSchmidt do GEP pelo apoio e estímulo dado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 ATKINSON, Leslie D.; MURRAY, Mary Ellen.Fundamentos de enfermagem: introdução ao processode enfermagem. Rio de Janeiro: Guanabara KooganS.A., 1989.2 BRUNNER, Lílian Sholtis & SUDDARTH, DorisSmith. Tratado de enfermagem médico-cirurgica. Riode Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 19943 CARPENITO, Lynda J. Planos de cuidados deenfermagem e documentação. 2 ª edição. São Paulo.Editora Artes Médicas Sul Ltda., 1999.4 CROSSETI, Maria G. & VEIGA, Deborah A.Manual de técnicas de enfermagem. 4ª edição. PortoAlegre. Sagra D.C. Luzzatto Editores, 1993.5 DEALLEY, Carol. Cuidando de feridas. São Paulo.Ed. Atheneu, 1996.6 HOOD, Gail H. & DINCHER, Judith. Fundamentose prática de enfermagem. Atendimento completo aopaciente. 8ª edição. Porto Alegre. Editora ArtesMédicas, 1995.7 POLIT, Denise & HUNGLER, Bernadete.Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3ª edição.Porto Alegre. Editora Artes Médicas, 1995.8 POTTER, Patricia A. & PERRY, Anne. Fundamentosde enfermagem. Conceitos, processo e prática. 4ªedição. Rio de Janeiro. Editora Guanabara Koogan,1999.9 SITE COLOPLAST. Disponível em <http://www.coloplast.com.br>. Acessado em 2001.10 SITE CONVATEC. Disponível em <http://www.convatec.com>. Acessado em 2001.11 SITE FERIDÓLOGO. Disponível em <http://www.feridologo.com.br>. Acessado em 2001.12 SITE WOULD CARE COMUNICATIONSNETWORK. Disponível em <http://www.woundcarenet.com>. Acessado em 2001.

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DESENVOLVIMENTO PUBERALPRECOCE EM MENINAS

A puberdade é um período que marca a transição entrea imaturidade sexual e a fase de maturidade reprodutiva e seinicia com o aparecimento dos caracteres sexuais secundários.Quando ocorre antes dos oito anos de idade, é consideradapuberdade precoce.

A puberdade precoce de acordo com sua patogênese ecaracterísticas pode ser classificada em central ou periférica,isossexual ou heterossexual respectivamente.

O diagnóstico baseia-se na anamnese, exame físico,radiografia de mãos e punhos, citologia vaginal, ecografia pélvicae testes hormonais.

O tratamento que tem como objetivos parar odesenvolvimento dos caracteres sexuais secundários, evitar oamadurecimento ósseo acelerado e corrigir transtornospsicossociais gerados varia de acordo com a causa básica.

UNITERMOS: Puberdade, Puberdade precoce.

RESUMO

Rui Francisco Medeiros de Souza *Zélia Berenice Rocha Posser **

Ana Maria Passos de Oliveira Ayala de Sá ***

INTRODUÇÃO

No desenvolvimento puberal há etapasevolutivas ditas normais: telarca (desenvolvimentomamário); adrenarca (pelos pubianos, odor e pelosaxilares) e a menarca (primeira menstruação), sendoque em aproximadamente 80% das vezes o fenômenoinicial é o crescimento mamário e nos 20% restantes,o aparecimento dos pelos pubianos.

O desenvolvimento precoce dos caracteressexuais secundários em uma criança gera preocupaçãoe ansiedade dos responsáveis, por tratar-se de umdesvio da normalidade que implica em alteraçõespsicológicas e sociais desta criança em seu meio.

A puberdade precoce é rara, afeta ambos ossexos, sendo cerca de 5 vezes mais incidente emmeninas. Em torno de 75% dos casos não tem umacausa determinável.

DEFINIÇÃO DE DESENVOLVIMENTOPUBERAL PRECOCE

Considera-se precoce o desenvolvimento dealgum dos caracteres sexuais secundários (telarca,

ABSTRACTPRECOCIOUS PUBERTY IN FEMALES

Puberty is the transition period between childhoodand the full attainment of physical, mental and emotionalmaturity. Its beginning is marked by the development of thesecondary sexual characters. In females it's normal to occurbetween 8 and 14 years of age. When pubertal changes initiatebefore 8 years of age it is called precocious puberty and deservesmedical investigation.

Precocius puberty can be classified according to itsorigin in central or peripheral, and in isosexual if thedevelopment is in common to the phenotypic sex of theindividual or heterosexual if not. The correct diagnosis of themany causes of precocious puberty must be done and can be

*Preceptor em ginecologia da Residência Médica do HospitalNossa Senhora da Conceição Ginecologista da Unidade de Atenção ao Adolescente do HNSC**Ginecologista do Serviço de Ginecologia infanto-puberal doHospital Materno infantil Presidente Vargas Obstetra do Setor de Puerpério do Hospital Nossa Senhora daConceição***Médica Residente do Segundo ano em Ginecologia e Obstetríciado Hospital Nossa Senhora da Conceição

Endereço para correspondência:Ana Maria Passos de Oliveira Ayala de Sá,Rua Anita Garibaldi, 2360-202, Boa Vista,Porto Alegre, CEP: 90480-200.e-mail: [email protected]

ARTIGOS DE REVISÃO

achieved with history, physical and gynecological examination,hands and wrists radiographies, vaginal cytology, pelvic andadrenal ultrasound and hormonal tests.

The treatment must be directed to the cause and shouldbe initiated as soon as the correct diagnosis is done to avoid theheight limitation that precocious puberty can cause and toprevent or attenuate the emotional disturbances in the patientand her parents.

KEY WORDS: Puberty, Precocious Puberty

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adrenarca e menarca), antes dos oito anos de idade1.A caracterização clínica de puberdade precoce

é o surgimento da tríade telarca, pubarca e menarca,antes dos 9 anos de idade2.

CLASSIFICAÇÃO

Puberdade Precoce Verdadeira (PPV), Centralou Completa quando a precocidade sexual ocorredevido à maturação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, portanto é dependente do hormônio liberadorde gonadotrofina (GnRH).

Pseudopuberdade Precoce ou PuberdadePrecoce Periférica ou Incompleta quando a secreçãode gonadotrofinas e/ou de hormônios sexuais ocorreindependente do controle hipotálamo-hipofisário.

De acordo com os caracteres sexuaissecundários manifestados, é classificada em isossexualquando corresponde ao sexo genético ou heterossexualquando não corresponde.

Variantes do Desenvolvimento Puberal são asmanifestações isoladas do desenvolvimento sexualcomo a telarca, pubarca e menarca precoces3.

ETIOPATOGENIA

A puberdade precoce verdadeira ou completatem origem central, desencadeada pelo estímulo doGnRH. Sempre os caracteres sexuais que sedesenvolvem são do sexo genético, portantoisossexual4, geralmente apresenta sinais de secreçãoestrogênica sem sinais de adrenarca, e predomina emmeninas 10:1. A origem é a maturação prematura do"eixo" hipotálamo-hipófise-ovário, ocorrendo asecreção pulsátil do Gn RH com conseqüente produçãohipofisária de FSH e LH que promovem odesenvolvimento folicular no ovário. O LH estimulaas células da teca a secretar androgênios, o FSH fazcom que se produzam estrogênios a partir dosprecursores androgênicos. Essas elevações hormonaispromovem o desenvolvimento do tecido glandularmamário, útero e seus anexos e dos pelos pubianos5.

O motivo dessa estimulação prematura do "eixo"hipotálamo-hipófise-ovário pode ser uma alteraçãoneurogênica determinável ou não ter uma causaidentificada, quando chamamos de idiopática. Aexcitação precoce dos pulsos de Gn RH de causaneurológica pode ser: seqüela de traumatismo crânio-encefálico ou danos ocorridos durante o parto2;tumores do SNC como hamartoma hipotalâmico(anomalia congênita), astrocitoma, ependimoma,gliomas ópticos, teratoma da pineal, hamartomaventricular, tuber cinereum, craniofaringioma6; seqüelade processos inflamatórios tipo encefalite e meningite;

alterações como oligofrenia, hidrocefalia, paralisiacerebral, epilepsia, cistos5. A etiologia idiopática é amais comum, mas deve ser um diagnóstico deexclusão7.

A pseudopuberdade precoce ou incompleta nãodepende do Gn RH, o desenvolvimento ocorre devidoao estímulo periférico de hormônios gonadais ou doHCG6. Pode ser isossexual provocada por tumoresfeminilizantes ou heterossexual quando é desencadeadopor distúrbios virilizantes tipo hiperplasia supra-renalcongênita ou tumores produtores de androgênios5.

Com relação aos tumores funcionantes, noovário os mais comuns são os das células granulosase da teca e produzem estrogênio. Os gonadoblastomas,teratomas e disgerminomas, apesar de não seremconsiderados funcionantes, eventualmente podemsecretar estrogênios ou androgênios. O coriocarcinomapode produzir gonadotrofina coriônica e estrogênios2.Os tumores da glândula supra-renal podem secretarandrogênios e glicocorticóides e muito raramenteestrogênios5.

O hipotireoidismo infantil associado aprecocidade isossexual, também conhecida comoSíndrome de Silver, é muito raro. Em resposta adeficiência do hormônio tireoidiano acontece um"feedback" positivo que estimula a produção hipofisáriade TSH e também de FSH e LH levando aodesenvolvimento folicular e conseqüente produção dehormônios gonadais e desenvolvimento dos caracteressexuais secundários. Caracteriza-se por elevação daprolactina e freqüentemente galactorréia. É o únicotipo de puberdade precoce em que há parada decrescimento em vez de hiperestimulação5.

A síndrome de McCune-Albright é umamodalidade em que a menarca prematura pode ser aprimeira manifestação. Se caracteriza por hiperfunçãode múltiplas glândulas.Além dos sinais de estimulaçãoestrogênica, geralmente apresenta manchas tipo "cafécom leite" principalmente na pele do tronco e lesõesósseas múltiplas e difusas com tendência a fraturas.A origem é a secreção autônoma e precoce deestogênios pelos ovários, onde os níveis de FSH e LHestão baixos, portanto não existem pulsos de Gn RH6.Nos ovários podem existir cistos folicularesautônomos5.

A insuficiência hepática pode provocarperturbação no metabolismo dos estrogêniosocasionando hiperestrogenismo e conseqüente telarcae sangramento genital7.

Pequenos cistos ovarianos funcionais,assintomáticos, são comuns em meninas e podemcausar precocidade sexual transitória. Tais cistosgeralmente regridem espontaneamente8.

Outra causa de puberdade precoce incompleta

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é a exposição de meninas aos estrogênios por umperíodo prolongado9.

As formas isoladas de desenvolvimento puberalsão telarca, pubarca e menarca, e se caracterizam pornão apresentarem adiantamento da maturidade ossea.

A telarca precoce, que é o desenvolvimentoprematuro da mama, pode ser uni ou bilateral e nãoprogressivo10. Sua etiologia não está bem definida, masé provável que ocorra devido a uma elevação transitóriados estrogênios em decorrência de um desarranjotemporário do equilíbrio hipotálamo-hipófise ou decistos funcionantes que podem aparecer nos ováriose que costumam regredir com o tempo8. Outromecanismo provável é o aumento transitório dasensibilidade dos receptores de estrogênio da mama,sendo estimulados mesmo com o baixo nível dessehormônio circulante. A maioria dos casos aconteceaté os 2 anos de idade, poucos entre 2 e 4 anos e raroapós essa idade, sendo que geralmente desapareceespontaneamente em alguns meses. Odesenvolvimento mamário da recém-nascida, emdecorrência do estímulo dos hormônios maternos,pode persistir até os 2 anos, principalmente se houveraleitamento materno11.

Adrenarca prematura significa o aparecimentoisolado de pelos pubianos (pubarca) e/ou axilares, odoraxilar, antes dos 8 anos de idade, sem evidência deestrogenização ou virilização e tem pequeno impactono crescimento a longo prazo. Depois da menarcamuitas meninas que tiveram adrenarca prematura têmciclos menstruais anovulátorios por muitos anos, epodem vir a desenvolver síndrome dos ováriospoliscísticos.A causa é a elevação do nível circulantede androgênios, que pode ser devido à maturaçãoprematura das glândulas supra-renais. Formas brandasde hiperplasia virilizante de adrenais podem manifestarum quadro indiferenciável daqueles com pubarcaprecoce isolada10.

Tanto a telarca como a pubarca precoceisoladas estão associadas com uma incidência maiorde alterações no SNC, com graus variados de retardomental, epilepsia e alterações eletroencefalográficas7.

Menarca prematura é rara. Devem serdescartadas todas as causas de produção estrogênicaprecoce, incluindo neoplasias6.

DIAGNÓSTICO

É feito baseado na anamnese, exame físico,ginecológico e exames complementares.

Anamnese nos leva a formular hipótesediagnóstica de desenvolvimento puberal precocequando a queixa é de telarca e/ou pubarca antes dos 8anos de idade ou da tríade telarca, pubarca e menarca

antes da idade de 9 anos. Questionar sobre ingestãode certos medicamentos como, por exemplo, os quecontêm estrogênios. Na pesquisa de antecedentesfamiliares verificar se outras mulheres da famíliatambém tiveram desenvolvimento dos caracteressexuais secundários precocemente. Nos antecedentespessoais investigar condições ao nascer, se o partofoi difícil ou traumático, a ocorrência de infecção doSNC, tumores, traumatismos, distúrbios psíquicos,convulsões2.

No exame físico verificar peso e altura ecomparar com as medidas adequadas para a faixaetária. Avaliar a pele, examinar o abdômen procurandopela presença de tumores.

Exame ginecológico considera odesenvolvimento das mamas e pelos pubianos e osclassifica conforme os critérios de Tanner. Este seráo marco inicial para avaliações futuras e analisarresposta terapêutica6. Observar se os genitais externosmanifestam sinais de estimulação estrogênica, comatenção especial para o tamanho do clitóris.

Os exames complementares básicos parainiciar a investigação do desenvolvimento puberalprecoce são radiografia de mãos e punhos para avaliaridade óssea (IO), citologia vaginal hormonal eecografia pélvica10.

- Radiografia de mãos e punhos para determinaridade óssea e compará-la com a idade cronológica.Considera-se normal se a IO estiver até 2 desviospadrão acima da idade cronológica. Esse examequando avançado confirma, mas se for normal nãoexclui puberdade precoce10. Na telarca precoce a IOé normal12.

- Citologia vaginal hormonal ou citohormonal(CH): o índice de maturação (índice de FROST) nainfância deve ser 100/00/00, na puberdade precocesofre desvio para a direita. Quanto maior o percentualde células superficiais, maior o estímulo estrogênico10.Na telarca precoce o CH é normal12.

- Ecografia pélvica é importante porque servepara descartar tumoração e avaliar as condiçõesuterinas e ovarianas. Analisar volume uterino o qualtem como limites normais entre 2 e 7 anos, de 0,8 a3,2 cm3. A partir dos 7 anos o útero começa a sedesenvolver, independente da presença dos caracteressexuais secundários13. O volume uterino é consideradoo padrão ouro para diferenciar telarca precoce depuberdade precoce13. É analisada também a relaçãocolo/corpo uterino, volume e textura ovariana5.

Se algum desses exames anteriormentedescritos mostrar sinais de ação estrogênica, em umamenina até os 7 anos de idade, solicitar dosagem séricado FSH e LH, prolactina, gonadotrofina coriônica. Seessas mostrarem elevação (padrão puberal), solicitar

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o teste com o Gn RH ou LH- RH. Esse teste consisteno seguinte: dosagem sérica do FSH e LH basais, apósinjetar na veia o Gn RH sintético e dosar novamente oFSH e LH aos 30, 60 e 90 minutos. Resposta pré-puberal significa elevação apenas do FSH ou elevaçãomínima também do LH. Resposta puberal quando,após a injeção, acontece um pico de LH, elevando-sebem mais que o FSH. Tal exame baseia-se no fato detanto o hipotálamo, como a hipófise e a gônada seremcapazes de operar a qualquer momento, desde queestimulados14. Portanto quando é injetado o Gn RH, ahipófise responde produzindo FSH, o LH é produzidomais lentamente e é armazenado, por isso não se elevase não acontece estimulação prévia. Quando ohipotálamo já está estimulando a hipófise, já existedepósito de LH e após a injeção do Gn RH a glândulao libera provocando um pico.

- O teste de estimulação com o Gn RH é omelhor para diagnosticar puberdade precoceverdadeira ou central6. Nas formas isoladas dedesenvolvimento, como telarca precoce, esse testemostra um padrão pré-puberal (aumento apenas oumaior do FSH)12, enquanto que na puberdade precoceverdadeira verifica-se uma resposta tipo puberal apósa injeção do Gn RH5.

- Tomografia computadorizada ou ressonânciamagnética deve ser realizada quando é feito diagnósticode puberdade precoce verdadeira, para afastar apossibilidade de tumor encefálico1.

- Reação de Mantoux, sorologia para Lues eToxoplasmose quando há suspeita que a puberdadeseja em decorrência de Tuberculose, Sífilis ouToxoplasmose, respectivamente, no SNC2.

- Dosagens séricas de Testosterona,Androstenediona, Dehidroepiandrosterona sulfato(DHEA-S) e 17 alfa hidroxi progesterona (17 OHProgesterona), são solicitadas quando existe sinal devirilização. Se forem alteradas solicitar:

- Teste do ACTH que consiste na dosagemsérica da 17 OH Progesterona basal e 60 minutos apósa injeção do ACTH sintético endovenoso. Um valormaior que 48 nmol/l é altamente sugestivo dedeficiência da enzima 21-beta hidroxilase não clássica(um dos tipos de Hiperplasia supra-renal congênitavirilizante)10.

- 17 alfa hidroxiprogesterona na dosagem basal,quando for elevada, indica hiperplasia supra-renalcongênita virilizante7.

- DHEA-S com valores bastante elevados écaracterístico de tumores adrenais5.

- Dosagem de T4 e TSH quando suspeitamosque a puberdade precoce é em decorrência dehipotireoidismo.

- Radiografia do crânio e ossos longos, na

procura de displasia cística, quando a suspeita é deSíndrome de McCune-Albright2.

- Provas de função hepática na suspeita de quea elevação dos estrogênios seja em decorrência dainsuficiência do fígado2.

- Laparoscopia solicitada excepcionalmente,para avaliar condições do útero e ovários.

TRATAMENTO

Deve ser orientado de acordo com a causabásica. O ideal é que a avaliação e conduta sejam feitaspor uma equipe multidisciplinar constituída porginecologista, endocrinologista, neurologista,psicoterapeuta e, se necessário, neurocirurgião15.

O tratamento tem como objetivo:- Suprimir o eixo hipotálamo-hipófise-ovariano,

nos casos de puberdade precoce Gn RH dependente,inibindo a secreção pulsátil de FSH e LH e a produçãoaumentada dos esteróides ovarianos.

- Parar o desenvolvimento dos caracteressexuais secundários e até provocar sua regressãotemporária.

- Evitar o amadurecimento ósseo acelerado, queé responsável por baixa estatura final.

- Corrigir conflitos psicossociais relacionadoscom a precocidade sexual5.

O tratamento da puberdade precoce verdadeirase resume aos progestogênios e aos análogos do GnRH, bem como ao tratamento cirúrgico, radioterápicoou clínico de enfermidades que acometem o SNC6.

Nas lesões neurológicas verificar a possibilidadede remoção cirúrgica. Nos hamartomas, geralmentea cirurgia está contra-indicada. Tumores neurológicossem possibilidade de tratamento cirúrgico, mas quesão radiossensíveis, devem ser tratados comradioterapia. Tanto nos casos cirúrgicos como nosque fazem radioterapia, o tratamento medicamentosodeve ser instituído15.

Os tratamentos medicamentosos preconizadospara a puberdade precoce verdadeira são os seguintes:

- Acetato de Medroxiprogesterona 100 a 200mg intramuscular (IM) a cada 2 semanas (esseintervalo pode variar de 1 a 3 semanas, dependendoda resposta). Outra alternativa é o uso de 10 a 20 mgvia oral (VO) diariamente. Em dose adequada, suprimea menstruação e o desenvolvimento dos caracteressexuais secundários, porém não é eficaz no bloqueioda maturação óssea antecipada, crescimento estaturalacelerado e conseqüente baixa estatura. Atua atravésdo mecanismo de "feedback" negativo no sistemahipotálamo-hipófise, bloqueando a secreção de FSH eLH 5, 15.

- Acetato de Ciproterona de 50 a 150 mg/m2

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de superfície corporal, fracionada em 2 ou 3 tomadasdiárias. Age no desenvolvimento dos caracteres sexuaissecundários e até pode provocar a regressão dosmesmos. Sua ação sobre a maturação óssea ecrescimento é inconstante. É uma drogaantiandrogênica que atua na esteroidogênese gonádicae adrenal5.

- Análogos do Gn RH, por exemplo: Leuprolide(Lupron depot) de 0,3 a 1 mg a cada 4 semanas10;Triptorelina (Neo Decapeptyl) crianças com menosde 35 kg, 1,5 mg IM a cada 30 dias e com mais de 35kg, 3 mg IM a cada 30 dias10. Tem a vantagem, alémde fazer regredir os caracteres sexuais secundários,de desacelerar a velocidade de maturação ecrescimento ósseo, dependendo do grau de maturaçãoóssea no início do tratamento. Alguns dos efeitosindesejáveis são a perda de massa óssea e um pico degonadotrofinas, principalmente o LH, no início dotratamento, estimulando a esteroidogênese ovariana.Este ultimo efeito colateral pode ser evitadoassociando-se um progestágeno nos primeiros 30 diasde tratamento 5, 10. Os análogos constituem a terapiamais eficaz, porém o preço do medicamento é elevado.

Na pseudopuberdade precoce (origemperiférica) o tratamento é feito de acordo com a causabásica4.

Os tumores ovarianos funcionantes devem serextirpados, com cirurgias conservadoras, se possível2.

Quando as supra-renais são as responsáveispelo distúrbio, nas hiperplasias prescrever dosesadequadas de glicocorticóides. Se for em decorrênciade tumor, o tratamento é cirúrgico15.

No hipotireoidismo primário prescreverreposição com hormônios da tireóide15.

Na Síndrome de McCune-Albright otratamento é feito com progestogênios e/outestolactona6. Nesses casos é importante contar coma participação, também, do dermatologista eortopedista2.

A Pseudopuberdade precoce pode ativarsecundariamente o eixo H-H-O levando a umapuberdade precoce central. Nestes casos justifica-seo uso de esquemas terapêuticos preconizados paraPPV6.

As pacientes tratadas devem ser monitoradasde 3/3 meses com citohormonal, radiografia de mãose punhos para avaliar idade óssea, testes com Gn RHe dosagem sérica do estradiol, a qual deve ser inferiora 20 pg/ml10.

Nas formas isoladas (telarca, pubarca emenarca precoces) a conduta é a observaçãocriteriosa de 3/3 meses 6, 12.

Especial atenção ao psiquismo, sendo idealacompanhamento especializado. Os pais ou

responsáveis devem ser orientados2.

CONCLUSÕES

A repercussão mais grave da puberdade precoceé a baixa estatura que geralmente ocorre, devido aofechamento precoce das epífises ósseas emdecorrência da estimulação dos hormônios gonadais.O desenvolvimento psicossocial e intelectual secorrelacionam com a idade cronológica e não com oestágio da puberdade A capacidade reprodutiva e apossibilidade de menopausa precoce não sãoinfluenciadas7.

Quando existe pubarca, telarca ou menarcaprecoce isoladamente a investigação deve ser feitaporque não sabemos se trata-se de um episódio isoladoou o início da puberdade precoce verdadeira.Concluindo que é uma alteração isolada, essa não deveser tratada, mas o acompanhamento é mantido até aidade normal do início da puberdade6.

A puberdade precoce tem bom prognósticoquando diagnosticada corretamente e tratada no início.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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PROFILAXIA ANTIMICROBIANAEM BIÓPSIA DE PRÓSTATA

A realização da biópsia prostática trans-retal por agulha,para diagnóstico do adenocarcinoma de próstata, tem aumentadoconsideravelmente nos últimos anos. Apesar de serprocedimento seguro, pode apresentar efeitos adversos, dentreos quais destacam-se as complicações infecciosas. A profilaxiacom antimicrobianos é utilizada com o objetivo de minimizarestes riscos. Existem controvérsias em relação ao melhoresquema profilático a ser utilizado. Para a maioria dos autores,a ciprofloxacina constitui-se na droga de escolha.

UNITERMOS: Profilaxia, antimicrobianos, biópsia,próstata.

RESUMO

Ana Luft *Ana Cristina Reinher Ferreira *

André Bonfanti *Paulo Roberto Ferreira *

Pedro Alves d'Azevedo **

INTRODUÇÃO

Entre homens o adenocarcinoma de próstata éa neoplasia maligna mais comum. Com o objetivo dediagnosticar precocemente esta patologia, a dosagemsanguínea do antígeno prostático específico (PSA),ao tornar-se procedimento de rotina, determinou queum número cada vez maior de pacientes sejamsubmetidos à biópsia prostática trans-retal 1,2. Apesarda biópsia ser considerada segura é procedimentodiagnóstico invasivo e complicações secundárias apunção são verificadas com freqüência. Na tentativade minimizar as complicações infecciosas decorrentesdo procedimento, a maioria dos profissionais faz usoprofilático de antimicrobianos.

Segundo Brewster, 1992, não existepadronização de condutas 3. Para minimizar aspossíveis complicações infecciosas é imperativodeterminar o melhor esquema antimicrobiano a serutilizado, uma vez que ainda não existe concordânciaentre os autores 4,5.

O objetivo deste trabalho é revisar os esquemasprofiláticos utilizados para prevenir as complicaçõesinfecciosas durante a realização da biópsia prostáticae estabelecer o uso racional destes agentes.

MATERIAL E MÉTODOS

A literatura foi revisada pela busca na web,utilizando-se bancos de dados Medline, PubMed eScielo. Foram incluídos ensaios clínicos randomizadoscom mais de 40 pacientes, artigos de revisão,

ABSTRACT

ANTIMICROBIAL PROPHYLAXIS IN PROSTATICBIOPSY

Antimicrobial prophylaxis in prostatic biopsies todiagnose adenocarcinoma has increased in frequency,considerably, in the last few years. Despite the safety of thissurgical procedure, it might carry undesirable risks, such asinfections. To reduce these risks, antimicrobial prophylaxis isemployed. There are controversies regarding to what drugsshould be used in this matter. Most authors would choosecyprofloxacine.

KEY WORDS: Prophylaxis, antimicrobials, biopsy,prostate.

* Alunos do Curso de Pós-Graduação em Ciências Médicas e dePatologia da Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas(FFFCMPA)** Prof. Adjunto da Disciplina de Microbiologia e dos cursos dePós-Graduação da FFFCMPA.

Trabalho realizado no Curso de Pós-Graduação da FFFCMPA

Endereço para correspondência:Ana LuftRua Osmar Amaro de Freitas, 200 - Jardim Itú SabaráCEP: 91210-130 - Porto Alegre - [email protected]

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metanálise e relatos de casos, nos idiomas inglês,espanhol e português, utilizando-se as palavras-chave�antibiótico, profilaxia, biópsia, próstata, prostaticbiopsy, antimicrobial prophylaxis, antibióticoprophylaxis�. Foram revisados somente artigos derevistas indexadas e publicadas no período de janeirode 1992 à março de 2005.

RESULTADOS

Foram incluídos nesta revisão 13 ensaiosclínicos, cinco artigos de revisão e quatro relatos decaso. Não foram encontradas metanálises ou revisõessistemáticas.

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DISCUSSÃO

Os conhecimentos atuais sobre a profilaxia dainfecção bacteriana baseiam-se em experimentosclínicos e laboratoriais. Desta forma, osantimicrobianos são prescritos para uso quando sedeseja prevenir infecção por agente conhecido ou nospacientes que têm risco de contraí-la. A escolha doantimicrobiano profilático a ser utilizado é bastantequestionável e a opção deve recair sobre aquele queapresentar ação e eficácia comprovada sobre osmicrorganismos mais comuns 6,7, além de ser de fácilassimilação pelo paciente, ter baixa relação custoefetividade, demonstrar eficácia em prevenir asinfecções associadas ao método e não induzirresistência bacteriana.

O intensivo screening para biópsia de próstatatem levado a aumento considerável no número debiópsias realizadas 8-10. A realização da biópsia depróstata trans-retal é procedimento simples efundamental para o diagnóstico do adenocarcinoma,no entanto eventos infecciosos podem ocorrer em 3%a 37% dos casos, como infecções urinárias,bacteremia transitória e episódios de hipertermia. Amaioria dos trabalhos indica a necessidade de profilaxiacom antimicrobianos prévia ao procedimento, mas hácontrovérsias na literatura sobre a droga ideal e o

momento mais adequado para iniciar a profilaxia 11.As complicações mais comuns estão

relacionadas à técnica empregada (próprias dapunção) como, por exemplo, quadros de hematúrialeve, disúria, sangramento retal e retenção urinária 12,13.As complicações mais graves estão relacionadas aquadros infecciosos, variando desde bacteremias levesaté quadros sépticos graves. A profilaxia antimicrobianaé utilizada para reduzir a incidência da infecção pós-punção. Em geral pacientes submetidos aprocedimentos com altas taxas de infecção, como abiópsia trans-retal e aqueles em que as conseqüênciasda infecção são extremamente sérias precisam receberantimicrobianos profiláticos. Em procedimentosassociados com infecção pré-existente o tratamento,tanto quanto a profilaxia estão indicados. A colonizaçãobacteriana do sistema urinário pode causar sépsisurinária, usualmente por Escherichia coli, agentebacteriano Gran negativo que normalmente colonizao reto, mas outras bactérias podem estar envolvidas,como o Enterococos, a Klebsiella, o Proteus e aPseudomonas. Pacientes imunodeprimidos, diabéticosou que estão em uso de corticoesteróides apresentamfator de risco potencial para o desenvolvimento deinfecção11 constituindo-se na complicação mais temidade uma biópsia trans-retal de próstata. Em pacientesque não recebem profilaxia antimicrobiana, febre podeocorrer em até 23% dos casos 14.

A epididimite é outra complicação potencialapós procedimentos invasivos realizados sobre apróstata. Sua incidência é relativamente incomum,acometendo cerca de 1% dos casos. A epididimitepode aparecer semanas a meses após o procedimento,usualmente ocorre em pacientes mais idosos e commaior número de biópsias realizadas. Embora osantimicrobianos possam ser protetivos durante aprimeira semana, a epididimite que ocorre semanasou meses após o procedimento não parece serinfluenciada pelo uso de antimicrobianos associadosao procedimento 15.

Para diminuir as complicações infecciosas amaioria dos urologistas usa a profilaxia antimicrobianaassociada a enema retal de limpeza. As soluções deiodo-povidina administradas por via retal podemdiminuir as complicações infecciosas, mas existe riscode desencadear reações vaso-vagais em algunspacientes 6. A realização do enema é controversa umavez que, conforme demonstrado por Carey ecolaboradores, não apresenta vantagem clínica e podeaumentar o custo e o desconforto do paciente22. Aduração da profilaxia não deve exceder a 24 horas.Diferentes drogas são utilizadas, isoladamente ou emassociações, não havendo consenso entre os autores1-5,12-13,16-19. A maioria deles utiliza as quinolonas como

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antimicrobiano de escolha com variação em relação àdroga a ser utilizada, isto é, ciprofloxacin 4,12-13,16,18,19,levofloxacin 1,13, ofloxacin 2. Na maioria das vezes sãoutilizados em dose única diária em torno de 1 horaantes do procedimento, em pacientes de baixo risco1,2,8,16-18 ou em duas doses diárias por 3 a 5 dias 12,19.Alguns autores fazem uso de quinolona associado aoutro antimicrobiano 4. Em estudo realizado em 199721 observou-se nítida preferência pelo uso oral dequinolonas (ciprofloxacina) em comparação com ouso por via intravenosa de aminoglicosídeos(gentamicina). Utilizou-se ciprofloxacina 500 mg porvia oral, 12 horas antes e 12 horas após a realizaçãoda biópsia de próstata ou 1,5 mg/kg de gentamicina 2horas antes e 80 mg após o procedimento. 37% dospacientes que receberam gentamicina apresentarambacteremia contra somente 7% dos que receberamciprofloxacina. Este resultado relaciona-seprovavelmente a maior concentração de ciprofloxacinaencontrada na glândula prostática. Adicionalmente avantagem do uso por via oral, a ciprofloxacinaapresenta baixa ototoxicidade e baixa nefrotoxicidade.Poucas publicações descrevem o insucesso da terapiaantimicrobiana profilática com o uso de quinolona 20,no entanto as quinolonas não são efetivas contraanaeróbios, sendo o Bacterioides fragilis,freqüentemente isolado em hemoculturas, responsávelpor casos de sepsis que evoluíram para o óbito 21.Quando comparadas as utilizações de metronidazol-netilmicina ou co-trimazol 11 os índices de bacteremiaforam semelhantes nos dois grupos (37% e 28%),mas os resultados de infecção do trato urinárioencontrados foram de 17% e 2% respectivamente.Embora os dados favoreçam a utilização de co-trimazol, a alta incidência de bacteremia encontradacontra-indica seu uso. Principalmente em pacientescom fator de risco para endocardite e que necessitamrealizar biópsia prostática 21. Outros tipos de profilaxiatambém foram avaliados, como cefuroxime 1,5 grpor via venosa versus piperacilina-tazobactam 4,5 gradministrados 20 minutos antes da realização dabiópsia, sem diferença em relação a bacteremia einfecção do trato urinário. A associação piperacilina-tazobactam é efetiva contra germes anaeróbios. Esteé um fator de grande relevância clínica, considerandoque os casos de sepsis por estes germes são severose podem evoluir para o óbito. A desvantagem é seuuso por via intravenosa e o custo mais elevado 5,24.Ensaio clínico utilizando gentamicina ou trimetropinpara profilaxia da bacteriuria pós-biópsia não mostroudiferença estatística, dados que favorecem a profilaxiacom o uso de trimetropin. Neste estudo a incidênciade bacteriuria por anaeróbios encontrada foiextremamente baixa, o que justifica o não uso rotineiro

de profilaxia para estes agentes 23. Em ensaio clínicorandomizado, desenhado para comparar diferentesesquemas de profilaxia antimicrobiana demonstrou-se que a utilização de ciprofloxacina, 500 mg em doseúnica, por via oral, administrada duas horas antes doprocedimento, apresenta vantagens quando comparadacom a utilização de ciprofloxacina durante três dias,cloranfenicol e norfloxacin. Houve diminuição dascomplicações infecciosas, maior facilidade deadministração e menor custo 11. As fluoroquinonassão amplamente preferidas pelo seu espectro de açãoque é adequado tanto para o trato urinário como paraa flora colorretal. A ciprofloxacina difunde-serapidamente através da próstata. Após administraçãooral ocorrem altos níveis séricos iniciais e, a seguir,concentrações elevadas são encontradas na próstatapor um período que varia entre 12 a 24 horas 14, fatoresestes que levam a maioria dos urologistas a preferiras quinolonas, particularmente a ciprofloxacina, comoantimicrobiano de escolha para a profilaxia durante arealização da biópsia trans-retal de próstata. No entantoa incidência de falha de profilaxia com a ciprofloxacinaestá aumentando, devido ao uso indiscriminado e aofenômeno de enterobactérias multirresistentes, dadorelevante que deve ser levado em consideração aodecidir-se pelo uso do antimicrobiano.

CONCLUSÃOAs quinolonas, principalmente a ciprofloxacina

500mg, em dose única por via oral, administrado emtorno de 1 a 2 horas antes do procedimento é a terapiaantibiótica profilática utilizada pela maioria dos autores,mas outras opções devem ser consideradas, comocefuroxime, piperacilina mais tazobactam,gentamicina, trimetropin ou mesmo outras quinolonas,objetivando-se também a profilaxia da resistênciabacteriana.

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Gangrena de Fournier é uma fasciite necrosante,sinérgica polimicrobiana, localizada no períneo, escroto e pênis,com progressão extremamente rápida e progressiva, através deplanos fasciais. Sua origem pode ser genitourinária, colorretalou idiopática, com alguns fatores associados como alcoolismo,Diabetes mellitus, infecção pelo Vírus da ImunodeficiênciaHumana entre outros. Acomete ambos os sexos, e qualquerfaixa etária. Sua apresentação clínica é variável, e um alto índicede suspeição é necessário para o diagnóstico, podendo serauxiliado por exames complementares nos casos duvidosos. Otratamento deve ser imediato, tendo como base: medidas desuporte, antibióticos de largo espectro e desbridamento cirúrgicoagressivo. A mortalidade, apesar do tratamento, continua alta,principalmente em idosos, pacientes com insuficiência renal ecom doença extensa. Fatores preditivos de severidade podemser usados com acurácia na avaliação clínica, nas opções detratamento e para predizer os resultados.

UNITERMOS: Gangrena, fasceite necrotizante

GANGRENA DE FOURNIER

RESUMO

ABSTRACTFOURNIER'S GANGRENE

Fournier´s gangrene is a synergistic, polymicrobial,necrotizing fasciitis of the perineum, scrotum, and penis,wi th rap id ly progress ion through fasc ia l p lanes .Urogenital, colorectal or idiopathic sources can usuallybe identified, and can be associated to alcoholism, Dia-betes mellitus, acquired immune deficiency syndrome andothers. The age group affected ranges from infancy toold age, and has also been described in women. Thepresentation is highly variable, necessitating a high indexof suspicion, and imaging modalities can be performed inquestionable cases. Treatment must be prompt andaggressive, including supportive care, broad-spectrumant ib io t i cs and aggress ive debr idement . Desp i teaggressive treatment, mortality remains high, particularly

Gilberto Laurino Almeida *Dr. Hamilton Hilgert **

INTRODUÇÃO

No ano de 1764, a fasciite necrosante doperíneo foi descrita pela primeira vez por Baurienne1,2.Já em 1863 e 1864, o francês Jean Alfred Fournierdescreveu esta patologia como sendo específica doescroto e em 18832,3,4, relatou uma série de cinco casosde pacientes do sexo masculino previamente hígidos,que apresentaram quadro clínico de fasciite necrosanteidiopática, rapidamente progressiva, do pênis eescroto. Desde então, inúmeros relatos dessa patologiatêm sido expostos na literatura, a partir dos quais têm-se redefinido a descrição desta enfermidade. Emmuitos casos, atualmente, um fator causal pode seridentificado. A faixa etária afetada é desde crianças aidosos. Também descrita em indivíduos do sexofeminino5.

A síndrome é, atualmente, reconhecida comouma fasciite necrosante, polimicrobiana, sinérgica, doperíneo, escroto e pênis geralmente de origemgenitourinária, colorretal ou idiopática, com evoluçãorapidamente progressiva através dos planos fasciais,podendo ser fatal5,6,7,8,9.

* Residente do 2º ano de Cirurgia Geral do HNSC** Preceptor do programa de Residência em Cirurgia Geral doHNSC

Correspondência:Serviço de Cirurgia Geral - HNSCDr. Gilberto Laurino Almeida,Av. Francisco Trein, 817 / 203Porto Alegre - RSe-mail: [email protected]

in the elderly, in patients with renal failure and in patientswith extensive disease. Fournier´s Gangrene SeverityIndex can be used in evaluating therapeutic options andpredicting outcome.

KEY WORDS: Gangrene, necrotizing fascities

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ETIOLOGIA

Na descrição original de Fournier, todos oscinco casos relatados foram idiopáticos3. Em umarevisão da literatura de séries publicadas maisrecentemente, um fator causal foi identificado em 75%a 100% dos casos6,10,11,12,13. Origem colorretal foiencontrada em 13% a 50% dos casos, enquantoorigem urogenital em 17% a 87%6,10,11,12,13. As outrascausas identificadas foram infecções cutâneas14,15 etrauma local6.

As causas colorretais mais freqüentementesincluem abscessos perirretal, perianal e isquiorretal;perfurações colônicas secundárias a câncer, trauma ediverticulite. Já as urogenitais comuns são estenosede uretra com extravasamento urinário, balanite einstrumentação uretral6,10,11,12,13,16.

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QUADRO 1 - Causas de Gangrena de Fournier (9)

PATOGÊNESE

O passo inicial é o estabelecimento de umprocesso infeccioso adjacente à lesão que atue comoporta de entrada para germes, independente da origemgenitourinária, colorretal ou idiopática. A infecção localse dissemina para planos fasciais profundos, durantea reação inflamatória expansiva. Essa infecçãorapidamente progride a uma endarterite obliterantecaracterística, resultando em necrose vascular cutâneae subcutânea. O tecido necrótico resultante ésecundário à isquemia local e ao efeito sinérgico deinúmeras bactérias9,17.

A criação de um ambiente onde predomine ahipóxia tecidual é crucial para a patogênese daGangrena de Fournier. Uma baixa tensão de Oxigênioé o alicerce para a proliferação de bactérias, anaeróbiasobrigatórias e facultativas, características destaenfermidade. O consumo local de oxigênio ocorrepelas bactérias aeróbias e é aumentado pela diminuiçãodo suprimento vascular secundário ao edema eprocesso inflamatório. O evento chave parece ser atrombose de pequenos vasos do subcutâneo7.

Algumas bactérias comumente encontradas nafasciite necrosante do períneo, teoricamente,contribuem para, ou causam, a endarterite obliterante.Alguns anaeróbios, incluindo Bacterioides, sãoconhecidos como produtores de heparinases8,9,17.Bactérias aeróbias desencadeiam agregação plaquetáriae fixação de complemento8,17. Cepas Gram-negativasproduzem lipopolissacarídeos que, na vigência desepse, podem produzir trombose vascular.Estreptococos do grupo ß produzem uma coagulaseque coagula plasma contendo oxalato e citrato. Acombinação destes fatores de virulência comumenteresulta na endarterite oclusiva, mas falham em explicara destruição tecidual ao longo dos planos fasciais9.

Similarmente, fatores bacterianos estãoimplicados em causar destruição tecidual sinérgica.Bacterioides sp produzem colagenase e hialuronidaseresponsáveis pela destruição de colágeno.Staphilococci e Streptococci também produzemhialuronidase17.

As bactérias na Gangrena de Fournier podemagir sinergicamente para confundir a resposta imune.Staphilococci inibe a fagocitose pela cobertura defibrina às bactérias. Bacterioides também inibem afagocitose, diminuindo assim a morte de anaeróbios9.

MICROBIOLOGIA

A Gangrena de Fournier é geralmente aceitacomo uma infecção sinérgica bacteriana. Tipicamente,os organismos envolvidos sozinhos são de baixa a

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moderada virulência7. Vários estudos sugerem que emtodos, ou pelo menos na maioria, os casos umacombinação de bactérias aeróbias e anaeróbias deveser esperada8,12,18.

A presença de creptação com ou sem adrenagem de secreção de odor fétido sugereanaeróbios. Creptação é o Hidrogênio e o Nitrogênioproduzidos pelos anaeróbios e não é patognomônicode infecção por Clostridium. Esta deve ser suspeitadaem infecções de etiologia colorretais e se mionecroseestá presente. Clostridium perfringens está presenteem mais de 90% das fasciites necrosantes do períneoque apresentam mionecrose32.

Em revisão de séries, o número de organismosencontrados em culturas variou de 1.3 a3.96,10,12,18,19,20,21. Quando todas as series sãocombinadas, a média é de 2.7. A quantificaçãoverdadeira é provavelmente maior, devido à dificuldadeem cultivar os anaeróbios.

A pesar do resultado das culturas, a presençade anaeróbios devem ser suspeitada e tratada em todosos casos.

Em uma série de 236 pacientes (195 comanaeróbios), os organismos mais comumenteencontrados foram Escherichia coli, Bacteriodes,Staphylococci, Proteus, Streptococci, Pseudomonas eEnterococci6,10,12,18,19,20,21. Tabela I.

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Referências 6,9,10,12,18,19,20,21

TABELA I � Resultado de exames culturais em 236 pacientes

CONSIDERAÇÕES ANATÔMICAS

A anatomia do períneo, pênis e escrotodeterminam a disseminação da destruição tecidual naGangrena de Fournier. O períneo é divido em doistriângulos � triângulo anterior ou urogenital e triânguloposterior ou anorretal. O triângulo urogenital édelimitado posteriormente por uma linha imagináriaentre a tuberosidade isquiática, lateralmente pelo ramoisquiático e anteriormente pelo púbis. Já o triânguloanorretal é demarcado posteriormente pelo cóccix,lateralmente pelo ligamento sacrotuberoso e pela linhaentre as tuberosidades isquiáticas9.

A fáscia de Colles é fixa lateralmente ao ramopúbico e a fáscia lata, posteriormente à fáscia inferiordo diafragma urogenital. Essas relações anatômicastendem à disseminação lateral e posterior na Gangrenade Fournier. A fáscia de Colles se torna a fáscia deScarpa na parede abdominal inferior e o dartus nopênis e escroto. Esse tecido comum a essas estruturaspermite uma livre disseminação da fasciite5,7,8,9,12,18.

Na patogênese proposta da fasciite necrosantedo períneo proveniente da uretra, bactérias do tratourinário infectam as glândulas peri-uretrais. Eminfecções não tratadas ou em pacientesimunodeprimidos, a infecção pode se disseminaratravés da fáscia de Buck do pênis, nesta situação ocomprometimento está restrito à porção ventral pelosepto intracavernoso transverso da fáscia de Buck.Porém se essa esta penetrada, a disseminação podeatingir o espaço entre o Dartus e a fáscia de Buck,acometendo, assim, circunferencialmente o pênis,interior do escroto, interior da parede abdominal aolongo da fáscia de Scarpa e interior do períneo viafáscia de Colles8.

O acometimento é, geralmente, confinadoposteriormente e lateralmente como descritoanteriormente. Ocasionalmente, o diafragma urogenitalé invadido e o espaço de Retzius é acometido.Tipicamente o espessamento da fáscia de Colles, aonível do períneo, previne o envolvimento da margemanal, exceção nos casos de origem anorretal.

Na Gangrena de Fournier de origem colorretal,o evento inicial é a invasão através do esfíncter analmuscular por um processo infeccioso profundo(exemplo abscesso perirretal)8,9.

APRESENTAÇÃO CLÍNICA

A apresentação clínica de Gangrena de Fournieré muito variável. Para o diagnóstico precoce etratamento imediato são necessários alto índice desuspeição da doença e conhecimento do quadro clínicodesta enfermidade.

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Clayton e colaboradores12 relataram quesecreção escrotal e odor fétido estavam presentes emtodos os pacientes. Hiperemia foi encontrada em 26%e febre em 15%. Baskin e colaboradores6 identificaramdor e secreção em 100%, febre em 19%, creptaçãoem 18%, áreas necróticas da pele em 10%, choqueem 4% e delírio em 3% dos pacientes. Nas sériesrelatadas por Benizri e colaboradores11, os achadosmais freqüentemente encontrados foram dor, edema,drenagem de secreção fétida, placas esverdeadas oupretas, febre, choque e creptação. Smith ecolaboradores5 reportaram dor, eritema, secreçãoescrotal, choque, íleo adinâmico, delírio e creptaçãocomo sendo os achados mais comuns. Eles tambémdescreveram alguns cenários que sugerem apossibilidade de Gangrena de Fournier: (I) celulite que

não responde adequadamente à antibioticoterapia e (II)sintomas de choque além das proporções dos achadoscutâneos. Cianose e enduração da pele podem ser asmanifestações cutâneas mais precoces, seguidas posnecrose tecidual e úlceras5. Figuras 1, 2, 3. Algumasséries sugerem que a dor pode diminuir de intensidadecom o aparecimento e desenvolvimento de necrose.

Inúmeras condições podem estar associadascom Gangrena de Fournier e quando presentes podemaumentar o índice de suspeição desta entidade clínica.Diabetes mellitus tem sido associada com um aumentona incidência de Gangrena de Fournier5,6,7,11,12,13.Clayton, Hejase e Smith relataram uma prevalência deDiabetes mellitus de 32%, 66% e 40% a 60%respectivamente5,11,13. Baskin e colaboradores6

explicaram o alto índice de Gangrena de Fournier empacientes diabéticos pelas seguintes teorias: (I) doençade pequenos vasos aumentaria a propensão a isquemiatecidual, (II) defeitos no processo de fagocitoseaumentariam o alastramento bacteriano e (III)neuropatia diabética em pacientes com obstruçãourinária infra-vesical causaria um aumento naincidência de infecção do trato urinário.

Alcoolismo também está freqüentementeassociado ao aumento na incidência de Gangrena deFournier5,7,11,12,13. Clayton, Hejase e Smith e seuscolaboradores relataram uma prevalência de alcoolismoem pacientes com Gangrena de Fournier de 51%, 66%e 25% a 50% respectivamente5,12,13. Esta alta incidênciaé comumente atribuída à imunossupressão e higieneprecária. Hejase e colaboradores13 reportaram quetodos os pacientes em sua série apresentavam máhigiene e baixo status sócio-econômico. EnquantoSmith e colaboradores5 relataram uma associação combaixo status sócio-econômico.

Nos últimos anos, Gangrena de Fournier temsido crescentemente encontrada em pacientes com aSíndrome da Imunodeficiência Adquirida(SIDA)9,22,27,24,30. Em um estudo de Elem22, na Zâmbia,demonstrou forte evidência da associação entre SIDA/HIV e Gangrena de Fournier.

Outras condições podem estar associadas comfasciite necrosante do períneo, dentre elas:hospitalização prolongada, malignidade, uso de drogasendovenosas e desnutrição5,7,9. Todas essas condições,assim como as previamente citadas, causam variadosgraus de imunossupressão. Em pacientes com essasou qualquer outra causa de imunossupressão, umíndice aumentado de suspeição deve estar presente9.

Fasciite necrosante do períneo é muito maiscomumente encontrada em adultos, porém tambémtem sido relatada em pacientes na faixa etária pediátrica.Ameh e colaboradores23, em estudo retrospectivo numperíodo de 16 anos, relataram 12 casos com idade

Figura 1

Figura 2

Figura 3

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média de 5 dias a 3 meses. Nessa série foi identificadacomo causas precipitantes onfalite e hérnia inguinalestrangulada, em 7 e 2 pacientes respectivamente, esem causa aparente em outros 3 pacientes.

DIAGNÓSTICO COMPLEMENTAR

Paty e Smith8 enfatizam a importância daproctoscopia e uretrografia retrógrada na avaliaçãode todos os pacientes com fasciite necrosante doperíneo. Proctoscopia irá, freqüentemente, revelar aorigem da infecção, assim como a extensão doenvolvimento anal e retal. Esta informação é vital nadeterminação de quando realizar uma colostomiaprotetora. No mesmo sentido, a uretrografia retrógradapode revelar extravasamento urinário importantenecessitando derivação urinária supra-púbica8.

Ultrassonografia da bolsa escrotal tem sidoutilizada, há alguns anos, para assistir ao diagnósticode Gangrena de Fournier, principalmente naquelespacientes com baixa ou moderada suspeição clínicada doença. Pode auxiliar com um rápido diagnósticoe diferenciar de processos patológicos que mimetizamessa entidade, como edema escrotal agudo ecelulite7,14,26,28,29. Alguns pesquisadores têmdemonstrado a descoberta de gás no subcutâneo peloexame ultrassonográfico previamente ao achado clínicode creptação nos pacientes avaliados por escrotoagudo. Achados ultrassonográficos típicos incluem:testículos normais, espessamento da parede escrotale gás no subcutâneo. Aparência ultrassonográfiasemelhante pode ser encontrada em hérnias ínguino-escrotais; entretanto, o gás na fasciite necrosante écaracteristicamente encontrado paralelo aotransdutor9. Ultrassonografia tem baixo valordiagnóstico quando creptação já está presente, porémé de valia quando o escroto agudo é de etiologiadesconhecida9.

A Radiografia simples de abdome é útil naavaliação de Gangrena de Fournier. Gás no Tecidocelular subcutâneo pode ser evidenciado antes dacreptação, auxiliando no diagnóstico. Ocasionalmente,um radiograma simples de abdome poderá demonstraruma causa de infecção intraperitoneal ouretroperitoneal7.

Similarmente Tomografia computadorizada eRessonância magnética podem identificar gás nosubcutâneo e definir a causa da infecção. Ambosmétodos podem assistir ao plano de desbridamento.Ressonância magnética pode definir o envolvimentode planos fasciais7,26,30.

Biópsia é raramente necessária para auxiliar ouconfirmar o diagnóstico de fasciite necrosante doperíneo. Achados característicos incluem epiderme

intacta, necrose da derme, tromboses vasculares,infiltração neutrofílica e necrose do tecido celularsubcutâneo8.

TRATAMENTO

Os princípios básicos do tratamento daGangrena de Fournier não tiveram grandes mudançasnos últimos tempos desde o advento dos antibióticos.A essência do manejo terapêutico inclui medidas desuporte, antibióticos de largo espectro e desbridamentocirúrgico.

MANEJO CIRÚRGICO

Esta enfemidade continua sendo consideradauma emergência médica devido à sua rápidaprogressão, apesar do advento dos antibióticos e daterapia hiperbárica com Oxigênio. Assim que aestabilização clínica do paciente é alcançada, aexploração e o desbridamento devem ser realizadossob anestesia geral. A equipe cirúrgica deve estarpreparada para a possibilidade de desbridamentoextenso, derivação urinária ou fecal e laparotomia,independentemente das manifestações cutâneas. Oenvolvimento cutâneo tem sido descrito como �a pontado iceberg�5,7,9.

Retoscopia e sigmoidoscopia devem serrealizadas antes do desbridamento. Na presença deenvolvimento extenso do esfíncter anal ou perfuraçãocolorretal, uma derivação fecal deve ser realizada8. Arecomendação de inúmeros autores é realizarcolostomia em todos os pacientes é preferível quenão realizar em nenhum.

As indicações de derivação urinária são similaresas colorretais. Uretrografia retrógrada deve serrealizada em todos pacientes pré-oparatóriamente ouna sala de cirurgia. Na presença de extravazamentourinário, flegmão peri-uretral ou dificuldade nasondagem vesical, cistostomia (sondagem supra-púbica) deve ser realizada8.

A seguir, o desbridamento deve ser realizado.Figura 4. O objetivo deve ser a remoção de todo tecidodesvitalizado. Um desbridamento inicial agressivodiminui as ídas ao centro cirúrgico para repetidosprocedimentos. Baskin e colaboradores6 reportaramuma média de 2 a 4 desbridamentos. Áreascomprometidas por fasciite são identificadas pela fácilseparação entre a fáscia e o subcutâneo5,7. Recomenda-se que a excisão dos planos fasciais deva ir até quetodas as bordas da ferida apresentem tecido viável7.Após o primeiro desbridamento, o paciente devemelhorar clinicamente, não ocorrendo esta melhoradeve-se suspeitar de envolvimento retroperitoneal ou

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intraperitoneal não tratados.Tipicamente, a bexiga, o reto e os testículos

serão poupados da Gangrena de Fournier devido oseu suprimento sangüíneo não ser de origem perineal.Se sinais de necrose testicular ao momento dodesbridamento, deve-se suspeitar de envolvimentoabdominal causando trombose da artéria testicular,laparotomia deve, então, ser realizada7. Se preservados,os testículos e o cordão espermático devem serdeixados sem cobertura, podendo-se evitar adesidratação tecidual com uma bolsa na paredeabdominal ou na coxa7,15.

O processo infeccioso estando controlado, osdefeitos remanescentes criados pelo desbridamento epela necrose podem ser deixados para fechamentopor segunda intenção ou cobertos com enxertoscutâneos. Atenção especial deve ser dada a enxertosno pênis, devido à retração e cicatrizes inaceitáveisfuncionalmente19.

ANTIBIÓTICOTERAPIA

Tratamento antimicrobiano deve ser iniciadoimediatamente. Cobertura para cepas Gram-positivas,Gram-negativas e anaeróbias, até resultado deculturais. O esquema deve ser mudado de acordo coma sensibilidade ao antibiograma, porém cobertura paraanaeróbios deve ser mantida independentemente doresultado do exame cultural9.

Esquema antimicrobiano utilizado, em grandescentros, inclui uma penicilina para cobertura de cepasGram positivas e Clostridium perfingens,aminoglicosídeo ou cefalosporina de terceira geraçãopara cepas Gram negativas e metronidazol ouclindamicina para anaeróbios9.

MEDIDAS DE SUPORTE

Princípios de cuidados intensivos devem ser

aplicados a pacientes com Gangrena de Fournier.Geralmente, há necessidade de expansão volêmicacom cristalóides, colóides ou sangue e correção dedistúrbios eletrolíticos. Ventilação mecânica, fatoresde coagulação e hemodiálise podem ser necessários.Devem ser ofertadas calorias e proteínas suficientespara permitir a cicatrização5.

TERAPIA COM OXIGÊNIOHIPERBÁRICO

O uso de Oxigênio hiperbárico no tratamento deGangrena de Fournier continua controverso. Algunscentros relatam excelentes resultados e recomendamterapia com oxigênio hiperbárico como terapia deprimeira-linha ou adjuvante17,31,32. Entretanto, é consensoque essa opção de tratamento é útil em infecções porClostridium, não havendo estudos randomizados paradeterminar a utilidade em infecções gerais.

Devido aos excelentes resultados em algumasséries e a relativa segurança, Smith e colaboradores5

recomendam seu uso, se disponível, sem retardar odesbridamento cirúrgico.

Em um estudo retrospectivo, Mindrup ecolaboradores2 concluem que o uso rotineiro deOxigênio hiperbárico na Gangrena de Fournier nãodeve ser empregado, resguardando essa modalidadeterapêutica para pacientes com comprometimentoextenso, como uma terapia adjuvante.

CUIDADOS LOCAIS COM A FERIDA

Após desbridamento cirúrgico, cuidados locaisdevem seguir os princípios gerais de manejo com aferida operatória. Curativos úmidos, solução de Dakinou peróxido de Hidrogênio são recomendados5,19. Ouso de mel não-processado tem sido relatado paradesbridamento enzimático, esterilizar, desidratar,desodorizar e digerir tecido necrótico, ofertandooxigenação tecidual local e estimulando a re-epitelização5,13,19.

Segundo estudo realizado por Endorf ecolaboradores33, durante a fase inicial, após odesbridamento, as áreas expostas podem ser tratadascom antimicrobianos tópicos, como acetato demafanida 5%, bacitracina, polimixina, vancomicina,nistatina, betadina e curativos com nitrato de Prata. Aescolha pelo antimicrobiano tópico deve ser orientadapelos exames culturais com antibiogramas de materialcolhido durante cirurgia. Fechamento assistido porvácuo (Vacuum-assisted-closure-VAC), segundoEndorf, pode ser usado para preparar o leito da feridapara enxertos cutâneos ou para auxiliar no fechamentopor segunda intenção.

Figura 4

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MORTALIDADE

As taxas de mortalidade para a Fasciitenecrosante do períneo variam de 0% a 75%. Emalgumas séries, essa taxa é de 14% a 45%, com médiade 26%6,7,10,11,12,18,20,21,22,34. Apesar da antibioticoterapiae do desbridamento cirúrgico agressivo, a mortalidadecontinua alta, principalmente em idosos, pacientes cominsuficiência renal e com doença extensa, segundoGeraci35. Fatores preditivos de mortalidade incluem:idade avançada6,11,12,21, acometimento extenso dadoença11,12, choque ou sepse à apresentação11,12,hemoculturas positivas11, ausência de umacolostomia11 e BUN (blood urea nitrogen) > 50mg/dL15. Segundo Gurdal e colaboradores36, em estudoretrospectivo de 28 pacientes, Diabetes mellitus,alcoolismo, paraplegia e insuficiência renal foramidentificados em 54% dos doentes.

Em estudo realizado por Laor ecolaboradores21, uma análise foi realizada paradeterminar fatores associados com mortalidade. Àadmissão, idade avançada, anemia, BUN elevado,hipocalcemia, Fosfatase alcalina elevada ehipocolesterolemia foram preditores de mauprognóstico. Após uma semana de internação,leucocitose, plaquetopenia, hipopotassemia,bicarbonato sérico baixo, BUN elevado,hipoproteinemia total, hipoalbuminemia eDesidrogenase láctea elevada, também forampreditores de mau prognóstico. Insuficiências renal

e hepática foram associadas com aumento namortalidade. Determinou-se, então, o Escore deSeveridade para Gangrena de Fournier (Fournier´sGangrene Severity Index-FGSI) Tabela 2.Temperatura corporal, freqüência cardíaca erespiratória, sódio sérico, potássio sérico, creatininasérica, hematócrito, contagem leucocitária ebicarbonato sérico são medidos e graduados de 0 a4 de acordo com o desvio dos valores da normalidadee totalizados. Yeniyol e colaboradores37, em umestudo de 25 pacientes tratados e acompanhadosentre 1995 e 2000, concluíram que distúrbios dobalanço metabólico era o parâmetro mais importantepara se predizer o desfecho da doença, e ao contráriode outros estudos a extensão da lesão também foiimportante. Em particular, a necessidade decolostomia ou cistostomia implicou em piorprognóstico. No mesmo estudo foi sugerido que oEscore de Severidade na Gangrena de Fournier podeser usado com acurácia na avaliação clínica, dasopções de tratamento e para predizer os resultados.Neste estudo populacional, um escore de severidadesuperior a nove9 estava associado à mortalidade de75%, e se inferior a 9 à 22% 21.

Etiologia, sítio de origem e tratamentoretardado não foram preditivos para diminuição nasobrevida6,11,12,,21. Ainda, entre os pacientes HIV-positivos a taxa de mortalidade se mostrou semelhanteaos pacientes HIV-negativos22.

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TABELA 2. Escore de Severidade para Gangrena de Fournier(Fournier�s Gangrene Severity Index-FGSI) (37)

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CONCLUSÃO

A Fasciite necrosante do períneo por ser umadoença infecciosa grave com evolução rapidamenteprogressiva e potencialmente fatal. Deve serconsiderada uma emergência médica. Tendo em vistasua gravidade, um alto índice de suspeição énecessário para um diagnóstico precoce e umtratamento imediato e agressivo. Todos os meiosterapêuticos disponíveis devem ser ofertados, com oobjetivo de controle do processo infeccioso, deixandoa questão estética para posteriori.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos a Maria Cristina dos SantosAntunes - Enfermeira da UTI-HNSC e FabrícioMarcondes Luciano da Silva e Vinicius Grando Gava- Residentes de Cirurgia Geral-HNSC, pelas imagenscedidas.

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Revista Técnico-Científica do Grupo Hospitalar Conceição - ISSN 0102-9398

O desenvolvimento da Medicina permitiu quepacientes com prótese de válvula cardíaca atinjam a idade fértile engravidem. As pacientes com prótese valvar metálica,entretanto, necessitam de anticoagulação permanente, e awarfarina, principal opção em não-gestantes, é potencialmenteteratogênica. O presente artigo aborda os mais importantesprotocolos de anticoagulação utilizados em gestantes comprótese valvar, incluindo heparina não fracionada, heparina debaixo peso molecular e mesmo warfarina. Ilustra este estudo orelato do caso de uma gestante de 35 anos, com duas prótesesvalvares cardíacas; a paciente, anticoagulada comfemprocumona e, posteriormente, com warfarina, deveria tê-lasubstituída por heparina não fracionada na 35a semana degravidez, o que não ocorreu devido a intercorrências da gestação.Apesar de tais complicações, mãe e recém-nascido tiveram umaboa evolução. No momento, não há consenso quanto ao melhormanejo de pacientes como essa, sendo fundamental que o médicoassistente oriente as pacientes em relação à eventualidade deuma gravidez e ajude-as a programá-la.

UNITERMOS: anticoagulação, gravidez, prótesevalvar.

ANTICOAGULAÇÃO NA GESTANTECOM PRÓTESE METÁLICA DE

VÁLVULA CARDÍACA: UM RELATO DE CASO

RESUMO

ABSTRACTANTICOAGULATION IN PREGNANT WOMEN

WITH METALLIC HEART VALVE: A CASE REPORT

The development of Medic ine has a l lowedpatients with heart valve prosthesis to reach fertile ageand get pregnant. Patients with metallic heart valve,though, need permanent anticoagulation, and warfarin,the main choice in non-pregnant women, is potentiallyteratogenic. The present article discusses the mostimportant anticoagulation protocols used in pregnantwomen wi th hear t va lve p ros thes i s , inc lud ingunfractionated heparin, low-molecular-weight heparinand even warfarin. This study is illustrated by the casereport of a 35 year-old pregnant woman, with two heartva lve prothes is ; the pat ient , ant icoagula ted wi th

Ângelo Zambam de Mattos *José Eugênio Rache **

Túlio Trevisan ***

INTRODUÇÃO

O progresso da Medicina impõe novos dilemasaos profissionais da saúde e à sociedade de maneirageral. No campo da Obstetrícia, por estarem em jogonão uma, mas duas vidas humanas, talvez eles sejamainda mais contundentes. Foi o avanço da ciência quepermitiu que, nas últimas décadas, meninas cardiopataspudessem atingir a idade fértil, conceber, gestar e,finalmente, dar à luz1.

A valvulopatia cardíaca, na jovem, costumaadvir de febre reumática, de malformações congênitasou de endocardite prévia. Ela, quando em associaçãoà gravidez (combinação que, impõe-se afirmar, atingemenos de 1% das gestantes), implica aumento dosriscos maternos, fetais e neonatais. É, no entanto, acomplicação que pode advir do tratamento de talentidade que interessa a este artigo: colocação deprótese valvar pode requerer anticoagulaçãopermanente2,3.

* Acadêmico de Medicina da FFFCMPA.** Professor Assistente da Disciplina de Obstetrícia da FFFCMPA.*** Médico, ex-residente do Serviço de Ginecologia e Obstetríciada ISCMPA/FFFCMPA.

Trabalho desenvolvido na Fundação Faculdade Federal de CiênciasMédicas de Porto Alegre - FFFCMPA.

Endereço para correspondência:Ângelo Zambam de MattosRua Cel. Aurélio Bitencourt, 35/201, Bairro Rio BrancoPorto Alegre - RS, CEP 90430-080E-mail: [email protected]

RELATO DE CASOS

phenprocoumon and, posteriorly, with warfarin, shouldhave had it replaced by unfractionated heparin at the35th week of pregnancy, which did not occur because ofcompl ica t ions o f the p regnancy. Desp i t e thesecomplications, mother and new-born had a good outcome.At the moment, there is not a consensus in relation tothe best management of patients like this, being of thegreatest importance that the assistant physicians orienttheir patients in relation to the possibility of pregnancyand help them to program it.

KEY WORDS: anticoagulation, pregnancy, valveprosthesis.

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A anticoagulação determina a melhor proteçãocontra tromboembolismo aos pacientes com prótesesvalvares metálicas4,5. O tromboembolismo relacionadoà valvulopatia e à protese valvar é agravado nagestação, quando ocorre um estado fisiológico dehipercoagulabilidade com o objetivo de minimizar asperdas sanguíneas e de promover uma melhorhemostasia no parto e após a dequitação da placenta5,6.Para avaliar a importância desse fato, basta lembrarque a incidência de tromboembolismo venoso emgrávidas é dez vezes maior que em não gestantes commenos de 35 anos7. Para mulheres não gestantes dealto risco para essa intercorrência, indicar-se-iaprofilaxia com warfarina e ácido acetil salicílico (aassociação aumentou somente os sangramentos depouca relevância clínica). Objetiva-se a obtenção deum International Normalized Ratio (INR) de 2,5 (entre2,0 e 3,0) em paciente com válvula mecânica de doisfolhetos, de átrio esquerdo de tamanho normal, emritmo sinusal e com fração de ejeção normal. Empacientes com próteses biológicas, o risco detroboembolismo é menor, e, se não houvercomplicações, o uso de anticoagulação por três mesese de ácido acetil salicílico na dose de 162mg/dia porlongo prazo são suficientes3,4.

Ocorre que a droga de escolha paraanticoagulação em adultos, a warfarina, por ultrapassara placenta, tem ação teratogênica conhecida,produzindo malformações congênitas, além de outrosefeitos adversos durante a gravidez e o parto3,4,5,8,9,11.A aspirina, segundo alguns autores, também poderiaser implicada em malformações e em quadros desangramento no neonato e na mãe1,4, embora outrosconsiderem-na segura para o concepto6. Assim,idealmente, se recomenda evitar o uso de warfarinadurante a gravidez, especialmente, durante seuprimeiro trimestre9, havendo, por tais motivos,indicação de substituição da anticoagulação obtida comesse fármaco por aquela realizada através do uso deheparina8.

A heparina não causa sangramento fetal oumalformações4, uma vez que não ultrapassa a placentapor ter grande peso molecular. Também não éexcretada no leite materno (o uso de warfarina durantea lactação, na verdade, também é seguro)1,5,9. Aindaassim, persiste facilitada a ocorrência peri-parto dehemorragia na junção deciduoplacentar, e hásangramentos em 5% a 10% das pacientes1,4,5. Parareverter rapidamente seus efeitos, em situações comoessas, o sulfato de protamina pode ser usado.

Outra opção ainda poderia ser a heparina debaixo peso molecular. Ela tem atividade anticoagulantemais uniforme, dose-resposta mais previsível,mecanismos de depuração dose-independentes e maior

RELATO DE CASOS

meia-vida plasmática, requerendo monitorizaçãomenos rigorosa quando comparada à heparinaconvencional. Além disso, se associa a um menornúmero de sangramentos graves e à menor incidênciade trombocitopenia e de osteoporose, quandocomparada à heparina convencional3,5,7. Apesar dissoe mesmo que metanálises mostrem que a heparina debaixo peso molecular tenha efetividade tão boa quantoou melhor que a da heparina não fracionada, aindafaltam evidências em relação à sua eficácia empacientes com próteses valvares e à dosagem a serusada2,3,4,5,9. O uso de enoxaparina não é recomendadopara tais casos pelo Food and Drug Administration(FDA), e o American College of Cardiology/AmericanHeart Association Task Force não recomenda o usode heparina de baixo peso molecular em pacientes compróteses valvares, especialmente durante a gravidez.Deve-se ressalvar que tais preocupações não sãocompartilhadas por todo o meio científico3,9,10.

O objetivo do presente estudo é revisar aliteratura científica atual no que concerne àanticoagulação de gestantes com prótese valvarmecânica, correlacionando-a ao relato de um casoocorrido na Irmandade Santa Casa de Misericórdiade Porto Alegre (ISCMPA).

RELATO DE CASO

M. L., 35 anos, sexo feminino, cor branca,gesta 5, para 3 e aborto 1; com 3 filhos vivos. Vem,encaminhada ao Serviço de Obstetrícia da ISCMPA,com idade gestacional de 35 semanas e 5 dias(calculada por ultrassonografia de 12 semanas e 5dias) para realizar a substituição de warfarina porheparina. A paciente era portadora, há anos, de prótesesvalvares metálicas mitral e aórtica por valvulopatiaprévia decorrente de febre reumática. Realizouanticoagulação oral durante toda a gestação,inicialmente, com femprocumona e, sete semanasantes da internação, com warfarina. Paciente realizoupré-natal de alto-risco na Instituição, sem queapresentasse outros dados dignos de nota. Realizou 3ultrassonografias com resultados normais (duas delascom estudo morfológico) e ecodopplercardiogramafetal com resultados normais.

Internou com dinâmica de 4 contrações fracasem 10 minutos, pressão arterial (TA) de 150/90mmHg, edema de membros inferiores, cefaléia frontal, ebatimentos cardíacos fetais (BCF) de 134bpm. Osexames laboratoriais evidenciaram tempo deprotrombina (TP) de 21%, INR de 4,77, TTPa de88,2 segundos; tinha proteinúria de 1+/4+. Instalou-se bomba de infusão com sulfato de magnésio

2g/h,

injetaram-se lentamente 20mL endovenosos do mesmo

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produto na concentração de 20% e coletou-se sanguepara verificação da magnesemia. Quatro horas maistarde, a TA chegou a 180/90mm Hg. Com diagnósticode pré-eclampsia grave, e estando o feto emapresentação pélvica, indicou-se cesariana deurgência, antes que fosse possível a substituição daanticoagulação. Realizou-se reversão da anticoagulaçãocom infusão de plasma fresco 800mL a cada 6 horas,com intuito de proceder-se à cesariana com INR deaté 1,5 e de mantê-lo assim até 6 horas depois doparto, reiniciando-se a anticoagulação com heparina80UI/Kg em bolus e 16UI/Kg/h até se chegar a TTPamínimo de 2 vezes o controle. Posteriormente,retornar-se-ia ao uso de warfarina e iniciar-se-iahidralazina para o controle da TA.

Foi realizada profilaxia contra endocarditebacteriana com amoxicilina. A cesariana seguiu-se semintercorrências. Manteve-se a profilaxia da eclampsiacom sulfato de magnésio, controlando-se diurese,freqüência respiratória, reflexos profundos e grau deconsciência da paciente. Oito horas após a cirurgia, oINR era de 2,0, o TTPa, de 49,3 segundos, e omagnésio sérico, de 7,0mg/dL; a paciente estava bem,normopnéica, com reflexos profundos presentes, comabdome flácido, sem sangramento ativo e semdrenagem de sangue ou de fluidos pelo coletorcolocado.

O recém-nascido apresentou APGAR 4 noprimeiro minuto e 9 no quinto minuto. Não haviamalformações aparentes.

DISCUSSÃO

A terapia antitrombótica é fundamental nagestante com prótese valvar metálica, já que é alto orisco de trombose da prótese, de tromboembolismosistêmico e de morte caso se prescinda da profilaxia.Quer seja instituída com warfarina, quer com heparinanão fracionada ou com a de baixo peso molecular, agravidez de uma mulher com prótese valvar metálicaimplica risco de morte materna por trombose valvarentre 1% e 4%3. Muitos fatores influenciam tal risco:o tipo e a posição da prótese, presença de fibrilaçãoatrial, o tamanho do átrio esquerdo, episódiostrombóticos prévios, o número de próteses metálicase a adequação da anticoagulação. A paciente em questãotinha contra si o fato de possuir próteses valvaresmetálicas mitral e aórtica (situação pior que possuiruma única prótese metálica, caso em que seria menosarriscado tê-la em posição aórtica que em mitral)3,10.Além disso, a paciente estava usando doses elevadasde anticoagulantes (seu INR era maior que 4), o quepoderia provocar sangramentos. Neste caso, se nãohouvesse tido hemorragia, deveria ter sido orientada

a não usar o anticoagulante até que o INR fossenormalizado; vale lembrar que, para atingir maisrapidamente um INR seguro, poderia ter sido utilizadovitamina K (1mg via oral ou 0,5mg endovenoso),embora tal medida exija cuidado redobrado, uma vezque a redução rápida do INR poderia implicar tromboseda prótese. Caso houvesse sangramento, estariaindicado o uso de concentrados de complexo deprotrombina, uma vez que o volume de plasmanecessário costuma ser excessivo e, por isso, de usoproblemático10.

Tanto a warfarina quanto a heparina nãofracionada exigem monitorização cautelosa, pois asvariações da volemia e do peso corporal da grávidapodem alterar a efetividade da dose utilizada1,2. Alémdisso, sabe-se que ambas as drogas favorecem aocorrência de hemorragias graves em cerca de 2%das gestantes usuárias, sua maioria no período peri-parto2.

Em gestantes com próteses valvares metálicas,a warfarina usada durante toda a gravidez (com INRpermanecendo entre 2,0 e 3,0) parece conferir amelhor anticoagulação, com risco detromboembolismo e de morte de 3,9% e de 1,8%respectivamente. Por outro lado, o uso da warfarinatambém se relacionou com maior incidência de perdafetal, que atinge a cifra de, aproximadamente, 30%. Aexposição à warfarina entre a sexta e a décima segundasemanas gestacionais pode implicar o dobro de perdasfetais quando comparadas àquelas associadas ao usode heparina não fracionada. Efeitos deletérios dessadroga ao feto ocorrem em 6% dos casos e incluemhipoplasia nasal e malformações ósseas2. Há relatosde que a embriopatia afetaria até 29,6% dos conceptos1.Há contudo estudos atestando que doses de warfarinainferiores a 5mg implicariam baixo risco para oconcepto6. Outros asseguram que a síndrome dawarfarina fetal é de pequena incidência, ocorrendoem menos de 5% dos nascidos de gestantes queutilizaram a droga entre a sexta e a décima segundasemanas de gestação1,3. Adicionalmente, algunsestudos recentes vêm mostrando desenvolvimentonormal em longo prazo de muitas das criançasinicialmente afetadas e uma taxa baixa de quadrosgraves. A reflexão sobre tais fatos deve levar em contao risco hemorrágico associado à outra drogalargamente utilizada na anticoagulação, a heparina,principalmente quando administrada até o momentodo parto; os sangramentos ocorrem na maioria dasvezes durante e logo após o parto3. No presente caso,o recém-nascido não apresentou dismorfias ouquaisquer anomalias congênitas identificáveis, o quecoincide com estas informações.

Quando se usou heparina em vez de warfarina

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no primeiro trimestre, os riscos de tromboembolismoe de morte maternos aumentaram em mais de duasvezes: 9,2% e 4,2% respectivamente. Quando utilizadapor toda a gravidez, tais índices chegaram a 25% e7% respectivamente. Verdade é que esses resultadosforam auferidos em estudo em que grande parte dasgestantes era usuária de próteses mais antigas e maispropensas ao tromboembolismo2. Além do riscoaumentado de complicações tromboembólicasassociadas ao uso de heparina, ainda parece havermais sangramentos do que em mulheres usuárias dewarfarina1; a taxa de hemorragias graves giraria emtorno de 2%3. O uso de heparina durante toda agestação ainda tem os inconvenientes de requerermúltiplas injeções e de poder causar osteoporose etrombocitopenia maternas3.

Um estudo retrospectivo comparou gestantescom próteses em uso de warfarina, em uso de heparinae sem qualquer anticoagulação (47% deste grupo eramportadoras de bioprótese). O primeiro grupo teve maiorpercentual de abortamentos e de malformações fetais;o segundo grupo teve maior percentual de nascimentospré-termo, de mortalidade materna, detromboembolismo, de fibrilação atrial e desangramento pré-natal; o segundo e o terceiro grupostiveram mais insuficiência cardíaca que o primeiro. Éfundamental saber, contudo, que tais resultados nãoencontraram significância estatística. Isto, somado aofato de ser um estudo retrospectivo e com casuísticamodesta (principalmente nos dois últimos grupos),diminui grandemente a importância de tais resultados1.

Como foi previamente esclarecido, qualquerregime de anticoagulação tem inconvenientes durantea gestação, de tal forma que não há recomendaçãodefinitiva no que tange à escolha do melhor agente aser usado na gravidez. A escassez de dadosconcernentes a esse tópico também contribui para ainexistência de uma conduta consensual1,4.

Há, entretanto, algumas opções para aanticoagulação de gestantes com próteses valvaresmecânicas cujas indicações compartilham o aval dosestudiosos no assunto4. A administração de dosesajustadas de heparina não fracionada, duas vezes aodia pela via subcutânea, durante toda a gestação teriacomo ideal alcançar um TTPa duas ou mais vezessuperior ao controle3,4,7,9. Hirsh et al. lembram que adose diária inicial de heparina não fracionada deve serde 35000UI, com aumento esperado da dosenecessária no terceiro trimestre (em função doaumento de proteínas que se ligam à heparina);afirmam também que a monitorização daanticoagulação por parâmetros laboratoriais deveriaser realizada duas vezes por semana9. Assim comoocorre em relação à heparina de baixo peso molecular,

o erro de dosagem é apontado como uma provávelcausa para resultados insatisfatórios com a droga noque concerne à sua eficácia. Apesar disso, é precisoressaltar a inexistência de consenso quanto à dosagemmais adequada. Há controvérsia quanto à associaçãode ácido acetil salicílico em pacientes de maior risco,como as com história de embolismo sistêmico ou defibrilação atrial1,3,5.

Heparina de baixo peso molecular ouheparinóides poderiam ser alternativas segundo algunsautores4, deveriam ser usados ao invés da heparinaconvencional (pelo maior conforto que permitem àgestante) segundo outros7, mas não seriam indicadospor terceiros em função da falta de evidências quantoà sua efetividade em pacientes com próteses valvaresmetálicas9. Tanto a heparina convencional quanto ade baixo peso molecular devem ser descontinuadas12 horas antes da indução do parto e reiniciadas apóso parto; a warfarina seria usada, então,concomitantemente por 4 ou 5 dias3,9,10,11.

Em outra abordagem, a warfarina poderia serusada, provavelmente sem implicar aumento de riscosao embrião, até a sexta semana de gravidez e após adécima segunda semana; seria retirada próximo dotermo a fim de evitar o nascimento de fetoanticoagulado. Entre a sexta e a décima segundasemanas, haveria risco de embriopatia associada aouso de warfarina, utilizando-se, por isso, uma dasheparinas; é importante ressaltar que o risco demalformações do sistema nervoso central relacionadoao uso da warfarina não pode ser afastado durantenenhum período da gestação1,2,3,4. Segundo os autoresque advogam tal prática, portanto, seria contestável amaneira como evoluiu a paciente em questão, umavez que, entre a sexta e a décima segunda semanasgestacionais, fazia uso de um anticoagulante oral. Pormotivos de praticidade e de segurança no queconcerne à exata idade gestacional, talvez seja maisinteressante, tendo em mente este modo de abordagemdo problema, usar heparina até a décima terceirasemana de gravidez, instituindo warfarina então e atéo meio do terceiro trimestre, quando se retornaria àprofilaxia com a primeira droga. Em conformidadecom tal indicação, os anticoagulantes orais são usadospor cardiologistas europeus na profilaxia detromboembolismo em gestantes com prótesesmetálicas2,3,7,9.

Uma última conduta, indicada por alguns, seriaa utilização de warfarina desde o início da gestaçãoaté próximo da trigésima oitava semana de gravidez,sendo a indução do parto programada para perto daquadragésima semana9. Não por escolha dos médicosque acompanharam o caso que motivou este artigo,mas pela idade gestacional já um tanto avançada em

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que a paciente realizou a primeira consulta pré-natal,esta foi a abordagem que se tentou seguir, exceto pelouso inicial e inadvertido de femprocumona. A pré-eclampsia severa, somada, ainda, à apresentaçãopélvica, conduziu à interrupção precoce da gestaçãoatravés de cesariana antes que fosse possível substituira warfarina pela heparina.

Finalmente, fugindo um pouco do escopo daanticoagulação, é importante ressaltar que,provavelmente, a profilaxia contra endocarditebacteriana devesse ter sido feita com ampicilina egentamicina, uma vez que a paciente com prótesevalvar é considerada de alto risco2.

Conclusão: fica claro que urgem novos estudoscom o intuito de trazer subsídios à decisão da melhorforma de anticoagulação na gravidez3. Atualmente,existem algumas opções terapêuticas, mas nenhumaé considerada ideal. Sob tal prisma, é fundamentalque o médico assistente oriente as pacientes em relaçãoà eventualidade de uma gravidez e de seus riscos, bemcomo ajude-as a programar a gestação quando odesejarem. Além disso, em alguns casos específicos,como no de pacientes com insuficiência cardíacaclasse funcional NYHA III ou IV portadoras defibrilação atrial e com cavidade atrial muito aumentada,talvez a conduta médica mais adequada seja orientar apaciente a não engravidar1. A paciente referida nopresente relato de caso teve manejo planejado, dentrodas circunstâncias em que se apresentou, conformeuma das possibilidades referendadas pela literaturavigente. Apesar disso, intercorrências exigiramcondutas de urgência que, embora não as delineadasa priori, puderam obter sucesso em salvar as vidasda gestante e do feto.

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Até recentemente, o manejo da hipertensão arterialpulmonar era geralmente inefetivo no alívio dos sintomas emelhora da sobrevida. Entretanto, a década passada testemunhouextraordinários avanços no entendimento de sua patogênese etratamento. Neste artigo, os autores apresentam uma revisãodos recentes progressos no diagnóstico e tratamento destapatologia e relatam um caso de hipertensão arterial pulmonarprimária e gestação.

UNITERMOS: hipertensão arterial pulmonar primária,gravidez

HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR PRIMÁRIA E GESTAÇÃO -

RELATO DE CASO

RESUMO

ABSTRACTPRIMARY ARTERIAL PULMONARY

HYPERTENSON AND PREGNANCY-CASE REPORT

Until recently, management of pulmonary arteri-al hypertension was generally ineffective in alleviatingsymptoms or improving survival. However, the pastdecade has witnessed remarkable advances in ourunderstanding of the pathogenesis and treatment. In thisarticle, the authors present a review of the recentdevelopments in the diagnosis and management of thispathology and relate one case of primary pulmonary ar-terial hypertension and pregnancy.

KEY WORDS: pr imary a r te r ia l pu lmonaryhypertension, pregnancy

Pedro Pimentel Filho*Alfeu Roberto Rombaldi **

Sérgio Moreira Espinosa ***Fabiano Rodrigo de Godoy Kissner ****

Leocádio Tesser ****Carolina Ávila Vianna ****Estefania Inêz Wittke ****

INTRODUÇÃO

A hipertensão arterial pulmonar primária(HAPP) ou idiopática é uma patologia caracterizadapela elevação sustentada da pressão arterial pulmonar(PAP) de etiologia indeterminada, assim consideradaapós ser excluída a presença de uma causademonstrável1,2. Quando associada à gestação,representa um risco importante para a gestante e parao concepto1,3,4,5,6,7,8,9,10. A deterioração clínica ou o óbitodurante a gravidez nem sempre pode ser previsto combase na condição clínica prévia à gestação1. Apesardos avanços no entendimento da fisiopatologia e nodesenvolvimento de novas terapias, a hipertensãoarterial pulmonar (HAP) continua sendo um desafiotanto no diagnóstico como no manejo.

RESULTADOS (Relato do Caso)

Paciente de 25 anos com 32 semanas degestação e história prévia de asma brônquica, iniciouhá 6 semanas da internação com dispnéia progressivaconcomitantemente à opressão torácica. Na admissãohospitalar, foi realizada gasometria arterial,evidenciando hipoxemia severa (PaO2=50,9mmHg).O ecocardiograma demonstrou hipertensão arterialpulmonar sistólica estimada em torno de 120mmHg-com forame oval patente e shunt mínimo, associada àdilatação cardíaca direita e do tronco arterial pulmonar.Foi realizada cintilografia pulmonar, que evidencioudéficit perfusional bilateral; instituiu-se anticoagulaçãoe oxigenioterapia. A paciente evoluiu inicialmente comhipoxemia de caráter flutuante e o ecocardiograma

* Médico Cardiologista do HNSC, Chefe do Serviço de Cardiologiado HNSC.**Médico Cardiologista do HNSC, Coordenador do Programa deResidência Médica em Cardiologia do HNSC, Cardiologista daMaternidade do HNSC.*** Médico Obstetra do HNSC, Chefe do Setor de Alto Risco eMedicina Fetal do Serviço de Obstetrícia do HNSC**** Médico Residente do Curso de Cardiologia do HNSC

Grupo Hospitalar ConceiçãoHospital Nossa Senhora da ConceiçãoServiço de Cardiologia e Obstetrícia

Correspondência:Av. Dona Adda Mascarenhas de Moraes, 577/502CEP 91220-140 - Porto Alegre - RSe-mail: [email protected]

RELATO DE CASOS

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transesofágico, de seguimento, demonstrou pressãoarterial pulmonar estimada em torno de 90mmHg.

Com 34 semanas de gestação, a paciente foisubmetida ao parto cesáreo. No 2º dia de puerpério,apresentou quadro de piora da hipoxemia, comPaO

2=30 mmHg na gasometria arterial, sem disfunção

respiratória significativa. Realizou-se arteriografiapulmonar e angiotomografia torácica de controle,evidenciando proeminência do tronco arterial pulmonare de seus ramos principais, cardiomegalia direita edistensão venosa. A paciente foi mantida anticoaguladae com oxigênio contínuo por máscara de Venturi.

Adicionou-se sildenafil à terapêutica, comsimultânea monitorização invasiva da PAP (Swan-Ganz), obtendo-se medida elevada da PAP média. Ocontrole ecocardiográfico mostrou uma quedaestimada na PAP entre 25mmHg a 30mmHg. A pacientepermaneceu internada, recebendo sildenafil 100mg VO8/8h e anticoagulante oral, com evolução clínicafavorável. O esquema medicamentoso final edomiciliar constituiu-se de anticoagulante oral ebloqueador dos canais de cálcio.

DISCUSSÃO

A hipertensão arterial pulmonar primária(idiopática) é uma patologia cardiovascular que, quandoassociada à gestação, apresenta uma elevada taxa demortalidade materna (entre 30% e 40%), o que setraduz na doença de maior risco para a gestante1,3.Também está relacionada à perda fetal (mais de 40%),prematuridade e retardo de crescimento intra-uterino1,6,7,9.

A HAPP limita ou exclui as respostas adaptativasem relação às mudanças circulatórias e às alteraçõesdinâmicas que ocorrem durante o trabalho de parto,parto e período pós-parto7,8. Tal condição écaracterizada pelo registro de pressão arterial pulmonarsistólica acima de 25mmHg (em repouso) e PAP médiaacima de 20mmHg, com uma pressão capilar pulmonarde encunhamento média e uma pressão diastólica finalventricular esquerda abaixo de 15mmHg 2,5.

A deterioração sintomática geralmente ocorreno 2º trimestre, manifestando-se por fadiga, dispnéiaprogressiva ao esforço e síncope (conseqüente àredução do débito ventricular esquerdo), dor torácica,palpitações, tosse, hemoptise e edema de membrosinferiores 1,3. Mulheres com síndrome de Eisenmengerpodem desenvolver hipoxemia severa e potencialmentefatal durante a gravidez ou período pós-parto8. A mortepode ocorrer logo após o parto, usualmente devido àmorte súbita ou, mais freqüentemente, à insuficiênciaventricular direita; a taxa de mortalidade é diretamenteproporcional à classe funcional NYHA (New York

Heart Association) 1.A gravidez deve ser evitada nestas pacientes

devido ao alto risco de efeitos potencialmentedeletérios, devendo ser recomendada a ligadura tubária.O uso de anticoncepcional oral contendo estrógeno,deve ser contra-indicado, pois pode estar implicadocomo fator etiológico da HAP. A interrupção precoceda gravidez tem sido indicada em pacientes comHAPP, mas se a paciente decidir manter a gestação, aatividade física deve ser restringida para reduzir acarga circulatória 4,6,9.

A maioria das pacientes pode tolerar o partovaginal, e o trabalho de parto espontâneo é preferívelao induzido. Devido à elevada taxa de mortalidadematerna no pós-parto imediato, é indicada amonitoração cuidadosa durante vários dias dopuerpério inicial1.

A estratégia diagnóstica deve inicialmentebasear-se na história e exame clínico da paciente, e ainvestigação deve iniciar com testes de baixo risco epouco invasivos. O eletrocardiograma podedemonstrar hipertrofia de ventrículo direito, desviode eixo para direita e aumento atrial direito. Os sinaisde HAP na radiografia de tórax incluem aumento dohilo e tronco da artéria pulmonar com atenuação davasculatura pulmonar periférica; aumento do átriodireito. O ecocardiograma apresenta boa correlaçãona estimativa da pressão na artéria pulmonar secomparado com as medidas obtidas diretamente pelocateterismo direito. Demonstra também, as funçõessistólica e diastólica do ventrículo esquerdo, alteraçõesvalvulares e defeitos cardíacos. O tromboembolismopulmonar é potencialmente curável e deve serinvestigado através de cintilografia de ventilação eperfusão e/ou angiografia pulmonar (padrão ouro),sempre considerando a relação risco/benefíciomaterno-fetal. A tomografia de tórax pode sugerir umfator etiológico para a HAP, como doença obstrutivasevera das vias aéreas ou do parênquima15.

Como medidas gerais, recomenda-se o usocontínuo de meias elásticas, devendo-se evitar odecúbito supino com a finalidade de manter o retornovenoso, o débito ventricular direito e o fluxopulmonar3,4. A raquianestesia é contra-indicada e osbloqueadores regionais merecem cuidado especialdevido à sua ação hipotensora 3,11. A perda sangüíneaé mal tolerada e a reposição volêmica deve ser imediata.Deve ser realizada a monitoração hemodinâmica egasométrica contínua durante o trabalho de parto eparto, conjuntamente com a administração de oxigêniodurante o parto com a finalidade de reduzir aresistência vascular pulmonar 1.

Quanto ao tratamento medicamentoso, aanticoagulação é recomendada durante toda a gestação

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ou, no mínimo, durante o 3º trimestre e puerpérioinicial. A heparina não-fracionada (HNF) deve seriniciada e ajustada para prolongar o TTPA em 1,5 a2,5 vezes o controle, a qual deve ser suspensa antesdo parto; pode ser usado sulfato de protamina, senecessário, para antagonizar o seu efeito anticoagulante4,12. Há dados limitados sobre o uso da heparina debaixo peso molecular (HBPM) no período periparto,havendo referência a um aumento na incidência dehematoma epidural associado à sua administraçãopróxima ao momento da inserção do cateter. Dessaforma, a HBPM deve ser substituída pela HNF emtorno de duas semanas antes da data provável doparto4,11.

A anticoagulação à longo prazo deve serreiniciada no pós-parto, independentemente do regimea ser empregado. A heparina pode ser recomeçada 12horas após a cesárea e 6 horas após o parto vaginal,se não houve sangramento excessivo. A heparina écontinuada ou substituída pela warfarina pelo períodomínimo de quatro a seis semanas após o parto 4,12.

Deve ser prescrito ácido acetil salicílico durantea gestação, pois há um risco elevado de trombose 3. Érelatado o uso bem sucedido de antagonistas de cálciona HAP na gestação, os quais reduzem em até 30% aresistência pulmonar das pacientes. Mais recentementeestá sendo descrito na literatura o emprego de sildenafil,óxido nítrico e prostanóides com resultadospositivos13,14,15,16. O sildenafil inibe temporariamente ahipoxia induzida pela HAP13,14; há referência sobre ouso crônico da medicação e melhora funcional ehemodinâmica das pacientes 16. Quando administradoconjuntamente com óxido nítrico aumenta e prolongao seu efeito. Num estudo recente, 70% dos pacientesque receberam iloprost por via inalatória apresentaramredução significativa da resistência vascular pulmonar(queda de = 20%), enquanto 40% dos que receberamsildenafil associado a óxido nítrico responderam damesma forma14.

CONCLUSÃO

A HAPP é uma das poucas condiçõescardiovasculares em que a gravidez se encontraassociada com uma alta taxa de mortalidade materna.Além do risco materno, também está associada a ummau prognóstico fetal, devendo ser evitada. Dianteda evolução do caso apresentado, podemos afirmarque gestante portadora de HAPP pode sofrer umaimportante descompensação hemodinâmica erespiratória, e, apesar dos avanços no manejodiagnóstico e terapêutico, a HAP continua sendo umimportante desafio clínico, necessitando de diagnósticoprecoce e atendimento multidisciplinar.

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UNIMED

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Enquanto a proporção de nascimentos entre mulherescom mais de 35 anos tem aumentado, há também maiorprevalência de fatores de risco cardiovasculares e complicaçõesda gravidez com o aumento da idade materna. Apresentamosdois casos de infarto agudo do miocárdio que ocorreram durantea gestação. Ambas as mulheres tinham mais de 40 anos de idadee fatores de risco significativos para doença coronariana.Aspectos epidemiológicos, fisiopatológicos, clínicos eterapêuticos foram abordados.

UNITERMOS: gravidez, infarto agudo do miocárdio.

INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIODURANTE GESTAÇÃO -

RELATO DE CASO

RESUMO

ABSTRACTACUTE MYOCARDIAL INFARCTION DURING

PREGNANCY-CASE REPORT

While the proportion of births in women over 35years old has been increasing, there is also increasedpreva lence o f ca rd iovascu la r r i sk f ac to r s andcomplications of pregnancy with increasing maternal age.We present two cases of acute myocardial infarctionoccurring during pregnancy. The mothers were both over40 years old, and had significant risk factors for coronarydisease. The epidemiologic, physiopathologic, clinic etherapeutics aspects were reviewed.

KEY WORDS: pregnancy, acute myocardialinfarction.

Pedro Pimentel Filho* Alfeu Roberto Rombaldi **

Sérgio M. Espinosa ***Carolina Ávila Vianna ****

Fabiano Rodrigo de Godoy Kissner ****Leocádio Tesser ****

Estefania Inez Wittke ****Anderson Dal Pozzo ****

Leonardo Fábio Carelli ****Leonardo Augusto Espíndola ****

INTRODUÇÃO

O infarto agudo do miocárdio (IAM) nagestação permanece um evento raro, estimando-se suaincidência em 1-10/100.000 gestações, no entanto,com significativa morbidade e mortalidade materna,fetal e neonatal. Análises multivariadas identificaramhipertensão crônica, diabetes, idade materna avançada,eclâmpsia e pré-eclâpmsia como fatores de riscoindependentes para ocorrência desta patologia. Odiagnóstico geralmente é retardado devido àsalterações fisiológicas da gestação, que contribuempara um baixo nível de suspeita. A conduta diagnósticae terapêutica deve ser individualizada, requerendo umatendimento multidisciplinar.

O objetivo deste trabalho é apresentar doiscasos de IAM na gestação atendidos em nosso serviçoe realizar uma revisão bibliográfica sobre o assunto.

RESULTADOS (Relato dos casos)

Caso 1: Paciente S.G.M.M. , 44 anos, tabagista,GIVPIII, internou no HNSC em agosto de 2004 com25 semanas de gestação, apresentando quadro dedispnéia, fadiga, palpitações e dor précordial, sendorealizado diagnóstico de IAM em parede inferior. Foisubmetida ao cateterismo cardíaco, sendo evidenciadalesão severa (estenose de 60 %) em coronária direitae oclusão de artéria circunflexa. Realizou-seangioplastia primária com colocação de stent emcoronária direita, obtendo-se um bom resultadoangiográfico. Durante a gestação, ficou em uso de

* Médico cardiologista do HNSC, Chefe do Serviço de Cardiologiado HNSC.** Médico cardiologista do HNSC, Coordenador do Programa deResidência Médica em Cardiologia do HNSC, Cardiologista daMaternidade do HNSC.*** Médico Obstetra do HNSC, Chefe do Setor de Alto Risco eMedicina Fetal do Serviço de Obstetrícia do HNSC.**** Médico Residente em Cardiologia do HNSC.

Trabalho realizado no Serviço de Cardiologia e Obstetrícia - HNSCCorrespondência:Dr. Alfeu Roberto Rombaldi,Av. Dona Adda Mascarenhas de Moraes, 577/502 .CEP 91220-140 - Porto Alegre - RSe-mail: [email protected]

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AAS e metoprolol, com boa resposta clínica.Reinternou com idade gestacional de 37 semanas eteve parto vaginal em 08/11/04, sem intercorrências.

Caso 2: Paciente E.M.F.T., 41 anos, obesa,asmática, GIIPI, 27 semanas de gestação, internou16/07/04 por quadro de pneumonia comunitária,evoluiu para insuficiência respiratória e choqueséptico, necessitando de ventilação mecânica.Apresentou dissecção de coronária direita, sendosubmetida à angioplastia com implante de três stents,resultando em fluxo TIMI II. Apresentava CPK-MB=536, CPK=2839 e Troponina T=8,70; ECG comritmo sinusal, zona eletricamente inativa inferior ealterações primárias da repolarização ventricular.Ecocardiograma com fração de ejeção de 46%,sobrecarga de cavidades direitas, hipertensão arterialpulmonar (pressão arterial pulmonar estimada em 52mmHg), refluxo valvar tricúspide moderado a severoe desempenho sistólico do ventrículo esquerdoreduzido. Ficou em uso de AAS e Clopidogrel. Agestação foi interrompida em 17/08 com 32 semanaspor oligodrâmnio severo e retardo do crescimentointrauterino, sem intercorrências. Recebeu altaclinicamente estável, permanecendo emacompanhamento ambulatorial.

DISCUSSÃO

O IAM é um evento raro na idade reprodutivacom incidência estimada em 1:10.000 mulheres durantea gestação e 1:30.000 partos¹. Os principais fatoresde risco da doença arterial coronariana na gravidezsão hipertensão arterial crônica, doença hipertensivaespecífica da gravidez, tabagismo, diabetes mellitus,uso de anticoncepcionais, dislipidemia, história familiarde cardiopatia, hiper-homocisteinemia, anticoagulantelúpico e fibrinogênio elevado2,3,4. Há maior incidênciade infarto em multíparas e em mulheres acima de 33anos e no terceiro trimestre2,5. A parede anterior doventrículo esquerdo caracteriza-se como a localizaçãomais freqüente3,6. A mortalidade materna por IAM nagestação varia de 21 a 35% e a fetal é estimada em19%².

A doença aterosclerótica é, de modo geral, acausa primária do IAM, contudo, durante a gravidezesta patologia está freqüentemente associada àangiografia normal das coronárias e tem sido sugeridoque sua patogênese está relacionada à diminuição daperfusão coronariana causada pelo vasoespasmo outrombo in situ. As possíveis explicações para eventoscoronarianos são espasmo arterial, ação trombogênicade contraceptivo oral, indução por agentes com ß-agonistas (terbutalina, salbutamol) que são usados para

inibir o trabalho de parto prematuro, derivados doergot na indução do parto ou prevenção de hemorragiapós-parto e a bromocriptina, que é indicada para inibira lactação2,5,7.

A dissecção coronariana envolve a artériadescendente anterior esquerda em aproximadamente80% dos casos e a artéria coronária direita na maioriados demais casos3. É explicada por prováveisalterações histológicas e bioquímicas na parede arterial,mediadas por alteração hormonal. Outras etiologiasconsideradas são: colagenose com comprometimentovascular, doença de Kawasaki, uso de cocaína,estenose valvar aórtica, trombose de prótese valvaraórtica, feocromocitoma, síndrome antifosfolipídios,estenose mitral, endocardite bacteriana, anomaliacongênita de coronária.2,5

Deve ser observado que o diagnóstico deisquemia do miocárdio e infarto tem sido demoradodurante a gravidez devido ao baixo nível de suspeita3,5.A maioria dos óbitos ocorre no momento do infartoou até duas semanas após, geralmente associados como trabalho de parto e parto7. O diagnósticoeletrocardiográfico pode ser duvidoso porquealterações que mimetizam isquemia miocárdica podemser encontradas em 37% de grávidas submetidas aparto cesáreo eletivo e sem doença cardíaca; tais comoinversão de onda T, onda Q na derivação III e aumentona relação R/S na derivação V2, que comumente sãoobservadas na gravidez normal4,7. Os marcadoresbioquímicos clássicos de lesão miocárdica não sãoespecíficos e podem estar alterados por anemia (DHL),complicações gestacionais como síndrome HELLP(TGO,TGP, DHL), ou pelo parto, tanto vaginal comocirúrgico (CPK-T, CPK-MB, CPK-massa,mioglobina). A troponina I é o marcador de escolhapara detecção de lesão cardíaca na grávidaprincipalmente nos períodos periparto e puerperal, poisnão se eleva com no parto vaginal ou cesáreo nemcom a anestesia ou lesão tecidual desencadeada pelascontrações uterinas, trabalho de parto e parto 3,7,8.

O ecocardiograma é seguro na gravidez e auxiliaa identificar a presença de isquemia quando asalterações de motilidade da parede ventricularapresentam relação com as alteraçõeseletrocardiográficas5,7. Cintilografia de perfusãomiocárdica e ventriculografia por radionuclídeosexpõem o feto à radiação e devem ser usados apenasquando o benefício potencial pareça superar o riscofetal. Da mesma forma, o cateterismo cardíacoenvolvendo fluoroscopia e cineangiografia deve serutilizado apenas quando a informação relevante nãopuder ser obtida por outros métodos não invasivos³.Com a proteção abdominal adequada, redução dotempo de exame e utilizando o braço direito como via

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de acesso, têm sido realizadas angiografias coronáriasem grávidas dosando a quantidade de radiação quepassa pela pele da gestante e calculando a doseabsorvida pelo feto7. A ressonância magnética, pornão produzir radiação ionizante e sem uso de contraste,é o método ideal para diagnóstico diferencial de IAMcom dissecção de aorta ou de massas mediastinais,quando a ultrassonografia não for esclarecedora7.

A gestante deve ser mantida em unidade deterapia intensiva e em acompanhamento porcardiologista, obstetra e anestesista5,6,9. Além domonitoramento materno, deve ser feito monitoramentofetal e, em caso de deterioração do estado materno ouparada cardíaca irreversível, oferecer condições derealizar parto cesáreo de emergência ou pós-morte7.A interrupção da gravidez pode ser necessária empacientes com isquemia miocárdica intratável ouinsuficiência cardíaca na fase inicial da gestação.

Após o IAM, a conduta com relação à pacientedeve ser individualizada. Foi demonstrada maiormortalidade da cesárea (23%) em relação ao partonormal (15%). A mortalidade conceptual está emrelação direta com a mortalidade materna, sendo amaioria dos óbitos fetais secundária aos maternos.Em relação à conduta terapêutica, existem relatos deangioplastia coronária, cirurgia cardíaca pararevascularização miocárdica e mesmo uso defibrinolíticos, apesar da contra-indicação relativa parao uso destes agentes na gestação5.

A estreptoquinase não atravessa a placenta,apenas seus anticorpos podem causar danos ao feto2,5.A principal complicação materno-fetal do seu uso nagravidez refere-se à hemorragia retroplacentária e aoparto prematuro 2. Alternativa para o tratamento degestantes com coronariopatia é o uso de angioplastiacoronária, que evita a administração de drogas à mãe,mas que expõe o feto à pequena dose de radiação10.

A analgesia com administração de morfina estáindicada tanto para alívio da dor quanto da ansiedade.Não é teratogênica, mas como atravessa a placenta,pode causar depressão respiratória no neonato quandousada imediatamente antes do parto5,7. O uso de ácidoacetilsalicílico (AAS) na gravidez na dose de até 100mg não tem efeitos adversos na gestação. Narecomendação obstétrica, o AAS deve serinterrompido cinco dias antes do parto para evitarsangramento importante². Em relação ao clopidogrel,estudos em animais não evidenciaram fetotoxicidade,estando descritos alguns casos de gestantes com IAMou trombocitose em que seu uso não causoucomplicações7.

A heparina não atravessa a barreira placentária,sendo, por isso, o agente de escolha na gravidez5.Entretanto, o seu uso prolongado (superior a seis

meses) pode provocar efeitos adversos maternos,como osteoporose, alopécia, hemorragia materna,hematomas, além de dificuldades da aplicação e doseu controle². A enoxaparina é a heparina de baixopeso molecular mais estudada na gestação, deve sersuspensa 24h antes do parto para diminuir o risco decomplicações hemorrágicas maternas, podendo serreiniciada 12 a 24 horas após5,7.

Não há contra-indicação obstétrica para o usode nitratos, bloqueadores dos canais de cálcio e mesmobeta-bloqueadores. O único cuidado deve ser emrelação à hipotensão relacionada ao uso de nifedipinae nitroglicerina. Os betabloqueadores não-seletivospodem facilitar o aumento da atividade uterina, o usode agentes ß

1 seletivos é preferível5. Os efeitos

adversos obstétricos e no feto dos inibidores da enzimade conversão da angiotensina incluem oligoâmnio,falência renal fetal, hipotensão neonatal, persistênciado canal arterial, complicações respiratórias e efeitosteratogênicos, além de morte fetal neonatal. Portanto,esses agentes estão formalmente contra-indicadosdurante a gestação e em mulheres que planejamengravidar².

A estratificação de risco após o IAM na gravidezdeve ser feita por métodos não invasivos. O colesteroltotal, colesterol da lipoproteína de baixa densidade eos níveis de triglicerídeos estão aumentados nagravidez³. É fundamental que a assistência à gestanteportadora de doença coronariana seja multidisciplinar,com assistência cardiológica adequada durante o ciclogravídico puerperal. A prevenção e o diagnósticoprecoce, assim como a adoção de condutas pertinentesem relação às intercorrências obstétricas e clínicas,são fundamentais na assistência pré-natal da gestantecardíaca.

CONCLUSÃO

Em resumo, os estudos mostram que o IAMna gestação, embora raro, é importante fatorcomplicador durante a gestação, podendo ocorrer pordiferentes mecanismos que devem ser consideradosna suspeita diagnóstica. Os sintomas sugestivosdevem ser sempre valorizados, pois diagnósticosprecoces associados a condutas adequadas podemmudar o prognóstico, melhorando as taxas demorbimortalidade tanto materna quanto fetal.

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RELATO DE CASOS

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Metástases à distância de tumores colorretais é umevento muito comum, sendo o fígado o local mais acometido. Éextremamente rara a incidência de metástases musculares. Opresente artigo relata o caso de um paciente com neoplasiamaligna de reto submetido a retossigmoidectomia abdomino-perineal e que evoluiu com metástase em músculo ílio-psoas.O artigo também se propõe a fazer uma breve discussão sobreos métodos diagnósticos disponíveis até o momento e suaconduta.

UNITERMOS: metástases colorretais; metástases emíliopsoas; metástases musculares

METÁSTASE DE ADENOCARCINOMADE CÓLON EM PSOAS

RELATO DE CASO

RESUMO

ABSTRACTMETASTASIS FROM COLORECTAL TUMORS

IN ILIOPSOAS - CASE REPORT

Distant metastasis from colorectal tumors are avery commom event, being the liver the most affectedsite. The incidence of muscle metastasis is extremelyrare. This article describes a case of a patient with malignrectal neoplasia who underwent an abdominoperinealrec tos igmoidectomy and, months la te r , i l iopsoasmetastasis was diagnosed. This article also makes a briefdiscussion about the diagnostic methods availablenowadays and the conduct adopted.

KEY WORDS: Colorectal metastasis; iliopsoasmetastasis; muscular metastasis

Luiz Felipe Lopes Araujo *Hamilton Hilgert **

INTRODUÇÃO

Metástases à distância de tumores colorretaisé um evento muito comum. Tumores comestadiamento Dukes C1 apresentam incidência deaproximadamente 21% em 5 anos. O local maiscomumente afetado é o fígado em conseqüência dacirculação entero-hepática. Com as melhorias nastécnicas diagnósticas e terapêuticas, e com os avançosnos estudos de protocolos de seguimento pós-operatório, as indicações cirúrgicas para tumormetastático colorretal estão se tornando cada vez maisamplas e ousadas. Metástases em músculo psoas, porsua vez, são eventos extremamente raros, havendopoucos relatos na literatura mundial.

O objetivo deste artigo é relatar um caso deadenocarcinoma colorretal com recidiva em músculopsoas e realizar uma breve discussão sobre o tema.

RELATO DE CASO

Paciente masculino, de 46 anos, hígido,comparece ao nosso Serviço de Cirurgia Geral poremagrecimento e alteração do hábito intestinal.Submetido a investigação, foi evidenciadoadenocarcinoma de reto a 3,0 cm da margem anal,com 13 cm de extensão, ocupando dois terços da luzintestinal. Foi submetido a retossigmoidectomiaabdomino-perineal em janeiro de 2004 (cirurgia deMiles). A análise histopatológica identificouadenocarcinoma moderadamente diferenciado de reto,ulcero-vegetante, com invasão de tecido adiposo peri-retal e metástase em 1 de 11 linfonodos, sem evidência

* Médico Residente em Cirurgia Geral do Hospital Nossa Senhorada Conceição de Porto Alegre** Cirurgião Geral; Preceptor de residência em Cirurgia Geral doHospital Nossa Senhora da Conceição de Porto Alegre

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIALuiz Felipe Lopes AraujoRua Adão Baino, 701/422 - Cristo RedentorCEP 91350-240Porto [email protected]

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de metástases em 45 linfonodos mesocólicosestudados (T3N1M0). O paciente evoluiu bem,recebendo alta no 14º. PO, sem queixas, sendoplanejado radioterapia adjuvante. O antígenocarcinoembriogênico (CEA) dosado no pré-operatóriaera de 1,95 ng/ml.

Três meses após a cirurgia, o paciente retornoupara realizar o seguimento negando quaisquer sintomase relatando que vivia normalmente, e nada relevantefora encontrado no exame físico. CEA dosado nestaconsulta foi de 0,43 ng/ml. Seis meses após a cirurgia,nova consulta, onde o paciente persistia sem queixase com exame físico normal. Tomografiacomputadorizada de abdômen de controle evidenciousomente imagens compatíveis com alteraçõesdecorrentes da radioterapia em andar inferior doabdômen, posteriormente à bexiga e à próstata (fig.1).

lesões compatíveis com metástases. O resultado doexame anátomo-patológico desta lesão foi deadenocarcinoma em músculo esquelético. Pacienteevoluiu com infecção de FO e urinária por Proteus,sendo aquela explorada e esta tratada com antibiótico,obtendo-se boa resposta de ambas. O paciente recebeualta no 13º. PO sem queixas.

DISCUSSÃO

A ocorrência de tumores metastáticosmusculares é rara, com estimativas de 3 casos porcada 10.000 casos oncológicos, e achados em sériesde necropsias de 16%1 a até 24%2. Os principaisregistros disponíveis até o momento envolvem maiscomumente tumores do trato genito-urinário3 eginecológicos4 como sítios primários. Há tambémrelatos de metástases devidos a tumores primários depâncreas, pulmão5, mama e apêndice cecal. O fato éque qualquer neoplasia possui potencial metastáticomuscular, sendo a musculatura paravertebral e omúsculo psoas os locais mais comuns1. Atribui-se aimplantes locais a principal fonte de metástases, sendoas formas hematogênicas e linfáticas mais raras ainda6.É necessário alto grau de suspeita clínica para odiagnóstico.

Dor na região lombar ou no quadril é a principalqueixa. Podem ocorrer sintomas neurológicos comoparestesias ou paresias, ou mesmo quadrossemelhantes a radiculopatias, com sinal de Lasèguepositivo1. Também é possível que ocorra quadrossugestivos de processos inflamatórios, com ametástase se manifestando como abscesso de psoas7,8.

Exames de imagem são os meios maisempregados para o diagnóstico. Ainda se discute qualo melhor método (tomografia computadorizada ouressonância magnética) e quais características seriammais específicas para diferenciar de outras situaçõesque mimetizam a metástase, como tumoresretroperitoniais primários9, hematomas e abscessosintra-cavitários1. Todavia, o padrão-ouro é histológico.

Wei Tse Yang et cols. afirma que a tomografiacomputadorizada não se mostra nem específica nemsensível para a diferenciação de metástases de psoasde abscesso ou hematomas. Comprometimento ósseo(espondilite) pode ser identificado ocasionalmente. Hárelatos de calcificações tendo como sítio primáriotumores de células transicionais10, 11. Presença de gásocorre em 50% dos abscessos e sugere infecção, nãosendo comum em tumores e hematomas. Os achadosmais freqüentes são diferenças de densidade ousimetria. Impregnação por contraste pode aumentar asensibilidade do exame, mas não altera a especificidade,pois mais da metade dos abscessos e processos

Figura 1: tomografia computadorizada mostrando a lesãometastática e suas dimensões.

Doze meses após a cirurgia, nova tomografiacomputadorizada de abdômen evidenciou imagemnodular com densidade de partes moles e impregnaçãoheterogênea, medindo cerca de 5,0 x 4,6 x 4,4 cm,situada junto ao músculo psoas esquerdo, sugestivade implante secundário. Aventou-se a hipótese debiopsiar a lesão por punção guiada por tomografia,mas a localização tornava o procedimento inviável. OCEA dosado neste período era de 4,53 ng/ml, elevadoem relação ao CEA anterior, mas na faixa danormalidade laboratorial. Dada a singularidade dasituação e os níveis de CEA normais, optou-se porconduta expectante, com dosagem seriada de CEA.

Em abril de 2005, nova dosagem de CEAevidenciou importante aumento do nível sérico(18,60ng/ml), sendo indicada nova cirurgia. Pacientefoi, então, submetido à laparotomia exploradora, sendoidentificada e ressecada a lesão junto ao psoasesquerdo. Revisão da cavidade não evidenciou outras

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inflamatórios também apresentam impregnação.A ressonância magnética também é um artifício

importante na investigação. Metástases em psoasdemonstram baixa intensidade em T1 e alta intensidadeem T2 à ressonância magnética. Outrascaracterísticas incluem aumento de volume do psoas,textura reticulada e edema peritumoral. Isto podediferenciar de hematomas, que demonstram padrõesde intensidade inversos aos de metástases em T1 eT2, mas não diferencia de abscessos que apresentamo mesmo padrão10. No entanto, tomografiacomputadorizada tem se mostrado comparável àressonância magnética no diagnóstico dessas lesões,apresentando a vantagem de poder guiar uma punçãopara análise histopatológica12.

Pons Serra et cols. lembram que aeletromiografia pode ser útil no diagnóstico, já que adenervação segmentar da musculatura sugereprocesso infiltrativo neste nível. No entanto, os autoresnão acreditam que este exame seja aplicável nestasituação, pois há exames mais difundidos e objetivosno sentido de direcionar a investigação, como atomografia computadorizada e até mesmo a ecografia7.

O presente artigo relata um caso de metástasecolorretal de psoas em um paciente que nãoapresentava sintomatologia alguma, não havendo emnenhum momento suspeita clínica de recidiva tumoralou sequer de processo inflamatório ou hemorrágico.O estímulo para a investigação originou-se de umachado tomográfico de rotina em nosso Serviço, maso determinante foi mesmo a dosagem elevada doantígeno carcinoembriogênico (CEA). A dosagem doCEA é reconhecidamente um método extremamenteútil no seguimento de pacientes com tumorescolorretais já operados. Há na literatura pertinentevárias evidências da sua utilidade. Em nosso Serviço,é consenso que quando houver um paciente operadopreviamente por neoplasia colorretal apresentando CEAaumentado, este paciente deve ser investigado comtodos os recursos disponíveis até o momento, poiscertamente este paciente apresenta recidiva tumoral etem grandes chances de se beneficiar de mais umprocedimento cirúrgico.

Conclui-se que metástase de neoplasiacolorretal em músculo psoas é um eventoextremamente raro que pode ser diagnosticado commétodos de investigação simples baseados somenteem tomografia computadorizada e dosagem de CEAaliado a um alto grau de suspeita clínica

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APLAUSOS A UM ESQUECIDO....!

Zinid R. B. Diniz

Senhor Editor,O tempo passa, tudo se transforma, se modifica, porem as lembranças são eternas e construtitvas.

Uma característica marcante do GHC é a absoluta falta de espaço para se olhar para trás e perceber,avaliar o caminho já percorrido. Isso ocorre por múltiplas razões. Solicito, por isso mesmo, uma pausa, um"refresh" dos leitores para realizar uma reflexão a respeito de algo que passo a passo, vai tomando formae jeito na instituição, o Prontuário Eletrônico. Essa história não teve início há alguns meses atrás não. Tudocomeçou há 32 anos, em 1973. Nesse ano, um clínico convidado pelo diretor do GHC, Jair Boeira deAlmeida, iniciou uma mudança de hábitos e costumes na instituição. Essa é uma história que a novageração médica deve conhecer, meditar em seu mérito, sua utilidade, suas dificuldades e idiossincrasias.

É também uma rara e preciosa oportunidade de a instituição narrar a trajetória deste clinicoextraordinário chamado Isaac Levin, falecido em 1976 no auge de sua criatividade como clinico e comopreceptor de residência médica. Aqueles que com ele conviveram sabem da dimensão e da importância desua atuação nas estruturas do GHC. De forma simbólica podemos afirmar a "grosso modo" que antes dele,a clinica médica restringia-se a administração de soro glicosado, novalgina, buscopam e ponto final. Suavisão de treinamento e preparo do médico residente, passados mais de trinta anos, ainda repercute. Ocerne de sua atuação se baseava justamente na metodologia de Lawrence A. Weed, onde o registro eacompanhamento do processo médico, determinavam todo o treinamento do médico residente. A partirdo prontuário medico fluíam os rounds(de prontuário e os rounds clínicos mais elaborados), as pesquisasem grupo onde o caso era dissecado em pequenos grupos e sintetizado em grande grupo, ocorriam demaneira corrente e era continua a busca de informações clínicas em bibliografia atualizada anualmente. Emsuma, a sua máxima era "por telefone, alcoolizados ou não, vocês(médicos residentes) devem solucionaros problemas e tratar um paciente com margem de acerto acima de 80% em qualquer situação clínica".Também é de sua iniciativa as implementações de ordem terapêutica como infusão continua de insulina,aminofilina, carros de PCR nos andares, e o treinamento de todos os doutorandos e médicos residentes.Deu um grande impulso a CTI do Hospital com a criação de rotinas inovadoras, ventilação mecânica,PEEP e muito mais...

Senhor editor, vou resgatar alguns fragmentos do pensamento desse mestre magistral."Não a maneira de fugir ao fato de que a coleta de dados requer habilidade e prática. É como tocar

piano... para ser um musico extraordinário é necessário sentar-se ao piano e praticar, praticar e praticar"."No futuro a coleta de dados poderá não ser feita somente por médicos"."É fácil identificar uma lista de problemas superficial, a marca de uma lista de problemas artificial é

a simples relação de alguns sistemas, dados de exame físico e exames de laboratório. Tal lista indica que oindividuo que a preparou, não se conscientizou, não aprendeu a disciplina em sintetizar os dados, em finssignificativos para o paciente".

"O processo de pensamento altamente disciplinado na geração de uma lista de problemas, é alcançadoapós muito treinamento, prática e revisão, até alcançar um nível de rotina diária onde com um mínimoesforço, se defina uma lista de problemas altamente eficaz, como se espera de alguém ao calçar seussapatos".

"A propósito, a habilidade em interpretar e manipular dados clínicos de maneira lógica, é o principalobjetivo de um sistema educacional".

Fica claro que eu não tenho condições de criar uma biografia completa, tal a riqueza de dados, de

MOMENTOS EM MEDICINA

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fatos e eventos que envolveram Isaac Levin e esta instituição. Mas fica o convite e o desafio àqueles quepodem acrescentar mais dados e informações a respeito, que procurem a GEP, e dêem sua contribuição,pois será benéfica para todos nós, e merecida a esse grande médico que por aqui passou.

Retornando ao prontuário eletrônico, este é uma expressão atualizada com enormes vantagenssobre o sistema proposto há três décadas atrás, onde tudo era excessivamente manual, e o volume defolhas no manuseio era grande fator de rejeição ao sistema. E, o principal, graças ao avanço no sistema decomunicação, todas as informações do paciente, estão ao alcance de todos a um toque do mouse na telado computador, em qualquer ambiente de atendimento médico do GHC.

MOMENTOS EM MEDICINA

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Revista Técnico-Científica do Grupo Hospitalar Conceição - ISSN 0102-9398 CARTA AO EDITOR

ATENÇÃO À SAÚDE DO TRABALHADOR NO GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO

Mônica Villela Pereira *Elza Maria Vernet de Borba **

Senhor Editor:

Apresentamos, a seguir a Política de Saúde do Trabalhador do Grupo Hospitalar Conceição, mostrandosua trajetória desde a criação do serviço para atendimento dos funcionários em 1986, até a sua reestruturação,buscando a integralidade da atenção, através da prevenção, da vigilância e da assistência à saúde.

Agradecemos a oportunidade de divulgar, através da revista Momento & Perspectiva em Saúde do GHC,o trabalho realizado pelo Centro de Resultados Saúde do Trabalhador do Grupo Hospitalar Conceição.

INTRODUÇÃO

Buscando a implementação de uma Política de Saúde do Trabalhador do Grupo Hospitalar Conceiçãoque atendesse às necessidades de saúde e segurança dos trabalhadores em consonância com os princípios ediretrizes que norteiam as ações e os serviços de saúde que constituem o Sistema Único de Saúde � SUS, oCentro de Resultados Saúde do Trabalhador/GHC vem reestruturando o seu projeto de atenção à saúde.

Essa reestruturação visa a desenvolver ações de promoção, proteção, recuperação e reabilitação dasaúde dos trabalhadores, submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho, propondo umanova organização do Serviço, a fim de superar as dificuldades e deficiências para realizar estas ações, na formacomo vinha sendo organizado anteriormente.

O intuito desse movimento de reestruturação é atingir um padrão de integralidade no que diz respeitoaos princípios articulados da prevenção, da vigilância e da assistência, de modo a proporcionar um serviço deatenção à saúde mais próximo da qualidade que entendemos como ideal.

HISTÓRICO

Em 1986, os funcionários do Hospital Conceição reivindicaram a criação de um serviço que cuidasseespecificamente da sua saúde, visto trabalharem em uma instituição de saúde, cuidarem da saúde dos pacientese necessitarem de quem cuidasse da sua. Em junho de 1986, a Comissão de Saúde dos Funcionários, comrepresentantes de diversos setores, levou a proposta à Direção Executiva do Hospital Conceição, que aprovou aidéia da criação da Unidade Profilática e Terapêutica de Saúde dos Funcionários do Hospital Conceição e doHospital da Criança Conceição, que iniciou suas atividades em agosto de 1986, voltada ao cuidado da saúdedestes funcionários1.

A proposta básica era a de oferecer um atendimento integral (bio-psico-social) a todos os funcionários

* Coordenadora do CR Saúde doTrabalhador/GHC - Médica ClínicaPós-graduação em Medicina do Trabalho** Assistente SocialEspecialização em Saúde e Trabalho

Endereço para CorrespondênciaMÔNICA VILLELA PEREIRACR Saúde do Trabalhador/GHCAv. Francisco Trein,596CEP: 91350-200 � Porto Alegre/[email protected]

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Revista Técnico-Científica do Grupo Hospitalar Conceição - ISSN 0102-9398 CARTA AO EDITOR

do Hospital Conceição e do Hospital da Criança Conceição, integrantes do Grupo Hospitalar Conceição, nosníveis primário e secundário, com ênfase em educação em saúde e prevenção de doenças, tanto em nívelindividual como coletivo, nos locais de trabalho, orientando sobre questões relacionadas à saúde2.

A Unidade era formada por equipe multidisciplinar, constituída por médicos clínicos, enfermeira,auxiliares de enfermagem, assistente social, psicólogos e dentistas, realizando reuniões sistemáticas com aAssociação de Funcionários e Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA), para discussão e planejamentodos trabalhos, além de discussões com a Medicina e Segurança do Trabalho, com a intenção de planejar açõesconjuntas em relação à saúde dos funcionários.

Em julho de 1988, a Diretoria do Grupo Hospitalar Conceição emitiu Portaria dispondo sobre a criaçãodo Serviço Integrado de Saúde Ocupacional, integrando a Unidade Profilática e Terapêutica de Saúde dosFuncionários e a Medicina e Segurança do Trabalho. A partir de então, a filosofia do Serviço foi sendo modificadaem relação aos seus parâmetros iniciais, sofrendo alterações a cada mudança nas Administrações do GrupoHospitalar Conceição, relacionadas às diretrizes e à composição da equipe.

Desde 2003, buscamos resgatar um modelo de atenção à saúde mais próximo daquele propostoinicialmente, contando com a participação dos trabalhadores e contemplando ações de educação em saúde dosentido da promoção, prevenção, recuperação e reabilitação, sempre considerando o contexto de trabalho noprocesso saúde-doença.

FUNDAMENTAÇÃO LEGAL

O instrumento de máxima eficácia jurídica é a Constituição Federal de 1988. Ao colocar a saúde comoum �direito de todos e dever do estado� (Art.196), a Constituição Federal/88 alterou a concepção de saúde dotrabalhador e ambiente do trabalho, colocando-os como parte do direito à saúde, tanto quanto os demais direitossociais, a ser garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco da doença e deoutros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação3.

Visando à realização efetiva de uma ação coordenada, integral, prioritariamente preventiva e participativa,criou o Sistema Único de Saúde (SUS), fixando no art. 200 as atribuições a ele inerentes, dentre elas a de�executar as ações de vigilância sanitária, epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador� e de �colaborarna proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho�3.

A Lei Orgânica da Saúde (Lei n.º 8.080/90), dispõe sobre a organização do Sistema Único de Saúde �SUS, definido como �conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais,estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público� (art. 4º).Insere a Saúde do Trabalhador como campo de atuação do SUS e no Art. 6º define o que se entende porvigilância sanitária, por vigilância epidemiológica e por saúde do trabalhador4.

A Saúde do Trabalhador, na Norma n.º 3.908 de 30 de outubro de 1998, complementar à NormaOperacional Básica - SUS 01/96, orienta e instrumentaliza a realização das ações de saúde do trabalhador,norteando-se por pressupostos básicos, tais como: universalidade e eqüidade, integralidade das ações, direito àinformação sobre a saúde, controle social, regionalização e hierarquização das ações de saúde do trabalhador,utilização do critério epidemiológico e de avaliação de riscos no planejamento e nas avaliações das ações noestabelecimento de prioridades e na alocação de recursos e configuração da saúde do trabalhador como umconjunto de ações de vigilância e assistência5, 6.

A Portaria n.º 3.214/78 aprova as Normas Regulamentadoras da Consolidação das Leis doTrabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. Estas normas são de observância obrigatóriapelas empresas privadas e públicas e pelos órgãos públicos de administração direta e indireta, bem comopelos órgãos dos poderes legislativo e judiciário que possuam empregados regidos pela Consolidação dasLeis do Trabalho � CLT7.

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SAÚDE DO TRABALHADOR

A Saúde do Trabalhador é �um conjunto de conhecimentos de diversas disciplinas (Medicina Social,Clínica Médica, Saúde Coletiva, Medicina do Trabalho, Sociologia, Engenharia, Psicologia etc) que, aliado aosaber do trabalhador sobre as condições e a organização do trabalho, estabelece uma nova forma de compreensãoda relação saúde-trabalho e propõe uma forma diferenciada de atenção à Saúde do Trabalhador e intervenção emambientes de trabalho�8.

Segundo Nardi8, a Saúde do Trabalhador considera o trabalhador como sujeito ativo do processosaúde-doença e não como objeto de atenção à saúde. Portanto, as ações da Saúde do Trabalhador devem serdesenvolvidas em conjunto com os trabalhadores, a fim de garantir a integralidade e a resolutividade das ações.O controle social, reconhecido como direito de participação dos trabalhadores e suas entidades representativas,é fundamental em todas as etapas do processo de atenção à saúde, desde o planejamento e estabelecimento deprioridades, o controle permanente da aplicação dos recursos, a participação nas atividades de vigilância emsaúde, até a avaliação das ações realizadas, como um pressuposto da Norma Operacional Básica - SUS 01/96.

A Norma Operacional Básica - SUS 01/96 destaca, ainda, a importância da integralidade das ações,tanto em termos do planejamento quanto da execução, com um movimento constante em direção à mudança domodelo assistencial para a atenção integral, articulando ações individuais e curativas com ações coletivas devigilância da saúde, uma vez que os agravos à saúde, advindos do trabalho, são essencialmente preveníveis6.

SAÚDE DO TRABALHADOR NO GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO

A partir da sua reestruturação, o Centro de Resultados Saúde do Trabalhador/GHC, tem buscadoresgatar os princípios que norteiam sua prática, como a integralidade da atenção, vínculo, acolhimento,responsabilização, controle social e a vigilância em saúde do trabalhador, reaproximando seus profissionais doscotidianos de trabalho do Grupo Hospitalar Conceição. São realizadas atividades que compreendem ações deassistência e ações programáticas em saúde, buscando a promoção, recuperação e reabilitação da saúde dostrabalhadores do Grupo Hospitalar Conceição, além da vigilância nos ambientes de trabalho, prevenindo riscos eagravos à saúde, através da avaliação do processo, do ambiente e das condições em que o trabalho se realiza.

Para desenvolver estas ações, o Centro de Resultados Saúde do Trabalhador/GHC dispõe de umaequipe multidisciplinar, constituída por médicos clínicos e do trabalho, ginecologista, ortopedista, psiquiatra,psicóloga, assistentes sociais, enfermagem clínica e do trabalho, técnicos e engenheiros de segurança do trabalho,auxiliares e técnicos administrativos, além de parcerias com uma nutricionista e uma médica especialista emdependência química. A Coordenação do Centro de Resultados Saúde do Trabalhador está voltada a ações deplanejamento, organização, sistematização das informações e coordenação da equipe, além de fazer a interfacecom outros Serviços, Gerências e Diretoria do Grupo Hospitalar Conceição.

VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR

A Vigilância em Saúde do Trabalhador é �uma atuação contínua e sistemática, ao longo do tempo, nosentido de detectar, conhecer, pesquisar e analisar os fatores determinantes e condicionantes dos agravos àsaúde relacionados aos processos e ambientes de trabalho, em seus aspectos tecnológico, social, organizacionale epidemiológico, com a finalidade de planejar, executar e avaliar intervenções sobre esses aspectos, de forma aeliminá-los ou controlá-los�9. Costuma também ser definida como �um conjunto de ações que visa a conhecer amagnitude dos acidentes e doenças relacionados ao trabalho, identificar os fatores de risco ocupacionais, estabelecermedidas de controle e prevenção e avaliar os serviços de saúde de forma permanente, visando à transformaçãodas condições de trabalho e a garantia da qualidade da assistência à saúde do trabalhador�10.

�A Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT) no SUS se estrutura sob princípios que a diferenciamdas práticas de vigilância historicamente desenvolvidas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Estasúltimas se distinguem por seu caráter punitivo, que é bastante reconhecido pelas empresas, e, ao mesmo tempo,

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pela eficácia pontual e momentânea que caracteriza as suas inspeções, pela alta demanda dos sindicatos emfunção desta eficácia simbólica imediata e pela divisão do trabalho entre engenharia de segurança e medicina dotrabalho, não comportando a contribuição de outras disciplinas. Esta ação é freqüentemente mediada pelo conceitode fiscalização, entendido como uma ação de caráter pontual e que se dirige à verificação do cumprimento dedeterminadas normas e leis estabelecidas, tendo por finalidade impor sanções�11. Contudo, algumas iniciativas doMTE têm procurado dar outro caráter ao trabalho de fiscalização, buscando uma prática mais processual eorientada pela epidemiologia e pelas ciências sociais.

VIGILÂNCIA EM SAÚDE DO TRABALHADOR NO GRUPO HOSPITALARCONCEIÇÃO

Desde maio de 2005, o Centro de Resultados Saúde do Trabalhador/GHC iniciou ações de vigilâncianos ambientes de trabalho, agrupando os setores de trabalho do Grupo Hospitalar Conceição e constituindo 12equipes de referência, responsáveis por um universo delimitado de trabalhadores, possibilitando assim o resgateda Saúde do Trabalhador do Grupo Hospitalar Conceição como referência em saúde e segurança, intensificandoo vínculo com os trabalhadores e aumentando a resolutividade das ações. O objetivo da vigilância nos setores detrabalho do Grupo Hospitalar Conceição, através das equipes de referência, é conhecer e discutir os processose organização do trabalho, ambiente de trabalho, saúde e segurança, em conjunto com os trabalhadores dossetores para o planejamento de intervenções nos ambientes de trabalho. Essas equipes de referência são formadaspor médicos (clínicos ou do trabalho), engenheiros de segurança do trabalho, técnicos de segurança do trabalho,enfermagem e serviço social, que solicitam intervenções dos outros profissionais do Centro de Resultados Saúdedo Trabalhador/GHC como ortopedista, psicóloga, entre outros, quando necessário.

Conforme a Coordenadora da Unidade de Saúde do Trabalhador do Hospital Municipal Mário Gatti, deCampinas/SP, Luzia Sandra de Paula Romano, as equipes de referência de Vigilância em Saúde do Trabalhadortêm como foco �as mudanças nos processos de trabalho que contemplem as relações saúde-trabalho em toda asua complexidade, por meio de uma atuação multiprofissional, interdisciplinar e intersetorial, incluindo o estudodas condições de trabalho, identificação de mecanismos de intervenção técnica para sua melhoria e adequação econtrole de riscos e agravos potenciais à saúde existentes no processo de trabalho, o perfil de morbidade dostrabalhadores e ações de vigilância epidemiológica e sanitária�12.

Segundo Maria Juliana Moura Corrêa, �a organização da Vigilância em Saúde do Trabalhador (VISAT)como proposta de mudança das práticas em saúde, deve ultrapassar a simples cura e reabilitação para trabalharcom a promoção da saúde e prevenção de agravos�. Afirma também que a implementação das ações de intervençãonos locais de trabalho e no meio ambiente deve ser respaldada em prioridades epidemiológicas ou em estratégiaslocais, assegurando a participação de trabalhadores13.

Entendemos que, a partir das ações de vigilância nos ambientes de trabalho, é possível identificar osriscos ambientais, traçar o perfil sócio-demográfico dos trabalhadores dos setores (sexo, idade, escolaridade,tempo de trabalho no Grupo Hospitalar Conceição e outros), identificar os principais motivos de incapacidadelaborativa e motivos de consultas, avaliar a ocorrência de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais,acompanhar os trabalhadores afastados em benefício previdenciário, trabalhadores readaptados e aposentadospor invalidez etc., para planejamento de ações de saúde.

PREVENÇÃO, VIGILÂNCIA E ASSISTÊNCIA COMO PRINCÍPIOS DE TRABALHO

O Centro de Resultados Saúde do Trabalhador/GHC vem implementando ações que contemplam aintegralidade da atenção, a satisfação do usuário/paciente, a melhora da auto-estima e do auto-cuidado, a melhoradas condições do meio ambiente de trabalho e a melhora da qualidade de vida e saúde dos trabalhadores doGrupo Hospitalar Conceição, através de ações de vigilância nos ambientes de trabalho, assegurando a participaçãodos trabalhadores, com o objetivo de conhecer a sua realidade de saúde, buscando intervir nos fatores determinantesde agravos à saúde, visando a eliminá-los, atenuá-los ou controlá-los.

Considerando a Vigilância em Saúde do Trabalhador, cuja especificidade está centrada na relação da

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saúde com o ambiente e os processos de trabalho, e destes com a assistência, o fato de a equipe responsável pelaatenção à saúde dos trabalhadores do Grupo Hospitalar Conceição ser constituída por trabalhadores do GrupoHospitalar Conceição, facilita a compreensão e contextualização do ambiente de trabalho no processo saúde/doença, possibilitando a vigilância em saúde e a discussão sobre as relações e a organização do trabalho e seusreflexos na saúde dos trabalhadores, visto a equipe conhecer a realidade do Grupo Hospitalar Conceição.

A Política de Saúde do Trabalhador do Grupo Hospitalar Conceição, baseada na integralidade da atenção,articulando as ações de assistência e recuperação com aquelas de prevenção de agravos e de controle de seusdeterminantes através da intervenção nos ambientes e processos de trabalho, tem reflexos importantes na melhorada qualidade de saúde, no grau de satisfação, motivação e valorização dos trabalhadores, que são importantesindicadores de qualidade de vida no trabalho.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ZIEGELMANN, L. Proposta de Criação da Unidade Profilática e Terapêutica de Saúde dos Funcionários doHospital Nossa Senhora da Conceição. Porto Alegre, 1986.2. BALDISSEROTTO, J.; MORETTO, A.; PEREIRA, M. V. Uma Proposta de Atenção Integral. In: II CongressoBrasileiro de Medicina Geral Comunitária. Florianópolis, set. 1987.3. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1989. (Série LegislaçãoBrasileira).4. BRASIL. Lei Federal n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre a organização do Sistema Único deSaúde (SUS). In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 1990.5. BRASIL. Portaria MS n. 3.908, de 30 de outubro de 1998. Aprova a Norma Operacional de Saúde doTrabalhador - NOST, estabelece procedimentos para orientar e instrumentalizar as ações e serviços de saúde dotrabalhador no Sistema Único de Saúde (SUS). In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, 10nov. 1998.6. BRASIL. Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde/NOB-SUS 96. Brasília: Ministério da Saúde,1997.7. BRASIL. Portaria n. 3.214, de o8 de junho de 1978. Aprova as Normas Regulamentadoras � NR � do CapítuloV do Título II, da Consolidação das Leis do Trabalho, relativas à Segurança e Medicina do Trabalho. In:SEGURANÇA e Medicina do Trabalho. Manuais de Legislação Atlas. 53. ed. São Paulo: Atlas, 2003.8. NARDI, H. C. Saúde, Trabalho e Discurso Médico. São Leopoldo: UNISINOS, 1999.9. BRASIL. Portaria MS/GM n. 3.120, de 19 de julho de 1998. Aprova a Instrução Normativa de Vigilância emSaúde do Trabalhador no SUS. In: Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Brasília, 14 jul. 1998.10. BAHIA. Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Superintendência de Vigilância e Proteção da Saúde. Centrode Estudos da Saúde do Trabalhador. Manual de Normas e Procedimentos Técnicos para a Vigilância da Saúdedo Trabalhador/SESAB/SUVISA/CESAT. 3. ed. Salvador: CESAT/SESAB, 2002.11. MACHADO, J. M. H. Alternativas e processos de vigilância em saúde do trabalhador: a heterogeneidade daintervenção. Tese (Doutorado em Saúde Pública) � ENSP. Rio de Janeiro, 1996.12. ROMANO, L. S. de P. Apresentação da Unidade de Saúde do Trabalhador � Hospital Municipal Dr. MárioGatti, Prefeitura Municipal de Campinas/SP. Porto Alegre: Grupo Hospitalar Conceição, 2005.13. CORRÊA, M. J. M. Apresentação da Política de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador: Curso paraGestores do GHC. Porto Alegre: Grupo Hospitalar Conceição, 2005.

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OS ADOLESCENTES E SEUS HÁBITOS ALIMENTARES

* Zinid R.B. Diniz

Senhor Editor: Esse texto é o registro de uma idéia nascida da necessidade de mudanças no manejo dosadolescentes no dia-a-dia em ambulatório. Gostaria que considerasse a possibilidade de difundi-la entre os leitoresda Revista do GHC.

Uma das maiores dificuldades no manejo dos adolescentes, sejam ou não obesos, é a discussão a respeitodas modificações dos hábitos alimentares...

Numas dessas famosas entrevistas esclarecedoras, onde o paciente não conseguia comer nada alem deuma folha de alface no almoço e estava pra lá de ótimo, imagina só, comi 01(uma) folha de alface tio! Veio-mea idéia de mudarmos o discurso, modificamos o enfoque dessa dificuldade, a partir de uma premissa clássicavamos procurar descobrir por que isso acontece? E o que acontece! É simplesmente o obvio, a criançada nãosabe o que são verduras, algumas até determinadas frutas nunca comeram... O discurso �NÃO GOSTO� temoutra leitura! É igual a: �NÃO CONHEÇO NÃO SEI DO QUE SE TRATA!�

O manejo da alimentação nessa faixa etária tem dois objetivos básicos: 1- orientação alimentar para promoverum melhor estirão na entrada da puberdade dos meninos e o restinho de desenvolvimento do crescimento dasmeninas, pois a grande maioria já chega em nosso consultório com 1 a 2 anos de período menstrual ativo...O quesignifica dizer que mais de 50% da sua capacidade de crescer ou bem ou mal, já se consumou. 2- obviamentesão os adolescentes obesos... São significativas para a maioria, nossas propostas de mudanças alimentares,todas elas simples e racionalizadas, tendo em vista o baixo poder aquisitivo da nossa população. Descartamostotalmente o uso de substancias protéinicas e suportes vitamínicos de produção industrial devido ao alto custo eem alguns casos a baixa absorção intestinal em determinados pacientes . No desenrolar das nossas explicaçõesno momento que citamos o item �verduras e frutas diárias� se percebe no semblante dos adolescentes as reaçõesas mais curiosas e muitas vezes desencorajantes. Tal é a aversão, a bronca, e decepção que os adolescentesexpressam ao ouvir as perguntas: e as verduras? Comes diariamente?

Com o passar do tempo, percebemos que essa população alvo tem grande dificuldade e resistência emmudar seus hábitos alimentares. Principalmente no quesito verduras, mesmo com toneladas de justificativas, eexplicações sobre a concentração de vitaminas, e outras componentes básicos para o bom desenvolvimento docrescimento, e o bom funcionamento do nosso metabolismo. Simplesmente prescrever verduras no almoçoe janta todos os dias e de todas as cores e de todas maneiras, e aquelas que eles gostam ou aturam em comer, écansativo para eles e para nós terapeutas.

A partir daí, imaginamos formas de resolver esse bloqueio, essa aversão. A solução estaria centrada noconceito: � ao conhecer, examinar, manusear, cheirar, preparar, arrumar numa mesa, PROVAR! - se inicia amudança de conceitos, a derrubada dos preconceitos�.

Já num plano mais dinâmico e prático, seriam formados grupos de adolescentes criteriosamente escolhidos,onde um grupo interdisciplinar organizaria um currículo eminentemente pratico onde todas a verduras e frutasprincipais encontradas em nosso meio, seriam apresentadas aos adolescentes em variadas formas de saladas,refogadas, com discretas modificações como temperos, molhos, cremes enfim um cardápio criativo e motivadorde o adolescente se motivar em comer verduras; no tocante a frutas, como preparar diversos tipos de sucos ecomo descascar e preparar determinadas frutas para sua utilização como sobremesa ou lanche entre as principaisrefeições... Como montar um regime alimentar, mostrar ao vivo a moçada, uma mesa com todas as 6 refeições,com o calculo calórico ao lado de cada prato, explicar o calculo calórico de cada componente dessa mesa., asalternativas de substituição... Tudo tem de ser palpável, visível, motivo de questionamentos, por parte da populaçãoalvo.

Os próximos passos são trabalhosos exige um envolvimento de um grupo de profissionais da área danutrição, da cozinha do hospital, do setor de compras, do preparo pedagógico de toda a idéia desdobrada em trêsou quatro apresentações, sei lá, talvez uma única bem administrada pudesse resolver tudo, enfim essa idéia aindadeve ser trabalhada, em maior profundidade.

*Médico clínico do pronto atendimento(Emergência) do H.N.S.C. e médico clínico do Serviço deAdolescentes do H.S.N.C.

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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA�Momento & Perspectivas em Saúde�

A Revista �Momento & Perspectivas em Saúde�, órgão oficial de divulgação técnico-científica do Grupo Hospitalar Conceição, tem como objetivo principal divulgar a experiência dos

profissionais do GHC que atuam nas diversas áreas técnico-científicas. Desta forma estarádifundindo conhecimentos que contribuam para aperfeiçoar e desenvolver a qualidade de saúdede nosso Estado e de nosso País. É uma publicação regular com periodicidade semestral, cuja

tiragem é de 1.350 exemplares.  A Revista aceita contribuições para publicações nas categorias : artigos originais, de

revisão ou de atualização, relatos de casos e cartas aos editores, tanto de profissionais que

atuam no GHC, quanto de profissionais externos, que remetam espontaneamente ou por solicitaçãode seus Editores e que expressem prioritariamente produção técnica e científica da área dasaúde.

As colaborações deverão ser enviadas para : Editor da Revista do GHC - �Momento & Perspectivas em Saúde�Gerência de Ensino e Pesquisa - GEPRua Francisco Trein, 596 � Bloco H - 3º andar91350-200 - Porto Alegre - RS 

Os artigos são de responsabilidade dos seus autores e é indispensável a aprovação peloConselho Editorial da Revista para sua publicação.  

Instruções Gerais: 

As instruções de ordem técnica se baseiam nas recomendações do Comitê Internacionalde Editores de Periódicos Médicos ( Grupo Vancouver, endereço eletrônico : http://www.icmje.org)ou podem ser obtidas no N Eng J Méd 1997;336(4);309-15 {uniform Requirements for Manuscripts

Submitted to Biomedical Journals. � International Committe of Medical Journal Editors� (ICMJE) }.Os trabalhos que resultem de pesquisa em seres humanos deverão vir encaminhados à Revistaacompanhados pelo parecer e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da instituição onde o

trabalho foi realizado. Esta determinação está em conformidade com as Diretrizes e NormasRegulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, do Conselho Nacional de Saúde,resolução nº 196, de 10 de outubro  de 1996, publicada nos volumes 14(1), 15(2) e 16(1) da

Revista Momento & Perspectivas em Saúde, disponíveis no site www.ghc.com.br/gepnet. Os conceitos, fundamentações, dados, experiências, fontes de pesquisa e conclusões

emitidos nos trabalhos assinados, são da exclusiva responsabilidade do(s) seu(s) autor(es). Todos

os trabalhos encaminhados para publicação na Revista do GHC � Momento & Perspectivas,serão submetidos à revisão lingüística, metodológica e de formatação pelo conselho editorial oupor colaboradores experts convidados pelo editor.

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Os trabalhos deverão ser digitados no Microsoft Word, em papel branco, tamanho ofício,espaço duplo, com margem em todos os lados de 30 mm e páginas numeradas em seqüência.Deverá ser enviada uma cópia original impressa e outra em disquete ou CD, em um envelope parapapel ofício e sem dobras. Recomenda-se a proteção do material com papelão com especial atençãopara as fotografias, especialmente quando postadas. As páginas deverão ser numeradas no cantoinferior direito, organizadas na seguinte ordem: página-título(em português e inglês), página doresumo e do abstract ( incluindo os unitermos e key words), texto propriamente dito, página deagradecimentos, referências bibliográficas, tabelas, figuras e fotos, e legendas. Atrás da(s) figura(s)e fotos deverá constar à lápis, o nome do autor, o título reduzido, o número no texto e setas indicandoa orientação do lado superior.

Autoria : Todas as pessoas nominadas como autor deverão responder pela autoria doartigo proposto e ter participado suficientemente do trabalho, para assumir responsabilidades peloseu conteúdo e conclusões. Deve ter participado com contribuições substanciais durante os processosde concepção, planejamento, execução, análise e interpretação dos dados, de forma intelectualmenteimportante. Os autores devem explicar e declarar eventuais conflitos de interesse

Processo de avaliação e julgamento : Todos os manuscritos submetidos à Revista doGHC, que estiverem de acordo com estas instruções e com a política editorial da revista, serãoanalisados por dois revisores do conselho editorial, de reconhecida competência no assunto tratado,conforme o fluxograma da figura 1. O anonimato dos revisores está garantido durante todo o processo,assim como estes não tomarão conhecimento do(s) nome(s) do(s) autor(es). A decisão final sobre aaceitação ou rejeição dos manuscritos é tomada pelo editor e pelo menos 2 outros membros doconselho editorial.

Manuscritos recusados : somente será devolvida ao(s) autor(es) cópia da versão originaluma vez que a versão original impressa do manuscrito será arquivada na secretaria da editoria.Manuscritos recusados, mas com possibilidade de reformulação, poderão retornar, como um novotrabalho e serão submetidos a novo processo de avaliação e julgamento.

Manuscritos aceitos : o autor, referido como primeiro, receberá correspondência do editorinformando da aceitação e edição em que será publicado o manuscrito. Neste momento o autortransfere implicitamente todos os direitos de cópia e reprodução do manuscrito, para a editoria daRevista do GHC � Momentos & Perspectivas em Saúde.

A página título deverá conter o título em português e em inglês, o nome completo de todosos autores acompanhado de suas titulações, a instituição onde o trabalho foi realizado e o nome,endereço e telefone de um dos autores para correspondência e pedidos de separatas. 

A página do resumo e abstract conterá o título em português e um resumo semi-estruturado do trabalho, contendo Objetivo, Métodos, Resultados e Conclusões, com 150 palavrasno máximo, seguido de dois a cinco unitermos. Em página separada deverá anexado o título eminglês, o  abstract que deve ser a tradução fiel do resumo para o idioma inglês, e de duas a cinco keywords.  Estes descritores deverão se basear na edição anual da BIREME/OPAS/OMS dos Descritoresem Ciências da Saúde, no endereço eletrônico: http://decs.bvs.br/. 

Na terceira página é iniciado o trabalho propriamente dito, e de acordo com as categorias:Texto de artigo original � a organização de artigo nesta categoria inclui Introdução, material

e métodos, resultados e discussão(a conclusão pode estar no último parágrafo da discussão ou emseparado). Na introdução deve conter os motivos que levaram a desenvolver o trabalho e umarevisão sucinta do assunto. Em material e métodos deve ser descrito com precisão a amostra oupopulação do estudo e os métodos desenvolvidos de forma que possam ser reproduzidos. Deve sermencionado a aprovação da pesquisa no respectivo Comitê de Ética em Pesquisa. Os planos deanálise de dados utilizados deverão estar explicitados neste espaço. Em resultados, estimula-se quesejam apresentados tabelas e figuras de forma auto explicativas, evitando repetição de dados. Adiscussão deve enfocar os aspectos novos e importantes do estudo, comparando-os com os deoutros autores, as limitações do estudo, implicações clínicas relevantes e recomendações paraestudos futuros. As conclusões deverão ser apresentadas no último parágrafo da discussão,procurando sempre responder o objetivo definido na introdução.

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Texto de artigo de revisão � esta categoria constitui uma revisão crítica sistematizada daliteratura sobre determinado assunto devendo definir os procedimentos adotados, fontes eesclarecendo a delimitação e limites do tema e as conclusões do autor. Esta categoria se prestamuito comumente para abrigar artigos encomendados pelos editores a experts, de experiênciacomprovada na área. As orientações para o preparo de artigos de revisão são as mesmas dosartigos originais, devendo incluir também Resumo, Abstract, descritores e Key Words.

Texto de relatos de casos � esta categoria destina-se a publicação de casos clínicosinteressantes, que tenham sido devidamente estudados, e que apresentem alguma originalidade,curiosidade ou aspecto não convencional de determinada patologia ou condição clínica. As instruçõespara o seu preparo são as mesmas de um artigo original incluindo Resumo, Abstract, descritores eKey Words.

Cartas ao editor : categoria que visa discutir, comentar ou comunicar pesquisas originais,novidades na área da medicina de interesse para os leitores, ou artigos publicados recentementena Revista do GHC � Momento & Perspectivas em Saúde. Podem ser utilizadas referências quandofor adequado.

Referências Bibliográficas : ao final do trabalho citam-se, consecutivamente, as referênciasbibliográficas em ordem de aparecimento no texto, e numeradas por numerais arábicos entreparêntesis e de forma sobrescrita, conforme o exemplo a seguir : � ...a paratireoidectomia é o únicotratamento curativo aceito em hiperparatireoidismo primário(5) especialmente neste momento em queo seu diagnóstico tornou-se segura e fácil definição(6-9)...� Os títulos dos periódicos devem serabreviados conforme constam no Index Medicus ou no Index Medicus Latino-Americano. Exemplosde referências: 

- artigo de periódico:IRVIN GL III, PRUDHOME DL, DERISO GT et al. A new approach to parathyroidectomy. Ann

Surg., 1994;219(5);574-581.- livro:MACHLEDER HI. Vascular disorders of the upper extremity. New York; Futura Publishing

Co.,19893- capítulo de livro:Berger HJ, Zaret BL, Cohen LS. Cardiovascular nuclear medicine. In: Golberger E, ed. 

Textbook of clinical cardiology. 1st ed. St Louis: CV Mosby, 1982: 326-345. - observação:Até seis autores, citam-se todos; sete autores ou mais, citam-se os três primeiros seguidos

de �et al�. As tabelas e ilustrações vêm a seguir. As tabelas são numeradas em seqüência, com

algarismos romanos, acompanhadas de enunciado. As ilustrações (gráficos, diagramas e fotos) sãonumeradas também consecutivamente com algarismos arábicos e referidas no texto como �figuras�.As fotos  não podem exceder o número de seis por artigo, somente em preto e branco, e na medidade 10 x 15 cm. As legendas das ilustrações devem ser datilografadas/digitadas em folha à parte,respeitando a numeração contida no texto. 

A última página conterá os agradecimentos, quando for o caso. 

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