Gilles Deleuze - Alianças Em Prol de Variações

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8/19/2019 Gilles Deleuze - Alianças Em Prol de Variações http://slidepdf.com/reader/full/gilles-deleuze-aliancas-em-prol-de-variacoes 1/21 Alianças em prol de variações. Transcrição inédita do áudio da conversa de Luiz Orlandi e Gilles Deleuze com a participação de Gérard Lebrun, ean !rançois L"otard, #arilena $%aui e Arnaud &illani L.O ' As conversações (ue o sen%or manteve com $laire )arnet, se*a por escrito ou em +alas adensadas por imaens, como as do Abecedário , é (ue me inspiraram a solicitar este encontro na esperança de resolver uma di+iculdade (ue me vem apo(uentando- poderia a*udarme a encontrar uma maneira de pre+aciar a tradução  brasileira do seu livro dedicado ao problema da e/pressão em 0spinosa1 2. D. ' )ressupondo (ue o sen%or con%eça o livro, além de aluns outros escritos meus, não ve*o em (ue consistiria sua di+iculdade. 0 (uanto 3 maneira de pre+aciar essa tradução, ela s4 pode ser sua5 s4 o sen%or, em nome pr4prio, poderá constru6la e, ao +az7lo, sentirá o (ue eu mesmo sinto ao escrever- +ará a e/peri7ncia de sua despersonalização8 L.O ' 9im, evidentemente, *á e/perimentei isso em alumas tentativas de escrita, mas ostaria de conversar, se o sen%or se dispuser, para (ue aluns detal%es da min%a pr4pria maneira an%em maior consist7ncia8 2. D. ' Diame, então, mais claramente, o (ue o sen%or pretende +azer. L.O ' )ois bem, em vez de se apresentar como introdução ao seu te/to ou, pior ainda, como interpretação dele, meu pre+ácio ou pos+ácio precisa an%ar a +orma do mais simples convite a (uem vier a ler sua obra. 2. D. ' &e*o (ue o sen%or (uer eliminar do seu pre+ácio ou pos+ácio a dupla  pretensão de ser uma introdução ao meu livro ou uma interpretação dele. )osso compreender isso, e ac%o até mesmo (ue nem precisa e/plicitar as razões de sua escol%a. #as o (ue seria esse convite :a (uem vier a ler;1 <sso me pareceu um pouco vao. =ão seria apenas um direto convite para os outros lerem o meu livro, como +azem as orel%as ou as propaandas editoriais1 L.O ' O ponto é este- não estou convidando as pessoas para lerem seu livro.  =ão estou +azendo propaanda dele. 0sse livro *á e/iste como acontecimento. )or si, ele  *á dá o (ue pensar, se*a de um estrito ponto de vista de estudos espinosanos >concorde se ou não com sua leitura, pouco importa?, se*a como prova de (ue é poss6vel pensar criativamente (uando se estuda um rande +il4so+o. #eu convite é outro. 9e*a ele de +ácil ou di+6cil aceitação, meu convite é este- mesmo não sendo a primeira e nem +eita de maneira cont6nua, convém (ue a leitura deste livro ocorra (uando +or pressentida como ocasião de um encontro e/cepcional. 2. D. ' =ão (uero discutir o (ue o sen%or (uer dizer com pressentimento, mas- por (ue e/cepcional1 L.O ' )ressentimento no sentido animal de @+icar 3 espreita, como o sen%or  pr4prio diz loo na letra @A do Abecedário. 0 e/cepcional, por(ue, além de ser ela  pr4pria uma visita muito rara a ideias decisivas, a leitura poderá reabrir um outro e emocionante encontro, o conservado nestas páinas entre pensadores separados por vários séculos de aitações em todos os dom6nios. 0mocionante, por(ue +orças muito estran%as deram a esse tempo cronol4ico a intensidade de um arco retesado. 0 a sucessão das visitas a esse encontro apreenderá sutis variações na ponta incandescente da +lec%a, ali onde vibra o sentido problemático da obra, irredut6vel a uma Bnica direção.

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Alianças em prol de variações. Transcrição inédita do áudio da conversa de LuizOrlandi e Gilles Deleuze com a participação de Gérard Lebrun, ean !rançois L"otard,#arilena $%aui e Arnaud &illani

L.O ' As conversações (ue o sen%or manteve com $laire )arnet, se*a por

escrito ou em +alas adensadas por imaens, como as do Abecedário , é (ue meinspiraram a solicitar este encontro na esperança de resolver uma di+iculdade (ue mevem apo(uentando- poderia a*udarme a encontrar uma maneira de pre+aciar a tradução

 brasileira do seu livro dedicado ao problema da e/pressão em 0spinosa12. D. ' )ressupondo (ue o sen%or con%eça o livro, além de aluns outros escritos

meus, não ve*o em (ue consistiria sua di+iculdade. 0 (uanto 3 maneira de pre+aciaressa tradução, ela s4 pode ser sua5 s4 o sen%or, em nome pr4prio, poderá constru6lae, ao +az7lo, sentirá o (ue eu mesmo sinto ao escrever- +ará a e/peri7ncia de suadespersonalização8

L.O ' 9im, evidentemente, *á e/perimentei isso em alumas tentativas de

escrita, mas ostaria de conversar, se o sen%or se dispuser, para (ue aluns detal%es damin%a pr4pria maneira an%em maior consist7ncia8

2. D. ' Diame, então, mais claramente, o (ue o sen%or pretende +azer.

L.O ' )ois bem, em vez de se apresentar como introdução ao seu te/to ou, piorainda, como interpretação dele, meu pre+ácio ou pos+ácio precisa an%ar a +orma domais simples convite a (uem vier a ler sua obra.

2. D. ' &e*o (ue o sen%or (uer eliminar do seu pre+ácio ou pos+ácio a dupla pretensão de ser uma introdução ao meu livro ou uma interpretação dele. )ossocompreender isso, e ac%o até mesmo (ue nem precisa e/plicitar as razões de suaescol%a. #as o (ue seria esse convite :a (uem vier a ler;1 <sso me pareceu um poucovao. =ão seria apenas um direto convite para os outros lerem o meu livro, como+azem as orel%as ou as propaandas editoriais1

L.O ' O ponto é este- não estou convidando as pessoas para lerem seu livro. =ão estou +azendo propaanda dele. 0sse livro *á e/iste como acontecimento. )or si, ele *á dá o (ue pensar, se*a de um estrito ponto de vista de estudos espinosanos >concordese ou não com sua leitura, pouco importa?, se*a como prova de (ue é poss6vel pensarcriativamente (uando se estuda um rande +il4so+o. #eu convite é outro. 9e*a ele de+ácil ou di+6cil aceitação, meu convite é este- mesmo não sendo a primeira e nem +eitade maneira cont6nua, convém (ue a leitura deste livro ocorra (uando +or pressentida

como ocasião de um encontro e/cepcional.2. D. ' =ão (uero discutir o (ue o sen%or (uer dizer com pressentimento, mas- por (ue e/cepcional1

L.O ' )ressentimento no sentido animal de @+icar 3 espreita, como o sen%or pr4prio diz loo na letra @A do Abecedário. 0 e/cepcional, por(ue, além de ser ela pr4pria uma visita muito rara a ideias decisivas, a leitura poderá reabrir um outro eemocionante encontro, o conservado nestas páinas entre pensadores separados porvários séculos de aitações em todos os dom6nios. 0mocionante, por(ue +orças muitoestran%as deram a esse tempo cronol4ico a intensidade de um arco retesado. 0 asucessão das visitas a esse encontro apreenderá sutis variações na ponta incandescente

da +lec%a, ali onde vibra o sentido problemático da obra, irredut6vel a uma Bnicadireção.

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CEF G. D. ' >indo? )ermitame peruntar- sua ret4rica não está e/aerandoas coisas1 Apesar disso, devo admitir (ue um livro, um bom livro, diamos, é sempreum territ4rio para bons encontros, contanto (ue isso acabe erando desterritorializaçõesinteressantes e não apenas vaal%ões de +rases eloiosas, encomiásticas.

L.O ' $oncordo. Há um aparente e/aero na(uelas +rases. $om maissobriedade, eu diria (ue o seu livro não propõe apenas (ue estudemos 0spinosa5 ele nosincita a não dei/armos a+rou/ar esse arco a (ue me re+eri, esse arco da iman7ncia,diamos, tornado tenso *ustamente por 0spinosa, tensão (ue o sen%or mantém ao lonode todos os seus livros. Iuando dio isso, o sen%or sabe do (ue se trata, não é1

2. D. J 0stou pressentindo onde o sen%or (uer c%ear. K medida (ue os +il4so+oscriam conceitos, +azendoo em comple/a correspond7ncia com problemas, vai sendotraçado um plano de iman7ncia, alo como um pressuposto pré+ilos4+ico5 esse

 plano, como Guattari e eu escrevemos, é um @meio de +lu7ncia do pensamentoconceitual, um @meio (ue se move in+initamente em si mesmo, irredut6vel 3scriações conceituais, mas @correlativo a elas, correlativo en(uanto virtualidade (ue

as entremeia intensivamente. O sen%or está me levando a recordar certas +rases. 9ei(ue *á dissemos o seuinte, por e/emplo- @os conceitos são como as vaas mBltiplas(ue se eruem e (ue se abai/am, mas o plano de iman7ncia é a vaa Bnica (ue osenrola e os desenrola. 9ei (ue min%a relação com 0spinosa tem a ver com isso, masonde, precisamente, o sen%or (uer c%ear 1

L.O ' Lembrase (ue, ao pensar principalmente no @prodiioso livro & datica , o sen%or disse (ue 0spinosa @é o pr6ncipe dos +il4so+os1 )or (ue tão sinela%omenaem1

2. D. ' Ora, o sen%or %á de convir (ue, se +osse poss6vel contar uma %ist4ria da+iloso+ia do ponto de vista da instauração de um plano de iman7ncia, 0spinosa seria oresponsável pelo momento de maior radicalidade de uma tal %ist4ria.

L.O ' 9im, mas por (ue :pr6ncipe;12. D. ' #uito simples- (uando dio pr6ncipe não estou pensando na %ierar(uia (ue,

de um lado, o submeteria a um rei transcendente e, de outro, o sobreporia comotranscendente a subalternos. A %ierar(uia (ue me atrai não é desse tipo, caudatária derelações entre classes ou entre posições de mando. A %ierar(uia (ue me atrai é a do

 *oo das sinularidades, a da distribuição das di+erenças em correspond7ncia com problemas dos (uais elas participam como mais ou menos ordinárias ou mais oumenos notáveis. )or isso, penso (ue 0spinosa é pr6ncipe dos +il4so+os no mel%or

sentido da palavra pr6ncipe- a(uele (ue é o :mais notável em talento ou em outras(ualidades;. #ais riorosamente, ele CMF é o pr6ncipe, por(ue @sabia plenamente (uea iman7ncia pertencia tãosomente a si mesma, sendo ela um @plano percorrido

 pelos movimentos do in+inito, preenc%ido pelas coordenadas intensivas. )r6ncipe, por @não ter aceito compromisso alum com a transcend7ncia, por ter encontrado a@liberdade tãos4 na iman7ncia. $omo esse pr6ncipe preenc%eu a @suposição pré+ilos4+ica da +iloso+ia, seus pr4prios conceitos de @substNncia e de modos é (ue seremetem ao plano de iman7ncia como ao seu pressuposto.

L.O ' <sso é vertiinoso CAssim (ue pro+eri esta e/clamação, senti (ue ela meveio de uma +rase com (ue Pento )rado Bnior e/pressou sua admiração pela obra O

(ue é a +iloso+ia1, de Deleuze e Guattari- @O (ue este livro nos o+erece é a compreensão

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do (ue %á de vertiinoso na +iloso+ia ' mas também, e seuindo o mesmo movimento de pensamento, do (ue %á de vertiinoso na ci7ncia e na arteF .2. D. ' )ressuposto vertiinoso, concordo, pois a dupla +ace desse plano de

iman7ncia se diz como @pot7ncia de ser e pot7ncia de pensar. A6 está a @vertiem daiman7ncia, verdadeiro desa+io da @inspiração espinosana. A (uestão é saber se

@c%earemos a estar maduros para ela .

$omentar e inventar 

L.O ' )ermitame observar, meu caro sen%or, (ue suas +rases acabam desustentar o (ue nas min%as parecia ret4rica e/aerada. &7se bem (ue o sen%or não (uer ou não pode a+rou/ar o arco (ue o lia a 0spinosa.

2. D. ' $omo assim1

L.O ' (ue várias das +rases (ue o sen%or acabou de dizer reapareceram trinta edois anos depois da primeira publicação do livro (ue pretendo pre+aciar a(ui em sua

tradução brasileira. 0las estão em +orte ressonNncia com o livro, comprovando a perman7ncia de uma atenção dedicada a 0spinosa, atenção sempre estudiosa, mas nãoisenta da(uelas @audácias (ue marcam os acordos discordantes entre pensadores .

2. D. ' Decerto o sen%or tem razão. #esmo (uando m6nimas, as variações+ecundam o pluralismo das leituras. Qma primeira variação é +acilmente observável-esse livro pode ser lido como monora+ia universitária ane/ada ao processo do meudoutoramento. &oc7 sabe >propon%o (ue nos tratemos por voc7?8

L.O ' Rtimo 0ssa palavrin%a ou palavrão ' sen%or ' não pára de pipocartranscendentes numa conversa (ue não precisa deles8

2. D. ' &oc7 sabe (ue eu trabal%ei as ideias de 0spinosa da maneira a @mais séria poss6vel. !iz isso, @seundo as normas da %ist4ria da +iloso+ia (ue vioravam CSFentão. 0u me submetia, assim, a uma riorosa disciplina, a mesma (ue e/ercia emmeu tempo de estudante uma @+unção repressora. O parado/o é (ue essa +unção demodo alum obnubila min%a boa lembrança de pro+essores (ue marcaram min%a+ormação, como !erdinand Al(uié e ean H"ppolite, além de ean a%l, sem dBvida,aos (uais não s4 %omenaeei em livros como dedi(uei amor e admiração . $ontudo,embora se possa ler 0spinosa e o problema da e/pressão como trabal%o universitário,ele implica, como voc7 está dizendo, tensões variadas. 0 mais- ele implica um modode pensar (ue torna porosos os limites do comentário acad7mico. &oc7 concordacomio1

L.O- 0u até diria alo mais- raças a uma sinuosa imbricação de problemas,aparecem no seu livro tonalidades a+etivas e zonas conceituais de interpenetração entreo te/to espinosano e o seu pr4prio te/to. =o meu caso de leitor, ao imerir nessaatmos+era, +i(uei e/posto a uma reião de contaminações rec6procas. #eu pre+ácio ou

 pos+ácio, não poderá, in+elizmente, mapear esses dom6nios de invasão mBtua sem correr o risco de meramente *ustapor passaens, *ustaposição (ue acabaria perdendo o (ue secria entre esses distintos +lu/os e/pressivos, coisa (ue s4 as mil e uma leituras poderãocol%er até mesmo com imenso prazer. 0 dio mais- se*a (ual +or a variação privileiada

 pelo leitor, ao percorrer lin%as e entrelin%as do seu livro, anotandoas como pes(uisadoratento 3 letra das palavras ou des+rutandoas como (uem se dei/a levar pelo impulso

inovador no dom6nio dos conceitos e da sensibilidade, sua leitura terá provavelmente aoportunidade de reanimar impressões te4ricoemocionais (ue voc7 pr4prio, Deleuze, diz

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ter vivido ao encontrar novos ares em meio a novos modos de pensar. Lembraseda(uele @ar puro (ue l%e vin%a de 9artre >2UVE2UWV?, esse @pensador privado, comovoc7 disse, tão atento 3s di+6ceis articulações entre @e/i7ncias coletivas e a@sub*etividade da pessoa 1 0 essa impressão de novos ares restaurase em suaconviv7ncia com o pensamento de 0spinosa, esse nascedouro de ventanias. Ao ler seus

retornos a 0spinosa, sinto (ue ele é o pensador absoluto (ue @mais l%e +ez, como voc7 *á escreveu, @o e+eito de uma corrente de ar, dessas capazes de nos @empurrar pelascostas toda vez (ue o lemos. #as, retomando o (ue disse antes, ac%o (ue seus contatoscom 0spinosa não apenas conservam como desdobram esses +lu/os de novos ares8

2. D. CrindoF ' á (ue é para manter essa +ebre em nossa conversa, (uero tambémdizer alo mais- (uando se l7 0spinosa, ele @nos +az montar uma vassoura de bru/a. 0 a cada ano, em toda parte, surem novos estudos dedicados a esse bru/o doséculo X&<<. impressionante isso.

CWF L.O ' $om e+eito. $omo o seu livro suscita a aventura de nos dei/are/postos a uma multiplicação de novos ares, posso dizer (ue ele também propicia aventura de voarmos aora ao sabor de uma dupla vassoura en+eitiçada, por(ue voc7

também, Deleuze, tem alo de bru/o.Gérard Lebrun C(ue por ali passava na(uele momentoF' $oncordo com essa

observação. verdade (ue Deleuze é bru/o. )rova disso, como *á escrevi uma veznuma re+er7ncia 3 tradução brasileira de A Dobra. Leibniz e o Parroco, é (ue, ao ler esselivro, a ente não recon%ece a(uele Leibniz (ue estudamos ao lono dos anosanteriores5 mas o enraçado é (ue a ente não mais se livra da leitura proposta porDeleuze, e passa a ver Leibniz com os ol%os desse bru/o. 0 passamos a voar com essasnovas vassouras, como voc7 diz. #as é também claro (ue %á sempre a possibilidade deriscos, de enanos8 desculpemme a intromissão, eu estava s4 de passaem, levado

 pelos meus @passeios ao léu, até loo.L.O ' Aradeço sua atenção, caro Lebrun. Até loo. etomando nossa conversa,

Deleuze, eu (uero (ue meu pre+ácio ou pos+ácio não se entreue apenas a del6rios ou secontente com (uedas nesta ou na(uela insu+ici7ncia interpretativa. preciso (ue ele semanten%a em vYo, isto é, em seu direito de convidar os leitores a estarem atentos aodinamismo e 3 e/perimentação das ideias. Há um coriscar de (uestões em seu livro.0las não desmaiam em erudições mon4tonas. As di+erenças rebril%am no seu livro, nãoapenas em +unção de contendas +ilos4+icas passadas, mas realçam uma espécie deinsist7ncia, a da permanente necessidade da criação conceitual, pois campo

 problemático e plano de iman7ncia são coe/tensivos. <sso me parece coincidir com o pr4prio +io condutor do pensamento (ue se constr4i no seu livro- @eisnos CsempreF+orçados a pensar e sentir a di+erença , como voc7 escreveu uma vez.

2. D. ' 9im, mas tomemos o cuidado a (ue Lebrun nos convidou ao passar pora(ui. Iuando voc7 +ala nesse +io, ac%o (ue voc7 está atento ao seuinte- esse +io éirredut6vel ao de Ariadne. 0u não distribuo aos leitores um novelo (ue os levaria aum Bnico 0spinosa, mas ao multiespinosismo dos meus encontros. O labirinto dasmin%as +re(Zentações é rizomático, como dir6amos Guattari e eu >e também 0cona(uele )os+ácio ao =ome da rosa?.

L.O ' $laro 0sse labirinto é de outra comple/idade. 0m +unção disso, perunto se não seria poss6vel tecer um parado/al preceito de leitura- o de +re(Zentarcom aleria os *oos da di+erença, desde as *oadas irYnicas no n6vel dos princ6pios atéas %umor6sticas (ue se dispersam em conse(Z7ncias. Tem alum sentido isso1

CUF G. D. ' Ac%o (ue tem alum sentido, pelo menos para mim, mas com o

cuidado de se tomar como operat4rio na iman7ncia um princ6pio (ue co+uncione comela mesma, o princ6pio da a+irmação di+erencial.

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L.O ' 9eria poss6vel esclarecer um pouco mais isso12. D. ' &e*amos se podemos +azer isso numa simples conversa. )enso (ue o

 princ6pio de a+irmação di+erencial é pr4prio das lin%as de +ua do labirintorizomático. 0ste conta com +ios de metamor+ose (ue implicam o princ6pio a (ue mere+iro. $omo implica a a+irmação di+erencial, o +io de metamor+ose corresponde,

 primeiramente, a um momento em (ue o pensamento conceitual se sente plenamente bem com a liberação da(uilo (ue ele mais tentou disciplinar ao lono da %ist4ria- adi+erenciação (ue o ameaçava de +ora e (ue acabou por invadilo, e/plodindo asarmadil%as da interioridade5 em seundo luar, esse +io de metamor+oses nos diz o(uão importante é e+etuarmos nosso es+orço pr4prio e, no caso presente, pore/emplo, ele nos a*uda a não nos tornarmos bobamente seuidores deste ou da(uele

 pensador5 em terceiro luar, o cuidado com a di+erença e(uivale a estar sempre 3espreita dos sinos, disso (ue nos +orça a pensar, coisa (ue aprendi com os animais,como voc7 destacou loo no in6cio da nossa conversa, animais (ue vivem 3 espreitados sinos (ue os acossam em seus territ4rios. )ois bem, esses cuidados e espreitasdevem constar, como diz voc7, entre os constituintes de uma leitura plural, esse tipo

de leitura (ue eu ostaria (ue +izessem dos meus te/tos dedicados a 0spinosa, *á (ueé disso (ue estamos +alando. #as ve*o (ue L"otard *á está nos ouvindo, e nos sorri.Poa tarde, L"otard. $omo vai1

L"otard ' Pem, diamos (ue bem. 0stava de passaem por esta linda praça, vivoc7s, me apro/imei para cumprimentálos5 ouvi suas Bltimas palavras, Deleuze, e s4acrescentaria uma observação. #as, antes, ostaria de aradecer a voc7 pelas bondosas

 palavras com (ue recebeu meu Discours, +iure .2. D. ' =ão +oi bondade min%a, mas admiração pelo seu man6+ico livro.

L"otard ' Pom, min%a observação é esta, con+iando (ue ela se*a Btil a seuinterlocutor. 9e a leitura do seu primeiro livro dedicado a 0spinosa se mantiver abertaao +lu/o das lin%as de di+erenciação, ela certamente se trans+ormará em col%eitacomple/a, se*a da(uilo (ue o leitor vem buscando, se*a da(uilo (ue o a+ronta como aloinesperado. 0 dio também o seuinte- se voc7 vier a +alecer antes de mim, Deleuze, eul%e +arei uma %omenaem no Libération apontando esse pendular da leitura entre oesperado e o inesperado. )or (ue +arei isso1 )or(ue @todos os seus livros +oram +eitos

 para col%ermos neles tudo o (ue precisamos. )rincipalmente a(uilo de (ue não precisamos por não termos nem ideia da sua e/ist7ncia. O leitor, portanto, estáconvidado C[VF a e/plorar inventivamente essa dupla +ace da col%eita, por(ue, comvoc7, Deleuze, @comentar é @inventar. 9eu livro, portanto, pode ser duplamente Btil,

 principalmente se levarmos em conta (ue a @utilidade se mede pelo aumento da pot7ncia de inventar .

C0 lá se +oi L"otard pela praça a+oraFL.O ' uma pena (ue L"otard não possa continuar conosco. O (ue ele disse bastaria até mesmo como nBcleo do meu pre+ácio ou pos+ácio2. D. ' verdade, mas devemos acol%er o bom acontecimento (ue ele nos

 proporcionou, sua enerosa observação, não destitu6da de certo sorriso, o (ue é bomL.O ' $omo voc7 retomaria a observação +eita por ele a prop4sito desse

 pendular da leitura, levando em conta min%a di+iculdade de pre+aciar a tradução do seulivro1

2. D. ' 0le nos diz (ue comentar é inventar8L.O ' $orreto. <sso me parece importante 

2. D. ' #as é claro (ue não se trata de uma atividade inventiva dei/ada apenas 3deriva de saltos +iccionais da imainação.

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 L.O ' $omo assim1

2. D. ' (ue, pelo menos no caso de 0spinosa, a invenção, essa atividadeconsistente em @+ormar pensamentos, encontra sua @via correta (uando se e/ercitaem meio ao es+orço investido numa @de+inição dada .

 C0 #arilena, (ue por ali passeava com seus orientandos na(uele momento, aoouvir o (ue dizia Deleuze, sorri acenando sua aprovação e dizendo o seuinte-F

 #arilena ' )odese ter uma ideia dessa elevada autoe/i7ncia espinosana

(uando se leva em conta a tecedura do seu universo de de+inições . L.O ' 0stou aradecido pela sua observação, prezada #arilena. =ão poderia

+icar conosco mais aluns instantes1 #arilena ' Gostaria, mas estou atare+ad6ssima com este meu rupo dos

$adernos 0spinosanos . Até outra vez. L.O ' Até breve. C&oltandose para Deleuze, retoma a observação de

#arilenaF. =ão seria absurdo ver nesse universo uma espécie de rede de controle da pr4pria atividade inventiva, um meio de lançarse a invenções a partir de um +irmeancoradouro estruturado em de+inições1 Qma espécie de ant6doto ao del6rio dos vYosdesamparados ou uma rede +avorável 3 solidez da pr4pria C[2F liberdade de pensar1$omo as de+inições, na tica de 0spinosa, estão voltadas inicialmente ao Absoluto,

 procurouse ver a6 um domatismo espinosista, o (ue é uma +orma de encerrar adiscussão, não ac%a, Deleuze1

 2. D. ' 9im, mas devo salientar o seuinte- o (ue está em pauta nesse cuidado com

a invenção é menos uma neação da @pot7ncia de imainar e mais a a+irmação do *oo (ue com ela estabelece uma outra pot7ncia nela envolvida, a @nossa pot7ncia decompreender. Assim, @(uanto mais compreendemos coisas, menos +ormamos+icções de 7neros e espécies.

 L.O ' 0 isso não comporta um acerto de contas com Arist4teles1 

2. D. ' 9im, evidentemente. 0stou sublin%ando, *ustamente, o modo como0spinosa, para além de Arist4teles, dá outro alcance ao método sintético. 0star atento

a esse *oo é envolverse com os meios (ue @permitem 3 pot7ncia de pensar ir de umser real a outro real :sem passar pelas coisas abstratas; . L.O ' <sso me +az lembrar de uma e/pressão de #arilena- tratase da

@subversão espinosana , (ue voc7, Deleuze, parece concentrar nessa atenção a umaideia de pot7ncia irredut6vel 3 ideia de mera possibilidade. Iuando me lembro do(uanto voc7 se interessa por uma teoria do acontecimento , noto +acilmente nela aimportNncia da ideia espinosana de pot7ncia, de pot7ncia de air, em Bltima instNncia.

 2. D. ' De certo modo, concordo com voc7, mas é preciso levar em conta aluns

tensores +undamentais dessa dita teoria- os acontecimentos e seus sinos '

implicando di+erenças de intensidade, o poder de a+etar e ser a+etado, tanto nosmovimentos e repousos (uanto nas lentidões e velocidades ' estão liados a um

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comple/o circuito de imbricações ou preensões- as (ue vibram entre problemas ecircunstNncias e as (ue oscilam entre a variação cont6nua da pot7ncia de air e avariação cont6nua da pot7ncia das coisas.

 A+irmação na iman7ncia

 L.O ' Atrevome a dizer (ue esse ponto de vista convidanos a ver cruzamentode dinamismos implicados nas de+inições espinosanas. $onvidanos a encontrar em0spinosa uma viva atenção a essas dimensões da variação. =ão é 3toa (ue sua ideia de

 pot7ncia promove uma redistribuição dos entes, uma nova maneira de pensálos, perceb7los, sentilos.

 2. D. ' $orreto, o (ue nos leva de volta ao acerto de contas com Arist4teles-

@di+erenciandose unicamente como raus de pot7ncia, os entes *á não se distinuem pela sua +orma, seu 7nero, sua espécie, sendo tudo isso secundário, derivado. C[\F0 mais- para além da e(uivocidade linuaeira do ser, assim como das suas

univocidades intraenéricas e das suas analoias, essa ideia dos raus de pot7ncia pode ser pensada como @+undamentalmente liada 3 ideia de univocidade do ser, demodo (ue @um s4 e mesmo ser se diz num s4 e mesmo sentido, no sentido da

 pot7ncia. <sso (uer dizer (ue a @di+erença entre os entes é unicamente de rau de pot7ncia na realização de um s4 e mesmo ser .

 L.O ' $omo arrumar os arumentos nesse sentido1 

2. D. ' 9erá (ue sua curiosidade não acabará atrapal%ando nossa concentração noseu pre+ácio ou pos+ácio1 De (ual(uer modo, não é o caso de tratarmos a(ui dessetema tão controverso. esumo apenas aluns passos da min%a arumentação.etomo certa passaem da tica da seuinte maneira- Deus @é causa de todas ascoisas no mesmo sentido em (ue é causa de si . Iuer dizer (ue causa e+iciente ecausa de si são ditas no mesmo sentido e, portanto, (ue @Deus produz como elee/iste. $oncentro nessa conclusão o (ue, para mim, são @dois aspectos daunivocidade espinosana, a univocidade da causa e a univocidade dos atributos. )or(ue posso dizer isso1 )or(ue, de um lado, Deus @produz necessariamente e, deoutro, @ele produz necessariamente nesses mesmos atributos (ue constituem suaess7ncia. )ois bem, o (ue @se e/prime no conceito espinosano de @iman7ncia, é

 *ustamente essa @dupla univocidade da causa e dos atributos. <sso sini+ica (ue oconceito espinosano de iman7ncia e/prime uma unidade e uma identidade- a

@unidade da causa e+iciente com a causa +ormal e a @identidade do atributo tal comoele constitui a ess7ncia da substNncia e tal como ele está implicado pelas ess7ncias decriaturas.

 L.O ' Assim sendo, pareceme (ue sure um problema- reduzidas a

@modi+icações ou a modos, não estariam as criaturas perdendo @toda ess7ncia pr4priaou toda pot7ncia1

 2. D. ' =ão, pois a @univocidade da causa não sini+ica (ue a causa de si e a causa

e+iciente ten%am um s4 e mesmo sentido, mas (ue ambas se dizem no mesmo sentidodo (ue é causa. 0ntão, a+irmar a univocidade dos atributos não (uer dizer (ue @a

substNncia e os modos ten%am o mesmo ser ou a mesma per+eição, pois @asubstNncia é em si, ao passo (ue as @modi+icações estão na substNncia como em

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outra coisa. &ale dizer- @os mesmos atributos, tomados no mesmo sentido,constituem a ess7ncia de um e estão implicados pela ess7ncia do outro.

 L.O ' 0 se a ente comparar num relance essa construção conceitual do

un6voco espinosano com a pensada em relação a Duns 0scoto >2\MM2VW?, a (ue

conclusão c%earemos1 C[F G. D. ' #uito simples- a comunidade ontol4ica espinosana não se

limita, como em Duns 0scoto, ao pensamento de um @9er neutralizado, de um ser@indi+erente ao +inito e ao in+inito. Ora, o @9er (uali+icado da substNncia é o (ue sea+irma na iman7ncia espinosana, nessa @nova +iura tomada pela teoria da univocidade.Devemos anotar esse di+erencial espinosano- ao mesmo tempo em (ue se a+irma (ue @asubstNncia permanece em si nesse 9er, é @nele também (ue os modos permanecemcomo em outra coisa .

 L.O ' #as não é esse di+erencial, posto como necessário no con+ronto a6

esboçado entre 0spinosa e Duns 0scoto, (ue voc7 estabelece como sendo aindainsu+iciente na sua pr4pria construção conceitual da univocidade do ser1

 2. D. ' 9im, essa comunidade ontol4ica não satis+az ainda o pro*eto de uma

radical erradicação da @indi+erença entre a substNncia e os modos5 para tanto, @seria preciso (ue a pr4pria substNncia +osse dita dos modos e somente dos modos.

 L.O ' 9uas leituras de =ietzsc%e certamente o socorreram nesse momento1 

2. D. ' $ertamente, não %á por(ue near isso. #as o meu trabal%o não se reduz a procurar aliados para =ietzsc%e. =em ele precisa disso e nem min%a admiração porele é a de +iliação. 0stabeleci alianças, apropriandome construtivamente domomento nietzsc%eano do un6voco, isto é, da a+irmação do ser como devirimplicando a vontade de pot7ncia e o eterno retorno seletivo da di+erença. 0ra

 preciso, ainda, (ue o ser viesse a ser univocamente dito como di+erenciaçãocomple/a, vale dizer, como iman7ncia (ue se tece na dupla di+erenciação, a virtual ea atual, intensivamente constitutiva de todo e (ual(uer ente. 9e*a como +or, com0spinosa, t6n%amos alcançado a(uele @momento do un6voco, momento prodiioso,no (ual @o ser un6voco dei/a de ser neutralizado, tornandose e/pressivo, tornandose @ob*eto de a+irmação pura .

 

L.O ' Iuer dizer, em resumo, (ue seu livro não é um *ulamento de 0spinosa enem milita por um espinosismo subsumido por um nietzsc%eanismo1 

2. D. ' <sso é mais do (ue 4bvio 0screvi e volto a sublin%ar (ue pensei 0spinosacomo o +il4so+o da a+irmação na iman7ncia. #as é também verdadeiro (ue, com

 =ietzsc%e, procurei destacar e radicalizar a @a+irmação do mBltiplo, a @aleria prática do diverso, aleria para mim imprescind6vel ao @+iloso+ar cr6tico dos@sentimentos neativos ou das pai/ões tristes, estes +undamentos do @poder do@niilismo. #as todos sabemos, inclusive o pr4prio =ietzsc%e, (ue @*á Lucrécio e0spinosa escreveram páinas de+initivas a esse respeito, tendo ambos, @antes dele,concebido @a +iloso+ia como o poder de a+irmar, como a luta prática contra as

misti+icações, como a e/pulsão do neativo . 

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C[[F L.O ' 0 voc7 mesmo, permitame dizer, manteve sempre essa perspectiva. ecordome, aliás, de outro eloio de L"otard a voc7- na(uele @+im deséculo niilista, dizia L"otard, voc7 @era a a+irmação .

 2. D. ' #as tudo isso e/ie um cuidado- nunca a+irmar a iman7ncia como imanente

a alo, pois tal operação +aria desse alo um transcendente, e a pr4pria iman7nciaseria neada. L.O ' Ac%o (ue sua pr4pria maneira de :escrevercom; e não :sobre; um autor é

 praticante desse cuidado. 0m vez de sobreporse como %eeliana ave de #inerva,sempre disposta a dar um olpe dialético e a emitir seu lBubre pio do neativo, a

 bru/aria do seu livro consiste em desdobrarse como a+irmação num plano deiman7ncia. neste plano (ue suas multialianças conceituais operam sempre nessereime da ideia de um ser (ue se diz univocamente como di+erenciação comple/a emtodo e (ual(uer ente. )or isso, não optei por um pre+ácio ou pos+ácio interessado emdiscutir a(ui se os seus comentários t7m ou não razão ao pé da letra do te/to de

0spinosa. Há vibrações conceituais no pé de toda letra escrita por um +il4so+o, razão pela (ual somos sempre convidados a +icar atentos 3 letra e ao esp6rito, isto é, atentos,como voc7 disse uma vez, ao estado de @permanente crise da +iloso+ia, ao seu estado

 problemático de intenso *oo entre as @saraivadas dos conceitos, os @abalos do planode iman7ncia e os @solavancos dos personaens conceituais . Ac%o mesmo (ue nossaconversa é um esboço dessas vibrações.

 )eças de uma arte dos encontros 

2. D. ' um prazer concordar com voc7 a esse respeito. Aliás, noto (ue voc7 opta por variar no pr4prio momento em (ue se alia. Gostaria de ouvilo um pouco mais8

 L.O ' )enso (ue o estado de crise a (ue voc7 e Guattari se re+erem oscila desde

os casos de abandono de uns pensadores pelos outros até os casos em (ue nele sedinamizam sinulares coesões. 9ão estas Bltimas (ue ocorrem inBmeras vezes entrevoc7 e 0spinosa- dei/ando de lado os personaens conceituais, diamos (ue entre voc7socorrem alianças conceituais num plano de iman7ncia (ue se relança em mil e um

 platYs5 essas alianças são abertas, imbricamse com outras, como a(uelas entre voc7 e =ietzsc%e, entre voc7 e Person etc, sem (ue se leitime, se*a ao pé da letra ou nasvibrações do esp6rito, a tentativa bem ou mal%umorada de colocar uma como centro dasdemais. Há muitas +uas curtocircuitando esses aenciamentos conceituais. C[EF

#uitos anos depois de ter escrito seu 0spinosa e o problema da e/pressão, voc7 c%eoua a+irmar a @rande identidade 0spinosa=ietzsc%e . 

2. D. ' 0 voc7 não ostou disso, pelo (ue noto L.O ' =ão é bem isso. (ue voc7 correu o risco de ser visto como aluém

es(uecido da prioridade do seu pr4prio princ6pio da di+erenciação5 como aluém (ue,tendo visto uma @inspiração espinosista em =ietzsc%e, teria es(uecido sua poss6veladesão 3 cr6tica +eita por este, 3 cr6tica seundo a (ual @0spinosa não soube elevarse 3concepção de uma vontade de pot7ncia . Ora, a(uela e/pressão e as insinuações dees(uecimento tornam ainda mais necessário abandonar certo preconceito não incomum-

o de %iienizar as lin%as (ue multirrelacionam os pensadores, e *ulálas a partir de+iliações, de in+lu7ncias e de outros operadores da mesma espécie, todos dados 3

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+abricação de árvores +ilos4+icas. A respeito da rande identidade =ietzsc%e0spinosa,em particular, estão em pauta inBmeros @pontos de cruzamento entre +ormulaçõesdesses +il4so+os, pontos (ue voc7 mobiliza raças a uma @arte das dobras, comosalienta )ierre ]aoui. Al%eia 3 tentação de uma @s6ntese Bltima, essa arte é posta, istosim, @3 serviço da iman7ncia .

 2. D. ' 0stá certo, concordo (ue se trata de uma arte das dobras, contanto (ueeste*amos atentos aos vincos dessas dobras, vincos (ue se constituem *ustamente pela

 passaem de +ios de metamor+ose. L.O ' )ois bem, essa arte, (ue não apenas dobra, mas desdobra e redobra, se

insinua por todos os interst6cios do con*unto da sua obra, compondo ou retomandoencontros os mais variados, de lona ou curta duração. =oto (ue no con*unto de todosesses encontros, os (ue contam com o nome de 0spinosa estão entre os mais numerosos.

 2. D. ' mesmo1 &oc7 notou isso, é1 Ac%o (ue eu mesmo não saberia apontar um

 por um. L.O ' 0 nem mesmo eu saberia apontálos de mem4ria. #as como pressenti

(ue nossa conversa c%earia a este ponto, anotei aluns e/emplos de tais encontros a(uineste papel, a+ora a(ueles *á mencionados e outros constantes de estudos dedicados porvoc7 diretamente a 0spinosa.

 2. D. ' Dei/eme dar uma ol%ada nessa lista de encontros (ue eu teria arrumado

entre 0spinosa e outros. C!oi então (ue L.O passou 3s mãos de Deleuze a seuinte lista de encontrosF- C[MF

 ' entre 0spinosa e )roust em torno do @%umor *udeu e da @linuaem dossinos 5

 ' %á um inesperado e L.O encontro entre 0spinosa e 9ade, pois, apesar dosadismo ir @do neativo, como processo parcial de neação sempre reiterada, 3 neaçãocomo ideia total da razão, %averia um @espinosismo em 9ade, presente no @del6rio

 pr4prio da razão demonstrativa, na a+irmação da @+orça demonstrativa, no surimentodo @instinto de morte como @pensamento terr6vel, como uma ideia da razãodemonstrativa 5

 ' entre os muitos encontros entre Lucrécio e 0spinosa, %á um relativo 3s@in(uietações da alma no %omem reliioso 5 ' entre 0spinosa, !reud, illiam ames, Person a respeito da @comunicação

dos inconscientes 5 ' entre, de um lado, a teoria da @distinção real em 0spinosa e Leibniz, (ue

 postula a pertença de elementos simples realmente distintos, embora nãonumericamente distintos, a um mesmo ser ou substNncia ' teoria cu*a @+onte, seundoGilson, remonta a Duns 0scoto ' e, de outro lado, uma teoria do dese*o pensado como

 positiva conectividade entre elementos não liados por @laço direto, compondose,assim, um corpo sem 4rãos, @um corpo pleno substancial (ue não +uncionaabsolutamente como um oranismo . Tecido em lin%as de +ua, esse corpo está como

(ue vinculado a um virtual @desenvolvimento espontNneo das +orças, esta @ideia+undamental de 0spinosa 5

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 ' entre ^a+_a e a presença impl6cita de 0spinosa no tema da iman7ncia, da *ustiça imanente, da aleria e do intensivo 5

 ' entre 0spinosa e Artaud reunidos na mesma perunta- @a+inal, o rande livrosobre o $orpo sem Rrãos não seria a tica1, ou em torno do personaem Helioábalo,isto é, da e/perimentação na (ual @anar(uia e unidade +azem @uma s4 e mesma coisa,

a @mais estran%a unidade (ue s4 se diz do mBltiplo, a @multiplicidade de +usão, as@maneiras de ser ou modalidades como intensidades produzidas, vibrações etc 5 ' entre 0spinosa e o naturalista Geo++ro" 9aintHilaire, nas @lembranças a um

espinosista, em torno da ideia de se c%ear a elementos (ue s4 se distinuem por@movimento e repouso, lentidão e velocidade sobre um @plano de iman7ncia ou deunivocidade, isto é, sobre @um plano de consist7ncia ocupado por uma imensa má(uinaabstrata com aenciamentos in+initos, plano (ue a linuaem s4 e/pressa C[SF (uandonela realmente +unciona o (ue está impl6cito nas @(uestões das crianças, os @artiosinde+inidos, os (ue aparecem como nesta perunta- @;como uma pessoa é +eita1;,razão pela (ual os autores concluem (ue @o espinosismo é o devircriança do +il4so+o 5

 ' entre a @verdadeira tica (ue 0spinosa escreveu e certa @etoloia, esse tipo

de estudo dos @mundos animais levado a cabo por &on Qe/_Zll, estudo (ue @busca osa+ectos ativos e passivos de (ue o animal é capaz num aenciamento individuado de (ueele +az parte, como dizem as @lembranças de um espinosista 5

 ' entre 0spinosa e $%arlotte Pront`, Lorca, Larence, !aul_ner, #ic%elTournier, )ierre Poulez etc, visto surirem @%ecceidades nas obras de cada um deles,isto é, @uma estação, um inverno, um verão, uma %ora, uma data, acontecimentos (uese caracterizam por @modos de individuação irredut6veis a uma @pessoa, su*eito, coisa,substNncia, individuações de tal modo @concretas (ue elas @valem por si mesmas ecomandam a metamor+ose das coisas e dos su*eitos 5

 ' entre 0spinosa, impl6cito, !rancis Pacon e Artaud em torno do @corpo sem4rãos e das aventuras picturais entre o ol%o e a mão 5

 ' entre 0spinosa, impl6cito, e Person a respeito do plano de iman7ncia como@aenciamento ma(u6nico das imaensmovimento e como @variação universal 5

 ' entre 0spinosa, impl6cito, e &ertov a respeito do @sistema em si da variaçãouniversal 5

 ' entre a reversão espinosana da +iloso+ia ' levada aora 3 auda consci7ncia do(uanto o corpo @+orça a pensar a vida, (ue é @o (ue escapa ao pensamento ' e ocinema (ue, @pelo corpo, e não mais por intermédio do corpo, se une com o esp6rito,com o pensamento, destacandose a6 as artes de Antonioni e de $armelo Pene 5

 ' entre 0spinosa, impl6cito, e !oucault a respeito da possibilidade de se pensarcomo @poder de ser a+etado a ideia de @matéria da +orça e de se pensar como @poder

de a+etar a ideia de @+unção da +orça 5 ' entre 0spinosa e Person, de um lado, e !oucault, de outro, a respeito dodistinto encamin%amento dado aos seus respectivos dualismos de partida- como @etapa

 provis4ria ultrapassada em direção a um monismo, no primeiro caso, e, em !oucault,como @repartição preparat4ria (ue opera no seio de um pluralismo imerso na@multiplicidade das cone/ões de +orças, de tal modo (ue o pr4prio @dualismo C[WF da+orça, a+etar'ser a+etado, é , em cada uma, somente o 6ndice da(uela multiplicidade, @oser mBltiplo da +orça 5

 ' entre 0spinosa e !oucault a respeito da posição de ambos em prol da@liberação do %omem, posição (ue espantava não poucos @cretinos, pois,

 peruntavam, como seriam esses pensadores +avoráveis a essa liberação se o primeiro

@não acreditava em sua liberdade e nem mesmo em sua e/ist7ncia espec6+ica, en(uantoo seundo @proclamara a tão mal compreendida ideia de @morte do %omem 5

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 ' entre 0spinosa, )ascal e Leibniz a respeito da distinção das ordens dein+inidade 5

 ' entre 0spinosa e !ic%te, pois %á um @pro+undo espinosismo no @método pelo (ual !ic%te elabora uma oposição >*á mostrada por Gueroult em seu estudo sobre Aevolução e a estrutura da Doutrina da $i7ncia? ao @método anal6tico de ^ant, oposição

tão comple/a (uanto a(uela >(ue Gueroult e/põe no primeiro volume do seu 9pinoza,também publicado, como 9)0, em 2UMW? notada entre a @ordem eométrica anal6tica deDescartes e a @ordem eométrica sintética de 0spinosa

 ' entre 0spinosa e !rançois $%Ntelet ' ambos capazes de inspirar os combates naiman7ncia ' em torno da cr6tica aos (ue @lutam pela sua servidão como se +osse sualiberdade e em torno da atenção 3 @sinularidade em detrimento do @universal, do@abstrato (ue nada e/plica 5

 ' entre 0spinosa e il%elm eic%, pois este @redescobriu o problema (ue0spinosa @soube levantar, e (ue os autores de O Antidipo conservam como sendo @o

 problema +undamental da +iloso+ia pol6tica, assim e/presso- @por (ue os %omenscombatem pela sua servidão como se se tratasse da sua salvação1 .

 ' entre 0spinosa e um certo @espinosismo encarniçado presente no@esotamento do poss6vel em Pec_ett .

 ' entre 0spinosa e ^ant, não por %aver alo @em comum entre eles, mas por(uesão admiráveis criadores de conceitos, como o da reversão pela (ual ^ant submete o@movimento ao @tempo. )orém, como os conceitos estão sempre liados a@problemas, caracterizandose cada +iloso+ia por intersecções de ambos, e como cadaum de n4s, raças a um @mistério não elucidado, tem mais ou menos @a+inidade comeste ou a(uele @7nero de problemas, donde a presença do osto em +iloso+ia, entãonossa admiração por este ou a(uele rande pensador acaba sendo distintamente +iltrada,

 prismatizada, pelo estran%o C[UF v6nculo te4ricoa+etivo (ue nos lia a uma>in?determinada zona do campo problemático. Ora, como Deleuze, a respeito da ideia decr6tica, se @sente mais liado aos problemas (ue se propõem buscar meios para acabarcom o sistema do *u6zo, e como a @cr6tica _antiana aparece como o @método do@tribunal da razão, então a admiração por a+inidade problematizante levao a procuraralianças mais constantes com 0spinosa, =ietzsc%e, Larence, Artaud8 . 0m outrostermos, como, sob certo aspecto, a $r6tica da razão *udicativa é o livro de ^ant (ue@erie um +antástico tribunal sub*etivo, então a @verdadeira cr6tica do *u6zo, dizDeleuze, a(uela (ue rompe com a @tradição *udaicocristã, é *ustamente a @levada acabo por 0spinosa e, depois, @retomada e relançada por (uatro randes disc6pulosseus- =ietzsc%e, Larence, ̂ a+_a, Artaud, tendo os (uatro, aliás, @padecido do *u6zo.

 Ousadia de pensar, air, amar  

2. D. ' !ico admirado com essa lista, sinal de uma notável paci7ncia 0u teria aloa dizer a respeito dela, mas (uero con%ecer a utilidade dela para o seu pre+ácio ou

 pos+ácio. L.O ' 0la é apenas uma listaem de recortes de encontros (ue o envolveram

com outros +il4so+os, mas (ue implicaram o nome de 0spinosa. 0la seria ainda maislona. #as o *á apontado é su+iciente, pelo menos como con*unto de sinais capazes denos alertar em relação ao seuinte- o (ue reBne pensadores empiricamente separados no

tempo e no espaço é coisa e+etivamente comple/a, é um notável e parado/al +azer *unto,é um sinular acordo discordante entre pot7ncias de air, e de air em +unção de

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 problemas com os (uais estamos vinculados de maneira nem sempre clara e distinta, o(ue torna pelo menos precária a pretensão de *ular tais reuniões a partir de critériose/teriores a elas e até mesmo de critérios e/tra6dos de um dos participantes apenas, se*aele o convidado ou o an+itrião. Do ponto de vista do pre+ácio ou pos+ácio ao seu livro,ac%o (ue essa listaem carece de dois reparos. )rimeiro, ela não (uer dissuadir o leitor a

não anotar os eventuais erros de leitura porventura praticados por voc7. 2. D. ' Também ac%o importante (ue voc7 não pretenda inibir o senso cr6tico dos

leitores. )osso +azer isto ou a(uilo com o pensamento al%eio, mas, ao dizer (ue+ulano disse alo, é preciso (ue ele o ten%a dito em alum luar.

 CEVF L.O ' $ertamente. O leitor é livre para assinalar erros de leitura5 é livre

até mesmo para de+ender o autor comentado dos erros cometidos por comentadores,embora eu ac%e (ue as obras notáveis não careçam de de+ensores ordinários. 0 (uandoisso ocorre, eralmente em notas de rodapé, não é a rande obra (ue está em *oo, massim as *oadas entre ordinários. Outra coisa- o leitor é ainda livre se*a no sentido de

criar seu pr4prio encontro com o pensamento de 0spinosa ou no sentido da mel%orapreensão poss6vel dos encontros do comentador com 0spinosa. Dio também (ue essescuidados a*udarão a ver mel%or o (ue acontece neste 0spinosa e o problema dae/pressão, onde comentário e invenção se articulam na ousadia de pensar e não nosaspectos cansativos e repressivos da mania de superar ou de aterse aos aspectosneativos da apreciação.

 2. D. ' &oc7 sabe (ue essa (uestão não dei/a de ser delicada. )or (ue escrevo um

livro1 Talvez se*a mel%or (ue ela +i(ue um pouco mais clara. #as eis (ue seapro/ima &illani e ele deve ter alo a dizer5 certa vez escrevi a ele uma carta a esserespeito. Lembrase, &illani, (ue certa vez eu l%e escrevi uma carta tratandorapidamente dos aspectos (ue me levam a escrever um ou outro livro1

 &illani ' Poa tarde, amios. claro (ue me lembro. 0screvi um te/to no (ual a

transcrevo parcialmente . =a carta voc7 dizia tr7s coisas capazes de *usti+icar ae/ist7ncia de um livro- primeiramente, como @;+unção pol7mica;, o livro deve escapardo @;erro; cometido por outros livros dedicados ao @;mesmo tema ou a um temavizin%o;. >)or e/emplo, seu )roust e os sinos pretende combater o erro de privileiara mem4ria como c%ave de leitura do obra de )roust?. 0m seundo luar, como @;+unçãoinventiva;, o livro merece e/istir (uando conseue evidenciar (ue @;alo essencial +oies(uecido sobre o tema;. >=o caso do e/emplo em pauta, +oram es(uecidos *ustamente

os @;sinos;?. !inalmente, como @;+unção criadora;, sua carta diz (ue um livro merecee/istir (uando se apresenta como ocasião em (ue se é @;capaz de criar um novoconceito;. >$omo o conceito da @;coe/ist7ncia de tr7s e não dois ' tempos; na obra de)roust?. 9e Deleuze me permite resumir ainda mais a carta, eu diria (ue,metodoloicamente, o primeiro ponto é @lutar contra a ilusão dos +alsos problemas, demodo (ue, em seundo luar, se possa @restituir os verdadeiros problemas. !inalmente,a invenção do @conceito implica toda uma @teoria relativa 3 @+ecundidade do novo.#as como essa (uestão está mais liada ao meu pr4prio te/to, e como estou apressado,dei/oos em paz8

 L.O ' 0stou +eliz com sua passaem por a(ui, meu caro Arnaud e muito rato

 pela sua colaboração. Lamento apenas (ue seu te/to não ten%a assinalado CE2F as tr7s

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+unções >a pol7mica, a inventiva e a criativa? do ponto de vista do livro (ue estoutentando pre+aciar nesta conversa.

 Cisos. &illani se a+asta e a conversa a dois é retomadaF.

2. D. C9orrindoF ' #eu caro, não caberia a voc7 encontrar os tr7s aspectos aos(uais +iz re+er7ncia na min%a carta a &illani1 Ou seria mel%or voltarmos ao seuinteresse pela listaem dos encontros entre 0spinosa e os outros1

 L.O CQm tanto (uanto constranido pelo surimento de uma tare+a inesperadaF

 ' #in%a pre+er7ncia é voltar 3 listaem, pois ac%o (ue seria um abuso meu aliviar osleitores desse trabal%o. )enso também (ue a(ueles tr7s aspectos suerem árduos planosde pes(uisa. 0m todo caso, em +ace do seu riso e para não dar a impressão de (ue estou+uindo da raia, devo acrescentar o seuinte- se eu me +iasse apenas no t6tulo do seulivro C0spinosa e o problema da e/pressãoF, eu diria (ue o problema da e/pressão sedistribui pelas tr7s +unções (ue voc7 aponta como necessárias para *usti+icar a e/ist7ncia

de um livro. =o entanto, essa obviedade não indica su+icientemente como o livro vairitmando a pr4pria dramaturia da ideia de e/pressão nesses tr7s n6veis, se*a nodesta(ue de insu+ici7ncias interpretativas, se*a ao apontar es(uecimentos a (ue ela +oisubmetida, se*a, +inalmente, no desenvolvimento das inBmeras e inovadorase/plicitações do como essa ideia em seus vários aspectos se enreda de maneiraconstitutiva na rede conceitual privileiada pelo livro. 0 sabemos o (uanto essa rede édecisiva no campo dos estudos espinosanos. Pasta citar o (ue voc7 diz na páina 2EU-@esses aspectos da e/pressão >@complicação e @e/plicação? @são também cateoriasda iman7ncia5 a iman7ncia se revela e/pressiva e @a e/pressão se revela @ imanenteem um sistema de relações l4icas no (ual as duas noções são correlativas. Pasta citarainda o (ue se l7 nas páinas 2E\ e VU, nas (uais a ideia de univocidade leva a@iman7ncia e/pressiva a bastarse a si mesma numa @plena a+irmação do ser. 0 assim

 por diante. Gostaria aora de voltar a um problema (ue a listaem dos encontros nãoevidenciou e (ue me parece e/citarse com a simples re+er7ncia a essa dramaturia daideia de e/pressão.

 2. D. ' Do (ue se trata1

 L.O ' 0mbora se*a verdade, caro Deleuze, (ue a(uela listaem discrimina, em

e/tensão, uma amostra do (uanto 0spinosa está presente no con*unto dos seus escritos,ela, por outro lado, (uase nada nos diz a respeito da intensidade dessa presença.

 CE\F G. D. ' $oncordo, ac%o (ue %á um problema a6. #as como voc7 oenunciaria1

 L.O ' )ermitame dizer o seuinte- alumas das e/pressões (ue recol%i 3(uela

lista podem ser ouvidas como passaens aleres de uma canção de amio, comoverdadeiras inter*eições aplaudindo intensamente o (ue a leitura de 0spinosa l%e

 propicia- :o prodiioso livro & da tica, 0spinosa como pr6ncipe dos +il4so+os, como pr6ncipe da iman7ncia, a tica como o rande livro sobre o corpo sem 4rãos, a randeidentidade =ietzsc%e0spinosa, o espinosismo como devircriança do +il4so+o;.$ertamente, %á %umor nessas e/pressões, mas não ratuidade. $omo outras mais, elas

e/alam a aleria de (uem ama o +il4so+o estudado. 0ssa intensa presença vai desde suaa+inidade com >in?determinado recorte do campo problemático até sentimentos,

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 passando por conceitos, a+ectos e perceptos. not4rio (ue voc7 se sente bem *unto a0spinosa, se*a em aulas , se*a ao dedicarse diretamente ao +il4so+o em te/tos escritos,aluns mais outros menos lonos .

 2. D. ' &oc7 tem aluma razão- esses arroubos podem realmente ser tomados

como indicadores da min%a intensa relação com 0spinosa. #as estou preocupado,aora, em saber com (ue palavras voc7 diria isso ao leitor brasileiro, do ponto devista do livro (ue está pre+aciando.

 L.O ' )osso dizer (ue, em l6nua portuuesa do Prasil, o leitor tem aora em

mãos o mais lono dos seus te/tos dedicados a 0spinosa. Iuando estiver terminando a primeira leitura do livro ' depois de apreciar o seu es+orço visando mostrar (ue oconceito de e/pressão sistematiza as @tr7s determinações +undamentais- ser, con%ecer eair ou produzir, depois de ler (ue o @sentido, isso (ue se esparrama nasmultiplicidades, não pára de se reiterar como a(uele @e/presso (ue é @mais pro+undo(ue o ne/o de causalidade e @mais pro+undo (ue a relação de representação, e depois

de observar o papel da ideia de e/pressão na abertura de uma @+iloso+ia p4scartesiana ' ele encontrará um ap7ndice assim intitulado- @estudo +ormal do plano da tica e do papel dos esc4lios na realização desse plano- as duas ticas .

 2. D. ' #as onde voc7 (uer c%ear ao dizer isso1

 

L.O ' Iuero dizer ao leitor (ue, no corpo do ap7ndice, ao mostrar (ue osesc4lios irrompem como vulcões, ocasionando @randes :reviravoltas;, voc7, Deleuze,conclui dizendo o seuinte- @%á, portanto, como (ue duas ticas coe/istentes, umaconstitu6da pela lin%a ou +lu7ncia cont6nua das proposições, demonstrações etc, @eoutra, descont6nua, constitu6da pela lin%a (uebrada ou cadeia vulcNnica dos esc4lios.0m uma, Deleuzeleitor encontra um @rior implacável, uma espécie de @terrorismointelectual5 na outra, a CEF vibração *á é a das @indinações e das alerias do coração,vibrações (ue @mani+estam a aleria prática e a luta prática contra a tristeza .

 2. D. ' 0stou ostando disso, mas me sinto um tanto (uanto tenso, pois pressinto

onde voc7 (uer c%ear. L.O C9orrindoF ' #as é sem maldade (ue dio essas coisas ao leitor- cerca de

dez anos ap4s a publicação de 0spinosa e o problema da e/pressão, em comunicação

depois reescrita e publicada em 0spinosa- +iloso+ia prática com o t6tulo @0spinosa en4s, voc7 e/plicita o (ue entende por 0toloia com o au/6lio de conceitos elaborados *unto a 0spinosa. )ois bem, ao +indar o te/to, e ri+ando a contribuição de &ictor Delbosa esse respeito, voc7 retoma sua apreensão das :duas ticas;, a(uela em (ue seevidencia uma e/trema elaboração conceitual a ser capturada por uma @leiturasistemática e a(uela em (ue assoma um @impulso secreto interno, acess6vel a uma@leitura a+etiva.

 2. D. ' á estou entendendo seu *oo8

 L.O ' Dei/eme aora com a bola, *á (ue o campo é todo seu. )ois bem, o

enlace dessa @dupla leitura é (ue propicia uma resposta mais comple/a 3 perunta-@(uem é espinosista1 )ode ser espinosista, diz voc7, a(uele (ue @trabal%a :sobre;

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0spinosa, sobre os conceitos de 0spinosa, principalmente (uando suscita @su+icienterecon%ecimento e admiração. #as pode ser espinosista também a(uele (ue, @não+il4so+o, recebe de 0spinosa um a+ecto, um con*unto de a+ectos, uma determinaçãocinética, um impulso, +azendo assim de 0spinosa um encontro e um amor. Dio aoleitor (ue reencontramos a6 mais um sinal do (uanto voc7, Deleuze, é en+eitiçado por

0spinosa. 9endo tão apeado ao *oo dos conceitos, tido até como praticante de umestilo seco, por (ue voc7 dá tanta importNncia a essa dupla leitura do te/to espinosano1 

2. D. ' esponder a isso nos levaria muito lone...L.O ' poss6vel (ue uma resposta mais e/austiva deva remontar a #ar/ e, de

modo mais abranente, aos problemas da +iloso+ia prática. #as %á uma resposta maiscurta, concentrada em 0spinosa, *ustamente, por(ue @sua caracter6stica Bnica, 6mpar, éa seuinte- embora se*a ele @o mais +il4so+o dos +il4so+os, é também a(uele (ue@ensina ao +il4so+o a devir não+il4so+o. 0ssa rápida resposta, (ue os pro+essores de+iloso+ia deveriam levar em conta e pedir, pelo menos, (ue os *ornais não os c%amem de

+il4so+os, essa rápida resposta e/plica também por(ue a parte & da tica é tida por voc7como prodiiosa.

 2. D. ' )or (u71

 L.O ' )or(ue nela, raças a uma @velocidade in+inita, capaz de dobrar uma na

outra as duas leituras, @o +il4so+o e o não +il4so+o se reBnem num s4 e mesmo ser. nessa derradeira parte da tica (ue se adensa o (ue *á se CE[F espal%ava pelas outras

 partes- @o encontro do conceito e do a+ecto, o envolvimento mBtuo entre a @unidadee/tensiva e/trema e a @mais estreita ponta intensiva, esvaindose, assim, (ual(uer@di+erença entre o conceito e a vida, entre uma ponta e outra do arco retesado, entre @;osol branco da substNncia; e :as palavras de +oo de 0spinosa;. Lembrase (ue voc7 dizisso, Deleuze, citando omain olland1

 2. D. ' 9im, claro &oc7 está arimpando entretempos intensos8

 L.O ' a essa inter+er7ncia mBtua entre o conceito e a vida, caro leitor, é a esse

descobrirse @no meio de 0spinosa (ue nos leva Deleuze, isso (ue *á levara =ietzsc%ea sentirse @;arrebatado;, como revela em carta a Overbec_ datada de V de *ul%o de2WW2 .

 

<ntensidades do pássaro de +oo virando luz 2. D. ' $om isso, voc7 *á poderia +indar o pre+ácio ou pos+ácio. 9intome

envaidecido até em demasia. Ac%o (ue nossas l6nuas nos levam a +alar demais8 L.O ' Ainda preciso levar o leitor a uma perunta- se acreditarmos em 0spinosa

e o problema da e/pressão, teremos duas ticas num s4 livro denominado tica1 =ãoapenas duas, mas tr7s isso mesmo. $erca de dez anos ap4s a primeira edição de9pinoza ' )%ilosop%ie prati(ue e de vinte anos ap4s 0spinosa e o problema dae/pressão, voc7, Deleuze, *á nos presenteia com uma tr6plice leitura voltada para uma@tr6plice tensão. o (ue se pode ler na breve @$arta a éda Pensmaa, sobre

0spinosa. =ada se perde da dupla leitura anterior- a sistemática, +eita em +unção dasnoções ou conceitos, e a a+etiva, colada 3 aitação vulcNnica dos esc4lios5 porém, raças

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a uma espécie de duplicação da leitura a+etiva, raças, principalmente, a uma especialretomada da parte & da tica, temos aora uma @terceira tica, (ue @coe/istia com asduas outras desde o in6cio, diz voc7, mas (ue @solicita uma mais intensa compreensãonão+ilos4+ica.

 

2. D. ' !oi bom voc7 se lembrar disso. =essa terceira tica, 0spinosa ainda nos+ala através de conceitos, é certo, mas também por @perceptos puros, intuitivos ediretos.

 L.O ' Iuero dizer (ue voc7 parece insaciável, pois nos leva a encontrar um

0spinosa com @estilo tridimensional, uma +iloso+ia (ue se e/pande envolta em tr7s@l6nuas- a l6nua do @rio dos conceitos, a l6nua vulcNnica e @subterrNnea dosesc4lios e, +inalmente, a l6nua como @+oo ardendo na parte & e incendiando o restoda tica. As duas ticas anteriores, propiciando CEEF @duas asas, eram capazes de@levar +il4so+os e não+il4so+os na direção de um limite comum. )orém, como umestilo carece de pelo menos @tr7s asas, e como 0spinosa aparece aora dotado de um

estilo tridimensional, trialádico, diamos, então ele vem a ser um @pássaro de +oo . 

2. D. ' 9im, mas ve*a bem- como os perceptos puros dizem respeito ao terceiro7nero do con%ecimento, podemos dizer (ue a apreensão de uma terceira tica *á se

 preparava %á alum tempo. L.O ' $om e+eito, numa de suas aulas, ao +alar da conveni7ncia entre @min%a

 pr4pria intensidade e a @intensidade de coisas e/teriores, ao +alar do @amor, voc7acrescenta- @o (ue me interessa nessa ponta m6stica é esse mundo das intensidades. 0ainda- para além da @aleria, voc7 volta a dizer (ue 0spinosa @encontra uma palavram6stica, beatitude ou a+ecto ativo, isto é, o autoa+ecto. 0 sabemos (ue esse mundo do@terceiro 7nero, de modo alum +rou/o, é @muito concreto, é um @mundo deintensidades puras .

 2. D. ' &olto a concordar com voc7, mas alo mais acontece em meu sentirme

 bem com 0spinosa8 L.O ' 9im, eu sei disso. )or e/emplo, uma dedicação mais sistemática ao tema

das tr7s ticas aparece, +inalmente, em 2UU, no cap6tulo X&<< do livro $r6tica ecl6nica- @0spinosa e as tr7s :ticas. O leitor certamente an%aria muito capturando a *á

 publicada tradução brasileira desse te/to e/tremamente denso e acrescentandoa como

seundo ane/o ao livro (ue tento aora pre+aciar. )rimeiramente, esse te/to reacomodaas metá+oras, com o perdão da palavra- a(uela tica dedicada ao tratamento sistemáticodos conceitos, das de+inições, a/iomas etc. é ainda a(uela diz6vel como um livrorio (uedesenvolve seu curso5 a tica dos esc4lios, eclodindo em a+ecções e a+ectos, mantémse subterrNnea, mas como um @livro de +oo, o (ue era esperado, pois, desde antes, osubterrNneo era vulcNnico5 +inalmente, @a tica do livro &, a dos @)erceptos, isto é,das @0ss7ncias ou 9inularidades, das @puras +iuras de luz, esse @terceiro estado daluz, essa terceira tica, (ue antes voc7 liava apenas ao +oo, é aora @um livro aéreo,de luz, (ue procede por relNmpaos.

 2. D. ' 9im, eu preciso da super+6cie8

 

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L.O ' Também ac%o8 0m seundo luar, é preciso dizer (ue essareacomodação das metá+oras não deve atrapal%ar o leitor, pois este pode notar (ue,desde 0spinosa e o problema da e/pressão, tratavase de e/plicitar a distribuição dae/pressividade por dimensões aora apresentadas como tr7s l4icas- uma @l4ica dosino >imersa nos esc4lios, presente no *oo do +oo com a @9ombra do subterrNneo?,

uma @l4ica do conceito >secretada no n6vel das de+inições etc.? e uma @l4ica daess7ncia >captada no modo como o livro & CEMF @ultrapassa o método dos livros precedentes, remetendo sempre 3 velocidade absoluta das +iuras de luz? .

 2. D. ' &oc7 não está correndo o risco de e/cederse em tecnicalidades num

 pre+ácio ou pos+ácio1 =ão seria bom preparar um +inal menos carreado1 0spaço ideal, solidão povoada e rea+irmação L.O ' Talvez voc7 ten%a razão. #in%a intenção é modesta- ao lono dessas

inBmeras re+er7ncias +ica pelo menos evidente a e/tensa e intensa conviv7ncia mantida

 por voc7 com a +iloso+ia de 0spinosa. )enso (ue esse conv6vio deva ser visto numsentido amplo. 0le implica uma coelaboração conceitual, uma certa maneira deleuzianade acelerar as passaens, de sur+ar numa variação de conceitos no meio da obraespinosana, de modo (ue @construtivismo e @e/pressionismo se enlaçam , mantendose sempre um sereno e audo @ol%ar cr6tico . #as o seu bemcorrer com 0spinosaimplica também uma sinular maneira +ilos4+ica de viver, de modo (ue a procura dasuavidade não dispensa a c4lera contra os distribuidores de tristeza. 0is uma +rase (uediz muito bem essa dupla vertente do amplo sentido dado por voc7 ao seu conv6vio coma +iloso+ia de 0spinosa- tratase de eriir @um plano comum de iman7ncia onde estãotodos os corpos, todas as almas, todos os indiv6duos. 0sse plano de iman7ncia ou deconsist7ncia não é um plano no sentido de des6nio no esp6rito, pro*eto, prorama, masé um plano no sentido eométrico, secção, intersecção, diarama. 0ntão, estar no meiode 0spinosa é estar sobre esse plano modal, ou mel%or, é instalarse nesse plano5 e issoimplica um modo de vida, uma maneira de viver. Iue é esse plano, e como oconstruiremos1 visto ser ele plenamente plano de iman7ncia, mas devendo, ao mesmotempo, ser constru6do para (ue vivamos de uma maneira espinosista .

 2. D. ' O (ue acaba de dizer é pertinente, mas ac%o mel%or (ue voc7 dei/e o

tratamento da noção de plano de iman7ncia para outra ocasião, pois sabe (ue eumesmo retornei a ela sozin%o ou com Guattari em inBmeros te/tos, o (ue mostra,

 pelo menos, o (uanto ela ocorre em prol de aluma problemática (ue se nos impõe.

(ue acontecem pe(uenos desastres interpretativos (uando isto é es(uecido, como(uando aluém procura dizer o (ue eu estaria (uerendo dizer ao +alar em plano deiman7ncia, c%eando aluns a levar meus cuidadosos ziuezaues a receberem oamparo da lucidez (ue eles *ulam e/trair de um pensador (ue nem mesmo costumoler, o (ue não é o caso de 0spinosa.

 CESF L.O ' $ompreendo sua preocupação. Dessa Bltima re+er7ncia ao :plano de

iman7ncia; e/traio apenas a e/pressão estar no meio de 0spinosa. &oc7 concorda (ue %áuma pai/ão deleuziana pelo meio, assim como pelas @alianças e não pelas @+iliações.0 essas alianças se dão sempre em @raus muito diversos. Iuando aluém está no meiode um movimento, se*a pol6tico, art6stico ou +ilos4+ico, ele s4 @pertence a esse

movimento, diz voc7, @se ele pr4prio inventar no movimento. Ac%o isso muitoimportante.

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 2. D. ' 0stamos de acordo. 0ssa pai/ão pelo meio movente traz consio um certo

desinteresse pelo in6cio e +im de alo. 0m vez de obsessões %istoricistas pelo passadoou +uturo, @o (ue conta é o devir5 por e/emplo, o @devirrevolucionário e não o+uturo ou o passado da revolução. Aos (ue se a+erram ao começo ou ao +im de alo,

da Terra ou de outra coisa, restal%es rastrear o estado de coisas inicial ou predizer a pulverização +inal, perdendo, em ambos os casos, o (ue ocorre no meio, *ustamente oirredut6vel ao começo e ao +im. @O interessante é o meio, o (ue se passa no meio,

 pois é nele (ue %á, não a @mediana, mas o e/cesso, o @devir, o movimento, avelocidade, o turbil%ão. Do ponto de vista do tempo, estar no meio não (uer dizer@estar no seu tempo, ser do seu tempo, ser %ist4rico, e nem também @ser eterno5estar no meio é estar na(uilo @pelo (u7 os mais di+erentes tempos se comunicam, éestar no @intempestivo . +azer com (ue irrompam na circularidade de $ronosa(ueles entremomentos aiYnicos de uma variação decisiva, mesmo (uando elaven%a a custar a dor de uma lárima (ue teima e (ueima. )or uma razão obviamentedistinta da(uela (ue me leva a tematizar a primazia do meio, #amon diz o seuinte-

@nosso con%ecimento das coisas, portanto, começa no meio para deterse iualmenteno meio .

L.O ' 0 a atenção ao meio pode implicar também uma constatação terr6vel- para bem caracterizar os @seres %umanos como @os abandonados, como @a(ueles (ue+oram dei/ados para trás, os Araetés dizem (ue @estamos no meio . )orém, mesmorepleto de limitações e condenações, é ainda no meio (ue se dão os mais dinoscombates na iman7ncia.

 2. D. ' $om esta e/pressão, :combater na iman7ncia;, voc7 volta a provocar em

mim lembranças do amio !rançois $%Ntelet, o (ue me é bom. L.O ' 0m nossa conversa %ouve uma re+er7ncia 3 arte das dobras. 

2. D. De +ato, e essa é uma das artes do meio. O vinco das dobras é salpicado porimprovisos de outra arte, a @arte do 0, essa arte (ue ean a%l, meu (uerido

 pro+essor, @levou tão lone. A importNncia dessa arte, a e/plosividade da con*unção0, encontrase nas operações de destituição da supremacia do verbo ser- tratase de@substituir o pelo 05 tratase de @pensar com 0 em CEWF vez de pensar , por 5 a6está a abertura do pensamento nYmade, a6 está onde pulsa a multiplicidadesubstantiva, irredut6vel ao *ouin%o do Qno e do #Bltiplo. 0ssa c%ave de reaberturado nomadismo encontra *ustamente os (ue @estão sempre no meio, se*a a @estepe, a

rama e os nYmades, se*a @pensadores nYmades como 0picuro, 0spinosa e =ietzsc%e. L.O ' )ois bem, o (ue tem a ver a arte do 0 nos seus encontros com 0spinosa1 

2. D. ' Tem aluma coisa a ver, primeiramente, por(ue o 0 implica @tomar0spinosa pelo meio >alma e corpo? e @não pelo primeiro princ6pio >substNncia Bnica

 para todos os atributos?, mesmo por(ue @as coisas s4 começam a viver no meio.0m seundo luar, tem alo a ver por(ue @*amais teve aluém um sentimento tãooriinal da con*unção e , uma apreensão tão per+eita de (ue @tudo é encontro nouniverso, se*a ele @bom ou mau encontro .

 

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L.O ' 0 o valor de um pre+ácio estaria em provocar um bom encontro do leitorcom o livro pre+aciado. #eu temor é (ue um pre+ácio tão lono e desordenado podeacabar provocando *ustamente um mau encontro. &oc7 não ac%a (ue devemos propor(ue nossa conversa se*a impressa como pos+ácio ao seu livro1

 

2. D. CindoF 0ssa talvez se*a uma boa solução, embora nossa conversa não ten%asido tão desordenada. Além disso, ao lono dela, ziuezaueamos sempre entre pré e pos+ácio.

 L.O ' O importante é (ue o leitor ten%a visto ou ven%a a ver (ue o seu encontro

com 0spinosa, Deleuze, é de amor e aleria, o (ue acresce seu poder de ser a+etado pelas 9ombras, $ores e Luzes do mais +il4so+o dos +il4so+os. #as é importante vertambém (ue os seus encontros com 0spinosa, Deleuze, ocorrem num espaço (ue see/pande e se intensi+ica com outros encontros. Há uma e/pressão para esse espaço-@alo se passa entre. assim e é por isso (ue esse espaço se constitui. Alo se passaentre aluns +il4so+os em relação aos (uais voc7 sente a+inidades a partir de tensões do

 pr4prio campo problemático (ue o imprena, (ue o imanta. Alo se passa entreLucrécio, 0spinosa, Hume, =ietzsc%e, Person8, e se passa em @velocidades eintensidades di+erentes. )odese +azer uma perunta meio absurda- onde é (ue seencontra esse alo (ue se passa1

 2. D. ' $omo pot7ncia de certa ou incerta con+iuração do meio, isso (ue se passa

entre eles @não está nem em uns nem em outros, mas, verdadeiramente, num espaçoideal. 0sse espaço ideal @não +az parte da %ist4ria, pois não se esota no con*untodos estados de coisas (ue e+etuam a(uilo (ue por eles se passa. #as ele tampouco seresume num @diáloo de mortos, pois não é uma antoloia de enunciadosconverentes ou diverentes.

 CEUF L.O ' 0ntão, posso pensar (ue as liações intensivas de sua vida e de

suas obras +oram o seu modo de participar da e/pressãoconstrução desse espaço ideal.Há muito trabal%o investido nisso. =o caso de sua dedicação a 0spinosa, %á umadimensão de trabal%o @clandestino, diz voc7. )or (ue clandestino1

 2. D. ' $landestino, por(ue min%a solidão nesse trabal%o não era simplesmente

relativa, não era uma solidão, por e/emplo, de (uem não +azia parte de uma @escolaou de (uem se limitava ao recol%imento de uma vida retra6da. $landestino, por(ue ae/pressãoconstrução desse espaço ideal é operada em meio a uma @solidão

absoluta, absoluta, mas no sentido de uma solidão @e/tremamente povoada, masnão povoada de @son%os, +antasmas ou pro*etos (ue ocupam a solidão relativa. e/tremamente povoada a solidão absoluta, por(ue tudo a(uilo (ue a povoa tem aloa ver com a vibração de virtualidades, (ue podem c%ear a nuvens, @névoas, a uma@nebulosidade de imaens ou part6culas virtuais.

 L.O ' Talvez se*a por isso (ue voc7 pYde dizer, de maneira aparentemente

delirante, (ue participar desse espaço ideal +oi +re(Zentar uma @conversação interstelar,entre estrelas bem desiuais, cu*os devires di+erentes +ormam um bloco m4vel (ue setrataria de captar, um intervYo, anosluz . #as ac%o também (ue é preciso liar alomais a esse intervYo.

 2. D. ' Iue seria1

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 L.O ' poss6vel (ue a e/trema mobilidade do seu pensamento, (ue seu

nomadismo por mil e um platYs, desde os marcados por uma revisão da ontoloia até osvoltados para este ou a(uele acontecimento estético, é bem poss6vel (ue todas as suasaudácias, mesmo em suas e/posições de pensamento al%eio, é poss6vel (ue tudo isso

e/iba uma tão +orte coesão operat4ria raças a maneiras especiais, plásticas, +le/6veis,de colocar em movimento, dosandoo em cada caso, o +oo cruzado de tr7s dimensõesmoventes (ue es(uentam seus conceitos, dimensões correspondentes aos tr7s 7nerosespinosanos do con%ecimento- a dimensão das partes e/tensas, a das relações ou noçõescomuns e a das intensidades.

 2. D. ' #as como tudo isso s4 pode ser matéria para outros estudos, min%a

curiosidade é saber como voc7 concluirá nossa conversa. L.O ' )rimeiro, aradecendo a voc7 pela paci7ncia e por todas as passaens

(ue pude roubar de suas obras. claro (ue eu ostaria de sua concordNncia também

(uanto ao seuinte- (ue se manten%a este pre+ácio ou pos+ácio como o (ue ele deve ser,apenas um convite- (ue o leitor, apro/imandose cada vez mais de 0spinosa e o

 problema da e/pressão como (uem se dispõe a contemplar ou participar de umencontro, de um acontecimento, de uma sinularidade, CMVF merul%e nesse espaçom4vel ideal, via*e nesse intervYo e sinta como a leitura, ao cuidar dos conceitos, vibraao mesmo tempo em velocidades inimaináveis de um +ooluz. 0 a cada cintilaçãoalo pode vir a ocorrer, a passar pelos vãos da leitura, levandoo a uma imprevis6vel

 pot7ncia de pensar a+irmativamente, o (ue não dei/a de incluir alerias, sorrisos earal%adas. 9eria pouco isso1 #esmo (ue aluém ac%e isso muito pouco, é nisso (uevoc7 mesmo, Deleuze, encontra seu interesse pela +iloso+ia- @se não se admira alumacoisa, diz voc7, @se não se ama aluma coisa, não %á razão aluma para se escreversobre ela. 0spinosa ou =ietzsc%e são +il4so+os cu*a pot7ncia cr6tica e destruidora éiniualável, mas essa pot7ncia brota sempre de uma a+irmação, de uma aleria, de umculto da a+irmação e da aleria, de uma e/i7ncia da vida contra a(ueles (ue a mutilame a morti+icam. )ara mim, é a pr4pria +iloso+ia .

 2. D. C9orrindoF ' Gostei do nosso ziuezaue

 !im da ravação.

!onte- laboratoriodesensibilidades  \EV\\V2M