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GLORIANDO-SE SOMENTE NA

CRUZ DE NOSSO SENHOR

. JESUS CRISTO JOÃO CALVINO

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Traduzido do Inglês

On Glorying Only in the Cross of Our Lord Jesus Christ

By John Calvin

Via: ReformedSermonArchives.com

Tradução por Camila Almeida

Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Março de 2015

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, sob a licença Creative

Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

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Gloriando-Se Somente Na Cruz

De Nosso Senhor Jesus Cristo

Por João Calvino

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus

Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Porque em

Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircuncisão tem virtude alguma, mas sim o

ser uma nova criatura. E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e

misericórdia sobre eles e sobre o Israel de Deus. Desde agora ninguém me inquiete;

porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus. A graça de nosso Senhor

Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito! Amém.” (Gálatas 6:14-18)

Nós vimos anteriormente que Paulo condenou aqueles cujo único desejo era o de estar as-

sentados sobre o muro, a fim de agradar ao mundo, e escapar da perseguição. Pois, isso fê-

los torcer o Evangelho, e vemos inúmeros exemplos disso hoje. Considerando que a doutri-

na pura e a verdade de Deus são inaceitáveis para o mundo, mas estes homens ímpios

são indignados contra ele, essas pessoas, eu digo, buscam encontrar alguma maneira de

evitar o surgimento de um sentimento ruim e incorrer em ódio. Sendo assim, se tivéssemos

hoje que entrevistar pessoas com pelo menos algum bom senso, nós dificilmente encontra-

ríamos uma em cem delas que admitiriam que havia erros no Papado. A maioria diria que

não devemos forçá-los a abandonar tudo e que seria suficiente que se livrassem de algu-

mas de suas superstições mais descabidas e absurdas, mesmo que eles continuassem a

nutrir muitas outras corrupções. Por quê? Porque, como já dissemos, eles desejam ser esti-

mados e altamente creditados, e porque é tudo a mesma coisa para eles, visto que traem

a pureza do evangelho, desde que possam permanecer isentos de perseguição. O que é

que os motiva, senão o fato de que eles desejam ser valorizados e adquirir uma boa repu-

tação? Agora, o Diabo, que tem estimulado esse tipo de conflito desde os dias de Paulo,

continua até hoje, e, portanto, precisamos nos armar com esta doutrina. O melhor remédio

é o que Paulo propõe aqui: que rejeitemos toda glória, salvo a que há na cruz de nosso

Senhor Jesus Cristo.

Para compreender isso claramente, devemos, em primeiro lugar, nos lembrar do que está

escrito em Jeremias, e confirmado aqui por Paulo. Em outras palavras, que toda a glória do

homem seja humilhada a fim de que Deus seja exaltado como Ele é digno (Jeremias 9:23-

24). Na verdade, da mesma forma, está escrito que toda a sabedoria que os homens creem

possuir não é nada, e não será tida em consideração; ela deve ser extinta, para que possa-

mos recorrer a Deus, como Aquele que tem toda a abundância de coisas boas em Si mesmo

(Isaías 29:14; 1 Coríntios 1:19). Reconheçamos, eu digo, que toda a sabedoria procede de

Sua livre graça, de modo que somos iluminados pelo Espírito Santo, e, estando fracos,

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fortalecidos pela Sua força. Estando cheios de contaminação e de iniquidade, a justiça pode

ser restaurada em nós de acordo com o Seu dom.

Agora, vamos para os meios. Não é o suficiente que saibamos que Deus é a nossa luz, que

é a nossa justiça, que Ele é a nossa sabedoria, e que Ele é a nossa força; em outras pala-

vras, que em Sua pessoa há perfeitas vida, alegria e felicidade. Isso é insuficiente, pois ain-

da é muito grande a distância entre Ele e nós. No entanto, precisamos saber como e por

que meios podemos obter todas as graças que buscamos em Deus. Sabemos que todas

elas são comunicadas a nós em Jesus Cristo, pois Ele veio aqui abaixo, anulou a Si mesmo,

e foi crucificado por nós voluntariamente. Portanto, visto que temos que extrair tudo o que

nos falta a partir do Senhor Jesus Cristo, podemos entender por que Paulo diz que ele ape-

nas buscou gloriar-se na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo. Por quê? Porque Ele sofreu

uma morte cruel e amarga, e até mesmo se expôs ao julgamento de Deus em nosso favor,

recebendo toda a nossa maldição, e desta forma foi dado a nós como a nossa sabedoria,

justiça, santidade, força e tudo o que nos carecemos.

Portanto, em primeiro lugar, precisamos saber quem somos, para que possamos evitar toda

jactância e permanecer, nós mesmos, no Senhor Jesus Cristo. Pois vemos muitas pessoas

transbordando de orgulho que não têm quaisquer motivos para isso. Tudo o que elas

imaginam ser verdade sobre si mesmas não é mais do que vento e fumaça. No entanto,

porque eles não têm se examinado adequadamente para ver com o que eles realmente se

assemelham, eles não têm buscado por Jesus Cristo; tais são esses hipócritas e falsifica-

dos, que estão inchados de presunção por causa de seus “méritos”. Portanto, como já disse,

devemos considerar a nossa condição e ver a extensão desta miséria, até que o Senhor

Jesus tenha piedade de nós. Isto é como nós podemos nos preparar para ir até Ele. Este é

o primeiro ponto.

No entanto, isto não é tudo. Pois, há alguns que confessam que são pecadores, e que eles

não são cheios de nada, a não ser vaidade, e ainda assim continuam a chafurdar na sua

sujeira. Por quê? Porque eles não antecipam o juízo de Deus, e as suas mentes foram em-

baladas para dormir com o mundo. Todas essas pessoas buscadoras de prazer, que se en-

tregam à embriaguez ou obscenidade, e similares, não podem desculpar a sua maldade e,

de fato, elas deveriam ter vergonha disso, e ainda assim elas parecem ter prazer em peca-

dos e continuam neles como que endurecidos. Por quê? Eles foram intoxicados pelo mun-

do, e cegados pelo diabo, de modo que eles não conseguem ver que um dia eles prestarão

contas de si mesmos. Eles têm estupidamente crido que sempre permanecerão como

estão, buscando as coisas más, e que eles nunca terão que suspirar e tremer, mas somente

rir, como se buscassem deliberadamente mostrar desprezo por Deus. Assim, podemos ver

como é que alguns são impedidos (na verdade, eles estão totalmente incapacitados) de

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chegar a Jesus Cristo, seja porque eles presumem ter a sua própria sabedoria, ou porque

eles estão buscando uma falsa concepção que Satanás colocou em suas mentes, ou por-

que acham que eles são sábios o suficiente sem Jesus Cristo. Estas são as razões por que

eles O desprezam. Outros, entre os quais há um número infinito, sabem que são pobres

pecadores, e ainda assim não procuram um remédio. Por quê? Porque este mundo os tem

em seu poder, e eles estão tão envolvidos com ele que não conseguem levantar os seus

olhos ou suas mentes para o alto, a fim de buscar o remédio que foi providenciado em

Jesus Cristo.

Devemos todos, portanto, estar mais preparados para meditar sobre o que eu disse, isto é,

livrar-nos de todo o orgulho e presunção, e sentir tanta vergonha, de forma que não tenha-

mos descanso, até que encontremos alívio no Senhor Jesus Cristo. Que possamos abrir

nossos olhos para ver a nossa depravação e sentir vergonha dela, e não somente isso, mas

também reconhecer que esta vida não é nada, e que Deus nos colocou aqui como em uma

peregrinação, para que Ele possa testar se estamos ou não seguindo-O. Que cada um de

nós, pois, venha, de manhã e à noite, a considerar os nossos pecados, e que eles possam

ser como aguilhões a nos aferroar e encorajar a nos achegarmos a Deus. Não podemos

ser como os animais irracionais, amarrados a este mundo, mas que nossa necessidade nos

conduza a vir ao Senhor Jesus Cristo. Isto é o que significa gloriar-se na cruz do Senhor

Jesus Cristo.

Paulo fala especificamente da cruz aqui, porque ele procura derrubar e pisotear toda altivez

no homem. Pois, nós sempre queremos ser “alguém” e por nós mesmos, e manter certa

dignidade. Portanto, a fim de nos livrar de um tão perverso desejo, Paulo nos mostra que

Jesus Cristo, o Filho de Deus, deve ser a nossa única causa de glória, porque Ele foi cruci-

ficado por nós. Na sequência desta ação, acrescenta que estaremos crucificados para o

mundo e o mundo para nós, quando tivermos aprendido a nos gloriar somente na graça

que o nosso Senhor Jesus Cristo nos proporcionou. Como? Aqueles que não estão crucifi-

cados para o mundo, isto é, aqueles que desejam ter uma posição de alguma autoridade,

e serem importantes, e que solicitam ser tidos em honra e ser promovidos, em outras pala-

vras, aqueles que estão distraídos aqui, ali e em todos os lugares por seus desejos, certa-

mente ainda não conhecem o que é gloriar-se na cruz de Jesus Cristo, pois eles começam

no ponto errado. Eles estão confusos dentro de si mesmos.

Portanto, Paulo pode dizer com confiança que, quando sua glória foi firmada sobre a cruz

do Senhor Jesus Cristo, ele abandonou e deixou o mundo. Por 'mundo' ele quer dizer tudo

o que agrada a nossa carne, para os homens que não pensam sobre Deus nem sobre a

vida eterna, mas são dados à avareza ou ambição. Cada um é controlado por seus próprios

instintos naturais, e nenhum olha para além deste mundo. Quando os homens seguem suas

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inclinações e quando Deus não lhes tocou pelo seu Espírito Santo ou os inclinou para Si

mesmo, é verdadeiro dizer que, embora todos eles se extraviavam e vagueavam, ainda há

uma grande variação em seus desejos, de modo que, quando examinamos o assunto, des-

cobrimos que alguém está indo em uma certa direção, enquanto outro está puxando em

direção completamente oposta. Assim, parece que os homens são muito diferentes uns dos

outros. No entanto, eles são todos iguais em uma área, a saber, que eles querem ser impor-

tantes aos olhos do mundo, e estão entregues ao seu proveito pessoal ou prazer. Em outras

palavras, eles estão tão enredados nas coisas daqui debaixo que não se importam de estar

separados de Deus. Mas Paulo diz que, se toda a nossa glória está em Jesus Cristo, e

conhecendo-a por meio de Sua cruz, Ele nos encaminhou a Deus, o Pai, e garantiu o reino

dos céus para nós, então será fácil para nós nos retirarmos do mundo e nos desligarmos

dele, por assim dizer. Por quê? Quem quer que tenha sido duramente atingido e sobrecar-

regado com um senso de seu próprio pecado certamente buscará a graça que lhe é ofere-

cida em Jesus Cristo, e o mundo será considerado nada para ele.

De fato, nós tratamos todas as riquezas espirituais que Deus nos ofereceu e nos convida a

compartilhar como se fossem nada, porque, em comparação com os enganos e tentações

de Satanás nós não as valorizamos de modo algum. O que é este mundo, quando o con-

templamos como ele é? Nem um de nós vê o quão frágeis nossas vidas são, que elas são

apenas vapor que passa e, em seguida, desaparece. Os homens ainda ardem com luxúria

e são arrebatados e sobrecarregados assim. Quanto a Deus, Ele clama: “Miseráveis pes-

soas! Vocês têm menos senso do que crianças pequenas, em que vocês mesmos se

ocupam com feixes de palha, lixo sem sentido, e todos os tipos de absurdo, e vinculam-se

de todo o coração a estas coisas. No entanto, quando Eu lhes ofereço esta que é a

felicidade perfeita, vocês a ignoram; para vocês não é importante”. Por isso, a razão pela

qual somos tão frios e tão lentos para aceitar as riquezas que Deus nos oferece é que esta-

mos preocupados com as coisas deste mundo. Na verdade, nós valorizamos este mundo

mui altamente. O que nos leva a fazer isso? É porque nós não conhecemos as riquezas

inestimáveis que Deus está nos oferecendo.

Portanto, vamos unir essas duas coisas: ou seja, estejamos crucificados para o mundo e o

mundo para nós, gloriando-nos somente em Jesus Cristo crucificado. Agora isso é mais

fácil de dizer do que fazer, e mesmo assim cada um de nós, onde quer que estejamos, de-

vemos nos esforçar para fazê-lo; uma vez que ouvimos esta doutrina, devemos colocá-la

em prática. Porque, se nós queremos ser estimados e considerados Cristãos diante de

Deus e de Seus anjos, temos que estar de acordo com o que Paulo nos diz aqui; de fato,

se nós não fôssemos de disposição contrária, encontraríamos muitas oportunidades para

agir assim, como eu já disse. Pois, todos aqueles que simplesmente olham para dentro de

si mesmos e consideram o que eles realmente são, e em que condição eles estão enquanto

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ainda separados de Jesus Cristo, estarão atemorizados com a percepção da ira de Deus,

que eles merecem. Eles sentirão que estão arruinados por seu estado maldito, e que seria

melhor se a Terra os engolisse uma centena de vezes, ao invés de viver sob essa maldição

por um único dia, como inimigos de Deus, que não podem escapar de Sua mão. Vamos,

portanto, aprender a examinar a nós mesmos. Aqueles que desejam adornar-se de acordo

com este mundo, especialmente as mulheres, olharão para um espelho com grande curiosi-

dade e preocupação. Ainda assim, a nossa miséria e imundície não estarão refletidas ali,

de modo a verdadeiramente nos humilhar diante de Deus, ou fazer-nos considerar em que

nos gloriamos. Aquele que reconhece a sua vergonha e ignomínia, certamente, procura

remediá-las, se é que o Espírito de Deus está operando dentro dele, e ele não está (como

eu já disse) intoxicado por Satanás. Vamos, portanto, aprender a examinar a nós mesmos

com sinceridade, sem lisonja, e quando reconhecermos nossa pobreza e miséria, venha-

mos ao Senhor Jesus Cristo. Uma vez que, por meio da cruz, toda arrogância, autoestima

e jactância é abatida, estejamos verdadeiramente crucificados para o mundo e que ele não

signifique nada para nós.

Agora, ao dizer que o mundo foi crucificado para ele e ele para o mundo, é certo que Paulo

quer dizer a mesma coisa, mas ele quer reforçar que podemos de fato renunciar a este

mundo e estar separados dele, por estarmos crucificados para nós mesmos no que diz res-

peito ao mundo. Isto significa que todos os nossos desejos repugnantes (que são muito for-

tes em nós e nos consomem como uma chama ardente, nos empurrando em uma direção,

depois para outra), devem estar mortificados, pois sabemos que o Filho de Deus teve de

sofrer tal morte vergonhosa em nosso lugar. Quem é aquele que procura ter seus triunfos

e realizar seus corajosos feitos neste mundo, quando ele sabe que Aquele que é o chefe

dos anjos, a Quem pertence toda a glória, majestade e autoridade, foi pendurado em um

madeiro e foi amaldiçoado e odiado por nossa causa? Desta forma, todos os nossos dese-

jos devem ser mortificados; portanto, que a paixão e morte de nosso Senhor Jesus Cristo

sejam tão eficazes em nossos corações, de forma que os nossos desejos não tremam impa-

cientemente dentro de nós como uma vez que eles fizeram. Este é o primeiro ponto.

Além disso, o mundo deve estar crucificado para nós. Como é isso? Em comparação com

as riquezas espirituais que Jesus Cristo nos traz e que nós fruímos por meio dEle, podemos

estimar as coisas deste mundo como palha e corrupção, uma vez que são todas corrup-

tíveis. Ademais, tudo o que os homens cobiçam tão intensamente e com tanta determina-

ção, de forma que eles se tornam completamente prejudicados por isso, nada mais são do

que os laços que Satanás espalhou, a fim de capturá-los. Não são estas ilusões e enganos?

Sim, isso é certíssimo. Sendo assim, aprendamos que o mundo não deveria ser nada para

nós, e assim estejamos completamente persuadidos e seguros do fato que Deus é miseri-

cordioso para conosco, e nos reconhece como Seus filhos e herdeiros; Ele nos abençoou

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e sem a Sua bênção nós seríamos mui miseráveis. Por isso, nós devemos passar ligeira-

mente por este mundo e não estar ligados a ele ou retidos por qualquer coisa; este deve

ser sempre o nosso objetivo. Sabemos que temos de nos apressar para o lugar ao qual

Deus nos chamou, e se nos enredarmos por amor deste mundo, nos desviaremos de nosso

Deus. Isto é o que devemos lembrar a partir desta passagem.

Neste ponto, Paulo acrescenta que “em Cristo Jesus nem a circuncisão, nem a incircunci-

são tem virtude alguma, mas sim o ser uma nova criatura”. É como se ele estivesse nos

dizendo que aqueles que perturbavam a igreja em sua época foram motivados apenas por

ambição. Porque, se a igreja não crescia, e ninguém recebia qualquer proveito de qualquer

forma, como resultado do grande problema que eles despertaram, isso certamente prova

que eles estavam apenas tentando substituir o Senhor Jesus Cristo. Pois, qual deve ser o

nosso objetivo, senão ver o Filho de Deus reinando em nosso meio, e que sejamos gover-

nados pela Palavra de Seu Evangelho, e conheçamos o Seu poder, a fim de que todos nós,

grandes e pequenos, coloquemos toda a nossa confiança nEle? Consequentemente, nós

pretendemos ter toda a nossa vida transformada, para que possamos viver em obediência

a Deus e nos submetamos à Sua Palavra, pois o templo espiritual de Deus é edificado

sobre a fé e uma nova vida; a fé nos leva a prestar honra a Deus por todas as Suas riquezas,

e recorrer a Ele, e anunciar os Seus louvores, a invocar Seu santo nome quando nos reu-

nimos. É assim somos edificados para que nos tornemos o templo de Deus.

No entanto, nós devemos também nos renovar em nosso estilo de vida, e pacientemente

aprender a negar a nós mesmos e dedicar nossas vidas a Deus. Esta deve ser a mensagem

daqueles que têm a responsabilidade de ensinar. Aqueles que não visam estas coisas reve-

lam que não têm intenção de servir ao Senhor Jesus Cristo. Assim, Paulo declara que a

única coisa importante é ser uma nova criatura em Jesus Cristo. Em outras palavras, deve-

mos chegar ao ponto em que, como vimos em 2 Coríntios, sejamos novas criaturas, se qui-

sermos ser considerados “em Jesus Cristo” (2 Coríntios 5:17). Porque, se alguém se gloria

de que ele é mais eloquente, e outro que ele é muito inteligente, e outro que ele é um grande

estudioso, e outro que tem boas maneiras, tudo isso não passa de vaidade. Aprendamos,

portanto, a renunciar a nós e a este mundo, e a dedicar-nos Àquele que nos comprou para

que pudéssemos ser livres. Pois é justo que Jesus Cristo, que nos comprou a tal preço

deve nos possuir e regozijar-Se grandemente sobre nós. Isso não pode ser alcançado a

menos que cada um de nós negue a si mesmo e rejeite tudo o que poderia lhe embaraçar

entre os homens. Isso é o que precisamos observar.

Paulo fala aqui de circuncisão e incircuncisão, porque a disputa e o argumento que ele tinha

(como vimos anteriormente) diz respeito à lei cerimonial, à qual aqui ele se refere através

do exemplo da circuncisão. Pois os judeus procuravam reter todos os tipos e sombras que

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foram destinados apenas para durar por um tempo. Assim, Paulo, ridicularizando tudo isso,

diz que o nosso Senhor Jesus Cristo veio, não para encorajar-nos a manter essas antigas

figuras, mas, porque o véu do templo se rasgou em dois, e porque Ele é em si mesmo o

corpo e a substância da todas as sombras que existiam sob a lei, agora devemos nos

contentar com Ele, não sendo mais a circuncisão de qualquer valor.

Derivaremos maior proveito desta passagem se a aplicarmos ao que vemos hoje. Pois, no

Papado, há muitos rituais sem sentido em que eles colocam toda a sua confiança, a fim de

serem santos. Quando perguntamos aos papistas como eles podem merecer a graça de

Deus e obter a remissão de seus pecados, eles se gabam de que eles têm a sua água ben-

ta, suas velas, seu incenso, seus órgãos e coros, suas peregrinações e isso e aquilo. Além

disso, eles têm suas devoções tolas, que envolvem trotar de altar a altar e de capela a ca-

pela. Em seguida, eles devem, é claro, comprar um bom número de missas. Em suma, tudo

o que os papistas se referem como o serviço de Deus não é nada mais do que um labirinto,

ou um abismo de superstições que forjaram em suas próprias cabeças. Passemos agora a

considerar de que estas coisas são dignas: Deus não fez nenhuma menção a elas; mas

elas foram inventadas por homens, em cujos ouvidos Satanás sussurrou, a fim de corrom-

per o verdadeiro serviço a Deus. No entanto, os papistas consideram que não pode haver

nenhuma religião, nem fé, nem serviço a Deus, nem zelo, a menos que também sejam

conduzidos por todo o seu disparate. Contudo, Paulo, falando das cerimônias que Deus

havia ordenado na lei, diz que elas nada são. Por quê? Porque agradamos a Deus se O

servimos com uma consciência pura, e O invocamos, tendo colocado nossa confiança nEle,

sabendo que todas as coisas boas vêm dEle. Sim, vivamos reta e honestamente um ao

outro, sabendo que o amor é o vínculo da perfeição, e o fim da lei; e dediquemo-nos também

ao nosso Deus, de forma que vivamos de maneira pura e em toda a santidade, aguardando

a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, como se diz em Tito (Tito 2:12-13). Este é o ponto

inicial de santidade e perfeição, como declarado por Deus em Sua Palavra.

Entretanto, os papistas dirão, por outro lado: 'O quê!? E que aniquilação em nossas adorá-

veis devoções? Serão todas elas abolidas? Seria melhor retirar Deus do céu!’. Isso revela

a insensatez do papista. Vimos que Paulo expôs aqui, que, mesmo que os homens estejam

tão equivocados sobre suas próprias invenções, de modo que acham que oferecem a Deus

coisas maravilhosas, e estejam enredados por essas ninharias sem sentido, tudo é inútil.

Quem declarou isso? Deus, pela boca de Paulo. O que, então, devemos ser? Novas cria-

turas. O que é uma nova criatura? Devemos começar por examinar nossas vidas e nos ver-

mos como nada em e de nós mesmos. Então devemos oferecer a Deus os sacrifícios espiri-

tuais que devemos a Ele, apresentando-nos a Ele para que Ele possa ter piedade e miseri-

córdia de nossa miséria, e nos socorra e ajude. Que possamos estar prontos para segui-lO

como Ele nos chama, não tendo outra fonte de sabedoria, senão a Sua Palavra somente,

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sabendo que Ele não deseja ser servido com pompa ou com aparências exteriores refina-

das e brilhantes que atraem o mundo. Ele Se agrada se dedicamos nossos pensamentos

e afeições a Ele com sinceridade. Além disso, é nossa responsabilidade entender o que

Paulo está dizendo aqui, e aplicar os seus ensinamentos; pois é certo que aqueles que se

recusam a deleitarem-se em seus pecados, e que olham para Deus, sabendo que eles

devem comparecer diante de Seu trono de Juiz, abandonarão todo gloriar-se em si mes-

mos.

Além disso, eles reconhecerão o que Deus exige em Sua Palavra, e como Ele deseja ser

servido, e no que Ele se deleita, de modo que eles não correrão o risco de serem enganados

pelas bobagens sem sentido que os hipócritas buscam. Pois é mui certo que quando os

papistas atormentam-se, a fim de servir a Deus (como vemos), é apenas para que Ele os

considere inocentes, e para que eles possam escapar de Sua mão, e não sejam obrigados

a servi-lO como Ele ordenou; pois eles desprezam toda a lei. Ainda assim, há muitas coisas

que eles de fato consideram vital, e que eles desejam que Deus aceite. Mas (como já disse)

o seu objetivo principal é crer que seu dever para com Deus foi cumprido, de modo que Ele

não os oprimirá demais. Enquanto isso, eles seguem o seu próprio caminho, concedem a

si mesmos uma grande licenciosidade e a absolvição de todos os seus pecados. Eles

pensam que, desde que eles tragam algo a Deus (isto é, uma mera sombra), que Ele não

ousaria falar uma palavra contra eles e tem que permanecer em silêncio. Agora vimos a

intenção de Paulo aqui.

Finalmente, ele acrescenta: “E a todos quantos andarem conforme esta regra, paz e miseri-

córdia sobre eles e sobre o Israel de Deus”. Ao falar desta “regra”, ele indica que os homens

podem acreditar no que quiserem, e, contudo, Deus não cederá a eles, pois Ele é imutável

e não cede à tolice ou é dado a retroceder. Paulo nos diz que tal alteração é impossível.

Seja o que for que aconteça, a regra que Deus estabeleceu permanece como é, imutável.

Isso é algo que todos nós aceitamos na exterioridade das coisas. Por que não seria pronta-

mente aceito o fato de que Deus é superior a nós? Nós ainda sentimos que dizer o contrário

é blasfemar. Assim, todos temos a certeza de que Deus deve reinar, e que Sua Lei deve

ser nossa regra para viver; no entanto, ao mesmo tempo, vejam como os homens se permi-

tem viver sem moderação! Cada pessoa inventa isso e aquilo, e logo depois espera que

todos os outros apoiem as suas invenções. Todo mundo quer ter as suas próprias regras

distintas. Embora possa ser verdade que nem todos no Papado seguem a regra de São

Francisco, ou de São Domingos, ainda assim, não há uma única velha tola ou fanático no

Papado que não tenha a sua própria regra. Assim como não há um único jovem que

também não tenha a sua própria regra para viver. Pois todos dirão: “Esta é a maneira que

eu faço minhas devoções”. E quando eles usam a palavra ‘devoção’, eles praticamente

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empurram a Deus para segundo plano, porque eles estão realmente dizendo: “eu devo ter

a liberdade de fazer o que eu acho é bom, e Deus deve contentar-se com isso”.

Que diabólica audácia os homens têm! Eles comprometem-se aqui e ali, eles falam descon-

troladamente, eles desviam-se para um lado e para o outro. É como se eles fizessem para

si caminhos tortuosos e errantes, na esperança de que Deus torcerá as Suas regras e será

flexível o suficiente a ponto de curvar-se para atender às suas próprias opiniões. Portanto,

temos mais uma razão para observar com atenção o que é dito aqui, a saber, que todos os

homens podem atormentar-se como quiserem, mas o governo de Deus permanece e se-

guirá o Seu próprio rumo e direção.

Qual é a regra? É que busquemos a perfeição que o nosso Senhor Jesus revela no Evange-

lho; não que possamos alcança-la durante a nossa vida, mas sim que não devemos nos

afastar de uma forma ou de outra, para a direita ou para a esquerda, mas visar sempre o

alvo que Deus nos revelou. É assim podemos ser novas criaturas, negando a nós mesmos

e nos dedicando totalmente a Deus. Uma vez que este é o caso, tomemos a decisão de

nos submeter a esta regra, e de conformar as nossas vidas a ela. Pois cada um de nós

imediatamente dirige seus pés e pernas a correr aqui e ali; mas para não errar, é preciso

aprender a se apegar a tudo o que Deus nos revela e nos ensina em Sua Palavra. Agora,

quando Paulo pede que a paz e a misericórdia estejam sobre essas pessoas, é para

declarar que, mesmo se tudo no mundo estupidamente nos condenasse, podemos ignorar

isso e nos recusarmos a deixar que isso nos incomode, prosseguindo em nosso próprio

curso. Se Deus é por nós, isto deve ser o suficiente. Porque, se nós somos abalados pelos

tolos julgamentos deste mundo, e pelas opiniões que eles espalham sobre nós, não esta-

mos prestando a Deus a honra que Lhe é devida. Se as pessoas dizem sobre nós: “Essas

pessoas não estão vivendo uma boa vida”, e ficamos aborrecidos e procuramos estar de

acordo com os seus gostos, certamente estaremos nos afastando de Deus.

Portanto, tomemos boa nota do que Paulo diz aqui, isto é, que se os homens nos condenam

e encontram coisas para criticar-nos naquilo que fazemos (e é óbvio que o mundo nunca

estará em harmonia com Deus), isso não deve significar nada para nós. Deveria nos bastar

o fato de que Deus tem nos abençoado, e nos oferece a felicidade completa nesta palavra

“paz”, mostrando que Ele terá piedade de nós, embora possamos ser miseráveis, e por ma-

is que os outros possam cuspir em nosso rosto. Apesar de que não temos todas as virtudes

que de nós são requeridas, ainda assim se o nosso objetivo é seguir a Deus, encontraremos

que Ele é sempre misericordioso. Ele nos sustenta em nossa fraqueza e nos ajuda em

nossa miséria. Se temos tudo isso, deveríamos estas satisfeitos. Por outro lado, embora o

Espírito Santo abençoe aqueles que se submetem ao governo de Deus, nós também sabe-

mos que Ele amaldiçoa, detesta e odeia todos aqueles que se desviam, e que fazem de

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suas próprias imaginações a sua lei. Eles buscam ter liberdade para seguir o que parece

correto para eles, e endurecem-se contra a Palavra de Deus. Contudo, eles são valorizados

pelo mundo, e por mais que eles estejam intoxicados com orgulho e presunção, pensando

que são muito importantes, podemos ver que Deus ainda os considera detestáveis. Isso é

o que precisamos lembrar: só há uma regra pela qual devemos viver e esta está contida no

Evangelho.

Onde é que esta regra nos conduz? Ela assegurará que nós não ofereçamos a Deus o que

parece correto para nós, ou o que temos forjado em nossas próprias cabeças. Em vez

disso, apresentemo-nos inteiramente a Ele e à Sua Palavra. Reconheçamos que em Jesus

Cristo temos toda a perfeição. Assim, nos contentemos com Ele somente, especialmente

porque sabemos que Ele é misericordioso o suficiente para nos mostrar piedade, e nossas

vidas serão abençoadas e felizes por meio dEle, se nós O seguirmos para onde ele nos

chama. Por outro lado, seremos amaldiçoados se não seguirmos a regra que Paulo fala a-

qui, não importa que opinião o mundo tenha a nosso respeito, ou o quanto ele nos elogia.

Agora ele acrescenta “o Israel de Deus”, para provar que aqueles que servem a Deus espi-

ritualmente, Ele sempre terá o prazer de reconhecer como o Seu povo. Pois os inimigos de

Paulo, contra quem ele tem uma desavença em toda esta Epístola, queriam manter todas

as cerimônias, pois lhes parecia que estas eram as marcas da verdadeira igreja, assim co-

mo os papistas atualmente querem manter o óleo sagrado e isso e aquilo. Mas os inimigos

de Paulo tinham razões muito mais fortes do que os papistas, e o seu caso era relativamen-

te mais importante. Ainda assim, Paulo continua a rejeitar tudo, e diz que Deus não se preo-

cupa com nada disso. Se é verdade que Ele havia ordenado as sombras da Lei por um tem-

po, e elas tiveram a sua função, que era conduzir as pessoas para o Senhor Jesus Cristo,

agora que temos a substância e a verdade nEle, devemos abandonar tudo. Nós temos uma

razão ainda mais forte, portanto, para dizer que “o Israel de Deus” não são os que aparecem

em grande esplendor diante dos olhos dos homens, mas os que têm a verdadeira marca

de Deus. Pois, quando os papistas nos falam da igreja, que deve incluir o Papa com suas

três coroas, e os bispos, que se disfarçam para dissimular a sua farsa, assim como todo o

seu esplendor, eles são como animais com chifres; os sacerdotes e os monges estão entre

eles e eles também deslumbram os olhos dos símplices. Isto é no que a igreja de Deus

consiste, de acordo com os papistas: em pompa e inutilidade frívola, absurda. Qual dos

sacramentos? Não, eles precisam desta ou daquela coisa extra; em suma, eles têm as suas

próprias marcas que parecem bastante aceitáveis para eles.

No entanto, nós devemos olhar para o Evangelho e o que encontramos ali? Toda simplici-

dade. Deus não quer que aqueles que pregam a Sua Palavra e administram os Seus sacra-

mentos usem trajes ou façam tantas fanfarras. Ele também não quer que os sacramentos

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sejam contaminados por invenções humanas, pois todas estas são inúteis para Deus.

Mantenhamos, portanto, a definição que Paulo oferece aqui sobre a verdadeira igreja, de

modo que não nos deixemos abalar quando as pessoas nos dizem: “Olhem, nós temos

muitas coisas bonitas aqui”. É verdade, se julgarmos de acordo com nossos sentidos natu-

rais, pois somos carnais e terrenos, e, portanto, somos mais inclinados a seguir o que pare-

ce belo aos nossos sentidos, todavia não devemos decidir por nós mesmos como servir a

Deus; devemos nos apegar ao que Ele tem declarado, porque Seu decreto é irrevogável, e

é aqui que nós devemos encontrar toda a nossa sabedoria, a saber, em Jesus Cristo. Isto

só pode acontecer se nós O obedecermos, mas não antes disso. Assim, devemos reconhe-

cer que devemos nos desligar das coisas exteriores que Ele ordenou na época da lei; mas

antes nos contentar com Jesus Cristo e com a perfeição que está nEle.

Tenhamos a certeza de que percebemos outra coisa, diz ele, neste momento: “A graça de

nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito”! Ele expõe aqui que o mun-

do, devido à sua ingratidão, não tem nenhuma ideia das riquezas que são oferecidas em

Jesus Cristo. O Evangelho é pregado com frequência suficiente, e ainda assim todos nós

nos retiramos dele e nos afastamos, como se nós decidíssemos deixar o bom caminho que

conduz à salvação e atirar-nos de cabeça na ruína e perdição. Qual é a razão para isso? É

porque nossos espíritos estão vazios, e o Diabo sempre ganha terreno; ele nos seduz, nos

incomoda e nos faz exultar em vaidades. De fato, até que a graça de nosso Senhor Jesus

esteja em nosso espírito, nós somos como canas agitadas, sem estabilidade ou firmeza.

Isto é o que nós precisamos almejar, que Deus não somente derrame a Sua graça sobre

nós, mas que nós também a recebamos em nosso espírito e coração; o nosso espírito deve

tornar-se o seu trono, e o lugar onde ela se enraíza, de modo que não estejamos ligados a

esta terra, mas levantemos as nossas afeições e mentes a Deus.

Agora, porque nunca haverá um momento em que esta doutrina dissolva a contradição,

Paulo aqui desafia aqueles que se levantam contra ele, e diz: “Desde agora ninguém me

inquiete; porque trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus”. Quando ele fala das mar-

cas de Jesus Cristo, ele as coloca em contraste com todos os arsenais dos príncipes, com

todos os seus diademas e cetros, e tudo o que eles possuem para conceder-lhes importân-

cia, e para obter a adoração e reverência de todos. Quando um príncipe quer ser visto como

estando no controle de sua propriedade, ele deve estar vestido de tal maneira que ninguém

se atreva a olhar para ele com medo de ser fascinado. Eles fazem isso com mais frequência

do que nunca, porque não há nada sobre eles digno de nota, e por isso precisam contar

com estes meios emprestados; o mesmo é verdade para as pessoas do mundo que se

dedicam à pompa e galhardia, e usam isso e aquilo para adquirir uma boa reputação. Em

suma, o mundano usará todos os meios para fazer-se notável, embora estas coisas sejam

vaidade em e de si mesmas. Porém, Paulo mostra que as marcas de nosso Senhor Jesus

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Cristo são, como sabemos, muito mais valiosas, e muito mais preciosas, tendo mais beleza

em si mesmas do que tudo o que é valorizado pelo mundo.

No entanto, é preciso considerar o que se entende por “marcas”. Ele nos explicou isso ante-

riormente, quando disse que ele fora espancado várias vezes. Ele havia sido apedrejado

em um lugar, preso em outro, e havia sofrido fome e sede (2 Coríntios 11:23-27). Em outras

palavras, ele tinha sido considerado como repugnante e, portanto, fora rejeitado. De acordo

com o mundo, devemos fugir de tal ignomínia. No entanto, Paulo diz que essas marcas va-

lem mais do que toda a honra e esplendor que poderíamos desfrutar. Visto que ele carrega

estas marcas, outros não devem “inquieta-lo”, impedindo-o de seguir seu curso e cumprir o

seu dever.

Agora a intenção de Paulo nesta passagem foi, em primeiro lugar, mostrar que, se somos

Cristãos e parte da verdadeira igreja de Deus, devemos obedecer a ordem de estarmos

unidos uns aos outros. Como? Não com cada pessoa seguindo a sua própria imaginação;

pois há de fato muitos que têm um espírito perverso que fazem com que seja impossível

que eles cooperem com os outros. Essas pessoas procuram manter-se separadas de todos

os outros, como cavalos selvagens, e é de se esperar que haja mosteiros e claustros para

essas pessoas que se recusam a unir-se com outros de acordo com a prescrição dada à

igreja. Assim, tendo-se separado em seu orgulho da companhia dos crentes, eles apenas

podem realmente tornarem-se monges do Diabo! Seja qual for o caso, sabemos por que

eles se escondem: é porque o Diabo os tem em suas garras e os possui. Ele simplesmente

tenta convencê-los a viver separadamente dos outros, para que ele possa, eventualmente,

desvia-los para longe de Deus por completo.

Em segundo lugar, Paulo nos mostra aqui que devemos procurar manter essa “regra”; o

Senhor Jesus deve ser o nosso exemplo, e devemos procurar nos conformar à Sua ima-

gem. Quando Ele fala, que possamos nos submeter ao Seu ensino, de modo que cada um

de nós guarde as Suas ordens. Além disso, ajudemos uns aos outros. Pois nós podemos

nos gabar da perseguição, ou isso ou aquilo, todos nós gostamos, mas a menos que nós

procuremos ajudar outros e contribuir para o progresso da edificação do templo espiritual,

é certo que ainda estamos servindo a Satanás e somos como escravos que servem sob

seu governo tirânico. Aprendamos a ter o mesmo sentimento uns para com os outros, à

medida que nos submetemos ao nosso Senhor Jesus Cristo. Além disso, aqueles que são

altruístas e fiéis em sua caminhada com Deus podem desprezar todas essas pessoas pom-

posas que querem elevar-se em seu orgulho, introduzindo isto ou aquilo; pois Jesus Cristo

sempre reconhece suas marcas. Em outras palavras, embora possamos ser desprezíveis

aos olhos do mundo, seremos sempre reconhecidos pelo Filho de Deus. Portanto, continue-

mos a caminhar, e deixem que aqueles que procuram nos prejudicar saibam que Deus os

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abaterá, como vimos anteriormente (Gálatas 5:12). É justo que Deus envie para a sua ruína

que perturbam a unidade da igreja e se recusam-se a servir de acordo com a sua capaci-

dade para o avanço do reino de nosso Senhor Jesus Cristo, por causa de seu orgulho e

presunção. Isto é o que nós precisamos lembrar dessa passagem, se quisermos perseverar

no gozo das riquezas que possuímos, que foram compradas por nós por tão alto preço,

através da morte e paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, e que são oferecidas para nós,

diariamente através do Evangelho.

Agora prostremo-nos diante da majestade de nosso grande Deus, reconhecendo os nossos

pecados, e orando para que eles nos entristeçam de modo que tremamos e busquemos o

Seu perdão. Então, sejamos transformados através de verdadeiro arrependimento e habili-

tados para a batalha contra todos os nossos vícios e todas as corrupções de nossa carne,

até que Ele tenha nos libertado de todos eles, então, Ele nos vestirá em Sua justiça. Assim,

todos nós digamos: “Todo-Poderoso Deus e nosso Pai celestial” e etc.

ORE PARA QUE O ESPÍRITO SANTO use este sermão para trazer muitos

Ao conhecimento salvador de JESUS CRISTO.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

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Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

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Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

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Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

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Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

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Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.