O criador e a criatura

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o criador e a criatura iara battoni a colagem como ponto de partida para o processo criativo

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A colagem como ponto de partida para o processo criativo

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o criador ea criatura

iara battoni

a colagem como ponto departida para o processo criativo

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Battoni, Iara O criador e a criatura : a colagem como ponto de partida para

o processo criativo / Iara Battoni - Rio de Janeiro, 2011. 116 p.

Monografia para Graduação a ser submetida à Comissão Examinadora do Curso de Bacharelado em Artes: Habilitação Figurino e Indumentária, da Faculdade SENAI-CETIQT, como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Artes.

1. Processo criativo. 2. Colagem. 3. Elementos Visuais. I. Título.

Ficha Catalográfica

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Centro de Tecnologia da Indústria Química e TêxtilFaculdade SENAI/CETIQT

Curso de Bacharelado em Artes - Habilitação: Figurino e Indumentária

Iara Battoni

O criador e a criatura

A colagem como ponto de partida para o processo criativo

Monografia para Graduação a ser submetida à

Comissão Examinadora do Curso de

Bacharelado em Artes, da Faculdade SENAI-

CETIQT, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Bacharel em Artes.

Prof° Marilúcia Cardozo Neiva

Orientadora

Rio de Janeiro

2011

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Iara Battoni

O criador e a criatura

A colagem como ponto de partida para o processo criativo

Monografia para Graduação a ser submetida à Comissão

Examinadora do Curso de Bacharelado em Artes, da Faculdade

SENAI-CETIQT, como parte dos requisitos necessários à obtenção

do grau de Bacharel em Artes – Habilitação Figurino e

Data de Aprovação: / /

Banca Examinadora:

________________________________________________________

Professora Marilúcia Cardozo Neiva

Pós-graduação Design de Moda e Fashion Business, Design, SENAI/CETIQT e

Fundação Getúlio Vargas,Figurino - Coordenação, TV Globo

________________________________________________________

Professor Aguinaldo Conrado Pinto

Mestre, Filosofia da Arte e Estética, PUC-Rio, Coordenador do Curso de Bacharelado

em Artes com Habilitação em Figurino e Indumentária, Faculdade SENAI/CETIQT

________________________________________________________

José Antônio de Medeiros Oliveira

Figurinista da TV Globo, Figurino, Figurinista - Programa Tapas e Beijos, TV Globo

_________________________________________

Professor Aguinaldo Conrado Pinto

Coordenador do Bacharelado em Artes com Habilitação em Figurino e Indumentária

Indumentária.

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As pessoas são como figuras

que recorto para fazer parte

da minha vida.

meus professores

MANOEL / PALOMA

PEDRO TOSTE / NEY MADEIRA

minha orientadoraMARI

minhas amigasELAINE HOFFMANN

RENATA LAMENZA

meu professor

FLÁVIO SABRÁ

meus amigos

do experimento “13 RECORTES”

CAMILA GROBÉRIO / CARLA

GRAZI PACHECO / ELAINE

LETÍCIA MERCIER / MARIA IGNEZ

RENATA CORTES / ROSA EBEE

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minha linda

sobrinha LALA

meus amados criadores PAISm

inhas queridas tias

MARIA HELENA e M

ARA

meu inestimável

professor

GUIDO

meus queridos

e incríveis

irmãos

ITA e MARCO

minha nova irmã MARIA

minha am

iga

LILI

minh

aspe

rfeita

sam

igas

TA

YDÉ

H

minha família carioca

AMARÍLIS e JORGE

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Foi assim pensando que iniciei a criação de um ser humano.

A extrema pequenez das partes representava um grande

obstáculo à minha pressa e assim resolvi, contrariamente à

minha primeira intenção, fazer o ser de uma estatura

gigantesca, isto é, com cerca de 2,40 metros de altura, e

proporcionalmente largo. Depois de ter tomado essa

resolução e de haver despendido de escolher e reunir meus

materiais, comecei. Ninguém pode conceber a variedade de

sentimentos que me lançavam para a frente, como um

furacão, no primeiro entusiasmo do sucesso.

Mary Shelley

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Resumo

Este trabalho consiste em experimentar e apresentar um tipo de processo

criativo que ocorre através da colagem. O objetivo é estimular a criatividade e

propor uma forma de criação de figurinos. O trabalho baseia-se na leitura do conto

Frankenstein, de Mary Shelley, e na teoria de Fayga Ostrower, examinado-se

pontos em comum entre ambos. A partir dessa análise, é desenvolvido um produto

final que, elaborado através de uma colagem, resulta em quatro protótipos de

manequins articulados, que representam os elementos visuais de forma analítica,

são eles; linha, superfície, volume, luz e cor.

Palavras-chave: processo criativo, colagem, elementos visuais.

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Abstract

This work consists of experiencing and presenting a kind of creative process

based in collage. The goal of this study is not only to develop creativity but also to

suggest a way to create wardrobes. This study is based on Mary Shelley's

Frankenstein and on Fayga Ostrower's fundaments, and it should come as no

surprise that both have points in common. From this analysis we will reach a final

product which elaborated with collage results in four prototypes—articulated

mannequins which are an analytical representation of the forms visual elements,

line, surface, volume, light and color.

Key words: creative process, collage, visual elements.

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1 INTRODUÇÃO 23

2 O PROCESSO CRIATIVO 29

2.1 Criação e criatividade 29

2.2 Fayga Ostrower e Frankenstein 31

3 A COLAGEM NO PROCESSO CRIATIVO 39

3.1 Exercício 13 recortes 40

3.2 Elementos visuais 45

4 OS CINCO ELEMENTOS – O FIGURINO A PARTIR DA COLAGEM 57

4.1 Protótipo linha, superfície, volume, luz e cor 61

4.2 Protótipo linha 66

4.3 Protótipo superfície, volume e luz 72

4.4 Protótipo cor 76

5 CONCLUSÃO 85

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 91

7 APÊNDICES 95

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Iara BattoniO criador e a criatura

1 Introdução

O presente trabalho destina-se ao estudo de um exercício de colagem que

visa estimular a criatividade e servir como base para criação de figurinos.

A proposta de tal estudo surgiu a partir da experimentação e da criação de

figurinos por meio de colagens com recortes de revistas, na aula de Laboratório de

Criação, ministrada pelo professor Pedro Toste. Este método difere das diversas

técnicas de representação ilustrativa que podem limitar a expressão da criatividade

do artista durante o processo de criação, quando certas habilidades e técnicas

específicas ainda não foram desenvolvidas.

O proposto para criação de figurino ocorre através da seleção de recortes de

figuras e da composição por sobreposição e fragmentação. No início de um

aprendizado, quando o artista ainda não desenvolveu habilidade de uma técnica

específica, o exercício pode ser aplicado de forma a propiciar o desenvolvimento da

criatividade. Trabalhando com o inesperado, o criador desenvolverá uma colagem e

através das primeiras formas concebidas dará vida a seu personagem. Com essa

primeira construção, enxergamos os primeiros traços da criatura.

Como pretendemos trabalhar com colagem, traçaremos um paralelo com a

novela Frankenstein, de Mary Shelley (2010), escolhida no intuito de associar o

processo da construção da criatura de Frankenstein com a técnica aqui proposta,

numa analogia à montagem referente a novela em questão, no qual o personagem é

gerado a partir de pedaços de corpos humanos. (APÊNDICE A).

Utilizaremos também os estudos do processo de criação de Fayga Ostrower,

artista plástica nascida na Polônia (1920 – 2001). Fayga foi gravadora, pintora,

desenhista, ilustradora, teórica da arte e professora. Chegou ao Rio de Janeiro na

década de 30, e seu primeiro livro “Criatividade e Processos de Criação” foi lançado

em 1977.

Fayga teve papel importante na pedagogia da arte, discutindo sobre o

processo criativo numa época em que o Brasil e outros países estavam isolados,

Ilustração em lápis de cor, aquarela, pastel seco e a óleo, guache, nankin, caneta tipo pantone, ilustração digital, entre outras.

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1

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Iara BattoniO criador e a criatura

carentes de informação. Outros autores que a antecederam também foram

referências neste contexto, como Wassily Kandinsky, Josef Albers, Rudolf Arnheim,

entre outros.

Com base nestes artistas e mestres da Bauhaus, que pensaram os

elementos visuais de forma analítica, estudaremos a partir dos recortes os

elementos que Fayga trata no seu livro “Universos da Arte”: linha, superfície,

volume, luz e cor.

Para dar início ao estudo serão apresentados alguns fatores do processo

criativo mostrando a relação e a distinção que há entre criação e criatividade.

Analisaremos então o processo criativo do personagem Frankenstein e de Fayga

Ostrower, no qual serão observados pontos em comum no ato de criar.

Discutiremos a colagem como ponto de partida para o processo criativo, propondo o

exercício “13 recortes”, por meio do qual pode-se perceber a visão particular dos

indivíduos envolvidos.

Partindo de uma colagem serão construídos quatro protótipos para

experimentar os elementos visuais citados acima. Utilizando-os separadamente

será possível visualizar as variações que uma colagem pode inspirar, gerando

diversas criaturas, pelo mesmo criador.

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2 O processo criativo

2. 1 Criação e criatividade

Segundo o dicionário Aurélio, pode-se definir criação e criatividade como:

criação. [Do lat. creatione.] S.f. 1. Ato ou efeito de criar. 2. O conjunto dos seres criados. 3. A propagação da espécie. 4. Invenção, elaboração. 5. Obra, invento, produção. criatividade. S.f. 1. Qualidade de criativo. 2. Capacidade criadora; engenho, inventividade. (FERREIRA, 1986, p. 497, p.498)

Segundo Fayga Ostrower (1999, p. 218), embora interligadas, a criação e a

criatividade também pressupõem questões diferentes. Para ela: “A criatividade está

no potencial de cada um – a criação já é a escolha de cada um.”

Fayga define que a criatividade é uma potencialidade nata. Mas, apesar de

todos nascerem com este potencial, alguns a desenvolvem mais do que os outros.

Já a capacidade de criar, além de nata, pode ser adquirida, dependendo apenas da

escolha do indivíduo. As potencialidades criativas somente se concretizam com a

vivência do ser humano:

[...] é preciso a pessoa crescer, desenvolver-se e atingir sua maturidade, revelando suas forças íntimas na maneira de enfrentar certas situações de vida – e dentro deste contexto existencial se revelará sua sensibilidade e seu verdadeiro potencial criador, que é mais do que apenas uma questão de talento. A realização das potencialidades criativas de uma pessoa envolve, portanto, um caminho de vida, cujas etapas não podem ser queimadas; elas têm que ser vividas. Envolve a realização da própria pessoa. Só a vida mostrará até que ponto alguém terá esta capacidade de crescer.” (OSTROWER, 1999, p. 218)

Portanto, a sensibilidade se dá no mundo da imaginação, parecendo que não

há limite nesta fantasia do imaginar, no qual construímos hipóteses, as desfazendo

e novamente refazendo, “proporcionando-nos uma idéia de grande liberdade de

ação. Lidamos com um presente que se estende a um futuro cheio de

eventualidades.” (OSTROWER, 1999, p. 218).

Já a criação se dá em atos concretos e específicos. A especificidade da ação

criativa desenvolve-se nos diversos materiais e em suas transformações.

Conhecendo a técnica e o material o artista consegue transpor a sua idéia para algo

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palpável. É neste ato do fazer, de gerar, de por no mundo que se encontra a criação.

Estas matérias vão ser transformadas pela ação do homem. Daí, os processos de criação constituírem essencialmente processos de transformações, cujas formas de desdobramento irão revelar novos aspectos característicos da própria matéria. Assim toda forma artística será forma gerada num processo de transformação. (OSTROWER, 1999, p. 219)

Quando se transforma um material, criam-se outras significações, gerando

um novo material. E ao formar, o homem se configura, ele se recria, se estrutura. No

momento em que ele transforma algo, utiliza todo o seu conhecimento e suas

emoções. Portanto o ato de criar é algo específico do ser humano.

[...] ao criar, o artista não “inventa” nada. Ele não inventa os conteúdos existenciais, que são suas próprias vivencias, assim como não inventa as formas expressivas/comunicativas de seu estilo, pois serão os termos mais adequados que ele puder encontrar para configurar os conteúdos vividos. Nisto, sem dúvida, o artista trava sua luta apaixonada consigo mesmo. E quando consegue alcançar o alvo – que é dar forma a seu conteúdo expressivo -, o artista vem a conhecer momentos de uma indizível felicidade. (OSTROWER, 2009, p. 234)

A capacidade de criar é dar forma a algo novo com isso engloba o viver, a

capacidade de se relacionar e de se integrar no mundo.

Criar, significa poder compreender, e integrar o compreendido em novo nível de consciência. Significa poder condensar o novo entendimento em termos de linguagem. Significa introduzir novas ordenações, formas. Assim, a criação depende tanto das convicções internas da pessoa, de suas motivações, quanto de sua capacidade de usar a linguagem no nível mais expressivo que puder alcançar. Este fazer é acompanhado de um sentimento de responsabilidade, pois trata-se sempre de um processo de conscientização.” (OSTROWER, 1999, p. 252)

O ser humano é considerado um ser formador, buscando evolução ao

trabalhar a forma. As imagens e objetos se formam em cada um, já impregnada de

valores, contendo uma significação totalmente pessoal, onde busca internamente

coerência e sentido para tais formas.

[...] Criar não representa um relaxamento ou esvaziamento pessoal, nem uma substituição imaginativa da realidade; criar representa uma intensificação do viver, um vivenciar-se no fazer; e, em vez de substituir a

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realidade, é a realidade; é uma realidade nova que adquire dimensões novas pelo fato de nos articularmos, em nós e perante nós mesmos, em níveis de consciência mais elevados e mais complexos. Somos, nós, a realidade nova. Daí o crescimento interior, em que nos ampliamos em nossa abertura para a vida. (OSTROWER, 2009, p. 28)

Desde quando nascemos, começamos a criar significações. Portanto, os

relacionamentos e as significações entram no consciente-inconsciente com

crescentes cargas simbólicas. A criatividade se realiza junto com a personalidade

da pessoa. A maturidade não tem fim e nem começo definido, é um processo de

crescimento contínuo no homem.

Criar significa mais do que inventar; é dar forma a um conhecimento novo. O

ato de criar implica um processo vivencial e desta forma apresenta um estilo que

não se altera repentinamente. O estilo é único em uma pessoa, portanto ao criar

conseguimos atingir um conhecimento mais profundo da vida.

2.2 Fayga Ostrower e Frankenstein

Relacionaremos os fundamentos de Fayga Ostrower com a novela

Frankenstein, de Mary Shelley, no intuito de analisar o processo de construção da

criatura.

Apesar de Frankenstein ser o nome do criador, um cientista que buscava

descobrir a invenção da vida, este nome acabou sendo, inexoravelmente,

associado à criatura.

Esta associação do criador e criatura ocorre quando criamos, uma vez que

no processo criativo, sempre imprimimos muito de nós mesmos no que é elaborado.

Entregamos àquilo que desenvolvemos muitas características do que nos compõe

e do que somos. A obra acaba por si só nos representando. Para ilustrar este fato

podem citar as obras de Van Gogh com suas pinceladas vigorosas, característica

indefectível deste pintor.

Ao criar, o artista passa por uma infinidade de hipóteses, buscando rumos e

ordenações para uma ideia inicial, no qual, se encaminha do possível ao

necessário, em uma intensidade prestes a transbordar.

Todos os processos de criação começam neste estado de profunda inquietação e tensão – e nem há palavras que possam descrevê-lo,

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porque os anseios e pressentimentos encontram-se como que concentrados numa enorme carga afetiva em regiões de pura sensibilidade. Sem deixarem de ser uma questão da inteligência, tais pressentimentos estão fora do perímetro de definições intelectuais ou de qualquer tipo de raciocínio lógico. É antes um íntimo senso de equilíbrio que está em jogo. A própria busca se inicia como um tatear no escuro. Não pela indecisão das pessoas ou talvez sua fraqueza. Ao contrário, requer uma imensa bravura poder entregar-se realmente a incertezas e questionamentos, para os quais não existem perguntas ou repostas prontas. Nem as perguntas poderiam ser antecipadas, pois elas se articulam quando a pessoa encontrar uma resposta. (OSTROWER, 1999, p. 257)

Ao vermos como Fayga descreve os sentimentos, rumos e ordenações no

ato de criar, podemos observar o processo criativo do Dr. Frankenstein, no

momento em que ele se encontra pronto para a realização de um ser humano:

No início, fiquei na dúvida se devia criar um ser como eu, ou um mais simplesmente organizado: porém a minha imaginação, demasiada exaltada pelo meu primeiro sucesso, não permitia que eu duvidasse da minha capacidade de dar a vida a um animal tão complexo e maravilhoso quanto o homem. O material que eu tinha à minha disposição naquela época mal me parecia adequado para uma tarefa tão árdua. Preparei-me para uma série de reveses; era possível que minhas experiências sofressem constantes frustrações, e por fim minha obra podia sair imperfeita, mas quando eu pensava no progresso que todos os dias se faz nas ciências e na mecânica, eu me sentia encorajado a esperar que minhas tentativas pelo menos lançassem os alicerces do sucesso futuro. [...]. Foi assim pensando que iniciei a criação de um ser humano. A extrema pequenez das partes representava um grande obstáculo à minha pressa e assim resolvi, contrariamente à minha primeira intenção, fazer o ser de uma estatura gigantesca, isto é, com cerca de 2,40 metros de altura, e proporcionalmente largo. Depois de ter tomado essa resolução e de haver despendido de escolher e reunir meus materiais, comecei. Ninguém pode conceber a variedade de sentimentos que me lançavam para frente, como um furacão, no primeiro entusiasmo do sucesso. [...] (SHELLEY, 2010, p. 56 - 57).

Observa-se que para chegar à conclusão de construir um ser de 2,40 metros

de altura, Frankenstein pensou em várias possibilidades até chegar a este

resultado, buscando uma ordem em que pensava, passando por invariáveis

sentimentos. A inspiração é uma das etapas de elaboração no processo criador.

Nesse momento, o artista está à frente do seu ser mais profundo, trazendo

uma carga de extrema felicidade mesclando com uma inquestionável inquietação,

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Iara BattoniO criador e a criatura

como podemos observar a seguir:

“Eu desejava, conforme estava acontecendo, adiar tudo o que estivesse

relacionado com os meus sentimentos ou afeições até que a grande obra, que

engolfava todo o meu ser, estivesse terminada.” (SHELLEY, 2010, p. 59).

Como vimos, o artista trabalha com sua sensibilidade e com toda sua

experiência de vida, considerando a criação uma conquista da maturidade: “[...] Só

ela dará ao artista a liberdade de formular novos conteúdos expressivos, de

crescente complexidade estilística e sutileza de nuances emocionais.”

(OSTROWER, 1999, p. 13)

No processo criativo nos deparamos com certos acasos. Somente

consideramos acasos quando percebidos por nós e quando os acasos não

acontecem por acaso. Para Fayga, os acasos são significativos. Os reconhecemos

imediatamente, sem reflexões, sem etapas; é como se aquilo estivesse dentro de

nós e que fizesse todo o sentido para o nosso ser.

Quando ocorrem, os acasos nos revelam a existência, por assim dizer, de analogias ocultas entre fenômenos. Sua descoberta pode nos surpreender num primeiro instante, mas ela assume imediatamente a forma de uma nova lógica, de um novo modo de se entender as coisas. Assim os acasos iluminam espaços vivenciais que se abrem à nossa mente e, à medida em que os ocupamos, o mundo vai se ampliando em nós. (OSTROWER, 1999, p. 7)

Os acasos surgem e desta forma nos pertencem. No ato criador estamos

atentos, consciente e inconscientemente, e os acasos, embora imprevisíveis, não

são de todo inesperados. É algo que nos pertence em forma potencial e que

encontra no acaso como uma oportunidade concreta de manifestar.

Podemos achar os acasos surpreendentes, mas eles surgem de um padrão

de ordenação e não de um modo sem regras. É a pessoa que sai de si para ir a

encontro a eles, assim tornando-se acasos atraídos pelas intenções do artista.

Nos vôos da imaginação, o artista especula sobre possíveis ordenações,

mas é no ato de criar, realizar, concretizar que podemos julgar e decidir. O fazer e o

imaginar ocupam dimensões diferentes, embora permaneçam juntos, não são

iguais.

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Iara BattoniO criador e a criatura

Quando, no próprio processo de criação, o artista passa da imaginação para a realização da obra, das idéias para a ação, ele não traduz simplesmente as formas imaginadas. Ele lida com formas diferentes, pois elas se referem a matérias e realidades diferentes. (OSTROWER, 1999, p. 221)

Podemos notar, na construção da criatura de Dr. Frankenstein, esta

diferença da imaginação e do fazer:

Seus membros eram bem proporcionados, e eu havia escolhido e trabalhado suas feições para que fossem belas. Belas! Meu Deus! Sua pele amarela mal cobria o relevo dos músculos e das artérias que jaziam por baixo; seus dentes, alvos como pérolas. Todas essas exuberâncias, porém, não formavam senão um contraste horrível com seus olhos desmaiados, quase da mesma cor acinzentada das órbitas onde se cravavam, e com a pele encarquilhada e os lábios negros e retos. (SHELLEY, 2010, p. 61)

Frankenstein havia selecionado cada parte para que a sua criatura saísse

como ele esperava, mas ele se surpreende quando todas as partes se unem,

revelando outros significados e outra aparência estética, a criatura torna-se

imperfeita a seu ver e fora dos padrões que imaginava.

A arte está muito além de técnica e habilidade. Conforme Fayga “[...] nas

obras de arte, as técnicas acabam se tornando “invisíveis”, sendo absorvidas

inteiramente pelas formas expressivas.” (OSTROWER, 1999, p. 18)

Quando observamos uma obra de arte, contemplamos as formas

expressivas, estas são formas de estilo, de linguagem e de condensação de

experiências:[...] Nelas se fundem a uma só vez o particular e o geral, a visão individual do artista e a da cultura em que vive, expressando assim certas vivências pessoais que se tornaram possíveis em determinado contexto cultural. Ao criar, o artista não precisa teorizar a respeito de suas vivências, traduzir os pensamentos e as emoções em palavras. Ele tem mesmo que viver a experiência e incorporá-la em seu ser sensível, conhecê-la por dentro. Daí, espontaneamente, lhe virá a capacidade de chegar a uma síntese dos sentimentos – naquilo que a experiência contém de mais pessoal e universal – e de transpor esta síntese para uma síntese de linguagem, adequando as formas ao conteúdo.” OSTROWER, 1999, p. 17)

A partir da contemplação dessas formas, o ser humano vive outras

experiências, desta forma o enriquecendo. O ato de compartilhar nos dá a noção de

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Iara BattoniO criador e a criatura

coletividade, de grupo e nos abstrai da ideia do exclusivo. É nessa troca que

crescemos interiormente.

Assim, Frankenstein, ao compartilhar sua criatura, se abstrai da ideia do

exclusivo, permitindo com que outras pessoas possam ser afetadas também por

sua criação, como é possível observar em seu próprio relato:

Com efeito, haveria alguém além de mim, o criador, capaz de acreditar, a menos que fosse convencido pelos seus sentidos, na existência do monumento vivo de presunção e completa ignorância que eu havia soltado no mundo? (SHELLEY, 2010, p.86)

E qual seria o sentido da arte? Por que insistimos nessa busca incessante?

Segundo Fayga (1999) um dos motivos do sentido da arte é ampliar o viver e torná-

lo mais intenso.

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3 A colagem no processo criativo

A partir dos fundamentos de Fayga Ostrower e as observações durante a

leitura de Frankenstein, da maneira como é construída a criatura, buscamos

analisar um tipo de criação de figurino, tendo como ponto de partida a colagem.

O método se dá através da seleção de recortes de figuras e da composição

por sobreposição e fragmentação, onde o artista constrói personagens a partir de

figuras aleatórias. O objetivo é inaugurar possibilidades para a criação e não ter

uma forma precisa, acabada ou estabelecida. O resultado não é uma imagem

realística do personagem e sim apresenta uma imagem desfigurada, constituindo

uma etapa do processo de criação do figurino, servindo como base para o que será

produzido, sem estabelecer a forma final do traje. Ao finalizar a colagem, ela se

torna inusitada e as figuras iniciais ganham outros significados quando se unem.

Comparamos a colagem que propomos com a maneira pela qual é feita a

construção da criatura do Dr. Frankenstein. A etapa de criação ocorre de forma

semelhante, a partir da gestação do personagem, sobrepondo as partes, juntando-

as e colando-as umas nas outras. E, sobretudo, trabalhando com um resultado de

uma imagem desproporcional e inusitada.

Ao lidar com o exercício de colagem com recortes aleatórios, observa-se que

as figuras iniciais adquirem múltiplos significados a cada passo da construção,

resultando na imagem de uma criatura fragmentada. Segundo Fayga (1999), o todo

não é apenas uma soma de partes, e sim uma integração em conjunto, no qual

surge uma nova totalidade, com isso estamos sempre buscando ordenações que

façam sentido para nós. No livro Acasos e Criação Artística (OSTROWER, 1999,

p.30) a autora diz:

“Nestas imagens sucessivas, vemos que as noções de “partes” ou “totalidades” não são noções absolutas. Elas são redefinidas, a partir de contextos que cada vez se formam de maneira diferente. Isto ocorre em nossa percepção de modo intuitivo, sem precisarmos refletir sobre cada lance de vista ou analisar intelectualmente a leitura dos diversos campos visuais, que se estabelecem, se dissolvem e se reformulam. É no ato mesmo, ao focalizarmos certos aspectos, que os enfoques se estruturam em contextos, e estes contextos definem para nós a “identidade” das formas e também os significados que possam ter naquele momento.”

39

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Iara BattoniO criador e a criatura

A mudança é constante no processo criativo. O artista está buscando

formular o estado de equilíbrio ou até mesmo um desequilíbrio desejado, passando

muitas de suas emoções para aquilo que executa, de maneira a identificar-se com

aquilo que foi criado. Portanto, no processo de criação da colagem é possível

observar esta gradual mudança.

A imagem é sempre uma forma estruturada. Nela se condensa toda uma gama de pensamentos, emoções e valores. Entretanto, por parte do artista que formula, esses valores e pensamentos raramente ocorrem verbalizados, isto é, o artista sequer precisa trazê-lo primeiro ao nível de palavras, para em seguida traduzi-los ao nível da forma. Ele pensa diretamente nos termos de sua linguagem visual, ou seja, ele pensa em cores, linhas, ritmos, proporções. [...] (OSTROWER, 2004, p. 46)

Assim, ao criar, o artista tem uma carga de espontaneidade, sendo ele o

responsável pela decisão do que realmente é necessário para o resultado do

processo criativo. Para ilustrar este assunto vide Figura 1.

3.1 Exercício 13 recortes

Com o intuito de mostrar a multiplicidade de possibilidades de leitura e

construção que uma mesma imagem pode proporcionar realizamos o exercício

denominado “13 recortes”, que consistiu na construção de personagens por 09

alunos do Curso de Figurino partindo de 13 recortes aleatórios, as imagens foram

iguais para todos os participantes e colocadas na mesma ordem. Vide Figura 2.

Na Figura 3 nota-se que a ordem dos fatores altera o produto, cada

ordenação leva a um produto diferente; e a cada produto corresponde um

significado, que é o da própria ordenação.

“Nas obras de arte, os conteúdos expressivos resultam de constantes inter-relações entre partes e totalidade. Cada componente, ao participar de uma composição, dela receberá um determinado significado. Este significado não existia independentemente, como um dado fixo ou preestabelecido, anterior à composição – assim como não existia a composição sem os componentes. Tudo surge e se define em interações recíprocas. A composição de uma imagem vai sendo formada à medida em que entrarem os elementos visuais [...], o significado de cada um dos elementos e das posições que ocuparem, vai ser redefinido pelo conjunto dos outros elementos presentes. Quer dizer: o significado de cada detalhe dependerá das funções especificas que passe a desempenhar na estrutura da totalidade que ajudou a formar.” (OSTROWER, 1999, p.33)

40

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Iara BattoniO criador e a criatura

41

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Iara BattoniO criador e a criatura

Portanto, quando as pessoas criam um personagem a partir da colagem,

juntando e sobrepondo as figuras, um determinado elemento ganha um novo

significado ao se juntar com outro. As figuras recebidas pelos participantes foram

iguais isso mostra também que a ordem das figuras leva a uma imagem diferente,

revelando personagens distintos:

Partimos para uma série de operações analíticas, tais como: discriminando, separando, delimitando, abstraindo e generalizando certos aspectos dos fenômenos observados – e, ainda no mesmo ato, procedemos em sentido contrário: comparando, relacionando, interligando e novamente unindo os aspectos. Análises e sínteses. Componentes e contextos. Partes e novas totalidades. Podemos destacar os aspectos e recompô-los. Podemos criar novas unidades do fluxo do acontecer. (OSTROWER, 1999, p. 29)

Analisando os resultados na FIG. 3, em nove colagens a figura da folha

dourada foi usada seis vezes para representar braço ou perna. Assim acreditamos

que a forma da figura por ser mais alongada remete a tais membros do corpo

humano. A figura pera e o círculo azul e prata, em seis representações foram usadas

como cabeça, o que nos faz supor que é por serem as figuras mais arredondadas

dentre as outras e assim remetendo a forma da cabeça.

Para três pessoas, o ursinho azul permaneceu sendo o próprio objeto, para

simbolizar a infância, o que se pode notar pelos títulos Infância da mulher, Criança

riquinha e mimada e Correndo contra o tempo. Todos que usaram o círculo azul e

prata inseriram outra figura no vazado. A figura do perfume dourado foi muitas vezes

usada como tronco.

Além das observações anteriores, é importante salientar o estilo próprio de

cada um. As mesmas figuras (a pera, a folha dourada, o círculo azul e prata, o

perfume dourado, o ursinho) foram usadas para representar a mesma parte do

corpo e permitiram a criação de produtos totalmente distintos.

Contudo, devido a particularidade e a vivência de cada um, embora os

recortes utilizados fossem os mesmos para todos os participantes, cada um

representou um personagem com a própria visão diante de tais figuras. Isso

proporcionou uma variedade de personagens, além de mostrar a riqueza de olhares

que temos para as mesmas coisas, mostrando que cada indivíduo é um ser

particular, cada um tem sua trajetória de vida.42

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 2 - Figuras selecionadas para o “Experimento 13 recortes”43

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 3 – Personagens criados por estudantes de figurino44

Page 47: O criador e a criatura

Iara BattoniO criador e a criatura

3.2 Elementos visuais

Para Ostrower, a linguagem visual é composta de cinco elementos: linha,

superfície, volume, luz e cor. Todavia, vale dizer que uma obra não precisa conter

todos os elementos para ser formulada. Portanto uma imensa variedade de

técnicas e estilos constrói um significado relevante.

[...] cabe frisar que palavras e elementos não são iguais. Ao contrário de palavras, os elementos visuais não tem significados preestabelecidos, nada representam, nada descrevem [...]. Precisamente por não determinarem nada antes, poderão determinar tanto depois.” (OSTROWER, 2004, p. 53).

Assim sendo, podemos considerar a linha como portadora de movimento

direcional. Quando uma linha é contínua, aparenta-se mais rápida pelo fato de não

apresentar nenhuma interrupção, diferente de uma linha pontilhada ou tracejada

que se mostra mais lenta devido às pausas que existem. E quanto maiores forem os

espaços dessas interrupções, mais lento se torna o percurso, aumentando desta

forma o peso visual da linha.

Em cada trecho linear, a linha configura uma só dimensão espacial, o que

equivale a uma direção de espaço. Por isso sempre haverá um efeito simultâneo

que abrange o tempo e espaço neste elemento, pois quanto maior a velocidade da

linha menor será seu peso visual e quanto menor a velocidade maior será o peso

visual.

Quando as linhas se unem, fechando sobre si mesmas, essas linhas se

transformam em linhas de contorno, dessa forma delimitando uma área. Ao surgir à

delimitação, temos outro elemento, a superfície, apresentando novas propriedades

e novo caráter espacial, ficando as linhas desta forma presas à área que contornam.

Ao recortar uma imagem delimitamos uma área,e as linhas por sua vez

transformam-se em linhas de contorno, como no caso das Figuras 4, 5 e 6, as quais

são consideradas superfícies fechadas, isto é, são áreas que possuem centros e

eixos, e são controladas nos contornos, sem entretanto, deixar de apresentar

movimento ao longo das margens, formando uma delimitação da área

Outra característica do elemento superfície são as dimensões altura e

largura. Como podemos perceber nas Figuras 4, 5 e 6, quanto mais as duas

45

Page 48: O criador e a criatura

Iara BattoniO criador e a criatura

dimensões forem proporcionais, menor será o movimento visual, como no exemplo

do círculo por não possuir nenhum ângulo e pontas (Figura 4). E quando uma

dimensão prevalecer visualmente chamará mais atenção para a direção

dominante, como no caso da Figura 5, por ser um recorte alongado na horizontal

impulsionará para as laterais; além disso, que o lado esquerdo predominará por ser

mais irregular que o outro lado.

Ao recortarmos imagens podemos ter várias formas bidimensionais;

triângulos, losangos, círculos, ovais, irregulares, sinuosas e pontudas (Figuras 4, 5

e 6).

Ao juntar os recortes temos um conjunto de planos sobrepostos, uma

superposição, a qual nos proporciona uma noção de profundidade. Além disso,

torna-se duplamente dinâmica, como nas Figuras 7 e 8, pois uma superposição

ordena os movimentos visuais em direção diagonal e em profundidade.

O volume é considerado um elemento mais dinâmico do que a linha e a

superfície, pois ultrapassa a estrutura bidimensional; isso ocorre também com os

elementos luz e cor.

A característica do volume é a profundidade, formando um espaço

tridimensional. É importante dizer que os elementos anteriores, linha e superfície

não perdem a identidade e a função inicial ao se juntar com outros elementos, e sim

adquirem novas funções.

Podemos notar esse espaço tridimensional na Figura 9, onde a imagem se

encontra na diagonal, tendo como formação estrutural, altura, largura e

profundidade. Essa noção de profundidade nos recortes é sempre visual, não é uma

profundidade real do espaço.

Conforme Fayga, a luz é o contraste entre o claro e o escuro; através disso a

luz articula uma vibração no espaço e assim podemos considerar o elemento luz

altamente dinâmico. Como podemos observar nas Figuras 10, 11 e 12 enquanto o

claro avança no espaço, o escuro recua e quanto maior o contraste maior será o

efeito visível de vibração; assim a Figura 11 tem um efeito de vibração maior em

relação às outras imagens devido o maior contraste entre claro e escuro que possui.

Observa-se nas Figuras 10, 11 e 12, o contraste do claro e do escuro. Mas

nesse caso, a profundidade é diferente da profundidade do volume, pois não

46

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Iara BattoniO criador e a criatura

consiste em altura e largura, em vez disso percebemos as vibrações; enquanto o

claro avança, o escuro recua.

No caso da luz, é necessário que esta seja composta por outros elementos,

podendo entrar linhas, superfícies ou volumes ou ainda tonalidades de cores.

Segundo Fayga, a característica da cor é a carga de sensualidade que lhe é

peculiar; não há em outro elemento a excitação que a cor nos proporciona. Não

podemos classificar as cores, pois o valor exato de cada cor depende do conjunto

em que é vista. Observamos esta interação da cor nas FIG. 10 e 11, quando o

ursinho entra em combinação com a cor verde e a cor amarela.

“[...] quanto maior for a diferença dos fundos, mais forte será sua influência

transformadora. [...] as diferenças de cor são causadas por dois fatores: a

tonalidade e a luminosidade e, na maioria dos casos, por ambas ao mesmo tempo.”

(ALBERS, 2009, p. 27). Portanto, o ursinho no fundo amarelo (Figura14) mostra-se

mais contrastado em relação a que está no fundo verde (Figura13).

47

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 4 – Exemplo de linha e superfície

Figura 5 - Exemplo de linha e superfície

Figura 6 – Exemplo de linha e superfície

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 7 – Exemplo de superposição

Figura 8 – Exemplo de superposição

49

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 9 – Exemplo de volume

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 10 – Exemplo de luz

Figura 11 – Exemplo de luz

Figura 12 – Exemplo de luz

51

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 13 - Exemplo interação da cor

Figura 14 – Exemplo interação da cor

52

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Iara BattoniO criador e a criatura

4 Os cinco elementos - O figurino a partir da colagem

De acordo com os conceitos de Fayga (2004), a fim de experimentar as

variações que uma colagem pode inspirar, construímos quatro protótipos de

figurino. Como abordamos no capítulo 3 a colagem não estabelece a forma final do

traje e sim indica uma ideia inicial do que será produzido. Vale frisar que tratamos de

um estilo pessoal e de uma visão particular, pois a colagem reproduzida e

observada por outras pessoas ganharia outras representações e significados.

Partindo da premissa de mostrar essa variação, escolhemos apenas uma

colagem. Apresentaremos a trajetória da mesma, desde a pesquisa e seleção de

recortes até a montagem. A partir do resultado final foram elaborados protótipos

inspirados nos elementos linha, superfície, volume, luz e cor.

A interpretação da colagem foi transposta diretamente em manequins

articulados de 30 centímetros de altura. Exercitamos a criatividade a partir de

experimentações de formas, mistura de cores, técnicas e materiais diversos.

Para iniciar o processo, foi utilizado uma gama de recortes variados de

revistas selecionadas aleatoriamente (Figura 15).

Das várias imagens recortadas, construímos um personagem com apenas

treze recortes. Entretanto, pode-se observar que até chegar à montagem da Figura

16 – quadro 12, ocorreram várias alterações. A construção do personagem, neste

caso, é a visão particular de quem a executa, sendo que, em dado momento

percebe-se que é necessário mover os recortes para baixo, para cima, excluir,

acrescentar, diminuir. Portando, este processo lida diretamente com o estilo do

artista, seus pensamentos e suas escolhas.

“O estilo de um artista se revela em inúmeras decisões intuitivas (conscientes ou inconscientes), cobrindo todas as etapas e detalhe do trabalho, desde a escolha inicial da técnica e do material, dos elementos visuais e seus relacionamentos formais, à configuração da imagem. Tais decisões, e também as hesitações, são formuladas com a maior naturalidade e simplicidade: “aqui seria melhor acrescentar algumas linhas; ali vou ter que interrompê-las; aqui cabe uma cor mais intensa; ali um vazio maior”. Os pensamentos não precisam ser verbalizados – nem sequer pensados. Basta o artista agir. Mesmo assim envolvem decisões, escolhas, avaliações, que vêm do foro íntimo da pessoa e exigem coragem e coração. (OSTROWER, 1999, p. 18)

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Iara BattoniO criador e a criatura

1

Figura 15 – Recortes selecionados aleatoriamente 58

Page 61: O criador e a criatura

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Iara BattoniO criador e a criatura

Partindo da colagem, nas etapas da construção do personagem, podemos

indagar algumas questões, tais como: por que em dado momento tiramos o recorte

corpo (Figura 16 - quadro 3) e depois de um tempo esse recorte volta (Figura 16 –

quadro 7) e finalmente resolvemos não incluir mais o recorte? E por que na última

montagem (Figura 16 – quadro 8) resolvemos fazer um equilíbrio dinâmico com as

asas representadas com chinelos, colocando dois em cada lado, ao invés de três de

um lado e um de outro?

Segundo Fayga, no momento que o artista está criando ele não precisa

teorizar, tentar traduzir seus pensamentos e emoções em palavras, mas somente

vivenciar a experiência do processo criativo. A espontaneidade chegará a uma

síntese de sentimentos transpondo-o para uma síntese de linguagem.

A partir da criação do personagem criado com recortes (Figura 17), foram feitos

os protótipos nos manequins articulados.

1 2 3 4

5 6 7 8

Figura 16 – Etapas da construção do personagem partindo de recortes

Page 62: O criador e a criatura

Figura 17 – Criação com figuras

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Iara BattoniO criador e a criatura

4.1 Protótipo Cinco elementos

Para confeccionar o protótipo, observamos as formas predominantes da

colagem na Figura 17. Observando-a, imaginamos quatro asas na altura dos braços

inseridos no corpo da criatura. Para representá-las, fizemos testes com espuma,

cola, tinta e plástico bolha. Por fim, no decorrer da criação, o plástico bolha mostrou-

se mais adequado e foi pintado com as cores que haviam na colagem (Figura 18).

Durante o processo criativo, o criador vivência certas interferências. São

sentimentos particulares e únicos, muitos pensamentos percorrendo a mente do

artista, levando-o ao resgate de lembranças. Entre tantas reflexões, nesta

experiência, a lembrança de uma técnica de cola quente vista há meses, vem como

referência para confecção do protótipo. Inconscientemente, surge uma ordem para

a execução dessas etapas, causando agitação, angústia e uma grande expectativa

no criador.

“Quando ocorre o acaso inspirador, o momento luminoso de compreensão intuitiva, este “clarão de luz”, ele se apresenta como um fato indiscutível. Ninguém, artista ou cientista, lhe nega o senso de realidade maior, pela ampliação do real. E tampouco nega o sentido quase místico da experiência. Nesses momentos, a pessoa se depara subitamente com o seu ser mais profundo, com o substrato de sua sensibilidade e inteligência, num vislumbre de mundos psíquicos, recônditos, assombrosos, terras virgens. São momentos deveras mobilizadores. Por um lado trazem a sensação de grande felicidade. Por outro, aos enlevos de felicidade se mescla uma estranha inquietação. Há novos apelos, de algo não-realizado

Figura 18 - Construção das asas

Page 64: O criador e a criatura

Iara BattoniO criador e a criatura

aspirando a ser realizado, a tornar-se forma e fazer-se compreender, apelos irresistíveis à imaginação criativa. Assim já se esboça em cada chegada uma partida, o começo de outra viagem ao desconhecido, levando para longe, longe e sempre mais longe.” (OSTROWER, 1999, p. 9)

Partindo desses pensamentos, o artista cria uma ordem de execução e se

coloca em frente da sua futura criatura. Portanto, é no momento da construção que

ele se conhece profundamente, que experimenta e usa suas técnicas e habilidades

para transformar a sua imaginação em algo concreto. Pode haver muitas mudanças

no processo, uma vez que a ideia do princípio da criação pode não ser a mesma na

execução. Isso ocorre porque a imaginação é diferente da realidade e assim

surgem inúmeros acasos, como abordado no capítulo 2.

A próxima etapa foi pintar a parte do corpo, objetivando um efeito

plastificado, o que de fato não ocorreu. Contudo, a ideia de aplicar a técnica de cola

quente para representar certas partes do figurino mostrou-se promissora e o teste

resultou em um produto muito satisfatório. Constatou-se então que, tendo um molde

seria possível obter qualquer forma desejável (Figura. 19).

A base do corpo, cabeça e pernas também foram construídas com a técnica

da cola quente (Figura 20).Para representar a saia, foi pintado o plástico bolha com

as cores que compõem a colagem (Figura. 21).

Figura 19 - Construção do corpo

62

Page 65: O criador e a criatura

63

Iara BattoniO criador e a criatura

A saia azul também foi construída com a técnica da cola quente (Figura 22),

confirmando que a técnica foi uma boa alternativa para a construção do protótipo.

Feito isso, o manequim foi montado (Figura 23).

O protótipo foi construído em três dias, nos quais ocorreram muitas

mudanças durante a construção.

1

Figura 20 - Construção do corpo, cabeça e pernas

Figura 21 - Construção da saia

Figura 22 - Construção da saia superior Figura 23 – Montagem do protótipo

Page 66: O criador e a criatura

Quando vemos uma obra, não sabemos o percurso feito pelo artista,

seus sentimentos, o que refez, pensou, quais foram suas reais angústias e

expectativas (Figura 24). “Ver uma obra de arte e compreendê-la significa

sempre fazer uma recriação [...]. Aqui se concretiza uma nova dimensão do

processo criador, que envolve o sentido de liberdade de cada um”

(OSTROWER, 1999 p. 242). Portanto, cada indivíduo faz a sua própria

interpretação diante da criatura.

64

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65Figura 24 – Protótipo Cinco elementos

Page 68: O criador e a criatura

Iara BattoniO criador e a criatura

4.2 Protótipo linha

A inspiração do segundo protótipo partiu do elemento linha. Para termos uma

ideia da colagem desta forma, usamos o programa Photoshop, através da

ferramenta filtro fotocópia, para transformar a colagem em linhas (Figura 25).

Para a construção deste, escolhemos a mesma técnica da cola quente

utilizada no protótipo anterior. Partindo das formas que a colagem nos inspirou,

fizemos o molde da asa (Figura 26), e em cima deste construímos linhas em várias

direções (Figura 27).

Após a construção das asas, observamos que a linha sendo translúcida e

branca não dava a carga de expressividade esperada. Assim, a alternativa

encontrada foi pintar as linhas de preto (Figura 28), estas ganharam identidade

Figura 25 – Colagem em forma de linhas

Figura 26 – Molde das asas Figura 27- Construção das asas

66

Page 69: O criador e a criatura

Iara BattoniO criador e a criatura

realçando o movimento que há entre elas.

Concluída a estrutura da asa e colocada no manequim, já era possível

visualizar como ficariam as outras partes (Figura 29). Na ação criativa, um misto de

felicidade e de angústia fazem parte do criador, já que este quer ver sua criatura

concretizada, mas ao mesmo tempo, deseja participar integralmente de cada etapa

a ser construída.

Para a construção das outras partes usamos uma massa de modelar como

molde, possibilitando transformá-la em diversas formas, como podemos verificar

nas Figuras 30 e 31.

“Aqui vale sublinhar as seguintes noções: cada matéria permite determinadas formas de desdobramento, que por sua vez caracterizam esta matéria. E ainda: os limites das possibilidades formais encontram-se nas impossibilidades concretas de uma matéria. (...). Portanto, as possibilidades formais serão sugeridas pela matéria em questão – por ela caracterizadas, as formas irão novamente caracterizar a matéria, reformulando-a.” (OSTROWER, 1999, p. 219)

Cada matéria se expressa de maneira específica, como o caso da

representação das linhas neste protótipo, feitas com cola quente, que quando

esfria, ganha a forma do molde (Figura 32).

Figura 28 – Pintura da asa Figura 29 – Estrutura asa

23 23

67

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 30 – Construção da saia

Figura 32 – Estrutura saia e corpo

Figura 31 – Construção das pernas, pés e cabeça

68

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69

Iara BattoniO criador e a criatura

Após a conclusão desta etapa todas as partes foram pintadas com tinta preta

(Figura 33).

Concluída a etapa da construção das partes lembramos do processo do

Frankenstein, quando o cientista reúne todos os membros de corpos humanos para

começar a montagem da sua criatura (Figura 34).

A última etapa foi a montagem das partes no manequim articulado (Figura

35).

Figura 33 – Pintura das peças

Figura 34 – Estrutura protótipo linha

Figura 35 – Montagem protótipo linha

Page 72: O criador e a criatura

Com a junção das partes a criatura se

concretiza. Observamos uma mistura de espessuras

de linhas que se encontram e se distanciam, deixando

caótico e ao mesmo tempo simples, com uma

sensação de leveza misturada com agressividade.

Feito apenas de uma matéria prima (cola quente) e

uma cor (preta), esta criatura nos faz percorrer por

seus caminhos infinitos, como um labirinto, uma teia

(Figura 36).

70

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71Figura 36 – Protótipo Linha

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Iara BattoniO criador e a criatura

4.3 Protótipo superfície, volume e luz

O protótipo inspirado nos elementos superfície, volume e luz consiste em

tons de cinzas. Escolhemos estas tonalidades, pois queremos abstrair as cores da

colagem neste terceiro protótipo. Para isso, usamos novamente o programa

Photoshop para transformar a colagem em preto e branco (Figura 37).

A estrutura foi construída com papel sulfite e revestida com uma fina camada

de massa de porcelana fria (biscuit), já que este material proporciona maciez e

função de moldar enquanto está fresco (Figura 38).

Na etapa de pintura foram aplicadas misturas de tinta preta e branca,

obtendo uma grande variedade de escala de cinza (Figura 39).

Figura 37 – Colagem em preto e branco

Figura 38 – Construção do protótipo

72

Page 75: O criador e a criatura

73

Iara BattoniO criador e a criatura

No início utilizamos pincel, mas durante o processo percebemos que a pintura com

o dedo era mais adequada, pois foi possível aplicar a tinta com mais

homogeneidade, eliminando desta forma, os traços do pincel. A princípio o pincel

parecia a melhor solução, mas foi no ato de fazer que percebemos outra técnica

mais adequada e satisfatória (Figura 40).

Com as tonalidades pudemos dar efeito de luz e sombra acentuando

volumes em certas áreas. Como explanado anteriormente, enquanto os tons claros

avançam, os tons escuros recuam. Podemos perceber um alto contraste na saia e

na asa direita (Figura 41). O elemento volume, neste caso, deixa de ser virtual -

como é no caso da colagem - e passa ser real, pois estamos trabalhando com

tridimensionalidade.

Figura 39 – Pintura com pincel em preto e branco

Figura 40 – Pintura com dedo

Page 76: O criador e a criatura

Quando o criador se depara com a criatura construída ele se depara com

diversos sentimentos, como no caso de Frankenstein, com olhos de espanto e

sentimento de rejeição, no momento em que se depara com o monstro que

criou. Portanto, durante todo o processo de criação, o artista passa por

inúmeras expectativas e sentimentos contraditórios.

74

Page 77: O criador e a criatura

75Figura 41 – Protótipo Superfície, Volume e Luz

Page 78: O criador e a criatura

Iara BattoniO criador e a criatura

4.4 Protótipo cor

Para a realização do último protótipo utilizamos papel sulfite coberto com

saco plástico branco. Escolhemos o saco plástico, para passar a impressão de tinta

fresca e relevo após a pintura (Figura 42). Mesmo que haja superfície, volume e luz,

o elemento predominante neste protótipo é a cor.

Pintamos todas as áreas de amarelo e branco conforme observamos na

colagem; a intenção foi pintar borrões ao invés de traços definidos. É como se

olhássemos a colagem de longe, onde se observa as cores que mais se destacam

no conjunto (Figura 43).

Figura 42 – Construção do protótipo

Figura 43 – Pintura do protótipo

76

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77

Iara BattoniO criador e a criatura

Misturamos o vermelho na tinta amarela que estava fresca, assim obtendo a

cor laranja; em seguida entramos com a cor verde nas asas (Figura. 44).

Neste caso usamos mistura subtrativa, pois trabalhamos com tinta oposta da

mistura aditiva, onde a soma de todas as cores existentes é o branco.

Quando pigmentos ou tintas são misturados em uma paleta ou em um

recipiente, o olho os percebe como luz refletida. Essa mistura nunca

resultará em branco como a soma das cores. Ao contrário, quanto mais se

misturar a cor, mais a mistura se aproximará de um cinza-escuro tirante ao

preto. A isso chamamos de mistura subtrativa. (ALBERS, 2009, p.35)

Figura 44 – Pintura do protótipo

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Iara BattoniO criador e a criatura

Durante a etapa de pintura, foram utilizadas cerca de dez cores diferentes e

essas se desdobraram em outras quando misturadas. (Figura 45)

Já tendo passado por um suposto momento final retornamos ao processo

criativo, onde verificamos que havia necessidade de complementação. Para tal,

fizemos manchas, que transitavam. Agora a tinta verde da asa passa a ter pontos

verdes na cabeça e em outras asas, a parte azul sube levemente no tronco, e a saia

com várias cores que descem pelas pernas (Figuras 46 e 47).

Figura 45 – Pintura com tinta acrílica

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Iara BattoniO criador e a criatura

Figura 46 – Manchas de tintas no protótipo

79

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Este fato evidencia que o processo criativo é

contínuo, revelando que a ação criativa nunca se

finaliza. Só sentimos a necessidade de dizer para

nós mesmos que paramos, pois, precisamos

descansar nossa mente para a realização de

outras criaturas.

80

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81Figura 47 – Protótipo Cor

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Iara BattoniO criador e a criatura

5 Conclusão

Ao longo deste estudo foram realizados protótipos e um experimento a fim de

mostrar a multiplicidade que há em cada indivíduo no processo criativo. Cada

pessoa interpreta as coisas de maneira particular, pois cada um tem uma trajetória

de vida. Carregamos em nós uma carga de experiências e de vivência, que ninguém

pode apagar.

Acreditamos que é isso que nos dá sentido a vida. Somos seres particulares

que se relacionam com outros, dividindo angústias, expectativas e experiências de

vida. O ato de compartilhar nos dá a noção de coletividade, de grupo e nos abstrai

da ideia do exclusivo.

Na execução dos protótipos, uma das dificuldades surgidas durante o

trabalho, foi transpor a ideia diretamente no manequim. Acostumados a trabalhar

com esboços e variados testes percebemos que, ao se arriscar, aprendendo a lidar

também com os imprevistos que podem surgir durante o processo criativo, o

produto pode tornar-se ainda mais interessante e surpreendente. Isto, tanto do

ponto de vista do criador, como para as outras pessoas que observaram o que foi

criado.

Trabalhando sem esboço, podemos resgatar um novo olhar, um novo modo

de observação e nos deparar com formas e misturas de cores que talvez não

ousaríamos imaginar. Nesta experiência percebemos que a ação criativa é mais

importante do que o resultado em si, nos permitindo ver novos significados.

Durante o processo de criação mudamos de opinião constantemente,

reformulamos nossos pensamentos diante da experiência que vivenciamos, como

se nossa mente descobrisse uma outra dimensão, na qual não existe uma regra

pré-estabelecida que determina como o processo criativo deve ocorrer. É isso que

nos dá liberdade no momento da criação, sendo este alguns dos motivos do sentido

da arte, a sensação de que somos livres para expressá-la e sobretudo vivenciá-la.

Embora a criação e a criatividade tenham sido amplamente discutidas

durante todo esse estudo, elas nunca poderão ser definidas e tão pouco

compreendidas literalmente, por pertencerem a um universo a parte, o qual, ainda

que viva em cada um de nós, se mostra de forma diferente e particularmente

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Iara BattoniO criador e a criatura

instigante em cada indivíduo. E é exatamente toda essa atmosfera abstrata que

permite ao criador se apaixonar ainda mais por esse mundo tão real, e ao mesmo

tempo, tão intrigante que é o processo de criação.

Finalmente, ao término dos protótipos realizados, e do experimento em si,

pudemos observar que o processo de criação aplicado, a colagem, pode de

maneira substancial estimular a criatividade significativamente, e sobretudo, abrir

nossos horizontes para propormos também outras formas de criação de figurinos.

86

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Iara BattoniO criador e a criatura

6 Referências

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OSTROWER, Fayga. Acasos e criação artística. 2. ed Rio de Janeiro: Elsevier,

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SHELLEY, Mary. Frankenstein. 2. ed Porto Alegre: L&PM, 2010.

Filmes

FRANKENSTEIN de Mary Shelley. Direção: Kenneth Branagh. Produção: Francis

Ford Coppola, James V. Hart e John Veitch. [S.l.]: American Zoetrope; Indie Prod

Films; Japan Satellite Broadcasting Inc.; TriStar Pictures, 1994. 1dvd.

FRANKENSTEIN. Direção: James Whale. Produção: Carl Laemmle Jr. [S.l.]:

Universal Pictures, 1931. 1dvd.

Site

Disponível em: http://www.faygaostrower.org.br/artista.php. Data de acesso:

20/05/2011.

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Iara BattoniO criador e a criatura

7 Apêndice A - Resumo Frankenstein, de Mary Shelley

Dediquei-me a pensar em uma estória – uma estória que revitalizasse com as que nos tinham incitado a realizar aquele trabalho. Uma estória que falasse aos misteriosos medos nossa natureza e despertasse um espantoso horror – capaz de fazer o leitor olhar em torno amedrontado, capaz de gelar o seu sangue e acelerar os batimentos do coração. (SHELLEY, 2010, p.8)

A novela de Shelley (2010) começa com quatro cartas escritas por Robert

Walton, que as envia para sua irmã Margaret, nas quais conta sua trajetória em um

navio para o Pólo Norte. Em uma das cartas, descreve ter visto uma criatura que

tinha forma de homem, com uma estatura enorme. No momento em que ele avistara

a criatura, o navio estava cercado de gelo, impossibilitando a continuação de seu

trajeto. Na manhã seguinte, os marinheiros encontram um homem em um dos

pedaços de gelo derretido. Esse homem é Victor Frankenstein.

Frankenstein está muito doente e, após alguns dias de repouso, resolve

relatar a sua história para Robert Walton. Ele narra toda a sua trajetória desde a sua

infância até a chegada ao navio. O capitão registra toda a história até os últimos

acontecimentos da sua longa viagem.

Victor Frankenstein descreve sua infância e a curiosidade por ciências

naturais, desde pequeno. Nascido em Nápoles, era filho único, e sua mãe, Carolina

Beaufort era filha de um grande amigo do seu pai.

Victor, com cinco anos de idade conhece sua nova irmã adotiva, Elizabeth

Lavenza. Passados alguns anos, Carolina tem seu segundo filho chamado William.

A partir de então, resolvem morar em Genebra, onde Victor conhece seu novo

amigo Henry Clerval.

Victor tinha uma imensa curiosidade em descobrir as leis ocultas da

natureza; quando pequeno lia livros ultrapassados sobre ciências naturais, motivo

de gozo do pai e de futuros mestres. Com dezessete anos seus pais o aconselham a

ingressar na universidade de Ingolstadt. Nesse momento, perde sua mãe que,

como último desejo, pede que ele e Elizabeth se casem futuramente.

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Iara BattoniO criador e a criatura

Frankenstein parte para Ingolstdt, para estudar Ciências Naturais, com a

intenção de descobrir como dar a vida à matéria morta. Assim, ele se aprofunda nos

estudos de História Natural ligados à fisiologia. Passados dois anos ele se isola para

montar a sua obra, no sótão de uma casa, onde escreve, em seu diário, os

procedimentos que adota.

Começa então a visitar cemitérios em busca de defuntos e, após reunir todo o

seu material, dá início à sua experiência. Frankenstein constrói um ser de uma

estatura gigantesca, de cerca de dois metros e meio. Quando lhe dá vida sua pele

mal cobre seus músculos. É um ser fragmentado, construído por partes de

cadáveres, uma criatura assustadora.

Nessa noite o cientista cai em sono atordoado com o que criara. Ao acordar,

avista a sua obra imperfeita, sai correndo pela noite chuvosa, para encontrar seu

amigo Henry Clerval que também havia estudado em Ingolstdt. Voltando à casa de

Frankenstein e percebendo que a criatura não está mais lá, Victor tem um ataque de

riso, próximo à loucura e desmaia. Seu amigo cuida dele durante alguns meses.

Elizabeth envia cartas para Victor e, em uma dessas cartas fala, que seu

irmão está morto. Ele volta imediatamente para Genebra e, quando chega, já é noite

e os portões da cidade estão fechados. Resolve visitar o local em que seu irmão

havia morrido. Lá vê sua criatura e logo chega à conclusão que ela é o assassino.

Na manhã seguinte vai para casa, onde todos dizem que haviam achado a

assassina do seu irmão. Teria sido Justine, criada da casa de seus pais, pois no dia

da morte encontram com Justine o colar com que William estava no dia da sua

morte. Ela seria condenada à morte.

Victor sai pelas montanhas de Genebra, entristecido pelos fatos ocorridos e

lá encontra a sua criatura. Ela conta toda sua história, como aprendera a sobreviver,

a falar e a ter sentimentos. Agora, o que ela sentia era raiva pelo abandono de seu

criador e por ter sido feita tão horrenda que amedrontava as pessoas.

Conta que descobrira seu criador pela agenda encontrada no casaco com o

qual fugira do laboratório. O monstro confessa que matara seu irmão. Ao ver o

garoto, inicialmente acreditara que sua pura inocência não o rejeitaria, mas no

momento em que Willian fala que seu pai, Frankenstein, o puniria, a criatura o

estrangula. Encontra Justine dormindo e deixa o colar que havia retirado da criança. A criatura propõe que ele faça uma companheira, pois, desta forma,

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Iara BattoniO criador e a criatura

poderia ir para bem longe e deixá-lo em paz. Victor sai da cidade para construir o

pedido de sua criatura, se isolando novamente, mas quando percebe o erro que

está cometendo, destrói a sua criação antes mesmo de acabar. A criatura se revolta,

e mata seu amigo Henry. Frankenstein encontra novamente o monstro, que avisa

que se vingará na noite de núpcias, matando Elizabeth.

Frankenstein volta para Elizabeth, se casam e vão para a noite de núpcias.

No momento em que Victor investiga todos os cômodos da casa, escuta um grito e,

chegando ao quarto, encontra Elizabeth morta. A criatura foge. Victor, sozinho,

revoltado com a desgraça que soltara no mundo, resolve ir atrás da criatura para se

vingar. O capitão Robert o encontra em um bloco de gelo. Após contar sua história,

Victor morre. O capitão encontra a criatura debruçada em seu criador, chorando. Ela

fala que em breve também morrerá e foge sumindo na imensidão do mar.

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cinco elementos...

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Matéria-prima:

· Manequim articulado feminino 30 centímetros;

· Cabeça – cola quente, verniz vitral amarelo ouro e vermelho fogo;

· Pescoço – fita isolante;

· Corpo – refil cola quente, verniz vitral amarelo ouro e vermelho fogo e

tinta acrílica branca;

· Asas – plástico bolha, arame, cola de contato, tinta acrílica amarela,

branca, verde folha, azul, preta e vermelha;

· Saia água – refil cola quente, tinta aquarela silk azul cerúleo;

· Saia de tintas – plástico bolha, refil cola quente, linha 10 para pipa, cola

branca, tinta amarelo limão, amarelo ouro, laranja, azul escuro, azul

claro, vermelho, preto, branco, roxo, verde folha e verde bandeira;

· Pernas – cola quente, verniz vitral amarelo ouro e vermelho fogo; e

· Patins – cola quente, verniz vitral amarelo ouro e vermelho fogo, conta

de plástico azul claro e paetê.

Ferramentas:

· Vela redonda;

· Plástico PVC;

· Pistola de cola quente;

· Tesoura;

· Agulha;

· Papel higiênico;

· Jornal;

· Pote com água;

· Pincel chato n° 10, 12 e 18;

· Pincel redondo n° 12;

· Estilete;

· Taça de vidro; e

· Prato de vidro.

Matéria-prima:

· Manequim articulado feminino 30 centímetros;

· Cabeça – cola quente, verniz vitral amarelo ouro e vermelho fogo;

· Pescoço – fita isolante;

· Corpo – refil cola quente, verniz vitral amarelo ouro e vermelho fogo e

tinta acrílica branca;

· Asas – plástico bolha, arame, cola de contato, tinta acrílica amarela,

branca, verde folha, azul, preta e vermelha;

· Saia água – refil cola quente, tinta aquarela silk azul cerúleo;

· Saia de tintas – plástico bolha, refil cola quente, linha 10 para pipa, cola

branca, tinta amarelo limão, amarelo ouro, laranja, azul escuro, azul

claro, vermelho, preto, branco, roxo, verde folha e verde bandeira;

· Pernas – cola quente, verniz vitral amarelo ouro e vermelho fogo; e

· Patins – cola quente, verniz vitral amarelo ouro e vermelho fogo, conta

de plástico azul claro e paetê.

Ferramentas:

· Vela redonda;

· Plástico PVC;

· Pistola de cola quente;

· Tesoura;

· Agulha;

· Papel higiênico;

· Jornal;

· Pote com água;

· Pincel chato n° 10, 12 e 18;

· Pincel redondo n° 12;

· Estilete;

· Taça de vidro; e

· Prato de vidro.

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linha...

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Matéria-prima:

· Manequim articulado feminino 30 centímetros;

· Refil cola quente; e

· Tinta acrílica preta.

Ferramentas:

· Tesoura;

· Pistola de cola quente;

· Pincel chato n° 12;

· Tinta acrílica branca;

· Massa de modelar;

· Pote com água;

· Papel sulfite A3; e

· Papel higiênico.

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superfície,volume e luz...

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Matéria-prima:

· Manequim articulado masculino 30 centímetros;

· Refil cola quente;

· Papel sulfite branco;

· Bola de isopor;

· Massa de porcelana fria branca (Biscuit); e

· Tinta acrílica branca e preta.

Ferramentas:

· Pistola de cola quente;

· Rolo;

· Tesoura;

· Estilete;

· Pincel chato n° 10, 12

· Godê (misturador de tinta);

· Pote com água;

· Papel sulfite A3; e

· Papel higiênico.

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cor...

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Page 115: O criador e a criatura

Matéria-prima:

· Manequim articulado feminino 30 centímetros;

· Refil cola quente;

· Papel sulfite branco;

· Saco plástico branco;

· Tinta acrílica branca, preta, verde folha, verde folha, amarelo, amarelo

limão, vermelho, azul, azul celeste e ocre; e

· Cola branca.

Ferramentas:

· Tesoura;

· Pistola de cola quente;

· Pincel chato n° 10, 12 e 18;

· Godê (misturador de tinta);

· Pote com água;

· Papel sulfite A3; e

· Papel higiênico.

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MONTE AQUI A SUA CRIATURA

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