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Página 1 de 18 Gripen – o novo caça da FAB JOSÉ ALVES DANIEL FILHO, Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares de Sousa” da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG [email protected] Histórico Durante a década de 1970 as Forças Armadas (FFAA) sul americanas, influenciadas por seus governos militares que dominavam a região durante esse período, iniciaram um processo de aquisição de material militar com vistas à modernização de seus meios. Essas compras consistiram na aquisição de aeronaves, blindados, radares, entre outros itens que visavam fortalecer suas defesas e substituir os materiais que já estavam obsoletos, sendo essas compras consideradas prioridades dentro dos orçamentos desses países. O Brasil, considerada uma potência regional, para não ficar defasado frente as novas ameaças externas também levou suas FFAA as compras e desenvolvimento de sua indústria de defesa. Para a Força Aérea Brasileira (FAB) a principal necessidade naquele momento era a aquisição de aeronaves de caça. O país foi ao mercado internacional a procura de modelos com características de interceptadores avançados e com velocidade final superior a Mach 1 com vistas a substituir os já desativados caças britânicos Gloster Meteor. Com a recusa dos americanos na venda do F-4 Phantom, seu caça de primeira linha na época, ofereceram então o F-5 como alternativa, mas este acabou sendo recusado pelo Brasil por entenderam que não cumpria bem a função para a defesa aérea, pois era um caça leve com capacidade de ataque ao solo. Ironicamente esta aeronave é nossa ponta de lança na aviação de combate nacional atualmente, mesmo após 40 anos de sua chegada, modernizado estruturalmente e os aviônicos no início dos anos 2000, teve por objetivo estender sua vida útil até ser substituído por um novo caça.

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Gripen – o novo caça da FAB

JOSÉ ALVES DANIEL FILHO, Membro do Centro de Pesquisas Estratégicas “Paulino Soares

de Sousa” da Universidade Federal de Juiz de Fora – MG [email protected]

Histórico

Durante a década de 1970 as Forças Armadas (FFAA) sul americanas,

influenciadas por seus governos militares que dominavam a região durante esse período, iniciaram um processo de aquisição de material militar com vistas à modernização de seus meios. Essas compras consistiram na aquisição de aeronaves, blindados, radares, entre outros itens que visavam fortalecer suas defesas e substituir os materiais que já estavam obsoletos, sendo essas compras consideradas prioridades dentro dos orçamentos desses países. O Brasil, considerada uma potência regional, para não ficar defasado frente as novas ameaças externas também levou suas FFAA as compras e desenvolvimento de sua indústria de defesa.

Para a Força Aérea Brasileira (FAB) a principal necessidade naquele

momento era a aquisição de aeronaves de caça. O país foi ao mercado internacional a procura de modelos com características de interceptadores avançados e com velocidade final superior a Mach 1 com vistas a substituir os já desativados caças britânicos Gloster

Meteor. Com a recusa dos americanos na venda do F-4 Phantom, seu caça de primeira linha na época, ofereceram então o F-5 como alternativa, mas este acabou sendo recusado pelo Brasil por entenderam que não cumpria bem a função para a defesa aérea, pois era um caça leve com capacidade de ataque ao solo. Ironicamente esta aeronave é nossa ponta de lança na aviação de combate nacional atualmente, mesmo após 40 anos de sua chegada, modernizado estruturalmente e os aviônicos no início dos anos 2000, teve por objetivo estender sua vida útil até ser substituído por um novo caça.

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Na época das propostas apresentadas, da Europa os ingleses ofereceram o English Electric Lightning, mas que não foi adiante às negociações por diversos motivos, os suecos ofereceram seus Drakken para a função, mas a falta de tradição da nação em exportações deixou o Brasil receoso quanto à aquisição, na Itália a FAB fez alguns voos no F-104, mas que acabou sendo preterido, pela última opção que se enquadrava no perfil desejado pela Força, o famoso Mirage III, que acabava de obter grande sucesso na Guerra dos Seis dias entre Egito e Israel, onde fez história com suas vitórias com este operador.

Com a assinatura do contrato para a aquisição de 16 unidades do Mirage III

(12 monoplace e 4 biplace), designados na FAB como F-103, o Brasil entrou definitivamente na era supersônica mudando sua forma de voar e de combater nos céus.

F-4 Phantom da USAF Saab J-35 Drakken

Foto: Mark Edward – www.planespotters.net Foto: Jet Fighter Plane

Em 1972 os F-103, também conhecidos como Jaguar (codinome do esquadrão), começaram desembarcar em nosso território e serem operados a partir do Planalto Central em uma base construída exclusivamente para recebê-los. Após a análise minuciosa sobre as possíveis ameaças, foi verificado que ela vinha do sul e a cidade goiana de Anápolis seria a melhor opção para decolar a aeronave que procederia a interceptação frente à outra opção em análise, Planaltina no Distrito Federal. A FAB dispensou grandes esforços para operar a aeronave com todos seus recursos disponíveis na época.

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English Electric Lightning da RAF Mirage III

Foto: Glenn Beasley– www.airliners.net Foto: Aparecido Camazano Alamino

O Mirage inicialmente operava em missões ar-ar equipado com um míssil

R550 Matra em seu cabide central, além de dois tanques alijáveis em interceptações a grandes altitudes vetorados pelos modernos radares baseados em terra que então equipavam o recém-criado CINDACTA (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Trafego Aéreo) e cobriam a região centro-oeste e sudeste (CINDACTA I – Brasília DF), sul (CINDACTA II – Curitiba PR) e nordeste (CINDACTA III – Recife PE) em um conjunto integrado de defesa aérea e controle do tráfego aéreo civil, até hoje considerado um dos modelos mais bem sucedidos do mundo. No decorrer da década de 1990 foi implantado o sistema SIVAM ampliando a rede de cobertura e detecção na região norte, sendo transformado posteriormente em CINDACTA IV – Manaus AM, interligado aos demais Centros existentes possibilitando a cobertura de todo território nacional.

Com o passar dos anos e a falta de recursos governamentais devido as grandes

crises econômicas que o país vinha sofrendo, principalmente a partir da crise internacional do petróleo de 1973 levando ao aumento do endividamento externo, essas aeronaves não foram modernizadas e se tornaram obsoletas já na década de 1980, onde pequenas modificações foram introduzidas pontualmente na tentativa de dar sobrevida até serem substituídas por um novo caça, previsto para acontecer inicialmente no máximo no fim da década de 1990.

Com a falta de perspectiva de substituição no médio prazo do Mirage, no fim

da década de 1980, além da aquisição de algumas células para repor perdas operacionais, foi feita uma modernização com a inclusão de canards fixos, manche do tipo HOTAS, a previsão de operação do míssil Magic 2, além de outras pequenas modificações nos anos seguintes, como a inclusão em seu arsenal dos mísseis Python 3 de produção israelense e o brasileiro MAA-1 Piranha, os mesmos utilizados pelos F-5 naquele momento. As alterações/substituições mais profundas como a troca do radar ou inclusão de HUD ficaram de fora.

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Muitos analistas citam que um dos motivos que contribuíram para o aumento dos cortes orçamentários em decorrência dos vultosos recursos destinados para o projeto do caça ítalo-brasileiro AMX, que posteriormente trouxe uma grande capacitação e desenvolvimento de nossa indústria aeronáutica e experiência para a FAB na condução de projetos.

Pela falta de perspectiva de aquisição de um novo vetor a médio prazo e

aproveitar toda a capacidade do que possuía a FAB introduziu dentro do leque de missões da aeronave o emprego ar-solo, complementando os F-5 não ficando restrito a missões de interceptação e caça. Vivendo atualmente situação semelhante com a desativação do Mirage 2000 e a pequena quantidade de F-5 para patrulhar um território tão grande quanto o nosso, a FAB incluiu no rol de missões previstas para utilização dos A-1 a interceptação, apesar de ser uma aeronave destinada a ataque, portando somente 2 misseis ar-ar de curto alcance de 3ª geração, soma-se a isso o fato de não ser supersônico, diminuindo suas chances de sucesso nesse tipo de ambiente caso seja necessário sua utilização em combates reais.

O Projeto F-X

Com a precariedade dos meios e a necessidade de iniciar um processo de modernização e compras para a FAB, durante seu mandato, o então presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) aprovou o Programa de Fortalecimento do Controle do Espaço Aéreo Brasileiro, com o objetivo da Força readquirir suas capacidades operacionais. Dentro do Programa foi previsto um item para a aquisição de um novo vetor de defesa aérea orçado na época em cerca de US$ 700 milhões e tinha como objetivo comprar um lote inicial de 12 a 24 caças para substituir os Mirage III, que encerraria sua vida útil em 2005. Iniciado em 2001 esse Projeto ficou conhecido como F-X1.

Nesta concorrência foram apresentadas propostas da francesa Dassault com o

Mirage 2000 BR, a italiana Alenia Aerospazio com o Eurofigther, as americanas Boeing com F-18 E/F Hornet e Lockheed Martin F-16 C/D Falcon Block 52, as russas RAC-MIG Mig 29 e Rosoboronexport Sukhoi SU-27/SU-30 e o consórcio anglo-sueco SAAB BAE Systems com o JAS-39 Gripen C/D, posteriormente o consórcio Eurofigther decidiu se retirar visto o valor da concorrência não enquadraria sua aeronave pelo alto custo de aquisição na época. A concorrência permaneceu, mas o mandato de FHC findou e não foi divulgado nenhum vencedor ficando para o governo seguinte conduzir essa aquisição.

Com a ascensão ao poder do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, o

projeto foi suspenso com o argumento de contenção de despesas para a implantação do principal programa social de governo que o levou ao Planalto (Fome Zero) e equilibrar as contas governamentais.

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No ano de 2004 foi lançado o Plano de Recuperação Operacional da FAB

(PROFAB) que constava nele o planejamento da Força para a modernização e aquisição de meios para os próximos anos, mas pouco foi feito. A Estratégia Nacional de Defesa (END) de 2008 veio legitimar essa necessidade de reformulação e modernização dos meios para a interoperabilidade entre as Forças Armadas nacionais e sua presença em todo o território nacional.

Com a END a FAB revisitou seu planejamento anterior e lançou em 2008 o

Plano Estratégico Militar da Aeronáutica (PEMAER) que lista objetivos e atribui metas a serem atingidas nos próximos 20 anos a partir de 2011, para que em 2031 a FAB seja reconhecida nacional e internacionalmente pela sua capacidade operacional militar e de controle conjunto de trafego aéreo e defesa aérea.

O Projeto F-X2

Já ciente dessas necessidades antes da publicação do END, em novembro de 2007, o presidente Lula. Em seu segundo mandato, autorizou iniciar os estudos para a compra do caça, projeto que posteriormente foi denominado FX-2. Ele foi concebido para que a compra fosse feita de forma direta, considerando a melhor proposta a nação sob os aspectos técnicos, operacionais, logísticos, acordos de compensação, participação da indústria nacional no projeto (offset) e principalmente o domínio do sistema de armas pelo Brasil. De acordo com o cronograma inicial, a aeronave escolhida deveria ser anunciada em 2009 com a previsão de entrar em operação no país a partir de 2014.

Seis empresas foram pré-selecionadas e receberam o pedido para

apresentarem informações (Request for Information – RFI) sobre seus produtos dentre elas: as norte-americanas Boeing (F/A-18 E/F Super Hornet) e Lockheed Martin (F-35 Lightning II), a francesa Dassault (Rafale), a russa Rosoboronexport (Sukhoi SU-35), a sueca Saab (Gripen) e o consórcio europeu Eurofighter (Typhoon). Após o governo brasileiro declinar da oferta do F-35 a Lockheed Martin apresentou o F-16 semelhante ao Block 60/62 para participar da competição.

Após a apresentação das propostas pelas empresas, o governo mudou o

discurso e informou que o fator político teria maior peso na decisão e não somente aqueles apresentados anteriormente, pois a aquisição e operação de uma aeronave de combate iam além de uma simples compra, para ser uma parceria de longo prazo com a nação fabricante. Com a aproximação do Brasil e França em outras frentes, a aeronave Rafale passou a ser considerada favorita na concorrência. A escolha de um modelo francês sempre foi vista como certa desde o início da primeira concorrência (Projeto F-X), onde era representado pelo então Mirage 2000 BR, devido à proximidade dos dois países desde a década de 1970.

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Essa mudança na condução da concorrência desestimulou um pouco os

militares, tendo ciência do lobby que essas empresas fazem para vender seus produtos, pois somente a FAB possui o conhecimento técnico necessário para emitir um parecer sobre a aeronave que melhor atenderá suas necessidades no teatro de operações frente as atuais ameaças, bem como aquelas que estão por vir em um determinado espaço temporal.

Com os atrasos e postergações da decisão os F-103 foram desativados (2005)

e nesse meio tempo entre a desativação até a escolha da nova aeronave para não desguarnecer os céus do Planalto Central, foi utilizado como aeronave de alerta no 1º GDA o F-5E antes de serem modernizadas, mas devido às poucas células disponíveis para fazer o rodizio do alerta, guarnecer os demais esquadrões e ainda serem encaminhados para a revisão e modernização de seus sistemas, o governo decidiu efetuar a compra de 12 Mirage 2000 B/C das versões mais antigas dos estoques franceses para serem operados até a entrada em serviço do novo caça, liberando os F-5 para a continuidade do processo de modernização sem comprometer sua disponibilidade. O recebimento dos primeiros Mirage 2000 aconteceu em 2006, finalizando em 2008. Foto montagem do F-5M armado com dois mísseis A-

Darter, dois Derby e dois Python IV1 Mirage 2000B chegando a BAAN

Foto: Mauro Lins de Barros Foto montagem: Leonardo Jones/Skyway

Foto: FAB

Em uma ação inesperada, no dia 07 de setembro de 2009 o presidente Lula

anunciou para a imprensa juntamente com o seu par francês, que estava em visita no país, à intenção de negociar a aquisição de 36 Rafales para equipar a FAB e em contrapartida a França adquiriria 12 unidades da aeronave de transporte militar nacional KC-390, além da participação da indústria aeronáutica francesa no desenvolvimento da mesma. Após esse anúncio e a grande repercussão na mídia o Ministério da Defesa e a FAB foi a imprensa informar que a decisão não tinha sido fechada e que as negociações continuariam, tanto que

1 Agradecimento especial para o Mauro Lins de Barros que cedeu gentilmente a foto e o Leonardo Jones/Skyway por sua foto montagem;

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em 2010 foi concluída a análise das propostas pela FAB encaminhando ao Ministério da Defesa para apresentar ao Presidente da República auxiliando na tomada de decisão.

No fim de 2010 foi anunciado que a decisão caberia ao novo Chefe do

Executivo que ainda seria eleito e que o momento não era propício para isso. Em 2011, após tomar posse, a Presidente Dilma Rousseff solicitou vista no relatório da FAB e postergou o processo de compra com o discurso que a decisão seria com base em dados técnicos o que teoricamente nivelava novamente todos os competidores diminuindo a vantagem dos caças franceses declarado anteriormente. Com isso foi permitido aos competidores atualizarem seus propostas.

Após muita competição, apreensão quanto ao possível cancelamento do

programa, postergações de prazos, replanejamentos de cronogramas, etc, no último dia 18/12/2013 foi dada como encerrada a primeira fase para a aquisição do novo caça a ser operado pela FAB, com a proposta feita pela SAAB e seus parceiros oferecendo o Gripen NG, sagrando-se vencedor da disputa. Dentre os três finalistas selecionados o Dassault Rafale F3, Boeing F-18 E/F Super Hornet e SAAB Gripen NG, o último se sobressaiu dentre os demais nos itens analisados pela FAB. Segundo o Ministro da Defesa foi levado em consideração o desempenho, transferência de tecnologia e custos não só o de aquisição, como também o de manutenção.

Considerados por muitos como a pior opção para o país por ainda estar em

desenvolvimento, ser pequeno, acarretando uma menor autonomia e capacidade de transporte de armamentos, além de ser monomotor, na verdade o Gripen pode surpreender até esses pessimistas, uma vez que por seu baixo custo de operação, conforme projeções do fabricante e principalmente por estar em desenvolvimento permitirá a efetiva participação da indústria nacional na absorção de novas tecnologias, além do domínio total dos códigos fontes da aeronave e sistema de armas, possibilitando a longo prazo o país utilizar todas as potencialidades que o avião permitir. Uma aeronave com menor custo de operação é primordial para um país como o nosso, que não possui uma constância orçamentária devido a fragilidade da nossa economia em decorrência de vários problemas estruturais, de mercado de capitais, entre outros.

Os outros finalistas perderam pontos pelo alto custo de aquisição e operação,

no caso do francês Rafale, além do histórico de alguns percalços que a FAB teve na manutenção de seus Mirage nesses 40 anos.

No caso do americano Hornet pesou como ponto desfavorável a indefinição

sobre a efetiva transferência de tecnologia e a não abertura dos código-fonte pelos americanos. Além disso as denúncias de espionagem da Agência Nacional de Segurança Americana (NSA - National Security Agency) no Brasil acabou abalando a relação entre os

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dois países no campo diplomático, levando até ao cancelamento de uma visita oficial da Presidente Dilma aos EUA em outubro de 2013, pela falta de desculpas e explicações oficiais do governo americano. Apesar de tudo isso a aeronave foi apontada como uma das favoritas pela FAB e pelo Governo nacional.

O Gripen

A aeronave vencedora é de origem sueca, concebida com a missão de substituir a linhagem de bons caças fabricados por aquela nação, como os Saab Drakken e o Saab Viggen (relâmpago), adicionando tecnologia as capacidades que possuíam, além de empregar o que se delineava dentro da indústria aeronáutica para os próximos anos.

Foi desenvolvido a partir de uma parceria entre a Saab e a British Aerospace a

partir da década de 1980 e tinha como principais requisitos operar a partir de pistas de pouso pavimentadas de comprimento limitado, com grande capacidade de fusão e gerenciamento de dados recebidos de outras plataformas para diminuir a carga sobre o piloto, além de ser multiemprego, monomotor e não necessitar de grande infraestrutura para ser operado.

Com aumento dos custos e a redução dos orçamentos das forças armadas pelo

mundo, a adoção de uma aeronave capaz de executar todas as missões é primordial para as FFAA do futuro continuarem operando do ponto de vista logístico e econômico. Isso também foi levado em consideração dentro dos requisitos de desenvolvimento do novo avião. Até a entrada em serviço do Gripen a Força Aérea Sueca operava três versões do SAAB Viggen que eram especializadas em superioridade aérea (JA), ataque ao solo (AJ 37) e reconhecimento (SF/SH 37) e ele tinha a necessidade de reunir em uma só célula as três funções, tornando um caça multirole.

O Gripen foi à primeira aeronave de quarta geração a entrar em serviço no

mundo e se tornou o primeiro caça estável com estabilizadores do tipo canard móvel2 dotado de asas em delta, controlada pelo sistema fly-by-wire3. Dentro desse novo conceito (quarta geração4) as aeronaves em missões de interceptação deixam de serem simples

2 São aletas móveis próximas as turbinas que tem por objetivo o aumento da capacidade de manobra e estabilização da aeronave. Até então elas eram fixas. 3 Esse sistema utiliza fios com impulsos elétricos para transmissão de comandos às suas superfícies aerodinâmicas de controle ao invés de controles mecânicos.

4 No ocidente, as aeronaves são classificadas em cinco gerações, tendo como principal ponto de corte entre elas suas capacidades dentro de certos padrões definidos, sendo assim classificadas:

1ª Geração: São as primeiras aeronaves dotadas de motor a jato e já está praticamente fora de serviço. São aviões pioneiros, com mínima capacidade eletrônica. Ex: Mystère B2 e MiG-19;

A 2ª Geração foi caracterizada pela ampliação do desempenho para velocidades acima de Mach 1,6 mas com baixa capacidade de manobra, incluiu os primeiros computadores de bordo e desenvolveu o uso do radar de interceptação. Ex: Mirage III, F-4 Phantom e MiG-21.

A 3ª Geração reverteu à ênfase pela velocidade pura em detrimento da capacidade de manobra e introduziu a eletrônica digital a bordo. Ex: F-14, F-15A Eagle, F-16 A/B e Mirage 2000.

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plataformas armadas vetorados por radares em terra e passam ser parte do sistema com a função para a obtenção, fusão e transmissão de dados para operadores em terra, bem como outras aeronaves de caça e AEW, onde o piloto é um importante instrumento dentro do campo de batalha.

Essas modificações impactaram a doutrina das FFAA que estão operando

nesse sistema, pois a aeronave decola com uma missão podendo ser destinada a outra caso esteja equipada com o armamento necessário para a execução da mesma.

A Suécia é um país pacifico, não alinhado com nenhum outro, que conseguiu

ao longo dos anos ficar fora dos grandes conflitos mundiais, mesmo estando com suas fronteiras tão próximas de onde ocorreram essas batalhas e um dos motivos que pode ter contribuído para isso foi o fato dela nunca se descuidado de sua defesa. Considerando que a maior ameaça na região é a Rússia, um país com um grande contingente de homens nas forças armadas, indústria militar forte e o grande domínio do espectro eletromagnético, fez com que eles tivessem necessidade de possuir uma força armada bem equipada e de pronta resposta caso seja necessário, além de comunicações seguras.

Para ter como se defender dessa possível ameaça, desde o requisito inicial a

aeronave teria que operar a partir de rodovias de no máximo 800 m de comprimento para pousos e decolagens com o mínimo de apoio possível5 no ressuprimento de armas e combustível, além de efetuar transmissão de dados criptografados por meio de datalink. Todos esses requisitos têm por objetivo de aumentar a capacidade de sobrevivência em combate, dispersando suas aeronaves em bases desdobradas (qualquer rodovia) e a comunicação por meio de sinais criptografados que dificulta o jameamento do inimigo. Devido a essas necessidades, os sistemas de NCW6 suecos foram desenvolvidos a ponto de serem considerados um dos mais avançados atualmente em operação no mundo.

A designação da aeronave nasceu da junção das iniciais de Jakt (caça para

combate ar-ar), Attack (aeronave de ataque) e Spaning (aeronave de reconhecimento), sendo denominado JAS 39 Gripen. Já o nome Gripen veio de um ser mitológico com cabeça e asas de uma águia e o corpo de um leão, demonstrando sua força e a capacidade de voar.

A 4ª Geração ampliou a capacidade multimissão, o fluxo de informações disponíveis aos pilotos e a integração entre homem e máquina. Ex: F-16C, F-18E, Gripen, Sukhoi Su-35, Rafale e Typhoon. Algumas são consideradas 4,5ª geração, por possuirem capacidades incluidas em aeronaves de quinta geração, como sensores e alguns itens de furtividade.

A 5ª Geração se caracteriza-se por possuir capacidade Stealth; Ex: F-22 Raptor e F-35 Lightning II.. 5 Nas especificações a aeronave foi idealizada para que fosse rearmada e reabastecida em 20 minutos por seis homens apoiando cada célula, sem a necessidade de fonte externa, para que tenham um baixo tempo de turnaround (tempo parado para reequipagem);

6 Network Centric Warfare: Guerra centralizada em rede;

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O Gripen NG ou JAS 39 Gripen E/F é a evolução das versões C/D que entraram em serviço a partir de 2005 e são operados atualmente pela Suécia, África do Sul, Hungria e República Tcheca. As versões anteriores, A/B, entraram em serviço a partir de 1997.

O desenvolvimento da versão NG (New Generation), vem com o objetivo de

corrigir pontos negativos verificados por seus operadores e que também dificultam a venda da aeronave no mercado internacional. Um dos pontos que mereceu maior atenção por parte dos projetistas foi aumentar sua autonomia em até 50% sem a necessidade de reabastecimento em voo, mesmo a aeronave possuindo essa capacidade. Essa alteração é de suma importância para operar em regiões inóspitas, como a nossa Amazônia que possui poucas alternativas para pouso e infraestrutura para receber aeronaves de caça tão complexas. Segundo informações do fabricante, o raio de ação chegará até 1.300 km com a aeronave equipada com 4 mísseis BVR7, 2 WVR8 e tanques externos, o que não é nada mal de compararmos nossos F-5 equipados com quantidade armas semelhantes não chegam a 400 km!

F-5EM na CRUZEX III Gripen NG

Foto: www.spotter.com.br Foto: SAAB

Em relação às versões anteriores o Gripen NG traz consideráveis alterações

estruturais que permitiu modificar o trem de pouso, aumentando a capacidade de transporte de combustível, além do aumento da potência do motor e evoluções em aviônica com a integração da nova versão de radar com busca ativa (AESA9), visando atender da melhor forma possível as missões a que ele será submetido.

A operação dessa aeronave vai trazer um grande avanço doutrinário para a

FAB dentro da moderna guerra aérea, levando em consideração o salto tecnológico dos equipamentos que vão dota-la, bem como os sistemas de armas que devem vir no pacote. Na tentativa de reduzir esse gap na fase de transição entre a aquisição e entrega das aeronaves,

7 Beyond Vision Range, ou seja, de alcance além do visual; 8 Within Visual Range – Dentro do alcance visual; 9 Active Electronically Scanned Array – radar de varredura eletrônica;

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a FAB já sinalizou junto ao fabricante a intenção de operar um lote de Gripens na versão anterior (C/D) para que ela possa ir se adaptando a logística, manutenção, emprego da aeronave dentro de determinados envelopes de voo e o desenvolvimento de doutrinas básicas na formação do pessoal que irá utilizá-la, mas que ainda depende de previsão orçamentária para ser fechado o contrato, provavelmente por meio de leasing.

Logo a seguir um comparativo de desempenho e capacidades entre as versões

C/D com as futura versão E/F, além das aeronaves que constam/constavam no inventário da FAB.

Gripen Aeronaves do inventário da FAB

C/D E/F Mirage 2000C

F-5EM A-1AM

Comprimento (m) 14,10 15,20 14,36 14,45 13,23 Largura (m) 8,40 8,60 9,13 8,15 8,87 Altura (m) 4,50 4,50 5,20 4,08 4,55 Motores (potência) 1 x 8.300 kg 1 x 11.000 kg 1 x 8.998 kg 2 x 2.265 kg 1 x 4.994 kg Peso Vazio 6.800 kg 7.000 kg 7.500 kg 4.410 kg 6.730 kg PMD10 14.000 kg 16.500 kg 17.000 kg 11.192 kg 13.000 kg Relação empuxo/peso máx. 0,59 0,67 0,53 0,40 0,38

Carga e capacidade de combate Carga de combate 4.500 kg 7.200 kg 6.300 kg 3.415 kg 3.800 kg G limite -3/+9 g -3/+9 g -3,2/+9 g -3/+6,3 g -3/+7,33 g Velocidade máxima Mach 1,8 Mach 1,8 Mach 2,2 Mach 1,63 Mach 0,86 Velocidade de cruzeiro (est.) - Mach 1,2 960 km/h 900 km/h 800 km/h Razão de subida - 300 m/s 284 m/s 175 m/s 60 m/s Teto de serviço 15.000 m 16.000 m 18.000 m 15.590 m 13.000 m Raio de ação11 - 1.300 km 740 km 450 km -

Radar Alc. lock down (est. modo ar-ar) 100 km 180 km 90 km 74 km 60 km Alc. lock up (est. modo ar-ar) 90 km 120 km 65 km 51 km 32 km Alvos rastreados (est.) - Até 20012 6 6 4

Capacidade máxima de misseis para missão ar-ar WVR 2 unidades 2 unidades 2 unidades 2 unidades 2 unidades BVR 4 unidades 6 unidades 2 unidades 2 unidades -

Com a expectativa de fabricação de até 80% da fuselagem em solo nacional, a

implantação desse novo caça vai proporcionar um impacto positivo na indústria nacional, tendo em vista a transferência de tecnologia a ser absorvida, além das perspectivas de possíveis evoluções na célula nos próximos anos, propiciando o aumento da participação da indústria nacional, caso seja interesse do governo entrar nessa empreitada.

10 Peso Máximo de Decolagem; 11 Em perfil Hi-Lo-Hi: Deslocamento em grande altitude desce na área do alvo e depois retorna da missão em grande altitude. A missão considerada na projeção é de superioridade aérea; No caso do Gripen é considerado o raio de ação para combate aéreo equipado com quatro mísseis BVR, dois WVR e dois tanques. Os outros estão com suas capacidades máximas de armamento ar-ar;

12 Em conjunto com o IRST;

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Dentre as possibilidades que podemos imaginar para a aeronave é a inclusão de tanques de combustível conformais (CFT13) que possibilitará um incremento na autonomia, inclusão de comandos por voz (já utilizados no Eurofigther, por exemplo), inclusão de empuxo vetorado (TVC14) e o desenvolvimento da versão naval com a perspectiva de equipar a Marinha do Brasil (MB), sendo essa última com o projeto já em fase adiantada, mas dependendo de patrocinadores para sua efetivo desenvolvimento.

O Gripen NG nacional também poderá trazer novidades em relação à versão

que está sendo desenvolvida para a Suécia. Com a efetiva participação da indústria nacional é possível que a aeronave incorpore avanços que não estão previstos naquela versão, como por exemplo, aviônica exclusiva dentro do conceito all-in-one, desenvolvida em conjunto com a Elbit System por meio de seu braço nacional a Aeroeletrônica, além de outros avanços que a indústria aeronáutica estão disponibilizando nesse meio tempo até o fechamento da configuração da versão nacional.

Abaixo um exemplo do painel de instrumentos all-in-one e o que atualmente

equipa o Gripen C/D:

F/A-18E/F International Road Map Cockpit Display Gripen C/D

Foto: Boeing Foto: SAAB

Na da proposta feita para a FAB, a SAAB sinalizou as partes o Brasil ficaria

responsável pela aeronave: - Integração de Armamento - Enlace de dados - Integração do motor - Guerra eletrônica - Integração de sistemas

- Seção de reflexão ao radar

13 Conformal Fuel Tank;

14 Thrust Vectoring Control;

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- Integração de sistemas táticos - Integração de radar - Integração de sistemas comerciais - Aerodinâmica - Desenvolvimento de softwares - Avaliações e testes - Sistema de gravação de dados - Funções de navegação

Sistemas do Gripen NG propostos para serem nacionalizados

Fonte: http://www.defesanet.com.br/fx2/tech_transfer.htm#

Além da transferência de tecnologia e participação da indústria nacional, o

presidente da SAAB afirmou ainda que a Suécia está disposta a transferir até 175% do valor do contrato em offsets. Soma-se ainda a possibilidade do governo sueco adquirir aeronaves KC-390 para substituir/complementar os oito C-130 da Flygvapnet (Força Aérea da Suécia) e de treinadores Super Tucano, uma vez que seus treinadores SAAB 105/SK 60 estão chegando ao fim de sua vida útil (2017) necessitando em breve de novas aeronaves. Esse autor vai um pouco além imaginando a possibilidade de desenvolvimento de uma célula AEW/SIGINT a partir do KC-390 devido sua maior capacidade, incluindo outros sensores aumentando sua capacidade de detecção e fusão de dados, com vistas a substituir futuramente os E-99, R-99 da FAB e os SAAB 340 e Gulfstream IV em operação naquela Força.

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Super Tucano EMBRAER KC-390

Foto: EMBRAER Concepção artística: EMBRAER

Com relação a armamentos ele poderá trazer muitas inovações nesse campo, pois possui vários artefatos de última geração já integrados a célula.

No combate ar-ar, ele pode operar na arena BVR estando equipado com os

mísseis Derby, Meteor, AIM-120 AMRAAM e o R-Darter. Desses mísseis o Derby já é operado pela FAB, possuindo um alcance estimado de 50 km. O R-Darter é o irmão do Derby só que fabricado na África do Sul. O AIM-120 sofre da restrição americana de venda, por isso não podemos contar com ele. Já a grande estrela dessas armas é o míssil ar-ar de longo alcance europeu Meteor que pode atingir alvos até a 100 km de distância. Se for feita a aquisição dessa arma, provavelmente o Brasil será o único com essa capacidade na região, visto que não sabemos o status das armas russas similares que foram adquiridas pela Venezuela para operar em seus SU-30.

Para o combate no alcance visual é esperado que opere o Python 4, MAA-1B

Piranha e o A-Darter (previsto para entrar em serviço no Brasil em 2017), sendo que o primeiro e o último já foram integrados a aeronave. O ganho operacional para a FAB será com a utilização do A-Darter que proporcionará novos meios operacionais até então desconhecidos pela Força. Ele possui a capacidade LOAL15 e LOBL16, sendo o primeiro inexistentes nos artefatos que utilizamos atualmente.

15 Lock on after launch: acoplamento do alvo após do lançamento; 16 Lock on before launch: acoplamento do alvo antes do lançamento;

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Gripen NG armado para ataque ao solo Gripen NG armado para combate ar-ar

Arte: SAAB/Gripen

A utilização do radar com função SAR irá trazer uma significativa capacidade

para as missões na ar-solo, detecção e imageamento do alvo, somada as diversas armas guiadas stand off (dispare e esqueça) como as bombas SMKB-82/83 que possuem INS/GPS, as Mk 82/83 com kit Lizard, entre outras que ele pode operar.

Também deverá ser equipado com míssil antirradiação nacional MAR-1,

designadores a laser e possivelmente um míssil anti-navio. Até o momento o país não possui nenhuma aeronave de alto desempenho que porta esse tipo de armamento, sendo imprescindível para nós que dependemos do mar como ponto de escoamento da produção nacional (96% das exportações) e proteção das plataformas petrolíferas. Originalmente o Gripen utiliza o míssil antinavio RBS 15F, que possui a capacidade de atingir um alvo a até 90 km de distância.

Por fim mísseis stand off para engajamento de alvos com alto valor tático o

Gripen pode utilizar o EADS/Bofors KEPD 350, que emprega turbofan em sua propulsão, com navegação GPS/INS, sendo na fase fim de engajamento do alvo utiliza sensor IR, possuindo dupla carga de explosivos, sendo a primeira utilizada para penetrar o alvo e a segunda para sua destruição. Voa a Mach 0,8 e possui alcance de 400 km. Sem dúvida uma arma de grande valor para fazer parte do arsenal de nossos paióis.

Entre a gama de sensores essa nova versão vem equipada com um radar de

varredura eletrônica no lugar do antigo radar do tipo Doppler e um IRST. O radar de varredura eletrônica tem como um dos principais diferenciais a maior capacidade de detecção, resistência a contramedidas eletrônicas e a diminuição da necessidade de manutenção, visto que possui uma quantidade menor de partes móveis.

O modelo que equipa o Gripen faz parte da segunda geração desse tipo de

equipamento e traz como inovação a possibilidade de mobilidade da antena com o objetivo de cobrir até 100º de azimute para cada lado a partir do eixo da aeronave.

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O radar é equipado com vários módulos transmissores-receptores (TRs) que permitem o direcionamento do facho para a recepção de sinais nos modos ar-ar/ar-solo/ar-mar, simultaneamente e mesmo se uma parcela desse transmissores-receptores deixarem de funcionar o radar não fica inoperante.

Já o IRST é um sensor passivo, infravermelho que faz a captação e detecção

pelo calor emitido pelo alvo, não emite radiação, dificultando sua detecção sendo desnecessário a emissão de sinais de radar, diminuindo a exposição da aeronave no campo de batalha, além de aumentar a consciência situacional do piloto. Somado a capacidade do radar, juntos podem detectar até 200 alvos ar-ar simultaneamente mesmo que as aeronaves detectadas estão equipados com tecnologia de interferência e jameamento de sinais.

Ele também possui FLIR que ajuda na identificação de alvos terrestres,

possibilitando melhor visualização e acoplamento durante o engajamento evitando danos colaterais de maior vulto.

Quanto aos rádios, provavelmente a opção deve ser feita pelos Rohde &

Schwarz série 6000, com a função Have Quick I/II e encriptação Saturn, que já equipa a versão C e são semelhantes aos utilizados pelo F-5M, AT-29, E/R-99, A-1M e provavelmente vão equipar os A-4M da Marinha.

Com relação ao enlace de dados, este caminha a passos lentos no país, pois

desde a chegada do E-99, F-5M, A/AT-29, entre outras aeronaves que já estavam equipados com sistema para operação nesse ambiente não foi possível a utilização dessa tecnologia por ele não ainda estar plenamente operacional, somente em 2016 será possível à integração entre 4 F-5M, 4 A-29 e 2 E-99 simultaneamente utilizando o link BR-2 conforme o contrato firmado entre a FAB e a Mectron. Até a chegada do Gripen talvez o sistema já vai estar com um maior grau de amadurecimento para a inclusão dele nesse ambiente permitindo a utilização de todas suas capacidades.

Outro item que foi foco no trabalho de evolução da aeronave, foi à redução de

seu RCS17, dificultando sua detecção, fato que o menor tamanho também ajuda no combate visual. Segundo algumas fontes cita que o RCS do Gripen é um dos menores das aeronaves de 4ª geração em operação atualmente. Soma-se a isso a baixa assinatura radar e infravermelha e a grande capacidade de guerra eletrônica possuindo avançados sensores e sistemas de bordo para esse fim.

A Suécia, tradicional país fabricante dos carros considerados os mais seguros

do mundo, com seus Volvos e SAAB Scania, não deixaria de fora a segurança em seu caça, onde as versões de dois lugares são equipadas com um item interessante em seu cockpit: um 17 Radar Cross Section;

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airbag na nacele traseira que e acionado no caso de ejeção para que o ocupante não seja atingido por estilhaços da ejeção do piloto da frente. A cadeira dele só será acionada após o esvaziamento do equipamento.

Conclusão

Se o cronograma for seguido à risca, o contrato deve ser assinado ainda em 2014 ou no mais tardar no primeiro semestre de 2015, com a previsão de entrega da primeira aeronave 48 meses depois, sendo a expectativa inicial de até 12 aeronaves por ano sendo entregues. Assim será possível supor que o 1º GDA possa ser declarado totalmente operacional como Gripen NG no fim do ano de 2020 ou no primeiro semestre de 2021.

Como diz o ditado popular “antes tarde do que nunca”, a decisão da

concorrência demorou a sair acarretando problemas na defesa aérea nacional. Quando for concluída a entrega do primeiro lote de 36 unidades, provavelmente ele será operado por duas unidades da FAB, sendo a primeira o 1º GDA (Grupamento de Defesa Aérea) localizado na cidade de Anápolis – GO e o outro possível candidato será o 1º/14º GAv (Grupo de Aviação) em Canoas – RS, que vai iniciar a desativação de seus primeiros F-5M (Mike) a partir de 2017. Lembrando que esta foi à primeira unidade da FAB a receber e operar o Mike modernizado, nesse tempo, várias células do F-5M já devem estar fora das fileiras da FAB, restando apenas dois esquadrões (1º GAvCa e o 1º/4º GAv).

Sendo assim, quando do recebimento do primeiro lote, o governo terá que ter

em mente a necessidade de fechamento da compra das unidades que terão por finalidade substituir a lacuna deixada pela saída dos demais Mikes. De acordo com o informado pelo Brigadeiro Saito em entrevista, a FAB deverá comprar cerca de 50 unidades do novo caça, número bem aquém aos 120 previstos inicialmente no programa e tinha por objetivo uniformizar a aviação de caça nacional.

Se for isso mesmo, será adquirido um lote adicional com mais 14 unidades para equipar quatro esquadrões (1º GDA, 1º GAvCa, 1º/14º GAv e 1º/4° GAv) e proceder a uma realocação de aeronaves. Levando em consideração a situação em que se encontra nossa aviação de caça deveria ser adquirido no mínimo 68 aeronaves, substituindo todos os F-5 em operação e considerando a indisponibilidade para a manutenção da frota que tira em torno de 30% das aeronaves da linha de voo ficaríamos com cerca de 50 aeronaves disponíveis, mesmo com dotação reduzida, seria possível imaginar a ativação de mais um esquadrão supersônico na região nordeste para patrulhamento daquela região, ou mesmo mais um na Amazônia provendo melhor cobertura naquele grande território.

Fica para um segundo momento a definição de qual aeronave vai substituir os

A-1M da FAB, uma vez que devem iniciar a retirada em serviço por volta de 2030. É

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provável que a FAB adquira uma nova aeronave ou faça a aquisição de um novo lote de Gripen na época. Na opinião desse autor, provavelmente será feita a aquisição de uma aeronave mais moderna e capaz para equipar os esquadrões mais importantes e os Gripen alocados na unidade serão repassados para equipar o 1º/10º GAv, 3º/10º GAv e o 1º/16º GAv, mas vamos ter muito tempo para analisar o que vai acontecer ou se vai acontecer realmente.

Quanto à utopia por parte do governo em falar na possibilidade de a longo

prazo produzir uma aeronave de 5º geração no país a partir do conhecimento que seria adquirido com a transferência de tecnologia deste contrato, ainda podemos ver isso como um sonho que não será realidade. Considerando o valor do desenvolvimento do Rafale, cerca de US$ 38 bilhões, segundo fontes, é complicado pensar em tal investimento seja feito em nosso país, mesmo que seja dividido com outros interessados na região, pois para o fechamento de um contrato de US$ 4,5 bilhões levou 15 anos, imagine partindo do zero para o desenvolvimento e a produção de uma nova aeronave.

O que podemos comemorar é o fim da primeira fase da concorrência e torcer

para que se finalizem as negociações o quanto antes, minimizando as possibilidade de cancelamento ou suspensão da compra das aeronaves e prever nos orçamentos futuros recursos necessários para que possamos manter as aeronaves atualizadas, com boa quantidade de hora de voo para operar com a meta de atingir os objetivos do END.