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AtualidadesAtualidades2011 vestibular+enem

Glauco e a história35 anos de Brasil nas tiras do cartunista

Crise na GréciaO país ameaça a economia europeia

Petróleo no marUm desastre ambiental sem precedentes nas profundezas do Golfo do México

e mais:k Usina Belo Monte k Obama e a saúdek Evolução humanak Negócios da Chinak Educação no Brasilk Discriminaçãok Censo de 2010

PREPARE-SE

50 resumos para você estudar × Como construir uma boa redaçãoAprenda a ler mapas, tabelas e gráficos × Simulado com 47 questões

e d i ç ã o 1 2 k R $ 1 9 , 9 5

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nuclearEnergia

dossiê

Com o Irã no centro do debate, o mundo discute as usinas atômicas e os riscos dos arsenais nucleares

118 temas que caem na prova

explosão atômica no atol de Bikini, no oceano Pacífico, feita pelos eUA, em 1946

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AtualidadesAtualidadesvestibular+enem

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4 atualidades vestibular + enem 2011 52011 atualidades vestibular + enem

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Todo mundo de olho

No período em que a gente se prepara para o vestibular e o Enem, às vezes se sente como a bolinha da foto: todos estão de olho em cima. São os pais, os amigos, os professores. Acontece que a cobrança, às vezes, pode prejudicar. Na imagem acima, premiada no World Press Photo 2010, o que ocorre realmente é que a torcida do time de beisebol

New York Yankees berra e atrapalha o jogador adversário, do Los Angeles Angels (do qual aparece apenas a mão), para que deixe a bola escapulir. Se ele pegá-la no ar, elimina um rebatedor da equipe da casa. Contra essa tremenda pressão humana, o jogador só tem uma arma: manter a calma, o foco e a determinação.

Mas, no seu caso, como conseguir isso? Não adianta se angustiar: a tranquilidade para os exames vem do estudo metódico, da compreensão dos temas escolares, da ampliação gradativa do conhecimento. Nada acontece por acaso, nem do dia para a noite.

Nesta edição, nós nos sentimos como treinadores de um time. Pesquisamos os vestibulares para levantar os temas mais pedidos e os trazemos explicados em

TENSÃO MÁXIMA Jogo de beisebol entre Yankees e Angels (imagem premiada no World Press Photo 2010)

Carta ao leitor

detalhes, num rico panorama do mundo atual. Além disso, para que, na hora certa, você tenha um bom desempenho, é importante:

× desenvolver a capacidade de apreender informações, que chegam de diversas formas. Por isso, nossa revista traz fotos, gráficos e mapas, sempre vinculados a um contexto;

× ampliar o conhecimento geral dos temas. Uma boa dica é ver filmes, ler quadrinhos ou visitar museus nas horas de folga, pois reforça um repertório que faz diferença;

× melhorar a capacidade de expressão por escrito. Nessa área, chamamos um professor para analisar bons textos e explicar como se responde a questões dissertativas.

Estamos entregando a você nosso trabalho – e esperamos que seja bem útil para ajudar em seus desafios. Boa sorte e um abraço.

Paulo Zocchi, editor ([email protected])

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6 atualidades vestibular + enem 2011 72011 atualidades vestibular + enem

Divirta-se8 Hora do lazer Indicamos bons filmes, documentários, programas

de TV e histórias em quadrinhos que divertem e ensinam14 World Press Photo Veja imagens premiadas em 201016 Grafite e pichação A arte das ruas chega aos museus

Ponto de Vista18 Sanções da ONU A visão de quatro revistas sobre as sanções ao Irã20 Guerra no Afeganistão Documentos secretos vazam para a imprensa

Destrinchando22 Educação no Brasil Veja um amplo painel dos avanços e das

deficiências no Ensino Fundamental, Médio e Superior

Dossiê Nuclear28 Pressão sobre o Irã Programa de enriquecimento de urânio no país

dos aiatolás leva a ONU a aplicar sanções pela quarta vez35 O que é o TNP Como funciona o Tratado de Não Proliferação Nuclear 36 Desarmamento Ainda está longe um mundo sem bombas atômicas38 Desastres As lições dos acidentes em Chernobyl e Three Mile Island41 Energia Países reavaliam alternativa nuclear para gerar eletricidade46 Brasil O país investe na ampliação do número de usinas atômicas

e no domínio da tecnologia de produção do combustível nuclear

Internacional50 Conflitos Um painel dos principais confrontos armados no mundo

atual, duas décadas depois de terminada a Guerra Fria 58 ONU Os emergentes querem mudar o Conselho de Segurança62 Israel O ataque a navios de ajuda humanitária para a Faixa de Gaza

causa desgaste internacional e provoca uma crise com a Turquia68 Estados Unidos O presidente Barack Obama aprova seu plano para

reformar e ampliar o atendimento à saúde dos norte-americanos72 China O gigante da Ásia resiste à crise econômica global e

prossegue com sua produção crescendo num ritmo notável 78 Rússia Redução do arsenal nuclear reaproxima o país dos EUA84 América Latina A ditadura militar no banco dos réus88 União Europeia A crise da Grécia põe o bloco europeu em xeque

Descubra92 Grécia Grave crise econômica atinge o país no qual nasceram a

filosofia ocidental e os conceitos de república e democracia94 Portugal Potência marítima no passado, hoje é um dos países mais

pobres da Europa e sente o impacto das turbulências no mercado mundial96 Espanha Uma das nações mais visitadas da Europa enfrenta as

dificuldades da recessão global e alto índice de desemprego98 Irlanda Último país a aprovar o Tratado de Lisboa da União Europeia,

enfrenta forte recessão desde 2008 e alta taxa de desemprego

Brasil100 Glauco A história recente do Brasil nos cartuns e desenhos do artista 108 Era Vargas Há 80 anos, Getúlio Vargas chegou ao poder112 Índios Crescem o número de reservas e a população indígena116 Amazônia O polêmico projeto da hidrelétrica de Belo Monte120 Concentração de renda A desigualdade diminui no Brasil122 A Revolta da Chibata 100 anos do motim contra o chicote na Marinha

Economia124 O Brasil e o Bric Cresce o poder das economias emergentes130 Globalização A economia global enfrenta forte recessão em 2009134 Energia Aumentar a produção é o grande desafio do século XXI140 Trabalho A crise global provoca a perda de 34 milhões de empregos 144 Produto Interno Bruto A economia diminui 0,2%, mas podia ser pior146 Balança comercial Apesar das dificuldades, o saldo externo volta a subir148 Indústrias Elas se recuperam, depois de um 2009 muito ruim152 Transportes Uma matriz equilibrada é essencial ao desenvolvimento

Questões Sociais156 Migrações Diferenças econômicas explicam o vaivém pelo Brasil164 Urbanização As cidades enfrentam desafios para encarar o futuro172 Censo de 2010 Saiba qual é a importância do recensamento deste ano 180 Desigualdade racial O país adota um estatuto para a igualdade

Ciências e Meio Ambiente186 Biodiversidade O vazamento de petróleo no Golfo do México é um trágico exemplo do impacto humano sobre a vida das espécies192 Água Um recurso sob ameaça de escassez por causa de sua má utilização 198 Transgênicos O Brasil já é o segundo produtor mundial de culturas

agrícolas com base em organismos geneticamente modificados 202 Origem do homem Novas descobertas sobre os nossos antepassados206 Galileu Há 400 anos, ele começou a observar o universo pelo telescópio

Redação210 Fuvest Professor analisa redações do vestibular de 2010 e orienta

como redigir as respostas para questões dissertativas

Fichas-resumo220 Para relembrar 20 fichas de temas de nossas edições anteriores

Simuladão224 Teste seus conhecimentos 47 questões sobre atualidades escolhidas

em vestibulares de todo o país, com respostas e comentários

De Olho na História242 Vinicius de Moraes 30 anos da morte de um dos grandes poetas do

modernismo – e também compositor e letrista da bossa nova

Sumário

k �ATUALIDADES VESTIBULAR + ENEM�2011

sol inclemente Girafa morta no leito seco de um rio no nordeste do Quênia, na África, vítima da prolongada falta de chuvas (premiada no World Press Photo)

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8 atualidades vestibular + enem 2011

Divirta-seFilmes e quadrinhos que divertem e ensinam. são obras que Falam do mundo atual e nos levam a vivenciar os dramas contemporâneos

k F i l m e s

92011 atualidades vestibular + enem

O Grande DesafioDireção | Denzel Washington ANo | 2007

Aprender a pesquisar um tema, desen-volver sua capacidade de analisar uma questão, argumentar e expressar-se ver-balmente para debates em equipe entre faculdades. A cada competição, um júri escolherá a equipe vencedora. Puxa, um desafio e tanto! Principalmente porque a faculdade é exclusivamente para estu-dantes negros e nunca havia formado uma equipe de debates para competir, de igual para igual, com universitários brancos de universidades consagradas dos Estados Unidos como Yale ou Harvard.

E é isso que o novo professor Melvin Tolson propõe aos alunos da Faculdade Wiley, numa cidade rural do Texas, em 1935. Nessa época, os debates universi-tários são institucionalizados e bastante concorridos. Tolson é voluntarioso, al-

tivo e progressista, características que o levam a confrontar-se com pessoas de referência na comunidade.

O professor educa alunos receosos e inseguros e procura reavivar neles o ânimo, o brio e a coragem. Para isso, en-sina-lhes o sentido racista de palavras como “denegrir” e “linchamento” e, ao mesmo tempo, é rígido em disciplina. A equipe de Wiley se sai bem e passa a receber sucessivos convites para debates sobre temas controversos. Por exemplo: o seguro-desemprego é uma política de assistência social válida?; ou é apenas uma esmola de governo, um tapa-buraco eleitoreiro custeado com os impostos do cidadão, uma medida que pretende ocul-tar o desemprego? É justo e moralmente aceitável que as pessoas deflagrem um movimento pacífico de desobediência ci-vil a uma lei que elas considerem injusta, mesmo que essa lei tenha sido aprovada

por uma câmara de vereadores ou pelo Congresso nacional?

É interessante relembrar que as polí-ticas racistas nos Estados Unidos eram adotadas pelos governos dos estados, que têm maior autonomia em relação ao governo federal do que no Brasil. Elas vigoraram até décadas atrás, e o mo-vimento político que definitivamente iria derrotá-las foi liderado pelo pastor Martin Luther King Júnior, na década de 1960. Assim, é relevante notar a impor-tância de que existisse uma faculdade só para negros já em 1935. O filme também ajuda a entender outro aspecto. Na clan-destinidade, Tolson está organizando os agricultores meeiros, brancos e negros, em um sindicato, para que se defendam da superexploração dos proprietários.

Além de dirigir o filme, Denzel Wa-shington atua como o professor Tolson e contracena com o ator Forest Whitaker.

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O SolistaDireção | Joe Wright ANo | 2009

O cotidiano e a situação dos moradores de rua da cidade de Los Angeles, no litoral oeste dos Estados Unidos, é o cenário deste drama, no qual um repórter descobre um morador de rua que é um talentoso músico. Comovido com a situa ção, o jornalista, interpretado pelo ator Robert Downey Jr. (o mesmo dos recentes O Homem de Ferro e Sherlock Holmes – O Filme), passa a publicar em um jornal da cidade crônicas regulares sobre sua relação com o músico de rua, textos que depois serão reunidos e publicados em um livro. Infelizmente, o músico Nathaniel Ayers sofre de esquizo-frenia, e o filme mostra também esta e ou-tras doenças mentais comuns aos sem-teto, que moram nas ruas ou em abrigos.

Bem-VindoDireção | Philippe Lioret ANo | 2009

Bilal é um jovem iraquiano que quer ir à Inglaterra para reencontrar a sua namo-rada. O garoto tenta entrar no país ilegal-mente – dentro de um caminhão de carga –, mas acaba sendo pego na França, onde consegue exílio político. No país, Bilal faz aulas de natação, na esperança de conseguir entrar na Inglaterra pelo mar, atravessando a nado o canal da Mancha. A partir da his-tória do jovem iraniano, Bem-Vindo mostra a realidade de milhões de imigrantes ilegais que saem do país à procura de melhores condições de vida.

Flor do DesertoDireção | Sherry Hormamm ANo | 2010

Flor do Deserto conta a história real da modelo somali Waris Dirie. Com apenas 13 anos, Waris foge de um casamento arranja-do e vai para Londres tentar uma nova vida. Consegue um emprego em uma lanchone-te, até ser descoberta por um fotógrafo e virar modelo. Em uma entrevista, ela conta ter sofrido, ao 3 anos, uma mutilação geni-tal, com a extirpação do clitóris. O mundo fica sabendo de sua história, e Waris passa a ser uma das principais defensoras da erradicação dessa prática, que continua a existir em muitos países africanos.

Território RestritoDireção| Wayne Kramer ANo | 2009

Perigos, chantagens e mentiras são fatores que passam a fazer parte da vida das pessoas que imigram ilegalmente para os Estados Unidos. Este filme é um painel dramático desses e de outros aspectos humanos, mo-rais e éticos, tanto dos imigrantes pobres ou com renda baixa quanto de diferentes profissionais que se relacionam com eles, como os policiais de fronteira, advogados e assistentes sociais. O filme denuncia o com-portamento xenófobo e preconceituoso que eclodiu após os atentados de 11 de setembro de 2001, exemplificado no longa pela reação de uma classe do Ensino Médio contra uma colega islâmica. O filme é protagoni-zado por Harrison Ford, com Ray Liotta, Ashley Judd e a brasileira Alice Braga.

O Grupo Baader MeinhofDireção | Uli Edel ANo | 2008

Baseado no livro homônimo da jornalista alemã Stefan Aust, o longa relata a origem e as ações do grupo guerrilheiro de esquerda Facção Armada Vermelha (RAF), que lutou contra o Estado alemão durante a década de 1970. O filme, assim como o livro, começa em 1967. Em uma manifestação estudantil contra a guerra do Vietnã, há um confronto com a polícia, e um estudante acaba sendo baleado. A partir daí, desenrolam-se muitas manifestações. Unem-se à causa a jorna-lista Ulrike Meinhof e o casal extremista Andreas Baader, que fundam o RAF. O longa mostra uma sequência de eventos que culmina no sequestro de um avião com turistas alemães, que leva à morte dos principais líderes do grupo guerrilheiro.

m a i s d i c a s

As Melhores Coisas do MundoDireção | Laís Bodanzky ANo | 2010

O filme conta a história de Mano, um estudante de 15 anos que enfrenta proble-mas próprios da idade: as dificuldades da escola e do relacionamento com amigos, os conflitos com os pais e a convivência com o irmão. Trata-se da entrada aos poucos no mundo adulto, da difícil construção de uma identidade. Mano estuda em uma escola privada de São Paulo. Mas os pro-blemas que aflingem ele e seus colegas são universais. As Melhores Coisas do Mundo é um longa instigante e verdadeiro sobre as “questões” dos adolescentes.

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10 atualidades vestibular + enem 2011

Divirta-se

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Divirta-se

k d o c u m e n t á r i o s

RestrepoDireção | Sebastian Junger e Tim Hetherington Ano | 2010

Restrepo é um documentário que mostra a guerra no Afeganistão pelo ponto de vista dos soldados norte-americanos. O filme aborda um ano (entre 2007 e 2008) na vida de um pelotão de soldados no vale do Korengal, um local com combates bastante violentos no período. Diferentemente de outros filmes do gênero, que costumam se basear em depoimentos, os diretores da película decidiram ligar as câmeras e regis-trar as coisas que estavam acontecendo no local. Assim, o público pode ver os soldados enfrentando diferenças culturais, tédio e cansaço, antes de entrar de fato em ação, lutando contra o ataque inimigo.

Cidadão BoilesenDireção | Chaim Litewski Ano | 2009

Diversos membros das Forças Armadas brasileiras são acusados de torturar pre-sos políticos na época da ditadura militar, que se estendeu no Brasil de 1964 a 1985. Há também evidências do envolvimento de civis na prática desse crime. Isso é o que nos mostra o documentário do dire-tor brasileiro Chaim Litewski. Resultado de 15 anos de pesquisa, o filme, por meio de depoimentos de ex-militantes políti-cos e de militares, afirma que a tortura no Brasil foi financiada por empresários e banqueiros. O caso mais emblemático foi o do dinamarquês naturalizado brasileiro Henning Boilesen, assassinado em 1971 por militantes políticos. Ex-presidente da Ultragaz, Boilesen – que gostava de assistir a sessões de torturas – partici-pou da criação da Operação Bandeirante (Oban) – um esquema de organização de informações, investigações e tortura montado pelo Exército brasileiro no fim dos anos 1960.

Enron – Os Mais Espertos da Sala Direção | Alex Gibney Ano | 2005

Em 2001, a multinacional Enron, um gigante norte-americano do setor de ener-gia, pediu concordata. Mais de 20 mil pes-soas ficaram sem emprego e acionistas perderam dinheiro, numa manobra que favoreceu os executivos da companhia. O documentário Enron – Os Mais Esper-tos da Sala faz uma análise detalhada de um dos maiores escândalos empresariais da história norte-americana. Por meio de gravações e depoimentos de analistas econômicos e ex-empregados da empre-sa, o filme, baseado no livro homônimo dos jornalistas Bethany McLean e Peter Elkind, mostra como funcionava a Eron e como foi possível levar as fraudes adiante, a ponto de enganar o mercado de ações, os funcionários e o governo.

A CorporaçãoDireção | Mark Achbar e Jennifer Abbott Ano | 2002

Baseado no livro A Corporação: a Busca Patológica por Lucro e Poder, do escritor canadense Joel Bakan, o documentário fala sobre as grandes empresas norte-americanas. O filme traça um histórico dessas companhias e mostra que, de acor-do com a lei, as firmas têm as mesmas prerrogativas legais que os indivíduos, mas conseguem usá-las melhor, em razão dos recursos financeiros. Por meio de de-poimentos de 40 empresários, jornalistas e cineastas, entre outros, A Corporação mostra que, em busca do lucro, há em-presas que adotam posturas eticamente questionáveis. Um dos pontos marcantes da fita é o depoimento do negociador em bolsa de commodities (matérias-primas) Carlton Brown. Ele declara que, ao saber dos ataques às torres gêmeas, nos Estados Unidos, que matou milhares de pesso-as, o mundo empresarial só pensava em quanto dinheiro se havia perdido com o ataque terrorista.

i t e l e v i s ã o

Almanaque BrasilTV Cultura e TV Brasil

Você sabe quem foi Carmem Miranda? Ou o que o cartunista Henfil escrevia no exílio? As respostas para essas e muitas outras perguntas curiosas estão no pro-grama Almanaque Brasil, uma versão eletrônica da revista impressa produzida pelo artista gráfico Elifas Andreatto. O programa é apresentado pela cantora Luciana Mello e pelo ator Robson Nunes, intérprete do personagem Almanaquias, que faz testes, brincadeiras e conta curio-sidades. As informações, adaptadas de mais de 6 mil verbetes, são típicas de almanaques populares, caracterizados por grande diversidade de textos e re-pertórios num estilo bem-humorado. Os assuntos do Almanaque Brasil são essen-cialmente referentes à cultura brasileira, com variedades, curiosidades e eventos históricos, tratados num tom educativo e descontraído. A valorização da cultura nacional, que pauta todo o programa, pode ser percebido nos vários quadros que o compõem, como Ilustres Brasilei-ros, Cantos do Brasil e Brasiliômetro, que contam com a participação de nomes de destaque, como a atriz Fernanda Monte-negro e o músico Paulinho da Viola.

TV CulTurA Horário| domingo, 19h30TV BrAsil Horário| sábado, 19h reprise| segunda, 20h

A’UweTV Cultura, Rede Minas e TV Brasil

Em língua xavante, A’Uwe quer dizer “povo indígena”. O programa é dedicado à divulgação da cultura, do modo de vida e dos problemas das nações indígenas brasileiras, com apresentação do ator Marcos Palmeira. A’Uwe traz ao especta-dor vídeos realizados por documentaris-tas e também pelos próprios índios, que nos aproximam das tradições, rituais, conflitos e histórias dos diferentes povos nativos do território brasileiro, visando a ampliar o conhecimento e suscitar o debate sobre esses povos.

Nos documentários internacionais, o programa dá um giro por diversas partes do globo para mostrar os povos nativos de outras regiões, reportando sua cultura, tradições, mostrando como são tratados pelo governo do país onde fica seu ter-ritório e como ocorre a convivência do moderno com o ancestral. Já foram exi-bidos documentários como Nas Trilhas de Makunaima, sobre o mitológico herói indígena, e Katxá Nawá, dirigido por Zezinho Yube, da nação Hunikuin, que lhe valeu o Prêmio Culturas Indígenas Ângelo Kretã.

TV CulTurA Horário| domingo, 18h reprise| quarta, 20hreDe MinAs Horário| domingo, 18h30TV BrAsil Horário| domingo, 16h

Sem FronteirasGlobo News

No programa Sem Fronteiras, os jor-nalistas Sílio Boccanera, Jorge Pontual e Tonico Ferreira fazem reportagens sobre assuntos que foram destaque durante a semana no Brasil e no mundo. As matérias dão um novo enfoque a temas variados. Alguns exemplos:

k a crise econômica na Espanha e o mo-vimento separatista da região da Cata-lunha, que tomou as ruas de Barcelona após a vitória da seleção da Espanha na Copa do Mundo;

k as medidas que a Agência Nacional do Petróleo (ANP) planeja tomar para evi-tar vazamentos em poços no pré-sal, como ocorreu no Golfo do México;

k a discussão sobre o que é a liberda-de de expressão na atual era digital, sobretudo depois de a China impor censura ao Google.

Para atualizar e dar mais profundidade às reportagens, os jornalistas contam com análises de entrevistados e a par-ticipação de especialistas nos assuntos abordados, tanto do Brasil quanto de outros países.

Horário| quinta, 23h30 reprises| sexta, 6h30; sábado, 4h05 e 14h05; domingo, 23h30; segunda, 12h30

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12 atualidades vestibular + enem 2011

Divirta-se

132011 atualidades vestibular + enem

Divirta-se

T q u a d r i n h o s

Uma incrível viagem ao AfeganistãoO fotógrafo francês Didier Lefèbre mistura fotos com quadrinhos para narrar sua ida ao território em guerra

O Afeganistão, país escondido em remotas montanhas da Ásia Cen-tral, chama a atenção do mundo

nos últimos anos. Em 2001, os Estados Unidos entraram em guerra contra o seu governo, do grupo fundamentalista islâmico Taliban, por dar abrigo aos ter-roristas responsáveis pelos atentados de 11 de setembro de 2001 contra Nova York e Washington. Tropas norte-americanas e de outros países da Otan (aliança militar ocidental) derrubaram o Taliban e hoje tentam estabilizar a situação, em apoio ao atual presidente, Hamid Karzai. Diante das dificuldades, o atual presidente dos EUA, Barack Obama, decidiu ampliar ain-da mais o número de soldados. Até agora, nada indica que estão tendo sucesso.

Mas que país é este? Como vive seu povo? Como é o cotidiano de sua po-pulação?

Nada como saber de alguém que já esteve lá. O Fotógrafo, obra em três vo-

lumes do francês Didier Lefèvre, é um espetacular relato de viagem. Ele mes-mo é o fotógrafo e acompanhou uma expedição humanitária da organização Médicos sem Fronteiras que viajou pelo território afegão por quatro meses em 1986. Apesar de os fatos terem ocorrido há mais de vinte anos, quase nada mudou por lá, desde então.

Na verdade, o Afeganistão é um ter-ritório em guerra há 31 anos, quando as tropas da União Soviética invadiram o país. Naquele momento, as potências ocidentais ajudaram a armar os grupos islâmicos, que enfrentavam o exérci-to comunista. Os soviéticos saíram em 1989, e diversos clãs, facções e grupos de diversas etnias entraram em confli-to, com o Taliban subindo ao governo em 1995. Os conflitos jamais cessaram completamente.

Não dá para dizer simplesmente que O Fotógrafo é uma história em quadrinhos,

pois a espinha dorsal do relato é baseada nas fotos de Lefèvre. Os quadrinhos en-tram preenchendo a parte da ação para a qual não há imagens fotográficas. Temos então um livro híbrido, que funciona muito bem: as fotos dão o realismo e a veracidade a tudo o que é relatado, os quadrinhos dinamizam a história. Nela, vemos os dramas da população em guer-ra, o trabalho dos médicos com os feridos, a miséria e a falta de quase tudo nos lo-cais visitados, a religiosidade severa dos afegãos, as diferenças culturais com os franceses. Auxiliado na montagem do álbum por Emmanuel Guibert e Frédéric Lemercier, Lefèvre faz uma narrativa ao mesmo tempo verdadeira, despojada e muito bem-humorada. Com a publicação do terceiro e último volume, que acaba de sair, a editora Conrad completa esta excelente obra. É uma leitura muito útil para quem quer conhecer melhor o mun-do em que vivemos.

O FotógrafoAUTORES | Didier Lefèvre, Emmanuel Guibert e Frédéric LemercierEdiTORA | CONRAD EDITORA – 3 volumes (288 páginas no total) – 69,00 reais o conjunto

Chibata!AUTORES | Hemetério e Olinto Gadelha Neto

Um marcante episódio da história brasileira, embora pouco conhecido, é retratado nesta belíssima história em quadrinhos. Trata-se da Revolta da Chibata, motim de 2,3 mil marujos dos principais navios de guerra da Marinha brasileira, em novembro de 1910, pelo fim dos castigos físicos à tripulação (veja na pág. 122). Duas décadas após a Lei Áurea (1888), o uso da chibata para punir marinheiros, negros em sua grande maioria, era ainda uma expressão da mentalidade escravocrata existente no país. Nos seis dias da revolta, os amotinados apontaram os canhões para o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, a sede da Presidência da República na época. O recém-empossado presidente, marechal Hermes da Fonseca, aceitou a demanda, prometeu anistia aos rebeldes e a revolta foi encerrada.

A obra dos cearenses Hemetério e Olinto Gadelha Neto, porém, vai além, e acompanha a vida de João Cândido Felisberto, o notá-vel líder do motim, chamado de Almirante Negro, que sobrevive à perseguição brutal que se abate sobre os ex-revoltosos. Preso em condições desumanas, internado em um hospício, e depois relegado à miséria, João Cândido ainda vive por décadas no Rio de Janeiro, ganhando a vida na estiva e na pesca.

História humana, de grande apelo so-cial, colocada em quadrinhos de maneira magnífica, Chibata! é uma excelente lei-tura para quem se interessa pelas “lutas inglórias” de nosso país, como diz a mú-sica a respeito dela, de João Bosco e Aldir Blanc (O Mestre-Sala dos Mares).EdiTORA | CONRAD EDITORA – 224 páginas – 41 reais

MafaldaAUTOR | Joaquim Salvador Lavado Quino

Criada pelo argentino Quino, Mafalda é uma campeã de vestibulares, pois seus quadrinhos aparecem com frequência em questões nas provas. O motivo para isso é sua ironia, com frases e situações cheias de duplo sentido. Criada na dé-cada de 1960, Mafalda é uma menina contestadora, que questiona o mundo à sua volta, os pais, as guerras e as desi-gualdades sociais. EdiTORA | MARTINS FONTES EDITORA – 420 páginas – 83,60 reais

PersépolisAUTORA | MARJANE SATRAPI

Marjane Satrapi é uma iraniana que, quando tinha cerca de 10 anos, viveu a Revolução Islâmica de 1979 em seu país, que derrubou uma ditadura. O novo re-gime, porém, passou a impor a todos os cidadãos os preceitos do Islã, criando uma sociedade sufocante e repressiva. A história, embora contada sob uma forma pessoal, tem um apelo universal. A HQ fez tanto sucesso que virou filme e DVD.EdiTORA | COMPANHIA DAS LETRAS – 352 páginas – 43,50 reais

MausAUTOR | ART SPIEGELMAN

Maus é uma obra-prima. É a primei-ra história em quadrinhos a ganhar o Prêmio Pulitzer, o mais importante do jornalismo mundial. Em Maus, Art Spie-gelman narra a II Guerra Mundial, vis-ta pela história particular de seus pais. No livro, como forma de amenizar os horrores da narrativa e dar um certo tom alegórico, os personagens assumem formas de animais.EdiTORA | COMPANHIA DAS LETRAS – 296 páginas – 45,50 reais

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14 atualidades vestibular + enem 2011

Divirta-se

152011 atualidades vestibular + enem

A foto destas páginas parece comum. Mas foi a grande ven-cedora do World Press Photo 2010, o principal concurso internacional de fotojornalismo, pois mostra um momento

extraordinário do ano passado: os protestos realizados pelo povo iraniano contra o resultado oficial da eleição presidencial, na qual foi reeleito o atual governante do país, o conservador Mahmoud Ahmadinejad, contra o candidato de oposição Hossein Mousavi. Multidões saíram às ruas para contestar a apuração, denunciada como fraudulenta, e pedir a anulação do resultado. As manifesta-ções duraram semanas, mas foram particularmente intensas nos dias imediatamente após a votação, em 12 de junho de 2009.

A imagem ao lado foi capturada em 24 de junho. Para entender sua importância, é preciso saber que, nesse período, multidões desciam às ruas para protestar, à luz do dia, enfrentando uma dura repressão. À noite, os protestos continuavam... de outra forma.

Note os detalhes da fotografia: o primeiro é que ela é escura. O local no qual se passa a ação não é diretamente iluminado. As luzes vêm das janelas dos apartamentos e de uma certa luminosidade indireta existente nos céus de Teerã. O segundo detalhe é que há diversos imovéis no campo de visão, o que indica uma zona urbana densa. O terceiro é que a ação ocorre no topo de um prédio, em primeiro plano. Mas o que se passa exatamente? Podemos dis-tinguir, com certo esforço, três figuras humanas. Na verdade, três mulheres com lenço na cabeça. A escuridão as protege, pois, se forem pegas, vão para a prisão. Podemos imaginar que suas vozes ecoam nas paredes dos prédios próximos, tornando sua localização difícil. Além disso, não é uma ação solitária. Ao mesmo tempo, muitas outras vozes se fazem ouvir de locais próximos, ou mais distantes, dando a todos a confiança de que, por maior que seja a repressão, ela não conseguirá calar todos os descontentes.

Esta foto integra um conjunto de autoria do italiano Pietro Masturzo, que passou noites registrando a resistência anônima da população iraniana aos abusos do regime.

Para quem está estudando atualidades, vale a pena olhar as fotos premiadas no site www.worldpressphoto.org. Terá um panorama do mundo contemporâneo. Na edição 2010, foram inscritas 101.960 fotografias, enviadas por 5.847 profissionais de 128 países. Nas imagens, estão a guerra no Afeganistão, a disputa entre Israel e os palestinos, conflitos no continente africano, a violência na Colômbia, a posse de Barack Obama... Mas a galeria vai além de temas políticos: há lindas fotos de assuntos como es-portes, meio ambiente, moda, retratos e questões cotidianas.

Veja as vencedoras do World Press Photo 2010 publicadas nesta ediçãoJogo de beisebol, págs. 4-5; Girafa morta em seca no Quênia, págs. 6-7; Protesto no irã, págs. 14-15; Guerra no afeganistão, págs. 50-51; atentado no afeganistão, págs. 52-53; Golpe de estado em madagáscar, págs. 55; Faixa de Gaza após bombardeio, págs. 62-63.

T F O T O G R A F I A

GRITOS NA NOITE No teto de um edifício residencial, em Teerã, a capital do Irã, três mulheres protestam contra o resultado eleitoral, em 24/6/2009 (foto vencedora do World Press Photo)

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Um protesto nos telhados

Page 9: Guia Do Estudante 2011.p1

16 atualidades vestibular + enem 2011

A R T E S

Divirta-se

172011 atualidades vestibular + enem

V ocê sabia que tanto os grafites quanto as pichações estão che-gando aos museus? Como não

podia deixar de acontecer, tudo está cer-cado de muita polêmica.

A presença do grafite em espaços no-bres de galerias e museus já ocorre há alguns anos. As críticas a esse movimento têm por base o apego a padrões estéticos estabelecidos. Coloca-se em discussão o valor artístico do grafite. Há também

uma preocupação contrária: a de que o aparato institucional possa retirar do grafite sua vitalidade como forma de intervenção urbana transgressora.

Mas o debate fica mais acirrado quan-do o assunto é a pichação. O anúncio da participação de pichadores na 29ª Bienal Internacional de São Paulo, que ocorrerá em outubro e novembro de 2010, provoca acaloradas discussões.

Muitos devem se lembrar de que, em 2008, pichadores invadiram a 28ª Bienal para protestar e picharam espaços da exposição, chegando a ser presos. Agora, algumas pessoas desse mesmo grupo foram convidadas a integrar o trabalho Pixação SP (assim mesmo, com “x”, em grafia consagrada entre os pichadores), com um conjunto de fotografias, vídeos e debates. Para a curadoria do evento, a decisão está em sintonia com o tema desta Bienal, que se propõe a abordar a relação entre arte e política.

DiferençasMas pichação e

grafite não são a mesma coisa? Não há consenso entre as fronteiras dessas duas formas de intervenção urbana. Do ponto de vista estético, algumas diferen-ças podem ser destacadas. Enquanto a pichação é uma escrita ou um rabisco monocromático, o grafite aproxima-se da pintura, da gravura, dos quadrinhos e é, em geral, colorido e bem elaborado. Espalhados em vias movimentadas das grandes cidades, ambos podem ser vistos por amplas camadas da população.

Mas, como seu status de arte vem sendo legitimado por instituições políticas e culturais, como universidades, museus e galerias, o mais interessante agora é discutir como essas manifestações se relacionam com cidadania e inclusão social, marginalidade e vandalismo.

A arte das ruas chega aos museusGrafites e pichações ganham valorização e são reconhecidos como expressão estética contemporânea

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ENTRE 4 PAREDES Exposição no Masp, em 2009: os grafites saem dos muros e ganham status de arte

iNuSiTADo O grafiteiro Titi Freak prepara seu trabalho em painel para a exposição do Masp

AgoRA é oficiAl Grafite de Osgemeos em muro da av. 23 de Maio, em São Paulo: trabalho feito a convite

OrigensAs pichações surgiram no fim dos anos

1960, nos Estados Unidos, com a propaga-ção de mensagens de rebeldia e protesto escritas em spray em paredes, muros e trens de metrô. No Brasil, essas manifes-tações ganharam força nas décadas de 1970 e 1980, como um canal de expres-são para questões políticas e sociais da juventude nos grandes centros urbanos. Formou-se uma geração de artistas de rua, da qual faziam parte Alex Vallauri, Matuk e Zaidler, convidados a expor seus trabalhos já em 1985, na Bienal Interna-cional de Arte de São Paulo.

Embora grande parte dos grafi-teiros permaneça anônima, muitos tiveram o nome re-conhecido e ingres-saram em ambien-tes institucionais. A mostra Street Art: do Graffiti à Pintura, feita pelo Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP, em 2008, reuniu grafiteiros brasileiros e italianos, que transpuseram para painéis de madeira cenas que haviam sido pintadas em mu-ros urbanos. Na exposição De Dentro para Fora/De Fora para Dentro (2009/2010), no Museu de Arte de São Paulo Assis Chate-aubriand (Masp) – retratada na foto acima –, os artistas Carlos Dias, Daniel Melim, Ramon Martins, Stephan Doitschinoff,

Titi Freak e Zezão foram chamados a criar enormes murais de madeira – num total de 1.500 metros quadrados de área pintada –, que ao final foram apagados, caracteri-zando a ideia própria dos grafites, de que são efêmeros.

Parte do impulso para que o grafite alcançasse esse patamar veio do desta-que alcançado por grafiteiros brasileiros no exterior, como a dupla Osgemeos, formada pelos irmãos Otávio e Gustavo Pandolfo, que já fizeram mostras indivi-duais no Brasil, em países da Europa e nos Estados Unidos.

De volta à ruaOsgemeos protagonizaram, em 2008,

movimento inverso ao que caracteriza o grafite: foram convidados, com os artistas de rua Nunca, Nina, Finók e Zéfix, a pintar um imenso painel na movimentada avenida 23 de Maio, em São Paulo, mostrado ao lado. Demostrando que esse reconheci-mento não ocorre sem tensão, o painel foi, tempos depois, pichado por grupos que

condenam arte de rua feita sob enco-menda.

Em boa parte alheios à discus-são sobre o valor artístico de suas criações, picha-dores e grafiteiros

disputam os espaços livres das ruas. Foi por força de seu caráter clandestino e transgressor que essa produção sobrevi-veu a diversas legislações municipais que buscavam proibi-la no espaço público.

Nos últimos anos, metrópoles como São Paulo e Rio têm adotado políticas para regulamentar essas intervenções, fazendo surgir o grafite autorizado. Governo e se-tores da sociedade civil defendem a ideia de que o grafite possa, sobretudo em áreas urbanas degradadas, cumprir uma função revitalizadora, conferindo dignidade e identidade à sua vizinhança.

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Page 10: Guia Do Estudante 2011.p1

18 atualidades vestibular + enem 2011

Ponto de vistaum mesmo fato pode ser noticiado de maneiras variadas por diferentes veículos de comunicação. uma leitura crítica é fundamental

192011 atualidades vestibular + enem

Diferentes abordagens para as sanções da ONU ao IrãQuatro revistas semanais noticiam com enfoque bem diferente a aprovação de sanções ao Irã pela ONU

O FATO

Em junho de 2010, o Conselho de Se-gurança da ONU aprovou sanções contra o Irã, para pressioná-lo a

parar seu programa de enriquecimento de urânio (veja na pág. 28). Elas foram apro-vadas por 12 votos a favor e 1 abstenção, do Líbano. Brasil e Turquia, que haviam conseguido um acordo com o Irã (rejei-tado pelas potências), votaram contra a resolução. As revistas semanais VEjA, IstoÉ, Época e Carta Capital noticiaram o fato, mas deram enfoque bem distinto.

m Veja

em uma reportagem de duas páginas, a revista avalia de forma negativa a posição do brasil em votar contra as sanções ao irã no Conselho de segurança da Onu. O título da matéria, “Quem é contra o irã atômico levante a mão”, está totalmente integrado à foto utilizada, que mostra o voto a favor das sanções de três embai-xadores, sendo a embaixadora do brasil a única a não levantar a mão.

O subtítulo da reportagem afirma que a diplomacia brasileira agiu “irresponsavel-mente”. a matéria sustenta que o brasil não tinha “nenhum interesse direto em

q IstoÉ

a revista aborda a aprovação das sanções interna-cionais contra o irã em seu editorial – um espaço nobre den-tro da publicação, em que os editores ex-pressam de forma explícita suas opiniões sobre fatos do brasil e do mundo. além disso, deu uma nota noticiosa no corpo de uma matéria sobre as usinas nucleares de angra dos reis (rJ). no editorial, IstoÉ utilizou a mesma foto da revista veJa para ilustrar o fato, dando porém um enfoque oposto, expresso pelo título: “O mundo não quer acordo”.

a revista analisa as sanções impostas pelo Conselho de segurança das nações unidas de forma negativa. afirma que a medida é conservadora e serviu, basica-mente, para dar uma imagem de firmeza ao presidente norte-americano barack Obama. Para a revista, a resolução aprova-da pode trazer consequências ruins, como a radicalização de lado a lado. IstoÉ apoia a posição do brasil de tentar chegar a um acordo com o irã na questão do enrique-cimento de urânio e afirma que esta é a melhor alternativa, pois o diálogo entre as nações seria a forma adequada para chegar a um acordo.

erro brasileiro Veja avaliou como irresponsável a posição do Brasil de votar contra as sanções ao Irã

sim ao diálogo IstoÉ defende a posição brasileira em editorial e dá um boxe em matéria interna

q Época

Época publica uma reportagem de duas páginas em que o título, “sem a mãozi-nha brasileira”, faz uma brincadeira com a foto, em que se vê o trecho da bancada do Conselho de segurança da Onu no qual a representante do brasil se destaca por não votar a favor das sanções ao irã. no subtítulo da matéria, a revista expressa sua posição crítica à diplomacia brasileira, dizendo que “o voto contrário às sanções ao irã na Onu isola ainda mais o brasil, causa novo atrito com os estados unidos e cria um ambiente bom... para ahmadi-nejad [presidente iraniano]”.

a revista narra as negociações anteriores à decisão do Conselho de segurança: Obama ligou para o primeiro-ministro turco para tentar convencê-lo a, pelo menos, abster-se da proposta, como uma forma mais amena de explicitar as divergências. no fim, com o voto contrário de brasil e turquia, a ma-téria avalia que houve um “estrago” nas relações entre brasília e Washington, o que não seria bom para nenhum dos dois países. Para Época, a explicação para o voto é que “o brasil se sentiu desprestigiado pelo fato de o acordo com teerã ter sido ignorado”. Para a revista, “o irã busca a capacidade de produzir bombas nucleares” e “considera o brasil seu aliado”.

m Carta Capital

Para abordar a votação na Onu, a revista Carta Capital optou por publicar um arti-go analítico, de quatro páginas, feito por um cientista político. O título em latim “si vis pacem...” é o início da expressão clássica “se queres paz, prepara-te para a guerra”. O autor faz uma avaliação po-sitiva do comportamento da diplomacia brasileira, afirmando que o acordo obtido por brasil e turquia com o irã foi um “sig-nificativo êxito diplomático” e alçou o país à condição de “potência política global”. a foto que abre a matéria faz uma referência a esse argumento. a imagem mostra os presidentes dos países emergentes, entre eles lula, com uma legenda que termina dizendo: “O quarteto ganha poder”.

Para contextualizar a análise, o autor recupera a história do Programa nuclear brasileiro desde o início, no governo var-gas, afirmando que o programa sempre foi combatido pelos estados unidos. Com base na ideia de que os países se armam para garantir a paz e a soberania, o texto detalha o histórico de resistência do bra-sil a abdicar de ter um programa nuclear próprio. Para o autor, ao se contrapor às sanções do Conselho de segurança da Onu ao irã, o brasil “está a defender seus pró-prios interesses nacionais”.

fiasco diplomático Para a revista Época, o voto brasileiro causou um novo atrito com o governo dos eUa

acordo positivo Para Carta Capital, a posição da diplomacia brasileira fez do Brasil uma potência política

defender o irã” e que a posição bra-sileira acabou por consolidar “a con-vicção do governo americano de que, por enquanto, o brasil não é um parceiro confiável”. esse último argumento se re-laciona à outra foto da reportagem, que mostra uma conversa entra a secretária de estado dos eua, Hillary Clinton, e o pre-sidente do equador, rafael Correa, com a legenda terminando assim: “Quem precisa do brasil?”. na américa do sul, o governo do equador é um dos mais próximos ao do brasil, mas não acompanhou seu voto.

Page 11: Guia Do Estudante 2011.p1

20 atualidades vestibular + enem 2011

Ponto de vista

212011 atualidades vestibular + enem 20 atualidades vestibular + enem 2011

Ponto de vista

Site divulga papéis secretos sobre guerra no Afeganistão

O FATO

Em 25 de julho, um domingo, o site Wikileaks divulgou cerca de 92 mil documentos secretos do

governo dos Estados Unidos a respeito da guerra em curso no Afeganistão. O fato teve grande repercussão, pois tor-nou públicos vários fatos que se busca-va esconder, como a morte de civis em diversas operações militares, as dificul-dades das tropas ocidentais no país e a

desconfiança dos norte-americanos sobre a lealdade das tropas tanto do governo afegão quanto do aliado Paquistão.

A guerra no Afeganistão começou em 2001, quando tropas dos Estados Uni-dos (EUA) e dos países da Otan (aliança militar ocidental) entraram no país para derrubar o governo do Taleban, acusado de dar guarida ao grupo terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden (após os

Mais de 90 mil documentos do governo dos EUA sobre o conflito vêm a público: órgãos de impresa dão enfoques diferentes para a notícia

Folha de S.Paulotraz uma chamada na parte de baixo

da primeira página, com o título: “eua veem ameaça em vazamento sobre afe-ganistão”. Publica duas páginas internas para o assunto, mostrando o governo dos estados unidos na defensiva, explicando-se sobre as denúncias de assassinatos de civis e a manipulação dos dados sobre a guerra, e afirmando que o vazamento ameaça as tropas e os colaboradores norte-americanos no país. numa análise com menos destaque, afirma-se que o site Wikileads, que divulgou os documentos, pode ser processado.

O jornal foi o único que havia publica-do as primeiras notícias já na véspera (o vazamento tornou-se público na noite de domingo), com um tom factual: “Papéis secretos indicam ações ilegais dos eua no afeganistão”.

O Estado de S. Paulona parte de baixo da primeira página,

o jornal dá a chamada: “Papéis secretos vazam e Casa branca se irrita”. O foco da notícia está na acusação do governo norte-americano de que o site Wikileaks foi “irresponsável” ao divulgar os docu-mentos sigilosos, entregues a ele por uma fonte anônima.

nas duas páginas internas que dedica ao tema, a abertura segue na mesma linha: “eua tratam como ‘ato criminoso’ o vaza-mento de documentos secretos”. O texto detalha as principais revelações. só que, no ato da segunda página, dá destaque para a posição do responsável pelo site, o australiano Julian assange: “ativista vê ‘crimes de guerra’ em ações”. uma análise ao lado enfraquece esse ponto de vista, ao afirmar que os documentos não trouxeram grandes novidades.

O GloboCom chamada no alto da primeira pá-

gina, foi o jornal que deu mais destaque ao fato. seu título “documentos põem Obama sob pressão”, destaca o fato de que, às vésperas da votação no Congresso das propostas do presidente para a guerra, a divulgação dos documentos tornou-se um grande problema, pois trouxe vários questionamentos à eficácia do governo na condução do conflito.

suas duas páginas internas começam com “estratégia de Obama em xeque”, o que mantém a ideia da primeira página. O noticiário dá um tom de impasse na situação. “não há solução militar para o conflito”, diz um entrevistado. na página seguinte, o significado do vazamento das informações pelo site Wikileaks é analisa-do de maneira ampla, com a reportagem “escândalos online atacam governos”.

Istoéa revista opta, em reportagem de duas

páginas, por enfocar exclusivamente as denúncias contidas nos documentos em relação à ação militar dos eua no afega-nistão. sob o título “Crimes secretos”, vem o texto: “documentos mostram que os eua cometeram atrocidades no afe-ganistão e esconderam estas ações de todo o mundo. mataram civis, crianças e exterminaram vilas inteiras”.

O gráfico “Os números da guerra” mostra que o número de mortes de soldados da Otan no país vem crescendo de maneira constante desde 2001, e, de janeiro a ju-nho de 2010, já chegou a 402. a matéria detalha as principais revelações contidas nos documentos – como a morte de cente-nas de civis sem o conhecimento público e as manipulações dos dados oficiais – e traz duas fotos dos combates no país.

Carta Capitala revista traz uma pequena chamada na

capa: “afeganistão – 90 mil documentos provam o vexame da guerra”. em sua ma-téria de quatro páginas sobre o assunto, sob o título “vexame completo”, o eixo é mostrar que os documentos vazados indi-cam “fragilidade, falhas e ineficácia” das forças militares dos estados unidos e da Otan em território afegão.

no início, a reportagem traz fotos de Obama com as tropas e de Julian assange, responsável pelo site Wikileaks. a matéria explica as principais revelações contidas nos documentos, analisa as dificuldades de Obama para aprovar seus planos de ação militar, explica o que é o Wikileaks e diz que cresce a oposição à participação na guerra entre a população norte-americana e que o vazamento dos documentos deve reforçar essa tendência.

Épocatambém coloca o assunto em chamada

de capa: “Wikileaks – O poder do site que vazou segredos militares americanos”. neste caso, o foco é a discussão das novas formas de mídia, pois o Wikileaks não é um órgão noticioso tradicional, mas um site para postagem de documentos sigilosos vazados por anônimos.

a reportagem de quatro páginas, com o título “as bombas e o jornalismo”, traz uma grande foto de Julian assange. um destaque de texto explica que “o gover-no americano tentou, em vão, diminuir a importância do vazamento”. a matéria relata os principais fatos revelados pelos documentos, mostra a ofensiva da Casa branca contra o site e destaca a investiga-ção interna para descobrir quem passou os documentos ao Wikileaks – o principal suspeito será julgado.

atentados terroristas de 11 de setembro de 2001). Desde então, deu-se posse ao atual presidente afegão, Hamid Karzai, que governa com o apoio dos EUA. O presidente norte-americano, Barack Oba-ma, anunciou no fim do ano passado que iria dar prioridade militar para o conflito no Afeganistão e ampliar o contingente militar no país, para tentar acelerar o desfecho do conflito.

O vazamento dos documentos secretos foi noticiado, em 27 de julho, pelos jornais Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, bem como por três revistas de in-formação naquela semana. Note que cada veículo de comunicação deu um enfoque diferente para a mesma notícia: desde o simples relato das informações vazadas até a análise das mudanças na mídia, to-mando por base o site Wikileaks.

Page 12: Guia Do Estudante 2011.p1

Isso corresponde a apenas 18% das crianças dessa faixa etária. Em todo o país, faltam cerca de 8 milhões de vagas em creches.

Nessa idade, em que todos já deveriam ter trocado o Ensino Fundamental pelo Médio, mais de 1,5 milhão de estudantes no Brasil ainda estavam no Fundamental. Um terço dos estudantes não consegue terminar o Fundamental aos 14 anos.

Só 47% dos estudantes acabam o Ensino Médio até os 18 anos, e a maioria destes encerra a vida escolar nesse momento.

22 atualidades vestibular + enem 2011 232011 atualidades vestibular + enem

O Brasil que estudaEstudantes no ensino formal (em milhões de pessoas)

0

2 milhões

4 milhões

6 milhões

8 milhões

10 milhões

30 anos ou mais

25 a 29 anos

20 a 24 anos

18 a 19 anos

16 a 17 anos

14 a 15 anos

12 a 13 anos

10 a 11 anos

7 a 9 anos

5 a 6 anos

4 anos0 a 3 anos

57 milhões de brasileiros de todas as idades, cerca de 30% da população, estudavam em 2008. Quase tanta gente quanto a população da Itália

Avanços e deficiências da educação brasileiraO Brasil chega perto de universalizar a educação fundamental, mas ainda vai mal em qualidade educacional e no acesso às outras etapas do ensino

Por William taciro e mKanno/multisP

Quase todas as crianças a partir dos 7 anos estão matriculadas

na escola, e, pela primeira vez na história nacional, a taxa de alfabe-tização passa dos 90%. No entanto, para que a educação brasileira alcan-ce grau pleno de desenvolvimento, o Ensino Infantil, Médio e Superior também precisa ser universalizado, e a qualidade tem de melhorar muito em todos os níveis.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), em relatório de 2010, elogia ações do Brasil para universalizar a

educação básica e programas como o acompanhamento escolar das crian-ças do Bolsa Família. Mas aponta que as taxas de repetência e de atraso escolar estão bem acima da média mundial, e o desempenho dos bra-sileiros nas provas internacionais é baixíssimo.

Por isso, a Unesco classifica o Bra-sil como um país com Índice de De-senvolvimento Educacional (IDE) médio, que caminha na direção cer-ta, mas ainda precisa andar muito para alcançar o primeiro grupo dos países com bom nível de educação.

Fontes: IBGE e ONU

Ensino InfantilEssa oscilação no fim da linha está relacionada à adoção gradual da atual escolaridade obrigatória dos 6 aos 14 anos de idade no Ensino Fundamental.

Melhora acentuadaComo explicar que, no Ensino Fundamental, a taxa é tão alta, e cai para 50% no Ensino Médio? Não se trata só de evasão (alunos que saem da escola), mas também de atraso. Um aluno de 14 anos na 5ª série, neste gráfico, é considerado na idade adequada (para o Ensino Fundamental). No ano seguinte, porém, ele não vai aparecer mais, porque com 15 anos já deveria estar no Ensino Médio.

Alfabetização de jovens e adultos

Creche

Maternal

Alfabetização pré-escolar

Ensino Fundamental

Ensino Médio

Ensino Superior

Em 2008, a idade de matrícula obrigatória ainda era de 7 anos.

Aprovação

Taxa de aprovação, reprovação e abandono, em 2008

Reprovação Abandono

83,1

74,1

12,1

12,7

4,8

13,2

Ensino Fundamental

Ensino Médio

1940 2008

O ensinO prOgride de fOrma desigualA escolarização avançou em todos os níveis, mas grande parte dos alunos ainda não consegue estudar na série correta para a sua idade

O avançO em três geraçõesQuando se consideram os estudantes independentemente de sua série, 97,9% da população de 7 a 14 anos estava matriculada em 2008

prOgressO difícilGarantir escola para todos é uma questão; outra é manter os alunos estudando nas etapas adequadas à sua idadeTaxa de frequência líquida

(% de estudantes da faixa etária esperada em cada etapa de escolarização)

Fontes: IBGE e Unicef, com dados da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílio (Pnad). A pesquisa não foi realizada em 1994 e 2000* Até 2008, a 1ª série do Ensino Fundamental começava aos 7 anos de idade

Fonte: Ipea

Educação Infantil (até 6 anos)

Ensino Fundamental(7 a 14 anos)

Ensino Médio(15 a 17 anos)

Ensino Superior (18 a 24 anos) 1992 1995 1997 1999 2002 20062004 2008

100

80

60

40

20

0

98,2

41,2

Sul

97,8

20,5

C.-Oeste

97,0

35,9

Norte

97,6

18,8

Nordeste

Taxa de escolarização das pessoas de 7 a 14

anos de idade (%)

Quase lá?Se colocamos os dados por região e os confrontamos, parece que as desigualdades acabaram; mas compare este gráfico com os da próxima página.

DesestímuloO impacto das taxas de

reprovação é cumulativo, pois cresce a inadequação da idade do estudante, e o

desestímulo pode levá-lo a abandonar a escola.

50,4

13,8

94,9

81,3

45,8

4,6

13,918,2

Destrinchando

No estudo e No dia a dia, gráficos, maPas e tabelas trazem muitas iNformações. ajudar a eNteNdê-los é o objetivo desta seção

98,4

36,6

Sudeste

Page 13: Guia Do Estudante 2011.p1

Fonte: Ipea

indígena é O mais desassistidOPopulação de 7 a 14 anos fora da escola e sua participação no total do segmento (por cor/raça, em 2007)

NO ENSINO SUPERIORQuase todas as mulheres brancas que concluíram o Ensino Médio sem nenhuma repetência estavam em um curso superior dois anos depois, mas pouco menos da metade das estudantes negras pôde realizar essa passagem.

BRANCOS NEGROS

24 atualidades vestibular + enem 2011

Destrinchando

252011 atualidades vestibular + enem

NO ENSINO FUNDAMENTALAos 10 ou 11 anos, apenas um terço dessa geração estava na 4ª série. 12% das crianças negras ainda estavam na 1ª série, assim como 4% das brancas.

NO ENSINO MÉDIOAlém dos repetentes e dos que abandonaram a escola regular, há os estudantes que, aos 17/18 anos, estão no Ensino Superior – cerca de 7% dos brancos e 1,7% dos negros.

Crianças pardas e pretasDois terços das crianças que ficaram sem escola

são negras (soma de pretas e pardas).

No NordesteA porcentagem dos sem-escola nos estados do semiárido é de cerca de 3,4%.

No NorteAcre e Rondônia têm a maior porcentagem de crianças fora da escola.

O Ministério da Educação calcula que 12,4% dos que entraram na escola em 2005 repetiram de ano ou abandonaram os estudos antes da 4ª série, e que cerca de 46% não devem terminar a 8ª série.

Em 2007, 2,4% da população de 7 a 14 anos ficou fora da escola. Pode parecer pouco, mas isso representa cerca de 680 mil crianças e adolescentes em todo o país.

desigualdades regiOnaisTaxa esperada de conclusão da 4ª e da 8ª série do Ensino Fundamental (em % dos que ingressaram na escola, em 2005/2006)

Os sem-esCOlaPorcentagem da população de 7 a 14 anos fora da escola

desigualdade de rendaPorcentagem da população de 15 a 17 anos no Ensino Médio (por quintos do rendimento mensal familiar per capita, em 2008)

Fonte: IBGE e Unicef Fonte: IBGEFonte: UnicefFonte: Cedes/Unicamp, com dados do MEC, Inep e DTDIE

Diferença evidenteAo dividir os adolescentes em cinco grupos iguais, conforme a renda, a pesquisa do IBGE mostra que a baixa renda é um fator de exclusão educacional. Entre a parcela mais pobre (1º quinto), os que estão no Ensino Médio na idade adequada são apenas 30%, contra quase 80% entre a parcela mais rica da sociedade (5º quinto).

De cada dez, uma foraQuase 10% das crianças indígenas não chegam ao banco escolar.

8ª série Fundamental

(2002)

3ª série Médio (2005)

Ensino Superior

(2007)

4ª série Fundamental

(1998)

Desigualdades educacionais persistem no país

Na fórmula para calcular o Índi-ce de Desenvolvimento Humano

(IDH), a educação é um ingrediente tão importante quanto a esperança de vida e a renda. Impulsionada pelas ma-trículas no Ensino Fundamental e pela alfabetização, a educação é o item que mais contribuiu para o avanço do Brasil no IDH nos últimos anos. No entanto, ainda há milhões de brasileiros com pouca ou nenhuma formação escolar, concentrados na parcela mais pobre da sociedade. Esse contingente reúne os analfabetos e os menos escolarizados, bem como aqueles com menor acesso ao Ensino Infantil e com maior proba-bilidade de repetência na escola.

Os adolescentes pobres são os que mais têm de ajudar no sustento da casa.

Ainda que sua família seja a que mais pode se beneficiar do sucesso educacio-nal dos filhos, esses são os jovens com a menor chance de concluir o Ensino Médio e entrar em uma universidade.

É possível traçar um perfil dessa ca-mada sem acesso à educação: crianças e jovens do Norte e Nordeste, princi-palmente homens, os pobres de todo o país, negros e índios. Não por acaso, quando encontramos a população sem acesso à educação, achamos as pesso-as que também se veem privadas de outros direitos básicos, como acesso à assistência de saúde, ao trabalho, à renda e à moradia. Isso é o que torna a exclusão educacional mais cruel: ela atinge aqueles que mais teriam a ganhar com uma boa formação escolar.

Os buracos da educação revelam a face dos que têm sido deixados para trás no processo de desenvolvimento social

errOs que se repetem Porcentagem da geração nascida em 1987-1988 que frequentava determinada série/nível de ensino nos anos assinalados

Para os nascidos em 1987 e 1988, o ideal é terem feito a 4ª série em 1998, a 8ª série em 2002, e assim por diante. Acompanhando a trajetória dessa geração de estudantes em uma década, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) mostrou como as desigualdades entre brancos e negros se acumulam durante o processo educacional.

HomensMulheres

8,43

17,34

12,74

23,44

18,26

28,09

23,93

5,7

36,85

30,24

35,37

22,63

26,7

18,37

26,32

38,02

Até 1,9%2% a 3%3,1% a 4%Mais de 4,1%

1º quinto

2º quinto

3º quinto

4º quinto

5º quinto

Mai

s pob

res

Mai

s rico

s

30,5%

100%0%

42,7%

54,7%

68,0%

78,4%Números absolutos

Branca Indígena Amarela Preta Parda

1,8%

219.060

6.119 2.545

58.682

395.509

9,8%

2,1%3,3% 2,8%

4ª série

Em %

8ª série

Norte SudesteNordeste Sul C.-Oeste

81 79,4

94,5 9588,9

40,5 38,7

66,6 69,1

54,2

Page 14: Guia Do Estudante 2011.p1

100% 100%02040 402060 6080 80

Coreia do Sul

Alemanha

Portugal

Chile

Rússia

Uruguai

México

Argentina

Brasil

Colômbia

Fonte: Unesco

No nível 1 estão aqueles que só conseguem achar uma informação explícita dentro de um texto.

No nível mais desenvolvido, os estudantes avaliam criticamente os textos, elaboram hipóteses e lidam com conceitos que contrariam suas expectativas.

26 atualidades vestibular + enem 2011

Destrinchando

272011 atualidades vestibular + enem

Esforço conjuntoA população analfabeta só parou de crescer, em termos absolutos, nos anos 1980, com a ampliação da rede pública de ensino, os programas de alfabetização de adultos, a urbanização e a redução da taxa de natalidade.

Relativos x absolutosVeja a diferença entre

números relativos e absolutos: apesar da

redução da porcentagem de analfabetos em relação ao total da

população, o número de pessoas que não sabiam ler triplicou entre 1900 e

o fim dos anos 1970

O que é um analfabeto?Nas pesquisas do IBGE, das quais sai boa parte dos números oficiais sobre educação, incluindo mais da metade do que você lê aqui, a taxa de analfabetismo entre adultos é a porcentagem de gente, na população com 15 anos ou mais, que declara não saber ler nem escrever um bilhete.

O IBGE também calcula a taxa de analfabetos funcionais, ou seja de adultos que têm nível de instrução equivalente ao de três anos do Ensino Fundamental. Supõe-se que essas pessoas não tenham condições de ler nem de compreender textos relativamente simples

resto do mundo

218 milhões

marrocos10 milhões

indonésia13 milhões

Brasil14 milhões

egito17 milhões

China71 milhões

Mais que 97%

90% a 97%

80% a 90%

70% a 80%

60% a 70%

50% a 60%

Menos que 50%

Dados não disponíveis

EnsinO MédiO tOMa bOMba nO PisaO Programa Internacional de Acompanhamento de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) avalia o conhecimento e a capacidade de leitura de estudantes dos ensinos Fundamental e Médio

População mundial alfabetizada com 15 anos ou mais (1995-2004)

Os PaísEs cOM Os MaiOrEs núMErOs dE analfabEtOs

10% taxa de analfabetismo no Brasil

21%taxa de analfabetismo funcional no Brasil

Bangladesh49 milhões

Paquistão47 milhões

etiópia27 milhões

nigéria23 milhões

Meio a meioConsidera-se que o

mínimo ideal para a educação de um país é ter metade dos estudantes acima do nível 3. Veja que Portugal atinge no máximo esse desempenho.

Só 20% bomUm quarto das provas

brasileiras do Pisa nem sequer alcançou o nível 1. Cerca de 80% dos avaliados passaram pelo Ensino Médio sem aprender o que se considera internacionalmente um letramento razoável.

Nível 1

Abaixo do nível 1Desempenho escolar de alguns países, por porcentagem de estudantesNíveis de leitura

Pior

MEL

Hor

Nível 2

Nível 3

Nível 4

Nível 51900 1940 1960 1980 20001920 1950 1970 1991 2008

0

30

60

90

120

150

0

20

40

60

80

100Taxa de analfabetismo (%)

População de 15 anos ou mais (em milhões de pessoas)Total Analfabeta

65,3%

10,0%

6,3 14,2

19,3

74,6

9,7

142,9

Fontes: Ministério da Educação/Inep e IBGE Fonte: OCDE

a lEnta rEduçãO dO analfabEtisMO nO séculO XX O número de analfabetos aumentou até os anos 1980 e depois só caiu

Pondo a leitura em dia

A primeira Constituição do Império do Brazil – escrito com z, em 1824

– garantia educação primária gratuita a todos os cidadãos. Essa definição, porém, excluía os negros escravos, pois a cidadania não se aplicava a eles. No entanto, a lei promulgada por dom Pe-dro I ficou no papel.

Meio século depois, 85% dos súdi-tos de dom Pedro II eram analfabetos. Encontraram-se nesse reino tropical iletrado os escravos (15% da popula-ção) e oito a cada dez brasileiros livres. Educar-se continuou um privilégio das elites depois da proclamação da Repú-blica, em 1889.

Passado mais de meio século, no dia seguinte à derrota do Brasil para o Uru-guai na Copa do Mundo de 1950, menos da metade da população era capaz de ler as manchetes sobre a desastrosa final no Maracanã. A escolarização em massa

Os brasileiros estão superando quatro séculos e meio de analfabetismo, mas ainda precisam aprender a ler com competência, ou seja, entender bem o que leem

1ºÍndia

270 milhões

analFaBetos

no mundo

750 milhõesde adultos não sabem ler nem

escrever

Entre os dez maisAinda que a taxa de analfabetismo tenha sido reduzida a 10%, ela continua atingindo uma população tão grande quanto nos anos 1940, o que mantém o Brasil entre os dez países com o maior número de analfabetos.

só tomou impulso nos anos 1970. Ainda não completamos três décadas desde que o país começou a reduzir o tamanho da população que não sabe ler.

O Brasil está perto de universalizar a alfabetização entre os jovens, mas continuamos tendo uma das maiores populações analfabetas do mundo, e es-tamos entre os países que pior leem.

10º

Page 15: Guia Do Estudante 2011.p1

292011 atualidades vestibular + enem

Dossiê nuclear

Irã no centro da polêmica nuclearPrograma de enriquecimento de urânio no país dos aiatolás é alvo de sanções por parte do Conselho de Segurança da ONU

Por Cláudio soares Infografia Yuri vasconcelos e multi/sP

alta tensão Em meio à intensa pressão contra seu programa nuclear, o Irã testa mísseis, em 2009

AFP PHOTO/SHAIEGAN/FARS NEWS

28 atualidades vestibular + enem 2011

Page 16: Guia Do Estudante 2011.p1

30 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

312011 atualidades vestibular + enem

O programa nuclear do Irã mantém-se há anos no centro de uma gran-de polêmica mundial. Em junho

de 2010, o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou o quarto conjunto de sanções contra o país, em virtude de sua recusa em paralisar o seu programa de enrique-cimento de urânio. Os Estados Unidos (EUA) e as demais potências ocidentais acusam o Irã de utilizar essa tecnologia com a intenção de fabricar bombas atômi-cas, embora o governo iraniano garanta que sua atividade tem fins pacíficos.

No mundo contemporâneo, a questão nuclear é das mais sérias e complicadas. A humanidade vive sob a ameaça de uso de armamentos desse tipo desde que, em agosto de 1945, os EUA despejaram bombas atômicas sobre as cidades japo-nesas de Hiroshima e Nagasaki, matando ou incapacitando centenas de milhares de pessoas. Pela primeira vez na histó-ria, artefatos com tal poder mortífero foram lançados sobre populações civis. Nas décadas seguintes, negociações di-plomáticas procuraram regulamentar a utilização dessas armas.

Tratado de Não ProliferaçãoO Tratado de Não Proliferação Nuclear

(TNP), que entrou em vigor em 1970, permite que apenas cinco países – EUA, Rússia, China, Reino Unido e França – mantenham seu arsenal, desde que não repassem a tecnologia para fins bélicos a outras nações. Ao mesmo tempo, proíbe todos os demais países signatários de desenvolver armas atômicas (leia na pág. 35). Na polêmica atual, tanto o Irã, que faz parte do TNP, quanto as potências oci-dentais buscam reforçar seus argumentos com base em pontos do tratado.

O presidente iraniano Mahmoud Ah-madinejad afirma que seu país tem o “di-reito inalienável” de produzir tecnologia nuclear para fins pacíficos, e por isso de-senvolve o enriquecimento do urânio. Em níveis baixos, esse enriquecimento é empregado para fins pacíficos, como a geração de energia elétrica. Apenas o

enriquecimento em nível alto pode ser usado para produzir armas nucleares. O índice de enriquecimento já obtido pelo Irã, de 3,5%, é suficiente para a produção de energia elétrica, mas está longe dos 90% necessários para a fabricação de bombas atômicas (veja na pág. 42).

O governo iraniano afirma que o enri-quecimento de urânio no nível realizado pelo país é permitido pelo TNP, desde que o processo seja inspecionado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), organismo vinculado à ONU. Segundo Ahmadinejad, isso vem sendo feito, e as acusações do Ocidente são só baseadas em desconfiança política, sem base em fatos.

Do lado dos EUA, existe a pressão para que o Irã dê um passo a mais e, além do TNP, ratifique também o protocolo adi-cional ao tratado, de 1997, que amplia em muito as possibilidades de fiscalização. Essa questão afeta também o programa nuclear brasileiro.

Revolução IslâmicaAs pressões internacionais contra o

Irã, na realidade, começaram há muito mais tempo. Desde a vitória da Revo-lução Islâmica de 1979, que derrubou a ditadura do xá Reza Phalevi, aliado dos norte-americanos, os EUA colocam-se contra o regime iraniano (leia na pág. 33). Mais recentemente, o ex-presidente norte-americano George W. Bush, que lançou a “guerra contra o terror”, acusou o Irã de apoiar terroristas.

O governo do Irã posiciona-se frontal-mente contra Israel, o que atrai a simpatia de palestinos e muçulmanos em geral. Mantém relações estreitas com a Síria – que tem uma disputa de território com Israel e é considerado hostil pelos EUA – e exerce influência sobre partidos xiitas do governo do Iraque. Além disso, dá apoio a grupos fundamentalistas islâmicos, como o libanês Hezbollah e o palestino Hamas, considerados terroristas pelos EUA.

A eleição de Ahmadinejad, em 2005, só acirrou as divergências, pois o governante é considerado radical. Suas declarações violentas pelo fim do Estado de Israel contribuem para elevar a temperatura na conturbada região do Oriente Médio. O presidente causou indignação interna-cional ao pôr em dúvida a ocorrência do Holocausto – a execução, por parte dos nazistas, de 6 milhões de judeus durante a II Guerra Mundial.

Programa nuclear iranianoO início do programa nuclear iraniano

ocorreu nos anos 1970, ainda durante o regime do xá. Naquela época, a iniciativa tinha o apoio dos EUA e da Europa. De-pois, veio a Revolução Islâmica. Em 1982, o governo anunciou a criação, em Isfahan, de um centro de tecnologia nuclear. Três anos depois, foram descobertas minas de urânio em seu território.

O Irã justifica as pesquisas na área pela necessidade de diversificar as fontes de energia. O país tem grandes reservas de gás e de petróleo, do qual é um dos maiores exportadores mundiais, mas sua capacida-de de refino é pequena. Por isso, importa

40% do combustível que consome. Os EUA e os países europeus, porém, contestam essa explicação. Alegando que o Irã possui muito petróleo, afirmam que o programa nuclear tem na verdade objetivos milita-res. Em 2003, a AIEA informou que o Irã ocultara, durante 18 anos, um programa paralelo de pesquisas atômicas.

Nos últimos anos, a questão nuclear tornou-se um elemento de afirmação na-cional no Irã, e não apenas por parte dos setores governistas. Até os maiores oposi-tores internos de Ahmadinejad defendem o programa de enriquecimento do urânio. Essa situação, avaliam os analistas, con-tribuiu para evitar até o momento planos de ataques dos EUA ou de Israel contra as instalações nucleares iranianas.

A negativa do Irã em paralisar o pro-grama nuclear já havia levado a ONU a aprovar três pacotes de sanções – em de-zembro de 2006, março de 2007 e março de 2008. Entre as medidas adotadas, estão a proibição ao Irã de comercializar armas e o veto a negociações com determinadas autoridades e instituições iranianas.

Após as primeiras sanções, em 2006, o Irã não permitiu mais visitas de técnicos da AIEA a locais não vinculados a ativi-dades atômicas. Até então, o país aceitava voluntariamente a fiscalização, prevista no protocolo adicional (não ratificado pelo Irã), mas que não faz parte das exigências básicas do TNP – o tratado define visitas periódicas só a instalações nucleares.

Nova usinaEm setembro de 2009, os governos

dos EUA, do Reino Unido e da França acusaram o Irã de construir secretamente uma segunda usina de enriquecimento de urânio, além da de Natanz, já conhecida. A nova unidade fica próxima à cidade de Qom, ao sul de Teerã, a capital iraniana. As potências suspeitam de que essa usi-na tenha sido projetada com finalidade militar. Isso elevou ainda mais as pres-sões contra o programa nuclear irania-no. Ahmadinejad respondeu que o Irã comunicara à AIEA, na mesma semana, a construção da nova unidade.

Em outubro de 2009, buscando nego-

mesmo que o irã planeje construir bombas atômicas, esse objetivo ainda demorará anos para ser alcançado, di-zem os especialistas. O enriquecimento do urânio é apenas o primeiro passo. depois de dominar todas as fases desse processo, os técnicos iranianos precisa-rão aprender como iniciar uma explo-são nuclear e deverão ser capazes de produzir uma ogiva nuclear que possa ser transportada por míssil.

dois altos oficiais militares norte-americanos, ouvidos pelo senado dos estados unidos em abril de 2010, avaliaram que o irã poderá produzir combustível para uma arma atômica no prazo de um ano, mas precisará de dois a cinco anos para viabilizar uma bomba atômica com condições efetivas de ser utilizada.

Construção da bomba leva anos

ciar alguma solução para o problema, EUA, França e Rússia apresentaram uma proposta, por intermédio da AIEA, de que o Irã enviasse cerca de 75% de suas reservas de urânio de baixo enriqueci-mento (o equivalente a 1,2 mil quilos) para ser enriquecidas até 20% em usinas russas, para ser posteriormente usadas pelos iranianos em aplicações médicas. A quantidade de urânio que ficaria em poder do Irã seria insuficiente para um enriquecimento nos níveis exigidos para a fabricação de bombas.

O governo iraniano sinalizou que con-cordaria com a proposta, mas depois desconversou e anunciou planos para a construção de outras dez usinas de enriquecimento de urânio. Em feverei-ro de 2010, respondeu negativamente à proposição e iniciou pesquisas para desenvolver o enriquecimento de urânio a 20%, para produzir radioisótopos de uso médico.

Acordo Brasil e TurquiaAqui, é preciso explicar que, hoje, o

enriquecimento de urânio é uma ativida-de comercial, que envolve setores civis, como medicina, engenharia e sobretudo energia, num momento em que se busca ampliar o uso de energias limpas. Logo, a possibilidade de que vários países dete-nham essa tecnologia, além da questão de segurança, também engloba um aspecto econômico. Nesse ponto, Brasil e Irã com-partilham interesses comuns, pois ambos enriquecem urânio e podem, num futuro próximo, tornar-se exportadores nessa área. Por essa razão, temem que as inspe-ções ilimitadas previstas pelo protocolo adicional possam camuflar espionagem industrial. Na linguagem diplomática, defendem a soberania de seus países de realizar as atividades previstas nas regras do TNP sem interferências externas.

Para o governo iraniano, caso aceitem as pressões, os países em desenvolvimento correm o risco de perder o direito de con-trolar a indústria nuclear quando não são considerados “confiáveis” pelos governos dos países que já dominam a tecnologia

iraniano em ação Ahmadinejad visita usina nuclear (acima) e festeja acordo ao lado de Lula e do premiê turco Erdogan

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Page 17: Guia Do Estudante 2011.p1

32 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

332011 atualidades vestibular + enem

País-chave do Oriente médio, o irã pas-sou por uma transformação radical com a revolução islâmica de 1979. até então, era um dos principais aliados dos esta-dos unidos na região, ao lado de israel. a vitória da revolução, com a instalação do regime teocrático, afastou-o dos eua.

O irã atual define-se como uma repúbli-ca islâmica, cuja autoridade máxima é o líder religioso supremo, um posto vita-lício. O primeiro a ocupá-lo foi o aiatolá ruhollah Khomeini. Com a sua morte, em 1989, ali Khamenei assumiu o cargo, no qual se mantém até hoje.

O regime sofreu sério abalo em 2009, com as mobilizações de protesto contra a reeleição do presidente mahmoud ah-madinejad. nas eleições presidenciais, em junho, muitos acreditavam na vi-tória do candidato oposicionista e ex-primeiro-ministro mir Hossein mousavi. a expectativa se baseava nos grandes comícios realizados por mousavi e nas

demonstrações entusiasmadas de apoio no período eleitoral. mas o vi-torioso foi ahmadi-nejad, com 63% dos votos, contra 34% para mousavi.

O anúncio provocou uma explosão de re-volta, com a oposição acusando o gover-no de fraudar o resultado. manifestantes passaram a enfrentar milícias leais ao governo, e a repressão foi violenta, com dezenas de mortos. mas o líder religio-so supremo, ali Khamenei, condenou os atos, deu apoio a ahmadinejad e afirmou que as eleições foram justas.

Há um confronto entre posições dife-rentes no interior do regime iraniano. O presidente lidera a ala radical, chamada pela imprensa de conservadora. É o setor que se opõe de maneira enfática à influên-cia das grandes potências. de outro lado, estão os moderados ou reformistas, como os ex-presidentes Hashemi rafsanjani e mohammad Khatami, além do candidato mousavi, interessados em reaproximar o país do Ocidente. ambos os lados, po-rém, têm como referência a revolução islâmica, não pretendem mudar o regime e defendem o programa nuclear.

existem várias evidências de fraudes nas eleições, mas observadores isentos não excluem a possibilidade de vitória de ahmadinejad, já que ele tinha o respaldo de um enorme contingente da população rural, que não se manifestou de forma ruidosa nem teve ampla cobertura de mí-dia, como os apoiadores de mousavi.

de enriquecimento de urânio. O Brasil, embora não enfrente a desconfiança que pesa sobre os iranianos, travou uma dura polêmica com a AIEA quando da insta-lação, em Resende (RJ), de uma fábrica de enriquecimento de urânio (leia na pág. 49). Como o Brasil, a exemplo do Irã, não ratificou o protocolo adicional, setores conservadores dos EUA propagam a des-confiança sobre as intenções pacíficas do programa brasileiro, mesmo com a Cons-tituição brasileira proibindo atividades nucleares com fins militares.

Os governos do Brasil e da Turquia bus-caram intermediar um acordo que possi-bilitasse a não aprovação da quarta rodada de sanções contra o Irã. No caso brasileiro, a tentativa pode ser interpretada como uma manifestação em defesa da própria atuação nuclear do Brasil. Referindo-se ao Irã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou: “Aquilo que defendemos para nós, defendemos para os outros”. Além disso, a iniciativa de buscar um papel de destaque na resolução de um problema internacional faz parte da ofensiva para conquistar uma vaga de membro perma-nente do Conselho de Segurança da ONU, meta da diplomacia brasileira.

Protestos de 2009 abalaram o regime iranianoA posição do Brasil no caso do Irã pode ser entendida como defesa de sua atuação

revolta nas ruas Manifestantes fazem protesto em Teerã, em 16 de junho de 2009, contra o resultado das eleições presidenciais

o avanÇo Da teCnoloGIa nuClear Conheça a trajetória da tecnologia nuclear no mundo, das primeiras pesquisas ao estágio atual, passando pelo uso da bomba atômica

1898 Marie Curie elabora o conceito de radioatividade.

1905 E=mc². Albert Einstein desenvolve a teoria segundo a qual uma pequena quantidade de matéria pode ser convertida em uma enorme quantidade de energia.

1934 Surge a ideia de usar a fissão em cadeia para gerar energia.

1942 Na Universidade de Chicago, Enrico Fermi constrói o primeiro reator nuclear, obtendo a reação de fissão em cadeia.

1949 A União Soviética detona seu primeiro artefato atômico.

1952 Os EUA testam a bomba de hidrogênio.× O Brasil funda seu primeiro centro de pesquisa nuclear.

1954 Os EUA lançam ao mar o primeiro submarino nuclear.

1957 Na Inglaterra, um acidente em um reator nuclear militar provoca o vazamento de uma nuvem contaminada.× Criada a Agência Internacional de Energia Atômica.

1964 A China testa sua bomba atômica. A essa altura, França e Reino Unido também possuem ogivas nucleares.

1974 A Índia detona sua primeira bomba atômica.

1979 Em segredo, militares e cientistas brasileiros iniciam o programa para desenvolver a tecnologia de enriquecimento de urânio.× Acidente na usina de Three Mile Island (EUA).

1986 Acidente de Chernobyl (URSS)

1975 O Brasil assina um acordo para construir Angra I com a Alemanha.

1955 Inicia-se o fornecimento de eletricidade de origem nuclear nos EUA.

1932 A primeira fissão nuclear é obtida em laboratório. Os resultados comprovam a teoria de Einstein.

1938 Cientistas alemães demonstram a fissão nuclear do urânio por nêutrons.

1945 Hiroshima e Nagasaki são arrasadas por duas bombas atômicas, que matam 170 mil pessoas.

1953 A União Soviética explode sua bomba de hidrogênio. A permanente tensão entre as potências nucleares alimenta a Guerra Fria.

1956 É instalado, na Universidade de São Paulo, o primeiro reator nuclear de pesquisas do Hemisfério Sul.

1962 Os EUA flagram mísseis nucleares soviéticos em Cuba. A crise põe o mundo sob ameaça de guerra atômica. No fim, os mísseis saem da ilha.

1968 Lançado o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP).

1981 Início do funcionamento de Angra I.

1987 O governo brasileiro anuncia que o país tem tecnologia para o enriquecimento de urânio.× Acidente radioativo de Goiânia, com césio-137.

1994 Entrada em vigor do Tratado para a Proscrição de Armas Nucleares na América Latina e Caribe.

2005 A Coreia do Norte afirma ter fabricado armas nucleares.

2009 Novo teste nuclear da Coreia do Norte eleva tensão no Extremo Oriente.

1998 Índia e Paquistão medem forças, realizando uma série de testes com bombas nucleares.

2006 Início das operações brasileiras de enriquecimento de urânio na fábrica de Resende (RJ).× Coreia do Norte realiza seu primeiro teste nuclear.

2000 Angra II entra em operação.

1930 1950 1970 1980 1990 20001940 1960

2010k A Eletrobras obtém

licença para a construção de Angra III.

k A ONU realiza conferência sobre o Tratado de Não-Proliferação Nuclear.

k Os Estados Unidos e a Rússia anunciam redução de seus arsenais atômicos.

k O Conselho de Segurança da ONU aprova sanções contra o Irã por descumprimento de orientações da Agência Internacional de Energia Atômica.

afp

/get

ty im

ag

es

[1] [2] biblioteca do congresso.eua [3] divulgação [4] claudio rossi

[1]

[2]

[3]

[4]

Page 18: Guia Do Estudante 2011.p1

34 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

352011 atualidades vestibular + enem

Em maio de 2010, Lula, o primeiro-ministro turco Recep Tayyp Erdogan e Ahmadinejad assinaram um acordo pelo qual o governo iraniano se comprometia a enviar 1,2 mil quilos de seu urânio de baixo enriquecimento (3,5%) para ficar sob a guarda da Turquia. Em troca, depois de um ano, o Irã receberia 120 quilos de combustível nuclear para uso em pes-quisas médicas (urânio enriquecido a 20%). O acordo tinha como base o plano anterior da AIEA e correspondia também, em linhas gerais, à proposta apoiada em carta do presidente norte-americano Barack Obama, enviada a Lula.

Apesar disso, um dia depois do anún-cio do entendimento entre Irã, Brasil e Turquia, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, informou que as princi-pais potências estavam de acordo em im-por sanções ao Irã. As maiores resistências contra a adoção das medidas vinham da China e da Rússia, que mantêm relações comerciais estreitas com os iranianos.

Os EUA precisavam do apoio de ambos, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, ao lado dos EUA, da França e do Reino Unido. Isso porque os membros permanentes têm poder de veto sobre as resoluções do organismo – ou seja, só é aprovado o que conta com o apoio dos cinco. As sanções foram aprovadas em junho, com o voto de 12 dos 15 países-membros do CS. Brasil e Turquia votaram contra, enquanto o Líbano se absteve.

Ao justificar sua negativa em apoiar o acordo negociado com o Irã por Brasil e Turquia, os norte-americanos afirma-ram que o Irã já teria, naquele momento, muito mais urânio enriquecido do que em outubro de 2009, quando a proposta havia sido feita. Como o 1,2 mil quilos que se dispunha a enviar para a Turquia representariam apenas metade do total, isso permitiria aos técnicos iranianos trabalhar no enriquecimento da outra metade, com vistas à fabricação de uma bomba. De acordo com a AIEA, o Irã acu-mulou, até maio, 2.427 quilos de urânio enriquecido a 3,5%.

Apesar do acordo fechado com Brasil e Turquia, a ONU impôs novas sanções ao Irã

O CLUBE ATÔMICOConheça os países que possuem usinas nucleares, ogivas atômicas e fábricas de enriquecimento de urânio

PaísEstados UnidosRússiaFrançaChinaReino Unido*IsraelÍndiaPaquistãoCoreia do Norte

Usinas atômicas

Países com armas nucleares signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear

Países com fábricas de enriquecimento de urânio

Países com armas nucleares que não assinam o tratado

País suspeito de possuir armas nucleares

França

Reino Unido

Rússia

IrãJapão

China

Holanda Alemanha

Estados Unidos

Brasil

Argentina África do Sul

Canadá

MéxicoIsrael

Coreia do Norte

ÍndiaPaquistão

Arsenal atômico estimado

300 a 350250 a 320

225100 a 200

5040 a 70

5 a 12Fonte: Eletrobrás/Nucleonica Week, março de2009

32%17%

PaísEstados UnidosFrançaJapãoAlemanhaRússiaBrasil

Geração de energia nuclear no mundo

9%6%

6%0,52%

% do total

7.200

5.113

O que é o TNPO Tratado de Não Proliferação Nuclear

(TNP), acordo de 1968, que entrou em vigor em 1º de janeiro de 1970, consi-dera as nações divididas em dois blocos:

k de um lado, os cinco Estados que explo-diram alguma bomba atômica antes de 1º de janeiro de 1967 – Estados Unidos, União Soviética (sucedida pela Rússia), China, Reino Unido e França;

k de outro, todos os demais países, que devem se comprometer a não tentar obter armas nucleares.

Essa divisão tem como base a situação geopolítica mundial ao término da II

Guerra Mundial (1939-1945). Os cinco países do primeiro bloco foram os ven-cedores da guerra e, não por acaso, são os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, os únicos com poder de veto sobre as decisões.

De acordo com o TNP, os cinco podem manter suas armas atômicas, mas não transferi-las nem repassar a tecnologia para a sua fabricação a outra nação. O acordo, que entrou em vigor em 1970, permite que os demais países desenvol-vam a tecnologia nuclear para a geração de energia elétrica e outros fins pacíficos, sujeitando-se às inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). No âmbito do TNP, as potências nuclea-res se comprometeram a avançar para o

desarmamento nuclear, o que, de fato, praticamente não andou até hoje. Se a AIEA constata que um Estado desrespeita o tratado, encaminha o caso ao Conselho de Segurança da ONU, única instância que pode adotar medidas a respeito.

Protocolo adicionalO TNP estipula que as visitas periódicas

de inspeção têm de ser negociadas previa-mente com cada país e há limites para as verificações. Por exemplo, os técnicos po-dem averiguar o grau de enriquecimento do urânio, mas não o funcionamento das centrífugas que enriquecem o material (segredo industrial). Mas a AIEA apro-vou, em 1997, um protocolo adicional, que dá aos inspetores da agência poderes de

Outras naçõesO Irã reclama pelo fato de ser pres-

sionado e hostilizado, mesmo fazendo parte do TNP, enquanto Israel – que não é signatário do tratado – dispõe de armas nucleares e não sofre retaliações, por ser um aliado dos EUA e dos europeus. Israel nunca admitiu nem negou a posse de armamentos atômicos, mas se sabe que o país mantém um arsenal nuclear.

Essa política de dois pesos e duas me-didas se aplica também às três outras nações que, comprovadamente, fizeram testes com explosões atômicas: Coreia do Norte, Índia e Paquistão. Enquanto a primeira, que integrava o TNP e se reti-rou, é alvo de sanções e ameaças, a Índia e o Paquistão, que jamais fizeram parte do tratado, são tolerados e não precisam submeter-se ao controle internacional.

Coreia do NorteA Coreia do Norte retirou-se do TNP

em 2003 e anunciou, depois, que possuía a bomba atômica. Desde então, várias roda-das de negociação foram feitas entre o país, a Coreia do Sul, os EUA, a China, o Japão e a Rússia, com o objetivo de deter o programa nuclear da nação, sem sucesso.

Em outubro de 2006, ignorando apelos da comunidade internacional, a Coreia do Norte explodiu sua primeira bomba atômica. Em maio de 2009, realizou um segundo teste nuclear. Analistas acredi-tam que, com essas iniciativas, o dirigente norte-coreano Kim Jong Il – que comanda um dos regimes mais fechados do mundo – tenta aumentar seu poder de barganha

para obter conces-sões econômicas dos países ricos. A ONU aprovou sanções contra o país, mas o perigo continua de pé.

Índia e PaquistãoNo caso da Índia, o governo dos EUA

assinou um pacto nuclear com o país em 2006, ao mesmo tempo em que liderava a ofensiva contra o governo iraniano. Pelos termos do acordo, os EUA voltam a vender aos indianos combustível nu-clear e componentes de reator. A Índia comprometeu-se a separar seu programa nuclear civil do militar, abrindo as insta-lações civis para inspeções da AIEA. O texto possibilita também que o governo indiano mantenha seu programa de ar-mas nucleares. Políticos dos próprios EUA criticaram a iniciativa, argumen-tando que a fiscalização de usinas civis terá pouco efeito, já que a Índia possui um programa militar secreto.

Em 2010, a China anunciou um acor-do com o Paquistão para construir dois reatores nucleares no país para produ-zir energia elétrica. Analistas acreditam que se trata da resposta paquistanesa ao acordo entre EUA e Índia, país frontei-riço com o qual o Paquistão disputa a Caxemira. Embora igualmente aliado dos norte-americanos, que ajudam o país a proteger seu arsenal nuclear, o Paquistão busca apoio também nos chineses para reforçar sua posição na região.

MAIs UM nO CLUBE A Coreia do Norte testa mísseis em maio de 2009, causando preocupação entre os países vizinhos, sobretudo o Japão

Número de ogivas

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*declaração do governo em 2010

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36 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

372011 atualidades vestibular + enem

sim | adesão não contraria interesse nacional

Rubens Ricupero (*)

Da mesma forma que a democracia, segundo Churchill, é a pior forma de governo, exceto todas as demais, o Tra-tado de Não Proliferação Nuclear (TNP) é desigual e injusto, mas superior às alternativas existentes. (...)

Brasil e Argentina tomaram juntos a decisão de abandonar seus programas nucleares rivais, desarmando perigosa corrida armamentista. (...)

O processo culminou, em 1991, com a assinatura do acordo entre o Brasil, a Argentina, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e a Agência Argentino-Brasileira de Controle, pelo qual os dois países aceitaram as inspe-ções da agência da ONU.

A adesão ao TNP constituiu a consequên -

cia natural, pois a proibição da arma nuclear já constava da Constituição de 1988 e o acordo de 1991 havia criado para o país todas as obrigações que decorreriam do tratado.

Quando a adesão se deu, em 1997-1998, os únicos que não haviam assinado eram Índia, Paquistão e Israel, que tinham para isso uma razão: queriam adquirir a bomba (o quarto era Cuba, que aderiu logo depois). Que sentido teria tido para o Brasil ficar de fora, em companhia dos três belicistas, se já havíamos assumido na prática as obrigações do TNP?

O mesmo argumento se aplica ao Pro-tocolo Adicional, que não é mais que a aceitação de fiscalização reforçada. O Brasil é dos raros países que permitem à agência acesso até a suas instalações militares. O que teríamos a temer se nada temos a esconder? (...)

(*)Diretor da Faculdade de Economia da Faap, foi secretário-geral da Unctad

não | instrumento desnecessário e humilhante

Samuel Pinheiro Guimarães (*)

O centro da questão é o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), cujo objetivo é evitar uma guerra nuclear. A possibilidade de tal conflito não está nos países que não detêm armas nucleares, mas, sim, naqueles que as detêm. Por-tanto, o principal objetivo do TNP deve ser a eliminação das armas dos países nuclearmente armados: Estados Unidos, Rússia, China, França e Inglaterra.

Há 42 anos esses países se comprome-teram a eliminar suas armas, e há 42 anos não cumprem esse compromisso. Ao contrário, aumentaram a eficiência de suas armas nucleares. Apesar de não terem se desarmado, esses países insis-tem em forçar os países não nucleares a aceitar obrigações crescentes, criando

crescentes restrições à difusão de tecno-logia, inclusive para fins pacíficos. (...)

A AIEA, por proposta americana e a pre-texto do programa do Iraque, elaborou um modelo de protocolo adicional aos acordos de salvaguardas, permitindo a visita de inspetores, sem aviso prévio, a qualquer local do território dos países não nucleares para verificar suspeitas sobre qualquer atividade nuclear, desde pesquisa acadêmica e usinas nucleares até a produção de equipamentos, como ultracentrífugas e reatores.

O Protocolo Adicional constituiria uma violação inaceitável da soberania dian-te da natureza pacífica das atividades nucleares no Brasil, uma suspeita in-justificada sobre nossos compromissos constitucionais e internacionais e uma intromissão em atividades brasileiras na área nuclear. (...)

(*)Diplomata e ministro de Assuntos Estratégicos

Saiu na imprensa

o brasil deve assinar o protocolo adicional ao tratado de não Proliferação nuclear?

Folha de S.Paulo, 10 de abril de 2010

Um mundo livre de armas nucleares ainda está distanteEm setembro de 2009, durante ses-

são dirigida pelo presidente norte-americano Barack Obama, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução contra a proliferação de armas nucleares.

Obama defende “um mundo livre de armas nucleares” como um dos eixos da atividade de seu governo, conforme dis-cursou em Praga, na República Tcheca, em abril de 2009. Esse objetivo, porém, ainda está distante de ser alcançado. A nova es-tratégia militar dos Estados Unidos (EUA), anunciada em 2010, define que o país não usará armamentos atômicos contra nações que cumprirem as diretrizes do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). De acordo com o governo norte-americano, Irã e Coreia do Norte não se enquadram nesse perfil e podem ser atacados.

Passados 65 anos das primei-ras bombas atômi-cas lançadas pelos Estados Unidos sobre populações civis, em Hiroshi-ma e Nagasaki, as potências nucleares mantêm arsenais com capacidade para devastar o planeta. Essas armas foram acumuladas principalmente pelos EUA e pela então União Soviética (URSS) no período da Guerra Fria. Com o fim da URSS, em 1991, surgiu a preocupação quanto ao destino do enorme arsenal soviético. Belarus, Cazaquistão e Ucrânia, repúblicas da ex-URSS que mantinham armas nucleares em seu território, trans-feriram esses armamentos para a Rússia, que controla atualmente os artefatos.

Desde os anos 1970, as potências vêm negociando a diminuição dos arsenais, o que resultou em vários acordos, entre os quais o Salt 1 e 2 (1972 e 1979), Start 1 e 2 (1991 e 1993). Em 2002, ao assinarem o Tratado de Moscou, EUA e Rússia se comprometeram a reduzir, até 2012, de 6 mil para até 2,2 mil o número de suas ogivas nucleares operacionais.

Acordo de reduçãoEm abril de 2010, Estados Unidos e

Rússia – que detêm, juntos, 95% do ar-senal nuclear mundial – assinaram um acordo bilateral para substituir o Start 1, expirado em dezembro. Pelo novo enten-dimento, cada um reduzirá, até 2020, seu número de ogivas nucleares posicionadas para 1.550. O total de mísseis balísticos ou bombas capazes de transportar as ogivas cairá para no máximo 800 em cada país. Haverá também um mecanis-mo de verificação do cumprimento do acordo. As deliberações ainda precisam ser aprovadas pelos parlamentos norte-americano e russo.

Ficaram de fora do acordo, entretanto, milhares de ogivas estratégicas mantidas na reserva em depósitos militares. O De-partamento de Defesa norte-americano anunciou oficialmente que o tamanho de seu arsenal nuclear é de 5.113 ogivas, entre posicionadas e em reserva. Existem ainda milhares de armas fora de utilização, mas que não foram desmontadas. Especialistas afirmam que há, nesse último caso, entre 4,5 mil e 9 mil artefatos, o que totalizaria, na menor estimativa, quase 10 mil ogivas em mãos dos Estados Unidos.

A Federação Russa, segundo analistas, disporia de arsenal total de 15 mil a 17 mil ogivas, das quais 7,2 mil posicionadas ou em reserva. Boa parte está deteriorada e sem condições efetivas de uso. O Reino Unido, por sua vez, informou oficial-mente, em maio de 2010, dispor de 225 ogivas nucleares.

No mesmo mês em que assinou o acor-do com a Rússia, Obama patrocinou, em Washington, capital norte-americana, a Cúpula sobre Segurança Nuclear, com a participação de quase 50 países. Um dos objetivos foi discutir ações conjuntas para evitar que material nuclear caia nas mãos de organizações terroristas. O governo russo anunciou, também em abril de 2010, a desativação de seu último reator de produção de plutônio – mate-rial que pode ser utilizado para fabricar armas nucleares.

O Brasil não concorda em assinar o protocolo adicional, que amplia as inspeções internacionais

devastação Explosão da primeira bomba atômica de hidrogênio, em 1952, feita pelos EUA em um atol no oceano Pacífico

investigação mais amplos. O objetivo é de-tectar a existência de atividades secretas. O protocolo adicional prevê que a AIEA tenha o direito de fiscalização sem aviso prévio e sem restrições.

Esse protocolo não se aplica a nenhum dos cinco Estados dotados de armas, o que cria uma situação assimétrica. Para a enorme maioria das nações do mundo, que não possuem bombas, impõe-se um controle rigoroso. Aos detentores dos armamentos, exige-se o compromisso do desarmamento, sem prazos.

Por esse motivo, os principais atingi-dos pelas determinações do protocolo adicional são os países com condições de desenvolver tecnologia no âmbito nuclear, como é o caso do Brasil e da Argentina, além do Irã. Muitos cientistas da área nu-clear dizem que o protocolo busca de fato a não proliferação tecnológica, em proveito das nações que já detêm o controle do processo nuclear. No Brasil, há posições divergentes sobre a proposta de adesão ao protocolo (leia na página ao lado).

Na mais recente conferência inter-nacional para reexaminar o TNP, em maio de 2010, os EUA pressionaram pela adesão do Brasil e de outros países ao protocolo adicional, além de defender a ideia de bancos internacionais para enriquecimento de urânio, para evitar que novos países desenvolvam programas nucleares. O Brasil se opôs à proposta, pois cogita tornar-se, no futuro, expor-tador de urânio enriquecido – já que tem a sétima maior reserva do minério. Os países em desenvolvimento, por seu lado, defenderam metas para o desarmamento das nações com arsenal atômico.

O documento final do encontro registra o compromisso das cinco potências nucle-ares de reduzirem seu arsenal e prevê para 2012 uma conferência que discutirá “um Oriente Médio livre de armas nucleares”. Esse último ponto foi introduzido pelos países da Liga Árabe, visando a pressionar Israel a assinar o TNP. O governo israe-lense já anunciou, porém, que não irá à conferência de 2012.

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38 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

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Os acidentes de Chernobyl e Three Mile Island

A usina nuclear de Chernobyl, na ex-União Soviética (URSS), foi o palco do maior acidente nuclear

da história. Em 26 de abril de 1986, um reator explodiu, liberando uma nuvem ra-dioativa que contaminou pessoas, animais e o meio ambiente numa ampla extensão da Europa. O fato mudou decisivamente o uso da energia nuclear por anos.

Situada na Ucrânia, perto da fronteira com Belarus – repúblicas que pertenciam à URSS –, a central era um dos orgulhos da indústria soviética. Revelou-se, porém, um pesadelo que ainda hoje afeta a vida de milhões de pessoas e causou centenas de bilhões de dólares de prejuízos.

Falhas humanas e no projeto do reator foram apontadas como as causas do aci-dente. No início da madrugada, técnicos da usina realizavam testes, aproveitando um desligamento de rotina, para observar como o reator funcionaria com baixo nível de energia. Nessa ação, os funcionários não seguiram as normas de segurança. O reator, que utilizava grafite como modera-dor dos nêutrons, tornou-se rapidamente instável. Quando os operadores da sala de controle decidiram desligá-lo, não conseguiram mais. O superaquecimento provocou então uma explosão.

A energia liberada arrebentou a laje superior do edifício e lançou na atmos-fera gases e partículas radioativas. O ar exterior que entrou na central levou à rápida combustão do grafite, que con-tinuou queimando e soltando material radioativo por mais dez dias.

Segredo de estadoAs trágicas consequências do acidente

foram muito ampliadas pelo comporta-mento criminoso da cúpula soviética, di-rigida na época por Mikhail Gorbatchov. Para o regime, o mais importante era sua própria defesa, e muitas informações eram escondidas da população. Natu-ralmente, nesse caso isso era impossível. Mas, durante três dias, tudo ficou em segredo, impedindo que as pessoas se protegessem. Até mesmo os 50 mil ha-bitantes da cidade de Pripyat, situada a apenas 3 quilômetros da central nuclear, ficaram sabendo da catástrofe apenas no dia seguinte.

Somente quando a Suécia detectou uma forte elevação nos níveis de radia-ção é que o governo da URSS admitiu o fato e se dispôs a colaborar na busca de soluções. A esta altura, uma nuvem radioativa já pairava sobre vários países europeus. Carregada pelos ventos, pro-pagou-se inicialmente pelos territórios da Ucrânia, Belarus, Rússia e pelos países escandinavos. Em seguida, contaminou a Europa Central e regiões dos Bálcãs, Itália, França, Reino Unido e Irlanda.

Destruição e mortesO número de mortos em decorrência

do acidente é até hoje motivo de con-trovérsia. Como os problemas de saúde causados pela radiação se manifestam a longo prazo, é difícil estabelecer o nú-mero exato de vítimas fatais. Relatório divulgado pelas Nações Unidas em 2005 indicava a ocorrência de até 4 mil mor-tes, mas esses dados são contestados. A organização ambientalista Greenpeace estimou em cerca de 100 mil o número de mortes potenciais, e um estudo científico britânico avaliou a cifra de mortos entre 30 mil e 60 mil pessoas.

A população que sobreviveu enfrenta situações terríveis. Além do aumento de incidência de doenças, como o câncer de tireoide, cerca de 350 mil pessoas tiveram de abandonar às pressas suas casas, o que levou ao surgimento de cidades-fantasma. Uma área de 30 quilômetros em torno da usina é considerada “zona de exclusão” e permanece praticamente desabitada. Solo, cursos de água e vege-tação foram contaminados, e toda a vida animal existente nessa faixa pode ser afetada pela contaminação radiativa.

As operações de contenção do incêndio e de confinamento do material radioativo envolveram milhares de pessoas – os chamados “liquidadores”. Eram poli-ciais, bombeiros, soldados, mineiros e outros profissionais, que, para realizar esse duro trabalho, ficaram em contato com a radiação de modo perigoso. Mui-tos tiveram sequelas de saúde, como o desenvolvimento de câncer, problemas circulatórios e catarata.

Entre maio e novembro de 1986, os “li-quidadores” construíram um enorme abri-go de concreto e aço sobre o reator 4 da usina, onde houve a explosão, construção que ficaria conhecida como “sarcófago”. Seu objetivo é manter isolado o material com alto nível de radioatividade, impedin-do que continue emitindo radiação.

Depois de mais de duas décadas do acidente, o sarcófago apresenta racha-duras e fissuras, por onde se infiltra a água da chuva. Para evitar o risco de contaminação pelo lençol freático, um projeto internacional constrói uma nova estrutura, em forma de arco, que até o fim de 2011 deverá cobrir integralmente o antigo edifício.

A questão da segurança é um ponto importante quando se discute o uso da tecnologia nuclear para fins pacíficos

Three Mile IslandAntes de Cher-

nobyl, o mais grave acidente desse tipo havia ocorrido em 1979, na usina nu-clear de Three Mile Island, no Estado da Pensilvânia, nos Estados Unidos. Apesar de ter ocorrido o derretimento parcial do reator, a radioatividade foi contida e não houve mortos nem feridos. O acidente teve início a partir de uma falha de equipamento, associada a erros humanos, atribuídos depois à falta de treinamento.

Na madrugada de 28 de março de 1979, bombas de água do circuito secundário (que não fica em contato com o material radioativo) da unidade 2 de Three Mile Island pararam de funcionar. Quando isso ocorre, automaticamente se interrompe o processo de fissão nuclear, mas a mera presença dos elementos físseis mantém a produção de calor, elevando a tempera-tura e a pressão. Para reduzir a pressão, uma válvula de emergência do pressuri-

usina fantasma Funcionário em frente ao sarcófago, feito para conter a radiação de Chernobyl (foto à esq.). Acima, os painéis de controle da usina, abandonada depois do acidente

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40 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

412011 atualidades vestibular + enem

Energia nuclear renasce no mundo

A partir do acidente na usina nuclear de Chernobyl, em 1986, cresceu o número de movimentos contra o

uso de energia nuclear, principalmente na Europa. Países como Alemanha, Espanha, Itália e Reino Unido reduziram ou quase extinguiram seus projetos de ampliação de usinas nucleares. A exceção foi a França, onde a energia nuclear responde por quase 80% da eletricidade produzida. O índice mundial, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), é de 13,8% (2007).

Nos últimos anos, assiste-se ao “renas-cimento” da energia nuclear, com vários países voltando a planejar a construção de usinas. A principal razão para a mudança é a decisão de conter as emissões de gases do efeito estufa. Para muitos cientistas, só a energia nuclear poderá contribuir decisivamente para isso.

Estudo preparado pela AIE defende a expansão da energia nuclear para combater o aquecimento global. De acordo com a ins-tituição, iniciativas para isso podem elevar a capacidade de geração elétrica das usinas nucleares dos atuais 370 mil megawatts (MW) para 1,2 milhão de MW em 2050. Se a projeção se confirmar, a energia nuclear responderá por 24% da produção global de eletricidade (ante os 14% hoje).

No mundo, existem 439 reatores de energia nuclear comercial. Os EUA têm quase um quarto desse total, com 104 unidades. Em seguida, vêm França (59), Japão (55) e Rússia (31).

Usinas atômicas voltam a ser planejadas, como alternativa a fontes de energia poluentes e que reforçam o efeito estufa

aquele que é considerado o mais grave desastre radioativo da américa latina ocorreu em Goiânia, a capital de Goiás, em 1987, quando 621 pessoas foram con-taminadas pela exposição ao césio-137. nesse caso, o motivo foi a negligência no descarte de material radioativo.

tudo começou quando dois sucatei-ros encontraram – sem saber o que era – uma cápsula de césio-137, usada para radioterapia, abandonada nas antigas dependências do instituto Goiano de ra-dioterapia. O material, transportado até a casa de um deles, foi parcialmente aber-to. dias depois, foi vendido ao dono de um ferro-velho, que terminou de quebrar a cápsula. amigos e parentes do homem se impressionaram com o brilho azul da substância radioativa, e o material foi manuseado por outras pessoas.

nos dias subsequentes, os que tive-ram contato com o pó começaram a apresentar sintomas de contaminação,

e exames consta-taram a radioati-vidade. a região do fer ro-velho foi então isolada pela Comissão nacional de energia nuclear (Cnen). a radiação atingiu um raio de 2 mil metros quadrados e matou quatro pessoas imediatamente.

somente em 1996 quatro médicos e um físico foram condenados a prestar serviços sociais como punição por ter abandonado o perigoso material radioa-tivo no lixo comum.

a limpeza do ferro-velho e da região contaminada resultou em 6 mil tonela-das de lixo radioativo, levadas para um depósito em abadia de Goiás, controlado pela Cnen. são roupas, móveis e restos de animais, árvores, casas e solo que es-tão enterrados e protegidos por paredes de 40 centímetros de espessura.

O césio-137 contaminou centenas em Goiânia

zador (que faz parte do circuito primário de água, aquecido pelo reator nuclear) começou a funcionar, e deveria ter-se fechado quando a redução chegasse a certo ponto, mas isso não ocorreu.

A partir de uma sucessão de pequenas falhas e erros, o elemento combustível no reator da usina começou a derreter, o que resultou em fusão parcial. Finalmente, cerca de duas horas e meia após o início do acidente, os técnicos introduziram água no reator, pondo fim ao perigo ime-diato. Ocorreu, entretanto, vazamentos de água e de gases que continham ma-teriais radioativos.

DescontaminaçãoApós as primeiras notícias sobre o aci-

dente, a opinião pública norte-americana exigiu explicações sobre o que havia acontecido. As declarações iniciais das autoridades foram consideradas pouco esclarecedoras.

Em 30 de março, o governador da Pen-silvânia, Richard Thornburgh, recomen-dou a evacuação de mulheres grávidas e crianças da região da usina. Nos dias seguintes, estima-se que 140 mil mora-dores voluntariamente tenham saído da região. Para transmitir a imagem de que tudo estava sob controle, o presidente norte-americano na época, Jimmy Carter, visitou pessoalmente a usina, em 1º de abril. Muitos dos que haviam deixado a região voltaram então para casa.

A descontaminação da usina e da água que continha radioatividade só se com-pletou 14 anos depois, em 1993. Desde então, a unidade 2 de Three Mile Island está fechada e mantida sob constante monitoramento. A dose de radioatividade recebida pelas pessoas que viviam próxi-mas à usina é desconhecida até hoje da opinião pública. O relatório oficial do go-verno norte-americano sobre o acidente afirma que não houve aumento de risco de aparecimento de câncer ou de outros problemas de saúde na população. Essa conclusão, porém, é motivo de debates ainda hoje.

Descontaminação da água e da usina após o acidente de Three Mile Island demorou 14 anos

desastre no brasil Com roupas especiais, técnicos medem a radiação em Goiânia, após o vazamento do césio-137, em 1987

o UrÂnioEle tem o maior peso atômico entre todas as substâncias naturais

Núcleodo urânio

Núcleo do hidrogênio

92 prótons

nêutrons(143 a 146)

92elétrons

1 elétron

1 prótonH1

No processo de fissão, o pesado núcleo do U-235 parte-se, formando dois núcleos menores, liberando nêutrons e energia térmica. Em pequenas quantidades (como ocorre na natureza), o risco de um átomo de U-235 ser atingido por um nêutron é mínima.

Elemento químico de símbolo U, o urânio tem 92 prótons em seu núcleo, o que faz dele o átomo com o núcleo mais pesado. O hidrogênio, o mais leve dos elementos, possui apenas um próton em seu núcleo.

O número de nêutrons no núcleo do urânio pode variar. Em relação às variações, dizemos que cada variedade do átomo forma um isótopo desse elemento.

99,3% do urânio encontrado na natureza tem 146 nêutrons em seu núcleo. Esse isótopo é chamado de urânio 238, ou simplesmente U-238. Esse número representa a soma do número de prótons (92) com o de nêutrons (146). Essa composição é estável.

Existem outros isótopos de urânio, como o U-235, que tem 143 nêutrons. Ele é muito raro por causa de sua instabilidade e corresponde a apenas 0,7% do urânio extraído da natureza.

Por ter um núcleo físsil, ou seja, que arrebenta (sofre fissão) quando é atingido por partículas soltas, como um nêutron desgarrado, o isótopo mais utilizado para a produção de energia é o U-235.

Já quando a concentração de U-235 é elevada artificialmente – no processo chamado de enriquecimento do urânio –, os neutrons liberados por um U-235 podem atingir outros U-235, desencadeando um processo de fissão nuclear em cadeia.

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42 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

432011 atualidades vestibular + enem

MEIA-VIDA DO URÂNIOCom o tempo, o elemento reduz sua

capacidade de emitir radiação

k A meia-vida de uma substância química – radioativa ou não – é o tempo necessário para que sua atividade seja reduzida à metade da atividade inicial. Alguns elementos possuem meia-vida de milionésimos de segundo; outros, de bilhões de anos.

k A meia-vida dos isótopos de urânio é muito longa. A do U-238, por exemplo, é de cerca de 4,5 bilhões de anos, o equivalente à idade da Terra. Isso significa que uma amostra de U-238 precisa de 4,5 bilhões de anos para reduzir pela metade seu nível radioativo.

k Já a do U-235 é de 713 milhões de anos. Isso mostra como é difícil dar um destino aos dejetos nucleares, que emitirão radiação por bilhões de anos.

Elemento combustívelEm seguida, o urânio em pó é prensado e transformado em pequenas pastilhas com 1 centímetro de diâmetro. Essas pastilhas recheiam varetas, que, juntas, formam um conjunto chamado elemento combustível, usado para alimentar as usinas nucleares.

MINERAÇÃOA exploração do urânio é feita em jazidas que contêm o elemento em forma de minério

O ENRIQUECIMENTOPara gerar energia, é preciso aumentar a concentração de U-235. É esse isótopo que permite a fissão nuclear em cadeia

ReservasDescoberto em 1789 pelo químico alemão Martin Klaproth, o urânio é encontrado em baixa concentração na maioria das rochas, algo em torno de 2 a 4 partes por milhão – ou seja, em 1 tonelada de rocha, existem de 2 a 4 gramas de urânio. Pode ser achado também dissolvido na água do mar.

Viabilidade econômicaPara que sua exploração seja economicamente viável, é preciso encontrar jazidas de urânio em forma de minério. Existem vários tipos de minério de urânio, nome dado a qualquer concentração natural de mineral na qual o urânio ocorre em proporções que permitam sua exploração econômica. O mais comum e importante é a uraninita.

ProcessoCada tonelada de minério de urânio contém de 10 a 30 quilos do metal puro. No processo de mineração, o urânio é retirado das minas, triturado em um moinho e dissolvido em ácido sulfúrico, para que o minério se separe das rochas.

Yellow cakeEssa solução é colocada para descansar em grandes barragens, nas quais o urânio se sedimenta na forma de um concentrado de óxido de urânio (U-308). Recolhido, o óxido de urânio é apelidado de yellow cake, por ter a forma de um sal de cor amarela.

Urânio em gásNa usina de conversão, o yellow cake é dissolvido para purificar o urânio, que, em contato com flúor, forma o gás hexafluoreto de urânio (UF6). É na forma de gás que o urânio passa pelo processo de enriquecimento em suas várias formas.

Separação dos isótoposO enriquecimento do urânio é o processo pelo qual se eleva a concentração de U-235 na massa do minério – lembre-se de que 99,3% do metal é formado por U-238, que não serve para gerar energia. No enriquecimento, separam-se os diversos isótopos e se retiram os indesejáveis, deixando os U-235.

Urânio em póEm uma centrífuga, o gás hexafluoreto de urânio (UF6), obtido anteriormente na etapa de beneficiamento, é enriquecido até atingir 3,2% de U-235 – quando se quer produzir combustível para usinas atômicas. Então, o gás é convertido em dióxido de urânio em pó.

O QUE é

COMO FUNCIONA UMA CENTRAL NUCLEAREla opera como uma usina termelétrica, na qual a energia liberada pela fissão do urânio serve como fonte de calor

País Toneladas % mundo1º Austrália 1.243.000 23%2º Cazaquistão 817.000 15%3º Rússia 546.000 10%4º África do Sul 435.000 8%5º Canadá 423.000 8%6º Estados Unidos 342.000 6%7º BRASil 278.000 5%8º Namíbia 275.000 5%9º Níger 274.000 5%10º Ucrânia 200.000 4%11º Jordânia 112.000 2%12º Uzbequistão 111.000 2%Outros 413.000 7%TOTAl MUNDiAl 5.469.000

PRINCIPAIS RESERVAS O Brasil possui uma das maiores reservas de urânio do planeta

ENRIQUECIMENTO E USO Quanto mais enriquecido, maior o potencial energético do urânio

RESERVAS CONhECIDAS*

*Reservas estimadas cuja extração custa até 130 dólares por quilo.Fonte: Associação Nuclear Mundial; Dados de 2007

Depois de mover as turbinas, o vapor é resfriado em um condensador. Na forma líquida, a água realimenta o gerador de vapor, fechando o circuito secundário.

Fonte: Eletronuclear

Gerador elétrico

Condensador

Bomba

Bomba

Bomba

Água

REATOR

Bomba principal de refrigeração

do reator

Vapor

Vapor

Pressurizador

CiRCUiTO PRiMáRiO

SiSTEMA DE ágUA DE

REfRigERAçãO

CiRCUiTO SECUNDáRiO

Vaso de pressão

Barras de controle

Elemento combustível

Gerador de vapor

Resfriador

Turbina

Energia elétrica

Tanque de água de alimentação

Ao entrar em funcionamento, a turbina aciona um gerador, que produz eletricidade. A energia segue para as torres de transmissão e, daí, é distribuída pela rede elétrica.

4Com essa troca de calor, a água do circuito secundário transforma-se em vapor e movimenta a turbina, numa velocidade de 1,8 mil rotações por minuto.

3

O combustível é colocado em um recipiente de aço chamado vaso de pressão. Lá, a fissão dos átomos de urânio aquece a água, que chega a 320 ºC. Para que não entre em ebulição, a água fica dentro do vaso sob forte pressão, 157 vezes maior do que a atmosférica.

1

O gerador de vapor faz uma troca de calor entre as águas do primeiro circuito e a do circuito secundário, que são independentes entre si.

2

EXEMPLO

32

16

Substância XNível de radioatividade: 64 becqueréis*Tempo de meia-vida: 12 dias

RAdiAçãoemiTidA

1º dia

12 dias depois

24 dias depois

64

*Becquerel é a unidade para medir a radioatividade

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moedorTriturador

Minério é reduzido a pó Concentrado

de urânio

Adicionaágua

Adicionaácido

Tanques de lixiviaçãoPeneira Peneira Peneira Centrífuga Secador

Filtro de areia

extração do solvente

Tanque de precipitação

de urânio

minério de urânio Yellow cake

Pastilhas de urânio em pó

5

2,5% a 5%Combustível para usinas nucleares

20%Combustível para submarinos nucleares e uso medicinal

+ de 90%Combustível para a bomba atômica

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44 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

452011 atualidades vestibular + enem

a reciclagem do lixo nuclear é defendi­da por cientistas como alternativa para diminuir os riscos de contaminação e, ao mesmo tempo, aproveitar por mais tempo as possibilidades de geração de energia. Com esse reaproveitamento, há menos rejeitos radioativos a armazenar.

especialistas dizem que cerca de 90% do elemento combustível tirado de rea­tores nucleares poderia passar por rea­proveitamento. Outras possíveis fontes para a obtenção de combustível nuclear

seriam o reprocessamento a partir da de­sativação de armas nucleares e a sobra do material utilizado no enriquecimento do urânio.

Os estados unidos desenvolvem desde os anos 1990 um projeto de fábrica, si­tuada na Carolina do sul, para converter plutônio (material usado em armas nu­cleares) em elemento combustível de rea­tores. a expectativa inicial era utilizar o primeiro combustível reciclado em 2002, mas a própria construção da unidade de

conversão só se iniciou em 2007. O custo previsto pulou de 2,3 bilhões de dólares para 4,8 bilhões, segundo reportagem do jornal The New York Times de abril de 2010. de acordo com a publicação, a indústria nuclear ainda não parece entu­siasmada com o produto como substituto para o urânio regularmente utilizado.

além disso, há a questão da segurança, já que existe o risco de o plutônio ser roubado e usado em bombas atômicas por grupos terroristas.

reciclagem de lixo nuclear

Prós e contrasA grande oposição aos planos de ex-

pansão da energia nuclear vem dos am-bientalistas, que defendem a pesquisa sobre outras fontes renováveis, como o vento, as marés e a água. Para muitos especialistas, o risco de vazamento de radioatividade para o ambiente é grande, e o lixo radioativo gerado pelas usinas oferece enorme perigo, já que permanece ativo por muitos milhões de anos (veja na pág. 43).

Novos planosMais de 50 usinas nucleares estão sen-

do construídas, atualmente, em vários países. Nos EUA, que interromperam a construção há 30 anos, o presiden-te Barack Obama anunciou em 2010 a concessão de empréstimos para novas usinas e outras iniciativas nucleares, juntas somam um total de 57,5 bilhões de dólares. “A energia nuclear continua sendo nossa maior fonte de combustível que não gera emissões de carbono”, afir-mou o presidente. A alternativa nuclear aparece como grande possibilidade, prin-cipalmente para países sem condições de utilização da hidreletricidade e com territórios limitados.

Rejeitos radioativosDe todo modo, mesmo que a segurança

das instalações seja satisfatória, resta o problema do lixo nuclear, chamado de rejeito radioativo. Tecnicamente, o re-jeito é todo material resultante de ati-vidade humana que contém elementos radioativos com risco à saúde e ao meio ambiente e para o qual não se recomenda a reutilização. Usinas nucleares, hospitais, indústrias, clínicas médicas, centros de pesquisas e universidades, entre outras instituições, dão origem a esses rejeitos.

Os órgãos de controle exigem que o lixo nuclear seja tratado, embalado e armazenado de forma segura até que não ofereça mais risco ao meio ambiente nem

à saúde humana, ou seja, até que deixe de ser radioativo. O tempo para isso varia de elemento para elemento.

Há os rejeitos de baixa e média ativi-dade – provenientes da área médica e de parte dos materiais usados em usinas – e os de alta atividade, basicamente os elementos combustíveis das usinas. Os dois primeiros tipos são armazenados em depósitos construídos para esse fim. São recipientes especiais, confinados em um tipo de trincheira revestida de concreto por todos os lados. Nesses locais, o lixo nuclear deve ficar isolado por períodos que variam de 50 a 300 anos.

Para os rejeitos de alta atividade, a preo cupação é maior. O urânio enrique-cido usado em reatores mantém-se ra-dioativo por milhões de anos. Não há, até hoje, uma resposta definitiva sobre como guardar esse material sem oferecer riscos. No Brasil, rejeitos assim são armazenados em piscinas de resfriamento nas próprias usinas nucleares que os produzem.

Provavelmente, o destino final desses rejeitos mais perigosos deverá ser depó-sitos subterrâneos, nos quais o material ficará em cápsulas de metal, enterrado a centenas de metros. Depois de cheias e vedadas, essas cavernas devem isolar os rejeitos por tempo indeterminado.

Para os ambientalistas, o risco de acidentes desaconselha a opção por usinas atômicas

VIGILÂNCIA Funcionários verificam o nível de atividade de material radioativo descartado nos EUA

Outro argumento contrário aponta para o alto custo da geração de energia elétrica nas usinas nucleares, em com-paração com as demais possibilidades, como a hidreletricidade. A energia nu-clear exige grandes investimentos, mui-tos funcionários treinados, programas e cuidados prévios – e a construção das usinas é bastante demorada.

Os defensores da alternativa nuclear dizem que nenhuma outra forma oferece, ao mesmo tempo, geração de energia

em quantidade significativa e a garantia de não poluição da atmosfera. Há, além disso, grande disponibilidade de urânio, a principal matéria-prima utilizada no processo, após enriquecimento, nos re-atores. Sobre as questões de segurança, afirmam que a tecnologia desenvolvida no decorrer da história nuclear possibilita operações seguras e que o descarte do lixo radioativo ocupa espaços reduzi-dos, em locais apropriados para evitar contaminações.

ENErGIA do bEmConheça algumas aplicações e avanços científicos que utilizam a radiação nuclear

Medicina nuclearUma pequena dose de substâncias radioativas (radioisótopos) é injetada na veia do paciente com o objetivo de diagnosticar doenças ou mal funcionamento dos órgãos.

Fabricação de drogasOs hormônios do crescimento, usados para tratar crianças com nanismo (deficiência no crescimento), são produzidos em biorreatores.

EsterilizaçãoMateriais plásticos, como seringas e luvas, são irradiados para a indústria farmacêutica em processos de esterilização.

Radioterapia contra câncerUma dose elevada de radiação é dirigida contra a região afetada, atacando e destruindo as células cancerosas.

DiagnósticoAparelhos de raio X, tomógrafos e equipamentos de ressonância magnética empregam radiação para mostrar uma imagem interna do corpo do paciente e ajudar no diagnóstico de doenças.

Tratamento de queimadurasMembranas de hidrogel usadas para tratar queimados são expostas à radioatividade durante o processo de fabricação.

Detecção de poluiçãoTécnicas para determinar a quantidade e o local de ocorrência de poluentes no ar, solo e água recorrem à radioatividade emitida por radioisótopos.

Datação Historiadores e arqueólogos usam

material irradiado, o carbono 14, para

fazer a datação de peças com valor histórico.

Agricultura

meio ambiente

Saúde

ArqueologiaEstudos do soloFertilizantes marcados com elementos radioativos possibilitam o estudo de processos de absorção de nutrientes pelas plantas e de infiltração da água no solo.

Desenvolvimento de sementesRadioisótopos alteram o código genético das sementes para que se tornem mais resistentes a pragas.

Conservação de alimentosA irradiação preserva por mais tempo frutas ou legumes que precisam ser transportados por longas distâncias. Não faz mal à saúde.

IndústriaDiagnóstico de equipamentosAs radiografias podem ser usadas para revelar um equipamento quebrado dentro de uma máquina ou uma tubulação rompida de um oleoduto.

MediçõesUma fonte de radiação e um detector são empregados para medir espessura, densidade ou nível de materiais em processos industriais.

VazamentosRadioisótopos adicionados ao fluxo de líquidos e gases permitem uma fácil detecção de vazamentos dessas substâncias em processos fabris.

Tratamento de pedrasCristais, topázio, diamante e pérola recebem radiações ionizantes para mudar suas cores e aumentar de valor.

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46 atualidades vestibular + enem 2011

Dossiê nuclear

472011 atualidades vestibular + enem

Brasil investe na energia nuclearMesmo com a matriz de energia equilibrada, o país quer ampliar o número de usinas atômicas

A Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen) aprovou, em maio de 2010, o licenciamento para as

obras de construção da terceira usina nuclear brasileira para fornecimento de energia elétrica, Angra III, que deve começar a operar em 2015, com potência de 1.405 megawatts (MW). Os planos do governo brasileiro são de expandir ainda mais essa atividade. As duas centrais nucleares já em funcionamento, Angra I e Angra II, têm potência de 657 MW e 1.350 MW, respectivamente.

As justificativas para o incremento da atividade nuclear são, em parte, as mesmas dos demais países, como a ne-cessidade de diminuir a emissão de gases do efeito estufa. Como razões suplemen-tares, há também as grandes reservas de urânio no território brasileiro e o esgo-tamento das possibilidades de geração hidrelétrica na Região Sudeste.

Entre as grandes nações, a matriz ener-gética brasileira é a que apresenta o maior equilíbrio (veja na pág. 134). Mas a neces-sidade de encontrar alternativas às fontes de energia não renováveis leva o país a investir também na energia nuclear, que

atualmente repre-senta somente 1,4% da matriz energéti-ca nacional.

O esforço na área se traduz não apenas na constru-ção de centrais ge-

radoras de energia, mas no investimento em tecnologias de enriquecimento de urânio em suas várias fases. O Brasil credenciou-se, no decorrer das últimas décadas, como uma das nações com atua-ção expressiva na área de energia nuclear com fins pacíficos.

Política nuclearA política nuclear brasileira deu seus

primeiros passos na década de 1940, com a exportação de material radioativo bruto. Em 1951, no segundo governo de Getúlio Vargas, foi criado o Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq) – atual Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. A mesma lei que criou a instituição estabeleceu o monopólio estatal da energia atômica.

Os primeiros anos foram marcados por um embate: de um lado, cientistas e mili-tares nacionalistas buscavam desenvolver a tecnologia nuclear a partir de contatos científicos com nações que pesquisavam o assunto; de outro, setores vinculados aos Estados Unidos procuravam associar toda a atividade nuclear brasileira aos norte-americanos. A figura mais importante da ala nacionalista era a do almirante Álvaro Alberto da Motta e Silva, o primeiro pre-sidente do CNPq e grande impulsionador da pesquisa nuclear no país.

Nos anos seguintes, surgiram o Instituto de Energia Atômica (IEA) na Universidade de São Paulo (USP), depois transformado em Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), e a Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen). Em 1967, a Cnen firmou acordo para a construção da primeira central de geração de energia nuclear, em Angra dos Reis (RJ). A concor-rência aberta em 1970 para a compra do reator de Angra I foi vencida pela norte-americana Westinghouse, subsidiária da General Electric. Em 1975, foi assinado o acordo com a Alemanha, que se trans-formou em parceira oficial do Brasil para assuntos nucleares. Mas, a exemplo dos contratos anteriores com os EUA, não se conseguiu avançar na transferência de

em meio à natureza Entre o morro, a mata e o mar, as usinas de Angra I e Angra II produzem 1,4% de toda a energia do país

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Dossiê nuclear

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Dossiê nuclear

Pressão contra o irã Os Estados Unidos e demais potências ocidentais pressionam o Irã a interromper seu pro­grama de enriquecimento de urânio. O governo iraniano afirma que a ativida­de nuclear tem fins pacíficos, mas é acusado pelas potências de planejar a construção de bombas atômicas. Em razão disso, o Conselho de Segurança da ONU já aprovou quatro rodadas de sanções contra o Irã.

tnP O Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP) permite que apenas EUA, Rússia, China, Reino Unido e França mantenham armas atômicas. Todas as nações podem desenvolver tecnologia nuclear com fins pacíficos, sob controle da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Em 1997, foi aprovado um protocolo adicional ao tratado, que dá à agência poderes maiores de investigação. O Irã, assim como o Brasil, integra o TNP, mas não ratificou esse protocolo. Israel, Coreia do Norte, Índia e Paquistão são os paí­ses dotados de armas atômicas que não fazem parte do TNP.

redução de armas Desde a década de 1970, há negociações internacionais visando à redução dos arsenais nuclea­res, prevista no TNP. Segundo o mais recente acordo entre EUA e Rússia, cada um reduzirá, até 2020, seu nú­mero de ogivas nucleares posicionadas para 1.550.

renascimento nuclear O início do século XXI marca o renascimento da energia nuclear, com vários países planejando a construção de usinas para a geração de energia elétrica. A principal justificativa é a necessida­de de conter as emissões de gases do efeito estufa.

Programa brasileiro O Brasil de­senvolve um programa nuclear que visa ao domínio da tecnologia de enri­quecimento de urânio. A maior parte do processo de enriquecimento já é feita nas Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Rezende (RJ), desde 2006. O país impulsiona também um projeto de construção de submarino nuclear.

Polêmica entre o brasil e a agência internacional de energia atômica

a instalação da fábrica de enriqueci-mento de urânio de resende foi precedi-da de uma dura polêmica, em 2004, com a agência internacional de energia atômi-ca (aiea). o brasil é signatário do tratado de não Proliferação nuclear (tnP), mas não assinou o protocolo adicional ao tra-tado, que permite inspeções irrestritas e sem aviso prévio da aiea.

sob pressão dos países que detêm armas nucleares, sobretudo estados unidos (eua), reino unido e França, a aiea exigia examinar as centrífugas da unidade industrial brasileira – ou seja,

havia desconfianças quanto ao caráter pacífico do programa nuclear do brasil.

o governo brasileiro não aceitou a inspeção visual das centrífugas, cujos formato e disposição são considerados segredo tecnológico. avalia-se que esses equipamentos, desenvolvidos em nosso país, produzem urânio enriquecido a um custo mais baixo que outras tecnologias. Por isso, o exame minucioso do equipa-mento poderia colocar em risco o segredo industrial. além disso, argumentavam os brasileiros, para controlar o grau de enri-quecimento de urânio não seria preciso

olhar dentro das máquinas. depois de longas negociações, a agência concordou em examinar tubos, válvulas e conexões, sem acesso às centrífugas. um aparato de alumínio impedia a visão completa dos aparelhos.

ainda hoje, setores ligados à área nu-clear dos eua e de outros países defen-dem maior rigor da agência com o brasil. na polêmica sobre as sanções da onu contra os iranianos, o governo brasileiro tem defendido o direito de o irã manter um programa nuclear pacífico, argumen-tando com base em sua experiência.

reabastecimento Técnicos participam da operação de troca das pilhas de combustível que movem a usina atômica de Angra II

☢resumo

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tecnologia nuclear para o país. Angra I começou a ser erguida nos anos 1970 e en-trou em operação na década seguinte. Para a usina funcionar, o Brasil – exportador de urânio – tinha de importar o mineral enriquecido, por um custo muito maior.

Angra II passou a funcionar em 2000. As obras de Angra III foram paralisadas em 1986, por falta de verbas, e somente em 2010 houve sua retomada.

Submarino nuclearEm 1979, iniciou-se o “programa pa-

ralelo”, projeto nuclear desenvolvido pela Marinha e apoiado pelo Ipen, com o objetivo de desenvolver um submari-no nuclear. Esse programa foi mantido secreto durante muito tempo. Em 1987, o presidente José Sarney anunciou o domínio do enriquecimento do urânio pelo Brasil, em nível de pesquisa. No ano seguinte, o programa paralelo foi incorporado às pesquisas oficiais.

O objetivo da Marinha nesse trabalho era desenvolver o sistema de propulsão do submarino nuclear – movido por urânio enriquecido a 20%. Hoje, o Brasil domina o ciclo do enriquecimento do combustível para reatores nucleares de pesquisa.

As obras de Angra III foram paralisadas em 1986 por falta de verbas e retomadas em 2010

Enriquecimento de urânioEm 2006, foi inaugurado o primeiro

módulo da fábrica de enriquecimento de urânio das Indústrias Nucleares do Brasil (INB), em Resende (RJ). Essa ini-ciativa faz parte do objetivo brasileiro de dominar inteiramente a produção do elemento combustível nuclear, em escala industrial. Apenas um reduzido número de países já conseguiu isso.

O processo de enriquecimento do urâ-nio tem várias etapas (veja o infográfico na pág. 42). Depois de ser retirado das minas e passar pelos processos iniciais de preparação, o material se sedimen-ta na forma de uma espécie de sal de cor amarela, chamada de yellow cake. O contato dessa substância com o flúor, em uma usina de conversão, forma o gás

hexafluoreto de urânio (UF6 ), que pode ser enriquecido por diferentes processos para posterior utilização como combus-tível de reatores nucleares.

Essa conversão em gás ainda é feita no exterior e depois enviada à fábrica de Resende, que enriquece o UF6 para pro-duzir o elemento combustível. O Centro Experimental de Aramar, da Marinha, localizado em Iperó (SP), passará a ope-rar a partir de meados de 2011 uma usina de produção do UF6, por enquanto para suprir apenas o futuro submarino nuclear brasileiro. Estima-se que a capacidade de operação comercial, capaz de atender às necessidades de Angra I e Angra II, seja alcançada apenas em 2014.

As Indústrias Nucleares do Brasil, vincu-ladas à Cnen, são a única empresa autoriza-da a extrair e processar urânio e materiais radioativos. Em nome da União, a compa-nhia exerce o monopólio da mineração de elementos radioativos e da produção e comércio dos materiais nucleares.

Avanço tecnológicoPara o Brasil, a energia nuclear possui

importância estratégica, pois o país tem a sétima maior reserva mundial de urânio (quase 300 mil toneladas), suficiente para assegurar o suprimento de combustível para o mercado interno por muito tempo. E pode haver mais, já que dois terços do território nacional ainda não foram explorados para verificar-se a presença do mineral. A extensão da reserva coloca desde já a perspectiva de entrada do país no pequeno grupo de exportadores de urânio enriquecido.

Nestes 60 anos de pesquisas brasileiras, obtiveram-se vários avanços. Além da utilização na geração de energia elétrica, diversos produtos nacionais foram desen-volvidos e produzidos na área nuclear. Destacam-se hormônios de crescimento sintético, membranas de hidrogel para tratamento de queimados e remédios radioativos para tratamento do câncer (radiofármacos). u

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50 atualidades vestibular + enem 2011 512011 atualidades vestibular + enem

InternacIonal conflitosk

o mundo e suas zonas de guerraNo mundo pós-Guerra Fria, conflitos étnicos e religiosos, disputas por riquezas naturais, lutas separatistas e atentados terroristas comprometem a paz em diversas nações e ameaçam a segurança internacional

por beatriz Canepa

pego de calça curta Em uma trincheira no vale de Korengal, no Afeganistão, soldados norte-americanos respondem às pressas a um ataque-surpresa da milícia Taliban (premiada no World Press Photo)

david guttenfelder/ap/wpp2010/divulgação

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52 atualidades vestibular + enem 2011

InternacIonal conflitosk

532011 atualidades vestibular + enem

Q uando a Guerra Fria terminou, em 1991, havia a esperança de que a humanidade pudesse entrar

numa era mais pacífica de sua história. Afinal, chegava ao fim o longo período de rivalidade entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética, em que o mundo ficou dividido em dois blocos hostis, o capi-talista e o comunista. Na disputa pela hegemonia mundial, as duas potências protagonizaram uma perigosa corrida armamentista e deram um viés ideológico a conflitos ocorridos nos quatro cantos do planeta. No entanto, passados 20 anos, as guerras continuam eclodindo. Nesse novo cenário, os EUA se estabelecem como a única superpotência política, eco-nômica e militar. Em nome do combate ao terrorismo, agora visto como a principal ameaça à segurança mundial, os gastos militares norte-americanos são ainda mais altos do que no apogeu da corrida armamentista (1987-1988).

De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo (Sipri), as despesas militares mundiais alcançaram a gigantesca cifra de 1,531 trilhão de dóla-res em 2009. Donos do maior orçamento bélico, os EUA respondem por quase me-tade desse total – 661 bilhões de dólares. Desde 2000, houve um aumento de 49% nos gastos mundiais, sobretudo porque os norte-americanos vêm destinando quantias recordes aos gastos militares. A elevação foi desencadeada pelo envio de tropas ao Afe-ganistão e ao Iraque, no contexto da guerra ao terror, que os EUA desencadearam após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 contra o seu território.

A indústria bélica é um dos pilares da economia dos EUA – das 100 maiores em-presas armamentistas do planeta, 44 são norte-americanas, e elas faturaram 230 bilhões de dólares em 2008. Assim, os EUA se destacam como um dos maiores fornece-dores de armas do mundo, uma liderança problemática, porque as armas leves (rifles, revólveres, granadas, minas terrestres etc.), usadas de forma indiscriminada nas atuais zonas de guerra, respondem por mais de 90% das mortes em conflitos.

Novo cenário geopolítico No mundo pós-Guerra Fria, a maior

parte dos combates passa a ocorrer no interior dos países, enquanto as clássicas guerras entre Estados quase desaparece-ram – o Sipri registrou apenas três entre 2000 e 2009. Os conflitos internos também apresentaram uma tendência de queda na última década, após sua multiplicação nos anos seguintes à queda do bloco comunista. De acordo com o Sipri, havia 17 combates de grandes proporções em 2009.

Os conflitos internos em geral tomam a forma de guerras civis ou guerrilhas – quando grupos armados visam à derru-bada de um governo por motivos políticos (mudar a natureza do regime) ou materiais (controlar o aparelho de Estado). Nesse caso, merecem destaque os grupos funda-mentalistas, que buscam nos fundamentos da religião (textos sagrados) a base para a organização da sociedade e do governo. Na atualidade, as correntes mais atuantes são islâmicas, entre as quais o próprio grupo terrorista Al Qaeda, liderado pelo milio-nário saudita Osama bin Laden.

Também são re-levantes as tensões referentes à afirma-ção de identidades nacionais – quando minorias étnicas, linguísticas e/ou religiosas pegam

em armas para lutar por um Estado que reconheça sua cultura, língua e tradições. A luta é, em geral, pela autonomia ou inde-pendência. Os movimentos nacionalistas são antigos e acontecem desde as revo-luções nacionais europeias (séculos XIX e XX). Nas últimas décadas, uma grande causa do seu renascimento é a desintegra-ção da União Soviética e da antiga Iugos-lávia. Vários povos passaram a levantar a bandeira da emancipação, já que não eram mais sufocados pelo poder central forte da época comunista. É o caso dos chechenos, na Rússia; dos kosovares, na Sérvia; e dos ossetas e abkházios, na Geórgia.

Em bilhões de dólares

O GASTO MILITAR DOS ESTADOS UNIDOS ATINGE PATAMAR RECORDE

Fonte: Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri)

*Orçamento aprovado

1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010*

426,8

422,1

403,7

354,3

374,4334,6 315,1 315,1

298,1 289,7 290,5 301,7

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486,4536,6 528,7

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200

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400

500

600

700

800

341,5 417,4

661Os EUA entram na Guerra do Golfo

Atentado de 11 de setembro;ação militar no Afeganistão Início da guerra

no IraqueQueda do Muro de Berlim (fim da Guerra Fria)

354,8

562

guerra moderna Mulher afegã ferida em atentado suicida em Cabul, a capital afegã (foto premiada no World Press Photo)

A desigualdade econômica e social entre países, regiões e indivíduos, acentuada pela globalização, é apontada por estudiosos como um fator que aumenta as tensões sociais, agravando o risco de conflitos. O Banco Mundial afirma que um país fica mais suscetível à guerra quando há fracasso no desenvolvimento e aumento da pobre-za, uma vez que as comunidades passam a lutar pelo controle de recursos escassos. Com frequência, conflitos nacionalistas estão vinculados a questões econômicas. Em países africanos, a disputa por riquezas naturais opõe grupos de diversas origens, que se enfrentam militarmente.

Uma das principais marcas dos conflitos atuais são os atentados terroristas. Eles se tornaram a arma mais empregada pelos grupos rebeldes na luta contra o poder es-tabelecido. Em geral, ganham as manchetes dos jornais os que ocorrem nas capitais ri-cas do mundo – Nova York, Madri, Londres e Moscou – ou aqueles com grande número de mortos, mas a verdade é que eles hoje fazem parte do cotidiano de países em conflito, como o Iraque e o Afeganistão. O grande desafio para exércitos nacio-nais e tropas estrangeiras é desenvolver estratégias militares eficazes para a nova modalidade de guerra.

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54 atualidades vestibular + enem 2011

InternacIonal conflitosk

552011 atualidades vestibular + enem

Influência internacional Embora sejam em sua maioria internas,

as guerras atuais se internacionalizaram em várias frentes. Para começar, muitos movimentos rebeldes só estão ativos por causa de suas conexões globais. No pós-Guerra Fria, a perda do patrocínio norte-americano e soviético obrigou guerrilhas a buscar novas formas para custear a luta armada. Como a globalização, ao avan-çar na desregulamentação econômica, facilitou o fluxo de dinheiro sujo obtido por práticas ilegais – tráfico de drogas e de pedras preciosas, por exemplo –, as milícias hoje se sustentam por meio da produção e/ou comercialização de cocaí-na, ópio, maconha ou pela exploração de riquezas naturais em territórios sob seu domínio. Com a renda obtida, as guerri-lhas financiam suas atividades – pagam mercenários, compram armamento e obtêm treinamento.

Também assistimos à crescente presen-ça, em regiões de conflito, de tropas da Organização das Nações Unidas (ONU), que têm como missão a manutenção da paz. A ONU ganhou maior poder de de-cisão no pós-Guerra Fria, pois antes era neutralizada pelos norte-americanos e soviéticos: decreta sanções econômicas e diplomáticas contra vários países, apro-va intervenções militares internacionais e envia forças de paz para as zonas de guerra. Em maio de 2010, mais de 100 mil capacetes azuis da ONU atuavam em 15 missões de paz (veja na pág. 58). Tradi-cionalmente, o principal objetivo dessas operações é garantir a implementação de acordos de paz, monitorando o cessar-fogo entre os grupos que estavam em luta. Na última década, porém, os capacetes azuis envolveram-se também em tarefas bem mais complexas, como a reestruturação política, econômica e social de países re-cém-saídos da guerra – seja monitorando eleições, treinando forças policiais ou reintegrando ex-combatentes à socie-dade. Oficiais da ONU assumem ainda a administração provisória de regiões em litígio, como foi o caso de Timor-Leste e da província sérvia do Kosovo.

Ao lado da ONU, é cada vez maior a atuação de organizações regionais – como a Unidade Africana (UA) –, por causa da vantagem geográfica: por estarem mais próximas aos conflitos, elas conhe-cem melhor a realidade local e são mais ágeis para mobilizar as operações de paz. O principal obstáculo à maior participa-ção dessas organizações tem sido a falta de recursos financeiros, de pessoal e de equipamentos.

Por fim, um verdadeiro exército de or-ganizações não governamentais (ONGs) está presente nas áreas de conflito. A par tir da década de 1980, a sua presen-ça aumentou de forma considerável por causa do crescente interesse de doadores (governos, agências de desenvolvimento, empresas e pessoas físicas) em financiar suas atividades. No auge da violência, oferecem ajuda humanitária de emergên-cia, como tratamento médico, remédios, alimentos e vestuário (Cruz Vermelha, Médicos sem Fronteira). Em países re-cém-saídos de conflito, trabalham em projetos de reconciliação e mediam ne-gociações de paz. Também denunciam os abusos contra os direitos humanos (Anistia Internacional).

Tropas de paz da ONU e de organismos regionais aumentam sua presença nas zonas de guerra

ISRAEL-PALESTINADesde a fundação de Israel, em 1948, os árabes palestinos lutam pela criação de um Estado próprio na região

COLÔMBIAMesmo enfraquecidos, os guerrilheiros de esquerda das Farc desestabilizam o país com seus ataques

COSTA DO MARFIMA tensão étnica e religiosa entre cristãos e islâmicos causa intensos confrontos no país desde 2002

SUDÃO (DARFUR)Os combates nesta região do Sudão causaram mais de 300 mil mortes e 2,7 milhões de refugiados desde 2003

REP. DEMOCRÁTICA DO CONGOAlém dos conflitos raciais entre hutus e tutsis, há uma sangrenta disputa pelas riquezas minerais da região

SOMÁLIAConfrontos entre clãs rivais e ataques de milícias islâmicas mergulham o país numa guerra que já dura 15 anos

RÚSSIA (CHECHÊNIA)A república de maioria muçulmana luta para se tornar independente da Rússia

AFEGANISTÃOSob ocupação militar desde 2001, o país sofre com os conflitos, que já resultaram em mais de 100 mil mortes

TURQUIAA luta armada entre o grupo separatista curdo PKK e o governo turco já matou mais de 30 mil pessoas

GEÓRGIAOs conflitos separatistas envolvendo os territórios da Ossétia do Sul e da Abkházia provocam tensão na região

IRAQUEOcupado por tropas estrangeiras desde 2003,o país já contabiliza maisde 100 mil mortos

ÍNDIA-PAQUISTÃOA tempestuosa relação entre os dois países tem como pano de fundo a disputa pela região da Caxemira

Fontes: ALMANAQUE ABRIL, Military Balance 2008 e Sipri

AS PRINCIPAIS ZONAS DE CONFLITO NO MUNDO EM 2010As guerras do século XXI concentram-se principalmente em países da África, da Ásia Central e do Oriente Médio

10,4milhões

Os conflitos armados

no mundo levam

de pessoas a deixar suacasa para viver como

refugiados em outros países

Superpotência norte-americana No pós-Guerra Fria, os Estados Unidos

usam sua poderosa máquina de guerra e intervêm em outras nações quando consideram seus interesses ameaçados. Na década de 1990, o país realizou, com o apoio da ONU, as maiores operações mili-tares internacionais desde 1945: a Guerra do Golfo (1991) e os bombardeios contra a província sérvia do Kosovo (1999).

A partir de então, as intervenções mi-litares da superpotência são norteadas pela guerra ao terror. Em resposta aos atentados de terroristas de 11 de setembro de 2001, o presidente George W. Bush deflagrou uma ampla ofensiva contra Estados e organizações acusados de pa-trocinar o terrorismo no mundo. Ime-diatamente após os atentados, os EUA receberam suporte da ONU para iniciar a guerra contra o Afeganistão, que dava apoio ao grupo terrorista Al Qaeda.

Mas os EUA também incluíram na lista de potenciais alvos países considerados hostis, acusados de possuir armas de des-truição em massa: Iraque, Coreia do Norte e Irã. Na guerra contra o Iraque, em 2003, os EUA atacaram sem o aval da ONU nem de velhos aliados, como a Alemanha e a

França. Essa atitude cristalizou a Doutrina Bush, que estipulava ataques preventivos a países vistos como uma ameaça aos EUA, mesmo que não tivessem agredido antes. Um efeito asso-ciado à Doutrina Bush foi o en-fraquecimento da ONU como fórum multilateral.

Conflitos africanos Boa parte dos conflitos atuais tem a

África como endereço. Uma combinação de fatores explica o cenário de violência, como a propagação da miséria e a mar-ginalização do continente em relação aos fluxos econômicos globais. A África possui valiosos recursos naturais, mas essa riqueza, em vez de fomentar o de-senvolvimento, tem financiado grupos rebeldes e guerras sangrentas. O colonia-lismo deixou sequelas, já que as potências europeias traçaram de forma arbitrária as fronteiras políticas do continente, reu-nindo grupos hostis numa mesma nação e separando povos de mesma origem em diferentes países. Com a descolonização, as rivalidades explodiram na forma de confrontos armados.

O Sudão passou a ser pal-co de uma catástrofe humana quando milícias, apoiadas pelo governo central, lançaram em 2003 uma violenta ofensiva contra tribos de agricultures da região de Darfur. O que move o embate é a disputa por ter-ras numa região árida, mas a

guerra teve contornos étnicos (tribos de criadores contra tribos de agricultores). Uma missão de paz da ONU, a Unamid, chegou a Darfur em 2008. Em meados de 2009, seu comandante declarou o fim da guerra na região, embora a violência ainda persista. Estima-se que os conflitos tenham deixado mais de 300 mil mortos e 2,7 milhões de refugiados.

A Unamid é a maior operação da ONU no mundo, ao lado da Monuc, que atua na República Democrática do Congo. Nesse país gigantesco no coração da África, os capacetes azuis asseguram uma paz frágil, selada em 2003, que interrompeu quase uma década de guerra, mas não impediu novas escaladas de violência. No conflito, a rivalidade entre hutus e tutsis é acen-tuada pela disputa por recursos naturais (diamantes, ouro e columbita-tantalita).

guerra urbana Civis se escondem do avanço das tropas do governo em confrontos após o golpe de Estado em Madagáscar (premiada no World Press Photo)

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Conflitos

Gastos militares Donos do maior orçamento militar do mundo, os EUA ampliaram os gastos bélicos na última década por causa da ofensiva contra o terror. Em 2009, o país gastou 661 bilhões de dólares com defesa, quase metade do total mundial. Os EUA fa-bricam o grosso das armas utilizadas nas zonas de guerra.

tipos de conflito A maior parte das disputas atuais ocorre no interior dos países, sob a forma de guerras civis ou de movimentos nacionalistas. A crescente desigualdade, causada pela globalização, é apontada como um fa-tor de aumento das tensões. Conflitos étnicos e religiosos predominam e são acentuados por disputas econômicas. Na década de 2000, as guerras se con-centram na Ásia e na África.

onu Embora ocorram no interior dos países, as guerras também são inter-nacionais. Grupos rebeldes mantêm conexões globais para financiar a luta armada, e diversas zonas de guerra contam com a presença de tropas de paz da ONU, de soldados de organis-mos regionais e de ONGs, que atuam em várias frentes, como a entrega de ajuda humanitária.

Guerra ao terror Com o fim da Guerra Fria, os EUA são a única super-potência. Em resposta aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, o país deflagrou uma ampla ofensiva contra Estados e organizações acu-sados de patrocinar o terrorismo. No contexto da guerra ao terror, os EUA realizaram ataques militares contra o Iraque e o Afeganistão e mantêm quase 200 mil soldados nesses países.

civis A população civil é a maior vítima das guerras atuais, alvo frequente de matanças deliberadas promovidas por forças em guerra. Segundo organismos internacionais, os civis representam 90% das mortes em áreas de conflito. A cada ano, milhões de civis abandonam as zonas de guerra e buscam refúgio em nações vizinhas (refugiados) ou em abrigos provisórios dentro do próprio país (deslocados internos).

qresumo

uma Guerra em busca de motivo

Em 13 de junho, o governo Obama fez vazar, por meio do New York Times, a descoberta de 1 trilhão de dólares em riquezas minerais no Afeganistão, in-cluindo ferro, cobre, cobalto, ouro e lítio. Diferentes reservas, em diferentes regiões, certamente não identificadas ao mesmo tempo, em levantamento parcialmente baseado em pesquisas soviéticas dos anos 70 e 80.

O momento da divulgação foi escolhido por razões não técnicas, mas políticas. A saber, tentar reanimar a disposição do público e dos aliados a continuar a guerra mais longa já travada pelos EUA em sua história e cujas perspectivas não estão melhorando para a Otan, apesar do au-mento de 30 mil para 100 mil do número

de soldados do Pentágono no país.A ofensiva dita “modelo” em Marjah es-

tá parada e a operação em Kandahar foi adiada. Mesmo onde as tropas avançam, não conseguem estabilizar o controle, implantar mecanismos de governo ou eliminar a presença do Taleban. Foi sim-bólico, se não sintomático, o desmaio do comandante do Centcom, general David Petraeus, ao ser interrogado no Senado sobre prazos para a retirada.

O presidente afegão Hamid Karzai, re-eleito contra a vontade de Washington, parece não mais acreditar em vitória militar. Convocou uma assembleia de chefes tribais, principalmente pashtus do sul, para discutir a possibilidade de um acordo com o Taleban, mesmo se isso lhe custar o apoio de etnias do norte.

Carta Capital, 23/6/2010

Saiu na imprensa

A maior parte dos conflitos e tensões da atualidade ocorre na África e na Ásia

No leste africano, a Somália desintegrou-se como país em 15 anos de guerra civil. Nos últimos tempos, o avanço de milícias fundamentalistas islâmicas trouxe nova dimensão ao conflito, e partes do território converteram-se em base do terrorismo islâmico internacional. Partes do litoral somali tornaram-se esconderijo de na-vios piratas, que atacam transatlânticos no oceano Índico.

Guerras na Ásia No continente asiático, desenrolam-se

alguns dos conflitos mais duradouros e aparentemente insolúveis da atuali-dade. Na Ásia Central, o epicentro é o Afeganistão, palco de embates que já duram três décadas. Além de prolonga-da, a guerra tem seus protagonistas em modificações constantes. Num primeiro momento (1979-1989), envolveu o Exér-cito soviético, que ocupou o país contra uma resistência islâmica. Após a queda do regime pró-Moscou, em 1992, as facções guerrilheiras afegãs passaram a lutar entre si. O quadro político mudou com a entrada em cena da milícia extremista islâmica Taliban, que tomou o poder em 1996. No fim de 2001, a ofensiva dos EUA derrubou o regime do Taliban, que dava abrigo ao grupo terrorista Al Qaeda, che-fiado por Osama bin Laden. Desde então, um governo aliado dos EUA, presidido por Hamid Karzai, tenta pacificar o país, com o apoio de tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) – aliança militar ocidental.

Mas o Afeganistão enfrenta o ressurgi-mento da guerrilha islâmica no sul e no leste do território, que se reorganizou com a ajuda da renda obtida com o trá-fico de drogas. Em 2007, a indústria do ópio (obtido com o cultivo da papoula) representava mais da metade da econo-mia afegane, e o país fornecia 90% do ópio consumido no mundo. Organismos internacionais afirmam que o Taliban fatura cerca de 100 milhões de dólares por ano com o comércio de ópio, que também corrompe setores do governo – provocando atritos com os EUA.

numa época em que a violência se man-tém em várias partes do mundo, os civis tornaram-se a grande vítima. nas matan-ças que ocorrem nas zonas de guerra, é raro encontrar militares fardados ou guerrilheiros em luta. segundo organis-mos internacionais, os civis desarmados representam 90% das vítimas, um con-traste gritante com o início do século XX, quando a relação entre baixas civis e militares era praticamente inversa.

mas boa parte dos civis tampouco morre no fogo cruzado entre forças rivais, pois eles se tornaram o alvo deliberado dos ataques, sejam motivados por ódio étnico e religioso, seja por disputas econômi-cas ou políticas. ao lado de execuções em massa, o estupro e a limpeza étnica tornaram-se marca registrada de vários conflitos. infelizmente, a história recen-te é repleta de mini-holocaustos, como o genocídio ruandês, a catástrofe humana no sudão e os massacres na bósnia.

outra face do drama que atinge os ci-vis é o deslocamento populacional em dimensões inéditas. a cada ano, mi-lhões de pessoas abandonam zonas de guerra para buscar proteção em nações vizinhas. a triste saga desses refugiados é um fenômeno moderno. para ter uma ideia, o alto comissariado das nações unidas para refugiados (acnur), que era uma agência inexpressiva da onu

no fim da ii Guerra mundial, prestava assistência a 26,2 milhões de pesso-as em fins de 2009. desse total, 10,4 milhões eram refugiados. outros 15,6 milhões eram pessoas que deixaram sua moradia em meio a conflitos, sobretudo no campo, mas não cruzaram fronteiras internacionais. conhecido pelo nome de “deslocados internos”, esse grupo re-presenta o maior desafio para o acnur: aumenta de forma vertiginosa e já ul-trapassa o total de refugiados.

o drama da população civil

Com o término da Guerra Fria, o Acnur passou a atender dezenas de milhares de pessoas em todo o mundoTotal de pessoas atendidas (em milhões)*

A CRESCENTE IMPORTÂNCIA DO ACNUR

Fonte: Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur)

*Além dos refugiados, o Acnur presta assistência aos deslocados internos e a populações em busca de asilo político, sem estado ou repatriadas

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1965 1991 1995 2000 2005 2009

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sem moradia Família de refugiados desabrigada pelos conflitos por terra no sul do Sudão

De acordo com o Sipri, o número de ações da insurgência saltou de 2.388 em 2005 para 13 mil em 2009 ( janeiro a agos-to). O aumento da violência no país levou o novo presidente norte-americano, Barack Obama, a alterar a estratégia da ofensiva in-ternacional contra o terrorismo, definindo o Afeganistão como prioridade. Enquanto anunciou uma retirada militar gradativa do Iraque, Obama decidiu enviar mais tropas ao Afeganistão. Em maio de 2010, já havia mais soldados em território afegão (94 mil) do que no Iraque (92 mil). O reforço mili-tar é o pilar central da ofensiva planejada pelo comando militar norte-americano nas províncias sulistas de Helmand e Kandahar, coração da guerrilha. Para muitos analistas, seu sucesso ou fracasso irá determinar os rumos da guerra afegã, que está numa fase desfavorável às forças da Otan.

No Oriente Médio, um conflito opõe há décadas os palestinos ao estado de Israel (veja na pág. 62). Outra crise importante ocorre no Iraque, alvo de um ataque mili-tar dos EUA em 2003, que derrubou a di-tadura de Saddam Hussein (1979-2003). Desde então, o Iraque está ocupado por forças estrangeiras e enfrenta o desafio de superar as rivalidades entre sunitas, xiitas e curdos, até então abafadas pela ditadura, para viabilizar as instituições de

Estado. Nos anos seguintes à ocupação, uma espiral de violência tomou conta da nação, e os choques entre milícias sunitas e xiitas deixaram cerca de 100 mil mortos, de acordo com a ONG Iraq Body Count. A insurgência sunita também se voltou contra as forças estrangeiras, e mais de 4 mil soldados norte-americanos já mor-reram em território iraquiano.

No auge dos conflitos, o país aprovou uma Constituição e elegeu um governo próprio, em 2005, que conduziu os xiitas – maioria populacional – ao poder pela primeira vez na história. Nos últimos anos, houve uma redução significativa da violência, porque os EUA enviaram mais soldados, as forças norte-americanas selaram uma inédita aliança com as milícias sunitas e o Exército iraquiano se fortaleceu. A relativa melhora na situação iraquiana facilitou os planos de Obama de pôr o Iraque em segundo plano para concentrar forças no Afeganistão. No início de 2009, Obama anunciou que até 2011 iria retirar os 142 mil soldados que tinha no território iraquiano naquele momento – a maior parte (92 mil) deveria sair até agosto de 2010. No momento, a grande questão é saber se o governo do Iraque conseguirá assegurar a ordem e a estabilidade sem o suporte determinante das forças estrangeiras. u

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58 atualidades vestibular + enem 2011

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Os países emergentes ganham importância econômica e pedem mais poder nas decisões do cenário político internacional

Pressão por reformas nas nações unidas

Os países do Bric ajudaram significati-vamente o Fundo Monetário Internacional (FMI) nas ações de socorro às economias mais afetadas. Hoje, o Bric detém 15% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e, segundo projeção do FMI, deverá res-ponder por 61% da taxa do crescimento global entre 2008 e 2011. Para 2010, o FMI projeta uma recuperação mais rápida das economias em desenvolvimento.

Os países emergentes também têm se destacado nas discussões sobre o comér-cio mundial. Um exemplo significativo é o da Rodada de Doha, que não foi finalizada porque Brasil, Argentina e Índia, princi-palmente, discordam da posição dos EUA sobre os subsídios que dá aos produtores agrícolas norte-americanos. Além disso, os emergentes estão presentes no G-20, o grupo das 20 maiores economias do mundo e que, durante a crise, se tornou quase tão significativo quanto o G-8 como fórum de discussões. Os países do Bric estão estreitando as relações entre si para ampliar seu poder de pressão. Em abril, a segunda cúpula dos Bric, realizada em Brasília, terminou com uma declaração exigindo das grandes potências uma re-forma no FMI, no Banco Mundial e, prin-cipalmente, no Conselho de Segurança da ONU, órgãos em que os principais emergentes estão subrepresentados, com a ausência de Brasil e Índia.

Origens da ONUO Conselho de

Segurança (CS) da ONU é o centro do poder político mundial. A ONU foi criada em 1945, arquitetada pelas potências que emer-giram com o fim da II Guerra Mundial (EUA, França, Reino Unido e União Sovi-ética- URSS) e pela China. Essas nações desenharam a distribuição do poder na ONU e até hoje são os únicos membros permanentes do CS – o órgão que toma as decisões mais importantes sobre se-gurança mundial. É o CS, por exemplo, quem delibera sobre o envio de missões de paz para áreas em conflito, define sanções econômicas ou a intervenção militar num país. Além dos cinco mem-bros permanentes, outras dez nações participam do CS como membros rota-tivos (que se revezam a cada dois anos). O Brasil atualmente é membro rotativo e cumpre seu décimo mandato.

Todos participam das discussões, mas apenas os membros permanentes têm poder de veto – ou seja, basta uma das cinco nações discordar da proposta e ela não poderá ser adotada. Foi exercendo esse poder de veto que os EUA retar-daram a aprovação de toda moção que condenava Israel por atacar a Faixa de

Israel*/Palestina1.195(*)

Kosovo16

Marrocos(Saara Ocidental)

239

PaquistãoÍndia

44

Afeganistão16Chipre

926

Líbano12.067Haiti

10.916

Darfur22.087

Sul do Sudão10.611

Timor-Leste1.530

Costa do Marfim8.531

Libéria9.429

RDC20.796

Chade/RCA3.149

*Duas forças de paz atuam nessa região. O número equivale à soma das duas

Fonte: ONU/Situação em maio de 2010

ONDE ESTÃO AS TROPAS DA ONU

Gaza, em 2009. A estrutura do CS estava em harmonia com a correlação de forças do período da Guerra Fria (1945-1991), quando o mundo permaneceu dividido entre os blocos comunista e capitalista. O lado capitalista era representado por EUA, França e Reino Unido; o comunista, por China e URSS (atual Rússia). As duas partes usavam o poder de veto para pro-teger as respectivas áreas de influência e negociar soluções para os conflitos na esfera internacional.

Mas, com o fim da Guerra Fria, a pola-rização entre comunismo e capitalismo

deu lugar a uma nova ordem, em que o poder econômico implica maior peso político. Nesse contexto, a divisão de poder dentro das Nações Unidas ficou desequilibrada e fora da realidade. O Japão e a Alemanha, por exemplo, es-tão entre as economias mais ricas, mas não participam das principais decisões da ONU porque, em 1945, perderam a guerra junto com a Itália. E economias emergentes, como a Índia e o Brasil, que possuem a segunda e a quinta popula-ções do mundo, reivindicam participação efetiva no CS.

Fonte: ONU

O Conselho de Segurança é o único órgão da ONU com poder de autorizar uma intervenção militar em um país. O conselho é composto de cinco membros permanentes e dez rotativos, com mandato de dois anos

Membros rotativosMembros permanentes

QUEM FAZ PARTE DO CONSELHO DE SEGURANÇA

Secretário-geralSubsecretário-geral

França

Estados UnidosReino Unido

Rússia

China

Fonte: ONU

PAÍSES COM MAIOR CONTINGENTENAS FORÇAS DE PAZSituação em maio de 2010

Uruguai2.570 (2,5%)

Jordânia3.651 (3,6%)

Gana3.931 (3,9%)

Nepal5.381 (5,3%)Ruanda

3.647 (3,6%)

Nigéria5.929 (5,8%)Egito

5.453 (5,4%)

Índia8.775 (8,6%)

Bangladesh10.385 (10,2%)

Paquistão10.719 (10,5%)

Outros países41.426 (40,6%)

Fórum mundial Abertura da Assembleia Geral da ONU de 2009: temas globais em debate entre 192 países

E nquanto os países mais ricos do mundo se debatiam para evitar a recessão econômica provocada

pela crise financeira de 2008, um grupo de nações assistia ao desespero alheio com bem menos preocupação: Brasil, Índia e China. Eles formam o grupo Bric, (junto com a Rússia) nome criado por um economista norte-americano com as letras iniciais (acrônimo) do nome dos países emergentes que mais se destacam no planeta. Os quatro países estão estrei-tando relações entre si e pedem reformas na Organização das Nações Unidas.

Pode-se definir como emergente um país com desenvolvimento econômico acelerado, industrialização avançada, situação política estável, boas relações comerciais e um potencial de crescimen-to de seu mercado interno. Com exceção da Rússia, os efeitos da crise global foram mais amenos nas economias do Bric do que das nações mais ricas – a maioria não retomou os índices de crescimento anteriores aos da crise, apesar de ter injetado grandes reservas de dinheiro na economia para evitar falências e de-missão em massa.

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60 atualidades vestibular + enem 2011

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612011 atualidades vestibular + enem

ONU

briC A sigla reúne as maiores econo-mias em desenvolvimento no mundo: Brasil, Rússia, Índia e China, responsá-veis em parte pelo enfrentamento da crise econômica mundial e pela retoma-da do crescimento. Apesar do destaque nas discussões políticas e econômicas internacionais, esses países ainda es-tão subrepresentados no Conselho de Segurança da ONU.

nova diplomaCia O Bric vem atu-ando no cenário mundial para ganhar mais espaço político, por meio de alian-ças econômicas e políticas. O Brasil investiu nas relações com países da África, Ásia e América do Sul, abrindo novas embaixadas e fazendo acordos de cooperação.

Haiti A principal ação diplomática brasileira com vista a destacar-se nas Nações Unidas é sua liderança da missão de paz no Haiti, país que sofre violentas convulsões políticas e sociais desde 2004. Mas essa missão levanta debates sobre seu alto custo de manutenção e do papel que o país passa a ter com tropas militares em uma ocupação estrangeira.

ConselHo de segurança (Cs) É o principal órgão da ONU, pois delibera sobre a segurança mundial, com poder para impor sanções econômicas e inter-venções militares. O CS é constituído por cinco membros permanentes, cada um com poder de veto sobre qualquer pro-posta: EUA, China, França, Rússia e Rei-no Unido. Também reúne dez membros rotativos, sem poder de veto, eleitos a cada dois anos. Essa estrutura persiste desde 1945, quando o mundo se dividiu em um bloco comunista e um capitalis-ta. Atualmente, essa divisão não tem sentido, e a organização está enfraque-cida como fórum multilateral.

reforma Há várias propostas de refor-ma do CS em debate. O Grupo dos 4 (G-4), originalmente formado por Alemanha, Japão, Brasil e Índia, defende a inclusão de mais seis integrantes permanentes no conselho. Uma nova rodada de dis-cussões está em curso desde 2009 e deverá terminar neste ano.

qresumo

membros do ConselHo de segurança dão as Cartas no mundo, diz amorim

O ministro de Relações Exteriores bra-sileiro, Celso Amorim, rebateu nesta segunda-feira (14) em artigo publicado no jornal “New York Times” as críticas ao Brasil e à Turquia pelo acordo nucle-ar com o Irã e pediu que as potências emergentes sejam ouvidas nas questões internacionais.

No artigo, que também foi publicado pelo jornal francês “Le Figaro”, Amorim diz que “continua a ser prerrogativa de um pequeno número de países”, basica-mente os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – os Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido –, tomar as decisões do mundo. (...)

“É hora de escutar os países emergentes – Turquia e Brasil, mas também outros como a África do Sul, o Egito e a Indoné-

sia – nas sérias questões de paz e guerra”, argumenta o ministro. Para ele, incluí-los nos grandes debates globais “abrirá as portas a um mundo melhor”. (...)

A situação contrasta com as mudanças ocorridas nos últimos anos no cenário internacional, como as comerciais e de mudança climática, que se abriram aos grandes países em desenvolvimento.

“A crise financeira acentuou a aparição de novos atores”, e “o Grupo dos Vinte substituiu o Grupo dos Oito como pri-meiro fórum de debates e de tomada de decisões sobre a economia mundial”, argumenta Amorim.

“As discussões sobre comércio, finanças, mudança climática e inclusive a gover-nança mundial começaram a ser abertas aos países em desenvolvimento”, diz o ministro, antes de dizer que “sem a pre-sença de países como China, Índia, Brasil, África do Sul e México não se alcançaria nenhum resultado tangível”.

Folha de S.Paulo, 15/6/2010

Saiu na imprensa

O Brasilno Haiti

A Missão no HAiti

O Brasil lidera um contingente de 10,9 mil militares e policiais no Haiti. Conheça os países e seus contingentes:

País número de soldados

Brasil 2.191

nepal 1.281

Uruguai 1.135

sri Lanka 974

Jordânia 952

Argentina 578

Chile 518

outros países 3.287

total 10.916Fonte: ONU/Situação em maio de 2010

o BRAsiL nAs MissÕEs DE PAZ DA onU

A primeira participação significativa do Brasil em uma missão de paz da ONU foi no Egito, em 1957. Desde então, os brasileiros estiveram em 25 operações. Atualmente, o país contribui em nove missões de paz:

Missão e país número de soldados

Minustah (Haiti) 2.191

Unmis (sudão) 19

Minurso (Marrocos/saara ocidental) 10

Unoci (Costa do Marfim) 7

Unmit (timor-Leste) 5Minurcat (Chade eRep. Centro-Africana) 3

Unmil (Libéria) 4

Unficyp (Chipre) 1

total 2.240Fonte: ONU/Situação em maio de 2010

A ação mais importante da campanha brasileira por uma vaga perma-nente no Conselho de Segurança é

liderar a missão de paz da ONU no Haiti. As forças de paz, conhecidas como capacetes azuis, reuniam no Haiti em maio de 2010 um contingente de quase 11 mil militares e policiais vindos de 52 nações. O Brasil – que tem o maior número de soldados – comparecia, àquele mês, com 2,1 mil homens e mulheres. Além de garantirem a paz e a segurança, desarmando antigos combatentes e controlando a violência nas ruas, as forças acompanham a estabilização política e o retorno de refugiados.

Com menos de 30 mil quilômetros qua-drados (menor que o estado de Alagoas), o Haiti tem 9,8 milhões de habitantes e é uma das nações mais pobres do planeta. Cerca de 80% da população vive com me-nos de 2 dólares por dia, e o país ficou na 149ª posição entre as 182 nações avaliadas pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em 2009.

Com elevada incidência de criminalida-de, corrupção, violência e desemprego, o Haiti vive a maior tensão social das Améri-

O país assume o comando da missão de paz na ilha com olhos numa vaga permanente no Conselho de Segurança

ajuda humanitária Batalhão brasileiro distribui comida e água em Porto Príncipe após o terremoto

milhão de desabrigados. Entre os mortos, havia 19 brasileiros: 18 militares das forças de paz e a médica Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança da Igreja Católica, que estava no país. Com o caos que tomou conta do Haiti, o Exército brasileiro teve de reafirmar seu comando. O mandato atual da Minustah foi renovado de outubro de 2009 para até outubro de 2010, quando deverá novamente ser prorrogado.

Liderar essa força de paz credencia o Brasil a atuar em outras regiões de conflito, reforçando sua importância no cenário político mundial. Contudo, o país gasta 120 milhões de reais anualmente para manter os soldados no Haiti e há questionamentos quanto à eficácia da missão. Os críticos alegam que a estabilização de um país assim conturbado depende mais de desenvolvi-mento econômico, melhoria da educação e da saúde do que do simples controle da ordem pública. Nessa linha, o Brasil pro-põe o incentivo ao comércio com o Haiti e projetos de longo prazo, como a construção de uma usina hidrelétrica. Isso mudaria o status da Minustah de “manutenção da paz” para “missão de reconstrução”. u

cas desde 2004, quando o então presidente Jean-Bertrand Aristide renunciou em meio a uma crise política. A chefia de governo foi ocupada interinamente pelo presidente da Corte Suprema, e a ONU enviou para lá a Missão de Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah), que é a ter-ceira missão de paz ao país. Liderada pelo Brasil, a Minustah tinha como objetivo inicial desarmar os grupos rebeldes em conflito , apoiar a estabilização do governo e garantir a realização de eleições. Foi com a ajuda dessa missão que o presidente René Preval tomou posse, depois de uma votação conturbada, em 2006.

O país não vive mais em guerra civil, mas a insegurança persiste. A Minustah, com presença ostensiva nas ruas da ca-pital, Porto Príncipe, garante a abertura de escolas e do comércio e a execução de serviços públicos, como a coleta de lixo e o fornecimento de energia elétrica.

O Exército brasileiro passou por um grande teste em janeiro, quando ocorreu o terremoto que destruiu a maior parte da ca-pital, Porto Príncipe. As estimativas são de 50 a 75 mil mortos, de 250 mil feridos e 1,5

ReformaAs discussões sobre a reforma do CS

são antigas, mas existem várias propostas e nenhum consenso. A fase mais recente de conversas começou em janeiro de 2009 e, segundo estimativa dos diplo-matas, deverá avançar pelo menos até o fim de 2010.

O Brasil se candidatou a uma vaga per-manente no CS durante o governo de Ita-mar Franco (1992-1994). Desde então, vem buscando aliados para lutar pela reforma do conselho. Brasil, Alemanha, Japão e Índia formaram, em 2004, o Grupo dos 4 (G-4), para reivindicar a criação de mais seis vagas permanentes, inicialmente sem poder de veto. Os novos lugares seriam ocupados pelos integrantes do grupo, mais dois países africanos (os mais credencia-dos a ocupar essas vagas seriam a África do Sul, a Nigéria e o Egito).

No entanto, a proposta do G-4 foi in-viabilizada após uma união da China e os EUA contra qualquer mudança. Em 2006, o Japão deixou o grupo por não concordar com o curso das negociações. O México e a Argentina juntaram-se con-tra o Brasil, receosos de que o país assuma um papel privilegiado na América Latina. Por motivos semelhantes, a Itália opõe-se à entrada da Alemanha, a China à do Japão e o Paquistão à da Índia. Líderes do Paquistão, Argentina, Canadá, México e Itália chegaram a formar uma aliança, chamada Unidos pelo Consenso, para rebater as ambições do G-4.

Já a União Africana, que representa 53 nações do continente, propôs, tam-bém sem sucesso, aumentar o número total de membros para 26, dos quais seis seriam permanentes com direito a veto. A França e o Reino Unido prometeram incentivar a ampliação do conselho, para que o órgão inclua, entre seus membros permanentes, pelo menos um país afri-cano e um latino-americano.

Dessa maneira, a enorme quantidade de interesses particulares das nações, que se sobrepõem aos problemas globais, é atualmente um dos maiores obstáculos à reforma do CS.

Países emergentes pedem maior representação no Conselho de Segurança das Nações Unidas

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62 atualidades vestibular + enem 2011

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N a madrugada de 31 de maio, um comando militar israelen-se tomou de assalto, em águas

internacionais, uma flotilha palestina que tentava romper o bloqueio marítimo de Israel e levar ajuda humanitária ao território palestino da Faixa de Gaza. Na maior embarcação, Mavi Marmara, na qual havia cerca de 600 integrantes do movimento Gaza Livre, as tropas is-raelenses entraram em conflito com os ativistas, matando nove a tiros e ferindo mais de 30 pessoas.

Após o violento incidente, os dois lados, munidos de câmeras filmadoras, trava-ram uma guerra de imagens, mostrando video clipes que comprovam, cada qual, a sua versão dos fatos. Enquanto os ativis-tas afirmam que os soldados invadiram o navio atirando para todos os lados, Israel garante que suas tropas agiram em legíti-ma defesa depois de terem sido atacadas com facas, tacos e barras de ferro por parte dos ocupantes dos barcos.

Apesar da disputa em torno de quem atacou primeiro, o episódio deflagrou uma onda mundial de reprovação à ação de Israel, aumentando o isolamento in-ternacional do país. A impressão que ficou para espectadores ao redor do globo é a de que Israel usou violência excessiva, demonstrando, mais uma vez, que prefere recorrer à força indiscriminada, em vez da diplomacia, no trato com os palestinos e com quem os apoia. O ataque à flotilha humanitária é o episódio mais recente de algo que vem de longe: o complicado con-flito entre israelenses e palestinos, povo que luta há muito tempo pela criação de um Estado próprio.

Nova crise em israel Ataque à frota de navios de ajuda humanitária à Faixa de Gaza corrói a imagem de Israel no mundo, abre uma grave crise com a Turquia e dificulta ainda mais a paz com os palestinos

HistóriaO marco do embate foi a fundação do

Estado de Israel, em 1948, que provocou a expulsão de milhares de palestinos das terras nas quais viviam. No ano anterior, a ONU aprovara a divisão da Palestina em um Estado judeu e outro árabe, que nunca se constituiu. A nova situação desestabili-zou o Oriente Médio e, durante décadas, houve várias guerras entre Israel e nações árabes vizinhas, com sucessivas mudan-ças na situação de Israel e dos territórios palestinos (veja mapas na pág. 64).

Em 1993, o líder palestino Yasser Arafat e o primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin assinaram o Acordo de Oslo, dando início a negociações inéditas de paz. Nos anos seguintes, os palestinos instalaram um governo com autonomia limitada na maioria da Faixa de Gaza e em partes da Cisjordânia, sob o comando da incipiente Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Mas o processo de paz estancou na virada da década de 2000, quando os dois lados debatiam o status final do Es-tado palestino. A etapa era considerada a prova de fogo, por tratar de questões difí-ceis, como a devolução aos palestinos da Cisjordânia, incluindo o vale do rio Jor-dão e áreas onde existem assentamentos judaicos. Após ocupar a região, em 1967, Israel começou a construir colônias na Cisjordânia. Hoje, quase 500 mil judeus habitam os mais de 100 assentamentos espalhados pelo território, em meio a 2,5 milhões de palestinos.

Outro tema espinhoso é a situação de Jerusalém. Os palestinos querem instalar sua capital na parte oriental da cidade. Israel é contra, pois considera Jerusa-

lém sua capital “eterna e indivisível”. Também não encontra acordo o desti-no dos palestinos expulsos por Israel. Atualmente, considerando seus descen-dentes, eles somam quase 4,7 milhões de pessoas, segundo a ONU, e vivem em campos de refugiados. Israel não aceita debater o retorno dessa massa de refu-giados aos limites de seu território, pois o eventual regresso ameaçaria demo-graficamente a maioria judaica do único Estado judeu do mundo.

Cerco à Cisjordânia O impasse no diálogo provocou um

levante palestino contra a ocupação, em 2000, a nova Intifada, ou “revolta das pe-dras”. Desde então, a situação não parou de se complicar. Em Israel, o primeiro-ministro Ariel Sharon (2001-2006) prati-camente congelou as negociações de paz e ampliou o domínio sobre a Cisjordânia. Após lançar uma arrasadora ofensiva mi-litar contra cidades palestinas em 2002, Sharon ordenou a construção de um muro

de concreto na Cisjordânia para separar as populações judaicas e árabes. A justificativa era im-pedir a entrada de terroristas em Israel, que vinham promo-vendo atentados. Na prática, o muro segregou os territórios palestinos, limitou a circulação de pessoas e mercadorias pela região e permitiu a Israel cristalizar o controle sobre áreas que deveriam ser entregues aos palestinos pelos Acordos de Oslo.

Ao mesmo tempo, em 2005, Israel abandonou a Faixa de Gaza. Além de ser menor e menos próspera do que a Cisjordânia, ali os colonos ju-deus (8,5 mil) viviam em ten-são com a esmagadora maioria

de palestinos (1,3 milhão). Após a retirada, a ANP alertou para o risco de que a Faixa de Gaza ficasse asfixiada pelo isolamento, pois Israel ainda controlava a fronteira. Os temores da ANP se confirmariam.

devastação Residência palestina após o bombardeio de Israel à Faixa de Gaza (premiada no World Press Photo 2010)

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64 atualidades vestibular + enem 2011

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Hebron

Belém

Jericó

Salfit

Tulkarm Tubas

Jenin

NablusQalqilya

Ramallah

Jerusalém

10km

ISRAEL

CISJORDÂNIA

JORDÂNIARio Jordão

Mar M

orto

CISJORDÂNIA

Mar Morto

Fonte: The Economist (Ocha Situation Reports)

Muro da Cisjordânia (já construído e previsto)Barreira efetiva em razão da política de controle“Áreas fechadas” entre o muro e a fronteira pré-1967 (autorização necessária)Autorização necessária para a passagemA autorização não é necessária, mas o acesso é controlado

ESCALA

0 42 km

COLINASDE GOLÃ

CISJORDÂNIA

FAIXA DEGAZA

Jerusalém

Telaviv

JericóRamallah

Nablus

Haifa

Petah Tiqwa

Holon

Nazaré

Hebron

Ashdod

Elat

Gaza

RishonLeziyyon

Golfo de Ácaba

Mar Morto

Mar Mediterrâneo

Mar daGaliléia

Mte. Meron1.208 m

Jord

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DESERTO DONEGEV

(PENÍNSULA DO SINAI)

LÍBANO

SÍRIA

JORDÂNIAEGITO

ISRAEL E TERRITÓRIOS PALESTINOS

Área da Síria ocupada por Israel

Área sob controle palestino e israelense

Cisão entre palestinosAs aspirações por um Estado palestino

independente sofreram outro revés com a divisão política dos palestinos em or-ganizações hostis. Desde 2007, a facção islâmica Hamas domina a Faixa de Gaza, ao passo que o grupo laico Fatah, que dirige a ANP, governa a Cisjordânia.

A ruptura ocorreu depois que o Hamas venceu as eleições parlamentares pales-tinas, em 2006, conquistando o direito de nomear o primeiro-ministro da ANP. A chegada iminente do Hamas ao poder teve consequências, pois o grupo prega a destruição de Israel para criar um Estado islâmico em toda a Palestina. Israel, EUA e União Europeia não aceitaram o resultado da eleição e reagiram com um boicote aos territórios palestinos – cortando a ajuda financeira e o repasse de taxas e impostos – até que o Hamas reconhecesse o Estado de Israel e renunciasse à luta armada.

Sob intensa pressão externa, o Hamas e o Fatah entraram em conflito enquanto tentavam formar um governo. Uma guerra aberta, em 2007, levou à expulsão do Fatah

da Faixa de Gaza. Na Cisjordânia, o presi-dente da ANP, Mahmud Abbas, nomeou um novo governo, logo reconhecido por Israel e pelas potências ocidentais.

Assim que o Hamas assumiu o po-der na Faixa de Gaza, Israel decretou o bloqueio do território. Passou a proibir a circulação de bens e de pessoas para dentro e para fora da Faixa de Gaza, por terra e por mar. Como o Egito também fechou a fronteira, 1,3 milhão de pales-tinos ficaram presos numa minúscula faixa de terra.

No fim de 2008, Israel atacou a Faixa de Gaza, afirmando que foguetes haviam sido lançados do território contra vilas israelenses próximas, causando prejuízos e deixando feridos. Os bombardeios, segui-dos de ataques terrestres, mataram 1,3 mil palestinos, em sua enorme maioria civis – homens, mulheres e crianças –, arrasando a infraestrutura local. A ação de Israel foi condenada internacionalmente.

Cerca de um ano e quatro meses depois, acontece a tragédia com a flotilha huma-nitária, que pretendia desembarcar em Gaza 10 mil toneladas de suprimentos, incluindo material de construção e casas pré-fabricadas para famílias que estão desabrigadas desde os bombardeios.

Tensão com a TurquiaO Conselho de Segurança da ONU rea-

giu ao ataque israelense condenando os “atos que levaram à perda de vidas”. Mas a ONU e os Estados Unidos, os principais aliados de Israel, adotaram a cautela. Evi-taram culpar o Estado judeu e pediram a abertura de uma investigação.

A reação mais dura partiu da Turquia, porque a frota do Gaza Livre era patrocina-da por uma organização de caridade turca, a IHH (Fundo de Ajuda Humanitária), e a maioria dos passageiros do Mavi Mar-mara, bem como os nove ativistas mortos, tinha nacionalidade turca. A Turquia fez pressão na ONU por uma resolução mais dura contra Israel, caracterizou a operação militar de “terrorismo de Estado” e reti-rou seu embaixador do país. No auge da crise, o país fez ameaças veladas de rom-per relações diplomáticas caso Israel não peça desculpas formais, não aceite uma investigação internacional e não levante o bloqueio contra a Faixa de Gaza.

Dias depois do ataque, Israel rejeitou uma investigação internacional da ONU, com a participação de especialistas da Tur-quia e de outros países. O governo criou a própria comissão e, buscando aplacar críticas externas, incluiu nela dois repre-sentantes estrangeiros. O inquérito irá analisar a legalidade do bloqueio marítimo e do ataque em águas internacionais, além de investigar os ativistas turcos.

A tensão com a Turquia é problemática para Israel por-que o país, de maioria muçul-mana, sempre foi um interlo-cutor do Estado judeu junto ao mundo islâmico, advogan-do em seu favor em momentos de crise. As relações turco-israelenses vinham se deteriorando nos últimos anos, e a política recente do governo turco, sob influência de movimentos islâmicos, con-tribuiu para isso. O ataque israelense à flo-tilha humanitária desencadeou uma crise sem precedentes, e o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, advertiu que Israel corre o risco de perder o seu canal de diálogo no Oriente Médio.

Na Turquia, a IHH mantém relações estreitas com o governo, com quem partilha a simpatia pela causa palesti-na. Financiada pela próspera classe de comerciantes religiosos que conduziu o partido de Erdogan ao poder, a IHH foi fundada em 1992 e está presente em 120 países. Envolveu-se, em especial, com os muçulmanos da Bósnia e da Chechênia

e, mais recentemente, com os palestinos de Gaza. Israel, por sua vez, considera a IHH uma organização islâmica perigosa, que tem ligações com o Hamas e outros grupos terroristas.

Bloqueio à Gaza O incidente aumentou as pressões

internacionais pelo fim do bloqueio à Faixa de Gaza. Israel isolou o território para enfraquecer a autoridade do Hamas. Também alega que o bloqueio é vital para sua segurança, ao impedir a entrada de armamentos e militantes radicais islâmi-cos na Faixa de Gaza. No entanto, após três anos de bloqueio, o Hamas continua no poder e a população de Gaza vive uma grave crise humanitária.

Embora Israel permita o ingresso de 15 mil toneladas de ajuda humanitária por semana – alimentos, medicamentos e outros bens de primeira necessidade –, a ONU afirma que essa quantidade não é suficiente. Além disso, Israel volta e meia proíbe a entrada de itens básicos, como

A vitória eleitoral do Hamas, que defende um estado islâmico, acirra a radicalização na região

ataque em alto-mar Navio com soldados israelenses acompanha de longe a ofensiva contra a flotilha do Gaza Livre (foco iluminado)

afp

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ISRAEL

Mar Mediterrâneo

RafahKaren

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Rafah

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FAIXA DE GAZA

EGITO

BeitHanoun

Postos de fronteiraZona tampão na fronteira com IsraelÁreas urbanasCampos de refugiados sob controle da ONU

O território é controlado pelos palestinos

ESCALA

0 8 km

Cidade de Gaza

Deir AlBalah

FAIXA DE GAZA

Fonte: BBC

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Israel

CriaÇÃO de israel Em 1947, a ONU aprova a divisão da Palestina em um Estado judeu e outro árabe. O Estado de Israel é proclamado em 1948. As nações árabes se opõem, e há a Guerra de Independência. O território previsto de Israel cresceu 75% e os palestinos ficaram sem Estado. Na Guerra dos Seis Dias (1967), Israel incorpora a Faixa de Gaza, o Sinai, as Colinas de Golã, Jeru-salém Oriental e a Cisjordânia.

aCOrdO de OslO Em 1993, palestinos e israelenses assinaram o Acordo de Oslo, que deu início às negociações para a criação de um Estado palestino. Foi formada a Autoridade Nacional Palestina (ANP), e, nos anos seguintes, os palestinos instalaram um governo com autonomia limitada em partes da Cisjordânia e Faixa de Gaza. O processo de paz entrou num impasse anos de-pois, quando se iniciaram as negocia-ções sobre a devolução da Cisjordânia e a situação da cidade de Jerusalém, cuja parte oriental (leste) os palestinos querem para sua capital, mas da qual os israelenses não abrem mão.

divisÃO Palestina Em 2006, eleições parlamentares palestinas deram vitó-ria ao grupo islâmico Hamas, que não é aceito por Israel nem pelas potências ocidentais, por pregar a destruição do Estado judeu. Sob intensa pressão internacional, o Hamas e o Fatah en-tram em conflito. Uma guerra aberta, em 2007, levou à expulsão do Fatah da Faixa de Gaza. Desde então, o Fa-tah domina a Cisjordânia e o Hamas controla a Faixa de Gaza.

blOQueiO À FaiXa de GaZa Assim que o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza, Israel decretou o bloqueio ao território, impedindo a circulação de bens e pessoas para dentro e para fora de lá, por terra e por mar. O cerco, que visa a minar a autoridade do Hamas e a impedir a entrada de armas e militantes islâmicos, provocou uma grave crise hu-manitária. Em 2010, Israel atacou uma frota de barcos que pretendia furar o bloqueio e levar ajuda à Faixa de Gaza, matando nove pessoas e ampliando seu isolamento internacional.

qresumo

israel mOrdeu a isCa. e aGOra?

Juliano Machado e Carlos Giffoni

O pequeno litoral da Faixa de Gaza (..) é um dos mais vigiados do mundo. Desde junho de 2007, nenhuma embarcação consegue aportar na Cidade de Gaza, capital do território palestino, sem pas-sar despercebida pela Marinha de Israel. Portanto, não era nenhuma surpresa para os oficiais israelenses que seis na-vios vindos da Turquia se aproximavam da costa de Gaza na semana passada levando a bordo cerca de 700 pessoas e

10.000 toneladas de mantimentos para os palestinos. O que surpreendeu mesmo foi a reação israelense diante da iminente chegada da autointitulada Flotilha da Liberdade. (...)

Apesar do intuito declarado de levar mantimentos à população de Gaza, a viagem da Flotilha da Liberdade tinha um conteúdo muito mais político do que humanitário. Ele era uma provoca-ção a Israel, à espera de uma resposta desastrada do inimigo. E os israelenses moderam a isca – transformaram o seu bloqueio naval, imposto há dois anos, em manchetes no mundo todo. Se antes

pouca gente prestava atenção à região, à invasão do Mavi Marmara sucedeu-se uma guerra de versões por imagens. (...) O primeiro-ministro de Israel , Benjamim Netanyahu, alegou “ legítima defesa” de seus soldados ante a ameaça da popula-ção, que tinha paus e facas a bordo. (...) Os depoimentos de quem estava a bordo do Mavi Marmara se concentravam em reforçar uma imagem de truculência de Israel. (...) O primeiro reflexo do repúdio internacional ao episódio recaiu sobre o cerco a Gaza (...)

Época, 7/6/2010

Saiu na imprensa

ImpasseNa Cisjordânia, há um impasse nas ne-

gociações de paz com Israel desde que o presidente da ANP, Mahmud Abbas, interrompeu o diálogo, no fim de 2008, em protesto contra o ataque militar de Israel à Faixa de Gaza. A troca de governo em Israel, em março 2009, complicou a situação. Meses após tomar posse como primeiro-ministro, o direitista Benyamin Netanyahu anunciou seu apoio a um Es-tado palestino desmilitarizado e que seja controlado por Israel na faixa de fronteira com a Jordânia, proposta inaceitável para os palestinos.

Netanyahu também aprovou a cons-trução de novas moradias em colônias da Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, reforçando seu controle e ampliando a po-pulação israelense em áreas dos territórios palestinos. Com essa medida, abriu uma crise com seu principal aliado, os Estados Unidos, que lideram os esforços para rea-vivar o processo de paz na região.

Abbas reagiu condicionando a retoma-da de qualquer diálogo ao congelamento na ampliação das colônias israelenses nos territórios palestinos. A expansão dos assentamentos na Cisjordânia con-traria leis internacionais e os acordos de paz – mas vem sendo praticada por sucessivos governos em Israel, em geral sob a alegação de atender ao crescimento natural dessas comunidades.

Em clima de pessimismo, começaram, em maio de 2010, as “negociações de pro-ximidade”, patrocinadas pelo governo norte-americano. Nelas, um enviado norte-americano faz reuniões separadas com Abbas e Netanyahu, recebendo propostas dos dois lados com relação às questões que entravam um acordo final – como as fronteiras, Jerusalém e os refugiados.

Vistas como retrocesso após quase duas décadas de conversações diretas, as “ne-gociações de proximidade” foram inicial-mente adiadas por causa de uma decisão inesperada, de Netanyahu, de aprovar a construção de novas casas em Jerusalém Oriental. Em meio ao impasse, elas co-meçaram, mas logo foram abaladas pelo ataque israelense à flotilha humanitária pró-palestina. Dias depois, numa declara-ção carregada de ceticismo, Abbas afirmou que a falta de progresso nas negociações está “começando a erodir” a crença de que é possível uma solução de dois Estados (um judeu e um palestino). u

1897 Fundação do movimento sionista, que busca o retorno dos judeus à Palestina. nas décadas seguintes, milhares de judeus migram para a região, parte do império turco-Otomano, com população árabe.1920-1948 domínio britânico na Palestina.1939-1945 ii Guerra mundial. Fugindo do na-zismo, mais judeus chegam à Palestina.1947 a Onu propõe a divisão da Palestina em dois países: 56,47% para os judeus e 43,53% para os árabes. Os árabes rejeitam.1948-1949 Com a retirada britânica, os judeus proclamam o estado de israel. Jor-dânia, egito, líbano, síria e iraque atacam, mas são expulsos. israel cresce 75%; o egito incorpora a Faixa de Gaza; Cisjordânia e Je-

rusalém Oriental são entregues à Jordânia; os palestinos ficam sem território.1964 Criação da Organização para a liber-tação da Palestina (OlP).1967 Guerra dos seis dias. israel vence os árabes e ocupa a Faixa de Gaza, a península do sinai (egito), as Colinas de Golã (síria), a Cisjordânia e Jerusalém Oriental.1973 Guerra do Yom Kippur. israel derrota ataque do egito e da síria.1977-1979 O egito e israel firmam tratado de paz. O sinai é devolvido ao egito.1982 israel invade o líbano.1987 1ª intifada (levante contra a ocupação dos territórios palestinos).1993 acordo de Paz de Oslo e criação da

autoridade nacional Palestina (anP), sob o comando de Yasser arafat, líder da OlP.2000 início da nova intifada.2002 israel invade cidades palestinas e co-meça a construir o muro na Cisjordânia.2004 morre Yasser arafat.2005 mahmud abbas é o presidente da anP. israel remove os assentamentos de Gaza.2006 O Hamas vence a eleição palestina. is-rael ataca o líbano, visando ao Hezbollah.2007 Choque armado entre os palestinos. O Hamas assume o poder na Faixa de Gaza.2008 israel ataca a Faixa de Gaza.2010 israel ataca flotilha que tentava rom-per o bloqueio e levar ajuda à Faixa de Gaza. nove ativistas morrem.

Os principais momentos do conflito na Palestina

ISRAELEGITO

JORDÂNIA

ARÁBIASAUDITA

PALESTINA

EGITO

Telaviv

HaifaMar Mediterrâneo

Rio J

ordã

oJerusalém

Gaza

LÍBANO1947

JORDÂNIA

ARÁBIASAUDITA

SÍRIALÍBANO

Telaviv

Haifa Rio J

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Jerusalém

Mar Mediterrâneo

SINAI JORDÂNIA

ARÁBIASAUDITA

ISRAEL

EGITO

SÍRIALÍBANO

Telaviv

HaifaMar Mediterrâneo

Rio J

ordã

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JerusalémFAIXA DE GAZA

CISJORDÂNIA

COLINAS DE GOLÃ

1967-19791949-1967

CISJORDÂNIA

Fonte: Le Monde Diplomatique

FAIXA DE GAZA

Estado judeu

Estado palestinoCidadeInternacional

Estado judeu

Território anexadoao EgitoTerritório administradopela Jordânia

Território conquistadopor Israel

Estado judeuTerritório conquistadopor Israel

O PLANO DE PARTILHA DA ONU APÓS A GUERRA DE INDEPENDÊNCIA APÓS A GUERRA DOS SEIS DIAS

roupas e sapatos. Material de construção – cimento, ferro, vidro, madeira – está na lista negra, sob a justificativa de que pode ser usado para fins militares. Como resultado, a reconstrução do território está parada.

Agências da ONU afirmam que 70% das famílias vivem com menos de 1 dólar per capita por dia (descontada a ajuda) e que 80% das moradias dependem de ajuda alimentícia. A população tornou-se refém do auxílio externo, pois a economia está arruinada. Sem matéria-prima para fazer seus produtos ou mercadorias para vender nas lojas – quase tudo é barrado por Israel –, o comércio legal e a indústria fecharam as portas. Em 2008, 40% da população estava desempregada. Em con-traste, os mercados em Gaza estão cheios de produtos contrabandeados do Egito por uma complexa rede de túneis. O maior beneficiá rio das atividades subterrâneas tem sido o Hamas, que supervisionou as escavações dos túneis e taxa os carrega-mentos que entram na Faixa de Gaza.

Dessa maneira, diferentemente do que esperava Israel, o Hamas encontrou uma nova fonte de receita e controla a econo-mia de resistência que sobrevive. Ao su-focar a economia formal, Israel também alienou a parcela produtiva da sociedade palestina, em geral pró-Ocidente, que agora conta com políticas assistencialis-tas e está vulnerável ao extremismo do Hamas. Por fim, o sofrimento da popula-ção de Gaza transformou-se no símbolo do tratamento israelense aos palestinos, prejudicando a imagem do país.

São esses os motivos que levaram o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, a classificar o bloqueio de “contraprodu-tivo, insustentável e errado”. Até mesmo os Estados Unidos, que endossavam o bloqueio, por concordar com as razões de segurança de Israel, também chamaram de “insustentável” a situação na Faixa de Gaza. Logo após o ataque à flotilha, o Egito abriu sua fronteira com Gaza. Atendendo às pressões, e reconhecendo a falência de sua política para a Faixa de Gaza, Israel anunciou no fim de junho que irá relaxar o bloqueio terrestre ao território.

Com a economia da Faixa de Gaza destruída, a população é dependente do auxílio vindo de fora

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692011 atualidades vestibular + enem

a aprovação da lei que reforma o sis-tema de saúde norte-americano pelo Congresso dos Estados Uni-

dos, em março de 2010, tornou-se a gran-de marca do governo de Barack Obama na política interna até o momento. Estima-se que 32 milhões de pessoas (quase 10% da população) que não tinham cobertu-ra médica passarão a tê-la até o fim da implementação da lei, em 2019.

Apesar de não universalizar o sistema,

obama reforma a saúde nos euaO presidente norte-americano consegue vitória ao aprovar projeto que estende o atendimento de saúde a mais de 30 milhões de pessoas

Por mariana bomfim

a reforma dá um passo nessa direção. Com ela, 94% da população deverá ter acesso a seguro de saúde – 11 milhões de imigrantes ilegais ainda permanecem de fora. É a maior mudança no sistema de saúde dos Estados Unidos desde 1965, quando o governo do presidente Lyndon Johnson criou os programas Medicare – dando cobertura médica gratuita aos idosos acima de 65 anos – e Medicaid – destinado às famílias mais pobres.

A iniciativa de ampliar o acesso à cobertura de saú-de não é inédita. Antes de Barack Obama, sucessivos governos tentaram reformar o sistema, sem sucesso – de Theodore Roosevelt, nos primeiros anos do século XX, a Bill Clinton, na década de 1990. Obama fez da reforma na área da saúde uma de suas principais bandeiras de campanha eleitoral e empregou con-siderável capital político para que ela fosse aprovada, apesar da resistência de boa parte dos parlamentares.

Sua determinação foi expressa em um discurso no Congresso dos Estados Uni-dos, em setembro de 2009, no qual disse: “Eu não sou o primeiro presidente a se dedicar a esta causa, mas estou decidido a ser o último”. Depois de idas e vindas em negociações para que fosse aprovada pelos parlamentares, a reforma tornou-se o primeiro dos principais compromissos de campanha de Obama a ser colocado em prática.

Início de governoO primeiro negro a ocupar a Presi-

dência dos Estados Unidos, país que possuía leis de segregação racial até a década de 1960, Obama foi eleito com o slogan “Yes, we can” (“Sim, nós po-demos”), representando a expectativa de mudança em relação à gestão do seu antecessor conservador, George W. Bush. Obama é do Partido Democrata e Bush, do Republicano, as duas grandes forças políticas que dominaram as eleições nos EUA desde meados do século XIX.

Com relação à política externa, Obama adotou, desde a campanha, um discurso baseado na importância da diplomacia e do multilateralismo como forma de enfrentar os conflitos, estabelecendo um contrapon-to à postura de Bush de adotar medidas unilaterais, como o início da guerra no Iraque (2003), sem o apoio da ONU. No governo de Bush, os EUA aumentaram sua presença militar pelo mundo e se en-volveram nas guerras do Afeganistão e do Iraque, países nos quais se concentra cerca de um terço das forças militares norte-americanas. O Afeganistão está ocupado desde 2001, quando uma coalizão militar atacou o país e derrubou o regime do grupo Taliban, acusado de dar proteção à orga-nização terrorista Al Qaeda, responsável pelos atentados de 11 de setembro de 2001. O Iraque foi ocupado por forças militares lideradas pelos EUA, em 2003.

Com uma retórica contra a guerra em sua campanha eleitoral, Obama havia prometido retirar as tropas norte-ameri-canas do Iraque até maio de 2010. Depois da posse, recuou, afirmando que manterá parte dos soldados até 2011, o mesmo prazo acertado entre a gestão Bush e o governo iraquiano, e depois desse pra-zo ainda deixará no país milhares de assessores militares. Quanto ao conflito no Afeganistão, Obama apontou-o como prioridade no fim de 2009 e, enquanto diminui o contingente militar no Iraque, vem ampliando as tropas norte-america-nas em território afegão. Seu ambicioso objetivo é estabilizar a situação política afegã, pois o ressurgimento do Taliban no país é visto como uma ameaça à se-gurança dos EUA.

Uma dificuldade de Obama logo no início do governo foi o desenvolvimento da crise econômica, aberta em setembro de 2008. Sua primeira ação de impacto foi submeter ao Congresso um pacote

de 787 bilhões de dólares para inves-timentos em obras públicas, visando a criar empregos. Apesar das medidas, o desemprego no país ainda é preocupante. Desde que os EUA entraram oficialmente em recessão, em dezembro de 2007, até novembro de 2009, mais de 8 milhões de norte-americanos perderam o emprego. Obama apresentou também um plano para salvar os bancos e as instituições financeiras em dificuldade.

MudançasEntre tantos problemas, a proposta de

ampliar o atendimento de saúde à popula-ção foi a grande prioridade do presidente. A maior dificuldade para reformar o sistema de saúde é que ele provoca um aumento de gastos, e já existe um elevado déficit no or-çamento federal norte-americano – ou seja, as despesas vêm sendo maiores do que as receitas. Os bilhões de dólares de dinheiro público usados em 2009 para salvar bancos e empresas e os altos gastos militares já vêm aumentando esse déficit.

Pelas previsões, a reforma do sistema de saúde custará 900 bilhões de dólares

aos cofres públicos em dez anos. Segundo Obama, o financiamento do novo sistema se dará pelo aumento nos impostos sobre a renda de pessoas que ganham mais de 250 mil dólares por ano e pelo corte de 500 bilhões de dólares nas despesas do Medicare – o presidente afirma que há desperdício de recursos no programa.

Nos EUA, os planos de saúde são pri-vados e contratados individualmente. Caso a pessoa tenha um bom emprego, a empresa paga ou subsidia sua assistên-cia médica, com acordos estabelecidos nos contratos coletivos de trabalho. A saúde dos norte-americanos acima de 65 anos e dos mais pobres é bancada pelo governo por meio dos programas Medicare e Medicaid – que beneficiam, respectivamente, cerca de 45 milhões e 60 milhões de pessoas. São qualificados ao Medicaid aqueles cuja renda é menor que um certo patamar, que varia de es-tado para estado e conforme o número de integrantes da família. No estado de Nova York, por exemplo, têm direito à as-sistência os solteiros que ganham abaixo de 707 dólares mensais.

O problema é que, antes da reforma na saúde, ficava sem assistência médica quem não tinha condições de pagar por um plano nem se encaixava nos casos previstos para Medicare e o Medicaid.

Com a nova lei, todos os cidadãos serão obrigados a contratar um plano de saúde, sob pena de serem multados em 750 dó-lares por ano. Para as famílias cuja renda atual é de até 902 dólares por pessoa ao mês, o governo dará subsídios e gerenciará um novo mercado de venda de seguros de saúde, no qual os planos poderão ser contratados. O programa Medicaid será ampliado, estendendo-se a uma fatia maior da população de baixa renda.

As empresas com mais de 50 funcioná-rios ficarão obrigadas a pagar seguro de saúde aos seus empregados. As peque-nas empresas terão incentivo fiscal para contratar planos de saúde coletivos. A reforma também estabelece mudanças nos procedimentos das seguradoras. Elas ficam proibidas de recusar atendimento a pacientes com doenças preexistentes e de negar assistência aos segurados quando estes ficarem doentes, práticas comuns antes da lei. Os filhos, que geralmente eram cobertos pelos planos de saúde dos pais até que terminassem a faculdade, agora terão assistência até os 26 anos.

PoPulação do País 314,7 milhões (2009)PIB 14,3 trilhões de dólares (2008)

Antes do novo planoPoPulação sem assIstêncIa médIca 46 mIlhões de pessoas, sendo 16 mIlhões de crIanças

Com a aprovação do novo planocontInuam sem Plano 14 mIlhões de pessoas, sendo 11 mIlhões de ImIgrantes ilegais

gastos PÚBlIcos dos estados unIdos Gastos do país com saúde 2,2 trIlhões de dólares em 2007Custo da reforma da saúde 940 BIlhões de dólares em dez anosGastos militares dos EUA 720 BIlhões de dólares em 2010 (previsão)custo FamIlIarGasto dos norte-americanos com saúde (2008) 19% da renda FamIlIar

O direito à saúde nos estados unidos

o Poder da caneta A assinatura do presidente Obama na lei de reforma da saúde nos EUA, após aprovação do Congresso

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reforma financeira será o próximo desafio

De Washington

Com a reforma do sistema de saúde aprovada, o presidente Barack Oba-ma poderá dedicar sua atenção e a da base governista para outras reformas vitais para o seu governo antes das eleições de novembro, quando seu governo se arrisca a perder as maio-rias que detém atualmente na Câma-ra dos Representantes e no Senado. A primeira da fila é a reforma do siste-ma financeiro, um pacote de medidas para impedir os excessos de Wall Street que a Casa Branca considera em grande medida responsáveis pela crise econô-mica. (...)

Obama também deve impulsionar a elaboração de novas leis para com-

bater o alto desemprego no país, um dos efeitos colaterais da crise que mais têm demorado a se dissipar. (...) Outra reforma que o presidente diz con-siderar crucial é a migratória. Mas mudar as leis de imigração em geral implica criar um caminho para a cidadania dos estimados 12 milhões de não documen-tados que vivem hoje nos EUA. E esse é um tema ainda mais explosivo do que a reforma da saúde. Dada a contagem regressiva para as eleições legislativas de novembro, há poucas expectativas de que um texto seja votado ainda em 2010. O presidente precisa ainda de apoio le-gislativo para cumprir a sua promessa de fechar a prisão em Guantánamo, embora tenha perdido o prazo inicial que se au-toimpôs, de janeiro deste ano. (...)

Folha de S.Paulo, 28/3/2010

Saiu na imprensa

Estados Unidos

reforma da saúde A nova lei da saúde dos EUA incluirá 32 milhões de pessoas que antes não tinham nenhum tipo de cobertura médica, até 2019. É a maior reforma no setor desde 1965, ano da criação dos programas públicos Medicare, que fornece assistência aos idosos, e Medicaid, que atende os mais pobres. O governo dará subsídios a quem não puder contratar um plano, obrigará empresas com mais de 50 funcionários a pagar seguro a seus empregados e ampliará o Medicaid.

oposição A reforma na saúde sofreu forte oposição devido ao seu custo e a dois pontos polêmicos do projeto. O primeiro é o que obriga todos os norte-americanos a ter um seguro de saúde, o que iria contra o princípio da liberdade de escolha; o segundo é que um plano de saúde federal reduziria a autonomia dos estados, que, nos EUA, possuem grande poder de decisão dentro de seu território. A aprovação da reforma foi uma grande vitória de Obama.

iraque e afeganistão A guerra no Afeganistão tornou-se prioridade do governo Obama, em detrimento do conflito no Iraque. O presidente vem diminuindo o contingente que atua no Iraque, ocupado desde 2003 (com previsão de retirada até o segundo semestre de 2011), e ampliando as tro-pas em combate no território afegão, numa estratégia de dominar os grupos rebeldes para estabilizar a situação do país. Os custos financeiros e humanos da participação nas duas guerras são um fator importante de desgaste para o governo Obama.

paÍses ricos Os EUA são o último dos países ricos a universalizar o sistema de saúde. O Reino Unido, por exem-plo, fornece assistência médica à sua população desde 1948.

sus No Brasil, a Constituição de 1988 torna o acesso integral e gratuito à saúde um direito de todos e um dever do Estado. Assim foi criado o Sistema Único de Saúde (SUS). Hoje, porém, ele está sobrecarregado, com número insuficiente de leitos.

qresumo

no brasil, a cobertura médico-hospitalar é universal e pública desde a promulgação da constituição de 1988, cujo artigo 196 classifica o acesso integral, igualitário e gratuito à saúde como um direito de to-dos e um dever do estado. na ocasião, foi criado o sistema único de saúde (sus), gerido por estados e municípios por meio do repasse de recursos do fundo nacional de saúde. até o ano 2000, o sistema era mantido com 30% do orçamento destina-do à seguridade social. a partir daquele ano, uma emenda constitucional atrelou os gastos com saúde ao desempenho geral da economia. estados devem destinar 12% e municípios, 15% do seu orçamento ao setor. a união deve investir uma quantia correspondente ao gasto do ano anterior corrigido pela variação nominal do produ-to interno bruto (pib).

o sus é formado por uma rede de uni-dades hospitalares e ambulatoriais públi-cas e filantrópica e também por hospitais particulares. nos estabelecimentos priva-dos, as pessoas são atendidas e o governo federal paga a conta das consultas e dos procedimentos. mesmo com os convênios firmados com a rede particular, o sistema está sobrecarregado. os usuários enfren-tam longas filas e frequentemente levam meses para ser atendidos.

o número de leitos considerado ideal pelo ministério da saúde é de 2,5 a três por mil habitantes. mas, para cerca de 160 milhões de brasileiros que não podem pagar por um plano de saúde privado e dependem exclusivamente do sus, há um total de 363,5 mil leitos: a relação é de 1,9 leito por mil habitantes. outro problema é que muitos estados investem

menos em serviços de saúde do que o piso determinado pela lei.

antes da criação do sus, só tinha direito à assistência médica gratuita quem tra-balhasse com carteira assinada. o serviço estava sob responsabilidade do instituto nacional de previdência social (inps), órgão do ministério da previdência social criado pelo regime militar em 1966. os demais recorriam a instituições filantró-picas, como as santas casas. em 1974, o inps foi desmembrado e deu origem ao instituto nacional de assistência médi-ca da previdência social (inamps), admi-nistrado pelo ministério da saúde, que também vinculava o atendimento ao em-prego com registro em carteira. o sistema perdurou até 1993, quando o presidente itamar franco o extinguiu, transferindo todo o seu aparato para o sus.

como é a saúde no brasil

Polêmicas e concessõesO esclarecimento, no texto da lei, de

que o governo não subsidiaria abortos – mulheres com plano subsidiado poderão abortar, desde que paguem pela operação – permitiu que a lei ganhasse o apoio de parlamentares do Partido Democrata que estavam hesitantes. Esses votos se tornaram decisivos, pois a reforma do sistema de saúde foi aprovada sem um único voto de parlamentar republicano,

graças à maioria que o Partido Democrata detém na Câmara e no Senado.

As controvérsias, tanto com republica-nos quanto com parte dos democratas, referem-se basicamente a dois pontos:

k o item que obriga todos os cidadãos a ter um seguro de saúde sofreu forte oposição, pois contraria uma ideia tra-dicional no país: a liberdade de esco-lha. O presidente estaria ignorando-a ao penalizar os que optarem por não ter um plano de saúde.

k oposicionistas dizem que a lei interfere na soberania dos estados – pois, nos EUA, a competência legislativa da União é limitada, e a dos estados é ampla.

Apesar dos ar-gu mentos em con trário, o texto aprovado manteve a obrigatoriedade e, por causa disso, alguns republica-nos prometem questionar a constitucio-nalidade da lei na Justiça.

Outro ponto polêmico do projeto ori-ginal era a “opção pública”, pela qual o governo ofereceria um plano de saúde federal a quem quisesse. Como sairia mais barato para a população, já que seria um serviço público, o plano leva-ria as seguradoras a também baratear suas mensalidades. Muitos oponentes

da reforma afirmam que, ao oferecer um serviço público de saúde (com o preço não regulado pelo mercado), o governo criaria uma situação de concorrência desleal com as seguradoras. Segundo eles, a “opção pública” é uma ingerência excessiva do Estado em relações econô-micas que deveriam permanecer na esfe-ra privada. Ela minaria, portanto, a livre concorrência e o livre mercado, preceitos centrais do neoliberalismo, doutrina que guiou a economia dos Estados Unidos nas últimas décadas (veja na pág. 130). O plano de saúde federal acabou sendo retirado da proposta e não consta no texto final sancionado por Obama.

As diferenças entre o projeto proposto por Obama e o texto aprovado mostram que foram necessárias muitas negocia-ções e concessões por parte do governo para que a reforma se tornasse realidade. No final, a lei não agradou aos setores mais progressistas dos meios políticos, que queriam ver aprovada a “opção pú-blica”, nem aos mais conservadores, que veem na reforma da saúde um conjunto de medidas socialistas. A insatisfação refletiu-se no índice de popularidade do presidente, que vinha caindo e, em março de 2010, chegou a 46%, nível mais baixo desde a sua posse.

Reino UnidoOs Estados Unidos eram a única na-

ção desenvolvida que ainda não havia universalizado seu sistema de saúde. As outras nações, seja por meio de planos públicos, seja por planos privados, como na Suíça, já atendem à quase totalidade de sua população.

O Reino Unido, por exemplo, fornece assistência médico-hospitalar pública e gratuita desde 1948, quando foi cria-do o Serviço Nacional de Saúde (NHS, na sigla em inglês). Ele cobre todos os residentes do Reino Unido, cerca de 60 milhões de pessoas, oferecendo todos os tipos de procedimento, incluindo cuidados psiquiátricos e odontológicos, e também medicamentos. O NHS é ad-ministrado pelo departamento de saúde com recursos provenientes de impostos nacionais, e os hospitais são gerenciados por consórcios com a participação da iniciativa privada.

O paciente pode escolher os médicos ou hospitais nos quais prefere ser atendido, desde que não seja uma emergência e que eles estejam entre as opções disponíveis para a sua área de residência. Embora aten-da menos pessoas que o sistema brasileiro, o NHS é considerado a maior estrutura de saúde pública do mundo. u

O projeto provocou resistências e exigiu muitas negociações

OBRIGADO Participantes de uma audiência pública com Obama, em março de 2010: o plano ampliou o atendimento à saúde

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A China comemora em 2010 o ótimo desempenho de sua economia e mostra que tem fôlego para re-

sistir às piores turbulências no cenário mundial. Em 2009, enquanto a economia global patinava na recessão, encolhendo 2,1% em decorrência da crise iniciada com o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos, o Produto Interno Bruto (PIB) chinês cresceu invejáveis 8,7%. Ainda que abaixo do ritmo acelerado dos últimos anos, a taxa superou as expectativas do governo chinês.

Neste ano, o panorama melhorou. Com uma expansão surpreendente de 11,9% no primeiro trimestre de 2010, a dinâmica economia do país é apontada como peça-chave na esperada retomada do cresci-mento mundial. Se prosseguir nesse ritmo, apontam as previsões, a China, que possui a terceira maior economia do planeta, as-sumirá o segundo lugar no ranking ainda em 2010, ultrapassando o Japão.

Expansão econômica No cenário global, a China é um caso

especial. É o país mais populoso do mun-do, com 1,3 bilhão de habitantes. Desde 1949, é uma nação comunista, na qual as empresas e terras se tornaram proprieda-de do Estado. Há pouco mais de 30 anos, porém, o governo chinês decidiu atrair para seu território empresas multinacio-nais, oferecendo vantagens como mão de obra com salários muito baixos e também vantagens fiscais. Nessa base, a economia chinesa expande-se há três décadas.

O boom chinês em meio à recessão global contou com o empurrão decisivo de um megapacote de investimentos do gover-no, que injetou 585 bilhões de dólares na

O gigante resistenteNa contramão da recessão global, a economia da China cresce com vigor em 2009 e caminha para se tornar a segunda maior do mundo, ultrapassando a do Japão

economia, estimulando o consumo interno. O dinheiro foi direcionado a projetos de infraestrutura, que vitalizaram a indústria e a construção civil (linhas de metrô, fer-rovias, aeroportos etc.). Os bancos estatais ampliaram o crédito em mais de 1 trilhão de dólares. Houve redução de impostos em se-tores estratégicos, como o automobilístico. Como resultado, as montadoras venderam 14 milhões de veículos em 2009, e o mer-cado interno chinês tornou-se o maior do mundo, superando o norte-americano.

O gigante asiático conta com o maior es-toque de reservas em moeda estrangeira do mundo (2,4 trilhões de dólares em janeiro de 2010), graças aos seguidos superávits na balança comercial (quando o valor total das exportações é maior que o das importa-ções) e aos investimentos estrangeiros na economia local. Se um ano atrás existia a preocupação de que a expansão chinesa fosse modesta demais, atualmente se teme que a economia esteja superaquecida.

DesempregoOs investimentos na economia foram po-

sitivos para o mercado de trabalho. A China criou 11 milhões de empregos urbanos em 2009, e a maioria das pessoas demitidas no auge da crise (fim de 2008) já se recolocou. O plano para 2010 é criar mais 9 milhões de vagas e manter o nível de desemprego em torno dos atuais 4,3% – acredita-se, porém, que a taxa seja maior, porque foram excluídos do cálculo as zonas rurais e os trabalhadores imigrantes.

O governo chinês afirma que precisa assegurar o ritmo de crescimento anual em 8%, no mínimo, para criar 10 milhões de empregos a cada ano e, assim, garantir a estabilidade social. Esse é o número de

pessoas que deixam as áreas rurais em busca de trabalho nas cidades chinesas todos os anos. As autoridades temem que a perda em massa de trabalho possa provocar manifestações contra o regime ditatorial.

Maior exportador Nem tudo é róseo nesse retrato da China.

As exportações, motor do milagre eco-nômico chinês durante décadas, tiveram desempenho desastroso por causa da queda na demanda internacional pelos produtos made in China. Em 2009, o volume do co-mércio exterior da China sofreu redução inédita de 16% em relação ao ano anterior. Mesmo assim, o país tornou-se o maior exportador mundial de bens manufatu-rados, pois as vendas alemãs, até então na liderança, desabaram ainda mais (-22%).

Nos últimos meses, a China corre atrás do terreno perdido. O país reverteu a tendência de queda e ampliou em 28,7% as exportações no primeiro trimestre

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mais energia Operários observam uma turbina da usina de Três Gargantas, a maior hidrelétrica do mundo, no rio Yang Tsé

No fim da guerra civil chinesa, em 1949, as forças derrotadas por Mao tsé-tung fugiram para a ilha de taiwan, estabelecendo um governo próprio. a China considera taiwan uma província rebelde e ameaça entrar em guerra caso essa formalize a sua independência.

Com a entrada da China na ONu, em 1971, taiwan teve de sair da organiza-ção e desfez laços diplomáticos com quase o mundo todo. Os eua, que financiaram a industrialização de taiwan, permanecem como aliados e ajudam na defesa da ilha.

Hoje em dia, as relações entre taiwan e China atravessam a sua melhor fase em seis décadas. ampliaram-se os laços de viagem e turismo (já existem voos dire-tos), e os dois governos estão prestes a assinar um acordo de livre-comércio. até o momento, a agenda da aproximação deixou de fora o tema da reunificação política. a maioria dos taiwaneses al-meja cooperação econômica, mas quer a independência.

O tibete, território de tradição bu-dista com status de região autônoma, foi anexado à China em 1950. a ocupa-ção tentou suprimir a identidade do povo tibetano. Por causa disso, tenzin Gyatso, o 14º dalai-lama, líder dos ti-betanos, partiu para o exílio em 1959. desde então, tem corrido o mundo divulgando a causa tibetana e ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 1989.

em 2008, antes dos Jogos Olímpicos, protestos contra o domínio chinês leva-ram à pior onda de violência em 20 anos. Mesmo assim, o dalai-lama prosseguiu o diálogo com o governo. ele afirma não querer a independência, mas autonomia real, que garanta ao tibete a preserva-ção de suas tradições. a China, porém, empenha-se em desenvolver o tibete para romper seu isolamento natural e diluir a cultura local. Grandes projetos de infraestrutura – como a ferrovia que liga lhasa, a capital tibetana, a Golmud, na província de Qinghai – têm estimula-do a imigração em massa de chineses. Como resultado, a população tibetana perde importância em seu território.

relações complicadas com tibete e taiwan

de 2010, na comparação com o do ano anterior. Os dados trouxeram alívio para o mer-cado global, porque indicam que a economia de parceiros comerciais da China também estão voltando aos trilhos.

À medida que a China amplia a sua fatia no comércio global, aumentam as pressões para que o país faça mudanças na política de câmbio (ou seja, no valor de troca de sua moeda). Os Estados Unidos, o maior destino das exportações chinesas, afirmam que a China domina injustamente o mercado ao manter sua moeda, o iuan, desvalorizada em relação ao dólar. Assim, os produtos chineses chegam mais baratos ao mercado mundial, prejudicando as ven-das dos outros países. Diante da crescente insatisfação, o governo chinês anunciou, em meados de junho, que irá aumentar a flexibilidade da taxa de câmbio, aprecian-do o iuan de forma gradual.

Atritos com os EUA Além do comércio, a coope-

ração entre China e EUA so-freu abalos em outras frentes. Os dois países se culparam mutuamente pelo fracasso da cúpula de Copenhague, sobre

o clima, em 2009. China e EUA são os maiores poluidores e resistem a decisões que ampliam seus custos.

Os outros focos de atrito envolveram as regiões em litígio – Taiwan e Tibete –, com a China acusando os norte-americanos de violarem sua integridade territorial. Pe-quim reagiu à decisão do presidente Obama de aprovar a venda de 6,4 bilhões de dólares em armas a Taiwan, em janeiro de 2010. No mês seguinte, Obama se encontrou com o líder espiritual do Tibete, o dalai-lama. A China o considera um líder separatista e tenta isolá-lo no cenário internacional, pedindo aos dirigentes mundiais que não o recebam (veja o boxe ao lado).

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O milagre chinês>> Nenhuma grande nação teve um crescimento tão acelerado nos últimos 30 anos

Os maiores territórios do mundo (em milhões de km2)

Crescimento do PIB (em %)

Fonte: Global Economic Prospects - Summer 2010

17.075Rússia

9.985Canadá

9.573China

9.373EUA 8.515

Brasil

1979 1989

2009

1999

4,23,7

-2,1 Mundo

8,7China

Fonte: Atlante di Agostini

As maiores populações (em milhões)ChinaÍndia

EUAIndonésia

BrasilResto do

Fontes: Fnuap 2009

1.3461.198

3.546

315230194

Potência demográfica e territorial>> Um em cada cinco habitantes do planeta vive na China, que também possui o terceiro maior território do mundo

CHINA Japão

Rússia

Mongólia

ÍndiaBangladesh

Vietnã

Coreia do Sul

Coreia do Norte

Tibete

Hong Kong

Macau

Pequim

Filipinas

LaosMianmar

Butão

Tailândia

Camboja

Nepal

Taiwan

Rio Amarelo

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3,2

4,1

7,6 7,6

Mundo

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HistóriaA China é o berço de uma civilização

milenar e formou um vasto império no século II a.C., época em que se iniciou a construção da Grande Muralha. O contato com o Ocidente começou no fim da Idade Média. No século XIX, a região passou a ser dominada pela potência da épo-ca, a Grã-Bretanha, que obteve exclusividade no comércio de ópio. A China foi derrotada nas duas Guerras do Ópio (1839-1842 e 1856-1860) e perdeu a soberania de Hong Kong para os britânicos – a região só voltou ao controle chinês em 1997.

Nas últimas décadas do sé-culo XIX, a China perdeu outros territórios. A Rússia ocupou terras no norte, a França tomou o Vietnã, e o Japão conquistou a península da Coreia e a ilha de Taiwan. Mes-mo assim, a China manteve dimensões continentais e é o terceiro maior país do mundo.

Revolução chinesaAs primeiras décadas do século XX

foram marcadas por invasões estrangeiras e conflitos internos. O Partido Nacionalista (Kuomintang) e o Partido Comunista Chi-nês (PCCh) desempenharam papel central na resistência à dominação externa. Em alguns momentos, os dois partidos foram aliados, sobretudo contra ameaças exter-nas; em outros, quando o foco estava nos interesses conflitantes entre diferentes classes sociais, combatiam entre si.

Na década de 1930, despontou Mao Tsé-Tung. Sob sua liderança, 90 mil comunistas se deslocaram por 9 mil quilômetros em direção ao norte, numa façanha chamada de Grande Marcha (1934-1935). Em 1949, os comunistas li-deraram a revolução chinesa, ao fim da qual foi proclamada a República Popular da China, com Mao como líder.

A China continental foi, então, reor-ganizada nos moldes comunistas, com a coletivização de terras, dos bancos e das companhias estrangeiras, a expropriação das fábricas e o controle estatal da eco-nomia. Ao mesmo tempo, estabeleceu-se uma ditadura de partido único, o Partido Comunista Chinês, a exemplo do que existia na época na União Soviética.

No período seguinte, a atividade indus-trial ganhou impulso. Mas a gestão burocrá-

Em consequência, a China deixou de ser um país atrasado e agrícola para se converter numa potência industrial – em 2009, passou a ter a segunda maior pro-dução industrial do mundo, atrás apenas dos EUA. Nas últimas décadas, a média de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 9% ao ano. Para ter uma ideia da velocidade do crescimento chi-nês, o PIB do país saltou de 177 bilhões de dólares em 1979 para 4,3 trilhões de dólares em 2008.

Em 2001, a China entrou de vez no mundo globalizado, ao ingressar na Or-ganização Mundial do Comércio (OMC), após 15 anos de negociação. Com isso, o país aceitou certas regras do comércio internacional, incluindo a abertura de setores estratégicos aos investimentos estrangeiros, como bancos e telecomuni-cações. Em contrapartida, seus produtos ganharam mais espaço entre os 153 países membros da OMC.

Num passo a mais em direção à econo-mia de mercado, em 2007, o Parlamento chinês aprovou uma lei que garante que os mesmos direitos dados à propriedade estatal sejam estendidos à propriedade privada. A terra, porém, continua sob domínio do Estado.

tica e autoritária causou graves danos. Em 1958, o governo lançou o Grande Salto para a Frente, visando a tornar rapidamente a Chi-na um país desenvolvido. O resultado foi um caos econômico que pro-vocou a fome de milhões de pessoas. Nesse cenário, o PCCh afastou Mao Tsé-Tung do comando. Ele voltou em 1966, mobilizando 20 milhões de jovens na Revolução Cul-tural, que realinhou o país ao socialismo, combateu os burocratas do PCCh e pro-moveu perseguições em massa.

Milagre econômicoCom a morte de Mao, em 1976, o re-

formista Deng Xiaoping subiu ao poder e deu início à abertura econômica. O modelo de desenvolvimento consistiu em criar Zonas Econômicas Especiais (ZEEs) nas províncias litorâneas, nas quais puderam se instalar multinacio-nais de bens de consumo voltadas para a exportação. A industrialização obteve sucesso graças a maciços investimentos estrangeiros, a subsídios estatais (ajuda financeira do governo às novas fábricas) e à abundancia de mão de obra barata e qualificada, que passou a deixar o campo para trabalhar nas cidades.

Nas últimas três décadas, a economia da China sustentou um notável crescimento médio de 9% ao ano

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Mesmo sendo o país mais poluidor do mundo, a China lidera a revolução verde, apontada como uma possível saída para o problema do aquecimento global. de acordo com a organização Pew Charitable trusts, o país tornou-se o maior investidor em energia renová-vel em 2009, ultrapassando os eua. Nesse ano, foram destinados 34,6 bi-lhões de dólares ao desenvolvimento de energias alternativas limpas, com destaque para a eólica e a solar. Como aproveitam, respectivamente, a força dos ventos e o calor do sol, essas fon-tes de energia são inesgotáveis e não poluem a atmosfera.

autoridades chinesas consideram a diver-sificação da matriz energética uma prio-ridade nacional e afirmam que ao menos 15% da energia produzida no país em 2020 será renovável – um salto em relação aos atuais 6,3%. a grande aposta são os painéis solares e as turbinas de vento, dos quais a China já é líder na produção. No deserto de Gobi, ao norte, o país está construindo as maiores fazendas de vento do mundo.

Mas a China também planeja investir na construção de usinas nucleares e na ampliação de sua produção hidrelétrica,

que já conta com a gigantesca usina de três Gargantas. inaugurada em 2006, ela deve se tornar a maior do mundo, superando a de itaipu, no Paraná.

além de aplacarem críticas externas às agressões ao meio ambiente, os chineses abraçam a energia renovável para reduzir a dependência de fornecimento externo (petróleo e gás natural) e evitar uma ca-tástrofe ambiental, causada pela poluição. O “Grande salto verde”, entretanto, está apenas começando. O país obtém a maior parte de sua energia da queima de carvão – fonte altamente poluente –, situação que ainda vai perdurar por um bom tempo.

energia renovável é a aposta do futuro

ALTERNATIVA Usina de energia solar em Hubei, na China central: o país em busca de novas fontes

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Page 39: Guia Do Estudante 2011.p1

Fome de energia>> Os Estados Unidos ainda consomem mais energia, mas a China está quase ultrapassando-os

Consumo de energia(em milhões de toneladas equivalentes de petróleo)

O que moveo dragão

>> A China tem pouco gás e petróleo, mas é dona de

13% das reservas mundiais de carvão e de metade do

consumo global desse combustível superpoluente, cujo

uso não para de crescer. O país constrói uma termelétrica

a carvão por semana

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1500

2000

2500

2000 20092006

JapãoÍndia

EUAChina

Rússia

Fontes: BP Statistical Review of World Energy, Energy Outlook 2007 e MIT Technology Review Fontes: Netherlands Environmental Assessment Agency e The New York Times

*Quinze países originais da União Europeia: Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Portugal, Suécia e Reino Unido

4,84

2,26

1990 2008

3,28União Europeia*

7,55 China

5,69 EUA

3,12

Consumo energético chinês(por combustível – 2009)

Emissões de CO2 por queima de combustíveis fósseis (em milhões de toneladas)

O custo ambiental

70,6%Carvão

18,6%Petróleo

3,7% Gás natural

6,4% HidreletricidadeEnergia nuclear 0,7%

Negócio da China>> Desde o início do milagre econômico,as exportações não param de crescer. A China assumiu a liderança do comércio global em 2009, com quase 10% do total mundial

1214

810

46

02

1970 19901980 2000 2014*2010

Japão

EUA

China

Porcentagem de exportações sobre o total mundial (em %)

Fontes: The Economist, OMC, FMI.

Alemanha

*Previsão

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DesafiosOs maiores símbolos da prosperidade

chinesa são as obras de infraestrutura (arranha-céus, portos, aeroportos, ro-dovias e ferrovias), que têm mudado rapidamente a paisagem do país. Em 2008, ao sediar os Jogos Olímpicos, os chineses se mostraram como potência internacional, cosmopolita e moderna. O mundo viu construções monumentais como o Estádio Olímpico Nacional, o Ninho do Pássaro e o Cubo d’Água.

As condições de vida da população, porém, não progridem na mesma medida. Desde o início das reformas, em 1978, a China retirou 500 milhões de pessoas da pobreza absoluta, segundo o Banco Mundial. Mesmo assim, ainda existem 135 milhões vivendo abaixo da linha de pobreza (com menos de 1 dólar por dia), contingente inferior só ao que existe na Índia. Há concentração da riqueza: a ren-da média dos 10% mais ricos do país é 12 vezes maior que a dos 10% mais pobres. Na década passada, essa proporção era de apenas quatro vezes.

Outro grave problema da China envolve o meio ambiente. A escalada econômica chinesa vem provocando graves danos à natureza. Hoje, a nação é responsável por 20,2% do total das emissões mun-diais de gás carbônico, um dos causa-dores do efeito estufa. A maior parte da energia consumida na China vem do carvão e do petróleo, fontes altamente

poluidoras. Para amenizar a situação, o governo investe em energias renováveis e na construção de usinas de carvão mais eficientes, que convertem o mineral em gás antes de queimá-lo.

A necessidade de petróleo – a China é o segundo maior consumidor do mundo, atrás dos EUA – aproximou o país da África. Nações africanas fornecem um terço do petróleo consumido pelos chi-neses. A China também compra minérios como cobre, ferro, cobalto, latão e ouro, e investe em infraestrutura na região. Em troca, países africanos abriram espaço aos produtos chineses, e o intercâmbio comercial com o continente cresceu dez vezes nos últimos anos.

Ditadura e abertura econômicaA China combina, desde o início das re-

formas, a economia de mercado com a dita-dura de partido único. O governo mantém a repressão às oposições – políticas, religiosas ou étnicas –, violando sistematicamente os direitos humanos. Mas, à medida que a sociedade se moderniza e se globaliza, acentuam-se as contradições entre a liberda-de para os agentes econômicos e a ditadura sobre a população.

O primeiro grande sinal de esgotamento desse modelo ocorreu em 1989, no Mas-sacre da Praça da Paz Celestial, quando protestos estudantis exigindo democracia e melhores condições de vida terminaram com milhares de mortes. Na China, não há

liberdade de imprensa (a censura é geral), e endereços de internet são bloqueados como medida de controle de informações. Há também milhares de prisioneiros po-líticos e se pratica o crime de tortura. O regime é duro ainda contra os criminosos comuns. A Anistia Internacional afirma que o número de pessoas executadas na China a cada ano é superior ao total

China

seGuNda eCONOMia A crise internacio-nal iniciada em meados de 2008 atingiu o mundo todo com intensidade.Entre as grandes economias, a chinesa foi a que reagiu melhor. Após sofrer desace-leração econômica, a China foi um dos países que mais cresceram em 2009. Um megapacote de investimentos do gover-no estimulou a atividade econômica e o consumo interno, e a China hoje puxa a recuperação da economia mundial. Em 2010, a expectativa é que o país deverá ultrapassar o Japão e tornar-se a segunda maior economia do planeta.

HistÓria MileNar A civilização chi-nesa tem mais de 4 mil anos. No século XX, a revolução de 1949, liderada pelo Partido Comunista Chinês, de Mao Tsé-tung, fundou a República Popular da China – um regime comunista, com as fábricas e as terras passando para a propriedade do Estado. Os naciona-listas fugiram para Taiwan e fundaram um Estado à parte, tratado como pro-víncia rebelde pelo governo chinês.

MilaGre eCONÔMiCO No fim da dé-cada de 1970, a China deu início a re-formas na economia que converteram o país, em 2009, no maior exportador mundial. Investimentos estrangeiros e abundância de mão de obra barata foram decisivos para o sucesso do mo-delo exportador. O bom desempenho não garantiu qualidade de vida. Há 135 milhões de pessoas na pobreza.

MeiO aMbieNte Com o rápido de-senvolvimento econômico, a China tornou-se o maior emissor mundial de gás carbônico, porque usa energia vinda do carvão mineral e do petróleo, altamente poluidores. Para reduzir a dependência dessas fontes, o país investe em energia renovável.

ditadura A China combina, desde o início das reformas, a economia de mer-cado com a ditadura de partido único. O maior símbolo da repressão política é o Massacre da Praça da Paz Celestial, há 20 anos, quando protestos estudantis por democracia, liberdade de expressão e melhores condições de vida terminou com milhares de mortes.

qresumo

registrado em todo o resto do mundo. O governo chinês anunciou, em 2009, seu primeiro plano de direitos humanos, em resposta às organizações ocidentais que pressionam o país. No documento, o governo promete controlar o uso da pena de morte, garantir julgamentos justos, proteger minorias e ampliar o direito da população a ser informada. u

CHiNa debate MaNuteNçãO de MãO de Obra barata

Fabiano Maisonnave

Uma série de aumentos salariais após greves em grandes multinacionais no sul da China reacendeu o debate sobre se a chamada “fábrica do mundo” está finalmente deixando de ser uma fonte de mão de obra barata.

O caso mais emblemático é o da Honda. Nas últimas semanas, três greves afeta-ram unidades distintas da empresa (...).

Na primeira greve, (...) em Foshan, Província de Guangdong, a Honda ele-vou em 24% os salários de 2.000 fun-cionários. (...)

A empresa agora enfrenta uma greve em Zhongshan (...) numa fábrica de au-topeças na qual a prefeitura local é sócia

minoritária, com 35%. Ali, os trabalha-dores querem um aumento de 50%, para chegar a um teto equivalente a R$ 436, além de dormitório gratuito.

Mas a Honda endureceu, aparente-mente com o apoio do governo local: começou a contratar trabalhadores substitutos, ao mesmo tempo em que a imprensa estatal do sul da China deixou de noticiar a greve (...)

Além da Honda, a taiwanesa Foxconn, que fabrica componentes para a Apple e a HP, ficou sob intensa pressão depois que ao menos dez de seus 400 mil fun-cionários se suicidaram neste ano.

Depois de instalar redes de segurança (...) a Foxconn dobrou salários e prometeu melhorar as condições de trabalho. (...)

Folha de S.Paulo, 18/6/2010

Saiu na imprensa

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80 atualidades vestibular + enem 2011

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Os principais focos de tensão na área de influência da Rússia são a Chechênia e a Geórgia

Guerra na Geórgia A Geórgia protagonizou uma guerra com

os russos, em agosto de 2008, que provocou temores de um conflito de grandes propor-ções. A questão central foi a disputa pelo controle da Ossétia do Sul, província sepa-ratista da Geórgia, com população de maioria russa - o desejo imediato é a fusão com a vizinha Ossétia do Norte, situada em território russo. A Ossétia do Sul e a Abkházia - a outra província separatista - lutam para se tor-narem independentes da Geórgia desde os anos 1990, mas os movimentos pela emancipação foram abafados pelo governo georgiano, que se tornou um país soberano com a dissolução da União Soviética.

A crise de 2008 começou com um ataque do Exército da Geórgia à Ossétia do Sul, visando a reduzir a autonomia da província. A resposta de Moscou foi arrasadora: em menos de uma semana, o Exército russo retomou o controle da província e ocupou também a Abkházia. O ataque foi visto como uma tentativa do governo georgiano, aliado dos EUA, de envolver as tropas da Otan na disputa com os russos.

O conflito terminou com um acordo de cessar-fogo negociado pela União Euro-peia. A Geórgia decidiu se retirar da CEI, e a Rússia declarou de forma unilateral a independência da Ossétia do Sul e da Abkházia e mantém tropas nas duas pro-víncias. A comunidade internacional e a Geórgia não reconhecem essa independên-cia, o que provoca um impasse político. A militarização da região possibilita a eclosão de novos confrontos.

Crise com a UcrâniaPara reforçar sua influência política e

econômica, uma das armas dos russos é usar sua posição de força como fornece-dores de combustíveis para vários países. Da Rússia, sai 25% do gás consumido em toda a União Europeia. Para chegar ao

destino, o gás russo passa por gasodutos que cortam o território de diversos paí-ses. O principal deles é a Ucrânia, nação da CEI que tem afinidades históricas, étnicas e culturais com a Rússia. O país, porém, interrompeu a cooperação com Moscou após a eleição de um governo pró-Ocidente, em 2004, que se aproximou dos EUA e passou a negociar, junto com a Geórgia, o ingresso na Otan.

A hostilidade entre o governo da Rússia e o da Ucrânia se ampliou com a disputa em torno da divisão dos rendimentos do gás que atravessa seu território em direção à Europa Ocidental. A Rússia chegou a cortar o abastecimento para a Ucrânia, em 2006. A pior crise ocorreu no início de 2009, em pleno inverno no Hemisfério Norte. Moscou fechou os registros das torneiras dos dutos com destino à Ucrânia, deixando milhões de pessoas em toda a Europa sem aquecimento por vários dias.

A relação bilateral entre ucranianos e russos entrou em uma fase melhor com a troca de governo na Ucrânia, no início de 2010. A orientação do novo presidente, Vi-ktor Yanukovych, é a retomada da parceria histórica com Moscou. O presidente con-seguiu a aprovação de uma lei que impede a entrada da Ucrânia na Otan. Também fechou um acordo para prolongar por mais 25 anos a permanência da frota russa no porto ucraniano de Sebastopol, no mar Negro. Em troca, a Rússia irá fornecer gás com desconto à Ucrânia.

Revolução RussaAs tensões entre as ex-repúblicas sovié-

ticas são reflexo da história comum entre os povos da região, com vários conflitos desde o surgimento do Império Russo, séculos atrás. São eslavos, turcos, persas e mongóis, entre outros povos, professando diferentes religiões (cristã, budista e islâ-mica), falando inúmeras línguas e com-partilhando um mesmo espaço geográfico. Ainda no século XVI, os russos saíram de Moscou e expandiram seus domínios até o oceano Pacífico. No século XIX, o Império Russo avançou sobre o Cáucaso, ao sul. Com isso, os russos passaram controlar diversos territórios e povos.

No começo do século XX, a Rússia era governada pelo czar Nicolau II, apoiado pela nobreza e pela Igreja Ortodoxa Rus-sa. A maioria da população era campo-nesa e vivia em péssimas condições. Nas cidades, operários da indústria nascente ainda tinham poucos direitos. A derrota na guerra com o Japão (1904-1905) e a participação na I Guerra Mundial, a par-tir de 1914, agravaram a pobreza. Crises de abastecimento e revoltas sociais leva-ram à Revolução Russa, em 1917.

A transição para o socialismo iniciou-se com a Revolução de Fevereiro, que forçou a abdicação do czar. Oito meses depois, a Revolução de Outubro instau-rou uma ditadura do proletariado, sob a liderança do Partido Bolchevique (mais tarde, Partido Comunista), dirigido por

Vladimir Lênin. O novo governo distri-buiu terras a camponeses e transferiu o controle das indústrias a operários. Após anos de guerra civil, foi estabelecida, em 1922, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), o primeiro país comu-nis ta do mundo.

Em 1924, subiu ao poder Josef Stálin, que implantou um regime de terror, per-seguindo os opositores. No fim da década de 1920, com sua política de coletiviza-ção forçada de terras, Stálin provocou a morte de 10 milhões de camponeses. O ditador também sufocou as aspirações de autonomia de todos os povos não rus-sos. Apesar do extermínio de 20 milhões de soviéticos e da economia arruinada, a URSS saiu vitoriosa da II Guerra Mun-dial e tornou-se a segunda maior po tên - cia do planeta.

Guerra Fria

O período da Guerra Fria (1945-1991) foi marcado por tensões e conflitos entre um bloco capitalista, liderado pelos EUA, e um comunista, capitaneado pela URSS. Por causa dessa divisão, o cenário mun-dial era chamado de “bipolar”. Além dos EUA, o bloco capitalista contava com o Japão e com países da Europa Ocidental, reunidos na Otan, aliança militar ociden-tal. O bloco comunista era formado pela URSS e pelos países do Leste Europeu reunidos no Pacto de Varsóvia, além de Vietnã e Cuba.

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PIB (em bilhões de dólares)

RENDA PER CAPITA (em dólares)

DESEMPREGO (em % da força de trabalho)

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9.660

3.080

2.140

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13,3%

O SOBE E DESCE DA ECONOMIA RUSSA

Fonte: Banco Mundial

FRAGMENTOS O mapa mostra os 15 países saídos da fragmentação da União Soviética, em 1991. Nem todos integram a Comunidade dos Estados Independntes (CEI). As três repúblicas bálticas nunca fizeram parte. A Geórgia deixou o organismo em 2008, após a guerra com os russos. Cinco países ficam na Ásia Central, e os demais, na Europa.

PAÍSES SAÍDOS DA ANTIGA URSS

Rússia

EstôniaLetônia

LituâniaBelarus

Ucrânia

Moldávia

GeórgiaArmêniaAzerbaidjão

Turcomenistão

Cazaquistão

Uzbequistão Quirguistão

Tadjiquistão

Integrantes da CEINão fazem parte da CEI

Fonte: ALMANAQUE ABRIL

a rússia enfrenta grandes dificulda-des, desde 2008, com a crise econômica mundial. um dos maiores exportadores de carvão, petróleo e gás natural – graças às suas enormes reservas –, o país viu sua receita cair com a queda no consumo global de bens industrializados. O preço dos combustíveis no mercado mundial desabou. O barril de petróleo, que che-gou a bater 150 dólares, despencou para apenas um terço disso.

Os combustíveis respondem por 60% das exportações russas. a queda nas ven-das externas foi o início de um efeito

dominó. a economia piorou, o desempre-go cresceu. Para que a economia fosse reaquecida, o governo injetou bilhões no sistema bancário e ampliou o crédito, além de adotar medidas protecionistas na área agrícola.

essa situação interrompeu um ciclo eco-nômico positivo, de 1998 a 2008. veja no gráfico abaixo o que ocorreu com a eco-nomia russa nas duas últimas décadas. a urss acabou em 1991, e os dados do ano seguinte, no gráfico, indicam o estado geral da economia na época. nos anos se-guintes, a economia estatal desorganizou-

se totalmente na transição para a economia de mer-cado: em 1998, o Pib despencara, bem como a ren-da per capita, o desemprego havia decolado. dez anos depois, o Pib e o Pib per capita cresceram muito, o desem-prego caiu e qua-se retornou aos níveis de 1992.

a crise econômica castiga a rússia

CIDADE EM RUÍNAS Soldados da Ossétia do Sul, na capital do território, Tskhinvali, em 2008: russos mantêm o controle

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82 atualidades vestibular + enem 2011

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Uma intensa batalha se expressava nos terrenos econômico, diplomático, tecnológico e militar (corrida armamen-tista). Os conflitos da época acabavam enquadrados na lógica da Guerra Fria, como as guerras da Coreia (1950-1953) e do Vietnã (1959-1976). Uma grande preocupação do período era o risco de uma guerra nuclear, pois os dois lados desenvolviam bombas atômicas. Quatro anos após Hiroshima, a corrida nuclear começou quando os soviéticos explodiram a primeira bomba.

No fim dos anos 1970, a URSS já não conseguia mais acompanhar o ritmo eco-nômico do Ocidente e entrou numa grave crise econômica. Em 1985, o líder soviético Mikhail Gorbatchov chegou ao poder e estimulou a abertura política (glasnost, em russo) e a liberalização econômica (perestroika). Era uma política de crise. As pressões ampliaram-se sobre o regime com a queda do Muro de Berlim, em 1989, e, em 1991, a URSS deixou de existir.

ChechêniaA dissolução da URSS, com o fim de

seu regime centralizado, destampou um caldeirão étnico. Imediatamente, o antigo Estado dividiu-se em 15 países. Vários, po-rém, e principalmente a Rússia, passaram a ver minorias protestar, exigindo maior autonomia ou mesmo a independência. Os motivos para isso são históricos: a opressão do Império Russo foi seguida, no século XX, pela ditadura de Stálin, que incentivou

a migração maciça de russos para certos pontos do país, chegando a ponto de de-portar as populações nativas.

Um exemplo notório desse processo é a Chechênia, pequena república no sul da Federação Russa, situada no Cáucaso, uma região de maioria muçulmana. Na década de 1940, Stálin expulsou milhares de chechenos para a Ásia Central e co-lonizou a região com russos. Mais tarde, os chechenos começaram a retornar, o que provocou conflitos com a população russa ali estabelecida. Após a dissolução da URSS, começou a luta dos chechenos

pela independência. Em 1994, tropas rus-sas invadiram a Chechênia, dando início a combates que mataram mais de 100 mil pessoas. Um acordo de paz, em 1996, sus-pendeu a guerra, mas o governo russo ataca novamente em 1999 e toma o controle da capital da Chechênia, Grozny, em 2000. Desde então, milícias separatistas cheche-nas prosseguiram com ataques terroristas contra o Estado russo.

Em 2009, o governo de Moscou encer-rou as operações militares e suspendeu as restrições econômicas à Chechênia. A população comemorou a decisão em Gro-zny – que a ONU considerou, em 2004, a cidade mais destruída do mundo. O atual presidente checheno é, na prática, o braço de Moscou na região. Em março de 2010, rebeldes chechenos assumem a autoria de dois ataques suicidas simultâneos no metrô de Moscou, que mataram dezenas de pes-soas. O atentado foi realizado por mulheres bombas. Além dos chechenos, o atenta-do envolveu guerrilheiros do Daguestão, território vizinho da Chechênia, no qual também existem movimentos pela inde-pendência. Há suspeita de que os grupos, que aderem ao fundamentalismo islâmico, sejam ligados à rede terrorista Al Qaeda, dirigida por Osama bin Laden.

Melhora econômicaA crise financeira mundial iniciada nos

EUA, em 2008, atingiu em cheio a Rússia e pôs fim a um período de crescimento baseado na exploração de enormes reser-vas de carvão, gás natural e petróleo (do qual é um dos líderes na produção global). A maior recessão entre as grandes econo-mias mundiais ocorreu em território russo: o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 7,9% em 2009, recuo ainda maior do que o observado em 1998 (-5,3%), quando o país foi o epicentro de uma crise que se espalhou pelo planeta.

A principal causa da crise foi a queda acentuada no consumo mundial e no preço dos combustíveis, que respondem por 60% das exportações russas. O barril de petróleo, que chegou a ser vendido por quase 150 dólares em meados de 2008, teve sua cotação derrubada para 40 dó-lares em 2009. Assim, a renda obtida com as vendas externas também despencou. Para conter a crise, o governo adotou medidas de emergência. Mas a economia só começou a se recuperar a partir de

meados de 2009, pois o preço dos bens de exportação russos voltou a subir. A expectativa de expansão de 4% em 2010 sugere que o pior já passou, embora o país ainda enfrente sérios problemas, como o déficit no orçamento nacional.

A recessão de 2008 mostrou que a economia russa é muito vulnerável às oscilações de preço de suas commodities (matérias-primas) de exportação. Afinal, se as atividades econômicas no país são baseadas quase totalmente no mercado mundial de combustíveis, e o preço deles cai, toda a cadeia produtiva fica abalada.

Por esse motivo, o presidente Dmitri Medvedev agora vê como prioridade a diversificação da economia, de forma a reduzir a dependência da extração de re-cursos naturais. Para isso, o país aposta numa parceria estratégica com a União Europeia, seu maior parceiro comercial, para atrair investimentos em outros setores, adquirir novas tecnologias e desenvolver a infraestrutura (rodovias, ferrovias etc.). Essa é base econômica da política de apro-ximação com os países ocidentais. u

Rússia

briGa COm viZinHOs A Rússia se es-força para manter a influência política sobre os países que pertenciam à an-tiga URSS. Para isso, usa seu poderio político, militar e econômico. Vários desses países, no entanto, aproximam-se da Otan, aliança militar ocidental, e da União Europeia. O principal é a Geórgia, alvo de uma arrasadora ofen-siva militar russa em 2008.

aCOrdO nuClear A Rússia e os Es-tados Unidos, as maiores potências nucleares do mundo, assinaram um acordo de desarmamento nuclear, em abril de 2010. Chamado de “Novo Start”, o tratado prevê a redução dos arsenais, de cada lado, para até 1.550 ogivas. Além de dar impulso renovado aos esforços mundiais pela redução dos arsenais atômicos, o acordo rea-proximou os dois países.

seParatismOs A tensão entre os po-vos da região remonta à época do antigo Império Russo, quando diversos grupos foram subjugados pelo expansionismo russo. No século XX, o governo autoritá-rio da URSS sufocou a expressão dessas nacionalidades. Com o fim da URSS, os problemas emergiram. A própria Rússia é uma federação com 21 repúblicas, 4 distritos e uma região autônomos, abrigando cerca de 130 povos.

Guerra Fria A Revolução Russa, em 1917, marcou o século XX, fundando o primeiro país comunista. A URSS tor-nou-se uma grande potência e, após a II Guerra Mundial, rivalizou com os EUA por várias décadas, numa tensão permanente conhecida como Guerra Fria (1945-1991).

Crise eCOnÔmiCa Em meio à crise econômica mundial iniciada em 2008, o país foi palco de uma recessão aguda, provocada pela queda acentuada nos preços de suas commodities (matérias-primas) de exportação. Desde então, o governo investe na cooperação estraté-gica com a União Europeia, seu maior parceiro comercial, para modernizar a economia e reduzir a dependência da exportação do petróleo, do gás natural e do carvão.

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a esPiã que me amava Luiza Villamá

Uma bela ruiva de olhos verde, que se apresentava como Anna Chapman (...) em Nova York (...), acaba de trazer ao mundo globalizado o clima da Gur-ra Fria, a disputa estratégica travada entre americanos e russos entre o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991). (...) Ela está entre as dez pessoas presas nos Estados Unidos na semana pas-sada por supostamente integrar uma rede infiltrada em território americano com a missão de obter informações privilegiadas para a Rússia. O 11º inte-grante da rede, que se identificava como Christopher Metsos, um canadense de 54 anos, foi detido na ilha de Chipre, de onde planejava embarcar num voo para Budapeste, na Hungria. Pagou fiança de 20 mil euros, ficou de se apresentar à polícia no dia seguinte, na quarta-feira 30, e desapareceu do mapa, como nos melhores filmes de espionagem.

Depois de sete anos de monitoramen-to do grupo, os serviços de contraespio-nagem dos Estados Unidos revelaram que ambos os lados adotaram recursos similares aos exibidos nas telas dos cinemas. Escutas foram instaladas nas casas dos suspeitos, que eram seguidos e fotografados inclusive em países es-trangeiros. (...) Os suspostos espiões, por sua vez, enviavam mensagens com tinta invisível, passavam recados codifi-cados por rádio e chegaram até a trocar maletas idênticas – laranjas – numa estação de trem. (...)

Quatro dias antes (...) de o FBI cercar as casas dos suspeitos (...) o presidente Barack Obama havia comemorado o excelente momento das relações entre os Estados Unidos e a Rússia. (...) Exi-bido nos jornais e nas redes de tevê, o flagrante de distensão entre potências antes adversárias ajudou a aumentar a surpresa da comunidade internacio-nal diante da reedicão de episódios da Guerra Fria.

Isto É, 7/7/2010

Saiu na imprensa

A RÚSSIA E OS PAÍSES DA CEI

Fonte: Banco Mundial

CHEFE A Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é formada por 11 das 15 ex-repúblicas que integravam a União Soviética. A principal delas é a Rússia, que procura manter o domínio sobre o restante do bloco. Veja nos gráficos como o peso do estado russo é esmagador na aliança entre os países, e isso também fica claro pelas diferenças de tamanho, como se vê no mapa da página 81.

PIB 2008

Rússia77,4%

Resto da CEI22,6%

Total da CEIUS$ 2,17 trilhões

POPULAÇÃO 2008

Rússia51,9%

Resto da CEI48,1%

ÁREA

Rússia77,1%

Resto da CEI22,9%

Total da CEI273 milhões

de habitantes

Total da CEI21.230.479

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VIÚVA NEGRA Em foto de data desconhecida, a jovem Dzhennet Abdurajmanova, de 17 anos, aparece ao lado do marido, Umalat Magomedov, líder dos guerrilheiros do Daguestão, morto em 2009. Ela foi uma das autoras dos atentados suicidas a bomba contra o metrô de Moscou, que matou 40 pessoas em março de 2010

Com o fim da URSS, surgiram movimentos de independência em vários pontos do território russo

AFP

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84 atualidades vestibular + enem 2011

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Ditaduras militares no banco dos réus

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H á mais de 30 anos, todas as quin-tas-feiras, centenas de mulheres se reúnem na Praça de Maio, em

Buenos Aires, a capital da Argentina. São mães, mulheres, tias ou irmãs que cobram do governo o paradeiro de seus parentes durante a ditadura militar e protestam contra a impunidade diante do palácio presidencial.

O movimento, batizado de Mães da Praça de Maio, começou em 1977, um ano depois de instaurada a ditadura militar na Argentina. Consta que teve início com

cerca de dez mães procurando seus filhos. Anos depois, o número de desaparecidos chegaria a uma estimativa de 30 mil.

A ditadura militar na Argentina foi uma das várias instaladas na América Latina entre os anos 1960 e 1980. Nesse período, o mundo viveu em plena Guerra Fria – confronto ideológico, político, econô-mico e militar travado entre dois blocos internacionais de países: o capitalista, liderado pelos Estados Unidos e com o apoio da Europa Ocidental; e o comu-nista, encabeçado pela União Soviética.

Na década de 1960, as tensões na Amé-rica Latina aumentaram, após a revolu-ção em Cuba, em 1959, que instaurou um regime comunista e rompeu com os Estados Unidos em 1961. Em outros países, houve o crescimento político e vitórias eleitorais de partidos trabalhistas e socialistas, com propostas de esquerda, como a reforma agrária e a estatização de empresas multinacionais, entre outras mudanças. Como reação, ocorreram gol-pes de Estado militares e a instauração de ditaduras, com o apoio direto ou indireto do governo dos Estados Unidos.

ArgentinaEm 1974, a morte de Juan Domingo

Perón, do Partido Justicialista (PJ), dá início a um período conturbado. Prin-cipal presidente da história argentina, com vários mandatos desde a década de 1940, ele havia sido novamente eleito no ano anterior. Com sua morte, assume a Presidência sua mulher e vice-presidente, Isabelita Perón. Nesse período, a dissi-dência entre duas facções rivais do PJ leva o país a um conturbado momento político. Isabelita chega a adotar uma postura favorável aos setores conserva-dores, apoiados pelas Forças Armadas. Mesmo assim, os conflitos continuam, e em 1976 o general Jorge Rafael Videla dissolve o Congresso Nacional e instala uma ditadura. Videla inicia a “guerra suja”, uma perseguição sistemática aos opositores do regime militar, com prisões, torturas e assassinatos.

Em 1982, após uma crise econô-mica e a derrota militar na Guerra das Malvinas – território britâni-co no Atlântico Sul reivindicado pela

Argentina –, o regime militar acaba en-fraquecido. O então presidente, o general Reynaldo Bignone, negocia a transição para a volta dos civis ao poder. Eleito, Raúl Alfonsín assume a Presidência em 1983 e determina a prisão das juntas mi-litares. Anos depois, após protestos de militares contra o julgamento de oficiais da ditadura, Alfonsín envia ao Congres-so Nacional leis que anistiam oficiais subalternos e limitam as possibilidades de processo, mas elas são revogadas em 2005 por serem inconstitucionais.

BrasilA origem da ditadura militar brasileira

está ligada à crise institucional vivida pelo país no início de 1960. Após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, seu vice, João Goulart (Jango), assume a Presidência. Em 1963, Jango lança o Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e, em seguida, as reformas de base (agrária, bancária, eleitoral e fiscal), que acirram a crise institucional. Os setores mais con-servadores saem às ruas para protestar contra a crise econômica e a política do presidente, considerada de esquerda. Com o pretexto de combater a ameaça comunista, em 1964 as Forças Armadas depõem o presidente e assumem o poder. Tem início um longo período de repres-são, com o fechamento de entidades civis, como a União Nacional dos Estudantes (UNE), cassações políticas e prisões.

Durante a ditadura, o Brasil teve seis presidentes militares, que governaram decretando inúmeros atos institucionais (AI). Nesses atos, os presidentes militares se autoconcediam poderes excepcionais, como fechar o Congresso ou suspender direitos civis. Foi o que ocorreu com o mais famoso deles, o AI-5, de dezembro de 1968. Após anos de repressão, um gran-de movimento da população, iniciado em 1983, exige a volta das eleições diretas para presidente. Apesar de diversas ma-nifestações, o Congresso não aprova as Diretas Já. Em 1985, um Colégio Eleitoral elege Tancredo Neves para presidente do Brasil, que adoece na véspera da posse. Tancredo morre em abril do mesmo ano e em seu lugar assume o vice, José Sar-ney – posse que marca o fim da ditadura. Durante os 21 anos de regime militar, centenas de pessoas foram assassinadas e outros milhares torturados nos porões da ditadura.

Argentina, Chile e Uruguai levam à Justiça os criminosos de sua ditadura militar. No Brasil, esse processo está em discussão

por mariana nadai

DESAPARECIDOS Detalhe de mural com fotos de perseguidos e desaparecidos, na Praça de Maio, em Buenos Aires, em 2007

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86 atualidades vestibular + enem 2011

InternacIonal AMÉRICA LATINAk

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América Latina

argentina 1976-1982 Com o pretexto de conter uma crise política, o general Jorge Rafael Videla dissolve o Congres-so e instaura uma ditadura em 1976. Cerca de 30 mil pessoas morreram ou ainda estão desaparecidas. Em 1982, o general Reynaldo Bignone, presidente na época, negocia a volta dos civis ao poder. No ano seguinte, Raúl Afonsín é eleito presidente.

brasil 1964-1985 Em 31 de março de 1964, um golpe de Estado militar depõe o presidente João Goulart. Centenas de pessoas são assassinadas e outros milhares torturados nos porões da di-tadura. O marco do fim do regime é a posse de José Sarney, vice de Tancredo Neves, em 15 de março de 1985.

Chile 1973-1989 Um golpe militar de-põe o presidente Salvador Allende, e o general Augusto Pinochet assume o poder. A repressão resulta em cerca de 3 mil mortos e milhares de desapareci-dos e exilados. Em 1989, a eleição direta do candidato civil Patricio Aylwin para presidente marca a transição para a democracia.

uruguai 1973-1984 Com o apoio dos militares, o presidente Juan Maria Bor-daberry fecha o Congresso e suspende a Constituição, em 1973. Mais de 4 mil pessoas são torturadas e centenas são mortas. A redemocratização tem início em 1984, com a eleição à Presidência do civil Julio Sanguinetti. Punições A ditadura na América La-tina foi marcada pela prisão, tortura e morte de milhares de oposicionistas, à margem da lei. Argentina, Chile e Uruguai estão atualmente julgando os criminosos daquele período. No Brasil, entidades e movimentos civis pedem a revisão do caráter de abrangência da Lei de Anistia quanto a permitir o processo e julgamentos dos militares acusados de crimes contra os direitos humanos. Também é cobrada a aber-tura à consulta pública dos arquivos secretos da repressão. O governo fe-deral tem indenizado as pessoas que comprovadamente foram prejudicadas pela repressão da ditadura militar.

qresumo

brasil Começa a ser julgado Por desaPareCidos no araguaia

Fernando Gallo

A Corte Interamericana de Direitos Hu-manos, órgão da OEA (Organização dos Estados Americanos), iniciou ontem, na Costa Rica, o julgamento da ação em que o Estado brasileiro é acusado de violações no combate à guerrilha do Araguaia, durante a ditadura (1964-85). Segundo o Cejil (Centro pela Justiça e o Direito Internacional), uma das orga-nizações responsáveis pela acusação, nas ações do exército brasileiro houve detenção, tortura, desaparecimento e execução de pelo menos 70 pessoas. É a primeira vez que uma acusação

de crimes de direitos humanos co-metidos pelo Estado brasileiro é jul-gada em uma corte internacional. O tribunal ouviu pela manhã depoimen-tos de parentes de desaparecidos, que relataram suas experiências durante 30 anos na tentativa de localizar familiares e levar os responsáveis ao banco dos réus. Eles acusam o governo de criar obstáculos às investigações. (...)

Como signatário da OEA, o Estado brasileiro deve, em tese, acatar uma eventual condenação, que pode até determinar uma revisão da Lei de Anis-tia, entre outras punições. O ministro Nelson Jobim (Defesa), no entanto, indicou que o Brasil pode descumprir decisão nesse sentido.

Folha de S.Paulo, 21/5/2010

Saiu na imprensaAlém de suprimir as liberdades civis, as ditaduras militares latino-americanas se caracterizaram pela perseguição, prisão, tortura e assassinato de oposicionistas

ChileEm 1970, é eleito presidente do Chile

o socialista Salvador Allende, da Unidade Popular (aliança de socialistas, comunistas e cristãos de esquerda). Seu governo na-cionaliza mineradoras norte-americanas e se torna alvo de uma campanha de de-sestabilização promovida pelos Estados Unidos. Três anos depois, Allende é de-posto por um golpe militar e se suicida no palácio presidencial de La Moneda. O general Augusto Pinochet assume o poder, chefiando uma junta militar que dissolve os partidos políticos e inicia um período de censura à imprensa, de repressão e de assassinato dos oposicionistas. Em 1988, Pinochet é derrotado em um plebiscito sobre sua permanência no poder por mais oito anos, e começa a transição para o atual período democrático. No ano seguinte, é eleito presidente o candidato democrata-cristão Patricio Aylwin. A violência da ditadura deixou cerca de 3 mil mortos e milhares de desaparecidos e exilados.

UruguaiEleito presidente do Uruguai em 1971,

o conservador Juan Maria Bordaberry assume com a meta de derrotar o grupo guerrilheiro de esquerda Tupamaro. Em 1973, com o apoio dos militares, Bordaberry fecha o Congresso, suspende a Constituição e instaura uma ditadura. No fim da década de 1970, os EUA chegam a cancelar a ajuda

militar e econômica ao país, em represália às violações dos direitos humanos. Em 1980, as Forças Armadas são derrotadas em plebis-cito para referendar a nova Constituição, o que acelera a abertura democrática. A redemocratização ocorre de fato em 1984, com a elei-ção à Presidência do civil Julio Sanguinetti. Durante a ditadura militar, foram torturados mais de 4 mil e mortos centenas de opo-sitores ao regime.

Punição aos torturadores

Além da supressão das liberdades civis, a ditadura latino-americana se caracte-rizara pela perseguição, tortura, prisão e morte de milhares de oposicionistas. Mas, após o retorno à democracia, sob pressão de diversos setores sociais, alguns países começaram a olhar para seu pas-sado e julgar os acusados pelos crimes, para virar essa página de sua história. Esses são os casos da Argentina, do Chile e do Uruguai.

Apesar de a ditadura da Argentina durar sete anos, de 1976 a 1983, nela milhares de civis foram assassinados em centros clandestinos. No Campo de

Mayo, o maior complexo de detenção no país naquela época, funcionaram quatro centros de tortura e uma maternidade onde as prisioneiras davam à luz. Após o parto, as mães eram separadas do filho e, na maioria das vezes, eram mortas. Os re-cém-nascidos eram entregues em adoção a famílias de militares ou policiais sem filho. Estima-se que 500 crianças tenham sido sequestradas e adotadas dessa forma no período. Tais atrocidades provocaram protestos que duram até hoje na capital do país, como o já citado movimento das Mães da Praça de Maio.

Sob pressão das entidades civis, os au-tores e participantes desses crimes estão sendo julgados e punidos. As leis que os perdoavam foram anuladas em 2003 pelo Congresso. Até 2008, mais de 200 milita-res foram processados ou presos. Entre eles estão nomes importantes, como o general Reynaldo Bignone, o último pre-sidente da ditadura, condenado, em abril deste ano, a 25 anos de prisão.

Em 2009 foi aprovada lei que autoriza a coleta compulsória de material genético (como saliva ou cabelo) de pessoas sus-peitas de serem filhos de vítimas da di-tadura. Até meados de 2010, mais de 100 “bebês da ditadura” haviam sido identifi-cados. Em janeiro de 2010, a presidente Cristina Kirchner decretou a abertura à

consulta pública dos arquivos sigilosos das Forças Armadas, antes guardados como confidenciais.

Nos últimos dez anos, o Chile também tem se movimentado para julgar e punir os criminosos do passado. Muitos agentes da ditadura já foram condenados, alguns à prisão perpétua. Em setembro de 2009, a Justiça chilena indiciou 131 ex-agentes da Direção Nacional de Inteligência (Dina), órgão repressor da ditadura. Foi definido que primeiro se investigará cada caso an-tes de se decidir se esses agentes podem ou não ser anistiados. Em 2004, a Justiça derrubou a imunidade política do ex-presidente Augusto Pinochet. Nos anos seguintes, o general Pinochet foi proces-sado pelo assassinato de 119 militantes de esquerda e também por casos de tortura, sequestro e desaparecimento.

No Uruguai, alguns julgamentos estão ocorrendo, apesar de um referendo rea-lizado em 2009 ter mantido a vigência da Lei de Caducidade, que anistiou os crimes cometidos por militares durante a ditadura. Entre outras autoridades, foram condenados à prisão dois ex-presidentes ditadores: o general Gregorio Alvarez, em 2009, a 25 anos de prisão, e Juan Borda-berry, em 2010, a 30 anos de detenção, ambos por dezenas de assassinatos e desaparecimentos de opositores.

Brasil: sem investigaçãoNo Brasil, a Justiça não aceita e arquiva

os processos contra militares por crimes da ditadura, por prescrição do prazo legal, que se dá quando o réu não pode mais ser condenado, por ter se passado muito tempo do delito. Também considera que a Lei de Anistia de 1979, decretada pelo presidente João Figueiredo, anistiou todos os acusados por crimes políticos, incluindo os próprios militares. Porém, há quem considere juri-dicamente que a lei não pode anistiar os militares acusados, uma vez que o texto não cita os crimes da ditadura, pois o governo militar nunca os admitiu.

Apesar disso, o Estado brasileiro de-cidiu responsabilizar-se pelos crimes e indenizar as pessoas prejudicadas por perseguição ou prisão na ditadura. Mais de 2 bilhões de reais já foram destinados a reparações. Estas também causam po-lêmica, pois há quem julgue moralmente errado indenizar pessoas que cometeram ilegalidades; outros consideram que é um desvio de uma solução republicana, que seria julgar e punir os criminosos.

Em abril de 2010, o Supremo Tribu-nal Federal (STF) julgou e rejeitou ação proposta pela Ordem dos Advogados do Brasil que questionava a abrangência da Lei da Anistia para os militares acusados de crimes na ditadura. u

SEM PRIVILÉgIo O general e ex-ditador Gregorio Alvarez, na polícia: processado e condenado a 25 anos de prisão no Uruguai, em 2009

em 1975, por uma iniciativa do go-verno chileno de augusto Pinochet, os governos ditatoriais da américa latina (brasil, uruguai, argentina, Paraguai e bolívia) estabeleceram uma aliança. o acordo consistia no apoio político entre os governos da região na perseguição aos que se opunham às ditaduras. nascia aí a operação Condor, que apagou as fron-teiras dos países participantes, que se articularam na repressão aos adversários

políticos. a organização foi dividida em três fases: a fase 1 consistia na troca de informações entre os países sobre pes-soas consideradas subversivas. a fase 2 foi marcada por ações contra essas pes-soas, dentro dos países-membros. a fase 3 ampliava as ações para os demais países, como o assassinato do ex-embaixador chileno orlando letelier, em 1976, em um atentado a bomba, em Washington, a capital dos estados unidos.

operação Condor: perseguição sem fronteiras

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Efeito dominóA crise econômica originada na Grécia ameaça vizinhos e lança dúvidas quanto ao futuro do euro, o maior símbolo da integração europeia

Por denise Odorissi

Q uando ensaiava uma recupera-ção econômica da crise mundial iniciada em 2008, a União Euro-

peia (UE) voltou à beira do abis-mo. E a fenda começou a se abrir justa-mente na Grécia, uma das economias mais frágeis do bloco.

Os dois momentos estão intimamente ligados. Nos últimos anos, a Grécia fez em-préstimos pesados, financiou crescimento econômico médio de 4% ao ano entre 2001 e 2008, mas também elevou demais os gas-tos públicos e o endividamento do Estado. Quando a crise de crédito estourou, em 2008, o país não tinha recursos para lidar com ela e não conseguia novos emprésti-mos por já estar muito endividado.

Para tentar amenizar o problema, o governo grego aumentou ainda mais seus gastos para dar incentivos a diversos setores da economia. Mas não adiantou: o desemprego aumentou, desaqueceu o consumo e a arrecadação de impostos, em 2009. A dívida pública se aprofundou e o déficit no orçamento – ou seja, a di-ferença entre o que o país gasta e o que arrecada – ficou em 13,6% do Produto Interno Bruto (PIB), um dos mais altos da Europa e quatro vezes acima do previsto pelas regras impostas aos 16 integrantes da UE que utilizam o euro como moeda. Um ranking internacional pôs a Grécia, em abril, em quarto lugar entre os países que apresentam o maior risco para os investidores internacionais.

Socorro internacionalSem encontrar outra alternativa, o

primeiro-ministro grego, Georges Panpa-dreu, pediu empréstimos à UE e ao Fun-do Monetário Internacional (FMI) para evitar dar um calote de 270 bilhões de euros aos credores (a moratória, que é quando o país para de pagar suas dívidas por falta de recursos).

Preocupados com que a crise de cré-dito pudesse se espalhar para os países vizinhos, a UE e o FMI rapidamente anunciaram um plano de ajuda à Gré-cia no valor recorde de 110 bilhões de euros – quantia que corresponde a quase a metade do PIB do país.

A contrapartida exigida da Grécia tam-bém foi grande:

a) o déficit público do país precisará ficar abaixo de 3% até 2014;

b) a Grécia tem de economizar cerca de 5% do PIB até 2013;

c) a arrecadação do governo deve subir o equivalente a 4% do PIB até 2013.

Para cumprir as novas exigências, o governo decidiu aumentar impos-tos, demitir e con-gelar salários do funcionalismo público, cortar benefícios tra-balhistas, como férias e bônus, e reformar o sistema previdenciário. Vários pacotes desse tipo foram anunciados em poucos meses. Divulgou-se também um amplo pacote de privatizações que inclui até a área de saneamento básico.

A reação da população foi das piores. Em maio, milhares de pessoas saíram às ruas da capital do país, Atenas, em protestos violentos contra as medidas de austeridade lançadas pelo governo para conter a crise. Sindicatos convocaram greves, e a nação passou dias paralisada. Três pessoas morreram e mais de uma dezena ficou ferida em choques com a polícia durante as manifestações – que incluíram bombas, depredação e incêndio de prédios públicos.

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* Não integram a Zona do Euro

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*Reino Unido

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*Letônia

*Lituânia

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*Polônia

Os dez maiores (em % do orçamento anual sobre o PIB)

DÉFICITS NA UNIÃO EUROPEIA – 2009Apenas as superiores a 60% do PIB (em %)

DÍVIDAS PÚBLICAS NA UNIÃO EUROPEIA – 2009

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*HungriaFra

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AlemanhaMalta

*Reino Unido

Áustria

Irlanda

Holanda

ECONOMIAS QUE AMEAÇAM A UE exige que cada país mantenha seu déficit público em um limite máximo de 3% do PIB. Em 2009, 25 dos 27 membros aumentaram suas dívidas em relação ao PIB. A junção de déficits e dívidas públicas elevadas é o que preocupa no grupo PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha). Como o déficit da Itália é de 5,3% e a dívida pública da Espanha é de 53,2% , os dois países não aparecem no gráficos de déficit e de dívida pública, respectivamente.

Fonte: EurostatFonte: Eurostat

* Não integram a Zona do Euro

Euro em riscoAo liberar a ajuda bilionária à Grécia,

o FMI instou outros países europeus a adotar rapidamente planos de ajuste fis-cal. Como a economia do bloco europeu é interligada, há risco de outros países-membros entrarem em crise por causa da Grécia. Foi criado até um acrônimo para designar as nações que mais preocupam os investidores internacionais: PIIGS (com as iniciais de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha), numa referência à palavra porco em inglês, para indicar os países que estariam com uma economia suja. O grande problema é que esses países vio-laram as regras do Pacto de Estabilidade, pela qual eles só poderiam adotar o euro

violência Manifestantes entram em choque com a polícia em Atenas, durante protesto contra as medidas de austeridade do governo

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912011 atualidades vestibular + enem

se mantivessem um déficit orçamentário permanente menor do que 3% do PIB. Mas há meses eles passam longe disso.

Na Espanha, o déficit de 11,2% do PIB e, em 2009, a crise mundial provocaram uma queda de 3,6% no PIB, a maior taxa em 50 anos. Cerca de 20% da população está desempregada. O governo adotou medidas de austeridade para diminuir os gastos públicos em 50 bilhões de euros. Os sindicatos reagiram com greves. Tam-bém houve mobilização de trabalhadores na Irlanda e em Portugal, por causa do anúncio de ajustes no orçamento. É uma via de mão dupla, pois o corte de gastos aumenta o risco de recessão econômi-ca. A possibilidade de calote dos PIIGS é o maior desafio da Zona do Euro desde sua criação, em 1999. A falta de confiança dos investidores desvalorizou a moeda europeia, que atingiu em maio a menor cotação ante o dólar desde 2006. O pre-

União Europeia

importância É o maior bloco econô-mico mundial. O PIB da União Europeia é maior que o norte-americano, e ela exporta cinco vezes mais que os Esta-dos Unidos.

crise na Grécia O país entrou numa crise de insolvência financeira no início de 2010: atingiu um endividamento público tão elevado que não conseguiu mais empréstimos. A União Europeia e o Fundo Monetário Internacional acertaram uma ajuda bilionária ao país. Em troca, a Grécia se comprometeu a cortar gastos sociais, a aumentar a ar-recadação e a realizar privatizações.

Fraudes Financeiras A UE investiga a denúncia de que o governo da Grécia teria feito ao menos uma operação fraudulenta, em 2001, com o banco norte-americano Goldman Sachs. Para ser aceito na Zona do Euro, o governo teria obtido 1 bilhão de dólares como se fosse uma operação cambial, e não um empréstimo. A denúncia estabe-leceu um vínculo com a crise iniciada nos EUA em 2007, na qual a falta de fiscalização do mercado financeiro e imobiliário levou a uma crise econô-mica internacional.

inteGração ameaçada A crise na Grécia ameaça a credibilidade da Zona do Euro, o maior símbolo da integração europeia. Para evitar um efeito domi-nó, a UE pressiona outros governos do bloco a ajustar suas contas. Os países com déficits fora dos padrões foram batizados de PIIGS, sigla formada com as iniciais em inglês de Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, que sugere que suas economias são sujas.

protestos O aumento de impostos, o congelamento de salários dos funcio-nários públicos e o corte de benefícios trabalhistas desagradaram aos traba-lhadores, que organizaram greves e protestos. Três pessoas morreram.

tratado de lisboa A UE aprovou, no fim de 2009, o Tratado de Lisboa, com o objetivo de reforçar as instituições do bloco e simplificar a administração e o processo decisório da união.

qresumo

europa precisa de 10 anos para se recuperar, diz FmiJamil Chade, correspondente em Genebra

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que os países altamente endivida-dos da Europa poderão levar de 10 a 20 anos para pôr as suas contas em ordem e voltar a ser competitivos. O recado foi dado no dia em que uma missão do FMI, União Europeia e Banco Central Europeu desembarcou na Grécia para começar a avaliar a situação do país.

(...)Apesar das promessas do governo de

que cumprirá a reforma de seus gastos, a missão internacional quer garantias de que terá acesso aos detalhes e evitar, como em 2009, que os dados entregues pelos gregos a Bruxelas sejam adulte-rados. Até meados de março, os gregos

terão que provar que estão cortando gastos e reformando suas contas.

Mas a missão internacional ainda vai se deparar com um país paralisado. Hoje, empresas aéreas, trens, o trans-porte marítimo, funcionários públicos e empresas fecharão suas portas em protesto contra as ideias do governo de cortar salários e pensões.

(...)O presidente do Banco Central grego,

George Provopoulos, tentou passar a mensagem de que não há outra alter-nativa a não ser o corte de gastos, pois o déficit é insustentável. (...) Ele ainda ensaiou uma autocrítica, indicando que a recessão mundial em 2009 foi apenas parte do problema. O déficit, segundo ele, seria resultado do desequilíbrio interno do país.

Estado de S. Paulo, 24/2/2010

Saiu na imprensa

sidente norte-americano, Barack Obama, cobrou da primeira-ministra alemã, Angela Merkel, uma resposta rápida aos proble-mas econômicos da UE – a maior parceira comercial dos EUA. Se a crise se agravar, também o Brasil poderá ser prejudicado, pois deverá diminuir o dinheiro disponível para emprestar às empresas brasileiras.

Autoridades financeiras da Europa aprovaram um fundo de emergência de 440 bilhões de euros para socorrer eco-nomias em dificuldade. Até mesmo a Alemanha e o Reino Unido (país que não integra a Zona do Euro) adotaram medi-das para limpar suas finanças públicas e se proteger contra o efeito dominó que a crise na Grécia ameaça desencadear.

Integração econômicaSessenta anos após a sua fundação,

o principal desafio da UE é passar ao mundo a imagem de um bloco sólido. Para tanto, precisa conciliar os interes-ses dos 27 países-membros e promover um modelo eficiente de crescimento e cooperação. Mas o horizonte mostra in-certezas. Em abril, o nível de desemprego bateu recorde, com 10% da população da UE sem trabalho. A atual crise levanta

dúvidas sobre a eficiência de uma moeda única para economias tão diferentes. Especula-se, até mesmo, uma futura desfragmentação da Zona do Euro. Ao mesmo tempo, está em discussão uma maior integração econômica, mas ainda não há consenso acerca do que deve ser unificado. Alguns governos defendem, por exemplo, a criação de uma autoridade para coordenar as políticas nacionais de exportação, importação, finanças e orça-mento. Mas poucos concordam em abrir mão de dirigir a própria economia.

No plano político, a UE deu um gran-de passo no fim do ano passado, com a aprovação do Tratado de Lisboa. O bloco passou a ter um chefe de relações inter-nacionais e um presidente com mandato de dois anos e meio, com possibilidade de uma reeleição, no lugar do sistema rotativo de seis meses. Além disso, a partir de 2014, para que um projeto seja aprovado bastará que ele tenha o apoio de 55% de votos dos países-membros, desde que estes repre-sentem 65% do total de habitantes do blo-co. Essa mudança contorna a necessidade de plebiscitos nos quais podem ocorrer rejeições que levam a impasses.

História A União Europeia é o maior bloco eco-

nômico do planeta, com um PIB maior que o norte-americano. Sua Constituição foi instituída nos últimos 60 anos, após a II Guerra Mundial.

O bloco teve origem em 1951, quando seis países – Alemanha Ocidental, França, Bélgi-ca, Holanda, Itália e Luxemburgo – funda-ram a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (Ceca). Em 1957, o Tratado de Roma criou a Comunidade Econômica Europeia (CEE), instituindo as “quatro liberdades fundamentais” (livre circulação de pessoas, de mercadorias, de capitais e de serviços). Entre 1973 e 1995, entraram para a comu-nidade Dinamarca, Reino Unido, Irlanda, Grécia, Espanha, Portugal, Áustria, Finlân-dia e Suécia. Com o Tratado de Maastrich, em 1992, nasceu a União Europeia.

Em 2004, houve a maior ampliação, com o ingresso de mais dez nações: Eslováquia, Eslovênia, Hungria, Estônia, Letônia, Li-tuânia, Polônia, República Tcheca, Chipre e Malta. Também passaram a fazer parte do bloco, em 2007, a Romênia e a Bulgária – dois dos países mais pobres da Europa, levando a população total da UE a quase meio bilhão de habitantes.

União Europeia

Zona do euro

Países candidatos

BULGÁRIA

DINAMARCA

ESPANHAPORTUGAL

ESTÔNIA

HUNGRIA

LETÔNIA

LITUÂNIA

POLÔNIA

REINOUNIDO

REPÚBLICATCHECA

SUÉCIA

ROMÊNIA

CHIPRE

ESLOVÁQUIA

FRANÇA

IRLANDA

LUXEMBURGO

BÉLGICA

HOLANDA(PAÍSES BAIXOS)

ALEMANHA

ITÁLIA

FINLÂNDIA

GRÉCIA

ÁUSTRIA

MALTA

Fonte: Eurosat

ESLOVÊNIA

A UNIÃO EUROPEIA CHEGA A 27 PAÍSES

ISLÂNDIA

CROÁCIA

MACEDÔNIA TURQUIA

Situação de 2009

Imigração e crescimentoCom a incorporação de países do Leste

Europeu, a UE ampliou sua preocupa-ção com a imigração. O bloco endureceu o controle de alfândega na fronteira da Bulgária – com Macedônia, Sérvia e Tur-quia, que ainda não são membros. Além disso, cidadãos da Romênia e da Bulgária enfrentam restrições para entrar em dez países da Europa Central e Ocidental. Como registram altas taxas de desem-prego, os dois países são “exportadores” de imigrantes em potencial.

O temor da imigração barra há vários anos a negociação da adesão da Turquia, que registra uma histórica emigração. Além disso, o país enfrenta problemas por causa da prática da pena de morte, da diferença religiosa (a maioria dos turcos é islâmica), do conflito com o Chipre (país-membro da UE que tem parte do território ocupada pelo Exército turco) e da tensão com a minoria separatista curda.

A UE estima que haja entre 3 milhões e 8 milhões de imigrantes vivendo ilegalmente no bloco, número que cresce até 500 mil ao ano. Apesar de clandestina, essa força de trabalho representa algo entre 7% a 16% do PIB europeu. A maioria dos ilegais está em empregos que exigem mão de obra barata,

Além da Grécia, outros países-membros da UE preocupam os investidores internacionais

como construção civil e faxina, que, em boa parte, não atraem os próprios europeus. As estimativas indicam que até 2050 a UE precisará de mais 20 milhões de trabalha-dores estrangeiros para manter o ritmo de sua economia, em razão da queda na taxa de natalidade da população. Ciente disso, o bloco costuma incentivar a entrada de estrangeiros, de maneira controlada.

Novos membrosUm país que deve finalizar ainda neste

ano o processo de adesão à UE é a Croá-cia, nascida da desagregação da antiga Iugoslávia. Para tanto, o governo tem o desafio de combater a corrupção no país, além de promover uma reforma no siste-ma judiciário e na administração pública. Um dos obstáculos para a negociação era uma disputa territorial com a Eslovênia, mas ela foi resolvida em 2009.

Quanto à Zona do Euro, mesmo com a crise de crédito, oito países ainda estão na fila para adotar a moeda europeia. Estô-nia, Bulgária, Lituânia, Letônia, Hungria, Romênia, Polônia e República Tcheca devem finalizar o processo em até dez anos. Enquanto isso, Islândia e Dinamarca já enviaram consultas formais à Comissão Europeia com esse objetivo. u

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92 atualidades vestibular + enem 2011

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GréciaCapital AtenasLíngua ofi cial GregoReligião pre do mi nan te CristianismoPopulação (2009) 11,2 milhões PIB US$ (2008) 356,8 bilhõesIDH (2007) 0,942

Fonte: AlmAnAque Abril 2010

METEORACORFU

Naxos

Creta Kárpathos

Rodes

Lesbos

Cós

Lemnos

Mykonos

Évia

Cefalônia

ILHASJÔNICAS

ATHOSMte. Olimpo

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MACEDÔNIAORIENTAL E

TRÁCIAMACEDÔNIAOCIDENTAL

MACEDÔNIACENTRAL

GRÉCIAOCIDENTAL

PELOPONESO

TESSÁLIA

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Mar Jônico

Mar Egeu

EGEU DO SUL

Mar Mediterrâneo

Aliákmon

Piniós

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Axiós

Struma

Évros

Arac

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Héraclion

Salônica

Delphi

Olímpia

Bassae Delos

Samos

Pátmos

Chios

Vergina

Tiryns

Micenas

Mystrás

Patras

Epidaurus

Rodes

AtenasPireu

ALBÂNIA

BULGÁRIA

TURQUIA

MACEDÔNIA

Patrimônio cultural

Patrimônio culturale natural

GréciaBerço da civilização ocidental e da ideia moderna de democracia, a Grécia sofre desequilíbrios econômicos que ameaçam outros países europeus

SócratesO pouco que se sabe sobre a vida e o

pensamento de SócrateS, um dos principais expoentes de toda a história da filosofia ocidental, vem de escritos deixados por seus discípulos, principalmente Platão. Sócrates não escreveu uma única linha. Segundo eles, o filósofo viveu em Atenas, entre 470 a.C. e 399 a.C., e foi considera-do o mais sábio dos homens, julgando-se imbuído da missão de conduzir os cida-dãos à sabedoria e à virtude. Sua técnica, chamada de Método Socrático, consistia em submeter o interlocutor a uma série de indagações, a fim de levá-lo a encon-trar as respostas por conta própria. Por meio de respostas contraditórias, Sócrates induzia as pessoas a reconhecer a pró-pria ignorância. Questionava as tradições gregas, entre elas os costumes e crenças. Sua inteligência, simplicidade e talento para a oratória se tornaram popular entre os jovens atenienses, o que despertou a atenção dos poderosos. Sócrates foi acu-sado de subversão por não acreditar nos deuses gregos e corromper a juventude. Foi condenado a suicidar-se tomando cicuta, veneno comum na época. Segundo Platão, Sócrates aceitou placidamente a sentença, mas, antes de morrer, incutiu uma dúvida nos seus acusadores: “E agora chegou a hora de nós irmos, eu para morrer, vós para viver; quem de nós fica com a melhor parte ninguém sabe, exceto o Deus”.

LegadoA importância dos gregos antigos para a

civilização ocidental pode ser notada pela retomada de seus valores em diferentes momentos da história, como o Renasci-mento, entre os séculos XIV e XVI, e o Iluminismo, no século XVIII. Uma das principais ideias legadas pelos gregos ao Ocidente é a de democracia, o governo do povo. Em Atenas, entre os séculos VI e IV a. C., vigorava um sistema político do qual participavam os cidadãos da cidade-estado. Por cidadãos entendiam-se os ho-mens livres nascidos na Grécia, maiores de 18 anos e que tivessem prestado serviço militar. Mulheres, estrangeiros e escravos não eram considerados cidadãos. A noção moderna de democracia é diferente, por-que é representativa (com representantes eleitos) e a cidadania se estende a toda a população. Em Atenas, como eram poucos os cidadãos, a democracia era direta.

A Grécia Antiga também influencia a filosofia que se segue à Antiguidade, com pensadores como Sócrates, Platão e Aris-tóteles. Nas artes, Aristófanes e Sófocles escrevem comédias e tragédias gregas que até hoje são encenadas. No campo científico, o matemático Pitágoras cria o teorema que leva seu nome e é ensinado nas escolas. E atribui-se a Hipócrates, considerado o pai da medicina, a auto-ria do juramento tradicionalmente feito pelos formandos na área.

CriseA expressão “tragédia grega”, comu-

mente usada como referência ao gênero dramático, ganha nova conotação no iní-cio de 2010. Passa a ser usada na imprensa como alusão à crise econômica que a Grécia atravessa e que ameaça outras economias da União Europeia (UE). Os gregos aderem, em 1981, à Comunidade Econômica Europeia (CEE), precursora da UE, e, em 2002, à zona do euro (adota o euro como moeda). Em 2009, a crise econômica mundial atinge o país com um forte desequilíbrio de gastos, pois seu déficit orçamentário no ano foi de 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB) – segundo os parâmetros do bloco, não deve passar de 3% do PIB. As razões apontadas para explicar esses números são os gastos sociais elevados, o inchaço do aparelho de Estado e as despezas para conter os próprios efeitos da crise. Para evitar que a Grécia dê calote na sua dívi-da, a UE aprovou um pacote de medidas de socorro ao país, com empréstimos bi-laterais de outras nações da zona do euro, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Com o auxílio, vem a imposição de que a Grécia corte em quatro pontos percentuais seu déficit orçamentário em 2010. Um plano de austeridade anunciado pelo governo grego levou milhares de pessoas às ruas em proteSto.

AntiguidadeO território grego atual corresponde à

península do Peloponeso e milhares de ilhas nos mares Egeu e Jônico. Mas na Antiguidade, período áureo da civilização grega, suas possessões são mais amplas. Durante o apogeu, no século V a.C., atin-gem o norte da África e a costa mediterrâ-nea até o que hoje é a França. As unidades político-administrativas são chamadas de cidades-estado, cujas mais notáveis são as rivais Atenas e Esparta. No século V a.C., a política expansionista grega esbarra em outra potência da época, a Pérsia, e desse embate surgem as GuerraS MédicaS, vencidas pelos gregos. Atenas reúne outras cidades-estado e cria a Confederação de Delos, visando a fortalecer o poder grego diante da ameaça estrangeira. Esparta, por outro lado, lidera a Liga do Pelopo-neso, opondo-se a Atenas. Os dois grupos acabam entrando em conflito, na Guerra do Peloponeso. Esparta sai vencedora, mas as sucessivas lutas por hegemonia entre as cidades-estado enfraquecem a Grécia e a tornam vulnerável. Assim, ela é dominada sem dificuldade por Felipe II da Macedônia, no século IV a.C. Seu filho e sucessor, Alexandre, o Grande, domina vasto território e difunde a cultura helê-nica (mistura de valores gregos com os de outros povos conquistados) pelo mundo antigo. Em 146 a.C., a região torna-se uma província romana.

MitologiaRica fonte de histórias, intrigas, heróis

e deuses, a mitologia grega sobrevive aos séculos graças à literatura clássica, que permite a conservação e transmissão dos relatos que na época eram em boa parte orais. Duas das obras mais importantes do período, os épicos Ilíada e Odisseia, são atribuídas a Homero, poeta que te-ria vivido no século IX a.C. Na Ilíada, a narrativa da Guerra de Troia é associada a reflexões sobre a vida do homem e sua relação com os deuses. A Odisseia conta as turbulentas aventuras do herói Ulisses em sua volta de Troia para casa, na ilha de Ítaca. Os mitos incluem narrativas diversas, como a criação dos deuses e do mundo, as contendas entre os deuses por supremacia e o triunfo de Zeus, os casos amorosos e os efeitos das aventuras e poderes divinos no mundo dos mortais. Assim, além da forma humana, os deuses possuem virtudes e defeitos humanos. Os deuses envolvidos nesses relatos formam a base da religião politeísta dos gregos antigos. Eles acreditavam que os habi-tantes do monte Olimpo controlavam as forças naturais e sociais. Em homenagem a Zeus, eram realizados os Jogos Olímpi-cos da Antiguidade, os quais servem de inspiração para as Olimpíadas modernas. A mitologia grega como religião entra em declínio em meio à ascensão do cristia-nismo, monoteísta, no século IV.

Tensões regionaisSob domínio turco desde o século XV, a

Grécia conquista independência em 1832. Seu território se amplia com a anexação de parte da Macedônia e da Trácia, em consequência da derrota turca nas Guer-ras Balcânicas, em 1913, e outras ilhas são anexadas gradualmente até 1947. Mas as relações entre Turquia e Grécia perma-necem deterioradas no decorrer do século XX, sobretudo em razão de disputas rela-tivas à ilha de Chipre. Chipre é um país independente, dividido, desde 1974, em uma área de comunidade greco-cipriota e outra turco-cipriota. Cada área possui governo, idioma, moeda e religião pró-pria. Mas o único país que reconhece a República Turca do Norte do Chipre é a Turquia. Também há divergências em relação à delimitação do espaço aéreo e do mar territorial entre Grécia e Turquia e à posse de ilhas no mar Egeu. O conflito reacende-se em 1995, quando a Grécia intercepta aviões turcos que sobrevoavam a ilha de Rodes. Em 1999, a troca de ajuda hu-manitária entre os governos dos dois países após terremotos em solo turco e em Atenas ameniza as tensões. No fim do mesmo ano, a Grécia retira suas restrições à entrada da Turquia na União Europeia. Apesar de as disputas territoriais permanecerem, as relações bilaterais melhoraram nos últimos anos. Em 2009, a Grécia defendia a entrada da Turquia na União Europeia.

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PortugalCapital LisboaLínguas ofi ciais PortuguêsReligião pre do mi nan te CristianismoPopulação (2009) 10,7 milhõesPIB US$ (2008) 242,7 bilhõesIDH (2009) 0,909

Fonte: Almanaque Abril 2010

Patrimônio cultural

Patrimônio natural

AÇORES

ILHA DA MADEIRA

ALGARVE

Serra da Estrela1.993 m

CÔA

ALTODOURO

AVEIRO

BEJA

BRAGABRAGANÇA

CASTELO BRANCOCOIMBRA

ÉVORA

FARO

GUARDA

LEIRIA

LISBOA PORTALEGRE

PORTO

SANTARÉM

SETÚBAL

VIANA DO CASTELO

VILA REAL

VISEU

Pico

S. JorgeFaial

FloresTerceira

S. Miguel

Sta. Maria

Porto Santo

Madeira

OCEANOATLÂNTICO

Golfo de Cádiz

Douro

Minho

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Tejo

Sorraia

Vouga

Sado

Zêzere

ESPANHA

Lisboa

Bragança

Vila Novade Gaia

Vila RealGuimarãesBraga

Amadora

Coimbra

Setúbal

Castelo Branco

Viana do Castelo

Portimão Faro

BatalhaTomar

Évora

Elvas

Portalegre

Beja

Sintra

Alcobaça

Porto

Angra do Heroísmo

Ponta Delgada

Funchal

PortugalPotência marítima durante a época colonial, Portugal é hoje uma das nações mais pobres da União Europeia e enfrenta uma grave crise financeira

SaramagoÚnico escritor de língua portuguesa a

receber o Prêmio Nobel de Literatura, em 1998, o português José saramago morre em junho de 2010. Ele nasce na aldeia de Azinhaga, ao sul de Portugal, em 1922. Anos depois se muda com a família para Lisboa, onde passa a maior parte da vida. Abandona os estudos secundários por razões financeiras e torna-se autodidata. Trabalha como serralheiro, desenhista, editor e funcionário público. É também crítico literário e comentarista político.

Sua carreira literária tem início em 1947, com o romance Terra do Pecado. Desem-pregado em razão do conturbado momento político – a ditadura de Salazar –, o escritor vive de traduções e de seus livros. Lança, em 1980, a obra Levantado do Chão e, dois anos depois, Memorial do Convento. Em 1991 publica um de seus livros mais polêmi-cos, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, no qual criticava duramente a Igreja Católica e a sacralização da Bíblia. O livro é censu-rado pelo governo português, e Saramago exila-se nas ilhas Canárias (Espanha), onde vive até a morte.

Saramago escreveu outros romances, entre eles O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986), Ensaio sobre a Cegueira (1995), O Homem Dupli-cado (2002), As Intermitências da Morte (2005) e, o derradeiro, Caim (2009), que também ironiza a Bíblia.

EndividamentoVinte e cinco anos depois da assinatura

do tratado de adesão à União Europeia (UE), Portugal sofre com a crise econômi-ca global iniciada em setembro de 2008. O país vinha apresentando baixo crescimen-to do Produto Interno Bruto (PIB) (tudo o que o país produz em um ano), menos de 2%, desde 2005. Em 2008, a economia entra em recessão, com decréscimo de 0,02%, e, em 2009, o PIB encolheu 2,5%, sinalizando uma grave crise. A dívida externa portuguesa, de 75% do PIB só é menor, na Europa, que a da Grécia (veja na pág. 92). Especialistas dizem que o fato de os portugueses terem parado de poupar pode ter agravado a crise. O governo adota medidas para tentar contê-la. No fim de 2008, repassa 20 bilhões de euros aos bancos e, pouco depois, estatiza o Banco Português de Negócios, após prejuízos milionários. No início de 2010 é aprova-do um plano de austeridade que prevê o aumento de impostos, corte no salário do funcionalismo público e privatizações. O objetivo é reduzir o déficit público (a diferença entre a arrecadação e os gastos públicos), de 9,7% do PIB (2009) para 2,8%, até 2013. O teto estabelecido pela União Europeia é de 3%.

Parte da população já se mostrou insatis-feita. Categorias como as dos professores, dos funcionários dos correios e dos trans-portes realizaram greves em todo o país.

Mão de obraCom a entrada do país na União Eu-

ropeia, em 1986, a economia nacional dinamiza-se. Para adequar-se ao restante do bloco, Portugal investe em infraes-trutura e no setor de serviços. A cons-trução civil vive grande expansão – com a criação e a ampliação de estradas e prédios comerciais – e o turismo tem um aumento expressivo, tornando-se uma das principais atividades econômicas do país. A agricultura, historicamente im-portante, é responsável por boa parte do PIB, com as exportações de vinho, azeite e cortiça. Mas o crescimento econômico do fim da década de 1990 se desacelera nos últimos anos.

Portugal é uma das nações mais pobres do continente europeu, porque nunca teve um parque industrial desenvolvido que permitisse uma competitividade no cenário regional e mundial. Uma parte dos habitantes – principalmente os jovens – não encontra trabalho no país e emigra para nações mais ricas do bloco, deixando para trás um vazio populacional. Como há relativamente pouca demanda por mão de obra especializada no país, os portu-gueses não têm qualificação profissional comparável à do restante da Europa Oci-dental. Assim, quando se encontram na condição de imigrantes em outros países, costumam ocupar postos de trabalho de remuneração mais baixa.

Expansão marítimaCom quase mil quilômetros de costa, no

oeste da península Ibérica, Portugal ocu-pa a vanguarda da expansão ultramarina europeia, iniciada no século XV. Centenas de anos antes, a região fora conquistada por guerreiros cristãos, os visigodos. No século VIII, os árabes invadem a península Ibérica, deixando marcas arquitetônicas, linguísticas e culturais. Com sua expulsão, em 1139 é criado o reino de Portugal.

Afonso Henriques, que havia lutado con-tra os árabes, é coroado o primeiro monar-ca. Os castelhanos invadem Portugal, mas são derrotados em 1385. Nesse ano, sobe ao trono dom João I, da dinastia Avis, que ajuda a consolidar a independência portu-guesa. No século seguinte, os portugueses se lançam à exPansão marítima, construin-do um império colonial na América, África e Ásia. Mas o país passa ao domínio da Es-panha de 1580 a 1640 e perde seu destaque para Inglaterra e Holanda.

A principal figura do Iluminismo portu-guês é o marquês de Pombal, ministro do rei dom José I, que impõe um duro regime de exploração das colônias e perseguição aos jesuítas. A iminente invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte leva a família real a mudar-se para o Rio de Janeiro, em 1808. Com a Revolução Liberal do Porto, em 1820, dom João VI volta a Lisboa. O país promulga a primeira Constituição, que cria um Parlamento e limita o poder do rei.

Revolução dos CravosA república portuguesa sofre um golpe

militar em 1926, dando início a um longo período ditatorial. Em 1932, António Sala-zar assume o posto de primeiro-ministro e, com uma nova Constituição, um ano depois, institui o Estado Novo. Seu gover-no, baseado na ideologia fascista, passa a enfrentar movimentos guerrilheiros pela libertação das colônias africanas a partir do fim da II Guerra Mundial. O ditador sofre um derrame cerebral em 1968 e afasta-se do poder. Seu substituto, Mar-celo Caetano, mesmo com dificuldades, mantém o regime ditatorial.

A luta pela libertação das colônias, que se intensificara na década de 1960, e uma grave recessão econômica causam descon-tentamento popular, inclusive nas Forças Armadas. Um grupo de oficiais lidera, en-tão, um golpe de Estado, em 25 de abril de 1974. Pacífico, o episódio fica conhe-cido como revolução dos Cravos, porque a população distribui flores aos militares rebeldes pelas ruas. Em seguida, é extinta a polícia política (Pide) e são legalizados os partidos políticos. Depois, o governo é assumido pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) – sob influência do Partido Comunista Português. O MFA promove a reforma agrária e estatiza bancos e indús-trias. Em 1975, são realizadas eleições para a Assembleia Constituinte, que promulga uma nova Constituição portuguesa.

MigraçãoA emigração portuguesa é forte nos

séculos XIX e XX, tendo no Brasil um im-portante destino. Após a II Guerra Mun-dial, porém, esse crescimento é maior em direção a outros países da Europa. No sentido inverso, desde os anos 1960, intensifica-se a chegada a Portugal de imigrantes das ex-colônias, como Angola, Moçambique e Cabo Verde. A partir dos anos 1980, constitui-se um fluxo migrató-rio de brasileiros a Portugal. Assim como os portugueses que deixaram seu país, os imigrantes africanos, brasileiros e até oriundos do Leste Europeu representam, em sua maioria, mão-de-obra pouco qua-lificada, muitos na ilegalidade.

Em agosto de 2007, uma lei regulariza a presença de 10 mil imigrantes ilegais. No entanto, o procedimento é suspenso dias depois, em virtude do grande número de pedidos de regulamentação. Portugal so-fre com ações da extrema direita contra a permanência dos imigrantes. Por outro lado, a economia nacional é beneficiada pelo dinheiro enviado por portugueses que vivem em outros países da Europa à família em Portugal. Uma das consequên-cias da crise econômica é a queda no nível de emprego, especialmente prejudicial aos imigrantes. A taxa de desemprego do país subiu de 7,6% em 2008, quando eclodiu a crise econômica global, para 10,6% no primeiro trimestre de 2010.

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EspanhaCapital MadriLínguas ofi ciais Espanhol e línguas regionaisReligião pre do mi nan te CristianismoPopulação (2009) 44,9 milhões PIB US$ (2008) 1,6 trilhãoIDH (2007) 0,955

Fonte: Almanaque Abril 2010

Cieza

EL ESCORIAL

DOÑANA/GARAJONAY

CUENCA

HÉRCULES

PENÍNSULAIBÉRICA

IBIZA

LUGO

BOÍ

MONTE PERDU

ARAGÃO POBLET

ALCALÁ DE HENARES

LAS MÉDULAS

BISCAIA

GARAJONAYHierro

Minho

Tejo

Ebro

Guadalquivir

Douro

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Estreito de Gibraltar

MURCIA

NAVARRA

EXTREMADURA

ANDALUZIA

GALÍCIA

CASTELA LA MANCHA

CASTELA E LEÃO

ARAGÃO

LA RIOJA

PAÍSBASCO

CANTÁBRIAASTÚRIAS

MADRI

CATALUNHA

VALENÇA

Gibraltar (RU)

Ilhas Baleares

Ibiza

Costa Brava

MINORCA

La Palma

Ilhas Canárias

Tenerife

Lanzarote

FuerteventuraGomera

MAIORCA

MarMediterrâneo

OCEANOATLÂNTICO

OCEANO ATLÂNTICO

Madri

CórdobaJaén

Baeza

Ubeda

Barcelona

Valença

Bilbao

Logroño

Valladolid

PamplonaVitória-Gasteiz

Guadalupe

Mérida

ZaragozaCalatayud

BurgosLeão

Santillanadel Mar

Segovia

OviedoSantiago deCompostela

ÁvilaTeruel

Cervera

CáceresToledo

Aranjuez

Tarragona

Santander

Albacete

San Millánde La Cogolla

Murcia

Alicante

Castellon

Sevilha

Cádiz

Palma deMaiorca

Gijón

Salamanca

Granada

Cartagena Sta. Cruzde la Palma

Gran Tarajal

Las Palmas deGran Canaria

Santa Cruzde Tenerife

Arrecife

Valverde

Alméria

P I R I N E U S

ANDORRA

FRANÇA

PORTUGAL

MARROCOS

Baía de Biscaia

Costa do Sol

Pico de Teide3.718 mMte. Mulhacén

3.487 m

Área de conflitoseparatista

Patrimônio cultural

Patrimônio natural

Patrimônio cultural e natural

EspanhaDona de um vasto patrimônio cultural e natural, o país é um dos destinos preferidos dos turistas, mas sua economia preocupa a União Europeia

Ceuta e MelillaTerritórios autônomos da Espanha,

encravados no norte da África, CEuta e Melilla são reivindicados pelo Marrocos desde a independência do país, na década de 1950. Até 1995, eram administrados por províncias espanholas – Ceuta por Cádiz e Melilla por Málaga. Desde então, pos-suem governo próprio, elegem senadores e deputados para o Parlamento espanhol e têm até o poder de decidir pela própria independência, se quiserem. Bases mili-tares espanholas estão presentes nos dois territórios. Ceuta tem 19,7 quilômetros quadrados e 74,6 mil habitantes. Melilla é menor, com 12,5 quilômetros quadra-dos e 68 mil habitantes. A economia se sustenta na atividade portuária e no tu-rismo. A relação entre a população de origem espanhola e a minoria muçulmana é conflituosa. Ceuta e Melilla enfrentam problemas com a afluência de imigrantes africanos buscando entrar ilegalmente na Europa, devido à proximidade com o estreito de Gibraltar. Muitos deles se afogam na travessia, por usar embarcações precárias. Para tentar conter o fluxo, é levantada uma cerca entre Ceuta e Mar-rocos em 2000. A visita do rei Juan Carlos a Ceuta, em 2007, a primeira em 30 anos, é condenada pelo Marrocos. Em 2008, a segurança no território é reforçada, após a expansão das atividades da Al Qaeda no norte africano.

País BascoEncravada entre o norte da Espanha

e o sudoeste da França, a região do País Basco tem cultura própria, sobretudo pela língua, o euskara, e sustenta um mo-vimento nacionalista desde fins do século XIX. A campanha pela independência cresce com a fundação do ETA (Pátria Basca e Liberdade), grupo armado ao qual são atribuídos cerca de 850 assassinatos políticos desde 1968. A Constituição de 1978 concede autonomia ao País Bas-co – que passa a ter Parlamento e força policial próprios, a controlar seu sistema educacional e a recolher impostos locais. Com isso, a maior parte do movimento nacionalista basco depõe as armas e cria partidos políticos. Mas a ala radical do ETA continua a luta pela independência. Na década de 1990, a prisão de diversos dirigentes do movimento e a reprovação popular à campanha de atentados do ETA levam o grupo ao isolamento. Em 2000, depois de uma série de assassinatos de autoridades, mais de 1 milhão de pessoas protestam em Barcelona contra o ETA. Após uma trégua de quase seis anos, dois guardas morrem num atentado a bomba atribuído ao grupo. No mesmo ano, os partidos acusados de ligação com o grupo são proibidos de disputar eleições regio-nais. As prisões de três chefes militares, entre 2008 e 2009, desarticulam ainda mais o movimento.

Pablo PicassoUm dos maiores artistas de todos os

tempos, o espanhol pablo piCasso inovou e modernizou as perspectivas artísticas do século XX. Nascido em Málaga, em 1881, é tutorado por seu pai, um professor de arte, até os 14 anos, quando vai estudar Belas Artes em Barcelona e depois em Madri. Na França, onde viveu a maior parte da vida (fugindo da ditadura de Franco), absorve influências de Toulouse-Lautrec e Gauguin. Sua obra é dividida em fases. O “Período Azul”, com quadros entre 1901 e 1904, é marcado por temas populares, como na tela O Desjejum do Cego. O “Período Rosa” (1904-1906) possui temática circense, como em O Ator. Mas a grande ruptura com a arte tradicional viria em 1907, com Les Demoiselles d’Avignon, obra que representa as três dimensões sem recorrer à técni-ca da perspectiva. É o início do cubismo, movimento de vanguarda que decompõe as imagens em figuras geo métricas. Em Guernica (1937), Picasso expressa o horror da Guerra Civil Espanhola retratando o sofrimento das vítimas de um bombardeio à cidade de mesmo nome. Artista prolífico, Picasso criou mais de 50 mil trabalhos em 92 anos de vida. Esse número inclui, além de pinturas, escultura, cerâmica, desenho, dramaturgia e poesia. Ele teve duas es-posas e várias amantes, que lhe serviam como modelo. Picasso morre em 1973, em Mougins, na França.

O paísAs fronteiras da Espanha, país que

ocupa 80% da península Ibérica, con-gregam povos de várias nacionalidades – castelhanos, catalães, galegos, andaluzes e bascos – que vivem em regiões com distintos graus de autonomia. Até o fim dos anos 1970, o país era um dos mais atrasados da Europa. O desenvolvimen-to começa a partir de 1980, graças aos subsídios da União Europeia. Até hoje a nação convive com realidades bastante distintas: possui indústrias de ponta e zonas rurais pobres de economia atrasa-da. Graças ao vasto patrimônio histórico, cultural e natural, a Espanha só perde para a França como o destino preferido dos turistas do mundo todo.

O país é alvo, em 2004, do grupo ter-rorista islâmico Al Qaeda. Um ataque a bomba a trens de Madri mata 191 pessoas e deixa 1,5 mil feridas. Dois meses depois, o recém-eleito primeiro-ministro José Luiz Zapatero retira as tropas espanholas do Iraque.

O governo de Zapatero tem aprovado legislação liberal, contrariando setores conservadores e as diretrizes da Igreja Católica. Em 2005, é aprovada medida que autoriza o casamento entre homos-sexuais e, no início de 2009, é legalizado o aborto até a 14ª semana de gestação para adolescentes entre 16 e 18 anos sem o consentimento dos pais.

Império colonialFenícios, cartagineses e gregos ocu-

pam a península Ibérica antes do Império Romano, que estabelece uma unidade política e introduz o cristianismo. No século V, os visigodos promovem, em certa medida, a unificação da penínsu-la, mas são derrotados pelos árabes, em 711. O domínio muçulmano termina 1492, quando Fernando de Aragão e Isabel de Castela reconquistam Granada, último reino islâmico na Espanha. O casal real financia a viagem marítima de Cristóvão Colombo, que chega à América no mes-mo ano, dando início ao império colonial espanhol no Novo Mundo. Esse vasto im-pério começa a ruir em 1713, com a perda de reinos europeus e, a partir do século XIX, com a independência das colônias. A República é proclamada em 1931 e, cinco anos depois, teve início a Guerra Civil Espanhola, que divide o país. De um lado, republicanos, socialistas e anarquistas. Do outro, o gEnEral FranCisCo FranCo, apoiado pela Igreja Católica, pela oligarquia e tam-bém pela Alemanha de Hitler e pela Itália de Mussolini. O militar ganha a guerra e impõe uma ditadura de feições fascistas, que perdura até sua morte, em 1975. Na ocasião, Juan Carlos I é coroado rei e, em seguida, inicia-se a redemocratização do país. A nova Constituição, de 1978, institui a monarquia parlamentarista e restabelece a liberdade partidária no país.

PIIGsO acrônimo PIIGs, em inglês, foi criado

como referência ao endividamento das economias de Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha (Spain, em inglês). São os países da União Europeia (UE) mais afetados pela crise econômica que estou-rou com a explosão da bolha imobiliária nos Estados Unidos, em setembro de 2008, e contagiou rapidamente outros países. O maior problema dessas nações diante da crise é sua dívida pública, agra-vada pelos gastos despendidos para ten-tar dirimir a própria crise. A Espanha, a partir de 2008, destina mais de 70 bilhões de euros a bancos e instituições financei-ras. O país entra em recessão em 2009, com recuo de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Uma das consequências mais nefastas da crise é o aumento da taxa de desemprego, que saltou de 7,6% em 2007 para 19,3% no fim de 2009, o dobro da média da UE. Como adotam o euro como moeda, os PIIGs não dispõem do artifício de desvalorizar a moeda para baratear a dívida até que seja possível pagá-la, pois apenas o Banco Central Europeu tem o poder de fazê-lo. Assim, a Espanha re-corre a medidas de austeridade fiscal e aprova o corte de 15 bilhões de euros nos gastos públicos em dois anos, na forma de redução de salários do funcionalismo público e do congelamento de aposenta-dorias e pensões.

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IrlandaCapital DublinLínguas ofi ciais Irlandês e inglêsReligião pre do mi nan te CristianismoPopulação (2009) 4,5 milhõesPIB US$ (2008) 281,8 bilhõesIDH (2007) 0,965

Fonte: AlmAnAque AbrIl 2010

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Dublin

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WaterfordRosslareHarbour

Dún Laoghaire

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IRLANDADO NORTE(ULSTER)

LagosKillarney

Mar daIrlanda

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OCEANOATLÂNTICO

Canal deS. JorgePatrimônio cultural

IrlandaÚltimo país a aprovar o Tratado de Lisboa, que cria novas instituições na União Europeia, a Irlanda enfrenta recessão e alta taxa de desemprego

Bono VoxDe maioria católica, a Irlanda reivindica

desde a independência a posse da Irlanda do Norte, majoritariamente protestante (o que foi fonte de muitos conflitos). É emblemático, portanto, que sir Paul Hew-son, o vocalista e líder da banda irlandesa U2, conhecido por BOnO VOX, seja filho de mãe protestante e pai católico.

Nascido em Dublin, em 1960, Paul teve educação religiosa, mas sem doutrina determinada. Estudou na Mount Temple Comprehensive School, onde ganhou seu apelido a partir dos aparelhos auditivos Bona Vox (boa voz, em latim). Lá foi onde conheceu o baterista do U2, Larry Mullen Jr., que havia espalhado anúncios em bus-ca de interessados em formar uma banda adolescente. Letras de músicas do U2 tratam de questões religiosas, políticas, sociais e tratam também de problemas da Irlanda. Umas das canções mais famosas, Sunday Bloody Sunday, refere-se ao Do-mingo Sangrento – 30 de janeiro de 1972 –, quando tropas britânicas mataram 14 civis norte-irlandeses em passeata por direitos civis. O episódio acabou radicalizando as ações do IRA contra o domínio britânico na Irlanda do Norte. Bono é conhecido por seu ativismo em prol de causas huma-nitárias. Criou a ONG (organização não governamental) One, que atua contra a pobreza e a aids. Por sua atuação, em 2003, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz.

EmigraçãoEntre o século XIX e a segunda me-

tade do século XX, a Irlanda é marcada por intensa emigração. Um dos antigos fatores que favoreceram a migração foi o desemprego crônico: em 1836, só um terço dos irlandeses estava empregado. A mão de obra excedente procurava tra-balho em outros países. A principal causa do fluxo emigratório no século XIX foi uma onda de escassez, conhecida como “fome da batata”, que atingiu a Irlanda nas décadas de 1840/1850. A batata era a base da dieta irlandesa, suprindo 60% das necessidades alimentares da população. A difusão de uma praga pelas lavouras arruinou sucessivas colheitas e tornou boa parte dos irlandeses em mendigos. A situação agravou-se com a propagação de doenças como tifo e cólera, em verda-deiras epidemias. Estima-se que 1 milhão de pessoas tenham morrido.

Para fugir da tragédia, por volta de 2 milhões de irlandeses emigraram, prin-cipalmente para os Estados Unidos, onde passaram a formar uma importante co-munidade. A presença dos irlandeses e seus descendentes nos EUA é muito sig-nificativa. O presidente John F. Kennedy, por exemplo, era de família de origem irlandesa. Um dos feriados mais populares na Irlanda, o Dia de São Patrício – intro-dutor do cristianismo no país – também é comemorado nos Estados Unidos.

RecessãoA Irlanda é um dos países mais afetados

pela crise financeira global e a primeira nação europeia a entrar em recessão, já em 2008. O resultado ruim persiste em 2009, com uma fortíssima redução de 7,1% do Produto Interno Bruto (PIB). A crise é agravada pelo alto déficit do orçamento público e pela elevada dívida externa, que prejudicam a economia, assim como pelo desemprego, que atinge 13,2% em abril de 2010.

O déficit orçamentário em 2009 foi de 14,3% do PIB – o limite imposto pela UE é de 3%. Visando a reduzir esse núme-ro para 4% do PIB até 2013, o governo aprova medidas como o corte de salários do funcionalismo público, o aumento de impostos e a revisão do sistema de aposentadorias. No início de 2009, 100 mIl pessOas tOmam as ruas de duBlIn para protestar contra elas. O bom desempenho do PIB irlandês no primeiro trimestre de 2010 – crescimento de 2,7% – abranda a apreensão dos demais países da União Europeia em relação à recuperação da economia do país. O setor de serviços e o industrial são a base da economia irlan-desa. Em 2008, o primeiro foi responsável por 65,6% do PIB e o segundo, por 32,2%. Os principais produtos agropecuários produzidos pela Irlanda são açúcar de beterraba, batata, trigo, cevada, carne bovina e laticínios.

HistóriaA Irlanda localiza-se em uma ilha no

oeste da Europa. Seu nome é Eire em irlandês, língua de origem celta. A história nacional remonta ao século IV a. C., quan-do tribos celtas de origem gaulesa se fixam na ilha e fundam a civilização gaélica. O cristianismo é trazido por São Patrício no século V. Devastada pelos vikings, no século VIII, a Irlanda divide-se em prin-cipados rivais, o que facilita a ocupação anglo-normanda em 1166. O rei Henrique VIII consolida a dominação inglesa sobre a ilha em 1541 e introduz o protestantismo. No reinado de Elizabeth I, os católicos começam a ser excluídos da vida pública. Nos séculos XVI e XVII, os irlandeses são despojados de suas terras, que se tornam propriedade de colonos ingleses.

Ainda no século XVII, imigrantes pro-testantes, vindos principalmente da Escó-cia, colonizam boa parte do norte da ilha, a região do Ulster. No início do século XX, intensifica-se a luta pela independência, com a criação do movimento político Sinn Féin (“Nós mesmos”, em irlandês). A organização lidera, em 1916, o Levante da Páscoa, sufocado com violência pelos britânicos. Em 1919, após criação de um Parlamento independente, é fundado o eXÉrCItO repuBlICanO IrlandÊs (IRA), bra-ço armado do Sinn Féin, que dirige uma insurreição pela independência. Em 1922, constitui-se o Estado Livre da Irlanda.

UlsterQuando a Irlanda se torna indepen-

dente, o Reino Unido mantém o controle sobre o norte da ilha, majoritariamente protestante. Mas a unificação da ilha con-tinua a ser uma causa nacional, expressa na Constituição da Irlanda até 1998. A partir dos anos 1960, o conflito no Ulster, chamado pelos ingleses de Irlanda do Norte, passa a ser um dos principais focos de tensão na Europa Ocidental.

As reivindicações da minoria católica por direitos civis reforçam a luta do IRA, e tem início uma guerra civil. O governo britânico intervém na região em 1972 e retira a au-tonomia do Ulster, assumindo as funções política e administrativa. As iniciativas de paz fracassam devido à radicalização dos protestantes e à intensificação das ações terroristas do IRA, que culminam no assas-sinato do embaixador britânico em Dublin, a capital da Irlanda, em 1976.

Em 1993, o Reino Unido e a Irlanda admitem o direito do Ulster à autode-terminação. Após 30 anos de conflito e mais de 3,5 mil mortes, é assinado em 1998 um acordo de paz entre católicos e protestantes da Irlanda do Norte, com a participação do Reino Unido e da Irlanda. Em 2005, o IRA anuncia o abandono da luta armada. O poder na Irlanda do Norte é dividido entre o Sinn Féin (católico) e o Partido Democrático Unionista (DUP, protestante) a partir de 2007.

União EuropeiaA Irlanda adere à União Europeia (UE),

na época Comunidade Econômica Euro-peia (CEE), em 1973. No início dos anos 1980, o país vive um período recessivo, provocado por déficits orçamentários e pela elevada dívida externa. Na década seguinte, a economia se recupera e as indústrias de ponta gradualmente to-mam o lugar da agricultura como pilar da economia, com base em investimentos estrangeiros. Houve também boa melhora no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede o bem-estar da popu-lação. Subiu de 0,840 (1980) para 0,965 (2007), o quinto melhor do mundo.

Em 2008, a Irlanda rejeita, em refe-rendo, o Tratado de Lisboa e provoca uma crise política na União Europeia. O tratado é uma versão com alterações da Constituição Europeia, que, em 2005, havia sido recusada pelas populações da França e Holanda em referendo. O novo documento cria a Presidência da UE e o Ministério das Relações Exteriores. Única nação a submetê-lo à aprovação popular, a Irlanda trava o cronograma europeu, pois o documento precisa ser aprovado por unanimidade para entrar em vigor. Após obter garantias de que as normas não afetarão a soberania irlandesa em assuntos-chave, como aborto e defesa, o país faz nova consulta em 2009. Desta vez, 67,3% dos eleitores aprovam o tratado.

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antonio carlos borja/arquivo circo editorial

100 atualidades vestibular + enem 2011 1012011 atualidades vestibular + enem

brasil Glaucok

o brasil nos traços de

glaucoCom charges e quadrinhos em estilo inconfundível,

o cartunista traçou um retrato crítico e bem-humorado da realidade e dos costumes brasileiros

Por márcia nogueira tonello

Quando o cartunista Glauco Vilas Boas foi assassinado, com seu filho Raoni, em março de 2010,

apagou-se um olhar crítico e sensível sobre o cotidiano e a vida social e política brasileira. Perdeu-se um ponto de vista de quem afirmava, categoricamente, que não existe charge a favor. Desde a década de 1970, nos anos sombrios do governo militar, Glauco publicava charges e tiras que levavam ao riso e, ao mesmo tempo, traziam um olhar agudo e satírico dos costumes e do dia a dia nacional.

Glauco é herdeiro de uma geração de artistas que driblava a censura por meio do humor – como Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo e Henfil –, muitos deles reunidos em torno de O Pasquim, lançado em junho de 1969, seis meses após a promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5). Os tra-ços espontâneos e a crítica irreverente e corrosiva de Henfil inspiraram muitos dos artistas que se destacaram na imprensa nas últimas décadas. Entre eles, Glauco, Laerte e Angeli, que se tornaram nacional-mente conhecidos por seus trabalhos na Folha de S.Paulo. Os traços dos desenhos de Glauco, em seu início de carreira, se parecem muito com os de Henfil (veja sua charge na próxima página). Quando Glauco, pela primeira vez, se tornou um dos vencedores do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, em 1977, o ge-neral Ernesto Geisel comandava o país. A charge premiada (ao lado) atacava a

charge premiada no salão de humor de piracicaba em 1977: crítica mordaz à censura Que o regime militar fazia sobre o trabalho dos jornais, revistas, rádio e tv

pai e filho Glauco e Raoni, em foto publicada na revista Geraldão nº 3, de 1987

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102 atualidades vestibular + enem 2011

brasil Glaucok

1032011 atualidades vestibular + enem

censura, que alcançava as artes, a cultura e os órgãos de imprensa desde o início do regime militar, em 1964, e que vigorou formalmente até a Constituição de 1988.

Normatizada pelo Ministério da Jus-tiça, a censura aos meios de comunica-ção era exercida pela Polícia Federal. A censura prévia, que exigia a aprovação do conteúdo a ser veiculado por jornais, revistas, rádio e TV, vigorou entre 1970 e 1978 e colocou dentro de jornais e revistas funcionários do aparelho repressivo do Estado, encarregados de vetar conteúdos que estivessem em desacordo com os interesses do regime. A charge de Glauco remete ao absurdo da situação, ao tratar como emprego público uma função que obviamente contrariava os anseios da sociedade. Além disso, mostrava o isola-mento em que se encontravam aqueles personagens soturnos, caricaturizados com longos casacos negros, descarregan-

Charge de henfil, artista que influenCiou glauCo e toda uma geração de Cartunistas: troCadilho entre os saques a supermerCados e os planos do fmi no país

do sua ira diante da tão esperada notícia de abrandamento da censura.

Com o regime numa crise surda e um descontentamento popular crescente, que as charges tão bem espelham, os militares buscavam ainda manter o con-trole, conduzindo o país em direção a uma abertura política “lenta, gradual e segura”. No entanto, ressurgiam, a partir de 1977, as greves dos trabalhadores e as manifestações estudantis, chacoalhando o cenário nacional. Preventivamente, Geisel baixa o Pacote de Abril e muda as regras institucionais, visando a dificultar que houvesse mudanças na legislação criada pelos militares: determina que é preciso dois terços de votos no Congresso para aprovar emendas constitucionais e adota procedimentos para reforçar a bancada da Arena, o partido oficial (como os “senadores biônicos”, eleitos de forma indireta).

TorturaO AI-5 é revogado no ano seguinte,

mas a Lei de Segurança Nacional con-tinuava em vigor. A repressão perdia força, mas ainda fazia vítimas, e pairava como uma sombra nos meios culturais e jornalísticos.

O tema da tortura – numa aborda-gem muito pessoal, que pode ser vista na charge publicada na página ao lado – não esteve ausente dos trabalhos de Glauco. Neste trabalho – típico exemplo de humor negro –, o tom de denúncia é acentuado para reforçar a oposição entre o trágico e o cômico, produzindo no leitor um riso cáustico diante da vio-lência desmedida exercida nos porões do regime. Em 1978, a tortura praticada pelos órgãos do Estado começaria a ser posta em xeque no âmbito da Justiça, com a responsabilização da União pela morte do jornalista Vladimir Herzog, nas dependências do DOI-CODI, órgão repressivo da ditadura, em 1975.

Sob uma forte pressão pela democra-tização do país, o novo governo militar a partir de 1979, presidido pelo general João Baptista Figueiredo (formalizado pelo Colégio Eleitoral, sob o controle dos partidários do regime), decreta a anistia, libertando os opositores das prisões e permitindo a volta dos que haviam par-tido para o exílio.

Diretas JáO pluripartidarismo é restabelecido: o

partido de apoio aos militares, a Arena, vira PDS; o MDB, partido de oposição, vira PMDB; ressurge o PTB; e surgem o PT e o PDT. Nas eleições diretas para os governos estaduais, em 1982, as legendas de oposição vencem nos principais esta-dos, bem como alcançam a maioria na Câ-mara Federal. Assim, as eleições diretas para a Presidência da República passam a ser exigidas pela população brasileira. Começa então a tramitar no Congresso Nacional a emenda Dante de Oliveira, em 1983, restabelecendo as eleições diretas para presidente da República. Nas ruas, manifestações pelas Diretas Já somam as forças de setores distintos da sociedade e reúnem milhões de pessoas por todo o Brasil nos primeiros meses de 1984. O regime fica completamente isolado.

Na charge de Glauco, na página ao lado, perceba que as inúmeras manifestações convergem de todas as direções, repre-

sentando grupos e aspirações diversos, e que há uma tentativa tímida do guarda de trânsito de organizá-las. Apesar de mostrar um momento em que as pessoas ocupam as ruas para reivindicar direitos, o ambiente em torno delas é opressor, como o clima que ainda predominava no país na-quele momento. A profunda mobilização popular, no entanto, não é suficiente para derrubar a barreira levantada pelo Pacote de Abril de 1977, que exigia dois terços dos votos para a aprovação da emenda à Constituição. Houve 298 votos a favor das Diretas Já, contra 65 (e 113 ausentes), mas, ainda assim, a emenda não foi considerada aprovada. Pelas regras, eram necessários 320 votos a favor.

Sarney e a inflaçãoA sucessão, mais uma vez, se daria

pelo Colégio Eleitoral, pelo qual con-correram Tancredo Neves (pelo PMDB, com o apoio do PFL, uma dissidência do PDS) e Paulo Maluf (pelo PDS). O PDS, partido do regime, estava em frangalhos, e Maluf, mesmo com o apoio do general Figueiredo, não consegue agrupar todos os deputados de seu partido. Boa parte deles, vendo que o regime fazia água, bandeou-se para o lado do moderado candidato de oposição.

Assim, vence Tancredo Neves, mas ele adoece na véspera de assumir a Pre-sidência e não chega a receber a faixa. Semanas depois, morre. Seu vice, José Sarney, toma posse em 1985, após 21 anos de regime militar. Na situação criada, havia um grande paradoxo: Sarney, que sempre apoiara o regime militar, tendo sido inclusive presidente da Arena, e que votara contra as Diretas Já, contrarian-do uma profunda aspiração nacional, tornava-se o primeiro presidente civil após a redemocratização do país.

O governo Sarney marca o início da Nova República, na qual se mantém into-cada boa parte das instituições moldadas pelos militares. Imediatamente, porém, são restabelecidas as eleições diretas para presidente, previstas para o fim do mandato, e todos os partidos políticos são legalizados, incluindo os proscritos Parti-do Comunista Brasileiro (PCB) e Partido Comunista do Brasil (PCdoB).

Sarney teve como preocupação fazer uma reforma constitucional e estabilizar a economia, pois a inflação subia perigo-samente. Sucessivos planos econômicos

passeatas pelas diretas já, no iníCio de 1984: a Charge registra o momento em que multidões tomam as ruas em todo o Brasil e o regime militar Chega ao auge do seu isolamento

uma das marCas mais terríveis do regime militar foi a tortura Contra os opositores. nesta Charge, glauCo destaCa a Crueldade da situação lançando mão do aBsurdo, Como se o ato de torturar fosse algo Banal

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brasil Glaucok

1052011 atualidades vestibular + enem 104 atualidades vestibular + enem 2011

Após sucessivas trocas de ministros, a pasta da Fazenda é ocupada por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que anuncia, em julho de 1994, uma abrangente rees-truturação da economia: o Plano Real. Seu pilar foi a criação de uma nova moeda, o real, equiparada ao valor do dólar. O im-pacto imediato do conjunto de medidas projeta nacionalmente seu idealizador e reforça sua candidatura à Presidência da República, nas eleições que se realizariam meses depois. Ocorria então certa “dispu-ta” de holofotes entre o presidente Itamar e Fernando Henrique (FHC), que era “ape-nas” um ministro, porém, o candidato. Na charge ao lado, Glauco ironiza a disputa entre Itamar e FHC pela “paternidade” e prestígio do Plano Real.

Fernando Henrique e o realFernando Henrique candidata-se à Pre-

sidência em 1994 pelo PSDB, partido fun-dado em 1988 como dissidência do PMDB, criticando a fisiologia do partido. Por fisio-logia, entenda-se a prática dos políticos que querem controlar cargos de governo para distribuir favores a aliados e cabos eleitorais. Lula é candidato pelo PT. A base de votos de FHC era sobretudo o Sudeste, a intelectualidade e os empresários. Lula tinha seu ponto de apoio nos sindicatos. Na campanha, os dois buscam se aproximar de outros setores da sociedade. Na charge ao lado, Glauco satiriza esse momento, no qual o esquerdista Lula, num incomum terno e gravata, senta-se à mesa com empresários, enquanto FHC vai ao Nordeste – terra natal de Lula –, veste-se a caráter e experimenta uma buchada de bode.

FHC é eleito e prioriza a estabilidade econômica. O governo tenta atrair inves-timentos estrangeiros e privatiza estatais. Em 1997, empenha-se pela aprovação da emenda constitucional que possibilitasse a reeleição presidencial, abrindo o caminho para o segundo mandato de FHC. Para viabilizar sua política, o presidente cons-trói uma maioria no Congresso. Além do próprio PSDB, atrai o PMDB, com o qual havia rompido, e o PFL – dissidência do PDS (sucessor da Arena), e que congregava vários políticos ligados ao antigo regime militar. A charge de Glauco, ao lado, faz humor com a situação: o senador baiano Antônio Carlos Magalhães, do PFL, nome ligado no passado aos militares, dirige-se à eleitora com FHC embaixo do braço. FHC é reeleito em 1998.

Para escaPar das acusações de corruPção, em 1992, o Presidente collor nega veementemente qualquer relação com Paulo césar farias, seu ex-tesoureiro de camPannha. no quadrinho final, a surPresa: é o PróPrio Pc farias, Por trás das câmeras, quem dirige o desemPenho do Presidente

tentaram resolver o problema. O primeiro deles – que substituía o cruzeiro pelo cruzado e congelava preços e salários – obtém bons resultados no começo, mas exige sucessivas intervenções, e a econo-mia se desestrutura. No fim do governo, a hiperinflação beira os 80% mensais – os produtos quase dobravam de preço a cada mês –, e o índice de aprovação ao governo despenca. Muitas das charges políticas da época faziam humor com um cotidiano marcado pela remarcação desenfreada dos preços, pela figura dos “fiscais do Sarney” – incentivo do governo para que a própria população fiscalizasse a alta dos preços – e pelo desgaste do governo, que se ampliava para todos os setores da sociedade, como mostra a charge ao lado.

Collor e PC FariasEm 1988, uma nova Constituição é apro-

vada, e, em 1989, ocorrem as primeiras eleições diretas para a Presidência desde 1960. Governador de Alagoas, Fernando Collor (PRN) surge com a promessa de combater a corrupção (seu slogan era “o caçador de marajás”), acabar com a infla-ção e modernizar a economia. Seu rival é Luiz Inácio Lula da Silva, metalúrgico, ex-dirigente sindical e líder do PT (Partido dos Trabalhadores). Com o apoio de parte importante da mídia, Collor vence as elei-ções. Tão logo assume, lança seu pacote de estabilização da economia: o Plano Collor. Baseado em um confisco monetário inédito, que atingiu as contas-correntes e a poupança da população, congelava preços e salários. De novo, a receita não deu certo. A inflação volta a crescer, e a economia se descontrola. Collor inicia a abertura do país ao capital externo, barateando as importações, e começa as privatizações de estatais, como a da Usiminas, em 1991.

No segundo ano de governo, Collor é fla-grado no centro de um esquema de tráfico de influência e irregularidades financeiras, organizado por Paulo César Farias, o PC Farias, amigo íntimo e tesoureiro de sua campanha. Em junho de 1992, o Congresso instala uma Comissão Parlamentar de In-quérito (CPI) para apurar denúncias feitas pelo próprio irmão do presidente, Pedro Collor. Abre-se uma grave crise, e o país é tomado por manifestações populares puxadas por estudantes – o movimento dos “cara-pintadas” – que pediam o impeach-ment (destituição) do presidente. Collor é afastado da Presidência após a Câmara

o Presidente itamar franco, com seu característico toPete, e seu ministro da fazenda, fernando henrique, candidato à Presidência, disPutam em 1994 a Paternidade do Plano real

dos Deputados aprovar a abertura do pro-cesso e renuncia antes de ser julgado pelo Senado. Mesmo assim, tem seus direitos políticos cassados por oito anos.

A relação entre Collor e PC Farias, que comprometia o presidente com atos condenáveis, foi amplamente explorada pelo humor político. Na charge publicada acima, de agosto de 1992, três aspectos podem ser destacados: a tentativa inútil de Collor de afastar sua imagem da de PC Farias; o papel que o ex-tesoureiro ainda cumpria, ao “dirigir” a atuação do presidente (tratado aqui como um ator); e, menos explicitamente, a importância decisiva dos meios de comunicação – em especial, a televisão – durante todo o man-dato (e até mesmo em sua eleição).

Itamar e seu ministroCom a saída de Collor, assume o vice,

Itamar Franco, que continua enfrentando uma inflação elevada. Em 1993, durante seu governo, é realizado o plebiscito para a es-colha da forma e do sistema de governo, de acordo com o que estava previsto na Cons-tituição de 1988. A hipótese da volta de uma monarquia foi alvo do humor político, mas nunca representou nenhuma ameaça ao sistema de governo vigente. O debate opunha de fato os sistemas presidencialista (no qual o presidente concentra maior poder) e parlamentarista (no qual o poder fica nas mãos da maioria no Congresso, que designa um primeiro-ministro). O resultado do plebiscito manteve o Brasil republicano e presidencialista.

Paradoxos da camPanha Presidencial de 1994: o esquerdista lula bota terno e vai almoçar com emPresários, enquanto o intelectual fernando henrique vai ao nordeste, terra natal de lula, Para comer um Prato tíPico

as contradições da base governista de fernando henrique cardoso: antônio carlos magalhães, cacique do Pfl e antigo aliado do regime militar, Pede voto Para o Presidente, em 1998, mas tambem faz Parte do Pacote

Perto do fim de seu mandato, sarney era muito imPoPular, como registra a charge de glauco feita em janeiro de 1988

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brasil Glaucok

1072011 atualidades vestibular + enem

Lula chega ao PlanaltoEm 2002, Lula vence as eleições na quar-

ta tentativa, desta vez com o empresário José de Alencar (PL) como candidato a vice. Inicia seu mandato em meio a ex-pectativas populares por mudanças. Opta, porém, por uma linha conservadora na eco-nomia, mantendo o essencial das medidas do governo anterior, como o pagamento da dívida pública, metas de inflação e juros altos. Sua política beneficia os bancos e tranquiliza o mercado internacional.

Ao mesmo tempo, investe em progra-mas de distribuição de renda, como o Bol-sa Família, e recupera o poder de compra do salário mínimo. Tal como FHC, busca o apoio de adversários históricos para sua base de apoio. Em 2006, enfrenta acusações de envolvimento do PT em um esquema de corrupção para manter a maioria no Congresso. Deputados teriam recebido dinheiro ilegal, no chamado mensalão. Na charge ao lado, vemos a crítica de Glauco à atuação do presidente, buscando pôr panos quentes no episódio e evitar uma CPI. O humor vem da conhe-cida frase “tudo acaba em pizza”, para se referir à impunidade dos políticos, que, no fim, protegem-se uns aos outros.

Bom, você pode se perguntar: e daí? Os personagens da política abordados por Glauco seguem em cena, influenciando os rumos do país. Que papel teve, então, sua crítica irreverente e libertária? O mesmo de

nas três décadas em que publicou seus trabalhos na Folha de S.Paulo, Glauco fez charges e quadrinhos para diferentes es-paços do jornal, levando o leitor a se di-vertir, a pensar ou a rir dos paradoxos da realidade na visão do artista.

em várias seções do jornal, o humor de-sempenha um papel distinto. a página 2 da Folha de S.Paulo, reproduzida abaixo, é es-paço para opinião política, no qual estão os editoriais do jornal e as colunas de jornalis-tas. nela, Glauco dividiu com outros cartu-nistas a tarefa de interpretar ou sintetizar em desenhos acontecimentos políticos ou sociais abordados pela publicação. além do talento para o desenho, o seu trabalho exige atenção ao dia a dia da política. a respeito de seu processo de criação para essa seção, disse: “Preciso ficar ligado nos fatos como se fosse um repórter de política”.

nessas charges, ele fazia bastante bem o uso da caricatura – um recurso que exagera características físicas do retratado, com o objetivo de satirizá-lo. são desse espaço as charges que publicamos nesta matéria. É fácil identificar características de alguns personagens importantes da política brasi-leira: o nariz de Fernando Collor, o bigode de PC Farias, o topete de itamar Franco, o olhar de FHC, a barba de lula.

Já os quadrinhos da ilustrada – publicados entre o horóscopo e as palavras cruzadas, como mostra a página abaixo – têm o ob-jetivo de entreter o leitor, podendo ou não levar à reflexão. É o espaço para a crítica dos costumes, para a piada sem compro-misso, para a liberdade total do humorista. ali se reúnem instantâneos do cotidiano, neuroses e obsessões, com uma galeria de personagens variados, criados por cartu-

nistas como laerte, angeli, adão iturrus-garai, Fernando Gonsales, Caco Galhardo e o próprio Glauco, entre outros. O formato mais comum é o de uma história contada em poucos quadrinhos, com uma sequência de preparação, tensão e resolução.

nessa seção, durante as quase três dé-cadas em que publicou suas tirinhas na Folha, estrearam personagens marcantes de Glauco, como Geraldão, dona marta, o drogado doy Jorge, o menor infrator Faqui-nha, Zé do apocalipse e o casal neuras. a tira abaixo marca a estreia de Glauco nesse espaço da ilustrada, em outubro de 1983, com seu personagem mais marcante.

abaixo, reproduzimos a homenagem feita pela Folha de S.Paulo no dia seguin-te à morte de Glauco: o jornal inteiro foi publicado sem ilustrações, com os espaços em branco, num eloquente luto.

caso do mensalão, em 2006: crítica à ação do governo para evitar as investigações sobre as denúncias de corrupção

O HumOr nO JOrnal: CHarGes POlítiCas e tiras

renunCiOu à enGenHaria Para se dediCar aO HumOr

Glauco vilas boas nasceu em Jandaia do sul, no Paraná, em 1957. aos 18 anos, mudou-se para ribeirão Preto (sP), onde publicou seus primeiros cartuns no Diá-rio da Manhã. então, deixou de lado os planos de cursar engenharia e enveredou de vez pelas artes gráficas.

em 1977, ganha destaque ao ser premia-do no salão internacional de Humor de Piracicaba. em 1978, recebe novamente o prêmio. nessa época, estreia na Folha de S.Paulo, na qual, a partir de 1983, passa a publicar tiras diárias na página de qua-drinhos da ilustrada, caderno de artes e espetáculos do jornal. ao mesmo tempo,

reveza com outros cartunistas o espaço dedicado às charges políticas.

Colaborou com diversos jornais e re-vistas e publicou vários livros: Geraldão (3 volumes), Abobrinhas da Brasilônia e Política Zero, entre outros. Glauco criou uma galeria de personagens marcantes, com os quais fez uma crítica irreverente dos costumes brasileiros. seu personagem mais emblemático, considerado seu alter ego, é o compulsivo Geraldão, representa-do como um adolescente tardio e consu-mista, com uma multiplicidade de pernas, braços, sanduíches, cigarros e drogas. de-pois, vieram o Casal neuras, que discute interminavelmente a relação e expressa de forma transparente sentimentos tão comuns como ciúme e insegurança em re-

lação ao outro; a secretária dona marta, uma espécie de predadora sexual; o menor abandonado Faquinha, cooptado pelo trá-fico de drogas; o visionário de araque Zé do apocalipse; e o Geraldinho, versão infantil do Geraldão, entre muitos outros.

Paralelamente à atividade como cartu-nista, Glauco dedica-se, a partir de 1991, à igreja Céu de maria, templo que ajudou a fundar, cujo culto é baseado no uso do chá ayahuasca, feito com plantas amazônicas. Como líder religioso, compôs dezenas de hinos e empenhava-se na recuperação de dependentes do álcool e de drogas.

em março de 2010, foi assassinado a tiros, em companhia de seu filho raoni, de 25 anos, por um frequentador espo-rádico da igreja.

outras manifestações culturais – do cinema à literatura ou teatro – que registram e combatem os abusos de poder, a violên-cia política, a hipocrisia, a incoerência, os preconceitos. O humor é parte da reflexão

coletiva e ajuda a formar a consciência dos cidadãos. É assim que se constrói uma na-ção, e a atuação de Glauco, nestas últimas décadas, trouxe um brilho extra ao cotidia-no de milhares e milhares de leitores. u

a leitura DO JOrNal À esquerda, página 2 da Folha de S.Paulo, local de opinião e das charges políticas. Ao centro, página da Ilustrada com os quadrinhos. Acima, o luto do jornal por Glauco: as ilustrações estão em branco

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108 atualidades vestibular + enem 2011

brasil era vargask

1092011 atualidades vestibular + enem

de olhona história

1922 1923 1924 1925 1926 1927 1928 1929 1930 1931 1932 1933 1934 1935 1936 1937 1938 1939 1940 1941 1942 1943 1944 1945 1946 1947 1948 1949 1950 1951 1952 1953 1954 1889

1889 a 1929 república Velha1930 a 1936 Governo provisório e

eleição indireta 1937 a 1945 Ditadura do Estado novo1946 a 1949 Governo Dutra1950 a 1954 segundo governo Vargas

Fatos históricos e políticosinstituições e marcos legaisEconomia e trabalho Getúlio Vargas é eleito

deputado federalGetúlio Vargas é eleito governador gaúcho

Quebra da Bolsa de nova YorkVargas lidera a revolução de 1930 e torna-se presidente da república em caráter provisório

O Ministério do trabalho, indústria e Comércio é criado

suspensão do pagamento da dívida externa

são Paulo deflagra a revolução ConstitucionalistaVargas cria a Justiça EleitoralO voto passa a ser secretoCriada a Carteira de trabalhoinstituídas a jornada diária de oito horas de trabalho e a licença-maternidade

É criada a assembleia Constituinte, que elege Vargas presidenteO direito de voto é estendido às mulheres

Vargas dá um golpe de Estado. Começa a ditadura do Estado novo

O governo cria o iBGE e o Conselho nacional do Petróleo

O Departamento de imprensa e Propaganda (DiP) é montado, para produzir notícias do governo à imprensa e ao rádio e também para censurar

Passa a vigorar o salário mínimo

a Companhia siderúrgica nacional é fundada

O governo cria o senai e a Companhia Vale do rio Doce e o imposto sindical

surge a Consolidação das Leis do trabalho (CLt)instalação da Fábrica nacional de MotoresCriação da Força Expedicionária Brasileira (FEB)

O Brasil entra na ii Guerra Mundial, com a FEB

Fim da ii GuerraVargas renuncia, forçado pelos militares

Vargas é eleito presidente pelo voto direto e reassume no ano seguinte

É criado o CnPq e inicia-se o programa nuclear

O governo estatiza a eletricidade, projeta a primeira grande hidrelétrica (Paulo afonso) e funda o BnDE

Vargas funda a Petrobras e estatiza o petróleo

O ministro do trabalho, João Goulart, anuncia um aumento de 100% no salário mínimoatentado contra Carlos Lacerda na rua toneleroVargas suicida-se

Getúlio VarGas e seu tempoo político teve destaque na cena nacional por mais de três décadas

80 anos da Era Vargas

Levado ao poder pela Revolução de 1930, Getúlio Vargas governa o Brasil por quase 20 anos e realiza

mudanças que ainda marcam o país

e le é o criador de algumas das prin-cipais estruturas da economia e do moderno Estado brasileiro, impul-

siona fortemente a industrialização do país e a criação de um mercado interno urbano. Implacável com os opositores, mas intitulado o “pai dos pobres”, amado e polêmico, Getúlio Vargas é o político que por mais tempo chefiou o país – quase 20 anos, em dois períodos distintos.

Levado ao poder pela Revolução de 1930, foi, a partir de 1937, um ditador que aboliu as eleições diretas e acabou depos-to. Eleito depois pelo voto direto, retornou ao poder “nos braços do povo” e governou até suicidar-se e, com isso, consolidar mais uma aura mítica e popular.

Período de crises No período em que Getúlio Vargas co-

mandou o Brasil, o capitalismo teve seus pilares abalados pela quebra da bolsa de Nova York, em 1929, e por duas guerras mundiais. O cenário de crise propiciou o surgimento, nos mais diferentes países, de políticos com grande apelo popular e carisma, como foi o caso de Vargas.

Nessa época, por exemplo, emergiu nos Estados Unidos a figura de Franklin Delano Roosevelt, quatro vezes seguidas eleito presidente da República, a par-tir de 1932, até morrer, ainda no quarto mandato, em 1945. Roosevelt marcou seu governo por uma política de recuperação econômica (New Deal) e liderou os EUA na II Guerra Mundial.

Revolução de 1930Vargas chegou à Presidência como líder

da Revolução de 1930, que derrubou a República Velha (1989-1930), sistema pelo qual as oligarquias paulista e mi-neira se mantinham no poder desde o fim do século XIX. A revolução foi um movimento político-militar que depôs o presidente Washington Luís e impediu a posse do eleito Júlio Prestes, repre-

sentantes da cafeicultura paulista. Esta havia sido fortemente atingida pela crise mundial de 1929, após a quebra da Bolsa de Nova York.

Getúlio Vargas assumiu o poder como chefe de um governo provisório. As di-ficuldades em acomodar as forças que o sustentavam atrasaram a adoção de medidas democratizantes, aumentando a insatisfação popular. Em 1932, eclodiu em São Paulo a Revolução Constitucionalista, que exigia a realização de uma Assem-bleia Nacional Constituinte, para elaborar uma nova Constituição brasileira.

A Constituição é aprovada em 1934, fixa eleições diretas para presidente e garante o mandato de Vargas por mais quatro anos. O governo varguista desloca, aos poucos, o eixo produtivo prioritário da agricultura para a indústria, estabe-lecendo as bases da moderna economia brasileira e incentivando a urbanização do país. A Constituição, que representa um avanço do ponto de vista político, estabelece o voto secreto, dá direito de voto às mulheres e cria a Justiça Eleitoral e a Justiça do Trabalho.

Em novembro de 1935, uma insurreição político-militar organizada pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) é sufocada pelas Forças Armadas. Revoltosos e sim-patizantes são perseguidos e presos ou mortos. O movimento torna-se conhecido como Intentona Comunista e abre o cami-nho para Vargas endurecer seu regime. O principal líder comunista brasileiro, Luiz Carlos Prestes, fica preso até 1945.

Nesse período, ganham força no cír-culo de governo os adeptos do integra-lismo, movimento de inspiração fascista, fundado pelo jornalista Plínio Salgado. O movimento defende o Estado autoritá-rio e nacionalista, e a sociedade baseada em hierarquia, ordem e disciplina social – sob o lema “Deus, Pátria e Família”.

Estado NovoEm 1937, sob o pretexto de conter a

ameaça comunista, Vargas dá um golpe de Estado. O governo promulga uma nova Constituição, com base no ideário do fascismo, do italiano Benito Mussolini. O fascismo é uma ideologia totalitária de extrema-direita, nascida após a I Guerra Mundial, semelhante ao nazismo, sur-gido pouco depois na Alemanha sob a liderança de Adolf Hitler.

Com o golpe, Vargas abole os partidos políticos e suspende as eleições presi-denciais previstas. Implanta-se o regime ditatorial conhecido como Estado Novo (1937-1945), que acaba com a autonomia do Judiciário e do Legislativo. Boa parte dos opositores vai para a prisão, como o escritor baiano Jorge Amado, ligado ao

Partido Comunista do Brasil (PCB), ou parte para o exílio. Em 1938, os inte-gralistas tentam um golpe contra

oURo NeGRo Vargas mostra as mãos sujas de petróleo: em seu segundo mandato, o presidente cria a petrobras e passa a exploração petrolífera para as mãos do estado

NoVoS dIReIToS Getúlio Vargas assina a lei que institui o salário mínimo no Brasil, em 1940

VIToRIoSo Vargas comemora o sucesso da revolução de 1930

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brasil era vargask

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Getúlio Vargas, mas acabam derrotados e são desarticulados.

Em 1939, é criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), cuja função é censurar e vigiar os meios de comunicação para que não veiculem in-formações contrárias ao governo. Vargas cria veículos de comunicação para o go-verno divulgar notícias, como a Agência Nacional (que enviava matérias para os jornais e revistas) e uma divisão de rádio, que criaria o programa Hora do Brasil (embrião do atual Voz do Brasil).

O Estado Novo é marcado pela re-pressão dos setores da sociedade que se opõem ao regime e pela tentativa de tutela dos diferentes estratos sociais, baseada na consolidação institucional de direi-tos sociais e econômicos. Na área social trabalhista, entre 1930 e 1943, são criados o Ministério do Trabalho, Indústria e Co-mércio, a carteira de trabalho, a jornada legal de oito horas diárias, a licença-ma-ternidade de 12 semanas, o salário mínimo e a Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT), que regulamenta as relações de trabalho e reconhece os sindicatos, mas os atrela e subordina ao governo. Nas décadas seguintes, quando os sindicatos tomam medidas consideradas radicais, o Ministério do Trabalho intervém neles, cassa suas diretorias e assumi o controle de seus recursos.

Vargas lança as premissas para a in-dustrialização do país, com base na po-lítica de substituição de importações. Como os países industrializados esta-vam envolvidos na guerra, o Brasil tinha condições de implantar indústrias que abastecessem o mercado interno e ainda tivessem excedentes para exportação. Assim, Vargas cria o Serviço Nacional da Indústria (Senai), o Serviço Social da Indústria (Sesi), o Conselho Nacional do Petróleo, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Companhia Vale do Rio Doce, para explorar minério de ferro, carvão e outros minerais necessários para a indústria. Também funda a Fábri-ca Nacional de Motores (FNM), estatal que inicialmente produz motores para aviões e, a seguir, fabrica caminhões e tratores, com tecnologia licenciada de empresas estrangeiras. Para levantar os dados estatísticos de referência sobre o país, é criado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

II Guerra MundialO modo de ação política, econômica e

social de Vargas ficou conhecido como “populismo”, e foi marcante também em países vizinhos, como a Argentina de Juan Domingo Perón. No início da II Guerra Mundial, Vargas chega a simpatizar-se com o regime fascista de Mussolini e com o nazismo de Hitler e a iniciar aproxima-ção com Itália e Alemanha. Ocorre que as Américas eram área de influência dos norte-americanos, que entram na guerra em 1941, após o ataque japonês ao porto de Pearl Harbor, no Havaí.

Em 1942, sob pressão dos Estados Uni-dos, Vargas rompe com os países do Eixo – Alemanha, Itália e Japão – e constitui a Força Expedicionária Brasileira (FEB), enviada em 1944 para lutar na II Guerra Mundial do lado dos Aliados (Estados Unidos, União Soviética, Reino Unido e, depois, França).

No período final da guerra, com uma crise crescente em seu regime, Vargas anuncia eleições gerais para o fim de 1945. Mas, desconfiada de que o próprio Vargas fosse disputar a reeleição, a oposição se aproxima dos militares, que dão um novo golpe, forçando Vargas a renunciar, em outubro de 1945. Como sucessor, é eleito seu ex-ministro da Guerra, o general Eurico Gaspar Dutra.

Eleição diretaVargas volta ao poder em 1950, dessa

vez eleito pelo voto direto, como líder do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), que fundara em 1945. Em seu novo mandato, prosseguiu o processo de industrializa-ção do país. Ele criou então o Conselho Nacional de Pesquisa (atual CNPq) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, atual BNDES, com “Social” ao final), para dar suporte ao desenvolvimento nacional.

Em 1952, Vargas estatizou a produção de eletricidade, lançando a base para a futura criação da Eletrobrás, e iniciou o projeto de construção da primeira grande hidrelétri-ca brasileira, a Usina de Paulo Afonso, na Bahia. No ano seguinte, criou a Petrobras, com o monopólio estatal para prospectar e produzir petróleo, após deflagrar uma cam-panha pública, com amplo apoio popular, sob o lema “O petróleo é nosso”.

Para sustentar sua política nacionalista e estatizante, Vargas mobiliza as massas urbanas, por meio dos sindicatos, e man-tém o Congresso Nacional sob pressão. A oposição reage, sobretudo o Partido Social Democrático (PSD) e a União Democráti-ca Nacional (UDN), e abre forte ofensiva contra o governo. A crise se agrava no início de agosto de 1954, quando um major da Aeronáutica é assassinado no Rio de

Com o mundo em guerra, Getúlio Vargas lança as bases para a industrialização do país

estado novo toma conta da seleção

Paulo Cobos

Depois de dois fracassos, em 1930 e 1934, a seleção brasileira, enfim, fez bonito na Copa da França, com um ter-ceiro lugar e a artilharia de Leônidas da Silva.

Isso aconteceu justamente na primei-ra vez em que a política tinha amplo poder sobre o time. Getúlio Vargas to-mou conta de vez da equipe. Primeiro, emplacou Luiz Aranha, irmão de Osval-do Aranha, seu ministro da Fazenda, como presidente da CBD [Confederação Brasileira do Desporto], em 1936.

Ele conseguiu apaziguar a disputa entre cariocas e paulistas e também implantou de vez o profissionalismo nos clubes na-

cionais, que enfrentavam a concorrência dos grandes argentinos e uruguaios, que importavam craques brasileiros.

Com muita propaganda, o presidente Vargas associava o futebol ao Estado Novo. A influência do presidente teve até lances folclóricos, como a indicação de sua filha, Alzira, para o cargo de “ma-drinha” da seleção.

No embarque para a França, uma mul-tidão foi ao porto do Rio de Janeiro se despedir dos atletas. Na volta para casa, os bons resultados inflaram a onda de patriotismo pregada por Vargas. Só que logo chegou a Segunda Guerra, e, com o cancelamento das Copas de 1942 e 1946, a seleção deixou de ser uma prioridade para o governo federal.

Folha de S.Paulo, 18/4/2010

Saiu na imprensa

Janeiro, durante um ataque ao jornalista Carlos Lacerda, ferrenho opositor do presidente, no conhecido “atentado da rua Tonelero”. Nas investigações, o chefe da guarda pessoal de Vargas, Gregório Fortunato, confessa ser o mandante da emboscada. Responsabilizado pelo crime e pressionado a renunciar, Vargas suicida-se em 24 de agosto de 1954, causando profunda comoção nacional.

Herança políticaVargas continua como referência impor-

tante na vida política do país nas décadas seguintes, por meio de seus herdeiros polí-ticos. Seu ministro do Trabalho, Indústria e Comércio, João Goulart (PTB), foi duas vezes eleito vice-presidente, com Jusce-lino Kubitschek (1955) e, a seguir, com Jânio Quadros (1960). Goulart assume a Presidência com a renúncia de Jânio, e acaba deposto no golpe militar de 1964.

Outro herdeiro político de Vargas foi o ex-governador gaúcho Leonel Brizola. Com a abertura política e a Lei da Anistia, em 1979, Brizola, que vivia no exílio, regressa ao país, funda o Partido Democrático Tra-balhista (PDT) e é eleito governador do Rio de Janeiro, em 1983. Ele é um grande líder das diretas já e candidato derrotado a vice-presidente da República na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva, em 1998. u

amizade e guerra Vargas recebe enviado de Mussolini, em 1931 (à esq.); acima, em 1942, reúne o governo para declarar guerra ao Eixo. No mesmo ano, é homenageado num desfile de 1º de Maio

Era Vargas revolução de 1930 Governador gaú-cho, Getúlio Vargas lidera um golpe que encerra a República Velha e se torna presidente do país em regime provi-sório. Após a Revolução Constitucio-nalista de São Paulo, convoca eleições parlamentares e passa a governar como presidente eleito indiretamente pela Assembleia Constituinte, em 1934. estado novo Vargas dá novo golpe de Estado, proíbe todos os partidos políticos, suspende as eleições diretas e governa como ditador de 1937 a 1945. Ele impõe a censura à imprensa, per-segue e prende adversários políticos. Durante a II Guerra Mundial, sob pres-são dos Estados Unidos, o país entra no conflito como parte dos Aliados. No fim, seu regime entra em crise e Vargas renuncia. Governo eleito Candidato pelo Par-tido Trabalhista Brasileiro (PTB), que fundou, Vargas é reeleito pelo voto direto em 1950 e governa até 1954. Ele se suicida, após ser acusado de tentar assassinar o jornalista Carlos Lacerda, no “atentado da rua Tonelero”. indÚstria de base Vargas cria as primeiras grandes empresas indus-triais do país, também chamadas de indústria de base, em mineração de ferro e carvão (Companhia Vale do Rio Doce), siderurgia (Companhia Siderúr-gica Nacional), energia (Petrobras) e transportes (Fábrica Nacional de Mo-tores), além do Banco Nacional de De-senvolvimento Econômico (BNDE). estruturas de estado Em diferen-tes governos, Getúlio Vargas criou o Ministério do Trabalho, a Justiça do Trabalho, a Justiça Eleitoral, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Conselho Nacional de Pes-quisa (CNPq) e o Conselho Nacional do Petróleo. avanços sociais Nos governos Vargas, são instituídos o voto secreto e o voto feminino, é criada a Carteira de Trabalho e são estabelecidas a jornada legal de trabalho de oito horas diárias, o salário mínimo e a licença-maternidade.

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milhões de hectares, segundo a Funai. Esse não é um processo simples ou

rápido, tanto que 137 áreas in dí genas estavam em estudo para regularização em 2010. O caso da reserva Raposa Serra do Sol tornou-se emblemático. Ela está loca-lizada numa área de planícies no norte de Roraima e abriga uma população de cerca de 20 mil índios, principalmente da etnia macuxi. Após três décadas de disputa pela posse dessa área entre os indígenas e proprietários de terra da região, em sua maioria rizicultores, o Supremo Tribunal Federal decidiu em março de 2009 man-ter a demarcação contínua de 1,7 milhão de hectares das terras da reserva e retirar de lá os fazendeiros.

Mudança históricaTanto a Funai como o IBGE indicam

crescimento populacional constante, um fato que tem importância histórica, pois durante séculos, desde a colonização, no

P ode-se afirmar que o Brasil está avançando em suas políticas de reconhecimento dos direitos dos

grupos indígenas, tendo como marco desse processo a Constituição de 1988, que afirma e detalha esses direitos. É o que revelam os diferentes números indicativos, consolidados e divulgados pela entidade federal na área, a Fundação Nacional do Índio (Funai), e por outras instituições civis do país.

Um dos direitos legais e constitucio-nais dos povos indígenas brasileiros está diretamente ligado ao crescimento de sua população: o de possuir terras em extensão e condições adequadas às suas necessida-des econômicas, culturais e históricas. Do ano de 1999 para 2009, o Brasil passou de 561 áreas indígenas, das quais 352 regu-larizadas, para 656 áreas, das quais 403 regularizadas. O total de área de terras indígenas demarcadas cresceu 41% nesse período, passando de 76 milhões para 107

compasso de espera Índios da tribo guarani aguardam a demarcação das terras que ocupam, no Parque da Serra do Tabuleiro, no sul do país

século XVI, até a década de 1980, a popu-lação indígena diminuiu no Brasil.

Após a promulgação da Constituição em 1988, garantindo direitos indígenas, e até o início dos anos de 1990, o processo foi revertido, e a taxa média percentual de crescimento dos grupos indígenas passou a superar a taxa média de crescimento do conjunto da população. De acordo com a Funai, a população indígena aumentou 56% em dez anos, passando de 350 mil pessoas em 1999 para 547 mil em 2009.

Esses números são menores do que os apurados pelo Instituto Brasileiro de Geo-grafia e Estatística (IBGE), por diferença de critérios. A Funai só considera índios aqueles que vivem em aldeias e reservas já delimitadas. Já o IBGE considera as respos-tas autodeclaradas pelas pessoas no censo. Assim, o IBGE apurou uma população de 734.126 pessoas no Censo de 2000. Esse aumento, durante as duas décadas, não foi interpretado apenas como resultado de au-mento de taxas de natalidade, mas também

como perda do re-ceio de se declarar índio, em razão de preconceito social. Estima-se que o Censo decenal do IBGE 2010 deve revelar uma popu-lação de mais de 1 milhão de índios no país.

Direitos legaisNo Brasil existem 225 povos indígenas,

que vivem em 656 terras reconhecidas pela Funai, das quais cerca de um terço ainda está em processo de demarcação. Os índios são reconhecidos pelo Estado brasileiro como representantes de uma cultura própria, que tem de ser respeitada e preservada, e, para que seu modo de vida se mantenha, é fundamental garantir-lhes as terras necessárias. Assim, a Constitui-ção brasileira afirma: “São reconhecidos aos índios sua organização social, cos-tumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam (...)”.

O espaço da reserva indígena deve in-cluir áreas para as aldeias, para as ativi-dades de subsistência, para a preservação do meio ambiente e ainda para a repro-dução física e cultural dos índios, tudo isso de acordo com o modo de vida deles. Também é necessário considerar que os

índios vivem nessas terras desde antes da criação do Estado brasileiro e, por isso, possuem direitos exclusivos de posse e uso – garantidos pela Constituição.

A Funai considera que assegurar o di-reito dos índios à terra é também uma medida estratégica para o país, pois pode garantir a proteção da biodiversidade brasileira e do conhecimento que permite seu uso. Estima-se que as comunidades da Amazônia manipulem mais de 1,3 mil plantas com princípios ativos medicinais, muitas das quais já passaram a ser utili-zadas comercialmente.

Alguns segmentos da população brasi-leira, entretanto, acreditam que os índios têm terras demais e que sua regularização está reduzindo a quantidade disponível para uso econômico pelo restante da sociedade. Hoje, as terras indígenas re-gularizadas somam 12,7% da superfície do Brasil, embora os índios instalados nelas representem menos de 1% da população.

Crescem a população e as reservas indígenasSegundo a Fundação Nacional do Índio, em apenas uma década o total de área para as reservas cresceu 41% e a população, 56%, resultado do avanço das políticas legais de atendimento

DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO INDÍGENA

Sul(11,54%)

Norte (29,07%)

Nordeste(23,21%)

Centro-Oeste(14,22%)

Sudeste(21,96%)

Em % por região, em 2000

Fonte: IBGE

RESERVAS INDÍGENAS NO BRASIL

Situação jurídica em número e área, em 2009

Situação jurídica Nº de TI* Área em hectares

Em estudo 137 Em estudo

Encaminhadas 23 28.286

Delimitadas 24 1.028.621

Declaradas 49 7.600.747

Homologadas 20 384.884

Regularizadas 403 98.527.372

Total 656 107.569.909

Fonte: Funai *Terras indígenas

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Índios

PerFil No Brasil existem 225 povos in-dígenas, que vivem em 656 terras reco-nhecidas pela Funai. A entidade estima ainda a existência de 63 tribos sem con-tato com a civilização. Eles somam 547 mil pessoas, segundo a Funai, que con-tabiliza apenas os indígenas de aldeias e tribos. O IBGE soma todos os indígenas autodeclarados nos censos, o que inclui índios de áreas urbanas. Estima-se que, no Censo de 2010, eles possam somar até 1 milhão de pessoas.

CresCimentO indígena Ele passou a ocorrer nas duas últimas décadas, pela primeira vez em séculos de diminuição. O marco é a promulgação da Constitui-ção de 1988, que garante e especifica os direitos indígenas. Esse crescimento está vinculado ao aumento da criação das reservas indígenas, das taxas de natalidade e também do número de pessoas que se autodeclaram indígenas nos censos populacionais.

reservas indígenas A Constituição reconhece aos índios o direito originá-rio sobre as terras que habitualmente ocupam e a importância delas para seu modo de vida, sobrevivência e cultura. Apenas na última década, o total de área das reservas cresceu 41%. Atu-almente, elas totalizam mais de 107 milhões de hectares.

disPutas As terras indígenas totali-zam quase 13% da área do país, pois elas devem ser suficientes para seu modo de vida e sobrevivência. Como eles são menos de 1% da população, isso cria controvérsias, pressões e conflitos. O mais recente foi o da reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima.

direitO À eduCaÇÃO A Constituição de 1988 garante aos índios o direito de estudar e aprender a sua língua e histó-ria. O ensino deve respeitar seu modo de vida. Para isso, os índios são estimu-lados a se formar professores. Nesse cenário, as taxas de alfabetização dos índios cresceram de menos de 50% em 1991 para 73,9% em 2000, de acordo com o IBGE. Entre 2002 e 2007, o número de estudantes indígenas aumentou 50%, chegando a 176 mil.

qresumo

sessenta indígenas FOram assassinadOs em COnFlitOs FundiáriOs em 2009, diz Cimi

brasília – O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulga o Relatório de Violência contra os Povos Indígenas com dados de 2009. No ano passado, 60 índios foram assassinados, houve 16 tentativas de homicídio e 19 casos de suicídio, segundo o documento.

De acordo com o vice-presidente do Cimi, Roberto Antônio Liebgott, a “vio-lência sistemática” contra os índios é causada pela disputa de terras e pelo que chamou de “omissão do Poder Pú-blico”. Em sua opinião, o Estado poderia ter resolvido o problema se concluísse

as demarcações das terras indígenas. (...) O relatório do Cimi informa que em Mato Grosso do Sul foram assassinados 33 indígenas, 54% dos casos. (...) Ma-to Grosso do Sul é a segunda unidade da Federação com maior população indígena e é grande produtor de cana-de-açúcar, soja, milho e mandioca. (...)

Além do MS, o relatório destaca a si-tuação conflitiva entre fazendeiros e indígenas Tupinambá, no sul da Bahia. (...) A antropóloga Lúcia Helena Rangel acredita que episódios como esses de-monstram que a sociedade brasileira e o Estado são “racistas” e que o precon-ceito contra os índios é “uma situação histórica que não se alterou”. (...)

O Globo online, 6/7/2010

Saiu na imprensa

Outros pontos do documento se referem à proibição de cobranças, por parte dos índios, de tarifas ou quantias de quaisquer natureza para o ingresso, o trânsito e a per-manência de não índios no restante da área da terra indígena (de acordo com regras estabelecidas pela Funai) e veta a cobrança estatal de impostos, taxas ou contribuições referentes às riquezas naturais, à utilidade da terra e à renda indígena.

Problemas de saúde e renda Um estudo recente sobre a saúde e as

condições de vida e de consumo das mu-lheres e crianças indígenas no país mostra problemas. O 1º Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Povos Indígenas, divulgado pela Fundação Nacional de Saúde (Funasa) em maio de 2010, mostra que os povos indígenas no Brasil vivem de forma precária.

A pesquisa abrangeu 6.707 mulheres de 14 a 49 anos e 6.285 crianças de até 5 anos em 113 aldeias de todas as regiões do país, de áreas remotas a urbanas. Ela revelou mulheres anêmicas (32,7%), com sobrepeso (15,7%) e obesas (30,2%), e crianças com baixa estatura para a idade (26%) e anêmicas (51,3%). Oito em cada dez bebês indígenas sofrem de anemia, índice 16 vezes maior do que o conside-rado normal pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A população indígena aumentou na última década, o que não ocorria desde a época colonial

Há dois anos, o relatório Situação Mundial da Infância 2008, do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Uni-cef ), divulgou que a taxa de mortalidade infantil na população indígena no Brasil é de 48,5 por mil nascidos vivos, enquanto na população branca é de 20,3 por mil. O saneamento básico deficiente é apontado como uma das causas dos problemas de saúde na infância e das internações por diarreia e infecções, que atingiram 19% das crianças indígenas no último ano.

A pesquisa da Funasa revela que o aces-so à água se dá por meio de torneira fora de casa (36,6%), de torneira dentro de casa (19,1%) e da captação desse recurso em rio, igarapé, lago ou açude (11%). Já as principais formas de destino do lixo são ser enterrado, jogado ou queimado na aldeia (79%) ou coletado pelo serviço de limpeza (13%).

De acordo com a pesquisa da Funasa, as principais fontes de renda das famílias indígenas somam a venda de produtos cultivados (36,8% das famílias) com tra-balho remunerado, na maioria das vezes pelo Estado (62%), e os benefícios sociais (63,9%). Em documento sobre a situação dos índios no mundo, divulgado no início de 2010 e com base em dados do IBGE, a ONU afirma que 38% dos índios brasilei-ros (cerca de 285 mil pessoas) vivem em situação de extrema pobreza. u

Para contrapor essa argumentação, a Fu-nai utiliza dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) de que o total das terras aproveitáveis e não exploradas no país soma 185 milhões de hectares, o que corresponde, aproxima-damente, ao dobro de todas as terras in-dígenas. Ainda, segundo a Funai, seriam a concentração fundiária e a má utilização das terras que levam a população rural a não dispor de terras para as atividades da agricultura e pecuária, e não a extensão dos territórios indígenas.

Direitos limitados A decisão do STF sobre a reserva

Raposa Serra do Sol indicou uma nova modalidade de atuação do Supremo, que deve servir de baliza para o julgamento de ações semelhantes no futuro.

Isso porque, além de definir os limites da reserva indígena, os ministros prati-camente criam legislação ao impor uma espécie de estatuto para demarcação de terras no país. Esse documento tem 19 pontos diferentes – medidas que assegu-ram aos índios a utilização protegida do solo, dos rios e dos lagos nas terras da re-serva e também outras que alteram o fun-cionamento das aldeias, como assegurar intervenções estatais sem necessidade do aval da Funai. Veja algumas das medidas que restringem a autonomia da Funai no controle das reservas indígenas:

k O usufruto dos índios não se sobrepõe ao interesse da política de defesa nacio-nal. A instalação de bases, unidades e postos militares, a expansão da malha viária, a exploração de alternativas energéticas e o resguardo das rique-zas naturais da região a critério dos órgãos públicos competentes serão implementados independentemente de consulta às comunidades indígenas envolvidas e à Funai.

k���A atuação das Forças Armadas e da Polícia Federal fica garantida e se dará independentemente de consulta prévia às comunidades indígenas envolvidas e à Funai.

das cerca de 1,3 mil línguas indígenas faladas no brasil na época da chegada dos portugueses, restam aproxima-damente 180, além das utilizadas por índios isolados.

O idioma mais falado no país é o ticuna, seguido pelo guarani e pelo caingangue. a Funai estima que haja atualmente 63 tribos isoladas no país, sem contato com a civilização, sobre as quais não se tem ideia de quantos indivíduos somam nem que idiomas falam.

Pela lei, os índios podem escolher o pró-prio processo de desenvolvimento, o que inclui o aprendizado da língua nativa e de sua história. O ensino deve respeitar seu modo e ritmo de vida. Para isso, os índios são estimulados a se formar pro-

fessores – 3 mil deles ensinavam nas 2,5 mil escolas indígenas espalhadas pelo país em 2009, segundo o ministério da educação (meC). ao todo, 2 mil índios cursam o ensino superior em todo o país, também segundo o meC.

nesse cenário, as taxas de alfabetiza-ção dos índios cresceram. em 1991, os alfabetizados indígenas eram menos de 50%; em 2000, essa taxa alcançou 73,9%, de acordo com o ibge. entre 2002 e 2007, o número de estudantes indígenas cresceu 50%, chegando a 176 mil. alguns centros de ensino superior, como a universidade de brasília (dF) e a universidade de são Carlos (sP), man-têm programas de reserva de vagas para alunos indígenas.

índios podem escolher o estudo de sua língua

AC

AMPA

APRR

MA

PI

CE

PE

ALSE

BA

MGES

RJSP

GO

TO

MT

RO

MS

PR

SC

RS

PB

RN

SITUAÇÃO LEGAL

A identificar

Demarcadas

Em demarcação

TAMANHO DA RESERVA

Áreas com mais de500 mil hectares

Áreas de até 500 mil hectares

PARQUES E TERRAS INDÍGENAS

12,7% da superfície do Brasil é reservada a grupos indígenas. Atualmente, existem 225 povos indígenas em nosso país, que vivem em 656 terras reconhecidas pela Funai. Cerca de um quinto delas, porém, ainda não teve seu processo de demarcação concluído

Fonte: Funai

INTERIORIZAÇÃO A maior quantidade de terras indígenas encontra-se no interior do país, sempre a oeste, como resultado do processo de ocupação pelos colonizadores a partir do litoral. As maiores reservas se encontram na Região Norte,a menos desbravada. As nações indígenas que ocupavam o litoral foram destruídas ou deslocadas para o oeste.

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Conservação x desenvolvimentoA maior parte do potencial energé-

tico do Brasil está na bacia amazônica. Por isso, a construção da hidrelétrica de Belo Monte esbarra em uma questão que envolve o bioma da floresta Amazônica: como conservar o patrimônio natural e, ao mesmo tempo, fazer dele uma alavanca para o desenvolvimento do Brasil?

Apesar dos esforços do governo para refrear o desmatamento e implantar re-servas sustentáveis, nas quais a popu-lação explore os recursos naturais sem

n o primeiro semestre de 2010, a Amazônia ganhou novos olha-res de todo o mundo, agora em

razão dos protestos contra a construção do que promete ser a terceira maior hi-drelétrica do mundo, a de Belo Monte, no Pará. Nas manifestações, os índios e a população ribeirinha contaram com o apoio do cineasta e diretor de Avatar, o norte-americano James Cameron, e da protagonista do filme, a atriz Sigourney Weaver. Porém, como as necessidades energéticas do país são consideradas imperiosas pelo governo, há mais chances de a obra ser realizada do que ser cance-lada. Em abril, por ocasião dos protestos, o governo federal realizou o leilão de con-cessão, e o consórcio ganhador poderá iniciar as obras ainda neste ano.

O projeto de construção da usina de Belo Monte tem cerca de 30 anos. Ele nas-ceu de estudos feitos pela estatal Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte) quanto à viabilidade de construir barra-gens para hidrelétricas no rio Xingu no fim da década de 1970. A empresa fornece energia elétrica aos nove estados da Ama-zônia Legal – Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. Mas os projetos foram engavetados na época por causa da crise econômica e da repercussão negativa ocasionada pela construção da hidrelétrica de Itaipu (1975), no rio Para-ná, que teve enorme impacto ambiental na região. Belo Monte só voltaria à pauta do governo nesta década.

Hidrelétricase ambienteem debate Ao construir a hidrelétrica de Belo Monte, na floresta Amazônica, o Brasil enfrentará um dilema: como desenvolver a região e conservar o patrimônio natural

Impactos ambientaisA usina de Belo Monte deverá entrar

em operação no começo de 2015. Para diminuir os impactos ambientais, o pro-jeto inicial foi revisto. Apenas uma bar-ragem será feita no rio Xingu, e não mais cinco como foi proposto inicialmente. Além disso, a usina produzirá uma média de 4,5 mil megawatts por ano, e não os mais de 11 mil megawatts que ela teria capacidade de produzir, pois vai operar mais de acordo com a vazão do rio Xin-gu. Essa foi a solução encontrada para evitar a construção de um lago artificial de grandes proporções.

Apesar de todas essas mudanças, a previsão é que sejam desmatados quase 12 mil hectares da floresta Amazônica. Segundo ambientalistas, os índios e a população que moram à beira do rio serão diretamente afetados.

Para conseguir o volume de água ne-cessário na barragem da nova hidrelétri-ca, a vazão do rio será reduzida, prin-cipalmente na Volta Grande do Xingu, a jusante da represa. Com isso, os mo-radores perderão o acesso fluvial para a cidade de Altamira, no oeste do Pará. A redução do nível de água do rio também prejudicará importantes atividades eco-nômicas da região, como a pesca, já que a reprodução dos peixes fica compro-metida quando faz menos água. Outro meio de subsistência da população local que está em risco é o tradicional plantio de cacau, cultivado faz mais de 40 anos pela população ribeirinha.

patrimônio ameaçado Vista aérea do rio Xingu, localizado no estado do Pará, região onde será construída a usina hidrelétrica de Belo Monte

esgotá-los, o Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostra que 83% da variação dos índi-ces de desmatamento entre 1995 e 2007 acompanha as oscilações no preço da soja e da carne. Ou seja, o interesse econômico dita as regras.

Segundo o Código Florestal, donos de terra podem derrubar até 20% da floresta em suas propriedades para práticas econô-micas. Mas, como a ocupação predatória ainda vigora, a fiscalização é ineficiente e a lei com frequência não é cumprida.

A Amazônia preocupa, e não poderia ser diferente. É a maior floresta tropical do mundo, com 6,6 milhões de quilôme-tros quadrados espalhados por nove países da América Latina. Além das florestas úmidas e matas de terra firme, a Amazônia abrange ecossistemas como cerrados, savanas e manguezais, entrecortados por rios, que so-mam um quinto da água doce do planeta.

Por tudo isso, conservar a Amazônia é considerado vital para a manutenção de

espécies e para o controle do aquecimento global. De um lado, porque a floresta tem enorme capacidade de retirar da atmosfera, pela fo-tossíntese, o dióxido de car-bono (CO2), um dos vilões

do aumento da temperatura mundial, e estocá-lo na forma de biomassa. De outro, porque o desmatamento da Amazônia é a principal fonte das emissões brasileiras de CO2 (mais de 55% do total), de acordo com o Ministério da Ciência e Tecnologia.

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Amazônia

belo monte Em abril deste ano, o governo federal realizou o leilão que conferiu a concessão para construir a usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). As obras tinham previsão de início para este ano e o funciona-mento da usina, para 2015.

impactos ambientais Para reduzir os danos ao meio ambiente, a usina de Belo Monte operará de acordo com a vazão do rio Xingu, o que diminuirá sua produção para 4,5 mil megawatts/ano, embora tenha potencial instala-do para produzir mais de 11 mil MW/ano. Apesar disso, o volume regular de água do rio diminuirá no trecho da jusante, o que deverá prejudicar a pesca e cultivos.

desmatamento Estima-se que em torno de 17% da cobertura vegetal na-tiva da Amazônia brasileira já tenha sido destruída. Só nos últimos 20 anos, foram derrubados mais de 360 mil qui-lômetros quadrados de floresta. Mas o desmatamento diminuiu de ritmo e, entre agosto de 2008 e julho de 2009, caiu 45% em comparação com os mes-mos 12 meses do período anterior.

soluções O governo federal atribuiu a queda do desmatamento principal-mente a operações de repressão às madeireiras, aos grileiros de terra e aos pecuaristas. Mas os ambientalistas dizem que é preciso, além de vigiar e punir, criar um modelo econômico viá-vel para explorar a floresta, que seja capaz de competir com as atividades ilegais e predadoras, e recuperar as áreas degradadas.

as duas amazônias Há dois conceitos de abordagem para falar da Amazônia. O biológico refere-se ao bioma Amazônia, que se estende pelo Brasil e por territó-rios de mais oito países, e inclui o ecos-sistema da floresta tropical e outros. O outro conceito, o de Amazônia Legal, é político, jurídico e administrativo: refere-se à área da floresta que abran-ge os sete estados da Região Norte – Amazonas, Pará, Roraima, Amapá, Acre, Rondônia e Tocantins –, além de Mato Grosso e parte do Maranhão.

qresumo

ibama concede licença para belo monte, mas impõe 40 exigências

Mônica Tavares

O Ibama concedeu ontem o licen-ciamento ambiental da usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA). (...) O minis-tro de Meio Ambiente, Carlos Minc, e o presidente do IBAMA, Roberto Mes-sias, informaram que foram impostas 40 condicionantes socioambientais, de saneamento, habitação e segurança, entre outras, para que o início das obras seja posteriormente autorizado (licença de instalação, LI). (...)

Messias disse que as condicionantes têm três objetivos gerais. No primeiro caso, atender às populações atingidas pela barragem, como os indígenas, os moradores das cidades da região e os ribeirinhos. (...) O segundo é biológico, inclusive com programas de prevenção de peixes e tartarugas. E um terceiro é manter a vazão do rio. (...)

Minc (...) reconheceu que a equipe técnica ficou dividida entre a pressão da segurança energética, para reduzir o risco de um apagão, e do meio am-biente. (...)

O Globo, 2/2/2010

Saiu na imprensa

Biodiversidade

Ela não é só a maior floresta tropical do mundo. A Amazônia também representa a maior biodiversidade, ou seja, possui uma variedade enorme de espécies de plantas, animais, fungos e bactérias, ainda não mensurada em sua totalidade, assim como seu patrimônio mineral. As esti-mativas dos cientistas são de que sejam conhecidos somente 10% das espécies existentes na Amazônia brasileira.

Por enquanto, essa enorme riqueza biológica é um potencial pouco aprovei-tado pelo país. Estima-se que na floresta brasileira estejam os princípios ativos da maioria dos remédios do futuro, mas cerca de 70% do conhecimento científico sobre ela é produzido por outras nações.

O direito ao uso desse potencial é parte de uma tensa discussão internacional, re-alizada na Convenção sobre Diversidade Biológica. Integrante da Convenção sobre a Mudança do Clima, ela já foi assinada por 156 países e propõe que, além da em-presa e do pesquisador que desenvolver o uso do princípio ativo de um organismo vivo, também recebam royalties (paga-mentos pelo uso) o país de origem da planta ou animal e a população que deti-

nha originalmente o conhecimento desse princípio ativo. Mas os países desenvol-vidos, sobretudo os EUA e os membros da União Europeia, não querem discutir esse assunto, mantendo um impasse que favorece as multinacionais farmacêuticas. Isso abre espaço também para a biopirata-ria, uso ilegal de um patrimônio genético para fins industriais.

As duas AmazôniasApesar de abranger terras de outros oito

países vizinhos (Suriname, Guiana, Vene-zuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e o território da Guiana Francesa), quando falamos em Amazônia pensamos logo em Brasil. Isso porque 65% da área da floresta – ou 4,2 milhões de quilômetros quadra-dos – pertence ao país. Uma imensidão definida de duas formas: bioma Amazônia e Amazônia Legal.

O bioma Amazônia é uma interpretação ecológica que considera apenas as áreas de formação florestal e seus ecossistemas. A Amazônia Legal refere-se à região políti-ca que abrange os sete estados da Região Norte – Amazonas, Pará, Roraima, Amapá, Acre, Rondônia e Tocantins –, além de Mato Grosso e parte do Maranhão. É onde se concentram cerca de 20 milhões de habitantes e uma economia diversificada, cujo Produto Interno Bruto (PIB) atinge 176 bilhões de reais.

As principais atividades econômicas da Região Norte são a mineração e a Zona Franca de Manaus, essa última responsável

por cerca de 80% da produção do Ama-zonas. Trata-se de um polo industrial em plena selva, que cresceu estimulado pela isenção de impostos (veja mais na pág. 148). Criado em 1957, possui mais de 550 indústrias, que criam 110 mil empregos diretamente e faturaram 30 bilhões de dólares em 2008. Mas a região enfrenta a pressão do resto do país contra o modelo de subsídios que garante sua prosperidade. Esse regime fiscal tem vigência até 2023. Já a exploração de madeira e a agropecuária representam apenas 7% do PIB regional.

Queda no desmatamentoEm torno de 17% da vegetação nativa da

Amazônia brasileira já foi destruída. Só nos últimos 20 anos, foram derrubados 360 mil quilômetros quadrados de floresta, uma área equivalente à de Minas Gerais. Mas essa devastação está diminuindo de ritmo. Em 2009, o governo federal anunciou a menor taxa de desmatamento na floresta Amazônica em 21 anos. Entre agosto de 2008 e julho de 2009, foi devastada uma área de 7.464 quilômetros quadrados – 45% menos do que o total desmatado nos mes-mos 12 meses do período anterior.

O governo federal atribuiu o resultado principalmente às operações de repressão às madeireiras, aos grileiros de terra e aos pecuaristas. Entre as medidas legais, houve a decisão de restringir o crédito a quem in-fringir normas ambientais, de embargar as propriedades onde houver desmatamento ilegal e de criar uma lista dos municípios

A enorme riqueza biológica da Amazônia é um potencial ainda pouco explorado pelo Brasil

em que o desmatamento seja maior. Outro fator que parece ter sido determinante foi a queda de exportações resultante da cri-se econômica mundial iniciada em 2008. Apesar dessa redução do ritmo de des-matamento, ainda há muito que fazer. As organizações ambientalistas alegam que reprimir o desmatamento ilegal apenas não é suficiente. É preciso atacar as raízes do problema, criando, por exemplo, um modelo econômico de exploração da flo-resta capaz de competir com as atividades ilegais. Outra proposta é a de um plano para recuperar as áreas degradadas. Existem na região 200 mil quilômetros quadrados de áreas que foram desmatadas para o cultivo e pastagem e depois abandonadas – a ideia é fazer da recuperação uma alternativa mais rentável para o proprietário do que a derrubada de mais floresta. A prática do manejo sustentável já é obrigatória em uni-dades de conservação de uso sustentável, como as florestas nacionais.

Projetos desse tipo poderão ser eficien-tes, mas há outros problemas locais a ser combatidos conjuntamente, em especial o histórico caos fundiário que alimenta a grilagem de terra e a consequente ação pre-datória na região, das quais a mais visível é o desmatamento. Pesquisas do Instituto Imazon indicam que um terço das terras da região está em situação irregular. O governo não sabe a quem pertencem mais de 700 mil quilômetros quadrados de florestas, mas desconfia de que boa parte desse ter-ritório esteja em mãos de grileiros. u

Acre

Amazonas

Roraima

MaranhãoPará

Rondônia Tocantins

Amapá

Mato Grosso

3

Bioma Amazônia

AS DIVERSAS AMAZÔNIAS

FLORESTA E BACIA AMAZÔNICASA maior bacia hidrográfica do mundo, formada pelo rio Amazonas e por todos os seus afluentes, cobre 7 milhões de quilômetros quadrados – 65% em território brasileiro e o restante na Colômbia, na Bolívia, no Equador, na Guiana, no Peru e na Venezuela. Os 25 mil quilômetros de rios fornecem 15,4% de toda a água despejada nos oceanos. O IBGE considera a área da floresta igual à da bacia amazônica. Pelos dados do Imazon, a mata cobre 64% da Amazônia Legal (3,3 milhões de quilômetros quadrados), mas reduz-se a cada ano em razão das queimadas e derrubadas. A floresta abriga diversos tipos de ecossistema, como matas de terra firme, de várzeas e igapós.

AMAZÔNIA LEGAL Delimitada pelo governo em 1966 como região política para a execução de planos de desenvolvimento e ações de assistência e fiscalização, engloba os sete estados da Região Norte, além de Mato Grosso e parte do Maranhão. A área, de 3,8 milhões de quilômetros quadrados (59% do território nacional), tem 23 milhões de habitantes e uma economia que responde por 7,5% do PIB do país.

BIOMA AMAZÔNIA NO BRASILÉ uma interpretação ecológica que considera apenas as áreas de formação florestal e seus ecossistemas, com clima, vegetação e fauna semelhantes. Ocupando 49,3% do território brasileiro e estendendo-se para outros países, a região abriga 13 milhões de brasileiros. O maior bioma do país abriga a maior biodiversidade do planeta.

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1988 1989 1990 1991 1992 1993* 1994* 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

21.050

17.770

13.730

11.030

13.78614.896 14.896

29.059

18.161

13.227

17.383 17.25918.226 18.165

21.393

25.24727.423

18.846

14.109

11.532

2008

12.911

2009**

7.464

Área desmatada a cada ano (de agosto a julho), em km2

*Média dos dois anos **Estimativa

O ATAQUE À FLORESTA

DESMATAMENTO EM QUEDAObserve que há tendência de queda contínua do total desmatado aferido, de 2005 a 2009, salvo o repique de 2008.Em 2009, a queda percentual foi a maior registrada em 21 anos. Segundo o governo, ela se deve à repressão e punições fiscais aos madeireiros e pecuaristas. Também deve ter contribuído a queda de exportações, resultado da crise econômica mundial iniciada em 2008.

Fontes: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Ministério do Meio Ambiente

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120 atualidades vestibular + enem 2011

brasil concentração de rendak

1212011 atualidades vestibular + enem

Concentração de renda

definição Os índices de concentração de renda medem quanto é desigual entre a população do país a apropria-ção dos rendimentos produzidos pelo trabalho. No Brasil, historicamente, a renda é muito concentrada numa pequena elite e mal distribuída entre os diversos estratos da população. A distribuição de renda é um dos fatores determinantes para o desenvolvimen-to econômico e a justiça social.

evolução O Brasil tem obtido resul-tados positivos para combater a con-centração de renda. De 2001 a 2008, a renda dos 10% mais pobres cresceu 8,1% ao ano, enquanto a dos 10% mais ricos cresceu menos, 1,4% ao ano. Mas os indicadores ainda são insatisfató-rios: em 2008, quase 50% dos brasi-leiros continuavam com uma renda mensal de até um salário mínimo.

menos pobres Com a diminuição da concentração de renda, pode-se observar uma redução da pobreza no país. Entre 2003 e 2008, caiu em 43% o número de pobres no Brasil (pessoas com renda familiar per capita mensal de até 137 reais), de 50 milhões para 29,9 milhões, segundo dados do Cen-tro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Índice de Gini Este é o indicador uti-lizado internacionalmente para medir a concentração de renda. Seus valores variam de zero a 1 – sendo zero um local com nenhuma concentração de renda. Em 2008, segundo o IBGE, o Brasil teve um índice de 0,521.

causas da concentração No Brasil, a estrutura dos impostos é apontada como uma das principais causas da con-centração de renda. Segundo o Ipea, em 2008, pessoas que ganhavam até dois salários mínimos gastaram 53,9% da renda no pagamento de impostos de produtos e serviços, enquanto as com renda superior a 30 salários míni-mos gastaram apenas 29%. A falta de acesso a uma educação de qualidade e a histórica discriminação racial tam-bém são fatores que intensificam a desigualdade econômica no Brasil.

qresumo

pobres paGam mais Marcone Gonçalves

No momento em que a reforma tribu-tária começa a aparecer no discurso dos três principais pré-candidatos à Presi-dência da República, pesquisa divul-gada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) revela que o assunto está distante do dia a dia dos eleitores. (...) A Fiesp entrevistou mil pessoas em 70 cidades, entre 20 e 30 de março, e descobriu que 84% até sabem que parte do dinheiro de suas compras vai parar nos cofres do governo. No entanto, poucos conseguem adivinhar quanto do preço final dos produtos e serviços vem dos impostos. (...)

Os tributos que incidem sobre o consumo e os serviços públicos, como

energia elétrica e telefonia, são em-butidos nos preços. Por isso, pesam proporcionalmente mais sobre quem ganha menos. É o que se chama de efeito regressivo da tributação. Atu-almente, uma família com renda de até R$ 500 geralmente gasta mais de 32% do orçamento com comida, enquanto o percentual fica em torno de 10% para as famílias que ganham acima de R$ 10 mil. Segundo a presidenta do Centro de Estudos Avançados de Direito Tribu-tário e Finanças Públicas (Ceat), Mary Elbe Queiroz, as pessoas de baixa renda no Brasil são punidas porque o Estado prefere tributar os produtos, depois a renda e, por último, os ganhos de capital. (...)

Correio Braziliense, 1º/6/2010

Saiu na imprensa

o Brasil do século XXI está avan-çando em seus indicadores de distribuição de renda per capita

e familiar, mas o país continua bastante desigual e marcado por uma forte con-centração. Uma distribuição mais equi-tativa da renda no conjunto da população é um dos fatores determinantes para promover o desenvolvimento econômico e a justiça social.

Segundo estudo divulgado pelo Ins-tituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea, federal), em 2005 os 10% mais ricos da população brasileira detinham 75,4% da riqueza do país. Ou seja, é um quadro muito grave e histórico de desigualda-des sociais. Felizmente, as estatísticas mostram melhoras nos anos recentes.

Um pouco menos pobresA concentração de renda no Brasil permanece muito acentuada, mas o país consegue elevar os rendimentos de sua população mais pobre

De acordo com análise do Ipea sobre dados do IBGE, em 2008 a renda per capita do brasileiro aumentou, princi-palmente entre a parcela mais pobre da população. Entre 2001 e 2008, o cresci-mento médio da renda per capita foi de 2,8% ao ano. Entre os 10% mais pobres, a renda cresceu 8,1% ao ano, uma variação muito superior do que entre os 10% mais ricos, que tiveram um crescimento de 1,4% ao ano.

Esse aumento percentual da renda per capita entre os mais pobres em relação aos mais ricos revela uma diminuição no grau da desigualdade do país. De acordo com o Ipea, uma forma de avaliar essa queda da desigualdade é comparar o crescimento acumulado na renda dos 20% mais pobres

com os 20% mais ricos no decorrer do tempo. Enquanto em 2001 a renda do grupo dos 20% mais ricos totalizava 27 vezes o valor da renda dos mais pobres, em 2008 esse valor passou a ser 19 vezes maior, uma redução de 30%.

Com o aumento do indicador da renda per capita, constata-se também uma di-minuição da pobreza. Entre 2003 e 2008, o número de pobres no Brasil (pessoas com renda familiar per capita mensal de até 137 reais), caiu 43%, passando de 50 milhões para 29,9 milhões de pessoas, segundo o Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV).

Mesmo com todas essas melhoras, os indicadores refe-rentes à distribui-ção de renda ainda são insatisfatórios. Em 2008, somente 5,5% dos brasilei-ros conseguiam uma renda mensal de mais de cinco salários mínimos,

enquanto quase 50% possuíam uma ren-da de até um salário mínimo apenas, segundo o IBGE.

A concentração de renda brasileira também pode ser observada pelo alto índice de Gini. Esse indicador é adotado internacionalmente para medir a concen-tração de renda dos países. O índice Gini varia de zero a 1, e quanto mais próximo de zero, menor é a desigualdade. No Bra-sil, conforme dados do IBGE, em 1996, o índice de Gini era de 0,568, passando para 0,521 em 2008.

Causas e fatoresUma das causas da má distribuição

de renda no Brasil é uma estrutura dos impostos desequilibrada e injusta. Se-gundo análise do Ipea , os pobres pagam proporcionalmente mais impostos sobre o total de sua renda do que os ricos, ou seja, desembolsam percentualmente mais dinheiro, o que diminui a sua renda lí-quida. Em 2008, pessoas que ganhavam até dois salários mínimos – na época o equivalente a 930 reais – gastavam 53,9% da renda no pagamento de impostos. Já as famílias com renda superior a 30 salários mínimos desembolsavam em torno de 29% com impostos.

Outro aspecto importante revelado pelo IBGE é o vínculo entre a má distri-

buição de renda e a questão racial no país. Em 2008, por exemplo, entre os 10% mais pobres, 25,4% se declararam brancos, enquanto 73,7% disseram ser negros. Já entre o 1% mais rico, 82,7% eram pessoas brancas e apenas 15% negras.

A concentração de renda também é in-fluenciada pelo acesso da população à edu-cação, pois esse é um fator significativo para a melhoria de crescimento profissional, emprego e renda. Assim, investir na edu-cação do país é uma das ferramentas para combater e diminuir essa desigualdade.

Medidas eficazesO aumento do salário mínimo ainda é

sugerido por especialistas como a medida mais eficaz para combater a concentração de renda. Aumentos superiores ao do custo de vida são uma forma direta de melhorar a renda da população. Fixado em 510 reais (dado de janeiro de 2010), o salário mínimo serve como parâmetro para reajustes salariais, além de benefi-ciar diretamente os salários mais bai-xos e os rendimentos dos aposentados. O aumento do emprego formal (veja na pág. 140) também é uma das razões para a diminuição da desigualdade.

Algumas medidas tomadas pelo governo federal têm se mostrado eficazes para pro-mover diretamente a distribuição de renda

ou combater as desigualdades sociais. O Bolsa Família é uma delas. Criado em 2004, esse programa transfere um auxílio em dinheiro diretamente para os mais pobres. Em janeiro de 2010, 12,4 milhões de famílias eram atendidas pelo programa, e o governo federal prevê ampliar o atendimento para 12,9 milhões. Um dos objetivos do Bolsa Família é garantir que crianças e jovens continuem na escola e não parem de es-tudar para trabalhar e aumentar a renda da família, o que é um importante fator de evasão escolar no Brasil. u

Até 1 salário mínimo 49,4%

De 1 a 2 salários mínimos 25%

8,7%

6,4%

5,5%

De 2 a 3 salários mínimos

De 3 a 5 salários mínimos

Mais de 5 salários mínimos

Renda mensal familiar no Brasil (por membro da família)*

O RETRATO DA CONCENTRAÇÃO (2008)

Fonte: Pnad 2008/IBGE

PIRÂMIDE DA DESIGUALDADE Atente para o fato de que este gráfico traz os dados em renda familiar mensal por membro, e não pelo conjunto da família. O conjunto resulta em um formato de pirâmide, e o percentual de brasileiros com renda de até um salário mínimo é dez vezes maior do que o daqueles com renda superior a cinco salários* Segundo o IBGE, 2,8% das famílias avaliadas não declararam sua renda e 2,2% não trabalhavam

ajuda oficial A diarista Kátia Matos, de Fortaleza: Bolsa Família complementa a renda e incentiva a ida das filhas à escola

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