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    Histria Unisinos

    10(2):142-153, maio/agosto 2006 2006 by Unisinos

    Histria poltica cultura polticaesociabilidadepartidria: uma proposta metodolgica

    Janana Carla S. Vargas Hilrio1

    [email protected]

    Resumo. O presente texto pretende discutir uma temtica nova nos estudos da histria,ao destacar os conceitos de cultura poltica e sociabilidade na anlise de um partidopoltico. A inteno analisar as possibilidades do estudo das instituies polticas atravsde novos mtodos e do intercmbio com as outras disciplinas. A proposta apresentaruma metodologia que visa pensar as relaes permeadas pela cultura e muitas vezespelo emocional, fugindo aos padres de anlise que priorizam os aspectos racionais dapoltica.

    Palavras-chave: cultura poltica, sociabilidade, partido poltico.

    Abstract. Te article discusses a new topic in the study of history, pointing out theconcepts of political culture and sociability in the analysis of a political party. Its purposeis to analyze the possibilities of a study of political institutions through new methodsand an exchange with other disciplines. It presents a methodology that aims at reflectingabout the relations as being permeated by culture and often by emotional factors, whichis different from the ordinary analysis that prioritizes the rational aspects of politics.

    Key words: political culture, sociability, political party.

    Political history political culture and partisan sociability: a methodologicalproposal

    1 UTFPR, Paran, Brasil.

    2O artigo refere-se metodologia usada num trabalho emprico mais amplo, no qual so estudados os instrumentos delineados pelo texto na anlise de uma instituio, oPartido dos Trabalhadores.

    Introduo Este artigo procura discutir uma temtica nova

    nos estudos da histria sobre a poltica no Brasil, ao des-tacar os conceitos de cultura poltica e sociabilidade naanlise de um partido poltico.2A minha inteno maior,e confesso um pouco pretensiosa, de chamar a atenodos historiadores para o estudo das instituies polticasatravs de novos mtodos e do intercmbio com as outras

    disciplinas. Nessa perspectiva, apresento uma propostametodolgica para os que acreditam que a histria polticapode proporcionar trabalhos significativos, permitindo

    uma melhor interpretao da histria brasileira.Num primeiro momento, traarei, de forma breve

    e sucinta, uma pequena anlise da histria poltica reno-vadaou nova histria poltica, mostrando o processo quedesencadeou seu surgimento, sua repercusso no Brasil esuas principais tendncias. No poderia deixar de comear

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    esse artigo sem me ater a esse fato, pois os conceitos quediscuto so oriundos dessa histria renovada.

    Logo mais, apresento os termos cultura poltica esociabilidade partidria,fazendo uma anlise conceitual eterica, mostrando a origem, constituio, caracterizao,

    adeptos, crticos e as possveis aplicabilidades no campohistrico.

    A terceira parte do artigo refere-se a umaproposta de estudo sobre um partido poltico, elaboradaatravs da discusso de alguns tericos, cuja contribui-o maior advm do historiador francs Serge Berstein.A inteno mostrar a relevncia dessa proposta aoaplicar os conceitos cultura poltica e sociabilidade naanlise de uma instituio partidria, rompendo com atendncia que visava tratar uma agremiao atravs dareconstituio do tecido factual (nascimento, dirigentes,acidentes histricos, grandes fatos, diretrizes etc.). Essatendncia , sem dvida, importante, mas no suficiente

    para entender as relaes entre o pblico e o privado nasmediaes polticas, como tambm as relaes permeadaspela cultura e muitas vezes pelo emocional, fugindo aospadres de anlise que priorizam os aspectos racionaisda poltica.

    A renovao da histria poltica

    Agiu sabiamente Ren Rmond (1996, p. 13)quando disps: A Histria, cujo objeto precpuo observar as mudanas que afetam a sociedade, e quetem por misso propor explicaes para elas, no esca-

    pa ela prpria mudana. Nesse sentido, a histria vista como um conhecimento continuamente reescrito,acompanhando as mudanas sociais, incorporando novasfontes, novas tcnicas, novos conceitos e teorias, novospontos de vista que levam reavaliao do passado edas suas interpretaes. Portanto, a historiografia tem seinovado, constantemente, em mtodos e objetos, apre-sentando novas perspectivas de anlise ao historiador. nesse contexto que a nova histria poltica tem sido alvo

    3A questo que envolve supostas rupturas e continuidades entre a histria poltica dos sculos XIV a XX identificada como tradicional com a histria poltica propagadaem meados do sculo XX na Europa (mais precisamente na Frana) identificada como nova requer uma profunda e minuciosa discusso, fugindo aos objetivos deste artigo.

    Francisco Falcon (1997), pretendendo legitimar a incorporao do conceito de nova histria poltica, traz uma genealogia do estudo do poltico ao longo da histria. No entanto,precisamos pensar que essa uma questo um tanto problemtica, e que de acordo com alguns tericos, a histria poltica no teve rupturas suficientes para ser classificadacomo nova, e sim no mximo, renovada(cf. Remond, 1996; Julliard, 1988; Le Go , 1985; Ferreira, 1992).4 necessrio ter um certo cuidado com a equiparao ou assimilao entre o Positivismo e a Escola Metdica. O primeiro tinha por inteno trazer leis para os fatos e relaeshumanas; a segunda trouxe uma contribuio importante para o historiador ao discutir a veracidade das fontes, assim como apresentar um mtodo para a histria. Portanto,igual-los incorrer num erro que permite classificar a histria poltica, na linguagem dos historiadores, como positivista ou factual.5Embora os primeiros historiadores da Escola dos Annales tenham criticado a histria poltica, classificando-a como factual, no podemos deixar de pensar que tanto Blochcomo Febvre tenham introduzido novos mtodos de anlise para a histria, mas sem abandonar a esfera do poltico. Por exemplo, em sua obra Os reis taumaturgos,MarcBlochanalisa as manifestaes do poder de cura atribudos aos reis da Frana e da Inglaterra: Ele procura [...] escavar at as fontes da psicologia coletiva [...]. Em resumo, eleconstri um estudo-modelo das atitudes polticas mentais. (Le Go , 1985, p. 223). Na obra, Bloch discute o poder dos reis de curar os doentes de escrfula, uma doena depele conhecida como o mal dos reis, que era curada atravs do toque real, expressando, portanto, uma histria de cunho poltico, uma vez que retrata as relaes de poderdo rei com seus sditos, revelando uma histria poltica com novos mtodos atravs do uso da sociologia, antropologia, psicologia; isso nos leva a pensar que Bloch iniciou oestudo da cultura na dimenso do poltico.

    de discusso, que ela surgiu ou, como querem alguns,ressurgiu3, com a inteno de permanecer de forma ve-emente na historiografia. Para entender um pouco esseprocesso, necessrio debatermos como a histria foiidentificada como histria poltica tradicional, factual e

    at mesmo positivista, e quais os mecanismos que pro-porcionaram sua renovao, resultando no campo que seconvencionou chamar de nova histria poltica.

    A histria desde os gregos ao sculo XIX, de umaforma geral, preocupou-se com os fatos relacionadoscom as monarquias, repblicas, grandes guerras, heris,ou seja, com os acontecimentos e regimes polticos.No entanto, justamente esse estudo que privilegiavao Estado e suas instituies serviu de crtica para oshistoriadores. O outro fator que contribuiu para essacrtica foi o surgimento no sculo XIX de uma histo-riografia impregnada de valores cientficos: a positivista,denominada por outros como historiografia metdica4,

    tendo como caracterstica relevante o cientificismo de seumtodo histrico. Alm de apresentar um mtodo paraa histria, Falcon (1997, p. 66) nos esclarece que o fatomais importante [...] o de que essa historiografia levoua supremacia da histria poltica narrativa, factual,linear ao apogeu nos meios acadmicos. A intenomaior da histria metdicaera distinguir a verdade his-trica da fico literria, separando os fatos verdadeiros,comprovados com documentos histricos, dos falsossem comprovao, apresentando um estudo voltadopara o poltico. O fato que foi na terceira dcada dosculo XX que a histria poltica passou a ser renegadae conhecida como tradicional. A publicao dosAnnales,

    sob a direo de Marc Bloch e Lucien Febvre, condenouveementemente o estudo do poltico, priorizando o sociale o econmico5. Rmond (1996) ainda esclarece que odesenvolvimento da histria econmica e social se fezs custas do declnio da histria dos acontecimentospolticos.

    Mas, afinal, por que de fato a histria poltica foicondenada pelos precursores dosAnnales? Jacques Julliard(1988, p. 181) nos explica:

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    A histria poltica psicolgica e ignora os condiciona-mentos; elitista, talvez biogrfica, e ignora a sociedadeglobal e as massas que a compem; qualitativa eignora a comparao; narrativa, e ignora a anlise; idealista, e ignora o material; ideolgica e no tem

    conscincia de s-lo; parcial e no o sabe; prende-seao consciente e ignora o inconsciente; visa aos pontosprecisos e ignora o longo prazo; em uma palavra, umavez que essa palavra tudo resume na linguagem doshistoriadores, uma histria factual.

    A histria feita at ento s tinha olhos para osacidentes e as circunstncias superficiais, esgotava-se naanlise das crises e privilegiava as rupturas em vez dascontinuidades: [...] era a prpria imagem e o exemploperfeito da histria dita factual, [...] que fica na superfciedas coisas e esquece de vincular os acontecimentos s suascausas profundas (Rmond, 1996, p. 16).

    A euforia em relao histria seriale o menos-prezo pelo tempo curto, por ser de acordo com Braudel (oprincipal historiador da segunda gerao dosAnnales), omais instvel e o menos decisivo dos tempos histricos,contriburam para o abandono da histria poltica. A

    justificativa apresentada segundo a tese de que o fatopoltico possui carter nico, impossvel de se fazer umaabordagem quantitativa e inserida na longa durao.

    No entanto, justamente essa crise que pro-porcionou uma progressiva constituio de uma novahistria polticaou, como quer Rmond, o renascimentoda histria poltica. Segundo o autor, essa tendncia deveser entendida atravs de dois fatores: as transformaessociais mais amplas, que propiciaram o retorno do pres-tgio do campo do poltico, e a prpria dinmica internada pesquisa histrica.

    O alargamento da competncia do Estado e a im-plementao das polticas pblicas, assim como o contatoda histria com a cincia poltica, a sociologia, a lingsticae com a psicologia, abriram novos campos de estudo.

    Falcon (1997) nos apresenta importantes elemen-tos que puderam contribuir para o retorno da histriapoltica. Um desses elementos refere-se colaboraodos marxistas heterodoxos. Por exemplo, a circulao dostextos de Gramsci (que alterou bastante a reflexo mar-

    xista ao analisar o poltico e suas ligaes com a cultura),Lukcs, membros daEscola de Frankfurte dos historiado-res ingleses Hobsbawm, Hill e Thompson produziu efeitossignificativos: eles recolocaram no primeiro plano daescrita da histria o poder, o poltico e a poltica, emboratenham rejeitado a histria poltica tradicional.Conceitosgramscianos como hegemonia, bloco histrico, domi-nao versusdireo, intelectuais orgnicos auxiliaram arestaurao do poltico.

    A partir dos anos 1970, atravs da Microfsica dopoder, Michel Foucault (1979) ampliou a noo de poder(e pensar histria poltica implica necessariamente pensara questo do poder), que passa a estar presente no s nasinstituies polticas, mas tambm em escolas, na famlia,

    prises, hospcios, hospitais, polcia, fbrica, etc., ou seja,em todas as instncias sociais. Essa compreenso de novospoderes e saberes proporciona novos mtodos de anlisepara a histria.

    A histria poltica passou a ser vista como o es-tudo do poder: A questo poltica se manifesta tambminformalmente como mostrou Foucault no exerccio dopoder detectado em diferentes relaes sociais (DAlessioe Janotti, 1996, p. 123). Francisco Falcon (1997, p. 76)salienta a importncia do estudo da relao entre poder epoltica a partir da dcada de 1970:

    Poder e poltica passam assim ao domnio das represen-taes sociais e de suas conexes com as prticas sociais;coloca-se como prioritria a problemtica do simblico simbolismo, foras simblicas, mas sobretudo o podersimblico [Pierre Bourdieu] [...] o estudo do poltico vaicompreender [...] as representaes sociais ou coletivas,os imaginrios sociais, a memria ou memrias cole-tivas, as mentalidades, bem como as diversas prticasdiscursivas associadas ao poder.

    Essa valorizao e ampliao da idia de poderatingiu diretamente a noo de poltica (j que as duasandam juntas). Em decorrncia disso, deve-se tomar ocuidado com a afirmao de que tudo poltica parano cair no reverso da medalha ao expor que poltica noexiste. Se o poltico importante [...] preciso dizertambm que nem tudo poltico, que no se deve reduzirtudo poltica, [e saber] que o poltico no est sozinho eisolado (Rmond, 1994, p. 18). Rmond (1996, p. 444)estabelece uma relao ntima entre poltica e poder: [...]a poltica a atividade que se relaciona com a conquista,o exerccio, a prtica do poder [...].

    Outros elementos importantes para a renovaoda histria poltica referem-se ao deslocamento nosanos 1960-70 dos estudos da revoluo para as rebeliespolticas e culturais que produziu um tipo de revisohistoriogrfica, privilegiando estudos sobre movimentossociais, grupos minoritrios e cultura; e nos anos 1980,a substituio da revoluo pela democracia contribuiupara que as atenes voltassem para a histria poltica(Capelato, 1996).

    No entanto, a sentena em que os Annalescon-denaram a histria poltica tradicional no teve muitarepercusso no Brasil (Falcon, 1997). Francisco Falcon(1997), ao se referir obra de Amaral Lapa Historio-

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    grafia brasileira contempornea,informa que o autor fazuma anlise da historiografia brasileira dos anos 1970,concluindo que os temasrespeitantes ao poder apareciamna historiografia quando relacionados ao Estado.Tra-tava-se, portanto, de uma historiografia predominante

    e constituda em quase sua totalidade pelo modelo dehistria poltica tradicional.

    A anlise de Mrcia Mansor DAlessio e Mariade Lourdes M. Janotti (1996), atravs de um trabalhoem que pesquisaram a produo de dissertaes e teses dehistria do Brasil entre 1985 e 1994, mostra que a histriapoltica no Brasil se imps. Elas perceberam que entrediferentes temas e objetos, o poltico sempre se mantevecomo principal referncia do discurso histrico brasileiro.No entanto, Carlos Fico e Ronald Polito (1996) afirmamque, embora a histria poltica nunca tenha deixado deser praticada, ela no experimentou grandes renovaestericas ou metodolgicas como ocorreu, por exemplo,

    com a histria social: Muitos trabalhos persistiram numaperspectiva linear de anlises de individualidades ou dacorriqueira sucesso de episdios da pequena poltica(Fico e Polito, 1996, p. 194). Podemos concluir, a partirdisso, que a histria poltica no Brasil tem sofrido umarenovao lenta, e mesmo os trabalhos que tratam, diretaou indiretamente, do poltico no se autoclassificam comode histria poltica; expressiva tambm a existncia decientistas sociais que continuam a ter uma certa des-confiana e desprezo por aqueles que se definem comohistoriadores do poltico.

    E o que, de fato, diferencia a velha histria pol-tica da nova? Jacques Le Goff responde: [...] a imagem

    de uma nova histria poltica, diferente da antiga, [deveser] dedicada s estruturas, analise social, sociologiae ao estudo do poder (Le Goff, 1985, p. 219). J para ohistoriador Jacques Julliard (1988, p. 190) no existe nadaradicalmente novo em relao s concepes tradicionaisse o poder for entendido exclusivamente no Estado; maspode existir a diferena desde que retenha do poder umanoo mais ampla, na qual o Estado [...] seria apenas umcaso particular [...].

    Mostramos at aqui os mecanismos que propor-cionaram o surgimento de uma histria poltica renovada,sua atuao no Brasil, no obstante, sem saber o que essanova histria polticaou a histria poltica renovada.

    A nova histria polticacontinua trabalhando temastradicionais, como partidos, eleies, guerras ou biogra-fias, porm sob uma nova perspectiva, atravs de novosmtodos, como o uso da opinio pblica, da mdia e dodiscurso. Alm disso, os contatos com a cincia poltica,

    6Essa renovao do poltico, ou seja, relacionado aos outros campos das cincias humanas, j vinha sendo feita pela primeira gerao dos Annales, embora Bloch e Febvre nodeclarem isso.

    com a sociologia, a lingstica e a antropologia tambmfrutificaram, resultando no desenvolvimento de trabalhossobre a sociabilidade, a histria da cultura poltica e emanlises de discursos. Na tentativa de redefinir o poltico,sua realidade e especificidade, entram em jogo a noo desociale o conceito de representao (Falcon, 1997, p. 79). Amaior abertura aos elementos culturais tidos at aqui comoextrapolticos e as perspectivas promissoras do conceitode cultura poltica exemplificam talvez o quanto se buscasuprimir e inovar em histria poltica (Falcon, 1997): Acultura poltica uma chave. Ela introduz a diversidade,o social, ritos, smbolos, l onde se acredita que reina opartido, a instituio, o imutvel [...]. Seu estudo maisque enriquecedor, indispensvel (Berstein, inFerreira,1992, p. 264).

    Ainda em relao cultura poltica, Pierre Rosan-vallon (1995) destaca aquilo que ele denomina de objetocomplexo da histria das mentalidades: cultura poltica.

    A histria conceitual do poltico toma esse objeto com oobjetivo de desvendar as obras literrias, a imprensa, ospanfletos, os discursos de circunstncias, os emblemas eos signos.

    Portanto, a nova histria poltica passou a usarmtodos mais eficientes na anlise de seus objetos atravsda utilizao de conceitos e idias de outras disciplinas.Alm disso, ela introduziu outros elementos (cultura,representao, mitologia, imaginrio social, mentalidade,social) para se pensar o poltico.6Essa a nova histriapolticacom novos mtodos e antigos objetos, que tem sidoaceita com certa relutncia pela historiografia brasileira, noentanto, apresenta perspectivas que prometem trabalhos

    ricos e inovadores. Alm disso, ela contribuiu para trazeruma outra renovao, pois a pesquisa histrica incorporouperodos mais prximos (Histria do Tempo Presente ouHistria Imediata), que eram tratados at ento somentepor outras disciplinas (Borges, 1991).

    Cultura poltica e sociabilidadepartidria:conceitos danovahistria poltica

    A expresso cultura polticafoi criada na dcadade 1960 nos Estados Unidos por Almond e Verba (1963)

    atravs de relaes entre as perspectivas sociolgicas, an-tropolgicas e psicolgicas no estudo da poltica. LcioRenn esclarece que o conceito apareceu somente nos anos1960 devido desiluso com as expectativas iluministas eliberais, e o avano de tcnicas de pesquisa e abordagens

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    7Para uma discusso detalhada, ver Kuschnir e Carneiro (1999).

    metodolgicas que permitiam tratar questes relacionadasao campo cultural (Renn, 1998). A necessidade de pensara cultura na poltica era a de incorporar uma abordagemcomportamental que pudesse dar conta dos aspectossubjetivos do poltico. Almond e Verba (1963, p. 13)

    definiram cultura poltica como a expresso do sistemapoltico de uma determinada sociedade nas percepes,sentimentos e avaliaes de sua populao.A intenodos autores era pensar o papel da cultura polticano funcio-namento dos regimes democrticos, ou seja, as mudanasculturais e de comportamento poltico que poderiam seestabelecer atravs da concretizao da democracia, j queo desenvolvimento econmico no garante a democrati-zao, apenas quando altera o padro cultural vigente. Acultura foi entendida pelos autores como uma articulaode padres de comportamentos que foram apreendidossocialmente, atravs da transmisso de idias e tradies,sem nenhuma determinao biolgica. Alis, no se

    tratava de definir o conceito de cultura, mas elaborar ummtodo que permitisse utilizar esse conceito para instituiros comportamentos polticos. Almond e Verba seguiramum modelo culturalistaque tinha por objetivo estabeleceras inter-relaes entre cultura e estrutura poltica, masno deixaram de sofrer diversas crticas dentro da prpriacincia poltica7.

    Desde o seu surgimento, o conceito e os pressu-postos envolvendo a cultura polticatm sofrido uma sriede crticas, especialmente de estudiosos que atuam nocampo de conhecimento inaugurado por Almond e Ver-ba. Em termos gerais, a grande rejeio ao conceito estevebaseada na crtica em relao ao alcance explicativo que

    ele postulou, concebido originalmente como uma varivelindependente na compreenso dos fenmenos polticos,sustentado numa forte ideologizao justificadora dasuperioridade dos valores cvicos fundados na culturaliberal-democrtica de matriz anglo-saxnica. Entreessas crticas, podemos destacar a que diz respeito aospressupostos da obra The Civic Culture: a postulao deum determinado tipo de cultura polticacomo requisitonecessrio e absoluto para a constituio e consolidaoda democracia, no caso, a cultura cvicaexistente nosEstados Unidos e na Gr-Bretanha (Pateman, 1992).Essa perspectiva no considera que as diferentes cultu-ras polticasso fruto de diversas experincias histricas

    e que no necessariamente caminham para a mesmaconformao institucional. Alm disso, coerentes com acincia polticanorte-americana da poca do ps-guerra,Almond e Verba defendem a democracia liberal comomodelo ideal de sociedade.

    Para K. Kuschnir e Leandro P. Carneiro (1999, p.227), cultura polticarefere-se ao conjunto de atitudes,crenas e sentimentos que do ordem e significado aum processo poltico, pondo em evidncia as regras epressupostos nos quais se baseia o comportamento de

    seus atores. Os autores explicam que, em sociedadescomplexas, cada indivduo, na medida em que participade diferentes tipos de instituio (famlia, classe, partidospolticos, sistema educacional etc.), estaria exposto a vriasformas de socializao.

    Portanto, podemos pensar o conceito de umaforma um pouco mais abrangente daquela estabelecidapor Almond e Verba, pois Kuschnir e Carneiro utilizamo termo para designar a expresso de um sistema po-ltico, como tambm as mudanas culturais e os vrioscomportamentos poltico-sociais perante a instalao doregime democrtico. De acordo com a sua definio decultura poltica,acabam poralargar o sentido da categoria

    explicativa ao estabelecer a possibilidade de vrias culturaspolticas no mundo,presentes em instituies diferencia-das. Essas organizaes permitem concretizar uma culturapolticaprpria, procurando, em alguns casos, extern-lapara o restante da sociedade.

    Para Renn (1998, p. 71), cultura polticaincluiconhecimentos, crenas, sentimentos, compromissoscom valores polticos e com a realidade poltica. Alis,a filiao partidria fruto de opo subjetiva, e a po-ltica no segue somente regras racionais, mas tambmsubjetivas; da que surge a necessidade de pensar oselementos culturais no estudo da poltica, ou seja, oscomportamentos, crenas, ideologias, tradies, ritos,

    smbolos polticos.Kuschnir e Carneiro (1999, p. 234) salientam que

    a cincia poltica possui tradies acadmicas que negama importncia dos estudos sobre cultura poltica, procu-rando enfatizar a importncia de fatores socioeconmicosna definio da performance de um regime poltico ou deuma instituio democrtica. Nesse sentido, os modelosanalticos que procuravam explicar as caractersticas fun-cionais, organizacionais e constitucionais das instituiespolticas a partir de variveis socioculturais constituam[...] uma tradio minoritria da cincia poltica (Kus-chnir e Carneiro, 1999, p. 235). As principais crticasremontam idia de que Almond e Verba (1963) tm

    como foco o processo de construo de uma tipologia dossistemas polticos. No entanto, para esses dois autores,as anlises de cultura polticaso um campo privilegiadopara determinar as conexes entre as dimenses microe macro da poltica, pois tm como meta compreender

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    os valores que orientam as motivaes e as atitudes dosindivduos frente poltica institucional.

    Nessa perspectiva, com a inteno de romper como conceito estabelecido por Almond e Verba, necessrioincorporar aspectos que contemplem crenas e valores

    subjetivos sobre o conhecimento e as expectativas polti-cas, que so produto da experincia histrica das naes edos grupos polticos. Em outras palavras, no basta serem

    verificadas as atitudes e as opinies polticas de determi-nada sociedade para que se compreenda adequadamenteo papel que a cultura polticaexerce sobre a ao poltica.Dessa forma, em vez de enquadrar as diferentes socie-dades em uma tipologia construda a priori, os estudosde cultura polticadevem servir para que se construa umacompreenso da realidade que considere as diferentesexperincias histricas.

    Assim, a cultura polticaapareceria como um marcoou limite explicativo das opes disponveis ao alcance dos

    atores polticos, possibilitando pensar ento as mudanas epermanncias a partir de uma perspectiva histrica. Dessemodo, seria possvel explicar, por exemplo, a mudana cul-tural em termos de cultura poltica, mesmo em conjunturasbastante limitadas temporalmente. Nessa reorientao, oconceito perde a sua rgida axiologia, ganhando flexibili-dade e operacionalidade ao verificar heranas e mudanasculturais no mundo poltico.

    Este artigo, por conseguinte, se afasta dos estudosque privilegiam as estabilidades, eficcias institucionais ouconsolidao da democracia, ao oferecer uma proposta queexplora a anlise da cultura poltica em um pequeno grupo,atravs da reflexo acerca da influncia das instituies na

    formao da cultura em um partido poltico, ou seja, asheranas culturais, como tambm as mudanas que essamesma cultura sofre ao longo do tempo para se adequars novas conjunturas.

    A inteno usar o conceito como categoriaanaltica no estudo de um objeto instituio partidria e verificar o conjunto de prticas e experincias que le-gitimam a poltica, ao atribuir sentidos e ritos (Goldmane Santanna, 1996).

    Introduzir elementos culturais no estudo do polti-co no significa seguir uma viso culturalista determinista,ou seja, pensar que os valores culturais determinam ofuncionamento de uma instituio partidria.

    importante perceber que o conceito de culturapoltica foi aceito pela cincia poltica e tambm pelahistria, mais precisamente, pela nova histria poltica:Os historiadores contemporneos atribuem hoje umaimportncia fundamental aos ritos como expresso deuma cultura poltica especfica (Berstein, 1996, p. 89).No Brasil, como observam Kuschnir e Carneiro, h es-tudos sobre cultura poltica; por exemplo, Jos Murilo de

    Carvalho (1987 e 1990) direcionou as suas pesquisas paraa histria poltica, discutindo como os diversos aspectosda cultura poltica brasileira, das elites, tiveram impactosignificativo na formao das instituies polticas.

    A possibilidade de se pensar um estudo de cultura

    poltica supe analisar as condutas, normas e valores deum grupo poltico, mas tambm de considerar a relaodestes com o contexto institucional e histrico em queso formados.

    Pensar uma cultura poltica implica perceberpossveis modificaes na construo dessa cultura, ade-quando-a a novas conjunturas que so formadas ao longodo tempo. Antonio Gramsci (s/d) chama a ateno para ofato de que a criao de uma nova cultura significa fazerdescobertas, difundir de uma maneira crtica as verdades

    j estabelecidas, socializ-las, transform-las em bases deaes vitais. A anlise acerca da cultura poltica deve serfeita atravs de uma discusso que destaque a convivncia

    de valores novos com antigos.O conceito de cultura poltica, de acordo com as

    teses aqui apresentadas, pode ser entendido como umuniverso de percepes, sentimentos, atitudes, crenas,compromissos que definem o comportamento de umgrupo, de uma instituio ou de um regime poltico. Acultura poltica, como quer Serge Berstein (1996, p. 89),pode ser expressa atravs de alguns elementos:

    [...] se exprime por um sistema de referncias em que sereconhecem todos os membros de uma mesma famliapoltica, lembranas histricas comuns, heris consa-grados, documentos fundamentais, smbolos, bandeiras,

    festas, vocabulrio de palavras codificadas.

    A perspectiva do uso do conceito de cultura poltica resgatar o poltico atravs do estudo da tradio, das so-brevivncias, das continuidades que atravessam a ideologiados governantes, o pensamento poltico e a mentalidadecomum (Ferreira, 1992).

    No entanto, essa cultura polticano entendidacomo dissociada da sociabilidade. A nova histria po-ltica sugere o estudo da sociabilidade, porm ela noapresenta uma definio do conceito; para tanto, foinecessrio recorrer a estudiosos que se propuseram a darexplicaes acerca da sociabilidade.

    Norbert Elias (1994, p. 39) salienta que a socia-bilidade inerente aos seres humanos, sendo que ela spode ser evidenciada quando pensamos numa sociedadede indivduos, e no o indivduo e a sociedade como duasentidades ontologicamente diferentes: na peculiaridadeda psique humana, sua natural dependncia da moldagemsocial, que reside a razo por que no possvel tomarindivduos isolados como ponto de partida para entender

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    a estrutura de seus relacionamentos mtuos, a estruturada sociedade.

    Examinar os espaos de sociabilidade ou at mes-mo as prticas sociais criadas por um partido ou qualqueroutra instituio poltica implica analisar a sociedade sem

    perceber o eu destitudo do ns (Elias, 1994).A palavra sociabilidade foi empregadapor muito

    tempo para classificar pessoas e grupos em sociedade,sinnimo de socializao, agrupamento, etc. MauriceAgulhon (1968), atravs de um balano crtico repensouas perspectivas de abordagem do tema. O autor props oconhecimento das sociabilidades no pela intuio nempela impresso, mas pela densidade da existncia de asso-ciaes constitudas e suas mudanas no tempo e espao.Instrumento analtico e/ou categoria histrica, a sociabi-lidade refere-se a um conjunto de formas de conviver comos pares, como um domnio intermedirio entre a famliae a comunidade cvica obrigatria. Segundo Agulhon

    (1968) as redes de sociabilidade so entendidas como umgrupo permanente ou temporrio, independentementede seu grau de institucionalizao, no qual o indivduoescolhe participar. Argumenta o autor que a sociabilidadeteria dois sentidos: um amplo, envolvendo formas maisgerais de relaes sociais; e um mais restrito, relacionados formas especficas de convivncia com os pares. ParaAgulhon, a sociabilidade moderna data do sculo XIXe um fenmeno poltico ligado s idias de civilizao ede democracia prprias ao contexto da poca. Portanto,sociabilidade vida organizada, sendo que as associaesso as mais variadas.

    O intuito do autor o de tambm elaborar uma

    tipologia das sociabilidades, ou seja, estudar o movimentoassociativo de uma organizao e, ainda, verificar como asatividades polticas apresentam crescimentos, formandonovas sociabilidades associadas modernidade poltica.Os espaos de sociabilidade aumentariam medida queum partido (para dar exemplo de uma organizao) atingeuma maior participao poltica, modificando assim asua cultura.

    Cultura poltica e sociabilidadepartidria: possibilidades deanlise de um partido poltico

    O estudo dos partidos, de uma forma geral, e ahistria poltica sofreram um descrdito pela historiografia(embora j mostremos que, no Brasil, a histria polticanunca deixou de ser feita). Em parte, esse descrdito podiaser explicado pela tipologia de trabalhos produzidos, queconsistiam na reconstruo, de uma maneira factual, da

    vida dos partidos nascimento, processo de constituio

    histrica, tendncias, diretrizes e de estudos que se con-centravam na base ideolgica do partido, pelo seu projetode sociedade, o que resultou num aglomerado de trabalhosdedicados aos partidos de esquerda, tendo como principalobjeto o Partido Comunista (Berstein, 1996).

    A anlise dos partidos era direcionada para umahistria crnica e factual. Esse quadro comeou a ser al-terado quando houve, na Frana, em 1900, a publicaoda obra Histoire du parti rpublicain en Francede Georges

    Weill, mostrando como uma ideologia poltica podiaatravessar regimes e geraes adaptando-se conjuntura;a novidade estava em pensar a longa durao na anlise dopoltico. No obstante, a obra La droite en Francede RenRmond, publicada em 1954, marca uma virada nos tra-balhos sobre a histria das foras polticas, abandonando ahistria factual para enfatizar o peso da ideologia durantetodo o perodo contemporneo (Berstein, 1996).

    Os historiadores estavam prestes, portanto, a re-

    novar a histria poltica, mas claro que a contribuiode socilogos e, principalmente, de cientistas polticos foide extrema necessidade e importncia, pois foram eles quemudaram as perspectivas de abordagem sobre os partidospolticos. A reflexo sobre a natureza de uma instituiopartidria, sua funo na sociedade contempornea, almdos mecanismos que permitem sua existncia, como o seupapel de socializao e construo de culturas polticas,trouxeram aos historiadores novas formas de interrogaoe observao a respeito das agremiaes.

    A relevncia do estudo de uma instituio partid-ria est relacionada justamente ao fato de que um partidopode construir culturas polticas, novas sociabilidades, ao

    mesmo tempo em que permite traduzir os anseios de umaparcela da sociedade. Berstein (1996, p. 92) evidencia essaimportncia, ao afirmar que os partidos tm uma funoprimordial na sociedade, uma vez que os mesmos possuemum papel fundamental de socializao, a sociabilidadeque eles desenvolvem no se situa mais numa rea local,e sim na escala da entidade nacional que eles tm vocaopara constituir. Os partidos operam uma socializaopoltica pelo vis de sua cultura, estruturam o eleitorado,organizando de algum modo a sociedade segundo novasdivises. Seria exatamente aquilo que Ren Rmond(1996, p. 35) chama de microssociedade: S a histria[...] explica os comportamentos das microssociedades que

    se fundem na sociedade global.Se tomarmos o conceito de cultura poltica esta-

    belecido por Karina Kuschnir e Leandro Carneiro comouma categoria analtica no estudo de um partido, podemospensar a agremiao como um lugar onde se forma umconjunto de crenas, atitudes e regras que do significadopara o comportamento dos militantes. Numa outra pers-pectiva, possvel pensar as instituies como geradoras de

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    8Este artigo compartilha com os conceitos de esquerda e direita estabelecidos por Norberto Bobbio em Direita e esquerda: razes de uma distino poltica(1995).9Bourdieu (2000). O conceito de campo polticorefere-se a um espao de prticas polticas, produo de discursos e reproduo dessas prticas; um campo de foras, delutas e disputas polticas.

    uma cultura para a sociedade global, ou seja, forma-se umpartido que tem por inteno criar uma cultura poltica parao pas no qual est inserido. Por exemplo, uma agremiaoque possui tendncias completamente discrepantes emrelao ao pensamento poltico dominante tem a necessi-

    dade de introduzir uma cultura poltica diferenciada paraa populao qual ela dirige seus discursos. o caso dospartidos de esquerda que vigoram num regime totalmentede direita8e autoritrio.

    Serge Berstein (1996) apresenta vrias formas deanlise de partidos. Por exemplo, ele defende que o partido o lugar em que se opera a mediao poltica. Ou seja,existe um espao entre um problema e um discurso pol-tico, e justamente uma das tarefas do historiador tentarperceber essa distncia, fundamental para a compreensodos fenmenos histricos, entre a realidade e o discurso.Ainda necessrio perceber como o partido encara umproblema da sociedade, at que ponto ele consegue arti-

    cular as aspiraes da sociedade com sua ideologia. Umtema, portanto, pertinente ao historiador que pretendeanalisar a cultura partidria.

    Berstein (1996, p. 67) argumenta que, para surgirum partido,

    necessrio [...] que se produza uma crise, uma rupturabastante profunda para justificar a emergncia de or-ganizaes que, diante dela, traduzam uma tendnciada opinio suficientemente fundamental para durar ecriar uma tradio capaz de atravessar o tempo.

    Essa crise no necessariamente um aconte-

    cimento histrico, pode ser um fenmeno de inflaomonetria, uma depresso econmica, um abalo dasestruturas tanto econmicas quanto polticas (Berstein,1996). O partido s pode sobreviver se responder a umproblema fundamental da sociedade, onde haja ade-quao entre a imagem que pretende produzir com asaspiraes primordiais de uma parcela da sociedade. E claro que a instituio s vai sobreviver se conseguir umcomprometimento com o desaparecimento das condiese crises que favoreceram o seu surgimento. Isso revelauma parte considervel das crenas de uma agremiao,pois, ao comprometer-se em sanar os problemas que aoriginou, implica trazer mudanas na histria, modifi-

    caes culturais. uma pretenso de que os partidospodem se utilizar para se afirmarem como diferentes(se essa mudana romper com os paradigmas polticos

    vigentes).

    Uma questo a ser examinada a imagem so-ciolgica que a instituio partidria pretende passar desi mesma, pois revela a parcela da sociedade onde tema inteno de recrutar seus membros e eleitores, comotambm em que espcie de filosofia social embasa suas

    principais prticas (Berstein, 1996). A anlise poderia iralm quando o historiador confrontar essa imagem coma realidade da composio social da instituio partidria.Isso permitiria perceber se uma agremiao que se apre-senta como representante da classe trabalhadora, e nopossui ao mesmo tempo trabalhadores como membrosdo partido.

    Mesmo que uma categoria social esteja representa-da de forma majoritria num partido, necessrio perceberse ele constri um programa apenas para satisfazer asreivindicaes dessa categoria.

    Maurice Duverger (1970), ao diferenciar osPartidos de Quadros e Partidos de Massas, traz uma

    discusso interessante: a adeso dos filiados. Como ospartidos obtm adeptos, seguidores, militantes, partici-pantes ativos? Duverger salienta que isso pode ocorrerde duas formas: adeso global e individual. A primeirano escolhe os filiados e procura por eles, pois seu re-crutamento tem importncia poltica e financeira. J aadeso individual um ato pessoal, dirigido a pessoasilustres, portanto, a filiao selecionada. Precisamospensar se os dois casos so possveis de serem verificadosna poltica brasileira e perceber se a adeso global ouindividual influencia na dinmica cultural do partido,

    verificando qual das duas maneiras comporta o verda-deiro engajamento poltico. Para estudar os partidos,

    essencial ter em mente que s os grupos minoritriosse condenam eternamente oposio; j um partidopoltico importante, em condies de exercer o poder, sempre levado a ar ticular compromissos, mesmo comadversrios, procurando apoio em diversos meios sociais(Berstein, 1996). Essa uma provvel explicao para asmudanas de valores de um partido, porque em algumasocasies ele se nega a fazer certas alianas partidr ias,e, em outros momentos, as alianas se concretizam deforma to simples.

    Pierre Bourdieu tambm apresenta elementospossveis de serem pensados no campo poltico9que podeminterferir diretamente na mudana de valores culturais de

    um partido. Um exemplo elencado pelo autor refere-se salianas partidrias que, num momento, so inimaginveise, em outros, acontecem de maneira fcil. Por exemplo,o socilogo salienta que o discurso poltico duplo, deveatender fins internos e externos:

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    Os discursos polticos produzidos [...] so sempre dupla-mente determinados e afectados de uma duplicidade quenada tem de intencional visto que resulta da dualidadedos campos de referncia e da necessidade de servir aomesmo tempo aos fins (...) das lutas internas e aos fins

    (...) das lutas externas (Bourdieu, 2000, p. 177).

    Alis, o partido no pode, segundo Bourdieu, serconsagrado a virtudes exclusivas, para no se ver excludodo jogo poltico e da participao do poder; medida quea poltica se profissionaliza e que os partidos se burocra-tizam, a luta pelo poder poltico torna-se mais intensa, aagremiao passa a ter a necessidade de se adequar aosnovos momentos, alterando seu programa, conseqente-mente, sua cultura partidria: os partidos so levados asacrificar o seu programa para se manterem no poder ousimplesmente na existncia (Bourdieu, 2000, p. 196). Essa a ambigidade poltica: combate por idias e ideais, que ao mesmo tempo um combate por poderes e, quer se queiraquer no, por privilgios (Bourdieu, 2000, p. 202).

    O que Bourdieu nos apresenta que um partido,muitas vezes, necessita mudar o seu programa e, con-seqentemente, sua cultura, para se adequar s novasconjunturas e para se manter no poder. Para tanto, ohistoriador que se habilita em estudo de partidos pol-ticos no pode negar a conjuntura na qual o partido estinserido, as relaes polticas externas, o contexto polticodo pas e as tendncias que foram uma instituio amudar para acompanhar as transformaes histricas,rompendo com antigos valores. Nessa perspectiva, per-tinente pensar o que Gramsci (s/d) nos apresentou sobrea cultura, como um processo dinmico, continuamentesuscetvel a mudanas, numa convivncia, portanto, de

    valores culturais novos com os antigos. Isto nos permitelevantar mais uma questo: uma instituio partidriapode modificar os seus valores culturais ao ponto deromper com todos eles, originando uma nova cultura?

    O estudo sobre as instituies partidrias essen-cial, uma vez que se refere a um grupo de pessoas regidaspor interesses comuns ou muito prximos:

    Fenmeno histrico por definio, [...] o partidopoltico est em condies de fornecer uma considervelquantidade de informaes sobre os grupos que se es-foram por reunir os homens tendo em vista uma aocomum sobre o poder ou a organizao da sociedade(Berstein, 1996, p. 71).

    A indagao feita por Berstein possibilita ques-tionar as explicaes sobre a formao de uma instituioque congrega homens socialmente distintos com objetivoscomuns: quem so esses homens? O que os levou a formarum partido? Com que interesses? Qual a relao com aestrutura poltica e social da sociedade global?

    A histria da cultura poltica do partido mais queum revelador do processo de socializao que define umcomportamento poltico:

    O que hoje, s vezes, chamamos de cultura poltica e queresume a singularidade do comportamento de um povo,no um elemento entre outros da paisagem poltica; um poderoso revelador do ethos de uma nao e dognio de um povo (Remond, 1996, p. 446).

    Essa anlise no pode deixar de considerar todoo contexto histrico que influencia a formao e as mo-dificaes dessa cultura, uma vez que as instituies noso neutras nem indiferentes. Existe uma conexo entreas dimenses micro e macro da poltica, ou seja, os valoresinternos de uma agremiao com os externos.

    Tomar o conceito de cultura poltica para analisar

    um partido poltico requer que pensemos sobre algunsitens: Por exemplo, no momento de sua formao eestabelecimento, um partido estaria ligado idia de seestabelecer uma democracia poltica? Faria, portanto,parte dos seus valores culturais ser democrtico? Berstein(1996) chama a ateno para a questo da democraciano interior do partido. Para ele, essencial saber quemdetm realmente o poder, pois a maioria dos partidospolticos modernos se quer democrtico ou se v comodemocrtico. necessrio refletir sobre isso e procurarperceber se o partido no pertence a uma elite dirigente,pois, nesse caso, mesmo que se suponha democrtico, opartido incompatvel com a democracia. Outro caso

    importante a ser destacado quando os partidos surgemem torno de um personagem carismtico e ele sozinhotoma as decises, sem consultar os membros da instituio.A reflexo acerca do ideal de democracia importante naanlise da cultura poltica, diz Pacheco (1996), quandomenciona que a definio da performance das institui-es democrticas e do estabelecimento da democraciacomo regime poltico sugere uma maior proximidade comos estudos da cultura poltica.

    A sugesto, portanto, investigar a cultura polti-ca de um partido, mostrando as possveis especificidades,regras, tradies, ressaltando normas e valores que de-monstram seu comportamento e sua ideologia poltica.Pertencente ao domnio da doutrina ou difundida atravsda cultura poltica, a ideologia preenche algumas funesque interessam ao historiador: ela define a imagem de umpartido, como tambm a sua perenidade (Berstein, 1996),pois a vulgata ideolgica que constituiu o ncleo decoeso das formaes polticas, que garante a perenidadedos partidos alm dos acontecimentos conjunturais. rarouma ideologia basear-se diretamente numa doutrina clara-mente formulada e apoiada em bases filosficas, formando

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    um sistema ideolgico fechado; diferentes so as ideologiasabertas, que no pretendem fornecer um sistema globalde explicao do mundo (Berstein, 1996).

    A inteno do conceito de cultura poltica conhe-cer as crenas, os compromissos de um partido, formado

    por um grupo que possui interesses e ideais comuns,assim como perceber o seu papel no processo de socia-lizao, reconhecendo novas formas de sociabilidade eaformao de uma nova conscincia.

    Em outras palavras, trata-se de refletir se os valores,as normas, as idias, as tradies, os rituais, os smbolos,os heris, o cdigo de palavras codificadas e as prticaspolticas, que regem o comportamento e a prpria di-nmica da poltica de um partido, formam ou no umanova cultura polticae se, ao mesmo tempo, caracterizama formao de espaos sociais especficos.

    O estudo da cultura, no sentido aqui exposto, pensado num processo de mudanas histricas, conside-

    rando importante verificar o que norteou a sua formao,se tem sofrido modificaes ao longo da histria e, ainda,a causa dessas alteraes. Interessante verificar quais soas tradies herdadas de outros partidos ou associaespolticas, assim como perceber quais os possveis rompi-mentos que o partido fez com a poltica at ento existente.O estudo das relaes com os movimentos sociais e dosespaos de sociabilidade partidria, ou seja, o mapeamentode locais pblicos de freqncia dos membros do partidotambm se mostra relevante para conhecermos o mundocultural de uma instituio. Afinal, as sociabilidades soformas especficas de convivncia entre os pares, e suaanlise permite conhecer qual a dimenso da poltica

    partidria na vida de um homem, revelando, conseqen-temente, a importncia da agremiao.

    Duverger (1970), quando discute as diferenasentre Partidos Totalitrios e Partidos Especializados,apresenta possibilidades de pensar a dimenso da for-mao de sociabilidades partidrias. No segundo caso,trata da pouca importncia que o partido ocupa na vidados militantes. Assim, eles assistem de vez em quando sreunies do seu comit, procuram algumas vezes obterfavores por intermdio do seu deputado, consagram aopartido algumas horas do seu tempo; no entanto, nemsua vida intelectual, nem sua vida profissional, nem seuslazeres so influenciados pela sua opo poltica, e a

    sua participao no ultrapassa esse domnio limitadodo Partido. Um Partido Totalitrio alarga este domniolimitado, toda a vida profissional e pessoal do filiado estrelacionada ao servio do partido, ele freqenta clubes,associaes, bares, festas que englobam a participao doscompanheiros partidrios.

    Atravs da classificao de Maurice Duverger,podemos pensar, portanto, como as relaes polticasestabelecidas em um partido podem adentrar na vida dosmilitantes, formando sociabilidades antes inimaginveis.O estudo desses espaos sociais criados por meio de

    interesses polticos releva anlises complexas do com-portamento de um grupo poltico.

    Enfim, no podemos desprezar os partidos; afinal,so um elemento fundamental de compreenso do mundocontemporneo, principalmente no Brasil, onde eles notm boa reputao e s uma minoria participa deles.

    Concluso

    Hans Kelsen afirmou que toda democracia de-mocracia de partidos10. Um Estado, portanto, que se querdemocrtico deve ser constitudo por partidos. Podemos

    inferir a partir disso que eles possuem um carter de extre-ma importncia para a sociedade. Por que, ento, a histriatem dado as costas para as instituies partidrias? Porque o estudo dos partidos tem sido feito s pela sociologia,e principalmente, pela cincia poltica?

    A inteno deste artigo foi de convocar os his-toriadores a refletir sobre a pesquisa histrica que tempor objeto os partidos polticos. Um pouco mais queisso: foi uma sugesto, uma proposta metodolgica, aoapresentar questes que podem ser usadas para pensaras agremiaes. Como forma de dar subsdios para esseestudo, foram apresentados dois conceitos, duas categoriasanalticas cultura poltica esociabilidade partidria. No

    entanto, convido voc leitor no a meditar aqui sobre aspossveis concluses dos objetivos deste artigo, mas arefletir sobre questes pertinentes sobre o uso de termoscomo categorias explicativas, assim como indagar sobre autilizao de conceitos numa pesquisa de histria polticasem pensar as relaes entre o pblico e o privado nasmediaes polticas.

    A historiadora Emlia Viotti da Costa, emA dia-ltica invertida: 1960-1990, faz uma crtica contundenteem relao s mudanas que a historiografia sofreu coma incorporao de novos mtodos, objetos, categoriasanalticas. No que concerne incorporao de conceitos,a autora relata que muitas vezes os cientistas sociais uti-

    lizam termos em uma pesquisa sobre um caso concreto,sem antes verificar se a experincia permite constatar omesmo termo. Por exemplo, usa-se o conceito classecomo construo imaginria; portanto, a linguagemacaba determinando a forma das relaes sociais, em vezdo reverso.

    10Kelsen, La dmocratie, Paris, Sirey, 1932, p. 20, inChacon (1985, p. 11).

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    Essa crtica, totalmente pertinente, nos leva apensar a origem social e cultural dos conceitos, antesde introduzi-los em nossas pesquisas como categoriasexplicativas. imprescindvel indagar a validade dostermos porque, em alguns espaos, tempos e culturas,

    eles no podem ser usados. Emlia Viotti da Costa(1994) salienta que precisamos passar da posio depassivos consumidores de categorias interpretativaspara a de produtores; para isso, deve-se fazer uma ava-liao crtica, remetendo as categorias s circunstnciasde sua criao.

    Portanto, tomar cultura poltica e sociabilida-de partidria como categorias interpretativas implicapensar a validade desses termos para uma determinadapesquisa. Mais que isso, demanda verificar na prtica, naprpria experincia do fato histrico, se as categorias sesustentam, para somente ento aplic-las. A indagaoabrange tambm a possibilidade de alargar, moldar e

    adequar os conceitos, se assim for necessrio para o xitoda pesquisa.

    Outra problemtica importante, e que precisa serelucidada quando pensamos a cultura e a sociabilidadeem um partido poltico, a reflexo sobre as relaessociais e polticas no campo externo ao partido, pois oselementos internos so importantes, mas no suficientes.Estudar poltica implica estudar suas dimenses pblicase privadas, ou seja, como as questes privadas influenciamo mundo pblico.

    ngela de Castro Gomes (1998), numa anliseacerca da poltica brasileira, afirma que ela esteve sem-pre na fronteira entre o pblico e o privado. Existe uma

    tendncia de uma poltica pautada na autoridade, perso-nalizada e emocional no pas, que no pode ser ignorada;as causas dos males, relata a autora, advm da falta depoder pblicoe da sobra de poder privado (1998, p. 501).Existe uma dificuldade de os detentores das posiespblicas de responsabilidade compreenderem a distinofundamental entre os domnios do privado e do pblico.Ao longo da histria do Brasil, houve um predomnioconstante das vontades particulares sobre os interessespblicos (Chacon, 1985).

    No h como deixar de pensar as interdepen-dncias entre Estado e suas instituies (o partido, porexemplo) com o mercado, nem com os aspectos privados

    ou particulares existentes nas relaes polticas, como abriga por cargos, o personalismo, clientelismo, nepo-tismo. A separao, ou seja, o estabelecimento de umafronteira uma atitude difcil para os polticos. Estudarum partido, sua cultura, sua sociabilidade implica estu-dar as dimenses externas, a influncia de elementosculturais e as sociabilidades externas pertencentes aomundo privado.

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    Submetido em: 29/05/2006Aceito em: 29/05/2006