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Hip Hop de leste a oeste de Manaus: quatro cabeças de uma Hidra Urbana e um bumerangue africano SIDNEY BARATA DE AGUIAR 1 RESUMO: Este artigo tem por objetivo principal resgatar a história recente do Hip Hop organizado na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, através da trajetória de quatro personagens exponenciais. Para tanto, coletei os depoimentos destes fundadores e protagonistas do que chamamos M.H.M. (Movimento Hip Hop Manaus). Com uma escrita didática, apresento e represento esta cultura gestada, criada e desenvolvida nas ruas como uma Hidra Urbana, pela sua capacidade de renovação e envolto pela teoria do Bumerangue Africano que subsidia com a circularidade de informações regionais e culturais e que contribui com o enfrentamento dos problemas sociais e políticos das periferias locais e que utiliza os espaços urbanos para sobreviver, criar-se e recriar-se nas “quebradas”, nas vielas e arrabaldes manauaras. PALAVRAS-CHAVE: Hip Hop, Hidra Urbana, Manaus. ABSTRACT: this article aims to rescue the main recent history of Hip Hop organized in the city of Manaus, capital of Amazonas State, through the course of five characters exponentials. To this end, I collected the testimonies of these founders and protagonists of what we call M.H.M. (Hip Hop Movement Manaus). With a didactic writing, present and represent this culture conceived, created and developed on the streets as a Hydra, by your ability to renew and wrapped by theory of Boomerang African who subsidizes with the circularity of regional information and cultures and that contributes with the confrontation of social and politicals problems of local peripheries and that uses 1 Doutorando do Programa de Pós-graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Mestre em História Social pelo Programa de Pós-graduação em História (PPGH) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Especialista do Programa de Pós- graduação Lato Sensu em Desenvolvimento, Etnicidade e Políticas Públicas na Amazônia (DEPPA) do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas (Campus Manaus/Zona Leste). Professor das redes públicas de educação do Estado do Amazonas e do município de Manaus. Contato: [email protected]

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Hip Hop de leste a oeste de Manaus: quatro cabeças de uma Hidra

Urbana e um bumerangue africano

SIDNEY BARATA DE AGUIAR1

RESUMO: Este artigo tem por objetivo principal resgatar a história recente do

Hip Hop organizado na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, através da

trajetória de quatro personagens exponenciais. Para tanto, coletei os depoimentos destes

fundadores e protagonistas do que chamamos M.H.M. (Movimento Hip Hop Manaus).

Com uma escrita didática, apresento e represento esta cultura gestada, criada e

desenvolvida nas ruas como uma Hidra Urbana, pela sua capacidade de renovação e

envolto pela teoria do Bumerangue Africano que subsidia com a circularidade de

informações regionais e culturais e que contribui com o enfrentamento dos problemas

sociais e políticos das periferias locais e que utiliza os espaços urbanos para sobreviver,

criar-se e recriar-se nas “quebradas”, nas vielas e arrabaldes manauaras.

PALAVRAS-CHAVE: Hip Hop, Hidra Urbana, Manaus.

ABSTRACT: this article aims to rescue the main recent history of Hip Hop

organized in the city of Manaus, capital of Amazonas State, through the course of five

characters exponentials. To this end, I collected the testimonies of these founders and

protagonists of what we call M.H.M. (Hip Hop Movement Manaus). With a didactic

writing, present and represent this culture conceived, created and developed on the streets

as a Hydra, by your ability to renew and wrapped by theory of Boomerang African who

subsidizes with the circularity of regional information and cultures and that contributes

with the confrontation of social and politicals problems of local peripheries and that uses

1 Doutorando do Programa de Pós-graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA) da

Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Mestre em História Social pelo Programa de Pós-graduação

em História (PPGH) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Especialista do Programa de Pós-

graduação Lato Sensu em Desenvolvimento, Etnicidade e Políticas Públicas na Amazônia (DEPPA) do

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Amazonas (Campus Manaus/Zona

Leste). Professor das redes públicas de educação do Estado do Amazonas e do município de Manaus.

Contato: [email protected]

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the urban spaces to survive, create and recreate the "broken", in the alleys and environs

from Manaus.

KEYWORDS: Hip Hop, Urban Hydra, Manaus.

A Hidra Urbana e o Bumerangue Africano

Os debates na disciplina Seminário: Escravidão, Raça e Etnia do Programa de

Pós-Graduação em História (PPGH/UFAM), as reflexões e as leituras dos escritos do

historiador Flávio dos Santos Gomes e outros pensadores da temática negra e da

escravidão no período colonial da Amazônia foram de enorme produtividade.

Neste sentido, desenvolvi meu artigo final da disciplina. Este artigo transformou-

se em capítulo chamado Hip hop de leste a oeste de Manaus: Quatro cabeças de uma

Hidra urbana publicado no livro O Fim do Silêncio: presença negra na Amazônia,

organizado pela professora Patrícia Melo Sampaio. Defendo o hip hop como fenômeno

das cidades que teima em resistir como verdadeiras “hidras urbanas” (AGUIAR, 2011, p.

191-217).

Ao debruçar sobre a cultura afrodescendente na cidade de Manaus, encontramos

traços desta, nas práticas religiosas e culturais. O hip hop, enquanto prática cultural,

nascida e desenvolvida nas ruas e definido por seus próprios protagonistas como

movimento aglutinador de jovens e que se identificam com a cultura afro.

A ideia principal que permeia o citado capítulo bebe na fonte do professor Flávio

dos Santos Gomes. O pesquisador, ao discutir a resistência dos escravos negros à opressão

e a busca pela liberdade em suas diferentes formas de enfrentamento, revela uma valiosa

experiência. Para o europeu colonizador os quilombos e mocambos foram entendidos

como Hidras. Enquanto as autoridades agiam violentamente e imaginavam ter destruído

definitivamente estes refúgios, eles ressurgiam mais fortificados e assustadores (1995/96,

p. 41-42). Estas comunidades de fugitivos negros não ocorreram apenas no Brasil

colonial, segundo Flavio dos Santos Gomes em outros escritos:

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Nas Américas, as comunidades de fugitivos receberam diferentes

nomes: cumbes, na Venezuela, e palenques, na Colômbia; na Jamaica,

em Antígua e no sul dos Estados Unidos, eram conhecidas por

marrons; em São Domingos e outras partes do Caribe francês, o termo

era maronage; em Cuba e Porto Rico, cimaronaje. No Brasil, ficaram

conhecidas como mocambos e depois quilombos, termos que, na

maioria das línguas bantas da África Central, significam

acampamento¨ (2011, p.9).

Neste sentido, também lançamos mão do tropo de linguagem da Hidra dos

pântanos de Lerna, figura monstruosa com forma de cachorro e cabeças de cobra

sustentadas em longos pescoços, que enfrentou Héracles em um de seus Doze Trabalhos,

ordenados por Eristeu e descritos na mitologia grega. Héracles, a quem os povos latinos,

denominam de Hércules, foi filho do deus Zeus com a princesa mortal Alcmene de Tebas

(GRAVES, 1992, p. 61-70).

Durante o embate, a cada investida do semideus sobre a criatura, uma cabeça era

decepada ou esmagada, rapidamente, outra ressurgia do corte, mais feroz e peçonhenta.

Esta mesma capacidade de renovação de suas partes será utilizada por mim para retratar

cada cabeça da Hidra como um elemento que compõe o hip hop: dj, graffiti, break e o

rap. Neste sentido, tomamos posse da ideia da refrega mitológica entre a Hidra de Lerna

e Hércules para transformar o monstro na representação de uma tradição antinômica

(contradição, do destoante). O hip hop como parte integrante da cultura negra americana

e hoje, espalhado pelos quatro cantos do planeta, tem esta característica de se modificar,

sempre levando em conta as peculiaridades de onde ele é colocado em prática.

Grande parcela da população manauara, não tem a menor ideia do que seria o

hip hop, apesar de ouvir a música rap nas ondas do rádio, deparam-se chocados com as

linhas do graffiti nas paredes abandonadas e ficam admirados com as performances da

dança break nas calçadas. Na realidade, quando se fala desta parcela jovem da população,

associa-se imediatamente, a um ideário de juventude envolvida com o mundo da

marginalidade. Mas na nossa percepção, estes são, as principais vítimas e/ou

protagonistas da violência ocorrida nas periferias, além do consumo indiscriminado de

drogas ilícitas e/ou legalizadas. Para o cientista social Howard S. Becker:

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Todos os grupos sociais fazem regras e tentam, em certos momentos e

em algumas circunstancias. Regras sociais definem situações e tipos de

comportamento a elas apropriados, especificando algumas ações como

certas e proibindo outras como erradas. Quando uma regra e imposta,

a pessoa que presumivelmente a infringiu pode ser vista como um tipo

especial, alguém de quem não se espera viver de acordo com as regras

estipuladas pelo grupo. Essa pessoa e encarada como um outsider

(2008, p. 15)

Antropólogos, historiadores e pesquisadores de diversas áreas científicas vêm ao

longo das últimas décadas ampliando seu campo de atuação e objetos de pesquisa na

região amazônica, principalmente quando nos referimos a espaços urbanos, isto se deve,

ao fato da inclusão da cidade como temática relevante como defende Gilberto Velho

(2003). O hip hop ao longo dos últimos dez anos, vem recebendo uma atenção maior das

ciências humanas e os trabalhos acadêmicos vêm ganhando espaço e reconhecimento da

sociedade. Este artigo segue fazendo a travessia para esta nova fronteira de temas

singulares. O hip hop como produto das ruas, demonstra uma tremenda capacidade de

renovar seus conceitos, sua linguagem, reinventando modelos sonoros e estéticos e isto

talvez, explique sua longevidade e força, uma verdadeira Hidra urbana. Além de se

apoderar deste bumerangue africano, que segundo Peter Linebaugh (1983) e minha tese

é da existência de trocas de experiências, mistura ritmos, influências, internacionais,

nacionais e informações regionais que estão sendo desenvolvidas, criadas e

ressignificadas na cidade de Manaus, capital do Amazonas.

Estas linguagens do hip hop, comumente são ligadas a uma apologia à violência,

mas não podemos esquecer que estas expressões são frutos de sentidos de uma realidade

social, que é uma construção histórica e social. Os hip hoppers (adeptos do hip hop) tem

em suas linguagens, mensagens que tentam criar uma mudança social radical. Neste

embate ideológico da vida cotidiana, onde o “teatro de guerra” são as “quebradas” do

Brasil, entendo esta linguagem como uma força contra hegemônica à estrutura burguesa

imposta, assim como defende Antônio Gramsci (1986).

Ao longo de algumas décadas, as Ciências Sociais vêm criando teorias que se

debruçam e se preocupam sobre a realidade social de sua época. Utilizo as leituras e

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críticas aos mecanismos de reprodução das estruturas sociais e as contribuições de Pierre

Bordieu (1996), que me chama a atenção o conhecimento e construção de mundo,

realidade apresentada que não existe uma homogeneidade de linguagens.

O Hip Hop como Hidra Urbana envolto em um Bumerangue

Africano

O hip hop é atualmente um fenômeno de amplitude mundial. Casas noturnas em

volta do globo tocam os sucessos dos maiores rappers (cantores de música rap) da

atualidade, que vendem milhões de cópias de seus álbuns. A indústria de vestuário e

calçados investem pesado na chamada streetwear (moda de rua). Rádios comunitárias e

comerciais em todo o território brasileiro têm em suas programações musicais, o estilo de

música rap.

O hip hop nasceu no início da década de 1970 nas ruas de cidades norte-

americanas, principalmente Nova Iorque e Los Angeles e foi batizado por um dos seus

pioneiros, o dj Afrika Bambaataa. Hip hop significa em uma tradução livre, mexer os

quadris. O hip hop é formado por quatro elementos básicos: o dj, o m.c., o break e o

graffiti.

DJ: é o músico que utiliza os pick-ups (par de toca-discos) para criar sons e

ritmos para animar as festas.

RAP: O M.C. Mestre de Cerimonias em uma tradução livre, mas alguns utilizam

o termo Mic Controller (Controlador do Microfone) ele ou ela representam o canto, a voz

e as mensagens da música rap. O rap, sigla das palavras Rythm And Poetry (ritmo e

poesia) e a música predileta dos adeptos e admiradores do movimento hip hop. O rap

nasceu na Jamaica e tem como característica mais relevantes as batidas pesadas,

aceleradas e as mensagens expressas através de discursos organizados em formas de

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rimas. A juventude trocava as armas de fogo pela poesia e ódio mortal pelo inimigo pela

autoestima, modificando desta maneira, o significado de nascer e crescer em uma

realidade pouco favorável para os menos privilegiados. A falta de oportunidades, o

sentimento de inferioridade seria suplantado pelo sentimento de dignidade e orgulho da

periferia.

As festas dançantes e a diversão foram muito decantadas, mas paulatinamente

este espirito deu lugar a mensagens de denúncias das mazelas econômicas, as

desigualdades e injustiças sociais, as arbitrariedades da polícia e o preconceito racial são

os temas prediletos dos rappers.

BREAK: Representa a dança e os movimentos corporais singulares e seus

praticantes são os b.boys (breakers boys) e b.girls (breakers girls). Na década de 1960, a

música negra tinha um papel significativo nos guetos norte-americanos e a dança sempre

foi um aspecto diferenciado neste período, basta lembrar as performances enlouquecidas

e enlouquecedoras de James Brown. Na década seguinte o estilo b.boyng desenvolvido

em Nova York e Popping dançado nas ruas de Los Angeles e o Locking executado na

cidade de Fresno também na Califórnia formou o que denominamos de Breakdance.

Juntando influências da Soul Music, da Funk Music, filmes de Kung-fu, dança indiana,

acrobacias da ginástica artística, influências africanas e no Brasil, a inclusão de

movimentos provenientes da Capoeira.

Para os b.boys e b.girls demostrar seu talento nas rodas de breakdance é

necessário demonstrar flexibilidade, precisão, leveza, técnica apurada, força e

criatividade.

Esta apresentação corporal e rítmica espalhou-se pelo mundo através de vídeo

clipes de Lionel Ritchie e Michael Jackson, além de películas como Wild Style (1983),

Flash Dance (1983), Beat Street – A loucura do ritmo (1984) e Break Dance (1984).

GRAFFITI: Desde sua pré-história o homem já colocava suas mensagens e

representações gráficas do mundo e da natureza nas paredes das cavernas. Na Roma

antiga seus habitantes já faziam uso do carvão para deixar recados, ideias, palavras

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proféticas e ordens das autoridades expostas. No Brasil durante o período militar (1964-

1985) os estudantes, trabalhadores fizeram uso da lata de tinta spray para demonstrar a

insatisfação pela falta de democracia, torturas ocorridas nas delegacias, presídios e

quarteis.

Na década de 1980 do século XX, artistas oriundos das ruas ganharam bastante

notoriedade, a exemplo de Jean Michel Basquiat e Keith Herring. Seus trabalhos forma

expostos em grandes galerias e ainda hoje são lembrados pela criatividade e qualidade

artística.

A palavra Graffiti vem do termo italiano Graffito, que significa inscrição em

muros, segundo Celso Githay (1999). A arte do graffiti começou com os tag’s, que são

assinaturas muito utilizadas pelas gangues de rua como códigos de demarcação de

territórios dentro dos bairros pobres. O graffiti desenvolveu-se junto com o Hip hop e é

um dos seus elementos mais controversos. Alguns ainda hoje, o posicionam no campo do

puro vandalismo e o desmerecem como arte e outros defendem a tese de sua importância

como manifestação artística urbana. Mas uma coisa e certa, a juventude pobre passa a

intervir no ambiente urbano e transformam muros sujos, casas abandonadas, espaços

ociosos em cenários de contestação ou apenas poesia visual. A necessidade de mostrar

seus pensamentos fez do espaço decadente da cidade a grande tela para a manifestação

da arte criada com rolinhos de pintura e tintas spray, porque no graffiti as paredes gritam.

A Hidra Urbana em terras brasileiras

No início da década de 1980 no Brasil, estudantes, ativistas, esportistas, artistas,

cantores, trabalhadores e políticos consagrados declaravam o apoio à redemocratização

do país depois de duas décadas de regime de exceção (1964-1985).

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Nas periferias das maiores cidades brasileiras, dezenas de jovens arquitetavam

também conquistar seus espaços. Precisavam sair de um processo imposto de

invisibilidade histórica, necessitavam ter suas reivindicações no mínimo ouvidas,

debatiam o preconceito racial e social sentidos por eles. Pois, segundo Hannah Arendt

(1993), a exclusão envolve a negação da própria condição humana, não permitindo a

possibilidade da ação, dificultando a própria realização como sujeitos sociais.

Nos bairros pobres, a voz da juventude negra, parda, menos privilegiada que

diariamente tinham seus direitos básicos negados (ROSE, 1997, p. 202) espalhava um

rastilho de pólvora. A “luta armada” estava prestes a ser declarada, municiados com

microfones, toca-discos, latas de tinta spray e o próprio corpo, explodiria nas ruas. Este

exército não aceitaria um armistício enquanto houvesse exclusão social, violência

policial, a falta de políticas públicas sérias e principalmente, a existência de uma pobreza

extrema. Segundo Yves Pedrazzini, “a pobreza é a última violência das sociedades

pacificadas e democráticas, mas é a mais terrível, porque o castigo imposto pelas camadas

dominantes não a elimina” (2006, p. 18). O hip hop “permitiu à juventude negra sentir-se

capaz de expor seus ideais e se orgulhar da sua origem e cultura” (SOUZA, FIALHO,

ARALDI, 2008, p. 19).

Para Marco Aurélio Paz Tella, o rap “é um instrumento de contestação da

realidade social” (ROCHA, DOMENICHI, CASSEANO, p. 31). Para o filósofo Lionel

K. McPherson em estudos sobre Thomas Hobbes e hip hop, sugere que o rap é

politicamente revolucionário (2006, p. 172).

Podemos considerar o hip hop como resultado visível do processo da diáspora

africana e forma concreta de resistência negra em todo o continente americano.

Compreendido como um instrumento de ligação e construção, reconstrução identitária

individual e coletiva de grupos afrodescendentes transportados pelas águas do oceano

Atlântico para o “Novo Mundo” para servirem de mão de obra para um sistema escravista

feroz (GILROY, 2001).

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O hip hop é um fenômeno nascido e criado nas periferias das cidades e não deve

mais ter omitida sua importância para uma parte da juventude manauara que tem seus

códigos, símbolos, estéticas, relações de poder, formas próprias de sociabilidade e, claro,

constroem suas identidades, utilizando e apropriando-se destes espaços urbanos.

A Hidra Urbana domina a cidade de Manaus

No ano de 1985, centenas de pedestres que observavam as promoções

estampadas nas vitrines das lojas de confecções e eletrodomésticos na Avenida Eduardo

Ribeiro, no centro da cidade de Manaus, deparava-se com uma nova e curiosa forma de

atrair a atenção dos consumidores. Alguns jovens ligavam um enorme som estéreo,

comprado na pujante Zona Franca e “quebravam” os ossos em movimentos curiosos,

imitavam robôs e caminhavam na gravidade lunar. Dançavam embalados pela trilha

sonora de Rock it, de Herbie Hancock, Sequencer, de Al di Meola, e os sucessos de

Michael Jackson. Caracterizados com calças esportivas, sapatilhas pretas, bonés

coloridos, luvas brancas e óculos escuros. Conseguiam ajudar os vendedores e recebiam

ainda, boas gorjetas.

Desta maneira, foram dados os primeiros passos da dança break em terras

manauaras. A onda da dança break virou febre em várias capitais brasileiras e Manaus

não foi diferente como ressalta Simão Pessoa (2000). A juventude influenciada pelos

vídeos e filmes estrangeiros (ROCHA, DOMENICHI E CASSEANO, 2001, p. 49/50),

mesmo de uma forma amadora e improvisada começaram a praticar as iniciantes

coreografias desta inusitada forma de expressão corporal.

As casas noturnas de Manaus em meados da década de 1980, como Bancrevea

Clube e Cheik Clube, transformaram-se nos pontos de encontro desta “galera” praticante

da dança. A Praça da Saudade e a Praça da Matriz foram os espaços prediletos para as

apresentações e disputas entre o b. boys (breakers boys como também são chamados os

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praticantes do breakdance) manauaras. Desta maneira, os b. boys aravam o território e

plantavam as sementes do que viria a florescer como o chamado M.H.M (Movimento Hip

Hop Manaus) na capital do Estado do Amazonas em 1994. Sigla que abrange grupos de

rap, crews (equipes) de breakdancers (dançarinos de break), grafiteiros, dj’s e Posses

(galeras). Ao longo de mais de vinte anos de existência o M.H.M continua sua luta pela

divulgação e promoção de projetos sociais voltados para a juventude pobre das periferias

de Manaus. Insistindo em preparar shows para a comunidade e organizar trabalhos

beneficentes como acontece em diversas cidades brasileiras.

O hip hop pode ser percebido espalhados pelos muros do centro velho de

Manaus, em viadutos, postes de iluminação pública, representado pelos traços e pelo

colorido dos graffitis e por suas mensagens plásticas, que ao olhar descuidado ou não

habituado a esta linguagem visual, os confundem na maioria das vezes com a pixação (os

pichadores preferem utilizar este termo, pois foge do convencional que está nos

dicionários), rejeitando o talento destes jovens artistas que sentem a necessidade de

transmitir suas ideias e faz uso do espaço urbano, que se apresenta como uma grande tela

para as manifestações da arte criada com rolinhos de pintura e tinta spray, por que no

graffiti as paredes falam.

Ainda hoje, centenas de jovens reúnem-se para divertirem-se e trocar

experiências nos chamados “bailes”, ¨rodas de rimas¨ e ¨batalhas de b.boys¨ que

acontecem todos os finais de semana nas periferias mais distantes da cidade de Manaus.

As vozes desta Hidra Urbana

A construção e a História recente do movimento hip hop em terras manauaras é

sem dúvida alguma, a minha principal defesa e reforço isto com alguns trechos de

entrevistas recolhidas no ano de 2010.

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Manuel Frank Silva Matos e mais conhecido pelo epiteto Mano FK, nasceu e se

criou na Zona Leste de Manaus. Hoje patrocina festas com estrelas de renome nacional

na nossa cidade.

E o hip hop para mim naquela época foi uma grande forca, tipo assim,

eu consegui ouvindo rap, no hip hop viver uma realidade sem ter visto,

a experiência, eu não preciso viver o mundo das drogas para mim ter

esta experiência. O rap já mim transmitia isso e com isso já conseguia

mim afastar e consegui enxergar um novo horizonte, um novo rumo a

seguir, comprar livros, procurar uma profissão, um trabalho. Seguir

uma trajetória certa e não parar em uma penitenciaria.

O paraense Rogério Arab, é considerado um dos melhores grafiteiros do

Amazonas, mas sua carreira começou com os primeiros traços sendo expostos na cidade

de Belém. Segundo ele seu envolvimento com o hip hop se inicia no final da década de

1980:

A minha história com o graffiti, com a escrita urbana, ela vem de 1988,

mais precisamente 1989, através da pichação. Porque na capital onde

eu nasci e morei durante toda a década de 1980 era Belém e a cultura

da pichação sempre foi muito forte e na época que eu comecei a me

entender na adolescência já existia essa cultura lá. Já era uma coisa

que dominava praticamente todos os bairros e, então tinha tios, primos

colegas que tinham sido pichadores e estavam envolvidos no

movimento, então foi uma influência muito forte, muito próximo do que

a gente via.

S. Preto e um dos maiores rappers da cidade de Manaus, oriundo da cidade de

Autazes e quando veio procurar uma vida mais digna e emprego na capital, logo conheceu

a street dance (Dança de Rua).

S. Preto narra os primeiros contatos com o rap nacional no ano de 1994:

O rap falado, a gente vinha conhecendo Thaide e Dj Hum, Racionais

Mc’s, essas coisas todas aí, pessoal muito importante no movimento, e

aqui a gente formou o DMD, grupo de dança e depois veio o canto,

cantar, rimar, essa coisa toda e em 2000 veio a banda Cabanos.

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Os Cabanos são um grupo de rap com muito sucesso e em 2008 gravaram o Cd

A ideia Não Morre com os rappers Mv. Guila, Nego Elio, Juca e o Dj Marcos Tubarão.

O Dj marcos Tubarão e um ícone da cultura hip hop manauara. Marcos da Silva,

iniciou sua carreira como dançarino de breakdance e hoje toca nos maiores eventos da

cidade e do país.

O disque-jóquei relata como ficou sabendo sobre o hip hop nos seus primórdios:

A gente não sabia o que era o hip hop. Estas informações vieram

através da televisão, com filmes do naipe de Breakdance, o Beat Street

Wild Style, então estes três filmes que projetaram a dança por meio do

cinema. Mas ressalta que no “Brasil mesmo teve aquele estouro do

breakdance, a partir de uma novela de 1984 que passava na Globo

chamada Partido Alto, a própria abertura trazia uma coreografia de

Break.

Falar de Marcos Tubarão é falar também do grupo de rap Cabanos, que evoca

os eventos históricos ocorridos na província Grão-Pará e Maranhão em meados do século

XIX conhecida como Cabanagem. Movimento armado que lutou contra tropas do Império

na região que hoje chamamos de Amazônia brasileira. Desta forma, conclamam:

E a nova batalha começou em 2000/ Passaram-se mais de 170 anos da

Revolução/ E o que mudou no norte do país?/ Nada mudou no norte do

país![...] Mas simplesmente tomar o exemplo dos antigos

rebeldes/Para que a gente possa originalmente/Reencontrar as nossas

próprias raízes [...]

Além destes ícones apresentados, posso citar alguns destaques da cena hip hop

de Manaus atualmente.

O grafiteiro que assina seus trabalhos com o epíteto Raiz que traz para a

sociedade manauara mensagens de cunho ecológico. Demonstra uma preocupação com

os destinos da humanidade no que diz respeito, a preservação da natureza.

A dupla Dj Carapanã & Jander S/A em registro fonográfico, Num vale 1 real

traz em suas letras e ritmos um certo regionalismo amazônico, principalmente na música

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Revolta de Ajuricaba onde temos uma crítica a música norte-americana que toca em todos

os cantos de Manaus, assim temos: Ajuricaba já conhece o calor de Manaus/ Apesar do

vento norte/ Aqui não tem vendaval/ Passa mal ouvindo Avril Lavigne na balsa/ Pendura

nela a placa/ Cópia da Alanis falsa [...].

À GUISA DE CONCLUSÃO

No início da década de 1990, chegou em minhas mãos um LP (Long Play) de

um grupo de música rap norte-americano chamado Fat Boys. Na capa do disco de vinil

havia três enormes afrodescendentes, trajando jeans, tênis e apresentavam uma atitude

desafiadora. Mas, o que mais chamou a minha atenção, foram os cartazes em preto em

branco colados na parede de tijolos que serviam de cenário. Pixadas com tinta e com

cartazes da campanha Free Mandela. Eram anos de luta pelas liberdades políticas na

África Sul e o combate ao sistema discriminatório do Apartheid (ideário político de

segregação praticada pela minoria branca em detrimento de uma maioria negra), era pauta

de debates e a música não deixou de dar a sua contribuição em prol da libertação de

Nelson Mandela.

Venho ao longo de alguns anos escrevendo sobre o tema, debruçando-me sobre

o hip hop e sobre o movimento negro como dirigente da UNEGRO (União de Negros

pela Igualdade) em nosso município. Contribuindo para a discussão sobre ações

afirmativas como o sistema de cotas sociais e raciais nas universidades brasileiras,

reconhecimento de comunidades quilombolas, a defesa do livre exercício dos cultos

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religiosos de matriz africana, a implantação do Estatuto da Igualdade Racial (Lei n° 12.

288, sancionada pelo Governo brasileiro, em 20 de outubro de 2010) e a promulgação da

Lei n° 10. 639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n°

9.394, de 1996) incluindo no currículo escolar do Ensino Fundamental e Médio a

obrigatoriedade de ensino de História e Cultura Afro-brasileira.

Fica claro, que o movimento hip hop na cidade de Manaus tem novas propostas

e a academia como espaço de debates não pode deixar de analisar esta juventude da

periferia que clama por espaço e fazem da arte uma válvula de escape.

O hip hop sobrevive por torna-se uma Hidra Urbana, renova-se com os tons, as

cores, os sons, os gestos, a musicalidade, as batidas, a arte da oralidade da ancestralidade,

as referências Caboclas, Negras, Indígenas, Ribeirinhas, Quilombolas, culturas que

circulam levadas por um Bumerangue Multiétnico que não reconhece fronteiras de

conceitos, preconceitos e muito menos, barreiras físicas.

Dê-nos ouvidos!

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