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    41071 Histria Econmica e Social

    Autor: SebentaUA, apontamentos pessoais E-mail: [email protected] Data: 2007/2008 Livro: Rondo Camaron, Histria Econmica do Mundo - Publicao Europa-Amrica Caderno de Apoio: Nota: Apontamentos efectuados para o exame da disciplina no ano lectivo 2007/2008 O autor no pode de forma alguma ser responsabilizado por eventuais erros ou lacunas existentes. Este documento no pretende substituir o estudo dos manuais adoptados para a disciplina em questo.

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    Historia Econmica do Mundo

    1 Introduo: historia econmica e desenvolvimento econmico A anlise histrica pode focar, duma forma que as outras abordagens no podem, as origens dos nveis de desenvolvimento desiguais que existem presentemente. Ao concentrar-se em momentos de crescimento e declnio no passado, a abordagem histrica isola os fundamentos do desenvolvimento econmico, sem se distrair com argumentos sobre a eficcia ou vantagem de politicas especiais para problemas correntes especficos. Desenvolvimento e subdesenvolvimento As estatsticas dos rendimentos per capita so no melhor dos casos, medidas rudimentares do nvel de desenvolvimento econmico. Em primeiro lugar, so apenas aproximaes. Alm disso, por diversas razes tcnicas, as comparaes internacionais de rendimento so especialmente falveis. Crescimento, desenvolvimento e progresso No discurso coloquial, os termos crescimento, desenvolvimento e progresso so frequentemente utilizados como se fossem sinnimos. No entanto, para fins cientficos necessrio fazer a distino, mesmo que essas diferenas sejam de certa forma arbritarias. Crescimento econmico definido neste livro como um aumento sustentado da produo total de bens e servios produzidos por uma dada sociedade. Em dcadas recentes, esta produo total tem sido medida como rendimento nacional, ou produto nacional bruto (PNB). Produto interno bruto (PIB), tambm utilizado ocasionalmente; normalmente um valor intermdio entre o PNB e o rendimento nacional. O crescimento da produo total pode ocorrer quer porque o volume dos factores de produo (terra, mo-de-obra e capital) aumenta quer porque quantidades equivalentes desses volumes so utilizadas com mais eficincia. Para comparaes de nvel de vida, o crescimento econmica s significativo se for medido em termos de produo per capita. Desenvolvimento econmico, na acepo utilizada neste livro, significa crescimento econmico acompanhado por uma mudana ou organizacional substancias na economia como uma viragem duma economia local de subsistncia para os mercados e o comrcio ou o crescimento de produes industriais e de servios relativamente agricultura. A mudana estrutural ou organizacional pode ser a causa de crescimento, mas no necessariamente; por vezes, a sequencia causal segue na direco oposta, ou as duas mudanas podem ser ainda o produto comum doutras mudanas, dentro ou fora da economia. Crescimento econmico, como definido aqui, um processo reversvel isto , pode ser seguido de declnio. Logicamente, o desenvolvimento econmico igualmente reversvel, embora as organizaes ou as estruturas raramente revertam para precisamente as mesmas formas que existiam antes. Com mais frequncia, durante ou depois dum perodo prolongado de declnio econmico tem lugar uma forma de retroverso econmica uma reverso para formas de organizao mais simples, embora normalmente no idnticas s que existiram anteriormente. Progresso econmico na tica secular moderna, crescimento e desenvolvimento so frequentemente equacionados com progresso, mas no existe necessariamente uma ligao entre eles. Outro motivo por que o crescimento e o desenvolvimento econmicos no podem ser automaticamente equiparados ao progresso porque um aumento do rendimento per capita no nos diz nada sobre a distribuio desse rendimento.

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    Dadas determinadas suposies ticas, possvel argumentar que rendimentos per capita mais baixos distribudos de forma mais uniforme so preferveis a rendimentos de mdia elevada que sejam muito desigualmente distribudos. Determinantes do desenvolvimento econmico A cincia econmica clssica desenvolveu a classificao tripartida dos factores de produo - terra,, mo-de-obra e capital. A produo total duma economia determinada pela quantidade dos empregos. Na verdade, mudana na tecnologia e nas instituies sociais so as fontes mais dinmicas de mudana em toda a economia. So, assim, fontes profundas de desenvolvimento econmica. Em sculos recentes, a inovao tecnolgica tem sido a fonte mais dinmica de mudana e desenvolvimento econmicos. O inter-relacionamento de populao, recurso e tecnologia na economia condicionado por instituies sociais, incluindo valores e atitudes. (Este conjunto de variveis , por vezes, tambm chamado contexto sociocultural ou matriz institucional da actividade econmica.) Ao nvel das economias nacionais e doutros agregados semelhantes, as instituies mais frequentemente relevantes so a estrutura social (numero, dimenso relativa, base econmica e fluidez das classes sociais), a natureza do Estado ou outro regime poltico e as propenses religiosas ou ideolgicas dos grupos ou classes dominantes e (se distintas) das massas. Alm disso, poder ser preciso ter em conta uma imensido de instituies menores, como associaes voluntrias (empresas de negcios, sindicatos, cooperativas agrcolas), o sistema educativo e mesmo a estrutura familiar (alargada ou nuclear) e outros agentes formadores de valores. Os estudiosos marxistas reivindicam ter descoberto a chave no apenas do processo do desenvolvimento econmico mas da evoluo da humanidade. Uma teoria de certa forma semelhante, mas menos ideolgica, considera que o desenvolvimento econmico o produto duma tenso ou luta permanentes entre a mudana tecnolgica e as instituies sociais. Segundo esta teoria, por vezes apelidada de teoria institucionalista, a tecnologia o elemento dinmico e progressivo, enquanto as instituies resistem uniformemente mudana. Produo e produtividade Produo o processo pelo qual os factores de produo so combinados para produzir os bens e servios desejados pelas populaes humanas. A produo pode ser medida em unidades fsicas (unidades de servios idnticos) ou em termos de valor isto , em termos monetrios. Produtividade a relao entre o resultado til dum processo produtivo e a utilizao dos factores de produo. Como no caso da produo. Como no caso da populao, ode ser medido em unidades fsicas x alqueires de trigo por acre, y dispositivos por homem-hotra ou em termos de valor. Para medir a produtividade de factor total isto , a produtividade combinada de todos os factores so necessrios termos de valor. Capital humano (no escravos, embora em tempos tenham sido considerados capital) resulta de investimentos em conhecimentos e capacidade ou especializao. O investimento pode assumir a forma de ensino normal ou formativo (uma educao universitria um investimento considervel), de estgio, de aprendizagem de ofcio.

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    Neste ponto importante considerar com mais pormenor a chamada lei dos rendimentos decrescentes - que poderia, com mais rigor, ser apelidada de lei da produtividade marginal decrescente. medida que vo sendo acrescentados trabalhadores, at um certo ponto, o produto marginal aumenta. Todavia, medida que vo sendo acrescentados mais trabalhadores, estes podero imiscuir-se no trabalho uns dos outros, pisar a colheita, etc. - e o produto marginal diminui: este o conceito da lei dos rendimentos decrescentes. Estrutura econmica e mudana estrutural A estrutura economia (a no confundir com estrutura social, embora ambas se relacionem) trata as relaes entre os vrios sectores da economia, especialmente os trs sectores principais conhecidos por primrio, secundrio e tercirio. Os processos geminados de mudana nas propores da mo-de-obra empregada e do rendimento com origem nos dois sectores so importantes exemplos de mudana estrutural da economia. Desde aproximadamente 1950, as economias mais avanadas sofreram uma nova mudana estrutural, do sector secundrio para o sector tercirio. Como podem ser explicadas estas mudanas estruturais? A mudana da agricultura para actividades secundrias implicou dois processos principais. No mbito da oferta, o aumento da produtividade, como j foi explicado, tornou possvel conseguir a mesma quantidade de produo com menos mo-de-obra (ou mais produo com a mesma quantidade de mo-de-obra). No mbito da procura, entrou em jogo uma regularidade do comportamento humano chamada lei de Engel Lei de Engel diz que, medida que o rendimento do consumidor aumenta, a proporo desse rendimento que gasta em alimentao diminui. A segunda mudana estrutural agora em curso, a mudana relativa da produo de bens (e consumo) para os servios, envolve um corolrio da lei de Engel: medida que o rendimento cresce, a procura de todos os bens aumenta, mas numa razo menor que o rendimento, com uma procura maior de servios e lazer a substituir, em parte, a procura de mercadorias. A logstica do crescimento econmico O uso vulgar do termo logstica aplica-se organizao de provises para um grande grupo de pessoas, como, por exemplo, um exrcito. Mas logstica tambm uma frmula matemtica. A curva logstica que dela deriva tem a forma dum S alongado e , por vezes designada por curva S. No caso da Europa, foram identificadas vagas de longo ciclo de crescimento populacional, cada uma seguida por um perodo de relativa estagnao ou mesmo declnio. O primeiro destes surtos teve inicio no sculo IX ou X, atingiu provavelmente os ndices mais altos no sculo XII, comeou a abrandar no sculo XIII e terminou abruptamente com a Grande Peste de 1348, quando a Europa perdeu um tero, ou mais, da sua produo total. Aps um sculo de relativa estagnao, a populao comeou novamente a crescer em meados do sculo XV, atingiu valores de pico no sculo XVI e de novo estabilizou, ou possivelmente at diminuiu, no sculo XVII. Em meados do sculo XVIII, o processo recomeou uma vez mais, desta vez muito mais vigorosamente, e continuou com taxas sem precedentes at ser interrompido pelas guerras mundiais e por infortnios conhecidos que ocorreram na primeira metade do sculo XX. H sinais duma quarta logstica, desta vez escala mundial, que teve incio depois da II guerra mundial. A hiptese de o crescimento econmico acompanhar o crescimento da populao fortemente apoiada por evidncias inquestionadas de expanso fsica e econmica da civilizao europeia durante cada uma das fases de acelerao do crescimento populacional.

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    2. Desenvolvimento econmico no sculo XIX: determinantes bsicas O sculo XIX testemunhou o triunfo definitivo do industrialismo como modo de vida na Europa, especialmente na Europa Ocidental. Desde o seu comeo, na Gr-Bretanha, as formas de industria moderna atravessaram o canal da mancha e o mar do Norte, para a Blgica, a Frana, a Alemanha e as demais naes na Europa, bem como o Atlntico, para os Estados Unidos e, muito depois, para outras regies do mundo. Durante esse processo, transformaram profundamente as condies de vida e de trabalho nas reas atingidas. Populao Aps a efectiva estagnao desde o comeo ou meados de sculo XVII at meados do sculo XVIII, a populao da Europa comeou novamente a crescer a partir de cerca de 1740. No sculo XIX, o crescimento populacional na Europa acelerou, e, em 1900, o nmero excedia os 400 milhes. Alm das flutuaes a curto prazo (que podiam ser por vezes severas, como durante a Peste Negra), a populao mundial tinha duplicado aproximadamente de mil em mil anos desde a inveno da agricultura at ao fim do sculo XVIII. No sculo XIX, a populao da Europa duplicou em menos de cem anos, e no sculo XX, essa taxa foi mesmo excedida par o mundo como um todo. s taxas actuais de crescimento natural, a populao mundial duplicar no prazo de vinte e cinco ou trinta anos. No h, assim, uma correlao clara entre a industrializao e crescimento populacional. Devem equacionar-se outros factores causais. A produo agrcola aumentou imenso ao longo do sculo, por dois motivos. Em primeiro lugar, a quantidade de terra sob cultivo aumentou. Em segundo lugar, a produtividade agrcola (produo por trabalhador) aumentou por causa da introduo de tcnicas novas e mais cientficas. A maquinaria agrcola, como debulhadoras a vapor e ceifeiras mecnicas, estreou-se na segunda metade do sculo. O transporte barato tambm facilitou a migrao da populao. A migrao interna, se bem que menos dramtica, foi ainda mais essencial ao processo de desenvolvimento econmico no sculo XIX. Em todos os pases ocorreram importantes alteraes regionais na concentrao da populao, mas a alterao mais fundamental foi o crescimento da populao urbana, quer no seu todo quer em termos de percentagem do total. A urbanizao, a par da industrializao, progrediu rapidamente no sculo XIX. A Gr-Bretanha, uma vez mais indicou o caminho. A ascenso do sistema fabril exigia uma concentrao da fora de trabalho. Graas a nova importncia do carvo a Provncia Negra, em Inglaterra, a rea do Ruhr, na Alemanha, a regio em torno de Lille, no norte de Frana, e a regio de Pittsburgh, na Amrica do Norte. No fim do sculo XIX, a procura de matrias-primas, alm doutros motivos, levou cada vez mais as naes europeias a estenderem o domnio poltico a zonas pobremente organizadas ou debilmente governadas de frica e da sia. O desenvolvimento e difuso de tecnologia Simon Kuznets, galardoada com um Prmio Nobel da Economia, referiu-se ao perodo em que vivemos como a moderna poca econmica. Segundo ele, uma poca econmica determinada e moldada pelas aplicaes e ramificaes duma inovao da poca. Segundo Kuznets (e, sem dvida, Smith teria concordado), uma grande parte da histria econmica e mesmo a histria poltica, social e cultural dos anos entre 1492 e 1776 pode ser explicada por referncia

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    ao progresso da explorao e descoberta, ao comrcio martimo, ao crescimento das marinhas e a fenmenos afins. A poca econmica actual (moderna), nas palavras de Kuznets, comeou na segunda metade do sculo XVIII, e a inovao de poca que a ela associou a aplicao alargada da cincia a problemas de produo econmica. Ao analisar o processo de mudana tcnica em qualquer perodo da Histria, mas especialmente na moderna poca econmica, sensato ter em conta as distines entre trs termos intimamente relacionados mas conceptualmente diferentes: a inveno, inovao e difuso de nova tecnologia. Inveno em termos de tecnologia, refere-se a uma novidade patentevel de natureza mecnica, qumica ou elctrica. Em si mesma, a inveno no tem um significado econmico especial. Apenas quando inserida num processo econmico isto , quando se torna uma inovao que assume significado econmico. A difuso refere-se ao processo por que uma inovao se dissemina numa dada indstria, entre indstrias e internacionalmente, para l das fronteiras geogrficas. A superioridade industrial que a Gr-Bretanha alcanara no primeiro quartel do sculo XIX assentava em avanos tecnolgicos em duas indstrias maiores, os txteis de algodo e a indstria do ferro, sustentadas por um uso extensivo de carvo como combustvel industrial e pela utilizao crescente da mquina a vapor como fonte de energia mecnica. A mecanizao da fiao do algodo estava praticamente completa em 1820, tornando-a a primeira indstria fabril moderna, enquanto a da tecelagem mal tinha comeado. Fontes de energia e produo de energia Quando a patente bsica de Watt expirou, em 1800, menos de 500 mquinas estavam operacionais na Gr-Bretanha, e apenas umas quantas dzias na Continente. Por muito fundamentais que os seus contributos tenham sido para a evoluo da tecnologia do vapor, as mquinas de Watt tinham muitas limitaes como fontes industriais de energia. Embora seja provvel que os cientistas tenham aprendido mais com a mquina a vapor culminando com a formulao de Helmholtz, em 1847, da primeira lei da Termodinmica do que tenham para ela contribudo, as suas contribuies no foram desprezveis. Os primeiros avanos provieram, contudo, de mecnicos prticos e engenheiros como o cornualense Richard Trevithick e o americano Oliver Evans, que contriburam e testaram mquinas de alta presso, que Watt considerava inseguras e nada prticas. O progresso tecnolgico tambm se verificou na principal concorrente da mquina a vapor, a roda hidrulica. A partir da dcada de1760, enquanto Watt testava e aperfeioava a mquina a vapor, outros engenheiros e inventores dedicavam-se ao aperfeioamento da roda hidrulica. A turbina a vapor, desenvolvida na dcada de 1880 pelo engenheiro britnico Charles A. Parsons e pelo inventor sueco Gustav de Laval. O progresso com este novo dispositivo foi rpido, e, nas primeiras dcadas do sculo XX, foi possvel gerar mais de 100 mil quilowatts a partir de uma nica instalao. Os fenmenos elctricos tinham sido observados em tempos recuados, mas at ao sculo XVIII a electricidade tinha sido considerada como apenas uma curiosidade. L para finais desse sculo, as pesquisas de Benjamin Franklin na Amrica e dois italianos Luigi Galvani e Alessandro Volta, que inventaram a pilha voltaica, ou bateria, promoveram-na do estatuto de truque de palco a objecto de investigao laboratorial. Sir Humphry Davy descobriu a electrlise, o fenmeno atravs do qual uma corrente elctrica decompe os elementos qumicos em certas solues aquosas, o que deu origem indstria da galvanostegia.

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    Em 1820, Orsted observou que uma corrente elctrica produz um campo magntico volta dos condutores, o que levou Ampre a formular uma relao quantitativa entre electricidade e magnetismo. Entre 1820 e 1831, Faraday descobriu o fenmeno da induo electromagntica (a gerao de corrente elctrica pela revoluo dum magneto dentro duma espiral de fio) e inventou um primeiro gerador accionado a mo. Trabalhando com base nestas descobertas, Samuel Morse desenvolveu o telgrafo elctrico na Amrica entre 1832 e 1844. Mas o uso industrial da electricidade foi refreado pelas dificuldades em conceber um gerador economicamente eficiente. Em 1879, o mesmo ano em que Edison patenteou a sua lmpada elctrica, um alemo, Werner von Siemens, inventou o carro elctrico (ou, simplesmente, elctrico), com consequncias revolucionrias para o transporte de massas nas metrpoles superlotadas da poca. O petrleo outra importante fonte de energia que veio a evidenciar-se na segunda metade do sculo XIX. Embora fosse conhecido e tivesse sido anteriormente utilizado atravs de descobertas acidentais, a sua explorao comercial comeou com a perfurao do poo de Drake em Titusville, na Pensilvnia, em 1859. Ao barato No princpio do sculo XIX, a fundio com coque e o processo de pudlagem para produzir ferro-gusa e para o refinar em ferro forjado eram praticamente universais na Gr-Bretanha, o que proporcionava aos proprietrios de siderurgias uma vantagem concorrencial sobre os seus pares estrangeiros. Os primeiros altos-fornos accionados a coque bem-sucedidos no Continente foram construdos na Blgica (que ento fazia parte do Reino Unido dos Pases Baixos), no final da dcada de 1820; uns quantos proprietrios franceses de siderurgias adoptaram o coque nas dcadas de 1830 e 1840, mas o processo no se tornou predominante antes da dcada de 1850. A nica grande inovao tcnica na indstria do ferro na primeira metade do sculo XIX foi o jacto de ar quente, patenteado pelo engenheiro escocs James B. Neilson em 1828. As inovaes tecnolgicas mais dramticas a atingir a indstria do ferro, verificadas na segunda metade do sculo, relacionam-se com o fabrico de ao. Em 1856, Henry Bessemer, um inventor ingls, patenteou um novo mtodo para produzir ao directamente do ferro fundido, eliminando o processo de pudlagem e conseguindo um produto superior. Transporte e comunicaes Mais que qualquer outra inovao tecnolgica do sculo XIX, a locomotiva a vapor e os seus acessrios, os carris de ferro (ou ao), epitomaram o processo de desenvolvimento econmico. Foram, ambos, os smbolos e os instrumentos da industrializao. Como foi referido no captulo anterior, no fim do sculo XVIII as minas de carvo britnicas tinham muitos quilmetros de caminhos-de-ferro em que os vages eram propulsados pela gravidade, por cavalos de tiro e por seres humanos. A abertura do caminho-de-ferro de Stockton e Darlington, em 1825, anunciou a era do caminho-de-ferro, e a Linha Liverpul-Manchster, primeira especificamente concebida para a locomotiva a vapor e como carreira regular, foi inaugurada em 1830. Da em diante, a rede ferroviria britnica desenvolveu-se rapidamente. Os engenheiros britnicos, graas ao seu pioneirismo e experincia e s inmeras fundies e oficinas para o construo de mquinas, construram alguns dos primeiros caminhos-de-ferro na Continente;

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    subsequentemente, foram responsveis pela maior parte da construo na ndia, na Amrica Latina e na frica Meridional. O crdito pela inveno do navio a vapor normalmente conferido ao americano Robert Fulton, cujo navio, O Clermont, fez a sua primeira viagem bem-sucedida no Hudson em 1807, embora houvesse quem reivindicasse anteriormente tal distino. Aperfeioamentos na impresso e na composio culminaram no lintipo, inventado pelo germano-americano Ottmar Mergenthaler em 1885, alargando ainda mais a influncia do jornal dirio. A inveno da litografia, em 1819, e o desenvolvimento da fotografia depois de 1827 possibilitaram a reproduo barata e a vasta disseminao de imagens visuais. Mais importante ainda foi a inveno, em 1832, do telgrafo elctrico pelo americano Samuel Morse. Por volta de 1850, a maioria das mais importantes cidades na Europa e na Amrica tinha sido ligada por fios telegrficos, e, em 1851, o primeiro-cabo telegrfico submarino operacional foi colocado sob o canal da Mancha. Em 1866, aps dez anos de experincia e vrios fiascos, o americano Cyrus W. Field conseguiu colocar, com sucesso, um cabo telegrfico no Atlntico Norte, proporcionando uma comunicao quase instantnea entre a Europa e a Amrica do Norte. Seguiram-se-lhe outros cabos telegrficos submarinos. O telefone, patenteado por Alexandre Graham Bell em 1876, tornou as comunicaes distncia ainda mais pessoais, mas a sua principal utilizao, no incio, visou facilitar as comunicaes locais. O inventor e empresrio italiano Guglielmo Marconi, baseando-se nas descobertas cientficas do ingls James Clerk Maxwell e do alemo Heinrich Hertz, inventou a telegrafia sem cabos (ou rdio) em 1895. O emprego da cincia Cada vez mais, o desenvolvimento tecnolgico exigia a colaborao duma srie de especialistas em cincia e engenharia cujo trabalho era coordenado por executivos que, embora dela no tivessem qualquer conhecimento especial, compreendiam as potencialidades da nova tecnologia. Enquanto procurava um substituto sinttico para o quinino em 1856, William Perkin, um qumico ingls, sintetizou acidentalmente a malva, um corante violceo muito procurado. A qumica tambm desempenhou um papel fundamental na metalurgia. No princpio do sculo XIX, os nicos metais economicamente importantes eram os j conhecidos desde a Antiguidade: ferro, cobre, chumbo, estanho, mercrio, ouro e prata. Aps a revoluo qumica associada a Antoine Lavoisier, o grande qumico francs do sculo XVIII, foram descobertos muitos metais novos, incluindo o zinco, o alumnio, o nquel, o magnsio e o crmio. A estrutura institucional A estrutura institucional da actividade econmica na Europa do sculo XIX, que produziu a primeira civilizao industrial, deu grandes oportunidades iniciativa individual, permitiu a liberdade de escolha ocupacional e a mobilidade geogrfica e social, contou com a propriedade privada e o domnio da lei e realou a utilizao da racionalidade a da cincia na prossecuo de fins materiais. Fundamentos jurdicos A Gr-Bretanha, como vimos, j tinha conseguido uma estrutura substancialmente moderna para o desenvolvimento econmico, adaptada tanto inovao como mudana social a material. Uma das instituies chave dessa estrutura foi o sistema jurdico conhecido por direito comum (comum por ser, desde pelo menos a poca da Conquista Normanda, comum a todo o reino da Inglaterra, substituindo leis e costumes puramente locais). As caractersticas distintivas do direito eram o seu carcter evolucionrio, a sua confiana no costume e no precedente que ia sendo estabelecido em decises legais escritas e a

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    sua flexibilidade. Proporcionou proteco para a propriedade e os interesses privados contra as depredaes do Estado (a casa dum ingls o seu castelo) e ao mesmo tempo protegia o interesse publico das exaces privadas. Tambm incorporou os costumes dos comerciantes (o direito comercial) tal como se revelavam em tribunais comerciais especializados. Em 1791, a Assembleia foi ao ponto de aprovar a drstica Lei Le Chapelier, que proibia organizaes ou associaes de trabalhadores e patres. O code civile, promulgou em 1804, o mais fundamental e o mais importante. Escrito por advogados e juristas da classe mdia, reflectiu claramente as preocupaes e interesses das classes proprietrias. Considerou a propriedade um direito absoluto, sagrado e inviolvel. Tambm sancionou especificamente a liberdade contratual e conferiu fora de lei aos contratos vlidos. Reconheceu a letra de cmbio e outras formas de papel comercial e autorizou expressamente os emprstimos a juros um dispositivo de assinalvel importncia para o desenvolvimento da indstria nos pases catlico-romnticos. Outro codigos napolenicos de especial importancia para o desenvolvimento economico foi o code de Commerce, promulgado em 1807. Antes dele, nenhuma norma abrangente regera as formas de empresa comercial. O code de Commerce distinguia trs tipos principais de organizaes empresariais:

    (1) Meras sociedades, nas quais os scios eram individual e colectivamente responsveis por todas as dividas do negocio;

    (2) Socits em commandite, sociedades limitadas nas quais o scio ou scios activos assumiam a responsabilidade ilimitada de todo o negcio, enquanto os scios comanditrios ou limitados arriscavam unicamente as quantias que tinham efectivamente investido; e por fim;

    (3) Socits anonymes, corporaes na acepo americana, com responsabilidade limitada para todos os scios.

    Poltica e pensamento econmicos O perodo das Guerras Napolenicas testemunhou o que foi nalguns aspectos o culminar do nacionalismo e do imperialismo econmicos de sculos anteriores, com a tentativa de bloqueio britnico do Continente e o Sistema Continental Napolenico como resposta. Nenhuma das duas medidas foi completamente eficaz em relao ao seu objectivo principal, que era o de limitar ou destruir o potencial blico na economia do adversrio, mas ambas representaram os extremos das polticas de nacionalismo econmico. Nas dcadas de 1760 e 1770, os Fisiocratas (chamados, em Frana, les conomistes) tinham comeado a advogar os mritos da liberdade econmica e da concorrncia. Em 1776, o ano da Declarao de Independncia dos Estados Unidos, Adam Smith publicou A Riqueza das Naes, que viria a tornar-se uma declarao da independncia econmica individual. Smith tem sido por vezes retratado como apologista dos homens de negcios ou da burguesia, mas isso o resultado duma leitura errada (ou nenhuma leitura) do seu texto. Todavia, a maior preocupao de Smith ao longo do livro foi mostrar que a abolio de restries e limitaes vexatrias e desrazoveis iniciativa privada promoveriam a concorrncia dentro da economia, e isso, por sua vez, maximizaria a riqueza das naes. O livro de Smith foi bastante popular para um tratado filosfico. Mas s muito depois da sua morte e depois de vrios outros escritores, como o reverendo T. R. Malthus e David Ricardo, terem contribudo para o corpo de literatura conhecido como economia poltica clssica - que as ideias de Smith comearam a ser contempladas na legislao.

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    A revogao das Corn Maws, Leis dos Cereais (Panificveis), eram impostos sobre a importao de milho, trigo, aveia, cevada e centeio - o que introduziu um longo perodo de comrcio livre na Gr-Bretanha. Alm do comrcio livre, os dogmas do liberalismo econmico (como ficou conhecida a nova doutrina) preconizavam uma reduo do papel do Governo na economia. Segundo Smith e o seu sistema de liberdade natural, o Governo tinha apenas trs funes a desempenhar:

    Primeiro, o dever de proteger a sociedade contra a violncia e a invaso doutras sociedades independentes;

    Segundo, o dever de proteger, o mais possvel, todos os membros da sociedade contra a injustia ou opresso de cada um dos outros seus membros, ou o dever de estabelecer uma administrao correcta da justia;

    Terceiro, o dever de erigir e manter determinadas obras pblicas e determinadas instituies pblicas que um nico individuo ou um pequeno grupo de indivduos no podem ter interesse em erigir e manter.

    Lei dos cereais (panificveis), eram impostos sobre a importao de milho, trigo, aveia, cevada e centeio. Mito do Laissez faire o seu entendimento popular era o de que os indivduos, especialmente as pessoas que tinham negcios, deviam ser libertadas de todas as restries governamentais (excepto as leis criminais) para desempenhar os seus interesses egosta. Thomas Carlyle satirizou esse entendimento como uma anarquia com um polcia. As Leis Fabris, novas leis de sade e sanitrias e a reforma do governo local. Os reformadores humanitrios de ascendncia aristocrtica ou da classe mdia uniram foras com os dirigentes das classes trabalhadoras para lutar por elas e foram eleitos por whigs e tories, bem como pelos Radicais. O Sistema Americano, como lhe chamou Henry Clay, encarava o Governo como uma agncia destinada a dar assistncia a indivduos e iniciativa privada, de forma a acelerar o desenvolvimento dos recursos materiais da nao. Socialmente, a Europa do Antigo Regime estava organizada em trs ordens, a nobreza, o clero e todos os demais as pessoas comuns ou vulgares. Uma anlise funcional moderna em termos de classe social reveria ligeiramente a classificao. No topo da pirmide social encontrava-se uma classe governante de proprietrios de terras, que inclua alguns no-nobres, bem como o mais alto clero e a nobreza per se. A base econmica do seu poder politica e estatuto social era a propriedade da terra, que lhes permitia viver nobremente sem trabalhar. A seguir, na escala social, estava uma classe mdia-alta, ou haute bourgeoisie, de grandes comerciantes, altos funcionrios do Governo e profissionais como advogados e notrios; embora estes tambm possussem frequentemente alguma propriedade imobiliria, os fundamentos principais das suas posies eram os seus conhecimentos e habilitaes especiais, o seu capital de negcio (no caso dos comerciantes) e os seus contactos pessoais com a aristocracia. Ainda mais abaixo na escala social encontrava-se uma classe mdia-baixa, ou petit bourgeoisie, composta por artesos e operrios, comerciantes de retalho e outros que se dedicavam a actividades de servios e pequenos proprietrios independentes. No fundo estavam os camponeses, os trabalhadores das indstrias domsticas e os trabalhadores agrcolas, cujos nmeros incluam muitos indigentes e pobres.

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    Karl Marx profetizou, em meados do sculo XIX, que a polarizao que pensava observar nas ento avanadas sociedades industriais continuaria at, por fim, restarem apenas duas classes, a classe governante de capitalistas (que, em sua opinio, absorveria e substituiria a aristocracia) e o proletariado industrial. Em vez de polarizar duas classes mutuamente antagnicas, o aumento da industrializao aumentou significativamente a classe mdia de trabalhadores de colarinho-branco, de trabalhadores especializados e de empresrios individuais. As formas mais usuais de solidariedade e entreajuda da classe trabalhadora eram os sindicatos e, eventualmente, nalguns pases, partidos polticos da classe trabalhadora. A maior parte das naes ocidentais passou por, trs fases nas suas atitudes oficiais em relao aos sindicatos:

    A primeira fase, a da proibio ou supresso imediata, foi tipificada pela Lei Le Chapelier de 1791, em Frana, pelas Leis de Associao de 1799-1800, na Gr-Bretanha, e por legislao semelhante noutros pases;

    A segunda fase, marcada na Gr-Bretanha pela revogao das Leis de Associao em 1824-25, os Governos concederam uma tolerncia limitada aos sindicatos, permitindo a sua formao, mas perseguindo-os frequentemente por se empenharem em aces pblicas como as greves;

    A terceira fase, no alcanada antes do sculo XX nalguns pases e noutros no alcanada de todo, reconheceu aos trabalhadores e trabalhadoras o direito legal de se organizarem e empenharem em actividades colectivas.

    Na Gr-Bretanha, na dcada de 1830, o movimento sindicalista envolveu-se num movimento poltico mais alargado conhecido por cartismo, cujo objectivo era conseguir o sufrgio e outros direitos polticos para os que estavam privados deles. Formou-se depois, a Sociedade Unida dos Engenheiros (maquinistas e mecnicos), o primeiro dos chamados sindicatos do Modelo Novo. A caracterstica distintiva do Modelo Novo era a de apenas organizar trabalhadores especializados e por actividades; representava a aristocracia do trabalho. No continente, os sindicatos tiveram um progresso mais lento. Desde o princpio, os sindicatos franceses estiveram intimamente associados ao Socialismo e a ideologias politicas semelhantes. Educao e alfabetizao Outra caracterstica do desenvolvimento econmico no sculo XIX menos notada mas pouco menos notvel que o crescimento das cidades, dos trabalhadores industriais e dos rendimentos foi o crescimento da alfabetizao e da educao. O aspecto mais surpreendente a posio elevada da Sucia, quer em 1850, quer em 1900; a Sucia era um pas pobre em meados do sculo XIX, mas na segunda metade do sculo registou uma das mais altas taxas de crescimento de todos os pases da Europa. A revoluo Francesa introduziu o princpio da educao gratuita financiada pelo estado, mas na prpria Frana o princpio foi ignorado pelos governos da Restaurao at depois de 1840. Entretanto, vrios Estados alemes, escandinavos e americanos, que j beneficiavam duma tradio de educao primria alargada, criaram sistemas de financiamento pblico, embora no se tornassem obrigatrios ou universais antes do final do sculo. Em Inglaterra, a Lei Fabril de 1802 obrigava os proprietrios de fbricas de txteis a facultar educao elementar aos seus aprendizes, mas a lei foi escassamente aplicada; uma outra lei de 1833, decretava a instruo para todas as crianas trabalhadoras.

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    A revoluo Francesa deu azo a outras novaes educativas de particular significado para a Era Industrial. Tratava-se de escolas especializadas para a cincia e para a engenharia, das quais a cole Polytechique e a cole Normale Suprieure so as mais famosas. Relaes internacionais No Congresso de Viena, em 1814-15, os vencedores de Napoleo tentaram restabelecer o Antigo Regime, politica, social e economicamente, mas os seus esforos revelaram-se vos.

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    9 - Padres de desenvolvimento: os primeiros industrializadores De um certo ponto de vista, o processo de industrializao do sculo XIX foi um fenmeno escala europeia. Gr-Bretanha Comeamos com a Gr-Bretanha, a primeira nao industrial. No fim das Guerras Napolenicas, a Gr-Bretanha era, segundo algumas estimativas, claramente a principal nao industrial, produzindo cerca de um quarto da produo mundial total. A Gr-Bretanha manteve o seu domnio industrial e comercial durante a maior parte do sculo XIX. Os txteis, o carvo, o ferro e a engenharia, as bases da prosperidade precoce da Gr-Betanha, continuaram a ser os seus trunfos. Na indstria mineira, por um outro lado, a Gr-Bretanha manteve a primazia na Europa (embora os Estados Unidos a tivessem ultrapassado no comeo do sculo XX) e produzia excedentes para exportao. Numa base per capita, a Gr-Bretanha produziu, ao longo do sculo, quase o dobro do carvo dos seus principais rivais europeus, a Blgica e a Alemanha. A indstria da engenharia, uma criao de finais do sculo XVIII, pode encontrar as suas razes em todas as trs indstrias que acabmos de mencionar. Em resultado do papel pioneiro da Gr-Bretanha no desenvolvimento dos caminhos-de-ferro, a procura externa, quer da Europa quer doutros continentes, dos conhecimentos, equipamento e capital britnicos representaram um grande estmulo para toda a economia. De modo semelhante, a evoluo da indstria naval, desde a propulso vela at ao vapor e da construo em madeira at ao ferro e ao ao, foi outro poderoso estmulo. Nos primeiros anos do sculo XX, a indstria naval britnica produziu, em mdia, mais de 1 milho de toneladas por ano, praticamente todos navios a vapor em ao. A Gr-Bretanha atingiu o seu auge de supremacia industrial em relao s demais naes nas suas dcadas entre 1850 e 1870. A taxa de crescimento do produto nacional bruto de 1856 a 1873 ambos anos de pico do ciclo comercial rondou os 2,5 por cento, a maior de todo o sculo. A Gr-Bretanha no conseguiu manter indefinidamente a sua preeminncia medida que outras naes menos desenvolvidas mas bem dotadas comearam a industrializar-se. Nesse sentido, o declnio relativo da Gr-Bretanha era inevitvel. Alm do mais, tendo em conta os vastos recursos e o rpido crescimento populacional dos Estados Unidos e da Rssia, no surpreendente que acabassem por ultrapassar a pequena nao insular na produo total. A indstria do algodo, claro, sempre dependera de matria-prima importada, mas isso no impediu a Gr-Bretanha de se tornar o principal fabricante mundial de artigos de algodo; e de resto, todos os outros produtores europeus de algodo obtinham no estrangeiro a sua matria-prima, frequentemente por intermdio da Gr-Bretanha. A explicao mais recente aponta outra causa possvel do declnio relativo da Gr-Bretanha: o malogro empresarial. Em parte, o atraso do sistema educativo britnico pode ser responsabilizado pelo abrandamento industrial e pelos fracos resultados empresariais. A Gr-Bretanha foi a ultima grande nao ocidental a adoptar a escolaridade elementar universal pblica, importante para a formao duma fora de trabalho especializada.

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    De todas as grandes naes, a Gr-Bretanha era a mais dependente de importaes e exportaes para o seu bem-estar material. Assim, as politicas comerciais, em particular as pautas aduaneiras, doutras naes tinham importantes repercusses. Mais que isso, a Gr-Bretanha dependia em muito, mesmo mais que naes mais pequenas, da economia internacional para a sua subsistncia. Tinha, de longe, a maior marinha mercante e os maiores investimentos externos de qualquer nao ambos importantes angariadores de moeda estrangeira. Desde o comeo do sculo XIX, se no antes, apesar das suas importantes industrias exportadoras, que a Gr-Bretanha tinha uma balana desfavorvel, ou negativa, do comercio de mercadorias. O dfice era coberto (mais que coberto) pelos ganhos da marinha mercante e pelo investimento externo, o que permitiu o aumento quase continuo deste ultimo ao longo do sculo. Alm disso, na ltima parte do sculo o papel central de Londres nos sectores dos seguros e da banca internacionais aumentou ainda mais estes ganhos invisveis. Estados Unidos O exemplo mais espectacular de rpido crescimento econmico nacional foi o dos Estados Unidos. Embora os Estados Unidos tivessem acolhido o grosso da emigrao proveniente da Europa, o maior factor de crescimento populacional resultou duma taxa de crescimento natural extremamente elevada. O rendimento e a riqueza cresceram ainda mais rapidamente que a populao. Desde os tempos coloniais, a escassez de mo-de-obra em relao terra e a outros recursos implicara salrios mais elevados e um nvel de vida melhor que na Europa. Quais foram as fontes deste enorme crescimento? A terra abundante e a riqueza dos recursos naturais ajudam a explicar por que tinham os Estados Unidos rendimentos per capita superiores aos da Europa, mas por si mesmas no explicam a taxa de crescimento mais elevada. Os motivos para esse crescimento encontram-se principalmente nas mesmas foras que operavam na Europa Ocidental, nomeadamente o rpido progresso da tecnologia e a especializao regional crescente. Por exemplo, a permanente escassez e elevado custo da mo-de-obra premiavam a maquinaria que poupasse mo-de-obra, quer na agricultura quer na indstria. As enormes dimenses fsicas dos Estados Unidos, com climas e recursos diferentes, permitiram um grau de especializao regional ainda maior que o que era possvel em qualquer pas da Europa. Em 1789, o ano em que a Constituio entrou em vigor, Samuel Slater chegou de Inglaterra e, no ano seguinte, em sociedade com comerciantes de Rhode Island, criou a primeira indstria fabril da Amrica. Pouco depois, em 1793, o descaroador de algodo, inventado por Eli Whitney, lanou o sul da Amrica do Norte como principal fornecedor da matria-prima da maior indstria fabril do mundo. Esta dicotomia levou a um dos primeiros grandes debates sobre poltica econmica na nova nao. Alexander Hamilton, o primeiro secretrio do Tesouro, queria patrocinar as fbricas atravs de tarifas proteccionistas e doutras medidas (veja-se o seu Report on Manufactures, 1791). Por outro lado, Thomas Jefferson, o primeiro secretrio de Estado e terceiro presidente, preferiu o encorajamento da agricultura e do comrcio como seu auxiliar. Os Jeffersonianos venceram a luta poltica, mas os Hamiltonianos (depois da morte trgica e prematura de Hamilton) viram as suas ideias triunfarem. A indstria algodoeira da Nova Inglaterra, depois de sofrer alguns altos e baixos severos antes de 1815, emergiu na dcada de 1820 e manteve-se at dcada de 1860 como a principal indstria fabril americana e uma das mais produtivas a nvel mundial. Outra vantagem da dimenso dos Estados Unidos foi o seu potencial para um grande mercado interno praticamente livre de barreiras aduaneiras artificiais. Mas para realizar esse potencial foi necessrio criar uma vasta rede de transportes. Uma razo de peso do decepcionante desempenho econmico dos canais foi o advento dum novo concorrente, o caminho-de-ferro. A era do caminho-de-ferro comeou quase simultaneamente nos Estados

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    Unidos e na Gr-Bretanha, embora os Estados Unidos tenham por muitos anos dependido profundamente da tecnologia, equipamento e capital britnicos. Em 1890, os Estados Unidos tinham-se transformado na nao mais industrializada do mundo. Blgica A primeira regio da Europa Continental a adoptar o modelo britnico da industrializao foi a zona que se tornou o reino da Blgica em 1830. A proximidade Gr-Bretanha no um factor a desprezar na sua precoce e bem sucedida imitao da industrializao britnica, mas houve outros motivos mais fundamentais.

    Em primeiro lugar, a regio j tinha uma longa tradio industrial. Em segundo lugar, a riqueza de recursos naturais da Blgica assemelhava-se da Gr-Bretanha.

    Um empresrio belga, Dominique Mosselman, desempenhou um papel primordial na fundao da moderna indstria do zinco, e a empresa que criou, a Socit de la Vieille Montagne, praticamente monopolizou a indstria por muitos anos.

    Em terceiro lugar, em parte devido sua localizao e s suas ligaes polticas, a regio que se tornou a Blgica recebeu importantes injeces de tecnologia, investimento e capital estrangeiros e desfrutou duma posio favorvel em determinados mercados externos, especialmente nos franceses. O processo teve incio durante o Antigo Regime e intensificou-se durante o perodo de domnio francs.

    Em 1720, um irlands, OKelly, erigiu a primeira bomba a vapor de Newcomen no Continente, para uma mina de carvo perto de Lige. Dez anos depois, um ingls, George Sanders, construiu outra para uma mina de chumbo em Vedrin. As minas de carvo eram as maiores utilizadoras de mquinas a vapor, de ambas as verses de Newcomen e de Watt, e tambm atraram a maior quantidade de empresrios e capitais franceses. A indstria do algodo cresceu dentro e em torno da cidade de Gante, que na verdade se transformou na Manchster belga. Em 1821, Paul Huart-Chapel introduziu a pudlagem e a laminao nas suas metalurgias perto de Charleroi. Em 1824 comeou a construir um alto-forno accionado a coque, que ficou finalmente operacional em 1827 o primeiro a obter sucesso comercial no Continente. Em breve outros se seguiram, incluindo, em 1829, o de John Cockerill, cujo scio no era nem mais nem menos que o governo holands do rei Guilherme I. Alm de condies econmicas internacionais, que eram igualmente favorveis, dois factores especiais foram os principais responsveis pelo carcter e dimenso do desenvolvimento da Blgica:

    (1) A deciso governamental de construir uma extensa rede de caminhos-de-ferro custa do Estado, uma bno especial para as indstrias do carvo, do ferro e da engenharia;

    (2) Uma notvel inovao institucional no campo da banca e da finana. Em 1840, se no antes, a Blgica era claramente o pas mais industrializado do Continente e, em valores per capita, seguia muito de perto a Gr-Bretanha. Frana De todos os primeiros pases industrializados, a Frana foi o que teve o padro de crescimento mais aberrante. Esse facto deu origem a uma literatura abundante, quer no sculo XIX quer mais recentemente, literatura essa que se dedicou a explicar o suposto atraso ou retardamento da economia francesa.

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    A caracterstica mais marcante do sculo XIX, no caso da Frana, foi a sua baixa taxa de crescimento demogrfico. A Frana, embora no tivesse completamente privada de carvo, no possua jazidas abundantes, e, de resto, o tipo de jazidas que possua tornava a sua explorao bastante dispendiosa. Em tecnologia, a Frana no estava atrasada muito longe disso. Cientistas, inventores e inovadores franceses tomaram a dianteira em varias indstrias, incluindo a da energia hidroelctrica (turbinas e electricidade) do ao (o processo de soleira aberta), do alumnio, dos automveis e, no sculo XX, da aviao. Est agora bem determinado que o crescimento econmico moderno em Frana teve incio no sculo XVIII. O sculo acabou com a Gr-Bretanha num processo de revoluo industrial (no algodo), enquanto a Frana foi apanhada nas malhas duma grande sublevao politica, a Revoluo Francesa. Durante um quarto de sculo, desde 1790 at 1815, exceptuando a curta Paz de Amiens (1802-3), a Frana esteve quase continuamente envolvida naquela que foi chamada a primeira guerra moderna e que implicou o recrutamento em massa de homens. O lento crescimento demogrfico da Frana em grande parte responsvel pelo crescimento aparentemente lento da economia no seu todo. A produo industrial, o elemento principal do crescimento econmico moderno em Frana, bem como na maior parte dos pases em vias de industrializao, cresceu ainda mais rapidamente que a produo total. Com o coup d'tat de 1851 e a proclamao do II Imprio no ano seguinte, o crescimento econmico francs retomou o seu anterior curso a um ritmo acelerado. A guerra de 1870-71 trouxe o desastre econmico e militar, mas a Frana sofreu menos com a depresso de 1873 que outras naes em curso de industrializao e recuperou mais rapidamente. A depresso que teve inicio em 1882 durou mais tempo e provavelmente custou mais Frana que qualquer outra do sculo XIX. Globalmente, o comrcio externo definhou e manteve-se praticamente estacionrio durante mais de quinze anos, e, com a perda de mercados estrangeiros, a industria interna tambm estagnou. A acumulao de capital atingiu o seu ponto mais baixo na segunda metade do sculo. A prosperidade regressou, por fim, mesmo antes do final do sculo, com a extenso dos campos de minrio da Lorena e o advento de indstrias novas como as da electricidade, do alumnio. Do nquel e dos automveis. La belle poque, como os Franceses chamam aos anos imediatamente anteriores I Guerra Mundial, foi, assim, um perodo de prosperidade material e tambm de eflorescncia cultural. Embora no sejam possveis comparaes precisas, provvel que, em 1913, o francs mdio tivesse um nvel de vida material to ou mais elevado que o dos cidados de qualquer outra nao continental. No princpio deste sculo, a Frana era a nica nao industrial da Europa auto-suficiente em gneros alimentares, e tinha mesmo um excedente para exportaes. Duas outras caractersticas da dimenso relativamente pequena das empresas francesas no podem deixar de ser referidas: elevado valor acrescentado (artigos de luxo) e disperso geogrfica. Ao longo de todo o sculo, a Frana dependeu, porm, da importao para cerca de um tero do seu consumo de carvo; e, mesmo assim, o consumo francs per capita foi apenas uma fraco do dos seus vizinhos.

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    Para compensar a escassez e elevado custo do carvo, a Frana dependia muito mais que os seus vizinhos, ricos em jazidas de carvo, da energia hidrulica. A energia hidrulica, por muito importante que tivesse sido para a industrializao francesa, ajudou a impor um padro: pequena dimenso das empresas, disperso geogrfica e baixa urbanizao. Alemanha A Alemanha foi a ultima a juntar-se ao grupo dos primeiros pases industrializados. Pode, na verdade, dizer-se que era um pas atrasado. Pobre e pouco desenvolvida na primeira metade do sculo XIX, aquela nao politicamente dividida era tambm predominantemente rural e agrria. Nas vsperas da I Guerra Mundial, o Imprio Alemo Unificado era a nao industrial mais poderosa da Europa. Possua as maiores e mais modernas industrias de produo de ferro e ao e seus derivados, de energia elctrica e maquinaria e de qumicos. A sua produo de carvo s era superada pela Gr-Bretanha e era um dos maiores produtores de vidro, de instrumentos pticos, de metais no ferrosos, de txteis e de vrios outros artigos fabricados. Tinha uma das mais densas redes de caminhos-de-ferro e um elevado grau de urbanizao. Como se deu esta espantosa transformao? Simplificando apenas um pouco, a historia econmica alem do sculo XIX pode ser dividida em trs perodos bastantes distintos e quase simtricos:

    O primeiro, que se estende desde o comeo do sculo at formao do Zollverein, em 1833, testemunhou um despertar gradual para as mudanas econmicas que decorriam na Gr-Bretanha, em Frana e na Blgica e a criao das condies jurdicas e intelectuais essenciais transio para a moderna ordem industrial; No segundo, um perodo de imitao e apropriao deliberadas que durou at cerca de 1870 foram moldadas as fundaes materiais da indstria, transportes e finanas modernos. No terceiro, a Alemanha ascendeu rapidamente posio de supremacia industrial na Europa Ocidental Continental que ainda hoje ocupa.

    Sob Napoleo, a influencia Francesa foi muito forte na Confederao do Reno (a maior parte da Alemanha Central). At a Prssia adoptou, numa forma modificada, muitas instituies jurdicas e econmicas francesas. Uma das mais importantes reformas econmicas instigadas pela administrao prussiana levou formao do Zollverein (literalmente, portagem ou unio tarifaria). Ela estabeleceu as fundaes em 1818, decretando uma tarifa comum para toda a Prssia fundamentalmente nos interesses da eficincia administrativa e dum rendimento fiscal mais elevado. O Zollverein fez duas coisas:

    Em primeiro lugar, aboliu todas as portagens e barreiras aduaneiras internas, criando um mercado comum alemo; Em segundo lugar, criou uma tarifa externa comum determinada pela Prssia.

    Em geral o Zollverein seguiu uma poltica comercial liberal (isto , de tarifas baixas), no por um princpio econmico mas por a administrao prussiana querer excluir a proteccionistas ustria da participao na unio. A chave da rpida industrializao da Alemanha foi o crescimento clere da indstria carbonfera, e a chave para o clere crescimento da indstria carbonfera foi a regio carbonfera de Ruhr. A fundio com coque comeou na Silsia, mas o desenvolvimento da indstria da Alemanha Ocidental quase sinnimo de desenvolvimento do Ruhr, e isso s se deu em larga escala aps 1850.

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    A produo do ao de Bessemer teve incio em 1863 e o processo de Siemens-Martin foi adoptado pouco depois. Mas s depois de o processo de Gilchrist-Thomas ter sido introduzido, em 1881, permitindo a utilizao do minrio de ferro fosfrico da Lorena, que a produo de ao alemo aumentou drasticamente. O ano de 1870-71, to dramtico na histria politica, com a Guerra Franco-Prussiana, o derrube do II Imprio em Frana e a criao dum novo II Imprio na Alemanha, foi menos dramtico na histria econmica. Uma caracterstica marcante das industrias qumicas e elctricas, e tambm do carvo, do ferro e do ao, foi a grande dimenso das empresas. Os empregados da maior parte das empresas destas indstrias contavam-se pelos milhares. Ainda outra caracterstica notvel da estrutura industrial germnica foi a prevalncia de cartis. Um cartel um acordo ou contrato entre empresas nominalmente independentes para fixar preos, limitar a produo, dividir mercados ou, por outro lado, promover praticas monopolistas e anticompetitivas.

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    10 - Padres de desenvolvimento: retardatrios e ausentes Em todo o resto da Europa, antes de 1850, havia alguns exemplos dispersos de indstria moderna. O consumo per capita de carvo de alguns dos pases que iniciaram a industrializao mais tarde. Duas das suas caractersticas tm de ser realadas:

    Em primeiro lugar, no comeo do sculo XX o consumo per capita, mesmo nos mais bem sucedidos dos pises de industrializao mais tardia, ascendia a menos de um quinto do da Gr-Bretanha e a menos de um tero do da Blgica e da Alemanha; Em segundo lugar, dado o consumo limitado em todos os pases de industrializao tardia, o consumo dos mais bem sucedidos aumentou muito mais rapidamente que o dos outros.

    Suia A Alemanha foi o ltimo dos primeiros industrializados, a Suia foi o primeiro dos retardatrios. Embora a Suia j tivesse adquirido, na primeira metade do sculo ou antes, alguns recursos importantes que desempenharam um papel relevante na sua rpida industrializao aps 1850 nomeadamente um elevado nvel de alfabetizao adulta a sua estrutura econmica era ainda largamente pr-industria. S em 1850 conseguiu uma unio aduaneira (ao contrario da Alemanha, que tinha um Zollverein mas no um governo central), uma unio monetria efectiva, um sistema postal centralizado ou um padro uniformizado de pesos e medidas. Pas pequeno, tanto em territrio como em populao, a Suia igualmente pobre em recursos naturais convencionais que no a gua e a madeira; no tem praticamente nenhum carvo. Devido s montanhas, 25 por cento da sua rea terrestre incultivavel e, na realidade, praticamente inabitvel. Apesar destes reveses, os Suos conseguiram alcanar um dos mais levados padres de vida da Europa no comeo do Sec. XX e, no ultimo quartel do sculo, o mais elevado do mundo. Como o conseguiram? A Suia, do mesmo modo que a Blgica, e numa escala ainda superior a Gr-Bretanha, dependia dos mercados internacionais. O sucesso dos suos nos mercados internacionais resultou duma combinao invulgar, se no nica, de tecnologia avanada com indstrias de mo-de-obra intensiva. No Sec. XVIII, a Suia tinha uma importante industria txtil a maior a seguir Inglaterra -, mas baseava-se em processos manuais e em trabalho a tempo parcial. Na ultima dcada do sec. XVIII, a indstria de fiao de algodo, em especial, foi praticamente eliminada pela concorrncia da indstria britnica, mais avanada. Aps altos e baixos durante e imediatamente a seguir ao perodo napolenico, a industria despertou, e at prosperou. Embora mais tradicional que a industria, a industria da seda acabou, na verdade, por dar uma maior contribuio ao crescimento econmico suo do sec XIX, em termos de emprego e de exportao, que a primeira. Tambm por um processo de modernizao tecnolgica. A Suia tinha indstrias de lacticnios e de linho muito pequenas, igualmente concentrada em produtos de qualidade, e fabricava algum vesturio, calado e outros produtos em pele. Em termos globais, era a segunda maior do mundo; embora atingisse apenas um quinto da produo alem, produzia tanto como o resto do mundo junto. Pode parecer incongruente associar os Pases Baixos aos pases escandinavos numa discusso sobre o padro de industrializao; na verdade, bastante lgico. As caractersticas comuns dos pases escandinavos que levam frequentemente a que sejam, nos debates, considerados conjuntamente so

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    culturais, no econmicas. Em termos de estruturas econmicas, os Pases Baixos tem mais em comum coma Dinamarca que qualquer deles com a Noruega e a Sucia. Com respeito s fontes, o facto mais significativo que aos quatro, como tambm Suia mas ao contrrio da Blgica, faltavam jazidas de carvo. Esta indubitavelmente a principal razo porque no estiveram entre os precursores da industrializao e por que no desenvolveram em sector industrial pesado aprecivel. Embora esses pases tenham entrado em fora no mercado mundial em meados do sec XIX, coma a exportao de matrias-primas e bens de consumo ligeiramente refinados, tinham todos desenvolvido industrias altamente sofisticadas no comeo do sec. XX. A isto se tem chamado industrializao contra a corrente; isto , um pas que em tempos exportava matrias-primas comea a process-las e a export-las sob a forma de bens semifabricados e acabados. O comrcio de madeira da Sucia e da Noruega um exemplo excelente. A indstria do ferro seguiu um padro semelhante. Embora o preo dom ferro sueco fundido a carvo vegetal no pudesse competir com o do fundido a coque ou com o ao de Bessemer, a sua superior qualidade tornou-o especialmente valioso para produtos como rolamentos de esferas na produo dos quais a Sucia se especializou ( e ainda especialista). Nas duas dcadas que procedem imediatamente a I Guerra Mundial, essas taxas decrescimento, j por si satisfatrias, aceleraram, especialmente nos pases escandinavos, elevando rapidamente os seus nveis de rendimento per capita para o nvel mais alto do Continente. Sem dvida que os motivos para esta acelerao so numerosos e complexos, mas trs se destacam de imediato:

    Em primeiro lugar, o perodo foi duma prosperidade geral, com preos em ascenso e viva procura. Em segundo lugar, ele foi, na Escandinvia, mercado por importaes de capital de larga escala (Pases Baixios, foram, por outro lado, neste perodo, exportadores de capital); mais se dir sobre isto no captulo 11. Por fim, o perodo coincidiu com a rpida expanso da indstria elctrica.

    A electricidade foi uma grande bno para as economias dos quatro pases. Em resumo, a experincia dos pases escandinavos, como a Suia, mostra que foi possvel desenvolver industrias sofisticas e um elevado padro de vida sem recursos internos de carvo ou indstrias pesadas e que no h um modelo nico para uma industrializao de sucesso. O Imprio AustroHngaro A Austro-Hungria, pu as terras denominadas dantes de 1918 pela Monarquia Habsburga, teve, no sec XIX, uma reputao de certa forma injustificada de atraso econmico. Os esforos recentes de vrios estudiosos competentes de diferentes nacionalidades possibilitaram a apresentao, com alguma confiana, dum relato mais equilibrado e delicado do progresso da industrializao nos domnios dos Habsbrurgos. Temos de comear por realar dois pontos:

    Primeiro, ainda mais que a Frana ou a Alemanha, o imprio Habsgurgo caracterizou-se pela diversidade e disparidade regionais, estando as provncias ocidentais (especialmente a Bomia, a Morvia e a prpria ustria) economicamente muito mais avanadas que as do Leste. Segundo, dentro das provncias ocidentais puderam observar-se alguns indcios de crescimento econmico moderno logo na segunda metade do sec XVIII.

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    Dois outros factores, a serem aprofundados posteriormente, merecem aqui uma breve meno:

    A topografia, que tornou os transportes e as comunicaes internas e internacionais difceis e dispendiosas e, A exiguidade e deficiente localizao dos recursos naturais, especialmente do carvo.

    As indstrias txteis, do ferro, do vidro e do papel cresceram na prpria ustria e nas terras Checas. A principal consequncia da abolio da servido em 1848 foi a de permitir aos camponeses a posse livre e sem encargos e a de substituir os impostos pagos ao Estado pelos que eram anteriormente pagos aos seus senhores feudais. A abolio em 1850, da fronteira aduaneira entre as metades austraca e hngara do Imprio (ou, mais positivamente, a criao duma unio aduaneira escala do Imprio naquele ano) foi vista por alguns como uma realizao progressiva e por outros como uma perpetuao do estatuto colonial da metade oriental. Outro obstculo institucional a um crescimento econmico mais rpido foi a politica comercial externa da Monarquia. Razo de peso tanto para o lento crescimento como para a desigual difuso da indstria moderna foram os nveis de educao e alfabetizao, componentes da maior importncia do capital humano. Embora os nveis de alfabetizao para a metade austraca do Imprio fossem sensivelmente iguais aos da Frana e da Blgica em meados do sec XIX, estavam muito desigualmente distribudos. Os transportes tiveram um papel crucial no desenvolvimento econmico do Imprio. Como muito do pas era montanhoso, ou rodeado por montanhas, o transporte terrestre era dispendioso, e o transporte martimo inexistente nas regies montanhosas. Ao contrrio dos primeiros pases a industrializarem-se, a Austro-Hungria tinha poucos canais. Na dcada de1860, mais de metade das mercadorias transportadas nos caminhos-de-ferro hngaros consistiu em cereais e farinha. O trfico de farinha permitiu, todavia, Hungria comear a industrializar-se. Na sua maior parte, a produo industrial hngara consistia em bens de consumo, especialmente produtos alimentares. Estes incluam, alm da farinha, acar refinado (a partir de beterraba), frutas em conserva, cerveja e bebidas alcolicas. Estas eram as respostas da Hungria nfase da ustria e da Bomia nos txteis. Em resumo, a Monarquia Habsburga, que em termos industriais tinha estado ao mesmo nvel ou mesmo frente dos desunidos Estados Alemes na primeira metade do sculo XIX, caiu para muito atrs do crescimento industrial do Imprio Alemo Unificado aps 1871. No entanto, a imagem no to desoladora como costumava pensar-se. Na metade ocidental (austraca) da Monarquia, a industria continuou a crescer, regular se no espectacularmente, ao passo que a metade oriental (hngara) disparou depois de aproximadamente 1867. No comeo do sculo XX, a parte ocidental encontrava-se sensivelmente no mesmo nvel de desenvolvimento da mdia da Europa Ocidental; a regio oriental, embora muito atrs da ocidental, estava, apesar de tudo, bem frente do resto da Europa Oriental. Europa Meridional e Oriental Os padres de industrializao dos restantes pases da Europa os pases mediterrneos, o sudeste da Europa e a Rssia Imperial podem ser analisados mais sumariamente. Uma caracterstica comum o insucesso em se industrializarem significativamente antes de 1914, com os consequentes baixos nveis de rendimentos per capita e uma elevada incidncia de pobreza. Uma razo para tal uma segunda caracterstica comum: nveis abissalmente baixos de capital humano.

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    Os pases mais atrasados partilhavam uma terceira caracterstica comum que teve um peso importante nas suas possibilidades de desenvolvimento econmico: a falta de qualquer reforma agrria significativa, com consequentes baixos nveis de produtividade agrcola. Pode mesmo, por fim, referir-se uma quarta caracterstica comum s naes atrasadas: todas sofreram, em diferentes graus, de governo autocrticos, autoritrios, corruptos e ineficientes. Pennsula Ibrica No sculo XIX, as histrias econmicas da Espanha e de Portugal so to semelhantes, que conveniente analis-las como se de uma se tratasse. Ambas emergiram das Guerras Napolenicas com sistemas econmicos primitivos, e mesmo arcaicos, e regimes polticos reaccionrios. A baixa produtividade agrcola permaneceu uma fraqueza estrutural de ambas as economias. Mesmo em 1910, o sector primrio, sobretudo a agricultura, empregava cerca de 60 por cento da fora de trabalho em Espanha, e pelo mesmo em Portugal. O aumento da populao de ambos os pases resultou no cultivo de mais cereais o meio de subsistncia em solos inferiores e em menos pastagem para o gado, provocando uma queda acrescida da produtividade. Itlia Antes de 1860, a sntese de Metternich da Itlia, uma expresso geogrfica, aplicava-se economia tanto quanto sua politica. O Congresso de Viena reimpos o desconcertante mosaico de principados nominalmente independentes, mas a maior parte, incluindo os Estados Papais e o reino das Duas Sicilias, estava sob o domnio ou influencia do Imprio Habsburg. Depois das prematuras revolues e tentativas de unificao das dcadas de 1820 e 1830 e de 1848-49 terem sido suprimidas pelos Habsburgos, um homem notvel destacou-se no reino na Sardenha. Foi o conde Camillo Benso de Cavour proprietrio fundirio e agricultor progressista que tambm patrocinara um caminho-de-ferro, um jornal e um banco e que, em 1850, se tornou ministro da Marinha, do Comercio e da Agricultura na recentemente criada monarquia constitucional do seu pequeno pas. No ano seguinte acumulou a pasta das Finanas, e em 1852 tornou-se primeiro-ministro. Uma parte da dvida pblica tinha sido contrada para saldar as mal-sucedidas guerras de 1848 e 1849, e ainda mais para preparar a agora triunfante guerra de 1859, em que o reino da Sardenha, com o auxlio militar e financeiro da Frana, derrotou o Imprio Austraco e preparou o caminho para o reino unificado da Itlia, em 1861. Sudeste da Europa Os cinco pequenos pases que ocupavam o extremo sudeste do continente Europeu Albnia, Bulgria, Grcia, Romnia e Srvia eram, com a possvel excepo de Portugal, os pases mais pobres da Europa a ocidente da Rssia. De acordo com o seu carcter agrrio, o comrcio externo de todos estes pases consistia na exportao de produtos agrcolas e na importao de produtos fabricados, principalmente bens de consumo. Em contraste com a lenta difuso de tecnologia agrcola e industrial, a tecnologia institucional de bancos e dvidas externas espalhou-se rapidamente. Em 1885, todos os ento quatro Estados dos Balcs tinham criado bancos centrais com poderes exclusivos de emisso de notas. Bancos comerciais e outras instituies financeiras desenvolveram-se rapidamente, mas com poucas ligaes s finanas industrial. Rssia Imperial

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    No princpio do sculo XX, o Imprio Russo era geralmente considerado como uma das grandes potencias. O seu territrio e populao, de longe maiores que os de qualquer outra nao europeia, faziam merecer aquele estatuto. Tambm em termos econmicos brutos a Rssia se destacava: em produo industrial total ocupava o quinto lugar mundial, depois dos estados Unidos, da Alemanha, da Gr-Bretanha e da Frana. Tinha grandes indstrias txteis, especialmente de algodo e linho, e tambm indstrias pesadas: carvo, ferro-gusa e ao. Era a segunda maior do mundo (depois dos Estados Unidos) em produo de petrleo, e durante alguns anos, no fim do sculo XIX, esteve em primeiro lugar. A Rssia continuava a ser uma nao predominantemente agrria, com mais de dois teros da sua mo-de-obra ligados agricultura e a produzir mais de metade do rendimento nacional. Na primeira metade do sculo XIX, especialmente a partir da dcada de 1830, a industrializao tornou-se mais visvel; calcula-se que o nmero de trabalhadores industriais tenha aumentado de menos de cem mil no princpio do sculo para mais de meio milho nas vsperas da Emancipao. A Guerra da Cimeira revelou singelamente o atraso da indstria e da agricultura russas e preparou, assim, indirectamente, o caminho para uma srie de reformas, a mais notvel das quais foi a emancipao dos servos em 1861. Os sinais da eficcia das novas politicas tornaram-se evidentes em meados da dcada de 1881 e no grande arranque da produo industrial na dcada de 1890, quando esta aumentou a uma taxa mdia superior a 8 por cento, mais at que as melhores taxas conseguidas por naes ocidentais. Japo Na primeira metade do sculo XIX, o Japo manteve a sua politica de excluso da influencia estrangeira, em especial a ocidental, mais eficazmente que qualquer outra nao oriental. Desde o comeo do sculo XVII, o governo dos Tokugawa tinha proibido o comrcio com o exterior (os Holandeses estavam autorizados a enviar um navio por ano para um posto de comercio que mantinham numa pequena ilha no porto de Nagasqui, a janela para o Ocidente do Japo) e tinha proibido os Japoneses de viajarem para o estrangeiro. O nvel tecnolgico era semelhante ao da Europa do princpio do sculo XVII. Apesar destas limitaes, a organizao da economia era surpreendentemente sofisticada, com mercados activos e um sistema de crdito. O nvel de alfabetizao era substancialmente mais elevado que o dos pases da Europa Meridional e do Leste. A fraqueza do xogunato dos Tokugawa face s usurpaes ocidentais deu origem a motins nacionalistas e a um movimento para repor o Imperador, que durante sculos tinha apenas desempenhado funes cerimoniais, numa posio central da governao. Este movimento, conduzido por ambiciosos jovens samurai (membros da antiga classe guerreira), foi contingentemente apoiado, em 1867, pela subida ao trono dum jovem imperador vigoroso e inteligente, Mutsu-hito; no ano seguinte, o partido do Imperador forou o Xgum a abdicar e levou o Imperador para Tquio, a capital de facto. Este acontecimento, que marcou o nascimento do Japo Moderno, chamado Restaurao Meiji (Meiji significa governo iluminado e foi escolhido por Mutsu-hito para designar o seu reinado). A Era Meiji durou desde 1868 at morte de Mutsu-hito, em 1912. Imediatamente depois de conquistar o poder, o novo Governo mudou o tom do movimento nacionalista. Em vez de tentar expulsar os estrangeiros, o Japo cooperou com eles mas mantendo-os a uma meiga distancia. O antigo sistema feudal foi abolido e substitudo por uma administrao formalista altamente centralizada, moldada no sistema francs, por um exrcito de tipo prussiano e por uma marinha inglesa. O Japo tinha poucos recursos naturais. Mais pequeno que o estado da Califrnia, o territrio da ilha tambm bastante montanhoso, pelo que a proporo de terra arvel era tambm menor que a da

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    Califrnia. O arroz era a cultura principal e tambm o alimento principal, complementado com peixe e marisco das ricas guas costeira.

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    11-O crescimento da economia mundial Embora o comercio a longa distancia tenha existido desde pelo menos os primrdios da civilizao, a sua importncia cresceram rpida e enormemente no sculo XIX. Para o mundo no seu todo, o volume de comrcio externo per capita em 1913 foi mais de 25 vezes superior ao de 1800. Ao longo do sculo, a Europa foi responsvel por 60 por cento ou mais (tanto quanto dois teros) do total das importaes e das exportaes. O perodo de crescimento mais rpido ocorreu entre o principio da dcada de 1840 e1873, quando o comercio total aumentou anualmente mais de 6 por cento 5 vezes mais rapidamente que o crescimento populacional e 3 vezes mais que o aumento da produo. A Gr-Bretanha opta pelo comrcio livre O bloqueio britnico e o Sistema Continental representaram formas extremas de coliso com o comrcio internacional. A defesa de Adam Smilth do comrcio internacional livre proveio da sua anlise dos ganhos da especializao e diviso do trabalho quer entre as naes quer entre os indivduos. David Ricardo, no seu princpio de Economia Politica (1819), sups (incorrectamente) que Portugal tinha uma vantagem absoluta na produo de tecidos e de vinho, quando comparado com a Inglaterra, mas que o custo relativo de produzir vinho era inferior, nessas circunstncias, demonstrou que Portugal teria toda a vantagem em especializar-se na produo de vinhos e em comprar os tecidos Inglaterra. Este era o princpio da vantagem comparativa, a base da teoria do moderno comrcio internacional. Robert Peel, filho de um abastado industrial txtil, que, enquanto o0 ministro do Interior, reduziu o numero de crimes capitais de mais de 200 para cerca de 100, (tambm criou o corpo de Policia Metropolitana, o primeiro do gnero, cujos membros eram chamados de bobbies ou peeler, a principio por irriso, mais tarde carinhosamente). Outro dos chamados tories liberais foi William Huskisson, que, como presidente da Comisso de Comercio, simplificou em muito e reduziu o labirinto de restries e impostos que impediam o desenvolvimento do comrcio internacional. O pilar e smbolo do sistema proteccionista do reino Unido (que incluiu a Irlanda a partir de 1801) foram as chamadas Corn Laws, impostos sobre a importao de cereais panificveis. Aps anteriores tentativas mal-sucedidas para as revogar ou modificar, Richard Cobden, um industrial de Manchster, formou, em 1893, a Liga contra as Corn Laws e montou uma forte e eficaz campanha para influenciar a opinio pblica. Anteriormente, As Corn Laws e o proteccionismo em geral no tinham sido questes partidrias, pois os proprietrios de terras formavam a maioria de ambos os partidos, Whig e Tory. Os Whigs, depois conhecidos como Liberais, tornaram-se o partido do comrcio livre e das indstrias, ao passo que os Tories, tambm conhecidos por Conservadores continuaram a ser o partido dos proprietrios de terras e, porventura, do imperialismo. A era do comrcio livre O grande desenvolvimento que se seguiu no movimento par o comercio livre foi um notvel tratado de comrcio, o Tratado de Cobden-Chevalier, ou Tratado Anglo-Frances de 1860. Um tratado negociado por Cobden e Chevalier em finais de 1859 foi assinado em Janeiro de 1860. O tratado especificava que a Gr-Bretanha eliminaria todas as tarifas sobre importaes de produtos franceses, com excepo de vinho e da aguardente. Estes eram considerados artigos de luxo para os consumidores britnicos, por isso a Gr-Bretanha manteve uma pequena tarifa, apenas para efeitos de receita. Alm disso, devido aos antigos laos econmicos da Gr-Bretanha com Portugal, que tambm produzia vinho, a Gr-Bretanha foi cautelosa ao proteger o privilgio portugus no mercado britnico.

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    Por seu lado, a Frana retirou as suas proibies importao de txteis britnicos e reduziu as tarifas sobre uma grande variedade de produtos britnicos at um mximo de 30 por cento; de facto, a tarifa mdia era de cerca de 15 por cento ad valorem. Os franceses desistiram, assim, do proteccionismo extremo a favor de um proteccionismo moderado. Caracterstica importante do tratado foi a incluso duma clusula de nao mais favorecida. Isto significava que se uma parte negociasse um tratado com um terceiro pais, a outra parte do tratado beneficiaria automaticamente de quaisquer tarifas mais baixas concedidas ao terceiro pais. Outra consequncia dos tratados, nomeadamente em Frana mas tambm em vrios outros pases, foi uma reorganizao da indstria, imposta pela maior concorrncia; empresas ineficientes que tinham sido protegidas por tarifas e proibies tiveram de se modernizar e melhorar a sua tecnologia, ou fechavam as portas. Assim, os tratados promoveram a eficincia tcnica e aumentaram a produtividade. A Grande Depresso e o regresso ao proteccionismo Outra consequncia da integrao da economia internacional trazida por um comrcio mais livre foi a sincronizao dos movimentos de preos ao longo das fronteiras nacionais. Na economia pr-industrial, as flutuaes abruptas de preos eram geralmente locais ou regionais, provocadas por causas naturais (secas, cheias, etc.) que afectavam as culturas. Com a industrializao e o comrcio internacional a crescerem, as flutuaes estavam mais frequentemente relacionadas com o estado do comrcio (flutuaes na procura), tornaram-se cclicas na sua natureza e transmitiram-se de pais para pais atravs dos canais comerciais. A natureza cclica dos movimentos tornou-se mais pronunciada medida que o sculo avanava. Em 1873, aps uma subida que se manteve durante vrios anos, ocorreram pnicos financeiros em Viena e em Nova Iorque que rapidamente se espalharam para a maior parte das outras naes industriais (ou em vias de industrializao). A queda subsequente dos preos durou at meados ou finais da dcada de 1890 e ficou conhecida na Gr-bretanha (at catstrofe ainda maior da dcada de 1930) como a Grande Depresso. Os Junkers da Prssia Oriental, com as suas enormes propriedades, h muito que se dedicavam exportao de cereais atravs do Bltico para a Europa Ocidental, incluindo a Alemanha Ocidental. Os aristocratas junker tinham favorecido tradicionalmente o comrcio livre porque eram exportadores. Quando comearam a sentir-se prejudicados com a queda dos preos dos cereais, em resultado de grandes importaes da Amrica e da Rssia, exigiram proteco. Otto von Bismarck, criador e chanceler do novo Imprio Alemo, anteriormente chanceler da Prssia, um poltico astuto e ele prprio um latifundirio da Prssia Oriental, viu a sua oportunidade. Os industriais da Alemanha Ocidental h muito que chamavam por proteco; agora que os Junkers da Prssia Oriental tambm o exigiam, Bismarck acedeu s suas exigncias, condenou os tratados de comrcio do Zollverein com a Frana e com outras naes e, em 1879, deu a sua aprovao a uma nova lei tarifria que introduziuo proteccionismo na indstria e na agricultura. Este foi o primeiro passo importante para o regresso ao proteccionismo. Depois das eleies de 1889, uma maioria proteccionista regressou Cmara dos Deputados, e foi aprovada a infame tarifa Meline de 1892. A tarifa tem sido caracterizada como extremamente proteccionista, mas um termo mais correcto seria proteccionismo refinado. Embora garantisse proteco a alguns sectores da agricultura e mantivesse a proteco industrial da tarifa de 1881, tambm continha vrias caractersticas defendidas pelos adeptos do comrcio livre.

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    O padro-ouro internacional De acordo com alguns peritos, o elevado grau de integrao alcanado na economia mundial no final do sculo XIX dependeu decisivamente da adeso geral ao padro-ouro internacional. De acordo com outros, essa integrao dependeu em primeiro lugar do papel central da Gr-Bretanha e de Londres, do seu capital financeiro e poltico, na economia mundial. Como a Gr-Bretanha aderiu ao padro-ouro durante a maior parte do sculo (embora poucos outros pases o tenham feito), necessrio escrutar o padro-ouro com algum pormenor. Ao longo da Histria, vrios bens (por exemplo, terra, gado e trigo) serviram como padres monetrios, mas o ouro e a prata foram sempre os padres mais destacados. A funo dum padro monetrio a de definir a unidade de valor dum sistema monetrio, a unidade na qual todas as outras formas de dinheiro so convertveis. De acordo com os termos da lei parlamentar que criou o padro-ouro, houve que observar trs condies:

    (1) A Real Casa da Moeda foi obrigada a comprar e vender quantidades ilimitadas de ouro a um preo fixo;

    (2) o Banco de Inglaterra e, por extenso, todos os outros bancos ficou obrigado, sob solicitao, a resgatar por ouro as suas obrigaes monetrias (notas bancrias, depsitos);

    (3) no se podiam impor quaisquer restries importao ou exportao de ouro. Migrao e investimento internacionais Alm do movimento mais livre de mercadorias simbolizado pelo era do comrcio livre, tambm se verificou no sculo XIX um grande aumento no movimento internacional de pessoas e capitais, os factores de produo alm da terra. Ocorreu alguma migrao internacional dentro da Europa, mas o movimento mais significativo envolveu a migrao ultramarina. Globalmente esta vasta migrao teve efeitos benficos; aliviou as presses populacionais nos pases fornecedores de emigrantes, assim diminuindo a tendncia de descida dos salrios reais; e proporcionou aos pases de muitos recursos mas escassa mo-de-obra uma oferta de trabalhadores motivados por salrios mais altos que os que conseguiriam auferir nos seus pases de origem. Por fim, atravs de laos humanos e culturais, bem como econmicos, promoveu a integrao da economia internacional. O renascer do imperialismo ocidental Os vastos continentes da sia e da frica participaram apenas residualmente na expanso comercial do sculo XIX at a isso serem forados pelo poderio militar do Ocidente. Embora regies da sia, nomeadamente a ndia e a Indonsia, tivessem estado sujeitas influncia e conquista europeias desde o princpio do sculo XVI, grande parte do Continente continuava isolada. O vasto e antigo imprio da China, bem como o Japo, a Coreia e os principados do Sudeste Asitico, tentaram manter-se afastados da civilizao ocidental, que consideravam inferior sua prpria. Recusaram-se a aceitar representantes diplomticos ocidentais, expulsaram ou perseguiram missionrios cristos e permitiram apenas algum comrcio com o Ocidente. A maior parte da frica, localizada entre os trpicos, tinha um clima opressivo para os Europeus e uma srie de doenas desconhecidas e frequentemente letais. No princpio, tanto as colnias beres como as britnicas eram essencialmente agrrias, mas, em 1867, a descoberta de diamantes levou a uma grande invaso de caadores de tesouros provenientes de todo o mundo. Em 1886 descobriu-se ouro no Transval. Estes factos alteraram completamente a base econmica das colnias e intensificaram rivalidades polticas. Tambm ajudaram subida ao poder de uma das personalidades mais influentes da Historia Africana, Cecil Rhodes (1853-1902).

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