HISTÓRIA ATUAL - PÁGINAS 8, 9 e 10 Artigos analisam ...

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Ano XV ed. 68 [abril de 2021] Informativo da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Assis HISTÓRIA ATUAL - PÁGINAS 8, 9 e 10 E mais: Na seção “Debate”, artigo questiona uso político das fake news; PROGRAD lança edital emergencial para ceder, por empréstimo, equipamentos eletrônicos a alunos de baixa renda; Projeto Sabão Sustentável e Incubadora de Cooperativas Populares se reúnem para discutir o tema da Sustentabilidade; Docente da FCL ministra Aula Magna a alunos do ProfLetras da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; Conselho Universitário aprova programa voltado à Saúde Mental da comunidade unespiana; Minicurso do curso de Psicologia apresenta informações sobre Transtorno do Espectro Autista, TDAH e Deficiências Intelectuais; Em entrevista, especialista alerta que Brasil pode se tornar um celeiro de novas variantes do Coronavírus; Alunos comentam suas experiências na disciplina de História Ambiental e Educação Ambiental; Feira do Livro da UNESP conta com a fala do historiador inglês Peter Burke; Seção cultural destaca literatura de Monteiro Lobato, análise de Antígona, de Sófocles e contribuição poética de aluno do curso de Psicologia. Artigos analisam impactos da COVID-19 em diversos setores da sociedade brasileira

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Ano XV ed. 68 [abril de 2021]Informativo da Faculdade de Ciências e Letras da Unesp de Assis

HISTÓRIA ATUAL - PÁGINAS 8, 9 e 10

E mais: Na seção “Debate”, artigo questiona uso político das fake news; PROGRAD lança edital emergencial para ceder, por empréstimo, equipamentos eletrônicos a alunos de baixa renda; Projeto Sabão Sustentável e Incubadora de Cooperativas Populares se reúnem para

discutir o tema da Sustentabilidade; Docente da FCL ministra Aula Magna a alunos do ProfLetras da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte; Conselho Universitário aprova programa voltado à Saúde Mental da comunidade unespiana; Minicurso do curso de Psicologia

apresenta informações sobre Transtorno do Espectro Autista, TDAH e Deficiências Intelectuais; Em entrevista, especialista alerta que Brasil pode se tornar um celeiro de novas variantes do Coronavírus; Alunos comentam suas experiências na disciplina de História Ambiental e

Educação Ambiental; Feira do Livro da UNESP conta com a fala do historiador inglês Peter Burke; Seção cultural destaca literatura de Monteiro Lobato, análise de Antígona, de Sófocles e contribuição poética de aluno do curso de Psicologia.

Artigos analisam impactos da COVID-19 em diversos setores

da sociedade brasileira

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Jornal Nosso CâmpusFicha Técnica

Reitor: Pasqual Barretti

Vice-reitora: Maysa Furlan

Diretor da FCL - Assis: Darío Abel Palmieri

Vice-Diretor da FCL - Assis: Francisco Cláudio Alves Marques

Editoração, Revisão e Coordenação: Cláudia Valéria Penavel Binato

Textos e Fotos: Equipe JNC

Diagramação: Mayara Crispim Marino

Colaboração Técnica: STAEPE

Esta é uma publicação da Faculdade de Ciências e Letras de Assis, Núcleo

Integrado de Comunicação. Comentários, dúvidas ou

sugestões, entre em contato pelo e-mail: [email protected].

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EDITORIAL

Passado atual: a permanência da Covid-19 na dinâmica social

O surgimento da pandemia de Covid-19 tem trazido impactos sociais desde o fim de 2019. A sociedade tem sido configurada de outro modo, visto o isolamento implantado e a falta de contato interpessoal. A vida pre-cisou ser adequada à modalidade remota e isso tem dificultado o trabalho daqueles que eram autônomos e precisavam de meios físi-cos para atuarem. Entre eles, estão inseridos os artistas. Quando se viram limitados ao am-biente doméstico, parte dos artistas procurou o meio virtual para atuar. “Da caixa preta para as telas: A reinvenção dos artistas na pande-mia de Covid-19" trata dessa mudança no tra-balho artístico.

Não só o meio artístico precisou se rein-ventar, mas toda a sociedade brasileira in-serida nos diferentes setores. O trabalho e a vida, como um todo, não são mais o que eram antes. As dinâmicas sociais tem sido altera-das constantemente. Isso porque maior par-te das atividades presenciais são realizadas à distância. Ainda assim, é importante con-siderar que, em determinados contextos, o presencial volta a ser adotado. São situações particulares que precisam ser analisadas

DEBATE

Liames do passado e presente na operação da mídia e seus usos políticos

Em 20 de janeiro de 2021, vimos o fim de um ciclo da política nacional-popu-lista de direita azeitada pelo, desde en-tão, ex-presidente Donald J. Trump. Sem dúvida, um fato a trazer certo alívio aos defensores da democracia, quer estadu-nidenses quer no mundo. Entre outras mazelas derivadas de sua política inter-na e externa, o Governo Trump se no-tabilizou como um dínamo na produção e difusão, via redes sociais virtuais, das chamadas fake news - ou “fatos alter-nativos”, segundo preferência manifes-tada por assessora daquele governo em seu início. Notícias e dados falsos, men-tirosos e manipulados difundidos pelo Governo Trump sob a ótica de culturas políticas nutridas em odioso revisionis-mo e torpe negacionismo, vazados em termos de patriotadas, xenofobia, fun-damentalismo cristão, machismo, posi-ções antiecológicas e contrárias ao mul-tilateralismo. Aliás, expediente que já tinha sido empregado por Trump quan-do da sua campanha eleitoral, cuja con-secução contou com estratégias do uso e da manipulação de logaritmos, o que

em muito possibilitou a ele ascender à Casa Branca. Dinâmica comunicacional a ser repetida por políticos em vários países com iguais naipes político-ideo-lógicos ao de Trump, quer em processos eleitorais quer em suas presidências nacionais, como é o caso do atual presi-dente do Brasil.

Assim, a oposição de políticos anti-democratas e reacionários ao fazer da televisão, rádio, jornais e revistas avan-çava em forma e substância, sob o clima de forte polarização política. Como em tempos de guerra, a primeira vítima foi a verdade. Mas o ineditismo histórico da campanha e do governo de Trump, assim como seus congêneres, não se encontra na oposição ferrenha de governantes à mídia – pelo menos contra aquela que busca atuar com relativa autonomia aos interesses do mando político. A histó-ria contemporânea mundial é prenhe de fatos/acontecimentos e processos de tal ordem, quer mediante ofensivas governamentais direta – quando da ins-talação de regimes totalitários ou dita-tórias – quer indiretamente – por meio

de jogos escusos a driblar, assim como escarnear, regramentos políticos demo-cráticos.

O inédito se encontra no fato de que os governantes e políticos na atual e mal-intencionada luta contra a impren-sa autônoma não precisam se valerem de mídias congêneres operadas por ve-ículos jornalísticos (jornal, revista, rádio e TV), dadas as potencialidades de co-municação direta abertas pelas redes sociais virtuais. Essas a servirem de perfeita correia de transmissão às fake news e interpretações mais que envie-sadas que são lançadas diuturnamente por diversos e plurais agentes sociais, individuais ou coletivos, aderidos a go-vernos nacionais-populistas de direita emergidos ultimamente.

Agentes sociais a agirem, por vezes, de forma anônima, mas, sempre, inte-ressados na defesa do status quo. De-fesa reacionária, e por vezes violenta, a ser empreendia por conta de ressen-timentos políticos ou socio-classistas às políticas e governos favoráveis à ampliação e consolidação dos Direitos

como, por exemplo, o retorno presencial das escolas - contraditório em um momento de ascendência de contaminados.

Ademais, atenta-se que a vida, quando não colocada em primeiro lugar, leva à morte, o que é notado no contexto brasileiro hodier-no, bem como na Índia. Considerar a econo-mia e as escolhas descabidas em primeiro plano dificulta o alcance de estabilidade que, primeiramente, precisa ser social. No século XXI, o momento pandêmico tem aumentado a individualidade. As pessoas, embora não todas, perderam os contatos diários, assim como tiveram o grupo de apoio reduzido. Em consequência, percebe-se o olhar para si em ascendência, no qual o coletivo e o trabalho em equipe não têm sido priorizados ou pos-sibilitados de serem continuados.

Ainda, com um número exacerbado de contaminados, “o Brasil é um imenso hos-pital”, ponto discutido em dois textos desta edição - produzidos por alunos da FCL/Assis vinculados ao curso de História. Como é abor-dado, o que se vive no Brasil é a consequên-cia da má gestão do governo federal. Pedro Velasco, Rafael Esteves e Roberto Pontes defendem esse apontamento de que a falta de atuação coerente do governo implicou no

aumento da curva de infecção: “Inicialmen-te este negou o potencial de mortalidade do vírus, depois negou, mais uma vez, que o lo-ckdown seria uma solução e que todos deve-riam continuar trabalhando e circulando.”

Assim, percebe-se que as desmedidas governamentais levam a prejuízos de di-ferentes proporções. Mas o mais visível e temido é a morte. Esta permeia o cotidiano brasileiro e ganha força, destruindo carrei-ras, lares e a dinâmica social. O país perde ao não ter tomado decisões parcimônias no início da pandemia. Dividir a sociedade agora entre “sãos e doentes” tem levado à desigualdade, bem como escancaramento desta, ainda mais quando se procura es-conder e desconsiderar grupos menos fa-vorecidos como os moradores de rua. Para entender o presente, o passado precisa ser considerado. No entanto, o momento pandêmico - não vencido – configura-se um passado atual ao serem observados os ocorridos de 2019 e, principalmente, de 2020. Na atualidade, felizmente o campo científico está voltado para o enfrentamen-to da pandemia e as Ciências Humanas es-tão alinhadas ao estudo do momento, no interesse de compreender o social.

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NOTÍCIA

Unesp seleciona alunos para receber notebooks para aulas remotasPROGRAD lança edital de inclusão digital para comunidade em situação de vulnerabilidade socioeconômica

Áureo Busetto é docente do Departamento de História da FCL

(UNESP/Assis)

Humanos; esses, no caso do Brasil, abri-gados em dispositivos da Constituição Cidadã, promulgada de 1988. Porém, centenas de milhares de incautos e in-cultos frequentadores dos ambientes virtuais acabam por se constituírem em redes capilares para a disseminação de inverdades, meias verdades, interpreta-ções descabidas, irreais, odiosas, discri-minatórias e preconceituosas. É preciso notar que estes, entretanto, são, de uma forma ou de outra, dotados de culturas políticas que os levam à adesão ou di-fusão de maniqueísmos simplistas e desfibrados de conhecimento científico e histórico. Situação a revelar, ademais, os limites e as qualidades da formação escolar da população em geral, em vá-rias partes do mundo e, sobremaneira, no Brasil; inclusive na demora a aplicar metodologias de ensino que enfoque o mundo da mídia virtual, tanto para o amplo conhecimento e uso dela quan-to para a criticidade e reflexões sobre o seu funcionamento.

De qualquer forma, parte do contin-gente de usuários das redes sociais tem servido, concomitantemente, à preten-sa legitimidade popular de governantes nacional-populistas de direita e à des-legitimação por grupos da direita ex-tremada ao operar e fazer das mídias tradicionais (imprensa, rádio e TV). Go-vernantes que não pensam em termos de democratização da mídia. Antes, im-pingi-la subserviência aos seus ditames governamentais ou a favorecer donos e concessionários de veículos de comu-nicação mais do que dispostos a aten-der aos reclames personalistas e auto-ritários daqueles governantes. Embora dentro da situação pandêmica mundial pareça crescer o número de usuários das redes sociais desconfiados e aler-tas com fake news e assertivas negacio-nistas. Isto a ocorrer por conta de conse-quências nocivas derivadas de posições e medidas descabidas tomadas por go-vernantes nacional-populistas de direi-ta em relação à proliferação do Covid-19; com destaque ao atual governo brasilei-ro em tal frente, para infelicidade e bai-xas altíssimas da população brasileira. A objetividade dos fatos parece ter uma oportunidade de voltar a iluminar à es-curidão de uma série de absurdos que, desvelados ao longo dos séculos, pare-cem redivivos no presente imediato.

É certo, também, que a expansão da internet e a proliferação das redes so-ciais virtuais tem permitido ampliar es-paços que, além se prestarem muito bem à disseminação do conhecimento e a profícuos debates, potencializaram meios de comunicação social à divul-gação da pluralidade de vozes conso-nantes a culturas políticas identificadas com a defesa da ampliação e consoli-dação da democracia e dos Direitos Hu-

manos, da adoção da uma economia sustentável e de proteção ambiental, da supressão de níveis alarmantes da de-sigualdade social, do vicejar e da manu-tenção de uma vida social inclusiva, com dinâmicas sociais livres de preconcei-tos e discriminações de gênero, raça e credo, do multilateralismo nas relações entre as nações e a harmonia dos po-vos. Fenômeno que não pode ser mino-rado, uma vez que na história contem-porânea não foram poucas as causas e a pluralidade de vozes, fossem individu-ais fossem coletivas, a serem preteridas pela chamada grande e comercial mídia. Ocorrência apesar de essa apregoar e se dizer pautada pela objetividade e im-parcialidade no transmitir a informação. Ideário a deitar raízes no início da cha-mada imprensa-empresa nos EUA que, desde a passagem do século XIX ao XX, comercializa a notícia como mercadoria.

Quer por força de lei ou de costumes quer por dinâmicas necessárias a pro-var o sua autoproclamada imparcialida-de e objetividade, com vistas à buscada credibilidade de seus serviços de noti-ciar, órgãos da grande mídia comercial souberam contornar, dosar e manipular, por meio de maneirismo e técnicas pró-prias ao editar, a concessão de espaços em suas páginas, ondas radiofônicas e nas suas telinhas de tevê a assuntos, temas, ideias e projetos segundo con-vergência ou divergência aos interesses dos seus proprietários (jornal e revista) ou concessionários (rádio e TV), além de seus aliados entre setores sociopo-líticos dominantes. Por fim, tal “arte” e/ou técnica pouco percebida pela popu-lação menos instruída levou à noção de que um fato/acontecimento somente existiria se focalizado pela mídia. Essa, por sua vez, soube muito bem explorar a seu favor tal falsa percepção popular, sobremaneira a televisão, escudada no poder do audiovisual e do “ao vivo”.

Não por acaso partidos, causas, movi-mentos, organismos não governamen-tais na luta contra o status quo, segundo acepções desse em cada período, tive-ram que lançar mãos, ao longo da histó-ria contemporânea e quando possível, da publicação de periódicos próprios, entretanto, comumente enfrentando obstáculos à manutenção consistente e distribuição abrangente deles. Cami-nho bem mais difícil quando se tratou da consecução de difundir ideias, pro-jetos e ações de igual teor pelas ondas do rádio - quando possível limitando-se a rádios comunitárias ou piratas - e im-possível com relação à TV. Afinal, a ope-ração dessas duas mídias sempre foram controladas pelo Estado, no entanto, controle diferenciado de país para país em virtude da efetivação de regramen-tos legais ou do monitoramento de go-vernos mais ou menos afinados a pre-

ceitos democráticos, notadamente ao direito de acesso à informação e o da liberdade de expressão.

A internet, em geral, e as redes sociais, em particular, diminuíram potencialmen-te – quer para o bem quer, infelizmente, para o mal - tal sorte de obstáculos. O que impôs certos limites ao outrora po-der de proprietários e dirigentes das mí-dias convencionais. Contudo, após a pri-meira década de expansão da internet, as expectativas positivas de que a hu-manidade tivesse alcançado um meio li-vre e democrático à comunicação social se arrefeceriam, uma vez que dados e informações vinham à tona revelando que a internet se encontrava, também, à mercê de interesses comerciais de gran-des corporações e de setores sociopolí-ticos dominantes. Segredos e usos dos algoritmos iam se tornando conhecidos da população em geral.

Configuração comunicacional que, de um lado, exige cautela e combate aos que apostam na defesa e consolidação dos Direitos Humanos, de outo, permi-te, sem dúvida, a consecução ampla do adágio recentemente cunhado: “Seja a mídia”. Alternativa que, de preferên-cia, deva ser adotada por todos os que ainda prezam pela construção da ver-dade mediante expedientes dialógicos, pautados tanto na civilidade quanto no conhecimento científico-acadêmico e colaborativo, porém, sempre à luz do respeito sincero à diversidade da vida, quer a humana quer a todas as demais.

A Pró-Reitoria de Graduação (PRO-GRAD) da Universidade Estadual Pau-lista “Júlio de Mesquita Filho” tornou público Edital n° 03/2021 – PROGRAD – Inclusão digital, referente ao emprés-timo de equipamento de informática em caráter emergencial.

O edital é destinado aos estudantes regularmente matriculados nos cursos de graduação da UNESP, em no mínimo três disciplinas obrigatórias, em situa-ção de vulnerabilidade socioeconômica

Mateus Abreu e classificados no processo seletivo de auxílio permanência estudantil 2021.

Serão selecionados 1.000 (um mil) discentes regularmente matriculados em cursos de graduação e vulnerabili-dade socioeconômica comprovada pela análise da COPE/UNESP, que receberão, mediante empréstimo, notebook para o desenvolvimento de suas atividades acadêmicas.

Além dos requisitos já descritos, é ne-cessário estar há seis meses ou mais da conclusão do curso; possuir e-mail ins-titucional (@unesp.br); realizar cadastro e preencher o formulário de inscrição

via Sistema de Inclusão Digital da PRO-GRAD.

As inscrições vão até o dia 24/05/2021, exclusivamente pelo Sistema de Inclu-são Digital. O candidato deve efetuar o cadastro acessando a opção “Cadastro do SisID”, informando o número do RA e criando uma senha. O critério de avalia-ção será condicionado pelos critérios de vulnerabilidade adotados no Processo Seletivo de Auxílios e Permanência de 2021.

Clique aqui para acessar o edital com as informações sobre empréstimo e de-vida manutenção dos notebooks.

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EVENTO

Sabão Sustentável e Incop promovem encontro para discutir a Sustentabilidade

No dia 23 de março de 2021, o Projeto Sabão Sustentável e a Incubadora de Coo-perativas Populares UNESP/Assis promo-veram um encontro através da plataforma Google Meet para discutir a temática “É pos-sível pensar uma vida mais sustentável?”. A proposta do evento pautou-se em uma conversa sobre o assunto, a partir de suas especificidades.

O Projeto de Extensão Sabão Sustentá-vel foi idealizado no ano de 2015 por alu-nos da UNESP de Assis, mas não teve se-quência. Todavia, no ano de 2019 surgiu a oportunidade de retomá-lo, como informou Bruna Vissoso, estudante do curso de Bio-logia e integrante da equipe. O projeto é re-alizado pela sociedade com a participação e orientação da Universidade. O propósito é produzir e compartilhar conhecimentos de cunho ambiental. A matéria prima principal é o óleo de cozinha. Em muitas famílias, o óleo utilizado para o preparo de alimentos é descartado de maneira incorreta, conta-minando mananciais, impactando o meio ambiente de forma negativa e ocasionando desequilíbrio ambiental e diversas doenças. Vissoso relata que um litro de óleo descar-tado de maneira incorreta pode contaminar cerca de 20 mil litros de água.

Por essa razão, os empreendedores do Projeto Sabão, pensando em uma alternati-va sustentável e viável, procuram desenvol-ver, através da reutilização do óleo usado, produtos de higiene ambiental. Seu intento principal é proteger a natureza, além de ofe-recer um produto mais barato, e enriquecido com extratos de plantas do bioma Cerrado; visam também, é claro, produzir pesquisas, conhecimento e tecnologia para aproveita-mento correto e conservação desse bioma. É, sem dúvida, uma boa contribuição para a sustentabilidade ambiental, para o conheci-mento da biodiversidade do Cerrado, para a proteção da saúde e promoção social da comunidade participativa, como mostra um vídeo exibido durante o encontro.

O Projeto mantém parceria com a Asso-ciação Filantrópica Alvorada (AFA), a lavan-deria comunitária, ensinando, dessa forma, os prestadores de serviço a produzirem seu próprio sabão com óleo de cozinha, para seu uso, além de colocá-lo à venda como uma maneira de complementar sua renda. O sa-bão pode ser encontrado na forma líquida, em pó e em barra. Enquanto perdura a pan-demia, o trabalho está interrompido, mas a

Vitória de Oliveira comunidade continua colaborando ao des-tinar o óleo para o Projeto. Visosso afirma que, principalmente durante esse período, a prática de guardar o óleo para ser reutili-zado é mantida. O sabão produzido é arma-zenado em caixas de leite acompanhadas de um rotulo desenvolvido pelo Projeto. Uti-lizam-se também garrafas pet, tipo leitosa,

EVENTO

Docente da FCL ministra Aula Magna para a 7º turma do ProfLetras/UERN

No primeiro dia de abril, a professo-ra doutora Luciane de Paula ministrou a Aula Magna que marca o início da 7ª tur-ma do Programa de Mestrado Profissio-nal ProfLetras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Apesar da data ser conhecida como “Dia da Men-tira”, a aula inaugural contou com profun-das verdades e pautas atuais.

Sob o título "Linguagens na Educação", muitos temas preencheram a aula, desde assuntos teóricos até profundos questio-namentos sobre a atualidade. Durante a pandemia e o período do distanciamento social, muitas mudanças relacionadas à educação foram implantadas. A professo-ra argumentou com conceitos teóricos e questionou por que a educação atual não inclui suas mais recentes atualizações. Ela também expôs o quanto isso pode in-fluenciar no interesse do estudante.

As esferas política e educacional de-vem empenhar-se conjuntamente para que o ambiente da sala de aula seja me-lhor. Não há uma fórmula para ser profes-sor como há uma Receita de bolo. Nesse sentido, o que se indica é enxergar a es-cola como um ambiente formador de in-

Lais Naomi Hara

SOBRE A INCOP

A Incubadora de Cooperativas Populares UNESP/Assis é um projeto de ex-tensão universitária e núcleo de estágio profissionalizante do Curso de Psi-cologia fundado no ano de 2006, a partir de um Projeto de Assessoria à For-mação e ao Desenvolvimento de Cooperativas e aos Grupos Populares, que trabalhava para a organização de catadores em Assis, na perspectiva da Eco-nomia Solidária e do Cooperativismo Popular. Um ano após sua fundação, em 2007, foi formalizada a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis, em convênio com a própria Prefeitura de Assis para triagem do lixo na esteira. Com o tempo, adotou-se a Coleta Seletiva Solidária, em 100% dos domicílios.

O Projeto desenvolvido naquele momento, serviu de incentivo a municípios vizinhos como: Palmital, Maracaí, Quatá, Candido Mota, Paraguaçu Paulista e Rancharia) que solicitaram ajuda na questão referente à assessoria, aos cata-dores, na em sua organização para o trabalho coletivo, e também aos gesto-res, que pretendiam implementar políticas públicas de inclusão de catadores, através da coleta seletiva.

Então, no ano de 2005, por indicação de algumas incubadoras tecnológi-cas de Cooperativas Populares já existentes na UFSCar, USP e UNICAMP, que reconheciam que o trabalho desempenhado era próprio de uma incubadora, surge, em 2006, a Incop de Assis. Segundo a página oficial do Facebook da Incop, a equipe é formada por estudantes de graduação, pós-graduação, ser-vidores e docentes. Seu propósito é assessorar trabalhadores de empreendi-mentos econômicos solidários e outras iniciativas para a geração de trabalho e renda, partindo dos princípios e valores da economia solidária e educação popular.

O benefício propiciado pela Incop à sociedade consiste em assessorar apro-ximadamente 250 trabalhadores de oito empreendimentos econômicos de Assis e região, cinco cooperativas/ associações Catadores de Materiais reci-cláveis (COOCASSIS, COOPACAM, UNIVENCE, RECICAM e ACIPAL), uma coope-rativa de agricultores familiares assentados (COOAABE), uma associação de usuários da Saúde mental (PIRASSIS) e uma rede de consumo responsável e solidário (Rede trem bão), além de contribuir para a organização e fortaleci-mento da economia solidária, através de fóruns.

para guardar o sabão líquido. Tudo isso é contribuição para a efetivação dos objetivos do Projeto Sabão Sustentável.

Este encontro foi marcado pela troca de experiências e apresentação dos respecti-vos projetos. Todos os envolvidos mostra-ram-se bastante entusiasmados e sugeri-ram um próximo encontro.

A reunião foi marcada pela troca de experiências e apresentação das atividades realizadas pelos membros dos projetos

divíduos pensantes e conscientes, isso requer do professor a importante tare-fa de informar e ensinar.

Com o intento de estabelecer uma trajetória a ser percorrida e facilitar esse trajeto, a BNCC (Base Nacional Curricular Comum) e a PCN (Parâme-tros Curriculares Nacionais) foram cria-das e implantadas nas escolas de todo o país para garantir, estrategicamente, que alguns temas sejam passados aos alunos.

A professora Luciane explicou, po-rém, que nem sempre essa é a realida-de do estudante nem a do professor. Um exemplo: um tema de grande im-portância para os currículos escolares é o conceito “gênero literário”, apresen-tado há muitos anos sem as devidas atualizações, ou seja, de acordo com os novos recursos didáticos e tecnoló-gicos. A utilização de histórias em qua-drinhos para perguntas de níveis con-siderados superficiais, tais como: “Qual o humor da tira?” ou “Qual palavra é um substantivo?”, é certamente comum, mas não atualiza os estudantes sobre o mundo.

À medida que os anos avançam, mais conteúdos e gêneros literários são produzidos, aumentando o número de obras que abrangem um certo con-ceito de discurso. Hoje, já não é raro en-

contrar grupos de pessoas caracterizadas como fãs formando “fandoms”. O termo em português possui significado idêntico ao do termo em inglês. São pessoas que pos-suem o mesmo interesse ou são fãs de uma mesma história, grupo, escritor ou qualquer outra produção. Em vista de tais novidades, manter sempre os moldes de ensino sem as necessárias atualizações é ficar para trás. Exige-se, então, uma mudança quanto aos novos gêneros, implicando na necessidade de atualização com mais textos e mais críti-cas, como usar as histórias de “Mafalda” em contextos, além das perguntas superficiais; como pedir, por exemplo, para que se anali-se a crítica passada pelo autor da tirinha.

Apesar das condições de aprendizado não serem iguais, a manutenção da ciência representa resistência e consciência frente a situações extremas como a pandemia e certas propostas governamentais quanto à educação. O fato é que a realidade da sala de aula foge ao controle do professor, e a pandemia apenas intensificou os proble-mas que os educadores enfrentavam no ambiente da sala de aula. Atualizar o mate-rial oferecido aos alunos pode ser uma for-ma de estreitar vínculos, o que faz com que os estudantes se identifiquem mais pronta-mente com o conteúdo apresentado, além de reconhecerem o potencial da linguagem em novas formas de expressão, convenien-tes ao tema dado em sala de aula.

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ESPECIAL: O BRASIL É UM IMENSO HOSPITAL

Moradores de rua e a política higienista em São Paulo na pandemia de COVID-19

Ao olharmos o Brasil em sua ampla diversidade cultural e étnica e, principal-mente, sua enorme divisão social, não é difícil compreender a afirmação de Nico-lau Sevcenko quando lembra a frase “o Brasil é um imenso hospital” de doentes, não só no sentido patológico, mas tam-bém no social. Se por um lado, somos considerados um povo caloroso, por ou-tro, nossos moradores de rua são subju-gados e esquecidos.

Segundo a pesquisa feita pela empre-sa Qualitest Ciência e Tecnologia LTDA, publicada em 31 de janeiro de 2020, 24.344 pessoas estão em situação de rua na cidade de São Paulo. Com a chegada do Corona Vírus, esse número só cresceu. Mesmo com a nova doença, a carência desses moradores continua sendo comi-da, abrigo e dinheiro.

Como se não fosse preocupação su-ficiente, na quinta feira, 28 de janeiro de 2021, a Prefeitura de São Paulo concluiu a colocação de pedras pontiagudas fei-tas de cimento, no viaduto da zona leste, impossibilitando aos residentes do local dormirem nesse espaço.

“O Brasil é um imenso hospital” e a “di-visão da sociedade entre doentes e sãos”, são afirmações que Sevcenko recorda em seu livro “A Revolta da Vacina”. E o que isso quer dizer? Segundo o autor, a cam-panha de vacinação contra varíola foi um sucesso e as elites dirigentes apoiaram-se nisso para implementar técnicas sa-nitárias, com a promessa de resolver os problemas do país. Era necessário limpar, prevenir, tratar, mas limpar o quê? Quem?

Situação semelhante ocorreu no sé-culo XIX com o fim dos cortiços cariocas,

¹ Participante do Programa de Residência Pedagógica e estudante do 3º ano do curso de História.² Estudante do 3º ano do curso de História.³ Estudante do 3º ano do curso de História.

Ao publicar este artigo, prestamos homenagem a Lilian Milena da Silva, nossa companheira e amiga de vida e de faculdade que contribuiu para o desenvolvimento das atividades.

Por fatalidade, ela nos deixou este ano. Acreditamos que assim honramos sincera e verdadeiramente o seu nome e vida acadêmica.

amparados pela política higienista da época. Foram retirados e expulsos indi-víduos considerados “delinquentes”, com a afirmação de que espalhavam doenças pela cidade. Esse mesmo cenário repete-se em São Paulo: os moradores de rua es-cancaram tudo que a sociedade quer es-conder: a pobreza, a violência e a sujeira.

Novamente, esses episódios desmas-caram a divisão da sociedade entre “os doentes e os sãos”, evidenciando que quem determina o destino dos primeiros são os segundos. Tanto as favelas como os condomínios são formas de segrega-ção social, o que leva os moradores de rua a ficarem à mercê de governadores e supostas políticas públicas. Estes, quan-do acham conveniente, expulsam aque-les, desumanizados, sem nenhum tipo de auxílio ou diálogo.

Pedro Ricardo de Souza Velasco ¹ Rafael Cichito Esteves ²

Roberto de Freitas Santiago Pontes ³

Desde o fim de 2019 o mundo vive um estado de calamidade provocado pela pandemia do novo Corona vírus, deno-minado de COVID-19. Como se presumia, o vírus chegou ao Brasil por volta do fi-nal de fevereiro de 2020, tornando-se, desde então, um grande desafio, para o governo federal e para os estados, o combate à contaminação pelo vírus e a gestão das internações pelas complica-ções respiratórias.

Não bastasse a situação gravíssima provocada pelo vírus, o principal fator contribuinte para os altos números de contaminados e os índices de mortes, batendo recordes a cada dia, foi sem dúvida a má gestão da crise por parte do governo federal. Iinicialmente este negou o potencial de mortalidade do vírus, depois negou, mais uma vez, que

A gestão no combate à Covid-19 em Manaus

o lockdown seria uma solução e que to-dos deveriam continuar trabalhando e circulando. Resultado disso foi o Brasil estar entre os países com maiores nú-meros de casos no mundo, e a curva da infecção aumentar, dia após dia.

Essa má gestão foi a principal respon-sável pela crise nos estados da federa-ção, pela superlotação dos hospitais. No estado do Amazonas, a taxa de conta-minação foi tão elevada a ponto de a ca-pital Manaus não dispor de cilindros de oxigênio para atender aos casos mais graves.

O último recorde de infectados foi registrado no final do mês de maio de 2020, com 2.763 casos diários, quan-do o estado viveu uma situação caótica na primeira onda da pandemia. Em 14 de janeiro deste ano, o estado contabi-

lizou um total de 2.516 novos casos só na capital e mais 1.300 no resto do esta-do, sendo este o pior dia no número de hospitalizações e de casos de Covid-19 desde o início da pandemia. Ao todo, o estado contabiliza 223.360 infectados pela doença, segundo boletim informa-tivo da Fundação de Vigilância em Saú-de do Amazonas 4.

Ao pensarmos o Brasil como um imenso hospital, que abriga os doentes e precisa tratá-los, a gestão do hospital de Manaus tem sido atabalhoada e ine-ficiente. Nesse grande hospital, muitas pessoas morreram sufocadas por falta de cilindros de oxigênio; estes não fo-ram providenciados por essa gestão de-sastrosa, que tem culpa direta nos altos índices de perdas que o “hospital Brasil” sofreu.

¹ Estudante do 3º ano do curso de História, UNESP/Assis. Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/PROPe.

² Estudante do 3º ano do curso de História, UNESP/Assis. Professor de História no Cursinho Popular Pré-vestibular Paulo Freire.

³ Estudante do 3º ano do curso de História, UNESP/Assis. Professor de História no Cursinho Popular Pré-vestibular da UNESP, Bolsista PROEX.

4 Fonte: CNN BRASIL, disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2021/01/08/entenda-por-que-a-situacao-de-manaus-e

-mais-grave-do-que-a-de-outras-capitais> Acesso em 07 de fevereiro de 2021;

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ESPECIAL: O BRASIL É UM IMENSO HOSPITAL

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Danilo José da Silva ¹

Da caixa preta para as telas: A reinvenção dos artistas na pandemia de Covid-19

Durante a pandemia da Covid-19 os ar-tistas da cena presencial - dança, teatro, circo, performances etc. - tiveram suas ati-vidades interrompidas durante todo ano de 2020. Algumas frases marcaram os artistas no período pandêmico. Uma de-las, e a mais celebre de todas é: “Nós fo-mos os primeiros a parar e seremos os úl-timos a retornar”. Com as salas de ensaio, palcos e teatros fechados em todo país, os artistas apresentaram uma mudança da percepção do coletivo para a elabora-ção da questão do individual, além do iso-lamento social.

A elaboração da criação artística no pe-ríodo pandêmico se tornou um grande desafio. Distante do poder da criatividade coletiva, os artistas se viram obrigados a permanecer isolados, agora, também du-rante o processo criativo. O pensamento individual e o isolamento da coletividade colocam o artista como ponto central da

concepção, sendo afetado pelas condições sociais impostas e tendo como obstácu-lo, além do processo criativo individual, a adaptação da cena presencial para as telas.

A adaptação da cena presencial foi ine-vitável. Os artistas tiveram que se adaptar. Câmeras de celulares, iluminação e tripés improvisados foram a forma a que os ar-tistas recorreram para se adaptarem a este novo tempo, em que as plateias não poderiam mais estar presentes fisicamen-te, mas sim de forma virtual. Essa mudan-ça na maneira de proceder foi responsável pela adaptação das técnicas do corpo cê-nico às técnicas do corpo mediante recur-sos audiovisuais.

No início da pandemia Covid-19 no Bra-sil, todos os artistas presos em sua indi-vidualidade, sem poderem exercer o co-letivo, ficaram isolados e tiveram que se reinventar recorrendo a seus aparelhos celulares e às redes sociais. Muitos artis-

tas e trabalhadores da cultura perderam sua fonte de renda com a pandemia; res-salta-se, aqui, que a maioria dos artistas e trabalhadores da cultura se colocam no mercado de trabalho por meio da informa-lidade, razão por que, na persistência da pandemia, famílias inteiras perderam sua fonte de renda.

Foi criada então a Lei Emergencial Aldir Blanc, iniciativa da Deputada Federal Be-nedita da Silva – Partido dos Trabalhadores (PT-RJ) – para suprir as necessidades dos artistas. Com três frentes de atendimento, a lei destinou verbas como: o auxilio emer-gencial individual, auxilio para instituições, para coletivos e editais de produção. Esta lei veio despertar a sensibilidade para com os recursos humanos da produção cultu-ral e dar-lhes visibilidade diante da popu-lação e, assim, esta perceba que o traba-lho do artista brasileiro ainda é informal e pouco reconhecido.

¹ Estudante do 3° ano de Graduação em História,Artista-Bailarino DRT n° 7540/2002.

NOTÍCIA

Conselho Universitário aprova programa voltado à Saúde Mental

A Coordenadoria de Permanência Es-tudantil - COPE, com apoio do Núcleo Técnico de Atenção Psicossocial - NTAPS, informou no dia 22 de abril, a aprova-ção por parte Conselho Universitário da UNESP, da criação de um Programa es-pecífico voltado para a Saúde Mental da Comunidade Universitária. O NTAPS de-senvolverá atividades de acolhimento e de promoção de fatores protetivos de saúde mental para os alunos da Perma-

Mateus Abreu nência Estudantil de todas as unidades da UNESP.

Por meio de parcerias com alunos do curso de formação em Psicologia, Mes-trandos, doutorandos e Docentes da UNESP de Bauru e Assis, serão ofereci-dos acolhimento psicossocial e oficinas temáticas.

O acolhimento psicossocial, que con-siste em atendimentos psicoterapêuticos breves e focais, visa oferecer um espa-ço de escuta, com breves intervenções e possibilidades de encaminhamentos posteriores, se necessário para uma rede

de proteção. O acolhimento oferecerá 7 sessões on-line. Interessados em partici-par, devem preencher o seguinte formu-lário: https://bit.ly/32hKNAO.

As oficinas temáticas também aconte-cerão no formato on-line e abordarão os temas: Organização do tempo; Estraté-gias de Aprendizagem; Ler e entender: A base para aprendizagem e Aprimorando a escrita acadêmica. Haverá em cada ofi-cina vagas limitadas para os alunos das diferentes unidades da UNESP. Interes-sados podem se inscrever no formulário disponível em: https://bit.ly/2Qm1yIN.

Por meio de parcerias com os câmpus de Assis e Bauru, programa oferecerá acolhimento piscossocial e oficinas temáticas

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EVENTO

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Minicurso promove discussão acerca do espectro autista, TDAH e deficiências intelectuais

Vitória de Oliveira

Nos dias 25 e 26 de março, foi reali-zado o minicurso "Temas e problemas contemporâneos em educação", organi-zado pelo estágio de Psicologia Escolar e Educacional da FCL. Seu objetivo foi criar um espaço, no qual se pudesse viabili-zar a abordagem de questões relaciona-das à mediação de possíveis alunos que apresentam neurodivêrgencias (TDAH, espectro autista e deficiências intelec-tuais) no ambiente escolar. O primeiro dia de evento contou com a presença do professor doutor em Psicologia, Jorge Luís Ferreira Abrão da UNESP/Assis, que abordou o espectro autistas no mundo contemporâneo e o crescimento do diag-nóstico.

O termo "autismo", como apresentou o professor Abrão, é uma construção rela-tivamente recente; a primeira vez que foi utilizado na literatura psiquiátrica ocor-reu na década de quarenta, mais precisa-mente no ano 1943. Era, então, utilizado para denominar uma síndrome própria da infância. Isso foi quando Leo Kanner, um psiquiatra austríaco, estabeleceu o chamado diagnóstico de autismo. Obvia-mente, antes de Kanner já havia casos de autismo, mas não eram identificados com essa palavra, de modo que todas as crianças, que apresentassem dificulda-des ou comportamentos diferentes dos parâmetros normais, recebiam, geral-mente, uma única classificação, a deno-minada oligofrenia, composto grego que significa deficiência intelectual, visto que até então não se possuíam conhecimen-tos acerca da diferença entre o autismo e outras deficiências intelectuais.

As onze crianças observadas por Kan-ner, segundo Abrão, em sua maioria me-ninos, apresentavam condutas que as diferenciavam das crianças com defici-ência intelectual, razão pela qual o psi-quiatra estabeleceu três grandes áreas que iriam caracterizar o diagnóstico de autismo. A primeira diz respeito ao iso-lamento, que é a tendência a uma maior dificuldade no estabelecimento de re-lações sociais, o que reduz as chances de socialização e integração do autista. Hoje, sabe-se que, no diagnóstico do

Objetivo foi criar um espaço no qual se pudesse viabilizar a abordagem de questões relacionadas à mediação de possíveis alunos que apresentam neurodivêrgencias (TDAH, espectro autista e deficiências intelectuais)

autismo, podem observar-se níveis di-versos, todos relacionados aos graus de habilidade social. A segunda relaciona-se ao atraso na aquisição e no uso da linguagem, que se manifesta de manei-ras variadas nas crianças, desde aquelas que não conseguem falar praticamente nada até aquelas que são capazes de fa-lar, porém de maneira pouco funcional e eficiente, na transmissão de mensagens, caracterizando-se, então, esse atraso como uma defasagem na capacidade co-municativa. A terceira área é da tendên-cia à repetição, à manutenção de rotina e a características obsessivas.

No minicurso, foi exposto que a criança autista tem dificuldades de se expressar também por meios simbólicos, tendendo a, por isso, recorrer ao concreto; visual-mente, a aprendizagem pode ocorrer de forma mais fácil. A dificuldade do desen-volvimento simbólico, pode ser observa-da quando utilizamos figuras de lingua-gem, a metáfora, sendo assim a pessoa autista tende a interpretar de forma li-teral. Entretanto, ao impulsionar o seu desenvolvimento cognitivo, ela passa a compreender e identificar essas figuras de linguagem, no caso de autismo não severo, como mostrou o docente.

A síndrome de Asperger, descrita em 1944 por Hans Asperger, é muito pareci-da com o autismo; entretanto, as crianças que foram observadas apresentavam um quadro mais leve do que as de Kan-ner. Então, durante muitos anos, fazia-se separadamente sua classificação; pou-cos anos faz que foram reunidas num mesmo diagnóstico, desenvolvendo-se o conceito de transtorno do espectro au-tista que inclui as diversidades de níveis do autismo num único diagnóstico. É o que explica Abrão, chamando atenção para o problema que resultou da manei-ra de caracterizar e diagnosticar o autis-mo, banalizando-se o diagnóstico, pois, se a criança é retraída e tem dificuldade de se comunicar, ela é, automaticamen-te, enquadrada como autista. Enfatiza o docente que a síndrome do autismo é de incidência precoce e, dessa maneira, constata-se a existência de autismo se aparecem os sintomas caracterizadores nos primeiros 36 meses de vida, visto estarem tais sintomas associados ao de-senvolvimento infantil.

Todavia, Abrão diz que há casos de crianças mais velhas que nunca fo-ram diagnosticadas. Para saber se uma criança já manifestava sintomas antes

dos 3 anos de idade, mas ainda não era caracterizada como autista pelo núcleo familiar ou escola, faz-se uma entrevista. Entretanto, se a criança, aos 3 ou 4 anos, falava bem, mas perdeu essa capacidade, não é autista; se o seu desenvolvimento foi normal, a deficiência é, certamente, outra, pois o atraso no desenvolvimento da linguagem pode incluir diversos fa-tores como audição e falta de estímulo, entre outros. Dessa maneira, é importan-te cuidar para não rotular, sem a devida atenção, qualquer deficiência; é preciso analisar muito bem os sintomas para, so-mente então, definir qual é a deficiência.

Em relação ao autismo, o professor diz que ainda restam dúvidas quanto a sua determinação; entretanto, para sua caracterização, existem hipóteses, base-adas, algumas em manifestações emo-cionas, outras em problemas orgânicos. Todavia, clareza quanto à etiologia do autismo ainda não se tem.

No que se refere à inclusão do autista nas aulas comuns, Abrão ressalta consti-tuir-se esta um verdadeiro desafio, por vá-rias razões, figurando entre elas o fato de o autismo manifestar-se em diversos graus, relacionados a diversos fatores: cerca de 30% das crianças autistas têm o desenvol-

vimento intelectual normal ou superior, e aproximadamente 70% apresentam defi-ciência intelectual, como foi visto durante o minicurso. Quanto mais cedo se promove a inclusão mais fácil se darão o entrosamento e a convivência entre o autista e os colegas e menos dificultoso o trabalho do(a) pro-

fessor(a). Por fim, que sejam criados canais de comunicação, que favoreçam o autista atentando-se para os meios usados por para expressar seus sentimentos e emo-ções. Abrão encerra sua fala dizendo que incluir é fazer uma ponte por meio de canais de comunicação dentro do limite possível.

TDAH e DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

No segundo dia de evento, a aluna de Psicologia Luana Louize Ferreira da Silva apresentou informações sobre o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade). Ela explicou que a hiperatividade não é uma característica comum a todos os casos.

O diagnóstico atenta para os sinais constantes de desatenção, hiperativida-de e impulsividade manifestados desde a infância. A frequência dos sintomas influencia e compromete uma ou mais áreas da vida do indivíduo, como expôs Silva, em sua fala.

O manual diagnóstico e estático de transtorno mental (DSM) exibe três tipos de TDAH, segundo Silva. O primeiro é a criança predominantemente hiperativa e impulsiva que se distingue por manifestar inquietação: ela tem dificuldade de permanecer sentada, corre sem destino, responde a perguntas antes de se-rem formuladas e costuma interromper conversas. O segundo tipo é o do pre-dominantemente desatento. Para que ela se encaixe nessa categoria, a crian-ça deve apresentar seis ou mais sintomas: não enxergar detalhes, apresentar dificuldade em manter a atenção, não ouvir quando solicitado, ter dificuldade em se organizar, não gostar de tarefas que exigem esforço mental prolongado, perder frequentemente objetos e distrair-se com facilidade ou não guardar a rotina. O terceiro tipo é o que combina as características dos dois anteriores.

Para o desenvolvimento do potencial dessas crianças, o professor deve criar metodologias apropriadas e capazes de dar-lhes o devido atendimento, deve estar atento às suas dificuldades, não exigir comportamento acima de suas possibilidades, não as repreender e respeitar seus limites.

Silva apresentou algumas propostas condizentes com uma determinada metodologia, a saber, estabelecer e realizar tarefas rotineiras, propor regras claras e exigir o cumprimento de todas, estimulando a autonomia, providenciar que no ambiente da sala de aula não haja nada que o distraia, mantê-lo perto de si e longe de janelas e portas, propor tarefas de curta duração, estender o tempo no caso de avaliações e alternar as atividades e os instrumentos ava-liativos, adequar o conteúdo, elogiar as tarefas bem executadas, criar um am-biente cooperativo com trabalhos em grupos, combinar sinais para as dúvidas, variar o tom de voz e ilustrar as explicações.

Ainda no segundo dia de evento, Bárbara Maria Milaré de Carvalho, alu-na de Psicologia explicou que, o DSM-5 aponta a presença de funcionamento cognitivo significativamente inferior à média, acompanhado de limitações da capacidade adaptativa que ocorrem em áreas como de comunicação, autocui-dado, habilidades sociais, interpessoais, vida doméstica, habilidade acadêmi-ca, trabalho, lazer, saúde, segurança e autossuficiência, nas áreas cognitiva e de linguagem, nas atividades motoras e relacionamentos sociais.

A deficiência intelectual está associada a outras síndromes e transtornos, havendo, por esse motivo, processos diferentes no desenvolvimento do co-nhecimento científico. A criança manifesta essa deficiência quando bebê, de-monstrando dificuldade motora também nas atividades cotidiana, principal-mente quando manuseia objetos pequenos.

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: Goo

gleO evento demonstrou que quanto mais

cedo se promove a inclusão destes alunos, mais fácil será a convivência

deles em sociedade. Para bem atender este público e a fim de desenvolver as potencialidades destas crianças, professores precisam adaptar suas

metodologias e incentivar a autonomia.

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ENTREVISTA

Especialistas dizem que Brasil pode ser um celeiro de variantes da Covid

O surgimento das variantes do coronaví-rus tem gerado preocupação para o mun-do. Sem respostas definitivas, mas por ser tendência do vírus criar variantes, os pesquisadores buscam entender como as novas cepas agem no organismo huma-no. A preocupação é devida ao aumento da contaminação e ao impacto da varian-te no organismo. O que está ocorrendo no Brasil e, agora, mais ainda na Índia, leva os especialistas a dizerem que esses dois pa-íses podem tornar-se celeiros de variantes. Recentemente, foram noticiados surtos epidêmicos em Araraquara, estado de São Paulo. É então urgente um combate sem tréguas: as autoridades devem unir-se na elaboração de estratégias e investir cons-tantemente na ciência.

Em vista do contexto atual de preocu-pação com as variantes, o JNC procurou a docente da FCL/Assis, Edislane Barreiros de Souza – vinculada ao Departamento de Biotecnologia, para uma entrevista.

Atendendo a solicitação, a professora explica, em sua fala, que o processo de mu-tação do vírus é natural, o que explica o sur-gimento de novas variantes e acrescenta que as contribuições da Biotecnologia, por meio de tecnologias e da pesquisa, tem co-laborado no enfrentamento da pandemia.

JNC: As variantes do coronavírus podem prolongar a pandemia? Qual é seu impac-to no organismo?

Profª. Edislane Barreiros: As novas va-riantes podem prolongar a pandemia da Covid-19. O potencial de mutação e adapta-ção a novos ambientes biológicos é a cha-ve do sucesso evolutivo dos vírus e com o Sars-CoV-2, o novo coronavírus, não é dife-rente. Quanto maior a taxa de transmissão, maiores são as chances de surgirem novas variantes. As mutações surgidas até o mo-mento têm resistência diminuta à eficácia das vacinas. Quando se proliferam, os vírus podem sofrer modificações, que tendem a ser mais rápidas, por serem micro-orga-nismos, com um tempo de vida mais curto. Embora os imunizantes atuais apresentem uma boa eficácia contra as variantes, a taxa de infecção crescente, o processo lento de vacinação da população, o não-cumpri-mento das normas de segurança, poderão comprometer a eficácia das vacinas contra outras variantes. Nesse processo, vacinas podem ter sua eficácia reduzida e terem de ser reformuladas ou atualizadas, o que au-menta o distanciamento da população da

vacinação. Por isso a urgência da vacina-ção num período menor, pois, quanto mais lento o processo de imunização, o risco de novas variantes mais infectantes é real.

JNC: As cepas surgidas tendem a ser mais infecciosas e atingir um maior núme-ro de pessoas por quê? É um processo na-tural, que poderá ser controlado?

Profª. Edislane Barreiros: O processo de mutação é natural na história biológica de qualquer vírus. Quando entra numa célula, um único vírus é capaz de gerar milhares de cópias novas — sua reprodução é extrema-mente rápida. Em outras palavras, pesqui-sadores coletam o coronavírus, que circula no corpo de alguns pacientes, e investigam como ele é e que eventuais mudanças na sua estrutura viral ele pode representar. O que chama a atenção na pandemia da Co-vid-19 é a quantidade de genomas virais que foram sequenciados. Isso é sem pre-cedentes. Nunca se sequenciou tanto um vírus, como estamos sequenciando atual-mente. Uma das perguntas que surge tam-bém é se, nesse contexto de novas varian-tes, a prevenção deve mudar e, no caso de o vírus ser mais transmissível, as máscaras serão ainda eficazes? Ainda não chega-mos a uma conclusão, mas as medidas de prevenção devem continuar cada vez mais, mesmo depois de haver sido tomada a va-cina.

A reinfecção de pessoas, que contraíram a Covid-19 e ficaram assintomáticas ou ti-veram sintomas leves, pode ocorrer, ape-sar de elas não terem sido contaminadas por uma das novas cepas do vírus. Todavia, as reinfecções foram mais agressivas, com cargas virais mais altas e quadros clínicos sintomáticos. Em todo lugar, podem surgir variantes do coronavírus, mas, quando não se têm condições propícias para sua proli-feração, elas desaparecem. Infelizmente, esse não é o caso do Brasil. A primeira ra-zão que faz do nosso país um epicentro global de novas cepas é o gigantesco nú-mero de novos casos diários, o que deno-ta um descontrole da pandemia. Quanto mais o vírus circula e se replica dentro de seres humanos, maior a chance de acumu-lar mutações e gerar novas versões.

JNC: Como a biotecnologia pode contri-buir para o enfrentamento da pandemia? Após um ano, o que foi percebido pela ci-ência?

Profª. Edislane Barreiros: A biotecno-logia é responsável por grande parte das tecnologias biológicas hoje existentes, que vão da saúde humana até o meio am-

biente. A biorremediação ambiental para recuperação das áreas degradadas, o me-lhoramento genético para uma condição biológica mais produtiva no campo e até mesmo a biologia sintética são novas so-luções inovadoras. Particularmente, a tec-nologia do sequenciamento genético, para a compreensão de genomas, produção de fármacos e vacinas, tem sido um grande aliado para entender o Covid-19. Essas tec-nologias impulsionaram testes de detec-ção e diagnósticos, como o padrão ouro, RT-PCR, kits rápidos, que detectam a pre-sença de anticorpos contra o vírus, técnicas de CRISPR (edição gênica), considerado um padrão rápido (5 a 10 minutos) e específico na identificação do material genético do ví-rus. Há tratamentos adjuvantes, como pro-dução de substâncias capazes de intensifi-car a produção de anticorpos, fortalecendo o sistema imune do paciente, contra prote-ínas específicas do vírus, para bloquear a sua entrada na célula. A biotecnologia vai além da tecnologia desenvolvida para va-cinas e pode efetivamente ajudar no com-bate da pandemia em muitas frentes, de diagnóstico até o desenvolvimento de no-vas moléculas com potencial terapêutico para a Covid-19.

Cientistas do mundo inteiro, incluindo-se brasileiros, estão engajados nessa bus-ca e garantem que é uma questão de tem-po. Mas, enquanto a ciência caminha para desvendar tudo sobre este vírus, medidas de segurança são imprescindíveis. A bio-tecnologia está na vanguarda do conheci-mento humano e, em momentos de crise sanitária, assumir as rédeas da biologia é uma questão de sobrevivência. Apenas por meio de uma ciência ousada e inovadora é que conseguiremos sair mais fortes deste momento trágico.

Os desafios da ciência são inúmeros, mas, sem um aporte financeiro significati-vo, a situação irá se arrastar cada vez mais. Medidas mais concretas no setor poderiam estar ajudando muito no enfrentamento à pandemia, para imediatamente estarem disponíveis para o controle da infecção. Ampliar diagnósticos e tratamentos de ca-sos, produção de vacinas e medicamentos são imprescindíveis. Nestes dois últimos anos, a interação entre os pesquisadores do mundo todo e a velocidade das publica-ções sobre COVID-19 mostram a seriedade em buscar soluções o mais rápido possível.

Está disponibilizado um evento – Ciclo de palestras (com acesso ao material gra-vado) sobre as últimas pesquisas em Co-vid-19, reunindo diversas áreas. Para con-ferir, clique aqui.

Marlon Peres Junco

ENTREVISTA

Experiências discentes em disciplinas: História Ambiental e Educação Ambiental

A disciplina História Ambiental foi in-troduzida na grade curricular do curso de História da UNESP/Assis, em 2006. Segundo o professor Paulo Henrique Martinez, docente responsável, o seu propósito foi “a articulação do ensino de História com as abordagens propostas nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estabelecidos pelo Ministério da Educação, em 1997, especificamente, so-bre o tema transversal Meio Ambiente.” Com a recente adequação da grade cur-ricular aos padrões ditados pelo Conse-lho Estadual de Educação, recebeu uma nova nomenclatura, História Ambiental e Educação Ambiental, e também em atendimento ao disposto na Lei de Di-retrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, 1996). “É uma disciplina semestral, com carga de 60h, voltada para o ensino e a pesquisa sobre a questão ambiental no mundo contemporâneo e as relações entre ser humano, sociedade e nature-za. Os fundamentos do trabalho histo-riográfico e pedagógico foi apresentado num pequeno livro que publiquei ainda em 2006: História Ambiental no Brasil: pesquisa e ensino, pela editora Cortez.”, disse o professor.

Questionado sobre as perspectivas iniciais da disciplina e seu resultado fi-nal, o professor respondeu: “As perspec-tivas iniciais foram reduzidas em função do ensino remoto. A abordagem procu-rou conhecer as relações historicamente determinadas da questão ambiental no Brasil e as suas imbricações com o pas-sado colonial e escravista, de um lado, e, de outro, com a construção do Estado nacional e das políticas públicas, media-das pelas transformações na esfera das relações sociais e das mudanças cultu-rais no século XX. Por fim, apresentou também algumas estratégias de en-frentamento da crise ambiental global deste século, através de ações da comu-nidade internacional, como a promoção da Década da Educação para o Desen-volvimento Sustentável, pela UNESCO, entre 2005 e 2015.”

“O resultado foi um conjunto de ativi-dades de reflexão, debates em grupos, leituras temáticas, pesquisa, elabora-ção de textos e abordagens pedagógi-cas em torno dos Objetivos de Desen-volvimento Sustentável (ODS). Alguns desses textos foram sugeridos ao JNC. O resultado mais consequente é a com-

Mateus Abreu

provação de que a sala de aula nos cursos de graduação pode, sim, operar como um grande e ativo laboratório de ensino, pesquisa, extensão universitá-ria e ação cultural na universidade pú-blica. Esta emerge como polo dinâmico de criatividade e de debates dos proble-mas sociais candentes na vida cotidiana nacional e mundial pelos profissionais em formação.”

O JNC entrou em contato com 2 dis-centes que cursaram a disciplina, Ana Carolina Picoli e Thiago Augusto Mot-ta. A respeito de suas experiências, os alunos responderam às seguintes per-guntas, respectivamente: 1) Qual foi sua experiência final em relação às pers-pectivas da disciplina? e, 2) Como você vê, na prática, a contribuição da mesma para a sua formação? Que contribuição efetiva dessa disciplina você vê para a sua formação?

Ana Carolina Picoli: A experiência fi-nal a respeito da disciplina se revela no reconhecimento do quanto as leituras bibliográficas, as discussões e as ati-vidades foram proveitosas. Ao longo da disciplina, foi possível compreender melhor a sua proposta e, conforme as atividades foram acontecendo, o conhe-cimento sobre História e Educação Am-biental foi se consolidando. Para mim, o mais interessante da disciplina foi o fato de ela propiciar condições de refle-tir sobre as relações entre os indivídu-os e o meio em que eles vivem - seja o meio o ambiente ou o social. Dessa for-ma, foi possível estabelecer conexões

entre conhecimentos multidisciplinares e as ciências, geografia, história etc. Foi possível, também, relacionar o conte-údo dessa disciplina com o de outras disciplinas do próprio quadro curricular da graduação. Acredito, que um conhe-cimento crítico, relacional e multidimen-sional caracterizou a disciplina.

O impacto da disciplina para minha formação foi notório: além da aquisição de conhecimento a respeito da educa-ção ambiental, pude refletir sobre o pa-pel social do professor e do historiador e dar minha contribuição para que as discussões frutíferas que tivemos não fiquem presas apenas à disciplina ou ao ambiente acadêmico. Como futura pro-fessora de história, minha reflexão so-bre o tipo de educação que quero para os meus alunos é constante, e a disci-plina contribuiu, de forma significati-va, para pensar e repensar sobre essa questão.

Thiago Augusto Motta: Decorrido um semestre de experiências com a disciplina – com a segurança de quem assiste a um evento depois de já o ter superado, malgrado ainda subsumido por paixões de toda ordem que impe-riosamente condicionam a perspecti-va do ocorrido –, eu diria que a matéria satisfez, senão mesmo ultrapassou, as expectativas iniciais do curso, especial-mente por estimular uma abordagem acerca da relação entre sociedade e na-tureza por meio de uma ótica temporal de longa duração. Como fora estudada no exato espírito de seu conteúdo pro-

O professor Paulo Henrique Martinez é o responsável pela disciplina desde 2006

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EVENTO

III Feira do livro da UNESP conta com fala de historiador inglês na aberturaMarlon Peres Junco

A III Feira do livro da UNESP, que acon-teceu de 5 a 11 de abril em formato virtu-al, contou no primeiro dia com a partici-pação do historiador inglês Peter Burke – professor emérito de História Cultural vinculado à Universidade de Cambridge. Nessa abertura, estiveram presentes o reitor da Unesp que abriu o evento, Pas-qual Barretti, e o diretor-presidente da Fundação Editora UNESP (FEU), Jézio Gutierre. A palestra de Burke foi trans-mitida pelo Facebook da editora, em que são feitas postagens referentes aos li-vros publicados e a atuação editorial.

O historiador, durante a transmissão, falou sobre o polímata – termo que se re-fere a um intelectual reconhecível, segun-do ele, pelo caráter multifacetado. O es-tudioso observa que, enquanto a maioria dos intelectuais dominam uma disciplina, os polímatas dominam várias. No caso brasileiro, foi citado Gilberto Freyre como exemplo desse tipo de intelectual. Burke estuda a trajetória de intelectuais do sé-culo XV ao XXI relacionando-a à história social e cultural do conhecimento. Ao tra-tar desse tipo de intelectual, ele suscita

reflexões sobre a educação e o futuro dos pensadores, que, como se observa, têm o perfil alterado no decorrer do tempo.

Isso se deve à conjuntura da socieda-de que se altera. Na ocorrência de mu-danças sociais, o perfil do intelectual também muda, assim como o meio em que ele vive. Fazendo-se referência a universidades, percebe-se que os cen-tros acadêmicos passaram por diferen-tes organizações estruturais – reflexo das necessidades de cada época. A título de exemplo, os departamentos universi-tários estão constituídos por especialis-tas de um determinado campo. Nota-se que, atualmente, o grau de especializa-ção tem sido mais requisitado; por isso, Peter diz que os polímatas são necessá-rios porque são capazes de estabelecer conexões entre as áreas do conhecimen-to, gerando benefícios mais amplos.

Nas suas observações, o historiador se refere à hiperespecialização, entendendo-a como problemática por sua tendência de limitar a visão dos estudiosos. Peter não é contra a especialização, mas acre-dita que a visão dos intelectuais precisa ir além do campo estudado a fim de am-pliar seus horizontes cognitivos. O teóri-co percebe que, na contemporaneidade, vive-se uma crise de conhecimento pro-

vocada pela explosão de informação e que outras crises já haviam acontecido, em séculos passados, em decorrência de inovações. De acordo com ele, não é para lamentar, mas deve-se reconhecer que isso tem gerado fragmentação. Em vista da dinâmica atual, Burke diz que cabe aos polímatas recompor conhecimentos frag-mentados. Mas, no intuito de atingir esse fim, é preciso que haja incentivo à forma-ção de polímatas e isso começa pela edu-cação e sua respectiva organização.

Ao trazer Peter Burke para a abertura do evento, a Fundação Editora da UNESP mostrou a importância do conhecimen-to científico, bem como a relevância do livro, visto que Peter é autor de obras publicadas pela editora unespiana, tais como A arte da conversação, História e teoria social, Testemunha ocular: o uso de imagens como evidência histórica e, recentemente, O polímata: uma história cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag. Por iniciativa da Feira do livro, a FEU concretiza a meta de democratizar o conhecimento, permitindo que se di-vulgue a produção científica associada à Universidade Paulista. Aqueles que se interessarem em assistir à abertura, po-dem procurar por Editora UNESP no Fa-cebook.

gramático, a disciplina deixou transpa-recer a já evidente agressão sistemática do homem, no decurso dos séculos, ao meio ambiente, não se furtando, porém, a propiciar instrumentos reflexivos ap-tos a ensaiar estratégias de mitigação e superação dessa conjuntura e práti-ca histórica. De fato, a conscientização e educação ambiental, núcleos duros e problemas-chaves da disciplina, logra-ram êxitos no encerramento do semes-tre, sobretudo por haverem sido articula-das sob uma perspectiva histórica, sem a qual seria ocioso, na ausência desse enfoque retrospectivo, versar a respeito de tais dimensões. Se, portanto, a espe-ra era, grosso modo, primordialmente por uma matéria que só aludisse, em linguagem incisiva, ao debate contem-porâneo acerca da catástrofe ecológica e do colapso do clima, na sequência das aulas, felizmente, pouco se confirmou a hipótese inicial reducionista, no que o horizonte estudado, tão múltiplo quan-to desafiador, apresentou, de um lado, uma natureza enquanto sujeito histó-rico – ou seja, menos submissa ao ho-mem e, certamente, como uma entidade ativa espaço-temporalmente, no âmbito da qual, aliás, o homem, sob o signo ra-cional-tecnológico, procura, inadverti-damente, um controle aparente de suas contingências –, do outro lado, uma educação ambiental não como sinôni-mo de uma discussão acerca da emer-gência climática – como se, estando-se diante de uma tragédia escatológica, forçoso fosse enfrentar o “decifra-me ou te devoro” –, e sim de um ensino so-bre o meio ambiente como um espaço por excelência para o esclarecimento do repertório referencial passado e dos parâmetros ambientais futuros em que pesem aos desafios da natureza. Com efeito, no contrapor do escasso debate e da desassistida política pública sobre a natureza é que se acha aquilo que a salva, de mais a mais se seus potenciais forem esclarecidos e observados por to-dos; se há um pesar, entretanto, ele con-siste em que as autoridades e o grande público chegam com retardo ao seu re-conhecimento.

Em que pese à disciplina, mais vale dizer sobre suas contribuições teóricas do que propriamente sobre as práticas, visto que fazendo essa opção eu consi-go avaliar melhor seu peso em minha formação. Em um balanço geral, então, duas questões fulcrais me ocorrem de imediato sobre a matéria concluída, a qual a economia de saberes, a gramáti-ca de conteúdos e o patrimônio concei-tual permitiram um aporte e uma fun-damentação metodológica suscetíveis de emprego nas mais diversas ciências humanas: de um lado, posso asseverar que o primeiro subsídio mais notável da disciplina, em minha formação, me veio relacionado à curadoria das obras, isto é, ao arrolado bibliográfico que me propi-

ciou um sem-número de reflexões, nas quais quase sempre se sobressaia uma perspectiva histórica transtemporal na relação do homem com o meio ambien-te; do outro lado, ressalto que o segun-do contributo mais significativo da dis-ciplina, em minha formação, refere ao seu cabedal interdisciplinar, tão dinâmi-co que me tornou capaz de apreciar di-álogos entre os diversos campos cientí-ficos, não só às ciências biológicas mas também às ciências exatas, ultrapas-sando-se assim os marcos das humani-dades; apelo interdisciplinar este, afinal, condição essencial e capital imprescin-dível para o profissional da história na

hodiernidade. Diante de tudo isso, por-tanto, ousaria sugerir que a educação ambiental deveria constituir-se maté-ria obrigatória e precípua para crianças desde a mais tenra idade, na certeza de que na sua presença a depredação e o esgotamento da natureza não estariam atingindo os patamares que, com pesar, estamos vendo hoje nas florestas, na contaminação das águas e na imundí-cies do solo brasileiro. Na hipótese do contrário, ou seja, caso houvesse menos desgovernos e mais responsabilidade das autoridades, bem como o estímulo à educação ambiental, desfrutaríamos de uma natureza exuberante.

Na primeira imagem, a reprodução da obra Derrubada de uma floresta, pintura de Johann Moritz Rugendas, 1835; Abaixo, registro do combate desmatamento e garimpo de

cassiterita na Terra Indígena Tenharim do Igarapé Preto, Amazonas, 2018. Foto: Vinícius Mendonça/Ibama

Nas suas observações, o historiador Peter Burke se refere à hiperespecialização,

entendendo-a como problemática por sua tendência de limitar a visão dos estudiosos. Embora não seja contra a especialização,

Burke acredita que a visão dos intelectuais precisa ir além do campo estudado a fim de

ampliar seus horizontes cognitivos.

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SEÇÃO CULTURAL

Dia Nacional do Livro Infantil foi comemorado em 18 de abrilMarlon Peres Junco

O Dia Nacional do Livro Infantil foi co-memorado em 18 de abril, data do nas-cimento de Monteiro Lobato. Comentan-do sobre o potencial da literatura infantil para a formação do leitor, o JNC mencio-na a importante colaboração do docente João Luís Tápias Ceccantini, que se tem dedicado à literatura infantojuvenil. Em 2019, o professor participou do progra-ma Panorama, na TV Cultura, apresenta-do por Andresa Boni. Com ele, estiveram presentes a professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Marisa Lajolo, a qual tem contribuído significativamente no campo de estudo da literatura infanto-juvenil, a atriz Silvia Cristina Varella Quei-roz, que interpretou a Emília, e o músico Ricardo Silva dos Anjos.

Disponibilizado no Youtube, o progra-ma tratou da produção de Monteiro Lo-bato, que entrou em domínio público, e das propostas de adequações da obra lobatiana. O autor de Reinações de Na-rizinho, Caçadas de Pedrinho, O Picapau Amarelo, entre outras obras, foi relevante para a constituição da literatura brasilei-ra infantojuvenil. Central nessa produção, Lobato não pode ser lido, hoje, como algo anacrônico por se tratar de uma obra do século XX. Em passagens dos seus livros, há universos simbólicos que atraem o lei-tor iniciante, cativando-o.

No programa, Lajolo diz que a passa-gem da obra de Monteiro Lobato para o domínio público favorece os leitores, porque pode ser editada por diferentes editoras, o que propicia o surgimento de múltiplas inspirações a quem lê Lobato, além de tais edições serem menos ca-ras. Ceccantini pondera que Lobato será, assim, mais acessível. Em continuidade, o professor da FCL/Assis diz: “O Montei-ro Lobato é absolutamente fundador da nossa literatura no sentido simbólico [...] quando ele aparece com sua obra é, sem dúvida, uma obra revolucionária que ino-va em muitos aspectos, seja na forma, na estrutura, seja nos termos que ele vai usar. E, sobretudo, o que a gente valoriza muito é uma nova concepção de infância, de criança que vem. A criança, na litera-tura infantil brasileira, antes estava muito sujeita ao poder dos adultos e, com Loba-to, ela vem para primeiro plano”.

Lajolo diz, ainda, que “Lobato é efeti-

vamente um modernizador da literatura infantil”. A estudiosa atenta para a irreve-rência, que se nota na imagem de criança estampada nos livros. Ela observa ainda que o escritor renova na literatura não in-fantil brasileira ao expor “um Brasil que está lutando com a urbanização da socie-dade brasileira e todos os dramas decor-rentes disso”. No fim do programa, ao ser questionado sobre o que mantém Mon-teiro Lobato vivo, disse Lajolo: “... a profun-da compreensão do espírito brasileiro do tempo dele e de uma espécie de univer-salidade do espírito infantil representado pela Emília como uma forma de antído-to ao desalento”. Em diálogo, Ceccantini fala: “... no caso da sua literatura infantil, ela tem uma capacidade de integrar rea-lidade e imaginação como poucos assim. Incendeia o imaginário de uma criança, de um leitor. Ela fala muito e de uma for-ma bastante crítica sobre o aqui e agora. Isso eu acho que ele fez como ninguém e mantém a obra dele muito viva”.

A literatura infantil marca leitores e, quando dotada de obras com poder sim-

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A data homenageia Monteiro Lobato, responsável por colocar as crianças "em primeiro plano" na literatura brasileira

bólico, liberta-nos das opressões do co-tidiano. Além de Monteiro Lobato, obras de escritores, como Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Pedro Bandeira, Marina Co-lassanti, José Paulo Paes e Ziraldo, com suas personagens e lugares sugestivos, mexeram e continuam mexendo com o imaginário de muitos leitores. É possível pensar em um sistema literário – conceito de Cândido para a Literatura Brasileira – da literatura infantil, que se transformou consideravelmente desde a segunda me-tade da década de 60 em diante, segun-do os estudiosos da área. Essa literatura passou por mudanças e, ainda hoje, re-formula-se no que se refere às temáticas associadas ao tratamento estético, aos tempos e espaços narrativos, entre ou-tras esferas do texto literário infantil. Es-ses são alguns dos aspectos notados por Ceccantini, Zilberman e Lajolo – referên-cias no campo da literatura infantojuve-nil. Quanto ao programa , os interessados podem assisti-lo e apreciar as falas, mú-sica, leitura de cartas e a performance de Emília.

SEÇÃO CULTURAL

Antígona de Sófocles e a Poética de AristótelesVitória de Oliveira

Antígona é a terceira peça teatral da trilo-gia tebana, uma tragédia grega, escrita por um dos renomados dramaturgos da Anti-guidade Grega, Sófocles. Segundo Eduardo Seino Wiviuka, em seu texto Antígona de Sófocles e a questão Jurídica Fundamental: A eterna tensão entre segurança jurídica e correção, publicado na revista “Internacional de Direito e Literatura”, a peça grega Antígo-na foi idealizada e escrita por Sófocles, que pensava em participar com a peça em um concurso, no ano de 441-440 a.C, de que saiu vencedor. O texto completo de Wiviuka pode ser lido aqui.

Wiviuka revela, ainda, que aquela época foi marcada por grandes discussões acer-ca de política e religião, duas temáticas extremamente importantes debatidas em Antígona, visto que a tragédia, naquele pe-ríodo, devia tratar do embate entre esses dois poderes, representados por Antígona (religião - Lei dos Deuses) e Creonte (políti-ca - Lei dos Homens). Isso porque, na Grécia Antiga, política e religião não conviviam se-paradas/separadamente, como acontece nos tempos modernos.

A tragédia Antígona revela a angústia da protagonista, cujo nome intitula a peça, por-que soube que seu querido irmão, Polinices havia sido acusado de traição pelo novo rei de Tebas, Creonte, pelo fato de, durante a guerra, ter combatido ao lado de Argos. Por essa razão o rei publica um edital no qual proíbe o enterro do filho de Édipo, alegan-do que Polinices não era digno de tal honra, ao contrário de Eteócles que, por ter lutado a seu lado, poderia ser enterrado de acordo com os rituais e os costumes da época. Con-frontando/Contrariando o rei, representante da Lei dos Homens, a heroica irmã decide ve-lar seu irmão Polinices, obedecendo antes à tradição e à Lei dos Deuses. O ato de Antígo-na despertou o povo fazendo-o reconhecer o rei como um verdadeiro tirano, visto conde-nar à morte Antígona, sua sobrinha e futura nora. Creonte, porém, mantém-se firme em sua decisão, recusa-se a ceder, na considera-ção de que um rei flexível é um rei fraco. No entanto, Hêmon, seu filho, posiciona-se em favor de sua futura esposa, alegando suas razões as quais o pai rejeita totalmente. Num primeiro momento é quase impossível saber as consequências que a decisão do pai acar-reta para o jovem. Na sucessão dos aconte-cimentos vê-se que o pai, inflexível como é, condena à morte seu próprio filho.

A atitude e o procedimento do rei e de

Antígona facultam ao leitor ter uma ideia da construção de uma tragédia grega daquela época e conhecer que a evolução da políti-ca da Grécia, além daquilo que o espectador pode acompanhar no desenvolvimento da peça, isto é, que a morte da protagonista pro-voca a ruína do rei e o declínio de Tebas.

Aristóteles, no capítulo Poética do livro A Poética Clássica, ensina que uma boa tragé-dia exige os seis elementos seguintes: fábu-la, caracteres, falas, ideias, espetáculo e canto, que a tragédia trabalha imitando uma ação e que os personagens agem e se diferenciam por duas características, caráter e ideias. As personagens são “bem ou mal sucedidas conforme essas duas causas”. O filósofo, ao definir o que seriam as ideias expressas pelas personagens, diz: “[são] os termos que em-pregam as personagens para argumentar ou para manifestar o que pensam”. E são esses exatamente os elementos presentes nessa peça de Sófocles, que, em situações dúbias, as personagens manifestam com ações sua opção ou pela Leis dos Deuses ou pela Lei dos Homens. Antígona se decide pela Lei dos Deuses. Creonte poderia optar por não ma-tar a protagonista, mas escolhe condená-la à morte, e Hêmon opta por continuar lutando em favor de Tebas e é atingido pela mesma sorte da noiva, a condenação à morte.

Com a morte do filho de Creonte, a derro-ta de Tebas para Argos e as opções dos per-sonagens, estão presentes, além de outros elementos constitutivos da peça, a peripécia, o reconhecimento e o patético igualmente ci-tados por Aristóteles na Poética.

Quanto a peripécia, Aristóteles diz: “a vira-volta das ações em sentido contrário [...]” se configura, após Creonte decidir pela morte

de Antígona. Hêmon abandona a batalha e decide ficar ao lado da futura esposa. Sua ação faz com que Argos vença Tebas, em-bora até aquele momento Creonte estivesse certo de sua vitória. Ele tem certeza sobre sua decisão e a validacomo correta, vindo essa decisão a constituir-se o início do declí-nio de Tebas.

É também a partir desse momento que aparece aquilo que Aristóteles chama de reconhecimento: “[...] é a mudança do desco-nhecido ao conhecido [...]”, Creonte passa a entender a situação a sua volta; o equívoco da sua decisão resulta na morte de Antígona e assim passa a acreditar na raiva dos Deu-ses por causa da sua escolha. Então, enterra Polinices, conforme os costumes, e logo em seguida vai à procura do filho, na tentativa de que ele retorne e salve Tebas, mas encontra o jovem ao lado de Antígona já morta. Cre-onte quase que é assassinado pelo próprio filho. Todavia este comete suicídio na frente de seu pai e, cuspindo sangue no rosto de sua amada, morre ao lado dela.

É a cena patética: “[...] o patético consiste numa ação que produz destruição ou sofri-mento, como mortes em cena, dores crucian-tes, ferimentos e ocorrências desse gênero”. É o momento da catarse.

A peça teatral Antígona conversa dire-tamente com os elementos apresentados por Aristóteles. Trata-se de uma tragédia que desperta o sentimento catártico e leva o espectador a dirigir um olhar mais atento às questões que pressionam a sociedade, como o papel da mulher grega da época, no caso estabelecendo um contraponto entre Antígona e sua Irmã Ismênia e a relação en-tre o poder e a sociedade.

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SEÇÃO CULTURAL

"Que é essa percepção de me estar vazio,de viver num vácuo de mim mesmo,perdido e só, viajor andando a esmo

pelos bosques da alma que aqui confio?

Vejo-me como a um duplo — e silencio;Assisto-me estranhado — e me ensimesmo;

O que me liga a mim, que plasmodesmoune a consciência em que me esvazio?

Termina em qual lugar horizonte?Quando se esgota meu próprio futuro?

Meu estranhamento jorra de que fonte?

Quem guarda a linha com que me costuro?Que me importa a mim singrar o Aquerontese o fim da existência é sempre obscuro?"

*Vitor Hugo Alves

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* Vitor Hugo Alves é um estudante de psicologia e leitor compulsivo que, nas horas vagas, tenta ordenar os sonhos dispersos em quaisquer linhas

que façam ou não algum sentido.