IBIRAPITANGA_Pau Brasil

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Fabrizzio Bonela Dal Piero

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Estimular o civismo e o patriotismo dos residentes no Brasil e no exterior. Objetivos 1º - Conhecer os elementos históricos nacionais para o desenvolvimento do civismo; 2º - Apresentar os objetivos presentes e futuros das Forças Armadas Brasileiras; 3º - Elaborar um plano de atuação junto a comunidades carentes, escolas e outras organizações; Âmbito Destinado à Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra de Pernambuco. Data da Revisão Revisado em 19 de julho de 1999 Informações Específicas Por que Ibirapitanga? O árduo trabalho de procurar um nome para o presente material começou a partir do momento que foi decidido explorar grande parte da história do nosso Brasil.

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Fabrizzio Bonela Dal Piero

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Índice

Disposições Preliminares

Finalidade 06 Objetivos 06 Âmbito 06 Data da Revisão 06 Informações Específicas 06 Dedicatória 07 Frase de abertura 08

Bandeiras Históricas Brasileiras Bandeira do Brasil - Gen Alberto Evilásio de Barros Gondim 09 Amor a Bandeira 10 Brasil Colônia 11 Brasil Império 17 Brasil República 22

Símbolos Nacionais Lei Nº. 5.700 27 As Primeiras Bandeiras 37

Hinos e Canções Hino da Independência 42 Hino da Proclamação da República 43 Hino da Bandeira Nacional 44 Hino a Caxias 45 Canção do Exército 46 Canção Fibra de Herói 47 Canção do Expedicionário 48 Canção Cisne Branco 49 Canção da Artilharia 50 Canção da Cavalaria 51 Canção da Engenharia 52 Canção da Infantaria 53 Canção da Intendência 54 Canção das Comunicações 55 Canção do Material Bélico 56 Oração do Guerreiro da Selva 57 Canção do Combatente de Montanha 58

Bandeira dos Estados Brasileiros Acre, Alagoas, Amapá 59 Amazonas, Bahia, Ceará 60 Espírito Santo, Distrito Federal, Goiás 61 Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul 62 Minas Gerais, Pará, Paraíba 63

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3 Paraná, Pernambuco, Piauí 64 Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul 65 Rondônia, Roraima, santa Catarina 66 São Paulo, Sergipe, Tocantins 67

Bandeiras de Portugal Principais Bandeiras Históricas de Portugal 68 Bandeira Nacional Portuguesa 73 Estandarte Nacional 74

Personalidades Célebres Mestre de Campo Antônio Dias Cardoso 76 Doutor Joaquim Pedro Salgado Filho 79 Luiz Barbalho Bezerra 80 Santos Dumont 81 Joaquim José da Silva Xavier 91 Marechal João Baptista Mascarenhas de Morais 92 Marechal Carlos Machado Bitencourt 93 Brigadeiro Sampaio 97 Almirante Tamandaré 101 General Médico João Severiano da Fonseca 104 Duque de Caxias 105 Eduardo Gomes 106 Aladarque Cândido dos Santos 110 Bartolomeu de Gusmão 111 Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon 113 Henrique Dias 115 André Vidal de Negreiros 116 Antônio Raposo Tavares 117 Cap. Pedro Teixeira 117 Matias de Albuquerque 118 Anésia Pinheiro Machado 120

Fortes e Fortalezas Forte do Mar 125 Forte São João da Bertioga 125 Forte de Copacabana 126 Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim 129 Fortaleza de São José da Ponta Grossa 134 Fortaleza de Santo Antônio 138 Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição 141 Forte de Santana 143

O Brasil nasce abençoado pela cruz e protegido pela espada Batalha dos Guararapes 145 Luta contra os espanhóis 149 Luta contra os caudilhos 153 Guerra do Paraguai 155 Batalha Naval do Riachuelo 159 Nobres Causas 164

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4 O Exército na República 164 Consolidação da República 165 A modernização do exército nos primórdios da república 166 Os Dezoitos do Forte 167

O Brasil na Segunda Guerra Mundial Brasil em Guerra 170 Em 19 de setembro de 1939 170 Navio Mineiro Carioca 173 Submarino Alemão Tipo IX C 174 Forças Navais Brasileiras 175 Pernas Navais Brasileiras na Segunda Guerra Mundial 176 A Tragédia do Cruzador Bahia 176 Perdas navais Brasileiras na Segunda Guerra Mundial em Números 178 Contra Torpedeiro Mariz e Barros - O Bruxo 181 A Guerra contra o Brasil 186 A Defesa do Nordeste Brasileiro 186 Declaração de Guerra 190 53 anos de heroísmo e tradição 192 História da Força Aérea Brasileira 194 22 de abril de 1945 195 Aviação de Patrulha 196 Alguns dos ataques realizados pela FAB em 1943 198 A FAB nas Operações do Atlântico Sul na Segunda Guerra Mundial 199 Baixas do 1º Grupo de Aviação de Caça 204 História da Aviação de Busca 207 A primeira Divisão Expedicionária da FEB em Números 208 O XV Grupo de Exércitos 209

Datas Importantes

Janeiro 211 Fevereiro 211 Março 211 Abril 212 Maio 212 Junho 213 Julho 214 Agosto 214 Setembro 214 Outubro 214 Novembro 215 Dezembro 215

Referências do Trabalho

Colaboradores 216 Bibliografia 217

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6 Finalidade Estimular o civismo e o patriotismo dos residentes no Brasil e no exterior.

Objetivos 1º - Conhecer os elementos históricos nacionais para o desenvolvimento do civismo; 2º - Apresentar os objetivos presentes e futuros das Forças Armadas Brasileiras; 3º - Elaborar um plano de atuação junto a comunidades carentes, escolas e outras organizações; Âmbito Destinado à Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra de Pernambuco.

Data da Revisão Revisado em 19 de julho de 1999

Informações Específicas Por que Ibirapitanga? O árduo trabalho de procurar um nome para o presente material começou a partir do momento que foi decidido explorar grande parte da história do nosso Brasil. Por isso acredito que o conteúdo de um trabalho deve estar diretamente ligado com o nome que vai encabeçá-lo. Daí nada melhor que ibirapitanga, que é a forma clara do pau-brasil que também é conhecida como pau vermelho ou ainda pau de Pernambuco. Sendo o pau-brasil a árvore mais célebre do Brasil e apresentando-se como um verdadeiro guerreiro, já que resistiu ao início da sua exploração em 1500, tendo sua primeira carga sido levada à Europa por Pinzón e ao monopólio estatal que durou até 1859, deve este ser o nosso título. Deve ser este nome o nosso maior símbolo nacional e deve ser o suporte para os demais.

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Este trabalho é dedicado aos brancos, mestiços, negros e amarelos que formam a população do nosso país e que

impulsionam hoje e sempre o nosso Brasil.

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Frase de abertura

O Povo que não possui tradição, ou que a possuindo não a cultua,

é a espada sem têmpera que quebra ao primeiro embate, ou nau, sem bússola, a deriva na tempestade,

que não sabe de onde nem para onde vai.

Major Cláudio Moreira Bento

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Bandeira do Brasil

Criada por decreto de 19 de novembro de 1889, a Bandeira Republicana, por amor e respeito às tradições gloriosas da Pátria Brasileira, conservou as cores e a forma da Bandeira Imperial, primeira do Brasil livre. Símbolo do nosso passado e esperança do nosso futuro, ela representa a união fraterna de todos os brasileiros que, em perfeita comunhão física e espiritual, empregam o máximo dos seus esforços para conquistar o verdadeiro objetivo de construir uma Nação honrada, respeitada e socialmente equilibrada. Em sua imponência, ela simboliza as riquezas naturais da nossa terra, o dinamismo do nosso povo e a unidade de costumes, língua e tradições deste gigante territorial.

Conduzidas nas lutas internas e externas, foi sempre a inspiração de feitos heróicos dos que nos antecederam e, ainda hoje, com respeito e emoção, vemos nossa Bandeira tremulando vitoriosa nas disputas esportivas, nas conquistas internacionais, nos edifícios públicos, nos quartéis, navios, aviões e na longínqua fronteira. Enfim, onde estiver pulsando um coração brasileiro lá estará, também, o nosso auri-verde pendão.

O seu lema “ORDEM E PROGRESSO” é a filosofia democrática de um povo que espera progredir em ordem, desenvolvendo-se dentro de um clima de segurança e paz social.

Respeitar, amar, cultuar e reverenciar a Bandeira Nacional é nossa obrigação; defendê-la, honrá-la e entregá-la altaneira aos que nos sucederem, é nosso dever.

E por cremos no futuro da nossa Pátria, enaltecemos a nossa Bandeira, repetindo com Olavo Bilac: “ Bendita sejas para todo o sempre, Bandeira do Brasil!”

Gen Alberto Evilásio de Barros Gondim Delegado da ADESG/PE

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Amor a Bandeira

A bandeira é símbolo de proteção, concedida ou implorada. O portador de uma bandeira ou de um estandarte ergue-o acima de sua cabeça. De certo modo, lança um apelo ao céu, cria um elo entro o alto e o baixo, o celeste e o terreno. Jeová é minha bandeira, diz o texto do êxodo (17, 15); o que significa: Deus é minha proteção. Entre os semitas, as bandeiras sempre tiveram um papel importante. No plano cristão, a bandeira simboliza a vitória do Cristo ressuscitado e glorioso. A bandeira é elevada, o homem a estende acima de sua cabeça, e assim o faz com a contemplação voltada para os bens celestes. Estar suspenso acima da terra é ser iniciado nos segredos divinos. A bandeira oferece proteção moral, física de quem ela é a insígnia e merece o respeito e jamais deve cair nas mãos do inimigo. Nossa história registra fatos, que bem esclarecem o amor do brasileiro à Bandeira Nacional do Brasil. Durante a Guerra do Paraguai, o 30º Corpo de Voluntários da Pátria, quando em Serviço de Segurança, foi surpreendido pelo inimigo, que conseguiu atravessar a "Linha de vigilância" infiltrando-se através de um pequeno banhado e protegido pela noite de cerração fechada. Despertado o batalhão pela cutilada traiçoeira dos paraguaios, desorientado pelo imprevisto do ataque, pelo sono e pela densa neblina que o cercava, mal pôde organizar a resistência. Após alguns instantes de luta o assaltante é rechaçado. No meio da confusão estabelecida, levanta-se gravemente ferido, um dos cabos de esquadra de que se compunha a guarda da bandeira e vendo morto o alferes com seus cinco companheiros a gemer e a sumir-se-lhe a voz na garganta, diz: Levaram nossa bandeira! Ouviu-se instantes depois doloroso grito do comandante Tenente-Coronel Apolônio Peres Campelo Jacome da Gama: - A morte de todos ou a bandeira, já! Um rugido horrífico seguiu-se a ordem recebida; e o 30º mais parecendo horda de selvagens do que força militar organizada, derramou-se nas trevas em completa debanda na direção do inimigo, transpôs o banhado e em poucos minutos alcançava-o. Estabeleceu-se um terrível assalto a arma branca, onde a contrabalançar a imensa gritaria inimiga os nossos heróicos soldados brandiam, em golpes mortais, as lâminas cintilantes dos sabres. Meia hora depois voltava pouco mais de metade do 30º, carregando seus feridos, armas e a bandeira que o inimigo lhe arrebatara. A alegria do comandante foi tamanha, que, levado por excesso de comoção caiu do cavalo, vítima de um ataque que tão sério foi, que nunca mais teve uso perfeito de suas faculdades mentais! Ele que dissera ao saber que a bandeira do batalhão fora presa do inimigo: - "Estou desonrado!" - não tivera forças para suportar o choque de sua vitoriosa reabilitação! A bandeira, desfraldada ás auras matutinas, pois que a manhã se aproximava, foi saudada com o hino nacional.

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Brasil - Colônia

Bandeira da Ordem Militar de Cristo Primeiro símbolo da história brasileira, a Cruz da Ordem Militar de Cristo estava pintada nas velas das 12 embarcações (uma perdeu-se no mar em 23/03/1500) chegadas em terras brasileiras no dia 22 de abril de 1500. E segundo o que consta na carta do escrivão da esquadra, Pero Vaz de Caminha, a bandeira com essa cruz estava presente no momento da partida e nas visitas em terras brasileiras: "Ali estava com o Capitão a bandeira de Cristo, com que saíra de Belém, a qual esteve sempre bem alta, da parte do Evangelho".

Bandeira de Ordem Militar de Cristo

Essa bandeira de Cristo, da qual fala Caminha era a Bandeira da Ordem Militar de Cristo, uma bandeira branca com uma cruz vermelha, aberta em branco. Podemos observar que o time de futebol, Vasco da Gama, tem como símbolo uma cruz conhecida como a Cruz de Malta, na realidade não é esse o seu nome e sim, Cruz da Ordem Militar de Cristo, sendo a Cruz de Malta, uma outra cruz.

Cruz de Malta Mas o que era uma ordem militar? Uma ordem militar era uma instituição militar e religiosa restrita aos nobres, que nela eram admitidos mediante sagração no grau de cavaleiros, para combater os hereges (muçulmanos), tornando-se verdadeiros monges-soldados. A Ordem Militar de Cristo era a sucessora portuguesa da Ordem dos Templários e foi criada pelo rei de Portugal, D. Diniz em 1319. A Ordem dos Templários foi fundada por Hugo de Payens em Jerusalém, durante as Cruzadas e sua sede era o Templo de Salomão e daí veio o nome: Cavaleiros do Templo ou Templários. Conseguindo enriquecer com rapidez, a ordem atraiu para si a oposição de muitos reis e dos devedores. Após prisões, mortes em fogueiras e julgamentos, o papa Clemente V dissolveu a ordem. D. Diniz, usando de diplomacia, solicitou ao papa a permanência da Ordem dos Templários em Portugal. Conseguindo a autorização, alterou o nome da ordem para Ordem Militar de Cristo. Como essa ordem foi a grande financiadora de várias expedições marítimas dos portugueses é natural que seu símbolo estivesse presente em várias expedições marítimas: Cabo Não, Gran Canária, Porto Santos, Açores, Bojador, Cabo Branco, Costa dos Negros, Cabo da Boa Esperança, Índia e nas embarcações que aqui chegaram.

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12 A importância da Cruz da Ordem de Cristo nas bandeiras históricas luso-brasileiras está relatada por Raimundo Olavo Coimbra, "A Cruz da Ordem de Cristo atravessará muitos séculos ainda, penetrará no Pavilhão Imperial do Brasil e será causa de muito debate no momento da criação de nossa Bandeira Republicana."

Bandeira Real Além da Bandeira da Ordem Militar de Cristo, as embarcações lusas usavam uma outra bandeira: a Bandeira Real. Embora fosse a bandeira oficial, essa bandeira cedia espaço para a da Ordem Militar de Cristo, sendo usada nas expedições no mar e nas embarcações. Essa bandeira foi criada durante o reinado de D. João II., o Príncipe Perfeito ( 1481 - 1495 ).

Bandeira Real Organizador da viagem ao Cabo da Boa Esperança, foi em seu reinado que foi assinado o Tratado de Tordesilhas com a Espanha, dividindo o mundo em dois hemisférios. Muito semelhante à Bandeira da Ordem Militar de Cristo, já que, era branca e com a cruz dessa ordem, apresentava o escudo real sobreposto a ela. Esse escudo, presença marcante nas bandeiras até nossa independência e na bandeira portuguesa na atualidade é vermelho com sete castelos amarelos e no centro um campo branco seguindo a forma do escudo, com cinco escudetes azuis em cruz. Nesses pequenos escudos azuis estão representados cinco besantes em branco. Essa composição de escudo, com castelos amarelos em campo vermelho e escudetes azuis com besantes em branco tem uma história relativamente longa e se deve a três reis portugueses: D. Afonso Henriques (1114-1185), Afonso III (1248-1279) e D. João II. Dos três elementos citados, o primeiro a ser criado foi os escudetes azuis com os besantes em branco. Criação do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, a primeira bandeira do Reino de Portugal era branca com cinco escudetes azuis colocados em cruz e dentro de cada escudete, cinco besantes em branco.

Bandeira do Condado Portucalense e Bandeira do Reino de Portugal

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13 Besante era o nome da moeda de Bizâncio (Constantinopla), de ouro ou prata, que se espalhou pela Europa durante as Cruzadas. Como os besantes estão representados em brancos, significa que, eles eram de prata. Escudetes, como o nome diz, são pequenos escudos. É interessante observar, que as cores dessa bandeira, branco e azul, e a colocação dos besantes em cruz seguiam a bandeira do pai de D. Afonso Henriques, D. Henrique de Borgonha, senhor do Condado Portucalense, pois, sua bandeira era branca com uma cruz azul. Raimundo Olavo, nos oferece uma explicação para esse fato: "... as cores do estandarte de D. Henrique foram conservadas pelo filho: o branco e o azul. Também foi deixada a cruz, se bem que sob outra forma. D. Afonso Henriques terá ponderado: não convém que represente a nação independente o símbolo que indicava um Condado submetido a Leão e Castela; por outro lado, é interessante conservar a cruz, insígnia do Cruzado - o que homenageava o pai, e ao mesmo tempo, seu espírito inventivo - ao criar novo símbolo para o novo presente da terra que libertara." Existem várias hipóteses sobre o número dos escudetes e besantes e o seu significado. Sobre o número de escudetes e besantes, é preciso reafirmar que, independente do número original de besantes e escudetes, a tradição acabou fixando em cinco escudetes azuis com cinco besantes em branco cada um dos escudetes. Raimundo Olavo, listou sete hipóteses: 1. Segundo o que conta a história, D. Afonso Henriques na batalha de Ourique foi visitado por Jesus, que ordenou-lhe criar os cinco escudetes que representariam as cinco chagas de Cristo e os besantes (contando duas vezes o do meio), os 30 dinheiros da traição de Judas. 2. Essa versão afirma o aparecimento de Jesus ao rei, mas os besantes em número de cinco seriam as chagas de Cristo e os escudetes representariam os cinco reis mouros vencidos na batalha de Ourique. 3. D. Afonso Henriques teria mostrado ao papa, as cinco cicatrizes em forma de cruz, como resultado da batalha de Ourique e o papa ordenou-lhe, que pusesse cinco chagas em cada escudete. 4. Como os besantes eram moedas, eles representariam o direito do rei de cunhar moedas. 5. Os besantes simbolizariam um imposto, que reconhecia a antiga dependência do Reino de Portugal à Castela. 6. Os besantes simbolizariam a vassalagem do rei de Portugal ao papa, com forma de impedir qualquer pretensão de Castela ou Leão. 7. Os escudetes teriam se originado do escudo do pai de Afonso Henriques, que após várias batalhas estaria desgastado, dando a impressão de estar dividido em várias partes. segundo elemento é composto dos castelos amarelos em campo vermelho. Esse elemento foi uma contribuição do rei Afonso III, o responsável pela conquista de Algarve, a última região dominada pelos mouros (muçulmanos) no reino português. Com essa vitória, o Reino de Portugal atingiu quase suas medidas atuais. Após a conquista, uma nova bandeira foi criada: a Bandeira do Reino de Portugal e Algarve. Constituída na parte central com os elementos da Bandeira de Afonso Henriques (cinco escudetes azuis em cruz com cinco besantes em branco em cada escudete), essa bandeira possuía uma modificação importante: ao redor, foi colocado uma orla vermelha com 12 castelos amarelos. Novamente são várias as versões que explicam o significado do vermelho e dos castelos amarelos:

Bandeira do Reino de Portugal e Bandeira do Reino de Portugal e Algarve

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1. O campo vermelho significa o sangue derramado pelos portugueses na conquista de Algarve e os castelos representam as fortalezas tomadas aos mouros. É a explicação mais popular. 2. Esses elementos faziam parte do escudo das armas de Algarve e foram incorporados na criação da bandeira. 3. Os elementos seriam símbolos do Reino de Castela e teriam sido incorporados à bandeira em uma homenagem de D. Afonso III à sua esposa, Beatriz, filha do rei Afonso X, de Castela. 4. Os castelos foram escolhidos para homenagear a mãe de D. Afonso III, nascida em Castela. Último elemento é o escudo. Criado por D. João II., esse rei assimilou as modificações adotadas por D. Afonso III, mas com algumas modificações: a bandeira branca com os escutes em azul e orla em vermelho com os castelos em amarelo foi transformada em um escudo, com isso, o número de castelos também foi modificado, agora eram sete e não mais 12 e os escudetes e besantes foram estabilizados no número de cinco. Com isso estava completado o escudo real.

Bandeira de D. João III

Após a morte de D. João II., assumiu o trono português o seu filho mais novo, D. Manuel, que governou Portugal até seu falecimento em 1521. Sucedendo seu pai, D. João III (1521-1577), se torna rei e durante seu reinado, introduz a Companhia de Jesus e o Tribunal da Inquisição em Portugal. No Brasil criou o sistema de Capitanias Hereditárias (1534) e o Governo-Geral (1549), além disso, criou uma nova bandeira: a Bandeira de D. João III.

Bandeira de D. João III

Essa bandeira tem semelhança com a anterior e possui algumas inovações: sobre as semelhanças, temos o campo branco e o escudo real presentes na bandeira anterior e sobre as inovações, temos a retirada da Cruz da Ordem de Cristo e a inclusão sobre o escudo real, de uma coroa real aberta.

Bandeira da Restauração

D. João III faleceu em 1577 e nenhum de seus filhos pôde assumir a coroa adotou-se a Bandeira da União Ibérica já que, nenhum havia sobrevivido. Para assumir o trono português foi escolhido seu neto, D. Sebastião, que faleceu em 1578, numa batalha contra os mouros no norte da África. Sucedendo-o veio seu primo, o cardeal D. Henrique, falecido rapidamente em 1579. Com a crise dinástica devido a falta de sucessores, assume o trono, após algumas lutas, o rei espanhol, D. Felipe II., tendo início a União Ibérica (1580-1640) durando 60 anos. Nesse período, Portugal passou a ter uma nova bandeira, a Bandeira da União Ibérica, enquanto suas colônias permaneciam com a mesma bandeira criada por D. João III, porém com uma modificação: a coroa real aberta foi substituída por uma fechada. É importante frisar que, ainda no período da União Ibérica, o nordeste brasileiro foi invadido pelos holandeses, sendo que, nessa região uma nova bandeira foi hasteada: a Bandeira do Brasil Holandês.

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Bandeira do Brasil Holandês Felipe II. foi sucedido por Felipe III e Felipe IV, ambos espanhóis, entretanto, após um revolta dos portugueses, a coroa foi restituída a um monarca português, D. João IV, primeiro rei da casa de Bragança. Juntamente com D. João IV foi criada uma nova bandeira: a Bandeira da Restauração. Essa bandeira mantinha o escudo real e o campo branco, mas agora orlado de azul. Essa orla em azul foi colocada para homenagear a padroeira de Portugal, Nossa Senhora da Conceição, pois, seu manto era azul.

Bandeira da Restauração

Bandeira do Principado do Brasil Durante o reinado de D. João IV, um de seus filhos, Teodósio, recebeu o título de "Príncipe do Brasil", sendo que a partir dessa data (1645), todos os herdeiros da coroa portuguesa passaram a usar esse título. Bandeira do Principado do Brasil Como exemplo similar, temos o caso britânico, onde o herdeiro da rainha recebe o título de "Príncipe de Gales". Desta forma, o Brasil foi elevado à categoria de Principado e ganhamos nossa primeira bandeira particular. Mesmo assim, não devemos ver essa bandeira como sendo a primeira bandeira de nossa nacionalidade, pois, não éramos uma nação soberana e muito menos essa bandeira simbolizava nossa nacionalidade, já que, a mesma só foi criada devido ao título recebido pelo filho do rei e não como representação de nossa nação. A Bandeira do Principado do Brasil tinha fundo branco com uma esfera armilar, encimada por um globo azul, com zona de ouro. Sobre o globo aparece a Cruz da Ordem de Cristo.

Bandeira Pessoal de D. Manuel I Analisando os elementos da bandeira, temos como principal, a esfera armilar, que apareceu pela primeira vez na Bandeira Pessoal do rei D. Manuel I. A esfera, é composta de dez círculos ou armilas, e era um dos instrumentos usados no aprendizado da arte da navegação. É interessante observar, que esse símbolo foi adotado por D. Manuel, antes dos descobrimentos realizados em seu reinado.

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Bandeira de D. Pedro II. Imperador

Bandeira de D. Pedro II. Regente D. João IV faleceu em 1656 e a coroa seria dada a seu filho, Afonso VI, que só assumiu o trono um ano após sua maioridade, em 1662. Em 1667, seu irmão, D. Pedro II. convenceu-o a abdicar a seu favor e passou a governar Portugal como Regente. Como símbolo de sua Regência, D. Pedro criou uma nova bandeira, chamada de Bandeira de D. Pedro II. Regente.

Bandeira de D. Pedro II. Imperador Até a morte de seu irmão em 1683, adotará essa bandeira como forma de distinção em relação à bandeira utilizada por seu irmão. Assumindo o trono real, D. Pedro II. adota uma nova bandeira: a Bandeira de D. Pedro II. Imperador. Essa bandeira possui o escudo real encimado pela coroa real fechada, mas com uma nova forma. Esses elementos foram colocados em um campo verde.

Bandeira do Reuno Unido de Portugal, Brasil e Algarve

Após a vinda da família real para o Brasil em 1808, o Brasil passou por várias transformações e entre elas, a elevação a Reino Unido. Criado em 1815, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve, só ganhou uma bandeira em 13 de maio de 1816. O trecho do dessa lei, criando a as armas desses três reinos foi reproduzido em sua principal parte no livro "A Bandeira do Brasil": "Dom João, por graça de Deus, Rei do Reino Unido de Portugal, e do Brasil, e Algarve, d'aquém e d'além-mar em África, Senhor de Guiné, e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia, e da Índia, etc. Faço saber aos que a presente Carta de Lei virem: Que tendo sido servido unir os meus Reinos de Portugal, Brasil e Algarve, para que juntos constituíssem, como efetivamente constituem um só e mesmo Reino: é regular e conseqüente o incorporar em um só Escudo Real das Armas de todos os três Reinos, assim da mesma forma, que o Senhor Rei Dom Afonso Terceiro, de gloriosa memória, unindo outrora o Reino do Algarve ao de Portugal, uniu também as suas Armas respectivas: e ocorrendo que para este efeito o meu Reino do Brasil ainda não tem Armas, que caracterizem a bem merecida preeminência a que me aprouve exaltá-lo, hei por bem, e me apraz ordenar o seguinte:

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Bandeira do Reino do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve

I. Que o Reino do Brasil tenha por Armas uma Esfera Armilar de Ouro em campo azul. II. Que o Escudo Real Português, inscrito na dita Esfera Armilar de Ouro em campo azul, com uma Coroa sobreposta, fique sendo de hoje em diante as Armas do Reino Unido de Portugal, e do Brasil e Algarve, e das mais Partes integrantes da minha Monarquia. III. Que estas novas Armas sejam por conseguinte as que uniformemente se hajam de empregar em todos os Estandartes, Bandeira, Selos Reais, e Cunho de Moedas, assim como em tudo mais, em que até agora se tenha feito uso das Armas precedentes". Assim sendo, estava criada a Bandeira do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve.

Bandeira do Regime Constitucional

Em 1815, Napoleão foi derrotado, porém, D. João e a corte portuguesa não regressaram à Portugal, como era de se esperar. Contudo, em 1820, os portugueses se revoltam e realizam a Revolução Constitucionalista do Porto e exigiram o retorno de D. João VI. Em 1821, o rei português retorna, não como um rei absolutista, mas como rei de uma monarquia constitucional. É nesse contexto, que as Cortes (parlamento português) criam uma nova bandeira em 21 de agosto: a Bandeira do Regime Constitucional.

Bandeira do Regime Constitucional

Última bandeira lusa a tremular em terras brasileiras, tinha seu campo dividido em azul e branco com os escudo e coroa reais sobrepostos a ele. A cor azul novamente aparece para relembrar a bandeira de D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal e também Nossa Senhora da Conceição, a padroeira do reino.

Brasil Império Bandeira Imperial A permanência de D. João VI no Brasil durou até 1821, quando o rei português voltou para seu país natal. A partir daí, os acontecimentos se desenrolaram até a proclamação de nossa independência política, em 7 de setembro de 1822. No dia 18, D. Pedro, assinou os três primeiros atos oficiais do Brasil independente, e entre eles, a definição da primeira bandeira nacional brasileira e do tope nacional. O decreto definindo a Bandeira do Reino do Brasil era o seguinte:

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Bandeira do Reino do Brasil

"Havendo o Reino do Brasil, de que sou Regente e Defensor Perpétuo, declarado a sua emancipação política, entrando a ocupar na grande família das nações o lugar que justamente lhe compete, como nação grande, livre e independente; sendo por isso indispensável que ele tenha um escudo real d'armas, que, não só se distinga dos de Portugal e Algarve até agora reunidos, mas que sejam características deste rico e vasto Continente; e desejando eu que se conservem as armas que a este Reino foram dadas pelo Senhor Rei D. João VI, meu Augusto Pai, na carta de lei de 13 de maio de 1816; e ao mesmo tempo rememorar o primeiro nome que lhe fora imposto no seu feliz descobrimento, e honrar as 19 províncias compreendidas entre os grandes rios que são os seus limites naturais e que formam a sua integridade que eu jurei sustentar; hei por bem e com o parecer do meu Conselho de Estado determinar o seguinte: será, dora em diante, o escudo de armas deste Reino do Brasil, com campo verde, uma esfera armilar de ouro, atravessada por uma cruz da Ordem de Cristo, sendo circulada a mesma esfera de 19 estrelas de prata em uma orla azul; e firmada a coroa real diamantina sobre o escudo, cujos lados serão abraçados por dois ramos de plantas de café e tabaco como emblemas de sua riqueza comercial, representados na sua própria cor, e ligados na parte inferior pelo laço da nação. A bandeira nacional será composta de um paralelogramo verde, e nele inscrito um quadrilátero romboidal cor de ouro, ficando no centro deste o Escudo das Armas do Brasil". Além da definição da bandeira nacional, um outro decreto definia o tope nacional: "O laço ou tope nacional brasileiro será composto das cores emblemáticas: verde de primavera e amarelo de ouro, no forma do modelo anexo a este Decreto. A flor verde no braço esquerdo, dentro dum ângulo de ouro, ficará sendo a divisa voluntária dos Patriotas do Brasil, que juraram o desempenho da legenda 'Independência ou Morte', lavrada no dito ângulo". Contudo, antes de completar três meses de vida, nossa primeira bandeira nacional sofreu sua primeira modificação, transformando-se na Bandeira Imperial do Brasil:

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Tope ou Laço Nacional

Havendo sido proclamada com a maior espontaneidade dos povos a Independência política do Brasil, e sua elevação à categoria de Império pela minha solene aclamação, sagração e coroação, como seu Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo: hei por bem ordenar que a Coroa Real que se acha sobreposta no escudo das armas estabelecido pelo meu imperial decreto de 18 de setembro do corrente ano, seja substituída pela Coroa Imperial, que lhe compete, a fim de corresponder ao grau sublime e glorioso em que se acha constituído este rico e vasto Continente".

Bandeira do Império do Brasil

A primeira bandeira nacional foi um desenho criado por Jean-Baptiste Debret, membro da Missão Artística Francesa, contratada por D. João VI, para pintar as belezas naturais e humanas do Brasil. Lendo o próprio decreto real de 18 de setembro, temos os elementos para essa descrição: "a bandeira nacional será composta de um paralelogramo verde, e nele inscrito um quadrilátero romboidal cor de ouro, ficando no centro deste o Escudo das Armas do Brasil".

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Escudo de Armas do Reino do Brasil Escudo de Armas do Império do Brasil Analisando a composição do paralelogramo com o losango, podemos ver, que ela desperta a atenção de qualquer observador, porém, essa estrutura não era original. Debret inspirou-se nas bandeiras de seu país natal, durante a Revolução Francesa e o período napoleônico.

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Bandeira do período Napoleônico

É importante notar que, o losango deve estar inscrito no quadrilátero verde, ou seja , os vértices do losango amarelo tocando os lados do quadrilátero verde. Na bandeira, ainda temos o Escudo das Armas do Brasil, assim definido pelo decreto: "será, dora em diante, o escudo de armas deste Reino do Brasil, com campo verde, uma esfera armilar de ouro, atravessada por uma cruz da Ordem de Cristo, sendo circulada a mesma esfera de 19 estrelas de prata em uma orla azul; e firmada a coroa real diamantina sobre o escudo, cujos lados serão abraçados por dois ramos de plantas de café e tabaco como emblemas de sua riqueza comercial, representados na sua própria cor, e ligados na parte inferior pelo laço da nação".

Nesse escudo já utilizado por outras bandeiras portuguesas, temos a mudança de sua cor: de vermelho para verde. Além disso, podemos observar a utilização de dois elementos já conhecidos: a Cruz da Ordem de Cristo e a Esfera Armilar. A cruz, presente desde nosso "descobrimento" e a esfera, presente como primeiro símbolo privativo do Brasil na Bandeira do Principado. Esses dois elementos foram circulados por uma "esfera de 19 estrelas de prata em uma orla azul". Essas estrelas representavam as províncias da recente nação independente. Entretanto, durante os anos do Segundo Império, a esfera ganhou mais uma estrela, chegando ao total de 20 estrelas. Sobre o escudo, temos inicialmente a Coroa Real, que como já foi dito, substituída pela Coroa Imperial. Completando a descrição da bandeira, vemos ao lado do escudo, "dois ramos de plantas de café e tabaco como emblemas de sua riqueza comercial, representados na sua própria cor, e ligados na parte inferior pelo laço da nação". E por que essas duas plantas? Eram produtos exclusivos do Brasil? Eram os mais produzidos em nossas terras? A explicação extrapola um pouco a compreensão mecânica das coisas. Primeiramente, nenhum deles era exclusividade brasileira. Segundo, o fumo e o café na época da independência e da criação da bandeira não representavam os mais importantes produtos agrícolas brasileiros, que eram o açúcar e o algodão, respectivamente com 30,1% e 20,6% das exportações brasileiras entre 1821 e1830, enquanto o café e o fumo atingiam, respectivamente, 18,4% e 2,5% de nossas exportações no mesmo período. Se esses produtos não eram exclusivos do Brasil e não eram os mais importantes, qual o motivo levou-os a serem colocados em nossa primeira bandeira nacional? O uso do ramo de fumo pode ser explicado, lembrando-se da importância de seu uso na troca pela força de trabalho africana, tão importante para o funcionamento da economia brasileira desse período. Já, o ramo de café, decorre do fato de nessa época, a produção de café iniciava sua fase ascendente, chegando no período de 1831 e 1840 a superar as exportações conjuntas de açúcar e algodão.

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22 O café nesse período foi responsável por 43,8% de nossas exportações, enquanto o açúcar e o algodão somados chegavam a 34,8%. Além disso, há de se considerar a influência dos cafeicultores do vale do rio Paraíba do Sul na corte de D. Pedro I, devido a proximidade de suas plantações com a capital, Rio de Janeiro. Com isso, achamos possível explicar os elementos que constituíram nossa primeira bandeira nacional. A Bandeira Imperial também foi alvo de críticas e mudanças. Dois projetos de reforma da bandeira foram apresentados: os projetos de Cândido Mendes e Pinto Guedes, Barão do Rio da Prata.

Bandeira projetada por Cândido Mendes O projeto de Cândido Mendes previa uma bandeira vermelha com o mesmo Escudo das Armas do Brasil, enquanto o projeto do Barão do Rio da Prata, desejava que a bandeira tivesse três listras azuis e duas vermelhas, alternando-se entre si. Bandeira projetada pelo Barão do Rio da Prata. Na primeira faixa azul, seis estrelas de prata, em dois grupos de três. A segunda faixa seria vermelha, com o desenho da coroa imperial.

Bandeira projetada pelo Barão do Rio da Prata

A terceira faixa seria azul, uma faixa contínua de sete estrelas de prata. A quarta faixa seria vermelha, com o escudo imperial. E por último, uma nova faixa azul, igual a primeira faixa.

Brasil República

Bandeira Provisória do Brasil República No dia 15 de novembro de 1889, a monarquia no Brasil chegava ao seu fim. Com um golpe militar, comandado pelo marechal Deodoro da Fonseca, o Brasil se tornava uma república. Em substituição a Bandeira Imperial foi hasteada no mesmo dia, na redação do jornal "A Cidade do Rio" e na Câmara Municipal, uma bandeira composta de 13 listras horizontais, sete verdes e seis amarelas; com um quadrado azul interrompendo as cinco primeiras faixas, com 21 estrelas de prata, divididas em quatro grupos e quatro estrelas e mais um grupo com cinco.

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Bandeira Provisória da República

Esta bandeira, adotada durante quatro dias, ficou conhecida como Bandeira Provisória da República e era uma variação da bandeira do Clube Republicano Lopes Trovão, pois essa bandeira, tinha um quadrado preto, com 20 estrelas de prata, agrupadas em quatro grupos de cincos estrelas cada um. É claro, que esta visível a semelhança com bandeira dos Estados Unidos, e por isso mesmo, no momento do planejamento da bandeira definitiva da república, a semelhança com essa bandeira foi rechaçada.

Bandeira republicana

Segundo afirma Raimundo Olavo Coimbra, vários foram os fatores que determinaram a mudança da Bandeira Imperial. Primeiramente, uma onda anti-imperial, na qual a mudança da bandeira se fazia necessária, já que, os republicanos não queriam associar seu projeto ao regime monárquico. Um segundo fator, foi a influência do positivismo, já que, a bandeira, foi um projeto de Teixeira Mendes, líder positivista no Brasil, e por isso, incluiu uma simplificação do lema positivista em nossa bandeira: Ordem e Progresso. E o terceiro fator foi a questão de fugir de imitação da bandeira norte-americana, já que, o novo nome de nosso país já era uma cópia: República dos Estados Unidos do Brasil. O projeto de nossa atual bandeira foi idealizado por Teixeira Mendes, com a colaboração de Miguel Lemos. O professor Manuel Pereira Reis foi o responsável pela organização das estrelas em nossa bandeira, e o desenho foi executado por Décio Villares. O projeto de Teixeira Mendes provocou desacordos. Benjamim Constant e Rui Barbosa apoiaram-no, já Quintino Bocaiúva era contrário a sua aprovação. Contudo, mesmo com as discordâncias, o projeto foi aprovado em 19 de novembro, através do Decreto N.º 4: "O Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil: Considerando que as cores da nossa antiga bandeira recordam as lutas e as vitórias gloriosas do exército e da armada na defesa da Pátria. Considerando, pois, que essas cores, independentemente da forma de governo, simbolizam a perpetuidade e integridade da Pátria entre as outras nações; Decreta:

Bandeira Nacional

Art. 1º - A bandeira adotada pela República mantém a tradição das antigas cores nacionais - verde e amarelo - do seguinte modo: um losango amarelo em campo verde, tendo no meio a esfera celeste azul, atravessada por uma zona branca, em sentido oblíquo e descendente da direita para a esquerda, com a legenda - Ordem e Progresso - e pontuada por vinte e uma estrelas, entre as quais as da constelação do CRUZEIRO,

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24 dispostas na sua situação astronômica, quanto a distância e ao tamanho relativos, representando os vinte Estados da República e o Município Neutro, tudo segundo o modelo debuxado no Anexo n.º 1. Art. 2º - As armas nacionais serão as que se figuram na estampa anexa, n.º 2.

Armas Nacionais

Art. 3º - Para os selos e sinetes da República, servirá de símbolo a esfera celeste, qual se debuxa no centro da bandeira, tendo em volta as palavras - República dos Estados Unidos do Brasil. Art. 4º - Ficam revogadas as disposições em contrário. - Sala das sessões do Governo Provisório, 19 de novembro de 1889, 1º da República." Esse decreto foi redigido por Rui Barbosa e foi assinado por: Marechal Manuel Deodoro da Fonseca, chefe do Governo Provisório, Quintino Bocaiúva, Aristides da Silveira Lobo, Rui Barbosa, M. Ferraz de Campos Sales, Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Eduardo Wandenkolk. No dia 24 de novembro de 1889 foi publicado no Diário Oficial, um documento de Teixeira Mendes explicando a criação da bandeira. Esse documento chamado "Apreciação Filosófica" serve de base para qualquer análise que se faça sobre nossa atual bandeira. Para facilitar a análise dos elementos de nossa bandeira, dividiremo-os em cinco partes: 1. Retângulo e losango: na "Apreciação Filosófica", Teixeira Mendes não faz uma grande explanação sobre o retângulo verde e o losango amarelo, pois, nesse documento ele deixa claro o motivo da permanência do retângulo e do losango: "...o símbolo nacional devia manter do antigo tudo o que pudesse ser conservado, de modo a despertar em nossa alma o mais ardente culto pela memória de nossos avós." A única alteração é que o losango não está inscrito no retângulo, ou seja, o losango não toca os lados do retângulo, como na Bandeira Imperial. 2. Esfera: "...tendo no meio a esfera celeste azul...", assim está redigida a parte decreto que, fala sobre uma das inovações da Bandeira Republicana, a esfera celeste azul, representando o céu. Segundo o próprio Teixeira Mendes, este símbolo "...lembra naturalmente a fase do Brasil-Colônia nas cores azul e branca que matizam a esfera, ao mesmo tempo que esta recorda o período do Brasil-Reino, por trazer à memória a esfera armilar. 3. Faixa: a esfera celeste azul, citada acima, é"... atravessada por uma zona branca, em sentido oblíquo e descendente da direita para a esquerda...", assim, com essa descrição podemos ver que a faixa dá ao círculo a perspectiva de um esfera. Essa zona branca é uma idealização da linha zodiacal. 4. Legenda: escrita na cor verde, a legenda de nossa bandeira, "Ordem e Progresso", é um resumo do lema de Augusto Comt, criador do Positivismo, do qual Teixeira Mendes era adepto. O lema em sua forma completa é, "o amor por princípio e a ordem por base; o progresso por fim". Assim, o próprio Teixeira Mendes, no diz o significado desse lema: "A nova divisa significa que essa revolução não aboliu

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25 simplesmente a monarquia, que ela aspira a fundar uma pátria de verdadeiros irmãos, dando à Ordem e ao Progresso todas as garantias que a história nos demonstra serem necessárias a sua permanente harmonia." 5. Estrelas: "Era preciso figurar um céu idealizado, isto é, compor uma imagem que em nossa mente evocasse o aspecto do nosso céu...", por isso, não devemos ver nessa bandeira o céu como ele realmente se apresenta. As 21 estrelas (atualmente são 27 estrelas) mostram os aspecto do céu do Rio de Janeiro nas primeiras horas da manhã do dia 15 de novembro de 1889 e representam os Estados e o Município Neutro do Brasil. Vale lembrar que as estrelas estão posicionadas com estivessem sendo vistas dos espaço, e não como se estivessem sendo vistas do planeta Terra. Além disso, as estrelas não estão representadas em suas respectivas grandezas. A bandeira idealizada por Teixeira Mendes despertou ódios e paixões. Vários foram os projetos de sua mudança que agora passamos a apresentar:

Bandeira proposta por Júlio Ribeiro e atualmente é a bandeira do estado de São Paulo

O primeiro projeto de criação de uma bandeira republicana foi apresentado em 16 de julho de 1888, no jornal republicano, "O Rebate", onde Júlio Ribeiro, filho de um norte-americano, criou uma bandeira inspirada no modelo dos Estados Unidos:

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26 13 listras horizontais, alternadamente, pretas e brancas, com as cinco primeiras sendo quebradas por um pequeno quadrado vermelho, onde se vê quatro estrelas brancas, com um círculo branco com um mapa do Brasil. Essa bandeira é a atual bandeira do Estado de São Paulo. Floriano Peixoto, ainda vice-presidente em 1892, propôs uma pequena modificação na Bandeira Imperial, a substituição da coroa imperial por uma estrela. Um outro projeto, de Silva Jardim propunha um modelo formado por três listras horizontais preto, vermelho e branco, simbolizando as três raças formadoras do povo brasileiro. Na listra vermelha, o escudo imperial, rodeado de cana e café, representando a cultura do Norte e a do Sul; no centro do escudo uma esfera armilar atravessada por uma âncora, simbolizando nosso comércio e força marítima; sobre o escudo, um barrete frígio, símbolo da república.

Bandeira proposta por Silva Jardim

Barão do Rio Branco propôs um outro projeto, em 1890; três listras em diagonal vermelho, branco e preto, simbolizando as raças formadoras do nosso povo. Na faixa branca, um escudo azul com 21 estrelas de prata na borda e com um sol nascente de ouro sobre ele. Dentro do escudo azul, um escudo menor na cor verde, com uma esfera armilar sobre a Cruz da Ordem de Cristo. Em volta do escudo os ramos de café e tabaco.

Bandeira proposta pelo Barão do Rio Branco Os projetos acima nunca foram apresentados ao Congresso Nacional, mas outros projetos foram apresentados. Em 1 de setembro de 1892, o deputado Oliveira Valadão apresentou o seguinte projeto: retângulo verde e losango amarelo, e ao centro, as estrelas, a faixa e o lema eram substituídos pelas as armas da república, com o azul celeste, sendo trocado pelo azul marinho. Em julho de 1905, o deputado Celso de Souza propôs um projeto onde o retângulo e o losango permaneciam, mas o céu, a faixa e o lema eram substituídos, pelo Cruzeiro do Sul, circunscrito por dois círculos concêntricos, dentro dos quais estariam as estrelas representando os estados, tudo em fundo azul. Em 1808, o maior crítico da Bandeira Republicana, Enrico de Goes, elaborou um projeto de mudança da bandeira, onde "sobre o retângulo verde e losango amarelo inscrito, assenta uma grande estrela de prata, de cinco pontas (simbolizando o Brasil-República), no centro da qual se vê um anel azul circulado por 21 estrelas de prata (indicando o Brasil-Império), e dentro deste, uma esfera armilar de ouro (presença do Brasil-Reino), sobreposta à cruz vermelha da Ordem de Cristo (recordação do Brasil-Colônia)."

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27 Em 1906, o senador Coelho Rodrigues apresentou um projeto onde o lema "Ordem e Progresso" seria substituído por "Lei e Liberdade". O deputado Wenceslau Escobar apresentou em 8 de junho de 1908, um novo projeto de alteração, com a supressão da faixa e do lema. Durante a Assembléia Constituinte de 1933, vários projetos foram apresentados propondo mudanças na bandeira, um deles foi de Solano Carneiro Cunha, que propunha um retângulo verde e losango amarelo inscrito, com o céu, a faixa e o lema sendo substituídos por uma orla estrelada, representando os estados, em volta do esfera azul e uma estrela no centro, simbolizando a capital do Brasil. Eurico de Goes, apresentou um novo projeto em 1933, sendo o seguinte: retângulo verde e losango amarelo; no centro a Cruz da Ordem de Cristo; dentro dela, a bola azul, com estrelas nas margens, circundando o Cruzeiro. Luís Sucupira foi o autor de um outro projeto, mantendo o retângulo verde e o losango amarelo, com uma "estrela branca de cinco raios, na qual se inscreve uma orla azul celeste, com tantas estrelas brancas quantos são os estados do Brasil, e, por fim, adaptadas, entre a orla, a esfera armilar de D. João VI e a cruz de Cristo." Apesar dos projetos, a Assembléia Constituinte confirmou em 31 de maio de 1934, a bandeira criada em 1889, sendo permitida, a inclusão de novas estrelas, caso aparecessem novos estados.

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Símbolos Nacionais: Bandeira, Hino, Armas e Selo Nacional LEI Nº. 5.700 - DE 1 DE SETEMBRO DE 1971 Apresentação modificada pelo autor do trabalho para melhor visualização - Lei na Íntegra. Dispõe sobre a forma e a apresentação dos Símbolos Nacionais, e dá outras providências O Presidente da República, Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO I Disposição Preliminar Art. 1º. São Símbolos Nacionais, e inalteráveis: I - a Bandeira Nacional; II. - o Hino Nacional; III - as Armas Nacionais; IV - o Selo Nacional. Modificações feitas pela lei Nº. 8.421 de 11 de Maio de 1992).

CAPÍTULO II Da Forma dos Símbolos Nacionais SEÇÃO I Dos Símbolos em Geral Art. 2

º. Consideram-se padrões dos Símbolos Nacionais os modelos compostos de conformidade com

as especificações e regras básicas estabelecidas na presente Lei. SEÇÃO II Da Bandeira Nacional Art. 3

º. A Bandeira Nacional, adotada pelo decreto nº. 4, de 19 de novembro de 1889, com as

modificações feita da Lei nº. 5.443, de 28 de maio de 1968 (Anexo nº. 1) fica alterada na forma do Anexo I desta lei, devendo ser atualizada sempre que ocorrer a criação ou a extinção de Estados. (Refere-se à lei Nº. 8.421 de 11 de Maio de 1992). Parágrafo Primeiro - As constelações que figuram na Bandeira Nacional correspondem ao aspecto do céu, na cidade do Rio de Janeiro, às 8 horas e 30 minutos do dia 15 de novembro de 1889 (doze horas siderais) e devem ser consideradas como vistas por um observador situado fora da esfera celeste. (Modificação feita pela lei Nº. 8.421 de 11 de Maio de 1992). Parágrafo Segundo - Os novos Estados da Federação serão representados por estrelas que compõe o aspecto celeste referido no parágrafo anterior, de modo a permitir-lhes a inclusão no círculo azul da Bandeira Nacional sem afetar a disposição estética original constante do desenho proposto pelo Decreto nº. 4, de 19 de novembro de 1889. (Modificação feita pela lei Nº. 8.421 de 11 de Maio de 1992). Parágrafo Terceiro - Serão suprimidas da Bandeira Nacional as estrelas correspondentes aos Estados extintos, permanecendo a designada para representar o novo Estado, resultante de fusão, observado, em qualquer caso, o disposto na parte final do parágrafo anterior. Art. 4

º. A Bandeira Nacional em tecido, para as repartições públicas em geral, federais, estaduais, e

municipais, para quartéis e escolas públicas e particulares, será executada em um dos seguintes tipos: tipo 1, com um pano de 45 centímetros de largura; tipo 2, com dois panos de largura; tipo 3, três panos de largura; tipo 4, quatro panos de largura; tipo 5, cinco panos de largura; tipo 6, seis panos de largura; tipo 7, sete panos de largura. Parágrafo único. Os tipos enumerados neste artigo são os normais. Poderão ser fabricados tipos extraordinários de dimensões maiores, menores ou intermediárias, conforme as condições de uso, mantidas, entretanto, as devidas proporções.

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Relações entre as estrelas e os estados da Federação

Acre Amapá Amazonas Pará Maranhão Piauí Ceará Rio Grande do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo Paraná Santa Catarina Rio Grande do Sul Minas Gerais Goiás Mato Grosso Mato Grosso do Sul Rondônia Roraima Tocantins Brasília (DF)

Gama da Hidra Fêmea Beta do Cão Maior Procyon (Alfa do Cão Menor) Spica (Alfa da Virgem) Beta do Escorpião Antares (Alfa do Escorpião) Epsilon do Escorpião Lambda do Escorpião Capa do Escorpião Mu do Escorpião Teta do Escorpião Iotá do Escorpião Gama do Cruzeiro do Sul Epsilon do Cruzeiro do Sul Beta do Cruzeiro do Sul Alfa do Cruzeiro do Sul Gama do Triângulo Austral Beta do Triângulo Austral Alfa do Triângulo Austral Delta do Cruzeiro do Sul Canopus (Alfa de Argus) Sirius (Alfa do Cão Maior) Alfard (Alfa da Hidra Fêmea) Gama do Cão Maior Delta do Cão Maior Epsilon do Cão Maior Sigma do Oitante

Art. 5

º. A feitura da Bandeira Nacional obedecerá às seguintes regras (Anexo n. 2):

I - Para cálculo das dimensões, tomar-se-á por base a largura desejada, dividindo-se esta em 14 (quatorze) partes iguais. Cada uma das partes será considerada uma medida ou módulo.

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30 II. - O comprimento será de vinte módulos (20M). III - A distância dos vértices do losango amarelo ao quadro externo será de um módulo e sete décimos (1,7M). IV - O círculo azul no meio do losango amarelo terá o raio de três módulos e meio (3,5M). V - O centro dos arcos da faixa branca estará dois módulos (2M) à esquerda do ponto do encontro do prolongamento do diâmetro vertical do círculo com a base do quadro externo (ponto C indicado no Anexo n. 2). VI - O raio do arco inferior da faixa branca será de oito módulos (8M); o raio do arco superior da faixa branca será de oito módulos e meio (8,5M). VII - A largura da faixa branca será de meio módulo (0,5M). VII - As letras da legenda Ordem e Progresso. serão escritas em cor verde. Serão colocadas no meio da faixa branca, ficando, para cima e para baixo, um espaço igual em branco. A letra P ficará sobre o diâmetro vertical do circulo. A distribuição das demais letras far-se-á conforme a indicação do Anexo nº. 2. As letras da palavra Ordem e da palavra Progresso terão um terço de módulo (0.33M) de altura. A largura dessas letras será de três décimos de módulo (0.30M). A largura dessa letra será de um quarto de módulo (0.25M). IX - As estrelas serão de 5 (cinco) dimensões: de primeira, segunda, terceira, quarta e quinta grandezas. Devem ser traçadas dentro de círculos cujos diâmetros são de três décimos de módulo (0,30M) para as de primeira grandeza; de um quarto de módulo (0,25M) para as de segunda grandeza; de um quinto de módulo (0,20M) para as de terceira grandeza; de um sétimo de módulo (0,14M) para as de quarta grandeza; e de um décimo de módulo (0,10M) para a de quinta grandeza. X - As duas faces devem ser exatamente iguais, com a faixa branca inclinada da esquerda para a direita (do observador que olha a faixa de frente), sen do vedado fazer uma face como avesso da outra.

Bandeira Nacional

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31 SEÇÃO III Do Hino Nacional Letra do Hino Nacional de Francisco Manuel da Silva/Joaquim Osório Duque Estrada Ouviram do Ipiranga às margens plácidas De um povo heróico o brado retumbante, E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, Brilhou no céu da Pátria nesse instante. Se o penhor dessa igualdade Conseguimos conquistar com o braço forte, Em teu seio, ó liberdade, Desafia o nosso peito a própria morte ! Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve ! Salve ! Brasil, um sonho intenso, um raio vívido De amor e de esperança à terra desce, Se em teu formoso céu, risonho e límpido, A imagem do Cruzeiro resplandece. Gigante pela própria natureza, És belo, és forte, impávido colosso, E o teu futuro espelha essa grandeza ! Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada ! Dos filhos deste solo és mãe gentil Pátria amada, Brasil ! Deitado eternamente em berço esplêndido, Ao som do mar e à luz do céu profundo, Fulguras, ó Brasil, florão da América, Iluminado ao sol do Novo Mundo ! Do que a terra mais garrida Teus risonhos, lindos campos "tem mais flores"; "Nossos bosques tem mais vida", "Nossa vida" no teu seio "mais amores". Ó Pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve! Brasil, de amor eterno seja símbolo O lábaro que ostentas estrelado, E diga o verde-louro desta flâmula - Paz no futuro e glória no passado. Mas, se ergues da justiça a clava forte, Verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte. Terra adorada, Entre outras mil, És tu, Brasil, Ó Pátria amada ! Dos filhos deste solo és mãe gentil, Pátria amada, Brasil ! Art. 6

º. O Hino Nacional é composto da música de Francisco Manoel da Silva e do poema de Joaquim

Osório Duque Estrada, de acordo com o que dispõem os Decretos nº. 171, de 20 de janeiro de 1890, e nº. 15.671, de 6 de setembro de 1922, conforme consta dos Anexos nº s. 3, 4, 5, 6 e 7. Parágrafo único. A marcha batida, de autoria do mestre de música Antão Fernandes, integrará as instrumentações de orquestra e banda, nos casos de execução do Hino Nacional, mencionados no inciso I do artigo 25 desta Lei, devendo ser mantida e adotada a adaptação vocal, em fá maior, do maestro Alberto Nepomuceno.

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32 SEÇÃO IV Das Armas Nacionais

Art. 7º. As Armas Nacionais são as instituídas pelo Decreto nº. 4, de 14 de novembro de 1889 com a alteração feita pela Lei nº. 5.443, de 28 de maio de 1968 (Anexo nº. 8). Art. 8º. A feitura das Armas Nacionais deve obedecer à proporção de 15 (quinze) de altura por 14 (quatorze) de largura e atender às seguintes disposições: I - o escudo redondo será constituído em campo azul-celeste, contendo cinco estrelas de prata, dispostas na forma da constelação do Cruzeiro do Sul, com a bordadura do campo perfilada de ouro, carregada de estrelas de prata em número igual ao das estrelas existentes na Bandeira Nacional. (Modificação feita pela lei Nº. 8.421 de 11 de Maio de 1992). II - O escudo ficará pousado numa estrela partida-gironada. de 10 (dez) peças de sinopla e ouro, bordada de 2 (duas) tiras, a interior de goles e a exterior de ouro. III - O todo brocante sobre uma espada, em pala, empunhada de ouro, guardas de blau, salvo a parte do centro, que é de goles e contendo uma estrela de prata figurará sobre uma coroa formada de um ramo de café frutificado, à destra, e de outro de fumo florido, à sinistra, ambos da própria cor, atados de blau, ficando o conjunto sobre um resplendor de ouro, cujos contornos formam uma estrela de 20 (vinte) pontas. IV - Em listel de blau, brocante sobre os punhos da espada, inscrever-se-á, em ouro, a legenda República Federativa do Brasil, no centro, e ainda as expressões "15 de novembro", na extremidade destra. e as expressões "de 1899", na sinistra. SEÇÃO V Do Selo Nacional

Art. 9º. O Selo Nacional será constituído, de conformidade com o Anexo nº. 9, por um círculo representando uma esfera celeste, igual ao que se acha no centro da Bandeira Nacional, tendo em volta as palavras República Federativa do Brasil. Para a feitura do Selo Nacional observar-se-á o seguinte: I - Desenham-se 2 (duas) circunferências concêntricas, havendo entre os seus raios a proporção de 3 (três) para 4 (quatro).

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33 II - A colocação das estrelas, da faixa e da legenda Ordem e Progresso no círculo interior obedecerá às mesmas regras estabelecidas para a feitura da Bandeira Nacional. III - As letras das palavras República Federativa do Brasil terão de altura um sexto do ralo do círculo interior, e, de largura, um sétimo do mesmo raio.

CAPÍTULO III

Da Apresentação dos Símbolos Nacionais SEÇÃO I Da Bandeira Nacional Art. 10

º. A Bandeira Nacional pode ser usada em todas as manifestações do sentimento patriótico dos

brasileiros, de caráter oficial ou particular. Art. 11

º. A Bandeira Nacional pode ser apresentada:

I - Hasteada em mastro ou adriças, nos edifícios públicos ou particulares, templos, campos de esporte, escritórios, salas de aula auditórios, embarcações, ruas e praças, e em qualquer lugar em que lhe seja assegurado o devido respeito. II - Distendida e sem mastro, conduzida por aeronaves ou balões, aplicada sobre a parede ou presa a um cabo horizontal ligando edifícios, árvores, postes ou mastros. III - Reproduzida sobre paredes, tetos, vidraças, veículos e aeronaves. IV - Compondo, com outras bandeiras, panóplias, escudos ou peças semelhantes. V - Conduzida em formaturas, desfiles, ou mesmo individualmente. VI - Distendida sobre ataúdes, até a ocasião do sepultamento. Art. 12

o. A Bandeira Nacional estará permanentemente no topo de um mastro especial plantado na

Praça dos Três Poderes de Brasília, no Distrito Federal, como símbolo perene da Pátria e sob a guarda do povo brasileiro. Parágrafo Primeiro - A substituição dessa Bandeira será feita com Solenidades especiais no primeiro domingo de cada mês, devendo o novo exemplar atingir o topo do mastro antes que o exemplar substituído comece a ser arriado. Parágrafo Segundo - Na base do mastro especial estarão inscritos exclusivamente os seguintes dizeres: "Sob a guarda do povo brasileiro, nesta Praça dos Três Poderes, a Bandeira sempre no alto - visão permanente da Pátria". Art 13

º. Hasteia-se diariamente a Bandeira Nacional;

I - No Palácio da Presidência da República e na residência do Presidente da República. II - Nos edifícios-sede dos Ministérios. III - Nas Casas do Congresso Nacional. IV - No Supremo Tribunal Federal, nos Tribunais Superiores e nos Tribunais Federais de Recursos. V - Nos edifícios-sede dos poderes executivo, legislativo e judiciário dos Estados, Territórios e Distrito Federal. VI - Nas Prefeituras e Câmaras Municipais. VII - Nas repartições federais, estaduais e municipais situadas na faixa de fronteira.

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34 VIII - Nas Missões Diplomáticas, Delegações junto a Organismos Internacionais e Repartições Consulares de carreira, respeitados os usos locais dos países em que tiverem sede. IX - Nas unidades da Marinha Mercante, de acordo com as Leis e Regulamentos da navegação, polícia naval e praxes internacionais. Art. 14

º. Hasteia-se, obrigatoriamente, a Bandeira Nacional, nos dias de festa ou de luto nacional. em

todas as repartições públicas, nos estabelecimentos de ensino e sindicatos. Parágrafo único. Nas escolas Públicas ou particulares, é obrigatório o hasteamento solene da Bandeira Nacional, durante o ano letivo, pelo menos uma vez por semana. Art. 15

º. A Bandeira Nacional pode ser hasteada e arriada a qualquer hora do dia ou da noite.

Parágrafo Primeiro - Normalmente faz-se o hasteamento às 8 horas e o arriamento às 18 horas. Parágrafo Segundo - No dia 19 de novembro, Dia da Bandeira, o hasteamento é realizado às 12 horas, com solenidades especiais. Parágrafo Terceiro - Durante a noite a Bandeira deve estar devidamente iluminada. Art. 16

º. Quando várias bandeiras são hasteadas ou arriadas simultaneamente, a Bandeira Nacional é

a primeira a atingir o tope e a última a dele descer. Art. 17

º. Quando em funeral, a Bandeira fica a meio-mastro ou a meia-adriça. Nesse caso, no

hasteamento ou arriamento, deve ser levada inicialmente até o tope. Parágrafo único. Quando conduzida em marcha. indica-se o luto por um laço de crepe atado junto à lança. Art. 18

º. Hasteia-se a Bandeira Nacional em funeral nas seguintes situações, desde que não coincidam

com os dias de festa nacional: I - Em todo o País, quando o Presidente da República, decretar luto oficial. II - Nos edifícios-sede dos poderes legislativos federal, estaduais ou municipais, quando determinado pelos respectivos presidentes. por motivo de falecimento de um de seus membros. III - No Supremo Tribunal Federal, nos Tribunais Superiores, nos Tribunais Federais de Recursos e nos Tribunais de Justiça estaduais, quando determinado pelos respectivos presidentes, pelo falecimento de um de seus ministros ou desembargadores. IV - Nos edifícios-sede dos Governos dos Estados, Territórios, Distrito Federal e Municípios, por motivo do falecimento do Governador ou Prefeito, quando determinado luto oficial pela autoridade que o substituir. V - Nas sedes de Missões Diplomáticas, segundo as normas e uso do país em que estão situadas. Art. 19

º. A. Bandeira Nacional, em todas as apresentações no território nacional, ocupa lugar de

honra, compreendido como uma posição: I - Central ou a mais próxima do centro e à direita deste, quando com outras bandeiras, pavilhões ou estandartes, em linha de mastros, panóplias, escudos ou peças semelhantes. II - Destacada à frente de outras bandeiras, quando conduzida em formaturas ou desfiles. III - À direita de tribunas, púlpitos, mesas de reunião ou de trabalho. Parágrafo único. Considera-se direita de um dispositivo de bandeiras a direita de uma pessoa colocada junto a ele e voltada para a rua, para a platéia ou, de modo geral, para o público que observa o dispositivo. Art. 20º. A Bandeira Nacional, quando não estiver em uso, deve ser guardada em local digno.

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35 Art. 21

º. Nas repartições públicas e organizações militares, quando a Bandeira é hasteada em mastro

colocado no solo, sua largura não deve ser maior que 1/5 (um quinto) nem menor que 1/7 (um sétimo) da altura do respectivo mastro. Art. 22

º. Quando distendida e sem mastro, coloca-se a Bandeira de modo que o lado maior fique na

horizontal e a estrela isolada em cima, não podendo ser ocultada, mesmo parcialmente, por pessoas sentadas em suas imediações. Art. 23

º. A Bandeira Nacional nunca se abate em continência.

SEÇÃO II Do Hino Nacional Art. 24

º. A execução do Hino Nacional obedecerá às seguintes prescrições:

I - Será sempre executado em andamento metrônomo de uma semínima igual a 120 (cento e vinte). II - É obrigatória a tonalidade de si bemol para a execução instrumental simples. III - Far-se-á o canto sempre em uníssono. IV - Nos casos de simples execução instrumental, tocar-se-á a música integralmente, mas sem repetição; nos casos de execução vocal, serão sempre cantadas as duas partes do poema. V - Nas continências ao Presidente da República, para fins exclusivos do Cerimonial Militar, serão executados apenas a introdução e os acordes finais, conforme a regulamentação específica. Art. 25

º. Será o Hino Nacional executado:

I - Em continência à Bandeira Nacional e ao Presidente da República, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, quando incorporados; e nos demais casos expressamente determinados pelos regulamentos de continência ou cerimônias de cortesia internacional. II - Na ocasião do hasteamento da Bandeira Nacional previsto no parágrafo único do artigo 14. Parágrafo Primeiro - A execução será instrumental ou vocal de acordo com o cerimonial previsto em cada caso. Parágrafo Segundo - É vedada a execução do Hino Nacional em continência, fora dos casos previstos no presente artigo. Parágrafo Terceiro - Será facultativa a execução do Hino Nacional na abertura de sessões cívicas, nas cerimônias religiosas a que se associe sentido patriótico, no início ou no encerramento das transmissões diárias das emissoras de rádio e televisão, bem assim para exprimir regozijo público em ocasiões festivas. Parágrafo Quarto - Nas cerimônias em que se tenha de executar um Hino Nacional Estrangeiro, este deve, por cortesia, preceder o Hino Nacional Brasileiro. SEÇÃO III Das Armas Nacionais Art. 26

º. É obrigatório o uso das Armas Nacionais:

I - No Palácio da Presidência da República e na residência do Presidente da República. II - Nos edifícios-sede dos Ministérios. III - Nas Casas do Congresso Nacional. IV - No Supremo Tribunal Federal, nos Tribunais Superiores e nos Tribunais Federais de Recursos.

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36 V - Nos edifícios-sede dos poderes executivo, legislativo e judiciário dos Estados, Territórios e Distrito Federal. VI - Nas Prefeituras e Câmaras Municipais. VII - Na frontaria dos edifícios das repartições públicas federais. VIII -- Nos quartéis das forças federais de terra, mar e ar e das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, nos seus armamentos, bem como nas fortalezas e nos navios de guerra. (Modificação feita pela lei Nº. 8.421 de 11 de Maio de 1992). IX - Na frontaria, ou no salão principal das escolas públicas. X - Nos papéis de expediente, nos convites e nas publicações oficiais de nível federal. SEÇÃO IV Do Selo Nacional Art. 27

º. O Selo Nacional será usado para autenticar os atos de governo e bem assim os diplomas e

certificados expedidos pelos estabelecimentos de ensino oficiais ou reconhecidos.

CAPÍTULO IV

Das Cores Nacionais Art. 28

º. Considera-se cores nacionais o verde e o amarelo.

Art. 29

º. As cores nacionais podem ser usadas sem quaisquer restrições, inclusive associadas a azul

e branco.

CAPÍTULO V

Do Respeito Devido à Bandeira Nacional e ao Hino Nacional Art. 30

º. Nas cerimônias de hasteamento ou arriamento, nas ocasiões em que a Bandeira se

apresentar em marcha ou cortejo, assim como durante a execução do Hino Nacional, todos devem tomar atitude de respeito, de pé e em silêncio, os civis do sexo masculino com a cabeça descoberta e os militares em continência, segundo os regulamentos das respectivas corporações. Parágrafo único. É vedada qualquer outra forma de saudação. Art. 31

º. São consideradas manifestações de desrespeito à Bandeira Nacional, e portanto proibidas:

I - Apresentá-la em mau estado de conservação. II - Mudar-lhe a forma, as cores, as proporções, o dístico ou acrescentar-lhe outras inscrições. III - Usá-la como roupagem, reposteiro, pano de boca, guarnição de mesa, revestimento de tribuna, ou como cobertura de placas, retratos, painéis ou monumentos a inaugurar. IV - Reproduzi-la em rótulos ou invólucros de produtos expostos à venda. Art. 32

º. As Bandeiras em mau estado de conservação devem ser entregues a qualquer Unidade

Militar, para que sejam incineradas no Dia da Bandeira, segundo o cerimonial peculiar. Art. 33

º. Nenhuma bandeira de outra nação pode ser usada no País sem que esteja ao seu lado direito,

de igual tamanho e em posição de realce, a Bandeira Nacional, salvo nas sedes das representações diplomáticas ou consulares. Art. 34

º. É vedada a execução de qualquer arranjos vocais do Hino Nacional, a não ser o de Alberto

Nepomuceno; igualmente não será permitida a execução de arranjos artísticos instrumentais do Hino Nacional que não sejam autorizados pelo Presidente da República, ouvido o Ministério da Educação e Cultura.

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37

CAPÍTULO VI Das Penalidades Art. 35

º. A violação de qualquer disposição da presente lei, excluídos os casos previstos no artigo 44

do Decreto-Lei nº. 808, de 29 de setembro de 1969, sujeita o infrator à multa de 1 (uma) a 4 (quatro) vezes o maior salário mínimo em vigor, elevada ao dobro nos casos de reincidência. Art. 36

º. A autoridade policial que tomar conhecimento da infração de que trata o artigo anterior,

notificará o autor para apresentar defesa no prazo de 72 (setenta e duas) horas, findo o qual proferirá a sua decisão, impondo ou não a multa. Parágrafo Primeiro - A autoridade policial, antes de proferida a decisão, poderá determinar a realização, dentro do prazo de 10 (dez) dias, de diligências esclarecedoras, se julgar necessário ou se a parte o requerer. Parágrafo Segundo - Imposta a multa, e uma vez homologada a sua imposição pelo juiz, que poderá proceder a uma instrução sumária, no prazo de 10 (dez) dias, far-se-á a respectiva cobrança, ou a conversão em pena de detenção, na forma da lei penal.

CAPÍTULO VII Disposições Gerais Art. 37

º. Haverá nos Quartéis-Generais das Forças Armadas, na Casa da Moeda, na Escola Nacional

de Música, nas embaixadas, delegações e consulados do Brasil, nos museus históricos oficiais, nos comandos de unidades de terra, mar e ar, capitanias de portos e alfândegas, e nas prefeituras municipais, uma coleção de exemplares-padrão dos Símbolos Nacionais, a fim de servirem de modelos obrigatórios para a respectiva feitura, constituindo o instrumento de confronto para a aprovação dos exemplares destinados à apresentação, procedam ou não da iniciativa particular. Art. 38

º. Os exemplares da Bandeira Nacional e das Armas Nacionais não podem ser postos à venda,

nem distribuídos gratuitamente sem que tragam na tralha do primeiro e no reverso do segundo a marca e o endereço do fabricante ou editor, bem como a data de sua feitura. Art. 39

º. É obrigatório o ensino do desenho e do significado da Bandeira Nacional, bem como do canto

e da interpretação da letra do Hino Nacional em todos os estabelecimentos de ensino, públicos ou particulares, dos primeiro e segundo graus. Art. 40

º. Ninguém poderá ser admitido no serviço público sem que demonstre conhecimento do Hino

Nacional. Art. 41

º. O Ministério da Educação e Cultura fará a edição oficial definitiva de todas as partituras do

Hino Nacional e bem assim promoverá a gravação em discos de sua execução instrumental e vocal, bem como de sua letra declamada. Art. 42

º. Incumbe ainda ao Ministério da Educação e Cultura organizar concursos entre autores

nacionais para a redução das partituras de orquestras do Hino Nacional para orquestras restritas. Art. 43o. O Poder Executivo regulará os pormenores de cerimonial referentes aos Símbolos Nacionais. Art. 44

º. O uso da Bandeira Nacional nas Forças Armadas obedece as normas dos respectivos

regulamentos, no que não colidir com a presente Lei. Art. 45

º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação, ficando revogadas a de nº. 5.389, de 22 de

fevereiro de 1968, a de nº. 5.443, de 28 de maio de 1968 e demais disposições em contrário.

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38

As Primeiras Bandeiras

Propostas para o Brasil República, baseadas na primeira Bandeira

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Inconfidência Mineira

Adotada em 1792 - Abolida em 1792

Revolução Pernambucana Usada em 1817 pela revolução.

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Revolução de 1823

Formador do Estado de Guanabara

República do Rio Grande do Sul Adotado: 20 Setembro 1835.

Abolido: 1845.

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República do Acre Adotado: 6 Agosto 1902 .

Abolida em 25 de fevereiro de 1904 e regulamentada em 7 de abril de 1905

BAHIA 1798 Adotado: 1798

Abolido: ?

Distrito Federal, Primeira Bandeira Adotada: 1966

Abolida: 1969

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42

Pará, Primeira Bandeira Adotada: 1890

Abolida: ?

Formador do Território do Rio Branco Adotada: ? Abolida: ?

Primeira bandeira do estado de São Paulo Adotada: 16 Julho 1888 .

Abolida: ?

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(Bandeira Real do séc. XVII Bandeira de 1616-1640 Bandeira das Quinas (no séc. XVIII sem a corrente) Domínio Espanhol

Hinos e Canções

Hino da Independência Musica: D. Pedro I (1798-1834) Versos: Evaristo da Veiga (1799-1837)

Já podeis da Pátria filhos Ver contente a mãe gentil, Já raiou a liberdade, No horizonte do Brasil

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44 Brava gente, brasileira, Longe vá temor servil, Ou ficar a Pátria livre, Ou morrer pelo Brasil Os grilhões que nos forjava, Da perfídia astuto ardil, Houve mão mais poderosa Zombou deles o Brasil Brava gente, ... Não temais ímpias falanges Que apresentam face hostil Vossos peitos, vossos braços, São muralhas do Brasil Brava gente, ... Parabéns, ó Brasileiros! Já com garbo juvenil, Do universo entre as nações Resplandece a do Brasil Brava gente, ...

Hino da Proclamação da República Musica: Leopoldo Miguez (1850-1902) Versos: Medeiros e Albuquerque (1867-1934) Seja um pálio de luz desdobrado, Sob a larga amplidão destes céus Este canto rebel que o passado Vem remir dos mais torpes labéus. Seja um hino de glória que fale, De esperança de um novo porvir,

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45 Com visões de triunfos embale Quem por ele lutando surgir. Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós Das lutas, na tempestade Dá que ouçamos tua voz. Nós nem cremos que escravos outrora, Tenha havido em tão nobre país Hoje o rubro lampejo da aurora, Acha irmãos, não tiranos hostis. Somos todos iguais, ao futuro Saberemos unidos levar, Nosso augusto estandarte, que puro, Brilha avante, da Pátria no altar. Liberdade! etc... Se é mistér de peitos valentes, Haja sangue em nosso pendão, Sangue vivo do herói Tiradentes, Batizou este audaz pavilhão. Mensageiro de paz, paz queremos, E de amor nossa força e poder Mas da guerra nos transes supremos, Heis de vernos lutar e vencer. Liberdade! etc... Do Ipiranga é preciso que o brado, Seja um grito soberbo de fé, O Brasil já surgiu libertado, Sobre as púrpuras régias de pé. Eia pois, brasileiros, avante! Verde louros colhamos louçãos, Seja o nosso país triunfante, Livre terra de livres irmãos! Liberdade! etc...

Hino a Bandeira Nacional Musica: Francisco Braga (1868-1945) Versos: Olavo Bilac (1865-1918) Salve lindo pendão da esperança, Salve símbolo augusto da paz! Tua nobre presença à lembrança A grandeza da Pátria nos traz Recebe o afeto que se encerra, Em nosso peito juvenil,

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46 Querido símbolo da terra Da amada terra do Brasil! Em teu seio formoso retratas Este céu de puríssimo azul A verdura sem par destas matas, E o esplendor do Cruzeiro do Sul... Recebe o afeto... Contemplando o teu vulto sagrado, Compreendemos o nosso dever, E o Brasil por seus filhos amados, poderoso e feliz há de ser Recebe o afeto... Sobre a imensa Nação Brasileira, Nos momentos de festa ou de dor, Paira sempre sagrada bandeira Pavilhão da justiça e do amor. Recebe o afeto...

Hino a Caxias Francisco de Paulo Gomes/D Aquino Correia Sobre a história da Pátria, ó Caxias, Quando a guerra troveja minaz. O esplendor do teu gládio irradias, Como um íris de glória e de paz. Salve, Duque Glorioso e sagrado, Ó Caxias invicto e gentil ! Salve flor de estadista e soldado !

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47 Salve, herói militar do Brasil. Foste o alferes, que guiando, na frente, O novel pavilhão nacional. Só no Deus dos exércitos crente, Coroaste-o de louro imortal ! De vitória em vitória, traçaste Essa grande odisséia, que vai Das revoltas que aqui dominaste, As jornadas do atroz Paraguai. Do teu gládio sem par, forte e brando, O arco de ouro da paz se forjou. Que as providências do Império estreitando, A unidade da Pátria salvou. Em teu nome ó Caxias, se encerra Todo ideal do Brasil militar: Uma espada tão brava na guerra, Que fecunda na paz a brilhar ! Tu, que foste, qual fiel contestável, Do dever e da lei o campeão. Se indigente sacro o inviolável, Que hoje inspire e proteja a Nação !

Canção do Exército

Alberto Augusto Martins/T. Magalhães

Nós somos da Pátria a guarda, Fiéis soldados, por ela amados,

Nas cores de nossa farda Rebrilha a glória, Fulge a vitória.

Em nosso valor se encerra Toda a esperança

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48 Que um povo alcança. Quando altiva for a Terra

Rebrilha a glória, Fulge a vitória.

A paz queremos com fervor,

(Início do estribilho)

A guerra só nos causa dor. Porém, se a Pátria amada

For um dia ultrajada Lutaremos sem temor

(Fim do estribilho)

Como é sublime

Saber amar, Com a alma adorar

A terra onde se nasce ! Amor febril Pelo Brasil No coração

Nosso que passe. E quando a Nação querida

Frente ao inimigo, Correr perigo,

Se damos por ela a vida Rebrilha a glória, Fulge a vitória.

Assim ao Brasil faremos Oferta igual

De amor filial. E a ti, Pátria, salvaremos !

Rebrilha a glória, Fulge a vitória.

Estribilho

Canção Fibra de Herói

Barros Filho/Guerra Peixe

Se a Pátria querida For envolvida Pelo inimigo

Na paz ou na guerra, Defende a terra Contra o perigo

Com ânimo forte,

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49 Se for preciso Enfrenta a morte Afronta se lava

Com fibra de herói De gente brava

Bandeira do Brasil Ninguém te manchará

Teu povo varonil Isso não consentirá. Bandeira idolatrada

Altiva a tremular Onde a liberdade

E mais uma estrela A brilhar.

Canção do Expedicionário Guilherme de Almeida/ Spartaco Rossi Você sabe de onde eu venho ? Venho do morro, do Engenho, Das selvas, dos cafezais, Da boa terra do coco, Da choupana onde um é pouco, Dois é bom, três é demais. Venho das praias sedosas,

Venho do além desse monte Que ainda azula o horizonte, Onde o nosso amor nasceu; Do rancho que tinha ao lado Um coqueiro que, coitado,

De saudade já morreu. Venho do verde mais belo, Do mais dourado amarelo, Do azul mais cheio de luz,

Cheio de estrelas prateadas Que se ajoelham deslumbradas,

Fazendo o sinal da Cruz !

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50 Das montanhas alterosas, Do pampa, do seringal, Das margens crespas dos rios, Dos verdes mares bravios, Da minha terra natal. Por mais terras que eu percorra, (Início do estribilho) Não permita Deus que eu morra, Sem que volte para lá; Sem que leve por divisa Esse "V" que simboliza A vitória que virá! Nossa vitória final, Que é a mira do meu fuzil, A ração do meu bornal, A água do meu cantil, As asas do meu ideal, A glória do meu Brasil. (Fim do estribilho) Eu venho da minha terra, Da casa branca da serra E do luar do meu sertão; Venho da minha Maria Cujo nome principia Na palma da minha mão, Braços mornos de Moema, Lábios de mel de Iracema Estendidos p'ra mim. Ó minha terra querida Da Senhora Aparecida E do Senhor do Bofim ! Estribilho Você sabe de onde eu venho ? E de uma Pátria que eu tenho No bôjo do meu violão; Que de viver em meu peito Foi até tomando jeito De um enorme coração. Deixe lá atrás meu terreno, Meu limão, meu limoeiro, Meu pé de jacarandá, Minha casa pequenina Lá no alto da colina, Onde canta o sabiá. Estribilho

CANÇÃO "CISNE BRANCO"

Música: Primeiro-Sargento (Exército Brasileiro) Antonio Manoel do Espírito Santo Letra: Primeiro-Tenente (Marinha do Brasil) Francisco Dias Ribeiro

Qual cisne branco que em noite de lua Vai deslizando num lago azul, O meu navio também flutua

Nos verdes mares de Norte a Sul Linda galera que em noite apagada

Vai navegando num mar imenso

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51 Nos traz saudades da terra amada Da pátria minha em que tanto penso

Qual linda garça que aí vai cruzando os ares

Vai navegando Sob um belo céu de anil

Minha galera Também vai cruzando os mares

Os verdes mares, Os mares verdes do Brasil

Quanta alegria nos traz a volta

À nossa Pátria do coração Dada por finda a derrota

Temos cumprido nossa missão.

APESAR DE SER A MAIS CANTADA E CONHECIDA CANÇÃO DA MARINHA DO BRASIL...NÃO É SUA CANÇÃO OFICIAL.

CANÇÃO DA ARTILHARIA

Jorge Pinheiro

Eu sou a poderosa Artilharia Que na luta se impõe pela metralha, A missão das outras armas auxilia

E prepara o campo de batalha Com seus tiros de tempo e percussão

(BIS) As fileiras inimigas levo a morte e a confusão.

Se montada, sou par da Infantaria,

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52 Nos combates, nas marchas, na vitória !

A cavalo acompanho a Cavalaria, Nos contatos, nas cargas e na glória

Com rajadas de fogo surpreender (BIS)

As vanguardas inimigas e depois retroceder. Quer de costa, antiaérea ou de campanha

Eu domino no ar, no mar, na terra, Quer no forte, no campo ou na montanha,

Vibra mais no canhão, a voz da guerra, Da batalha sinistra a melodia

(BIS) É mais alta na garganta da Pesada Artilharia.

Se é mister um esforço derradeiro Em fazer do seu corpo uma trincheira, Abraçado ao canhão morre o artilheiro

Em defesa da pátria e da Bandeira. O mais alto valor de uma nação

(BIS) Vibra n'alma do soldado, ruge n'alma do canhão.

Hurra ! ... Hurra !... Hurra !...

CANÇÃO DA CAVALARIA

Teófilo Ottoni da Fonseca

Arma ligeira que transpõe os montes, Caudais profundos, com ardor e glória,

Estrela guia em negros horizontes Pelo caminho da luta e da vitória.

Cavalaria..., Cavalaria

(Início do estribilho)

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53

Tu és na guerra a nossa estrela guia!

(Fim do estribilho)

Arma de tradição que o peito embala Cuja história é de luz e de fulgor

Pelo choque, na carga, ela avassala E ao inimigo impõe o seu valor.

Estribilho

Montado sobre o dorso deste amigo,

O cavalo que altivo nos conduz, Levamo-lo também para o perigo, Para lutar conosco sobre a cruz.

Estribilho

De Andrade Neves e Osório, o legendário,

E de outros heróis que honram a nossa história, Evocamos o valor extraordinário Pelo Brasil a nossa maior glória.

Estribilho

CANÇÃO DA ENGENHARIA

Aurélio de Lyra Tavares e Hildo Rangel

Quer na paz, quer na guerra, a Engenharia Fulgura, sobranceira, em nossa história

Arma sempre presente, apoia e guia As outras Armas todas à vitória.

Nobre, indômita, heróica e secular, Audaz, na guerra, ao enfrentar a morte,

Na paz, luta e trabalha, sem cessar,

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54 Pioneira brava de um Brasil mais forte. O castelo lendário, da Arma azul-turquesa,

(Início do estribilho)

Que a tropa ostenta, a desfilar, com galhardia É um escudo de luta, é o brasão da grandeza E da glória sem fim, com que forja a defesa

E é esteio, do Brasil a Engenharia.

(Fim do estribilho)

Face aos rios ou minas, que o inimigo Mantém, sob seu fogo, abre o engenheiro

A frente para o ataque e, ante o perigo, Muitas vezes, dos bravos é o primeiro. Lança pontes e estradas, nunca falha E em luta as suas glórias ressuscita,

Honrando, em todo o campo de batalha, As tradições de Vilagran Cabrita.

Estribilho

CANÇÃO DA INFANTARIA

Hildo Rangel/Thiers Cardoso

Nós somos estes infantes Cujos peitos amantes,

Nunca temem lutar, Vivemos, Morremos,

Para o Brasil nós consagrar ! Nós peitos nunca vencidos

De valor desmedidos,

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55 No fragor da disputa,

Mostremos Que em nossa pátria temos,

Valor imenso No intenso

Da luta. És a nobre Infantaria,

(Início do estribilho)

Das armas a rainha,

Por ti daria A vida minha,

E a glória prometida, Nos campos de batalha,

Está contigo Ante o inimigo

Pelo fogo da metralha ! És a eterna majestade, Das linhas combatentes

Es a entidade, Dos mais valentes.

Quando o toque da vitória Marcar nossa alegria

Eu cantarei, Eu gritarei,

És a nobre Infantaria !

(Fim do estribilho)

Brasil te darei com amor, Toda seiva e vigor,

Quem em meu peito se encerra, Fuzil ! Servil !

Meu nobre amigo para guerra ! Ó meu amado pendão,

Sagrado pavilhão, Que a glória conduz, Com luz, Sublime, Amor se exprime

Se do alto me falas, Todo roto por balas!

Estribilho

CANÇÃO DA INTENDÊNCIA

Autor Desconhecido

Companheiros, nos combates não esqueçamos Que o Brasil nos delegou grande missão Sem temor a ela assim nos dedicamos Dando à tropa equipamento e provisão.

Pela glória do Brasil tudo faremos,

(Início do estribilho)

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56

Das granadas o fragor não nos aterra, Somos fortes e o inimigo venceremos P'ra manter a tradição de nossa terra.

(Fim do estribilho)

Na Academia, nossa formação querida, Bittencourt,nosso patrono, e vós Caxias Sois exemplos que seguimos toda vida

P`ra grandeza do Brasil em nossos dias.

Estribilho

De norte a sul, sob o sol rijo a brilhar. Ou bem longe desta terra varonil,

Marcharemos nos comboios a cantar Nossos feitos de soldados do Brasil.

Estribilho

CANÇÃO DAS COMUNICAÇÕES

Aloísio Pereira Pires/Abdon Lyra

Pelas estradas sem fim, ou pelo campo caminha a Glória. Os nossos fios, as nossas antenas transmitem essas vitórias.

Quando soa a metralha ou o ronco dos canhões Nos céus da Pátria ecoa teu nome comunicações.

E quando a vitória vier

(Início do estribilho)

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Alguém falará no porvir: Na paz, assim como na guerra

Teu lema é sempre servir.

(Fim do estribilho)

Dentro das noites escuras o teu trabalho silente será. E nessa mudez somente a bravura ao teu lado caminhará

Sempre estarás na vanguarda e cumprirás do Comando as missões, Com o nome de Rondon, pulsando em nossos corações.

Estribilho

CANÇÃO DO MATERIAL BÉLICO

José dos Santos Rodrigues

Nos paióis, nas oficinas Enfrentando ardis e minas Porfiaremos de alma forte,

Com denodo e valentia. Noite e dia sem cessar,

Cumpriremos nosso dever, Pouco importa vida ou morte,

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58 Nosso intuito é vencer.

Na paz o progresso;

(Início do estribilho)

Na guerra, a vitória; Construir a grandeza

Lutar pela glória; Da pátria com ardor

Com arrojo e bravura.

(Fim do estribilho)

Com esforço de gigante, Seguiremos sempre avante,

Sem temer treva ou metralha, Cumpriremos a missão. Apoiando a vanguarda,

Quer no ataque ou na defesa, Do triunfo na batalha, Levaremos a certeza.

Estribilho

Oração do Guerreiro da Selva

Tenente Humberto Batista Leal

Senhor, tu que ordenaste Ao guerreiro da selva:

"Sobrepujai todos os vossos oponentes...", Dai-nos, hoje, da floresta,

A sobriedade para persistir,

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59 A paciência para emboscar,

A perseverança para sobreviver, A astúcia para dissimular, A fé para resistir e vencer,

E dai-nos, também, senhor, A esperança e a certeza do retorno,

Mas, se defendendo esta brasileira Amazônia, Tivermos que perecer, oh! Deus! Que o façamos com dignidade

E mereçamos a vitória. ...Selva!!!

CANÇÃO DO COMBATENTE DE MONTANHA

Autor: Maj Marcelo Álvaro de Souza

Se a guerra escolher como palco

As montanhas do nosso Brasil

Levarei minha fé, minha força

Junto a mim estará meu fuzil

À altitude e ao ar rarefeito

Adaptado tornei-me assim,

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60 Eu sinto que sou parte delas

E que elas são parte de mim.

O meu grito de guerra é Montanha Montanha, responde o rochedo

Vencerei o inimigo com garra

Sou guerreiro que luta sem medo.

Escalando as paredes de pedras

Hei de ver a vitória chegar

E do alto contemplo o horizonte,

A planície, o planalto ou o mar

E lutar bem mais perto do céu

Esta é minha nobre missão

Minh'alma se eleva ao topo

A seguir os meus pés lá estarão.

O meu grito de guerra é Montanha Montanha, responde o rochedo

Vencerei o inimigo com garra

Sou guerreiro que luta sem medo.

MONTANHA!!!

Bandeiras dos Estados Brasileiros

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Acre

Alagoas

Amapá

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62

Amazonas

Bahia

Ceará

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63

Espírito Santo

Distrito Federal

Goiás

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64

Maranhão

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul

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65

Minas Gerais

Pará

Paraíba

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66

Paraná

Pernambuco

Piauí

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67

Rio de Janeiro

Rio Grande do Norte

Rio Grande do Sul

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68

Rondônia

Roraima

Santa Catarina

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69

São Paulo

Sergipe

Tocantins

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BANDEIRAS HISTÓRICAS DE PORTUGAL

D. Afonso Henriques (1143-1185) Ignora-se como seria a bandeira usada por D. Afonso Henriques. Tornou-se tradição representar a bandeira do nosso primeiro rei com uma cruz azul sobre campo de prata, à imitação da que é atribuída a seu pai o Conde D. Henrique. As comemorações do Duplo Centenário da Fundação e da Restauração de Portugal, em 1940, popularizaram esta bandeira, ainda que faltem provas históricas concludentes e inquestionáveis.

D. Sancho I (1185-1211) D. Afonso I (1211-1223) D. Sancho II (1223-1248)

Com D. Sancho I aparecem as cinco quinas nas armas reais, as quais, com ligeiras alterações, persistem ainda hoje. Até ao fim do Século XV, com D. João II, os escudetes dos flancos encontravam-se deitados e apontados ao centro. Até este monarca o número de besantes era muito variável, mesmo durante cada um dos reinados. Não dispomos de certezas sobre as origens dos cinco escudetes dispostos em cruz. Dúvidas existem, também, sobre o simbolismo dos besantes - os pontos de prata inscritos em cada um dos escudetes. Se aceitarmos que os escudetes eram postos nos escudos dos nobres para reforço e decoração, compreender-se-á que os besantes sejam as cabeças das brochas usadas na fixação dos escudetes. Esta hipótese pode ser aceite, admitindo que as origens das bandeiras e dos brasões de armas medievais se ligam à figuração dos escudos usados pelos nobres em combate e em torneios.

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71 Não tem fundamentação histórica a tese popularizada segundo a qual as quinas e os besantes se relacionam com a Lenda da Batalha de Ourique e com as cinco chagas de Cristo. A Batalha de Ourique travou-se a 25 de Julho de 1139. Afonso Henriques teria vencido 5 reis mouros. E segundo uma tradição lendária, publicitada apenas em 1485 por Vasco Fernandes de Lucena, antes do recontro, Cristo teria aparecido a D. Afonso Henriques. O nosso fundador teria aí recebido a promessa de proteção para o Reino de Portugal, que seria cabeça de um grande império.

D. Afonso III (1248-1279) D. Dinis (1279-1325)

D. Afonso IV (1325-1357) D. Pedro (1357-1367)

D. Fernando (1367-1383) Com D. Afonso III surge nas Armas Reais a bordadura de castelos que desde então até hoje não abandonou as bandeiras de Portugal. Foi este monarca que incorporou o Algarve no território nacional. Uma tradição muito divulgada explica as bordadura dos castelos com a conquista de várias fortificações do Algarve durante o reinado do monarca, cognominado de Bolonhês. Nenhum fundamento histórico sustenta esta opinião. D. Afonso III era irmão de D. Sancho II. Por desinteligência com a Igreja, D. Sancho II foi deposto, tendo o Papa Inocêncio IV determinado aos portugueses, em 1245, que passassem a obedecer a seu irmão, o Infante D. Afonso. Este, na seqüência de uma guerra civil, vem a ser aclamado rei. D. Sancho II retira-se para Toledo onde faleceu em 1248. D. Afonso III era filho de D. Afonso II e de D. Urraca, filha de Afonso VIII de Castela. Para diferenciar as suas armas das de seu irmão D. Sancho II, D. Afonso III acrescentou a bordadura de castelos, símbolo heráldico de Castela que identificava a sua ascendência. Até 1485 o número de castelos de ouro sobre a bordadura escarlate foi muito variável, ficando, então, definido com o valor sete, o que nem sempre foi cumprido nos reinados seguintes.

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D. João I (1385-1433) D. Duarte (1433-1438) D. Afonso V (1438-1481)

Com D. João I inicia-se a Segunda Dinastia portuguesa. Mantêm-se os mesmos símbolos, tendo o Mestre de Avis acrescentado 4 flores-de-lis à bordadura dos castelos, elementos heráldicos identificativos da ordem militar que dirigiu. Cada uma das flores-de-lis prolongava a extremidade da cruz composta pelos 5 escudetes.

D. João II (1481-1495)

Em 1485, D. João II retirou das Armas Reais os remates de flor-de-lis que vinham desde D. João I. O mesmo rei determinou que todas as Quinas fossem postas a direito, isto é, verticalmente. Fixou o número de besantes em 5 e o número de castelos em 7.

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D. Manuel I (1495-1521) D. João III (1521-1557)

Com D. Manuel surgem novos elementos duradouros nos símbolos nacionais. Sobre o antigo Escudo das Armas Reais é colocada uma coroa real que persistirá, ainda que com alterações várias, até à instauração da atual Bandeira Nacional em 1911. D. Manuel usará, também, a Esfera Armilar como símbolo de poder, ilustrativo do seu domínio sobre os mares, num momento em que o Império Português atingia uma extraordinária dimensão. A Esfera Armilar inserida na bandeira do Reino Unido de Portugal, do Brasil e dos Algarves, entre 1816 e 1826, será retomada com o advento da república na Bandeira Nacional que presentemente está em vigor. Os escudos e escudetes usados por D. Manuel eram retangulares com a base em lanceta.

D. Sebastião (1557-1578) D. Henrique (1578-1580)

Filipes de Espanha (1580-1640)

D. Sebastião terá usado até final do seu reinado a mesma bandeira dos seus antecessores. Para a Batalha de Alcácer Quibir, em 1578, levou uma bandeira de damasco carmesim. Sobre as Armas Reais pintadas encontrava-se uma coroa fechada, a qual, com diferente número de arcos, permaneceu até ao fim da Monarquia.

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74 Com a União Ibérica, em 1580, mantiveram-se os símbolos nacionais, já que, segundo o estipulado nas Cortes de Tomar as duas coroas permaneciam separadas, ainda que na posse do mesmo rei. Apesar das incertezas, julga-se que durante todo este período dominou a cor branca na feitura da bandeira real.

D. João IV (1640-1656) D. Afonso VI (1656-1683)

D. Pedro II (1683-1706) D. João V (1706-1750) D. Maria I (1777-1816)

Durante todo este período a bandeira usada pelos nossos monarcas continua, no essencial, os símbolos dos reis antecedentes. A diferença mais significativa detecta-se ao nível da coroa que passa a ter cinco arcos. Com D. João V a coroa é forrada de um barrete de cor vermelha ou púrpura, e o bordo inferior do escudo passa a terminar em bico de arco contracurvado.

Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves

D. João VI (1816-1826)

Em 1807, com as invasões francesas (1807-1811), a Família Real e a sede do governo português transferem-se para o Brasil. Mesmo depois da derrota de Napoleão e da redefinição da política européia no Congresso de Viena de 1815, o Príncipe D. João, alçado ao título de rei apenas em 1816, mantém-se no Brasil. Com o desabrochar dos movimentos nacionalistas no continente americano, incrementa-se o processo de afirmação do nacionalismo brasileiro, fortalecido pela própria política de desenvolvimento econômico e administrativo resultante da situação de o Brasil se ter transformado em sede da Monarquia Portuguesa. Como corolário deste processo de anulação do estatuto colonial do Brasil, o Príncipe D. João instituiu, pela carta de lei de 16 de Dezembro de 1815, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, cujos escudos de armas foram definidos pela carta de lei de 13 de Maio de 1816.

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75 A Esfera Armilar, símbolo do poder régio de D. Manuel, transmitia o desejo de garantir a união política entre Portugal e o Brasil e de construir um vasto império pluricontinental, numa altura em que cresciam as ameaças à integridade do mundo português. Com a declaração de independência do Brasil em 1822 e o seu reconhecimento por Portugal em 1825, tornou-se necessário alterar os símbolos nacionais, tarefa empreendida apenas em 1830.

D. Maria II (1834-1853) D. Pedro V (1853-1861)

D. Luís (1861-1889) D. Carlos (1889-1908) D. Manuel II (1908-1910)

Com a declaração da independência do Brasil em 1822 e o seu reconhecimento por Portugal em 1825 terminava o sonho do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Tornou-se necessário proceder à alteração dos símbolos, o que foi feito pelo decreto de 18 de Outubro de 1830. O pano da bandeira ficou bipartido de azul e branco, com o Escudo das Armas Reais colocado ao centro. Desaparecia a Esfera Armilar que a República recuperaria com a alteração dos símbolos nacionais em 1911.

Bandeira Nacional Portuguesa

A revolução republicana de 5 de Outubro de 1910 produziu profundas alterações na vida nacional. Entre as grandes mudanças, ainda que aparentemente insignificantes, situam-se as transformações de valor simbólico. A bandeira azul-e-branca é substituída pela verde-rubra; o Hino da Carta dá lugar ao hino A Portuguesa; o Escudo suplanta o Real; e o próprio regime ortográfico é alterado a caminho de uma aproximação fonética.

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76 A bandeira anteriormente vigente tinha um símbolo monárquico - uma coroa real fechada. Consequentemente, do mesmo modo que nos nomes das instituições públicas era retirada a denominação "Real", no símbolo máximo do país - a bandeira - tinha de desaparecer esta reminiscência do regime monárquico. E como a cor azul da anterior bandeira era concebida como uma alusão a Nossa Senhora da Conceição, a Padroeira de Portugal, os republicanos tiveram de defender a sua substituição. A solução foi escolher novas cores para a bandeira: o verde e o vermelho - as cores do Partido Republicano Português e que alegadamente estiveram presentes nos pendões usados na Revolução de 31 de Janeiro de 1891 e nos acontecimentos da Rotunda a 5 de Outubro de 1910. Para a composição da nova bandeira foi nomeada, a 15 de Outubro de 1910, uma Comissão que tinha como relator o escritor Abel Botelho, e de que faziam parte, entre outros, Columbino Bordado Pinheiro, João Chagas e Landislau Pereira. Na Sociedade de Geografia de Lisboa abriu a 28 de Novembro uma exposição de bandeiras históricas que contou com a visita de 6000 pessoas. Após grandes discussões e a apresentação de muitos projetos, a nova bandeira, produzida na Cordoaria, sob instruções de Columbino, foi apresentada a 1 de Dezembro de 1910, declarado como Dia da Festa da Bandeira. A nova bandeira passeou em cortejo desde a Câmara Municipal de Lisboa até ao Monumento aos Restauradores, onde foi hasteada. A terminar o evento, realizou-se no Teatro Nacional um recital poético em honra da bandeira. Estes festejos não esconderam a grande agitação provocada pela alteração da bandeira; acontecimento que constituiu mais um argumento dos opositores ao novo regime nas lutas que desde então se travaram. Para conseguir a aceitação dos novos símbolos, o Ministério do Interior providenciou no sentido de todas as escolas possuírem uma Bandeira Nacional, sendo recomendado aos professores que explicassem aos alunos os novos símbolos. Os manuais escolares foram enxameados dos novos símbolos, tendo sido instituídas as cerimônias de Juramento da Bandeira para os recrutas, para as quais era convidada a população civil. O 1 de Dezembro, Festa da Bandeira, foi declarado feriado nacional, juntamente com o 5 de Outubro e o 31 de Janeiro. Foi o decreto da Assembléia Nacional Constituinte de 19 de Junho de 1991 que estabeleceu a nova Bandeira Nacional; sendo este diploma legal regulamentado por decreto de 30 de Junho, publicado no Diário do Governo Nº. 150.

ESTANDARTE NACIONAL

O Estandarte Nacional, também chamado Bandeira Militar, é a Bandeira Nacional existente em todas as unidades militares do país. O Estandarte Nacional, talhado em seda, difere da Bandeira Nacional pelo fato de ter a forma quadrangular. A esfera armilar é rodeada por duas hastes de loureiro, em ouro, unidas por um laço branco em forma de listel. Neste, em letras de elzevir, inscreve-se a imortal legenda de Camões:

«Esta é a Ditosa Pátria Minha Amada».

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Personalidades Célebres Personalidade pode ser definida como a organização dinâmica no indivíduo dos sistemas psicofísicos que determinam seus ajustamentos ao meio. A personalidade terá, pois, várias características: 1. será única, própria a um indivíduo, ainda que ele tenha traços comuns a outros indivíduos; 2. será uma integração das diversas funções, e mesmo que esta integração ainda não esteja realizada

existe uma tendência à integração que dá à personalidade o caráter de centro organizador; 3. será temporal, pois é sempre a de um indivíduo que vive historicamente 4. não sendo estímulo nem resposta, será uma variável intermediária, afirmando-se, portanto, como um

estilo através da conduta. Dentro da história brasileira são inúmeros os cidadãos ilustres que colocaram e que colocam a pátria acima de tudo, que constróem as bases cívicas do Brasil. "O Brasil é uma comunidade histórica, que representa os sacrifícios, a bravura, o desprendimento, a aspiração de glória, a memória dos mortos, o trabalho, o amor à terra e a Deus, enfim, de gerações que se sucedem. A continuidade, no tempo e no espaço, é o fator decisivo da conservação do patrimônio comum que se transmite sempre acrescido e cada vez maior, através dos séculos, aos vindouros, responsáveis pela sua guarda. O Brasil é a Independência, a Abdicação de D. Pedro I, a Regência, a Maioridade, o Ato Adicional, as glorias do Exército brasileiro na guerra do Paraguai, a Abolição, a República, a Revolução de 1930 e o Golpe de Estado de 10 de novembro de 1937 enfim toda a nossa formação histórica. A nossa formação histórica desde o descobrimento, a Cruz e a primeira missa, a colonização, as bandeiras, a catequese, as lutas pela defesa da terra, nos Guararapes, no Maranhão, no Rio de Janeiro, onde o estrangeiro procurou usurpar a posse do nosso território. O Brasil é Rio Branco, delimitando as nossas extensas fronteiras, sem um incidente ou ânimo de conquista, assinalando-se todas as nossas vitórias pelo recurso pacifico às convenções, à arbitragem e aos tratados. É Oswaldo Cruz saneando o Rio de Janeiro e acabando com a febre amarela em nosso território. É a cultura jurídica irradiando-se da Faculdade de Direito do Recife e da de São Paulo, criando a consciência das soluções justas e da norma reguladora da nossa evolução. É a cultura médica e a higiene, defendendo o homem contra as endemias e moléstias tropicais. É a engenharia nacional, construindo estradas de ferro, as pontes até as obras contra as secas. É a literatura nacional com o Guarany de José de Alencar, a poesia de Castro Alves, os Guayanazes de Couto Magalhães, os Sertões de Euclides da Cunha. É a aldeia em que nascemos, com a sua igrejinha, a escola, as fazendas, os rebanhos, a enxada, o carro de boi, a cana-de-açúcar, o café, a borracha, o algodão. É o trabalho livre, a agricultura extensiva cedendo aos novos métodos e à nova técnica da cultura intensiva e da policultura. É a nossa recente formação industrial, desde as fábricas de tecidos grossos até as grandes fábricas com estamparias e variedade de panos finos. É a nitroquimica, extraindo da celulose das nossas madeiras, a seda vegetal. O Brasil é o grande piano econômico e social do presidente Getúlio Vargas, valorizando, pela assistência ao homem e à produção, o trabalho e todas as energias criadoras da nossa riqueza. Essa é a pátria que os nossos antepassados arrancaram do seio das florestas, defenderam da cobiça estrangeira, e nos legaram para fazê-la mais forte e mais próspera, mais unida e mais feliz". Faltaria espaço para mencionar todos os personagens de nossa história nacional, mas vamos tentar fazer uma apresentação de alguns brasileiros que fizeram de sua nacionalidade um orgulho e uma conduta de vida. Nas páginas seguintes um pouco do nosso Brasil, visto, reconhecido e aplaudido pelo mundo.

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Mestre-de-Campo Antônio Dias Cardoso (O "MESTRE DA EMBOSCADA")

"Em Pernambuco, Antônio Dias Cardoso organiza e treina os civis luso-brasileiros, em íntima ligação com Fernandes Vieira, líder civil e catalisador do movimento.

Seis meses após a chegada de Dias Cardoso, período que gastou para organizar e adestrar um pequeno exército, Fernandes Vieira assina secretamente um compromisso de honra, juntamente com 18

companheiros influentes. Por este compromisso, decidem restaurar a pátria, a despeito mesmo de possível interferência de Portugal.

Dito compromisso data de 23 de junho de 1645, e é pela primeira vez escrita a palavra Pátria".

As Batalhas dos Guararapes MAJ ENG QEMA CLAUDIO MOREIRA BENTO

Falar-se do legendário Antônio Dias Cardoso não é tarefa fácil, tantos já o fizeram, de forma superlativa e primorosa, por meio de epítomes históricos e apologias, merecendo destaque o escorço biográfico da lavra do eminente historiador militar Coronel Cláudio Moreira Bento, contido no livro por ele escrito, "As Batalhas dos Guararapes". REFERÊNCIAS BIOGRÁFICAS Infelizmente, não existem registros acerca da genealogia de Dias Cardoso, até há pouco relegado a um injusto semi-anonimato histórico, não condizente com os tantos e tamanhos serviços por ele prestados à Pátria nascente, quando de nossa proto-história. Assim, conforme dados de diversos historiadores, sabe-se apenas que ele nasceu no princípio do século XVII, provavelmente no ano de 1600, na cidade do Porto-Portugal, mudando-se ainda jovem para o Brasil, terra a que vai devotar acrisolado amor. Em 1624, Dias Cardoso assenta praça como soldado, na Bahia, ascendendo, mercê de seus elevadíssimos méritos, a todas as graduações da hierarquia castrense, atingindo, em 1635, o posto de Alferes, tendo participado de importantes ações de guerra contra o invasor, da Bahia a Pernambuco, notabilizando-se por sua ação guerrilheira, máxime pela prática da emboscada, como adiante abordaremos. Em 1638, após a memorável batalha de Salvador, é promovido a Capitão. Em 1640, após o cumprimento de relevante missão, conferida pelo Governador-Geral do Brasil, vem a pedir reforma, a qual lhe é concedida; porém, sendo imprescindíveis os seus serviços militares, é convocado para que prosseguisse na luta, na qual se engaja até à rendição dos batavos, fazendo, pois, a campanha, desde a invasão da Bahia, "de fio a pavio". Em 1655, recebe a honorificência de Cavaleiro da Ordem de Cristo e o comando do Terço de João Fernandes Vieira, do qual fôra Ajudante por ocasião da 1ª batalha dos Guararapes. Em 1656, é nomeado Mestre-de-Campo, culminando, nesse posto, uma notável carreira militar, de 32 anos de constantes sacrifícios e guerra, iniciada como soldado, em 1624...

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79 Em 1657, Dias Cardoso assume o governo da Paraíba, vindo a falecer no Recife, em 1670, quando ainda no comando do famoso Terço de Fernandes Vieira, consagrado nas duas batalhas dos Guararapes. O PERSONAGEM MILITAR Os feitos marciais de Antônio Dias Cardoso foram praticados em duas circunstâncias: em batalhas, das quais podemos destacar as da defesa de Salvador, do Monte das Tabocas, da Casa Forte e as duas dos Montes Guararapes e em incontáveis ações de guerrilhas e emboscadas, semelhantes às atuais missões das tropas de "comandos" e de "forças especiais", dos Exércitos modernos. Numa síntese incompleta e perfunctória, diríamos quanto às batalhas:

- na defesa de Salvador, em 1638, cidade mantida inexpugnável, pelo heroísmo de Luiz Barbalho Bezerra e tantos outros, Dias Cardoso, no comando de uma Companhia, soube defender, com inexcedível bravura, as trincheiras do bastião de Santo Antônio, acossadas pelos melhores soldados de Nassau;

- nas batalhas do Monte das Tabocas e da Casa Forte, em 1645, o Sargento-Mor Dias Cardoso foi o lídimo condutor de um recém-formado e "pequeno exército", o qual derrota o inimigo, mais poderoso e adestrado, pelo que Fernandes Vieira o considerou "o maior responsável pelas vitórias obtidas". No Monte das Tabocas, consegue atrair os holandeses para três emboscadas, quando estes tentavam conquistar a elevação, desencadeando, a seguir, um terrível contra-ataque, morro abaixo, que os põe em desabalada fuga. Em Casa Forte, coube a Dias Cardoso o comando da vanguarda que derrota o Coronel Van Hans, Comandante-Geral das tropas batavas no Nordeste;

- nas batalhas dos Guararapes, coube-lhe papel de enorme relevo. Na primeira delas (19 Abr 1648), era ele o Subcomandante do maior e mais bem preparado dos quatro Terços - o de Fernandes Vieira, ao qual, por óbvio, foi confiada a principal frente de combate; Vieira era civil e, por isso, delegou a Dias Cardoso, a execução de todas as ações bélicas. Quando da 2ª batalha (19 Fev 1649), Dias Cardoso atua independentemente, comandando a chamada "Tropa Especial", forte de 550 homens, que destroçam toda a ala direita inimiga. Após a batalha, ao ouvir a observação de um Capitão prisioneiro, de que, da próxima vez, combateriam dispersos como os luso-brasileiros, respondeu-lhe, com arrogância: "melhor para nós, pois cada soldado vosso necessitará de um Capitão, enquanto que, cada soldado nosso, representa um Capitão"...

Dias Cardoso foi o "artífice das emboscadas". Caso fôssemos contar as suas inúmeras peripécias no campo da guerra irregular, necessitaríamos escrever alguns volumes para explicá-las minudentemente. Destarte, citaremos apenas uma, quiçá a mais importante. Vidal de Negreiros ao reconhecer o valor daquele indômito e sagaz guerreiro, o indica, em 1640, ao Governador-Geral do Brasil, para que, munido de um documento que o simulava como desertor, fosse enviado, em segredo, da Bahia a Pernambuco, com a missão de "organizar um pequeno exército e prestar informações acerca do inimigo, ao longo do percurso de 160 léguas". A árdua tarefa foi airosamente cumprida, após vencido o ínvio terreno da caatinga nordestina, prenhe de perigos, como rios caudalosos, índios hostis, negros quilombolas e fortificações do invasor. E o "pequeno exército", de que fôra incumbido da formação e adestramento, ia aos poucos se constituindo e sendo intensamente treinado, e continuaria a sê-lo, nos anos seguintes, no interior das matas e nos canaviais, mormente quanto ao emprego de táticas de guerrilhas e emboscadas, na utilização de meios expeditos de combate, tais como velhos bacamartes, chuços, bordões, espadas, escudos de couro endurecido, paus afilados e tostados, facas, facões, flechas, dardos, foices, etc, e no judicioso aproveitamento de um terreno coberto por agressiva vegetação, no qual era feito largo uso da rapidez, da finta, da negaça, dos ardis, do espírito de iniciativa, da esperteza, enfim, e de uma indomável bravura. Esse agrupamento, que iria se transformar em uma tropa devidamente organizada - o "Exército Patriota" - nas duas batalhas dos Guararapes, foi formado, pioneiramente, por Antônio Dias Cardoso, na harmoniosa integração de brancos, pretos, índios, mazombos, mamelucos, curibocas e demais mestiços de todos os matizes, que souberam, como ninguém, empunhar todo tipo de armamento, na luta pela preservação do sagrado solo pátrio. Eis por que um dos mais honrosos epítetos atribuídos a Dias Cardoso é o de "Organizador e 1º Comandante do Exército Brasileiro"...

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80 Homens como Antônio Dias Cardoso, além de "modeladores da nacionalidade" e "organizadores do Exército Brasileiro", também foram personagens inovadoras da arte da guerra; sem dúvidas, em especial a Antônio Dias Cardoso, Patrono do Batalhão de Forças Especiais do Exército - que ostenta o seu augusto nome - deve-se o enriquecimento de doutrinas militares de então, pois os patriotas por ele adestrados, lograram vencer, com os seus improvisados e precários meios e métodos rudimentares de combate, um inimigo, muito superior, numericamente, além de aguerrido, bem treinado, experiente e que empregava as mais avançadas técnicas e táticas de guerra, em voga na Europa. Assim, é com muita ufania, que a Força Terrestre Brasileira relembra e homenageia a insigne figura do "Arquiteto Militar da Insurreição Pernambucana", o "Mestre da Emboscada", Antônio Dias Cardoso. Tal homenagem do Exército Brasileiro - "a mais lídima e representativa das instituições nacionais, o verdadeiro índice do povo brasileiro", consoante magistral conceito do saudoso sociólogo Gilberto Freyre, avulta de importância, posto que, neste ano de 1998, comemoram-se os 350 anos da 1ª batalha dos Guararapes, travada em 19 de abril de 1648, aliás, a data, recentemente escolhida, para o Dia do glorioso e invicto Exército de Caxias.

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Doutor Joaquim Pedro Salgado Filho

PRIMEIRO MINISTRO DA AERONÁUTICA

No ato da criação do Ministério da Aeronáutica, assumiu o Dr. Joaquim Pedro Salgado Filho, escolhido pelo presidente Getúlio Vargas para dirigir os destinos da Aeronáutica Brasileira numa fase delicada e num período de muitas responsabilidades, como o foi o da II Grande Guerra.

Filho do Coronel Joaquim Pedro Salgado e de Maria José Palmeiro Salgado, nascido em Porto Alegre, em 02 de julho de 1888, formou-se em Direito em 1908 e dedicou-se mais tarde à política. Ocupou cargos de grande importância na vida pública do país: Ministro do Trabalho de 1932 a 1935, Deputado Federal em 1937, Ministro do Superior Tribunal Militar de 1938 a 1941, Ministro da Aeronáutica de 1941 a 1945 e Senador pelo Rio Grande do Sul de 1945 a 1950.

Na sua gestão revelou-se grande administrador, conseguindo encontrar soluções adequadas para os complexos problemas decorrentes da expansão do Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira. Destacou-se como chefe hábil e conhecedor dos problemas de liderança, pois, ao enfrentar delicadas questões, resultantes da fusão de duas corporações militares, sempre soube fazer-se respeitar; e, acima de tudo, mostrou-se um homem dotado de excepcionais qualidades morais, enérgico, nas poucas oportunidades em que teve necessidade de sê-lo, mas sempre pronto a considerar os aspectos humanos dos problemas dos seus subordinados. Reorganizador do setor aeronáutico, foi durante a sua gestão que a Força Aérea Brasileira se engajou na proteção aérea à navegação costeira; foram criadas as Bases Aéreas de Recife (24 jul. 1941), Natal (02 mar. 1942) e Salvador (05 nov. 1942); instituída a denominação dos postos da hierarquia militar na FAB (22 maio 1941); criadas as Zonas Aéreas, o Corpo de Oficiais com seus vários Quadros; aprovado o Regulamento do Tráfego Aéreo; fundada a Associação dos Aeronautas; criado o 1

o Grupo de

Aviação de Caça, a Unidade Aérea que, junto com a 1a Esquadrilha de Ligação e Observação, participou da

campanha da Itália; além de outras importantes realizações.

Por seus relevantes serviços à Nação, Salgado Filho recebeu inúmeras condecorações, destacando-se as seguintes comendas e títulos estrangeiros: Grã-Cruz da Ordem da Benemerência, de Portugal (1933); Grã-Oficial da Ordem Nacional del Mérito, do Paraguai (1941); Condecoração "Al-Mérito", do Chile (1944); Grã-Cruz da Ordem "El Sol del Peru" (1944); Grã-Cruz da Ordem do Mérito Militar, da Bolívia (1944); Grã-Oficial da Ordem Nacional "Al Mérito" do Equador (1944); Grande-Oficial da Ordem do Mérito Aeronáutico (1951); Grã-Cruz da Ordem do Condor de los Andes (Bolívia); Grã-Cruz da Ordem do Libertador da Venezuela; Conselheiro Honorário da Câmara do Comércio do Japão e Sócio Honorário da Union Social Americana.

Permaneceu à frente do Ministério da Aeronáutica até 30 de outubro de 1945, transmitindo o cargo ao Brigadeiro Armando Figueira Trompowsky de Almeida e retornando à advocacia. Faleceu em 30 de julho de 1950, em um acidente de aviação, quando realizava campanha política no Rio Grande do Sul, deixando um

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82 raro exemplo como administrador e político, tendo-se revelado o homem certo para o lugar certo e na

ocasião mais oportuna.

Luiz Barbalho Bezerra O Herói da Resistência Baiana

O pernambucano Luiz Barbalho Bezerra é personagem proeminente da História do Brasil, consagrado na luta contra as tropas de ocupação holandesas. Durante dez anos, esse bravo combatente bateu-se efetiva e eficazmente em defesa da integridade do saliente nordestino. Participou, assim, de inúmeros combates contra as forças flamengas, como os do Arraial do Bom Jesus, de Nazaré e Porto Calvo. Atuou, ainda, de forma destacada em sangrentas refregas travadas ao sul do rio São Francisco, em território da então Capitania da Bahia, tendo por isso mesmo passado à posteridade como "O Herói da Resistência Baiana". Em virtude de haver falecido prematuramente no ano de 1644, não pode participar dos episódios que levaram à derrota definitiva e conseqüente expulsão do invasor de seu torrão natal. Na gloriosa saga guerreira de Luiz Barbalho Bezerra, avulta de importância a memorável Batalha de Salvador, ocorrida em maio de 1638. Ante a aproximação da Baia de Todos os Santos de uma força holandesa de 5.000 homens e 40 navios — comandada pelo príncipe Maurício de Nassau —, Barbalho conduziu, em tempo reduzido, a construção de um forte, que hoje ostenta o seu nome, à frente de 1.000 homens. A luta que se seguiu transformou-se em verdadeira carnificina, haja vista a pequena distância entre os contendores e o incessante bombardeio da tropa invasora. No auge da peleja, o bravo capitão nordestino arremeteu de surpresa sobre a retaguarda do inimigo, obrigando-o a retirar-se precipitadamente. Com essa vitória luso-brasileira, pôs-se termo no paradeiro de triunfo das armas flamengas no Brasil. A reconquista iria ter início alguns anos depois. Outra grande ação relevante da "guerra brasílica" que consagra Luiz Barbalho Bezerra como um notável guerreiro foi o difícil deslocamento por ele efetuado em 1639, do litoral pernambucano até Salvador, retardando o poderoso inimigo por meio de táticas de guerrilha. A despeito do lastimável estado de sua tropa — muitos feridos, pouca munição e sem ter o que comer —, consegue o indômito chefe militar infringir perdas consideráveis às bem equipadas forças holandesas, evitando a destruição do contingente que comandava. Pelo exposto, verifica-se que a epopéia de Barbalho é plena de exemplos de acentuado espírito militar e acendrado amor à terra natal. Por ter atuado diuturna e bravamente na primeira fase do inolvidável movimento nativista que resultou na expulsão do invasor flamengo, percorrendo várias vezes o interior baiano, suas virtudes servem de referência para o soldado verde-oliva que hoje guarnece essas plagas. Assim, como justo reconhecimento pela dedicação de Luiz Barbalho Bezerra em favor da preservação da unidade e da integridade da Pátria nascente, seu augusto nome foi utilizado pelo Exército Brasileiro para servir de denominação histórica ao 35º Batalhão de Infantaria, sediado em Feira de Santana, no Sertão da Bahia.

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Santos-Dumont

INTRODUÇÃO Tendo dedicado sua vida à aviação, Santos-Dumont foi o primeiro aeronauta a alcançar, definitivamente, a dirigibilidade dos balões e a voar num aparelho mais pesado que o ar com propulsão própria. Quando chegou a Paris, em 1892, era um rapaz provinciano, de estatura baixa e corpo franzino, prestes a iniciar seus estudos. Nove anos depois, transformou-se em modelo para os franceses, ultrapassou barreiras e limites impostos aos estrangeiros e construiu na fantasia popular a imagem de "Super-Homem". De comportamento inquieto e espírito obstinado, nunca desistiu de realizar seus projetos. Dos acidentes que sofreu, nenhum abalou sua determinação em conquistar os ares. Influenciado por vários precursores, Santos-Dumont também influenciou os construtores que despontaram a partir de 1906. Embora tenha vivido numa época na qual surgiram as primeiras indústrias aeronáuticas, nunca se interessou em criar uma que Ihe pertencesse. Da mesma forma, a partir de uma opção consciente e idealista, não patenteou seus inventos, colocando-os à disposição de quem quisesse construí-los e utilizá-los. Seus anseios e sonhos, seus hábitos e superstições formaram uma personalidade muito singular, que acabou por conduzir o rumo da sua própria vida. PONTOS DE PARTIDA Final do século XIX. Cultura e comércio do café têm relevante papel no desenvolvimento econômico do Brasil. Os lucros obtidos pelos fazendeiros e exportadores permitem construir novos portos e ferrovias, instalar usinas elétricas e iluminação pública, iniciando o processo de industrialização. Nesse cenário histórico, com os lucros obtidos na venda do café produzido em sua fazenda, Henrique Dumont pôde oferecer a seu filho condições financeiras para que estudasse na França e lá transformasse em realidade o seu grande sonho de voar. Antes de Santos-Dumont, outros aeronautas já haviam realizado experiências com máquinas mais pesadas que o ar. O grande problema por eles não resolvido era a força propulsora inicial, necessária à decolagem. No caso dos Irmãos Wright, seus vôos foram iniciados com auxílio de catapulta ou fazendo o aeroplano deslizar por um longo plano inclinado. Não há dúvida que Santos-Dumont foi o primeiro homem a elevar aos ares uma máquina exclusivamente pela potência de seu motor, ponto de partida dessa extraordinária aventura humana. Aventura que, no

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84 decorrer de apenas um século, evoluiu da subida de balões esféricos até o vôo de modernas aeronaves, satélites e sondas que hoje exploram o espaço cósmico. INFÂNCIA E MÁQUINAS Seu pai, Henrique Dumont, formou-se na "École des Arts et Métiers", tradicional escola francesa. Regressou ao Brasil e iniciou sua vida profissional no serviço de obras públicas de Ouro Preto. Em 1856, casou-se com Francisca dos Santos, filha do comendador Paula Santos. Estabeleceu-se como empreiteiro de obras públicas e logo assumiu a construção de um trecho da Estrada de Ferro D. Pedro II, que ligaria o Rio de Janeiro a Minas Gerais. Por essa razão, mudou-se para a pequena cidade de Palmira, passando a residir no sítio Cabangu, onde nasceu, em 20 de julho de 1873, o sexto filho do casal, Alberto Santos-Dumont. Passados seis anos, Henrique Dumont adquiriu a fazenda Arienduva, na zona de terra roxa de Ribeirão Preto. Foi considerado, na época, o rei do café por ter plantado, nessa propriedade, cerca de 5 milhões de pés. Na infância, Santos-Dumont estudava com preceptoras francesas contratadas por seu pai diretamente de Paris. Interessava-se por mecânica; sua diversão predileta era observar as máquinas de beneficiar café. Analisando o funcionamento das máquinas a vapor, das engrenagens e a transmissão das polias, aprendeu a lidar com equipamentos mecânicos. ADOLESCÊNCIA PROMISSORA Para facilitar o escoamento das safras de café, Henrique Dumont construiu um ramal ferroviário ligando a fazenda Arienduva à estrada de ferro que chegava a Ribeirão Preto. Seu filho prosseguiu os estudos com preceptoras, aprendendo inglês e alemão. Depois, foi matriculado no Colégio Culto à Ciência, em Campinas. Mais tarde, em São Paulo, estudou no Instituto Kopke e no Colégio Morton. A curiosidade por temas relacionados à conquista do ar levou-o à leitura de livros de inventos e ficção científica, como os de Júlio Verne. À procura de mais informações, descobriu as experiências em balões de ar quente feitas pelos irmãos Montgolfier em 1783 e a de Jean Pierre Blanchard e John Jeffries, que realizaram a travessia do Canal da Mancha em balão, em 1785. Da leitura ao contato pessoal com assuntos aerostáticos foi um passo muito pequeno: já em 1888 Santos-Dumont viu um balão, na cidade de São Paulo, em uma exposição de equipamentos aeronáuticos construídos na França. RUMO A PARIS A França era fonte inspiradora para o mundo. Em nenhuma outra época fora tão brilhante e dera tantos gênios como nos últimos anos do século XIX. Florescia o talento e a inovação. Destacavam-se, entre muitas personalidades, Victor Hugo, Van Gogh, Pasteur. Paris dos bulevares, dos teatros de revista e dos cafés-concerto representava a capital da novidade, da ciência do saber e das artes. Aos 18 anos, Santos-Dumont viajou com a família para essa Paris e ficou surpreso ao constatar que, nesse quadro de grande progresso, os balões eram apenas invólucros esféricos de tecido envernizado, cheios de hidrogênio, sem leme e sem propulsão: faltava-lhes a dirigibilidade. Em uma exposição de máquinas, Santos-Dumont viu um motor a explosão interna, movido a gasolina. Tratava-se de uma novidade, pois nesse final de século os veículos e as indústrias eram movidos por máquinas a vapor. Motores elétricos já existiam, mas eram rudimentares. O contato com esse motor foi de fundamental importância para o desenvolvimento de suas futuras experiências com balões e aeroplanos, possibilitando tornar realidade suas fantasias. Nessa viagem, Santos-Dumont comprou o seu primeiro automóvel, um Peugeot, que trouxe consigo ao retornar ao Brasil. Esse automóvel, recebido com bastante alvoroço em Paris, provocou euforia ainda maior no Brasil, pois foi o primeiro a ser visto na América Latina. A idéia de voltar à França para se dedicar aos estudos dos instrumentos de vôo fez com que Henrique Dumont o emancipasse, colocando à sua disposição parte de sua fortuna. Assim, seguiu rumo às suas conquistas.

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85 PRIMEIRO PASSOS Em Paris, buscava a propulsão dos balões e sua dirigibilidade. Para isso, apoiou-se na ciência e na tecnologia: estudou com o professor Garcia, humanista de origem espanhola, com vasto conhecimento em Física, Mecânica e Eletricidade. Paralelamente à teoria, colocava em prática seus conhecimentos observando o motor do automóvel que adquirira. Com ele, participou de vários circuitos automobilísticos, nos quais atingia a velocidade de 3O km/h, alto índice para a época. Viajou também à Inglaterra, freqüentando a Universidade de Bristol como aluno ouvinte, e retornou a Paris para dar continuidade aos estudos e ao seu objetivo maior. Após viagem ao Brasil, prossegue sua trajetória. Entra em contato com Lachambre e Machuron, construtores do balão l'Oern, que havia realizado importante expedição ao Pólo Norte. Em 1898 fez, com Machuron, sua primeira ascensão num balão de 75O m3. Partiram do Parque de Vaugirard e voaram duas horas até o parque do castelo de La Ferriere, um percurso de 1OO km. O vôo permitiu a Santos-Dumont refletir sobre a utilidade do cabo-pendente, sem o qual a aterrissagem de um balão esférico apresentaria grandes dificuldades. Sua função era impedir a queda ou torná-la de menor impacto. Logo após essa experiência, Santos-Dumont decide mandar construir para si um balão que já havia idealizado. BALÃO BRASIL Santos-Dumont encomendou o balão à tradicional Casa Lachambre. Acompanhando pessoalmente todas as etapas da produção, desde o corte do tecido até a montagem da barquinha de vime, teve a oportunidade de aprender em detalhes como se construía um balão esférico e de introduzir inovações. O balão, de 103 m3, era muito pequeno em relação aos demais; o cesto de vime, com diferente trançado de varetas e para uma só pessoa; as cordas, de seda japonesa como o invólucro, com pouquíssimo peso; corda-pendente mais longa. Enfim, dizia-se que Santos-Dumont o carregava numa maleta. Embora alguns especialistas duvidassem que um aerostato de volume tão diminuto pudesse subir levando no cesto de vime um homem, o Balão Brasil, assim denominado, ganhou os ares de Paris e deslumbrou a população. DIRIGÍVEL Nº 1 Depois do êxito do Balão Brasil, Santos-Dumont passou a dedicar-se à construção de outros modelos, voltados para a dirigibilidade e a propulsão. Nenhum progresso prático nesse sentido havia sido alcançado depois das experiências de Giffard, em 1852. E, apesar da descrença por parte dos aeronautas quanto à dirigibilidade dos balões, Santos-Dumont acreditava que sua realização não estava além das possibilidades da época. Empenhou-se na construção do dirigível nº 1, de forma alongada, com invólucro de seda japonesa e motor a gasolina para acionar a hélice. Na opinião dos aeronautas e construtores, a presença do motor em contato com o hidrogênio do invólucro traria sérios riscos de explosão. Além disso, alegavam que sua trepidação poderia provocar o desmantelo da pequena nacela e seus pertences. Para resolver a questão, Santos-Dumont projetou seu dirigível de modo que não houvesse possibilidade de o hidrogênio, em caso de escape, ser atingido pelas faíscas de descargas. O único risco por ele previsto, o qual estava disposto a correr, seria uma explosão acidental no depósito de gasolina. Quanto à trepidação, verificou que, com o aparelho suspenso, ela desaparecia. No dia 20 de setembro de 1898, Santos-Dumont fez a primeira ascensão com o nº l. Partindo do "Jardin d'Acclimatation", voou sobre os telhados de Paris, contra e a favor dos ventos. Navegou no ar, realizou evoluções, subiu e desceu sem sacrifício de gás. Enfim, dirigia pioneiramente um aerostato e despertava grande curiosidade. Porém, sua audácia não transcorreu sem contratempos. Ao descer, o balão começou a dobrar-se ao meio. Desvencilhou-se do acidente graças a um grupo de meninos, que a seu pedido agarraram o cabo-pendente e correram com toda a força contra o vento, amortecendo a queda.

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86 A Imprensa saudou com entusiasmo o feito, destacando o pioneirismo em relação à dirigibilidade e à propulsão. O resultado obtido, somado às observações feitas durante o vôo, criaram em Santos-Dumont certezas de que estava no caminho certo. OUTROS INVENTOS Após outro acidente com o dirigível nº 2, Santos-Dumont construiu o nº 3, com o qual fez várias evoluções voando sobre Paris e seus arredores. No dia 13 de novembro de 1899, partiu para a mais feliz das suas ascensões, quando contornou a Torre Eiffel. O aviador continuou inovando. Projetou e construiu o primeiro hangar do mundo após verificar que a perda de gás seria mínima se os dirigíveis fossem mantidos cheios entre as ascensões. Concluiu, assim, que faria economia e ganharia tempo se os invólucros deixassem de ser dobrados e guardados. Próximo a esse hangar, localizado num terreno do Aeroclube da Franca, instalou sua oficina. Essa foi a primeira infra-estrutura da história da aviação. AS GRANDES EXPOSIÇÕES DE PARIS No final do século XIX, Paris foi marcada por eventos que atraíam multidões interessadas no avanço científico, industrial e artístico da época. Destacou-se a Grande Exposição Universal de Paris, realizada em 19OO num conjunto de edificações que incluía o Grand Palais. Eram expostos produtos e inovações nos setores da agricultura, indústria e tecnologia. Buscava-se, assim, exprimir a visão de mundo da época, refletida na grandeza da França, uma das nações que mais impulsionava o progresso. O acesso à exposição foi facilitado pelo metrô, inaugurado nesse ano; nessa área da exposição, outro trem de superfície interligava os pavilhões. Contagiado por esse vanguardismo e sabendo da existência de um pavilhão especial para o desenvolvimento da aerostação, Santos-Dumont prosseguiu revigorado em seus projetos, iniciando a construção do dirigível nº 4. Vários aperfeiçoamentos levaram ao nº 5, cujos ensaios e experiências animaram o inventor a tentar a conquista do Prêmio Deutsch. PRÊMIO DEUTSCH: TENTATIVAS Paris fervilhava. No campo da Aeronáutica, a passagem do século foi marcada por muitas comemorações. Sucediam-se iniciativas. Uma delas foi a oferta de 1OO mil francos a quem conseguisse, tanto em dirigível quanto em aeroplano, contornar a Torre Eiffel, cumprindo o trajeto que partia do campo de Saint-Cloud, sobrevoava o Sena, o campo de Bagatelle e retornava ao ponto de partida no tempo máximo de meia hora. O prêmio era oferecido por Deutsch de la Meurthe, um empresário ligado à exploração e ao refino do petróleo. Em 1887, ele havia patrocinado o desenvolvimento de um motor de explosão a gasolina destinado a veículos. Em 13 de julho de 1901, Santos-Dumont concorreu ao prêmio com o dirigível nº 5. Nessa tentativa, o aeróstato subiu, mas após contornar a torre o motor da aeronave parou e o vento a arrastou, fazendo-a ir de encontro às árvores do parque de Edmond de Rothschild. Em 8 de agosto, iniciou uma segunda tentativa. Na presença da Comissão Científica do Aeroclube da França, partiu para a Torre Eiffel, contornou-a e tomou a direção de volta a Saint-Cloud. O balão perdia hidrogênio. Mesmo assim, resolveu prosseguir. Com a perda de gás, as cordas de suspensão iam sendo cortadas pela hélice, obrigando-o a parar o motor. o aparelho caiu e bateu contra o telhado do Hotel Trocadero, causando uma violenta explosão. Santos-Dumont ficou suspenso na quilha de seu dirigível, sendo retirado pelos bombeiros de Paris. A CONQUISTA DO PRÊMIO DEUTSCH No mesmo 8 de agosto, Santos-Dumont já elaborava planos para a construção do dirigível n° 6, concluído em dois dias. Por telegrama enviado ao Aeroclube da Franca, convocava os juizes para a prova no dia 19 de outubro de 1901. Devido ao mau tempo, apenas cinco dos 25 membros da comissão compareceram, dentre eles Deutsch de la Meurthe. Após o disparo do cronômetro, o n° 6 subiu meio de lado, ganhando altura gradativamente. Alcançou a Torre Eiffel em plenas condições de segurança e nove minutos após a partida já a havia contornado e iniciava a

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87 volta. O público aplaudia; aqueles que estavam em suas casas e escritórios saíram para as ruas; o transito parou. Mas Santos-Dumont dispunha de apenas 20 minutos para regressar, contra o vento, com ameaça de pane no motor. O aviador conseguiu superar o problema, manobrou os lastros e restabeleceu o nivelamento do dirigível. Nesse momento, o público dava como certa a vitória. A manifestação era grande, chapéus eram atirados para cima, pessoas subiam em pontos altos para saudá-lo. Faltando apenas 5 minutos para completar meia hora, aproximava-se do Boulard Lannes. Já estava sobre o Bois quando perdeu altura. Nos últimos minutos, a aeronave cambaleava, já próxima da linha de chegada, quando cruzou-a a 29 minutos e 30 segundos após a partida. Com esforço conseguiu nivelá-la a 120 metros de altura e foi descendo até que seus mecânicos agarrassem a corda-guia, quando os cronômetros marcavam 30 minutos e 29 segundos. No entanto, a comissão não foi unanime. A prova havia sido alterada poucos dias antes e exigia que o dirigível fizesse o percurso e pousasse em 30 minutos. Um dos membros da comissão, o Marquês de Dion, disse que ele havia perdido o prêmio por ter pousado alguns segundos além do estipulado. No dia seguinte, os jornais traziam relatos de testemunhas e comentários de quem não se conformava com o resultado. Santos-Dumont permaneceu isolado em sua casa. As discussões prosseguiram; imprensa e público mostravam-se cada vez mais inconformados. No dia 4 de novembro, a comissão se reuniu no Aeroclube sob a presidência do príncipe Roland Bonaparte: Santos-Dumont foi declarado vencedor por 14 votos contra nove. 0 prêmio, a essa altura elevado para 129 mil francos, somando os juros e acrescentando recompensas, foi destinado a seus auxiliares e aos pobres de Paris. O governo brasileiro de Campos Salles enviou-lhe outro prêmio no mesmo valor, acompanhado de uma medalha de ouro com sua efígie e a paródia à Camões: "Por céus nunca dantes navegados". Sua popularidade atingiu o auge, e seu nome era pronunciado no mundo todo; sua imagem aparecia em cartões-postais e lembranças. Recebeu o primeiro título de Sócio Honorário do Aeroclube de Londres e cumprimentos de importantes personalidades como Thomas Edison, Samuel Langley e seus amigos do Aeroclube da França. ESTADIA EM MÔNACO E A ESTAÇÃO DE NEUILLY Depois do sucesso alcançado em Paris, Santos-Dumont recebeu vários convites para visitar países da Europa. A convite do príncipe de Mônaco, que mandou construir um hangar e um aeródromo para suas evoluções, permaneceu algum tempo nesse principado com ampla liberdade para realizar vôos experimentais e aperfeiçoar seus conhecimentos de dirigibilidade e propulsão a motor. Santos-Dumont já havia construído a primeira infra-estrutura aeroportuária do mundo. Em 1903, voltou-se para a construção de uma estação de aeronaves. Escolheu um terreno em Neuilly e ali ergueu um novo e espaçoso hangar. Nesse mesmo ano, concluiu a construção de um dirigível de corrida, o n° 7, com o qual fez poucas aparições, reservando-o para provas de velocidade com outros inventores, que nunca apareceram. Pulou o n° 8 por superstição, provavelmente por causa de um acidente quase fatal, ocorrido no dia 8 de agosto de 1901. Ainda em 1903 construiu o n° 9, o menor e o mais famoso de seus dirigíveis. Com ele, fez muitos passeios sobre Paris, sendo visto quase diariamente. Com objetivo de mostrar sua versatilidade e capacidade de transportar, como qualquer outro veículo, descia em plena avenida do Bois de Boulogne, na hora do passeio da alta sociedade, ou no Aeroclube da França, para conversar com amigos. Nesse mesmo ano, preparava o n° 10, o dirigível-ônibus, com capacidade para transportar cerca de 20 passageiros. Convencido da segurança do vôo, levou a bordo do n° 9 um menino de 7 anos, a primeira criança a voar num dirigível. Logo após, ocorreu um fato curioso. Aída Costa, uma jovem cubana freqüentadora da estação de Neuilly, manifestou vontade de voar. Depois de um tempo de observação e uma série de lições, voou sozinha, indo da estação a Bagatelle e retornando ao ponto de partida. Foi a primeira mulher no mundo a conduzir um dirigível. O EXÉRCITO DESCOBRE O DIRIGÍVEL Em 1903, após a insistência de oficiais do Exército, Santos-Dumont aceitou o convite para desfilar com o dirigível nº 9 no dia 14 de julho, data nacional francesa. Voando sobre 50 mil militares e 200 mil espectadores, o dirigível evoluiu e, diante do palanque presidencial, nosso aviador realizou uma "salva" de 21 tiros de revólver. Depois dessa demonstração, os militares atribuíram maior importância ao dirigível em caso de guerra e o convidaram para outros ensaios. Em resposta, colocou sua frota à disposição do Exército,

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88 desde que não fosse utilizada contra os países da América, e, caso houvesse confronto envolvendo o Brasil, suas invenções estariam à disposição do seu país natal. Santos-Dumont previa a importância do uso dos dirigíveis no ataque a submarinos, pois, de uma certa altura, sobre a superfície do mar, poderia localizá-los e lançar bombas. ENTRAM EM CENA OS IRMÃOS WRIGHT Em 1904, Santos-Dumont recebeu a notícia que, nos Estados Unidos, os irmãos Orville e Wilbur Wright afirmavam ter conseguido voar em 1903 com um aeroplano mais pesado que o ar. No entanto, esse vôo foi realizado sem a presença de uma comissão científica e de qualquer testemunha. Seu único registro foram publicações nos jornais com base nos relatos dos próprios aviadores. Posteriormente, o vôo de 1903 foi aceito publicamente, mas com um caráter de dependência de recursos externos ao aparelho. Como o motor de 12 HP era insuficiente para elevar o aeroplano do solo, decolaram com auxílio de catapulta. Somente em l908, dois anos após o vôo do 14-Bis, Wilbur Wright esteve na França para realizar demonstrações, mostrando publicamente a superioridade do aparelho em relação a todos os que estavam sendo produzidos na Europa. Alegou que esse avião fora construído com base no modelo original de 1903. Os fatos descritos parecem-nos superar uma polêmica que já perdeu totalmente seu sentido. O 14-BIS Mesmo tomando conhecimento do vôo dos irmãos Orville e Wilbur Wright e do vôo planado de Gabriel Voisin na Praia de Berck, Santos-Dumont não deixou de lado seus dirigíveis. Foi apenas em 1905 que passou a se preocupar com o-mais-pesado-que-o-ar, após observar um vôo realizado por Voisin em seu novo planador, percebendo que dali em diante o futuro da aviação estaria ligado ao aeroplano. Em julho de l906, Santos-Dumont testou um estranho aparelho biplano, formado por uma série de caixas de hastes de pinho recobertas com tela fina, denominada células de Hargraves. O aeroplano tinha 1O metros de comprimento, 12 metros de envergadura, superfície total de 8O m2, pesava 16O quilos e era movido por um motor Levavasseur de 24 HP de potência, mais tarde ampliado para 5O HP. As primeiras experiências realizadas para verificar a estabilidade e o equilíbrio do aeroplano foram feitas com sua suspensão em cabo de aço estirado em dois postes. Animado com os resultados, partiu para experiências com o aeroplano suspenso no dirigível nº 14 - daí o nome 14-Bis. Dessa forma, a manutenção no ar passava a ser dada pelo balão, e a direção, pelo aeroplano. Ainda não satisfeito com o resultado dos testes, resolveu simular um vôo com o 14-Bis. Suspendeu o aeroplano num cabo de aço e o fez deslizar com o auxílio de um jumento que puxava o aparelho. Seu objetivo era sentir o equilíbrio de sua máquina. Depois, decidido a fazer os testes definitivos, recebeu autorização para usar os gramados do Campo de Bagatelle. A CONQUISTA DA TAÇA ARCHDEACON Com o objetivo de atrair os Irmãos Wright, Ernesto Archdeacon oferecia uma taça e um prêmio de 3 mil francos para o piloto que, elevando-se por seus próprios meios, realizasse um percurso mínimo de 25 metros. Os irmãos Wright não se apresentaram para concorrer ao prêmio, que permaneceu em vigor. Santos-Dumont encontrava-se na última etapa das experiências com o 14-Bis. Era o momento para tentar a conquista do prêmio. Em 23 de outubro de l906, diante de Ernest Archdeacon e da comissão do Aeroclube da França, ele parte para a tentativa de vôo. No Campo de Bagatelle, entrou na nacela do aeroplano, ligou o motor e logo o aparelho começou a movimentar-se: elevou-se do solo, percorrendo a distancia de 60 metros a aproximadamente 2 metros de altura. Era a primeira vez que o homem, num aparelho mais pesado que o ar, elevava-se do solo e tornava a descer com recursos próprios. A multidão presenciou o fato com grande entusiasmo, que teve imensa repercussão na imprensa do mundo todo. Estava conquistada a Taça Archdeacon. PRÊMIO DO AEROCLUBE Após a conquista da Taça Archdeacon, ainda em 1906, Santos-Dumont já se preparava para uma nova disputa. O Aeroclube da França oferecia um prêmio de 1.5OO francos ao aviador que, elevando-se do solo

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89 por seus próprios meios, realizasse um percurso mínimo de 1OO metros. Dessa vez, concorreria com os aviadores Voisin e Blériot, que haviam construído um monoplano em parceria. No dia da prova, 12 de novembro, Santos-Dumont ofereceu a sua vez a seus concorrentes, mas o aeroplano de Voisin e Blériot quebrou e não decolou. Às 1O horas, Santos-Dumont partiu para a primeira tentativa, sem sucesso. A ela, sucederam-se outras duas, também malsucedidas. Foi apenas na quarta tentativa que o aviador, partindo no sentido inverso das anteriores e contra o vento, alcançou o sucesso almejado. O 14-Bis ultrapassou os 2OO metros de vôo, e Santos-Dumont conquistou o prêmio. Causando grande impacto nos espectadores, Santos-Dumont voltou a figurar em revistas e jornais com a mesma projeção dos anos anteriores. A história da aviação toma um novo rumo. O vôo de 12 de novembro motivou os inventores e construtores a conduzir seus estudos para o mais-pesado-que-o-ar e a trabalhar intensamente nessa direção. Voisin fabricou com Léon Delagrange um biplano que voou em Bagatelle, em março e abril de l907. Nesse período, Blériot também realizava pequenos vôos com seus modelos. Em 2 de novembro, Farman, em um aeroplano Voisin, superou o recorde do 14-Bis ao voar 771 metros em 52 segundos. Santos-Dumont projetava novas estruturas e asas. Porém, os projetos que se seguiram, do nº 15 ao nº 18, não tiveram resultados práticos. Seus aperfeiçoamentos conduziram-no a um modelo menor, mais versátil, que pudesse subir e descer em qualquer parque de Paris. DEMOISELLE No final de l907, Santos-Dumont cria o seu menor, mais versátil e prático aparelho aéreo, o "Demoiselle", construído em apenas 15 dias. Uma treliça de bambu com juntas metálicas constituía sua estrutura de 8 metros de comprimento. Contava com um motor de dois cilindros opostos, com potência de 35 HP. O aparelho, veloz e seguro, voou com facilidade: trouxe ao aviador grande mobilidade para visitar amigos, participar de competições, pousar e decolar em pequenos campos. Em uma de suas demonstrações no Campo de Saint-Cyr, quando voava diante de grande número de espectadores, desapareceu repentinamente, criando suspense. O público ficou sem saber o que havia acontecido. Na verdade, Santos-Dumont acabou distanciando-se movido pelo desejo de ganhar velocidade, mas devido a uma pane no motor foi obrigado a pousar no gramado do Castelo de Wideville. Esse vôo foi considerado o primeiro reide da história da aviação ao sobrevoar 18 quilômetros. Como ocorrera com todos os seus inventos, também não registrou a patente do monoplano, autorizando outros fabricantes a copiá-lo e lançar réplicas no mercado. Difundido no mundo, muitos "Demoiselles" foram construídos, e vários pilotos famosos da Primeira Guerra Mundial nele iniciaram seu aprendizado. Depois desse nº 19, Santos-Dumont desenvolveu outros modelos semelhantes, sempre introduzindo aperfeiçoamentos que Ihe permitissem alcançar maior velocidade e estabilidade. Assim, construiu os "Demoiselles" nº 20, nº 21 e nº 22, alterando a estrutura das asas, da fuselagem e experimentando vários motores que Ihe dessem equilíbrio adequado. No fim de 1909, mais de 40 exemplares tinham sido vendidos a preço de um automóvel médio. FIM DA ATIVIDADE AERONÁUTICA A fase de nascimento da aviação consolidou-se com o histórico ano de l909, no qual ocorreram dois grandes eventos: a "Semaine de Champagne", em Reims, na França, que foi o primeiro encontro aeronáutico do mundo, durante o qual foram disputadas várias provas, com prêmios que somaram 2OO mil francos, e o desafio da ousada travessia do Canal da Mancha, lançado a todos os aviadores. Antes de chegar aos 4O anos, tendo dedicado quase toda sua vida à conquista do ar, Santos-Dumont sentia-se cansado. Sofrendo de esclerose múltipla, seus reflexos estavam falhando e sua aparência não era mais a mesma. Não podia competir com os novos aviadores, dispostos a correr quaisquer riscos pelo desejo de voar.

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90 No ano de 191O, Santos-Dumont fechou sua oficina e dispensou os mecânicos, retirando-se do convívio social. Com o "Demoiselle" encerrou sua carreira na aviação, abrindo espaço para outros aviadores e construtores. Santos-Dumont tinha consciência da importância do aeroplano para o progresso da humanidade. Porém, manifestava inconformismo com a tendência , para ele inevitável, de a aviação civil construir máquinas cada vez mais possantes, a um custo elevado, dificultando a popularização desse meio de transporte. Em reconhecimento às suas conquistas, o Aeroclube da França o homenageou com a construção de dois monumentos: o primeiro, em 1910, erguido no Campo de Bagatelle, onde realizara o vôo com o 14-Bis, e o segundo, em 1912, em Saint-Cloud, em comemoração ao vôo do dirigível nº 6, ocorrido em 1901. DA PRIMEIRA GUERRA AOS ANOS TRINTA Em agosto de 1914, a França foi invadida pelas tropas alemãs. Iniciava-se a Primeira Guerra Mundial. Aeroplanos começavam a ser usados para observação das tropas inimigas e, logo depois, empregados em combates aéreos. No início, esses combates eram simples troca de tiros entre os aviadores. Depois, veio o uso de metralhadoras e o lançamento de bombas, com poder de destruição progressivamente maior. Nessa época, Santos-Dumont residia em Trouville, próximo ao mar, onde se dedicava à Astronomia. Alguns moradores do lugar, por desconhecer a finalidade dos aparelhos de observação astronômica, denunciaram-no às autoridades como um espião incumbido de transmitir aos inimigos os movimentos dos navios de guerra franceses. Acusado de ser colaboracionista, foi preso pelas autoridades locais sob suspeita de espionagem. Mas logo o incidente foi desfeito, com pedido de desculpas formais do governo francês. Agravando-se seu estado de saúde, veio para o Brasil à procura de refúgio e repouso. Em 1915, Santos-Dumont participa do 11 Congresso Científico Pan-Americano nos Estados Unidos, trazendo a questão do uso do avião como forma de facilitar as relações entre as Américas. Entretanto, a indústria militar crescia assustadoramente para a época, chegando a produzir, nos Estados Unidos, cerca de 16 aviões por dia. Com a guerra em pleno curso, o aeroplano era cada vez mais utilizado pelos países beligerantes. Depois de visitar os Estados Unidos e outros países da América Latina, Santos-Dumont regressou ao Brasil. Sentindo-se amargurado e deprimido, procurou um lugar tranqüilo para se estabelecer. Encontrou-o em Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, onde projetou e construiu "A Encantada", uma casa cheia de inovações e características peculiares. Lá permaneceu até 1922, quando, chamado pelos amigos, decidiu visitar a Franca. Santos-Dumont não se fixava em lugar algum. Viajava para Paris e retornava ao Brasil: aqui, passava dias em São Paulo, ia para o Rio, Petrópolis e Cabangu. Em fevereiro de 1926, fez um apelo à Sociedade das Nações, organização precursora da ONU, pedindo a interdição das máquinas aéreas como armas de guerra: Por certo esse apelo não teve resultado. Com o agravamento de sua tensão nervosa, recolheu-se em um sanatório na Suíça. Em 1927, foi convidado para presidir as comemorações pela travessia do Atlântico realizada por Charles Lindberg, mas seu estado de saúde não Ihe permitiu atender ao convite. Em 1928 retornou ao Brasil. O Rio preparava-se para recebê-lo festivamente. Um hidroavião da empresa Condor Syndikat, batizado com o nome Santos-Dumont, iria recepcioná-lo levando a bordo pessoas de projeção ligadas aos setores técnico e científico. Mas ao sobrevoar o navio Cap. Arcona, no qual vinha o inventor, o avião sofreu um terrível acidente, do qual não houve sobreviventes. Fortemente abatido, Santos-Dumont suspende o programa de festividades, voltando a Paris poucos dias depois. ÚLTIMOS ANOS 193O. Ano da revolução que depôs o presidente Washington Luís e empossou o governo provisório de Getúlio Vargas. Muitos amigos de Santos-Dumont foram presos e exilados, entre eles o embaixador Antônio Prado, que partiu para a Europa. Em 1931, Santos-Dumont estava internado numa casa de saúde em Biarritz, sul da Franca, onde o embaixador o encontrou em delicado estado de saúde. Imediatamente, Antônio Prado entrou em contato com a família do inventor, e seu sobrinho Jorge Dumont Villares partiu para a França a fim de trazê-lo ao Brasil.

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91 De volta, em 1931, estiveram em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e resolveram instalar-se no Hotel La Plage, no Guarujá. Em 1932 ocorreu a Revolução Constitucionalista, que levantou particularmente o Estado de São Paulo contra o governo provisório de Getúlio Vargas: nela, o avião foi usado como arma de combate. No dia 23 de julho, aviões legalistas atacaram o Campo de Marte, em São Paulo, e dirigiram-se para Santos, sendo muito provável que tenham sobrevoado o Guarujá. Nesse dia, aproveitando-se de breve ausência de seu sobrinho, Santos-Dumont pôs fim à sua angústia e à própria vida. CRONOLOGIA 1873 - Julho - Nasce Alberto Santos-Dumont em Cabangu, MG. 1879 - Muda-se com a família para uma fazenda de café na região de Ribeirão Preto, SP. 1883/85 - Realiza seus primeiros estudos no Colégio Culto à Ciência, em Campinas, SP. 1888 - Vê um balão aerostático pela primeira vez, na cidade de São Paulo, em uma exposição de equipamentos aeronáuticos construídos na França. 1891 - Novembro - Visita uma exposição no Palácio das Indústrias, em Paris, onde vê pela primeira vez um motor a explosão. 1892 - Fevereiro - É emancipado por seu pai em cartório da cidade de São Paulo. - Setembro - Fixa residência em Paris, na Rua d'Edimbourg nº 26. 1894 - Freqüenta como aluno-ouvinte a Universidade de Bristol, na Inglaterra. 1897 - Constrói um motor a explosão de dois cilindros, adaptando-o a um triciclo. 1898 - Março - Por 25O francos, faz sua primeira ascensão em balão livre. - Julho - Leva aos ares o Balão Brasil, seu primeiro projeto. - Setembro - Faz sua primeira ascensão com o dirigível nº 1, o primeiro de uma série que constrói ao longo de sua vida. 1899 - Maio - Faz a sua única ascensão com o dirigível nº2. - Novembro - Faz a primeira experiência com o dirigível nº3. 1900 - Março - A Comissão Científica do Aeroclube da França institui o Prêmio Deutsch, oferecido por Henri Deutsch de la Meurthe, empresário ligado ao refino do petróleo e grande incentivador da aviação. - Junho - Finaliza a construção de seu hangar em Saint-Cloud, no parque de aerostação do Aeroclube da Franca. - Setembro - Faz experiência com o dirigível nº 4, em Saint-Cloud. 1901 - Julho - Circula a Torre Eiffel com o dirigível nº 5, na primeira tentativa de conquistar o Prêmio Deutsch. - Agosto - Acidenta-se com o nº 5 chocando-se com o Hotel Trocadero. - Outubro - Concorre ao Prêmio Deutsch de la Meurthe. Realiza a prova diante da Comissão do Aeroclube da França, contornando a Torre Eiffel e retornando a Saint-Cloud em 3O minutos. - Novembro - O Aeroclube da França declara-o vencedor do Prêmio Deutsch. 1902 - Janeiro - Viaja a Mônaco a convite do príncipe Alberto I, que construiu um hangar especialmente para a realização de suas ascensões com o dirigível nº 6. - Abril - Viaja aos Estados Unidos, onde visita os laboratórios do inventor Thomas Edison, em Nova York, e é recebido na Casa Branca, em Washington, pelo Presidente Theodore Roosevelt. - Maio - Em Londres, tem o invólucro de seu dirigível nº 6 rasgado por sabotagem no "Crystal Palace". - Projeta o dirigível nº 7, um dirigível de corrida. 1903 - Finaliza a construção do novo hangar em Neuilly, Paris. - Faz os primeiros ensaios com o dirigível nº 9 e com ele, posteriormente, muitas ascensões. - Julho - Sobrevoa, com o dirigível nº 9, a formatura militar em Longchamps, Paris, durante as comemorações do 14 de julho, data nacional francesa. - Constrói o dirigível nº 10, chamado dirigível-ônibus, com capacidade para dez passageiros.

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92 1904 - Junho - Chega aos Estados Unidos, para participar da corrida de dirigíveis de Saint-Louis, mas sofre ação criminosa de sabotadores, que inutilizam o invólucro do seu dirigível nº 7. 1905 - Projeta o nº 11, um monoplano bimotor, e o nº 12, um helicóptero, mas não os conclui. - Finaliza a construção do nº 13, uma aeronave com dois balões destinada a longas viagens, mas não obtém resultados práticos. - Agosto - Faz experiências com o dirigível nº 14 Trouville, na costa do Canal da Mancha. 1906 - Julho - Inscreve-se, em Paris, para disputar duas provas de aviação: a Taça Archdeacon e o Prêmio do Aeroclube da França. - Outubro - Em Bagatelle, eleva o 14-Bis com propulsão própria e realiza um vôo de mais de 5O m de distancia, diante da Comissão Fiscalizadora do Aeroclube da Franca, obtendo a Taça Archdeacon. - Novembro - Em Bagatelle, realiza com o 14-Bis um vôo de 22O m, mantendo-se a 6 m de altura, e assim conquista o Prêmio do Aeroclube. 1907 - Março/Junho - Faz experiências com o aeroplano nº 15 e com o dirigível nº 16, mas desiste desses projetos por não obter bons resultados. - Setembro - No Rio Sena, faz experiências com o nº 18, um deslizador aquático. - Novembro - Testa o primeiro modelo do aeroplano "Demoiselle". 1908 - Dezembro - Expõe um exemplar do "Demoiselle" na Exposição Aeronáutica, realizada no Grand Palais de Paris. 1909 - Janeiro - Obtém o primeiro brevê de aviador, fornecido pelo Aeroclube da França. - Setembro - Estabelece o recorde de velocidade voando a 96 km/h num ''Demoiselle''. Faz com um "Demoiselle" um vôo de 18 km, de Saint-Cyr ao castelo de Wideville, considerado o primeiro reide da história da aviação. 1910 - É inaugurado um marco de granito no Bois de Boulogne, assinalando os primeiros recordes de aviação estabelecidos por Santos-Dumont em 1906. 1913 - Outubro - O Aeroclube da França inaugura um monumento em Saint-Cloud, em comemoração do vôo do dirigível nº 6. 1915/16 - Realiza conferência no Congresso Científico Pan-americano, em Washington, intitulada "Como o aeroplano pode facilitar as relações entre as Américas". 1918 - Abril - Publica o livro "O que eu vi- o que nós veremos", escrito em Petrópolis, na sua casa "A Encantada" 1921 - Março - É indicado como membro de honra do Aeroclube da França. - Maio - Em Paris, faz sua última ascensão aerostática no balão livre La Cignone. 1925 - Julho - Viaja de Paris para a Suíça, com destino à clínica de repouso Valmon. 1926 - Janeiro - Oferece um prêmio de 1O mil francos para a melhor obra escrita contra a utilização de aparelhos aéreos como armas de guerra. 1927 - Maio - É convidado pelo Aeroclube da França para presidir o banquete em homenagem a Charles Lindberg, mas motivos de saúde o impedem de aceitar. 1928 - Dezembro - Chega ao Rio de Janeiro, a bordo do vapor Cap Arcona, e presencia grave acidente com o avião que o recepcionava. 193O - Junho - É condecorado pelo Aeroclube da França com o título de Grande Oficial da Legião de Honra da França. 1931 - Fevereiro - Faz tratamento na Casa de Saúde de Préville, em Ortez, nos Baixos Pirineus, onde tem relativa melhora. - Junho - É eleito membro da Academia Brasileira de Letras, na cadeira que tem como patrono Tobias Barreto - Novembro - Parte para Araxá, Minas Gerais, para tratamento de saúde. 1932 - Maio - Muda-se para o Guarujá, SP

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93 - Julho - Com o início da Revolução Constitucionalista em São Paulo, manda uma mensagem aos brasileiros, posicionando-se contra a luta fratricida. - Falece aos 59 anos, no Hotel de la Plage, no Guarujá

Alferes Joaquim José da Silva Xavier O Tiradentes

Joaquim José da Silva Xavier, Alferes de Cavalaria das Tropas Pagas de Minas, mais conhecido por Tiradentes em virtude de sua habilidade como dentista prático, nasceu em 1746 na Fazenda de Pombal, situada na Vila de São João del-Rei em Minas Gerais. Tiradentes corporificou com bastante intensidade a raiz da nacionalidade, a ponto de ser consagrado como um dos mais expressivos heróis brasileiros e considerado, por lei, o "Protomártir da Independência". Aos 46 anos, a 21 de abril de 1792, foi imolado no altar dos heróis, representado por uma forca. Teve o corpo esquartejado e as partes exibidas em praça pública nas Capitanias do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, para servir de exemplo a quantos intentassem contra a força soberana da Metrópole no Brasil. Embora possa parecer que fracassou, o movimento da Inconfidência Mineira e o hediondo espetáculo da morte do alferes Xavier surtiram efeitos contrários aos pretendidos pela Coroa portuguesa. Os ideais de independência então cultuados e a imagem altaneira do mártir execrado serviram para provocar novos movimentos libertários e para consolidar no seio do povo brasileiro, a vontade de continuar lutando pelo sagrado direito de ser livre e soberano, esboçando, desde então, o futuro de grande nação que estava reservado ao Brasil. Mais de dois séculos depois de ter sido enforcado a mando da Rainha portuguesa - D. Maria -, no dia 21 de abril de 1792, o mártir da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, ou simplesmente Tiradentes, foi reabilitado pelo Presidente Mário Soares. O Presidente português, durante a solenidade, realizada no dia 7 de setembro de 1994, por ocasião das comemorações em Lisboa do Dia da Independência do Brasil, considerou "indigno arremedo da justiça, só um foi morto e esquartejado, o mais frontal e corajoso de todos", referindo-se à condenação e execução do herói brasileiro. José Joaquim da Silva Xavier teve, naquele momento em Portugal, mais uma vez reconhecido o valor maior da nacionalidade brasileira pelo qual dedicou a própria vida - "Liberdade ainda que tardia" .

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Marechal João Baptista Mascarenhas de Moraes

João Baptista Mascarenhas de Moraes aprendeu as primeiras letras em São Gabriel (RS), com a professora dona Amélia Gomes da Silveira, de quem sempre se recordou com saudade e ternura, exaltando-a como "moça inteligente e severa" e frisando, com gratidão, ter dela recebido não só o ensino da leitura, mas, principalmente, "os exemplos das mais dignas maneiras". Durante a sangrenta Revolução Federalista de 1893, sua família, premida por circunstâncias adversas, foi obrigada a mudar-se para Porto Alegre e submetida a severas restrições no orçamento familiar. Na Capital, com apenas dez anos de idade, veio a conhecer o que ele chamou de "atribulações de menino pobre", assumindo encargos de adulto, a fim de ajudar na manutenção da família. Sua mãe, dona Manuela (Siá Meca, na intimidade), "fazia pão em casa", cuja massa ele tinha de ajudar a sovar, subindo num caixote à altura da mesa. Depois saía com um balaio nos braços, para vender pão de porta em porta, onde aprendeu, com o labor diário, a arte de vencer no jogo da vida por seus próprios méritos. Enquanto isso, seu pai percorria o interior do Estado, com o modesto emprego de caixeiro-viajante. Impelido, interiormente, por forte anseio de progresso pessoal, enquanto auxiliava na manutenção do lar, estudava, buscando por meio do caminho da cultura, os "segredos" da auto-realização, mirando-se nos exemplos das civilizações que compõem os valores imortais da humanidade. Após a pacificação do Rio Grande do Sul, sua família retornou, em 1898, a São Gabriel, onde seu pai se estabeleceu com uma pequena casa comercial. Nessa época, o futuro Marechal contava apenas 14 anos de idade e não pôde acompanhar os pais. Estava empregado e estudando para matricular-se na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo, celeiro de grandes personalidades brasileiras. Nas suas memórias, o Marechal Mascarenhas lembrava as paradas militares de sua cidade, que o deslumbravam pelo "brilho das espadas e o vibrar dos clarins". Eis a origem de sua vocação latente pela carreira das armas. Eis as primeiras manifestações de sua predestinação militar. O jovem Cadete de Escola Militar do Rio Pardo dedicou a vida à Pátria. Na singular personalidade, plasmada na vivência de sessenta e cinco anos voltados para o Exército, despontam o valor do militar forjado na provação dos campos de batalha e a virtude do verdadeiro cidadão. A destacada ação de comando da FEB, resultante de suas excepcionais qualidades de soldado, levou-o ao ápice de uma carreira edificada pelo cumprimento do dever, pela lúcida compreensão da responsabilidade e pela fé na justiça.

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Marechal Carlos Machado Bitencourt

Ufana-se, com sobradas razões, a Cidade de Porto Alegre de ter sido o berço de um dos chefes militares que mais alto levou a noção de cumprimento do dever, dando a vida - verdadeiro mártir da República - em defesa da do Chefe da Nação. Seus contemporâneos o chamaram o "Marechal de Ouro" e o Serviço de Intendência do Exército o elegeu seu Patrono. Nasceu Carlos Machado de Bitencourt em Porto Alegre, Província do Rio Grande do Sul, a 12 de abril de 1840 e faleceu assassinado, no Rio de Janeiro, a 5 de novembro de 1897, aos 57 anos, 6 meses e 23 dias de idade. Era filho do Brigadeiro Jacinto Machado de Bitencourt e de D. Ana Maurícia da Silva Bitencourt. Vinha de uma estirpe de bravos soldados, pois o pai morrera em Assunção, a 4 de abril de 1869, na função de comandante do 2o Corpo de Exército em Operações contra o Governo do Paraguai, e o avô, Major Camilo Machado de Bitencourt, tombara gloriosamente a 3 de abril de 1818, na tomada do reduto de São Carlos, durante a 2a Campanha Cisplatina. A 1o de janeiro de 1857 assentou praça no 13o Batalhão de Infantaria, sediado em Porto Alegre, com destino ao 1o Regimento de Cavalaria, aquartelado na Corte. A 15 de julho, filho de tenente-coronel de primeira linha, era reconhecido 1o cadete, recolhendo-se, então, a Corte, sede de sua unidade. A 17 de fevereiro de 1858 seguia para Porto Alegre, a fim de efetuar matrícula na Escola Militar do Rio Grande do Sul. A 7 de maio do ano seguinte, voltava ao Rio de Janeiro, com destino a Escola Central, mais tarde Escola Politécnica e hoje Escola Nacional de Engenharia. A 7 de setembro do mesmo ano era promovido a 1o sargento, com permissão para assistir aos exercícios práticos na Escola de Aplicação. A 28 de junho de 1860 era aprovado no exame prático de artilharia e a 2 de dezembro promovido 2o tenente e classificado no 1o Regimento de Artilharia. Por estar freqüentando a Escola Central, ficou adido ao 1o Batalhão de Artilharia a Pé. A 26 de setembro de 1861, por ter concluído os exames finais do 2o ano, passou a servir no 1o Regimento de Cavalaria, na qualidade de adido. Recolheu-se à sua nova unidade, o 1o Batalhão de Infantaria, a 1o de março de 1862. A 26 de abril do ano seguinte, era transferido, a pedido, para a arma de cavalaria e, na nobre arma de Osório e Andrade Neves; serviria até o último posto de oficial superior. 1o classificado no 1o Regimento, com permissão para concluir o curso de sua arma, terminando, a 19 de dezembro de 1864, o de infantaria e cavalaria.

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96 A 23 de outubro de 1865 seguia, voluntariamente, para o teatro de operações na República do Paraguai, onde seu pai já se encontrava, comandando o 12o de Infantaria, cognominado o "batalhão arranca-toco". A 25 de janeiro de 1866, apresentava-se 30 comando do 1o Corpo de Exército, na província argentina de Corrientes, sendo no meado Assistente do Deputado do Quartel-Mestre General junto à 7a Brigada de Infantaria, que seu pai comandava, na vanguarda do exército aliado. Tomou parte na importante operação da transposição do Rio Paraná, planejada e comandada pelo Marechal-de-Campo Manoel Luís Osório, fazendo jus aos louros que, em ordem do dia do Exército, lhe fez Sua Majestade Imperial. Sempre na vanguarda, tomou parte no combate à frente do Forte de Itapiru, na Batalha do Estero Bellaco e nos combates e bombardeios dos dias seguintes. Na 1a Batalha de Tuiuti, travada a 24 de maio de 1866, já ferido por bala, continuou na ação, até a vitória final das armas aliadas. Tomou parte no grande bombardeio de 4 de junho, no ataque ao Boqueirão do Sauce e no assalto ao Potreiro Sauce. A 19 de janeiro de 1867 participava dos reconhecimentos a viva força sobre a vanguarda inimiga e do combate de Tuiu-cuê, a 31 de julho. A 1

º de junho era promovido, por estudos, a 1o tenente e classificado no 4o Corpo de Caçadores a Cavalo.

Pela bravura demonstrada nos combates de abril de 1866 e na batalha de 24 de maio recebe, lago depois, o grau de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro. De janeiro a 27 de abril de 1868 esteve no Rio Grande do Sul, em tratamento de saúde, regressando ao exército em operações e tomando parte nos bombardeios de Tuiu-cuê, como Assistente do Deputado do Quartel-Mestre General junto ao comando da 3a Divisão de Infantaria. A 5 de maio seguia, com o Exército, rumo ao quadrilátero fortificado de Humaitá, tomando parte em todos os bombardeios do sítio e assistindo à rendição do Coronel Francisco Martinez, com os restos da guarnição da fortaleza, a 5 de agosto, em Isla-Poiá, no Chaco. Nesse dia, vingou-se Solano Lopez do bravo comandante de sua mais importante praça de guerra, mandando desrespeitar e trucidar sua infeliz esposa, a Sra. Juliana Isfrán Martinez, prima em terceiro grau do ditador e que fora uma das mais belas e prendadas moças de Assunção. Chicoteada, por um grupo de soldados bêbados, nua da cintura para cima, entre todos os demais prisioneiros, morreu a ilustre dama, reduzida a uma ruína de trapos e de sangue, depois de ter percorrido a pé 40 Iéguas, de Assunção a San Fernando e dali a Villeta. Em marcha para Palmas foi o Tenente Carlos Machado nomeado ajudante-de-campo do Brigadeiro Jacinto Machado Bitencourt, comandante do 1o Corpo de Exército. Tomou parte, depois, em todos os reconhecimentos a viva força, sobre a linhas fortificadas de Pikisiri e o Forte de Angostura. A 31 de outubro passou para a função de secretário do comando do mesmo Corpo de Exército. Tomou parte, com destaque, sempre na vanguarda, e ao lado de seu velho pai, em todas as operações da dezembrada, a passagem sobre o Chaco, o desembarque em Santo Antônio, a passagem da ponte de Itororó, as Batalhas de Avaí, Lomas Valentinas, Ita-ivaté, Pikisiri e Angostura. A 5 de janeiro de 1869, com o Estado-Maior do 1o Corpo de Exército, entrou na capital inimiga, devastada e saqueada pelos próprios habitantes. A 20 de fevereiro de 1869, o Marechal-de-Campo Guilherme Xavier de Souza, comandante-chefe interino, o promovia ao posto de capitão, pelos atos de bravura praticados na Batalha das Lomas Valentinas. Enquanto o Exército aguardava a chegada do Príncipe Gastão d'Orléans, nomeado para substituir o Marquês de Caxias, o Capitão Machado Bitencourt se desvelava em cuidados com seu pai, gravemente enfermo de moléstia adquirida na longa campanha. A 4 de abril falecia, no hospital brasileiro de Assunção, o bravo brigadeiro. Logo após, obtinha o Capitão Carlos licença para ir ao Rio Grande do Sul, atender sua progenitora. A 28 de junho, o Marechal Conde d'Eu conferia-lhe a Medalha de Mérito, pelo correto procedimento em todos os encontros de dezembro de 1868. A 15 de julho já estava de regresso ao teatro da guerra e a 18 de agosto se apresentava ao quartel-general das operações e a seu corpo, o 4o de Caçadores a Cavalo, assumindo o comando da 3a Companhia e marchando para a Campanha das Cordilheiras, a integrar a 2a Brigada. A 20 de janeiro de 1870 era mandado apresentar-se ao comando das forças ao norte do Manduvirá, a fim de ter destino. O casco de sua unidade fora mandado regressar ao Rio Grande, mas o destemido capitão pediu para permanecer na República do Paraguai. Assumiu, logo, a fiscalização do 2o Regimento de Cavalaria Ligeira, depois o comando de esquadrão. Terminada a luta, pela espada gloriosa do Brigadeiro Corrêa da Câmara, às margens do Aquidabanigui, ainda permaneceu o Capitão Bitencourt no Paraguai, com a tropa de ocupação, até 24 de julho, quando foi desligado e seguiu para o Rio Grande do Sul.

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97 A 30 de agosto apresentava-se em Porto Alegre ao Tenente-General Francisco Antônio da Silva Bitencourt, Comandante das Armas da Província, que mandou adi-lo ao 1o Regimento de Artilharia a Cavalo (São Gabriel). Apresentado ao corpo, assumiu o comando da 1a bateria. Logo depois era transferido para o 4o Regimento de Cavalaria. A 25 de maio de 1872, na Igreja de Nossa Senhora das Dores, em Porto Alegre, contraía núpcias com D. Maria José Lobo, de cujo consórcio houve 11 filhos. A 7 de julho de 1873 recebia a Medalha Geral da Campanha do Paraguai, com o passador de prata no 4. A 31 de março de 1874 foi nomeado 2o instrutor de Infantaria e Cavalaria na Escola de Guerra de Porto Alegre. Por decreto de 22 de junho, era-lhe conferida a insígnia de Cavaleiro da Ordem de São Bento de Avis e a 6 de setembro, o da de Cristo, ainda pela bravura demonstrada nos combates de dezembro de 1868. A 12 de setembro de 1876 era promovido a major, por merecimento e classificado no 3o Regimento de Cavalaria, onde se apresentou, assumindo o comando da unidade. A 14 de julho de 1881 era promovido a tenente-coronel, por merecimento e a 30 de outubro seguinte, transferido para o 1o Regimento de Cavalaria, unidade de elite da Corte. A 31 de outubro era promovido, por merecimento, ao posto de coronel e classificado no comando do 4o Regimento de Cavalaria Ligeira (Livramento), cuja função assumia a 8 de março, acumulativamente com o comando da guarnição e fronteira. A 13 do mesmo, o Ministro da Guerra, Conselheiro João José de Oliveira Junqueira permitia-lhe que usasse, em formatura, a espada de honra que lhe fora ofertada pelos oficiais do 1o Regimento de Cavalaria. A 24 de junho era transferido para o comando do 2o Regimento de Cavalaria Ligeira, para onde seguiu. A mudança do regime encontrou-o no comando da guarnição e fronteira de Jaguarão, onde o soldado modelar conservou-se fiel ao juramento à Pátria. Euclides da Cunha, ao estudar-lhe a vida, em "Os Sertões", assim se expressa sobre essa fase de sua vida: "A República fora-lhe acidente inesperado no fim da vida. Não a amou nunca. Sabem-no quantos com ele lidaram. Foi-lhe sempre novidade irritante, não porque mudasse os destinos de um povo, senão porque alterara umas tantas ordenanças e uns tantos decretos, velhos preceitos que sabia de cor e salteado." Parece-nos opinião um pouco exagerada... A 30 de janeiro de 1890 o Marechal Deodoro entregava-lhe as dragonas de brigadeiro, que o velho Jacinto Machado Bitencourt tanto honrara. A 15 de abril passaria esse posto à denominação de general-de-brigada, por força de modificação na hierarquia. Seu primeiro comando, como oficial-general foi o da guarnição e fronteira de Jaguarão, que já exercera como coronel. Logo depois era nomeado para o importante comando do 6o Distrito Militar e a 11 de março de 1890 assumia suas funções no Quartel-General de Porto Alegre, recebendo-as do Brigadeiro Carlos Resin Filho. Na madrugada de 13 para 14 de maio, elementos do povo, a tropa constituída pelos 17o e 30o de Infantaria e os alunos da Escola de Guerra de Porto Alegre atacaram o palácio do governo, obrigando o Dr. Francisco da Silva Tavares a deixar o poder. Ante a gravidade da situação, assumiu o governo do Estado o Brigadeiro Machado Bitencourt, que, com o ex-governador, teve ligeiras desinteligências, ao redigir-se o telegrama ao Generalíssimo Deodoro. O Brigadeiro queria dizer que aceitaria o governo para evitar derramamento de sangue, enquanto o Dr. Tavares preferia que ele declarasse que não pudera conter a marcha das tropas e dos cadetes sobre o palácio. O governo central manteve o brigadeiro no poder, para garantia da ordem e tranqüilidade no Rio Grande. Naquela época discutiu-se muito se o povo tomara ou não parte no ataque à sede do governo. O "Mercantil" publicou violento editorial a respeito, afirmando que meia dúzia de civis, a maior parte com a blusa militar dos cadetes, se havia incorporado à tropa amotinada. A 16 de julho de 1890, passava o General Bitencourt o governo do Estado ao General-de-Divisão Cândido Costa, novo governador nomeado, e, dias depois, o comando do 6o Distrito Militar, ao mesmo general. Promovido a general-de-divisão a 7 de abril de 1892, era nomeado para o comando do 4o Distrito Militar, com sede em São Paulo, do qual era dispensado a 23 de julho, para ir inspecionar a Escola Prática da Capital Federal. A 19 de setembro de 1894 passou o General Machado Bitencourt à disposição do Ministério da justiça, para exercer o Comando superior da Guarda Nacional. A 23 de maio de 1895 era nomeado para a alta função de ajudante-general do Exército. A 12 de julho seguinte recebia a graduação em marechal, por ter atingido o número 1 dos generais-de-divisão. A 23 de março de 1896 deixava o cargo de ajudante-general do Exército e a 15 de junho seguinte era nomeado Ministro do Supremo Tribunal Militar, entrando logo em exercício. A 17 de maio de 1897 o Presidente da República Dr. Prudente José de Moraes Barros o convidava a integrar seu ministério, confiando-lhe a Pasta da Guerra. Na região de Canudos, velha fazenda de gado à margem do Rio Vaza-Barris, no sertão baiano, lutava o Exército, havia mais de ano, contra a ignorância, a superstição e o fanatismo, num ambiente onde não eram reconhecidas as autoridades, nem se hasteava a bandeira da

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98 República e nem sua moeda tinha circulação. Três expedições haviam fracassado: a do Tenente Manoel da Silva Pires Ferreira, a do Major Febronio de Brito e a do Coronel Antonio Moreira César. Comandava a 4a o bravo e jovem General Artur Oscar de Andrade Guimarães. O Ministro da Guerra decide, então, ir ao teatro de operações, onde nada funcionava. Desembarcando na Bahia, a 7 de setembro chegava ao Monte Santo. Deu logo, pela organização de um serviço inteligente e metódico de comboios, relativo conforto à tropa empenhada, tirando-a da miséria, da fome e do desalento. Nesse começo de setembro, já aguardavam em Queimadas as Brigadas da Divisão Auxiliar e começavam a seguir os primeiros comboios regulares para Canudos. Iam cessar, pela ação enérgica e inteligente do ministro, os dias horrendos em que, no detalhe diário das brigadas, eram escalados batalhões para arrebanhar gado nos arredores. Sem essa providência, a tropa não comia! Começava, pela atuação brilhante do bravo Ministro de Prudente de Moraes, a grande derrocada de Antonio Conselheiro. Também, nessa grandiosa empresa, acusa-o Euclides da Cunha de pessimista e de causa de desânimo geral: "Ao seguir para a Bahia, desinfluíra todos as entusiasmos. Ruem dele se abeirasse, buscando alentos de uma intuição feliz ou um traço varonil, sulcando a situação emocionante e grave, que até lá o arrastara, topava, surpreso, a esterilidade de uns conceitos triviais, longas tiradas, cruelmente enfadonhas sobre paradas de tropas, intermináveis minúcias sobre distribuição de gêneros e remonta de cavalhada - como se este mundo fosse uma imensa Casa da Ordem e a História, uma variante da escrituração dos sargentos. Saltou naquela capital, quando ia em sua plenitude o fervor patriótico de todas as classes e de algum modo o amorteceu. Manifestações ruidosas, versos flamívolos e oradores explosivos, passaram-lhe por diante, estrondaram-lhe em torno, deflagraram-lhe aos ouvidos, num estrepitar de palmas e aplausos. Ouvia-os, contrafeito. Não sabia respondê-los. Tinha a frase emperrada e pobre. Além disso, tudo quanto saía do passo ordinário da vida não o comovia, desorientava-o, contrariava-o." Voltou ao Rio, ali desembarcando a 20 de outubro de 1897, recebido pelo povo com braçadas de flores e "pelo Chefe da Nação com as maiores demonstrações públicas de apreço, reconhecimento e alta consideração, pelo relevantíssimo serviço que havia prestado à Pátria, ao Exército e ao Governo". Reassumiu a pasta, pela qual ficara respondendo o General-de-Divisào João Tomás de Cantuária. Mas o drama de Canudos teria um epílogo mais triste, no lance trágico de 5 de novembro de 1897. Nesse dia, voltavam as forças que, na 1a coluna da 4a Expedição, haviam lutado no sertão baiano, sob o comando do General-de-Brigada João da Silva Barbosa. Aguardava a chegada do navio "Espírito Santo", no Arsenal de Guerra, o Dr. Prudente de Moraes, com suas Casas Civil e Militar e os Ministros de Estado quando inesperadamente das fileiras do 10a de infantaria se destaca o anspeçada Marcelino Bispo de Melo ordenança do General-de-Brigada Médico Dr. Antonio Pereira da Silva Guimarães, que investe, empunhando uma garrucha de dois canos, contra a pessoa do Presidente da República. A arma falha e o sicário a substitui por uma faca-punhal e investe novamente. Interpuseram-se, entre ele e o Chefe de Estado, o Chefe da Casa Militar Coronel Luis Mendes de Moraes e o Ministro da Guerra Marechal Carlos Machado Bitencourt. A ambos atingiu o alucinado anspeçada em sua fúria assassina. O coronel saiu ferido no ventre, mas o ministro recebe gravíssimos ferimentos, causando-lhe morte quase imediata. Restava ao Governo entregar à família, atingida pelo duríssimo golpe, o corpo ensangüentado daquele que fora seu chefe querido. E assim, no cumprimento do dever, como acontecera no passado com seu pai e seu avo, extinguia-se do modo mais inesperado a vida de um grande soldado, no vigor de seus 57 anos e no mais alto posto da hierarquia militar, sendo de esperar que, ainda por prolongados anos, pudesse servir a sua terra e a classe que tanto soubera nobilitar. Histórico Nascido em 12 de abril de 1840, no Rio Grande do Sul. Praça de 1a de janeiro de 1857. Alferes de 2 de dezembro de 1860. 1a Tenente de 1 de junho de 1867. Capitão de 20 de fevereiro de 1869, com antigüidade de 11 de dezembro de 1868, por atos de bravura. Major de 12 de setembro de 1876, por merecimento. Tenente-Coronel de 14 de julho de 1881, por merecimento. Coronel de 31 de outubro de 1885, por merecimento. Brigadeiro de 30 de janeiro de 1890. General-de-Divisão de 7 de abril de 1892. Marechal graduado de 12 de julho de 1895. Falecido em 5 de novembro de 1897, assassinado, no Rio de Janeiro. Condecorações • Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro (17-8-1867) • Medalha do Mérito Militar (28-6-1869) • Medalha da Campanha do Paraguai, concedida pelo Governo da República Argentina (7-7-1873)

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99 • Cavaleiro da Ordem de S. Bento de Aviz (22-6-1875) • Cavaleiro da Ordem de Cristo (6-9-1875) Cargos • Ministro do Supremo Tribunal Militar (15-6-1896) • Ministro da Guerra (17-5-1897)

Brigadeiro Sampaio

É o Brigadeiro Sampaio, por iniciativa dos cadetes de Realengo, o Patrono da Infantaria Brasileira. E fica muito bem ao lado dos demais. Tão simples e modesto como Osório, tão destemido como Mallet e também como Vilagran Cabrita ferido de morte em ação contra o inimigo, depois de ter salvado um exército. Aqueles - os mais destacados nomes das outras armas - nada fica a dever ao modesto filho do ferreiro do Tamboril. Também Joachim Murat, cujo pai era hoteleiro, fora Marechal da França, Grão-Duque de Perg e rei de Nápoles; Michel Ney, filho de um tanoeiro, foi Duque de Elchingen, Príncipe de Moscova e Marechal de França, e Floriano, o nosso Floriano, nascido de pais paupérrimos em engenho distante, chegou a tenente-general na monarquia e a marechal na República e foi, no regime que ele consolidou, o Chefe de Estado de maior autoridade. A origem modestíssima parece que Ihes deu mais força para vencer. Nasceu Antônio de Sampaio a 24 de maio de 1810, na povoação do Tamboril, então Capitania do Ceará-Grande e faleceu a bordo do transporte de guerra "Eponina", em frente a Buenos Aires, em consequência de ferimentos recebidos na 1.a Batalha de Tuiuti. Era filho de Antônio Ferreira de Sampaio e de D. Antônia de Souza Araújo Chaves. Seu local de nascimento era atrasadíssimo e somente um grande destino e um prodigioso esforço poderiam tirar daquele recanto cearense um menino raquítico e pobre, para elevá-lo à alta posição de Brigadeiro do Império e Comendador da Ordem da Rosa. Ao completar 20 anos, Sampaio assenta praça de voluntário, a 17 de julho de 1830, no 22.o Batalhão de Caçadores, sediado no Forte, hoje cidade de Fortaleza. Promovido a furriel, no ano seguinte, recebia seu batismo de fogo no violento encontro do Icó a 4 de abril de 1832, em que o Major Francisco Xavier Torres derrotou a força do Coronel rebelde Joaquim Pinto Madeira, que tomara armas, em protesto pela abdicação imposta ao Sr. D. Pedro I, afastando-o do trono que ele erguera na América Portuguesa. A 10 de novembro de 1833 viu-se envolvido no motim militar contra o Tenente Jofé Mariano de Albuquerque Cavalcanti, Presidente da Província. Era um simples furriel e foi absolvido pela correção com que prestou seu depoimento e por ter evitado, durante aqueles dias terríveis, o saque na cidade, colocando-se, no inquérito, todo o comércio a seu favor. Na revolta paraense, conhecida como da "cabanagem': Antônio de Sampaio prestou grandes serviços, até a conclusão da paz, com a vitória do exército legal de Soares de Andréia, participando da expedição que atacou e tomou Turiaçu, a 10 de outubro. Vêmo-lo, depois, lutar denodadamente, na repressão da "balaiada", que imortalizou Caxias, abrindo-lhe o caminho da glória. De 1839, até seu término, em 1841, assistiu o bravo cearense a 40 combates, dos quais 36 comandou pessoalmente. A 20 de maio de 1839, era, por ato do Presidente da Província do Maranhão, Dr. Manoel Felizardo de Souza e Melo, nomeado alferes de comissão.

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100 Por decreto de 2 de dezembro do mesmo ano, o Governo Imperial o promovia a tenente e confiava o destacamento de Passagem Franca, que comandaria até 6 de julho de 1841, dali passando para o de Passos Bons e o de Vila da Chapada. Recolhendo-se a sua sede com a transformação do 7.o Batalhão em 5.o de Fuzileiros, passou a pertencer a este último. A 11 de setembro de 1843 era promovido a capitão, ainda em atenção aos relevantes serviços prestados na manutenção da ordem constitucional, sendo classificado no 4.o de Fuzileiros. A 5 de maio de 1844 era nomeado ajudante-de-ordens do Comandante das Armas e, logo depois, colocado à disposição do Presidente da Província, Brigadeiro José Maria da Silva Bittencourt. A 6 de novembro de 1844 era destacado para o exército do Barão de Caxias, em operações contra os rebeldes do Rio Grande do Sul. Lutou sempre na linha de frente e ali permaneceu até a paz do Poncho Verde, a 1.o de março de 1845. Dissolvido o exército em operações, recolheu-se o Capitão Sampaio, a 13 de abril seguinte, ao destacamento da vila de Canguçu, onde tinha a suas ordens 150 praças de linha. Nessa ocasião, casou o distinto oficial com a ilustre dama rio-grandense D. Júlia dos Santos Miranda, tendo tido o casal 4 filhos, dos quais a mais moça, D. América Conceição Sampaio, veio a falecer em Porto Alegre no ano de 1936, com 84 anos de idade, em extrema pobreza, pois do Governo da República apenas percebia 79$600, de montepio e meio-sôldo deixados por seu ilustre pai. Histórico do Ceará A 22 de novembro de 1850 foi mandado recolher-se à Capital do Império, a aguardar nova comissão. Classificado no 2.o Batalhão de Infantaria, seguiu para a Província de Pernambuco, adido ao 5.o Batalhão, com o qual esteve em operações contra os rebeldes, até recolher-se ao Recife. Regressando à Capital do Império, apresentou-se a sua unidade, que, a 18 de setembro de 1850, expedicionou para o Rio Grande do Sul, em vista da grave situação do Prata, seguindo para o teatro de operações da Campanha do Uruguai. Incorporado ao exército do Conde de Caxias, foi nomeado major da 4.a Brigada, a 3 de fevereiro de 1851 e seguiu para a República do Uruguai, adido ao 7.o Batalhão de Infantaria, marchando com a 1.a Divisão, ao mando do Marechal-de-Campo Bento Manoel Ribeiro. A 3 de fevereiro de 1852, já integrando a divisão Brasileira do Brigadeiro Manoel Marques de Souza, tomou parte na jornada gloriosa e decisiva de Caseros, que restituiu a justiça e a liberdade ao povo argentino, jogando no exílio de 25 anos em Burgess Farm o ditador Juan Manoel Domingo Ortiz de Rosas. Seguindo para Montevidéu, a 11 de março, passou a exercer as funções de major da 3.a Brigada, onde ficou, até sua dissolução, a 22 de julho de 1852. A 29 desse mês, era promovido a major, por merecimento, e classificado na 4.a Brigada de Infantaria, aquartelada na Vila de Caçapava, para onde seguiu, assumindo o comando do batalhão e da guarnição, que exerceria até 2 de dezembro de 1853. Nesse mês, recebendo o Governo Imperial constantes reclamações de súditos brasileiros residentes no Uruguai e insistentes pedidos de intervenção dos orientais, resolve enviar àquela nação uma força militar de 4.000 homens, cujo comando confia ao Brigadeiro Francisco Félix da Fonseca Pereira Pinto e que tomou o nome de Divisão de Observação, mudado, depois, para Divisão Auxiliadora, ao penetrar no Estado Oriental. O Major Sampaio, designado para o comando de um batalhão dessa tropa de elite, com ela penetra em Montevidéu a 7 de maio, sendo os imperiais fidalga e festivamente recebidos pelo presidente General-Brigadeiro D. Venâncio Flores. Mudando a política oriental e deposto o chefe do governo, regressou o exército de Francisco Félix ao Brasil, indo acampar na região do Piraí-Grande e retomando o nome de Divisão de Observação. Com ele, chega Sampaio, a 14 de novembro, àquele acampamento. A 21 de dezembro de 1855 era, por merecimento, promovido a tenente-coronel e classificado no 6.o Batalhão de Infantaria, cujo comando assumiu, com o da guarnição de Bagé. A 15 de abril de 1859 deixava o Rio Grande, por ter sido, pelo Ministro da Guerra, Tenente-Coronel Dr. Manoel Felizardo de Souza e Melo, convidado para uma comissão de grande destaque - o comando do Corpo Policial da Corte, onde esteve até 6 de dezembro, merecendo de Sua Majestade extenso louvor, pela maneira como o exerceu, correspondendo à alta confiança de governo. Regressando a Porto Alegre, a 16 de dezembro de 1859, foi reassumir o comando do 6.o Batalhão de Infantaria, aquartelado em Bagé, de onde passou para o da 2.a Brigada e guarnição e fronteira. A 7 de dezembro de 1861 era promovido a coronel, pelo princípio de merecimento, sendo nomeado comandante da 5.a Brigada. Os atos de selvageria dos súditos orientais contra a propriedade brasileira nos vários departamentos e na faixa de fronteira levaram o Império do Brasil a nova guerra, depois de verificada inoperante a ação diplomática junto ao governo de D. Atanásio Cruz Aguirre. O comando-chefe é confiado ao bravo Brigadeiro João Propício Mena Barreto, que, no fim da campanha, seria Barão de São Gabriel, honrando a legenda paterna. Vinham no comando das duas divisões os Brigadeiros Manoel Luís Osório e José Luís Mena Barreto.

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101 Da 2.a faziam parte as tropas do Brigadeiro honorário José Gomes Portinho e dos Coronéis Antonio de Sampaio e Alves Valença, além de uma brigada independente de lanceiros, ao mando do velho farrapo e brigadeiro honorário do Império Antonio de Souza Neto. Já Paissandu se achava cercada, quando o exército de Mena Barreto, após longa preparação, deixou, a 1.o de dezembro de 1864, o acampamento do Piraí-Grande, rumo ao teatro das operações. A vila resistiu até às 8 horas e 20 minutos de 2 de janeiro de 1865, quando o General Leandro Gomez se entregava ao Tenente-Coronel André Alves Leite de Oliveira Belo, chefe do estado-maior de João Propício. De Paissandu, marchou o Coronel Sampaio para por cerco a Montevidéu, que capitulava a 14 de fevereiro, pelo término do mandato de Cruz Aguirre. A brilhante atuação da Brigada Sampaio nessa Campanha valeu-lhe as dragonas de brigadeiro, por decreto de 18 de fevereiro de 1865. Em Montevidéu permaneceu Sampaio aquartelado até 27 de abril daquele ano, no comando de uma Divisão de Infantaria, composta de duas brigadas, num total de 3.200 homens. Com essa tropa, foi proteger o desembarque aliado em Três Bocas, onde por 72 horas, se manteve até que a bandeira brasonada do Império viesse drapejar sobre as ruínas do forte de Itapiru. A frente da 3.a Divisão - verdadeira muralha contra as balas inimigas e, por isso, chamada "Divisão Encouraçada" - lutou o Brigadeiro Sampaio nas operações de transposição do Rio Paraná, comandada pelo legendário Osório, na batalha da Confluência, de 17, e na do Estero Bellaco, de 24 de abril. Na marcha para Tuiuti, foi entregue o comando da vanguarda ao bravo brigadeiro cearense, na linha de frente o glorioso 26.o de Infantaria, de sua Província, quase dizimado pela violência da metralha paraguaia. Na região da Lagoa de Tuiuti é que os aliados, às 11 horas da manhã de 20 de maio de 1866, plantaram suas barracas: os argentinos à direita, os brasileiros ao centro e à esquerda e os uruguaios à extrema esquerda. Na véspera da batalha comandou Sampaio o perigoso reconhecimento na Linha Negra, trazendo preciosas informações e grande número de prisioneiros. Ao voltar, fervoroso católico praticante, ainda rezou o terço com o Exército, pronunciando todos em voz alta a velha oração tradicional do Soldado Brasileiro à sua Padroeira: "Ó Virgem da Conceição, Maria Imaculada, Vós sois a advogada dos pecadores e a todos encheis de graça, com vossa grandeza. Sois dos céus princesa e do Espírito Santo, Esposa. Maria, Mãe de graça e mãe de misericórdia, livrai-nos do inimigo e protegei-nos na hora da morte. Amém." Todos rezavam e depois ajoelhavam-se todos, repetindo, cheios de convicção e de fé, o "Senhor Deus Misericordioso". (25 de outubro de 1873) Ali em Tuiuti combateram 55.000 homens de todas as armas. O Brigadeiro Sampaio, à frente da 3.a Divisão, deteve as vagas de assalto paraguaias, enquanto Mallet despejava sobre elas suas peças, dizendo: - Por aqui não passam! O Coronel José Diaz, aproveitando-se de uma brecha aberta na frente argentina, arroja seus esquadrões sobre a Divisão Encouraçada e, num terreno fofo, de pântanos e de pauis, soldados de Sampaio resistem e morrem, mas não cedem um palmo. E foi essa bravura serena que decidiu da vitória. Quando o Coronel Deodoro da Fonseca investe violentamente pela brecha, onde Diaz se mantinha à frente de 9 batalhões, fazendo-o recuar pelo menos 500 metros nos primeiros minutos de fogo, oscila no estribo de seu cavalo branco o intrépido comandante da 3.a Divisão, um fio de sangue a escoar-lhe pela boca. Vem, o segundo ferimento, tão grave como o primeiro. Osório, confiante na resistência de Sampaio e de Mallet, envia-lhes seu ajudante-de-ordens Capitão Francisco Corrêa de Melo, com a ordem de resistência a todo o custo, Sampaio recebe-o, coberto de poeira e de sangue: "Capitão, diga ao Marechal Osório que estou cumprindo meu dever, mas como já perdi muito sangue, seria conveniente que me mandasse substituir." E quando o Capitão Corrêa de Melo fazia continência para se retirar, recebe o brigadeiro o terceiro ferimento, mas ainda tem tempo, antes de perder os sentidos, de pronunciar estas palavras: "Diga ao marechal que este é o terceiro!" Antes de findar o dia a batalha estava ganha. Sampaio salvara o Exército Aliado e Lopez perdera quase toda a sua tropa empenhada naquela frente. Transmitindo o comando ao Brigadeiro Jacinto Machado Bitencourt, e retirado do campo de batalha para o hospital de sangue, dali foi Antônio de Sampaio transferido para o transporte de guerra "Eponina" e conduzido ao hospital militar brasileiro em Buenos Aires. No dia 6 de julho, já próximo àquela capital, expirava a bordo o valoroso soldado do Império, símbolo de lealdade, correção e bravura. Dois dias depois, era sepultado na capital argentina. O governo imperial, três anos depois, determinava a repatriação de seus restos, que chegavam ao Rio de Janeiro a 20 de dezembro de 1869. Solenes exéquias foram realizadas na capela do Asilo dos Inválidos da Pátria. A 25 de novembro de 1871 foi transferido o corpo do Brigadeiro Sampaio para Fortaleza, onde ficou

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102 depositado na Igreja de Sé, até ser recolhido ao mausoléu definitivo no Cemitério de São João Batista e ali repousa desde 25 de outubro de 1873. O governo do Sr. D. Pedro II. agraciou o Brigadeiro Sampaio - além da Medalha de Caseros, fita azul - com o grau de Comendador da Ordem da Rosa, de Oficial do Cruzeiro e de Cavaleiro de São Bento de Avis. A 19 de janeiro de 1940 foi dado o nome de "Regimento Sampaio" ao 1.o Regimento de Infantaria, originário do Terço Velho de Mem de Sá, "cuja fama se perde distante, no silêncio dos tempos passados". Na 2.a Guerra Mundial, foi ainda lembrado o nome do Brigadeiro Sampaio, ao ser instituída a "Medalha Sangue do Brasil", para os feridos em ação contra o inimigo, na qual os três ferimentos do corajoso chefe da infantaria imperial estão representados por três estrelas esmaltadas de vermelho. Ufana-se o Império Brasileiro de ter tido a seu serviço espada tão famosa. Histórico Nascido em Tamboril, antiga Capitania do Ceará, a 24 de maio de 1810. Praça em 17 de julho de 1830. Alferes em comissão a 20 de maio de 1839, sendo confirmado em 2 de setembro de 1839. Tenente em 2 de dezembro de 1839. Capitão em 11 de setembro de 1843. Major de 29 de julho de 1852, por merecimento. Tenente- Coronel de 2 de dezembro de 1855, por merecimento. Coronel de 2 de dezembro de 1861, por merecimento. Brigadeiro a 18 de fevereiro de 1865. Falecido a bordo do transporte de Guerra "Eponina". a 6 de julho de 1866, por ferimento recebido em combate, no território argentino, sendo seu corpo transladado para o Brasil a 20 de dezembro de 1869 e inumado em Fortaleza (Necrópole de S. João Batista) em 25 de outubro de 1873. Condecorações • Oficial da Imperial Ordem da Rosa (2-12-1854) • Cavaleiro da Ordem de S. Bento de Aviz (7-10-1856) • Oficial da Ordem Imperial do Cruzeiro (18-2-1865) • Comendador da Imperial Ordem da Rosa (10-4-1865) • Medalhas da Campanha do Uruguai e Buenos Aires (1851-1852) - (4-3-1852)

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Almirante Tamandaré

Joaquim Marques Lisboa, marquês de Tamandaré e almirante, filho de Francisco Marques Lisboa e dona Eufrásia de Azevedo Lima, nasceu no Rio Grande Sul a 13/12/1807 e morreu no Rio de Janeiro a 20 de março de 1897. Seu pai exercia o cargo de patrão-mór do porto do Rio Grande. Além de Joaquim Marques, havia um outro filho: Manoel Marques. Esses dois irmãos desde tenra idade gostavam da vida marítima e admiravam os homens do mar. Naquele tempo havia muita rivalidade entre portugueses e brasileiros e os patriotas nacionais, tanto da Armada como do Exército, sofriam desprezo dos seus colegas portugueses. Manoel Marques certa vez se exasperou e foi expulso da Academia. Não esmoreceu, logo depois tomou parte num levante de oficiais cujas conseqüências deram origem à revolução de Pernambuco, em 1817. Joaquim Marques seguia de perto os exemplos do irmão e a Marinha o atraía. Entrou para a Esquadra com 15 anos de idade e serviu até os seus últimos dias. Certa vez a Esquadra Brasileira teve que enfrentar a Esquadra Portuguesa na Bahia, no tempo da guerra da Independência. Marques Lisboa fazia parte da nossa Marinha que era comandada pelo almirante inglês, Lord Cochrane; foi aí que recebeu seu batismo de fogo, fazendo parte da fragata "Niterói". Seu comportamento exemplar, sua perspicácia, inteligência e amor ao cumprimento do dever, valeram-lhe a estima e admiração de seus chefes João Tailor e Barroso Pereira. Foi nessa primeira jornada, lutando pela consolidação de nossa independência, que o jovem marujo recebeu a sua primeira medalha, oferecida por D. Pedro I. Depois desse feito glorioso, Joaquim Marques matriculou-se na Academia de Marinha em 1824; nesse tempo tornou-se amigo do guarda-marinha Francisco Manoel Barroso da Silva, futuro barão do Amazonas e futuro herói da Guerra do Paraguai. Ao estourar a revolução pernambucana, Joaquim Marques, mesmo com os estudos incompletos, foi chamado pelo almirante Cochrane para servir a Esquadra, pois havia falta de oficiais brasileiros. Os elogios feitos pelo capitão Tailor e Cochrane aos serviços e à conduta de Marques Lisboa valeram-lhe o posto de segundo tenente, pois já então profetizavam o futuro do jovem, como glória da Marinha Brasileira. Entrando novamente em serviço ativo e para provar que tudo que lhe faziam os superiores era por justiça, requereu exames de todas as matérias do curso completo da Academia de Marinha, tendo sido aprovado,

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104 com surpresa geral, pois estava com apenas 18 anos de idade. Logo em seguida, Tamandaré toma parte ativa na guerra Cisplatina. Mais tarde essa província tornou-se a República do Uruguai. Numa expedição à Patagônia, combatendo contra a Argentina caiu prisioneiro e conseguiu fugir audaciosamente. Em 1835 comandou a retirada das forças legais no Pará. Em 1836, Marques Lisboa parte para o Rio Grande do Sul a fim de debelar a guerra dos Farrapos, pois queriam proclamar ali a República de Piratini. Apesar de todos os esforços despendidos, nada conseguiu fazer para acalmar a revolta, que durou 10 anos. Na Revolução Praieira em Pernambuco, já no reinado de D. Pedro II, Marques Lisboa comandou a corveta "D. Afonso". Ao lado do famoso Duque de Caxias, lutou em terra e no mar, procurando consolidar o regime imperial. Em 1849 Marques Lisboa ao lado de sua tripulação, salva de um furioso temporal a nau portuguesa "Vasco da Gama". Recebe da colônia lusa por esse feito glorioso uma espada de ouro. Cooperou eficazmente em todas as lutas do Primeiro Reinado, da Regência e no governo de D. Pedro II. Em 2/12/1856 era promovido a vice-almirante, com uma larga e brilhante folha de serviços prestados à nação. A 14/3/1860 o imperador concedeu-lhe o título de Barão de Tamandaré e a 25/1/1862 era nomeado ajudante-de-campo de Sua Majestade D. Pedro II. Foi elevado a Conde de Tamandaré por decreto de 17/12/1887 e a marquês em 16/5/1888. Esteve na Europa em 1864 como chefe da comissão naval Brasileira, e fiscalizou a construção do primeiro grupo de canhoneiros que o governo encomendara. De volta ao Brasil, com a declaração de guerra contra o ditador Lopez, do Paraguai passou a comandar a esquadra Brasileira em operações, tendo seu quartel-general em Montevidéu, a bordo da corveta "Niterói". Ai permaneceu de 1865 a 1867, ano em que voltou ao Rio de Janeiro, sendo promovido ao posto de almirante. Terminada a guerra com o Paraguai, Tamandaré exerceu elevados cargos, como membro do Conselho Naval e do Supremo Tribunal Militar. Com a Proclamação da República, não lhe foi extensiva a reforma compulsória, mas ele, não querendo aproveitar-se desta exceção honrosa, pediu sua reforma que só lhe foi concedida a 20/1/1890. A bravura de Tamandaré, nas sangrentas batalhas do Riachuelo, Humaitá, Uruguaiana, Curuçu, Curupaiti está assinalada nos nossos compêndios de História Pátria. Histórico Nascido a 13 de dezembro de 1807 - Vila São José do Norte - RS. Praça de 4 de março de 1823 (voluntário). 2o Tenente - em comissão 2 de agosto de 1825. 2o Tenente efetivo, após exames na Academia Marinha, 26 de janeiro de 1826. 1o Tenente em 12 de outubro de 1827. Capitão-Tenente em 22 de outubro de 1836. Capitão-de-Fragata em 15 de maio de 1840, contando antigüidade de 2 de dezembro de 1839. Capitão-de-Mar-e-Guerra gr em 14 de março de 1847. Capitão-de-Mar-e-Guerra efetivo em 14 de março de 1848. Chefe Div. em 3 de março de 1852. Chefe de Esquadra em 2 de dezembro de 1854. Vice-Almirante em 2 de dezembro de 1855. Almirante em 21 de janeiro de 1867. Falecido em 20 de março de 1897. Rua Marquês de São Vicente no 75, Gávea - Cidade do Rio de Janeiro.

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Cargos Civis • Ajudante de Campo de S.M. o Imperador em 25 de janeiro de 1862 • Vereador de S.M. a Imperatriz em 14 de março de 1855

Títulos Nobiliárquicos • Barão em 14 de março de 1860 • Visconde em 8 de fevereiro de 1865 • Conde em 13 de dezembro de 1887 • Marquês em 16 de maio de 1888

Condecorações • Oficial da Ordem da Rosa, em 25 de março de 1846 • Oficial da Imperial Ordem do Cruzeiro em 11 de março de 1849 • Grã-Cruz da Ordem Imperial de Francisco José (Áustria), em 26 de novembro de 1860 • Comendador da Ordem de São Bento de Aviz em 18 de novembro de 1861 • Comendador da Ordem da Torre e Espada em 5 de maio de 1849

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General Médico João Severiano da Fonseca No ano de 1836, na Cidade de Alagoas, hoje, Marechal Deodoro, antiga capital da Província do mesmo nome, nasceu João Severiano da Fonseca. Era o sétimo de um total de dez filhos (8 homens e 2 mulheres) do casal Ten Cel Manuel Mendes da Fonseca Galvão e Rosa Maria Paulina da Fonseca. Foi o único que não ingressou na carreira militar após a conclusão do curso secundário, tendo optado pela Medicina. O amor pela farda que levou seu pai e seus irmãos para o Exército havia também de conduzi-lo à caserna. Dois anos após diplomar-se, às vésperas da guerra da Tríplice Aliança, assentou praça no Corpo de Saúde do Exército. Iniciava-se, dessa forma, uma brilhante trajetória. Cirurgião e soldado, trazia para a classe em que os irmãos já se avantajavam a sublimidade de seu apostolado médico e a vocação de seu sangue para a carreira das armas, fatores que, postos a serviço do Brasil, o dignificaram, tornando-o, por justiça, modelo vivo de civismo e de cientista talentoso. Nos campos e chacos do Paraguai, participou de todos os combates, até a rendição final, prestando, inclusive, serviços no Hospital Militar Brasileiro em Assunção. Naquele Teatro de Operações, ficaram sepultados três dos seus irmãos, mortos em combate: o Alferes Afonso Aurélio, caçula da família, morto em Curuzú; o Tenente Hipólito, que tombou em Curupaiti, na sangrenta batalha ali travada; e o Major Eduardo Emiliano, que faleceu em Itororó. Após o término da guerra, retornou ao Brasil, trazendo em sua fé de ofício inúmeras citações do Comandante-em-Chefe do Exército, onde são destacadas a dedicação, a competência com que se houve em campanha e o valor da sua atuação sempre presente. Como voluntário, passou, então, a integrar a Comissão de Limites entre o Brasil e a Bolívia. E lá, naqueles distantes rincões fronteiriços, demonstrou diu-turnamente sua vocação de médico e também de pesquisador e escritor, recolhendo dados que, publicados posteriormente, como o "Dicionário Geográfico de Mato Grosso", "Índios do Guaporé" e outros, muito contribuíram para o conhecimento de vastas áreas do Oeste brasileiro e que até hoje são citados pela precisão dos conceitos então emitidos. Os méritos de que era possuidor alçaram-no à condição de Patrono do Serviço de Saúde do Exército. Seu legado continua orientando todos aqueles que, sob o verde-oliva, dedicam-se a amenizar as dores e a salvar vidas, quer nas grandes guarnições, quer naquelas isoladas nas fronteiras, onde tudo é difícil e onde a presença da véstia branca representa a segurança e a certeza de que, quando necessário, o apoio se fará presente, sem distinção de raça, de credo ou de língua.

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107 O Serviço de Saúde do Exército cultua, com a força íntima do reconhecimento eterno, a figura do seu Patrono, Gen Med João Severiano da Fonseca. Suas virtudes, sua conduta e seus exemplos serão sempre louvados, para eternização do sentimento cívico e para orgulho de todas as gerações.

Marechal Luís Alves de Lima e Silva

Duque de Caxias – Patrono do Exército Brasileiro (1803-1880)

Caxias, exemplo de cidadão, soldado e estadista, dentre as personalidades brasileiras, foi a que mais verdadeiramente viveu a Nação. Em meio século de intensas atividades, interpretando com invulgar lucidez a realidade de sua época e vislumbrando um futuro grandioso para o País, tornou-se o defensor maior da manutenção da unidade e da integridade territorial do Brasil. Por suas atitudes firmes e pelos seus gestos generosos, despontou, nos campos de batalha, como líder e herói e, nos foros políticos, como parlamentar e estadista de grande sensibilidade aos anseios do seu povo. O Exército Brasileiro, ao adotar como modelo um Patrono do vulto de Caxias e ostentar em seus quadros tantos outros profissionais exclusivamente dedicados aos serviços da Pátria, endossa suas tradições de glória e prepara-se, a cada dia, para permanecer sempre à altura da importância político-estratégica do Brasil.

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Marechal-do-Ar Eduardo Gomes "Patrono da Força Aérea Brasileira"

Em 1896, enquanto Alberto Santos Dumont, em Paris, ainda se entregava à sua paixão por automóveis de passeio, a 20 de setembro, em Petrópolis - RJ, o casal Luiz Gomes Pereira e Jenny de Oliveira Gomes comemorava o nascimento de seu filho Eduardo Gomes. Seu pai, homem de vastas posses, abandonou a carreira militar da Marinha para se dedicar à construção de uma ferrovia, empreendimento que acabou provocando sua ruína financeira. Instalou-se então com a família em Petrópolis, onde trabalhou como redator do Jornal do Brasil. Desbaratada a fortuna paterna, Eduardo Gomes, assim como seus quatro irmãos, teve uma infância pobre. Fez o primário no curso Werneck, estudando depois humanidades no Colégio São Vicente de Paulo, no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, onde recebeu o apelido de "matemático". Em plena I Guerra Mundial, época em que o avião despiu sua plumagem de aprendiz de vôo e passou a envergar a armadura de guerreiro, o jovem Eduardo Gomes dava início à sua carreira, sentando praça na Escola Militar do Realengo. No final de 1918, o Exército Brasileiro e a Arma de Artilharia contavam com mais um Aspirante-a-Oficial. Os quatro anos seguintes de sua vida, inteiramente dedicados à Arma, escoaram-se em Curitiba, no IX Regimento de Artilharia Montada. Naquela época, a função de Observador Aéreo, sempre desempenhada por um oficial, era considerada de suma importância, porque durante a I Guerra Mundial e nos anos que se seguiram, a despeito dos combates aéreos então travados em céus europeus, o principal emprego da aviação na guerra consistia em missões de Observação Aérea. A temporada de Eduardo Gomes em Curitiba somente foi interrompida em 1921, e por um breve período, para fazer o Curso de Observador Aéreo, por sinal, o primeiro dado no Brasil. OS 18 DO FORTE Em 1922, o ressentimento militar pelo uso indevido e indiscriminado do Exército Brasileiro, freqüentemente utilizado para escorraçar governadores em desgraça com o Governo Federal ou proteger opositores benquistos pelo poder, atingiu seu grau mais elevado. Nessa época, crescia a oposição militar ao Presidente da República Epitácio Pessoa. A eleição, em março, de seu sucessor Artur Bernardes foi considerada inaceitável por grande parte da oficialidade. Por outro lado, a interferência do Governo Federal na eleição para o Governo de Pernambuco em maio de 1922, utilizando tropas do Exército para favorecer o candidato apoiado por familiares de Epitácio Pessoa, provocou um telegrama de protesto por parte do Marechal Hermes da Fonseca, então presidente do Clube Militar. A prisão disciplinar do Marechal e o fechamento do Clube Militar, decretados no início de julho, aumentaram a agitação nos meios oposicionistas, particularmente entre os militares. A imprensa de oposição, tendo à

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109 frente o Correio da Manhã, concitava abertamente a rebelião. Mas o pior estava por acontecer. Ainda em Recife, confundido com o Governador de Pernambuco, um dentista foi assassinado. O exame pericial posterior dizia ser de uma "mauser", arma privativa do Exército, a bala assassina. Foi a gota d'água que fez transbordar a rebelião. Em todos os estados, sobretudo os do Norte, os elementos mais jovens do Exército iniciaram ostensiva pregação em favor da revolta. A conspiração, chamada depois de "Tenentismo", estava em pleno andamento. Com armas na mão, os tenentes protestavam vigorosamente contra o emprego da Organização em situações que, no entender deles, se resumiam a escaramuças políticas. A sucessão dos fatos conduziu à prisão de Hermes da Fonseca. Seu filho, Capitão Euclides Hermes, inconformado, dirigiu-se à guarnição do Forte de Copacabana e, a 4 de julho, ordenou a seus comandados que se preparassem para o combate. A notícia voou, atingindo todas as guarnições do Rio. Nesse mesmo dia, às 16 horas, o 1º Tenente Eduardo Gomes apresentou-se e, incontinente, passou a reparar um canhão "Schneider", trabalho concluído na manhã seguinte. O episódio, louvado em prosa e verso pelos jornais da época, passaria à história com o nome de "Os 18 do Forte", título do poema de autor desconhecido publicado no Correio da Manhã em setembro de 1923. Na ocasião, o jornal publicou também uma fotografia do grupo marchando em linha, na qual não aparecia Siqueira Campos, que havia avançado, distanciando-se dos demais. O grupo era constituído de 03 oficiais e 15 praças, aos quais se juntou um civil em pleno trajeto. O choque com as tropas federais, postadas na altura da Rua Barros (hoje Siqueira Campos), durou 30 minutos, ao cabo dos quais cessou a luta por falta de combatentes do lado rebelde. Eduardo Gomes, depois de se recuperar de graves ferimentos, foi submetido a julgamento e condenado ao desterro, a ser cumprido na Ilha da Trindade. A REVOLUÇÃO DE 1924 Coincidência ou não, exatamente dois anos depois, nova revolução rebentou, tendo os revoltosos, desde os primeiros dias, se apossado da cidade de São Paulo. Esta oportunidade, desejada por muitos que não se tinham manifestado, por motivos diversos, em 1922, fez com que grande número de oficiais aviadores fossem aprisionados como suspeitos de serem simpatizantes da revolução. As atividades da Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, foram suspensas. Ligado aos conspiradores paulistas, Eduardo Gomes chegou a São Paulo no dia 1º de julho, procedente de Mato Grosso. Ele e o Terceiro-Sargento-Aviador Carlos Rodrigues Coelho, expulso da Escola Militar em conseqüência da revolta de 1922, foram os únicos membros da Aviação Militar que aderiram à revolta. ARMA DE AVIAÇÃO Em 1927, Eduardo Gomes integrou o primeiro grupo de oficiais transferidos para a Arma recém-criada. Participaram dessa leva todos aqueles que já eram diplomados como piloto ou como observadores. O primeiro contingente da Aviação contava com 36 oficiais, sendo que 11 provinham da Infantaria, 05 da Cavalaria, 02 da Engenharia e 18, incluindo Eduardo Gomes, da Artilharia. REVOLUÇÃO DE 1930 Durante o movimento revolucionário que derrubou o governo de Washington Luiz, um reduzido grupo de jovens Segundos-Tenentes decidiu incorporar-se às forças revolucionárias que operavam em Minas Gerais, transladando os aviões que pilotavam. Dessa maneira, Eduardo Gomes se viu na contingência de assumir o comando da improvisada aviação rebelde. Terminados os acontecimentos com a vitória dos então revolucionários, o jovem Tenente regressou à Aviação Militar já no posto de Major, promoção a que fez jus em ressarcimento às preterições sofridas durante os anos de exílio e de confinamento nos presídios políticos da época. A partir de então, a jovem arma ganhava o verdadeiro líder que lhe faltava, à altura do idealismo da nova geração de oficiais e aviadores da antiga Escola Militar do Realengo. Todos estavam ansiosos por romper o cilindro teórico que os aprisionava em torno do Campo dos Afonsos e partir para o interior desconhecido. O CORREIO AÉREO MILITAR Com a deposição de Washington Luís, consumada no dia 24 de outubro de 1930, e a posse do governo provisório de Vargas, em novembro, os oficiais rebeldes foram promovidos, alguns mais de uma vez, em função de sua antiguidade. Foi este o caso de Eduardo Gomes, promovido a Capitão em 15 de novembro e,

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110 cinco dias depois, a Major. Passando a servir no Gabinete da Guerra do General José Fernandes Leite de Castro, Eduardo Gomes possuía apenas o curso de observador aéreo, tendo que completar sua instrução de pilotagem sob a supervisão de seu amigo Casimiro Montenegro Filho. Em maio de 1931, foi criado o Grupo Misto de Aviação, no Campo dos Afonsos, com quadros militares e meios materiais provenientes da Escola de Aviação Militar. Organizada a Esquadrilha do Grupo Misto, Eduardo Gomes, ao lado de Casimiro Montenegro e de Joaquim de lemos Cunha, sugeriu ao General Leite de Castro que ela fosse utilizada num serviço de correio aéreo, vendo na medida um meio de fortalecer a unidade nacional, estimular o intercâmbio entre as diferentes regiões e desenvolver a Aviação Brasileira. A idéia foi aceita pelo Ministro da Guerra e logo em seguida foi criado o Serviço Postal Aéreo Militar (SPAM), que, já com o nome alterado para Correio Aéreo Militar (CAM), realizou sua primeira viagem em junho, levando a correspondência do Rio para São paulo. Em agosto seguinte, Eduardo Gomes assumiu o comando do Grupo Misto de Aviação, função pela qual responderia até março. Durante os meses de julho a outubro de 1932, os serviços do CAM foram interrompidos, devido à eclosão da Revolução Constitucional em São Paulo. Terminado o conflito, Eduardo Gomes participou, juntamente com Juarez Távora, dos entendimentos promovidos pelo Governo Provisório para uma solução civil e paulista para o Governo de São Paulo. Retomou igualmente suas atividades à frente do CAM, que continuou ampliando suas rotas. Comandou o Grupo Misto de Aviação até 1933, quando, com a reorganização da Aviação Militar, o Grupo foi extinto e transformado no 1º Regimento de Aviação, também sediado no Campo dos Afonsos. Em junho seguinte, Eduardo Gomes foi promovido a Tenente-Coronel, continuando a ser o grande impulsionador do CAM. A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O MINISTÉRIO Durante a eclosão da Segunda Guerra Mundial, foram criados o Ministério da Aeronáutica e a Força Aérea Brasileira, quando então Eduardo Gomes atinge o generalato. O tenente de 1922, agora brigadeiro de 1942, assumo o comando da 2ª Zona Aérea, situada na porção do território pátrio em cujo mar trava-se vigorosa campanha contra os submarinos agressores. É a Aviação de Patrulha, incansável dia e noite, sobre o mar. Aqui, um episódio atesta, uma vez mais, o imbatível caráter de Eduardo Gomes e sua indômita coragem quando se tratava de defender o pundonor da Pátria. Interpelado sobre a cessão do comando de nossas bases ao poderoso aliado estrangeiro, respondeu seca e altaneiramente: NEVER ! Terminada a guerra, dela saiu vitoriosa a liberdade. No Brasil, os setores com ela comprometidos começam a se movimentar para substituir o opressivo regime de governo que aqui se instalara, e representava profunda antítese com a corrente vencedora. Sonha-se com um rejuvenescimento político, busca-se um padrão de dignidade na direção da coisa pública, deseja-se purificar o voto de tal maneira a constituir uma lídima e garantida manifestação da vontade do povo, pugna-se pela moralidade pública. São os ideais de 1922: EDUARDO GOMES. Todavia, o destino não permitiu que tal fato acontecesse. Outros foram os vitoriosos. Com sei idealismo, volta a seus aviões, ao Correio Aéreo Nacional, à assistência aos brasileiros do interior. Nessa cruzada, empenha seus próprios recursos pessoais. Os ideais de 1922 não feneceram. Eduardo Gomes é então novamente convocado para lutar pela suprema magistratura da Nação. E, após outra pregação de alto teor cívico, não é eleito. Incita, porém, os brasileiros a se manterem fiéis à democracia porque, só no seu exercício encontraria florescimento a defesa contra os riscos a que a liberdade individual, um dos valores fundamentais do homem, está exposta. Sua grandeza, nas adversidades, representa uma enorme contribuição à sobrevivência destes valores. Depois, em momento de crise nacional, ao conduzir o sepulcro de um companheiro vítima de desmandos, populares o ovacionam e bradam, reconhecendo-o como lídimo líder liberal: "Brigadeiro, não deixe a Democracia morrer !". O desdobramento da crise, em que a Aeronáutica se envolveu profundamente, o conduz ao cargo de ministro da pasta respectiva, pela autoridade moral que detinha e o respeito que infundia. A vida política do Brasil à época, assemelhava-se ao mar batido por fortes procelas. Assim, em fins de 1955, Eduardo Gomes deixa o Ministério. Uma vez mais, volta ao Correio Aéreo Nacional e, um dia, no comando do C-47 2015, realiza seu último vôo e deixa o serviço ativo, a 20 de setembro de 1960, quando completou a idade limite para tal serviço. Não

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111 abandona, contudo, a Força Aérea Brasileira. Jamais olvida os problemas do Brasil. Tal não seria possível. Ambos eram a razão de ser de sua vida. Já na reserva, em outro momento difícil, volta ao cargo de Ministro da Aeronáutica. Decisões espinhosas têm de ser tomadas. Não convive com a indecisão. Cumprida mais essa importante missão, recolhe-se o grande chefe ao santuário de seu lar. Jamais se afasta de Deus e dos valores cristãos. Está sempre atento aos problemas do Brasil. Sempre ligado aos homens e às coisas da Aeronáutica da qual nunca deixou de ser incontestável e respeitado conselheiro até o momento derradeiro de sua vida, um dia depois do cinqüentenário do primeiro vôo do Correio Aéreo Militar. Vida que foi um exemplo, altamente significativo, de coerência, de dignidade, de inarredáveis convicções, de vontade férrea. Falecido em 13 de junho de 1981, no Rio de Janeiro, aos 84 anos de idade, Eduardo Gomes é um símbolo. Padrão de cidadão e de soldado, pertence ao Panteon da Pátria. Como Patrono da Força Aérea Brasileira, forma ao lado de Tamandaré e Caxias, no supremo destino de representarem a honra, a dignidade e o valor das Forças Armadas do Brasil. O PATRONO DA FORÇA AÉREA Criado o Ministério da Aeronáutica, em 1941, os Correios Aéreos Militar e Naval foram fundidos num único serviço - o Correio Aéreo Nacional - que, com o tempo, ficou conhecido em todo o território nacional pela sua sigla - CAN. Com o passar do tempo, no decorrer do qual foi acumulando impressionante folha de serviços, o Correio Aéreo Nacional firmou-se como um dos esteios da unidade nacional e conquistou lugar de destaque na história do desenvolvimento social e econômico do Brasil. Em 1946, a Constituição Federal estabeleceu que compete à União "manter o serviço postal e o Correio Aéreo Nacional". Em 1984, o Presidente da República sancionou a Lei Nº 7.243, consolidando o reconhecimento de toda a Nação ao proclamar Eduardo Gomes "Patrono da Força Aérea Brasileira". Hoje, quando rodovias e ferrovias levam aos brasileiros, de toda a parte, a mensagem de um novo tempo, podemos avaliar o significado daquelas primeiras cartas que, conduzidas nas asas românticas de um Correio Aéreo que nascia, marcavam no tempo o início de uma nova era na história nacional.

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Aladarque Cândido dos Santos Fuzileiro Naval

O Cabo Aladarque Cândido dos Santos, nascido em 22 de dezembro de 1968, na cidade do Rio de Janeiro, ingressou na Marinha em fevereiro de 1987. Em 1989, concluiu o Curso de Enfermagem, no Hospital Naval Marcílio Dias, sendo promovido a Cabo em dezembro daquele ano. Casado com a Sra. Adriana Reis da Silva, teve duas filhas, Adriana e Andressa, que deixa com dois e um ano de idade, respectivamente. Ao longo dos últimos dez anos, com exceção do tempo em que esteve realizando cursos, serviu sempre no Batalhão Riachuelo, onde participou dos principais exercícios e operações de vulto do Corpo de Fuzileiros Navais. Enfermeiro, sua principal tarefa era assistir aos feridos, ajudar a salvar suas vidas, onde quer que estivessem e fosse qual fosse o perigo que enfrentassem. Como Fuzileiro Naval, era, por definição, um combatente. Profissional valioso e competente, integrou várias patrulhas em Angola, contribuindo para evitar violações aos acordos de paz e prestando assistência humanitária à população local. Perdeu a vida em uma emboscada, sem chance de reação, enquanto integrava a escolta de um comboio de civis. Tendo tombado, em terras distantes, a serviço da Pátria, o Cabo Aladarque cumpriu seu juramento de defender, com sacrifício da própria vida, os interesses maiores da nação. Ao passar para o rol da eternidade, a despeito do vazio da ausência, deixa, para a família, o legado de ter morrido com honra, querido por chefes e companheiros; ao Corpo de Fuzileiros Navais, a herança de um combatente anfíbio que soube glorificar o nome da Instituição e, a todos, o exemplo de dignidade de caráter de quem sempre aceitou o risco como parte de sua profissão. Em nome da Pátria agradecida, a Marinha rende-lhe suas últimas homenagens e o promove, postumamente, a 3º Sargento.

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Bartolomeu de Gusmão

Em dezembro de 1685, nascia na então Vila de Santos, em São Paulo, filho de Francisco Lourenço, cirurgião-mor do Presídio da Vila de Santos, litoral paulista, e de sua mulher Maria Alvares, o jovem Bartolomeu Lourenço de Gusmão. Rapaz brilhante, de idéias avançadas para sua época, logo se destacou. Fez os estudos primários em Santos, seguiu para o Seminário de Belém (Bahia), a fim de completar o Curso de Humanidades, vindo a filiar-se à Companhia de Jesus, sob a orientação do grande amigo de seu pai e fundador daquele Seminário, Padre Alexandre de Gusmão. Em 1705, com apenas 20 anos de idade, requereu à Câmara da Bahia, o privilégio para o seu primeiro invento. Era um aparelho que fazia subir a água de um riacho até uma altura de cerca de 100 metros. A água não precisaria mais ser transportada morro acima nas costas de homens ou em lombo de animais.

Bartolomeu de Gusmão se incorporou à série das figuras que pertencem à história da Humanidade, no campo das ciências com sua invenção notabilíssima, integrando a galeria das nossas glórias nacionais e nas do Mundo, com o primacial relevo que assumiu na prioridade da navegação aérea.

Entre 1708 e 1709, Bartolomeu de Gusmão, já ingresso no sacerdócio, embarcou para Lisboa, capital do Império, onde aprofundaria seus conhecimentos.

Na Universidade de Coimbra realizou profundos estudos da Ciência Matemática, além das Ciências de Astronomia, Mecânica, Física, Química e Filologia, isto sem falar no exercício da Diplomacia e da Criptografia, atendendo designação de D. João V, tendo bacharelado-se aos 5 de maio de 1720 e completado o Curso de Doutoramento da Faculdade de Canones, da Universidade de Coimbra, em 16 de junho de 1720. Foi uma bolha de sabão elevando-se ao se aproximar do ar quente ao redor da chama de uma vela que acendeu o intelecto de Gusmão para a diferença entre as densidades do ar. Um objeto mais-leve-que-o-ar poderia então voar! Em 1709, anunciou à corte que apresentaria uma "Máquina de Voar". Em 19 de abril daquele ano, recebeu autorização do Rei D. João V para demonstrar seu invento perante a Casa Real.

Em 3 de agosto de 1709 foi realizada a primeira tentativa na Sala de Audiências do Palácio. No entanto, o pequeno balão de papel aquecido por uma chama incendiou-se antes ainda de alçar vôo. Dois dias mais tarde, uma nova tentativa deu resultado: o balão subiu cerca de 20 palmos, para verdadeiro espanto dos presentes. Assustados com a possibilidade de um incêndio, os criados do palácio se lançaram contra o engenho antes que este chegasse ao teto.

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114 Três dias mais tarde, exatamente no dia 8 de agosto de 1709, foi feita a terceira experiência, agora no Pátio da Casa da Índia perante D. João V, a rainha D. Maria Anad e Habsburgo, o Núncio Cardeal Conti, o Infante D. Francisco de Portugal, o Marquês de Fonte, fidalgos e damas da Corte e outros personagens. Desta vez, sucesso absoluto. O balão ergue-se lentamente, indo cair, uma vez esgotada sua chama, no Terreiro do Paço. Havia sido construído o primeiro engenho mais-leve-que-o-ar. O Rei ficou tão impressionado com o engenho que concedeu a Gusmão o direito sobre toda e qualquer nave voadora desde então. E para todos aqueles que ousassem interferir ou copiar-lhe as idéias, a pena seria a morte.

O invento do Padre chamou-se Passarola, em razão de ter a forma de pássaro, crivado de multiplicados tubos, pelos quais coava o vento e a encher um bojo que lhe dava a ascensão; e, se o evento minguasse conseguia-se o mesmo efeito, mediante uma série de foles dispostos dentro da tramóia.

A concepção e realização do aeróstato por Bartolomeu de Gusmão, mostrou o passo gigantesco que representou sua invenção, idealização e objetivação do flutuador aerostático, donde deveria sair a aeronave, sendo corretamente considerado o Pai da Aerostação, tendo precedido em 74 anos os irmãos Montgolfier, que voaram em um balão de ar quente em 1783.

Bartolomeu de Gusmão foi uma figura singular, na qual o homem, o sacerdote e o bem-dotado se fundiam numa personalidade complexa, que enxergava muito à frente de seu tempo, sofrendo as naturais e inevitáveis conseqüências dessa excepcionalidade.

O Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão faleceu em 19 de novembro de 1729, em Toledo, na Espanha, sendo considerado pelos seus feitos a primeira e a mais bela página da Aeronáutica.

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Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon

O Exército e a integração nacional pelo telegráfo A obra de Rondon

Terminada a Guerra do Paraguai, se cuidou de aparelhar a tropa de Engenharia para atender à formação dos especialistas necessários aos empreendimentos públicos indicados pela experiência bélica.

Os problemas mais vivos a serem resolvidos eram o dos transportes e o das comunicações, particularmente no Rio Grande do Sul, oeste paranaense e Mato Grosso, o que impedia a aplicação oportuna e decisiva do poder nacional. Surgiu o Exército como fator de integração nacional.

Em 1880 o Batalhão de Engenheiros foi reorganizado para poder ser empregado na construção de estradas de ferro e de linhas telegráficas. O seu primeiro empreendimento no campo das comunicações, concluído em dezembro de 1881, foi a ligação telegráfica entre Alegrete e São Borja, com um ramal para Itaqui.

No ocaso do Império foi criada a Comissão Construtora da Linha Telegráfica Franca – Cuiabá, com o objetivo de romper o isolamento de Mato Grosso, tão nefasto durante a invasão paraguaia. A cidade paulista de Franca representava, até então, a região mais ocidental servida pelo fio.

Proclamada a República, foram aproveitados e ampliados os projetos de construção de linhas telegráficas do Império, que legou 11.000 Km de linhas entre as principais cidades.

Com a concretização da ligação Franca-Uberaba, ainda no período imperial, coube ao governo republicano a criação de uma comissão para o prolongamento da linha até a margem direita do rio Araguaia. A construção em sentido contrário, Cuiabá-Araguaia, foi confiada à chefia do Major Antonio Ernesto Gomes Carneiro. Este, em busca de um auxiliar mato-grossense, escolheu o alferes-aluno Cândido Mariano da Silva Rondon, nascido em 1865 nas proximidades de Cuiabá, coincidentemente durante a invasão paraguaia do Mato Grosso. A partir daí teria início a ciclópica obra de Rondon, síntese das comunicações da Primeira República.

Paralelamente, o governo criou outras comissões telegráficas chefiadas por engenheiros militares. No Rio Grande do Sul uma comissão foi designada para interligar os principais pontos das fronteiras com a Argentina e o Uruguai, enquanto no Paraná outra recebeu a missão de ligar Foz do Iguaçu a Curitiba.

Em abril de 1891, com a ponta da linha já nas margens do rio Araguaia, Gomes Carneiro retornou ao Rio de Janeiro e Rondon assumiu a chefia da comissão. Pouco tempo depois, em 1894, Gomes Carneiro morreu

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116 heroicamente durante o cerco da Lapa, no Paraná, episódio da Revolução Federalista, articulado com a Revolta da Armada. Em 1900 Rondon recebeu a missão de interligar toda a faixa fronteiriça com a Bolívia e com o Paraguai, cumprindo-a após seis anos de penosos trabalhos e 1.746 Km de linhas construídas. Finalmente, as cidades de Cuiabá, Corumbá, Bela Vista, Porto Mourinho, Forte Coimbra e Cáceres passaram a se ligar ao restante do País.

Entretanto, ainda estava longe do encerramento a sua obra civilizadora. Em março de 1907, o Presidente Afonso Pena cria a Comissão Construtora de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas e nomeia-o, já major, para chefiá-la.

Essa comissão fica subordinada aos Ministérios da Aviação e da Guerra, pela natureza dos trabalhos e pelo seu enquadramento civil e militar. Integram-se engenheiros militares, oficiais especializados e funcionários civis da Repartição Geral dos Telégrafos. O 5º Batalhão de Engenharia participa como núcleo principal da tropa a ser empregada.

A linha partiria de Cuiabá para atingir a cachoeira de Santo Antônio do Madeira, no rio Madeira, e daí até a estrada de ferro Madeira – Mamoré. Desse ponto alcançaria as sedes das prefeituras do Acre, Purus e Juruá, enquanto ramais atingiram a cidade de Mato Grosso (Vila Bela), Forte Príncipe da Beira e Manaus. O trabalho era, portanto, de extrema magnitude e imperativo, em função da incorporação do Acre pelo Tratado de Petrópolis, firmado com a Bolívia em 1903.

No Natal de 1909, após toda sorte de adversidades, é atingido o rio Madeira na expedição e o corneteiro do 5º Batalhão de Engenharia, origem do atual Batalhão Rondon, saúda o fato com o toque da vitória. Fisicamente se rompera a Amazônia Ocidental, mas os trabalhos ainda continuariam até 1º de janeiro de 1915, com a inauguração da estação de Santo Antônio do Madeira. Foram instaladas, ao todo, 32 estações nos 1.497 Km da linha principal e nos 763 Km dos ramais de Cáceres a Mato Grosso, de Parecis a Barra dos Bugres e de Santo Antônio e Guajará-Mirim.

O objetivo de levar o fio até Manaus foi abandonado, como conseqüência da evolução da radiotelegrafia descoberta por Guglielmo Marconi, mas nem por isso tornou menos importante a obra de Rondon, que já havia cumprido um papel de extrema relevância para o País. Não só na integração de pontos afastados do território nacional, mas, ainda, no avanço dos conhecimentos contemporâneos de etnografia, zoologia, botânica e mineralogia, no aperfeiçoamento da cartografia nacional e na proteção do indígena.

O pioneirismo do Marechal Rondon nas atividades de comunicações o credenciaria para Patrono da Arma de Comunicações, através do Decreto nº 51.960, de 26 de abril de 1963.

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Henrique Dias

Herói da Guerra Holandesa. Negro crioulo, embora fôrro, sua participação na luta contra o invasor remonta, possivelmente, a 1630, mas somente três anos depois é que seu nome começa a aparecer com freqüência nas crônicas que registram os acontecimentos. Ferido numerosas vezes, no início da guerra, teve a mão esquerda amputada, mas nem por isso abandonou o campo de batalha, tornando-se ainda mais bravio e temido. Pelos serviços que prestou, foi agraciado pelo Rei de Portugal com o título de Governador dos pretos, crioulos e mulatos do estado do Brasil. Quando os holandeses durante o confronto resolveram fazer uma campanha publicitária contra os patriotas com distribuição de panfletos Henrique Dias se pronunciou da seguinte maneira: "Se vocês possuem armas, é desnecessário o lançamento de panfletos. Os meus soldados pouco entende deles, e sim e muito, dos numerosos e grandes mosquetes que possuem, e que manejam com muita presteza e valor, como os senhores a toda hora sentem". A esse soldado a nossa eterna gratidão e compromisso.

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André Vidal de Negreiros

"Saiam à campanha, onde longo tempo os esperamos".

Um dos heróis da Insurreição Pernambucana, "fator máximo da expulsão dos holandeses de Pernambuco", disse o Barão do Rio Branco. André Vidal de Negreiros nasceu na Paraíba do Norte e contava apenas 18 anos quando se alistou nas tropas que combatiam os invasores. Ao lado de João Fernandes Vieira, Henrique Dias, Filipe Camarão, foi incansável na luta para a expulsão dos batavos. Conhecendo-lhe a eficiente e intrépida atuação, Nassau ofereceu um prêmio de dois mil florins pela sua cabeça. Vidal revidou declarando que daria seis mil cruzados pela cabeça do conde holandês. Libertado o Maranhão, Vidal de Negreiros foi nomeado seu governador. Estando D. João IV em negociações com os holandeses, quis sustar o movimento da restauração pernambucana. Falando pelos nossos, Vidal respondeu que expulsariam primeiro os invasores e depois iriam receber o castigo da desobediência. Herói do combate da Casa Forte, Vidal entrou enfim em Recife com seus companheiros, sendo escolhido para ir levar ao rei a noticia da vitória. Foi em seguida governador de Pernambuco e de Angola, tendo falecido a 3 de fevereiro, em seu engenho de Goiana, aleijado de uma perna, devido a ferimentos recebidos em combate.

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Antônio Raposo Tavares Em 1648, partiu de São Paulo o bandeirante Antônio Raposo Tavares, e depois de três anos atingiu a foz do rio Amazonas. Sua epopéia incorporou vasto e rico território aos domínios lusos. Como caranguejos, os colonizadores limitaram-se, no início, ao litoral, em torno das primeiras povoações: Salvador, ao Norte, e São Vicente, ao Sul. Dificultavam a penetração para o interior um obstáculo de natureza política - o meridiano de Tordesilhas (que separava portugueses, a Este, de espanhóis, a Oeste) - e, mais ao sul, a majestosa serra do Mar, coberta por florestas “eternas”.

Entretanto, a separar na América esses vizinhos ibéricos, jazia imenso e inexplorado território à espera de uma oportunidade para ser palmilhado. Esta chegou com a morte do rei de Portugal, D. Sebastião, em 1578, em Alcácer Quebir, na Guerra contra os mouros e a conseqüente união das coroas lusa e espanhola, que tornou as terras da América pertencentes a um só rei e senhor. Desencadeou-se, a partir daí, extraordinária epopéia exploradora empreendida pelas Entradas e Bandeiras, resultando no alargamento da base física da colônia portuguesa. O caráter militar da atuação dessas expedições comprovou-se pela conquista de territórios e pela luta contra espanhóis, instalados em reduções jesuíticas. Estimulados por notável visão estratégica, os portugueses buscaram fixar os limites da colônia em acidentes geográficos bem nítidos e o mais possível a oeste. Nesse contexto, merece destaque a ação militar empreendida pelo Capitão Pedro Teixeira, na Amazônia. Em outubro de 1637, esse valoroso soldado português, reunindo força composta de 70 militares e 1.200 índios, embarcada em cerca de 50 canoas, subiu as calhas dos rios Amazonas-Solimões. Plantou marcos da ocupação portuguesa, legando aos brasileiros inesgotável fonte de riquezas, ainda a ser explorada na nossa Amazônia.

Cap Pedro Teixeira

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A expedição do Capitão Pedro Teixeira deixou Belém, em 1637, para atingir, um ano depois, Quito, no atual Equador. Por sua ação, a maior parte da Amazônia, hoje, é brasileira. Árdua é missão de defender a Amazônia, porém mais árdua ainda foi a de nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la.

MATIAS DE ALBUQUERQUE " O ANJO DA GUARDA DO BOM JESUS "

"Na hora das atribulações políticas, quando o espírito se sente afligido pelas preocupações de ordem geral, quando o patriota procura medir as dificuldades que se avizinham de sua Pátria - é então que na primeira linha de suas evocações devem surgir os grandes mortos que através dos séculos a constituíram e defenderam. É nesta ocasião que, sugerindo soluções para o presente, fornecendo exemplos e revigorando a fé nos destinos da nacionalidade, eles nos aparecem fora da frieza das simples biografias, como criaturas vivas, cuja ação definitivamente se integrou na elaboração do país" . APRESENTAÇÃO O presente artigo resume a vida do principal forjador do lendário Exército Patriota, berço do Exército Brasileiro, e um dos mais intrépidos Capitães que já tivemos: Matias de Albuquerque Coelho. Enaltecer a sua figura é uma honra, pois é estrela de primeira grandeza no rol dos Grandes Heróis da Pátria. Ombreia-se com Tomé de Souza, Mem de Sá, Manuel da Nóbrega, José de Anchieta, Duarte Coelho, José Bonifácio, Duque de Caxias, Rio Branco, Rondon e outros construtores da nossa Nação. Ele pertenceu àquela Brava Gente que consolidou o Impávido Colosso. A história de nosso protagonista se confunde com a da invasão das forças mercenárias patrocinadas pela Companhia Holandesa das Índias Ocidentais no Nordeste Brasileiro, na primeira metade do século XVII. Sua atuação foi o sustentáculo da defesa da integridade do território nacional. Forjaria ele, na angústia da incerteza, a couraça da resistência. Primeiro Governador brasileiro eleito , mesmo que indiretamente pelas vias de sucessão, foi um dos principais responsáveis pela expulsão do neerlandês da Bahia em 1625. Corpo e alma da reação nativa, mobilizou, organizou e conduziu as forças luso-brasileiras face ao agressor. Personificando a vontade nacional, mola impulsora da vitória, ele amalgamou o espírito patriótico na consolidação da formação da nacionalidade brasileira. Parafraseando Jânio Quadros, Matias de Albuquerque Coelho foi a grande figura deste conflito. Neste importante período da nossa história, onde se congregou no mesmo esforço as várias raças e classes sociais que constituem o substrato do povo brasileiro, emergiu a sua figura aglutinadora . O historiador Flávio Guerra o chama de "Terríbil", por sua obstinação e energia e o consagrado Hélio Vianna o considera o General da Resistência contra os batavos. Além de eficiente líder civil, Matias de Albuquerque aprimorou a guerra brasílica, dando-lhe uma dimensão toda peculiar, onde a surpresa nas ações, a concentração e dispersão das tropas, a mobilidade tática, o profundo conhecimento do terreno, e o princípio da iniciativa se tornariam a tônica dos defensores do Solo Sagrado. Nosso personagem também se imortalizaria pela introdução da Guerra Psicológica, da Estratégia da "Terra Arrasada" e pelo emprego da Estratégia da Usura ( ou da Lassidão ) no Brasil, servindo de referência aos estudiosos destes envolventes temas. Quer como Governador da Capitania Hereditária de Pernambuco ou como Governador-Geral do Brasil, como Comandante-em-Chefe das Tropas Luso-brasileiras no teatro de operações nordestino, ou posteriormente, como General português na Restauração da Coroa Lusitana, sua personalidade orientou os destinos da nação brasileira, então em formação. A presença do Líder da Resistência era sinal de respeito e de admiração que revigorava os ânimos de seus compatriotas. Ele foi um dos primeiros grandes comandantes que tivemos, guiando nossos antepassados em um dos momentos mais fecundos da História do Brasil, conduzindo-os eficientemente contra efetivos adversários numericamente superiores. Quando se estabeleceu no estratégico Arraial do Bom Jesus, coordenou magistralmente as operações. Empregando como escudo a vigilância e a emboscada nos postos avançados e, como clava vingadora sua

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121 reserva, fez com que os movimentos do oponente terminassem em insucesso, agindo como autêntico Anjo da Guarda dos defensores do "Paraíso". O espírito de sacrifício, sua vontade e obstinação, o exemplo, a habilidade militar e sua extraordinária capacidade de mobilização, foram a chave do sucesso diante das adversidades impostas por um conflito tão peculiar. Sob sua égide despontariam os futuros líderes do movimento insurrecional e do Exército Patriota. Mesmo depois de sua ausência dos campos de batalha brasileiros, sua orientação e espírito indomável contagiariam os novos guerreiros, levando-os a transpor todos os obstáculos, até a consumação final da vitória sobre os mercenários, abrindo caminho para a dilatação de nossas fronteiras. Longe da terra de seu coração, Albuquerque travaria na Europa as batalhas que manteriam a soberania de Portugal e a grandeza do Brasil. Sua vitória em Montijo consolidou Dom João IV no Trono e lhe valeu a merecida ascensão à Nobreza, sendo assim, agraciado por seu soberano com o título de Conde de Alegrete e pelos historiadores com o de Herói de Dois Mundos. Nos bastidores da Corte de Lisboa, sua presença influenciaria decisivamente para que o Brasil não fosse entregue aos intrusos, possibilitando a espontânea mobilização popular que culminaria na Insurreição Pernambucana. É lícito afirmar que o Exército Patriota, o vencedor de Guararapes e raiz do Exército Brasileiro, brotou à sombra de seu mentor: o gigante Matias de Albuquerque. A grande lição de sua vida foi a forma como mobilizou sua gente dentro da realidade existente, tornando-os denodados combatentes. Eles não eram diferentes dos demais. Suas convicções de honra e dever para com a Pátria eram de uma solidez inabalável e sua vontade nacional forneceria aos olhos do invasor, que a princípio duvidara de suas possibilidades, o mais eloqüente testemunho do que realmente eram. Por ter sido o mais "humano" de nossos vultos históricos, sua biografia servirá para percebermos que, independente de convivermos com as adversidades e com os insucessos, devemos prosseguir em frente, buscando atingir nossa meta, realizar nosso sonho. Este é Matias de Albuquerque, o Anjo da Guarda do Bom Jesus.

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Anésia Pinheiro Machado

Em 17 de março de 1922, Anésia iniciou sua brilhante jornada na Aviação, ao adquirir e operar sozinha um avião com apenas 17 anos de idade. Anésia iniciou seus estudos em 1921. A partir daí conquistou as seguintes credenciais, no Brasil: Brevê internacional nº 77, da Federação Aeronáutica Internacional (FAI), pelo Aeroclube do Brasil - 09 de abril de 1922. Licença de piloto privado nº. 271, do DAC - 01 de julho de 1940. Licença de piloto comercial nº. 146, do DAC - 15 de agosto de 1940. (A primeira aviadora brasileira a prestar exames para a obtenção de licença de piloto de aeronave comercial). Licença de piloto instrutor nº. 76 do Aeroclube do Brasil - 26 de setembro de 1942. Licença de piloto instrutor nº. 60, do DAC - 20 de outubro de 1942. Licença de vôo nº. 361.625 e, sucessivamente, as de piloto comercial, de instrutor de vôo, de piloto de vôo por instrumentos e a de instrutora de Link Trainer, nos Estados Unidos - julho de 1943. Instrutora de Link Trainer da PANAIR DO BRASIL - 1944 a 1948 a convite da direção da empresa de aviação comercial, no Departamento de Ensino de Vôo por Instrumentos. Instrutora de Link Trainer no C.P.O.R, da Aeronáutica - 1944 a 1947 no 2º GT - Base Aérea do Galeão. Cargo que exerceu, "com proficiência e dedicação", conforme consta dos seus assentamentos.

Cursos nos Estados Unidos Curso avançado de aviação, patrocinado pelo "Coordinator of Inter-American Affairs" (Coordenador de Assuntos Interamericanos) e direção do "Civil Aviation Administration (C.A.A.). Departamento de Aeronáutica Civil - hoje F.A.A. (Federal Aviation Agency) - abril de 1943.

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123 Estudos no C.A.A. Standardization Center, em Houston, Texas (hoje Aeronautical Center, Oklahoma - OK), seguindo o mesmo treinamento dos inspetores do C.A.A. em vôo por instrumentos, comercial e instrutor de vôo. Obteve as mais altas classificações, não só na parte prática do vôo, como também nos exames escritos. Curso na PANAMERICAN WORLD AIRWAYS, a escola de vôo por instrumentos, sediada em La Guardia Field, New York.

Nomeações no Brasil Representante no Brasil, desde 1931, da "WOMEN'S INTERNATIONAL ASSOCIATION OF AERONAUTICS", organização fundada em 1929, na Califórnia Sócia fundadora da "Inter-American Escadrille", quando em visita oficial ao Paraguai em 1942. Correspondente da "SKY-WAYS", revista especializada de aviação.

Funções Exercidas Fora da Aviação Funcionária do Ministério da Viação e Obras Públicas de 1931 a 1933. Serviu na Câmara dos Deputados de 1933 a 1935, como datilógrafa e auxiliar de taquígrafa. Em 1935, fez concurso e foi nomeada taquígrafa da Câmara dos Vereadores do Distrito Federal. Exerceu a função Redator-Revisor da Câmara dos Vereadores do Distrito Federal, cargo em que se aposentou. Jornalista registrada, trabalhou em vários jornais e na Agência Nacional (Departamento de Imprensa e Propaganda). Serviu junto ao Governo do Estado de São Paulo, Seção da Agência Nacional (Interventoria Adhemar de Barros). Serviu junto ao Gabinete do Ministro das Relações Exteriores João Neves da Fontoura, para o serviço de imprensa daquele Gabinete.

Anésia, alma gêmea de Ícaro Nas nuvens foi buscar estrelas

Encantada em seu sonho, pioneira

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Seguiu qual anjo em busca do infinito Imitou gaivotas e outras aves belas

A primeira aviadora mundial e brasileira

Acróstico fornecido pela Sra. Maria Helena Camargo Nunes

Histórico

Dezembro de 1921

Inicia os estudos de aviação em São Paulo.

17 de março de

1922 Voa solo pela primeira vez na aeronave CAUDRON G3.

Abril de 1922

Recebe o Brevê Internacional Nº. 77 da Federação Aeronáutica Internacional (FAI), pelo Aeroclube do Brasil.

Setembro de 1922

Realiza o vôo interestadual entre São Paulo e Rio de Janeiro, em comemoração ao Centenário da lndependência, recebendo cumprimentos do próprio Alberto Santos-Dumont,

através de carta.

Julho de 1924

Participa da Revolução de 1924 junto com os Capitães Joaquim, Juarez Távora, Índio do Brasil, tendo com eles sido presa e, posteriormente, liberada por golpe de revoltosos.

Meados de 1939

Retoma a atividade aviatória com um vôo a Porto Seguro, para receber Gago Coutinho.

Julho de 1940

Obtém licença de Piloto Privado.

Agosto de 1940

Obtém licença de Piloto Comercial.

Setembro de 1942

Obtém licença de Piloto Instrutor do Aeroclube do Brasil.

Julho de 1943

Obtém licença de Piloto Comercial, Instrutor de Vôo e de Vôo por Instrumentos e Instrutor de Link Trainer nos Estados Unidos da América.

De 1944 a 1948

Instrutora de Link Trainer da Panair do Brasil.

De 1944 a 1947

Instrutora de Link Trainer no Centro de Preparação de Oficiais da Reserva da Aeronáutica (CPOR), na Base Aérea do Galeão.

Em Fevereiro de 1951

Realiza vôo transcontinental em aeronave monomotora (Kian-Navion Super 260), New York - Rio de Janeiro. Efetua o cruzamento da Cordilheira dos Andes pelo Paço do Aconcágua,

de Santiago do Chile a Mendoza na Argentina, utilizando a rota comercial.

Em 1952 Toma parte na Grande Revoada da amizade que foi à Argentina.

Em 1954 É oficialmente reconhecida e proclamada pela Federação Aeronáutica Internacional (FAI), na Conferência de Istambul, em setembro de 1954, Decana Mundial da Aviação Feminina,

por ser a detentora do Brevê mais antigo do mundo, ainda em atividade de vôo.

Em 1956 Realiza vôo internacional em comemoração ao cinqüentenário do primeiro vôo do mais-

pesado-que-o-ar, difundindo em diversos países o nome de Alberto Santos-Dumont.

Façanhas

Primeira aviadora brasileira Primeira mulher a fazer um vôo solo, no Brasil. Pioneira da aviação feminina e da aviação civil no Brasil. Primeiro vôo solo - 17 de março de 1922. Primeira aviadora, no Brasil, a conduzir passageiro em avião: 23 de abril de 1922. Primeira aviadora brasileira a realizar vôo de acrobacia.

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125 Primeira repórter aeronáutica do Brasil, tendo mantido, durante 2 anos, uma sessão especializada no suplemento dominical de "O PAÍS" - 1927/1928. a realizar um vôo transcontinental, ligando as três Américas, em vôo de New York ao Rio de Janeiro - 1951. a primeira raid-woman brasileira: realizou diversos vôos a Santos e a várias cidades do interior de São Paulo e Minas Gerais. a realizar um vôo interestadual: São Paulo - Rio de Janeiro, setembro de 1922 - Comemorativo do Centenário da Independência, este vôo foi considerado uma notável realização para a época, dadas as precárias condições em que foi efetuado: o avião apresentava pouca segurança e o mau tempo dominava em todo o percurso, que durou quatro dias.O avião usado era um antigo Caudron G-3 de motor rotativo Gnome-Rhône, de 120hp, fabricação francesa, remanescente da Primeira Guerra Mundial. O mesmo avião em que aprendera a voar. Por esse feito, que teve grande repercussão, recebeu muitas homenagens, destacando-se a que foi prestada por Santos-Dumont, que lhe ofertou, juntamente com uma carta de felicitações, uma medalha, igual à que o acompanhava sempre. Recebeu, também, um prêmio da Prefeitura do Rio de Janeiro. a cruzar a Cordilheira dos Andes em avião monomotor, pela rota comercial do Paso do Aconcágua, de Santiago (Chile) a Mendoza (Argentina). a ser credenciada pela Organização dos Estados Americanos (OEA), para ser portadora de mensagens de confraternização pan-americana daquela entidade para os Chefes de Estado dos países que percorreu. Esse vôo, absolutamente esportivo, sem contar com o patrocínio de quaisquer entidades governamentais ou particulares, foi realizado por iniciativa própria, utilizando um avião adqirido por D. Anesia, para tal fim. Segundo o noticiário jornalístico, a iniciativa trouxe colaboração eficiente e valiosa à política de boa vizinhança e de aproximação continental, elevando o conceito, o nome e as tradições da aviação civil brasileira. a realizar, em 1956, um vôo intercontinental, por delegação da Câmara do Distrito Federal (hoje Estado do Rio de Janeiro) e do Ministério da Aeronáutica em comemoração ao "Ano Santos-Dumont", tendo proferido conferências sobre a personalidade de Santos-Dumont e o desenvolvimento da aviação brasileira. Esse vôo foi executado sem ônus para as organizações que a incubiram da referida missão. a tomar parte em 1952, na grande "REVOADA DA AMIZADE" à Argentina. a fazer vôos ao Paraguai, Uruguai e Argentina. a participar de muitas revoadas que se realizaram no Brasil durante as comemorações da "Semana da Asa" e de competições de vôos de acrobacia.

Condecorações

Condecorações Militares Estrangeiras MEDALHA DA AERONÁUTICA - França. CRUZ PERUANA AL MERITO AERONAUTICO - Grau de Oficial Força Aérea Peruana. MEDALHA DO MINISTÉRIO DA DEFESA - Paraguai.

Condecorações Civis Estrangeiras

ORDEN AL MERITO "BERNARD O'HIGGINS" - Grau de Oficial - Chile - 1951. ORDEN NACIONAL DEL MERITO - Grau de Oficial - Paraguai - 1958. "TINY BROADWICK AWARD" - OX 5 Club of America - Organização Internacional de antigos pilotos - 1966. MEDALHA "AMELIA EARHART" - The Ninety-Nines - Organização Internacional de Aviadoras - 1967. DIPLOMA "SILVER WINGS FRATERNITY" - elege Anesia Pinheiro Machado "WOMAN OF THE YEAR".

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126 GRANDE COLAR DA "ORDEM PIONEIRA DA ROSA DOS VENTOS" (Pionere Der Wind Rose) International Committee of Aerospace Activities - Alemanha - 1967. MEDALHA CRUZ DA AVIAÇÃO - Força Aérea da Venezuela - 1976.

Condecorações Militares Brasileiras

MEDALHA DO ATLÂNTICO SUL - Ministério da Aeronáutica - 1950. MEDALHA DE GUERRA - Ministério da Guerra - 1951. MEDALHA MÉRITO AERONÁUTICO - Ministério da Aeronáutica, Grau de Oficial - 1956. Promovida a Comendador em 1967. Promovida a Grande Oficial em 1972 . MÉRITO NAVAL - Ministério da Marinha - Grau de Oficial - 1956. MÉRITO "SANTOS-DUMONT" - Ministério da Aeronáutica - Medalha de Prata - 1957. MEDALHA DO PACIFICADOR - Ministério da Guerra - 1960. MEDALHA ALMIRANTE TAMANDARÉ - Ministério da Marinha - 1962. MÉRITO MILITAR - Ministério da Guerra - Grau de Cavaleiro - 1963. Promovida a Oficial em 1974. MEDALHA MÉRITO DAS FORÇAS ARMADAS - EMFA - Grau de Cavaleiro - 1987. Promovida a Oficial em 1988.

Condecorações Civis Brasileiras

ORDEM NACIONAL DO MÉRITO - Grau de Cavaleiro - 1959. ORDEM DO MÉRITO RIO BRANCO - Grau de Comendador - 1970. MEDALHA DA CONSTITUIÇÃO - Assembléia do Estado de São Paulo - 1965. MEDALHA VALOR CÍVICO - Governo do Estado de São Paulo - 1965. MEDALHA SANTOS-DUMONT - Governo do Estado de Minas Gerais - 1967. MEDALHA CAETANO DE FARIA - Ministério da Justiça. MEDALHA MARECHAL HERMES - Ministério da Justiça. MEDALHA SOUZA AGUIAR - Ministério da Justiça. MEDALHA "IMPERATRIZ LEOPOLDINA" - Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. MEDALHA "MARECHAL RONDON" - Sociedade Geográfica Brasileira - São Paulo. MEDALHA DA PRIMAVERA "COUTO DE MAGALHÃES"- Sociedade Geográfica Brasileira - São Paulo. MEDALHA CULTURAL E CÍVICA "JOSÉ BONIFÁCIO"- Sociedade de Heráldica e Medalhística - São Paulo. MEDALHA DO CENTENÁRIO "PATRIARCA JOSÉ BONIFÁCIO" - Sociedade Heráldica e Medalhística - São Paulo. MEDALHA "M.M.D.C." - Movimento Constitucionalista de São Paulo.

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127 COMENDA EDWARD WARNER AWARDS (FUNDADOR DA ICAO) - Esta comenda é outorgada a personalidade de destaque na Aviação Civil Internacional. 23 ou 24 de Setembro de 1989 MEDALHA DE BRASÍLIA - 1992.

Fortes e Fortalezas

Para nossos experientes ancestrais portugueses, ocupar a terra implicava ter condições de defendê-la. Por isso, tão logo ancoravam suas embarcações em algum porto seguro ou chegavam a um ponto dominante no recôndito de nossos sertões, tratavam logo de aí fundar uma fortificação, artilhá-la e guarnecê-la. Em torno desses núcleos militares iam surgindo povoações que congregavam povo e soldados em um mesmo ideal, amalgamados pelo interesse comum. Importava a todos preservar o que tinha sido duramente conquistado.

Forte do Mar No imenso litoral desdobravam-se imponentes fortificações que, em diversas épocas da formação da nacionalidade, desempenharam papel fundamental na defesa da terra, como os Fortes do Mar e de São Felipe e São Tiago, que resistiram à invasão holandesa da Bahia, em 1624. Esses e muitos outros repeliram, com seus canhões protegidos por consistente amurada, a sanha invasora de incontáveis e indesejáveis intrusos. No interior da Amazônia, nos pampas sulinos e nos confins dos sertões, à medida que avançava a marcha desbravadora dos bandeirantes, surgiam outras sentinelas de pedra a bradar: "- Esta terra tem dono!".

Forte São João da Bertioga. O Marquês de Pombal, influente ministro português, a partir de 1750, mandou construir e refazer várias fortificações, particularmente na Amazônia. Entre elas, a Fortaleza de São José de Macapá, origem da atual capital do Amapá. A partir dessa quadra de nossa história-pátria, o soldado, cidadão-em-armas, tudo subordinou, até mesmo a sobrevivência individual, às ações coletivas de defesa e manutenção do território, patrimônio que hoje usufruímos e, que, por obrigação, temos o dever de defender. Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês de Pombal: responsável pela reconstrução e pelo levantamento de novas fortificações para preservar as conquistas territoriais portuguesas. Os fortes e

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128 fortificações como os de Jesus Maria José e São João da Bertioga são marcos de norte a sul da presença lusitana no litoral brasileiro.

Forte de Copacabana

Uma visão abrangente, onde mostra a entrada da Baía de Guanabara, que era defendida pelo Forte.

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Plano de defesa da Baía da Guanabara ( 1763 - 1908 )

A transferência da capital do Brasil para a Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1763, provocou a necessidade de serem reforçadas as defesas da Baía da Guanabara, através das Fortificações de Artilharia. Seis anos depois, foi iniciada a instalação de um Forte na "Ponta da Igrejinha", em Copacabana, nome pelo qual era conhecido o promontório ( Geog. - Cabo formado de rochas elevadas ) onde hoje se situa o Forte de Copacabana. Depois de várias tentativas não concluídas o projeto só foi retomado em 1908, durante o governo de Afonso Pena, com o lançamento da pedra fundamental, enterrada junto a uma caixa lacrada contendo coleções de selos nacionais, moedas de ouro, de prata, de níquel, de cobre e jornais do dia. Construído no promontório da Igrejinha de Nossa Senhora de Copacabana, quer dizer que, para erguer a fortaleza, foi necessária a demolição da antiga Igrejinha, que deu origem ao nome do bairro, e sempre viveu ligado à santa, cujas origens remontam ao antigo Império Inca e ao Santuário da Virgem do Lago Titicaca, na Bolívia. Construção ( 1908 - 1914 ) A execução da obra prolongou-se por 6 anos e 9 meses e utilizou mais de 2 mil operários civis. O armamento fabricado pela Krupp e trazido da Alemanha pela marinha Brasileira, foi transportado em 6.414 volumes, guindastes elétricos de 80 toneladas desembarcaram os canhões, que foram instalados em quatro cúpulas: • Uma, com dois canhões de 305 mm, com alcance máximo de 23 Km; • Outra , com dois canhões de 190 mm, com máximo de 18 Km; • E mais duas, com um canhão de 75 mm cada, com alcance máximo de 7 Km. A energia elétrica necessária à iluminação, aos movimentos das armas e ao sistema de ventilação era fornecida por uma usina composta de dois grupos eletrogêneos construídos pela AEG, alemã. O Forte de Copacabana caracterizou-se por possuir traços peculiares que marcaram a sua história. A Fortificação foi ocupada, sucessivamente por seis Baterias de Artilharia, até a instalação, em 23 de outubro de 1934, do 3º Grupo de Artilharia da Costa (3º GACos). Seus modernos canhões, dotados de grande potência de fogo e avançada tecnologia fizeram-no, por muito tempo, baluarte de defesa da entrada da Baía. Suas atividades, voltadas para a procura de novas técnicas e para o aprimoramento da instrução militar viabilizaram a execução das primeiras Escolas de Fogo, que foram realizadas a partir de 1935, além de ser o pioneiro, no Brasil, em exercícios noturnos de levantamento de rota com apoio de holofotes, em 1937.

Protegidos por uma casamata (subterrâneo) abobadada, de 40 mil metros cúbicos, com muralhas externas voltadas para o mar de 12 metros de largura, os militares podiam enfrentar o inimigo durante semanas, isolados do exterior. Essa construção, dificultada pelas condições do terreno e do mar, e agravada pelo tamanho e peso do armamento, representou um desafio para as engenharias militares brasileira e alemã.

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130 A intensa ligação com a comunidade e o brilho alcançado nas competições desportivas tornaram o Forte de Copacabana uma amizade de escola e orgulho dos militares que por ele passaram.

"Os 18 do Forte" Não há dúvida que, dos diversos acontecimentos que marcaram a vida da fortaleza, o mais famoso foi o Movimento Tenentista, ocorrido em 1922, tem como origem a crise política dos pleitos eleitorais, estando o Governo Federal atuando ostensivamente na política partidária dos Estados. O Corpo Militar era usado como instrumento de ordens ou missões incompatíveis com a sua função. A crise econômica assolara o país e o clima era de intranqüilidade perante os novos governantes. O Tenentismo surge como movimento de jovens oficiais, que inspirados ainda na filosofia positivista decidem romper com as bases governamentais reivindicando reformas mas bases militares e na política atuante. Assim, novos focos do movimento foram articulados. O dia 5 de julho de 1922 foi o ápice do movimento conhecido como "Os 18 do Forte". É preso o Marechal Hermes da Fonseca, então Presidente do Clube Militar. O jovem Tenente Eduardo Gomes ( que mais tarde chegou a Brigadeiro ) o procura. O Marechal fica sabendo da rebelião que se formara. O Forte de Copacabana se revolta no dia 2 de julho. Era comandante do Forte o Capitão Euclides Hermes da Fonseca, filho do Marechal. Uma ordem do Ministério da Guerra precipita a rebelião. É feito fogo sobre outras fortalezas. O 3º Regimento de Infantaria toma posição perto do forte. Os portões são abertos aos que não queriam lutar. O Capitão Euclides Hermes da Fonseca vai ao Palácio do Governo negociar e é preso. Fala ao telefone com o Tenente Siqueira Campos e informa que o Governo exigia a sua rendição, incontinente. Siqueira Campos tomara a decisão de resistir até o fim. A Bandeira do Forte é arriada e rasgada em 28 pedaços. Saem do Quartel: Tenentes Siqueira Campos, Eduardo Gomes, Newton Prado, Mário Carpenter, Cabo Reis e soldados ( Hildebrando Nunes, José Pinto de Oliveira, Manoel Antonio dos Reis e outros desconhecidos da Primeira Bateria Isolada da Artilharia de Costa). Octávio Correia, civil, uniu-se ao grupo à saída do Forte. Como de 301 revolucionários, ficaram apenas 18. Em outras palavras, liderado pelos tenentes Antonio de Siqueira Campos e Eduardo Gomes, um grupo de jovens militares rebelou-se contra os arranjos políticos da República Velha. O episódio deu início à revolução dos Tenentes - ou Tenentista - que estendeu-se até 1929 em várias partes do Brasil. O estopim da revolta foi aceso quando o jornal Correio da Manhã publicou, em outubro de 1921, uma série de cartas ofensivas ao Exército. Elas foram atribuídas ao candidato da "política do café com leite" à presidência da república, Artur Bernardes. Indicado pelas oligarquias de São Paulo e Minas Gerais para sucessão de Epitácio Pessoa, ele venceu as eleições. Foi justamente com o objetivo de impedir a posse de Artur Bernardes, que os jovens oficiais rebelaram-se. Foram apoiados pelo comandante do Forte de Copacabana, Capitão Euclides Hermes da Fonseca, e ainda por outras guarnições do Distrito Federal ( antigo Estado da Guanabara ), do Estado do Rio de Janeiro e de Mato Grosso. Durante toda manhã do dia 5 o Forte de Copacabana sustentou fogo cerrado. Diversas casas foram atingidas na trajetória dos tiros até os alvos distantes, matando dezenas de pessoas. Eram 301 revolucionários - oficiais e civis voluntários - enfrentando as forças legalistas, representadas pelos batalhões do I Exército. A certa altura dos acontecimentos, Euclides Hermes e Siqueira Campos sugeriram que os que quisessem abandonassem o forte: restaram 29 combatentes. Por estarem acuados, o Capitão Euclides Hermes saiu da fortaleza para negociar. Os 28 que permaneceram, decidiram então "resistir até a morte", partindo em marcha pela Avenida Atlântica rumo ao Leme. Durante os tiroteios, dez deles dispersaram pelo meio do caminho e os tais 18 passaram a integrar o pelotão suicida. Após a morte de um cabo, ainda no asfalto com uma bala nas costas, os demais saltaram para a praia, onde aconteceram os últimos choques. A despeito dos que tombaram mortos na areia, os remanescentes continuaram seguindo em frente. Os únicos sobreviventes foram Siqueira Campos e Eduardo Gomes, embora tivessem ficado bastante feridos.

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131 Existe um monumento aos "18 do Forte" de Copacabana, na Av. Atlântica, no calçadão central, quase esquina com a Rua Siqueira Campos, inaugurado em 5 de julho de 1974.

Fortalezas da Ilha de Santa Catarina O sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina foi construído durante o século XVIII para consolidar o domínio português nessa região, que se configurava como ponto estratégico fundamental para navegação e ocupação do sul do continente. As construções mais significativas desse sistema são as Fortalezas de Santa Cruz de Anhatomirim, São José da Ponta Grossa e Santo Antônio de Ratones, que formavam o triângulo defensivo da Barra Norte da Ilha de Santa Catarina. Esse conjunto, um dos mais importantes marcos históricos catarinenses, permaneceu abandonado e em ruínas ao longo dos anos. A partir da década de oitenta, foi restaurado e está sendo revitalizado pela Universidade Federal de Santa Catarina, com orientação técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN - e financiamento da Fundação do Banco do Brasil, através do Projeto "Fortalezas da Ilha de Santa Catarina". Atualmente, as fortalezas de Santa Cruz, Santo Antônio e São José, são os principais pontos de atração turística da região de Florianópolis, sendo visitadas anualmente por milhares de pessoas.

Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim - Ilha de Anhatomirim

Século XVIII

Principal fortaleza do antigo sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina, projetada e construída pelo brigadeiro português José da Silva Paes entre 1739 e 1744. Sítio arqueológico tombado como Monumento Histórico Nacional pelo SPHAN, em 1939, vem sendo gerenciado desde 1979 pela Universidade Federal de Santa Catarina. Antecedentes Históricos A Fortaleza de Santa Cruz está localizada na Ilha de Anhatomirim (nome indígena) e hoje integra o Município de Governador Celso Ramos. Estrategicamente situada na entrada da Baia Norte, Santa Cruz configurava no século XVIII o terceiro vértice de um sistema triangular de defesa, formado ainda pelas Fortalezas de São José da Ponta Grossa e Santo Antônio de Ratones. Este sistema deveria proteger a Barra Norte da Ilha de Santa Catarina das investidas estrangeiras - principalmente da Espanha - e consolidar a ocupação portuguesa do Sul do Brasil Setecentista. Assim como São José, Santo Antonio e Nossa Senhora da Conceição (no sul da Ilha), a Fortaleza de Santa Cruz foi idealizada pelo engenheiro militar e primeiro

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132 governador da Capitania da Ilha de Santa Catarina, Brigadeiro José da Silva Paes. Sua construção teve início em 1739 tendo sido concluída, aproximadamente, em 1744. Segundo historiadores, a Fortaleza de Santa Cruz não foi efetivamente utilizada do ponto de vista bélico, nem mesmo durante a invasão espanhola de 1777. Após este episódio, o sistema entrou em descrédito e Santa Cruz passou a ser progressivamente abandonada. Em 1894, durante a Revolução Federalista, esta Fortaleza serviu de prisão e base de fuzilamentos de revoltosos contra o governo de Floriano Peixoto. Em 1907 passou a pertencer ao Ministério da Marinha e voltou a ser utilizada como prisão no desfecho da Revolução Constitucionalista, em 1932. Funcionou como fortaleza até o fim da Segunda Guerra Mundial, quando o aparecimento de novas tecnologias bélicas, tornou-a obsoleta como unidade militar. Foi, assim, desativada. A Marinha ainda manteve vigilância na Ilha até aproximadamente o fim da década de 60, a partir do que foi abandonada e depredada. Apesar de tombada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN) desde 1938, somente em 1970 Santa Cruz veio a sofrer as primeiras intervenções de restauro. Em 1979, num convênio com o Ministério da Marinha e com o SPHAN, a UFSC assumiu formalmente a guarda e tutela de Anhatomirim e sua Fortaleza, acelerando o processo de restauração das ruínas históricas e solucionando os principais problemas de infra-estrutura e apoio logístico da Ilha, tornando possível, em 1984 sua reabertura oficial à visitação pública. Finalmente, em 1990/1991 no âmbito do "Projeto Fortalezas" Santa Cruz teve os seus últimos edifícios ainda em ruínas, restaurados. A Arquitetura Assim como as demais fortalezas edificadas no século XVIII no Brasil, Santa Cruz possui traços de influência renascentista. Na Ilha circundada por costões, seus edifícios distribuem-se de maneira esparsa em diferentes níveis, contidos por espessas muralhas, em cujos vértices estratégicos se abrigam as proeminentes guaritas circulares de vigia. Os edifícios bem como as muralhas que os resguardam, foram construídos em alvenaria de pedras com argamassa e revestimento à base de cal. A maior parte do material utilizado nessas construções foram extraídos da região de Anhatomirim, exceção feita aos elementos de cantaria, e ao "lioz"-espécie de mármore português existente nas soleiras das portas, escadarias e algumas bases para canhões, vindos, provavelmente, de Portugal. Todas alvenarias, inclusive as muralhas, eram originalmente rebocadas e pintadas de branco (caiação). Acredita-se que apenas as guaritas circulares por serem postos de vigia, não recebiam pintura que as ressaltassem. Entre os edifícios mais significativos da Fortaleza de Santa Cruz, destacam-se: a Portada, a Casa do Comandante e o Quartel da Tropa. A Portada de influência oriental, compõe-se de um corredor formado por uma abóbada de tijolos sobre a qual elevam-se dois maciços de alvenaria escalonados. O acesso à Portada se dá através de uma escadaria em "lioz". A Casa do Comandante é uma casa do tipo Câmara e Cadeia, uma espécie de sobrado bastante comum no Brasil colonial. Esta Casa foi a primeira sede do governo de Santa Catarina, onde residiu Silva Paes. Quartel da Tropa é uma construção de grande destaque representando o auge da imponência das obras de Silva Paes. O estilo clássico dessa construção, determinado por contornos retos, telhas coloniais e as doze arcadas térreas, apresentava tal apuro de proporções e detalhes, que raramente deixava de ser mencionado por viajantes europeus em seus diários. Além destes edifícios citados, encontram-se também na Ilha de Anhatomirim o Paiol da Pólvora, a Casa da Farinha e o Armazém da Praia, constante do plano construtivo original. Outros edifícios foram construídos posteriormente, o Novo Paiol da Pólvora, no séc XIX e a Usina de Eletricidade e a Casa do Telégrafo, no século XX. Portada Única na arquitetura militar luso-brasileira. Notar a influência oriental no tratamento dos elementos ornamentais - perfil côncavo, paramento recortado, acrotérios escalonados - lembrando a arquitetura de um pagode chinês.

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133 Casa do Comandante Sobrado caracteristicamente luso-brasileiro. Notar a sobriedade da edificação - que transmite força e austeridade - ligando-se arquitetonicamente às antigas Casas de Câmara e Cadeia, de onde se administravam as vilas brasileiras. Aqui residiu o brigadeiro José da Silva Paes, idealizador do sistema defensivo e primeiro governador de Santa Catarina. Quartel da Tropa Arquitetonicamente, é o edifício mais significativo do conjunto das fortalezas. Notar a imponência e a beleza erudita de sua composição de nítida influência renascentista - ritmo, simetria, arcada. No pavimento superior, as compartimentações internas (hoje inexistentes) definiam os alojamentos da tropa, com dois apartamentos de oficiais nas extremidades.

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134 Escadaria de Lioz A escadaria e parte do atracadouro são de lioz, calcário branco da região de Lisboa, também conhecido como "mármore português". Esta pedra, que vinha para o Brasil como lastro no porão dos navios, era preferencialmente utilizada nas partes nobres das construções mais requintadas. Paiol da Pólvora Sua posição, no local mais alto da Fortaleza, exposta ao céu e à terra, foi muito criticada por militares que sucederam a Silva Paes, tendo sido substituído no século XIX por um novo paiol. Notar o detalhe caprichoso de seu beiral tipo beira-seveira e as aberturas para ventilação indireta existentes no local destinado ao armazenamento da pólvora.

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135 Armazém da Praia No levantamento realizado pelo brigadeiro José Custódio de Sá e Faria, na segunda metade do século XVIII, aparece como "Quartel dos Índios". Deve ter sido utilizado, por muitos anos, como local de quarentena e como apoio às embarcações que atracavam nas proximidades de Anhatomirim. Novo Paiol da Pólvora Edificado em local protegido para substituir o antigo paiol. Notar as paredes duplas que formam um corredor a céu aberto, reduzindo o risco de explosão do paiol. Merece destaque a portada de lioz oriunda da capela - demolida no início do século XX - que ornamenta o acesso ao edifício.

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Fortaleza de São José da Ponta Grossa - Ilha de Santa Catarina Século XVIII

Construída a partir de 1740. Projetada pelo brigadeiro militar português José da Silva Paes, seus edifícios formam um harmonioso conjunto que se adapta à topografia local, destruindo-se por três terraplenos interligados por rampas. Para complementar a defesa do flanco leste, foi construída, em 1765, a bateria de São Caetano (junto à praia de Jurerê), 200 metros distante da Fortaleza. Sítio arqueológico tombado em 1938 pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional , vem sendo gerenciado desde 1992 pela Universidade Federal de Santa Catarina. A Fortaleza de São José está localizada ao Norte da Ilha de Santa Catarina, entre as praias do Forte e Jurerê, a aproximadamente 25 Km do centro de Florianópolis. Estrategicamente situada no alto do Morro da Ponta Grossa e emoldurada pela beleza dos costões e pelas areias da Praia do Forte, São José configurava no século XVIII o terceiro vértice de um sistema triangular de defesa, formado ainda pelas fortalezas de Santa Cruz de Anhatomirim e Santo Antônio de Ratones. Esse sistema deveria proteger a Barra Norte da Ilha de Santa Catarina das investidas estrangeiras - principalmente da Espanha - e consolidar a ocupação portuguesa do Sul do Brasil setecentista. Assim como Santa Cruz, Santo Antônio e Nossa Senhora da Conceição (no sul da ilha), a Fortaleza de São José da Ponta Grossa foi idealizada pelo engenheiro militar e primeiro governador da Capitania da Ilha de Santa Catarina, brigadeiro José da Silva Paes. Sua construção teve início em 1740, tendo sido concluída, aproximadamente, quatro anos após essa data. Para completar a defesa do seu flanco leste, foi construída em 1765 a Bateria de São Caetano, localizada junto à praia de Jurerê, distante 200 metros da Fortaleza. Segundo historiadores, a Fortaleza de São José não foi efetivamente utilizado do ponto de vista bélico, nem mesmo durante a invasão espanhola de 1777. Após este episódio, o sistema de defesa entrou em descrédito e São José passou a ser progressivamente abandonada a sua sorte. No final do século passado, os jornais já denunciavam a apropriação indevida de pedras, tijolos e outros materiais da Fortaleza para construção de moradias pela população local. Em 1938, quando foi tombada pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (SPHAN), a Fortaleza encontrava-se já completamente arruinada. Apenas nas duas últimas décadas, São José veio a sofrer intervenções de restauro. Em 1977, por iniciativa do Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional,

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137 foram realizadas obras de consolidação emergencial de alguns trechos de muralhas, na Casa do Comandante, na Portada e restauração parcial da Capela. Em 1987, ao ser cadastrada como sítio arqueológico protegido por lei federal, foram realizados os primeiros trabalhos de prospecção arqueológica por técnicos da SPHAF/Fundação Pró-Memória, e que tiveram seqüência em 1990 com a equipe do Museu Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Finalmente em 1991/92 no âmbito do Projeto Fortalezas, São José teve a maioria de seus edifícios restaurados. A Arquitetura Assim como as demais fortalezas edificadas no Século XVIII no Brasil, São José da Ponta Grossa possui traços de influência renascentista. Seus edifícios distribuem-se por três terraplenos ou platôs. Estes terraplenos são contidos por espessas muralhas, formando poligonais irregulares, em cujos vértices estratégicos se abrigam as proeminentes guaritas circulares de vigília. Os terraplenos são interligados por rampas de pedras apoiadas sobre o terreno. Os edifícios, bem como as muralhas que os resguardam, foram construídos em alvenaria de pedras com argamassa e revestimento à base de cal. As pedras foram extraídas da própria região da Ponta Grossa, exceção feita aos elementos de cantaria da portada, casa da guarda e ao lioz - espécie de mármore português existente nas soleiras da casa do comandante, paiol de pólvora e em algumas bases para canhões, vindo provavelmente de Portugal. Todas as alvenarias, inclusive as muralhas, eram originalmente rebocadas e pintadas de branco caiação. Acredita-se que apenas as guaritas circulares, por serem postos de vigia, não recebiam pintura que as ressaltassem. Entre os edifícios, o mais significativo é sem dúvida a casa do comandante, construção curiosamente geminada ao paiol da pólvora, formando o único conjunto com dois pavimentos da Fortaleza. A força e sobriedade da composição geradora do pátio principal da Fortaleza, delineado por esse sobrado colonial e a austera capela, espelham bem a importância e a inter-relação dos poderes do Estado e da Igreja no Século XVIII. Portada A existência de portada monumental era comum nas fortalezas da mesma época. A portada foi adotada de frontão, hoje desaparecido, mas do qual observam-se vestígios nas paredes laterais. Do túnel, característico dos corredores de entrada das fortalezas, sobraram apenas alguns tijolos do ar ranque da abóbada, visíveis no alto das paredes do corredor de acesso. Observar, na base do portal, peça em pedra dotada de encaixe cilíndrico à engrenagem de ponte elevadiça.

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138 Paiol da Pólvora Forma um bloco contíguo à Casa do Comandante. Sua posição, no local mais alto da Fortaleza, provavelmente tornava-o menos suscetíveis aos fogos inimigos. No pavimento inferior, de teto abobado , "à prova de balas " , guardava-se a pólvora. Notar as aberturas internas e externas, dotadas de ventilação cruzada, destinadas a impedir a entrada de material inflamável para o interior do paiol. Casa do Comandante Neste sobrado colonial residiu o comandante da Fortaleza. Foi também o local onde os portugueses assinaram a capitulação frente aos espanhóis em 1777. No pavimento térreo, podem ainda ser observados vestígios do piso original de tijolos formando desenhos variados.

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139 Capela Em decorrência de sua utilização de missas, batizados e casamentos - foi o primeiro edifício a sofrer restauração, em 1977. O formato retangular, a nave única separada da capela-mor por arco cruzeiro e a ausência de torre sineira caracterizam as austeras capelas catarinenses do século XVIII, quase todas projetadas por militares. O Projeto Fortalezas A restauração da Fortaleza de São José da Ponta Grossa é parte do Projeto Fortaleza da Ilha de Santa Catarina - 250 Anos na História Brasileira” realizado pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão , da Universidade Federal de Santa Catarina. O projeto é financiado a fundo perdido pela Fundação do Banco do Brasil, através de convênio no valor aproximado de um milhão de dólares para restauração e consolidação das fortalezas de Santa Cruz, Santo Antônio, São José e de Nossa Senhora da Conceição, bem como para a comemoração dos 250 anos das fortalezas. Os projetos de restauração e complementares foram elaborados pelo Instituto Brasileiro do Patrimônio Cultural e Universidade Federal de Santa Catarina, sob a coordenação executiva desta última. Além das obras civis, iniciadas em 1989, o “Projeto Fortalezas” englobou a elaboração de vídeos, folders, álbuns fotográficos, maquetes, exposições diversas, apresentações musicais e folclóricas, produção de souvenirs e a publicação de vários livros sobre o tema.

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Fortaleza de Santo Antônio - Ilha de Ratones Século XVIII

Construída a partir de 1740. Projeto atribuído ao brigadeiro militar português José da Silva Paes, é uma das unidades mais íntegras da arquitetura militar do sul do Brasil. As pedras utilizadas em sua construção (uma espécie de granito) foram extraídas da própria Ilha de Ratones. Sítio arqueológico tombado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 1938, vem sendo gerenciado desde 1991 pela Universidade Federal de Santa Catarina. Antecedentes Históricos A ilha de Ratón Grande - a maior das duas ilhas denominadas Ratones - está localizada na Baía Norte da Ilha de Santa Catarina, em frente à praia do Sambaqui. Foi assim batizada, em 1541, pelo explorador espanhol D. Álvaro Nunes Cabeza de Vaca, por considerá-la semelhante a um enorme rato (ratón, em espanhol). Essa ilha abriga, desde o século XVIII, a Fortaleza de Santo Antônio, terceiro vértice de um sistema triangular de defesa, formado, ainda, pelas fortalezas de Santa Cruz de Anhatomirim e São José da Ponta Grossa. Esse sistema deveria proteger a barra norte da Ilha de Santa Catarina das investidas estrangeiras - principalmente da Espanha - e consolidar a ocupação portuguesa no sul do Brasil. Assim como Santa Cruz e São José, Santo Antônio de Ratones foi projetada pelo engenheiro militar e primeiro governador da Capitania da Ilha de Santa Catarina, brigadeiro José da Silva Paes. Sua construção teve início em 1740, tendo sido concluída, aproximadamente, quatro anos após. Segundo historiadores, a fortaleza de Santo Antônio não foi efetivamente utilizada do ponto de vista bélico, nem mesmo durante a invasão espanhola de 1777. Em meados do séc. XIX, já desativada, teve alguns dos seus edifícios convertidos em enfermarias para tratamento da cólera e outras doenças contagiosas, funcionando como lazareto até o início deste século. Em 1938, quando foi tombada como Monumento Histórico e Artístico Nacional, a fortaleza encontrava-se já completamente abandonada. Apesar dos trabalhos de limpeza e consolidação realizados nas décadas de 50 e 80, permaneceu em ruínas até 1990, quando se iniciou sua restauração. Santo Antônio de Ratones talvez seja, dentre as fortalezas

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141 idealizadas por Silva Paes, aquela que menos sofreu modificações posteriores e a que menos deixou registros de sua história. A Arquitetura Assim como as demais fortalezas edificadas no séc. XVIII no Brasil, Santo Antônio de Ratones possui traços de influência renascentista e uma linguagem plástico-arquitetônica semelhante à de suas contemporâneas. Os principais edifícios estão implantados em linha, guarnecidos pela encosta e voltados para o mar. O Paiol da Pólvora, situado caracteristicamente num ponto proeminente do terreno, é a única construção com dois pavimentos. Os edifícios, bem como as muralhas que os resguardam, são construídos em alvenaria de pedras, com argamassa e revestimento à base de cal. As pedras (riolitos) foram extraídas da própria ilha de Ratones, exceção feita aos elementos de cantaria da Portada, Fonte d'água e os degraus da escadaria de acesso ao Paiol da Pólvora. Todas as alvenarias, inclusive as muralhas, eram originalmente rebocadas e pintadas de branco (caiação). Apenas as guaritas circulares, por serem postos de vigia, não recebiam pintura que as ressaltassem. Entre os elementos arquitetônicos mais significativos da fortaleza de Santo Antônio de Ratones, destacam-se a Portada, a Fonte d'água e o Aqueduto. A Portada, um pórtico em pedra lavrada (granito rosa) emoldura o acesso a um pequeno túnel com teto abobadado. É ornada com frontão triangular de influência clássica. O acesso à Portada ocorria através de um pontilhão elevadiço por sobre um fosso ainda hoje existente. A Fonte d'água é obra de singular beleza plástica e arrojada concepção arquitetônica. Trata-se de uma das mais belas fontes existentes do Brasil. O Aqueduto, unindo a Casa do Comandante ao Quartel da Tropa, é, na realidade, parte integrante de um interessante e original sistema de captação, condução e aproveitamento das águas pluviais provenientes dos telhados dos edifícios principais. Paiol da Pólvora - Século XVIII Única construção em dois pavimentos, localizado tradicionalmente em um ponto proeminente da Fortaleza. Os graves problemas estruturais de sua abóbada não permitiram, até o momento, a restauração. Do ponto do vista arquitetônico e arqueológico, é um dos edifícios mais significativos existentes nas fortalezas, acreditando-se não ter sofrido modificações posteriores ao século XVIII.

Portada Conjunto de nítida influência clássica, com pórtico em pedra lavrada (granitorosa) encimado por frontão triangular. O acesso ao corredor abobadado se dava por sobre o fosso seco, através de uma ponte móvel elevadiça. Os rasgos verticais que interrompem a continuidade do frontão triangular serviam para acomodar a engrenagem de elevação da ponte.

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142 Principais Edifícios Conjunto arquitetônico que compreende a Casa do Comandante, Quartel da Tropa e Casa dos Oficiais, edificados em linha. Em separado, a casa da palamenta. Casa da Palamenta Edifício de arquitetura sóbria e harmoniosa, sem outros refinamentos além dos beirais contínuos e arredondados nos cunhais. A Casa da Palamenta era o local destinado ao armazenamento de armas de fogo individuais e dos objetos necessários aos serviços de artilharia. A existência de duas portas frente a frente facilitava o pronto acesso entre os alojamentos e a bateria nordeste - principal bateria de fogos da Fortaleza. Guarita

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143 As guaritas circulares, por serem postos de vigia, não recebiam pintura que as ressaltassem.

Fortaleza de Nossa Senhora Da Conceição - Ilha de Araçatuba Século XVIII

Antecedentes Históricos Localiza-se no município de Palhoça, na Ilha de Araçatuba, de difícil acesso. Projetada por Silva Paes para proteger a entrada da Baía Sul dos navios inimigos, teve sua construção em 1742. Seu conjunto seguiu o mesmo programa adotado para os outros fortes construídos por Silva Paes. Compõe-se de Quartel dos Oficiais, Quartel da Tropa, Paiol da Farinha, Casa da Palamenta e Armazém da Pólvora. Foi inicialmente, armada com nove canhões, e posteriormente acrescidos seis de bronze; atualmente restam apenas alguns de ferro corroídos pela ação do tempo. Em maio de 1921, por aviso do Ministério da Guerra, foi desclassificada e desarmada. A fortaleza em estado de ruína atualmente esta sob jurisdição do Ministério do Exército. De seu passado, sabe-se que esta fortaleza também serviu de prisão em algumas oportunidades no período republicano. Tombada em 1984 pelo ISPHAN, somente em 1987, foram realizados o levantamento arquitetônico do conjunto e o diagnóstico de sua situação. Dois anos depois como parte do Projeto “Fortalezas da Ilha de

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144 Santa Catarina - 250 anos na História Brasileira“ decidiu-se que suas edificações e muralhas seriam consolidadas. Em 1982, a UFSC sob supervisão do IBPC, deu início a consolidação emergencial da fortaleza. AS FORTIFICAÇÕES MENORES Os fortes e pontos fortificados construídos na Ilha de Santa Catarina após o governo de Silva Paes foram inúmeros. De proporções menores, essas fortificações serviam também como baluartes de defesa de pontos estratégicos da Ilha. Dentre essas fortificações, temos algumas totalmente desaparecidas, como é o caso do forte de São Francisco Xavier e o Forte de São Luiz, ambos na chamada Praia de Fora. São Francisco Xavier, construído no governo de Francisco A. Cardoso de Meneses e Souza, foi projetado pelo Brigadeiro José Custódio de Sá e Faria; já São Luiz, construído em 1770, teve risco do Sargento-Mor Francisco José da Rocha. Esses dois fortes foram vendidos em hasta pública: o primeiro, a 31 de agosto de 1841 e o segundo a 2 de dezembro de 1839. A venda permitiria a demolição dos prédios ao preço de 202$000 réis, preço menor do que valia a cantaria de seus portões. Sob o aterro que permitiu a passagem da Avenida Rubens de Arruda Ramos (Beira Mar Norte)ficaram as últimas pedras remanescentes do forte de São Francisco, junto à praça Lauro Müller. Já a Bateria de São Caetano, na Ponta Grossa, foi construída em 1765 para servir de apoio à Fortaleza de São José. Tal construção encontra-se em mal estado, embora ainda possa ser detectado o seu traçado original. No local denominado Estreito, por ser onde a Ilha mais se aproxima do Continente, foram construídos dois fortes: na Ilha, o Forte de Santana, e no Continente, o Forte de São João Forte de São João Forte de São Luiz - Ilha de Santa Catarina Localizado na Praia de Fora, próximo ao local onde se situa o monumento a Lauro Müller, este Forte não passava de uma bateria, abrigando o Quartel da Tropa, o Quartel do Comandante e a Cozinha, numa só edificação. A Casa da Pólvora ficava mais isolada, próxima à praia. Construída em 1771 para proteger a Vila de Desterro, sua artilharia dispunha de cinco canhões de ferro. Dele não resta nenhum vestígio. Seu terreno é atualmente utilizado pela Prefeitura Municipal de Florianópolis para feira livre, inexistindo entretanto, convênio ou contrato para sua utilização. Bateria de São Caetano - Norte da Ilha de Santa Catarina Construída em 1765, acerca de cem metros a Leste do Forte de São José, voltava-se para a Praia de Jurerê, complementando a defesa da Barra Norte. Apesar de sua posição, não conseguiu deter o avanço espanhol sobre o forte de São José, quando da tomada da Ilha em 1777. Abandonada, esta Bateria hoje se encontra em ruínas. Durante a construção do Forte São José, cuja data não apreendemos precisamente, a Bateria foi dividida e parte de suas muralhas destruídas. Desta Bateria, restam trechos de muralhas, um resto de parede, provavelmente de uma pequena construção que serviria de corpo da guarda, e uma base de guarita. Segundo os arquitetos responsáveis, o acesso à Fortaleza de São José deverá ser desviado da Bateria de São Caetano, permitindo assim, a recuperação de suas muralhas. A restauração da Bateria prevista no “Projeto Fortalezas”, englobando o reembrechamento das muralhas remanescentes e a reconstrução da guarita, foi temporariamente adiada em vista dos problemas relativos ao entorno e a necessidade de algumas definições.

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Forte de Santana - Ilha de Santa Catarina Sob o risco de José Custódio de Sá e Faria, o pequeno forte de Santana foi edificado entre os anos de 1761-65, durante o governo do coronel Francisco A.C. de Menezes e Souza. De todas as construções militares da Ilha, é a que melhor se conserva, tendo sido restaurada e resguardando hoje, o acervo do Museu de Armas da Polícia Militar do Estado de Santa Catarina. A construção era composta de apenas de Quartel da Tropa, Armazém, Casa da Pólvora, Quartel do Comandante e Cozinha. Todas essas peças abriam-se para o pátio, onde os canhões, pousados sobre a muralha, poderiam cruzar fogo com o forte de São João, no Continente. Suas aberturas de cantaria foram conservadas, embora o armamento lá existente, hoje em dia, seja de época posterior “Muito embora se constituísse numa ruína ocupada por intrusos, que nela se estabeleceram com suas famílias, o Forte Santana foi, dentre os monumentos militares ora tratados, o que em melhor estado chegou em 1969, quando numa ação integrada da Prefeitura Municipal de Florianópolis, do DEATUR e do IPHAN, transferiram-se as famílias que ali habitavam e restaurou-se o seu conjunto. Com a assinatura de um termo de comodato entre o Ministério do Exército e a Polícia Militar, esta manteria, a partir de 1975, o Museu Major Lara Ribas, abrigando armas antigas, incluindo sete canhões, além de um carro de bombeiros utilizado até 1926; bandeiras do Brasil Colonial e manequins da Polícia Militar.

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146 Forte São João - Continente Construído em 1793, no Continente, posicionado estrategicamente para cruzar fogos com o Forte Santana, reforçava a defesa da Ilha de Santa Catarina. Sua área totalizava 57.191 metros quadrados. Conforme Oswaldo Rodrigues Cabral, em 1880 o forte ou bateria primitiva foi demolido para ser construído outro de melhor qualidade; não se acredita contudo, que o tenha sido. Em 1922 restavam, além do porão de entrada, um outro paredão e a Casa da Pólvora, mais recuada. Durante a construção da Ponte Hercílio Luz, entre 1922 e 1926, parte destas instalações foram demolidas, restando apenas uma parede e um túnel, que logo foi ocupado por invasores que dele fizeram sua moradia. Este porém, foi lacrado pela Prefeitura quando da construção da Ponte Colombo Machado Sales em 1975.

O Brasil nasceu abençoado pela cruz e protegido pela espada. Em 8 de março de 1500, partia do Porto do Tejo, Portugal, frota de 10 naus e duas caravelas, comandadas pelo navegador Pedro Álvares Cabral. Seu destino declarado - as Índias - encobria sua verdadeira missão: “descobrir” o Brasil. Trinta anos depois do 22 de abril de 1500, iniciava-se a colonização do que já prenunciava ser um território rico, no qual “em se plantando tudo dá”. Urgia defendê-lo para que fosse legado íntegro às futuras gerações. As primeiras povoações nasciam e prosperavam em torno da fortaleza, símbolo da disposição portuguesa de permanecer na colônia. As ações de defesa assumiam caráter prioritário. Nelas, todos - militares profissionais, colonos, índios e escravos - estavam envolvidos. Os donatários, líderes políticos e militares, comandavam suas capitanias hereditárias, posteriormente subordinadas ao Governo-Geral, com sede em Salvador.

Tela da 1ª missa rezada no Brasil.

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147 Nesse período, ocorreu a tentativa dos franceses de se fixarem no Brasil, inicialmente no Rio de Janeiro, e, depois, no Maranhão. Eficiente ação defensiva, conduzida por homens da estirpe de um Estácio de Sá, fundador da cidade do Rio de Janeiro, repeliu os invasores. Os louros da vitória repousaram, já nos primórdios da formação de nossa nacionalidade, na fronte guerreira do primeiro habitante, o índio, origem da coragem e da lealdade que, ainda hoje, caracterizam o soldado brasileiro. Dois anos depois de fundar, em 1 de março de 1565, a cidade do Rio de Janeiro, no local onde hoje está instalado o Centro de Capacitação Física do Exército, próximo ao Pão de Açúcar, morre o Capitão Estácio de Sá, confortado pelo Cacique Araribóia. Tão logo o descobrimento do Brasil foi revelado, aflorou a cobiça das nações excluídas do pacto de Tordesilhas, em relação à nova terra. Arvoravam-se governos, corsários a soldo de reis, empresas de espoliação, congregações religiosas e aventureiros em busca de um lugar ao sol na plácida franja litorânea brasileira. A estimulá-los, a riqueza da terra: seus recursos de exploração, como o pau-brasil - matéria-prima de corante muito apreciado na Europa e inspiradora do nome do País - e a próspera agro-indústria açucareira, estabelecida no Nordeste do Brasil. Da expedição francesa de Villegaignon, na baía da Guanabara, à ação do corsário inglês Cavendish, todas as empreitadas foram repelidas pelo colonizador, com a ajuda de indígenas agrupados em rudimentar organização militar. Desde cedo, afigurava-se importante lutar de arcabuz e flecha nas mãos para defender a Colônia.

Batalha de Guararapes: com a vitória, o nascimento de um

Exército, esteio de uma grande Nação. Entretanto, o principal desafio à nova terra e sua brava gente chegaria em 1624 com a invasão holandesa da Bahia, frustrada pela resistência obstinada oposta aos intrusos e liderada pelo bispo de Salvador, D. Marcos Teixeira. Repelidos, os prepostos da Companhia das Índias Ocidentais, da Holanda, voltam à carga em 1630, agora com poderosa frota e apreciável contingente militar. O alvo é Pernambuco, pontilhado de engenhos produtores de açúcar, a mais valiosa especiaria da época. Mesmo assim, os habitantes da terra resistem no arraial de Bom Jesus, em luta desigual. Vergam-se em 1632, após delação perpetrada por uma figura que, no Brasil, é sinônimo de traição: Domingos Fernandes Calabar. O conquistador, esperto e diplomático, valeu-se de circunstâncias políticas especiais para consolidar e ampliar a conquista. Quinze anos haviam decorridos de ocupação, quando João Fernandes Vieira, em vibrante proclamação, na qual pela primeira vez aparece o vocábulo pátria, dá início ao resgate da “soberania” da gente da terra. Começa a Insurreição Pernambucana!

Páginas e páginas heróicas da história-pátria serão escritas pelos insurretos naquela guerra. O desagravo é assumido por todas as classes e raças de gente, empolgando da casa grande à senzala. Urdido o plano revolucionário, tratava-se de desgastar o inimigo por eficiente luta de emboscadas, dirigida pelo Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso, atual patrono das nossas Forças Especiais. Tropas de negros, do patriota Henrique Dias, e de índios, do bravo Poti, rebatizado Felipe Camarão, agregam-se às dos luso-brasileiros de André Vidal de Negreiros e João Fernandes Vieira, para combater, como Davi, o poderoso Golias holandês. O combate decisivo se trava nos arredores de Recife, em região de montes permeada por banhados: Guararapes. O inimigo fora atraído para terreno que se apresentava favorável à habilidade militar dos brasileiros. A estes, sobravam coragem, determinação e amor à Pátria. Segue-se a segunda vitória em Guararapes. Um ano depois, outros combates e, finalmente, a capitulação do invasor na Campina do Taborda, em 1654. A partir dessa memorável epopéia, não havia apenas homens reunidos em torno de um simples ideal de libertação, mas sim, as bases do Exército Nacional de uma Pátria que ver-se-ia confirmada a 7 de setembro de 1822. O testemunho holandês, abaixo transcrito, dará ao leitor uma idéia da violência do ataque luso-brasileiro e os momentos dramáticos vividos pelos holandeses em debandada geral, perseguidos pelos luso-brasileiros.

CONFUSÃO, DESORDEM, PÂNICO E DESERÇÃO

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148 "O Cel Claes que comandava o Regimento do Tenente General (Schkoppe ausente da batalha) e Cel Hauthyn, ao serem atacados tentam reconquistar o Boqueirão abandonado". "Tiveram que recuar para o monte (Oitizeiro), por causa da excessiva força do inimigo, que veio com tanta impetuosidade, sobre os nossos, que nossas tropas começaram a fugir e acharam-se logo na maior confusão, a tal ponto, que nem palavras nem força puderam retê-las, apesar de todos os esforços dos oficiais e do abaixo assinado..." . "As nossas tropas, entregues à desordem, à deserção e à confusão, dispersaram-se aqui e ali, por diversos caminhos em direção ao mato e ao rio". "Muitos soldados ficaram no caminho por causa da fadiga e esgotamento, e o inimigo em perseguição ao nosso exército em desordem", encontrando êstes desgraçados, matou-os sem quartel". "A consternação e o pânico entre os nossos foi tão grande, que se o inimigo, ao invés de entregar-se ao saque, como provavelmente o fêz, tivesse preferido continuar a perseguição, é indubitavelmente certo, que o resto dos nossos se teria deixado matar e massacrar sem fazer a mínima resistência, porque fugiam sem voltar os olhos" (O grifo é nosso).

(Relatório de Michael Van Goch participante da Batalha, feito em 22-Fev-1649,

ao Conselho Holandês do Recife). Este documento é a melhor fonte de reconstituição da 2a. Batalha, junto como depoimento de Lopes Santiago e sua tradução encontra-se na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Sobre o que foi a batalha cumpre destacar um trecho de Lopes Santiago: "Aqui estavam uns clamando e implorando com humildes rogos misericórdia aos vencedores, ali se ouvia a turba multa dos que pediam bom quartel, em outra parte, em seu idioma mal articulado com as ânsias da morte, queixavam-se de sua adversa fortuna, e muitos dentro os mortos, fingindo-se que o estavam, queriam ainda dilatar a breve vida. Finalmente, infinitos precipitados, bem desejavam naquele apertado passo, outras asas de Ícaro e Dédalo, para voarem e não se fazerem pedaços naqueles precipícios e penhascos, correndo copiosa inundação de sangue por todos aqueles montes que era um espetáculo admirável". PERSEGUIÇÃO Sobre o que foi a perseguição aos holandeses nada melhor que os depoimentos e comentários a seguir. De Frei Rafael de Jesus baseado no material de Lopes Santiago que ele remanejou em o "Valoroso Lucideno" segundo J. A. G. de Mello em "Restauradores de Pernambuco". "Ao inimigo não restou sequer a salvação de uma retirada em ordem. Nem mesmo na fuga tiveram sorte". "Parece que até o instinto de conservação desordenou-se, pois fugia sem voltar a cara". "Foi um desastre total e desonroso para as armas da W. I C.". "Abandonaram armas, bagagens, trem de artilharia, munições, bandeiras e feridos. Despojaram-se de tudo que tolhesse a ligeireza da corrida". "O pior da matança, o mais agravado do desastre, esteve justamente na fuga". "Os nossos levaram a perseguição até onde puderam, ou até onde lhes permitissem o cansaço, a sede e as sombras da noite". De Jordão Emerenciano: "Há muito findara o dia, e a nossa cavalaria continuava a levar a morte e a destruição aos últimos destroços dos soberbos holandeses, que saíram do Recife com tanto estrondo e decisão". E a perseguição não continuou conforme consta de a Relação da Vitória, "cansados estavam todos, uns de fugir e outros de matar e vencer",

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149 E comentaria Von Schkoppe, que comandara na la. Batalha: "a cavalaria e a infantaria se vieram lançar sobre os nossos regimentos, e causariam tal desordem, que nem os oficiais, quer superiores, quer inferiores, nem os soldados, puderam resistir e cumprir seu dever, o que provocou tal consternação entre os nossos, que a pena não poderia descrever... e a maior parte de nossas tropas se pós a fugir, deixando-se matar sem resistência, como crianças. ATO DE BRAVURA Na frente de atuação de Vidal de Negreiros, segundo Lopes Santiago, em dado momento, topam com um esquadrão holandês emboscado. Incontinenti, Vidal de Negreiros ordena aos bravos capitães de cavalaria Antônio Silva e Manoel de Araújo que ataquem o inimigo. Manoel de Araújo volta-se para Antônio Silva e comenta: Quarenta cavalarianos é um número muito escasso para a empresa. E Antônio Silva responde-lhe: "Fomos honrados com a escolha para aqui morrer". E partindo para ação, Manoel de Araújo arremata olhando para os céus. "Paciência, morramos com honra" E morreu bravamente nesta ação. Desde o Alvará de 6 de Novembro de 1642, que a cavalaria era primazia da nobreza. Esta mesma cavalaria, ao comando de Antônio da Silva veterano da Primeira Batalha, tiraria de apuros o terço de Diogo Camarão, acossado por piqueteiros. A grandeza de um povo é resultado do seu civismo e de sua riqueza material . O civismo é o vigor moral de um povo, é neto da História e filho da Tradição. A História é a mestra das mestras, a mestra da vida. A tradição é a alma de um povo, e está para ele como o perfume para a flor. Povo que não possui tradição ou a não cultua, é espada sem têmpera que quebra ao primeiro embate, ou barco à deriva, sem bússola, na tempestade, que não sabe de onde vem nem para onde vai. Civismo e fé nos destinos da Pátria, e esta fé removerá as montanhas de dificuldades do caminho do Brasil Grande. E esta mesma fé inquebrantável, combinada com o trabalho constante, racional, objetivo e honesto de todos os brasileiros, compensará na raça autêntica as nossas deficiências materiais. As Batalhas dos Guararapes são um atestado eloqüente do acendrado civismo de um povo pobre, situado pelo mar, mas que inspirado por um grande amor à Pátria nascente e em Deus, enfrentou e destruiu frações expressivas de um dos mais ricos e melhores exércitos de então, após indescritíveis sofrimentos de toda a ordem, padecidos durante os noves anos da Insurreição de Pernambuco. O espirito dos Guararapes é o mais fino e raro perfume da tradição da nacionalidade brasileira. O espírito dos Guararapes foi ontem a chama mais viva e radiosa que das heróicas terras de Pernambuco iluminou todo o Brasil no caminho dos seus gloriosos destinos. Sua brilhante chama quase desapareceu nas cinzas do lenho em que ardia radiosa, por omissão de muitos e intenção criminosa de alguns, durante a longa madrugada (1945-1964). As cinzas que cobrem a chama do espirito de Guararapes devem ser removidas para todo o sempre, para que esta não bruxolei jamais, e assim retarde de um só segundo, éste gigante brasileiro rumo a seu histórico e grande destino. Espírito de Guararapes é o nacionalismo verde e amarelo, não o nacionalismo histérico, desagregador, inconseqüente fruto da paixão, do sonho utópico, este, responsável por tantas marchas e contra marchas na evolução sócio-econômica, e no passado distante, responsável por tantos órfãos e viúvas. O nacionalismo do espírito dos Guararapes é o nacionalismo racional, estratégico, seguro, traduzido na prática por uma PETROBRAS, UMA TRANSAMAZÔNICA, o decreto de 200 milhas de mar territorial, nossa política de fretes marítimos e tantas outras realizações como VOLTA REDONDA, marco do progresso material do Brasil.

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150 Espírito de Guararapes, caro leitor, é o espirito que inspira o Exército Brasileiro no presente, e desde Guararapes o vem inspirando em suas lutas pela unidade nacional, durante a Independência e Regência, por sua integridade territorial nas lutas do Prata e em especial na Guerra do Paraguai, pela "Liberdade Divina" na campanha da Itália, e por nossa evolução social e política, na Abolição e Proclamação da República e, ultimamente, com a Revolução Democrática de 1964, em que "liberdade" diabólica e suicida, vem aos poucos e racionalmente, sendo substituída pela Liberdade autêntica com responsabilidade, dentro de nossos modelos próprios. O espírito de Guararapes é o pavilhão invisível da nacionalidade. Espírito de Guararapes é a fortíssima liga metálica da unidade nacional, territorial, espiritual e étnica. Espirito de Guararapes é a harmonia e a integração do caldeirão de raças brasileiro, que fazem do Brasil uma grande democracia étnica do globo. Espírito de Guararapes é o amor do brasileiro à "liberdade divina", não a suicida histérica, inconseqüente, passional anárquica e utópica, mas a liberdade responsável autêntica, na qual exercemos nossos direitos, até o ponto onde têm inicio os direitos de cada um dos 100 milhões de brasileiros e de cada membro da comunidade mundial de nações. Espirito de Guararapes é a profunda religiosidade do povo brasileiro que junto com o sentimento de pátria, mantiveram e manterão para todo o sempre, a unidade material e espiritual da nacionalidade, fundamentais para sua grandeza do presente e do futuro. "Espirito de Guararapes é a flama sagrada que do NORDESTE tem iluminado, ilumina e iluminará o Brasil no rumo de seus grandes destinos".

"Não vos iludais, senhores: o Brasil não foi feito para vós".

João Fernandes Vieira

"Não necessitamos de papéis, a não ser para o fabrico de cartuchos para nossas armas, nas quais os meus soldados acreditam bem mais do que em simples papéis escritos. Saíam já para a campanha, que a

descoberto nela os esperamos".

Antônio Felipe Camarão

Com reação patriótica de parte dos restauradores, aos panfletos flamengos, o governo holandês do Recife escreve decepcionado para a Holanda:

"Apesar de suportarem quase diariamente revezes do mar, e terem muita necessidade de vestuário, carne etc...e de viverem em contínuo sobressalto, rejeitaram o perdão que se lhes foi oferecido. Nenhum veio ter

conosco. Eles persistem obstinadamente em sua rebelião".

"Nós holandeses aqui vivemos como bestas e morremos como porcos".

Cornelis Van der Branden

"Nesta colina sagrada, na batalha vitoriosa contra o invasor, a força armada do Brasil se forjou, e alicerçou para sempre a base da nacionalidade".

Marechal Mascarenhas de Moraes, proferidas nos Guararapes

quando retornou vitorioso dos campos de Itália.

"Foi nos Montes Guararapes há trezentos anos. A maior batalha. O supremo desafio.

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151 O duelo mortal do invasor e do filho da terra,

do estrangeiro e do nativo da poderosa opressão e da liberdade heróica".

Pedro Calmon, presidente do Instituto Histórico Geográfico Brasileiro.

O Exército Brasileiro nasceu nos Guararapes

Gen Flamarion Barreto

"Nas duas batalhas dos Guararapes escreveu-se a sangue o endereço do Brasil: o de ser um Brasil só e não dois ou três. O de ser um Brasil fraternalmente mestiço, na raça e na cultura, e não outra República

Sul-Americana àsperamente nativista ou agressivamente anti-européia...

Foi Guararapes a primeira de uma série de batalhas pela nossa definição e pela nossa sobrevivência, como tipo extra-europeu, embora de modo nenhum anti-europeu, de cultura, e como um novo tipo de democracia

não somente como principalmente social; e não somente social como étnico".

( Trecho de discurso pronunciado na Câmara Federal pelo então Deputado Gilberto Freyre, publicado no Diário de Pernambuco, de 22 de abril de 1948 ).

Lutas contra os espanhóis na região platina A vasta e rica planície platina, irrigada pelos rios Paraná, Paraguai e Uruguai e extensa rede de afluentes, ensejava cenário grandioso para embates militares. O campo aberto, pontilhado de capões, vegetação ciliar e coxilhas, era o habitat natural do gaúcho, derivado dos charruas, fusão de homem e cavalo em simbiose perfeita. Lá, desde o início, predominavam o galope rápido pelos pampas e o manejo hábil da lança e da espada. As calhas dos rios apresentavam-se como anteparos perfeitos, a separar guerreiros de mesma índole. Portugal vislumbrava a ampliação dos limites da nova colônia, pela obtenção de fronteiras naturais. Em 1680, em visionária ação estratégica, os portugueses fundaram, na margem norte do estuário do Prata, a Colônia do Sacramento, em oposição à próspera cidadela espanhola na Região: Buenos Aires. Concomitantemente, intuíram que as reduções jesuíticas, estabelecidas na Região dos Sete Povos das Missões, por representarem enclave espanhol no lado oriental do rio Uruguai, destinavam-se a ser lusitanas. Em torno desse expressivo “pomo de discórdia” territorial, estabeleceu-se grave contencioso, herdado pelos países que surgiram da independência das colônias espanholas e portuguesa, fincadas no Prata. Tratados sucessivos acordados entre os ibéricos pretenderam legar, para uma ou outra metrópole, a posse dessas cobiçadas regiões. Fortificações proliferavam na área para garantir, “manu militari”, a soberania local. “Jesus, Maria, José”, português, e “Santa Tecla”, espanhol, são dois dos inúmeros fortes instalados nos Pampas. Sacramento sucumbiu pela dificuldade de apoio, ficando com os espanhóis. Quanto à região das Missões, fruto do empenho luso-brasileiro na guerra Guaranítica, abriga hoje prósperas cidades do Rio Grande do Sul. As lutas no sul transcenderam o Brasil Colônia, gerando ressentimentos que se prolongaram quase à República. Ao contemplar-se, hoje, o sul do Brasil, onde o quartel está presente na maioria das cidades, não há como deixar de reportar-se às lutas dos antepassados, cujo sangue generoso verteu para legarmos esses pagos que conformam a Pátria de todos nós brasileiros. A fundação da Colônia do Sacramento, no ano 1680, materializou o interesse português ao procurar ancorar sua colônia em limites naturais, ao sul. A extensão territorial do Brasil é devida à visão estratégica dos portugueses.

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As ruínas de São Miguel

Movimentos nativistas e de libertação colonial Um latente sentimento de liberdade - denominado nativista - embeveceu os habitantes do Brasil, desde os primórdios do período colonial. Essas manifestações, muitas vezes de natureza militar, ficaram vinculadas à história da Força Terrestre brasileira, já que não havia como “convencer” a metrópole, senão pela força das armas, da necessidade de libertar a colônia. Desde a tentativa de coroação, em 1640, de um rei - Amador Bueno - em São Paulo, que a gente da terra buscava desvincular-se da metrópole. De simples manifestações de desagrado localizadas, o sentimento nativista foi evoluindo até ganhar a condição de movimento de libertação colonial. Das primeiras, constituem exemplos a revolta dos irmãos Beckman, no Maranhão, em 1684; a guerra entre paulistas e intrusos, os emboabas, na região das minas, em 1709; e a guerra entre brasileiros e comerciantes portugueses, os mascates, em Recife e Olinda, entre 1709 e 1710. Para manter a ordem em Vila Rica foram convocadas duas companhias de Dragões - tropa de cavalaria da época. A revolta de Vila Rica, ocorrida na região mineradora em 1720, ao imolar o patriota Felipe dos Santos, lançou o germe que floresceria na mesma região, 70 anos depois. A independência das Treze Colônias Inglesas da América, ao Norte, constituiu para as metrópoles lusitana e espanhola perigoso precedente, que carecia ser contido. A estimular os ideais de libertação, contribuiu, ainda, o êxito da Revolução Francesa. A “Queda da Bastilha” colocou em xeque os regimes absolutistas europeus, mantenedores de um pacto que impunha o monopólio comercial e a clausura intelectual aos colonos. Neste cenário, agravado pela insatisfação gerada pela cobrança extorsiva de impostos e pela impopularidade das autoridades metropolitanas, levantam-se personalidades de relevo na sociedade local, entre estas, um punhado de oficiais do Regimento dos Dragões das Minas. O mais entusiasmado de todos era um simples alferes, Joaquim José da Silva Xavier, que atendia pela alcunha de Tiradentes. Traídos por Joaquim Silvério dos Reis, os Inconfidentes são presos e condenados ao degredo ou à morte. O crime que eles cometeram foi o de idealizar uma Pátria livre e soberana e o de rascunhar algumas medidas de governo, como a instauração de uma República, emulada por um dístico: “Liberdade, ainda que tardia”. Findo o processo, decretadas as sentenças, as penas são comutadas para todos, menos para aquele que, em gesto de coragem, assumiu toda a responsabilidade pelo levante. Seu destino, a forca; seu corpo, esquartejado; sua descendência, maldita por várias gerações. Em 1798, na Bahia, soldados juntam-se a alfaiates e à gente do povo para deflagrar a Conjuração Baiana, rápida e violentamente reprimida. Os líderes Lucas Dantas, Santos Lira, João de Deus e Luiz Gonzaga são condenados e enforcados. Em 1817, Pernambuco é palco do espocar do derradeiro movimento de libertação colonial: a Revolução Pernambucana, cujo epílogo sangrento vai fazer detonar uma outra rebelião, a Confederação do Equador, já com a nação soberana.

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153 O sonho de liberdade dos habitantes da terra começou com os movimentos nativistas. No curso desses movimentos nativistas e de libertação colonial foi-se impondo a necessidade do recurso às armas para fazer prevalecer idéias, ideais e convicções, cristalizadas no espírito de luta da Força Terrestre do Brasil independente.

Antecedentes da Proclamação e guerra da Independência A transmigração da Família Real portuguesa para o Brasil em 1808, em face da invasão da Península Ibérica por legiões napoleônicas, mudou completamente a situação política do Brasil. A Colônia passa a abrigar o governo da metrópole. Essa circunstância, absolutamente sem precedentes na história moderna da humanidade, criou fato consumado de difícil reversão. A estrutura administrativa concebida para viabilizar o funcionamento do governo português no Brasil, naturalmente incluiu o estamento militar. Nesse campo, a ação mais importante foi, sem dúvida, a criação de uma Escola de Formação de Oficiais, a Academia Real Militar, posta a funcionar em 23 de abril de 1811, precursora da atual Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Após chegar ao Brasil, o Príncipe-Regente D. João interveio militarmente na Guiana Francesa, conquistando Caiena, em represália à invasão de sua pátria. No sul, os luso-brasileiros, precavendo-se de perturbações da ordem que ameaçavam a fronteira do Rio Grande do Sul com a Banda Oriental (atual Uruguai), organizaram, em 1811, uma expedição pacificadora. Em 1816, em oposição à atitude hostil do caudilho Artigas, foi novamente invadido o território uruguaio, decorrendo daí sua posterior incorporação ao Reino Unido do Brasil, com o nome de Província Cisplatina. Concretizava-se, assim, velho sonho português, acalentado desde a fundação da Colônia do Sacramento. Enquanto isso, na metrópole, ocorria a célebre Revolução Constitucionalista do Porto, de 1820, que trouxe como conseqüências o retorno do Rei D. João VI a Portugal, a permanência de seu primogênito, Príncipe D. Pedro, como Regente do Brasil e as pressões das Cortes para a recolonização do Brasil. O grito do Ipiranga - “Independência ou Morte - expresso pelo filho do Rei, nada mais representou do que o repúdio de um povo a tão despropositada intenção. Nas ações contestatórias que se seguiram, despontou para a história militar brasileira a figura de um jovem tenente: Luís Alves de Lima e Silva. Honrado com sua incorporação ao Batalhão do Imperador, por escolha de D. Pedro I, o Tenente Lima e Silva, filho do Brigadeiro e futuro regente Francisco de Lima e Silva, parte para a Bahia a fim de combater as tropas portuguesas que resistiam à independência. Lá, recebe seu batismo de fogo, fazendo-o de forma destacada como porta-bandeira de sua Unidade. A oposição portuguesa à independência do Brasil, que ocorre com mais intensidade na Bahia, no Nordeste, no Pará e na Cisplatina, é superada em virtude da coragem e da dedicação do soldado brasileiro, combatendo, pela vez primeira, sob o manto do sagrado pavilhão auri-verde da terra recém-soberana. Quis o destino que a carreira militar do maior cabo-de-guerra brasileiro começasse junto com os primeiros passos soberanos da sua Pátria e que, a ela, desde o princípio, dedicasse o rastro luminoso de suas realizações. Marechal Luís Alves de Lima e Silva - Duque de Caxias. Quando tenente, integrou como porta-bandeira do Batalhão do Imperador, as forças que combatiam os portugueses que se opunham, na Bahia à independência do Brasil. Maria Quitéria, a mulher soldado, participou dos movimentos pela independência, na Bahia. Hoje, Patrona do Quadro Complementar de Oficias (QCO). O Príncipe-Regente D. Pedro conduziu o processo que culminou com a Independência do Brasil, tornado-se, portanto, credor do reconhecimento dos brasileiros de todas as gerações. 7 de setembro de 1822 - Independência do Brasil. Pelas mãos do nosso primeiro Imperador, a concretização de um sonho há muito acalentado.

Pacificação das províncias rebelada Condutor do processo de independência, o agora Imperador D. Pedro I já não contava mais com a irrestrita confiança popular. Desgastara-o sua maneira absolutista de exercer o poder, emergida desde a dissolução da Assembléia Constituinte e a conseqüente outorga de nossa primeira Constituição. Aprofundava seu afastamento do povo a manutenção da Guerra da Cisplatina, sua vida pessoal desregrada e seu engajamento na luta sucessória portuguesa, aberta com o falecimento de D. João VI, seu pai e rei de Portugal.

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154 O desfecho da crise foi a abdicação do Imperador, consumada a 7 de abril de 1831, episódio que cortou os últimos laços que nos prendiam à pátria-mãe. A abdicação do Imperador em favor de seu filho, menor de idade, Pedro de Alcântara, ensejou o surgimento do Período Regencial, fase conturbada de nossa história. O Exército respaldou a vontade popular, garantindo o cumprimento da Constituição que previa a eleição, pelo Congresso, de Regência Trina, em face de o herdeiro do trono contar apenas cinco anos de idade. Integrou o triunvirato regencial, como fiel da balança, um militar: o Brigadeiro Francisco de Lima e Silva. O Brigadeiro Francisco de Lima e Silva, pai do futuro Duque de Caxias, integrou os dois triunviratos regenciais como "fiel da balança". Três anos depois, o Ato Adicional de 1834 promoveria profunda reforma constitucional. Entre as principais emendas, inseriram-se a concessão de maior autonomia às províncias e a transformação da Regência, em una e eletiva. Essa situação configurou, em pleno regime monárquico, uma primeira experiência republicana. O grande líder dessa quadra especialmente conturbada da vida nacional foi um sacerdote - Feijó - que, como Ministro da Justiça e Regente, não compactuava com a desordem e a indisciplina. Sua vontade férrea se exercia por intermédio do Major Luís Alves de Lima e Silva. Tão grande era a agitação na capital do Império, que oficiais do Exército, por sugestão do jovem Major Luís Alves de Lima e Silva organizaram uma tropa - o Batalhão Sagrado - com o objetivo de, mais pela imposição da autoridade do que pelo uso da força, trazer a tranqüilidade às ruas do Rio de Janeiro. Seu subcomandante é o Major Lima e Silva, e todos os seus integrantes eram oficiais. Nas províncias, estimulados por maior liberdade em relação ao governo central, afloravam interesses locais conflitantes. As rebeliões decorrentes ameaçavam a unidade nacional. Apresenta-se aí o maior desafio ao Exército, já que a Guarda Nacional, criada para manter a ordem interna, encontrava-se irremediavelmente comprometida com as facções em luta. Nesse contexto, espocam a Cabanagem, no Pará, e a Balaiada, no Maranhão, cujos líderes eram muito mais bandidos sangüinários do que propriamente revolucionários idealistas. Começa a paciente ação pacificadora. O padre Diogo Antônio Feijó foi figura de relevo durante a Regência: começou como Ministro da Justiça, passou pelo cargo de Regente e terminou como revoltoso. São Luís, capital provincial do Maranhão, estava prestes a cair nas mãos dos “balaios”. O governo convocou o Tenente-Coronel Lima e Silva. Sua ação pacificadora, empregada também em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul viria se caracterizar pela tomada de decisões ponderadas e progressivas. A centralização do comando político e militar - Presidência da Província e Comando das Armas - foi a primeira condição exigida pelo grande soldado para levar a bom termo sua missão. Seguem-se a organização, a instrução e o suprimento das forças legais, acompanhados do lançamento de proclamação aos revoltosos, concitando-os à rendição. Seu lema: dialogar sempre; porém, negociar com rebeldes de armas nas mãos, jamais. As rebeliões regenciais, como a Revolução Farroupilha (a cima), à medida que questionavam o poder central, colocaram em risco a unidade nacional, mantida pelo Exército Brasileiro. Ao longo de toda sua ação pacificadora, com apurada competência e grande habilidade militar, o Tenente-Coronel Lima e Silva planejava e executava a repressão aos rebeldes. Vitorioso, não os fazia passar pelas armas como seria de se esperar. Ao contrário, conquistava-os e os integrava pela concessão de anistia. No Maranhão, o Coronel Luís Alves de Lima e Silva torna-se o Barão de Caxias, reconhecimento pelo valor das ações militares que realizou para livrar a cidade do mesmo nome das mãos dos rebeldes. Pacificada essa província, Caxias, já brigadeiro, encontrava-se em face de um novo desafio: enfrentar seu antigo chefe - Feijó - agora um dos líderes da Revolução Liberal de 1842, eclodida em São Paulo e Minas Gerais. Sua atuação pautou-se pela mesma exação no cumprimento do dever empregada em missões da mesma natureza. Na revolta de Minas Gerais, combate de Santa Luzia, em determinado momento da batalha, Caxias ficou inferiorizado numericamente em relação ao oponente e teria sucumbido não fosse o auxílio providencial de seu irmão, comandante de uma coluna encarregada do cumprimento de ação secundária. Pacificadas também essas províncias, esperava-o o problema mais difícil: a Revolução Farroupilha, que, há quase sete anos, ensangüentava os pagos riograndenses. Lá, não se tratava de combater meros bandidos ou revoltosos sem experiência militar. Os gaúchos, afeitos à luta na campanha, estavam calejados por séculos de conflito, desde a colonização do Rio Grande. A cavalhada dos “farrapos” era da melhor qualidade, alimentada em invernadas fartas e bem protegidas.

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155 Por outro lado, as tropas legais estavam praticamente desmontadas o que, para os combates na região, constituía grande desvantagem. Acrescia-se a isso, a contigüidade da fronteira com o Uruguai, que permitia o tranqüilo homizio dos rebeldes em face de qualquer dificuldade. Os platinos, de certa forma, incentivavam a luta entre irmãos no Rio Grande com o fito de enfraquecê-los. Esse cenário adverso permite compreender a magnitude da tarefa pacificadora desenvolvida por Caxias. A vitória, mais uma vez, escolheria o lado da justiça, da legalidade, da união, tendo sido obtida em batalhas memoráveis em que prevaleceu o gênio militar do grande general. Ficaria célebre, no bojo da Revolução Farroupilha, a conclamação feita por Caxias para que os beligerantes marchassem, não peito a peito, mas ombro a ombro, contra o verdadeiro inimigo, intimidador da integridade do território nacional, que ameaçava toda a Nação.

Em outras regiões do País, outras revoltas estavam sendo reprimidas por outros chefes militares. As principais: a Sabinada, na Bahia, e a Revolução Praieira, em Pernambuco, já antes palco da Confederação do Equador. Cabe ressaltar que a manutenção da unidade nacional, penosamente legada por nossos antepassados, é decorrente das ações do Exército e, em particular, da atuação de Caxias. Bento Gonçalves: oficial da Guarda Nacional, foi um dos maiores expoentes da revolução Farroupilha, combatendo como chefe dos farrapos. Ontem, como hoje, prevaleceu a necessidade de segurança e integração nacionais, reflexo da vontade soberana do povo, expressa, como ideal intangível, nas constituições brasileiras de todos os tempos. Caxias, motivado por seu espírito patriótico, compreendeu, melhor do que qualquer outro homem de seu tempo, que somente a união geraria as condições indispensáveis ao enfrentamento dos graves problemas que afligiam os brasileiros. As rebeliões regenciais, à medida que questionavam o poder central, colocaram em risco a unidade nacional, mantida pelo Exército Brasileiro.

Lutas contra os caudilhos platinos

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Embarque, no Rio de Janeiro, de tropas com destino à Província Cisplatina: esforço inaudito para manter-se às margens do Prata.

Com a fundação da Colônia do Sacramento, na margem norte do estuário do Prata, os portugueses manifestaram claramente sua intenção de usufruir das benesses das ricas planícies platinas e de atingir limites naturais, mais fáceis de defender. Evidentemente, os espanhóis, radicados na área desde meados do século XVI, não estavam dispostos a compartilhar, em condomínio, com seu vizinho ibérico, a soberania no Prata. Por isso, reagiram firmemente à pretensão portuguesa. Por força de tratados sucessivos, seria legada ao Brasil a região dos Sete Povos das Missões. Aparentemente, os espanhóis abriram mão de seu sonho na região do Prata. Dez anos de ocupação portuguesa só fizeram agravar ressentimentos mútuos. O desembarque, em Agraciada, dos trinta e três patrícios do caudilho uruguaio Lavalleja, desencadeou o processo que iria culminar no enfrentamento, às margens do Rio Santa Maria, no Passo do Rosário, dos Exércitos do Império do Brasil e da República Argentina. À Batalha do Passo do Rosário, de resultado militar indefinido, seguiu-se frágil período de paz, de efêmera duração. Assim, Brasil, Argentina, Paraguai e o futuro Uruguai herdaram, de Portugal e Espanha, suas desavenças. Por longos anos, entreveros sucessivos caracterizaram a região platina. A vinda da família real para o Brasil ensejou ocasião para a retomada das intenções expansionistas portuguesas, o que acabou redundando na incorporação, mais tarde, da Banda Oriental do Uruguai, com o nome de Província Cisplatina. Ocorre que esta já se encontrava colonizada pelos espanhóis, vinculada irreversivelmente aos países de origem hispânica, pela língua, pelas tradições e pelos costumes, o que dificilmente permitiria a concretização dessa incorporação.

No curso da batalha de Passo do Rosário, o Brasil perderia um de seus maiores soldados: o Marechal José de Abreu Mena Barreto, Barão de Cerro

Largo. Nesses embates nos Pampas, notabilizaram-se chefes militares, como o Marechal José de Abreu, Barão do Cerro Largo, imolado no campo de batalha. Também despontaram guerreiros renomados, como o Capitão Emílio Luís Mallet e o Tenente Manuel Luís Osório, entre outros, que escreveram, à ponta de espada, páginas memoráveis da nossa História Militar. Todavia, os ventos ameaçadores da guerra voltariam a soprar na região, junto com o Minuano, em meados do século XIX. O problema não residia propriamente na animosidade dos povos dos países do Prata em relação ao Brasil, mas nos caudilhos que teimavam em ressuscitar antigos ressentimentos, revigorados por delírios imperialistas. Rosas, da Argentina, pretendia reconstituir o antigo Vice-Reinado do Rio da Prata, à custa de território brasileiro. Ao seu ideal expansionista, aliou-se Oribe, do Uruguai. A aliança dos caudilhos platinos trazia perigo para as fronteiras brasileiras. Tratava-se, agora, de garantir a integridade do território nacional, penosamente legado por nossos antepassados. À Nação restava convocar seu soldado maior, Caxias, já consagrado como pacificador e mantenedor da unidade nacional. A expedição brasileira é rápida e eficiente. Oribe é deposto e Rosas, em face da derrota de seu exército na batalha de Monte Caseros, exila-se na Europa. A vitória é decisiva, mas não definitiva. Novos desafios estavam por vir. Novos ventos ameaçadores estavam por soprar. Em 1864, outro ditador uruguaio, Aguirre,

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157 testa a disposição do Império de fazer prevalecer seus interesses na região. Restitui a nota diplomática brasileira que protestava contra invasões do território brasileiro. Em conseqüência, nova expedição punitiva é desencadeada. Solano Lopes, ditador do Paraguai, entende a intervenção brasileira no Uruguai como ameaça à sua soberania. Vale-se da oportunidade para tentar romper a então asfixiante mediterraneidade de seu país, dependente da livre navegação dos rios platinos e sujeito às imposições portenhas para exportar seus produtos. Elegendo equivocadamente o Brasil como seu principal inimigo, aprisiona o navio Marquês de Olinda, que conduzia o Governador de Mato Grosso para aquela província. Ato contínuo, determina a invasão do território brasileiro. Ao Sul, as tropas paraguaias atingem Uruguaiana. Ao Norte, na região do Pantanal, conquistam o Forte de Coimbra e a Colônia Militar de Dourados. Lá, imolou-se pela Pátria o bravo Tenente Antônio João Ribeiro, atual patrono do Quadro Auxiliar de Oficiais. Foi grande o esforço para rechaçar o inimigo do território brasileiro. Em Mato Grosso, frustrada tentativa ofensiva redundaria na épica “Retirada da Laguna”, na qual os soldados brasileiros seriam flagelados pelo inimigo e pelas doenças. O acordo firmado por Brasil, Argentina e Uruguai redundou na assinatura do Tratado da Tríplice Aliança, esforço de guerra conjunto da Argentina, do Brasil e do Uruguai, para dobrar o ditador e não o nobre e bravo povo paraguaio. A superioridade brasileira, conquistada nas águas do Paraná, representou o ponto de inflexão da campanha - o que a Marinha começara em Riachuelo, a 11 de junho de 1865, o Exército iria terminar em Tuiuti, a 24 de maio de 1866, maior batalha campal travada em continente sul-americano. Depois dela, a derrocada do ditador seria questão de tempo. Não obstante a bravura anônima de oficiais e soldados que se batiam contra tropa aguerrida e corajosa, impõe-se ressaltar a participação na campanha dos chefes militares que hoje são patronos de Armas do Exército Brasileiro. Como olvidar a determinação do Brigadeiro Antônio de Sampaio, ao persistir no combate, mesmo ferido três vezes? Ou de Osório, “O Legendário”, cuja coragem era reconhecida até pelo inimigo, arrastando pelo exemplo seus comandados à vitória? Ou de Vilagran Cabrita, imolando-se no cumprimento do dever no combate da ilha de Redenção? Ou de Mallet, à frente de sua Artilharia-Revólver, protegida por fosso que mandara cavar, bradando para seus comandados: “Os primeiros são para o buraco. Por aqui eles não passam”? E de João Severiano da Fonseca, emprestando sua competência e dedicação para minorar a dor de doentes e feridos? Comandou grande parte do esforço de guerra aliado, o Marechal Luís Alves de Lima e Silva. Do alto de seus 65 anos de idade, o Marquês de Caxias infundia em seus subordinados, mais pelo exemplo do que pelas palavras, constantes exteriorizações de seu valor militar, robustecido em muitas jornadas memoráveis. O grande cabo-de-guerra primava pela competência militar, dispensava tratamento bondoso aos subordinados e humanitário aos prisioneiros e, principalmente, exercia em sua plenitude, como líder, as atribuições de Comandante-em-Chefe, preocupando-se única e exclusivamente com o cumprimento de sua missão. Seus feitos, de que são exemplos a construção da estrada do Chaco, desbordando importante posição inimiga, e a conquista da ponte de Itororó, são marcos de eficiência, coragem e valor, legados aos chefes militares brasileiros das futuras gerações.

Guerra do Paraguai Esta foi a maior guerra da América do Sul, pois o exército paraguaio era de cerca de 90.000 homens, sendo 30.000 do exército permanente (reserva, milícia ou veteranos) e o restante exercitando-se em campos de instrução, isto em 1864. Quanto ao exército aliado até Abril de 1860, teve em campo 33.000 praças brasileiros, 12.000 argentinos e cerca de 2.500 orientais, perfazendo um total aproximado de 47.500 praças. O exército paraguaio achava-se instruído e aparelhado em material, pois Solano Lopez acreditava que só a guerra poderia tornar conhecida no mundo a República Paraguaia e tal sua proclamação ao exército expedicionário contra o Brasil termina dizendo: "Soldados e marinheiros, mostrai ao mundo inteiro quanto vale o soldado paraguaio!" A causa da guerra foi fácil arranjar, conforme vimos anteriormente o Brasil intervirá na República Oriental do Uruguai para garantir os brasileiros ali domiciliados. Lopez, aproveitando essa oportunidade dirigiu ao Governo Imperial do Brasil uma notificação ameaçadora erigindo-se em arbítrio supremo entre o Brasil e o

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158 Uruguai, procurando restringir ao Brasil uma parte dos seus direitos de soberania no conflito com o governo de Montevidéu. Como não obtivesse resposta do governo brasileiro, Lopez viu nisso um pretexto para provocar a guerra, iniciando logo a invasão do território brasileiro do Mato Grosso e o aprisionamento do paquete (navio) "Marquês de Olinda", no dia 11 de Novembro de 1864, em cujo bordo viajava o Coronel Carneiro de Campos, presidente da província do Mato Grosso, sendo encarcerado o presidente em uma prisão do Estado. O nosso ministro Vianna protestou contra a violência, tendo recebido como resposta seus passaportes no dia 13 Novembro de 1864. Estava declarada a guerra. O Brasil, a Argentina e o Uruguai fizeram uma aliança contra o Paraguai. A Argentina tinha como objetivo vingar o ultraje sofrido, pois Lopez ordenou a invasão de Corrientes e o aprisionamento de dois navios da esquadra argentina, sem prévio rompimento.

Principais feitos das forças aliadas durante a guerra

Batalha Naval do Riachuelo

Rendição de Uruguaiana

Tomada do forte de Coimbra

Tomada da Colônia de Dourados

Retirada da Laguna

Batalha de Tuiutí

Tomada de Curuzú

Derrota de Curupaití

Passagem de Itororó

Batalha de Avaí

Batalha de Lomas Valentinas

Ocupação de Assunção

Fim da Guerra a) Batalha Naval do Riachuelo - Realizou-se em 11 de Junho de 1865, a esquadra brasileira sob o comando do Almirante Francisco Manoel Barroso, enfrentou a esquadra inimiga, conquistando a vitória para as armas brasileiras, após renhidos combates entre os navios dos dois lados e a artilharia inimiga de terra. Antes da batalha o Almirante Barroso hasteou no mastro do navio chefe o sinal - "O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever".

Batalha do Riachuelo. Óleo de Victor Meirelles. Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro, RJ.

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159 b) Rendição de Uruguaiana - Uma coluna paraguaia de 10.000 homens sob o comando do coronel Estigarriba invadiu o Rio Grande do Sul. No dia 13 de Junho de 1865 tomou conta da vila de S. Borja, onde o saque foi feito oficialmente por ordem de Estigarriba. O mesmo sucedeu com a vila de Itaqui a 7 de Julho de 1865. Finalmente os paraguaios chegaram a vila de Uruguaiana onde foram sitiados por 17.346 homens do exército aliado sob o comando do Imperador do Brasil D. Pedro II. A 18 de Setembro de 1865, rendeu-se o coronel Estigarriba, sendo preso junto com sua guarnição, num total de 5.131 praças e 59 oficiais.

Abordagem do encouraçado Barroso e do monitor Rio Grande pelos paraguaios, Edoardo De Martino. Museu Histórico Nacional, Rio.

c) Tomada do forte de Coimbra - Os paraguaios também invadiram o Mato Grosso e 5.000 inimigos atacaram o forte de Coimbra, que tinha uma guarnição de 157 combatentes sob o comando do bravo Tenente-Coronel Porto Carrero. Após uma resistência de dois dias os praças viram-se obrigados, pela falta de munição, a abandonar o forte, o que o fizeram iludindo o inimigo durante a noite de 29 de Dezembro de 1864. É digno de menção aqui, o procedimento das mulheres brasileiras, que se encontravam no forte fabricando munição durante a noite, sendo a principal figura nisso a própria esposa de Porto Carrero. d) Tomada da Colônia de Dourados - Os paraguaios em número de 300 homens, atacaram Dourados, que era defendida pelo bravo e brioso Tenente de Vavalaria Antônio João e quinze homens. Resistiu até a morte esse herói; ele quis com o seu sangue e dos seus bravos soldados protestar contra a invasão do solo pátrio. A queda de Dourados se deu a 29 de Dezembro de 1864. Antes do combate, Antônio João escreve para Urianda comunicando a presença do inimigo e assim termina: "Sei que morro mas o meu sangue e de meus companheiros servirá de protesto solene contra a invasão do

solo de minha Pátria".

Cavalaria na Guerra do Paraguai Óleo Anônimo, Inst. Geog. e Hist. da Bahia, Salvador

e) Retirada da Laguna - A força brasileira de 3.000 homens que foi enviada para impedir a invasão do Mato Grosso, chegou à fronteira, já reduzida a um terço devido a fome e a peste. A coluna teve que se retirar logo após ter invadido o território inimigo, debaixo da perseguição tenaz do adversário, da fome, da peste do

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160 cólera, da sede e do incêndio, que o inimigo ateava aos campos e só por um exemplo frizante de abnegação e elevado patriotismo conseguiu retirar em ordem e sem deixar os canhões e demais materiais de guerra em poder do inimigo. Essa retirada custou a vida de 900 bravos patrícios dos 1.600 que a iniciaram desde a Lahuna, inclusive seu comandante Camisão. f) Batalha de Tuiutí - Esta batalha teve lugar a 24 de Maio de 1866 entre as tropas aliadas contra 25.000 paraguaios. Mitre era o comandante em chefe do exército aliado e o intrépido General Osório, cuja ação foi muito decisiva para a vitória, era chefe do exército Brasileiro. Obtivemos uma vitória, tendo o inimigo cerca de 12.000 baixas, 220 prisioneiros, inclusive 4 bocas de fogo e 3 bandeiras.

Parte de um quartel Brasileiro na Guerra do Paraguai Óleo anônimo Inst. Geog. e Hist. da Bahia, Salvador

g)Tomada de Curuzú - Em 1 de Setembro de 1866, o valente general Visconde de Porto Alegre atacou por terra o forte inimigo de Curuzú, conseguindo desalojar os Paraguaios.

A tomada do forte de Curuzú (3 Set. 1866) pelas forças brasileiras. Eduardo de Martino

h) Derrota de Curupaití - Em 22 de Setembro de 1866, sofreram os aliados uma derrota no ataque que levaram contra Curupaití. Isso trouxe como consequência a exoneração de Mitre do comando em chefe, tendo-o substituído o General Duque de Caxias. i) Passagem de Itororó - Em 6 de Dezembro de 1868, os corpos brasileiros chegaram em frente a ponte sobre o rio Itororó debaixo de um fogo destruidor dos paraguaios. Três vezes os nossos foram repelidos na

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161 passagem, quando o bravo Caxias num rasgo de heroísmo e exemplo, arrojou-se para a frente dizendo: "Quem for brasileiro me siga" e imediatamente seguido por seus valentes soldados efetuou a passagem da ponte no meio do fogo intenso do inimigo, sendo este destroçado. j) Batalha de Avaí - Realizada em 11 de Dezembro de 1868, nela destroçamos completamente o inimigo, e fizemos muitos prisioneiros. Tomaram parte nessa batalha os mesmos chefes e soldados que venceram em Itororó. k) Batalha de Lomas Volentinas - Teve lugar em 22, 25 e 27 de Dezembro de 1868, obtivemos uma vitória completa, tendo Lopes se internado no interior de seu país. Este encontro foi o último em que o poderoso exército inimigo se mostrou forte e organizado, pois, depois disso Lopez com os restos de seu exército, começou a fugir sem opor uma resistência digna de um exército regular. l) Ocupação de Assunção - Em 31 de Dezembro de 1868, foi ocupada a capital do Paraguai por uma coluna brasileira sob o comando do Coronel Hermes Ernesto da Fonseca, que ali hasteou com todas as honras a nossa sagrada e vitoriosa bandeira. m) Fim da Guerra - Depois da ocupação de Assunção assumiu o comando das forças brasileiras o Conde d'Eu, a luta que então se desenvolvia pelas cordilheiras paraguaias apresentou ainda alguns combates sem grande importância onde sempre o inimigo era derrotado e fugia. Até que a 1 de Março de 1870. quando comandava as forças de perseguição o General Camara, foi o ditador Solano Lopez lanceado nas margens do rio Aquidabanagui pelo cabo Francisco Lacerda "vulgo" Chico Diabo. O ditador sentindo-se gravemente ferido tenta atravessar o rio para a margem oposta, apeia-se do cavalo, faz a travessia com grande dificuldade, quando as forças lhe falecem, mas apoiando o corpo no braço esquerdo, tendo na direita a espada desembainhada atira um golpe contra o General Camara que viera oferecer-lhe a garantia de vida sob rendição. Um soldado desfere-lhe um tiro no ombro e pouco depois o tirano sucumbe.

Batalha Naval do Riachuelo Óleo de Eduardo de Martino, mostrando Barroso na proa da nau capitânea Amazonas

11 DE JUNHO DE 1865 (Batalha Naval do Riachuelo)

Era um domingo, dia da Santíssima Trindade. Bom tempo, com suave brisa de nordeste. Temperatura de 10º centígrados. Baixava o rio e os camalotes desciam, como para deixar "bem varrido o teatro em que se ia ferir pela primeira vez batalha entre duas esquadras a vapor". A força naval brasileira, em formatura de escarpa, ordem natural, desde 27 de maio, demandava "pelo sudoeste de Corrientes umas cinco milhas e outras tantas pelo nordeste de Riachuelo".

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162 Nenhuma anormalidade houve no quarto-d'alva. As tripulações dos nossos navios vestiam o uniforme azul (flanela). Às 8 horas, com as formalidades de estilo, foi içada a Bandeira Nacional. Em seguida foi içado o sinal de rancho, sendo o mesmo arriado às 8h 30m, quando começaram a ser preparadas as toldas do Amazonas e Jequitinhonha para a celebração da missa. Quase às 9h, a Mearim, navio da vanguarda e prontidão avançada, içou o sinal: -- Inimigo à vista! Alguns minutos depois, içou este outro: -- Os navios avistados são em número de oito. A fragata Amazonas, o navio em que se achava o Chefe Barroso, fez imediatamente este seu primeiro sinal: -- Preparar para o combate. Reconhecido esse sinal pelos navios de nossa esquadra, seguiu-se o segundo, feito pelo capitânia: -- Safa geral. E sem demora: -- Despertar os fogos das máquinas. Assinalou o capitânia depois: -- Suspender ou largar amarras por arinques e bóias, ou até por mão, como melhor convier. As ordens assinaladas pelo capitânia foram cumpridas com a rapidez possível. Movimentavam-se as nossas tripulações com entusiasmo e ressoavam vivas consecutivos a Sua Majestade o Imperador, à Nação Brasileira, ao Chefe Barroso, ao Exército e a Armada. Esse entusiasmo duplicou ao desfraldar o Amazonas o célebre sinal: -- O Brasil espera que cada um cumpra o seu dever. Em seguida a esse sinal solene, de tanta significação e efeito entre os brasileiros da esquadra, de tanta refulgência e edificação para a História e a Posteridade, o capitânia fez este outro: -- Atacar e destruir o inimigo o mais perto que puder. Os navios paraguaios vieram descendo o rio a toda força, a 12 milhas, acrescidas de duas mais, isto é da velocidade estimada das águas do rio. Perlongaram a margem de Corrientes. Escoado um quarto de hora, defrontaram a linha da nossa esquadra, à distância estimada de 1.800 metros. Às 9h 25m, dispararam-se os primeiros tiros de artilharia. A nossa esquadra desfechou uma banda inteira com dupla carga de bala e metralha. Disparou ainda uma segunda banda. Um tiro da Mearim afundou uma chata paraguaia. Um tiro de outro navio atingiu o navio paraguaio Jejuí, na altura das caldeiras, envolvendo-o então uma nuvem de vapor. Essa unidade inimiga, abrigando-se em Riachuelo, reparou a avaria e volveu à ação. Nessa fase da pugna, as duas esquadras, na frase de um oficial, recordada pelo Almirante Inácio da Fonseca, "pareciam duas enormes serpentes, ou dois formidáveis cetáceos a fumegarem pelo dorso a fuligem da raiva que em fogo levavam nas entranhas, para a luta espantosa e terrível em que deviam se empenhar corpo a corpo". Para a margem do rio correu a população de Corrientes, esperando assistir ao tonitroante espetáculo da batalha histórica, naquele dia de sol a derramar-se sobre os navios brasileiros, à direita, e sobre os paraguaios, à esquerda. As matas do Chaco estremeciam. Os pássaros desertaram os ares dos campos de batalha, tomados pelo fumo de vinte chaminés e do ribombo de mais de uma centena de bocas de fogo. A fortificação passageira de Riachuelo era respeitável. Respeitável, também, era a frota inimiga de oito vapores e seis baterias flutuantes. Somavam-se estratégica e taticamente, bem lotados de pessoal e bem

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163 supridos de material. A nossa esquadra tinha de romper "as formidáveis linhas ou tão ásperos poliedros de resistência", sendo ela composta de navios descobertos, com os aparelhos de governo laborando na tolda, rodas e hélices expostas aos tiros de 68 e 32 dos navios inimigos e da artilharia de posição; finalmente, com os combatentes desabrigados à proa e a ré. No alto de barrancas da altura de 14 metros, aprumadas, estendidas por mais de uma milha, baterias inimigas dominavam à queima-roupa os navios que tentassem passar. O rio ali se alargava de quatro milhas aproximadas. Ali as águas baixavam e a corrente diminuía. Estendiam-se os aluviões, espraiavam-se os bancos e o canal diminuía de fundo junto às barreiras, de sorte que se reduzia a parte navegável. Era indispensável toda atenção ao leme. Correndo da lagoa Maloia, o Riachuelo desemboca no Paraná, abaixo de Corrientes. À direita da sua boca, onde existe uma ilhota, 22 peças inimigas apontavam para o rio, dispostas para o lado de Coluna, três milhas a montante; à esquerda, o Rincão de La Granha, acampamento paraguaio de infantaria e cavalaria. Fronteiras a Riachuelo à altura de Santiago Derqui e ao Rincão de La Granha, há um grupo de sete ilhas, das quais a da Palomera é a maior e a Cabral a mais afastada, águas abaixo. A montante dessas ilhas, mais próxima da margem direita do rio, a do Chaco, oposta a Riachuelo, se achava a força naval brasileira. Existia no campo da ação um passo longo, estreito e sinuoso, com 6,45m ou 18 pés de profundidade. A fragata Amazonas calava 14 pés. A vista e a manobra eram pertubadas pelo fumo das chaminés e dos canhões. A Amazonas, com folga apenas de 4 pés de água sob a quilha, em canal apertado, com bancos à direita e a força naval inimiga à esquerda, evoluindo e combatendo, à testa da esquadra, poderia facilmente encalhar. Um encalhe desse navio capitânia seria de graves conseqüências, e podem estas ser avaliadas à luz do papel capital desempenhado na batalha pelo glorioso navio. Não encalhou, porém; evoluiu magistralmente no longo, estreito e sinuoso passo, acometendo impavidamente, a desfechar valorosas proadas sobre o inimigo confundido e desbaratado. Desde o começo da ação, os 22 canhões inimigos da boca do Riachuelo varreram a área em que se moviam os nossos navios. Ocultavam-se nas ilhas próximas numerosos atiradores paraguaios. Havia também a cavalaria armada de clavinotes, "capaz de correr ao ponto conveniente para aumentar a perda de pessoal da Armada". Descendo, a frota paraguaia se estirou ao longo e perto da margem esquerda do Paraná, entre a boca do Riachuelo e a saliência do Rincão de La Granha, a jusante dos 22 canhões inimigos dispostos em terra. Com regeiras pela pôpa, dando voltas em terras, as chatas paraguaias fundearam. Os vapores ficaram sobre máquinas, junto às chatas que haviam rebocado, passando-lhes um espia, à exceção do Taquari, navio-chefe, embarcação muito veloz, de duas chaminés, casco de ferro, construída na Inglaterra. O Jejuí encostou à barranca para melhor reparar as avarias. Às 10h 50m, com o Belmonte na vanguarda, moveu-se a esquadra brasileira. A Amazonas repetiu e conservou o sinal: -- Atacar e destruir o inimigo o mais perto que puder! Seguiu a Belmonte pelo canal. Governando os navios águas abaixo, a Amazonas virou águas acima, com este sinal no tope de ré: -- Atacar e destruir o inimigo o mais perto que puder! E com este outro no tope de proa: -- Sustentar o fogo que a vitória é nossa! De Riachuelo, o inimigo observava. Volveu a Amazonas águas abaixo, passando pelos navios da esquadra, a exclamar Barroso a cada um deles: -- Atacar e destruir o inimigo o mais perto que puder! O chefe foi ouvido e obedecido. A Belmonte, Comandante Primeiro-Tenente Joaquim Francisco de Abreu, em segundo uniforme, prosseguia arrojadamente o movimento da vanguarda, marchando a toda força. Às 11h 20m, a Belmonte rompeu o fogo com o raiado de 70 à proa, quando ao alcance da bateria do norte. Fez trabalhar sucessivamente toda a artilharia. Foi castigada duramente pelo fogo inimigo, mas completou o

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164 movimento águas abaixo e tornou águas acima. Perdeu pouca gente (9 mortos e 23 feridos), mas teve avarias graves (22 rombos a bombordo e 15 a boreste, a maioria dos quais na linha de flutuação). Uma bomba inimiga ateou-lhe um incêndio na coberta. A água lhe invadiu o porão. Ao segundo ataque, estava junto da Amazonas que descia com outros navios. Comunicou então ao navio-chefe que as suas bombas não davam vazão ao alagamento e contramarchou. Às 11h 25m, investia a Amazonas na vanguarda. Dez minutos depois, o valoroso navio abriu fogo à distância de tiro de pistola da bateria inimiga, sendo atacado vigorosamente a bala e a metralha. "Era uma chuva de respeito!" Às 11h 40m, a Beberibe segundo vaso da linha, Comandante Capitão-Tenente Joaquim Bonifácio de Santana, enfrentando e vencendo as mesmas dificuldades experimentadas pelos dois primeiros navios, atacou fortificações, vapores e chatas, acusando, como os outros importantes estragos; contando, também, avarias, mortos e feridos. Sob uma chuva de balas e metralha, desceram, sucessivamente, a Mearim, que perdeu gente e sofreu avarias; a Araguari, que repeliu uma tentativa de abordagem dos navios inimigos Tacuari, Marquês de Olinda e Paraguari, pagando duro tributo na passagem; a Iguatemi, que sofreu reveses e ganhou glória idêntica. A Ipiranga passou às 11h 50m, alvejando incessantemente o inimigo. Cinco minutos depois, a Belmonte se dirigiu para o banco mais próximo, na ilha Cabral, aí encalhou para reparar as avarias e depois entrar novamente em combate. Às 12h 05m, a Jequitinhonha, o maior navio depois da Amazonas, atravessou num banco, a meio do canal, a um quarto de milha, mais ou menos, pelo través da bateria de Riachuelo. Fez esforços para desencalhar. A Amazonas, crivada de estragos, com mortos e feridos, recebia então uma tríplice descarga de mosquetaria da Barreira de Santa Catarina e completava a sua esplêndida e valorosa passagem. Às 12h 10m, a Ipiranga montava a mosquetaria de Santa Catarina, realizando a passagem com numerosas avarias acima e abaixo da borda. Realizara-se assim o primeiro combate, vigoroso e bem sucedido, "contra todas as linhas formidáveis do inimigo". A Parnaíba e a Jequitinhonha não completaram a passagem. Ao encalhar o segundo navio citado, o primeiro, sustentando fogo renhido, marchou em seu socorro, batendo então com o leme na orla de um barranco, à pouca distância da Ponta de Santa Catarina. Sem poder governar pelo leme, a Parnaíba governou pelo pano, com as velas de proa e traquete latino, batendo-se contra navios, chatas e fortificações. Recebeu um projétil na cabeça do leme que o rachou meio a meio. Só, no meio da linha inimiga, três vapores paraguaios, que abordaram a Jequitinhonha e foram duramente repelidos, investiram contra ela a toda força. A Parnaíba ainda aproou e atirou contra a Paraguari, inutilizando-o e levando-o a ponto de ir a pique. Na tremenda abordagem o Imperial-Marinheiro de 1ª classe Marcílio Dias, chefe do rodízio raiado (peça de Artilharia), só deixou sua função para lutar a sabre contra quatro paraguaios que o enfrentavam. Dois, ele conseguiu matar, mas sucumbiu aos golpes dos outros. Crivado de cutiladas de machadinha e de sabre foi recolhido por seus companheiros e tratado dos ferimentos, a cuja gravidade nenhum organismo poderia resistir. Às 2 horas da tarde do dia 12, exalava o último suspiro. Entre o meio-dia e as 13 horas, desenvolveu-se a terrível luta corpo a corpo a bordo da Parnaíba, luta em que o heroísmo dos brasileiros, até então, escreveu a página mais edificante da sua História, reunidos marinheiros e soldados da Pátria num limitado convés, que se transformou em um palco de uma tragédia singular, em campo de honra e de glória imortal para as nossas armas. Joaquim Marques de Lisboa, Marquês de Tamandaré era Comandante-em-Chefe das forças brasileiras quando foi travada a Batalha Naval do Riachuelo. Faleceu em 20 de março de 1897, com 90 anos incompletos. A Marinha do Brasil instituiu o 13 de dezembro, data do seu nascimento, como o Dia do Marinheiro. Tamandaré entrou para a História como Patrono de sua sagrada instituição. Foi erguido um monumento à sua memória na Praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, e seus restos mortais foram transladados pela Marinha para a sede do Quinto Distrito Naval, na cidade do Rio Grande, próximo ao local onde nasceu. Em 1864, o jovem Império do Brasil, recém saído de guerras externas e de revoltas a que fora obrigado a sustentar e combater, esquecia-se, imprevidentemente, das contendas bélicas, resumindo suas preocupações a outros setores da nação ou, utilizando o jargão atual, outras seriam as prioridades. Para a surpresa de muitos, porém, novamente eram as Forças Armadas convocadas à luta. Em 12 de novembro daquele ano, o Governo do Paraguai rompia relações com o Brasil e apresava o vapor Marquês de Olinda, num conhecido e marcante episódio de nossa história. As ações militares que se

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165 seguiram foram rápidas e fulminantes: em dezembro, ocorria a tomada do Forte de Coimbra; dias depois, em janeiro de 1865, as tropas invasoras chegavam a Corumbá, ocupando a Província de Mato Grosso; em 14 de abril, o avanço inimigo chega a Corrientes, na Argentina; e em 10 de junho, já ia longe, caía São Borja, no Rio Grande do Sul. Nesse roldão, entretanto, a Marinha não foi surpreendida: estava pronta!.. No dia 5 de abril, duas divisões navais já subiam o rio Paraná com a tarefa de efetuar um bloqueio, próximo da confluência dos rios Paraná e Paraguai, para cortar o eixo de ligação logístico e deter o avanço das forças de Lopez. O deslocamento e a manutenção de uma Força Naval, em uma área de operação distante de suas bases de apoio, exigiu, certamente, capacidade e preparo logísticos de grande envergadura da nossa Marinha. Isso foi feito em três meses, e mantido por cinco anos, com todas as restrições de transportes e comunicações da época, revelando um elevado espírito empreendedor e profissional de nossos antepassados. Um legado que a Marinha de hoje se obriga a preservar! A Esquadra Brasileira utilizava o que havia de mais moderno no mundo, naquele momento, em construção naval: a propulsão a vapor. Era a tecnologia de ponta de então. A nossa Marinha soube vislumbrar a mudança de paradigma, assimilar rapidamente e utilizar aquela transformação, com todas as suas conseqüências, não só no campo logístico e operacional, como também, no emprego do novo meio. O esforço dos imperiais oficiais e marinheiros em se superarem na assimilação de novos conhecimentos, nos seus preparos e adestramentos, na operação, na manutenção, no desenvolvimento e disseminação, entre si, de novas táticas, é outra herança daqueles heróicos homens do mar que nos antecederam e que, no fragor das batalhas, provaram seu destemor e preparo, seja na eficácia da artilharia ou do tiro de fuzil, seja na habilidade no manejo da espada, ou sabre, nas lutas enfrentadas nas abordagens. Uma lição para o sempre! O afrontamento, nas proximidades do Riachuelo, evoca a herança dos sinais de Barroso: O primeiro deles, quando as Forças Navais brasileiras se viram surpreendidas pelo inimigo, em meio ao inferno do fogo da artilharia dos navios e das chatas rebocadas paraguaias, reforçados por canhões e foguetes e pela fuzilaria de carabineiros, até então escondidos sob um espesso matagal, nas margens do rio, misturados aos gritos de dor e ao sangue dos companheiros feridos. O Chefe-de-Divisão não alquebrou-se: "Sustentar o fogo que a vitória é nossa" ! Aquele sinal, içado na nau capitânia Amazonas, externou não somente as decisões do comandante e suas ordens para o combate. Além disso, representou o que de maior a nação espera dos membros de sua Marinha e de seus comandantes: a capacidade de decidir, nas mais extremas situações, liderando pelo exemplo, pelo desassombro diante do perigo e pela vontade. O sinal seguinte, à luz do Regimento de Sinais de então, literalmente: "O Brasil espera que cada indivíduo faça o seu dever"! Exprimiu, o grande chefe, a sublimação maior do amor de um patriota por seu país e pelo exato significado do dever. É interessante relevar que, em sua forma original, o sinal coloca o dever como um ofício a ser feito. Não simplesmente a cumprir, no sentido de tornar efetivo o determinado, como tem sido comumente conhecido. Tem um caráter mais profundo, o de fazer, dar existência, realizar o dever, o que exige crença nos propósitos e elevados princípios que requer a profissão das armas, confiança nos chefes e subordinados, e na necessidade do aprestamento e de profissionalismo. Os heróis de 11 de junho de 1865 deixaram uma imorredoura lição a ser mantida no peito e na mente dos marinheiros e fuzileiros: um dia a nação lhes poderá exigir o sacrifício e, para isso, deverão estar preparados.

ALGUNS DOS PATRONOS DO NOSSO EXÉRCITO, HERÓIS NA GUERRA DO PARAGUAI.

Brigadeiro Antônio de Sampaio - Infantaria. Marechal Manoel Luís Osório - Cavalaria. Tenente Coronel João Carlos de Villagran Cabrita - Engenharia.

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166 Marechal Emílio Luís Mallet - Artilharia. General João Severiano da Fonseca - Serviço de Saúde. Tenente Antônio João Ribeiro - Quadro Auxiliar de Oficiais (QAO). Na decisiva Batalha do Avaí, travada em 11 de dezembro de 1868, o 3º Corpo de Exército, sob o comando do Marechal Osório, cobriu-se de glórias. No decorrer da Guerra do Paraguai, despontaram chefes militares que, mercê de feitos heróicos no campos de batalha, são hoje patronos das armas e serviços do Exército Brasileiro, servindo de paradigma às novas gerações.

Nobres Causas Os homens só se lembram de Deus e as nações só valorizam seus soldados, quando sentem a sobrevivência ameaçada. Passado o perigo, a maioria dos homens esquecem-se de Deus, e as nações, de seus soldados." Não aconteceu coisa diferente com o Exército Brasileiro, que retornou vitorioso da Guerra da Tríplice Aliança. Alquebrados pela dureza dos combates, os veteranos eram desprezados nas ruas, sofrendo com a dolorosa ingratidão. Quanto à Instituição, assolada pela falta de verbas e desequipada, amargava incompreendida injustiça. Alguém se lembrou de empregá-la na condição de “capitão-do-mato”, para capturar e reconduzir escravos fugidos a seus donos. O firme protesto dos chefes militares, pela desfaçatez da atribuição de tão vil encargo a uma Força honrada e com extensa folha de serviços prestados à Pátria, justificou sobejamente seu não-cumprimento. Essa atitude constitui prova inconteste da identificação do Exército com o povo a que serve, jamais se deixando subordinar a interesses menores de facções e grupos de qualquer origem e natureza. Políticos oportunistas faziam uso das tribunas a eles franqueadas pela Nação para enxovalhar a honra das classes armadas e de suas instituições. Nesse ínterim, vicejavam nos quartéis, como de resto em todo o País, idéias republicanas. Na Escola Militar, imbuído da tarefa de incutir nos jovens alunos o ideário positivista, destacava-se o Tenente-Coronel Benjamim Constant, emérito professor de matemática, que não perdia oportunidade de provar as vantagens do regime republicano. O engajamento do Exército na campanha abolicionista atraiu sobre si, ainda mais, o ódio de parcela da elite agrária, locupletada pela abominável prática escravagista, prática essa que levou Castro Alves, no memorável poema “Navio Negreiro”, a pedir a Colombo para “fechar a porta de seus mares”. Nesse clima, surgiram as questões militares. Declarações, em defesa pública da honra, realizadas por um oficial, levou a proibir-se os militares de se manifestarem pela imprensa sobre assuntos políticos, contrariando costume vigente à época. A transgressão desta norma pelo Tenente-Coronel Sena Madureira e sua conseqüente punição fizeram acorrer em sua defesa o Marechal Deodoro da Fonseca, prestigioso ex-combatente da Guerra do Paraguai. Sua lealdade a um subordinado e a defesa intransigente da dignidade do Exército custam-lhe o cargo e a

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167 carreira, mas aumentam-lhe o prestígio. Como conseqüência, assumiu a liderança da oposição ao governo e não ao Imperador. Sentindo-se desprestigiada após defender a Pátria na Guerra da Tríplice Aliança, a oficialidade do Exército ficou susceptível à propaganda republicana. As circunstâncias iriam colocá-lo à frente das tropas que, na manhã de 15 de novembro de 1889, marcharam resolutas em direção ao Campo de Santana para inaugurar nova era para o Brasil. Assim nasceu a República. A família imperial, tratada com a deferência que merecia, partiu para o exílio, com o mérito de ter legado à nação rol imenso de realizações. O Exército assumiu a responsabilidade pela articulação e pela eclosão do movimento, respaldado pelo partido Republicano, fundado em 1870, com o Marechal Deodoro da Fonseca assumindo a chefia do Governo Provisório. O Tenente Coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães, valeu-se da cátedra da Escola Militar para difundir o ideário positivista e republicano. Em 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca proclamou a República .

O Exército na República O arrefecimento do apoio proporcionado à Monarquia pela Igreja, seqüela da Questão Religiosa, pela elite agrária tradicional, como decorrência da Abolição da Escravatura, e pelo Exército, conseqüência das questões militares, aliado ao proselitismo republicano divulgado pela imprensa, tornou o advento da República uma questão de tempo. Concretizado o movimento, tratou-se de organizar o Governo Provisório e convocar uma Assembléia Constituinte, com vistas à institucionalização do novo regime. O Exército, fiador, em nome do povo, da nova situação política do País, mantinha a ordem em todo o território nacional. Na verdade, o ocaso do Império transcorreu sem resistência que justificasse qualquer ação militar de natureza operativa. O Marechal Deodoro da Fonseca, tendo assumido a chefia do Governo Provisório, nomeou seu Ministro da Guerra o Tenente-Coronel Benjamim Constant Botelho de Magalhães, renomado professor da Escola Militar e republicano de primeira hora. A nova Constituição republicana, elaborada e promulgada com a presteza devida, estipulava que o primeiro presidente da República e seu vice fossem eleitos pelo Congresso Nacional. Venceram o pleito o Marechal Deodoro, de uma chapa, para presidente, e o Marechal Floriano, de outra, para vice, inaugurando prática que se tornaria comum na República brasileira: o presidente e seu vice pertencendo a partidos opostos. A partir da eleição, o Congresso moveu violenta oposição ao presidente com aparente indiferença de seu vice. O recrudescimento da campanha contra Deodoro leva-o a decretar “manu militari” o fechamento do Congresso Nacional. A reação faz-se imediata. A Armada, capitaneada pelo Almirante Custódio de Melo, rebela-se, ameaçando bombardear o Rio de Janeiro. Dos estados da Federação, vários presidentes se manifestam mais contra do que a favor do golpe de estado. Deodoro, para evitar derramamento de sangue, renuncia ao cargo, demonstrando gesto de grandeza. Assume o poder o vice-presidente Floriano Peixoto. Nesse episódio, o Exército manter-se-ia afastado das paixões políticas, eximindo-se de apoiar esta ou aquela facção, embora Floriano entusiasmasse a jovem oficialidade. Importava mais manter a normalidade em todo o território nacional para evitar a ação de aproveitadores e oportunistas. Inconformado com o fechamento do Congresso, imposto por Deodoro, o Almirante Custódio de Melo revoltou a Armada, determinando a renúncia do Presidente. Com a República, proclamada por iniciativa dos militares, o povo brasileiro teria condições de influir na vida nacional.

Consolidação da República Floriano assume o governo sob o impacto de grande polêmica constitucional. Muitos consideram sua investidura ilegítima, razão pela qual treze oficiais-generais assinam manifesto solicitando a convocação de novas eleições. São presos; alguns reformados, outros vão parar em colônias militares. As “viúvas” da monarquia valem-se do ensejo para conspirar contra a República. A grande maioria do Exército apoia incondicionalmente Floriano, enlevada pelas virtudes que ornam sua personalidade de soldado e cidadão, como a firmeza de propósitos, a seriedade profissional, a coragem

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168 moral e o caráter incorruptível. Dessa autêntica devoção, partida em especial da oficialidade jovem, nasceria uma doutrina, o “Florianismo”, que exerceu grande influência no Exército, nos primórdios da República. Em fevereiro de 1893, começou no Rio Grande do Sul a Revolução Federalista. Essa contestação armada, inicialmente dirigida contra o presidente estadual, Júlio de Castilhos, voltou-se contra Floriano que fazia vista grossa ao caudilhismo das autoridades locais. Os maragatos, como eram conhecidos os revoltosos, motivados pelas primeiras vitórias, empreendem audaciosa marcha rumo ao Norte. A obstinada resistência oposta às tropas federalistas na cidade de Lapa (PR), pelo Coronel Gomes Carneiro, frustrou as pretensões rebeldes de chegarem à capital da República. Enquanto isso, eclodia no Rio de Janeiro nova Revolta da Armada. Integrava-a chefe de prestígio na Marinha, o Almirante Saldanha da Gama, que, junto com o já conhecido Custódio de Melo, pressiona o governo. O que muda desta vez é que o presidente agora é Floriano, o mesmo que, perguntado como receberia a Armada Inglesa que viria garantir a segurança de cidadãos ingleses no Rio de Janeiro, respondeu: “à bala”. Os Revoltosos da Armada articulam-se com os federalistas do Rio Grande, e, assim fortalecidos, visualizam a possibilidade de depor o Presidente. Chegam a conquistar duas capitais de Estado: Desterro (atual Florianópolis) e Curitiba. Todavia, seus planos de chegar ao Rio de Janeiro esbarrariam na determinação e na coragem de um Soldado: o Coronel Gomes Carneiro. Esse bravo, entrincheirado na cidade da Lapa, no Paraná, resistiu ao cerco imposto pelo comandante maragato, General Gumercindo Saraiva, que, por ter sido criado no Uruguai, mal falava nosso idioma. A ação do herói Gomes Carneiro custou aos federalistas tempo e meios preciosos. A partir dali, retrocederam e, de derrota em derrota, sucumbiram. O Marechal Carlos Machado Bittencourt, pela oportuna participação no suprimento às tropas que combatiam em Canudos, foi instituído como Patrono do Serviço de Intendência do Exército Brasileiro. A República venceria assim sua prova de fogo, consolidando-se graças a Floriano, o Marechal de Ferro. No Governo de Prudente de Morais, o Exército será chamado a devolver à tranqüilidade remota região baiana, no vale do Vaza-Barris: Canudos. Nesse povoado, um punhado de fanáticos chefiados por explorador da crendice popular, Antônio Conselheiro, colocou-se à margem da lei, afrontando as autoridades estaduais. Impotente para subjugar a rebelião, o presidente do Estado solicita a intervenção de tropas federais. Longa e sangrenta jornada esperaria o Exército nos sertões áridos da Bahia. Entre outros óbices, a distância das bases de suprimento dificulta o abastecimento das tropas em combate. Essa dificuldade, até ser resolvida pela visão militar do Marechal Bittencourt, atual Patrono do Serviço de Intendência, vai custar muitas vidas, dizimadas pelas hordas de Conselheiro. Homiziados em Canudos, o beato Antônio Conselheiro liderou uma insurreição sertaneja, que exigiu muito esforço do Exército para ser pacificada. Entre os militares tombados nos sertões, encontram-se o Coronel Moreira César e o Capitão Salomão da Rocha, morto abraçado ao canhão, junto com seus artilheiros. O sacrifício do Marechal Carlos Machado Bittencourt, Ministro da Guerra, ocorreria em momento de júbilo pela recepção às tropas vitoriosas, ao aparar, com o próprio corpo, o punhal assassino que tinha endereço certo: o peito do Presidente da República. Quase vinte anos depois, presidente o Marechal Hermes da Fonseca, o Exército vai pacificar outra revolta de fundo místico, similar a Canudos, na região do Contestado, fronteira dos estados do Paraná e de Santa Catarina. Ainda nos anos Dez, no bojo da chamada “Política das Salvações Nacionais”, do Marechal Hermes, o Exército interviria em vários estados para preservar os interesses do governo federal. Nessa conjuntura particularmente conturbada, os militares desempenharam idêntico papel de moderação, ao exercido pelo Imperador no período monárquico, garantindo a sobrevivência das instituições republicanas. Entre as insurreições rurais ocorridas na "República Velha", insufladas pelo misticismo sertanejo, destacaram-se as de Canudos e de Contestado. A modernização do Exército nos primórdios da República Durante a 1ª Guerra Mundial, o Tenente José Pessoa comandou um pelotão composto de soldados turcos, tendo sido promovido a capitão por atos de bravura. As dificuldades decorrentes da pacificação do Arraial de Canudos trouxeram a lume o despreparo da Força Terrestre para o cumprimento de sua missão constitucional. Formada no ensino livresco e atolada no bacharelismo, “virtude militar” cultivada nos últimos anos do Império, a oficialidade ressentia-se de motivação profissional. A criação do Estado-Maior do Exército, em 1896, como órgão emulador do preparo e do emprego da Força, já representou um primeiro passo no sentido da reversão desse quadro adverso.

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169 Em 1905, o General Hermes da Fonseca patrocinou a realização de grandes manobras, que serviram para testar inovadoras táticas e técnicas de combate. A extinção da Guarda Nacional, consumada em 1911, legou ao Exército a condição de único responsável pela ordem interna, o que lhe exigiria melhor disposição para mantê-la. Os ares do revigoramento profissional sopram com mais intensidade, quando oficiais do Exército Brasileiro são mandados estagiar no poderoso exército alemão, embalado nas melhores tradições militares prussianas. São os “jovens turcos”, que retornam cheios de entusiasmo e de novas idéias. Chegam a fundar, em 1913, uma revista, “A Defesa Nacional”, para dar efeito multiplicador aos conhecimentos adquiridos. A eclosão da Primeira Guerra Mundial, na Europa, e o conseqüente envolvimento brasileiro em função do torpedeamento de navio que singrava águas internacionais, levam o Exército a participar do conflito. Integraram o esforço de guerra os homens públicos sensibilizam-se, convencidos pela pena brilhante de Olavo Bilac, da necessidade da introdução, no Brasil, do Serviço Militar Obrigatório. "Se todos os cidadãos usufruem das benesses da Pátria, nada mais justo de que todos participem de sua defesa." Na Escola Militar do Realengo, oficiais selecionados por seus dotes de instrutor, receberam o poeta Olavo Bilac o encargo de incutir, nos alunos, a nova mentalidade profissional do Exército. Era a “Missão Indígena”, ventre no qual seriam gerados os próceres do Tenentismo. Data dessa época, a construção de inúmeros quartéis que ainda hoje desafiam o tempo em várias guarnições, mandados construir pelo Ministro da Guerra Dr. Pandiá Calógeras. O Presidente Wenceslau Brás assina a declaração de beligerância que envolve o Brasil na Primeira Guerra Mundial. Porém, o que mais marcou esse período de surgimento profissional da Força Terrestre foi a obra ciclópica de Rondon, realizada em benefício dos brasileiros e reconhecida internacionalmente como conquista da humanidade. Este autêntico “Bandeirante do Século XX” propôs-se a rasgar sertões nunca dantes palmilhados para levar o telégrafo até a Amazônia, interligando remotas regiões do Brasil ao seu centro político-administrativo. Sua atuação à frente da Comissão Construtora de Linhas Telegráficas do Mato Grosso ao Amazonas, criada em 1907, conferiu ao Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon o laurel de ser o Patrono das Comunicações brasileiras. O surto de modernização do Exército iria completar-se com a contratação, em 1920, de uma Missão Militar, credenciada pela vitória da França na Primeira Guerra Mundial. Essa missão, que por vinte anos permaneceria no Brasil, contribuiu sobremaneira para a elevação do padrão profissional dos nossos oficiais de todos os escalões e, por via de conseqüência, da Instituição. Dessa forma, o Exército preparava-se, sem saber, para enfrentar abalos em sua coesão, durante o ciclo revolucionário, e o desafio de organizar, instruir e enviar uma força expedicionária para lutar na Segunda Guerra Mundial. Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon: quando Jovem, desbravando os ignotos sertões da Amazônia brasileira. Hoje, Patrono da Arma de Comunicações do Exército Brasileiro.

A Olavo Bilac, o príncipe dos poetas brasileiros, devemos a instituição, no Brasil, do Serviço Militar Obrigatório.

Graças ao trabalho de Rondon, puderam ser integrados ao território nacional regiões até então inacessíveis, como o sertão de Mato Grosso e as planícies

da Amazônia.

Ciclo revolucionário brasileiro: do Tenentismo ao Estado Novo O aprimoramento profissional da oficialidade do Exército, decorrente do surto de modernização que empolgou a Força Terrestre pós-Império, gerou, como subproduto, a politização das classes armadas, em especial a dos jovens oficiais.

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"Os Dezoito do Forte": episódio que eterniza o idealismo do movimento

tenentista.

Começou a se corporificar no seio dos tenentes e capitães consciência revolucionária resistente à utilização do Exército como massa de manobra dos velhos políticos da “República do Café com Leite”. A vitória contumaz do candidato situacionista, fruto da "eleição a bico de pena" e dos "currais eleitorais" - o voto não era secreto - envolvia os pleitos em aura de suspeição, abalando, em muito, a credibilidade e a representatividade dos eleitos. A oposição ao Presidente Epitácio Pessoa recrudescera em virtude da punição aplicada ao Marechal Hermes da Fonseca: ex-presidente da República, ex-ministro da Guerra e presidente do Clube Militar. O fechamento deste pelo Governo, aliado ao célebre episódio das “Cartas Falsas” - que teriam sido escritas pelo candidato à presidência Arthur Bernardes e endereçadas ao político mineiro e Ministro da Marinha, Dr. Raul Soares - publicadas na imprensa, desgastou a classe política perante o Exército e fez transbordar o copo da paciência tenentista. Em 5 de julho de 1922, irrompe a Revolução. Não obstante a intensa articulação, o levante restringe-se às guarnições do Rio de Janeiro e de Mato Grosso. Muitos dos tenentes revolucionários que foram presos durante o movimento tenentista ocupariam, mais tarde, cargos de relevo na República brasileira. No então Distrito Federal, os alunos da Escola Militar do Realengo seriam fácil e rapidamente derrotados pelas tropas aquarteladas na Vila Militar. Mas foi no Forte de Copacabana que a Revolução expôs sua natureza mística. Os chefes da Revolução de 30: Getúlio Vargas (à direita), Miguel Costa (à esquerda) e o Tenente Coronel Góes Monteiro, futuro Ministro da Guerra, em pé. Instados à rendição, militares e um civil, cada um com um pedaço da Bandeira Nacional junto ao coração, marcharam de peito aberto para enfrentar as forças legalistas. Esse gesto representou o supremo sacrifício de um punhado de jovens pelo mais puro ideal de regeneração da Pátria. Entre os “Dezoito do Forte” estavam os Tenentes Antônio de Siqueira Campos e Eduardo Gomes que sobreviveram à imolação de seus companheiros. Do ideário tenentista constavam, além da instituição do voto secreto, a obrigatoriedade do ensino primário e profissional, justiça gratuita e principalmente o saneamento político do País, considerando a “decadência moral, a desordem administrativa e as perturbações econômicas que ameaçavam devorar o futuro, depois de haverem arruinado o presente” (trecho do manifesto revolucionário). Seguiu-se violenta repressão: os alunos da Escola Militar foram expulsos e os tenentes revolucionários, presos e processados. Dois anos depois, a intransigência do governo Bernardes fez eclodir novos movimentos, em julho, em São Paulo, e, em outubro, no Rio Grande do Sul. A capital bandeirante chegou a ser tomada pelos revoltosos, de que resultou seu covarde bombardeamento aéreo e por artilharia, causador de muitas vítimas entre a população civil. Da Revolução de 1924 resultaria a formação de duas colunas rebeldes: uma, procedente do Rio Grande do Sul, sob comando do Capitão Luis Carlos Prestes; outra, de São Paulo, integrada por vários chefes

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171 revolucionários, um deles, o Major Miguel Costa, da Força Pública de São Paulo. No Paraná, as colunas fundiram-se para constituir a que ficou conhecida, impropriamente, como “Coluna Prestes”. Essa tropa, comandada por Miguel Costa, estava organizada em Estado-Maior e quatro destacamentos, comandados pelos Tenentes Cordeiro de Farias, João Alberto, Siqueira Campos e Djalma Dutra. Intensamente perseguida por forças legalistas, compostas por elementos do Exército, das polícias estaduais e de capangas e cangaceiros, a Coluna logrou percorrer treze estados da Federação e trecho do território paraguaio, totalizando cerca de 25 mil quilômetros, até se exilar, na Bolívia e no Paraguai, em 1927. O General Bertoldo Klinger, antigo perseguidor da "Coluna Prestes", bateu-se em 1932, ao lado dos revolucionários paulistas. Por ocasião da revolução de 1930, os tenentes juntaram-se aos políticos da Aliança Liberal, liderada por Getúlio Vargas, para afastar o Presidente Washington Luis, deposto por uma junta militar, dias antes dos revolucionários chegarem à capital da República. Durante o Governo Provisório, vários tenentes foram nomeados interventores nos estados da Federação. A nomeação do pernambucano João Alberto para a interventoria em São Paulo, com a preterição de vários próceres do Partido Democrático, deflagrou a insatisfação que iria desaguar na Revolução Constitucionalista de 1932, duramente reprimida pelo Governo Federal. A principal reivindicação dos paulistas - a normalização democrática do regime instituído em 1930 - iria se consumar com a promulgação da Constituição de 1934, arrancada graças ao derramamento do nobre sangue bandeirante. No ano seguinte, aproveitando o ar de liberdade que o País respirava, desencadeou-se a Intentona Comunista de 1935, de triste lembrança. Episódio que mancharia de vermelho nossa história, a Intentona foi urdida por uma organização de fachada, a Aliança Nacional Libertadora, testa de ferro do Movimento Comunista Internacional (MCI). Seu líder era o ex-Capitão Luis Carlos Prestes, o “Cavaleiro da Esperança”, que, em função da notoriedade adquirida no movimento tenentista, havia sido citado pelo MCI, traindo seus companheiros, seus ideais revolucionários, seu Exército e sua Pátria. A saga dos tenentes integrantes da "Coluna Prestes" é episódio pleno de atos de heroísmo e abnegação, figurando entre os mais significativos da História Militar Brasileira. Era novembro de 1935. Eclodem em Natal, Recife e no Rio de Janeiro rebeliões, caracterizadas pela vileza e covardia de seus mentores. A pronta reação do Exército sufocou a Intentona. A imagem dos comunistas vencidos, deixando, com sorriso nos lábios, as ruínas do 3º RI, na Praia Vermelha, após assassinarem covardemente companheiros de caserna, serve de triste epílogo a uma das páginas mais torpes da nossa História Militar. Em 1937, sob pretexto de iminência de novo golpe comunista, com base em hipótese subversiva, o Plano Cohen - é a segunda crise que eclode motivada por documento falso - o Presidente Vargas instaurou, com o apoio das Forças Armadas, a ditadura do Estado Novo. Para assinalar o caráter unitarista do regime, as bandeiras estaduais seriam queimadas em concorrida solenidade oficial, no Rio de Janeiro. Os mártires da Intentona Comunista de 1935 - heróis que deram a vida pela liberdade: (a partir da esquerda) Major Misael Mendonça, Capitães Armando de Sousa e Mello e João Ribeiro Pinheiro, Tenentes Danilo Paladini, Benedicto Lopes Bragança e Geraldo de Oliveira. Liderados pelo Capitão Agildo Barata, os líderes da Intentona sorriem - não se sabe de que - ao deixarem, presos, as ruínas do 3º Regimento de Infantaria, no Rio de Janeiro. Militares da Ação Integralista Brasileira, o outro lado da medalha, também tentaram um golpe de mão contra o Palácio do Catete, em 1938, mas foram derrotados por tropas do Exército comandadas pelo Coronel Cordeiro de Farias. O regime do Estado Novo cairia por obra e graça da Força Expedicionária Brasileira (FEB), em outubro de 1945. Como seria possível combater e vencer o nazi-fascismo, na guerra, e conviver sob o tacão de um regime ditatorial? A Constituição de 1946 tentou incrementar nova era na política brasileira. Sob o manto constitucional, Luis Carlos Prestes foi anistiado dos crimes de 1935. Eleito senador da República pelo Partido Comunista, atreveu-se a declarar que se o Brasil entrasse em guerra com a União Soviética lutaria contra sua Pátria. Essa espontânea declaração prenunciava que os comunistas de plantão consideravam que, em 1935, haviam perdido uma batalha, mas tinham esperanças de tomar o poder pela luta armada. Em 4 de dezembro de 1937, o já ditador Getúlio Vargas promoveu a queima das bandeiras estaduais como forma de deixar clero o caráter unitário do regime. Vários dos integrantes da chamada "Coluna Prestes" seriam figuras de proa da vida nacional, como os então Capitão Juarez Távora e Tenente Cordeiro de Farias, futuros ministros do governo Castelo Branco.

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O Brasil na Segunda Guerra Mundial Brasil em Guerra

Janeiro de 1942. Há mais de dois anos, as nações livres lutam com denôdo para conter o avanço das potências do Eixo. Os planos de dominação mundial de Hitler sofreram seu primeiro grande revés. Com efeito, a gigantesca ofensiva lançada pela Wehrmacht contra Moscou acaba de converter-se numa verdadeira catástrofe. O Exército Vermelho, lutando encarniçadamente, conseguiu salvar a antiga capital dos Tzares e pós fim, com seu vitorioso contra-ataque, ao mito da Invencibilidade das forças alemãs. Na África, por sua vez, as tropas britânicas, num ataque decisivo, obrigaram Rommel a bater em retirada. A "Raposa do Deserto", sofrendo enormes perdas em homens e materiais, consegue, no entanto, evitar o aniquilamento total do Afrika Korps. Pouco depois, e após receber consideráveis reforços, se lançará novamente ao ataque. Assim, apesar de suas derrotas na Rússia e na África, as potências do Eixo conservam ainda o seu gigantesco poderio bélico. Um fato decisivo vem dar alento, além disso, às esperanças de Hitler e Mussolini em alcançar a vitória. Com efeito, no Extremo Oriente, o Japão lançou-se de surpresa à luta. Em 7 de dezembro de 1941, seus aviões levaram a cabo o traiçoeiro ataque à base naval norte-americana de Pearl Harbor. Este episódio faz com que os Estados Unidos se vejam obrigados a intervir ativamente na contenda e, ao mesmo tempo, aproxima do continente americano o espectro da guerra. Desta forma, ao iniciar-se o ano de 1942, a sorte do mundo livre é ainda incerta. Com a incorporação do Japão, que começa a campanha com uma série de ininterruptas vitórias, o grupo nazifascista reforça em

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173 muito sua capacidade ofensiva. A guerra entra, então, numa fase decisiva, que exigirá dos Aliados um supremo esforço em sua marcha para o triunfo final. Nesta etapa, quando ainda paira sobre a causa da liberdade a ameaça da derrota, o Brasil resolve incorporar-se à grande cruzada contra o totalitarismo.

Em 19 de setembro de 1939 ,..a noticia da agressão alemã à Polônia comove a todas as capitais do mundo. A guerra, que desde sua ascensão ao poder o ditador nazista vem preparando, desencadeou-se sobre a humanidade. Na manhã deste dia, o Presidente Getulio Vargas recebe em seu gabinete de despacho ao Ministro das Relações Exteriores Oswaldo Aranha, que o põe a par dos dramáticos acontecimentos. As onze horas, também, a Agência Nacional dá a conhecer um comunicado especial à imprensa: o documento informa que o Chefe do Governo resolveu decretar o recesso das atividades oficiais, bancárias e cambiarias. O feriado nacional se estenderá desde o dia 1

º até o dia 4 inclusive, "considerando a situação criada pelo estado de guerra na

Europa e a repercussão deste fato na economia e nas finanças nacionais". No dia 5 de setembro, e imediatamente após ser concretizada a declaração de guerra da França e Grã-Bretanha contra a Alemanha, o Governo brasileiro formulou dois decretos pelos quais proclamou sua neutralidade no conflito. Os princípios que regeriam essa neutralidade já haviam sido enunciados em decreto anterior, emitido dois dias antes. Em seu Artigo 1

º, o documento declarava expressamente: "O governo do

Brasil abster-se-á de qualquer ato que direta ou indiretamente facilite, auxilie ou hostilize a ação dos beligerantes. Não permitirá, também, que os nacionais ou estrangeiros residentes no país pratiquem ato algum que possa ser considerado incompatível com os deveres de neutralidade do Brasil". O documento assinalava ainda que "fica absolutamente interdito aos beligerantes fazerem do litoral e das águas territoriais brasileiras, bases de operações navais contra os adversários. . . Todo ato de hostilidade, inclusive a captura e o exercício do direito de visita praticado por navio ou aeronave beligerante, em águas territoriais brasileiras ou no espaço aéreo correspondente, constitui violação da neutralidade brasileira e ofende a soberania da Nação... As aeronaves militares dos beligerantes não terão autorização para voar sobre território brasileiro". A atitude adotada pelo Governo brasileiro foi similar à seguida pelos restantes governos americanos. Tratava-se essencialmente de manter os povos da América distante da catástrofe que acabava de se iniciar. Assim, a 23 de setembro de 1939, celebrou-se na Cidade do Panamá uma conferência de representantes de todos os países americanos, com o fim de adotar uma única linha de conduta. Nessa reunião foi aprovada, por unanimidade, uma resolução pela qual se ratificava solenemente a neutralidade americana frente ao conflito europeu. Desta forma, a política do Brasil, expressada através de seu representante na conferência, Sr. Carlos Martins Pereira de Sousa, encontrou pleno eco nos representante dos países irmãos. Não somente se tratava de estabelecer a neutralidade, mas também de se fixar uma política de segurança continental. Foi assim que, também, se aprovou resolução que declarava: "As repúblicas americanas neutras gozam do indiscutível direito de conservar livres de qualquer ato hostil por parte de qualquer nação não americano aquelas águas próximas ao continente, que considerem de interesse primordial e utilidade para suas relações". Em virtude desta resolução se estabeleceu uma zona de segurança que envolveu a todo o continente americano, zona esta que estendia até 300 milhas o limite do mar territorial das Américas. Esta decisão dos países americanos não foi, contudo, respeitada pelos países em guerra. Em dezembro de 1939 travou-se a batalha do Rio da Prata, na qual intervieram o encouraçado alemão Admiral Graf von Spee e os cruzadores britânicos , Ajax e Achilles. O combate sustentado em águas da zona de segurança, deu lugar a uma reclamação por parte dos países americanos, mas tanto os alemães como os britânicos se limitaram a deplorar o incidente, manifestando que seus respectivos governos não haviam reconheciam a resolução do Panamá, motivo por que não se consideravam obrigados com a mesma. No mês de fevereiro de 1940 a quinze milhas do farol de Cabo Frio, em águas brasileiras, houve uma nova violação da zona de segurança. Um barco de guerra inglês tentou capturar o cargueiro alemão Wakama, que foi afundado por sua própria tripulação. O Governo brasileiro enviou então uma nota de protesto ao Governo britânico, e este, em sua resposta, voltou a manifestar que não podia aceitar uma regulamentação à qual não dera seu reconhecimento. Em maio de 1940 os acontecimentos na Europa sofrem reviravolta decisiva. Hitler lança a Wehrmacht ao ataque na frente ocidental. Em seu avanço para o coração da França, as forças alemãs violam a neutralidade e ocupam os territórios da Holanda, Bélgica e Luxemburgo. Hitler, que pouco antes havia prometido respeitar

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174 a independência destas nações, manifesta assim, uma vez mais, seu absoluto desprezo pelas normas de convivência internacional. Ante a nova agressão, o Brasil adere aos protestos dirigidos pelas nações americanas ao governo nazista. A blitzkrieg germânica põe por terra a resistência aliada e, em junho de 1940, a França capitula. Os britânicos, a duras penas, salvam em Dunquerque sua força expedicionária. Devem abandonar, ainda, no transcurso da evacuação, a totalidade de seu material pesado. Nunca, como nesse momento, pareceu mais segura a vitória do nazismo. Derrotada a França, só restava a Grã-Bretanha, praticamente indefesa, para enfrentar o gigantesco poderio germânico. For essa a que Churchill qualificou como "o hora mais gloriosa" do povo britânico. Recusando de imediato todas as sugestões de paz feitas por Hitler, os ingleses trabalharam febrilmente na reconstrução de seu poderio militar e se aprestaram a enfrentar a iminente invasão. Nessas dramáticas circunstâncias se reuniram em Havana os chanceleres das repúblicas americanas. Corria o mês de julho de 1940. O mundo livre temia a possível e próxima derrota da Inglaterra, último baluarte que restava na Europa para deter o avanço nazista. Se a Grã-Bretanha sucumbisse, a América ficaria exposto à possível expansão da guerra até ao seu território. Os representantes americanos decidiram então emitir uma histórica declaração, no qual afirmavam sua decisão inquebrantável de lutar unidos para a preservação de sua liberdade. Essa declaração era uma categórica advertência dirigida ao regime de Berlim. Seu texto dizia: "Todo atentado de parte de um Estado não americano contra a inviolabilidade do território, da soberania ou da independência política de um Estado americano deverá ser considerado como um ato de agressão contra todos os Estados americanos". Além disso, e ante a eventualidade de que as possessões da Grã-Bretanha, França e Holanda em território americano pudessem cair em mãos dos germânicos ou de governos colaboracionistas, resolveu-se criar uma comissão provisória integrada pelo Brasil, Venezuela, Estados Unidos, Equador, Panamá, República Dominicana e Paraguai, encarregada de concertar uma ação comum para enfrentar esse risco. A importância dada a esta questão ficou evidenciada no seguinte comunicado, denominado Acordo de Havana: "Se a necessidade de atuar for tão urgente que não possa ser adiado, as repúblicas americanos poderão atuar individual ou coletivamente em defesa de seus territórios e de todo o continente, seja qual for o meio que julguem conveniente adotar para isto". Desta formo, a Américo se preparou para enfrentar a possível agressão. O panorama da guerra, nos meses seguintes, sofreu nova reviravolta que teria decisivas conseqüências. Efetivamente, o Luftwaffe fora derrotado no transcurso da encarniçada batalha aérea da Grã-Bretanha, que se prolongou desde agosto até setembro de 1940, meses em que alcançou sua fase culminante. O fracasso da ofensivo aérea obrigou Hitler o abandonar a projetada invasão ao território inglês e fê-lo voltar seu poderio bélico contra a Rússia, em busca de uma definição categórica e final no continente europeu. A segurança da Grã-Bretanha continuou, no entanto, em grave perigo, pois não somente persistiram os bombardeios noturnos, que causaram sérios danos a Londres e outras cidades, como também porque a campanha submarina crescia dia a dia. Nessas circunstâncias, o Presidente Roosevelt decidiu dar apoio naval aos britânicos, no Atlântico, e simultaneamente abastecê-los com material bélico em forma maciça, sem que a Inglaterra se visse obrigada a financiar sua aquisição. Essa medida daria lugar à aprovação, em março de 1941, da célebre Lei de Empréstimos e Arrendamentos, cujos benefícios foram mais tarde estendidos a todos os países que lutavam contra o Eixo. Os Estados Unidos se transformaram, assim, no arsenal das democracias. A declaração de neutralidade por parte do Brasil, impusera ao país a difícil tarefa de fazer respeitar suas águas territoriais, que se estendiam a 3 000 milhas de costa atlântica. Sua marinha de guerra teve que enfrentar a missão com efetivos insuficientes, tanto no que se refere a número de unidades como no que respeita a sua capacidade combativa. Efetivamente, muitos dos barcos eram de antiga construção, como os grandes encouraçados Minas Gerais e São Paulo, e os cruzadores Bahia e Rio Grande do Sul. Tampouco se contava com aviões modernos. Em que pêse a este fato, a marinha brasileira desenvolveu um intenso trabalho de patrulhamento a partir de setembro de 1939. A incorporação entre 1939 e 1940 de seis navios mineiros, o Carioca, o Cananéia, o Camocim, o Cabedelo, o Caravelas e o Camaquã, todos construídos no Arsenal da Ilha das Cobras, reforçou consideravelmente a capacidade da esquadra brasileira. Tal como se previa, ocorreram numerosos incidentes no mar, causados pela atividade das potências beligerantes. Os primeiros contratempos surgiram com os britânicos.

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175 A 30 de novembro de 1940, o barco brasileiro Ytapé, logo após zarpar do Rio de Janeiro, navegava rumo aos portos do norte do País, quando foi interceptado, à altura do Cabo de São Tomé, por um cruzador auxiliar britânico. Abordado pelos marinheiros ingleses, deveria entregar a estes os 22 cidadãos de nacionalidade alemã que se encontravam a bordo. O comandante brasileiro expressou seu protesto pelo episódio, declarando que navegava na zona de segurança delimitada pela Conferência de Havana. Em começo do mês de outubro houve outro incidente. Desta vez os inglêses detiveram o navio mercante Siqueira Campos, que viajava de Lisboa para o Rio de Janeiro, conduzindo, além de 400 passageiros, um carregamento de armas adquiridas pelo Governo brasileiro à Alemanha, segundo um convênio firmado em março de 1938. O Siqueira Campos foi conduzido pelos ingleses a Gibraltar. Depois de entendimentos mantidos entre o governo brasileiro e o inglês, o Siqueira Campos foi liberado, com toda a sua carga, a 16 de dezembro de 1940. Superados estes choques com os britânicos, o Brasil teve que fazer frente aos ataques alemães. A 23 de março de 1941, o barco mercante Taubaté, do Lóide Brasileiro, navegava pelo mar Mediterrâneo, rumo ao porto de Alexandria, no Egito. Seu caráter neutro estava perfeitamente aclarado pelas grandes bandeiras brasileiras que levava pintadas sobre ambos os flancos e também por cima dos passadiços. O comandante do Taubaté era Mário Fonseca Tinoco. Repentinamente, um avião alemão o sobrevoou e fez fogo com as metralhadoras. O comandante ordenou imediatamente deter as máquinas do navio e içar no mastro maior uma bandeira branca; na pôpa for levantada a bandeira nacional. A tripulação, por sua vez, da coberta, fazia sinais ao avião. O aparelho nazista, no entanto, sem tomar em conta as bandeiras e os sinais, continuou atacando o Taubaté com bombas e metralhadoras, durante cerca de setenta minutos. Os marinheiros brasileiros, desarmados, não puderam responder ao covarde ataque do avião alemão. Treze dos tripulantes ficaram feridos e um deles, o contador de bordo, pereceu atingido pelos projéteis. Chamava-se José Francisco Fraga e foi o primeiro brasileiro morto pelos alemães na Segundo Guerra Mundial. O Taubaté, avariado, conseguiu finalmente chegar ao porto de Alexandria, auxiliado por dois rebocadores. Imediatamente, o Governo, ao ter noticia da brutal agressão, apresentou uma enérgica ação de protesto à embaixada alemã no Rio de Janeiro. O documento continha as seguintes palavras: "Protestamos veementemente contra o tratamento de que foi vitima o Taubaté, e reclamamos do Governo alemão a reprovação formal de tal ato de hostilidade, bem como uma ação pronto e efetiva para reparação dos danos causados ao navio e a justa indenização pela vida do brasileiro sacrificado injustamente, bem como pelos ferimentos causados a membros de sua tripulação". Em junho de 1941, o Siqueira Campos foi novamente agredido nas cercanias das ilhas de Cabo Verde. Um submarino germânico efetuou três disparos contra a nave, obrigando-a a deter-se. Um destacamento enviado do submarino revisou a carga e a documentação dos passageiros. Foi o último episódio, na série de agressões nazistas contra barcos brasileiros.

Navio Mineiro Carioca O navio mineiro "Carioca", juntamente com seu gêmeo, o "Cananéia", foram incorporados à esquadra brasileira poucos dias depois de estalar a Segunda Guerra Mundial, a 16 de setembro de 1939. Eram navios de construção totalmente brasileira, realizada no Arsenal da Ilha das Cobras. Ali foram também lançados ao mar outros navios similares, o "Comocim", o "Cabedelo", o "Caravelas" e o "Camaquã", que por sua vez foram incorporados à esquadra em 7 de junho de 1940. Todas estas embarcações prestariam eficientes serviços no patrulhamento e escolta de comboios no transcurso da guerra. O "Carioca" e o "Cananéia" foram designados imediatamente para as tarefas de vigilância das águas territoriais, em união com as restantes unidades da esquadra. A 7 de junho, com a incorporação do "Carnocim", do "C'abedelo", do "Caravelas" e do "Camaquã", o Ministério da Marinha criou a flotilha de navios mineiros. Esta força naval, a princípios de 1942, se achava sob o comando do então Capitão-de-Mar-e-Guerra Alfredo Carlos Soares Dutra. Ao iniciarem-se os ataques de submarinos alemães contra barcos mercantes brasileiros, o Comando naval decidiu realizar o esforço máximo possível para proteger a navegação. Os cruzadores "Bahia" e "Rio Grande do Sul", junto com os seis contratorpedeiros "Piaui", "Rio Grande do Norte", "Sergipe", "Santa Catarina", "Mato Grosso" e "Paraíba", ficaram encarregados de proteger as águas

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176 próximas ao Rio de Janeiro. Os navios mineiros da classe "Carioca" foram enviados a outros portos do Leste e Nordeste, atribuindo-se-lhes setores de patrulhamento, servindo-lhes de base as portos de Salvador, Recife e Natal. Em fins de 1941, o Alto-Comando naval resolveu transferir a Divisão de Cruzadores para o porto de Recife, sob o comando do Contra-Almirante Jorge Dodsworth Martins, que estabeleceu contato com o. Contra-Almirante Ingram, chefe da força de tarefas norte-americana nº 23, que operava no Atlântico Sul, Se iniciaram assim as relações, que seriam cada vez mais estreitas, entre as duas forças navais. Logo depois da declaração de guerra do Brasil às potências do Eixo, no mês de agosto de 1942, a flotilha de navios mineiros passou a integrar a Divisão de Cruzadores. Seus artefatos destinados a colocação de minas foram substituídos por outros, especiais para lançar bombas de profundidade. No mês de maio desse ano, conduzidos pelo comandante do cruzador "Rio Grande do Sul", Capitão-de-Mar-e-Guerra Jerônimo Francisco Gonçalves, os navios mineiros, juntamente com o "Rio Grande do Sul", escoltavam o transatlântico "Santarém" e outras embarcações que conduziam tropas à ilha de Fernando de Noronha. Essa foi a primeira operação de escolta de comboios realizada pelos navios mineiros.

Submarino Alemão Tipo IX C Os alemães construíram, antes da guerra, submarinos de grande raio de ação, destinados a operar contra a navegação inimiga no oceano Atlântico. Estes eram os submersíveis de Tipo VII e IX. Os de Tipo IX eram os - de maior deslocamento. O modelo mãe, inicial, o IX A, tinha um deslocamento de 1032 toneladas, um raio de ação de 8100 milhas e estava impulsionado por dois motores diesel que desenvolviam uma velocidade de 12 a 14 nós. O primeiro submarino deste modelo foi o U 37, lançado ao mar em 14 de maio de 1938. No total, foram construídas oito unidades do Tipo IX A, às vésperas da guerra. O modelo IX B era um submersível baseado no IX A e melhorado em numerosos aspectos. O primeiro foi ao mar poucos dias depois de iniciada a guerra, a 20 de setembro de 1939. Tinha, em sua versão original, um deslocamento de 1051 toneladas, um alcance de 8700 milhas, dois motores diesel e uma velocidade de 18 nós. Estava armada com 22 torpedos. No total, foram construídas durante a guerra quatorze unidades. O submersível IX C, modelo melhorado do IX B, em sua primeira versão (U 66) tinha um deslocamento de 1120 toneladas, dois motores diesel, uma velocidade de 18 nós e um raio de ação de 10000 milhas. Levava dois torpedos e um canhão de 4,1 polegadas sobre a coberta.

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177 Tinha, além disso, dois canhões antiaéreos, um de 37 mm e outro de 20 mm. Suas dimensões eram as seguintes: 78,60 metros de comprimento, 6,60 de largura e 4,50 de alto. Durante a guerra se construíram 159 unidades do Tipo IX C. Os IX C estavam equipados com seis tubos lança-torpedos de 21 polegadas, localizados quatro à proa e dois à popa. Os modelos avançados foram equipados com Schnorkel, para facilitar a navegação durante a imersão. O armamento antiaéreo foi incrementado, trocando-se a peça de 20 mm por dois canhões duplos do mesmo calibre. O canhão de 4,1 polegadas foi por sua vez, retirado. O submarino Tipo IX C, U 507, levou a cabo a série de afundamentos de barcos brasileiros entre os dias 15 e 19 de agosto de 1942, que provocou a crise final que levou o Brasil à guerra. Alcançados por torpedos do U 507, desapareceram sob as águas os navios mercantes Baependi, Araraquara, Aníbal Benévolo, Itagiba, Arará e Jacira. Com eles pereceram mais de seiscentos tripulantes e passageiros, vitimas da barbárie nazista. O U 507, sem dúvida, não sobreviveu muito tempo ao ataque. Efetivamente, foi atacado por aviões da marinha de guerra norte-americana, nas cercanias do Estado da Paraíba, e afundado pelas bombas de profundidade. A tripulação, quarenta e oito homens, pereceu no naufrágio, O U 507 havia side construído nos estaleiros Deutsche Werft, do porto de Hamburgo. Outro submarino do mesmo tipo, o U 530, se entregou ao terminar a guerra, no porto de Mar del Plata, na República Argentina. Posteriormente foi entregue às autoridades americanas, que o utilizaram com fins experimentais. Dois submarinos Tipo IX C, o U 511 e o U 1224, foram entregues pelos Alemães à marinha imperial nipônica, em 1943 a 1944.

Forças Navais Brasileiras A Esquadra Brasileira para conjurar a ameaça dos submarinos alemães dispunha de meios materiais bem precários. A frota, em 1942, contava com navios de 30 anos de existência e raríssimas unidades mais modernas. Eram as seguintes: Encouraçados: "Minas Gerais" e o "São Paulo" (navios obsoletos, não utilizáveis numa campanha anti-submarina) . Cruzadores: "Rio Grande do Sul" e o "Bahia" (haviam já prestado serviços nas águas européias na Primeira Guerra Mundial, em 1918). Contratorpedeiros: "Rio Grande do Norte", "Sergipe", "Piauí", "Santa Catarina", "Mato Grosso", "Paraíba" e o "Maranhão" de construção antiga; "Marcilio Dias", "Mariz e Barros" e o "Greenhalgh", unidades modernas, incorporadas à esquadra entre julho de 1940 e julho de 1941. Navios mineiros: "Carioca" "Cananéia", "Cabedelo" "Camocim", "Caravelas" e o "Camaquã". (Estas unidades foram construídas no Arsenal da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro, entre setembro de 1939 e junho de 1940). submarinos: "Humaitá", "Tupi", "Timbira" e o "Tamoio" unidades construídas na Itália).

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178 Navios hidrográficos; "Jaceguaí" e o "Rio Branco". Navios auxiliares: "José Bonifácio", "Vital de Oliveira", "Marajó". Navio-Escola: "Almirante Saldanha". O Comando-em-Chefe da Esquadra Brasileira, em princípios de 1942, era exercido pelo Contra-Almirante Durval de Oliveira Teixeira, com o pavilhão no encouraçado "Minas Gerais". A Divisão de Cruzadores estava ao mando do Contra-Almirante Jorge Dodsworth Martins; a Flotilha de Contratorpedeiros sob comando do Capitão-de-Mar-e-Guerra Alfredo Carlos Soares Dutra; a Flotilha de Navios Mineiros, do Contra-Almirante Gustavo Goulart; a Flotilha de Submarinos, ao mando do Comandante Atila Monteiro Aché.

Perdas Navais Brasileiras na Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Guerra, 36 navios brasileiros foram torpedeados, entre 1942 e 1944, por submarinos do Eixo, na área do Oceano Atlântico que vai desde a Filadélfia, nos Estados Unidos, até Santos, no Brasil, além do extremo sul da África (Boa Esperança). O balanço total foi de 1.074 mortos e 1.686 sobreviventes. Dois pequenos navios torpedeados não foram identificados, mas por terem sido afundados em região junto à costa, concluiu-se que eram navios brasileiros, provavelmente veleiros. Dos navios torpedeados, somente o Cabedelo não teve sobreviventes. O Brasil perdeu, ainda, dois outros navios na Segunda Guerra Mundial, ambos da Marinha de Guerra. A Corveta Camaquã afundou, virada pelo mar grosso, em 21 de julho de 1944, morrendo 23 tripulantes. O Cruzador Bahia foi a pique no dia 4 de julho de 1945, por acidente em exercício de tiro real que atingiu uma das de suas bombas de profundidade. Morreram no naufrágio 333 homens.

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Concepção artística do navio-auxiliar Vital de Oliveira, de 1.737t, torpedeado pelo submarino alemão U-861,

em 20 de julho de 1944

A tragédia do Cruzador Bahia

Após o término das hostilidades da Segunda Guerra no Atlântico, coube à Marinha do Brasil uma última tarefa: controlar as aeronaves aliadas, que retornavam com tropas no trajeto Dakar-Natal, e apoiar, com eventuais socorros, as que se vissem em dificuldades. Os navios eram mantidos em locais específicos, "estações" em alto-mar, controlando por rádio as passagens dos aviões. Nessa missão, um avião B-17, do Exército americano acidentou-se, em setembro de 1945, e teve 14 militares salvos pelo Contratorpedeiro Greenhalgh, comandado pelo capitão-de-fragata Ari Rongel. Neste contexto, na manhã de um sábado, 30 de junho de 1945, o Cruzador Bahia, após trinta dias de preparativos, suspendia de Recife com destino à Estação 13, distante cerca de 500 milhas. Na manhã do dia 2 de julho, uma segunda-feira, rendia, no posto, o Contratorpedeiro-de-Escolta Bauru. No dia seguinte, foi realizada, a bordo, com bom tempo, a tradicional festa pela Passagem da Linha do Equador. A expectativa do retorno ao Rio de Janeiro e ao convívio familiar, logo após o cumprimento daquela tarefa, prevista para dez dias, animava a tripulação. Ao completar o segundo dia na missão, em 4 de julho, o navio preparava-se para exercício de tiro de superfície a curta distância, com as sete metralhadoras Oerlikon de 20mm. Às 0900h, parou máquinas para o lançamento do alvo flutuante e, minutos após, 0910h, ouviram-se disparos imprevistos de uma das metralhadoras. No 5 ou 6 disparo, conforme o relato do então primeiro-tenente Torres Dias, na ocasião, de serviço no Camarim da Máquina, uma forte explosão sacudiu o navio. A rajada da metralhadora havia atingido as bombas de profundidade localizadas no tombadilho.

O Cruzador Bahia foi a pique no dia 14 de julho de 1945, por acidente em exercício de tiro real, que atingiu uma de suas bombas de profundidade

O quadro que se seguiu foi trágico. Conforme o relato: "densos rolos de fumaça (…) corpos dilacerados, destruição total e os gemidos dos feridos, que mal se arrastavam pelo convés", e a área de ré destruída e em chamas. Apenas três minutos após a explosão , o navio começou a afundar a popa, com uma rapidez impressionante.

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180 Quatro baleeiras haviam sido destruídas pela explosão e duas outras pendiam dos turcos, impossibilitadas de serem arriadas pela grande inclinação tomada pelo navio. Apenas 17 balsas salva-vidas haviam sido poupadas pela onda destruidora que varrera o navio", sendo rapidamente lançadas ao mar. Atos heróicos e de extrema solidariedade foram registrados, como a persistente tentativa do 1° Sargento Enfermeiro João Morais de Lima, o Sargento Lima, de levar da enfermaria para uma balsa, em meio aquele horrendo cenário, o Comandante, capitão-de-fragata Garcia D’Ávila Pires e Albuquerque, que, gravemente ferido, o havia ordenado para deixá-lo e salvar-se. Ambos "foram tragados pelo mar quando o navio submergiu". Em cerca de cinco minutos, o navio mergulhou de popa, elevando a proa no ar, e, com a quilha em posição vertical, afundou. A surpresa, a rapidez com que se desenrolou o acontecimento, somadas às dificuldades técnicas das comunicações da época, não permitiram que qualquer pedido de socorro fosse emitido de bordo. Comprimindo-se nas pequenas 17 balsas, 271 homens, muitos dos quais feridos, queimados ou agonizantes, enfrentariam extenuantes e mortais privações. Para os que sobreviveram, o martírio durou quatro longos dias. Na primeira noite, as balsas, que eram mantidas juntas, se dispersaram, ficando apenas seis no grupo chefiado pelo Tenente Torres Dias. Falta de água e alimentos, o frio noturno e o calor diurno insuportáveis, desespero, ataques de tubarões, a insolação, fadiga, delírios, alucinações e a morte foram as companhias desses bravos marujos, até a chegada do Cargueiro Balfe. Um Grupo-Tarefa da Marinha, especialmente mobilizado para as buscas, recolheu, posteriormente, apenas mais oito sobreviventes do grupo cujas balsas haviam se desgarrado. Estavam a bordo do Bahia 372 pessoas: no primeiro choque, e no soçobro, morreram 101 militares, incluindo quatro marinheiros norte-americanos empregados nas comunicações com os aviões em trânsito. Dos 271 homens que alcançaram as 17 balsas, morreram 230 no mar e mais cinco no Balfe. A oficialidade foi a categoria que mais baixas sofreu, em razão de suas acomodações se localizarem na popa, local da explosão. No total, morreram 17 oficiais, 15 suboficiais, 42 sargentos, 224 cabos e marinheiros, 29 taifeiros, cinco fuzileiros navais e quatro marinheiros norte-americanos, num total de 336 mortos. Salvaram-se: um oficial, um suboficial, quatro sargentos, 29 de cabos e marinheiros e um taifeiro, num total de 36 sobreviventes.

Perdas Navais Brasileiras na Segunda Guerra Mundial em Números

Navio / Tonelagem Beligerante Data / Posição Danos e vítimas

1 - Buarque – 5152ton U-432 15.02.1942 / 36º35’N 75º20’W Torpedeado, um morto

2 - Olinda – 5085 ton U-432 18.02.1942 / 37º30’N 75º00’W Bombardeado ou torpedeado, 46 mortos

3 - Cabedelo – 3557 ton Torelli (ita) 25.02.1942 / 16º00’N 49º00’W Torpedeado, toda tripulação perdida, 54

mortos

4 - Arabutan – 7874 ton U-155 07.03.1942 / 35º15’N 73º55’W Torpedeado, um morto

5 - Cairu – 5152 ton U-94 09.03.1942 / 39º10’N 72º02’W Torpedeado, 53 mortos

6 - Parnaíba – 6692 ton U-162 01.05.1942 / 10º12’N 57º12’W Torpedeado, 07 mortos

7 - Cmt Lira – 5052 ton (b) Barbarigo (ita)

18.05.1942 / 02º59’N 34º10’W Torpedeado, 02 mortos

8 - Gonçalves Dias – 4996 ton

U-502 24.05.1942 / 16º09’N 70º00’W Torpedeado, 06 mortos

9 - Alegrete – 5970 ton U-156 01.06.1942 / 13º40’N 61º30’W Torpedeado, toda tripulação perdida, 64

mortos

10 - Paracuri – 300 ton U-159 05.06.1942 / 17º30’N 68º34’W Torpedeado, sem

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181 informações

11 - Não Identificado (*) U-159 Sem informação Torpedeado, sem informações

12 - Pedrinhas – 3666 ton U-203 26.05.1942 / 23º07’N 62º34’W Torpedeado, sem vítimas

13 - Tamandaré – 4942 ton

U-66 26.06.1942 / 11º34’N 60º30’W Torpedeado, 04 mortos

14 - Piave – 2547 ton U-155 28.07.1942 / 12º30’S 55º47’W Torpedeado, um morto

15 - Barbacena – 4772 ton

U-66 28.07.1942 / 13º10’N 56º00’W Torpedeado, 06 mortos

16 - Baependi – 4801 ton U-507 16.08.1942 / 11º50’S 37º00’W Torpedeado, 270 mortos

17 - Araraquara – 4871 ton

U-507 16.08.1942 / 12º00’S 37º09’W Torpedeado, 131 mortos

18 - A. Penévolo – 1904 ton

U-507 16.08.1942 / 11º41’S 37º21’W Torpedeado, 150 mortos

19 - Itagibe – 2055 ton U-507 17.08.1942 / 13º20’S 38º40’W Torpedeado, 36 mortos

20 - Arará – 1075 ton U-507 17.08.1942 / 13º21’S 38º49’W Torpedeado, 20 mortos

21 - Não identificado (*) U-507 17.08.1942 / 13º31’S 38º36’W Torpedeado, sem informações

22 - Jacira – 89 ton U-507 19.08.1942 / 14º30’S 38º40’W Torpedeado, 06 mortos

23 - Osório – 2370 ton U-514 28.09.1942 / 00º13’N 47º47’W Torpedeado, 05 mortos

24 - Lajes – 5578 ton U-514 28.09.1942 / 00º13’N 47º47’W Torpedeado, 03 mortos

25 - Antonico – 1243 ton U-516 28.09.1942 / 06º17’N 52º35’W Torpedeado, 16 mortos

26 - Porto Alegre – 5187 ton

U-504 03.11.1942 / 35º27’S 28º02’W Torpedeado, um morto

27 - Apalóde – 5766 ton U-163 22.11.1942 / 13º11’N 54º39’W Torpdedado, 05 mortos

28 - Brasióide – 6076 ton U-518 18.02.1943 / 12º38’S 37º57’W Torpedeado, sem vítimas

29 - Afonso Pena – 3539 ton

Barbarigo(ita)

02.03.1943 / 16º14’S 36º03’W Torpedeado, 125 mortos

30 - Tutoia – 1125 ton U-513 01.07.1943 / 24º40’S 47º05’W Torpedeado, 07 mortos

31 - Pelotaslóide – 5228 ton

U-590 04.07.1943 / 00º27’S 47º36’W Torpedeado, 05 mortos

32 - Bagé – 8235 ton U-185 01.08.1943 / 11º29’S 36º58’W Torpedeado, 28 mortos

33 - Itapagé – 4965 ton U-161 26.09.1943 / 11º29’S 35º45’W Torpedeado, 22 mortos

34 - Cisne Branco – 299 ton

U-161 28.09.1943 / costa brasileira Torpedeado, 4 mortos

35 - Campos – 4.663 ton U-170 23.10.1943 / 24º07’S 43º50’W Torpedeado, 12 mortos

36 - Vital de Oliveira – 1300 ton (f)

U-861 20.07.1944 / 22º29’S 45º09’W Torpedeado, 99 mortos

37 - Corveta Camaquã — 21.07.1944 / Fernando Noronha

Virou devido ao mar agitado, 33 mortos

38 - Cruzador Bahia — 04.07.1945 / costa brasileira Acidente em exercício de tiro real, 333 mortos

(*)Adimitidos como brasileiros, visto que navegavam bastante próximos à costa, apesar de não identificados.

Notas:

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(a) Ver localização no mapa ao lado; (b) Embora torpedeado, não afundou; (c) O submarino U-159, depois de atacar com artilharia o veleiro Paracuri, atacou, na mesma área, um veleiro menor (150t), pondo-o a pique também a tiros de canhão. Como se tratava de um navio costeiro, a velas, e a região achar-se junto à costa, só poderia se tratar de um navio brasileiro; (d) O submarino U-513 foi afundado 18 dias depois desta ação por um avião Mariner do Esquadrão UP-74, operando de tênder, ao largo de Florianópolis; (e) O U-161, após torpedear o navio Itapagé, avistou o veleiro Cisne Branco a grande distância e junto à costa. Perseguiu-o e o atacou a tiros de canhão. Este foi o último ato de guerra do U-161 — no dia seguinte foi afundado por um avião Mariner do Esquadrão UP-74, baseado em Aratu, Bahia; (f) Navio Auxiliar da Marinha de Guerra (g) As posições 37 e 38 do mapa correspondem aos dois últimos navios que o Brasil perdeu na guerra. A Corveta Camaquã afundou, virada por mar grosso, a 21 de julho de 1944, às 9:00h, morrendo 33 tripulantes. O Cruzador Bahia (38) foi à pique às 9h10min do dia 14 de julho de 1945, a 30 graus Oeste, sobre o Equador, por acidente em exercício de tiro real que atingiu uma de suas bombas de profundidade. Morreram 333 homens no naufrágio, inclusive o seu Comandante, Capitão de Fragata Garcia D'Ávila Pires de Carvalho e Albuquerque; (h) De todos os submarinos atacados pela aviação brasileira, o único que se tem certeza de ter sido afundado foi o U-199. A ação deu-se a 31 de julho de 1943, tendo a embarcação sido atingida por um avião norte-americano ao se aproximar da área do Rio de Janeiro. Convocados pela FAB, um avião A-2 Hudson e um Catalina localizaram o submarino navegando à superfície.

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Contratorpedeiro Mariz e Barros "O Bruxo"

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O USS Brinkley Bass DD-887 da classe Gearing, viria a ser mais tarde o Mariz e Barros D-26 na

Marinha do Brasil

O Mariz e Barros D-26 foi a terceira embarcação da Marinha do Brasil a ostentar esse nome. O primeiro navio foi um encouraçado de origem inglesa, que participou das últimas batalhas da Guerra do Paraguai, com destaque para o bombardeamento de Curupaiti, Humaitá, Angosturas e outros combates, entre 1866 e 1869, o segundo, um contratorpedeiro (D-25), com projeto norte-americano e construído na Ilha das Cobras (RJ). Foi lançado ao mar em 1940 e comissionado em 29 de novembro de 1943. O último CT Mariz e Barros (D-26) foi construído no estaleiro Consolidated Steel Corporation nos EUA, onde recebeu a denominação de USS Brinkley Bass (DD-887) em honra ao Tenente Harry Brinkley Bass morto em uma batalha aérea em uma incursão aliada ao sul da França durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Ele foi lançado ao mar em 26 de maio de 1945 e incorporado à U.S. Navy em primeiro de outubro do mesmo ano em Orange, Texas. Durante suas operações ele participou de alguns eventos memoráveis:

Missão de resgate do USS Onward próximo a Changai em 1946;

Operação Arenito (Sandstone Operation) em Eniwetok em 1948;

Patrulhas marítimas em Tsushina em 1949;

Guerra da Coréia, especificamente nos episódios Wonsan (1951-52), Sonjim e Humgnan em 1952;

Patrulhas marítimas no estreito de Formosa;

Guerra do Vietnã, de 1965 a 1971. Entre junho de 1961 e maio de 1962, o navio passou por um período de modernização chamado FRAM I no estaleiro Puget Sound em Bremerton e alguns de seus armamentos foram substituídos por modernos equipamentos destinados a incrementar a sua ameaça aos submarinos. Em 1964, ele recebeu o novo lançador de foguetes ASROC. No ano seguinte, após sofrer uma colisão na proa, ele retorna novamente aos estaleiros, onde tem a proa substituída por outra um pouco mais longa, tornando-se assim o mais longo navio de sua classe. O USS Brinkley Bass (DD-887) foi comissionado pela Marinha do Brasil em 3 de dezembro de 1973 onde passou a ser chamado de Mariz e Barros, D-26. "O Bruxo", como ficou conhecido, pela presteza, agilidade e eficiência com que desempenhava as sua missões como caçador de submarinos, sendo o seu sonar motivo de orgulho para seus tripulantes, foi incorporado ao então Segundo Grupo da Força de Contratorpedeiros. Através dos anos, todas as tripulações, com dedicação e profissionalismo, honraram o seu passado glorioso, tornando-o uma das mais eficientes unidades de nossa Esquadra.

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O Mariz e Barros D-26 foi um dos dois contratorpedeiros da classe Gearing da Marinha do Brasil, o outro foi o CT Marcílio Dias D-25

Sua prontidão operacional foi posta em teste e confirmada em várias operações navais, como na UNITAS XXXV, em 1994, obtendo uma elevada performance ao lado de modernos meios de combate da U.S. Navy e da Marinha Venezuelana. Na ocasião, a tripulação foi congratulada pelo Comandate-em-Chefe da Força Tarefa Norte Americana, Contra Almirante W. R. Fladd, que proferiu o seguinte comentário: "Eu olho para ele (D-26) com uma incrível nostalgia. É um exemplo genuíno da habilidade de construção naval da América durante a Segunda Guerra Mundial e, mais do que isto, a dedicação e competente manutenção da Marinha do Brasil." Durante o período de novembro de 1994 a fevereiro de 1995, o navio foi enviado ao Arsenal de Marinha (RJ), quando passou por um período de manutenção de rotina e ainda por algumas alterações, para manter a sua operacionalidade junto à Esquadra. Ainda hoje, a sua gloriosa história é relembrada pela Associação USS Brinkley Bass (DD-887) / CT Mariz e Barros (D-26), localizado em Glendora, Califórnia.

Cinqüenta Anos Singrando os Mares

O CT Mariz e Barros (D-26) durante todo seu período operacional atestou ser um navio de superior manobrabilidade e velocidade, cumprindo habilidosamente a sua missão de combate a submarinos. Durante os 50 anos de serviços prestados à U.S. Navy e à Marinha de Brasil, manteve-se contantemente preparado para defender os interesses destes países através de ações de apoio no mar ou em terra.

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186 Na celebração dos 50 anos de "faina" da embarcação, a tripulação concebeu um camisa comemorativa que homenageia o mística de boa sorte adquirida pelo D-26. Membros da Associação USS Brinkley Bass também participaram desta data comemorativa. Brasão do Navio

O emblema é composto por um pentágono feito de cordas de ouro. Em cima, destaca-se a Coroa Naval. Dentro, sobre um campo azul, há uma fortaleza talhada em ouro e peças de artilharia pintados em preto, o qual representa o Forte de Itaipu. Os canhões deste forte que atingiram o passadiço do Tamandaré causando a morte de muitos marinheiros, inclusive o Tenente Mariz e Barros, que é simbolizado pela espada de um Oficial de Marinha partida. Há também um faixa ondulada prateada em alusão ao Rio Prata onde este nobre oficial participou de sua última batalha.

O Adeus

O Mariz e Barros D-26 agora desativado, vai ser usado como navio de treinamento atracado à Base Naval do Rio de Janeiro, na Ilha de Mocanguê (Niterói, RJ)

Em cerimônia realizada na Base Naval da Ilha de Mocanguê (Niterói, RJ), o D-26 Mariz e Barros foi descomissionado exatamente às 10:00 do dia primeiro de setembro de 1997. Tendo completado, durante o período em que esteve comissionado na Marinha do Brasil 1.638 dias de mar e percorrido 424.362,1 milhas

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187 náuticas (785.918,6 km), o Bruxo mostrou as cores de sua bandeira pela última vez, sendo solenemente saudado pelas cornetas e alarmes de todos os navios presentes no porto, que desta forma, davam o seu adeus ao último representante da clássica era dos Contratorpedeiros da Segunda Guerra Mundial. Estiveram presentes, prestigiando "O velho guerreiro", o Comandante-em-Chefe de Operações Navais, Almirante Chagasteles, Almirantes, 15 outros ex-Comandantes do D-26 e seis membros da Associação USS Brinkley Bass DD-887. Tiveram a honra de arriar a bandeira do D-26 Mariz e Barros o seu primeiro comandante, Mauro Affonso Gomes Lages e o seu último comandante, Gilberto Malaquias.

As características do caçador

Comprimento: 119,60m

Boca: 12,49m

Calado: 6,09m

Deslocamento: 3.498 t

Velocidade Máxima: 35 nós (64,82 Km/h)

Radar: Lockheed AN/SPS-40 (busca aérea)

Raytheon Sylvania AN/SPS-10C (busca de superfície)

Western Electric Mk.25 (Direção de Tiro)

Sonar: Sangamo AN/SQS-23D

CIC: Equipado com Terminal de Inteligência Tática

Armamento: 2 reparos duplos de canhões de acionamento rápido de 5 polegadas

(127mm) Mk.38

2 lançadores triplos Mk.32 mod. 3 de torpedos anti-submarino

Mk.44/Mk.46

Um lançador óctuplo de foguetes anti-submarino ASROC

Propulsão: Duas caldeiras Babcock & Wilcox movendo duas turbinas GE de

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188 60.000HP

Tripulação: 18 Oficiais

283 Praças

Comandantes do D-26

Comandante Período:

Início Término

CF Mauro Affonso Lages 03 de dezembro de 1973 25 de fevereiro de 75

CF Oscar de Freitas Camara 10 de outubro de 77 15 de fevereiro de 79

CF Sérgio Martins Ribeiro 15 de fevereiro de 79 16 de fevereiro de 80

CF Edson Gonçalves Moreira 16 de fevereiro de 80 27 de janeiro de 82

CF Luiz Fernando P. Peixoto 27 de janeiro de 82 28 de janeiro de 83

CF Alvaro Américo Pereira 28 de janeiro de 83 06 de fevereiro de 84

CF Paulo Lafayette Pinto 06 de fevereiro de 84 06 de fevereiro de 85

CF Silvio Valente da Silva 06 de fevereiro de 85 12 de fevereiro de 86

CF Mauro M. de Souza Pinto 12 de fevereiro de 86 23 de abril de 87

CF Julio S. de Moura Neto 23 de abril de 87 29 de abril de 88

CF Ralph Rabello de V. Rosa 29 de abril de 88 04 de maio de 89

CF José Eduardo P. de Oliveira 04 de maio de 89 07 de maio de 90

CF Marcelio Carmo C. Pereira 07 de maio de 90 30 de julho de 91

CF Roberto Agnese Fayad 30 de julho de 91 30 de julho de 92

CF Francisco A. Rocha Coelho 30 de julho de 92 30 de julho de 93

CF Dimas Pinheiro da Silva 30 de julho de 93 19 de julho de 94

CF Ricardo Pereira Wolf 19 de julho de 94 18 de julho de 95

CF Arenito Ribeiro Filho 18 de julho de 95 17 de julho de 96

CF Gilberto Malaquias 17 de julho de 96 01 de setembro de 1997

A Guerra contra o Brasil A 7 de agosto, Hitler autorizou o Almirante Doenitz a dar liberdade de manobra aos submarinos que operavam contra o Brasil. O submersível U-507, que se encontrava nas proximidades da costa brasileira, passou então ao ataque dentro das águas territoriais. Os efeitos de sua ação foram devastadores. O Baependi foi sua primeira vítima. Com efeito, às 19 h 10 m de 15 de agosto de 1942, foi alcançado por dois torpedos do U-507, e foi a pique em menos de quatro minutos, sem dar tempo a sua tripulação de colocar-se a salvo. Dos 306 tripulantes e passageiros que iam a bordo, 270 pereceram; entre eles se contavam 124 soldados e oficiais do 7º Grupo de artilharia do Exército brasileiro. Em rápida sucessão, o submarino germânico levou ao fundo o Araraquara, na mesma data, o Aníbal Benévolo, a 16 de agosto, o Itagiba e o Arará, a 17, e o Jacira, no dia 19. O total de vitimas dos seis barcos afundados alcançou a 607, entre tripulantes e passageiros. A 18 de agosto as estações de rádio divulgaram a noticia dos primeiros cinco afundamentos, provocando violenta reação popular. Grandes multidões percorreram as ruas do Rio de Janeiro e outras cidades do País, manifestando seu repúdio pelas selvagens e covardes agressões. O comércio cerrou suas portos e o povo, marchando pelas ruas, dirigiu-se ao palácio de governo entoando o Hino .Nacional e estribilhos patrióticos, inflamado de indignação pelos ataques dos submarinos alemães.

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189 No dia 19, ante imensa ,massa de pessoas congregada em frente ao Palácio Guanabara, o Presidente Vargas declarou que o ataque germânico não ficaria impune. Os navios pertencentes aos países agressores seriam incorporados à frota nacional. os bens dos súditos do Eixo seriam desapropriados. Os Quinta-colunistas e espiões seriam detidos. No dia seguinte os estudantes apresentaram um memorial ao Presidente, oferecendo-se para lutar e pedindo que o Brasil declarasse guerra ao Eixo. Vargas, emocionado, respondeu: "A Pátria é sempre imortal quando sua juventude está disposta a lutar e sacrificar-se par ela". Uma mensagem do Presidente Roosevelt chegou então. Dizia: "Esse ato desprezível e bárbaro, completamente discordante com toda conduta civilizada e cavalheiresca, é totalmente inútil em sua desesperada tentativa de coagir e intimidar o povo livre do Brasil, neste momento de grave ameaça ao respeito, à integridade e ao destine dessa grande nação". A reação do povo brasileiro e dos membros de suas forças armadas era unânime. O General Eurico Gaspar Dutra assim o assinalou em categórica declaração: "Aceitamos os fatos como nos foram impostos e, em revide, empregaremos nossas forças em sua totalidade para repelir a agressão sem temor e com energia. Nenhum dos filhos do Brasil faltará ao seu dever nesta hora". A 21 de agosto, o Ministro das Relações Exteriores Oswaldo Aranha enviou uma nota aos governos da Alemanha e Itália, no qual lhes anunciava que em virtude dos atos de guerra levados a cabo contra o Brasil, se produzira uma situação de beligerância a que o Brasil se via forçado a aceitar em defesa de sua dignidade, de sua soberania, da própria segurança, e da segurança da América. No dia seguinte o Governo resolveu oficialmente a declaração de guerra. A noticia foi comunicada imediatamente pelas estações de rádio de todo o país: "O senhor Presidente da República reuniu hoje o Gabinete, havendo conferenciado com todos os ministros. Ante a comprovação dos atos de guerra contra nossa soberania, foi reconhecido o estado de beligerância entre o Brasil e as nações agressoras, Alemanha e Itália". Desta forma, o Brasil ocupou o seu posto de luta ao lado dos países que combatiam em defesa da liberdade e da democracia.

A Defesa do Nordeste Brasileiro Devemos ao Gen. Leitão de Carvalho, Comandante-em-Chefe do teatro de operações do Nordeste, as primeiras medidas destinadas a aparelhar o território nacional contra possível agressão do Eixo. O plano do Gen. Leitão de Carvalho, apresentado a 30 de maio de 1942, sob o titulo "ORGANIZAÇÃO DA DEFESA DO TERRITÓRIO, ESTUDO E PROPOSTA", foi o seguinte: Inimigo: O adversário que teríamos de enfrentar, se a guerra viesse até o nosso continente, estava definido desde que o governo brasileiro rompeu as relações com as potências do Eixo: seriam a Alemanha, a Itália e o Japão. ,Que natureza de hostilidades poderiam praticar contra o país, ou seus interesses, e a partir de que momento? O torpedeamento dos navios mercantes brasileiros havia começado antes da ruptura das relações. Mas o ataque ao nosso território, ou a outros pontos do continente, dependia de circunstâncias favoráveis e de tempo. Na investigação das possibilidades desse ataque, consideramos somente o grupo ítalo-germânico, excluído o Japão. O inimigo poderia desenvolver seus esforços progressivamente, iniciando-os, desde logo, com ações de curso ou ataques submarinos. Terreno: A parte do território brasileiro mais exposta a um ataque do inimigo era, como já assinalamos, a região litorânea que se estende da Bahia ao Maranhão, muito particularmente Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, onde se localizavam as bases aéreas e navais de que se serviam as forças americanas encarregadas de manter o domínio do Atlântico Sul. Os meios: No nosso caso, se tomássemos por base a extensão da costa a ser defendida (decisão só admissível como primeiro passe no exame analítico da questão) dela abatendo as zonas passivas do terreno, e comparássemos essa extensão com os dados empíricos adotados nos nossos regulamentos para as frentes normais das unidades no combate em largas frentes, protegidas por obstáculos (3 km por batalhão), chegaríamos a um número tão grande de batalhões que o país não estaria em condições de formar.

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190 Reconhecida inaceitável essa norma de proceder, poderíamos recorrer a outra, tendo por base a organização defensiva da região em centros de resistência, com intervalos, dispondo de reservas móveis, para atender às ações intentadas através deles. Conclusões: 1º - A defesa da região nordestina e, por conseqüência, a defesa do continente americano contra uma agressão dos países do Eixo (particularmente a Alemanha), resumia-se na defesa do triângulo Natal - Fernando de Noronha - Recife. 2º - Era um problema em evolução, podendo a solução exigir consequentemente aumento constante de meios, conforme o desenvolvimento do conflito europeu. 3º - Seria muito difícil levar para a região reforços importantes no momento da luta, o que obrigava tê-los reunidos no local com antecedência. 4º - Toda operação empreendida pelo inimigo, nesse teatro, teria de ser precedida de uma forte ação aeronaval. 5º - Qualquer que fosse a operação intentada pelo inimigo só poderia produzir resultados compensadores depois que este conseguisse o domínio das bases aéreas e navais, onde estavam localizados os órgãos protetores da navegação no Atlântico Sul. 6º - Finalmente, de posse dessas bases, poderia o inimigo forçar-nos a tomar uma decisão contrária à segurança do continente americano. Apoiando-nos nessas conclusões, pudemos formular o nosso PLANO DE MANOBRA, compreendendo a IDÉIA DE MANOBRA e a REPARTIÇÃO DAS FORÇAS. Idéia de manobra: A defesa do Nordeste far-se-ia mediante grupamentos de forças concentradas em torno dos portos marítimos e das bases aéreas da região, competindo a esses grupamentos: Impedir o estabelecimento de bases aéreas ou navais, pelo inimigo, em qualquer ponto do território. Vigiar atentamente a costa, a fim de assinalar, sem demora, a aproximação de forças inimigas capazes de tentar ações de desembarque ou empreendimentos corsários. O desempenho dessa missão importaria em: Manter a todo custo as bases aeronavais de Natal e Recife. Impedir o estabelecimento do inimigo no arquipélago de Fernando de Noronha. Repelir todo elemento inimigo que tentasse efetuar desembarque no continente e, no caso de realizar-se, destroçá-lo antes que ai se pudesse instalar. Manter forte massa de manobra, capaz de ir em socorro de Natal ou de Recife e, eventualmente, completar o aniquilamento do inimigo, iniciado, em qualquer ponto, pela aeronáutica. Repartição das Forças I - Forças terrestres: Natal: A defesa da região exigiria, no mínimo: Um núcleo de 6 batalhões. Uma reserva móvel, de reforço, com 2 a 3 batalhões. Uma artilharia de apoio à infantaria, compreendendo 2 grupos. Artilharia para a defesa da costa, 2 grupos, um móvel e um fixo. Defesa antiaérea, 3 grupos de defesa-alta e 3 de defesa-baixa. Um grupo de reconhecimento (regimento de cavalaria motorizado). Recife: Exigia, no mínimo: Um núcleo de 6 a 7 batalhões. Uma reserva móvel de 2 a 3 batalhões. Artilharia de apoio à infantaria, 3 grupos. Artilharia para a defesa da costa, 2 grupos, um móvel, outro fixo.

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191 Defesa antiaérea, 3 grupos de defesa-alta e 2 de defesa-baixa. Um grupo de reconhecimento (regimento de cavalaria motorizado). João Pessoa: 2 a 3 batalhões. Um grupo de apoio. 1 a 2 baterias de costa. Um grupo antiaéreo, contra vôo-baixo. Maceió: 2 a 3 batalhões. 1 grupo de apoio. 1 a 2 baterias de costa. 1 grupo antiaéreo contra vôo-baixo. Fortaleza: 3 batalhões de infantaria. ' 1 grupo de apoio. 1 a 2 baterias de artilharia de costa. 2 grupos de defesa antiaérea (um contra vôo-alto, outro contra vôo-baixo). Parnaíba: 1 batalhão de infantaria. 1 bateria de artilharia de costa. São Luís: 2 a 3 batalhões de infantaria. 1 grupo de apoio. 1 a 2 batarias de artilharia de costa. 1 grupo de defesa antiaérea contra vôo-baixo. Fernando de Noronha: 2 a 3 batalhões de infantaria. 1 a 2 grupos de artilharia de apoio. 2 grupos de artilharia de costa (um fixo, outro móvel). 2 grupos de defesa antiaérea, um contra vôo-alto, outro contra vôo-baixo. II - Forças Aéreas: Natal e Recife (para cada uma dessas bases): Um grupo de caça. 1 grupo de bombardeiros médios. 1 esquadrilha de reconhecimento. 1 esquadrilha de aviões anfíbios de reconhecimento. 1 esquadrilha de aviões de transporte, médios ou pesados. Fortaleza e Maceió (Para cada base): 1 esquadrilha de reconhecimento. 1 esquadrilha de anfíbios. 1 esquadrilha de caça. 1 esquadrilha de bombardeiros médios. São Luís e Salvador (para cada uma) : 1 esquadrilha de reconhecimento. Fernando de Noronha:

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192 1 esquadrilha de anfíbios. 1 esquadrilha de caça. 1 esquadrilha de bombardeiros médios. III - Forças Navais: O cálculo dos elementos necessários à operação teria de ser feito mediante entendimento com as autoridades da Marinha. No entanto, a título de sugestão, alvitramos as seguintes medidas: a) Patrulhamento da costa, particularmente: A foz do Parnaíba A baia da Traição Macau Areia Branca Ilha de Itamaracá Barra do São Francisco b) Meios para dar caça aos submarinos. c) Meios para proteger as comunicações entre Natal, Recife e Fernando de Noronha.

Declaração De Guerra Nota enviada pelo Ministro das Relações Exteriores do Brasil aos governos da Alemanha e Itália pela qual anunciou a declaração de guerra.

"21 de agosto de 1942. Senhor Ministro: A orientação pacifista da política internacional do Brasil manteve-o, até agora, afastado do conflito em que se debatem quase todas as nações inclusive deste hemisfério. Apesar das declarações de solidariedade americana, votadas na Oitava Conferência de Lima, e na Primeira, Segunda e Terceira Reuniões de Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, efetuadas, respectivamente, no Panamá, 1939, em Havana, 1940, e no Rio de Janeiro, 1942, não variou o Governo brasileiro de atitude, embora houvesse sido, insolitamente, agredido o território dos Estados Unidos da América, por forças do Japão, seguindo-se o estado de guerra entre aquela República irmã e o Império agressor, a Alemanha e a Itália.

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193 Entretanto a Declaração XV da segunda daquelas reuniões, consagrada pelos votos de todos os Estados da América, estabeleceu "Que todo atentado de um Estado não americano contra a integridade ou a inviolabilidade do território e contra a soberania ou independência política de um Estado americano será considerado como um ato de agressão ao Brasil, determinando a nossa participação no conflito e não a simples declaração de solidariedade com o agredido, seguida algum tempo depois, da interrupção das relações diplomáticas com os Estados agressores". Sem consideração para com essa atitude pacifica do Brasil e sob o pretexto de que precisava fazer guerra total à grande nação americana, a Alemanha (Itália) atacou e afundou, sem prévio aviso, diversas unidades navais mercantes brasileiras, que faziam viagens de comércio, navegando dentro dos limites do "mar continental", fixados na Declaração XV do Panamá. A esses atos de hostilidade, limitamo-nos a opor protestos diplomáticos tendentes a obter satisfações e justa indenizações, reafirmando porém nesses documentos propósitos de manter o estado de paz. Maior prova não era possível da tolerância do Brasil e de suas intenções pacificas. Ocorre, porém, que agora, com flagrante infração das normas de Direito Internacional e dos mais comezinhos princípios de humanidade, foram atacados, na costa brasileira, viajando em cabotagem, os vapores Baependi e Aníbal Benévolo (do Lóide Brasileiro, Patrimônio Nacional), o Arará e o Araraquara (do Lóide Nacional S.) e o Itagiba (da Cia. Navegação Costeira), que transportavam passageiros, militares e civis, e mercadorias, para portos do Norte do país. Não há como negar que a Alemanha (Itália) praticou contra o Brasil atos de guerra, criando uma situação de beligerância que somos forçados a reconhecer na defesa da nossa dignidade, da nossa soberania e da nossa segurança e da América. Em nome do Governo brasileiro, peço, Senhor Ministro, se digne Vossa Excelência levar esta declaração ao conhecimento do Governo alemão (italiano) para os devidos efeitos. Aproveito a oportunidade para renovar a Vossa Excelência os protestos da minha alta consideração.

OSWALDO ARANHA Ministro das Relações Exteriores do Brasil"

Ataque ao U-199 pelo Arará, por Álvaro Martins

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53 Anos de Heroísmo e Tradição O 1º Grupo de Aviação de Caça, sediado na Base Aérea de Santa Cruz, Rio de Janeiro, completou 53 anos de existência. A unidade foi criada em 18 de dezembro de 1943, ou seja, um ano e quatro meses após a declaração de guerra do Brasil aos países do eixo. Para comandá-lo foi nomeado o então Major Aviador Nero Moura, atualmente o "Patrono da Aviação de Caça" da FAB. A verdadeira história desta unidade se iniciou quando o seu comandante, juntamente com o "Pessoal-Chave" foram deslocados para a Escola de Tática, em Orlando, Flórida. Enquanto isso, o restante dos voluntários da unidade seguiu para a Base Aérea de Aguadulce no Panamá. Durante a permanência em Aguadulce, todos os pilotos realizaram o curso de caça a bordo de aeronaves P-40, inclusive os que haviam ido para Orlando. Após o treinamento todos se engajaram nas missões de defesa do Canal do Panamá até 22 de junho de 1944. Em uma destas missões o 2º Tenente Aviador Dante Isidoro Gastaldoni veio a falecer. Terminada esta primeira fase, todos os pilotos foram transferidos para Suffolk, Long Island, a fim de se adaptarem ao avião que iria equipar o Grupo de Caça na campanha da Itália: o Republic P-47 "Thunderbolt". Este Caça-Bombardeiro dispunha de um motor de 2.000 HP, 8 metralhadoras .50, com uma cadência de 7.200 tiros por minuto, podendo levar foguetes e bombas de até 1.000 libras em cada asa. Dependendo da configuração empregada, o P-47 ultrapassava o peso de um Douglas C-47. Encerrada a adaptação ao novo caça, os pilotos embarcaram em Patrick Henry, Virgínia, no dia 19 de setembro de 1944, no navio de transporte americano UST Colombie, com destino a Itália. O desembarque se deu em Livorno, a 6 de outubro de 1944 , sendo todo o efetivo imediatamente transferido para a Base Aérea de Tarquínia. O Grupo de Caça passou então a integrar o 350th Figther Group (USA), com a denominação de 1st Brazilian Fighter Squadron. Durante a primeira cerimônia de hasteamento da bandeira brasileira em Tarquínia, o Comandante do Grupo de Caça, então Major Aviador Nero Moura, raro exemplo de dignidade e coragem, dotado , ainda, de profundo sentimento de solidariedade humana, por isso atual "Patrono da Aviação de Caça" da FAB, disse em sua ordem do dia, com o ardor de quem ama e respeita este país: "Na história dos povos coube-nos, assim, a honra de sermos a primeira Força Aérea sulamericana que cruzou oceanos e veio alçar as suas asas sobre os campos de batalhas europeus. Antes de entrar em ação, aqui no velho mundo, o 1º Grupo de Caça cumpre o sagrado dever de plantar em território inimigo a Bandeira do Brasil. Camaradas: para frente, para a ação, com o pensamento fixo na imagem da Pátria, cuja honra e integridade juramos manter incólumes. Cumpre-nos tudo enfrentar, com fortaleza de ânimo, a fim de manter intacto esse tesouro jamais violado: a honra do soldado brasileiro! E nós o faremos, custe o que custar." Ao Grupo foi designado o código rádio de JAMBOCK. Segundo um levantamento feito pelo Maj. Brig Rui Moreira Lima, também piloto do Grupo na Itália e autor do famoso livro "Senta a Pua!", este nome é oriundo da África do Sul e significa um tipo de chicote confeccionado com o couro do rinoceronte. Entretanto, a famosa gíria "Senta a Pua!", tradicional no nordeste daqueles tempos, se incorporou naturalmente aos homens do Grupo de Caça. Passou a ser o grito de guerra da unidade até os dias de hoje. Durante a permanência em Tarquínia o Grupo de Caça perdeu em 6 de novembro, o seu primeiro piloto, em missão de ataque a região de Bolonha: o 2º Tenente John Richardson Cordeiro e Silva. Em 4 de dezembro de 1944, a unidade brasileira foi deslocada para a Base Aérea de San Giusto, em Pisa, 200 Km ao norte de Tarquínia e bem mais próxima das linhas inimigas no norte da Itália. Em momento algum o Grupo de Caça deixou de operar durante esta transferência. Os aviões decolavam de Tarquínia para as missões de ataque e já pousavam na nova Base de Pisa. Segundo o relato do Comandante do Grupo, Brig Nero Moura, o pessoal de apoio terrestre teve um desempenho fundamental na realização impecável desta operação. O auge das missões ocorreu no dia 22 de abril de 1945. Data que até hoje é comemorada como o "DIA DA AVIAÇÃO DE CAÇA". Somente neste dia foram realizadas 11 missões de 44 sortidas, com apenas 22 pilotos. Vale ressaltar que durante toda a campanha da Itália o 1º Grupo de Aviação de Caça jamais recebeu qualquer piloto para substituir aqueles que ultrapassavam a média de 60 missões. Já os pilotos americanos após realizarem a 35ª missão regressavam aos Estados Unidos para um descanso obrigatório. No período

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195 de 6 a 29 de abril de 1945, o Grupo de Caça Brasileiro voou 5% do total das saídas executadas pelo XXII Comando Aerotático e no entanto, dos resultados obtidos por este Comando, foram oficialmente atribuídos aos brasileiros 15% dos veículos destruídos, 28% das pontes destruídas, 36% dos depósitos de combustível danificados e 85% dos depósitos de munição danificados. Alguns dos trechos da Proposta de Citação Presidencial de Unidade enviado pelo Comandante do 350th Fighter Group, Coronel Ariel Nielsen, ao XXII Comando Aerotático, resumem fielmente as atividades do Grupo de Caça nesta fase da guerra: " Proponho-vos seja o 1º Grupo de Caça Brasileiro citado pelos relevantes feitos realizados no conflito armado contra o inimigo, no dia 22 de abril de 1945. Este Grupo entrou em combate numa época em que era máxima a oposição da antiaérea aos çaças-bombardeiros. Suas perdas têm sido constantes e pesadas e têm tido poucas substituições. À medida que se tornaram menos numerosos cada um passou a voar mais, expondo-se com maior freqüência. Mesmo assim, em várias ocasiões, tive que refreá-los quando queriam continuar voando, porque considerei que já haviam ultrapassado o limite de resistência. A perícia e a coragem demonstradas nada deixam a desejar. chamo-vos a atenção para a explêndida exibição do seu excelente trabalho contra todas as formas de interdição e coordenação de alvos. Em minha opinião, seus ataques na região de San Benedetto, no dia 22 de abril de 1945, ajudaram a preparar o caminho para a cabeça de ponte estabelecida pelos Aliados, no dia seguinte, na mesma região. A fim de completar isso, o 1º Grupo de Caça Brasileiro, em seus feitos, excedeu os de todos os outros Grupos e sofreu sérias perdas. Acredito estar refletindo o sentimento de todos os que conheceram o trabalho do 1º Grupo de Caça Brasileiro, ao recomendar que eles recebam a Citação Presidencial de Unidade (PUC - Presidential Unit Citation). Tal citação é, não só meritória, mas tornar-se-ia carinhosa à lembrança dos brasileiros, na comemoração dos esforços que foram desenvolvidos neste Teatro de Operações." A condecoração acabou não sendo oficializada após a guerra, pois este tipo de comenda somente é atribuída a unidades americanas e de tamanho superior ao do Grupo de Caça. Esta grande injustiça só foi reparada 41 anos após o final da 2ª Guerra Mundial. No dia 22 de abril de 1986, por determinação do então Presidente dos USA, Ronald Reagan, o 1º Grupo de Aviação de Caça, recebeu durante as comemorações do "Dia da Aviação de Caça", realizada anualmente na Base Aérea de Santa Cruz, a merecida Citação Presidencial Americana. Somente uma unidade inglesa que lutou durante a Batalha da Inglaterra detém, juntamente com o Grupo de Caça, a honra de possuir tal distinção. Infelizmente, por motivos até hoje desconhecidos, os atuais integrantes do 1º Grupo de Aviação de Caça estão proibidos de usar tão importante condecoração. Esta proibição inclui também o estandarte da unidade. Condecoração PUC (Presidential Unit Citation) A FAB teve uma outra unidade aérea participando da campanha da Itália. Era a 1ª Esquadrilha de Ligação e Observação (1ª ELO), que tinha a missão de fazer observação, reconhecimento aéreo, e regulagem de tiro, em proveito da Artilharia Divisionária pertencente a Força Expedicionária Brasileira (FEB). A guerra na Itália se encerrou em 2 de maio de 1945. O Grupo de Caça no período que alí permaneceu teve 22 baixas. Cinco pilotos foram mortos abatidos pela artilharia anti-aérea, oito tiveram seus aviões abatidos e saltaram de pára-quedas sobre o território inimigo(sendo que três deles foram aprisionados em campos de concentração alemães e libertados pelos aliados ao final da guerra), seis foram afastados de vôo por indicação médica devido a esgotamento físico e três faleceram em acidentes de aviação. Segue abaixo um pequeno sumário estatístico das atividades do 1º Grupo de Aviação de Caça durante a campanha na Itália: Total das missões executadas 445 Total de saídas ofensivas 2546

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196 Total de saídas defensivas 4 Total de horas de vôo em operações de guerra 5465 Total de horas de vôo realizadas 6144 Total de bombas lançadas 4442 Bombas incendiárias (F.T.I) 166 Bombas fragmentação (260 lbs) 16 Bombas fragmentação (90 lbs) 72 Bombas demolição (1.000 lbs) 8 Bombas demolição (500 lbs) 4180 Total de munição calibre .50 1.180.200 Total de foguetes lançados 850 Total de litros de gasolina consumida 4.058.651 As operações de guerra foram encerradas e a grande maioria do pessoal do Grupo de Caça foi embarcada no navio transporte americano General Meighs, no porto de Nápolis, no dia 6 de julho de 1945. Chegaram ao Brasil, no cais da Praça Mauá, Rio de Janeiro, em 18 de julho. Caças P-47 "THUNDERBOLT", num total de 19, liderados pelo Ten Cel Av Nero Moura, foram transladados de Kelly Field, Texas, para o Brasil. Estes aviões faziam parte de um estoque existente nos USA e que seria enviado para a Itália, a fim de recompletar as perdas em combate. Realizaram diversas passagens aéreas sobre o Rio de Janeiro antes de pousarem no Campos dos Afonsos, Rio de Janeiro, no dia 16 de julho de 1945. Desde a sua criação, o 1º Grupo de Aviação de Caça operou as seguintes aeronaves: P-40, P-47 "Thunderbolt", T-6 North American, F-8 "Gloster Meteor" (primeiro avião a jato a voar no Brasil), T-33/F-80 "Shooting Star" e AT-26 "Xavante". Atualmente opera os supersônicos F-5E "Tiger II" da Northrop. O legado deixado pelos heróis do Grupo de Caça na Itália serviu de alicerce para a formação dos futuros pilotos de caça da FAB e, com certeza, foi o principal responsável pelo surgimento da verdadeira mentalidade guerreira da Força Aérea Brasileira. A eles tudo devemos.

História da Força Aérea Brasileira O 1º Grupo de Aviação de Caça na Itália, 1944-1945

Ten.-Cel.-Av. Nero Moura

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197 O 1ºGAvCa foi formado em 18 de dezembro de 1943, composto por pilotos da FAB, voluntários. Seu Oficial Comandante foi o Ten.-Cel.-Av. Nero Moura. O Grupo tinha um efetivo de 350 homens, incluindo 43 pilotos, e foi enviado ao Panamá para ser treinado como unidade de caça pela USAAF, uma vez que seus pilotos já tinham experiência de vôo -- um de seus pilotos, 2º Ten.-Av. Alberto M. Torres, afundou o U-199. No Panamá, o Grupo sofreu sua primeira baixa -- o 2º Ten.-Av. Dante Isidoro Gastaldoni morreu quando seu P-40C chocou-se contra o solo. No dia 11 de maio de 1944, o Grupo foi declarado operacional e enviado aos EUA para um curso de conversão operacional no Republic P-47D Thunderbolt, avião que iria equipar o Grupo. O 1ºGAvCa embarcou para a Itália em 19 de setembro de 1944, chegando em Livorno no dia 6 de outubro. Juntamente com os 345th, 346th and 347th Fighter Squadrons (USAAF), o 1ºGAvCa formou o 350th Fighter Group USAAF, sob o comando operacional da 62 Fighter Wing, XXII Tactical Air Command, 12th Air Force (USAAF). Em ação! Os pilotos brasileiros voaram inicialmente, a partir de 31 de outubro de 1944, como elementos de esquadrilhas dos esquadrões norte-americanos do 350th FG. A partir do dia 11 de novembro, o Grupo passou a montar suas próprias operações, voando a partir de sua base em Tarquinia, usando o indicativo de chamada Jambock. O Grupo era dividido em quatro esquadrilhas, Vermelha, Amarela, Azul e Verde. Cada esquadrilha era composta por 12 pilotos aproximadamente, os quais vovam em conjunto desde o seu treinamento no Panamá. Um piloto usava costumeiramente uma "écharpe" nas cores de sua esquadrilha. O comandante do Grupo e alguns outros oficiais não eram ligados a qualquer esquadrilha. O esquema de cores do P-47D Thunderbolt Inicialmente, os P-47D eram pintados nas cores padrão dos caças americanos, em "olive-drab" nas superfícies superiores e "neutral gray" nas inferiores, com demarcação ondulada (à exceção dos aviões do comandante e do oficial de operações, os quais tinham acabamento em metal natural, com painéis anti-brilho em "olive-drab"). A bolacha do Grupo era pintada imediatamente depois do capô do motor, e o código do avião em letras brancas sobre o capô. A insígnia nacional era em quatro posições, consistindo da insígnia azul e branca norte-americana, com estrela branca substituída pela estrela brasileira. Os aviões recebidos posteriormente, em substituição àqueles abatidos e/ou avariados, eram em cor natural, com painéis anti-brilho em "olive-drab" e inscrições em preto (clique aqui para algumas fotografias dos P-47D brasileiros.) O pessoal de terra Em qualquer unidade aérea de combate, o pessoal de terra - mecânicos, armeiros, técnicos em rádio, inteligência, intendentes, médicos e enfermeiros - são aqueles que fazem com que um punhado de homens - os pilotos - possam desempenhar as missões a eles atribuídas. Soldado Navarro. Também assim foi com o 1ºGAvCa, que valeu-se de mais de 300 homens para garantir o funcionamento da unidade. Comandados pelo Maj.-Av. Marcilio Gibson Jacques, homem de extrema capacidade de organização e comunicação com a tropa, enfrentaram com determinação toda a sorte de desafios trazidos pela guerra - como resultado, o 1ºGAvCa foi uma das unidades que apresentou os maiores índices de disponibilidade de equipamento durante a campanha. Cap. Moraes, SO Ramos, Ten. Luthero e Tenentes Judith, Isaura, Ocimara, Regina e Diva. Também foi enviado à Itália um grupo de oficiais médicos e enfermeiras da FAB, entre eles o Ten.-Med. Luthero Vargas, filho de Getúlio Vargas, à época presidente do Brasil. Alguns dos médicos serviram no US 12th General Hospital, em Livorno, enquanto o Cap.-Med. Thomas Girdwood operou com o Grupo - foi o primeiro "médico de esquadrão" da FAB, apesar de tal função não existir à época. Já as enfermeiras - 2º Tenentes Isaura, Antonina, Judith, Ocimara, Regina e Diva - acompanharam o 1ºGAvCa desde o treinamento nos E.U.A. até o final da guerra. A canção do 1ºGAvCa

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198 Durante o Carnaval de 1945, após uma missão sobre Veneza, alguns pilotos do Grupo criaram a canção "Carnaval em Veneza", a qual passou a ser cantada por todos os pilotos de caça brasileiros após o término da guerra. Missões de combate Os pilotos brasileiros haviam sido treinados nos EUA para operações de caça -- mas quando o 1ºGAvCa chegou à Itália, as atividades da Luftwaffe naquele teatro de operações eram quase inexistentes! Assim foi que o 1ºGAvCa iniciou suas atividades como uma unidade de caça-bombardeiro, em missões de reconhecimento armado e interdição, em suporte ao 5º Exército Norte-Americano, ao qual a Força Expedicionária Brasileira estava ligada. No dia 16 de abril de 1945, o 5º Exército norte-americano iniciou sua ofensiva ao longo do rio Pó. Nesta data, o Grupo estava reduzido a 25 pilotos, alguns tendo sido mortos em combate e alguns outros, abatidos atrás das linhas inimigas, tendo sido capturados. Além disso, alguns pilotos haviam sido proibidos de voar em função da fadiga causada pelas missões de combate. Com isso, a esquadrilha Amarela foi desativada, com os seus pilotos remanescentes tendo sido redistribuídos entre as demais esquadrilhas. Cada piloto voava em média duas missões diárias. No dia 19 de abril, o "front" alemão foi quebrado; tal fato, de grande importância, foi primeiro detectado por uma patrulha do Grupo e comunicado ao QG. As forças Aliadas necessitavam agora estabelecer uma cabeça de ponte sobre o Pó, antes que as forças alemãs em retirada o cruzassem. Isto seria realizado no dia 23 de abril, após as defesas alemãs sofrerem interdição aérea no dia anterior.

O 22 de abril de 1945 - Dia da Aviação de Caça O dia amanheceu frio, encoberto e com nevoeiro. As tres esquadrilhas do Grupo levantaram vôo a partir das 8h30min a intervalos de 5min entre cada uma, a fim de atacar alvos na região de San Benedetto, destruindo pontes, balsas e veículos motorizados. Cerimônia militar comemorando o dia 22 de abril de 1945 na Base Aérea de Santa Cruz (BASC); um P-47D é exibido orgulhosamente, atrás do Estandarte de Guerra do 1ºGAvCa. Às 10h00min, uma esquadrilha levantou vôo para uma missão de reconhecimento armado ao sul de Mantua, destruindo mais de 80 caminhões e veículos. Outros aviões do Grupo atacaram posições fortificadas alemãs, tanques e balsas. Ao final do dia, o Grupo havia voado 44 missões individuais, tendo destruído mais de 100 veículos e outros alvos. Dois P-47s foram avariados pela "Flak" e um terceiro foi abatido, tendo sido capturado pelas forças alemãs o 2º Ten.-Av. Armando de S. Coelho. Esse foi o dia no qual foram despachadas o maior número de missões de combate pelo Grupo, e por isso é comemorado a cada ano como o Dia da Aviação de Caça. Os resultados O 1ºGAvCa voou um total de 445 missões, 2.550 missões individuais e 5.465 horas de vôo em combate, de 11 de novembro de 1944 a 8 de maio de 1945. O "XXII Tactical Air Command" reconheceu a eficiência exibida pelo Grupo, atestando que, no período entre 6 e 29 de abril de 1945, ele voou apenas 5% do total de missões efetuadas por todos os grupos sob seu controle, porém destruiu • 85% dos depósitos de munições, • 36% dos depósitos de combustível, • 28% das pontes (19% danificadas), • 15% dos veículos motorizados (13% danificados) e • 10% dos veículos hipomóveis (10% danificados). Os feitos do 1ºGAvCa durante a Campanha da Itália foram ainda mais enaltecidos no dia 22 de abril de 1986. Nesse dia o Grupo recebeu, das mãos do Sr. Embaixador dos EUA no Brasil, acompanhado do Secretário da Força Aérea dos EUA, a Presidential Unit Citation (Air Force), concedida pelo governo norte-americano. É

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199 para nós motivo de orgulho sabermos que, à parte outras poucas unidades da USAF, apenas o 1ºGAvCa e uma unidade da Royal Air Force foram agraciadas com tal comenda. "Seus feitos permanecerão vivos enquanto os homens voarem. Suas vitórias, no campo de batalha, estarão em nossos corações enquanto os homens honrarem o heroísmo e a coragem." E. Aldridge Jr., Secretário da USAF, quando da entrega da Presidential Unit Citation ao 1ºGAvCa [2].

Aviação de Patrulha

Àqueles que com sua vibração, garra e determinação elevaram mais alto a bandeira do Brasil,

defendendo nossos mares do ataque covarde dos submarinos inimigos, dando-nos o testemunho real daquilo que

só aqueles que verdadeiramente amam a sua terra, podem fazer sem nada lhe cobrar!

A história da Aviação de Patrulha da FAB remonta aos dias sombrios de 1942. O Brasil era então um país neutro, cuja colaboração os países aliados cobiçavam, de forma a poderem controlar o tráfego marítimo no Atlântico Sul, incluindo a tão importante passagem entre Natal e Dakar (noroeste da África). Além disso, temia-se que forças do Eixo ocupassem Dakar (cidade controlada pelo governo colaboracionista francês de Vichy), de onde poderiam bloquear a passagem de navios aliados e atacar o território brasileiro. Após o início da guerra, os países americanos decidiram criar uma zona de neutralidade ao longo de suas costas, de forma a proteger a sua navegação. De pronto a FAB iniciou patrulhas marítimas, porém a falta de material adequado obrigou-a a utilizar aviões NA T-6 e Vought V-65B Corsair; o primeiro, avião de treinamento (armado com metralhadoras e bombas de contato) e, o segundo, um biplano da década de 30. Ambos eram monomotores, o que tornava as missões sobre o mar ainda mais perigosas; é hoje sabido, no entanto, que a simples presença física desses aviões impediram muitos ataques de submarinos, conforme informações obtidas dos comandantes de submarinos inimigos e documentos oficiais. De forma a re-equipar a sua recém-nascida Força Aérea, a qual não possuía aviões modernos, o Brasil procedeu à compra de aviões norte-americanos, os quais começaram a chegar ao Brasil em 1942. No primeiro lote, doze caças Curtiss P-36, dois Douglas B-18 e seis NA B-25 Mitchell foram recebidos e baseados em Fortaleza, onde uma unidade de treinamento da FAB havia sido formada - o Agrupamento de Aviões de Adaptação - com auxílio de pessoal das Forças Aéreas do Exército dos EUA (USAAF). Deve-se relembrar a figura do Brig. Eduardo Gomes, então comandante das 1ª e 2ª Zonas Aéreas (cobrindo as regiões norte e nordeste do país), pois seu empenho em obter modernos aviões para a FAB foi decisivo para o reequipamento da mesma. Em dezembro daquele ano, os primeiros dez A-28A Hudson chegaram, com outros 16 sendo recebidos no mês seguinte; em março de 1943 chegou o último Hudson a ser recebido pela FAB. Estes aviões foram baseados em Natal, Recife e Salvador. No início de 1942 o Brasil cortou relações diplomáticas com os países do Eixo e imediatamente após cinco navios brasileiros foram torpedeados e afundados. Os primeiros submarinos a realizarem ataques na costa brasileira foram os italianos "Calvi", "Barbarigo", "Capellini" e "Archimede", baseados em Bordeaux, França. Durante os meses de maio, junho e julho, oito outros navios foram afundados por submarinos alemães, com o objetivo de interromper o fornecimento aos EUA de materiais estratégicos produzidos no Brasil. As tabelas disponíveis a seguir apresentam dados relativos a: • Navios brasileiros atacados por forças da Alemanha e Itália, 1942-1945 • Destino dos submarinos alemães que afundaram navios brasileiros ou foram atacados pela FAB, 1942-1945 O primeiro ataque efetuado por uma tripulação brasileira a um submarino alemão foi no dia 22 de maio de 1942. Um B-25 Mitchell, do Agrupamento de Aviões de Adaptação, sediado em Fortaleza, encontrava-se em patrulha nas imediações do arquipélago de Fernando de Noronha e do Atol das Rocas, onde quatro dias antes havia sido afundado o navio mercante brasileiro "Comandante Lyra", pelo submarino italiano "Barbarigo".

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200 Às 14 horas, a tripulação do B-25 - sob o comando do Cap.-Av. Parreiras Horta (FAB) e composta pelos Cap.-Av. Pamplona (FAB), 1st Lt. Schwane (USAAF), Sgt. Yates (USAAF), S/Sgt. Tyler (USAAF) e S/Sgt. Robinson (USAAF) - surpreendeu um submarino alemão navegando na superfície, o qual imediatamente reagiu com forte tiro de artilharia antiáerea à presença do B-25. De acordo com as ordens então em vigência, uma vez que o Brasil encontrava-se em estado de neutralidade, as tripulações só poderiam engajar unidades inimigas caso fossem atacadas inicialmente. Assim sendo, a tripulação do Mitchell lançou suas cargas de profundidade, as quais caíram próximas ao submarino - a foto à direita mostra a tripulação do B-25 após o ataque. Cinco dias após, outros dois B-25 da mesma unidade da FAB efetuaram ataques a submarinos. Em agosto de 1942, o submarino alemão U-507 afundou seis outros navios, com a perda de 877 pessoas. Em conseqüência, o governo brasileiro declarou guerra à Alemanha Nazista e à Itália em 22 de agosto de 1942. No dia 26 de agosto, o Vultee V-11GB2 '122', tripulado pelos Ten.-Av. Alfredo Gonçalves Corrêa (piloto), Asp. Manoel Poerner Mazeron (bombardeador) e Sgt. Carlos Zell (operador de rádio e metralhador) decolou da Base Aérea de Porto Alegre (hoje Base Aérea de Canoas). Estando armado com três bombas de demolição de 150 Kg, três metralhadoras .30 e duas .50, veio a atacar um submarino na altura de Araranguá (SC). Com as avarias sofridas, o submarino adernou; o avião foi forçado a descer em Osório (RS), por ter sido atingido por estilhaços das bombas. A 28 do mesmo mês, o Vultee V-11GB2 '7', pilotado pelo Cap. Manuel Rogério de Souza Coelho, atacou um submarino na altura de Iguape (SP), sem alcançar danos visíveis. De forma a destruir a ofensiva submarina aliada no Atlântico Sul, os EUA destacaram aeronaves de combate para as bases no nordeste do Brasil. Em janeiro de 1943, os esquadrões VP-74, VP-83 and VP-94 da US Navy encontravam-se baseados em Natal -- pela metade de 1943, já haviam cinco grupos da USN e pelo fim do ano estes já contavam uma dezena. Assim que unidades da FAB completavam seu treinamento e recebiam seu equipamento, elas passaram a substituir aquelas unidades norte-americanas.

Alguns dos ataques realizados pela FAB em 1943: • 14 de fevereiro, NA B-25B do 1º Grupo de Bombardeio (Recife), pilotado pelo Ten.-Av. Walter Newmayer - inconclusivo. • 19 de fevereiro, NA-44 '07', de Salvador, pilotado pelo Maj.-Av. Aquino (comandante da Base) - inconclusivo. •22 de fevereiro, NA-44 '08', de Salvador, pilotado pelo 1º Ten.-Av. Franqueira - ataque com bombas, sem danos visíveis. • 5 de abril, A-28A Hudson, de Salvador, pilotado pelo 1º Ten.-Av. Ivo Gastaldoni - ataque com cargas de profundidade a submarino localizado a sessenta quilômetros de Aracaju, observados debris e larga mancha de óleo no mar após o ataque. • 8 de maio, B-18B (destacado em Recife), pilotado pelo Ten.-Av. Zamir de Barros Pinto - ataque ao submarino alemão U-154, impedindo-o de atacar o cargueiro "Motocarline". • 25 de junho, FW-58B, do Galeão, pilotado pelo Ten.-Av. Georg R.W. Bungner - inconclusivo.

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201 • 3 de julho, A-28A Hudson, de Santa Cruz, pilotado pelo Ten.-Av. Clóvis Labre de Lemos - ataque ao U-199, sem danos. • 31 de julho Às primeiras horas da manhã de 31 de julho de 1943, um Martin PBM-3C Mariner do esquadrão VP-74 (USN), baseado no Rio de Janeiro, localizou e atacou o submarino alemão tipo IXD-2 U-199. O U-199 foi danificado mas não afundou, e permaneceu atirando com suas peças de artilharia antiaérea no PBM-3C. As defesas brasileiras já então haviam sido alertadas e um Hudson da FAB imediatamente levantou vôo do Rio de Janeiro, pilotado pelo Asp.-Av. Sergio Cândido Schnoor. Ele atacou o U-199 com duas cargas de profundidade Mk. 17 as quais caíram perto do submarino; efetuando um segundo ataque, o Asp.-Av. Schnoor metralhou o U-199 com as metralhadoras localizadas no nariz do Hudson, o que incapacitou alguns dos marinheiros alemães que manejavam a artilharia antiaérea do submarino. O Hudson deixou então a área e um PBY-5 da FAB, pilotado pelo Asp.-Av. Alberto Martins Torres, o qual estava em patrulha próximo ao local, foi destacado para atacar o U-199. O submarino foi bombardeado com tres cargas de profundidade Mk. 44 e o submarino começou a afundar. Este PBY-5 (foto à direita) foi posteriormente batizado de Arará, em honra à tripulação do navio de mesmo nome que havia sido afundado por um submarino em 1942. •30 de outubro, PBY-5 '01', do 1º Grupo de Patrulha (Galeão), pilotado pelo Cap.-Av. Dionísio Cerqueira de Taunay - ataque ao U-170, tendo sofrido vários danos causados pela artilharia antiaérea do submarino; o U-170 foi danificado no ataque mas conseguiu escapar. Em 1943 uma unidade especializada foi criada, a United States-Brazilian Training Unit (UsBaTu); treinamento específico na arte da guerra anti-superfície/anti-submarina foi dado por instrutores norte-americanos, tendo a primeira turma se graduado em 26 de novembro de 1943. Neste ano, aviões Lockheed PV-1 Ventura foram recebidos pela FAB, o que aumentou sua capacidade de resposta à ameaça submarina (a foto à direita foi tirada quando da transferência de aviões deste tipo em 30 de março de 1944, na Base Aérea de Recife). Entretanto, após o mês de novembro de 1943, não mais se localizaram submarinos alemães em águas brasileiras, seja por unidades da FAB ou da USN. O batismo de fogo da FAB foi feito durante a ofensiva submarina de 1942-1943 e assim as unidades da Aviação de Patrulha tiveram a honra de serem as primeiras unidades da FAB a atacar aquele inimigo que tantas perdas infligiu às Marinhas Mercantes Aliadas e do Brasil. Àquelas heróicas tripulações estas palavras são dedicadas.

A FORÇA AÉREA BRASILEIRA nas Operações do Atlântico Sul na Segunda Guerra Mundial

Ten.-Brig.-do-Ar RR Deoclécio Lima de Siqueira Alguns aspectos que não devem ser esquecidos. Importância do Brasil no Atlântico Sul no quadro estratégico da Segunda Guerra Mundial, a posição do Brasil era importante. Felizmente os nossos dirigentes, compreendendo as inclinações do povo brasileiro, decidiram, em 28 de janeiro de 1942, romper as relações diplomáticas com a Alemanha-Itália-Japão, o famoso Eixo, responsável pelo ataque do Japão a Pearl Harbour, base da Marinha dos EUA no Pacífico.

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202 Tal rompimento cumpria o decidido na Terceira Reunião de Consulta das Nações Americanas realizada no Rio de Janeiro, nesse mesmo mês, a qual reafirmou a Resolução nº 15 da Segunda Reunião de Havana, em 1940, assinada pelo Brasil e que dizia: Todo atentado de um Estado não americano contra a integridade ou inviolabilidade do território, contra a soberania ou independência política de um Estado americano, será considerado como um ato de agressão contra os Estados que assinam esta Declaração. Assim, no início de 1942, o Brasil afirmou seu alinhamento com os EUA e os Aliados, na luta contra o Nazi-Fascismo ligado ao Japão na Segunda Guerra Mundial. Esta decisão do Brasil representou um passo de grande expressão no desfecho da guerra, pelas seguintes razões: - A grande estratégia do Eixo se orientava num envolvimento dos Aliados por um grande movimento de pinça em duas direções: uma no Hemisfério Norte, via Inglaterra, e outra pelo Hemisfério Sul, via norte da África, Dakar-Natal-Panamá, etc. Logo de início a resistência ao Norte mostrou dificuldades de toda ordem, enquanto no Sul, as vitórias do Marechal Rommel (alemão) no norte da África, em 1941/1942, indicavam maiores possibilidades. Por outro lado, com o andamento da guerra, essa via revelou-se de capital importância para a estratégia dos Aliados, como caminho entre o Arsenal das Democracias (EUA) e os Aliados, transformando-se no que ficou para a História como o Corredor da Vitória, pois por ele passou um fluxo impressionante de suprimentos para apoio das operações na África e na Europa. Nesse quadro, evidentemente, a posição do Brasil era fundamental, pois o Saliente do Nordeste e a Ilha de Fernando de Noronha representavam pontos nevrálgicos para a posse dessa rota. - As linhas da Marinha Mercante para o Hemisfério Norte representavam uma garantia do fluxo de matérias-primas para o grande Arsenal das Democracias, representado pelo espantoso potencial da Indústria Bélica dos EUA. - No quadro nacional, a preservação da Navegação Marítima era essencial, pois dependíamos totalmente do petróleo vindo do exterior (Venezuela, México, Caribe, etc.); e a concentração de esforços militares para a segurança do Saliente Nordestino exigiam um grande movimento de meios que só era possível pelo mar, pois não dispúnhamos de rodovias ligando o Sul ao Norte, e a navegação do Rio São Francisco só era possível em alguns trechos. Tempos de Humilde Coragem O Almirante Jaime Leal Costa Filho, companheiro dos idos de 1942, definiu muito bem, com estas palavras, o espírito presente nas operações da nossa Marinha de Guerra e da Força Aérea Brasileira (FAB): "No início, para nós, da Segunda Guerra Mundial, a coragem de então ficou engrandecida pela humildade daquelas horas." Nós, aviadores militares, que iríamos participar daquelas operações, trazíamos conosco uma herança e uma experiência que haveria de contribuir para aquela grandeza. Éramos herdeiros dos ideais do Tenentismo, um movimento idealista vivido na área militar na década de 1920, cujo lema, "À Pátria tudo se deve dar, nada pedir, nem mesmo compreensão", impulsionou a mocidade militar de então para grandes lances de heroísmo. Com essa herança, vivemos páginas épicas do Correio Aéreo Militar, criado por um daqueles "Tenentes", Eduardo Gomes, cuja vida foi uma trajetória de fidelidade ao lema acima. As linhas do Correio Aéreo ensinavam, aos jovens pilotos que se iniciavam, o verdadeiro sentido das conquistas tecnológicas em busca de uma vida mais justa e humana. O avião apresentou-se no Brasil, como uma extraordinária ferramenta desses objetivos, voltados para a grandeza da Pátria e, portanto, a mais pura manifestação de Patriotismo. Quando avançávamos pelas Linhas Aéreas do Correio Militar nas direções norte, sul e oeste do Brasil, pedindo, dos aviões e meios de então, muito mais do que podiam dar, colocávamos em jogo, conscientemente, a própria vida, movidos talvez por uma intuição relacionada com o tamanho do empreendimento, envolvido pela grandeza da própria Pátria. Em cada linha e em cada pouso, no acolhimento de todos e nas expressões de cada um, sentíamos o quanto o avião representava para as angústias, os sofrimentos, as esperanças e as necessidades de tantos, perdidos no isolamento das distâncias, filhos enjeitados de uma Pátria impotente. Com essa herança e essa experiência, chegamos em Recife, no Nordeste brasileiro, em fevereiro de 1942. Pouco antes ali chegara o Brigadeiro Eduardo Gomes; seria e foi, uma vez mais, o homem certo, numa hora certa. Sua missão era organizar e comandar os meios da Força Aérea Brasileira na área do Nordeste, entre Fortaleza, Ceará e Salvador, Bahia.

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203 Deveria partir praticamente do nada. Somente em Fortaleza havia algumas instalações de uma futura Base Aérea, num campo de aviação de grama e com outras limitações. Era nossa conhecida, pois ali terminava a Rota do São Francisco, uma das principais linhas do Correio Aéreo Militar. Lá, nesse mês, foi criado o Grupamento de Aviões de Adaptação, cujo objetivo era propiciar aos elementos da FAB, um conhecimento atualizado de material mais moderno. Essa Unidade, com instrutores dos EUA, dispunha de 12 aviões de caça tipo P-36; 6 aviões de bombardeio médio B-25 e 2 aviões também de bombardeio médio tipo B-18. Logo fui designado para fazer tal adaptação. Sem dificuldades, a não ser os especiais cuidados com o campo de grama, cumpri o programa e retornei a Recife. No campo desta cidade, Eduardo Gomes instalou seu QG numa modesta sala da Companhia Francesa Air France, agora desativada em virtude da ocupação da França pela Alemanha. Próximo foi improvisada uma cozinha e, cerca de uns cem metros de distância, num pequeno recinto que antes funcionara como abrigo dos poucos passageiros da incipiente Aviação Comercial, passou a funcionar o nosso rancho para uns vinte oficiais, se tanto. O problema era a vinda da comida para o local. Nos dias de chuva, os cuidados para não esfriar os cozidos. Nos dias de sol, os cuidados com a pequena nuvem de insetos, atraídos, certamente, pela possibilidade de participarem das refeições. Nessas horas, junto com Eduardo Gomes, nós apreciávamos o andamento das obras de construção das modernas pistas de vôo pavimentadas. Em Recife como em Natal, inicialmente se concentraram os esforços da então Panair do Brasil, associada da Pan-American Airways, que assumira a responsabilidade dessas melhorias nos Campos do Saliente Nordestino e, posteriormente, em outros mais, ao longo do Corredor da Vitória, tudo acordado com o Governo do Brasil em 1941. Era impressionante ver-se com que rapidez iam surgindo pistas modernas por todos os pontos do nosso litoral. Com o Brigadeiro Eduardo eu voava muito, pilotando um pequeno avião Lockheed de 8 lugares, nas suas freqüentes viagens de inspeção em toda a área. Com ele já tivera antes muitos contatos quando, em 1939 e 1940, servindo no 1º Regimento de Aviação, no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro, comandei a então Esquadrilha de Treinamento, responsável pela execução das linhas-tronco do Correio Aéreo, sob a supervisão dele na Diretoria de Aviação do Exército. Diariamente, comparecia à Esquadrilha para ver como iam as atividades e, freqüentemente, acordava-me a qualquer hora da noite, para saber de notícias sobre algum avião em pane ou de paradeiro desconhecido. Para distribuir pelas rotas trazia, pessoalmente, volumes contendo medicamentos, material escolar, jornais, etc. Nós o víamos como um líder predestinado. Mais tarde convenci-me de que grande parte daquelas ofertas eram pagas por ele. E o bem que elas fizeram, testemunhado pela gratidão com que eram recebidas, é uma página de nossa História que dignifica o ser humano. Corria o primeiro semestre de 1942. Logo no início, após a declaração de guerra dos EUA ao Eixo, dera-se o primeiro ataque de submarinos às costas norte-americanas do Atlântico. Os resultados foram avassaladores. As cidades litorâneas, iluminadas feericamente como é de costume e os navios, também, facilitaram por demais o sucesso da surpresa que passou para a História com o nome de Alegre Massacre. Perdemos nesse ataque alguns navios brasileiros em trânsito pelas costas norte-americanas. Esse fato alertou os comandos da área. Alguns ataques a submarinos na zona do Caribe indicavam que, mais cedo ou mais tarde, eles chegariam às nossas costas. De fato tal aconteceu, e logo. A 7 de março, o submarino CALVI, da Marinha Italiana, partiu de sua base em Bordeaux, na França, para uma missão de exploração da costa norte do Brasil. Essa era a tática do Eixo. Primeiro vinham os italianos para verificar a situação, a fim de garantir a surpresa, base do sucesso dos ataques submarinos de então. Um dos aspectos que deviam observar era a atividade aérea, um fator de comprometimento da surpresa. A esta circunstância acrescia-se o fato de que a presença do avião, na época, obrigava o submarino a submergir para se livrar dos ataques aéreos. Isto dificultava a ação, pois sua velocidade diminuía muito, o que o impedia de perseguir ou interceptar os navios. Essas duas circunstâncias tornavam imperativa a presença do avião no ar, para impedir ou atenuar a ação submarina. A Força Aérea Brasileira e a nossa Marinha, pelo acordado entre os dois governos, ficaram responsáveis pela área mais próxima do litoral, enquanto as Forças norte-americanas se encarregaram das zonas mais distantes.

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204 Assim, caberia à nossa Força Aérea a patrulha mais intensa possível. Começando pelo Nordeste, aos poucos todos os aviões disponíveis foram empregados. Uns 300 aviões de todos os tipos, na maioria monomotores (só uns 20 eram bimotores), começaram a operar no mar próximo das costas. Esta proximidade ia, por vezes, a mais de cem milhas. Em aviões monomotores, sem comunicações e nenhum apoio à navegação, por horas e horas a fio, esses vôos se revestiam de uma temeridade impressionante. A 18 de maio, dá-se o primeiro ataque de um submarino, o italiano Barbarigo, a navio brasileiro em nossas costas; era o navio Comandante Lira, navegando ao norte de Fortaleza. A seguir, em 22 de maio, aquele submarino é atacado por um B-25 do Grupamento de Adaptação voando em patrulha sob o comando dos Capitães Aviadores Parreiras Horta e Oswaldo Pamplona. Os danos foram insignificantes, pois as bombas existentes eram inadequadas, porém mostrou que a Aviação estava no ar. Em conseqüência desse ataque, e à nota do Ministro da Aeronáutica, afirmando que outros ataques seriam feitos caso outros submarinos aparecessem, o comando alemão decidiu realizar outras operações em nossa área. A 15 de agosto de 1942, o submarino alemão U-507 torpedeia, próximo ao litoral de Sergipe, os navios brasileiros Baependi, Araraquara, Anibal Benevolo e Itagiba, acarretando a morte de mais de 600 brasileiros, o que levou o Brasil a declarar guerra aos países do Eixo. A 15 de setembro, organiza-se o primeiro Comboio de Navios entre Salvador e Recife. A sua cobertura aérea contou com dois aviões B-25, do agora extinto Grupamento de Adaptação de Fortaleza, deslocados para Recife; três aviões monomotores AT-6 de treinamento; e o avião Lockheed de passageiros (8 lugares) do Brigadeiro Eduardo; só voávamos à luz do dia. Com essa carência de meios, chegamos ao final de 1942. Os registros de após-guerra dos setores ligados aos submarinos do Eixo indicam que a razoável intensidade das atividades aéreas, próximas ao litoral brasileiro, impediram uma maior agressividade dessa arma, o que, sem dúvida, deve ter salvo muitas outras vidas de brasileiros. Este capítulo da História da Força Aérea Brasileira não pode se perder na penumbra do esquecimento, porque será sempre um testemunho para a posteridade do quanto o idealismo e a coragem representam em determinados momentos. Os ideais do Tenentismo e a bravura do Correio Aéreo Militar não faltaram nos dias difíceis do início da Segunda Guerra Mundial. Esses foram os elementos que nutriram a "Humilde Coragem" citada no início desta parte. Tempos de Afirmação Em 1943, começamos a viver um clima de distensão, pois as vitórias aliadas na África reduziram as ameaças ao Nordeste brasileiro. As pistas pavimentadas e as instalações de bases aéreas das Forças norte-americanas e brasileiras na área iam ficando prontas. Uma única preocupação subsistia: a ameaça submarina, a qual, segundo tudo indicava, devia aumentar, pois ao Eixo só restava a possibilidade estratégica de debilitar o inimigo pelo corte de suas linhas de suprimento. De fato tal aconteceu. Percebeu-se logo o aumento de intensidade da presença de submarinos. Ao mesmo tempo, começamos a receber material mais adequado: aviões bimotores Hudson de patrulha (uns 30); bimotores Catalina de patrulha (uns 20); e aviões de caça tipo P-40 (uns 30 - alguns do final de 1942) constituíram o primeiro material atualizado recebido pela FAB. Foram distribuídos por diversas bases do litoral, de Belém até o Rio de Janeiro. Não era muito, mas foi uma injeção de ânimo e esperança num pessoal preocupado com a desigualdade dos meios em confronto no ano anterior, quando não dispúnhamos de um avião sequer capaz de carregar o armamento eficaz contra um submarino (6 bombas de profundidade de mais ou menos 250 quilos cada uma, para lançamento em salva numa direção de 30 a 60 graus com o eixo maior do submarino, e condições de um provável acerto, se o lançamento fosse feito até 45 segundos após a submersão). Neste ano (1943), muitos fatos iriam ocorrer, de grande influência nos destinos da Força Aérea Brasileira. Vários submarinos foram vistos, outros atacados, alguns sem resultado aparente, outros com fortes indícios de terem sido atingidos, como o de 5 de abril, atacado por um Hudson sediado em Salvador; o de 8 de maio, por um B-18 de Recife; o de 30 de outubro, por um Catalina do Galeão, Rio; e o de 31 de julho, próximo ao Rio de Janeiro, com prisioneiros, atacado por um Hudson e um Catalina. Até então, a FAB operava sem uma doutrina de padronização. Vínhamos dos tempos em que a individualização era uma característica da Aviação. O que é compreensível. Não havia meios de comunicação. O aviador, no ar, estava isolado. As situações difíceis dependiam somente dele.

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205 Com isto exacerbou-se o individualismo, num universo em que o homem devia suprir as deficiências tecnológicas, desenvolvendo-se no ofício a habilidade de cada um. A Aviação ainda era uma arte e o artista é, antes de tudo, um individualista. A magnitude das possibilidades do avião como poder militar começou a exigir, logo de início, a necessidade da padronização de procedimentos, para se garantir a eficácia do planejamento em massa desses novos meios. Nós mesmos, no tumulto daquelas horas, sentíamos que nos faltava algo para somar esforços, nem sempre devidamente aproveitados, em virtude de uma coordenação enfraquecida na diversificação de procedimentos. Isto também sentiram os chefes de então. Daí surgiu a USBATU (United States Brazilian Air Training Unit), que deveria propiciar aos brasileiros um curso com duplo objetivo: conhecimento e padronização. Teve início em Natal, a 1º de outubro de 1943. O curso durava 8 semanas, em regime de internato, na Base Aérea da U.S. Navy, ao lado da brasileira, no aeródromo daquela cidade, por onde, a esta altura, passavam, diariamente, dia e noite, centenas de aviões em direção a Dakar, na África. Realizaram-se 3 desses cursos. Cada uma das três turmas de alunos compreendia 12 oficiais e 18 sargentos. O avião utilizado era o Lockheed "Ventura" PV-1, o que havia de mais moderno na luta anti-submarino. Travamos conhecimento com a grande novidade do momento: o radar, um avanço tecnológico que foi decisivo na guerra aérea, pois a visão dos aviões, dia e noite, alongou-se muito além da humana, limitada nas horas noturnas, quando os submarinos se aproveitavam para navegar à tona, com mais velocidade e eficiência. Outra novidade era a padronização de procedimentos no que os instrutores, oficiais da Marinha dos EUA, eram rigorosos. A 31 de março de 1944, os cursos se encerraram e, em cerimônia na Base de Recife, tal final foi comemorado com a entrega formal à Força Aérea Brasileira de um Esquadrão de Aviões PV-1 (15 aviões), para ser guarnecido pelo pessoal que fizera o curso da USBATU: 36 oficiais e 64 sargentos. Depois do curso, alguns oficiais e sargentos receberam instruções complementares nos EUA. Dentre eles, eu e mais dois companheiros, fomos para Quonset Point, na época uma grande Base da U.5. Navy, nos EUA, onde nos transmitiram as últimas novidades no assunto, como a tática de ataque noturno contra submarino (desenvolvida pelos ingleses e apresentada por instrutores daquele país, com experiência da mesma). Esta tática utilizava o radar e bombas iluminativas. Dali fomos para Key West, no sul da Flórida, onde, durante uns 10 dias, pelas manhãs e tardes, voávamos lançando rockets (foguetes) contra alvos rebocados, o que havia de mais moderno na época contra submarinos. De regresso ao Brasil e ao nosso Esquadrão, encontramo-lo operando em igualdade de condições com os norte-americanos. Certa noite, já no final de 1944, fui designado para uma missão de patrulha. Tratava-se de proteger um importante comboio de navios mercantes (uns trinta). Devíamos decolar às 22:00 horas e, a umas 100 milhas de Recife, encontrar o Comboio, em torno do qual, a distâncias razoáveis, se processaria a patrulha aérea, segundo um plano padronizado, para não permitir que um submarino se aproximasse. Decolamos na hora, em noite escura e chuvosa. O vôo se prolongava por instrumentos até que, em dado momento, pilotamos na tela do radar o comboio. Longe dele, iniciamos o plano de cobertura. Tudo caminhava normalmente, quanto apareceu no radar um ponto suspeito. Verifiquei as instruções da missão. No local não previam qualquer tráfego de embarcação. Ainda chovia, e a escuridão permanecia total. Era hora de um ataque noturno. Alertei a tripulação. Todos a postos. Quanto o radar acusou a vertical do alvo, disparei a bomba de iluminação (em sua queda abria um pequeno pára-quedas). Iniciei uma curva de 360 graus descendo, comandei a abertura do Bomb bay (local das bombas), uma luz intensa se acende e, ao completar a curva, na reta final, vi à frente uma pequena embarcação se deslocando. Não é um submarino. Suspendo a operação. Tratava-se de um caça-submarinos da nossa Marinha. Alguém, na intrincada cadeia de informações, havia falhado. A nossa tripulação, não. De volta a Recife, ainda em noite chuvosa, descemos por instrumentos (rádio-faixa) na Base Aérea. As primeiras luzes da madrugada apareciam. Ao descer do avião despedi-me dos companheiros da tripulação: o tenente co-piloto e três sargentos (mecânico, rádio e armamento). Na ida para a sala de operações caminhava com uma estranha sensação. Veio-me à mente a avaliação de uma Força Aérea renovada. Sabia que, por todo o Brasil, aqueles ensinamentos que acabáramos de aplicar haviam sido disseminados por tantos outros USBATUS, inicialmente ministrados pelo pessoal do nosso Esquadrão.

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206 Uma nova era se abria para a nossa Aviação Militar, com bastantes aviões modernos e tripulações atualizadas. Ao entrar na sala de operações para dar conta da missão, senti-me envolvido por um sentimento de afirmação. No caminho para nossa moradia, na antiga e pouco habitada praia de Boa Viagem de Recife, vieram-me à mente os olhares agradecidos dos socorridos pelos Correio Aéreo Militar; a humilde coragem dos companheiros da FAB que salvaram tantas vidas no início da guerra; e, ao passar pela casa onde residia nosso grande chefe, lembrei-me da proximidade do final da guerra e do quanto ele havia contribuído para o idealismo com que a Força Aérea Brasileira se houve na Segunda Guerra Mundial, nas operações no Atlântico Sul. E hoje, terminando estas linhas, recordo os Tenentes de outrora e seus seguidores que, até agora, em defesa da Pátria e da Liberdade, tudo têm dado, nada pedido, nem mesmo compreensão; basta a consciência do dever cumprido.

Baixas do 1º Grupo de Aviação de Caça

MORTOS EM AÇÃO

2º Tenente Aviador Dante Isidoro Gastaldoni - Como Aspirante ainda, foi voluntário para combater o nazi-facismo de Hitler e Mussoline. Seguiu para o Panamá junto com os 374 homens do Ten Cel Av Nero Moura. Ali, na Base Aérea de Aguadulce, realizou seu treinamento de piloto de caça. Em um vôo de instrução, quando realizava missão de interceptação a um suposto inimigo na área de defesa da Zona do canal do Panamá, seu avião perdeu os comandos vindo a chocar-se ao solo, não lhe dando tempo a abandonar a aeronave. Foi a primeira vítima dos voluntários do 1º Grupo de Aviação de Caça.

1º Tenente Aviador John Richardson Cordeiro e Silva - Foi um dos primeiros voluntários que atendeu ao chamado da Pátria. Seguiu para o Panamá e Estados Unidos, onde realizou seu

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207 treinamento de piloto de caça. Representava para seus companheiros do 1º Grupo de Aviação de Caça um exemplo de coragem, fibra e vontade de ferro. Realizou apenas uma missão de guerra sendo abatido e morto ao atacar posições de artilharia antiaérea na cidade de Bolonha, no dia 6 de novembro de 1944.

1º Tenente Aviador Oldegard Olsen Sapucaia - Era instrutor na Escola de Aeronáutica quando se voluntariou para integrar o 1º Grupo de Aviação de Caça. Seu curso no Panamá e Estados Unidos foi um sucesso, distinguindo-se entre todos como um dos melhores. Faleceu em serviço na Zona de Combate no Teatro do Mediterrâneo quando realizava Tiro Terrestre na área vizinha a Tarquinia, no dia 7 de novembro de 1944.

1º Tenente Aviador Waldir Paulino Pequeno de Mello - Voluntário, ingressou no 1º Grupo de Aviação de Caça nos Estados Unidos. Realizou com sucesso o treinamento no P-47 "Thunderbolt", seguindo para a Itália, com o curso de caça completo. Voou apenas uma missão de Guerra, pois faleceu durante um acidente em que colidiram no ar um C-47 americano e um P-47 brasileiro, no dia 16 de novembro de 1944. O Waldir voava como passageiro do C-47 tentando fotografar uma esquadrilha, a Esquadrilha Verde comandada pelo Lagares. Recebeu a Cruz de Bravura da FAB e a Air Medal (Estados Unidos).

2º Tenente Aviador Roland Rittmeister - Na abertura do voluntariado para o 1º Grupo de Aviação de Caça estava na Escola de Aeronáutica como instrutor. Atendeu ao Primeiro chamado da Pátria. Fez os cursos no Panamá e nos Estados Unidos com pleno êxito, distinguindo-se como oficial especializado em Informações de Guerra. Realizou uma única missão de guerra, tendo falecido na Zona de Combate em 16 de novembro de 1944, no mesmo acidente em que faleceu o 1º Ten Av Waldir.

1º Tenente Aviador João Maurício Campos de Medeiros - Foi o Tenente Medeiros uma das figuras mais populares no 1º Grupo de Aviação de Caça. Encarnou o verdadeiro piloto de guerra. Morreu em combate no dia 2 de janeiro de 1945, quando atacava uma locomotiva na estação ferroviária em Alessandria. Chegou a saltar de pára-quedas, sendo entretanto eletrocutado por fios de alta tensão, durante a queda. A história do Tenente Medeiros é um exemplo a ser seguido pela nova geração da Força Aérea Brasileira. Filho dileto do Prof. Maurício Medeiros, foi para seus companheiros do 1º Grupo de Aviação de Caça um exemplo de bravura, determinação e patriotismo.

1º Tenente Aviador Aurélio Vieira Sampaio - Servia na Base Aérea de Fortaleza quando o Maj Av Nero Moura abriu o voluntariado para o 1º Grupo de Aviação de Caça. Acompanhou o Grupo desde o treinamento no Panamá. Sua história é um exemplo de fibra e força de vontade. Cumpriu seu dever com distinção em todos os setores. Iniciou como oficial terrestre, ajudando diretamente ao comando na difícil tarefa administrativa. Quando tiveram as perdas do Cordeiro, do Oldegard e do Rittmeister, apresentou-se para o vôo imediatamente. Realizou o treinamento na Zona de Combate. Foi um verdadeiro piloto de guerra. Morreu ao sul de Milão, quando atacava fortificações inimigas. O fogo da artilharia antiaérea alemã o abateu quando cumpria sua 16ª missão de guerra, no dia 22 de janeiro de 1945. Foi condecorado com a Cruz de Bravura da FAB e com a Air Medal (Estados Unidos).

2º Tenente Aviador Frederico Gustavo dos Santos - Veio diretamente dos Estados Unidos para integrar o 1º Grupo De Aviação de Caça na Itália. Realizou 44 missões de guerra, sendo morto em combate em Spilambergo, no dia 13 de abril de 1945, quando atacava depósitos de minição. Morreu aos 19 anos em defesa da Pátria estremecida.

Apesar da pouca idade e do pouco tempo no Teatro de Operações, distinguiu-se entre seus companheiros pela personalidade e bravura durante as ações de combate. Foi condecorado várias vezes.

1º Tenente Aviador Luiz Lopes Dornelles - Abatido pela artilharia atiaérea inimiga, sendo morto em combate quando atacava uma locomotiva na Estação Ferroviária de Alessandra, no dia 26 de abril de 1945. Realizou 89 missões de guerra. Sua bravura pode ser atestada pelos companheiros da Campanha da Itália e pelos filmes de combate se sua metralhadora fotográfica arquivados no Museu Aeroespacial do Campo dos Afonsos.

ABATIDOS COM VIDA EM COMBATE

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208 1º Tenente Aviador Ismael da Motta Paes - Herói do 1º Grupo de Aviação de Caça. Foi um dos primeiros a atender ao chamado da Pátria. Realizou 24 missões de guerra, tendo sido abatido no dia 23 de dezembro de 1944 ao norte de Parma. Foi prisioneiro de guerra em Stettim, Alemanha, tendo sido libertado pelos Russos no final da guerra. Ao regressar ao Brasil continuou na aviação, tendo sido um dos comandantes do 1º Grupo de Aviação de Caça, ensinando o que aprendera à nova geração. Chegou ao posto de Major-Brigadeiro do Ar na ativa.

1º Tenente Aviador Josino Maia de Assis - Estava na unidade aérea da Base Aérea de Recife voando patrulha de P-40, famoso caça operado pela Esquadrilha dos Tigres Voadores, quando foi aberto o voluntariado para o 1º Grupo de Aviação de Caça. Junto com seu comandante, na época o Tenente Lagares, foi um dos primeiros a colocar o nome na lista. Cumpriu com destaque o seu treinamento no Panamá e nos Estados Unidos. Foi classificado imediatamente como Lider de Esquadrilha para missões de combate. Durante a campanha da Itália cumpriu com bravura e determinação 41 missões de guerra. Foi abatido pela artilharia antiárea inimiga ao sul de Milão, no dia 29 de janeiro de 1945. Caiu prisioneiro do inimigo quando estava praticamente nas mãos dos Partizans (guerrilheiros italianos pró-aliados). Como seu companheiro Othon Correia Netto, foi prisioneiro em Nuremberg e depois em Musberg. Regressou a Pisa depois do dia 8 de maio de 1945. Foi ferido em combate. No Brasil, foi comandante do 1º Grupo de Aviação de Caça, em Santa Cruz, em 1950. Entre diversas condecorações possui a Cruz de Sangue (Brasil), Cruz de Aviação (Brasil), Air Medal (Estados Unidos) e a Distinguished Flying Cross (Inglaterra).

Capitão Aviador Joel Miranda - Na época do voluntariado era Oficial de Gabinete do Ministro da Aeronáutica Dr Salgado Filho. Foi um dos heróis do 1º Grupo de Aviação de Caça. Sua Esquadrilha foi quase totalmente abatida pela artilharia antiaérea inimiga, em virtude do desapego à vida e bravura de seu comandante. Saltaram de pára-quedas ou foram mortos em combate. Além do próprio Joel, os Tenentes Motta Paes e Brandini foram feitos prisioneiros de guerra, Tenentes Dornelles e Medeiros mortos em ação, Tenente Danilo ficou escondido com os Partizans e o Tenente Canário saltou em "Terra de Ninguém". Quando Saltou de pára-quedas, o Capitão Joel quebrou o braço, sendo socorrido em Hospital de Sangue Alemão. Ficou escondido até o fim da guerra, tendo feito diversas incursões junto com os Partizans. Realizou 31 missões de guerra, sendo abatido no dia 4 de fevereiro de 1945.

2º Tenente Aviador Danilo Marques Moura - Irmão do Comandante do 1º Grupo de Aviação de Caça, Ten Cel Av Nero Moura, talvez tenha sido o primeiro voluntário. Serviu no Panamá e nos Estados Unidos, em funções administrativas mas, nem por isso, deixou de completar o seu curso de caça. Na Itália voou 11 missões de guerra, quando foi abatido em Castelfranco, no dia 4 de fevereiro de 1945. Escondeu-se com os Partizans por meis dúzia de horas, até conseguir uma roupa civil. Decidiu, imediatamente, regressar às linhas aliadas, enfrentando os perigos normais de burlar a vigilância dos alemães. Sua determinação, força de vontade e coragem, fizeram com que chegasse a Florença a salvo, trazendo informações preciosas das organizações de terreno feitas pelos alemãos nas margens do Rio Pó. Regressou ao Brasil após o término da guerra, trocando a Força Aérea Brasileira pela PANAIR do BRASIL. Seu triunfo de fuga inspirou alguns de seus colegas do Grupo na criação de uma paródia: "A Ópera de Danilo". Esta Ópera é cantada até os dias de hoje, em todas as reuniões do dia 6 de outubro, pelos veteranos e atuais pilotos de caça da FAB.

1º Tenente Aviador Roberto Brandini - Este herói do 1º Grupo de Aviação de Caça tem uma das histórias mais fascinantes. Foi abatido em Ferrara, no dia 10 de fevereiro de 1945, pela artilharia atiaérea inimiga, quando atacava objetivo fortemente defendido naquela cidade italiana. Ao abandonar seu P-47 em pára-quedas, foi atingido na cabeça por um estilhaço de granada do famoso 88 alemão. Desceu desacordado, tendo sido dado como morto pelo Lider da Esquadrilha, o bravo Tenente Dornelles, que viria a morrer no dia 26 de abril.

Quando recobrou os sentidos, 48 horas depois, já estava operado e com o troféu que o cirurgião lhe tirou do crânio, na mesa de cabeceira do Hospital de Sangue. Depois de recuperado, foi internado no Campo de Concentração de Bolzano, na Itália. Realizou 28 missões de guerra. Regressou ao Brasil, onde esteve na ativa até 1960. Foi várias vezes condecorado pelos Estados Unidos e pelo Brasil.

2º Tenente Aviador Raymundo da Costa Canário - Veio diretamente dos Estados Unidos para o 1º Grupo de Aviação de Caça, na época sediado em Pisa. Como seus companheiros da Reserva Convocada, Santos, Menezes, Tormim, Morgado e Poucinhas, foi também voluntário na luta contra o nazi-facismo. Com apenas 18 anos, tornou-se figura popular entre o pessoal do grupo. Era o piloto mais jovem do Grupo. Foi abatido pela artilharia antiaérea em 15 de fevereiro de 1945, tendo com extraordinária abilidade, conduzido seu avião até as linhas aliadas. Saltou de pára-quedas segundos antes de seu P-47 explodir no ar. Caiu na "Terra de Ninguém", sendo recolhido por uma patrulha do

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209 11º Regimento da Força Expedicionária Brasileira. No dia seguinte estava de volta, combatendo com a mesma disposição. Ao regressar ao Brasil, ingressou na aviação comercial, tornando-se comandante respeitadíssimo entre seus pares na antiga Real Linhas Aérea e na VARIG. Realizou 51 missões de guerra.

Capitão Aviador Theobaldo Antonio Kopp - Voluntariou-se entre os primeiros para o 1º Grupo de Aviação de Caça, sendo escolhido como um dos homens-chave do Ten Cel Av Nero Moura para fazer o Curso de Tática Aérea em Orlando - Flórida. Seguiu para o Teatro de Guerra do Mediterrâneo, mesmo sabendo que sua mãe e irmã se encontravam em Milão. Isto implicava em dizer que se os nazistas tomassem conhecimento desse detalhe, sua família sofreria as consequências em Milão. O Tenente Kopp, de Curitiba, preferiu afrontar mais esse perigo. Lutou bravamente e, ao completar sua 58º missão de guerra, foi abatido em Suzara, no dia 7 de março de 1945, pela artilharia antiaérea alemã. Demonstrando coragem e sangue frio, conseguiu evadir-se, escondendo-se mais tarde com a rede de Partizans local. Como Joel Miranda e Danilo Moura, teve várias e interessantes aventuras, junto com os Partizans. Regressou ao Brasil onde permaneceu por longo periodo na Aviação de Caça em Santa Cruz. Foi condecorado pelos Governos Brasileiros, Arnericanos e Francês com medalhas de combate e bravura.

1º Tenente Aviador Othon Corrêa Netto - Foi voluntário para integrar o 1º Grupo de Aviação de Caça, vindo diretamente do Corpo de Instrutores da Escola de Aeronáutica. Iniciou suas missões de guerra no dia 6 de novembro de 1944, decolando como ala de uma esquadrilha do 347th Fighter Squadron. Experimentou de perto o fogo tedesco, pois sua missão foi a de atacar posições de artilharia antiaérea. Saiu-se bem. No dia 26 de março de 1945, foi abatido em Casarsa, sendo obrigado a saltar de pára-quedas. Foi prisioneiro nos campos de concentração de Nuremberg e Müsberg. Portou-se em todos os interrogatórios como um perfeito soldado. Cumpriu 58 missões de guerra.

2º Tenente Aviador Marcos Eduardo Coelho de Magalhães - Era instrutor da Escola de Aeronáutica quando se voluntariou para integrar o 1º Grupo de Aviação de Caça. Durante a Campanha da Itália realizou 85 missões de guerra, quando foi abatido no dia 22 de abril de 1945, nas proximidades de Sassuolo. Ao saltar de pára-quedas foi metralhado por um oficial e um soldado fascista, fazendo com que o mesmo afunilasse, tendo o Tenente Coelho caido sobre o telhado de uma casa e quebrado as duas pernas. Foi esbofeteado e cuspido pelos militares fascistas, só não sendo assassinado pela intervenção de um cabo alemão. Foi prisioneiro em um Hospital de Sangue em Regio - Itália. Regressou ao Brasil e ingressou na Aviação de Transporte da Força Aérea Brasileira.

2º Tenente Aviador Renato Goulart Pereira - Era instrutor da Escola de Aeronáutica quando foi aberto o voluntariado para o 1º Grupo de Aviação de Caça. Não vacilou, sendo um dos primeiros a assinar o nome na lista de voluntários. Sua popularidade era grande, em virtude de ter sido membro da Seleção Brasileira de Basquete. Foi capitão do time do XXIII Comando Aerotático na Itália. Durante a campanha foi abatido quando atacava objetivos inimigos. Saltou de pára-quedas sobre as linhas aliadas no dia 30 de abril de 1945, demonstrando sua habilidade de vôo, quando seu avião com incêndio a bordo, permaneceu ainda voando por 15 minutos. Realizou 93 missões de guerra.

História da Aviação de Busca

Durante a Segunda Grande Guerra Mundial, o avião foi descoberto como uma das principais armas. Com ele se podia vencer grandes distâncias em pouco tempo, carregando-se toneladas de bombas. O que tinha sido apenas um ensaio na Primeira Guerra Mundial, com tímidos vôos de reconhecimento e pequenas bombas lançadas dos pequenos e frágeis aparelhos, tornara-se a principal arma no maior conflito que a humanidade moderna já presenciou. Os aparelhos eram fabricados em larga escala. Diversas fábricas foram adaptadas para essa produção. O maior problema era na formação dos pilotos de guerra, que envolvia tempo. Se um deles fosse abatido durante um combate, perdia-se o protagonista da história.

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210 Até‚ que outro pudesse ocupar seu lugar, com a mesma experiência, meses se passariam. Para se ter uma idéia do que foi o combate aéreo, só os Estados Unidos perdeu 22.948 aviões em combate durante a guerra. Era preciso arrumar uma forma de trazer essas tripulações de volta, já que grande parte delas conseguia sobreviver a queda, ou realizando um pouso forçado, ou saltando de pára-quedas. O problema ‚ que isso, na maioria das vezes, acontecia em território inimigo, e eles acabavam caindo prisioneiros de guerra. Além de perder pessoal qualificado e treinado, isso acabava abatendo moralmente a tropa aliada que não via esperança de voltar caso fosse abatida. Nasceu então um grupamento que começou a se especializar em resgatar essas tripulações, o Serch end Rescue - SAR, que traduzido significa Busca e Salvamento. O SAR conseguiu bons resultados, trazendo de volta milhares de homens que de outra forma acabariam nas mãos inimigas. Quando a guerra acabou, a aviação tinha dado um salto gigantesco. Vários modelos de aeronaves haviam sido desenvolvidos em meio aos horrores da batalha, assim como armas de poder de destruição nunca antes visto pelo homem. A maior prova disto foram as bombas atômicas lançadas sobre as cidades japonesas de Hiroxima, no dia 6 de agosto de 1945, e Nagasáqui, atingida três dias depois. Ao todo, mais de 140 mil pessoas mortas e outras milhares feridas. De todo esse triste episódio que o mundo viveu, restou o desenvolvimento na área da medicina, da industria e da construção. Com o final do conflito muita coisa havia mudado. A aviação não ficou fora disto. Os aviões que transportavam as pesadas bombas, agora levavam passageiros para todos os cantos do mundo. Viu-se então a necessidade de se continuar com um serviço de busca e salvamento para garantir a segurança dessas aeronaves que cortavam os céus. No Brasil não foi diferente. Nascia a aviação de busca brasileira.

A Primeira Divisão Expedicionária da Força Expedicionária Brasileira em Números Em fins da primeira semana de agosto de 1944, os primeiros elementos da FEB começaram a chegar a Itália. Eram aproximadamente 25.000 homens que foram, gradualmente incorporados ao V Exército. A capacidade de fogo da Primeira Divisão Expedicionária da FEB consistia em: 16.245 armas individuais; 505 metralhadoras; 144 morteiros; 66 obuses; 2.287 armas anti-tanque; 237 metralhadoras antiaéreas

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211 Com estes elementos, a Primeira Divisão Expedicionária da Força Expedicionária Brasileira estava em condições de realizar operações contra qualquer forças inimiga, terrestre ou aérea, de vôo baixo, em ações de médio porte e tempo limitado, devendo ser reforçada com outras armas para ações de grande importância. Devidamente abastecida, podia atacar qualquer objetivo terrestre numa frente de 3.000 metros par regimento de infantaria e defender um setor de 2.500 a 5.000 metros, também por regimento de infantaria. A mobilidade da Primeira Divisão Expedicionária da FEB era assegurada par 1.410 veículos, que permitiam o translado de uma terça parte dos seus efetivos numa só manobra. As operações através de cursos de água ficavam garantidas com a utilização de 47 botes de assalto. Os 736 aparelhos telefônicos e 42 telegráficos asseguravam as transmissões e ligações, apoiados por 10 aviões de observação dos Grupos de artilharia (10 Piper Cub 4 H de 65 HP ). As características do armamento da FEB eram as seguintes: A infantaria possuía carabinas; fuzis, fuzis-metralhadoras, metralhadoras, morteiros e obuses de 105 mm; A artilharia contava com obuses de 105 e 155 mm; As armas individuais eram a carabina .30, o fuzil .30 e a pistola automática .45; As coletivas, o fuzil .30, as metralhadoras .30 e .50, os morteiros de 60 e 81 mm e as submetralhadoras 45. Os canhões eram de 37 e 57 mm. Completavam o arsenal 1.632 lança-granadas, 585 lança-chamas, 72 detetores de minas e 14.254 máscaras contra gases.

O Brasil em Ação na Itália

Simultaneamente com os acontecimentos que ocorriam na Itália, vividos pelas unidades italianas que combatiam ao lado das forças aliadas, os efetivos brasileiros achavam-se empenhados em renhidas ações bélicas, também em território da Itália. As posições brasileiras eram formadas por uma linha de postos avançados, uma posição de resistência e uma reserve, escalonadas em profundidade. A linha avançada consistia numa série de pequenos postos instalados em Malpasso, Lareda di Sopra, Precaria, Braine, Le Vigne, Rocca Pitigliana, ponto 690, Torretta, ponto 756, Falfare, ponto 791, La Cá, Le Roncole, km 12 e C. di Corazza. imediatamente atrás da linha avançada, encontrava-se a posição de resistência, composta por uma série de pequenos núcleos organizados e mantidos pelas companhias em zonas ou pontos críticos do terreno. Em vista dos limitados recursos humanos com que os efetivos brasileiros contavam, foram poucas as unidades que conseguiram manter alguma força em reserva, nem mesmo em nível de pelotão. As unidades ocupavam extensas frentes, como se vê a continuação:

QW (Setor Oeste), 2 companhias, frente: 1,8 km SSW (Subsetor O), 4 companhias, frente: 4,3 km SSC (Subsetor C), 6 companhias, frente: 5,3 km SSN (Subsetor N), 6 companhias, frente: 4,8 km SSE (Subsetor E), 3 companhias, frente: 3,3 km Ao todo. 21 companhias, frente : 1 9,5 km Cada companhia defendia, em média, uma frente de 0,9 km de extensão. Apoiando essas posições encontravam-se três Companhias de Obuses de 105 mm e quatro Grupos de Obuses, três de 105 mm e um de 155 mm, assim distribuídos: Subsetor N e E: 3° G O Subsetor G: 2° G O Subsetor W e setor O: 1° G O/ 4º G O Durante as ações ouvia-se, periodicamente, o ribombar dos canhões que disparavam contra as concentrações de tropas e posições inimigas. A infantaria, por sua vez, atuava segundo a mesma tática,

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212 disparando somente quando a situação assim o exigia. Diz o Tenente-coronel Manoel Thomaz Castelo Branco, em seu livro "O Brasil na II Grande Guerra": " .. (a infantaria). . . percebera e comprovara. . . que o armamento deve ser usado somente quando, de fato, houver importantes razões para fazê-lo. :. Disparar por prazer, frenesi ou medo é um erro imperdoável; por isso, em toda a frente da Divisão reinava um certo silêncio. O inimigo, por sua vez, mantinha-se também em silêncio, disparando quando era realmente necessário. . ." O XV Grupo de Exércitos O XV Grupo de Exércitos aliado era formado pela fusão de unidades de quase todas as partes do globo. Naturalmente, este conglomerado de raças e línguas originava problemas, por exemplo, com o abastecimento, com a condução e com a religião; enfim, eram doze nacionalidades diferentes convivendo e lutando como se fossem uma só equipe. Para se ter uma idéia mais exata da situação, reproduzimos os comentários que o General Clark, Comandante do Quinto Exército, teceu, sobre essas unidades, em seu diário de combate; 1º Divisão, Força Expedicionária Brasileira. (Deparamos com uma enorme dificuldade para encontrar intérpretes que falassem português para os tanquistas que apoiariam as unidades brasileiras em ação.) 1º de Escoceses de Argyll e Sutherlan. (As vezes, cheguei a acreditar, injustamente, é claro, que os ingleses iam acabar parando uma batalha no meio, para tomar seu chá das cinco. Porém, em Anzio, quando os abastecimentos eram desesperadamente escassos, recorremos ao sistema de permuta, comum na guerra, trocando chá norte-americano por café inglês. Ficamos todos felizes.) 3º Batalhão do Regimento de Punjab, 19

ª Brigada de Infantaria, 8

ª Divisão Hindu. (O Oitavo Exército britânico

teve que carregar um rebanho de cabras atrás de si para proporcionar-lhes alimentos. Sua religião não lhes permitia comer carne de porco). 166º Regimento de Campanha da Terra Nova (sem comentários). Batalhão de Serviços Especiais, 6

ª Divisão Blindada Su1-Africana. (Estes eram os "Springboks" do

Marechal-de-Campo Smuts. Largaram os tanques e combateram a pé.) 24

ª Brigada de Guardas, Guardas reais (sem comentários).

2º Batalhão de Dragões de Inniskilling, irlandês. (No dia de São Patrício, antes de uma importante batalha, insistiram para que um avião especial trouxesse "sharmrocks" (comida tradicional Irlandesa) da Irlanda, para cada homem.) 1

ª Brigada Blindada do Corpo Canadense (sem comentários).

Companhia de Defesa, Quartel-General, 2º Corpo Polonês. (A maioria deles tinha parentes nos Estados Unidos). 26º Batalhão, 2

ª Divisão Neozelandesa (sem comentários).

Italianos - Pelotão de "partizans" e 67º Regimento, Grupo "Legnano". (A guerra foi muito confusa para eles.) Enfermeiras norte-americanas, 56º Hospital de Evacuação. (Houve grande agitação quando os enfermos franco-árabes se negaram a vestir pijamas, usando as calças como turbantes.) Corpo Feminino do Exército (sem comentários), Pessoal Territorial Auxiliar Feminino, XV Grupo de Exércitos. (Conhecidas geralmente como A. T., estas moças inglesas trouxeram ao campo de batalha sua tradição heróica de ter operado canhões antiaéreos na grande campanha da Inglaterra.) Enfermeiras sul-africanas, britânicas e canadenses do 107º Hospital-Geral Sul-Africano. (Este hospital recebia feridos de todas as nacionalidades. A tarefa do pessoal se complicava enormemente pelos variados idiomas que seus pacientes falavam.) Nesta enumeração faltam os efetivos franceses que, embora tenham combatido nos primeiros tempos da campanha italiana, logo após o desembarque na Normandia

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213 foram combater em solo pátrio.

Datas Importantes

Janeiro

1 Centro Técnico Aeroespacial Prefeitura de Aeronáutica de Boa Vista Prefeitura de Aeronáutica de Porto Velho

7 Instituto de Aeronáutica e Espaço

13 Instituto de Logística da Aeronáutica Secretaria de Inteligência da Aeronáutica

16 Instituto Tecnológico da Aeronáutica

19 Prefeitura de Aeronáutica de Anápolis

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214 20 Aniversário da criação do Ministério da Aeronáutica

Comissão Brasileira de Atividades Espaciais Gabinete do Ministro da Aeronáutica Consultoria Jurídica do Ministério da Aeronáutica

22 1º Grupo de Transporte de Tropa

23 Grupamento de Apoio do Rio de Janeiro

25 Criação dos Correios no Brasil

27 Dia da elevação do Brasil a Vice-Reinado em 1763 Dia da transferência da capital do Brasil para o Rio de Janeiro (1763) 3º/1º Grupo de Comunicações e Controle

28 Dia da abertura dos portos no Brasil (1808) Parque de Material Aeronáutico de Lagoa Santa

Fevereiro

6 1º Grupo de Aviação Embarcada

11 Nascimento de Osvaldo Cruz (1917)

13 Centro de Medicina Aeroespacial

15 2º /7º Grupo de Aviação

18 1º / 1º Grupo de Transporte

20 Criação do Correio Aéreo Nacional

21 Dia da conquista de Monte Castelo pela Força Expedicionária Brasileira (1945)

24 Dia da promulgação da primeira constituição republicana (1891) Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate Representação Militar Aeronáutica Brasil-Itália

OBS.: De 18 a 23 - Semana Nacional contra o álcool

Março

1 VII Comando Aéreo Regional Prefeitura Aeronáutica de Belo Horizonte

03 Criação do Estado do Amazonas (1755)

04 Dia do término da Guerra do Paraguai (1870)

07 Dia dos Fuzileiros Navais Centro de Lançamento de Alcântara

08 Dia Internacional da Mulher Instalação da Primeira Tipografia no Brasil em Recife (1817)

10 Fundação do Corpo de Bombeiros em São Paulo (1880)

12 Aniversário da cidade de Paraguacú Paulista (SP), Recife e Olinda (PE)

13 Prefeitura Aeronáutica do Galeão Centro de Computação da Aeronáutica de São José dos Campos

14 Dia Nacional da Poesia Nascimento de Castro Alves 1º/1º Grupo de Transporte de Tropa

16 Parque de Material Bélico de Aeronáutica do Rio de Janeiro

19 Dia da Escola Centro de Preparação de Oficiais da Aeronáutica Escola de Comando e Estado-Maior da Aeronáutica

20 Aniversário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT Comissão Aeronáutica Brasileira na Europa

21 Dia Internacional para a eliminação da discriminação racial Dia Universal do Teatro

23 III Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo

24 Parque de Material Aeronáutico de Belém 1º/14º Grupo de Aviação 5º Grupo de Aviação

25 Aniversário da promulgação da primeira constituição brasileira Escola de Especialista da Aeronáutica

27 IV Comando Aéreo Regional Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos

29 Fundação da cidade de Salvador/BA (1549)

31 Dia da integração nacional Aniversário da Revolução de 64

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215 Base Aérea de Manaus 1º/9º Grupo de Aviação

Abril

01 Dia da abolição da escravatura dos índios (1680)

02 Prefeituras de Aeronáutica de: Belém, Campo Grande, Canoas, Curitiba, Florianópolis, Fortaleza, Guaratinguetá, Lagoa Santa, Recife, Salvador, Santa Maria, Santos, São José dos Campos

07 Dia Mundial da Saúde Dia da abdicação do trono do Brasil por D. Pedro I (1831)

08 Dia do Desbravador Dia do Correio

09 Diretoria de Material Bélico da Aeronáutica

10 Dia da fundação do Exército da Salvação

11 1º Grupo de Defesa Aérea

12 Dia da Intendência - Exército Brasileiro Escola de Aperfeiçoamento e Preparação da Aeronáutica Civil

13 Dia da primeira execução do Hino Nacional (1831)

14 Data festiva do Exército ( Tomada de Montese)

17 Grupo Especial de Inspeção em Vôo

18 Dia de Monteiro Lobato

19 Dia do Índio Base Aérea de Anápolis

20 Dia do Diplomata

21 Dia de Tiradentes - Inconfidência Mineira Dia das Polícias Civis e Militares Fundação de Brasília Fundação do Estado da Guanabara

22 Dia do Descobrimento do Brasil Dia da Força Aérea Brasileira Dia da Aviação de Caça Departamento de Aviação Civil

23 Dia do escoteiro

24 1º/5º Grupo de Aviação

25/26 Dia da primeira missa no Brasil

27 Parque de Material Aeronáutico dos Afonsos

30 Centro de Comunicação Social do MAer Serviço Regional de Proteção ao Vôo de Belém VI Força Aérea

OBS.: De 22 a 28 - Semana da Educação

Maio

01 Nascimento de José de Alencar (1829) Dia da celebração da Segunda missa no Brasil

02 Dia do Ex-Combatente Diretoria de Administração de Pessoal

03 Dia do Sertanejo

04 Serviço Geral de Correspondência e Arquivo da Aeronáutica

05 Dia do Expedicionário Dia Nacional das Comunicações Dia de Rondon

06 Comissão de Estudos Relativos à Navegação Aérea Internacional Prefeituras de Aeronáutica de: São Paulo, Santa Cruz, Natal

08 Dia Mundial da Cruz Vermelha Dia da Vitória ( Fim da Segunda Guerra Mundial

10 Dia da cavalaria Base Aérea de Florianópolis

11 Dia da Inauguração do Telégrafo no Brasil Diretoria de Saúde da Aeronáutica

12 Esquadrões de Transporte Aéreo: 1º, 2º, 3º, 4º e 6º

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216 Odontoclínica de Aeronáutica Santos-Dumont

13 Dia da abolição da escravatura (1888)

14 Esquadrilha da Fumaça

15 V Força Aérea Prefeitura de Aeronáutica de Pirassununga

17 Instituto de Cartografia Aeronáutica

19 Hospital de Força Aérea de Brasília

20 Comando Aerotático Comando-Geral do Ar Comando-Geral do Pessoal

23 Dia do soldado desconhecido Dia do soldado constitucionalista

21 EPCAR

22 Aniversário da criação da Força Aérea Brasileira Dia da Aviação de Patrulha Base Aérea do Galeão Base Aérea de São Paulo Parque de material Aeronáutico de São Paulo

24 Dia da Infantaria

26 Diretoria de Engenharia da Aeronáutica 2

ª Esquadrilha de Ligação e Observação

30 Dia dos Bandeirantes

31 Dia Nacional do Ex-Combatente Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Portuária

Junho

01 Dia de Caxias Instituto de Estudos Avançados Prefeitura de Aeronáutica dos Afonsos

04 Fazenda de Aeronáutica de Pirassununga Grupo de Transporte Especial 1º/11º Grupo de Aviação

05 Comando de Transporte Aéreo

07 Dia da Liberdade de Imprensa

08 1º Grupo de Comunicações e Controle

10 Dia da Artilharia

11 Dia da Marinha Brasileira Dia da Batalha Naval de Riachuelo Dia de Almirante Barroso Parque de Material Aeronáutico do Galeão

12 Dia do Correio Aéreo Nacional

24 Dia do Observador Aéreo Dia da Aviação de Ligação e Observação Dia do Reconhecimento Aéreo

27 Instituto de Aviação Civil Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica Serviço Regional de Proteção ao Vôo de Manaus Serviço Regional de Proteção ao Vôo de São Paulo

30 Comissão de Fiscalização e Rec. De Material de são José dos Campos

Julho

01 Serviços Regionais de Aviação Civil: 1º, 2º, 3º, 4º, 5º, 6º e 7º

02 Dia dos Bombeiros

05 Dia do Fundador do exército da Salvação

09 Dia da revolução Constitucionalista (1932)

10 Academia da Força Aérea Hospital de Aeronáutica de Recife

18 Dia da coroação de D. Pedro

23 Dia da declaração da maioridade de D. Pedro II (1840)

25 Estado-Maior das Forças Armadas

26 Parque de Material de Eletrônica da Aeronáutica do Rio de Janeiro

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217 28 Comissão de Desportos da Aeronáutica

OBS.: Primeira semana - Prevenção contra Incêndios

Agosto

05 Dia do Carteiro Dia da fundação de João Pessoa /PB (1585)

06 Dia da Fundação de João Pessoa (1595)

20 Escola Superior de Guerra Instituto de Fomento e Coordenação Industrial

23 Dia da Intendência da Aeronáutica Depósito Central de Intendência Diretoria de Intendência da Aeronáutica

25 Dia do Soldado Dia do Exército Brasileiro Dia de Duque de Caxias

29 Licenciado o primeiro carro no Brasil (1903)

OBS.: De 18 a 25 - semana do Exército

Setembro

03 Dia da polícia Militar Dia da Guarda Civil

05 Dia da Amazônia

06 Dia do Hino Nacional Dia da Fundação de Macapá/AP (1856)

07 Dia da Pátria Dia da Independência do Brasil Dia da Fundação de Porto Velho (1919)

08 Dia da Fundação de São Luís/ MA (1612)

10 Dia da Fundação do Primeiro Jornal no Brasil

14 Dia do Frevo em Recife

15 Entrada da FEB na Segunda Guerra Mundial (1944)

18 Dia da criação dos Símbolos Nacionais por D. Pedro I

20 Dia da Revolução dos Farrapos

OBS.: De 01 a 07 - Semana da Pátria

Outubro

01 Dia da Esquadra 1º/2º Grupo de Transporte

07 Dia do compositor brasileiro

08 Dia do nordestino

11 Dia do deficiente Físico

12 Dia do Mar Centro de Lançamentos da Barreira do Inferno

15 Dia do professor Base Aérea de Santa Maria

16 Departamento de Ensino da Aeronáutica

17 Dia da Indústria Aeronáutica Brasileira (1º vôo do Muniz M-7, 1935) Centro de Instrução Especializada da Aeronáutica Departamento de Pesquisas e Desenvolvimento Diretoria de Eletrônica e Proteção ao Vôo Serviço Regional de Proteção ao Vôo do Rio de Janeiro Serviço Regional de Proteção ao Vôo de Porto Alegre

20 Dia do Poeta Dia Internacional do Controlador de Vôo

23 Dia do Aviador Dia da Aviação Dia de Santos Dumont Dia da Força Aérea Brasileira Dia da Fundação de Manaus

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218 25 Dia da Democracia

27 Nascimento de Graciliano ramos (1892)

30 Dia do Material Bélico Base Aérea de Boa Vista Hospital de Aeronáutica dos Afonsos Hospital de Aeronáutica de Canoas

OBS.: De 17 a 23 - Semana da Asa

Novembro

01 Fundação de Salvador (1549)

05 Nascimento de Rui Barbosa (1849) Dia da cultura

11 Dia do Armistício da Primeira Guerra Mundial Dia do Decreto Instituindo a Bandeira (1889)

12 Parque de Material Aeronáutico de Recife

15 Dia da Proclamação da República (1889)

19 Dia da Bandeira

22 Dia da música

28 Dia do soldado desconhecido

OBS.: De 06 a 13 - Semana da Marinha

Dezembro

01 Centro de Computação da Aeronáutica de Brasília Diretoria de Informática e Estatística da Aeronáutica 2º/1º Grupo de Comunicações e Controle

04 Base Aérea dos Afonsos Base Aérea de Brasília I COMAR V COMAR VI COMAR

05 Dia da Fundação da Cidade de Recife (1823)

06 2º/10º Grupo de Aviação

07 Centro de Documentção e Histórico da Aeronáutica

08 II COMAR

11 Dia da Infantaria da Aeronáutica

12 Comissão de Aeroportos da Região Amazônica

13 Dia do Marinheiro Dia da Marinha Hospital de Aeronáutica de Belém

16 Dia do Reservista Dia da elevação do Brasil a reinado de Portugal e Algarves (1815) Nascimento de Olavo Bilac (1865)

18 1º Grupo de Aviação de Caça Odontoclínica de Aeronáutica de Brasília

28 Dia do Salva Vidas Dia da Marinha Mercante Dia de Mauá

OBS.: De 06 a 13 - Semana da Marinha

Colaboradores:

Major Cáudio Moreira Bento Gilson Gustavo Leandro Cardemio Favera Forças Armadas Brasileiras WEB Page Biblioteca da ADESG-PE Gen. Alberto Evilásio de Barros Gondim Centro de Comunicação Social do Exército Poder Naval On Line

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Bibliografia COIMBRA, Raimundo Olavo. A Bandeira do Brasil: as raízes histórico-culturais. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística Presidência da República. Os símbolos nacionais. Dicionário Aurélio Multimídia. História das Bandeiras Portuguesas. Historical Flags. World Flags Database. Biblioteca da ADESG/PE Forças Armadas.

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220 Centro de Comunicação do Exército. As Batalhas dos Guararapes. Senta a Pua! História da Força Aérea Brasileira. A Caça Brasileira - nascida em combate. História geral da Aeronáutica Brasileira. Instituto Histórico Cultural da Aeronáutica. Poder Naval On Line. Segunda Guerra Mundial. Publicação semanal ilustrada editada por editora Codex. Ministério da Aeronáutica