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III - 019 20 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3618 20 o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE ABATEDOURO DE AVES: ALTERNATIVAS DE MANEJO E TRATAMENTO Luciana de Mattos Moraes (1) Zootecnista, Formada pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias de Jaboticabal, UNESP. Mestranda em Engenharia Agrícola pela Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Campinas, FEAGRI-UNICAMP. Durval Rodrigues de Paula Junior Professor Assistente Doutor do Departamento de Água e Solo da FEAGRI-UNICAMP. Professor convidado do Programa de Pós- Graduação da Escola de Engenharia de São Carlos-USP, EESC-USP. Desenvolvimento de atividades de ensino e pesquisa na Graduação e Pós-Graduação nas áreas de Saneamento Rural, Tratamento de Águas Residuárias, Digestão Anaeróbia e Manejo de Resíduos Agro-industriais. Endereço (1) : Rua: Tiradentes, 464 - Centro - São Carlos - SP - CEP: 13560-430 - Brasil - Tel: (016) 272-4649 - Fax: (016) 261-3786 - e-mail: [email protected] RESUMO A Avicultura vem se destacando entre as atividades para suprimento de alimentos protéicos, não só mundialmente, como também no Brasil. A produção de frango para corte vem se destacando, devido ao desenvolvimento de novas técnicas de criação e de abate, como também devido ao melhoramento genético. Atualmente, o Brasil é o 2 o maior produtor e o 3 o maior exportador de frango de corte. Os abatedouros de aves constituem fontes de poluição das águas devido à elevada carga poluidora dos efluentes gerados. Estes efluentes possuem altas concentrações de matéria orgânica solúvel ou em suspensão, resultantes do processamento industrial e da lavagem dos equipamentos e instalações. O presente trabalho é uma revisão de literatura sobre a origem, caracterização, aproveitamento e tratamento dos resíduos gerados por Abatedouros de Aves. PALAVRAS-CHAVE: Resíduos, Abatedouro, Aves, Gerenciamento, Tratamento. INTRODUÇÃO A Avicultura vem se tornando uma das mais importantes atividades para suprimento de alimentos protéicos não só no contexto mundial, como também no Brasil. O Quadro 1 apresenta o consumo mundial, per capta, de frango nos últimos anos.

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE ABATEDOURO DE AVES:ALTERNATIVAS DE MANEJO E TRATAMENTO

Luciana de Mattos Moraes(1)

Zootecnista, Formada pela Faculdade de Ciências Agrárias eVeterinárias de Jaboticabal, UNESP. Mestranda em EngenhariaAgrícola pela Faculdade de Engenharia Agrícola da UniversidadeEstadual de Campinas, FEAGRI-UNICAMP.Durval Rodrigues de Paula JuniorProfessor Assistente Doutor do Departamento de Água e Solo daFEAGRI-UNICAMP. Professor convidado do Programa de Pós-Graduação da Escola de Engenharia de São Carlos-USP, EESC-USP.Desenvolvimento de atividades de ensino e pesquisa na Graduação ePós-Graduação nas áreas de Saneamento Rural, Tratamento de Águas Residuárias,Digestão Anaeróbia e Manejo de Resíduos Agro-industriais.

Endereço(1): Rua: Tiradentes, 464 - Centro - São Carlos - SP - CEP: 13560-430 - Brasil - Tel:(016) 272-4649 - Fax: (016) 261-3786 - e-mail: [email protected]

RESUMO

A Avicultura vem se destacando entre as atividades para suprimento de alimentosprotéicos, não só mundialmente, como também no Brasil. A produção de frango paracorte vem se destacando, devido ao desenvolvimento de novas técnicas de criação e deabate, como também devido ao melhoramento genético. Atualmente, o Brasil é o 2o maiorprodutor e o 3o maior exportador de frango de corte. Os abatedouros de aves constituemfontes de poluição das águas devido à elevada carga poluidora dos efluentes gerados.Estes efluentes possuem altas concentrações de matéria orgânica solúvel ou emsuspensão, resultantes do processamento industrial e da lavagem dos equipamentos einstalações.

O presente trabalho é uma revisão de literatura sobre a origem, caracterização,aproveitamento e tratamento dos resíduos gerados por Abatedouros de Aves.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos, Abatedouro, Aves, Gerenciamento, Tratamento.

INTRODUÇÃO

A Avicultura vem se tornando uma das mais importantes atividades para suprimento dealimentos protéicos não só no contexto mundial, como também no Brasil. O Quadro 1apresenta o consumo mundial, per capta, de frango nos últimos anos.

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Quadro 1 - Consumo mundial per capta de frango.

Ano Consumo (t)1977 698.0001981 1.444.1041985 1.482.5071989 1.982.6401993 3.144.1271997* 4.200.000

Fontes: APA - APINCO - IBGE - AVES & OVOS* - Estimativa

Dentro da Avicultura, é a produção de frangos para corte que vem mais se destacandodevido ao desenvolvimento de novas técnicas, tanto de criação e de abate, como tambémdevido ao melhoramento genético. O Quadro 2 mostra o desenvolvimento da produção defrango de corte nos últimos anos.

Quadro 2 - Produção de Frango de Corte.

Produção (1000 t)Ano EUA HONG KONG BRASIL CHINA1992 33,9 36,1 16,1 2,01993 34,7 35,8 17,4 2,51994 35,5 38,6 18,5 2,91995 35,4 37,2 22,6 3,31996 36,4 36,5 22,1 3,91997* 37,6 37,0 23,3 4,5

Fontes: APA - APINCO - IBGE - AVES & OVOS* - Estimativa

Atualmente o Brasil é o 2o maior produtor e o 3o maior exportador de frango de corte. Noprimeiro quadrimestre de 1997 a Avicultura de Corte Brasileira teve o seguintecomportamento, quando comparada ao mesmo período do ano de 1996:

• a produção de carne de frango foi de 1,393 milhão de toneladas, tendo um de aumento5,7%;

• a exportação de carne de frango teve um crescimento de 31,25%, totalizando US$304,4 milhões.

O desenvolvimento da Avicultura de Corte foi acompanhado pelo desenvolvimento dastecnologias de abate, ocorrendo a instalação de abatedouros de alta capacidade.

Os abatedouros de aves constituem-se fontes de poluição das águas devido à elevadacarga poluidora dos efluentes gerados. Estes efluentes possuem altas concentrações dematéria orgânica solúvel ou em suspensão, resultantes do processamento industrial e dalavagem dos equipamentos e instalações.

O aumento da produção influencia diretamente a quantidade de resíduos gerados noprocesso de industrialização e consequentemente ocorre um aumento de fontespotencialmente poluidoras.

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O presente trabalho é uma revisão de literatura sobre a origem, caracterização,aproveitamento e tratamento dos resíduos gerados por Abatedouros de Aves.

PROCESSO INDUSTRIAL

O fluxograma do processamento de aves, em um abatedouro é constituído das seguintesetapas:

ORIGEM DOS RESÍDUOS

Durante o processamento das aves, podemos verificar três diferentes tipos de despejos, deacordo com a seção de onde são provenientes. Essas seções são a de Sangria, a deDepenagem e a de Evisceração e Preparação da Carcaça.

Além dos despejos produzidos pelas operações acima, existem os oriundos dos serviçosde manutenção, realizados no final do expediente, tais como: lavagem dos pisos, paredes,equipamentos, etc ...

O efluente produzido na seção de Sangria, constitui-se basicamente de sangue, que é umproduto comercializável. Quando, no entanto, o sangue não é reaproveitado, sendolançado com os demais dejetos, a elevação nos valores da DBO do efluente final éconsiderável, uma vez que a DBO do sangue bruto está em torno de 162.000 mg/l.

O efluente da seção de Depenagem origina-se da remoção hídrica das penas do piso, jáque por determinação da Inspeção Sanitária, esse material não pode ficar acumuladosobre o piso durante o abate. A cada 1000 aves abatidas é possível recuperar 250 Kg depenas. Esse aproveitamento é muitas vezes economicamente viável.

O efluente da seção de Evisceração e Preparação da Carcaça origina-se da limpeza dosmiúdos e das carcaças, bem como de peças condenadas e das vísceras não comestíveis. Asvísceras abdominais são aproveitadas na graxaria, enquanto as não comestíveis, as partes dacarcaça que caem no chão e as partes condenadas são utilizadas na fabricação de farinhas.

Pré - Resfriamento Corte dos Pés e Pescoço

Resfriamento

Aves

Expedição Congelamento

Resfriamento Gotejamento Embalagem

Evisceração

LavagemEscaldamento dos PésDepenamento

Sangria Atordoamento

EnganchamentoPlataforma de Recebimento

Escaldamento

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As lavagens de manutenção contêm detergentes e anti-sépticos utilizados na higienizaçãoe na lavagem da área de descarga de aves vivas. Essa água de lavagem também irácarregar para o efluente, certa quantidade de fezes das aves.

VOLUME DOS DESPEJOS

O consumo de água em abatedouros é função direta de sua capacidade de abate. OQuadro 3 apresenta os valores de volume de água utilizada, em função do número de avesabatidas, encontrados na bibliografia consultada.

Quadro 3 - Volume de água utilizada em função do número de aves abatidas.

Volume de Água Referência Bibliográfica25-30 l/ave 1

18 l/Kg de ave 212,4 l/ave 2

1,5-54,5 m3/1000 aves 217-26,5 m3/1000 aves 2

16-35 l/ave 330 l/ave 525 l/ave 5

As diferenças entre o volume de água fornecido e o volume de despejos, devem-se àsperdas normais no processo, tais como as que ocorrem na produção de vapor e naprodução de gelo.

A vazão é praticamente constante e é característica dos equipamentos utilizados,devendo-se estimar a vazão de despejos durante o projeto de instalação.

CARACTERÍSTICAS DOS DESPEJOS

As características químicas, físicas e biológicas deste tipo de despejo são muito bemconhecidas. Essas águas contêm principalmente sangue, gordura e penas, além de restosde tecidos de aves, conteúdo das vísceras e da moela.

Quando a recuperação dos resíduos é economicamente viável, ocorre o aproveitamentodesses subprodutos, podendo assim o efluente ficar praticamente isento desses materiais,dependendo apenas da eficiência da separação dos mesmos.

O Quadro 4 mostra as principais características deste tipo de despejos encontradas nabibliografia consultada.

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Quadro 4 - Características do Despejo de Abatedouro de Aves de acordo com asdiferentes bibliografias consultadas.

Referência BibliográficaAnálise 2 2 2

pH - - 6,4-7,3DBO 450-600 mg/l - -

Sólidos Suspensos 300-400 mg/l 1460 mg/l 6,9 Kg/1000 avesÓleos e Graxas - - 0,59 Kg/1000 aves

Nitrogênio Total - - 0,9-3,2 Kg/1000 avesCarga Orgânica 8,2-8,8 Kg de DBO/t de

Peso Vivo0,036 Kg de DBO/Kg de

Produto13,6 Kg de DBO/1000

aves

Referência BibliográficaAnálise 2 2 2

pH - 6,5-9,0 6,9-8,1DBO 100-2400 mg/l 150-2400 mg/l 395-1200 mg/l

Sólidos Suspensos - 5,5-10,4 Kg/1000 aves 204-606 mg/lNitrogênio Total - 15-30 mg/l 57,4-91,8 mg/lCarga Orgânica 55-110 Kg de DBO/1000

aves10,4-18,6 Kg deDBO/1000 aves

-

Referência BibliográficaAnálise 3 3 3

pH 6,5-9,0 - 6,7Alcalinidade Total 40-350 mg/l - -

DBO 150-2400 mg/l 559 mg/l 810 mg/lDQO 200-3200 mg/l 722 mg/l 1085 mg/l

Relação DBO/DQO 0,75 0,776 0,75Sólidos Suspensos 100-1500 mg/l 375 mg/l -

Sólidos Totais 250-3200 mg/l 697 mg/l 96,88 mg/lSólidos Sedimentáveis 1-20 mg/l - 4,6 mg/l

Óleos e Graxas - 149 mg/l 748 mg/lNitrogênio Total 15-300 mg/l - -

Referência BibliográficaAnálise 4 5 5

pH - 6,9 6,7Oxigênio Dissolvido - 0,5 mg/l 2 mg/l

DBO 480-1000 mg/l 473 mg/l 398 mg/lDQO - - 460 mg/l

Sólidos Totais - 650 mg/l -Sólidos Fixos - 486 mg/l -

Sólidos Voláteis - 164 mg/l -Sólidos Sedimentáveis - 17,5 mg/l 1,4 mg/l

Óleos e Graxas - 201 mg/l 948 mg/lCarga Orgânica 0,012 Kg/ave - -

É conveniente salientar que as variações que ocorrem nas características dos despejosestão diretamente relacionadas com a eficiência na recuperação dos subprodutos dosefluentes, uma vez que os processos industriais são basicamente os mesmos.

A variação do pH é devida à qualidade da água utilizada, variando de um estabelecimentopara outro.

Há grande variação no teor de óleo e graxas, o que não depende apenas dos dispositivosde remoção de vísceras, mas também do tipo de ave abatida, pois como é conhecido, asgalinhas poedeiras produzem maior quantidade de gordura do que os frangos de corte.

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O equivalente populacional por ave, em termos de DBO, pode ser considerado entre 3 e 5,dependendo se há ou não recuperação de sangue.

RECUPERAÇÃO DE SUBPRODUTOS

Grande parte dos problemas ambientais decorrentes de Abatedouros de Aves devem-se aolançamento de subprodutos nos corpos receptores. Porém, muitas vezes, a recuperaçãodesses subprodutos é economicamente viável.Os subprodutos ou resíduos de abatedouros correspondem a todos os produtos que nãosejam pronta ou diretamente destinados ao consumo e uso humano. A recuperação dessesresíduos só deve ser feita em locais separados e isolados fisicamente das instalações eáreas de manipulação de produtos comestíveis. O Quadro 5 mostra o teor protéico dosprincipais Subprodutos de Abatedouros de Aves utilizados na alimentação animal.

Quadro 5 - Teor protéico dos principais Subprodutos de Abatedouros de Avesutilizados na Alimentação Animal.

Subproduto PB (%)Farinha de Sangue 84Farinha de Penas Hidrolizadas 85Farinha de Resíduos de Abate de Frangos 58Fonte: SAKOMURA

Sangue - A recuperação do sangue implica em diminuir de 40 % da carga poluidora dosdespejos de abatedouros. O sangue pode ter 2 destinos: venda direta "in natura" paraindústrias que se dedicam ao seu beneficiamento, ou seu processamento no próprioabatedouro. No caso da venda direta, esta deverá ocorrer no mesmo dia do abate, paraevitar a deteriorização do produto. O sangue será processado para a obtenção de farinhade sangue, albuminas, sangue solúvel em pó e corante.

Vísceras não Comestíveis e Peças Condenadas - Ao longo das linhas de trabalho, umgrande número de pequenas partículas de carcaça atingem o piso e por essa razão sãodesclassificadas para o consumo humano. Esses resíduos, somados às peças ou cortescondenados por razões sanitárias e às peças tradicionalmente não utilizadas comoprodutos comestíveis, constituem a matéria-prima para a produção de graxas e farinhas.

Penas - Quando se dispõe de grandes quantidades de penas, é possível produzir farinha depenas utilizando-se digestores. O processamento das penas deve ocorre no máximo 24horas após o abate.

Unhas - Tal como a farinha de penas, pode-se produzir farinha de unhas que é utilizadacomo substrato para a cultura do Bacillus thurigiensis.

Ossos e Cortes provenientes da Desossa Mecânica - O volume desse tipo de material temaumentado rapidamente em função dos novos sistemas de produção, distribuição ecomercialização. A desossa mecânica reduz o desperdício da proteína animal poismateriais ósseos com carne remanescente antes encaminhados à produção de subprodutosutilizados na alimentação animal, passam a ser utilizados no alimentação humana. Nocaso do frango, as principais matérias-primas, são o dorso, o pescoço, a caixa toráxica, acoxa e as poedeiras de descarte após estas sofrerem a remoção do peito que alcança ummaior valor no mercado.

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PROBLEMAS DE PEQUENOS ABATEDOUROS QUANTO À RECUPERAÇÃO

A obtenção de subprodutos a partir de resíduos de abatedouros, pressupõe a existência dequantidades mínimas de resíduos que possam sem recuperados de forma econômica. Aarmazenagem de resíduos para a formação de lotes economicamente processáveis, podetornar-se altamente onerosa e inconveniente, dadas as características de perecibilidade dosresíduos, que entram em decomposição ou putrefação rapidamente.

TRATAMENTO DE DESPEJOS

A escolha do tipo de tratamento a ser adotado depende de 2 fatores essenciais: grau deremoção de poluentes requerido e disponibilidade de área, junto às indústrias, a serutilizada para esse fim.

As características das águas residuárias de abatedouros de aves são favoráveis a qualquertipo de tratamento biológico, apresentando como único inconveniente, a presença de altosteores de gordura. Esse material deve ser removido antes das instalações de tratamentobiológico, já que podem ser responsáveis pelo mal funcionamento dos mesmos.

De maneira geral, um sistema de tratamento, a nível secundário, poderia apresentar asseguintes unidades:

a) dispositivo para coleta de sangue, ao final da calha da seção de Sangria;

b) dispositivo para coleta de penas, ao final da calha da seção de Depenagem;

c) dispositivo para coleta de vísceras, ao final da calha da seção de Evisceração ePreparo da Carcaça;

d) caixa de reunião de despejos, seguida de canal provido de telas finas, para reter omaterial que atravessa os dispositivos dos itens b e c;

e) caixa de retenção de areia, seguida de calha Parshall;

f) caixa de retenção de gordura;

g) unidades de tratamento biológico.

Com relação aos itens b e c, existem dispositivos especiais, muitos dos quaismecanizados, disponíveis no mercado brasileiro. Na impossibilidade de instalação ouaquisição desses equipamentos, pode-se projetar essas unidades como partes integrantesdo sistema de tratamento, o que é feito utilizando-se qualquer processo de remoção desólidos em suspensão, sendo o peneiramento o mais aconselhável.

Com relação aos demais itens, todas as unidades podem ser dimensionadas segundocritérios já estabelecidos, com exceção da caixa de gordura. Essa unidade deve reter omáximo possível de gordura e, conforme observado em outros trabalhos, o tempo dedetenção de 20 minutos, recomendado para o dimensionamento de caixas de gordura, épequeno, quando se trata desse tipo de despejo.

Quanto aos tratamentos biológicos, as lagoas de estabilização, lagoas aeradas e sistemas deoxidação total são os mais utilizados no Brasil. Apesar de algumas restrições feitas ao uso delagoas anaeróbias para esse tipo de despejo, o sistema australiano tem se mostrado bastantesatisfatório. Esse sistema é, sem dúvida, o mais econômico, quando o preço da terra é baixo.

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O sistema de 2 lagoas aeradas, em série, uma aeróbia e outra aeróbia parcialmenteanaeróbia, apresenta muitas vantagens sobre os demais processos que requerem energiaadicional para suprir as necessidades de oxigênio.

Os sistemas de oxidação total são também utilizados, principalmente quando não sedispõe de áreas adjacentes às indústrias suficientemente amplas para comportar sistemasde tratamento mais econômico. Neste caso, os custos das obras civis podem ser elevados,além dos altos custos operacionais.Os demais sistemas são pouco utilizados no Brasil, devido aos elevados custos deconstrução e/ou dificuldades operacionais. As eficiências dos vários processos detratamento biológico aplicáveis a esse tipo de despejo, são mostradas no Quadro 6.

Quadro 6 - Eficiências de diferentes processos quando aplicados ao tratamento dedespejos de Abatedouros de Aves.

Tipo de TratamentoNível de Tratamento, em

Porcentagem de Remoção de DBOLodos Ativados Convencionais 90Lodos Ativados de Alta Taxa 80Aeração Prolongada 95Estabilização por Contato 90Filtro Biológico de Baixa Taxa 90Filtro Biológico de Alta Taxa 90Lagoa Aeróbia 90Lagoa Anaeróbia 70 - 80Lagoa Anaeróbia seguida de Lagoa Facultativa 90

ESTUDO DE CASO: O SISTEMA DE TRATAMENTO DOS DESPEJOSINDUSTRIAIS DO FRIGORÍFICO DA COPERGUAÇU EM DESCALVADO, SP

O sistema de tratamento de despejos projetado para esse Frigorífico é composto pelasunidades descritas no item Tratamento de Despejos, sendo o tratamento biológicoefetuado em duas lagoas em série, sendo a primeira anaeróbia e a segunda facultativa.

Os dados técnicos do projeto são:Lagoa Anaeróbia:DBO de entrada: 354 mg/l (admitida, já que o frigorífico não se encontrava em

funcionamento)Tempo de Detenção: 3,3 diasCarga Orgânica Volumétrica de Projeto: 0,107 Kg DBO/m3

Eficiência Esperada: 60% (na remoção da DBO)Lagoa Facultativa:DBO de entrada: 142 mg/lCarga Orgânica Superficial de Projeto: 200 Kg DBO/há diaEficiência Esperada: 90% (na remoção da DBO)

Amostras foram coletadas em um dia de funcionamento normal. Os resultados obtidossão mostrados no Quadro 7.

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Quadro 7 - Resultados das Análises obtidos em diferentes pontos do Tratamento.Local de Coleta

AnáliseEntrada da

Caixa deGordura

Saída da Caixade Gordura

Saída da LagoaAnaeróbia

Saída daLagoa

FacultativapH 6,5 6,4 6,4 6,5DQO (mg/l) 1015,0 840,0 350,0 260,0DBO (mg/l) 724,0 501,0 201,0 80,0Sólidos Totais (mg/l) 927,0 515,0 267,0 289,0Sólidos Fixos (mg/l) 5,0 25,0 20,0 26,0Sólidos Voláteis (mg/l) 922,0 490,0 247,0 263,0Sólidos Sedimentáveis (mg/l) 1,3 3,5 0,0 0,3Óleos e Graxas e outros solúveis em Éter dePetróleo (mg/l) 454,0 196,0

_ _

Conforme pode ser observado, o valor da DBO do afluente da lagoa anaeróbia é cerca de40% superior ao admitido no projeto, uma vez que a indústria não estava recuperandosangue, como inicialmente foi previsto. Assim sendo, a carga volumétrica real está emtorno de 0,160 Kg de DBO/m3, cerca de 60% superior à prevista. Os dados demonstram,no entanto, que essa unidade está trabalhando com a eficiência prevista no projeto, que foide 60%, para carga orgânica significativamente menor.

Da mesma maneira pode ser observado que a carga orgânica superficial atual, para alagoa facultativa, é cerca de 60% superior à inicialmente prevista, e a eficiência destaunidade, na remoção da DBO, está em torno de 60%. Esta possível incoerência pode serexplicada pelo fato da amostra coletada conter número excessivo de algas, que não foramretiradas das amostras usadas nos testes de DBO. Como esse teste mede a respiração deorganismos aeróbios, a parcela da DBO devido à respiração das algas pode sersignificativa.

Os valores de sólidos sedimentáveis mostram que, possivelmente, esteja havendo arrastede material da caixa de gordura, ou se deve à má operação da unidade, que é visível. Damesma maneira, os resultados mostram a baixa eficiência, da Caixa de Gordura, naremoção de óleos, graxas e outros solúveis em éter de petróleo, o que provavelmente, sedeve à operação deficiente da mesma, e também às interferências a que esse método deanálise está sujeito, quando aplicado esse tipo de despejo.

É interessante observar ainda, que os valores de sólidos voláteis foram ligeiramenteinferiores aos da DQO, o que possivelmente, está relacionado com a imprecisão dos testesde sólidos totais, fixos e voláteis, cuja metodologia se baseia na pesagem de cápsulas commaterial, e sujeitos, portanto a erros maiores que o teste da DQO.

CONCLUSÕES

De maneira geral, os despejos de abatedouros de aves contêm principalmente sangue,gordura, penas e vísceras abdominais, além do conteúdo da moela e restos de tecidos dasaves.

A recuperação do sangue, penas e vísceras é de interesse da indústria, pois sãosubprodutos comercializáveis. Além disso, há uma melhora significativa, na qualidadedos despejos, quando esse material é previamente separado.

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A remoção da gordura é operação essencial, antes do tratamento biológico dos despejos,já que está presente, em teores elevados, e pode comprometer a eficiência e ofuncionamento geral desta etapa do tratamento. Esse fato tem ocorrido em vários sistemasem operação.

Recomenda-se que o tempo de detenção na unidade de remoção de gordura seja, nomínimo, de 30 minutos.

O sistema do Frigorífico Coperguaçu apresentou eficiência de 89% na remoção da DBO.

Essa eficiência pode ser considerada muito boa, se forem levadas em consideração osproblemas de operação decorrentes de erros cometidos na construção das lagoas, e o fatoda amostra do efluente final conter algas em concentração elevada, e que não foramretiradas para a realização do teste da DBO.

O despejo é altamente biodegradável, e a escolha do tipo de sistema de tratamento a seradotado, será função quase que exclusiva dos critérios econômicos e construtivos, já quetodos os sistemas podem ser utilizados.

BIBLIOGRAFIA

1. BRAILE, P.M., CAVALCANTI, J.E.W.A. Manual de Tratamento de Águas Residuárias Industriais.5 ed, São Paulo: CETESB, 1979, p. 155-174

2. SALVADOR, N.N.B. Estudo de Tratabilidade de Dejetos de Frigoríficos de Aves. São Carlos, 1979.Dissertação (Mestrado em Hidráulica e Saneamento) - Escola de Engenharia de são Carlos, USP

3. HOKKA, C.O. Estudo Cinético de Tratamento de Águas Residuárias de Abatedouro Avícola porProcesso de Lodo Ativado. Campinas, 1984. Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) -Faculdade de Engenharia de Alimentos e Agrícola, UNICAMP

4. SUPERINTENDÊNCIA DOS RECURSOS HÍDRICOS E MEIO AMBIENTE DO ESTADO DOPARANÁ. Tratamento de Águas Residuárias de Matadouros. 1981, 34 p.

5. FORESTI, E., CAMPOS, J.R., DI BERNARDO, L. Águas Residuárias de Abatedouros de Aves:Origem, Caracterização e Tratamento. In: 9o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIASANITÁRIA, 1977, Belo Horizonte

6. SAKOMURA, N. K. Avicultura. UNESP - JABOTICABAL. 19927. SOUZA, P. A. Classificação e Processamento de Produtos de Origem Animal. UNESP –

JABOTICABAL. 19928. Boletim Informativo da União Brasileira de Avicultura. [email protected]. Associação Brasileira de Avicultura www.apa.com.br