Impacto Da Internet Sobre a Natureza Do Jornalismo Cultural

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 Impacto da internet sobre a natureza do jornalismo cultural Nísio Teixeira Sugerido pela professora Geane Alzamora - a quem agradeço o convite para participar e iniciar desse debate, bem como ao professo r Carlos Falci - o título deste texto de abertura  encerra em si uma série de provocações. Qual seria esse impacto? De que jornalismo cultural estamos falando? Qual o caráter ’na- tural’ deste gênero jornalístico? Para falar de jornalismo cultural, vou par- tir de alguns pressupostos que estarão me- lhor detalhados em artigo em vias de pu- blicação, escrito em parceria com meus co- legas da pesquisa no UNI-BH. (CUNHA et alli, 2002). Cabe antes uma rápida digressão sobre essa ambigüidade existente entre "na- tureza"e jornalismo cultural, bem como al- guns pressupostos que considero interessan- tes para a análise de qualquer tipo de gênero  jornalístico. A ambi güi dad e cer tamente se refer e à clássica diferença entre "cultura"e "natura". Grosso modo, temos que cultura é toda ação humana sobre a natureza (LARAIA, 1990). A ação humana difere da animal - embora a conte nha - por vári as caracte ríst icas. A principal delas é a capacidade de memória, a Jornal ista do jornal Hoje em Dia (MG) e profes - sor do Centro Universitário UNI-BH, onde desenvol- veu pesquisa sobre Jornalismo Cultural On Line entre os anos de 2000 e 2004. consciência do tempo, aspecto mencionado no texto que abre o livro Discussão, de Jorge Luis Borges (BORGES, 1994). É um conto interessante que se chama "A Penúltima V er- são da Realidade". Em trecho inic ial desse conto, Borges diz que a vida tem três dimen- sões: uma vertical, uma horizontal e uma em profundi dade. À dimensão ve rtical, corre s- pondem os vegetais, porque são capazes de acumular energia. À dimensão horizontal es- tão os animais, capazes de acumula r energia e espaço. À dimensão de profundida de esta- riam os homens, capazes de acumular ener- gia, espaço e tempo. Aspecto que também marca a introdução de outro bom livro sobre o estudo da cultura no Brasil, "Dialética da Colonização", de Al- fre do Bos i (1990). O autor lemb ra que a raiz da palavra cultura reside no termo latino colo e faz uma bela exposição mostrando sua manifestação justamente nas palavras  culto (referência à memória, à tradição, ao pas- sado),  colônia (relação das culturas entre si no tempo presente) e à própria cultura (que remete ao futuro, ao projeto, numa espécie de conjunto que engloba os dois termos an- teriores). Sobre a notícia, sabemos que, não importa o gênero jornalístico, a relação é mediada pela pre sent i c ação . O que é pass ado não

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o que o virtual e o digital transformou e acrescentou no fazer jornalístico?

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  • Impacto da internet sobre a natureza do jornalismocultural

    Nsio Teixeira

    Sugerido pela professora Geane Alzamora- a quem agradeo o convite para participar einiciar desse debate, bem como ao professorCarlos Falci - o ttulo deste texto de aberturaj encerra em si uma srie de provocaes.Qual seria esse impacto? De que jornalismocultural estamos falando? Qual o carter na-tural deste gnero jornalstico?Para falar de jornalismo cultural, vou par-

    tir de alguns pressupostos que estaro me-lhor detalhados em artigo em vias de pu-blicao, escrito em parceria com meus co-legas da pesquisa no UNI-BH. (CUNHA etalli, 2002). Cabe antes uma rpida digressosobre essa ambigidade existente entre "na-tureza"e jornalismo cultural, bem como al-guns pressupostos que considero interessan-tes para a anlise de qualquer tipo de gnerojornalstico.A ambigidade certamente se refere

    clssica diferena entre "cultura"e "natura".Grosso modo, temos que cultura toda aohumana sobre a natureza (LARAIA, 1990).A ao humana difere da animal - emboraa contenha - por vrias caractersticas. Aprincipal delas a capacidade de memria, a

    Jornalista do jornal Hoje em Dia (MG) e profes-sor do Centro Universitrio UNI-BH, onde desenvol-veu pesquisa sobre Jornalismo Cultural On Line entreos anos de 2000 e 2004.

    conscincia do tempo, aspecto mencionadono texto que abre o livro Discusso, de JorgeLuis Borges (BORGES, 1994). um contointeressante que se chama "A Penltima Ver-so da Realidade". Em trecho inicial desseconto, Borges diz que a vida tem trs dimen-ses: uma vertical, uma horizontal e uma emprofundidade. dimenso vertical, corres-pondem os vegetais, porque so capazes deacumular energia. dimenso horizontal es-to os animais, capazes de acumular energiae espao. dimenso de profundidade esta-riam os homens, capazes de acumular ener-gia, espao e tempo.Aspecto que tambm marca a introduo

    de outro bom livro sobre o estudo da culturano Brasil, "Dialtica da Colonizao", de Al-fredo Bosi (1990). O autor lembra que araiz da palavra cultura reside no termo latinocolo e faz uma bela exposio mostrando suamanifestao justamente nas palavras culto(referncia memria, tradio, ao pas-sado), colnia (relao das culturas entre sino tempo presente) e prpria cultura (queremete ao futuro, ao projeto, numa espciede conjunto que engloba os dois termos an-teriores).Sobre a notcia, sabemos que, no importa

    o gnero jornalstico, a relao mediadapela presentificao. O que passado no

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    notcia, histria. Dizer que Napoleo Bo-naparte governou a Frana muito tempo noganha nem nota de cinco linhas. Mas o lei-lo de obras manuscritas de Napoleo, sim.Aprendemos que o grau de importncia deuma notcia aumenta medida em que umgrupo maior de pessoas pode sofrer o im-pacto da informao que ela veicula. Tam-bm sabemos que quanto mais indita for ainformao, maior ser o interesse sobre ela- at para efeitos da concorrncia entre jor-nais, com o chamado "furo".Tambm sabemos que o processo de

    pauta, apurao, redao, edio e publica-o desta notcia extremamente complexo.Envolve, nos dois primeiros pontos, aquiloque Clvis Rossi (1980) aponta como sendoa "batalha externa"da notcia. Os obstculose as estratgias para obter a informao dafonte - seja pessoal, documental, ou ambas- buscar o contraponto, a checagem, a con-firmao. J a "batalha interna"representa oconfronto com os interesses empresariais en-volvidos na matria, os "filtros"pelos quaispassa o texto antes de ser publicado, quemuitas vezes envolve simplesmente aspectostcnicos, relacionados ao limite de espao etempo que o jornalista tem que considerar -ou, em alguns casos, romper - para efetivar apublicao de seu texto.Sobre esse ltimo ponto, vrias teorias do

    jornalismo foram desenvolvidas para o es-tudo da questo, como o newsmaking (pro-duo da notcia), o agenda setting (agenda-mento), o framing (enfoque). Vencio A. deLima (2001) ressalta a importncia desse es-tudo na sociedade contempornea, uma vezque praticamente todas tm na mdia umagente social cotidiano importante (media-centered societies) e que, um pas como oBrasil, por exemplo, no pode se furtar dis-

    cusso sobre quem controla os meios de co-municao, a relao com o poder poltico,e principalmente, quais so as categorias deagendamento e enfoque que vm sendo tra-balhadas.s vezes a manipulao da realidade no

    to grosseira - como o famoso caso GloboDiretas J, em 1984, que veiculou mat-ria no Jornal Nacional relacionando imagensdas multides nas ruas ao aniversrio de SoPaulo e no ao movimento nacional - , masest presente naquilo que a mdia agendapara a opinio pblica (alguns assuntos sotemas de notcia, outros no) e, dentre os se-lecionados, naquilo que enfoca (qual o n-gulo, qual a abordagem do fato selecionado).Tudo isso, obviamente, inclui uma longa dis-cusso sobre a tica jornalstica - que no oenfoque deste artigo...

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    Com o perdo do nariz-de-cera, passemosento a relacionar alguns pontos acima ex-postos com o tema proposto. Quando pensa-mos em cultura, pensamos portanto, em to-das essas questes: a relao do homem so-bre a natureza, o domnio, ou melhor, a cons-cincia humana do tempo e a interao sim-blica produzida por essa relao na dimen-so passada, presente e futura. Ento a pri-meira questo surge aqui: ser que o jorna-lismo cultural tambm pensa dessa forma?Ser que suas pautas consideram essas trsdimenses ?Uma rpida aplicao das teorias do agen-

    damento e do enfoque nos permitem di-zer que muitas vezes o jornalismo cultu-ral trabalha a cultura mais como produtodo que como processo cultural. Nesse sen-tido, vale lembrar que h uma relao in-

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    trincada do jornalismo cultural com a pr-pria indstria cultural - a clebre teoria deAdorno e Horkheimer que lamenta a redu-o do produto cultural simples condiode mercadoria - em seus mais diversos n-veis: fonogrfico, cinematogrfico, editorialetc. (ADORNO, 1971).A agenda do jornalismo cultural muitas

    vezes segue a agenda do prprio produto cul-tural, seja ele um livro, um disco, um es-petculo. Mas muitas vezes a pauta recaisobre o produto cultural e no problematizaos processos que levaram o produto at suaconfigurao final. Alis, esse um pontoque no se configura nem mesmo na entre-vista com os autores do produto: percebe-se uma certa condescendncia, a busca deum certo glamour, a confuso entre repor-tagem e tietagem em algumas matrias darea. a famosa entrevista do levantar a bolapara o entrevistado contar, sem falar no po-der de fogo - e de seduo - muitas vezesprotagonizado por convites (espetculos, vi-agens pagas pela produo), ou presentes (oproduto per si, como livros, os CDs, DVDsetc). No estou insinuando que o jornalistano deva aceit-los - certamente, o ideal se-ria que no, caberia ao jornal bancar todosos custos - mas, dada a profuso de produ-tos existentes, a divulgao de produtos cul-turais uma forma justa que o assessor doartista/empresa encontra para mostrar o seuproduto. O problema que essa relao pro-fissional pode se perverter: profissionais spublicam mediante o jab cultural. Artis-tas que conseguem uma quota de divulgaose sobrepem queles que no tm recursospara isso.A relao portanto, extremamente pre-

    sentificada e, em alguns casos, descarada-mente colonizada, dado o carter injusto de

    competio entre o produto nacional e o es-trangeiro. Percebe-se uma ausncia de pau-tas sobre a economia e a poltica da cultura,que poderiam minimizar o quadro. Uma dasrazes , sem dvida, o carter hbrido dojornalismo cultural, que inclui textos infor-mativos, opinativos, servios (roteiros queocupam pginas e pginas, mas que tm queestar presentes), colunas sociais, horscopo,passatempos etc. Espcie de discurso so-bre a produo esttica, mas tambm veculodessa produo (caso dos quadrinhos, crni-cas, poesias, fotografias), o jornalismo cultu-ral vive, portanto, uma seqncia de dilemas.A prpria idia do furo no jornalismo cul-

    tural subverte o conceito clssico de not-cia. Muitas vezes, as pautas so previsveis,apesar de inditas: pensemos na capa quetodo jornal vai dar na estria do show doCaetano Veloso ou da badalada produo deHollywood. (s vezes existem jornais queacreditam que "furam"dando a informao...na vspera. Pior so seus concorrentes queacreditam isso e minimizam a importnciado fato porque se consideraram "furados"...como se o leitor de cada um desses jornaistivesse alguma coisa a ver com a briga deegos entre coleguinhas: acaba sendo redu-zido a uma Joana Darc nessa fogueira dasvaidades...)Se o jornalismo cultural tem sua natu-

    reza espremida por esses dilemas, quaisseriam os possveis impactos da internet?Ela vai acentuar ou minimizar tais dilemas?Bem, essa justamente uma das questesque norteia o segundo momento de nossoprojeto no UNI-BH, que comea ms quevem com novos bolsistas e outra professora,a sociloga Vanessa Salles. Apesar do es-tgio ainda inicial, creio ser possvel traaralguns cenrios possveis.

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    Alguns aspectos centrais do impacto da in-ternet no jornalismo - o que poderamos cha-mar do jornalismo on line - podem ser resu-midos em seis pontos principais apresenta-dos por Marcus Palacios durante palestra: 1)hipertextual; 2) multimiditico/convergente;3) passvel de atualizao contnua; 4) perso-nalizvel; 5) interativo e 6) passvel de incor-porar memria. A eles agrego os seguintescomentrios.Ponto 1: O carter de hipertexto, embora

    no seja uma novidade apresentada pelo su-porte eletrnico-digital, foi certamente po-tencializado por ele: chegamos ao ponto, porexemplo, de no contarmos apenas com co-nexes para outros textos, mas tambm ou-tros suportes de linguagem, como trechos deudio e vdeo (hipermdias).Ponto 2: Uma das razes que possibi-

    lita essa convergncia multimiditica jus-tamente o suporte digital. Ele transforma ainternet e, por conseqncia, o jornalismo online, em uma plataforma no s de publica-o, mas tambm de distribuio. Ou seja,h uma convergncia no somente de lingua-gens, como tambm de funes.Ponto 3: Outro impacto estaria na perio-

    dicidade: ao contrrio dos suportes tradicio-nais jornalsticos, o jornalismo on line ofe-rece um contedo que pode ser atualizadocontinuamente. a primeira vez na histriada comunicao que o texto impresso infor-mativo alcana uma velocidade para o relatode situaes e fatos antes s possvel via r-dio e TV (hard news). Ao mesmo tempo, po-rm, pode manter o carter de interpretaoe anlise que marcou o contedo do jorna-lismo impresso (soft news). Um projeto edi-torial para a internet pode optar por qualquerum desses caminhos ou mesmo buscar umacombinao dos dois.

    Ponto 4: Sabemos que leitor de jornal um sujeito seletivo. No l tudo aquilo que ojornal publica, mas navega pelas pginas im-pressas em busca de um ttulo ou foto inte-ressante, ou mesmo vai diretamente sua se-o preferida. O leitor de jornalismo on linepode programar seu contedo para s rece-ber aquelas notcias que lhe interessam - semmencionar aqui na programao de sites quelhe interessam (a bendita pasta "Favoritos")Ponto 5: O usurio pode interagir com o

    emissrio da notcia, enviando e-mails e con-tribuindo para a fomentao do debate e dacrtica. Esse um dos pontos mais sensveisao debate, uma vez que, para muitos, o con-ceito de interatividade torna-se mais pleno medida em que descreve uma relao dadaem tempo real.Ponto 6: O suporte digital pode tambm

    apresentar outra caracterstica: sua conver-gncia de mdias permite no s a publica-o, a distribuio, mas tambm a pesquisa.O poder de compactao dos dados possibi-lita um acesso mais amplo s informaespassadas, a um arquivo de textos, sons e ima-gens que tambm pode ser incorporado aoprojeto editorial em jornalismo on line.

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    Antes de finalizarmos, uma ltima obser-vao: o que chamamos de jornalismo online anteriormente talvez pudesse ser maispropriamente chamado de webjornalismo,conforme sugesto de Alzamora (2001):trata-se da articulao de linguagens distin-tas do jornalismo em um suporte propiciadopelo ambiente web. Talvez a aplicao dotermo jornalismo on line seja mais adequadaa todo possvel impacto do suporte digital-eletrnico no s sobre a produo jornals-

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    tica direcionada no ambiente web, mas tam-bm quela presente nas redaes tradicio-nais de jornais, rdio e TV: uso do e-mailentre colunistas e leitores de jornais ou en-tre leitores, assessores e jornalistas, consultaa sites como pesquisa prvia de textos e ima-gens para execuo de matrias, a simplestransposio on line no site do jornal dasmatrias veiculadas em sua verso impressa,dentre outros. Assim, o jornalismo on lineseria um gnero e o webjornalismo uma desuas mais sofisticadas espcies.S essa distino anterior seria objeto para

    mais um artigo. Mas serve para voltarmos aottulo proposto: se pensamos no impacto dainternet na natureza do jornalismo cultural ese pensamos no jornalismo on line culturalde forma ampla, j temos muitas possibili-dades de anlise: desde o impacto da distri-buio de material promocional - muitas dis-tribuidoras de filmes, por exemplo, hoje sdisponibilizam fotos de lanamentos via in-ternet - pesquisa de portais e sites de buscacruciais para o exerccio da apurao jorna-lstica (todo jornalista, da rea cultural inclu-sive, tem uma boa pasta "Favoritos"), pas-sando pelo uso do e-mail para distribuiode releases e realizao de entrevistas, info-grficos que trabalham com animao, den-tre outros pontos.De qualquer forma, os aspectos anteriores

    podem ser comuns a qualquer gnero jorna-lstico. Aqui talvez seja precisamente ondea especificidade do jornalismo cultural en-contra a especificidade do webjornalismo: aconvergncia de mdias e articulao de lin-guagens possibilita, por exemplo, que tre-chos de uma entrevista possam ser disponibi-lizados em udio, bem como do CD que foiobjeto de crtica. Da mesma forma pode-seincluir o vdeo para ilustrar ou reforar deter-

    minadas passagens de um texto informativoe/ou interpretativo sobre algum material au-diovisual.Um projeto editorial em webjornalismo

    cultural pode, alm de contemplar o car-ter hbrido de linguagens, abrigar o carterhbrido da periodicidade. O servio de ro-teiro cultural pode respeitar a atualizao,diria ou no, de seus mais diversos seto-res, como peas de teatro, filmes em cartaz,shows, pode ocupar quantas "pginas"quiser,sem prejuzo para o espao destinado s ma-trias ou sem sofrer riscos de reduo. Aomesmo tempo, permite que a crtica produ-zida no dia da estria do espetculo possapermanecer disponvel durante toda a tempo-rada do mesmo. Como em outras sees, oconceito de deadline ganha uma nova acep-o: definido pela rapidez e preciso comque o material disponibilizado na rede apssua redao e no pela escala industrial deoperao grfica - tradicionalmente, no casoda maioria dos jornais brasileiros - entre 16e 18 horas. A disputa pelo "furo"incorpora,mais do que nunca, o dado temporal.Outro ponto hbrido do jornalismo cultu-

    ral mencionado - o abrigo no s de discur-sos sobre a produo cultural, mas tambmde produtos culturais como crnicas, fotos etirinhas - ganha novas possibilidades nessesegundo ponto: alm do texto, da foto e doquadrinho, podem ser incorporadas a ani-maes, vdeos (pensemos, por exemplo, emuma Seo doMinuto), sem falar em outrasformas de passatempos (videogames).O projeto editorial pode tambm incorpo-

    rar a explorao de sua base de dados (ar-quivo) e funcionar como centro de refern-cia para alguns assuntos (links interessantes).Tudo isso s vale, claro, se houver a ex-plorao adequada e comedida dos recursos

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    de hipertexto, hipermdia, navegao, designetc.No sei se, alfim e ao cabo, espremido

    entre deadlines de pginas no jornal e cor-rees de trabalhos acadmicos, conseguicumprir meu objetivo aqui de estimular odebate sobre tema to vasto e apaixonante.Sem mencionar algumas implicaes ticas,que no tivemos, nem teremos tempo deabordar, velhas questes parecem permane-cer:

    Editoriais: o dilema produto x processocultural, a tietagem x reportagem, den-tre outros.

    Econmicos: Um projeto de webjorna-lismo em termos infra-estruturais podeser mais vivel do que o tradicional,mas como pensar sua manuteno?

    Sociais: Apesar do ndice de usuriosde rede estar crescendo no pas, no in-cio da TV a Cabo, estimava-se que em2002 teramos 12 de milhes de domic-lios cabeados. O ndice hoje de 6 mi-lhes e 500 e vem caindo, sem falar nacrescente inadimplncia e conseqentecancelamento de linhas telefnicas nopas. O otimismo da privatizao nascomunicaes encontrou a dura reali-dade de renda do brasileiro. Sem falarnos custos para se ter e manter uma pla-taforma informtica computadorizada.

    Polticos: O cenrio conglomerado queenvolve a produo cultural (IndstriaCultural), o controle dos meios de co-municao, inclusive provedores de in-ternet, produtores de software e hard-ware, tanto global quanto localmente,

    os grupos de poder e interesses envol-vidos. Paralela fuso e convergnciadas mdias e contedos, assistimos tam-bm fuso das companhias que detmtais produtos, que certamente exercemuma forte presso para o agendamentode temas, alm de contribuir tambmpara uma perigosa aproximao entrejornalismo e entretenimento. Todo essecenrio em contraponto necessidadehistrica, especialmente no caso brasi-leiro, de uma gesto mais democrticado acesso produo e disseminao deinformaes, inclusive na rea cultural.

    RefernciasADORNO, Theodor. A Indstria Cultural.

    In COHN, Gabriel (org). Comunicaoe Indstria Cultural. So Paulo:Cia.Editora Nacional/Edusp. 1971.

    ALZAMORA, Geane: Jornalismo CulturalOn Line: uma abordagem semitica.S/r, 2001.

    BORGES, Jorge Lus. A Penltima Versoda Realidade. In.: Discusso. Rio deJaneiro: Bertrand Brasil, 1994, p. 9-14.

    BOSI, Alfredo. Dialtica da Coloniza-o. So Paulo: Companhia das Letras,1990.

    CUNHA, Leo, MAGALHES, Luiz Henri-que V. e TEIXEIRA, Nsio: Dilemasdo Jornalismo Cultural. Revista Temas.Belo Horizonte: Centro Universitriode Belo Horizonte, ano 1, vol. 1, p. 73-83.

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    LARAIA, Roque de Barros. Cultura -um conceito antropolgico.12 ed. SoPaulo, Zahar, 1999.

    LIMA, Vencio A. de. Mdia e Poltica. SoPaulo: Fundao Perseu Abramo, 2001.

    PALACIOS, Marcus: O que h de novo noJornalismo On-line ?. Palestra profe-rida a 27/06/2001, no Instituto CulturalIta, dentro da programao do Ncleode Novas Tecnologias da PUC-MG.

    ROSSI, Clvis. O Que Jornalismo?. SoPaulo, Brasiliense: 1980.

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