Importância da Psicopedagogia

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Reflexão acerca dos contributos da Psicopedagogia na formação académica, em geral, e mais particularmente no desenvolvimento e crescimento do ser humano.

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IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA © Celeste Duque – Psicóloga Clínica ([email protected])

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Este texto pretende ser uma reflexão sobre a importância da

Psicopedagogia para o sujeito individual e social, baseado na

experiência do dia-a-dia. Não serão aqui citados autores, nem

perspectivas teóricas (serão objecto de estudo em artigos posteriores).

Psicopedagogia é definida no Dicionário de Língua Portuguesa como a aplicação dos princípios

da Psicologia à pedagogia (2001, p. 1232), o que não serve de grande esclarecimento. Mas,

sabendo que pedagogia vem do latim paedagogia e do grego paidagogía, e que se refere à teoria

que estuda a educação, por muitos considerada como “a arte de educar e ensinar”, que visa o

estudo dos ideais de educação de acordo com concepções de vida específicas, adaptando-se-lhes

os processos da forma considerada mais eficaz para se alcançarem os ideais, então, a definição

ganha sentido (ibidem, p. 1148). De facto a psicologia dedica-se ao estudo do comportamento

humano e de tudo o que lhe subjaz, i.e., todos os processos envolvidos na acção/reacção, mas

também na percepção, avaliação, raciocínio, pensamento, representação, personalidade, em que o

sujeito é indissociável das suas múltiplas vertentes (biológica, psicológica, social, cultural,

económica, ecológica, espiritual, etc.).

A Psicopedagogia é, deste modo, uma área de saber que se ocupa em estudar as melhores

estratégias para levar os sujeitos a adquirir/integrar conhecimento... Isto é a melhor ensinar mas,

também, aprender...

Ao contrário do que se possa pensar a Psicopedagogia não é de uso exclusivo dos Psicólogos, é

um importante instrumento de trabalho para todos os que se dedicam ao Ensino!

Todos os profissionais que se inserem no âmbito do Ensino seja ele básico, secundário, superior

ou universitário devem dominar e aplicar na prática conhecimentos desta área específica já que

esta os auxilia a melhor lidar com o indivíduo e com o grupo turma, mas também a melhor

ensinar conhecimentos que à partida podem parecer sem aplicabilidade na prática logo

considerados como desinteressantes, sem utilidade supérfluos, e tantos outros adjectivos tão

negativos que levam os alunos a não investir na sua aprendizagem.

Estuda os processos que subjacentes à percepção, aprendizagem, motivação, relacionando-os

entre si e com o desenvolvimento global do sujeito (personalidade, meio em que se insere social e

culturalmente, situando na época histórica em que vive). Estuda, igualmente, as representações

que cada um individualmente e em grupo faz do ensino e da vida em geral (por exemplo, como os

estereótipos e preconceitos influenciam as primeiras impressões que se fazem acerca das outras

pessoas ou das novas situações/acontecimentos de vida que se presenciam ou se vivem) e como

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todas estas variáveis vão inevitavelmente ser fonte de profunda influencia ao nível formação da

própria personalidade.

O indivíduo humano é um ser que deve ser, invariavelmente, encarado na sua complexidade e de

forma holística, tendo em atenção que todas as suas dimensões influenciam e são influenciadas

umas pelas outras e que é deste incessante jogo de influências que depende o equilíbrio, bem-

estar e qualidade de vida do sujeito. Este equilíbrio é, também ele, resultado de permanentes

equilíbrios e desequilíbrios, por exemplo, basta que a situação ultrapasse as expectativas iniciais

do sujeito para que este sinta algum grau de frustração ou de desânimo, o que provoca algum

desequilíbrio, para logo depois se transformar num novo equilíbrio, quando o indivíduo reflecte

acerca do sucedido e decide não valorizar esse pequeno insucesso, traçando novos objectivos

para si.

Podemos então afirmar de forma resumida que a Psicopedagogia é uma área de charneira entre a

Psicologia e a Pedagogia e que visa desenvolver métodos e estratégias de ensino/educação mais

adaptados ao sujeito individual, já que todos os elementos de um grupo ou sociedade são

diferentes, e aprendem através de modelos e estratégias também eles muito diversificados, não

raras vezes mesmo díspares.

A Psicopedagogia fornece os instrumentos e explicações que permitem facilitar a aprendizagem,

e mais importante ainda, que levem à criação de novas estratégias e metodologias de ensino que

facilitem o trabalho do docente e se adaptem não apenas a ele mas igualmente aos grupo de

alunos turma para o qual o professor deve dirigir o seu ensino. A par desta sua vertente, constitui-

se como uma fonte privilegiada ao nível da intervenção em sujeitos que apresentam dificuldades

específicas de aprendizagem e na gestão de conflitos em sala de aula. Aliando-se à área da

Psicologia da Saúde desempenha um papel fundamental e coloca em destaque pelos estilos de

vida e comportamentos de risco adoptados pelos sujeitos em geral, das sociedades modernas, que

vivem ritmos alucinantes e são confrontados com níveis excessivos de stress pelo que há

necessidade de educar os sujeitos por forma a aprenderem a respeitar o seu corpo, e ensinar-lhes a

lidar e gerir com situações potencialmente geradores de stress, o qual é altamente prevalente em

grupos profissionais que já são identificados como grupos de risco, por exemplo: professores;

profissionais que trabalham por turno; profissionais da área da saúde; profissionais com cargos de

topo; gestores de Bolsa, etc.).

Como se pode inferir a Psicopedagogia tem um papel muito importante ao nível do trabalho e da

realização de tarefas, bem como da formação, não é pois de admirar que se possa afirmar que a

Psicopedagogia está directa ou indirectamente presente na vida de todos os sujeitos desde a mais

tenra idade.

Sabe-se que num primeiro momento aprende-se por imitação e à medida que o ser humano vai

amadurecendo e crescendo, vai-se desenvolvendo a sua capacidade de percepcionar os estímulos

e de os seleccionar, a sua capacidade de: pensamento e de comunicação, de aprendizagem, de

relacionamento e inter-relacionamento com os outros, de dar e receber afecto, permitindo um

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gradual alargamento dos seus horizontes, isto é, de adaptação aos diferentes meios a que

pertence, que vão desde a família, escola, grupo de pares e amigos, diversos grupos sociais,

relacionamento com etnias, nacionalidades e línguas diferentes, lidar com a diversidade cultural,

isto é à medida que o bebé cresce, se torna criança, adolescente, jovem adulto, etc. a sua

aprendizagem vai sendo progressivamente mais complexa e remete-se para a leitura de algumas

teorias explicativas do ser humanos, por exemplo, de Sigmund Freud, de Jean Piaget e Erik

Erikson, de Abraham Maslow, entre muitos outros.

Não raras vezes deparamo-nos com pessoas que encaram a vida de uma forma demasiado

negativa em que tudo se passa como se, para eles o futuro não existisse, até porque este mais não

é que uma repetição de um passado tão frustrante e doloroso. Outros, pelo contrário, por mais

adversas que possam ser as suas condições de vida, esperam sempre que “dias melhores” possam

acontecer.

Nestes dois casos extremos aquilo que se pode concluir é que a aprendizagem e interiorização

que fizeram da vida os influenciaram e transformaram radicalmente. No primeiro caso, em

alguém profundamente ancorado numa realidade/humor negativo (talvez mesmo deprimido)

incapaz de se descentrar da sua realidade para observar o mundo tal como ele é. No segundo

caso, alguém optimista que apesar do sofrimento presente, consegue perceber que “nada está

perdido”, e que se hoje se vive a renúncia, amanhã pode-se estar a viver um grande sucesso...

Destes dois exemplos consegue-se facilmente perceber a importância da aprendizagem, e muito

particularmente das aprendizagens precoces, já que, em situações de conflito/adversidade o

sujeito tem tendência, num primeiro momento, de grande emotividade, em regredir a fases do

desenvolvimento mais precoces e reagir de acordo com..., posteriormente, e após alguma reflexão

e análise da situação, vai reagir e emitir um comportamento mais adequado à sua condição social,

idade e ao mas também, e não menos importante, ao que se espera dele.

Ainda de acordo com o exemplo apresentado será de esperar que o primeiro sujeito seja alguém

pessimista, inseguro/imaturo, que se acomoda facilmente à opinião da maioria, algo

desequilibrado por receio de falhar ou magoar os outros; enquanto que o segundo sujeito é

alguém que facilmente aceita os desafios que se lhe deparam e que em situações críticas,

consegue mobilizar as suas capacidades/competências e resolver os problemas, alguém mais

equilibrado, mais seguro, com uma melhor auto-estima.

BIBLIOGRAFIA

(2001). Dicionário de Língua Portuguesa. Colecção “Universal” – edição digital. Lisboa: Porto Editora.

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© Celeste Duque, 2008-04-05