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INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA METAL- MECÂNICA BRASILEIRA: UM ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO SOB A ÓTICA DA TEORIA ECONÔMICA EVOLUCIONÁRIA E DA VISÃO- BASEADA-EM-RECURSOS Julio Vicente Rinaldi Favarin (usp) [email protected] Valdir Lopes Anderson (usp) [email protected] Marcos Mendes de Oliveira Pinto (usp) [email protected] Este artigo tem por objetivo identificar os mecanismos internos que promovem inovação em empresas de setores internacionalizados da indústria metal-mecânica brasileira. A metodologia utilizada consiste em um estudo de caso múltiplo com 10 eempresas selecionadas dentro dos setores mais competitivos do país, segundo um conjunto de indicadores apresentados aqui. Os setores analisados foram: o aeronáutico, de máquinas-ferramenta, de máquinas-agrícola, de compressores, equipamentos para a indústria alimentícia e de papel e celulose, de caminhões e ônibus e de carrocerias. A abordagem teórica baseou-se na visão-baseada-em-recursos (VBR) e na teoria econômica evolucionária. Observou-se que as empresas da amostra são dinâmicas e com notável capacidade de reinventar suas vantagens competitivas em um processo contínuo. Essa capacidade está associada, sobretudo à presença de competências excepcionais em engenharia (de produto e de produção), mas também à prospecção tecnológica e a um departamento de marketing com viés técnico, para capturar as necessidades tecnológicas do cliente. Na amostra, os mecanismos indutores de rupturas tecnológicas foram a atração de parceiros tecnológicos e desenvolvimento de pesquisa básica na universidade. Palavras-chaves: vantagens competitivas, indústria metal-mecânica, inovação incremental, inovação de ruptura XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA METAL-

MECÂNICA BRASILEIRA: UM ESTUDO

DE CASO MÚLTIPLO SOB A ÓTICA DA

TEORIA ECONÔMICA

EVOLUCIONÁRIA E DA VISÃO-

BASEADA-EM-RECURSOS

Julio Vicente Rinaldi Favarin (usp)

[email protected]

Valdir Lopes Anderson (usp)

[email protected]

Marcos Mendes de Oliveira Pinto (usp)

[email protected]

Este artigo tem por objetivo identificar os mecanismos internos que

promovem inovação em empresas de setores internacionalizados da

indústria metal-mecânica brasileira. A metodologia utilizada consiste

em um estudo de caso múltiplo com 10 eempresas selecionadas dentro

dos setores mais competitivos do país, segundo um conjunto de

indicadores apresentados aqui. Os setores analisados foram: o

aeronáutico, de máquinas-ferramenta, de máquinas-agrícola, de

compressores, equipamentos para a indústria alimentícia e de papel e

celulose, de caminhões e ônibus e de carrocerias. A abordagem teórica

baseou-se na visão-baseada-em-recursos (VBR) e na teoria econômica

evolucionária. Observou-se que as empresas da amostra são dinâmicas

e com notável capacidade de reinventar suas vantagens competitivas

em um processo contínuo. Essa capacidade está associada, sobretudo à

presença de competências excepcionais em engenharia (de produto e

de produção), mas também à prospecção tecnológica e a um

departamento de marketing com viés técnico, para capturar as

necessidades tecnológicas do cliente. Na amostra, os mecanismos

indutores de rupturas tecnológicas foram a atração de parceiros

tecnológicos e desenvolvimento de pesquisa básica na universidade.

Palavras-chaves: vantagens competitivas, indústria metal-mecânica,

inovação incremental, inovação de ruptura

XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.

São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.

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1. Introdução

Este artigo tem por objetivo identificar os mecanismos internos que promovem inovação em

empresas de setores internacionalizados da indústria metal-mecânica brasileira, sob a ótica da

visão-baseada-em-recursos (VBR) e da teoria econômica evolucionária. A metodologia

utilizada consiste em um estudo de caso com 10 empresas de diferentes setores metal-

mecânicos, selecionadas por seu destaque em um conjunto de indicadores de competitividade.

Esta primeira seção apresenta os conceitos iniciais que fundamentam a abordagem do artigo.

Na segunda seção, descreve-se a trajetória da indústria brasileira. Na terceira e na quarta

explicita-se os aspectos metodológicos do estudo de caso e discute-se os resultados. A última

seção traz as conclusões do estudo.

No artigo, define-se recursos como os elementos1 de uma organização que levam-na a

organização a conceber e implementar uma estratégia de criação de valor não-compartilhada

por concorrentes ou potenciais competidores (BARNEY 1991). Quando esta for inimitável,

trata-se de uma vantagem competitiva sustentável. Não significa que precisa ser atemporal

para ser chamada de sustentável, mas deve apenas não sofrer ameaças imediatas pelos

esforços de duplicação de terceiros. Mudanças no cenário econômico podem mitigar a

sustentabilidade de uma vantagem e diluir as bases da criação de valor de uma estratégia.

Choques2 na economia atuam redefinindo quais atributos de uma organização constituem

recursos e quais não, exigindo um re-posicionamento em busca de uma nova vantagem

sustentável.

Segundo a Teoria Evolucionária, a dinâmica de criação e destruição das vantagens pode ser

explicada por três processos fundamentais originados na competição: de variação, de seleção

e de retenção (NELSON e WINTER 1982; BARNEY 2001). Empresas criam rotinas para

conduzir seus negócios, que na presença de competidores sofrem variações. Aquelas que se

mostrarem menos eficientes e eficazes são abandonadas. As que prevalecem dão origem às

vantagens competitivas.

Diferentemente da teoria neoclássica, que analisa os mercados sob a ótica do equilíbrio, a

abordagem evolucionária explica que a dinâmica do capitalismo baseia-se na alternância de

vantagens competitivas entre seus diversos agentes. O equilíbrio não seria, portanto, o

objetivo dos agentes, mas sim o destino oposto dos esforços empresariais. As oportunidades

de ganhos financeiros extraordinários estariam no que a primeira teoria considera uma

exceção, mas que a segunda afirma ser o determinante dessa dinâmica: as ―falhas de

mercado‖ (METCALFE 2003). São exemplos:

Concorrência imperfeita: oligopólios3

Assimetria de informação: patentes, P&D4

Mercados incompletos: quando um bem não é ofertado mesmo com demanda presente,

como por exemplo, devido a problemas políticos ou sociais

Acesso privilegiado a recursos: monopólios naturais

1 Capacidades, processos, rotinas, atributos, informação, conhecimento, etc... 2 Refere-se a mudanças diversas no ambiente competitivo: padrão tecnológico, instituições, instabilidade

comercial, novos entrantes, etc... 3 Apesar de menos vantajoso ao consumidor, os oligopólios representam uma condição favorável às empresas,

pois proporciona rentabilidade superior a de concorrência perfeita. 4 Uma patente é uma forma de assimetria de informação garantida por lei e de fundamental importância para

empresas que investem enormes quantias no desenvolvimento de novas tecnologias.

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Externalidades: economias externas5

Neste contexto, é possível afirmar que as vantagens competitivas se apóiam sobre as falhas de

mercado. Diz-se, então, que uma empresa possui competência em determinada atividade

quando for capaz de mobilizar seus recursos para criar e re-criar uma vantagem competitiva

em diferentes conjunturas.

As empresas desenvolvem competências6 através de seus processos organizacionais, a partir

de uma posição (definida pelo conjunto de recursos no estado inicial) e dentro de um caminho

dependente da partida. É importante ressaltar que os caminhos têm um poderoso efeito de

exclusão, pois os esforços das organizações e sua prospecção tecnológica estão focados em

direções pré-determinadas por esses paradigmas (DOSI 1982). Novos paradigmas

tecnológicos emergem de uma complexa interação entre fatores econômicos (como a procura

por novas oportunidades de lucro e novos mercados, tendências de diminuir custos e

automação) e fatores institucionais (como os interesses e a estrutura de firmas existentes e os

efeitos das agências governamentais).

Avanços tecnológicos sem quebrar os paradigmas levam a trajetórias previsíveis. As rupturas,

entretanto, originam grandes avanços instantâneos.

Inflexão

Descontinuidade

Trajetórias

de ruptura

Tempo

Produtividade,

Eficiência, Conhecimento

Trajetória

incremental

Curva-padrãoCaminho ou

paradigma

Figura 1: Trajetórias tecnológicas

A trajetória padrão evolui pelo acúmulo de avanços incrementais sucessivos, enquanto que as

trajetórias de ruptura promovem verdadeiros saltos na curva. A descontinuidade ou a inflexão

exige uma nova função de produção (ou paradigma) que surge através do aprendizado e da

invenção de uma nova rota de desenvolvimento.

Contudo, ao considerar uma mudança tecnológica é necessário atentar ao fato de que é

praticamente impossível saber a superioridade de um caminho antes de realizá-lo, mesmo

quando os fatores de mercado e considerados apenas os indicadores técnicos.

2. Breve contexto da indústria metal-mecânica brasileira

Nas últimas três décadas, o Brasil vivenciou períodos intensos de instabilidade econômica.

Na década de 70, o contexto brasileiro estava favorável para as empresas nacionais, sobretudo

as do setor metal-mecânico. O que se convencionou chamar de ―milagre econômico

brasileiro‖ nos anos de 1968 a 1973 foi um período de forte crescimento do PIB e da

produção da indústria, principalmente de bens de consumo duráveis. A década seguinte foi

5 Benefício que um agente proporciona a outro devido a sua ação. Muitas vezes esse benefício é capturado

indiretamente pelo próprio agente. 6 Segundo o conceito de capacidades dinâmicas. (TEECE, PISANO e SHUEN 1997).

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marcada por uma profunda crise, caracterizada pela estagnação econômica e altas taxas de

inflação.

A partir de 1990, a abertura empreendida pelo governo Collor, marca a ruptura dos padrões da

política comercial externa que vinha desde o final dos anos 60. Com o objetivo de forçar os

produtores domésticos a alcançar níveis de produtividade internacionais e disciplinar os

preços internos através da concorrência com produtos importados, o governo reduziu

impostos de importação, intensificou a abertura financeira e comercial e congelou preços.

Num primeiro momento, o aumento das importações foi inexpressivo e teve pouco impacto na

cadeia produtiva nacional principalmente devido à acentuada desvalorização da moeda

nacional.

Em 1994, a implantação do Plano Real impôs a paridade cambial entre a moeda brasileira e o

dólar norte americano, com o objetivo de conter a inflação aumentando a oferta de produtos

através da importação decorrente. Isso limitou significativamente a adoção de estratégias

competitivas pelas empresas nacionais, que tiveram de manter uma postura defensiva em

relação aos concorrentes externos. Ainda, as elevadas taxas de juros restringiam o acesso das

empresas à obtenção de crédito bancário e o aumento dos encargos financeiros agravou a

situação.

Das estratégias competitivas adotadas por algumas empresas a partir de 1990 destacam-se

(FERRAZ, KUPFER e IOOTY 2004):

Diversificação do negócio buscando reaproveitar as core competences da empresa, em

outros produtos e setores;

Reestruturação produtiva visando a redução de custos, através da racionalização do

processo concentrando-se nas core competences;

Estratégia de dowsizing gerando ganhos significativos de produtividade em curto

prazo e sem exigir a realização de investimentos significativos;

Introdução de tecnologias de informação e equipamentos na administração e produção;

Redução no portfólio de produto para aumentar a especialização;

Desverticalização da produção via aumento do componente importado e terceirização

de atividades ligadas à produção.

No período, observou-se também que a inserção internacional da indústria brasileira

permaneceu a mesma7. Além disso, a maioria das estratégias residiu em modernizar a

capacidade produtiva, e não ampliar. Isso sugere um ritmo lento de atualização, pois as

ampliações são o principal veículo da incorporação de novas tecnologias. Também após a

valorização cambial em 94, as empresas remanescentes usaram joint-ventures, ou fundiram-se

com outras empresas (geralmente estrangeiras) como forma de ampliar seus ganhos de

produtividade ou defender suas posições no mercado. No entanto, vários setores foram

incapazes de formular qualquer tipo de tática em virtude do agressivo ambiente

macroeconômico no qual estavam inseridos. As empresas transnacionais, por sua vez, agiram

no sentido de consolidar sua atuação no mercado doméstico brasileiro devido ao seu grande

potencial de consumo.

7 A indústria de commodities industriais, junto a de bens duráveis e de segmentos de inovação, por exemplo,

continuaram responsáveis pela maior parte do valor total do comércio internacional.

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No geral, a indústria brasileira que sobreviveu à década de 1990 mostrou uma considerável

capacidade de adaptação a mudanças institucionais e econômicas. Competências foram

reforçadas graças a uma modernização dirigida fortemente na direção à racionalização. A

responsividade às mudanças decorrentes da liberalização econômica (fator chave para

competição) era visivelmente desigual, favorecendo as empresas com capacidades

acumuladas anteriormente.

A partir de 1999, o câmbio desvalorizado elevou a competitividade relativa da indústria

brasileira, contendo os produtos importados e alavancando as exportações. Em 2002, tendo

superado a instabilidade macroeconômica, aqueles setores que sobreviveram à década passada

encontraram-se diante de um cenário bastante favorável. Suas exportações tiveram um

incremento significativo nos anos seguintes.

A questão central do trabalho deriva dessa trajetória conturbada do Brasil: Como a indústria

desenvolveu competências para sobreviver a sucessivos choques? Quais mecanismos de

inovação foram criados nesse processo? A metodologia empregada para essa investigação

consiste em um estudo de casos, apresentado na seção a seguir.

3. Metodologia

O estudo de caso proposto tem por objetivo identificar as estratégias de inovação da indústria

metal-mecânica brasileira. A metodologia utilizada consiste em 4 etapas (MIGUEL 2007),

esquematizadas na figura a seguir:

Análises e conclusõesPlanejamento e coleta

de dadosEscolha dos casos

Elaboração de dossiês

Desenvolvimento dos

protocolos de coleta

Agendamento e realização

das entrevistas

Registro e organização

dos dados coletados

Definição de estrutura

conceitual-teórica

Mapeamento da

literatura

Delineamento das

fronteiras do estudo

Identificação dos casos

de interesse

Redução das

informações

Construção de painel

Análise das evidências

Desenho das

implicações teóricas

Figura 2: Metodologia de estudo de caso, adaptado de (MIGUEL 2007)

A escolha dos casos foi realizada a partir de quatro filtros aplicados aos setores industriais

brasileiros. Em cada etapa de filtragem foram definidos um ou mais indicadores que apontam

a situação dos setores nos critérios desejados. Os setores foram listados segundo a

classificação do CNAE 95, do nível de maior agregação, de dois dígitos, para o de menor, de

quatro, de acordo com a figura abaixo:

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Amostra de

empresas para o estudo

CNAE

4 dígitos

CNAE

3 dígitos

Setores metal-

mecânicosCNAE

2 dígitos

FILTROS

APLICADOS

Figura 3: Metodologia de escolha de empresas

O primeiro filtro avalia capacidade de desenvolver novas tecnologias das empresas. Sua

aplicação tem como objetivo excluir os setores cujo esforço em inovação8 é menos

representativo. Devido à disponibilidade de dados, foi possível utilizá-lo apenas para os

setores discriminados por 2 dígitos na classificação CNAE. Nesse nível de agregação não é

possível escolher setores, apenas excluir os grupos com baixo desempenho. Os dados

utilizados são do PINTEC-IBGE para o ano de 2005 e suas definições são baseadas na

Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A avaliação da

capacidade de inovação utilizou dois índices complementares, definindo-os de forma relativa

para eliminar o problema da diferença do tamanho dos setores, e evitar que os maiores sejam

beneficiados por seus resultados absolutos.

O primeiro indicador utilizado analisa a importância dada à inovação pelo setor e é definido

pela porcentagem de empresas que implementaram inovações. O segundo mede os esforços

em P&D através da porcentagem de empregados que participam dessa atividade na empresa.

Tabela 1: Aplicação de inovações e esforço em P&D. Fonte: PINTEC-IBGE 2005.

Cnae 2 Setores - Cnae 2 dígitos

No

Empresas

Estudadas

No Empresas

que

Implementaram

inovações

No Pessoas

empregadas

No pessoas

em

atividades

de R&D

Aplicação de

inovações

Esforço em

R&D

30 Fabricação de máquinas para escritório e

equipamentos de informática 211 146 26 992 1 297 69,2% 4,8%

35 Fabricação de outros equipamentos de

transporte 589 205 82 774 3 770 34,8% 4,6%

33

Fabricação de equipamentos de instr.

médico-hospitalares, instr. de precisão e

ópticos, equipamentos para automação

industrial, cronômetros e relógios

921 627 59 584 2 271 68,0% 3,8%

32

Fabricação de material eletrônico e de

aparelhos e equi- pamentos de

comunicações

644 367 80 999 2 466 56,9% 3,0%

31 Fabricação de máquinas, aparelhos e

materiais elétricos 1 892 865 161 120 3 198 45,7% 2,0%

34 Fabricação e montagem de veículos

automotores, rebo- ques e carrocerias 2 214 819 371 734 6 530 37,0% 1,8%

29 Fabricação de máquinas e equipamentos 5 799 2 282 390 889 5 656 39,3% 1,4%

27 Metalurgia básica 1 470 676 194 390 1 600 46,0% 0,8%

28 Fabricação de produtos de metal 8 573 2 668 330 924 1 897 31,1% 0,6%

36 Fabricação de móveis e indústrias diversas 7 087 2 304 265 725 1 129 32,5% 0,4%

37 Reciclagem 470 106 14 072 1 22,6% 0,0%

8 De acordo com a Pintec, uma inovação tecnológica é definida pela introdução no mercado de um produto ou de

um processo produtivo tecnologicamente novo ou substancialmente aprimorado. Pode resultar de P&D interno

às empresas, de novas combinações de tecnologias existentes, da aplicação de tecnologias existentes em novos

usos ou da utilização de novos conhecimentos adquiridos pela empresa.

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Note-se que os setores 27, 28, 36 e 37 apresentam baixos nível de esforço em P&D e índice

de aplicação de inovações (esse último tem como exceção o setor 27). Por esse motivo, esses

setores serão desconsiderados nas análises subseqüentes.

O objetivo deste filtro é selecionar os setores que mobilizam uma grande parte de seus

recursos humanos para as atividades de engenharia e produção. Assim, o critério analisado foi

a porcentagem de empregados do setor que se dedicam a estas atividades9. A aplicação deste

filtro foi feita para os setores discriminados em 3 dígitos no código CNAE.

A Tabela 2 apresenta os grupos pertencentes aos setores selecionados no primeiro filtro,

organizados segundo a porcentagem de empregados de caráter técnico ou produtivo.

9 Foram considerados os subgrupos referentes a: pesquisadores e profissionais policientíficos; profissionais das

ciências exatas, físicas e da engenharia; subgrupos técnicos e subgrupos de trabalhadores diretamente

envolvidos na produção da indústria.

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Tabela 2: Porcentagem de empregados em atividades técnicas e produtivas – 200510

Cnae 3 Grupos - Cnae 3 dígitosTécnicas e

ProdutivasTotal Razão

341 Fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários 55.774 69.919 79,8%

353 Construção, montagem e reparação de aeronaves 17.118 22.271 76,9%

342 Fabricação de caminhões e ônibus 15.767 20.999 75,1%

294 Fabricação de máquinas-ferramenta 12.136 16.332 74,3%

351 Construção e reparação de embarcações 16.086 21.732 74,0%

299 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos industriais 11.088 15.166 73,1%

311 Fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos 17.515 24.021 72,9%

297 Fabricação de armas, munições e equipamentos militares 4.127 5.742 71,9%

295 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e construção 11.214 15.622 71,8%

344 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 147.980 211.344 70,0%

322Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de

televisão e rádio15.097 21.609 69,9%

321 Fabricação de material eletrônico básico 26.569 38.056 69,8%

329Manutenção e reparação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de

transmissores de televisão e rádio - exceto telefones696 1.003 69,4%

345 Recondicionamento ou recuperação de motores para veículos automotores 5.773 8.356 69,1%

323Fabricação de aparelhos receptores de rádio e televisão e de reprodução, gravação ou

amplificação de som e vídeo14.357 20.802 69,0%

318 Manutenção e reparação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos 1.251 1.817 68,8%

296 Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso específico 47.276 69.203 68,3%

298 Fabricação de eletrodomésticos 25.888 37.920 68,3%

359 Fabricação de outros equipamentos de transporte 13.520 19.935 67,8%

352 Construção, montagem e reparação de veículos ferroviários 3.294 4.904 67,2%

293Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura, avicultura e

obtenção de produtos animais25.326 38.195 66,3%

302Fabricação de máquinas e equipamentos de sistemas eletrônicos para processamento de

dados19.688 29.791 66,1%

339Manutenção e reparação de equipamentos médico-hospitalares, instrumentos de precisão e

ópticos e equipamentos para automação industrial926 1.405 65,9%

332Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto equipamentos

para controle de processos industriais5.276 8.060 65,5%

312 Fabricação de equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica 18.491 28.263 65,4%

343 Fabricação de cabines, carrocerias e reboques 22.860 35.064 65,2%

291 Fabricação de motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão 29.347 45.715 64,2%

333Fabricação de máquinas, aparelhos e equipamentos de sistemas eletrônicos dedicados à

automação industrial e controle do processo produtivo4.762 7.513 63,4%

292 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral 56.239 89.281 63,0%

316 Fabricação de material elétrico para veículos - exceto baterias 14.734 24.821 59,4%

319 Fabricação de outros equipamentos e aparelhos elétricos 17.487 29.905 58,5%

315 Fabricação de lâmpadas e equipamentos de iluminação 6.990 12.062 58,0%

331Fabricação de aparelhos e instrumentos para usos médicos-hospitalares, odontológicos e de

laboratórios e aparelhos ortopédicos10.647 18.923 56,3%

313 Fabricação de fios, cabos e condutores elétricos isolados 10.294 18.845 54,6%

301 Fabricação de máquinas para escritório 2.426 4.530 53,6%

335 Fabricação de cronômetros e relógios 1.358 2.696 50,4%

334Fabricação de aparelhos, instrumentos e materiais ópticos, fotográficos e cinematográficos 4.668 9.975 46,8%

314 Fabricação de pilhas, baterias e acumuladores elétricos 3.876 8.731 44,4%

Foram excluídos os setores cuja porcentagem de empregados em atividades técnicas e

produtivas é inferior a 60%.

O terceiro filtro diz respeito à competitividade de cada setor e consiste em uma aplicação de

uma medida conhecida como Vantagem Competitiva Revelada (VCR). As vantagens de um

país na produção de um produto revelam-se no desempenho de suas exportações em

comparação com outros países (BALASSA 1965). Como o estudo em questão visa comparar

diretamente os diversos setores da indústria metal-mecânica brasileira, foi realizada uma

adaptação do índice (passando a ser denominado VCR’), sendo então definido como a razão

10 Fonte: RAIS

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entre a porcentagem de exportação de um determinado produto, e a porcentagem média de

exportação do conjunto dos produtos11

:

Quando VCR’>1 para um setor, significa que se exporta mais do que a média da indústria na

proporção do valor do índice (por exemplo, se VCR’=2,3, a exportação do setor é 2,3 vezes

maior que a média da indústria) e portanto sugere uma vantagem competitiva. O cálculo deste

índice sobre os setores selecionados no segundo filtro é ilustrado na Tabela 3.

Tabela 3: Vantagem Comparativa Revelada (VCR’) – Fonte: SECEX e IBGE

Cnae 3 Grupos - Cnae 3 dígitosVCR'

exportação

353 Construção, montagem e reparação de aeronaves 3,46

295 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e construção 2,73

342 Fabricação de caminhões e ônibus 2,21

297 Fabricação de armas, munições e equipamentos militares 1,99

294 Fabricação de máquinas-ferramenta 1,34

352 Construção, montagem e reparação de veículos ferroviários 1,26

322 Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de televisão e rádio 1,23

311 Fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos 1,23

291 Fabricação de motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão 1,21

296 Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso específico 0,86

341 Fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários 0,83

344 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 0,81

332

Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto equipamentos para controle de

processos industriais0,73

351 Construção e reparação de embarcações 0,69

321 Fabricação de material eletrônico básico 0,67

298 Fabricação de eletrodomésticos 0,66

343 Fabricação de cabines, carrocerias e reboques 0,65

293 Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura, avicultura e obtenção de produtos

animais

0,51

292 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso geral 0,45

312 Fabricação de equipamentos para distribuição e controle de energia elétrica 0,37

302 Fabricação de máquinas e equipamentos de sistemas eletrônicos para processamento de dados 0,36

359 Fabricação de outros equipamentos de transporte 0,34

323

Fabricação de aparelhos receptores de rádio e televisão e de reprodução, gravação ou amplificação de som e

vídeo0,30

333

Fabricação de máquinas, aparelhos e equipamentos de sistemas eletrônicos dedicados à automação industrial e

controle do processo produtivo0,30

345 Recondicionamento ou recuperação de motores para veículos automotores -

339

Manutenção e reparação de equipamentos médico-hospitalares, instrumentos de precisão e ópticos e

equipamentos para automação industrial-

329

Manutenção e reparação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de transmissores de

televisão e rádio - exceto telefones-

318 Manutenção e reparação de máquinas, aparelhos e materiais elétricos -

299 Manutenção e reparação de máquinas e equipamentos industriais -

Novamente, o nível de agregação não permite escolher os setores, apenas eliminá-los para

valores de VCR’ baixos (inferior a 0,5).

O mesmo indicador pode ser aplicado para avaliar as importações. Setores com elevada

inserção internacional, ou seja, tanto exportação e importação possuem valores relativos

expressivos, indicam que existe uma especialização produtiva. Enquanto que o Brasil

desenvolveu competência em um segmento de determinado setor, o mundo responde pelos

demais. Acredita-se que esse fenômeno, conhecido como comércio intra-setorial, é um

indicativo importante do dinamismo no setor, revelando um nível de competitividade elevado

decorrente da especialização.

A tabela a seguir compara ambos os VCR’s, de exportação e de importação:

11 Onde: Ei=Exportações do setor i ; Pi= Produção do setor i ; Ej=Exportações do conjunto de setores j ( j=∑i) e

Pj=Produção dos setores j

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10

Tabela 4: Comparação de setores pré-selecionados. Fonte: SECEX e IBGE

Cnae Grupos - Cnae 3 dígitosVCR'

Exportação

VCR'

Importação

Interesse para

navipeças

353 Construção, montagem e reparação de aeronaves 3,00 2,15 √295 Fabricação de máquinas e equipamentos de uso na extração mineral e construção 2,37 0,43 √342 Fabricação de caminhões e ônibus 1,91 0,16 √

297 Fabricação de armas, munições e equipamentos militares 1,72 0,11 -

294 Fabricação de máquinas-ferramenta 1,16 2,97 √

352 Construção, montagem e reparação de veículos ferroviários 1,10 1,19 √

322Fabricação de aparelhos e equipamentos de telefonia e radiotelefonia e de

transmissores de televisão e rádio1,07 1,17 -

311 Fabricação de geradores, transformadores e motores elétricos 1,06 1,08 √291 Fabricação de motores, bombas, compressores e equipamentos de transmissão 1,05 2,57 √296 Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso específico 0,75 1,96 √

341 Fabricação de automóveis, caminhonetas e utilitários 0,72 0,29 -

344 Fabricação de peças e acessórios para veículos automotores 0,70 0,37 -

332Fabricação de aparelhos e instrumentos de medida, teste e controle - exceto

equipamentos para controle de processos industriais0,63 4,54 -

351 Construção e reparação de embarcações 0,60 0,09

321 Fabricação de material eletrônico básico 0,58 10,77 -

298 Fabricação de eletrodomésticos 0,57 0,18 -

343 Fabricação de cabines, carrocerias e reboques 0,56 0,76 √

293Fabricação de tratores e de máquinas e equipamentos para a agricultura, avicultura e

obtenção de produtos animais0,44 1,48 √

Dezoito setores depreenderam-se do critério anterior, mas faz-se necessário uma pré-seleção

daqueles que possuem características marcantes

Os excluídos foram:

351: Construção e reparação de embarcações, compreende a indústria de construção naval,

que foi quase extinta no país pelos choques das décadas de 80 e 90, não interessando ao

estudo;

341, 344, 298: Fabricação de automóveis, peças para veículos e eletrodomésticos, apesar

casos bem-sucedidos na indústria brasileira, todos apresentam baixa inserção internacional,

com destaque ao baixo desempenho das importações e também das exportações;

322: Fabricação de equipamentos de telefonia, não representa um caso interessante para o

estudo;

332, 321: Fabricação de aparelhos de medida e fabricação de material eletrônico básico,

são dois grupos que apresentam índices de importação muito elevados, o que indica uma

posição desfavorável no mercado brasileiro.

297: Fabricação de armas e equipamentos militares, possui regras de mercado distintas das

indústrias em geral e não será abordado.

Por fim, a seleção dos setores baseou-se na representatividade dentro de seu grupo, avaliada

pelo peso da produção, e da competitividade. Todos os índices foram calculados no menor

nível de agregação, de 4 dígitos. A escolha das empresas para entrevista não se baseou em

critérios objetivos, mas buscou apontar empresas cujas trajetórias de sucesso se enquadram

com propriedade no estudo proposto.

Tabela 5: Escolha dos setores (CNAE 4 dígitos)

Page 11: INOVAÇÃO NA INDÚSTRIA METAL- MECÂNICA BRASILEIRA: … · presença de competências ... reforçadas graças a uma modernização dirigida fortemente na direção à ... desenvolveu

11

Cnae

3 díg.

Cnae

4 díg.Setores - Cnae 4 dígitos

% no

grupo

Exp Mi

R$

Imp Mi

R$

Prod

Mi R$

VCR'

Export

VCR'

Import

Empresas

escolhidas

2911

Fabricação de motores estacionários de combustão

interna, turbinas e outras máquinas motrizes não

elétricas - exceto para aviões e veículos rodoviários

15% 328 713 2060 0,4 1,5

2912 Fabricação de bombas e carneiros hidráulicos 17% 435 722 2245 0,5 1,4

2913 Fabricação de válvulas, torneiras e registros 17% 489 1111 2294 0,6 2,0

2914 Fabricação de compressores 30% 1728 819 4074 1,2 0,8 Embraco

2915 Fabricação de equipamentos de transmissão para fins 21% 1430 2834 2831 1,4 4,2

2931Fabricação de máquinas e equipamentos para

agricultura 56% 1199 276 3795 0,9 0,3

Valtra, Case New

Holland2932 Fabricação de tratores agrícolas 44% 0 0 2968 0,0 0,0

294 2940 Fabricação de máquinas-ferramenta 100% 978 1842 2653 1,0 2,9 Schuller

2952Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso

na extração mineral e construção20% 722 770 1503 1,3 2,2

2953Fabricação de tratores de esteira e tratores de uso na

extração mineral e construção10% 17 57 744 0,1 0,3

2954Fabricação de máquinas e equipamentos de

terraplanagem e pavimentação 69% 2217 222 5115 1,2 0,2

2961Fabricação de máquinas para a indústria metalúrgica -

exceto máquinas - ferramentas12% 312 212 902 0,7 1,5

2962Fabricação de máquinas e equipamentos para as

industrias alimentar, de bebidas e fumo22% 249 191 1636 0,3 0,6 Dedini

2963Fabricação de máquinas e equipamentos para a indústria

têxtil4% 469 61 327 0,5 6,0

2964Fabricação de máquinas e equipamentos para as

indústrias do vestuário e de couro e calçados5% 249 111 395 0,8 2,7

2965Fabricação de máquinas e equipamentos para

indústrias de celulose, papel e papelão e artefatos15% 377 481 1160 1,2 1,4 Voith Siemens

2969Fabricação de outras máquinas e equipamentos de uso

específico41% 1874 519 3116 0,5 2,5

3111 Fabricação de geradores de corrente contínua ou 17% 296 147 1050 0,8 0,6

3112Fabricação de transformadores, indutores, conversores,

sincronizadores e semelhantes 50% 445 941 3152 0,4 1,3

3113 Fabricação de motores elétricos 33% 1448 583 2072 1,9 1,2 Weg

342 3420 Fabricação de caminhões e ônibus 100% 6527 809 18412 1,0 0,2 Marcopolo

3431Fabricação de cabines, carrocerias e reboques para

caminhão45% 218 11 2363 0,3 0,0 Randon

3432 Fabricação de carrocerias para ônibus 41% 822 32 2121 1,1 0,1

3439Fabricação de cabines, carrocerias e reboques para

outros veículos14% 5 0 742 0,0 0,0

3521Construção e montagem de locomotivas, vagões e

outros materiais rodantes54% 459 373 1168 1,1 1,3 Randon

3522 Fabricação de peças e acessórios para veículos 46% 195 161 994 0,5 0,7

353 3531 Construção e montagem de aeronaves 100% 8990 4744 10095 2,5 2,0 Aeroálcool

343

352

291

293

295

311

296

O estudo de caso desenvolvido utilizou-se de três fontes de informação: entrevistas semi-

estruturadas12

, observação direta13

e análise documental14

. A qualidade das fontes é mostrada

na tabela que segue:

Tabela 6: Qualidade das fontes de informação, por empresa

Aeroalcool

Case New Holland

Dedini

Embraco

Marcopolo

Prensas Schuler

Randon

Valtra

Voith Paper

WEG

Análise

Documental

Observação

Direta

NR

NR

Entrevista

NR: Não Realizado

Boa Regular Ruim

12 Ver exemplo de questionário em anexo. As entrevistas foram realizadas com o Diretor de Produção, Vice-

Presidente ou Presidente da empresa. Exceção: Embraco – Gerente de Relações Institucionais de P&D. Duração

média: 2hs. 13 Refere-se à visitação aos locais de produção. 14 Diz respeito à análise de documentação disponível em meios eletrônicos, de estudos anteriores e de notícias na

mídia em geral.

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4. Resultados e discussão

As informações coletadas foram organizadas e em seguida consolidadas em forma de painel.

O framework de análise dos resultados é apresentado na tabela abaixo:

Tabela 7: Framework de análise das informações coletadas

Aeroalcool

Case New Holland

Dedini

Embraco

Marcopolo

Prensas Schuler

Randon

Valtra

Voith Paper

WEG

En

ge

nharia

de

pro

du

to/p

roje

to

En

ge

nharia

de

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ção

Pro

sp

ecção

tecn

oló

gic

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elo

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o d

e

Tre

ina

me

nto

Muito/Forte Pouco/Fraco Ausente A característica mais marcante de todas as empresas da amostra foi a presença de uma forte

engenharia de produto e de produção. Nos relatos das empresas, o domínio do projeto e dos

processos-chave mostrou-se fundamental para a sobrevivência do negócio. A adequação do

produto aos recursos, insumos e serviços de terceiros disponíveis em cada momento histórico

permitiu às empresas absorverem os sucessivos choques da economia e buscar novas

aplicações e clientes.

A competência em engenharia proporcionou também uma forte capacidade inovativa. Todas

as empresas demonstraram ter percorrido uma sólida trajetória incremental em eficiência e

qualidade, e que após um longo período constitui uma vantagem competitiva considerável.

A prospecção tecnológica apareceu em 70% da amostra, e sempre com um viés para inovação

―puxada pela engenharia‖. Em 5 empresas a inovação ―puxada pelo cliente‖ mostrou-se

bastante relevante. A busca por trajetórias de ruptura destacou-se naquelas empresas com

intensa parceria com universidades.

Os principais fatos coletados de cada empresa e que suportam as conclusões do trabalho estão

listados abaixo:

Aeroalcool: Projetou um avião de lazer ultra-leve, tendo em vista a perspectiva de

explosão do preço do petróleo. Desenvolveu em parceria com a USP São Carlos tecnologia

em material compósito, usinagem de alumínio a laser e projeto de aeronave e

componentes. Tem dois projetos na FINEP. Fornece caixas de transporte de material bélico

para a Marinha em material compósito, com redução significativa do peso em comparação

com o aço.

Embraco: Criou uma rede de laboratórios e grupos de pesquisa em várias universidades. O

mais antigo, da UFSC, possui 100 pesquisadores e 26 anos de parceria. Hoje, 40% dos

profissionais de P&D saem desses centros. Tem linhas de financiamento com

FINEP/FAPESP. Desenvolve pesquisa em 4 frentes: novos mercados (iniciativa recente),

tecnologias transcendentais (em materiais, por exemplo), processos, e componentes de

compressores.

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Dedini: Possui parcerias com vários grupos de pesquisa e a FAPESP. Profissionais de

P&D fazem intercâmbio entre várias universidades. Parceiros tecnológicos: Siemens

(controle das plantas de produção), Bosch da África do Sul (nova tecnologia de separação

de açúcar e do álcool) e empresa holandesa (processo de desidratação do álcool). Com a

baixa do mercado de etanol na década de 90, a empresa utilizou sua tecnologia de

fabricar torres para produzir destilarias de bebidas com parte da tecnologia importada.

Criou uma Escola de Soldas e fez parcerias com o SENAI em outras áreas.

Valtra, New Holland e Randon: Possui pouca interação com a universidade. Inovação

está voltada a adaptação/desenvolvimento de produto a vários clientes. O marketing

identifica oportunidades tecnológicas no mercado e traz para a engenharia. Na Randon, a

busca por novos mercados tem foco em soluções de transporte, e não apenas em seu

nicho principal de implementos rodoviários, resultando em forte diversificação.

Marcopolo: Forte engenharia de produto e inovações ―puxadas pelo cliente‖. Engenharia

de produção desenvolve células para automatização do processo (ex. solda robotizada

para fabricar poltrona e robos de corte a plasma de peças de aço). Faz adaptações nos

processos produtivos para cada projeto. Possui uma Escola de Formação de Profissionais.

Sua empresa de plásticos e material compósito desenvolveu uma nova tecnologia para a

construção civil, chamada de Wall System, que consiste em fabricar paredes prontas, com

tubulação e fiação.

Voith: Possui rede mundial de desenvolvimento de tecnologia. No Brasil, a inovação é

puxada pelo cliente, e a adaptação e teste de novos produtos acontecem no seu Centro de

Competências.

Schuler: Possui uma engenharia muito forte, que faz prospecção do mercado baseado em

similaridades produtivas e vantagens competitivas. A falta de encomendas na década de

90 levou a empresa a desenvolver um projeto em parceria com a SKF para produção de

engrenagem de turbina eólica, baseada em sua competência de produção de peças de

grande porte.

WEG: Tem um Comitê de Ciência e Tecnologia que anualmente analisa as tendências

mundiais e orienta a estratégia de novos produtos. Muitas parcerias com universidades:

UFPR, UFSC, UFPB, UFMG, UNERJ, Texas, Glascow e Hannover. Incentiva mestrado

e doutorado em temas da empresa. Sua enorme escala de produção dos motores elétricos

possibilitou verticalizar e fabricar também componentes eletrônicos e verniz isolante para

motor (que se desdobrou em uma fábrica de tintas industriais). Faz esforços significativos

para fornecer sistemas completos (painéis elétricos). Possui a maior montagem e

ferramentaria do Brasil, e um Centro WEG de Treinamento, que recebe adolescentes para

formação.

5. Conclusões

O sistema industrial brasileiro desenvolveu, em sua história conturbada, empresas dinâmicas e

com capacidade de reinventar suas vantagens competitivas continuamente. Essa capacidade

está associada, sobretudo, à presença de competências excepcionais em engenharia (de

produto e de produção), mas também à prospecção tecnológica e a um departamento de

marketing com viés técnico, para capturar as necessidades tecnológicas do cliente.

A criação de trajetórias de rupturas mostrou depender da existência de mecanismos de

absorção do conhecimento externo. Na amostra, tais mecanismos foram a atração de parceiros

tecnológicos e desenvolvimento de pesquisa básica na universidade.

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A tendência de diversificação da maioria das empresas estudadas representa um importante

fator industrializante no país, pois induz a transferência de competências de setores bastante

avançados para outros embrionários. Esse fenômeno, quando ocorre, caracteriza uma ruptura

instantânea no setor de destino, e permite um transbordamento da competitividade

conquistada em alguns setores estratégicos no passado para outros de interesse nacional (ou

empresarial) no presente e futuro.

6. Bibliografia

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7. Anexo: Questionário para as entrevistas

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15

Sobre os processos-chave:

Quais são os processos de produção associados às competências críticas?

Quais processos são considerados core?

Processos não-core são terceirizados?

o Como achar quem faz?

o Ensinar a Fazer?

o Acompanha/ monitora?

Como garantir a melhoria continua? Existe uma engenharia preocupada com os indicadores de

desempenho da produção?

Sobre o desenvolvimento de novos produtos:

O P&D é exclusivamente interno?

o Contrata consultores?

o Compra tecnologia?

Tem parceiros? Algum de risco?

Trabalha com redes de pesquisa?

o FAPESP, Universidades, Centros de Pesquisa, CTC.

o Quem faz? Quem participa? Como interagem?

o Qual o procedimento desde a descoberta de uma nova tecnologia até a incorporação em um novo

produto ou processo?

Quais os projetos de inovação bem-sucedidos?

Como aconteceu a reinvenção da empresa após um choque?