INOVAÇÃO ABERTA E A PRÁTICA DO HACKATHON: O CASO …Um evento de inovação aberta que vem...

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INOVAÇÃO ABERTA E A PRÁTICA DO HACKATHON: O CASO DE UMA FABRICANTE DE BEBIDAS Renato Tadeu Rodrigues (UFSCar) [email protected] Marcia Regina Neves Guimaraes (UFSCar) [email protected] Um evento de inovação aberta que vem ganhando destaque na prática das empresas é o de hackathon, no qual se busca a solução de um problema, utilizando em geral um evento e programas de computação. No entanto, embora tenha crescido na prática das empresas, nos estudos acadêmicos ainda são escassos os trabalhos que abordam o tema. Desse modo, o presente artigo tem como objetivo apresentar, por meio de uma pesquisa participante com análise a posteriori, um exemplo de hackathon. Foi selecionado um evento organizado por uma empresa brasileira do seguimento de bebidas, que teve como objetivo a geração de projetos que conscientizasse a sociedade em relação a água. Com uma duração de 24 horas ininterruptas, 84 pessoas idealizaram 14 projetos inovadores e que a empresa de bebidas tem condições de seguir adiante de forma independente ou colaborativa. Nota-se que entre os benefícios obtidos pela empresa que promove um hackathon, estão a as ideias vindas de um grupo externo e heterogeneo de pessoas e uma possível melhoria na imagem da empresa diante da sociedade. Palavras-chave: Inovação aberta, hackathon, indústria de bebidas, água XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens avançadas de produção” Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

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INOVAÇÃO ABERTA E A PRÁTICA DO

HACKATHON: O CASO DE UMA

FABRICANTE DE BEBIDAS

Renato Tadeu Rodrigues (UFSCar)

[email protected]

Marcia Regina Neves Guimaraes (UFSCar)

[email protected]

Um evento de inovação aberta que vem ganhando destaque na prática

das empresas é o de hackathon, no qual se busca a solução de um

problema, utilizando em geral um evento e programas de computação.

No entanto, embora tenha crescido na prática das empresas, nos

estudos acadêmicos ainda são escassos os trabalhos que abordam o

tema. Desse modo, o presente artigo tem como objetivo apresentar, por

meio de uma pesquisa participante com análise a posteriori, um

exemplo de hackathon. Foi selecionado um evento organizado por uma

empresa brasileira do seguimento de bebidas, que teve como objetivo a

geração de projetos que conscientizasse a sociedade em relação a

água. Com uma duração de 24 horas ininterruptas, 84 pessoas

idealizaram 14 projetos inovadores e que a empresa de bebidas tem

condições de seguir adiante de forma independente ou colaborativa.

Nota-se que entre os benefícios obtidos pela empresa que promove um

hackathon, estão a as ideias vindas de um grupo externo e heterogeneo

de pessoas e uma possível melhoria na imagem da empresa diante da

sociedade.

Palavras-chave: Inovação aberta, hackathon, indústria de bebidas,

água

XXXVII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e as novas tecnologias produtivas: indústria 4.0, manufatura aditiva e outras abordagens

avançadas de produção” Joinville, SC, Brasil, 10 a 13 de outubro de 2017.

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1. Introdução

A inovação tem sido considerada importante quando se trata da busca por vantagem

competitiva (CARVALHO, 2009; HAMEL; SKARZYNSKI, 2001; VALENCIA; JIMENEZ;

VALLE, 2012). Empresas começam a notar que para se destacar no mercado cada vez mais

competitivo, associar a tecnologia em seus produtos, processos, serviços ou mesmo em sua

marca pode trazer benefícios. Assim, atrelando a gestão de projetos, inovação e computação,

eventos que vem ganhando destaque são os hackathons.

Um hackathon pode ser traduzido como programar de maneira excepcional aplicativos ou

softwares. Existe um problema a ser resolvido, no qual em um intervalo de horas,

normalmente de 24, grupos de pessoas buscam desenvolver um protótipo funcional e que

depois de um período de incubação possa resolver tal problemática.

Tais eventos consistem em inovações abertas entre a empresa e a sociedade. A inovação

aberta se refere a um processo no qual se combinam as condições externas e internas na

arquitetura de um sistema. Dessa maneira, os fatores que não estão dentro da organização

devem estar correlacionados aos objetivos competitivos, missão ou visão da entidade que

venha a promover um hackathon (CHESBROUGH, VANHAVERBEKE; WEST, 2006).

Embora, o número desse tipo de evento tenha crescido na prática das empresas, nota-se na

literatura que existe uma lacuna quando se trata do estudo de hackathons. Buscando contribuir

nesse sentido, o presente artigo tem como objetivo apresentar, por meio de uma pesquisa

participante com análise a posteriori, um exemplo de hackathon. Foi selecionado um evento

organizado por uma empresa brasileira do seguimento de bebidas, que teve como objetivo a

geração em 24 horas de projetos que conscientizasse a sociedade em relação a água. Vale

salientar que para o seguimento de bebidas a água é a principal matéria prima.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) aproximadamente um bilhão de pessoas

sofrem com a problemática da água no mundo, esse estudo é definido para as pessoas que

usam menos de 20 litros de água e que esse recurso não esteja mais que mil metros de

distância. A preocupação com a o líquido está publicado no relatório de desenvolvimento

mundial da água, que tem como objetivo achar políticas públicas em benefício do recurso

natural.

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O artigo se estrutura da seguinte forma: primeiro apresenta a revisão da literatura, em seguida

mostra o método adotado para então, apresentar os resultados e fazer as considerações finais.

2. Revisão da literatura

Os temas centrais tratados nesse artigo estão relacionados à: Inovação, inovação aberta,

hackathon e o setor de bebidas brasileiro.

2.1. Inovação

Desenvolver algo novo ou recriar algo que já foi desenvolvido norteia a esfera da inovação.

Dentro das organizações inovar pode significar quebrar barreiras ou se destacar perante seus

concorrentes. O economista Austríaco Joseph A. Schumpeter (1961), no livro “Teoria do

desenvolvimento econômico”, apresenta como a inovação é a base central para que uma

empresa venha a se destacar frente a seus concorrentes. Não existe uma maneira linear e

planejada de inovar, porém existem maneiras pelas quais setores da economia podem se

beneficiar de processos inovadores, mesmo que essa inovação possa apresentar um grau de

incerteza, pois os problemas que tais inovações buscam melhorar já existem e o resultado

posterior pode ou não agradar os usuários finais. Esse sistema de tentativas gera na própria

empresa a cultura inovadora, que é estimulada conforme as características tecnológicas que a

organização já possui, baseando-se principalmente em seus históricos passados (DOSI, 1988).

Segundo a Organisation for Economic Cooporation and Development, OCDE (2005), são

descritos quatro tipos de inovações, são eles:

- “Inovações de produto: envolvem mudanças significativas nas potencialidades de produtos e

serviços. Incluem-se bens e serviços totalmente novos e aperfeiçoamentos importantes para

produtos existentes”.

- Inovações de processo: representam mudanças significativas nos métodos de produção e de

distribuição.

- Inovações organizacionais: referem-se à implementação de novos métodos organizacionais,

tais como mudanças em práticas de negócios, na organização do local de trabalho ou nas

relações externas da empresa.

- Inovações de Marketing: envolvem a implementação de novos métodos de marketing,

incluindo mudanças no design do produto e na embalagem, na promoção do produto e sua

colocação, e em métodos de estabelecimento de preços de bens e de serviços”.

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2.2. Inovação aberta

Tem-se o pressuposto que uma empresa (seja ela pública ou privada) não pode inovar

sozinha. Deve ter uma interação com diferentes parceiros para se ter uma troca de idéias e

matérias do meio externo para que ai possa mater-se a par da concorrência (CHESBROUGH,

2003; LAURSEN; SALTER, 2006).

A inovação aberta pode ser simbolizada por uma colaboração “extra muros” entre a empresa e

a comunidade. Muitas das estratégias das empresas estão baseadas na inovação, seja em um

produto novo no mercado em que atue e se destaque em seu seguimento (PORTER, 1992).

Como meio de entender e dar uma classificação mais apropriada ao termo inovação aberta, no

artigo “ How open is innovation?”, os pesquisadores Dahlander e Gann (2010)

catalogaram 701 trabalhos publicados na plataforma Thomson e analisaram o que esses

artigos abordavam sobre inovação aberta. Após a coleta do tema os pesquisadores

encontraram diferentes classificações acerca do tema tratado por determinados autores, o que

possibilitou a divisão de quatro eixos chaves, são eles:

- Para autores como Allen (1983), Henkel (2006), Nuvolari (2004) e Von Hippel e Von

Krogh (2003), a inovação aberta é uma saída para a inovação de empresas, na qual se

revelam recursos internos para o ambiente externo.

- Para autores como Ichtenthaler e Ernst (2009) e Chesbrough e Rosenbloom (2002), a

inovação aberta pode se configurar como uma vantagem de agregação positiva ao produto,

sob o olhar do mercado.

- Para autores como Fey e Birkinshaw (2005), Lakhani et al. (2006) e Laursen e Salter (2006),

a inovação aberta está relacionada com o ambiente externo e na troca de experiências que a

empresa pode ter como: fornecedores, clientes, concorrentes, consultores, universidades,

organizações de pesquisa pública e outros.

- Para autores como Chesbrough e Crowther (2006); Christensen et al. (2005), a inovação

aberta pode ser uma alternativa para adquirir novas inovações e contribuir para o processo

inovador através das relações formais e informais.

Segundo Chesbrough (2006) inovar e criar são fatores necessários dentro das organizações.

As empresas que possuem produtos com alto conteúdo tecnológico, devem adotar ainda mais

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a inovação aberta. Além disso a criação e a inovação devem fazer parte do processo produtivo

também.

2.3. Indústria 4.0

Amorim (2017) em seu artigo “A indústria 4.0 e a sustentabilidade do modelo de

financiamento do regime geral da seguridade social” mostra como o uso da robótica,

eletrônica, internet, sensores, processos físicos e outros podem transformar uma fabrica junto

a uma produção mais autônoma e robusta.

Dentro do fenômeno da indústria 4.0 um termo que recebe destaque e a internet of thinks. No

Brasil vulgarmente conhecido como “internet das coisas”. Acredita-se que é possível conectar

homens e máquinas por meio de dispositivos móveis. A primeira vez que esse termo foi

mencionado foi em 1999 pelo Engenheiro do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts)

Kevin Ashoton para designar sensores, dispositivos e pessoas conectados pela internet

(HERNANDEZ-BRAVO; CARRETEIRO, 2014).

2.4. Hackathon

Com as mudanças tecnológicas e de informação, áreas como computação e engenharia têm

passado por grandes mudanças. Pode-se apontar o aumento da concentração de mercado, por

meio do grande número de aquisições de empresas, investimentos de peso em P&D

(MOITRA; KRISHNMOORTHY, 2004), a internet teve papel fundamental nesse sistema de

serviços. Isso esta correlacionado ao maior acesso a celulares, smartphones, tabletes e o

crescimento do software livre (JAISINGH et al., 2008).

Um evento de inovação aberto que as empresas estão realizando são os hackathons, que pode

ser definido como a busca na resolução de um problema, utilizando em geral um evento e

programas de computação (HEIKKI; ALLEN,2014 apud BRISCOE, 2014). Outro ponto

nesse tipo de encontro está no final do hackathon, a apresentação (Pitch) de um protótipo

funcional que foi desenvolvido e que busca resolver o problema inicialmente proposto

(STEVEN, 2012 apud BRISCOE, 2014).

Nos hackathons, buscam-se pessoas com perfis heterogêneos, ou seja, programadores,

engenheiros, design, administradores e especialistas em determinada área do problema que

será tratado.

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Por exemplo, a empresa Natura em seu segundo hackathon pediu para que 32 pessoas

desenvolvessem em 48 horas uma tecnologia que pudesse conectar a sociedade a natureza

(Edital hackathon Natura, 2015); já a empresa kimberly Clark selecionou 40 pessoas para que

durante 24 horas idealizassem novos produtos para um determinado produto da empresa de

maneira desruptiva e que agregasse valor ao cliente final (Edital hackathon Kimberly Clark,

2016).

2.5. Setor de bebidas brasileiro

Conforme o Decreto 6.871/2009 que apresenta a padronização, classificação, registro,

inspeção e produção e fiscalização de bebidas. Segundo essa norma, bebida pode ser

classificada:

[...] “o produto de origem vegetal industrializado, destinado à ingestão humana em estado

líquido, sem finalidade medicamentosa ou terapêutica. Também bebida: a polpa de fruta, o

xarope sem finalidade medicamentosa ou terapêutica, os preparados sólidos e líquidos para

bebida, a soda e os fermentados alcoólicos de origem animal, os destilados alcoólicos de

origem animal e as bebidas elaboradas com a mistura de substâncias de origem vegetal e

animal.” (BRASIL, 2009, s.p.).

O setor de bebidas no Brasil é representado por produtos como: cerveja, refrigerante, água,

sucos e outras. Conforme pesquisas realizadas pelo Banco Nacional Econômico e Social

(BNDS) a ingestão média de alimentos líquido por um consumidor é de 730 litros ao ano.

Porém no Brasil, quando se fala de bebidas, o consumo é de 246 litros ao ano, e essa

diferença de aproximadamente 700 litros pode corresponder a ingestão de água (ROSA;

COSENZA; LEÃO, 2014). Segundo o mesmo estudo é grande a participação da água na

composição de bebidas, conforme a tabela 1.

Tabela 1 :A água na Composição das Bebidas

Cerveja Refrigerante Sucos Vinhos

Entre 90% e 92% Entre 85% e 90% Entre 82% e 98% Entre 75% e 90%

Fonte (ROSA, COSENZA E LEÃO, 2014)

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3. Abordagem metodológica

A pesquisa é classificada como exploratória na medida em que busca maior familiaridade

com o tema tendo em vista o desenvolvimento posterior de um estudo mais aprofundado

(dissertação de mestrado de um dos autores). Segundo Gil (2007), essas pesquisas exigem

menor rigidez no planejamento e buscam desenvolver, esclarecer ou modificar conceitos,

visando a formulação de problemas e hipóteses para estudos futuros.

Utilizou-se da pesquisa participante com análise a posteriori. Para Gil (2007), a pesquisa

participante “caracteriza-se pela interação de pesquisadores e membros das situações

investigadas”. Nesse caso, um dos autores do artigo participou do hackathon da empresa de

bebidas X que ocorreu na cidade de São Paulo, nos dias 26 e 27 de novembro de 2016. Nessa

participação, foram observados os pontos relacionados tanto à prévia do evento, como: edital,

forma de divulgação e seleção dos participantes, quanto o evento em si e a criação e a

elaboração dos projetos. No evento foram desenvolvidos 14 projetos tecnológicos focando a

problemática da água.

4. Apresentação e Análise dos resultados

Por questão de propriedade intelectual não serão detalhados os 14 projetos apresentados no

evento. Entretanto os projetos em sua maioria utilizaram como saída para responder o

problema proposto o uso de plataformas online e o uso de aplicativos de celular, cada um com

uma particularidade em especial. Esse ponto vai a favor da avaliação do autor JAISINGH et

al.(2008) sob a visão da inovação estar cada vez mais presente nas tecnologias móveis.

O grupo que apresentou o melhor resultado esperado pela organização trabalhou no

seguimento de aplicativos de celular e logística. Os pontos levados em consideração pela

banca foram: Aderência ao tema, qualidade do protótipo, inovação do projeto, impacto sócio-

ambiental e simplicidade da tecnologia.

Na apresentação dos projetos finais ficou evidente ainda a presença de fatores relacionados a

indústria 4.0 como o uso de sensores e a conectividade entre o o uso de internet of think

pontos esses apresentados por Amorim (2017). Outro destaque avaliado foi como a inovação

aberta esta alinhada ao evento visto que tanto pessoas da sociedade e profissionais da empresa

promotora do hackathon participaram das atividades, recolhendo opiniões e avaliações

pertinentes.

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Nesse evento em especial manifestou-se mais a experiência inovadora, visto que muitos dos

grupos trabalharam com experiências ou conhecimentos já adquiridos anteriormente, seja em

relação a problemática da água ou o uso de tecnologias, entretanto novos conhecimentos

foram passados pela empresa X. O evento confirma a visão de Chesbrough (2006) sobre a

inovação aberta e o benefício dessa para as empresas.

4.1 Edital

Para a realização do evento a empresa promotora fez a publicação de um edital contendo as

regras e obrigatoriedades do hackathon. O documento poderia ser consultado pelo site,

http://www.X.com.br/ hackathon/ e nele continha o desafio proposto: “Desenvolver alguma

tecnologia de impacto sobre a problemática da água no Brasil”. Dentre algumas exigências

de destaque estava que o participante deveria estar no último ano de graduação ou ter no

máximo 2 anos de formação, outro ponto era a formação do mesmo, podendo ser das áreas:

negócios, design, programação e ambiental.

Quanto a propriedade intelectual do projeto desenvolvido no evento, essa seria do grupo que a

desenvolveu, podendo ter caso tenha interesse para a empresa X, o apoio financeiro e de

mercado. No edital a premiação do melhor projeto seria um viajem para os Estados Unidos,

na região do São Francisco, para a apresentação do projeto para a área de inovação da

empresa X, além de conhecer o ambiente empreendedor em visitas técnicas. Outro destaque

no documento era a seleção de no máximo 96 pessoas e uma expectativa de formar 16 grupos

para no final do hackathon ter 16 projetos.

4.2. Divulgação do evento

A forma de divulgação feita pela empresa x foi as redes sociais (Facebook, twitter e linkedin),

outras duas maneiras foi contatar universidades de destaque na cidade de São Paulo e

publicação do evento em sites correlacionados a tecnologia e a sustentabilidade.

4.3. Seleção dos participantes

Segundo a organização do evento mais de 700 pessoas manifestaram o interesse em participar

do evento, porém apenas 96 foram selecionadas. Os principais pontos na seleção observados

foi a formação e as atividades extra-curriculares que o candidato havia realizado, como:

estágio, intercâmbio, iniciação científica, universidade de origem e aptidão sobre o tema a ser

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trabalhado. Todos os selecionados foram contatados 10 dias antes do evento, via telefone, e

foram convidados oficialmente para a participação.

4.4. Formação das equipes

Durante os 10 dias que se aproximavam do hackathon a empresa x desenvolveu uma

plataforma online na qual os candidatos selecionados inseriam seus dados e aptidões. Uma

das exigências da organização estava em ter um grupo composto por: 3 pessoas da área de

programação, 1 negócios, 1 design e 1 da área ambiental. A escolha dos grupos foi feita de

modo autônomo pelos participantes, a medida que notava a necessidade de um tipo de

profissional em sua equipe.

4.5. Dia do evento

O evento começou as 12:00 do dia 26 de novembro de 2016 com o encontro de todos os

participantes. No primeiro momento foram dadas as boas vindas a todos, com uma breve

introdução sobre o histórico da empresa organizadora, como também as regras do hackathon.

Esse processo de informações foi muito importante para que os participantes tivessem uma

ambientação do cenário ao qual seria formulado o projeto. No segundo momento foi feita a

avaliação se todas as equipes estavam completas e notou-se que 12 pessoas não estavam

presentes, o que reduziu o número total de 96 participantes para 84, desse modo o total de

equipes formadas foi de 14. Todos os participantes se reuniram no mesmo local.

Para a avaliação do projeto e o surgimento de melhoria das ideias iniciadas foram dados

alguns treinamentos durante as 24 horas de evento. Foram 3 os treinamentos: Design think,

recurso da água e apresentação do projeto (Pitch). Antes da apresentação final, todos os

grupos já podiam apresentar suas propostas previas para mentores de áreas relacionadas com

o projeto, para que pudesse se obter um feedback prévio. As 12:00 horas do dia 27 de

novembro de 2016 ocorreu o fim do hackathon. Os grupo tinham que entregar o protótipo

construído sobre o uso da tecnologia para a problemática da água no Brasil, muitos grupos

trabalharam com a criação de aplicativos mobile ou novos softwares. A próxima etapa era a

apresentação do projeto a uma banca de dez profissionais, sendo oito deles gestores da

empresa de bebidas X, um diretor de uma organização não governamental (ONG) e um

investidor financeiro. Todas as equipes teriam 5 minutos de apresentação e 1 minuto de

perguntas e respostas pela banca. A apresentação iria ocorreu no mesmo local que o evento

estava sendo realizado.

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4.5. Análise

Durante o processo de formação de equipes com a ajuda da plataforma on-line ocorreu muita

dúvida por parte dos participantes, o que influenciou inclusive no dia do evento, visto que

muitos inscritos não tinham grupos e a falta de comunicação fez com que não houvesse uma

conversa anterior sobre uma previa do projeto. A explicação sobre a problemática da água

pela visão da empresa de bebidas x foi fundamental para que os participantes pudessem

entender qual tipo de protótipo estava sendo esperado pela organização. Outro ponto de

destaque foi o livre uso de tecnologias que estão sendo desenvolvidas, como a realidade

virtual e a internet of Think, o que mostrou no evento de inovação meios de se trabalhar com

tecnologias que na atualidade são disruptivas.

Pode-se notar que entre os funcionários da empresa a real motivação na ajuda dos times para a

boa construção do protótipo, esse “clima” gera nos próprios funcionários motivações em

relação a prática da inovação depois dentro da organização, pois ter uma experiência como a

de um hackathon faz os gestores a reavaliarem sua conduta no tempo de execução de um

projeto. Para a empresa que promove um hackathon, além de obter ideias e ações das opiniões

de pessoas externas, colabora com a imagem da empresa na sociedade. O grupo escolhido

pelo seu projeto terá a oportunidade de apresentar sua solução para diretores de inovação da

empresa X que trabalham nos Estados Unidos e que, dependendo do interesse da organização,

tem grandes chances de vir a ser incorporado na estratégia da empresa perante a

sustentabilidade da água. Entretanto notou-se que o foco da empresa se concentrou em ajudar

apenas um projeto, excluindo os outros 13 que também tinham impacto no desperdício de

água em diferentes áreas da abordada pelo projeto escolhido.

5. Considerações finais

O artigo busca evidenciar como a inovação aberta e as novas tecnologias podem estar

associadas na criação de novos produtos, processos ou serviços e assim, contribuir para o

desenvolvimento da literatura que trata especificamente da prática de hackathons. As

contribuições sociais podem ser evidenciadas na nova forma pela qual uma empresa do setor

de bebidas chamou pessoas externas à organização para que se buscasse contribuir para a

conscientização da problemática da escassez da água em regiões no país.

Como limitação, cita-se o fato de se tartar de uma análise participante, focando apenas um

caso. Estudos futuros devem incluir a análise aprofundada desses eventos, por meio de

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método do estudo multicasos, e seus benefícios e dificuldades para as organizações que

realizam esse tipo de inovação aberta.

REFERÊNCIAS

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