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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017
ISSN 2236-1855 2653
INTELECTUAIS, IDÉIAS E SUJEITOS: UM ESBOÇO DO ITINERÁRIO INTELECTUAL DE
CARRINGTON DA COSTA E A ESCOLA NOVA
Jean Carlo de Carvalho Costa1
Mucho me agradaria tener um conocimeniento más perfecto de lãs cosas, mas no quiero compralo a cualquier precio. Mi pryecto ES pasar dulcemente, que no laboriosamente, lo que me queda de vida. Nada hay que quiera romperme La cabeza, ni siquiera por el saber, cualquiera que sea su valor. Em los libros solo busco deleitarme mediante sano entretenimiento; o si estudio, solo busco com ello el saber que trata del conocimiento de mi mismo, y que pued instruirme para bien morir y bien vivir (MONTAIGNE, 2015, p. 114-115)
As relações entre História e Educação não são recentes e se encontram nas próprias
mudanças e procedimentos que instituíram a nossa primeira modernidade (MAGALHÃES,
2016). Ainda que se perceba, na literatura, esforço, por vezes, tímido, para enfrentar esse
problema na modernidade e talvez nos auxiliar na compreensão desse encontro e, a partir
daí, nos conduzir a um entendimento mais profícuo sobre as aproximações entre ambas, esse
tem nos permitido aprender a distinguir exercícios particulares e localizados de investigação
e esboços de objetivação de experiências educacionais mais amplas, porém, que, em certos
momentos de observação da escrita da Educação, parece nos distanciar da reflexão mais
densa e substanciosa sobre a constituição de uma área ou forma de pensamento muito
particular e recente na modernidade que é a História da Educação. Abordar esse problema a
partir de um sujeito em particular, ainda que pareça um exercício localizado de investigação,
cujo centro é um indivíduo, é, na verdade, uma oportunidade percebida, em função de sua
trajetória singular, de ensino e de investigação, de estabelecer não apenas aproximações
entre universos relativamente distintos, Brasil e Portugal, mas também de introduzir em
nossa literatura um conjunto de elementos importantes para apreender como aspectos do
ideário da Escola Nova são assimilados e de certo modo até mesmo redefinidos por esse
sujeito.
1 Professor Associado III da Universidade Federal da Paraíba. É professor pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação (Centro de Educação) na Universidade Federal da Paraíba na Linha de História da Educação. Desenvolve pesquisas sobre História Intelectual e dos Intelectuais, História dos Conceitos e as suas interfaces com a História da Educação e as Ideias Educacionais.
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ISSN 2236-1855 2654
Essa intervenção, nesse sentido, é uma possibilidade de reflexão, a partir de um sujeito
em particular, sobre elementos muitíssimo singulares que nos permitem compreender uma
faceta da História da Educação que envolve um esforço de articulação entre áreas
aparentemente distintas como, por exemplo, Psicologia, Medicina, Psiquiatria, Psicanálise,
Matemática e a Cibernética. Como ver-se-á mais adiante, a trajetória de Rui Carrington da
Costa tende a nos permitir perspectivar de forma mais radical e ampliada sobre as relações
complexas que envolvem as preocupações com a condução da educação e os seus
procedimentos institucionais, bem como a natureza das ideias e o seu processo de
produção/transformação, concentrando-se, em especial, no ideário escolanovista.
Seguindo nessa esteira, essa intervenção objetiva apresentar alguns dos elementos que
guiaram o itinerário intelectual, nas palavras de MAGALHÃES (1996), do “pedagogo,
autodidata e cientista” Rui Carrington Simões da Costa (1894-1964), professor português
natural de Azoia de Baixo (Santarém), mas cuja atividade profissional se desenvolveu
primordialmente nos seus anos de atuação no Liceu Nacional de Sá Miranda, na cidade de
Braga, a intitulada Roma portuguesa, a partir do ano letivo 1932-1933, período de
efervescência intelectual e de transição/tensão em torno de ideias novas que, no contexto
educacional, emergem associadas à ideia de escola ativa somadas a uma conjuntura política
não democrática em Portugal que acaba por também nos chamar a atenção em função do
modo por meio do qual esse sujeito atravessa esse período conturbado, o Estado Novo, sendo
ao mesmo tempo crítico, porém, não sendo afastado de suas atividades profissionais.
Inversamente, isso se dá com algumas outras figuras importantes do pensamento português
àquele momento, entre elas, o próprio Faria de Vasconcelos, como ver-se-á mais adiante, ao
tratarmos das relações entre Carrington e o ideário escolanovista.
De modo geral, é possível discernir três dimensões de ação para abordar esse itinerário:
a atividade docente e as implicações ao nível pedagógico; a investigação, especialmente no
âmbito da psicologia e da psicometria, com preocupação voltada ao jovem e ao seu
crescimento físico, psicológico, afetivo e intelectual; e, finalmente, em sua produção científica
do ponto de vista institucional. Esse texto introduz Carrington da Costa ao leitor brasileiro,
primeiro, a partir de uma discussão sobre a importância da área de investigação intitulada
História Intelectual, procurando situá-la na atualidade em um diálogo existente entre Brasil e
Portugal com o objetivo de orientar o leitor sobre o olhar que orienta essa intervenção;
segundo, através do esboço do itinerário de Carrington da Costa, em especial, argumentando
em torno da indissociabilidade existente entre as suas atividades nos âmbitos do ensino e da
pesquisa e do lugar desse sujeito nas grandes vertentes de evolução do pensamento
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pedagógico no século XX, finalmente, com especial atenção a sua relação com as suas
posições/diálogos em torno do ideário da Escola Nova a partir de sua própria produção e de
sua apreensão posterior por estudiosos de sua obra e trajetória.
A natureza das discussões em torno da História Intelectual
O desenvolvimento e a diversidade de estudos, em particular, na área de História da
Educação no Brasil e em Portugal, cujo centro de investigação é a preocupação por
compreender as trajetórias, os itinerários, o pensamento e as redes de sociabilidade sobre as
quais circulam e circularam os intelectuais, tanto os que se destacaram de forma ampliada
como também aqueles que, por razões várias, atuaram em contextos locais, tem se
consolidado na historiografia contemporânea e a minha própria trajetória de pesquisa na
área de História da Educação é tradução disso.
Isso pode ser observado de forma expressiva tanto nos Congressos da área,
especialmente, o Congresso Luso-Brasileiro de História da Educação e o Congresso Brasileiro
de História da Educação (CBHE), nas Revistas e livros organizados por especialistas, bem
como no conjunto de Dissertações e Teses que tem sido produzido no âmbito dos principais
Programas de Pós-Graduação em Educação (Lisboa, Porto e Coimbra). Essa produção, aos
poucos, tem se deslocado desde um modo de tratar esses sujeitos, e o passado, no qual se
privilegiava ideias e o caráter protagonista de suas obras a partir de uma compreensão
conduzida pelas noções de predestinação e causalidade (SIRINELLI, 1986) para uma forma
mais complexa guiada por um interesse sobre as condições de produção, a circulação dessas
ideias e obras assim como a sua apropriação crítica por gerações posteriores.
De todo modo, o consenso, nessa área de reflexão, como já foi ressaltado, é precário,
ainda que seja possível mapear as discussões e os pontos de vista relativamente distintos.
Assim, partimos do suposto de que a História Intelectual contemporânea nos apresenta pelo
menos três vertentes metodológicas. A primeira se distingue pelo apego a uma noção
historicista de contexto, a “entender-se no sentido da redução do significado dos textos a seu
valor documental, de expressão ou resposta a uma situação histórica particular” (LACERDA;
KIRSCHENER, 2003, p. 32). Historiadores da Escola de Cambridge como Quentin Skinner,
J. G. Pocock e John Dunn são os mais conhecidos dessa variante em função da busca por
reconstruir os universos comunicativos em que se originaram os escritos elaborados por
esses pensadores clássicos. A segunda vertente, intitulada New Intellectual History aglutina
duas tendências, a hermenêutica, especialmente aquela derivada de Hans-Georg Gadamer e o
desconstrucionismo de Jacques Derrida, o primeiro se centrando na ideia de unidade do
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texto e o segundo privilegiando a polissemia e os elementos contraditórios dos processos
textuais.2Também é possível introduzir aqui a História dos Conceitos de Reinhart Koselleck e
a introdução das categorias espaço de experiência e horizonte de expectativa (KOSELLECK,
2006), isso em função do legado da hermenêutica existencial de Gadamer e de sua ideia de
narrativa histórica sobre a obra desse historiador alemão (KOSELLECK, 2014).
Nessa perspectiva, destaca-se a discussão da natureza da experiência hermenêutica e
de seu elemento central, cujas consequências sobre a experiência educacional são várias, qual
seja a ideia de abertura e, finalmente, uma análise da estrutura da abertura: a pergunta e a
resposta. A despeito de sua diversidade originária, a expressão hermenêutica, refere-se ao
problema da compreensão e/ou interpretação do significado de textos, ações humanas e
produtos culturais. Aqui as implicações sobre a História Intelectual são várias. Em Portugal,
mas em especial, no Brasil, considerando a expansão do esforço por articular essa área com o
estudo de sujeitos, homens e/ou mulheres, Associações, Clubes de Leitura etc. as questões
são várias. Como é possível pensar o papel do investigador do presente? Qual é o lugar,
afinal, desse investigador que urge pensar o passado acreditando em seu contributo para o
entendimento de seu próprio presente e quiçá o futuro? É possível pensar em alguma
unidade interpretativa e qual seria o elemento guia dessa procura? Uma ética?3
Finalmente, Michel Foucault e a sua ideia de um intelectual específico é tratado por
muitos como uma terceira perspectiva de análise na história intelectual. A figura do
intelectual específico aparece em Foucault a partir do momento em que ele é convidado por
Daniel Defert a participar como coordenador, no início dos anos 70, de uma comissão de
pesquisa sobre as condições de prisão, isso em função de seu envolvimento com alguns
2A ideia de unidade, do nosso ponto de vista, na hermenêutica, tende a ser complexa. Por vezes, as interpretações sobre a ideia de círculo hermenêutico são nem sempre correspondentes ao pensamento gadameriano e o tratam como círculo vicioso, no qual a leitura das partes sempre conduz a uma ideia de totalidade, desconsiderando, contudo, o caráter espiralar da interpretação e o certo elemento de precariedade a ela associada em função da linguagem e das circunstâncias nas quais a interpretação é elaborada.
3 As consequências também sobre as ideias de presente e passado, método e as categorias de compreensão e explicação são várias e sobre elas se debruçaram os críticos. Jürgen Habermas argumenta que Gadamer aceita acriticamente o significado tradicional porque ele negligencia o poder da razão de revelar a gênese dos preconceitos e sequestra daí aqueles cuja autoridade é derivada da força e não da razão; nele há ausência de crítica do poder e da ideologia. Em Paul Ricoeur, herdeiro contemporâneo dessa tradição, encontramos a afirmação da necessidade do que ele denomina de uma hermenêutica da desconfiança, cujo eixo central é a afirmação da possibilidade de análise estrutural da obra, possibilitando um reencontro entre as ideias de compreensão e explicação. Finalmente, em Derrida, para além das críticas metodológicas anteriores, há a acusação mais radical qual seja a ideia de que Gadamer permanece atrelado às ideias de verdade e de significado em torno da linguagem e do círculo hermenêutico. Em Derrida há a consideração fundamental de que a linguagem é um sistema descentrado de significantes em que nada é significado transcendental. As consequências dessas críticas são, por um lado, salvaguardar o caráter originário do método em História qual seja a sua proximidade com certa concepção de ciência interpretativa e, por outro, desdobrar-se em um relativismo radical ou em uma visão neopragmática da História próxima do pensamento de Richard Rorty que, por seu turno, é mais próxima da virada retórica de Skinner.
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personagens militantes de esquerda na França. A preocupação dele ao abordar a prisão é
deixar os outros falarem, não impondo limites àqueles que têm o direito de falar. É aquele
que como em Sartre, portador de uma forma de universalidade ou porta-voz, mas, antes de
tudo, “passa a ser um ‘conhecedor especializado’ que alimenta sua crítica de maneira local, a
partir de uma politização dos problemas cotidianos” (BERT, 2013, p. 46).
Ora, essas mudanças na recente historiografia da educação produzida no Brasil têm se
dado tanto por um retorno mais cuidadoso ao tema dos intelectuais, mas também
consequência da diminuição das distâncias entre estudiosos impulsionados por trocas
existentes nos diversos contextos institucionais nos quais circulam pesquisadores brasileiros
e estrangeiros. Uma espécie de transnacionalização da produção como condição a um
entendimento mais amplo e apropriado dos processos educacionais, sendo aqui a História
intelectual uma das referentes metodológicas que tem participado de modo gradativo e
constante nas atividades de pesquisa de investigadores brasileiros.
A partir daí, observa-se que nesse processo de transição e de redefinição metodológica
dessa subárea da História da Educação, que é aquela que se destina ao estudo desses sujeitos,
por um lado, a existência de narrativas interessadas na ação dos intelectuais que, todavia, não
traduz de um exercício de exploração mais cuidadosa sobre os instrumentos teóricos e
metodológicos utilizados nas investigações, ainda que seja possível observar nos anos dois
mil a continuidade do debate sobre o tema dos intelectuais do campo educacional e a
abrangência do mapa intelectual (VIEIRA, 2008). Isso implicou, do nosso ponto de vista, no
fato de que algumas pesquisas talvez não tenham sistematizado conceitos e teorias que
problematizassem o papel desses personagens na História da Educação. Daí que tenham
fundamento as críticas a certo psicologismo associado a esses sujeitos e ao seu lugar
enquanto protagonistas da história a partir de abordagens mais descritivas do que
propriamente históricas.
Mas, por outro, estudos recentes, tanto no contexto europeu (RÉMOND, 2003;
SIRINELLI, 1998, 2003), como também em solo nacional, alguns inspirados nesse retorno
do político a partir da História Cultural ou inspirados na tradição inglesa de Cambridge
(VIEIRA, 2011, 2015; ALVES, 2011, 2012; COSTA, 2015), estão preocupados com a
introdução de novas perspectivas de olhar esses indivíduos a partir, por exemplo, das
mutações da linguagem quando deslocadas de seus contextos de origem (VIEIRA, 2011,
2015). Uma investigação que se dedica ao estudo de um sujeito partícipe de uma linguagem
aparentemente distinta da sua o conduz inevitavelmente a refletir sobre o que há de não
familiar em seus processos de assimilação e de produção do conhecimento. O caso de
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Carrington da Costa é peculiar nesse sentido, considerando tanto as questões familiares que
envolvem os problemas de seu tempo em torno das idéias novas como também no modo
como ele as aborda a partir de sua biblioteca de sua intensa vida escolar. Esses são alguns dos
elementos que instigam pensar a partir de diálogos possíveis com, por exemplo, a História da
Educação produzida em Portugal e no Brasil e a circulação das ideias nesse cenário.
As idas e vindas da figura do intelectual na História da Educação
Ao longo dos últimos anos, tem sido possível observar uma espécie de invasão da
importância atribuída ao estudo dos intelectuais, as ideias educativas e ao pensamento
pedagógico, ainda que de modo por vezes difuso e não consistente, no entanto, presente nos
diversos fóruns de investigação e divulgação. O diálogo entre as produções derivadas de
orientações com outros trabalhos já desenvolvidos tem trazido à baila muitas questões. É
possível perceber que, no Brasil, apesar de haver uma profícua produção na História da
Educação que parte de certos elementos da História Intelectual, poucas são as produções que
se debruçam sobre o conceito de intelectual (VIEIRA, 2011), gerando, por vezes, uma
dubiedade na abordagem teórico-metodológica do problema. Obviamente, trata-se de área
vasta que aglutina profissionais e interesses os mais variados, talvez daí certa
heterogeneidade interna. Muitas vezes, o termo intelectual aparece no Brasil como uma
adjetivação dos sujeitos pesquisados e não como um conteúdo a ser investigado na pesquisa,
algo que trás profundos problemas do ponto de vista metodológico em função das questões se
voltarem ao passado a partir de um olhar do presente. Perceber como isto se dá no
pensamento português, tomando um sujeito em particular, pode ser útil na compreensão da
configuração do nosso campo/área de estudo e pesquisa.
Ora, aos poucos parece ocorrer um retorno a esses sujeitos a partir de um olhar crítico
relativo à produção já existente, que privilegiou certa autonomia das ideias, bem como aquela
preocupada com substancializar melhor o modo por meio do qual se aborda tanto teórica
quanto metodologicamente os sujeitos e as suas trajetórias de ação na esfera pública. Aos
investigadores cabem avaliação e análise do porquê de certas escolhas em detrimento de
outras. A partir da recente expansão e consolidação da História da Educação, essas questões
têm sido atreladas a um processo de repensar a produção. Isso tem sido realizado por
diversas abordagens teóricas, como vimos acima, bem como a partir de novas fontes de
análise, levando às investigações a aspectos antes nublados da realidade social.
Na esfera acadêmica, percebe-se a emergência de diálogos, entre intelectuais maiores,
aqueles que passaram a ser considerados artífices no esculpir o Estado-nação. Outros,
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menores, sujeitos/lugares esquecidos, tratados em investigações situadas mais localmente,
como também partícipes dessa arquitetura secular que produziu e compartilhou uma história
entrecruzada que é a modernidade luso-brasileira. Esse projeto de investigação coletivo de
estudo e pesquisa sobre a produção do pensamento social se desenvolve em áreas diversas a
partir de dimensões interdependentes.
Um investimento relacionado a contribuições monográficas cuja característica
principal é o uso de fontes primárias e secundárias disponibilizadas pelos arquivos públicos e
particulares, intimamente associadas à produção da historiografia da educação na atualidade
que buscam diagnosticar o pensamento sobre o problema, bem como as peças do jogo
político que institui a memória (e produz o esquecimento) nas constantes lutas de
representação travadas no interior do campo (VIDAL; FARIA FILHO, 2005). Por outro lado,
há a reflexão crítica, guiada por abordagens teórico-metodológicas não convencionais, no
âmbito das ideias, de conceitos e teses fundamentais norteadoras das investigações sobre
sujeitos, textos clássicos, obras, e movimentos educacionais, como o Movimento da Escola
Nova.
Essas pesquisas, tanto se debruçam sobre esses sujeitos, intelectuais, como também são
guiadas pelo aprimoramento do olhar a diversidade e a variedade das gerações e instituições
envolvidas nesse dizer as relações entre Brasil e Portugal. Essa intervenção é sintoma desse
processo no contexto da historiografia da educação recente em que é possível identificar,
entre vários de seus desdobramentos, não apenas a eleição de novos objetos, métodos e
problemas não usualmente tratados (FONSECA, 2008), mas também a consideração da
participação de outros sujeitos, a sua circulação entre outras localidades e espaços de ação,
guiada por essa perspectiva comparativa que atravessa nossas histórias. Isso conduzido por
um olhar distinto daquele que privilegia o protagonismo de ideias ou sujeitos, mas sim que
procura compreender os seus itinerários de formação, as redes de sociabilidade que
engendram a projeção desses sujeitos e que envolvem instituições, publicações e espaços
educativos de diversos formatos, o seu papel no processo de escolarização, representações,
práticas entre tantos outros elementos (LEITE; ALVES, 2011).
Desse modo, como é possível observar acima, há uma interdependência que atravessa
as dimensões, sendo essa uma distinção muito mais didática, a qual nos permite pensar a
ideia de circulação e lugar social (CERTEAU, 2011) a partir dessas duas configurações que
são os espaços institucionais partilhados por Brasil e Portugal na produção de investigações
sobre a temática. Ou seja, é possível perceber nesse esforço investigativo recente a
preocupação por compreender como esses sujeitos interagiam com outros indivíduos e como
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assimilavam ideias e formas de pensar, procedimento que tem sido conduzido pelo uso de
categorias como as de sociabilidade, itinerário e geração (SIRINELLI, 1998, 2003), entre
outras derivadas de muitos dos autores acima citados e que se encontra na cena de discussão
em torno da História Intelectual e da natureza das idéias e de sua produção através tanto das
preocupações com a inserção desses sujeitos nos contextos de ação como também o uso e as
mudanças internas à linguagem utilizada nessa atuação.
Esboço de itinerário do bracarense Rui Carrington da Costa
Rui Carrington Simões da Costa nasceu em Azóia de Baixo (Santarém) em 25 de Agosto
de 1894. Filho de Joaquim Simões da Costa, que tinha seguido a carreira militar, e de
Eugênia Cook Carrington, senhora de ascendência inglesa.
Carrington da Costa foi educado no Colégio Militar, em Lisboa, frequentando a escola
do Exército. Afastou-se por volta de 1918, para alguns, em função de seu envolvimento em
atividades contrárias a tentativa do restabelecimento da Monarquia em Portugal.
Frequentou, a partir daí, o Instituto Superior Técnico e a Escola de Guerra, na Bélgica, onde
permaneceu por cerca de três anos. Lá, muito provavelmente, talvez tenha sido o lugar no
qual ele obteve os primeiros contatos com as ideias novas que perpassavam a pedagogia. Em
1915, não por acaso, é publicado Uma Escola Nova na Bélgica de A. Faria de Vasconcelos,
um dos maiores pedagogos portugueses e talvez aquele mais conhecido além das fronteiras
de Portugal. Recentemente, inclusive, livro, finalmente, traduzido ao português em função
das comemorações em torno do centenário de sua publicação. Esse livro trás a importante
experiência realizada por Faria de Vasconcelos no sentido de introduzir elementos do ideário
da Escola Nova em um estabelecimento de ensino belga. Em 1920, após essa passagem pela
Bélgica, Carrington da Costa foi para a Guiné, nomeado diretor dos Serviços de Agrimensura
daquela antiga colônia portuguesa, tendo também desempenhado as funções de Delegado do
Procurador da República e de Conservador do Registro Predial. Aqui é importante ressaltar
como a trajetória desse intelectual português transita em diferentes esferas de ação
pedagógica ao longo de sua trajetória de vida.
Ao regressar a Portugal, instala-se em Coimbra, frequentando o curso da Escola
Normal. Concluiu no Porto o Curso Superior de Letras. Inicialmente, foi ao Liceu da cidade
de Viseu, no ano de 1931, sendo logo a seguir efetivado na cidade de Vila Real, transitando daí
ao Liceu Nacional de Sá de Miranda, em Braga, no qual foi professor de Desenho e
Matemática de 1932 a 1964, aposentando-se nessa data. No liceu bracarense desempenhou os
cargos de Diretor de Ciclo, presidente do Conselho Administrativo e ainda de Vice-Reitor.
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Ao longo de sua vida, Carrington desenvolve uma intensa atividade de professor e
investigador, sendo docente no Liceu Nacional de Sá de Miranda, em Braga, durante mais de
30 anos e tendo a sua produção mais intensamente escrita a partir dos anos de 1940 a partir
de contribuições à Imprensa Pedagógica portuguesa.4 Entre 1936 e 1956, aplicou
sistematicamente o teste coletivo de desenvolvimento mental de Arthur Otis a fim de
conhecer os jovens portugueses. Para além desse Teste, realizou outros, como o Teste do
Desenho e o Teste de Representação mental criado por Decroly, Testes de vocabulário, Testes
de Redação, Testes de Representação Mental etc., aplicando-os em vários liceus do país, para
que se desenvolvesse uma pesquisa técnico-científica na área da orientação escolar e
profissional. Ou seja, “a sua preocupação constante em inovar e melhorar os processos de
ensino/aprendizagem e os processos educativos em geral, levam-no a tomar os seus alunos
objeto da sua investigação”, “investigando a sua aptidão para o desenho e o modo como se
desenvolvem as funções que lhe dão origem” (COSTA; ANTUNES, 1996, p. 24), mas também,
é preciso ressaltar aqui, a sua ação pedagógica também envolvia a preocupação com a
atuação do professor e daí a sua consequente investigação de sua função docente e de suas
ideias relativas à orientação escolar e do lugar do psicólogo (COSTA, 2002[1945]) bastante
distinta das práticas observadas na contemporaneidade que envolvem a ação desse
profissional, mais próximas talvez da medicalização e de suas consequências perniciosas em
sua sociedade intitulada por alguns de pós-moderna.
Esses testes, e outros tantos, forjados na Europa e/ ou Estados Unidos, foram
adaptados e aplicados em crianças ao longo de anos, e hoje se encontram arquivados na
Biblioteca Municipal de Braga, talvez a procura de perguntas sobre que utilização para o
presente, do ponto de vista historiográfico e arquivista, poderia essas centenas de testes? A
relação da atuação pedagógica de Carrington a partir de importância atribuída à aplicação de
testes psicológicos, sendo ele um pioneiro em Portugal, nos auxilia a compreender a
gradativa necessidade de articulação existente entre o processo educativo, guiado pelo
contributo da pedagogia, mas somada a outros igualmente relevantes. O debruçar-se sobre o
conjunto desses Testes, do ponto de vista historiográfico, talvez nos auxiliasse a olhar de
outro modo o século XX educacional português. Sobre Testes e o impacto em torno das
ideias de orientação escolar e o papel do psicólogo ele escreveu, por exemplo, Testes:
Limitações do Tempo Destinado à sua Aplicação (2002 [1941]), Da Necessidade da
4 Essa imprensa é configurada por várias publicações, no entanto, o envolvimento de Carrington em maior em torno dos Boletins publicados pelo Instituto de Orientação Profissional, esse tendo à frente em seu início o próprio Faria de Vasconcelos, e pelo Instituto António Aurélio da Costa Ferreira.
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Existência de Psicólogos Escolares no Ensino Secundário (2002 [1957]), entre outros
estudos.
Para além de suas preocupações específicas com a aplicação de Testes e ao papel da
ciência, a ideia de Medição, por exemplo, sobre as questões de ordem pedagógica, Carrington
produziu alguns estudos diretamente voltados à Pedagogia como, por exemplo, A Escola
Nova e o Pensamento Pedagógico de Ortega y Gasset (2002a [1943]), esse talvez sendo o
principal em termos originalidade em função de trazer para a discussão autor e ideias não
familiares ao ideário escolanista; escreveu também Vivência: uma idéia e uma palavra
(2002 [1945]), Será Possível predizer e avaliar a eficiência da função docente? (2002b
[1945]) e Acerca do Estudo Eficiente (2002c [1952]). Nesse último, ele se questiona sobre a
natureza do estudar refletindo a partir de contributos derivados da Psicologia de Stuart Hall
no século XIX, das discussões em torno da Psiquiatria e do envio de crianças a esses
profissionais derivados de observações em torno de sua aprendizagem que, ao final, eram
apenas dificuldades consequentes de ausência de educação psicomotora (COSTA, 2002c
[1952], p. 434)
De modo geral, o investigador distinguiu-se por ser o pioneiro na psicologia médica e
na aplicação de testes psicológicos e de inteligência, em Portugal. As suas preocupações,
nesse sentido, aglutinam elementos que envolvem a experimentação em psicologia, a
renovação dos métodos pedagógicos, em particular, com ênfase na categoria aprendizagem, a
orientação profissional e educacional e a metodologia científica (MAGALHÃES, 2003).
De fato, a atuação desse sujeito vai muito além de sua testolatria, como é possível
observar em alguns de seus leitores ou mesmo de alguns que o conheceram pessoalmente,
mas sim ela configura a conformação de um pedagogo para além da simples erudição ou do
abstrato uso de ferramentas científicas, mas sim no mais amplo significado da palavra.
Compreendo a partir de suas investigações, nas palavras de Oliveira e Antunes (1996, p. 11),
escrevendo no final do XX sobre Carrington, por exemplo, a importância da dimensão
emotivo-afetivo-volitiva da aprendizagem, “confirmadas pela ciência de ponta do fim deste
século – a neurofisiologia – e pela mão de um português: António Damásio” que com o seu
hoje clássico livro O erro de Descartes aponta para a compreensão das emoções-afetos e
volições humanas dentro da ciência, e mais concretamente, dentro da ciência experimental,
de que Carrington era um enorme entusiasta. É preciso anotar, desse modo, que essa nossa
compreensão de sua importância enquanto Pedagogo é derivada de sua erudição somada as
suas práticas e ações pedagógicas, que acabam por levá-lo a percepção positiva de si próprio
nesse lugar:
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ao sublinhar a definição de cultura geral do pedagogo com espírito científico, a quem atribui a superação de um certo ‘esoterismo’ do prático e de uma certa ‘misogenia’ do erudito (do pedagogo histórico) e ao cotejar e extrair para a margem, por outro lado, os conceitos de sábio e de erudito. Cultura geral do pedagogo com espírito científico é a atitude de o espírito se manter bem vivo e em contínua capacidade de aprender; um sentido cada vez mais apurado de inteligência intuitiva e da razão razoante; um enriquecimento das necessidades profundas de aprender; uma tendência mais viva para conhecer pelas causas; uma melhor capacidade de trabalho pessoal, um poder acrescido de se renovar, uma atitude melhorada de criação mental (MAGALHÃES, 1996a, p. 97).
Rui Carrington da Costa faleceu a 9 de novembro de 1964, em Braga, poucos meses
depois de sua aposentadoria. Após a sua morte, os filhos doaram à Biblioteca Pública de
Braga, vinculada à Universidade do Minho, a sua biblioteca particular, homenageando-o
inclusive atribuindo o seu nome a uma das salas da biblioteca.
A biblioteca, com cerca de quatro mil obras, nas áreas de filosofia, epistemologia,
ciências exatas e da natureza, biologia, matemática, ciências humanas, mas, em especial, a
Biologia e a Psicologia, entre tantas outras, nos auxilia a entender o percurso um tanto
quanto complexo e heterogêneo desse sujeito. A biblioteca aglutina livros em línguas as mais
variadas, contendo inclusive dezenas de títulos brasileiros. Entre eles, por exemplo, apenas
para aludir aos interesses que o conduzem a enxergar para além da racionalidade mais
estreitamente compreendida e do uso de ferramentas científicas adequadas à ação
pedagógica, podemos mencionar autores como Bastos de Avila e o seu Questões de
antropologia brasileira, publicado em 1935, Sylvio Rabello e o seu livro Psicologia do desenho
infantil, de 1935, Arthur Ramos e o seu Educação e Psychoanlise, 1934, Medeiros e
Albuquerque, livro intitulado Testes, Adauto Botelho com o seu Os males da emoção, escrito
em 1934, Maria Junqueira Schmidt Educação pela recreação (para pais e educadores), 1958,
e, finalmente, Irene Melo Carvalho, Introdução à Psicologia das Relações Humanas, entre
tantos outros títulos.
Os livros manuseados, as anotações nesses livros, dúvidas, certezas entre outros
elementos que se inscrevem nas obras convidam a certa reflexão sobre o modo como o seu
próprio pensamento foi elaborado e como nos auxilia a nos ver do outro lado do espelho,
sendo esse nosso lugar um tanto quanto distinto do ponto de vista de nossas práticas
investigativas contemporâneas. Ao mesmo tempo nos chamando a atenção para o fato de o
elemento novo em seu itinerário, no sentido atribuído por Koselleck, algo dificilmente
observado no âmbito das humanidades, no pensamento de Carrington, deriva exatamente
dessa complexidade e heterogeneidade na leitura, bem como de certa disciplina em torno dos
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problemas por ele percebidos ao longo de sua trajetória de pesquisador tanto de seus alunos
como também dos professores.5
A biblioteca, assim como a figura desse sujeito, trazem à baila certas impressões
relativas à ideia da atividade intelectual. Em parte, lembrando a figura de nosso Oliveira
Vianna e a sua biblioteca, ambos expostos de forma belíssima no texto de Giselle Martins
Fernandes (2015) intitulado Oliveira Viana entre o Espelho e a Máscara. Magalhães
(1996a), escrevendo a partir de suas impressões sobre Carrington e a sua biblioteca,
argumenta que ela
retoma, em parte a integridade de um scriptorium humanista, com caldeirões episcopais, forrados de veludo/púrpura, uma mesa central, as paredes inteiramente revestidas de livros, apoiados numa estantaria em madeira de castanho, situada num salão terminal, com janelas, em duas paredes a que não falta a providencial lareira, assalta-se uma representação do Senhor de Montaigne, deambulando no torreão da sua casa da Gasconha, acompanhado dos ‘seus livros’, exorcizando as verdades e as efabulações que não tinham tradução na realidade, deixando para depois os livros que constituíam uma dificuldade acrescida, porque ou ainda os não podia entender, ou seguramente jamais os entenderia, numa sobranceira intelectual sobre a complexa e animada realidade envolvente (MAGALHÃES, 1996a, p. 95).
A partir dessa brevíssima apresentação de alguns elementos de seu itinierário
intelectual, com especial atenção a esse elemento que envolve a sua biblioteca e práticas de
leitura e as consequências em sua ação pedagógica, esboçaremos a seguir um conjunto não
exaustivo de questões relativas à natureza do ideário escolanovista em Brasil e Portugal nos
voltando ao contributo desse sujeito a partir de seus leitores como também de sua produção
sobre o tema.
Carrington da Costa e a Escola Nova
Entre fins do XIX e início do XX, personagens, escritos, instituições científicas e novos
conceitos proliferam para dizer do homem, da criança, da escola e da educação. Durkheim,
Freud, Dewey, Spencer, Montesori, Binet, Claparède, Decroly entre outros; expressões como
pedagogia científica (Montessori), psicologia pedagógica (Claparède), antropologia
pedagógica (Pizzoli) ou a ideia uma escuta educativa, inspirada na Psicanálise, se tornam
5 A aplicação dos testes psicológicos por Carrington tanto era realizado sistematicamente com seus alunos, mas também com os seus colegas professores. À luz das idéias novas em circulação àquele momento, essa prática investigativa derivava de sua crença na necessidade de se conhecer o aluno, em primeiro lugar, para daí sim saber como proceder pedagogicamente em relação ele. Ou seja, uma consequência de sua crítica à pedagogia praticada no século XIX, considerada por ele como “essencialmente intelectualista e individualista. As crianças, consideradas como seres abstratos, não eram integradas no todo social”, (COSTAa, 2002 [1943]), p. 109)
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comuns em determinados espaços. Todo um movimento que, de alguma forma, traduz um
conjunto de preocupações sobre como formar ou instituir esse homem novo para esse novo
passado presente que se anuncia. E todos e alguns mais transitam na biblioteca Carrington
da Costa e vão gradativamente forjando o seu pensamento.
Ora, do nosso ponto de vista, parece ser impossível tratar sobre a Escola Nova,
Carrington da Costa e os anos 20 e 30, período de sua efervescência social e política em
ambos os países, sem argumentar que esse novo já se encontra presente, nos mais diversos
espaços, ao longo do século XIX, sendo esse considerado por muitos “o século da escola”
(MAGALHÃES, 1995, p 35). Mas será que o XX poderia ser chamado de o “século do
estudar”? Carrington, em um de seus escritos, argumenta sobre os longos anos passados na
escola e, aludindo às “ideias novas”, nos diz: “aprende-se tudo, excepto a estudar” (COSTA,
2002b, p. 431). Não deixa de ser irônica essa afirmação na atualidade. Como nos diz a
professora Diana Vidal, retomando a importância dos dois últimos séculos, nos diz:
O século XIX e o início do XX passaram a atrair a atenção dos historiadores. Contrariamente ao diagnóstico traçado no Manifesto de um vazio de iniciativas, o período despontou como profícuo em ações educacionais promovidas pelo Estado e pela sociedade civil, e como relevante para a compreensão do debate educativo (VIDAL, 2013, p. 581).
Ainda que, como ver-se-á, o discurso de alguns intelectuais da Escola Nova no Brasil,
como Lorenço Filho, que inclusive manteve uma curta correspondência com o professor
Carrington da Costa, apontam a década de 20 não como um novo começo, mas como um
começo de fato para o Brasil.6 Afirmação muitíssimo comum àquele período, mas que, por
vezes, deixa de lado elementos de continuidade e de descontinuidade que guiam a produção
do conhecimento e a escrita da história. Em Portugal, a mensagem do surgimento de um
“homem novo, um homem não belicista, um homem libertado” também ecoou
(MAGALHÃES, 1996a, p. 35), mas encontrou adversidades àquele momento por razões
políticas e sociais e não tiveram os desdobramentos esperados por alguns de seus principais
sujeitos.7 No entanto, a despeito disso, Rodrigues (1996) nos diz que há, na Primeira
6 Pensava-se com essas ideias práticas empreender uma radical reconstrução da sociedade e cicatrizar as feridas individuais e coletivas pelo saneamento das relações humanas, fazendo-se necessário um conhecimento profundo do ser individual. Surgindo quase de súbito, a proclamada éducation nouvelle (MONARCHA, 2009, p. 44).
7 De forma inversa, alguns dos principais sujeitos que traduzem o ideário escolanovista em Portugal são afastados precocemente de suas atividades durante o período do Estado Novo. Algumas das figuras que procuraram se esforçar em Portugal para implementar certos elementos do ideário escolanovista foram Adolfo Lima, que centra a sua intervenção no plano sociológico; Faria de Vasconcelos, cujas preocupações básicas se concentram no plano psicológico; António Sérgio, que, discutindo os fundamentos da educação a partir de seus aspectos filosóficos, apresentou um plano de ação concertado, articulando o sistema educativo e a sociedade e, finalmente, Álvaro Viana de Lemos, procurou estabelecer conexões ao nível pedagógico, mas especificamente,
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República, certa sensibilidade às novas realidades educativas expressas na proposta de lei de
abril de 1913 para a criação das Escolas Novas Portuguesas e é nesse contexto que Carrington
da Costa retorna de sua temporada na Bélgica embevecido com a evolução das ideias novas e
dos experimentos em torno das novas metodologias e práticas pedagógicas envolvendo o seu
entendimento do lugar do aluno nesse processo e levando-o também à reflexão sobre a
docência o impacto concomitante existente entre a dimensão genética e o meio social. Sobre
o ensino e a figura do professor ele nos diz:
O professor de Matemática, o professor de Português, etc., não ensinam, como é vulgar julgar-se, só a matéria da sua disciplina. Por associação ou concomitância, as crianças aprendem atitudes para com o professor, para com o estabelecimento em que recebe o ensino, para com a matéria que lhe é ensinada, etc. que, muitas vezes, são mais importantes do que o conteúdo da própria disciplina (COSTA, 2002b [1952], p. 251)
Ora, Brasil e Portugal, em fins dos oitocentos, já compartilham uma série de elementos
que indicavam uma espécie de desejo de ruptura com o seu passado recente e alguns desses
elementos que se desdobram no movimento da Escola Nova. A intitulada Geração de 1870, de
forma explícita, traduziu esse conjunto de inquietações e de proposições materializadas
inclusive em Regulamentos, Decretos e Leis, ainda que de forma ambígua e heterogênea,
característica da própria forma de organização do campo intelectual nesse período. No
entanto, é possível dizer que muitas das mudanças afirmadas como novidades pelo
escolanovismo nos anos 20 já povoavam o imaginário da escola e eram reproduzidas, como
prescrição, nos textos e relatórios de inspetores, bem como nos preceitos legais ainda no
século XIX, ressaltando, de forma positiva, as relações complexas entre as temporalidades
passado, presente e futuro e colocando em dúvida a própria ideia de ruptura enquanto
radicalidade. Por exemplo, no Brasil, Manoel Bomfim, em Conferência na ABE em princípio
da década de 30, nos apresenta uma crítica à ideia de Escola Ativa argumentando que o seu
novo já se encontra em Rousseau, nos Ensaios de Montaigne e em Comenius. De fato, já se
encontram no palco dos debates:
Elementos como a centralidade da criança nas relações de aprendizagem, o respeito às normas higiênicas na disciplinarização do corpo do aluno e de seus gestos, a cientificidade da escolarização de saberes e fazeres sociais e a exaltação do ato de observar, de intuir, na construção do conhecimento do aluno (VIDAL, 2000, p. 497).
“na área artística” (NÓVOA, 1994, p. 211). Todos eles foram, nesse período ditatorial, presos e/ou aposentados de suas atividades.
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Do ponto de vista epistemológico, o universo oitocentista inventa a si próprio e, a partir
disso, podemos observar, nesse sentido, uma série de transformações em torno da natureza
do modo por meio do qual lidamos com a própria produção do conhecimento que exercerão,
nas primeiras décadas do século XX, profundo impacto no pensamento e nas práticas
educacionais. Assim, por exemplo, a fundação e o desenvolvimento da psicologia infantil
como ciência, a especificidade do mundo infantil, preocupações com o ensino primário, por
exemplo, atravessam o XIX e se encontram em efervescência nas práticas de leitura de
Carrington e na introdução singular em seu cotidiano de inúmeras ferramentas cujo objetivo
era conhecer o aluno e o seu processo de crescimento individual, ou seja, colocar em
evidência a concepção genética apreendida. O que nos diz Carrington sobre Piaget em seu
texto seminal sobre a Escola Nova intitulado A Escola Nova e o pensamento pedagógico de
Ortega Y Gasset:
Dos trabalhos de Piaget infere-se quão diferentes são a estrutura, a mentalidade e a moral das crianças, quando confrontadas com as dos adultos. Desta forma, a educação deixa de preparar para a vida, para ser uma vida; as crianças deixam de ser adultos em miniatura, - homúnculos -, e a infância, como período do desabrochar físico, intelectual e moral, começa a ter um valor próprio e uma razão de existência (COSTA, 2002a [1943], p 116).
De fato, a própria invenção da infância enquanto lugar de aprendizado instituíram
elementos de inovação da educação e dos processos educativos que antecedem em muito o
movimento do escolanovismo e da intitulada Educação Nova, mas adquirem uma nova
configuração nesse período que se desdobra em uma série de ferramentas produzidas por
variadas áreas e que gradativamente impulsionam novas ações e novos procedimentos
educativos não apenas em relação à criança mas a outros atores que com ela interagem no
ambiente escolar. Daí a preocupação desse autor não apenas com a criança, mas também
com a formação e a função de professores (COSTA, 2002b [1952]). É preciso ressaltar que a
escola, no pensamento de Carrington tem uma dimensão relevante, no entanto, as suas
inquietações e práticas investigativas, conduzidas por sua crença nas contribuições da
psicologia, psicanálise, sociologia entre outras fontes de saber, apontam para uma
compreensão não ingênua dessa instituição, algo muitíssimo interessante de observar àquele
momento.
A escola é o lócus educativo, cuja legitimidade Carrington da Costa nunca contesta, mas cuja ação pretende ver renovada. Consciente do papel da Escola, afetando decisivamente o crescimento (maturação) dos alunos e podendo exercer influências muito negativas, fazendo-os, nomeadamente detestar e abandonar certos domínios do saber, vêmo-lo denunciar a ação
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dos docentes que se confinam às funções de instrutores e vêmo-lo pugnar acintosamente pela existência de psicólogos escolares, psicólogos que todavia não deixem de ter uma formação pedagógica (MAGALHÃES, 1996b).
Ora, algumas dessas preocupações e consequências não necessariamente positivas com
os elementos da escola moderna são derivadas do período oitocentista e podem ser
relativamente sintetizadas pensamento de Carrington da Costa. Inquietações em torno da
necessidade de figuras como o médico escolar, o psicólogo escolar e o pedagogo introduzem
dimensões que forjariam uma Psicopedagogia que, em sua compreensão, proporcionaria esse
olhar mais ampliado dos diversos fatores que envolvem o processo educativo. A ideia de uma
medicina pedagógica e de uma ciência psicológica iniciam no XIX os seus primeiros passos
até a própria fundação do primeiro laboratório de Psicologia, no Rio de Janeiro, no início do
século XX. As ideias que subjazem ao experimentalismo já se apresentam em fins do XIX e,
gradativamente, tendem a se fortalecer e a retornar como enunciados novos na década de 20
do século XX. Além disso, o impacto do pensamento liberal e republicano tende a indicar
novos rumos e reinventar ideias e perspectivas futuras relativas a um novo homem guiado,
agora, por ideais libertários inspirados, entre tantos outros, na antiga herança de Comenius,
Rousseau e o seu Emílio, mas também presentificadas em uma nova ideia de técnica e um
novo papel para o Estado. Carrington alude a Rousseau; diz ele: “Já Rousseau verberava o
desconhecimento da infância e o defeito de se procurar ver sempre nas crianças a imagem do
homem, esquecendo-se o que elas são antes de serem homens” (COSTA, 2002a [1943], p.
114).
É curioso, no entanto, o fato de que o professor Carrington da Costa apresentava certas
reservas em relação ao uso da expressão Educação Nova. Diz o próprio: “Empregamos a
designação de Escola Nova por ser a mais frequentemente usada, ainda que não a julguemos
a mais feliz” (COSTA, 2002a [1943], p. 110), aludindo inclusive a Lourenço Filho e Anísio
Teixeira acerca da impropriedade dessa designação. Em parte, isso porque considerava que
os seus principais contributos derivavam da Psicologia, bem como da Sociologia e, atrelada a
essas o intitulado vitalismo identificado por ele na obra de Ortega y Gasset que ao seu
pensamento introduz um elemento de singularidade, considerando a articulação criativa
realizada por ele entre elementos derivados de uma certa concepção genética e inata, a ideia
de meio social e uma concepção de mundo e de vida que antecede ambas.
Ou seja, ainda que, para nós, essa abordagem não seja familiar, articulação entre o uso
da medida, o entendimento do contexto, do meio no a qual a criança se encontra, isso em
articulação com uma certa compreensão humanista de saber que implica em uma formação
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mais ampliada e constante, não se deixem conduzir por pré-concepções nem sempre as mais
adequadas. Em Carrington, como foi ressaltado acima, não há ingenuidade, como inclusive
aquela que muitas vezes identificamos na Academia, mas um certo entendimento de
educação que parece se aproximar da semântica atual do conceito de life long learning
(OLIVEIRA, ANTUNES, 1996). Além disso, para finalizar, é preciso também insistir em certo
cuidado ao pensar nele e em sua ação pedagógico e sua crença na escola, ambas assentadas
em uma sólida disciplina cientifica, isso porque:
Carrington e todos os psicopedagogos, educadores e professores que se reclamavam do paradigma da Educação Nova obedeciam ao princípio da necessidade da cientificação da pedagogia e do ensino. Mas, apesar de afirmar, na linha de um certo positivismo epistemológico, que só deve ser considerado conhecimento científico ‘o saber que se submetesse à medida e ao número’, não perfilha uma concepção dogmática, fechada, reducionista ou imperialista do conhecimento científico, nomeadamente quanto ao valor dos testes mentais. Avalia estes últimos, antes como meios ou instrumentos, se bem que necessários, na escola, na clínica, na oficina, sem os considerar o critério absoluto de diagnóstico e prognóstico de avaliação das capacidades fisiológica, fisio-psicológicas e psicológicas (FERNANDES, 1996, p. 150).
Para concluir, retomando a epigrafe de Montaigne a partir de uma inspiração do
professor Justino Magalhães, ressalto que conhecer a figura desse intelectual bracarence,
algumas de suas ideias, rever categorias (medida, testes, vitalismo) e metodologias há muito
deixadas de lado, no entanto, guiado por Koselleck e pela natureza relativamente transitória
dos conceitos e de nossas verdades históricas, tornou-se um exercício bom de aprendizado
sobre o nosso passado presente que, se não produziu um retrato minimamente próximo
desse importante personagem do pensamento pedagógico português, pelo menos estimo que
essa busca pelo conhecimento, como diz Montaigne escrevendo sobre os seus livros, através
de Carrington, tenha contribuído com a minha própria autoeducação e me tenha instruído a
mais vida como espero que a vocês também.
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