INVESTIGAÇÃO DE SURTO - INVESTIGAÇÃO ENDOFTALMITE

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Secretaria de Vigilncia em Sade

BOLETIM eletrnico EPIDEMIOLGICOSurto de endoftalmite aguda

ANO 07, NO 05 30/08/2007

SURTO DE ENDOFTALMITE AGUDA APS CIRURGIAS OFTALMOLGICAS EM BOA VISTA-RR*IntroduoA endoftalmite uma infeco, extremamente grave, que ocorre na cavidade ocular e tecido intra-ocular, capaz de levar cegueira. Constitui uma das complicaes mais graves e de pior resultado funcional entre as afeces oftalmolgicas1 (Figura 1). Os agentes etiolgicos da endoftalmite incluem bactrias, fungos, vrus, protozorios e parasitos. Entre as bactrias Gram positivas, os estalococos coagulase-negativa, mais especicamente Staphylococcus epidermitis, so os agentes mais comumente isolados. Entre as bactrias Gram negativas, destacam-se as Pseudomonas aeruginosa.2 Esses microorganismos podem ser inoculados diretamente dentro do olho, aps cirurgias oftalmolgicas, em especial as cirurgias de catarata com implante de lentes intra-oculares (LIO) e outros traumas no cirrgicos, ou podem atingir os olhos por intermdio de uma infeco de origem sangunea.2 Em 14 de agosto de 2006, a Secretaria de Vigilncia em Sade do Ministrio da Sade (SVS/MS) foi convidada pela Gerncia de Investigao e Preveno de Eventos Adversos (Gipea) da Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria (Anvisa), para investigar a suspeita de um surto de infeco oftalmolgica relacionada assistncia sade. Foram noticados seis casos suspeitos de endoftalmite em uma clnica conveniada ao Sistema nico de Sade (SUS), que chamaremos de clnica X, no Municpio de Boa Vista, Estado de Roraima. Os casos suspeitos de endoftalmite aguda foram identicados logo aps as cirurgias, nos dias 19 e 24 de julho de 2006. No dia 15 de agosto, a equipe de investigao de deslocou para Boa Vista-RR com os seguintes objetivos:

EXPEDIENTE: Ministro da Sade Jos Gomes Temporo

Secretrio de Vigilncia em Sade Gerson Oliveira Penna Ministrio da Sade Secretaria de Vigilncia em Sade Edifcio Sede - Bloco G - 1o Andar Braslia-DF CEP: 70058-900 Fone: (0xx61) 315.3777Fonte: www.eyeatlas.com

www.saude.gov.br/svs

Figura 1 - Olho acometido por endoftalmite

* O trabalho foi desenvolvido de maneira integrada com equipe da Gipea/GGTES/Anvisa, Vigilncia Sanitria Estadual de Roraima, Vigilncia Epidemiolgica Estadual de Roraima, Laboratrio Central (Lacen/RR) e Secretaria de Vigilncia em Sade do Ministrio de Sade

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Surto de endoftalmite aguda (continuao)

Conrmar a existncia do surto. Descrever o surto por pessoa, tempo e lugar. Identicar a etiologia da doena. Estimar a magnitude do problema. Identicar possveis fatores relacionados ao risco de adoecimento. Propor medidas de preveno e controle. As hipteses formuladas para o surto foram: contaminao de equipamentos cirrgicos, de produtos para a sade utilizados nas cirurgias, de medicamentos, da gua; e falhas nos processos de limpeza, desinfeco e esterilizao dos equipamentos e na tcnica cirrgica.

MetodologiaPara conhecer a magnitude do problema, foram realizadas inspees sanitrias investigativas na clnica X com o objetivo de identicar elementos que comprometessem a segurana do paciente e que pudessem contribuir para o aparecimento do surto. Foi conduzido um estudo epidemiolgico do tipo de coorte histrica (retrospectiva). Para identicar os pacientes expostos aos procedimentos cirrgicos, foram realizadas buscas ativas nos pronturios mdicos da clnica X, no ambulatrio municipal de oftalmologia, nas Autorizaes de Procedimentos de Alta Complexidade do Sistema de Informao Ambulatorial do SUS (Apac/SIA-SUS) e no Sistema de Informao Hospitalar (SIH-SUS). Para a busca no SIH, foram pesquisadas todas as internaes no perodo do estudo em que estivessem preenchidos, na autorizao de internao hospitalar (AIH), no campo de diagnstico principal (DIAG_PRINC) ou secundrio (DIAG_SECUN), os cdigos da CID 10 H44.0 (endoftalmite purulenta), H44.1 (outras endoftalmites) e H44.8 (outros transtornos do globo ocular). Foram considerados elegveis para o estudo todos os pacientes que, no perodo de 1o de junho a 24 de julho de 2006, foram submetidos a cirurgia oftalmolgica. Os indivduos elegveis foram entrevistados utilizando-se um questionrio padronizado. As entrevistas foram presenciais, com o paciente ou acompanhante residente em Boa Vista-RR, e2 - SVS - Boletim eletrnico EPIDEMIOLGICO - ANO 07 - No 05 -30/08/2007

telefnicas, com os demais residentes fora do Municpio. Seu intuito foi obter informaes mais detalhadas sobre os pacientes e a cirurgia, tais como: dados demogrcos, clnicos, nome do mdico que fez a cirurgia, anestesista, hora do incio e do trmino da cirurgia e manifestaes clnicas ps-operatrias. A varivel de desenlace foi a ocorrncia do caso. Considerou-se caso suspeito de endoftalmite o indivduo submetido a cirurgia oftalmolgica no perodo de 1o de junho a 24 de julho de 2006 na clnica X e que apresentou, at 48 horas aps a cirurgia, pelo menos um dos seguintes sinais e sintomas: dor ocular; secreo ocular purulenta; diminuio ou perda da viso; sinais e sintomas inamatrios nos olhos (como hiperemia e lacrimejamento); e sensao de corpo estranho nos olhos. Para os casos conrmados, foram considerados os mesmos critrios acima, associados ao isolamento de Pseudomonas aeruginosa em secreo ocular, humor vtreo ou LIO retiradas durante a vitrectomia Foram excludos os indivduos submetidos a cirurgia oftalmolgica no perodo diferente ao estabelecido para o estudo e os que no realizaram cirurgias e foram submetidos somente aos procedimentos do tipo Yag Laser nesse mesmo perodo. Esse procedimento, realizado com um instrumento a Laser, no invasivo ao humor vtreo do olho. Para as anlises dos dados, foi utilizado o programa EpiInfo 6.04d. As anlises realizadas foram: distribuio dos casos por data do incio dos sintomas (curva epidmica), faixa etria e sexo; taxa de ataque por cirurgias e por data do procedimento cirrgico; e freqncia e tipo dos sinais e sintomas. As hipteses foram testadas utilizando-se o teste estatstico exato de Fisher para variveis categricas. O intervalo de conana considerado foi de 95% (IC95%) com o nvel de signicncia de p