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5 DIRETRIZES E BASE METODOLÓGICA PARA DESENVOLVIMENTO DE MÉTODO DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DE EDIFÍCIOS As questões metodológicas formuladas no Capítulo 3 naturalmente delineiam diretrizes para orientar o desenvolvimento de um modelo de avaliação da sustentabilidade de edifícios brasileiros, arranjadas como um fluxograma na Figura 1. As próximas sessões fornecem a discussão e base metodológica para o tratamento de dois pontos críticos: (1) definição da estrutura de avaliação, parte da tarefa de definição de “o que avaliar?”; (2) definição do critério de ponderação, parte da tarefa de definição de “como avaliar?”. A descrição completa do modelo de avaliação proposto é feita no Capitulo 6. 5.1 ESTRUTURA DE AVALIAÇÃO (“O QUE AVALIAR?”) Propõe-se neste trabalho que a discussão conceitual para definição do conteúdo da avaliação de sustentabilidade de edifícios parta da consideração das prioridades nacionais, sintetizadas em uma agenda setorial para sustentabilidade, e restrinja gradativamente o foco para a escala do edifício, com base em quatro etapas (Figura 2): 1) Estudo de iniciativas para desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade de nações, assim como das estruturas analíticas para sua organização; 2) Proposição-base de Agenda 21 para a construção sustentável no Brasil, organizada com base na estrutura temática de indicadores utilizada pela UN CSD 1 (DESA, 1999), e incluindo os tópicos aplicáveis das agendas setoriais publicadas pelo CIB (CIB, 1999 e CIB/UNEP-IETC, 2002); 3) Análise das categorias de avaliação e indicadores propostos por iniciativas internacionais de relato de sustentabilidade organizacional e do setor de construção, principalmente as da GRI 2 e da CIRIA 3 ; e 4) Análise das iniciativas internacionais para desenvolver indicadores de sustentabilidade de edifícios, assim como das categorias de avaliação e indicadores utilizadas pelos métodos existentes para avaliação ambiental de edifícios (feita no Capítulo 3) e daquelas sugeridas pela ISO CD 21931 (ISO, 2003 b , Tabela 8) 4 . 1 UN CSD - United Nations Commission on Sustainable Development. 2 GRI - Global Reporting Initiative. 3 CIRIA - Construction Industry Research and Information Association. 4 ISO TC59/SC3/N501. Buildings and constructed assets – Sustainability in Building – Framework for assessment of environmental performance of buildings. ISO CD 21931, 2003b.

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5 DIRETRIZES E BASE METODOLÓGICA PARA DESENVOLVIMENTO DE MÉTODO DE AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DE EDIFÍCIOS

As questões metodológicas formuladas no Capítulo 3 naturalmente delineiam diretrizes para

orientar o desenvolvimento de um modelo de avaliação da sustentabilidade de edifícios

brasileiros, arranjadas como um fluxograma na Figura 1. As próximas sessões fornecem a

discussão e base metodológica para o tratamento de dois pontos críticos: (1) definição da

estrutura de avaliação, parte da tarefa de definição de “o que avaliar?”; (2) definição do

critério de ponderação, parte da tarefa de definição de “como avaliar?”. A descrição

completa do modelo de avaliação proposto é feita no Capitulo 6.

5.1 ESTRUTURA DE AVALIAÇÃO (“O QUE AVALIAR?”)

Propõe-se neste trabalho que a discussão conceitual para definição do conteúdo da avaliação

de sustentabilidade de edifícios parta da consideração das prioridades nacionais, sintetizadas

em uma agenda setorial para sustentabilidade, e restrinja gradativamente o foco para a escala

do edifício, com base em quatro etapas (Figura 2):

1) Estudo de iniciativas para desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade de nações, assim como das estruturas analíticas para sua organização;

2) Proposição-base de Agenda 21 para a construção sustentável no Brasil, organizada com base na estrutura temática de indicadores utilizada pela UN CSD1 (DESA, 1999), e incluindo os tópicos aplicáveis das agendas setoriais publicadas pelo CIB (CIB, 1999 e CIB/UNEP-IETC, 2002);

3) Análise das categorias de avaliação e indicadores propostos por iniciativas internacionais de relato de sustentabilidade organizacional e do setor de construção, principalmente as da GRI2 e da CIRIA3; e

4) Análise das iniciativas internacionais para desenvolver indicadores de sustentabilidade de edifícios, assim como das categorias de avaliação e indicadores utilizadas pelos métodos existentes para avaliação ambiental de edifícios (feita no Capítulo 3) e daquelas sugeridas pela ISO CD 21931 (ISO, 2003b, Tabela 8)4.

1 UN CSD - United Nations Commission on Sustainable Development.

2 GRI - Global Reporting Initiative.

3 CIRIA - Construction Industry Research and Information Association.

4 ISO TC59/SC3/N501. Buildings and constructed assets – Sustainability in Building – Framework for assessment of

environmental performance of buildings. ISO CD 21931, 2003b.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 113

Figura 1 - Diretrizes para o desenvolvimento de um método de avaliação da sustentabilidade de edifícios.

Uso previsto Escopo Limites do sistema Estrutura da avaliação* (conteúdo e organização de indicadores)

Natureza avaliação • Prescritiva x desempenho • Uso de LCA

Seleção preliminar de indicadores Critério de ponderação*

Comunicação de resultados

Escala de desempenho (referências e metas ) Proposição de metas empíricas’ Pontuação mínima Classes de desempenho

Definição de quanto deverá ser atingido

Definição do que avaliar

Definição de como avaliar

11

22 Revisão de indicadores Definição de pesos

Acúmulo de dados de práticas típicas e de excelência

Revisão das metas

Refinamento (estudo-piloto de 1 ano)

avaliar

Realização de consulta pública

Revisão e refinamento (em intervalos de 1 ano, nos

primeiros 5 anos)

Banco de resultados de avaliações Acúmulo de dados de práticas típicas e de excelência Validação das metas e estrutura

Lançamento de versão do método

33

44

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 114

Figura 2 - Base conceitual para definição do conteúdo e estrutura analítica do modelo de avaliação proposto.

5.1.1 INDICADORES: CONCEITO E IMPORTÂNCIA

Um indicador é um parâmetro (propriedade medida ou observada) ou valor derivado de

parâmetros que fornece informação sobre um determinado fenômeno (OECD, 1993). Um

indicador possui significado sintético e é desenvolvido para um objetivo específico. Estas

duas características fazem com que seu significado transcenda as propriedades diretamente

associadas ao valor do parâmetro, e apontam as principais virtudes do uso de indicadores,

que são:

§ reduzir o número de medidas e parâmetros necessários para descrever uma determinada situação. Conseqüentemente, o número de indicadores e o nível de detalhamento contido num conjunto de indicadores têm de ser limitados. Por um

Indicadores ambientais

Setor

Nações Organizações Edifícios

OECD

ONU (CSD)

Ecological Footprint

Indicadores de desenvolvimento

sustentável World Bank

GRI CIRIA

BREEAM LEED GBC EcoEffect EcoProfile CASBEE PromisE NABERS … ISO CD21931

Agenda 21 para Construção Sustentável no Brasil

Estruturas analíticas

Estrutura de avaliação

Agenda 21 CIB Agenda 21 CIB/UNEP

11

22

33 44

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 115

lado, um índice único5 ou um número demasiadamente pequeno de indicadores podem ser insuficientes para prover a informação necessária ou podem incorrer em dificuldades metodológicas que crescem com o nível de agregação de informações. Por outro lado, um número excessivo de indicadores tende a distorcer a visão geral que o conjunto supostamente deveria fornecer.

§ simplificar o processo de informação através do qual os resultados destas medidas chegam ao usuário final.

Indicadores capturam tendências para informar os agentes de decisão, orientar o

desenvolvimento e o monitoramento de políticas e estratégias, e facilitar o relato das

medidas adotadas para implementação do desenvolvimento sustentável. Para ser útil, um

indicador deve permitir uma explicação das razões das mudanças em seu valor ao longo do

tempo, ser suficientemente simples na maneira em que descreve problemas freqüentemente

complexos, e usar definições comuns de componentes-chaves e normalização para permitir

comparações (COLE, 2002).

Indicadores de sustentabilidade surgiram primeiro na esfera das nações (Apêndice 2), em

resposta a Agenda 21, mas métricas são necessárias em todos os níveis (Figura 3), pois

podem não só apontar o caminho, como também mostrar se e de que maneira ocorre o

movimento da sociedade, do setor de construção, de uma organização e da produção de

edifícios em direção às metas nacionais de desenvolvimento sustentável.

No nível setorial, os indicadores são úteis para (1) fornecer informações para a tomada de

decisões; (2) fornecer a retro-alimentação necessária para o desenvolvimento sustentável; e

(3) medir a contribuição de programas específicos para o progresso do setor (ou nacional)

em relação a sustentabilidade.

No nível organizacional, os indicadores são necessários para (1) medir ou descrever o

desempenho em relação à sustentabilidade de uma operação, empreendimento ou

corporação; (2) facilitar o estabelecimento de metas e o desenvolvimento de padrões para

benchmarking interno e em relação a outras empresas do setor; (3) avaliar desempenho

(aderência às metas estabelecidas) e monitorar periodicamente o progresso em direção à

sustentabilidade; (4) comunicação com clientes e demais partes interessadas; e (5) derivar

5 Índices são o resultado da agregação de vários indicadores segundo procedimentos metodológicos específicos. Um

exemplo é o Índice de Desenvolvimento Humano (http://hdr.undp.org/statistics/tools.cfm#2), que agrega três

componentes básicos de desenvolvimento humano: longevidade, educação e padrão de vida.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 116

benefícios diretos de relato de sustentabilidade e de benchmarking do desempenho da

empresa.

Figura 3 – Escalas de ação das principais iniciativas de organização de indicadores ambientais /de desenvolvimento sustentável /de sustentabilidade.

Apesar de fundamentais para ajudar a unificar a tomada de decisão econômica, social,

ambiental e institucional, indicadores per si não são capazes de promover melhoria de

desempenho. Metas de desempenho são igualmente necessárias, para embasar os

indicadores e permitir a avaliação do progresso e, juntamente com listas estruturadas de

indicadores, são ferramentas importantes de tomada de decisão em:

§ nível de governança e gestão, pois constituem um veículo interno para avaliar a consistência entre as políticas econômica, ambiental e social e o seu desempenho real. A uniformidade de relato facilita a comparação com outras organizações e o reconhecimento de melhorias de desempenho;

§ nível operacional, pois fornecem uma estrutura lógica para aplicação de conceitos de sustentabilidade nas operações, serviços e produtos da empresa; e guiam o desenvolvimento de dados e sistemas de informação para estabelecer e monitorar o progresso em direção a metas econômicas, ambientais e sociais; e

§ termos de comunicação, pois permitem compartilhar informações e promover diálogo com as partes interessadas internas e externas, no que tange às conquistas e aos desafios da organização em alcançar suas metas.

Indicadores de edifícios e projetos

Indicadores setoriais de sustentabilidade (construção civil)

Indicadores de sustentabilidade organizacional

(empresas projeto e construção)

Indicadores nacionais (ambientais ou desenvolvimento sustentável) OECD

ONU World Bank

CIRIA CRISP

Global Reporting Initiative Guidelines

BREEAM LEED HKBEAM GBC …

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 117

No nível de edifícios e do ambiente construído, os indicadores de sustentabilidade são

necessários para (1) estabelecer metas; (2) medir o desempenho (aderência às metas) de

edifícios e projetos; de diferentes agentes do processo de construção ou de diferentes regiões

ou países; (3) que agentes de decisão e de políticas públicas possam avaliar estratégias

economica- e tecnicamente viáveis para melhorar a qualidade de vida; (4) que diferentes

agentes no processo de construção os utilizem como diretrizes e ferramentas para melhorar

as práticas correntes e a qualidade da construção; e (5) fins de marketing e de comunicação

com as partes interessadas.

5.1.2 ESTRUTURAS ANALÍTICAS PARA ORGANIZAÇÃO DE INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DE NAÇÕES

A demanda da Agenda 21 por indicadores de desenvolvimento sustentável6 levou a uma

nova safra de ações internacionais no desenvolvimento de diversos tipos de indicadores, e

um número crescente de organizações tem procurado responder ao desafio de desenvolver

uma estrutura comum e listas consensuais de indicadores de desenvolvimento sustentável no

curto prazo. Parte dos trabalhos desenvolvidos tem-se concentrado em assuntos específicos,

como saúde, ambiente ou assentamentos humanos, enquanto outros tentam definir um

conjunto completo de indicadores. Todos eles partilham, no entanto, a idéia de sumarizar

estatísticas ambientais e sócio-econômicas através de indicadores e índices que possam ser

imediatamente aplicados em planejamento, avaliação e formulação de políticas (DPCSD,

s.d.; UNSTAT, 2002b).

O Apêndice 2 reúne as principais iniciativas internacionais de desenvolvimento de

indicadores e uma coleção ainda mais abrangente pode ser encontrada no Site do UNEP

Earthwatch7. Dentre estas iniciativas, merecem destaque os trabalhos da OECD8 e da ONU9.

6 A Agenda 21 (UNITED NATIONS, 1992) é estruturada em capítulos setoriais, onde as respectivas áreas de programa

são sempre descritas na forma: base para ação, objetivos , atividades e meios de implementação. Em linhas gerais, o objetivo é avançar em direção ao desenvolvimento sustentável. O processo é a preparação e implementação de estratégias nacionais para o desenvolvimento sustentável; mas, para saber se tais processos são efetivos ou se devem ser alterados, é preciso estabelecer indicadores de desenvolvimento sustentável. Na Seção IV, dedicada exclusivamente à discussão de Meios de Implementação, o Capítulo 40 (Informação para a tomada de decisões) aponta a necessidade de desenvolvimento de indicadores de desenvolvimento sustentável. Este capítulo ressalta os problemas de disponibilidade, qualidade, coerência, padronização e acessibilidade aos dados; e a necessidade de maior quantidade e de diferentes tipos de dados que indiquem o estado atual e as tendências dos ecossistema, recursos naturais, poluição e variáveis sócio-econômicas. Em particular, o item 40.6 requer que, em nível nacional e internacional, organizações internacionais governamentais e não governamentais desenvolvam o conceito de indicadores de desenvolvimento sustentável para que tais indicadores possam ser identificados.

7 http://earthwatch.unep.net/indicators/organizations.html

8 OECD - Organisation for Economic Co-operation and Development.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 118

A OECD foi pioneira no desenvolvimento de indicadores, iniciado em 1989. A publicação

regular sobre indicadores ambientais teve início em 1991. Já o envolvimento da ONU

remonta a 1972, com a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano,

realizada em Estocolmo. Naquela ocasião, ressaltou-se que as questões ambientais haviam

se tornado cada vez mais objeto de políticas sócio-econômicas, em nível nacional ou

internacional. Vinte anos depois, na UNCED no Rio de Janeiro, foi consenso que (1) as

estratégias de desenvolvimento sustentável deveriam integrar aspectos ambientais em planos

e políticas de desenvolvimento e (2) para tanto, precisariam do apoio de dados ambientais e

sócio-econômicos integrados. Publicada na própria UNCED, a Agenda 21 (UNITED

NATIONS, 1992) reunia recomendações específicas quanto ao desenvolvimento e

implementação de contabilidade ambiental e econômica, e de indicadores de

desenvolvimento sustentável (UNSTAT, 2002b).

A Comissão das Nações Unidas para Desenvolvimento Sustentável (UN CSD) também

surgiu na UNCED do Rio, e realizou um vasto Programa de Trabalho em Indicadores de

Desenvolvimento Sustentável entre 1995 e 2000 (DESA, 1999a). Os caminhos da OECD e da

ONU encontraram-se a partir de 1993, quando a OECD publicou o seu conjunto de

indicadores principais (OECD, 199310). Esta foi a principal influência das listas de

indicadores de sustentabilidade publicadas pela UN CSD em 199611, como primeira resposta

à demanda da Agenda 21, e em 199912.

5.1.2.1 ESTRUTURAS ANALÍTICAS DESENVOLVIDAS

A partir de meados da década de 80, foram desenvolvidas diversas estruturas analíticas para

organização de indicadores na esfera das nações (Tabela 1), principalmente de indicadores

ambientais.

Os esforços iniciais embasaram-se em quatro abordagens básicas, aplicadas separadamente

ou combinadas (UNSTAT, 2002b). A abordagem por meios (media approach) organiza os

temas ambientais a partir da perspectiva dos componentes ambientais principais (ar, solo,

água...). O modelo pressão-resposta (stress-response) concentra-se nos impactos de

9 ONU – Organização das Nações Unidas (UN – United Nations ).

10 OECD core set of indicators.

11 UN Working list of indicators (DESA, 1996), Apêndice 3.

12 CSD Theme Indicator Framework (DESA, 1999b).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 119

atividades humanas sobre o ambiente (pressões) e sua transformação subseqüente

(respostas). A contabilidade de recursos (resource accounting) procura traçar o fluxo de

recursos naturais desde sua extração, através de etapas sucessivas de processamento e uso

final, até o seu retorno para o ambiente, na forma de emissões e resíduos, ou para a

economia, através da reciclagem. Abordagens ecológicas (estatística ecológica) constituem

um campo amplo que inclui diversos modelos, técnicas de monitoramento e índices

ecológicos.

A maior parte do trabalho inicial em indicadores ambientais concentrou-se no “estado” do

ambiente, através do monitoramento de alterações físicas no ambiente natural. Apesar desta

abordagem informar aos agentes de decisão que havia algo errado, ela não explicitava as

causas do problema ou o que era possível fazer a respeito. Como resultado, foram

desenvolvidas abordagens pressão-resposta cada vez mais abrangentes, como o modelo

pressure-state-response (PSR) (Apêndice 5), adotado pela OECD; e suas variações: driving

force–state-response (DSR), adotado pela Comissão das Nações Unidas para

Desenvolvimento Sustentável (UN CSD)13; e driving force–pressure-state-impact-response

(DPSIR), adotado pela EIA14 e pelo EUROSTAT15. Combinações das abordagens por meios

e pressão-resposta foram utilizadas na organização dos indicadores ambientais (Estrutura

FDES) adotada pela Environment Statistics Section da UNSTAT16 (UNSTAT, 1984) e na

estrutura temática utilizada pela UN CSD17 DESA, 2001).

O trabalho inicial da UN CSD utilizou a estrutura FDES (Apêndice 6), substituída pela DSR

(Apêndice 3) em 1996. Entre 1996 e 1998, 22 países (incluindo o Brasil) participaram

voluntariamente da etapa de testes. O EUROSTAT preparou uma compilação-teste de 54

indicadores da UN CSD com base em dados estatísticos europeus. Apesar do modelo DSR

ter-se mostrado útil para organizar os indicadores e testar o processo, o foco da estrutura de

analítica foi redirecionado para (1) enfatizar políticas ou temas principais; (2) tornar o valor

do uso do indicador mais óbvio e (3) estimular o envolvimento de governos e da sociedade

civil no uso e teste dos indicadores (DESA, 2001).

13 Preparação da UN Working list of indicators (DESA, 1996), Apêndice 3.

14 EIA - European Environment Agency.

15 EUROSTAT - Statistical Office of the European Communities

16 UNSTAT - United Nations Statistics Division.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 120

Tabela 1 – Estruturas desenvolvidas para organizar indicadores ambientais ou de desenvolvimento sustentável de nações.

Estrutura Publicação Características principais

Framework for the Development of Environment Statistics (FDES18)

United Nations Statistical Division (UNSTAT, 1984)

Relaciona componentes ambientais (flora, fauna, atmosfera, água, solo e assentamentos humanos) a categorias de informação (ação, impacto e reação), numa combinação das abordagens por meios e pressão-resposta. Adotado pela UNSTAT nos trabalhos em estatística ambiental

Framework for Indicators of Sustainable Development (FISD19)

UNSTAT Towards a Framework for Indicators of Sustainable Development (BARTELMUS, 1994)

Combinava a FDES com a estrutura da Agenda 21 (e não por meios). Adotado pela UNSTAT nos trabalhos em estatística ambiental

Modelo pressure-state-response - PSR 20

OECD (1991) Adaptação feita no âmbito da OECD (1991; 1993) do modelo stress-response para analisar as interações entre pressões ambientais, o estado do ambiente e respostas ambientais . Adotado nos trabalhos de indicadores ambientais da OECD, entre outros.

Modelo driving force–state-response - DSR21

OECD (1996) O conceito de pressões (que pressupõe impactos sempre negativos) foi substituído pelo de driving force, que pode descrever tanto impactos positivos como negativos, como é normalmente o caso dos indicadores sociais, econômicos e institucionais. Matriz que incorpora horizontalmente os três tipos de indicadores (driving force, state, response) e, verticalmente, as diferentes dimensões do desenvolvimento sustentável (aspectos econômicos, sociais, institucionais e ambientais). Adotado no trabalho inicial sobre indicadores da UN CSD.

Modelo driving force-pressure-state-impact-response (DPSIR22)

EEA, 1999 EUROSTAT (1999, 2001; 2002)

O componente pressões foi re-inserido no modelo e um novo grupo (impactos), utilizado para detalhar melhor os efeitos sobre o ambiente e facilitar a organização das respostas da sociedade. Utilizado nos trabalhos sobre indicadores ambientais da European Environmental Agency (EIA) e Statistical Office of the European Communities (Eurostat)

17 CSD Theme Indicator Framework (DESA, 1999b).

18 FDES - Framework for the Development of Environment Statistics (Estrutura para desenvolvimento de estatística

ambiental). 19

FISD - Framework for Indicators of Sustainable Development (Estrutura para indicadores de desenvolvimento sustentável).

20 PSR - Pressure-State-Response (Estrutura de organização de indicadores segundo pressões-estado do ambiente-

resposta). 21

DSR - Driving force-State-Response (Estrutura de organização de indicadores segundo força indutora-estado do ambiente-resposta).

22 DPSIR - Driving Force-Pressure-State-Impact-Response (Estrutura de organização de indicadores segundo força

indutora-pressão-estado do ambiente-impacto-resposta).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 121

O modelo DSR foi então substituído pela CSD Theme Indicator Framework (DESA, 1999b,

Apêndice 4), que organiza os indicadores segundo quatro dimensões principais (aspectos

sociais, ambientais, econômicos e institucionais), divididas em temas e sub-temas. A

estrutura da Agenda 21 deixou de ser seguida à risca, mas os temas/sub-temas remetem aos

capítulos apropriados (números entre parênteses no Apêndice 4).

A estrutura analítica proposta pela UN CSD serviu de base ao desenvolvimento de diversos

trabalhos, entre eles o da rede européia BEQUEST23, e foi selecionada para organização da

Agenda 21 para a construção civil brasileira apresentada a seguir.

5.1.3 AGENDA 21 PARA A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL NO BRASIL

5.1.3.1 AGENDAS 21 DO CIB PARA A CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL: DA AGENDA VERDE PARA A AGENDA MARROM

O Capítulo 30 da Agenda 2124 (UNITED NATIONS, 1992) especificamente encorajava o

desenvolvimento e implementação de estratégias e políticas setoriais relativas ao

desenvolvimento sustentável. Como resposta, o CIB publicou pioneiramente dois

documentos: a Agenda 21 on Sustainable Construction (CIB, 199925), aqui chamada de

Agenda 21 do CIB; e a Agenda 21 on Sustainable Construction in Developing Countries

(CIB/UNEP-IETC, 2002), aqui chamada de Ag21 PD.

Estas duas agendas foram idealizadas como mediadores globais entre as agendas mais

amplas (Agenda 21 (UNITED NATIONS, 1992) e Habitat II (UN-HABITAT, 1996)) e as

agendas nacionais/regionais específicas para o ambiente construído e o setor de construção

(Figura 4).

Os objetivos principais da Agenda 21 do CIB (1999) eram criar (1) uma terminologia e

estrutura conceitual que agregasse valor a todas as agendas nacionais, regionais e sub-

setoriais subseqüentes; e (2) um documento-base para orientar investimentos em atividades

de P&D relacionadas à construção sustentável. Os desafios e barreiras apontados para o

setor de construção foram organizados segundo três grandes blocos: (1) gestão e

organização; (2) aspectos de edifícios e produtos de construção; e (3) consumo de recursos.

23 BEQUEST - Building Environmental Quality Evaluation for Sustainability through Time.

24 Título orginal: Strengthening the role of business and industry.

25 A Agenda 21 do CIB foi traduzida para o português brasileiro em 2000 (CIB, 2000).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 122

A Agenda 21 do CIB concentra-se claramente na agenda ambiental, toca - em alguma

extensão – nas dimensões econômica e institucional, mas não inclui a dimensão social na

análise dos desafios, barreiras e ações para o setor de construção. Adicionalmente, a maior

parte das contribuições para a Agenda 21 do CIB veio de países desenvolvidos, de modo que

muitos dos aspectos, desafios e soluções delineados aplicam-se especialmente aos países

desenvolvidos (SILVA, 2001).

Figura 4 - Agendas do CIB como protocolo de ligação entre as agendas globais e as agendas regionais e setoriais específicas, indicando posicionamento em relação às agendas verde e marrom.

Apesar de haver similaridade entre diversos desafios que a construção sustentável lança

tanto a países desenvolvidos quanto àqueles em desenvolvimento, há diferenças

significativas que transcendem os óbvios aspectos econômicos. Não apenas a escala dos

problemas é mais extrema, como os recursos financeiros disponíveis, muito menores.

Mudam as prioridades, objetivos e desafios; os níveis de especialização e treinamento da

mão-de-obra; e a capacidade da indústria da construção e do governo.

Estas peculiaridades ambientais, econômicas e sócio-culturais dos países em

desenvolvimento delineiam uma outra abordagem para implementação de estratégias de

Agenda verde Agenda marrom

Glo

bal

Ag 21 CS Brasil

Ag 21 CIB

Agenda Habitat

Agenda 21

Nac

ion

al

Loca

l/R

egio

nal

Setor CC

Ag 21 PD

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 123

desenvolvimento e, conseqüentemente, de construção sustentável26

(JOHN;SILVA;AGOPYAN, 2001; SILVA, 2001; CIB/UNEP-IETC, 2002). Como

reconhecimento, ainda em 2000 foi anunciado o início dos trabalhos da Agenda 21 for

Sustainable Construction in Developing Countries (Ag21 PD), publicada em 2002 como

contribuição à UNCED de Johannesburg (Rio +10).

O ponto-chave que diferencia a abordagem da Ag21 PD em relação à primeira Agenda 21

do CIB é a ênfase na necessidade de integração da agenda verde e da agenda marrom nos

países em desenvolvimento, apontada anteriormente na Agenda 21, na Agenda Habitat II e

numa série de outros trabalhos, entre eles, IIED (2001).

A agenda verde concentra-se no problema de equilibrar o consumo possível aos recursos

disponíveis, procurando reduzir o impacto ambiental da produção do ambiente construído,

consumo e geração de resíduos, com ênfase na proteção e bem-estar de ecossistemas e

reservas de recursos naturais que proporcionam condições de vida às gerações futuras, nas

escalas local, regional e global, e num horizonte de tempo de longo prazo. Já a agenda

marrom enfoca os problemas de pobreza, subdesenvolvimento e riscos à saúde derivados de

poluição do ar e da água, do acúmulo local de resíduos, de condições sanitárias deficientes,

de superpopulação, e de provisão deficiente de água e serviços urbanos, com ênfase nos

aspectos de saúde e bem-estar humano, em escala local e num horizonte de tempo imediato

(MCGRANAHAN;SATTERTHWAITE, 2000).

Para abranger a ampla diversidade dos países em desenvolvimento, a Ag21 PD resultou

inevitavelmente genérica. Dentro do grupo de países em desenvolvimento, o caso do Brasil é

peculiar: devido a uma das maiores desigualdades de distribuição de renda em todo o

mundo, em que 20% mais ricos recebem 30 vezes mais que os 20% mais pobres (dados de

1989, em WORLD BANK, 2000), tem-se Áfricas e Europas convivendo lado a lado em um

só país. Neste sentido, nem a abordagem dada na Agenda do CIB de 1999, nem a da Ag 21

CIB/UNEP, é totalmente aderente à realidade brasileira. Mas estas duas agendas são

documentos de referência e protocolos valiosos para a ligação entre as agendas globais e a

agenda setorial, que devem ser analisados juntamente com percepções nacionais específicas.

26 Uma discussão aprofundada sobre esta diferença de cenários está sumarizada em CIB/UNEP- IETC (2002).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 124

5.1.3.2 PROPOSTA DE UMA AGENDA SETORIAL MULTIDIMENSIONAL E INTEGRADA

JOHN et al. (2000) e JOHN;SILVA;AGOPYAN (2001) principiaram a discussão de uma

Agenda 21 para a construção civil brasileira acrescentando uma discussão inicial de agenda

social aos três blocos da Agenda 21 do CIB (1999). Estes trabalhos lançaram uma primeira

luz sobre a discussão de aspectos urbanos e sociais, mas de forma muito incipiente.

Em contribuição posterior, SILVA et al. (2002) alertavam que a Agenda 21 do CIB

concentra-se basicamente nos temas ambientais, e sugeriam que uma abordagem mais

apropriada seria organizar a agenda setorial nos moldes do padrão internacional de relato de

sustentabilidade27, dado pela estrutura da Agenda 21 da ONU.

Para avançar nesta linha de discussão, propõe-se aqui que a construção sustentável seja

abordada através da integração das três dimensões da tradicional “triple bottom line”,

complementadas por uma dimensão institucional, que refere-se à provisão e fortalecimento

de plataformas para coordenação de esforços dentro e fora do setor (Figura 5). A agenda

institucional foi incluída devido à carência de instrumentos normativos; de ações político-

governamentais ; de maior articulação de estratégias setoriais com relação à sustentabilidade;

e de relatos de sustentabilidade de empresas e produtos de construção.

Figura 5 – Integração dos quatro blocos conceituais da agenda para a sustentabilidade do setor de construção civil brasileiro.

27 Utilizado, por exemplo, por IBGE (2002).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 125

Para indicar possibilidades de mitigação através de ações do setor de construção brasileiro, a

estrutura analítica adotada (Tabela 2) segue o formato da CSD Theme Indicator Framework,

(DESA, 1999b), reportando-se aos capítulos da Agenda 21, e complementando-os por

aspectos específicos do contexto nacional, e quando apropriado, das Agendas 21 do CIB.

Tabela 2 – Possibilidades de ação do setor de construção brasileiro em relação aos aspectos–chave apontados pela Agenda 21 da ONU. Os números entre parênteses remetem aos capítulos da Agenda 21.

Aspectos Ambientais

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Atmosfera (9) Mudança climática Evitar emissão de gases causadores de efeito estufa (GHG), durante:

• Produção de materiais de construção, (processos mais limpos; uso de energia renovável; e adição de resíduos e materiais reciclados aos produtos )

• Transporte de materiais de construção, promovendo o uso de materiais locais

• Operação de edifícios (NOx, SOx28)

(interface com Padrões de Produção e consumo (econômico)

Dano à camada de ozônio Evitar uso e planejar a substituição de materiais de construção e componentes de sistemas prediais (combate a incêndio e ar condicionado), cuja produção ou uso envolva emissão de substâncias nocivas à camada de ozônio (CFCs29, HCFCs30 e halogêneos )

Qualidade do ar Evitar emissão de poluentes do ar em áreas urbanas, causados principalmente por

• Produção, transporte e armazenamento de materiais

• Canteiros de obras e atividades de manutenção e demolição (poeira e emissões liberadas pelos equipamentos)

• Operação de edifícios (NOx, SOx)

• Transporte urbano

28 Vale notar que, após o racionamento de energia em 2001, aumentou a utilização de combustíveis fósseis na operação de

edifícios (geradores a diesel e boilers a gás). 29

CFC - Clorofluorcarbono. 30

HCFC – Hidroclorofluorcarbono.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 126

Aspectos Ambientais

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Poluição do Solo Evitar poluição: do solo, causada principalmente por:

• Produção e armazenamento de materiais (necessidade de processos de produção mais limpa);

• Atividades de preparação do terreno (limpeza, movimento de terra);

• RCD (necessidade de processos de construção mais limpa); e materiais com produtos lixiviáveis;

• Resíduos de uso de edifícios

Fazer gestão de resíduos (ver Padrões de produção e consumo)

Agricultura (14) Critério na seleção de área para novos empreendimentos: evitar áreas aráveis ou de pecuária permanente

Critério na seleção de área de novos empreendimentos

Florestas (11)

Usar madeira de maneira responsável:

• Não usar espécies ameaçadas

• Privilegiar compra de madeira proveniente de fontes de manejo sustentável/certificadas

• Aderir a grupos de compradores de madeirar certificada

Desertificação (12) e erosão Observar cuidados na preparação do sítio (movimento de terra, com conservação da cobertura vegetal e camada superficial de solo)

Observar padrões de drenagem natural do terreno

Solo (10) (equilíbrio de usos competitivos do solo)

Urbanização (7) e assentamentos

Selecionar área para novos empreendimentos de modo a:

• Direcionar crescimento urbano evitando densidades muito baixas (que competem com outros usos e podem contribuir para perda de biodiversidade), áreas aráveis, de pecuária permanente, de valor ecológico

• Priorizar vazios urbanos e recuperação áreas degradadas

Controle da proliferação de assentamentos informais

Planejamento de necessidade e uso de transporte

Oceanos, mares e áreas costeiras (17)

Evitar poluição: Prover facilidades adequadas para coleta e tratamento de esgoto

Ocupação adequada de áreas litorâneas.

Água doce (18) Quantidade de água Conservar e reduzir o consumo de água

Resguardar permeabilidade do solo (interface com (interface com Consumo de materiais/uso de água (econômico)

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 127

Aspectos Ambientais

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Qualidade da água (interface com Condições sanitárias (social)

Evitar poluição: Tratamento da água que deixa o ambiente construído e retorna aos corpos d’água

• Reduzir uso de fertilizantes (eutroficação) e pesticidas (poluição do ar, do solo e da água) na manutenção de jardins públicos e privados

• Nos canteiros de obra:

• Prover facilidades sanitárias e ligação adequada à rede municipal de esgoto

• Prover facilidades adequadas para retenção de materiais poluentes (silte, particulados, óleos, água alcalina residual etc) antes de descarga na rede pública

• Empregar materiais sem produtos lixiviáveis

• Na escala urbana: prover facilidades sanitárias e de coleta, tratamento e disposição adequada de resíduos municipais

Saneamento

interface com Qualidade da água (ambiental) e Saúde/Condições sanitárias (social)

Evitar poluição: Prover infra-estrutura de saneamento básico para reduzir poluição do solo e corpos d’água

Biodiversidade (15)

Ecossistemas e espécies-chave

Selecionar áreas para novos empreendimentos para direcionamento de crescimento urbano, que priorizem a proteção de áreas contendo ecossistemas -chave e a recuperação de ecossistemas e áreas degradadas

Estudo de implantação para minimizar perturbação em sítios com valor ecológico

Tomar precauções para conservação de vegetação e camada de solo superficial durante a execução da obra

Reservas de recursos (interface com Padrões de Produção e consumo (econômico)

Aspectos Sociais

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Erradicação de pobreza (3) Gerar empregos diretos, indiretos e induzidos, com salários adequados

Igualdade de gênero (24) Reduzir desigualdade de salários e acesso a oportunidades de carreira para homens e mulheres

Relações trabalhistas Política de remuneração justa e melhoria das relações trabalhistas

Justiça social

Fortalecimento de comunidades locais (interface com Padrões de Produção e consumo (econômico)

Usar recursos humanos locais

Educação (36) Capacitação técnica e para sustentabilidade

Encorajar programas formais de treinamento e atualização profissional e ambiental

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 128

Aspectos Sociais

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Alfabetização Encorajar programas de alfabetização e aumento de escolaridade

Conscientização pública (interface com Padrões de Produção e consumo (econômico)

Divulgar relatos de sustentabilidade de empresas, edifícios e produtos de construção para conscientização e permitir LCA

Qualidade do ambiente interno Incluindo a emissão de VOCs31, limpeza e renovação do ar

Saúde e segurança no trabalho

Reduzir exposição a LER32; observar ergonomia na realização de tarefas

Melhorar segurança no ambiente de trabalho (redução de acidentes)

Disponibilizar equipamentos de segurança para trabalho em situações de risco e manuseio de substâncias perigosas

Infra-estrutura adequada para pessoal operacional do edifício

Abastecimento de água

Aumentar acesso a infra-estrutura de abastecimento de água tratada

Procurar reduzir demanda na rede municipal

Programas de conscientização (interface com Padrões de consumo e produção)

Esgotamento Sanitário

Aumentar acesso a infra-estrutura para coleta e tratamento de esgoto (redução de enfermidades e poluição de corpos d’água)

Procurar reduzir carga na rede municipal (interface com Padrões de consumo e produção)

• Sistemas de pré-tratamento in situ

Saúde (6)

Condições sanitárias (acesso a serviços e redução de enfermidades)

interface com aspectos ambientais (Qualidade da água , redução de concentração de matéria orgânica e coliformes fecais em corpos d´água), e econômicos (Padrões de consumo e produção)

Drenagem Urbana

Prover infra-estrutura adequada de drenagem

Reduzir áreas impermeáveis

Procurar reduzir carga na rede municipal (interface com Padrões de consumo e produção)

• Usar mecanismos de retenção de partículas sólidas e produtos de erosão do solo, evitando entupimentos

• Usar mecanismos de retenção de óleos e poluentes liberados por veículos automotores, evitando poluição de lençol freático e cursos d’água

31 VOCs – Compostos Orgânicos Voláteis (volatile organic compounds).

32 LER - Lesão por Esforço Repetitivo.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 129

Aspectos Sociais

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Limpeza Urbana e Coleta de Lixo

Prover coleta e destinação apropriada de lixo e resíduos sólidos (com separação e tratamento da fração reciclável)

Procurar reduzir pressão nas facilidades municipais (interface com Padrões de consumo e produção)

Acesso a parques e áreas de lazer/áreas públicas em edifícios

Transporte Reduzir o deficit e recuperar a capacidade de investimento em infra-estrutura de serviços urbanos

Prover e melhorar infra-estrutura de transporte público urbano (menor uso/alternativas mais limpas)

Planejar pra evitar pressionar o sistema viário/de transporte existente

Infra-estrutura e acesso a serviços urbanos

Habitação(7) e condições de vida urbana

Reduzir o deficit de habitações (quantitativo e qualitativo). Formalizar políticas, estratégias e mecanismos de crédito e financiamento .

Melhorar qualidade de vida nos assentamentos formais e informais (inclui urbanização de favelas)

Aspectos Econômicos

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Recursos e mecanismos de financiamento (Status financeiro (33)

Criar linhas de financiamento para iniciativas, políticas e programas para aumento de sustentabilidade

Aumentar (re)investimento

Aumentar investimento em alternativas para aumento de sustentabilidade, incluindo tecnologias mais eficientes e limpas

Desempenho econômico Aumentar a qualidade de produtos e processos

Melhorar a qualidade de produtos, processos e edifícios Aumentar a vida útil das edificações, (durabilidade e adaptabilidade)

Estrutura

econômica (2)

Aumentar eficiência na alocação de recursos (capital financeiro e ambiental) para a produção de materiais, e construção e uso de edifícios

Internalizar custos ambientais e sociais no estabelecimento de preços , para estimular opção por produtos com “melhor valor” em termos de sustentabilidade

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 130

Aspectos Econômicos

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Consumo de materiais Aumentar eficiência na produção e uso de materiais:

Reduzir resíduos da indústria de materiais de construção

Melhorar qualidade da construção (gestão)

Aumentar durabilidade (de materiais e edifícios) e planejamento da manutenção

Reduzir desperdício e RCD (práticas construtivas e tecnologias com uso eficiente de materiais). Aumento no uso de reciclados como materiais de construção. Fortalecer reciclagem de RCD.

Modular e otimizar dimensionamento

Gestão de resíduos (19-22) Reciclar resíduos e reutilizar componentes

Estabelecimento de programas de coleta seletiva, reciclagem, reuso e disposição de RCD e resíduos da indústria

(interface com Atmosfera e Solo (ambiental)

Uso de energia (interface com Atmosfera, Água doce e Biodivesidade (ambiental)

Reduzir intensidade de uso de energia e aumentar eficiência no uso de energia na produção de materiais e na operação de edifícios

Suprir demanda por tecnologias de conservação de energia

Usar energia renovável

Uso de água (interface com Água doce/ quantidade de água (ambiental)

Conservar água

Investigar e incentivar reuso de água e aproveitamento de água de chuva

Transporte Reduzir distância percorrida por modo de transporte de materiais (uso de materiais locais) (interface com Mudança climática (ambiental)

Reduzir distância percorrida por funcionários (uso de recursos humanos locais) (interface com Fortalecimento de comunidades locais (social)

Criar programas para redução uso de automóveis (interface com Infra-estrutura e serviços públicos (social))

Ampliação e aquecimento de mercado de soluções mais sustentáveis

Padrões de produção e consumo (4)

(relaciona-se com aspectos sociais e ambientais)

Auxílio na tomada de decisão com base em qualidade ambiental e sustentabilidade (interface com Educação (social)

Prover instrumentos de informação a consumidores: relato de sustentabilidade de empresas, serviços, materiais e edifícios

Aspectos Institucionais

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Estrutura institucional (38, 39)

Contribuição na implementação estratégica do desenvolvimento sustentável (8)

Definir e implementar estratégias em nível setorial e organizacional em relação a sustentabilidade

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 131

Aspectos Institucionais

Tema Sub-tema Possibilidades de ação relacionadas ao setor

Desenvolvimento de mecanismos normativos e legais

Desenvolver normalização orientada à sustentabilidade/qualidade ambiental de edificações e produtos de construção

Melhorar a efetividade, e integrar instrumentos legais e políticos nacionais (congregando fatores sociais, econômicos e ambientais) a instrumentos internacionais • formulação, coordenação e consistência entre

instrumentos legais • identificação de problemas novos e

emergentes Desenvolvimento de incentivos e mecanismos de financiamento

Desenvolver subsídios, incentivos fiscais, linhas de crédito e mecanismos de financiamento para:

• investimento e operação de indústria mais sustentável

• desenvolvimento e produção de materiais e tecnologias de construção mais sustentáveis

• adoção de medidas, produtos, tecnologias e sistemas sustentáveis na produção e operação de edifícios

Contribuição na cooperação internacional

Atuar para cooperar no cumprimento de metas de acordos internacionais ratificados pelo Brasil

Desenvolver rede internacional de P&D em Construção Sustentável/Integração a redes existentes (GABS33, GBC, iiSBE Policies Network; CIB)

Acesso a informação (40) e participação das partes interessadas e auxílio à tomada de decisões

Desenvolver e usar instrumentos para coleta de informações, benchmarking e divulgação de desempenho (relaciona-se com Padrões de produção e consumo)

Encorajar avaliações e relato de sustentabilidade de empresas, edifícios e produtos de construção, e comunicação estruturada às partes interessadas

Transferência de tecnologia, cooperação e capacitação(34)

Utilizar estrutura PBQP-H para implementar a Agenda 21 Setorial

• Planos Setoriais de Sustentabilidade (PSS), com metas e ações específicas, envolvendo as partes interessadas

Estabelecer redes sinérgicas para coordenação de esforços e recursos para

• Desenvolver soluções abrangentes e mais sustentáveis para edifícios e produtos de construção

• Transferência de tecnologias mais eficientes e limpas

• Educação de profissionais de construção

Capacidade institucional (37)

Ciência e Tecnologia (35) Investir em P&D para aumentar a sustentabilidade em nível setorial, organizacional, de edifícios e do ambiente construído

33 GABS - Global Alliance for Sustainable Building.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 132

A separação de temas segundo as quatro agendas nem sempre é fácil. Os grupos de temas

não são estanques e, definitivamente, há pontos de sobreposição que transitam igualmente

entre eles. Nem todos os itens listados na Tabela 2 podem ser trabalhados exclusivamente

por iniciativas do macro-setor de construção, assim como nem todos os itens podem ser

relacionados à escala do edifício, mas foram apontados para evidenciar a necessidade de

ações coordenadas com as esferas governamentais e acadêmica.

Os métodos de avaliação da sustentabilidade de edifícios que vierem a ser estabelecidos

devem, na extensão possível, procurar faze r a ligação entre a contribuição do edifício para o

atendimento de metas setoriais mais amplas. Os tópicos e linhas de ação incluídos na

estrutura apresentada não pretendem esgotar o assunto, mas têm aqui as funções específicas

de (1) estimular uma discussão pouco desenvolvida em trabalhos anteriores e (2) prover a

base para a proposição de uma estrutura de avaliação de sustentabilidade coerente com o

contexto e expectativas brasileiros.

5.1.4 AVALIAÇÃO E RELATO DA SUSTENTABILIDADE DE ORGANIZAÇÕES

A Tabela 3 reúne as iniciativas de destaque no desenvolvimento de indicadores e padrões de

relato de sustentabilidade de organizações. Há registros de iniciativas de menor grau de

complexidade, como o Corporate Sustainability Assessment Questionnaire 200234, e os

indicadores de comprometimento organizacional com a sustentabilidade propostos pela

Thirdwave35, ou que concentram-se em apenas uma das dimensões da sustentabilidade,

como os indicadores de valorização de recursos humanos usados no programa Investors in

People36 (INVESTORS IN PEOPLE UK, 2002). Uma lista de fontes de informação sobre

responsabilidade social corporativa37 está disponível em

http://www.wcit.org/topics/csr/csr_online_resources.htm. No Brasil, a principal fonte de

34 O Dow Jones Sustainability Index (DJSI) (http://www.sustainability-indexes.com) é usado para monitorar o desempenho

as companhias- líderes (top 10%) do Dow Jones Global Index em termos de sustentabilidade corporativa. A identificação das empresas -líderes em sustentabilidade é feita com base no Corporate Sustainability Assessment Questionnaire (SAM RESEARCH INC (s.d.), disponível para download no site http://www.sustainability-indexes.com/assessment/questionnaire.html.

35 http://www.thirdwave.org.uk

36 http://www.iipuk.co.uk/investorsinpeople/whatisinvestorsinpeople/default.htm

37 Também referenciada como cidadania corporativa, responsabilidade corporativa e práticas sustentáveis de negócios.

Responsabilidade social corporativa é a definição mais consensualmente aceita para referir-se à perspectiva holística de contabilidade social e cidadania corporativa, e levar em consideração as práticas ambientais, econômicas e sociais de uma atividade econômica.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 133

recomendações sobre responsabilidade social corporativa é o Instituto Ethos

(www.ethos.org.br).

Tabela 3 - Iniciativas de desenvolvimento de indicadores e padrões de relato de sustentabilidade de organizações.

Organização/ iniciativa

Publicação/data Foco/objetivo

GRI38 GRI, 2000 GRI 2002

Diretrizes para relato de sustentabilidade de organizações

WBCSD39

WBCSD, 1999; WBCSD, 2000; WBCSD, 200240

VERFAILLIE; BIDWELL, 2000

Conceito de eco-eficiência para relatar desempenho de organizações

ISO 14.03141

ISO, 1999 Descreve um processo interno de gestão, ferramentas e procedimentos gerais para selecionar aspectos ambientais relevantes da atividade de uma organização ou setor e indicadores específicos correspondentes, coletar e analisar dados, avaliar e relatar as informações resultantes.

As diretrizes da GRI (2002) constituem a principal tendência de uniformização da

incorporação dos conceitos e relato de sustentabilidade em nível organizacional. A GRI foi

criada por uma parceria da Coalition for Environmentally Responsible Economies

(CERES 42) e do UNEP, em 1997. Desde então, ela vem trabalhando para projetar e criar

aceitação para uma estrutura consensual, de adoção voluntária, para relato das dimensões

econômica, social e ambiental das atividades, produtos e serviços de uma da organização

(GRI, 2000; GRI 2002). Uma versão das diretrizes da GRI foi lançada em março de 1999

para discussão e teste e, em junho de 2000, foi publicada a primeira versão oficial (GRI,

2000).

No formato proposto pela GRI (2002), o impacto das organizações é apresentado segundo as

três dimensões da sustentabilidade. Cada dimensão é estruturada segundo a hierarquia

38 GRI - Global Reporting Initiative (http://www.globalreporting.org)

39 WBCSD - World Business Council for Sustainable Development.

40 http://www.wbcsd.ch/projects/pr_csr.htm

41 ISO 14.031 - Environmental management – Environmental performance evaluation – Guidelines.

42 ONG sem fins lucrativos com base em Boston, Estados Unidos. http://www.ceres.org

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 134

informada pela ISO 14.031: categoria>aspecto>indicadores43 (Tabela 4).

Tabela 4 – Estrutura proposta pela GRI (2002) para relato de desempenho em sustentabilidade de organizações. Os indicadores são relacionados aos aspectos.

Categorias Aspectos (problemas, impactos e partes interessadas)

Des

empe

nho

Eco

mic

o

(13

indi

cado

res)

Impactos econômicos diretos clientes fornecedores funcionários financiadores setor público

Des

empe

nho

Am

bie

nta

l (3

5 in

dica

dore

s)

Ambientais materiais energia água biodiversidade emissões, efluentes e resíduos fornecedores produtos e serviços conformidade transporte impacto total

Práticas trabalhistas/condições dignas de trabalho emprego relações trabalhistas/gestão saúde e segurança treinamento e educação diversidade e oportunidade

Direitos humanos estratégia e gestão não-discriminação liberdade de associação e negociação coletiva trabalho infantil trabalho forçado e compulsório práticas disciplinares práticas de segurança direitos indígenas

Sociedade comunidade suborno e corrupção contribuições políticas competição e preço

Des

empe

nho

Soc

ial

(49

indi

cado

res)

Responsabilidade pelo produto saúde e segurança do consumidor produtos e serviços publicidade respeito à privacidade

Os indicadores de impacto econômico direto44 medem os fluxos monetários e indicam o

relacionamento entre a organização e partes interessadas–chave em nível local, nacional e

43 Nas definições da ISO 14.031, categorias são temas amplos, agrupando os aspectos econômicos, ambientais e sociais relevantes para todas as partes interessadas. Aspectos são os subconjuntos gerais, relacionados a uma categoria específica, que podem ser definidos em termos de problemas, impactos ou partes interessadas afetadas. Indicadores são medidas, quantitativas e qualitativas, específicas de um aspecto individual que podem ser utilizados para monitorar e demonstrar desempenho. Um determinado aspecto (ex.: água) pode ter diversos indicadores (ex.: uso total de água, porcentagem reciclada, descarga em corpos d’água etc).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 135

global; e indicam como a organização afeta, positiva ou negativamente, as suas

circunstâncias econômicas. Os indicadores de impacto ambiental referem-se aos impactos

da organização em sistemas naturais, incluindo ecossistemas, solo, ar e água. Finalmente, a

dimensão social da sustentabilidade da organização refere-se aos impactos causados pela

organização nos sistemas sociais em que ela opera, envolvendo práticas trabalhistas, direitos

humanos45, e aspectos mais amplos que afetam consumidores, comunidades e outras partes

interessadas da sociedade, em nível local, nacional e global. Como diversos aspectos sociais

não são facilmente quantificáveis, a GRI (2002) sugere o uso de medidas qualitativas dos

sistemas e operações da empresa, incluindo políticas, procedimentos e práticas de gestão.

5.1.5 INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE DO SETOR E DE EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO

A Tabela 5 reúne as principais iniciativas de desenvolvimento de indicadores de

sustentabilidade relacionados ao setor de construção.

Em 1995, a CIB Working Commission W82 “Future Studies in Construction” (CIB W82)

criou o projeto Sustainable Development and the Future of Construction (1995-1998),

envolvendo 11 países europeus, além de Estados Unidos, Japão e Malásia. O projeto tinha

por objetivo definir construção sustentável, as conseqüências futuras do desenvolvimento

sustentável sobre a indústria da construção, recomendações estratégicas e exemplos de

melhores práticas de construção. Este estudo concluiu que o passo seguinte deveria ser

alcançar maior visão consensual através de um modelo global comum e estabelecer

indicadores e políticas para traduzir esta visão em realidade (BOURDEAU et al., 1998). O

resultado deste trabalho foi a base para preparação da Agenda 21 em Construção Sustentável

publicada pelo CIB em 1999.

44 Os impactos econômicos indiretos resultam de externalidades (custos ou benefícios resultantes mas não completamente

refletidos no fluxo monetário de uma transação) que geram impactos sobre as comunidades, tais como: dependência da comunidade das atividades da organização; habilidade da organização em atrair novos investimentos para uma região; e localização de fornecedores. Dada a complexidade de mensuração dos impactos indiretos, a GRI não estabeleceu um conjunto de indicadores e, no momento, sugere que as próprias organizações apontem indicadores adequados.

45 Os indicadores de “direitos do trabalhador” e “direitos humanos” foram mantidos separados, pois, apesar de muito

próximos, diferem fundamentalmente em objetivo: os indicadores de direitos humanos avaliam com a organização ajuda a manter e respeitar os direitos básicos do ser humano, enquanto os indicadores de práticas trabalhistas informam sobre as maneiras como a organização contribui para transcender estas expectativas básicas.

Estes indicadores foram definidos com base em padrões internacionais reconhecidos, principalmente a International Labour Organization (ILO) Tripartite Declaration Concerning Multinational Enterprises and Social Policy e a OECD Guidelines for Multinational Enterprises.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 136

Tabela 5 – Iniciativas para o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade relacionados ao setor de construção.

Organização/ iniciativa

Publicação Foco/objetivo

No nível setorial46

CIB W82 Construction Related Sustainability Indicators – CRISP (1999-2001)

CIB W82 (1999); CRISP NETWORK (2001); Häkkinen et al, (2002)

Indicadores de sustentabilidade relacionados ao setor de construção (rede européia)

Construction Industry Research and Information Association (CIRIA)

CIRIA (2001) Indicadores de sustentabilidade para a indústria da construção do Reino Unido

No nível de edifícios

University of Michigan REPPE (1999a) Indicadores de sustentabilidade de edifícios

Green Building Challenge (GBC)

COLE;LARSSON (2000)

TODD;JOHN (2001)

Indicadores de sustentabilidade ambiental são utilizados para comparar edifícios em diferentes países.

Em continuidade, a CIB W82 criou o projeto Construction Related Sustainability Indicators

– CRISP (1999-2001) para o desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade para o

setor de construção, numa cooperação entre Japão, Malásia, Canadá e Estados Unidos e a

EC CRISP Network, que congrega 17 países europeus 47. Um objetivo inicial era, entre

outros, desenvolver uma estrutura de indicadores organizados com base no modelo DSR e

em categorias/etapas processuais em cinco níveis de abrangência crescente: edifício, urbano,

regional, nacional e global48.

Os objetivos do Projeto CRISP são (CIB W82, 1999):

§ Definir e validar indicadores (quantitativos e qualitativos) de sustentabilidade relacionados ao setor de construção, incluindo aspectos ambientais, econômicos, sociais, culturais e institucionais. Os indicadores são práticos e serão validados em casos-piloto.

§ Implementar os indicadores para (1) mensuração da sustentabilidade de edifícios e do ambiente construído, e dos diferentes atores envolvidos em sua criação e manutenção em nível nacional; e (2) comparação da sustentabilidade de edifícios, regiões e nações.

46 Apesar de não desenvolvida à luz da sustentabilidade, uma iniciativa de relevo para o setor de construção são os

Construction Industry Key Performance Indicators (CI KPIs, http://www.dti.gov.uk/construction/kpi/)46

, criados no âmbito do Construction Best Practice Programme do UK Department of Trade and Industry. Os CI KPIs são conjuntos de dados de referência, contra os quais pode-se comparar o desempenho de um projeto ou empresa de construção do Reino Unido.

47 http://crisp.cstb.fr/presentation.htm

48 http://cic.vtt.fi/eco/cibw82/crisp.htm

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 137

Pretende-se que estes indicadores considerem todo o processo de produção do edifício, que

começa no início do projeto e termina no fim do ciclo de vida da facilidade, incluindo

demolição e eventual tratamento posterior. A missão do projeto é desenvolver uma estrutura

comum em nível internacional, mas eventualmente atribuir pesos diferentes aos indicadores

em cada país. A estrutura de indicadores será compatível com um cenário futuro projetado,

para permitir a evolução dos indicadores e de seu conteúdo ao longo do tempo.

O trabalho continuou após este evento com a formação da European Thematic Network on

Construction and City Related Indicators (EC CRISP Network), liderada pelo CSTB

(França) e pelo VTT49 Building Technology (Finlândia). O projeto está hospedado no Site

http://www.crisp.cstb.fr, que apresenta o estado atual da base de dados que classifica

sistemas e indicadores em um formulário-padrão50. Os resultados ainda não foram

disponibilizados para consulta, o que, neste momento, impede análise aprofundada das

etapas e da metodologia utilizada.

A segunda iniciativa estruturada de desenvolvimento de indicadores de sustentabilidade para

o setor de construção foi conduzida pela Construction Industry Research and Information

Association - CIRIA (2001), que realizou uma ampla consulta ao setor de construção no

Reino Unido. A partir da discussão de quatro elementos do desenvolvimento sustentável51,

emergiram 10 temas-chaves para a construção sustentável (Tabela 6).

Apesar destes temas serem propostos para o Reino Unido, é instrutivo considerar a forma de

organização dos indicadores propostos pela CIRIA. Dentro dos temas e sub-temas, há

indicadores estratégicos e indicadores operacionais. Os indicadores estratégicos medem os

sistemas e processos internos da empresa, para melhorar seu desempenho, sendo, por

natureza, genéricos e relevantes para a maior parte das empresas de construção. A

informação necessária está normalmente disponível em nível corporativo e requer menor

esforço de compilação. Já os indicadores operacionais, medem o desempenho da empresa

na produção e entrega de construções mais sustentáveis. O desempenho da empresa em

49 VTT - Technical Research Centre of Finland.

50 http://crisp.cstb.fr/database.asp

51 Identificados anteriormente na estratégia do governo (UNITED KINGDOM GOVERNMENT, 1999) e na agenda setorial

(DETR, 2000) do Reino Unido para a sustentabilidade, como: (1) proteção efetiva do ambiente; (2) uso prudente de recursos naturais; (3) progresso social, que reconheça as necessidades de para todos; e (4) manutenção de níveis elevados e estáveis de emprego e crescimento econômico.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 138

projetos individuais pode ser agregado para indicar o desempenho global da empresa quanto

a um item específico.

Tabela 6 - Temas-chaves para a construção sustentável no Reino Unido (CIRIA, 2001).

Temas Ambientais Sub-temas • Evitar poluição Mitigação e gestão de poluição nos canteiros

Planejamento de transporte

• Proteção e melhoria da biodiversidade Criação de habitat e melhoria ambiental Otimização de brownfields Projeto e construção ambientalmente responsáveis

• Melhoria de eficiência energética Projeto para custos ao longo do ciclo de vida Uso de materiais locais com baixa energia incorporada

• Uso eficiente de recursos Minimização e gestão de resíduos Reuso de estruturas existentes Projeto e construção seca Conservação de água Uso de produtos reciclados ou de fontes sustentáveis

Temas Sociais Sub-temas • Respeito à equipe de funcionários Provisão de treinamento efetivo e avaliações de funcionários

Igualdade de termos e condições Provisão de oportunidades iguais a todos Saúde, segurança e provisão de ambiente de trabalho adequado Manutenção da moral e satisfação dos funcionários Participação na tomada de decisões

• Relacionamento com comunidades locais Minimização de perturbação local Construção de canais efetivos de comunicação Contribuição para a economia local Entrega de edifícios e estruturas que melhoram o ambiente local

• Estabelecimento de parcerias Construção de relacionamento de longo prazo com clientes Construção de relacionamento de longo prazo com fornecedores Cidadania corporativa Entrega de edifícios e estruturas que aumentem a satisfação, o bem-estar e o valor para clientes e usuários Contribuição para o desenvolvimento sustentável globalmente

Temas Econômicos Sub-temas • Aumento de produtividade e lucro Melhoria de produtividade

Padrão de crescimento consistente

• Melhoria no projeto (produto oferecido) Satisfação do cliente Minimização de defeitos Tempo para conclusão mais curto e previsível Projetos de menor custo, com maior previsibilidade de custos

• Monitoramento e relato de desempenho x metas

Relato da empresa Benchmarking de desempenho

5.1.6 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE DE EDIFÍCIOS

Existem diferenças fundamentais entre o conceito puro de indicadores de sustentabilidade e

os indicadores utilizados - ou passíveis de utilização neste momento - em sistemas de

avaliação de edifícios.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 139

Os métodos de avaliação ambiental de edifícios disponíveis tipicamente não abordam os

aspectos sociais e econômicos da sustentabilidade e são dirigidos a edifícios individuais. Já

a discussão de indicadores de sustentabilidade (particularmente indicadores sociais e

econômicos) relaciona-se a medidas mais gerais da sociedade, como redução de pobreza,

analfabetismo, PIB etc, que não são facilmente relacionadas à escala organizacional ou de

um edifício (COLE, 2002; TODD;JOHN, 2001).

Apesar dos edifícios serem bens de longa vida útil, se comparados a outros bens de

consumo, a maioria dos fenômenos naturais e culturais significativos mostram longas

tendências que não são nem mesmo percebidas no curto prazo, e a escala temporal até que

ocorra um realinhamento significativo em direção a um mundo sustentável será certamente

medida em gerações (COLE, 2002). O desempenho ambiental de edifícios é relativo,

avaliado em relação a desempenho “típico”, seja explicita- ou implicitamente. Ao longo do

tempo, edifícios individuais, assim como as práticas de vanguarda e práticas típicas

melhoram e, conseqüentemente, a pontuação de desempenho é válida apenas no ponto

particular no tempo em que foi realizada a avaliação.

Finalmente, cresce a tendência dos métodos de avaliação de edifícios utilizarem um

processo de agregação das medidas de desempenho para sumarizar o desempenho global do

edifício. Este não é o caso dos indicadores de sustentabilidade, que são normalmente

mantidos como entidades discretas. (COLE, 2002).

Tomando a definição de HOLMBERG et al. (1991), indicadores de sustentabilidade

(ambiental) são medidas que relacionam a distância entre o estado atual (do ambiente) e o

seu estado sustentável. Para se falar em indicadores de sustentabilidade, este patamar

sustentável deve, portanto, ser conhecido ou razoavelmente estimado. Relacionar medidas

de desempenho de edifícios a indicadores mais amplos de progresso em direção à

sustentabilidade permanece como um dos principais desafios a serem enfrentados, mas

seguramente mais simples do que definir precisamente o estado sustentável, é obter dados

para gerar indicadores de desempenho em relação a metas de sustentabilidade, ainda que

persistam as dificuldades de acesso a dados acurados e contínuos, necessários à formulação

e manutenção dos indicadores.

Por todas estas dificuldades, os métodos existentes de avaliação de edifícios adotam, na

verdade, esta segunda linha, e reportam-se a metas de sustentabilidade (ambiental), definidas

teorica- ou empiricamente. Indicadores empíricos têm sido adotados e posteriormente

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 140

validados ou excluídos com base nas experiências práticas de implementação nos casos

avaliados com cada sistema.

A discussão sobre indicadores de sustentabilidade de edifícios foi intensificada a partir de

1999, quando a Universidade de Michigan realizou um workshop52 para discussão de

indicadores de sustentabilidade de edifícios (REPPE, 1999a), obstáculos para a sua

implementação (REPPE, 1999b) e estratégias (REPPE, 1999c). Em 2001 foi constituído um

Grupo de Trabalho 53 no GBC com o objetivo desenvolver uma lista preliminar de

indicadores de sustentabilidade, entendidos como medidas absolutas destinadas a embasar a

comparação internacional de edifícios. Na ocasião, o GT concluiu que não possuía

conhecimento suficiente sobre níveis de metas que o permitisse trabalhar com indicadores

de sustentabilidade, preferindo adotar a terminologia indicadores de desempenho

ambiental54 (TODD;JOHN, 2001). Na reunião do GBC em Madrid (março de 2003) houve

uma mudança importante de abordagem, e foram iniciados estudos para consideração dos

efeitos econômicos e sociais relacionados à construção e operação dos edifícios avaliados

nas próximas versões da GBTool.

Um avanço promissor neste campo é o trabalho do ISO/TC59/SC355 na preparação de um

conjunto de normas sobre Sustentabilidade de edifícios e ativos construídos56, que inclui um

texto específico sobre princípios para indicação de sustentabilidade de um edifício ou grupo

de edifícios (ISO AWI 15392) (ISO, 2003a). Com o uso desta norma, pretende-se que as

avaliações de sustentabilidade de edifícios sejam feitas segundo uma estrutura comum e uma

coleção principal de indicadores (Tabela 7), definidos na ISO AWI 21932 (2002c).

A influência econômica do edifício é expressa com base em fluxos monetários gerados

durante o seu ciclo de vida, como investimentos (em terreno, projetos, manufatura de

produtos, construção...); custos operacionais (consumo de energia e de água, gestão de

52 National Sustainable Buildings Workshop.

53 O Grupo de Trabalho em Indicadores de Sustentabilidade do GBC inclui a autora deste trabalho.

54 Na versão da GBTool utilizada para as avaliações apresentadas na SB’02, esta terminologia foi substituída por

indicadores de sustentabilidade ambiental. 55

ISO Technical Committee 59 (Building construction), Subcommittee SC 3 (Sustainability in building construction). 56

Até o momento, estão sendo preparados os seguintes textos (circulação restrita): ISO TC59/SC3/N503 (ISO CD 21932, 2002a) – Terminology. ISO TC59/SC3/N499 (ISO CD 21930, 2002b) – Environmental declaration of building products. ISO TC59/SC3/N469 (ISO AWI 21932, 2002c) – Sustainability indicators. ISO TC59/SC3/N459 (ISO AWI 15392, 2003a) – General Principles. ISO TC59/SC3/N501 (ISO CD 21931, 2003b) – Framework for assessment of environmental performance of buildings .

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 141

resíduos...); custos com manutenção e reparo; e com desconstrução e destinação de resíduos

de demolição. Na ISO AWI 21932 (ISO TC59/SC3, 2002c), os indicadores econômicos

relacionam-se a fluxos monetários durante o ciclo de vida do edifício, basicamente custo ou

retorno para proprietários, ocupantes e usuários. Uma abordagem sustentável enfatiza o

custo no longo prazo (análise de custos ao longo do ciclo de vida) em vez de lucratividade

no curto prazo. Neste sentido, o projeto de norma sugere que o emprego corrente de técnicas

de análise de viabilidade econômica que priorizem a situação presente como os métodos de

descontos (como o cálculo de valor presente) e de período de retorno (payback) seja

reconsiderado.

Tabela 7 - Lista mínima de indicadores de sustentabilidade de edifícios, sugerida na ISO

AWI 21932 (ISO TC59/SC3, 2002c).

Indicadores de sustentabilidade

Indicadores ambientais Uso de matérias-primas naturais;

Consumo de energia

Liberação de emissões danosas ao ambiente

Indicadores sociais Acessibilidade (transporte público, ciclistas, pedestres)

Vida útil

Ambiente interno

Uso sem barreiras (barrier-free)

Indicadores econômicos Custos ao longo do ciclo de vida

Os indicadores ambientais referenciam-se basicamente às categorias de impactos listadas na

ISO 14.042 (ISO, 2000): uso de recursos (solo, água, energia e matérias-primas), potencial

de aquecimento global, acidificação, eutroficação, formação de foto-oxidantes, dano à

camada de ozônio, eco-toxicidade, contaminação do solo, saúde e biodiversidade. Estes

indicadores são, por sua vez, relacionados na ISO CD 21931 (ISO, 2003b), que aponta uma

lista mínima de itens a serem contemplados no desenvolvimento de métodos de avaliação

ambiental de edifícios (Tabela 8).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 142

Tabela 8 - Estrutura de itens a avaliar proposta pela ISO CD 21931 (ISO, 2003b).

Categorias obrigatórias57 Sub-categorias

Conforto térmico

Conforto acústico

Iluminação

Ambiente interno

Qualidade do ar

Energia para operação

Operação eficiente

Carga térmica

Uso de energia natural

Energia

Eficiência dos sistemas prediais

Consumo de água

Produtividade no uso de recursos

Recursos e materiais

Evitar uso de poluentes

Poluição Impactos no entorno

Carga na infra-estrutura local

Finalmente, os indicadores sociais são tratados na ISO AWI 21932 (ISO TC59/SC3, 2002c)

em termos de saúde e produtividade (riscos à saúde e clima interno); segurança do usuário,

igualdade (acessibilidade) e herança cultural (qualidade arquitetônica; flexibilidade; vida

útil do edifício e adequabilidade ao entorno). Muitos destes aspectos sociais são usualmente

tratados em nível da comunidade. A norma tentará relacioná- los ao nível dos edifícios e

grupos de edifícios.

5.2 CRITÉRIO DE PONDERAÇÃO (“COMO AVALIAR?”)

A definição da importância relativa entre os diferentes aspectos avaliados é um dos pontos

mais críticos em uma avaliação de edifícios, seja ela em termos ambientais ou de

sustentabilidade. Aplicar um critério de ponderação é fundamental para que o método de

avaliação deixe transparecer as prioridades locais, além de agilizar o entendimento dos

perfis de saída da avaliação, pois a pontuação pode ser distribuída dentro de um número

limitado e gerenciável de itens a avaliar, organizados segundo uma hierarquia pré-definida.

A avaliação puramente econômica de um edifício conta com medidas de viabilidade bastante

difundidas, como relação custo-benefício58, valor presente líquido, período de retorno

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 143

(payback59), taxa de retorno60, análise de custos ao longo do ciclo de vida61. Todos estes

métodos traduzem os custos e os benefícios de um determinado investimento em uma

medida única de viabilidade econômica do projeto, expressa em termos monetários

(NORRIS;MARSHALL, 1995). Em avaliações de sustentabilidade, porém, os atributos

econômicos são analisados juntamente com atributos de desempenho ambiental e social do

edifício, cuja expressão em termos monetários nem sempre é fácil ou mesmo possível62. De

toda forma, a definição da importância relativa neste nível hierárquico pode ser orientada

pela percepção de prioridades e pela estratégia de ação definida para um contexto específico.

Já a priorização de itens dentro de um mesmo nível hierárquico é mais difícil. Entre os

aspectos ambientais, particularmente, não há um método consensualmente estabelecido para

atribuir pesos, apesar da noção comum de que eles devam ser estabelecidos de acordo com

evidência científica do impacto no médio e longo prazo sobre a saúde humana ou dos

ecossistemas.

A definição de ponderações em uma avaliação da sustentabilidade de edifícios centra-se,

portanto, na busca de um método de ponderação que ofereça solução para dois problemas

distintos: primeiro, comparação entre itens medidos por unidades diferentes (ex.: consumo

de recursos x cargas ambientais) e, segundo, comparação entre itens monetários e não

monetários (desempenho econômico x social x ambiental).

5.2.1 EMPREGO DE PROCESSO DE ANÁLISE HIERÁRQUICA (AHP63) PARA DERIVAÇÃO DE PESOS

O chamado processo de análise hierárquica (AHP) pertence ao grupo dos métodos aditivos

simples, que por sua vez, são uma das classes de técnicas de análise de decisão multi-

57 A ISO CD 21931 (ISO, 2003b) traz ainda uma lista de categorias opcionais que inclui: qualidade dos serviços ; qualidade

do ambiente externo; e impactos ambientais adicionais no entorno.

58 ASTM E- 964/93 (1998) - Standard Practice for Measuring Benefit-to-Cost and Savings -to-Investment Ratios for Buildings

and Building Systems. 59

ASTM E1121(1998) - Standard Practice for Measuring Payback for Investments in Buildings and Building Systems.

60 ASTM E1057 (1999) - Standard Practice for Measuring Internal Rate of Return and Adjusted Internal Rate of Return for

Investments in Buildings and Building Systems. 61

ASTM E-917 (1999) - Standard Practice for Measuring Life-Cycle Costs of Buildings and Building Systems.

62 Uma lista completa de atributos para análise de edifícios e seus sub-sistemas foi desenvolvida pelo sub-comitê ASTM

sobre desempenho global de edifícios (E06.25 - Whole-building Performance). 63 AHP - Analytic Hierarchy Process.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 144

atributos (MADA64). As técnicas MADA aplicam-se a problemas em que o agente de

decisão precisa ordenar ou escolher (uma dentre) um número finito de alternativas, que são

mensuradas por dois ou mais atributos relevantes, sejam eles monetários ou não. Descrições

dos métodos principais podem ser encontradas na vasta literatura disponível sobre o tema,

com destaque para as sínteses feitas por HWANG;YOON (1981) e CHEN;HWANG (1992).

O Journal of Multi-criteria Decision Analysis (John Wiley & Sons, Ltd) é uma fonte-chave

para atualização e consulta sobre desenvolvimentos mais recentes.

Existem quatro características comuns a todos os métodos MADA (NORRIS, MARSHALL,

1995):

1. Análise de um conjunto finito e geralmente pequeno de alternativas discretas e pré-determinadas;

2. Compensação entre atributos;

3. Comparação de atributos não mensuráveis pela mesma unidade; e

4. Caracterização do problema através de matrizes de decisão65, que indicam o conjunto de alternativas e o conjunto de atributos a considerar.

A matriz de decisão é composta por uma linha correspondente a cada alternativa e a coluna

correspondente a cada atributo sendo considerado. Desse modo, um problema com m

alternativas caracterizadas por n atributos é descrito por uma matriz X, m x n (Eq. 1).

x11

(informação sobre Alternativa

1 em relação ao Atributo 1)

x1n

(informação sobre Alternativa

1 em relação ao Atributo n)

X = x ij

(informação sobre Alternativa

i em relação ao Atributo j)

= [x ij]

xm1

(informação sobre Alternativa

m em relação ao Atributo 1)

xmn

(informação sobre Alternativa

m em relação ao Atributo n)

Eq. 1

64 MADA é o acrônimo da expressão em inglês Multiattribute decision analysis. Nota de terminologia: MCA é o acrônimo de

multicriteria analysis. Uma forma de MCA é a MADA (multiattribute decision analysis), também conhecida como MCDA (multicriteria decision analysis). Neste contexto, os termos atributo e critério são sinônimos e intercambiáveis. Tanto o AHP como a ponderação aditiva simples são técnicas de MADA (ou MCDA).

65 Também se utiliza o termo matriz de comparação.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 145

Entre os métodos MADA estão os métodos aditivos simples, que facilitam a classificação e

escolha dentre alternativas através do desenvolvimento de uma pontuação para cada uma

delas. A lógica dos métodos aditivos simples consiste em quatro princípios:

§ pontuações cardinais numéricas, que caracterizam a preferência global por cada alternativa. A pontuação de preferência Di

66, para cada uma das m alternativas (i=1,..., m) pode então ser utilizada para ordenar alternativas, identificar um grupo de alternativas preferidas ou selecionar uma alternativa única de maior preferência.

§ pesos cardinais de atributos: para todas as alternativas, a importância relativa dos atributos é definida como constante e descrita através de pesos cardinais (wj), que o agente de decisão atribui a n atributos (j=1,..., n). Os pesos são geralmente normalizados (Σpesos = 1)

§ contribuições à preferência (desejabilidade): o desempenho de cada alternativa com relação a cada atributo (pontuação do atributo, xij) deve ser numérica é comparável para todos os atributos. A contribuição à preferência é dada pela soma das contribuições de cada atributo à preferência global por uma alternativa, ou seja Di = xij . wj (para i =1,..., m e j=1,..., n).

§ aditividade: as contribuições individuais dos atributos à preferência global por uma alternativa são consideradas como aditivas, isto é: a pontuação global da alternativa (Di) é definida como a soma das contribuições individuais por atributo (Eq. 2).

Di = ∑=

n

j 1

xij . wj (para i =1,..., m e j=1,..., n) Eq. 2

O Processo de Análise Hierárquica (AHP) transcende a ponderação aditiva simples em três

características importantes (1) a descrição hierárquica do problema com o objetivo de

manter o número de comparações pareadas necessárias dentro de um limite gerenciável; e

(2) a incorporação direta do procedimento de comparação em pares juntamente com (3)

uma abordagem pré-especificada para conversão dos resultados das comparações em pesos

para os atributos considerados (método do vetor eigen principal) e uso dos resultados

obtidos em um teste heurístico da consistência das comparações pareadas efetuadas

(NORRIS, MARSHALL, 1995).

O AHP foi originalmente desenvolvido e aplicado por SAATY (1980). Trata-se de uma

ferramenta analítica totalmente compensatória, aplicável a problemas de decisão multi-

atributos que possam ser formulados como uma árvore de decisão67, onde cada nível

hierárquico envolve diversos tipos de atributos. Com base em princípios matemáticos

66 A notação Di vem do termo original em inglês “desirability” (desejabilidade).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 146

simples, o AHP habilita os agentes de decisão a analisar aspectos rigorosa e metodicamente

através de comparação, para realizar o ordenamento, varredura68 e/ou seleção de alternativas.

Sumarizando, constrói-se uma hierarquia dos elementos de decisão e então utilizar matrizes

de comparação para comparar cada par possível em cada grupo, isto é: comparar atributos,

em termos de sua importância relativa, e depois comparar alternativas em termos de sua

preferência relativa em relação a cada atributo. O agente de decisão expressa a sua

preferência aproximada através de intervalos de julgamento e especifica uma faixa de

números para indicar a importância relativa de dois fatores por vez. As comparações

sucessivas fornecem o peso de cada elemento dentro do grupo (ou nível hierárquico) e

também uma relação de consistência. O resultado é uma definição clara de prioridades do

ponto de vista de um indivíduo ou grupo (NORRIS, MARSHALL, 1995; HÄMÄLÄINEN,

et al., 2002; MMD-ENG, 2002).

Diante da ausência de uma base objetiva para ponderação de parâmetros de sustentabilidade,

o AHP é aqui sugerido para determinação da ponderação entre os temas e categorias a

avaliar, pois:

§ tanto o texto de trabalho da ISO AWI 21932 - Indicadores de Sustentabilidade (ISO TC59/SC3, 2002c), quanto o Manual do usuário da GBTool (COLE; LARSSON, 2002) recomendam a adoção de técnicas de análise de decisão multi-atributos;

§ é um dos cinco cinco métodos (ou classes de métodos) MADA apontados por NORRIS, MARSHALL (1995) como adequados para a análise de problemas relacionados a edifícios e seus sub-sistemas69;

§ é reconhecido pela ASTM, através de (1) sua adoção pelos sub-comitês ASTM E06.05 (Whole-building Performance) e ASTM E06.81 (Building Economics) em trabalho conjunto consolidado sobre decisões relacionadas a atributos de edifícios; (2) da norma ASTM E 1765-9570, sobre a aplicação do AHP à análise de decisão multi-atributos de investimentos relacionados a edifícios e sistemas de edifícios; e (3) do software de apoio à referida norma (CHAPMAN et al., 1998); e

§ nos estudos de casos realizados neste trabalho (Capítulo 4), a ferramenta AHP desenvolvida mostrou-se como um facilitador para a derivação sistemática de pesos

67 Também se utiliza o termo árvore de valor ou árvore hierárquica.

68 Distinção entre possibilidades aceitáveis e não aceitáveis.

69 São eles: métodos de ponderação aditiva (soma ponderada), produto ponderado, NCIC (Non-traditional Capital

Investment Criteria), TOPSIS e distância do alvo. Para uma lista abrangente dos métodos (ou classes de métodos) MADA considerados aplicáveis a problemas reais, agrupados de acordo com suas características principais, consultar NORRIS, MARSHALL (1995).

70 ASTM E 1765-95 - Standard Practice for Applying Analytic Hierarchy Process (AHP) to Multiattribute Decision Analysis of

Investments Related to Buildings and Building Systems .

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 147

entre os temas de desempenho da GBTool, indicando que um procedimento semelhante pode ser utilizado positivamente no desenvolvimento de um método nacional.

Um AHP completo é composto por três etapas:

1. Definição da hierarquia de atributos, compreende a definição do objetivo, a identificação dos atributos importantes, e a identificação de alternativas possíveis (Figura 6).

2. Determinação da importância relativa (peso) de cada atributo, através de comparação pareada em pares de elementos (atributos ou sub-atributos) começando pelo nível mais baixo da hierarquia. Compreende a construção das matrizes de comparação que sumarizam o desempenho relativo entre atributos e desempenho de cada alternativa em relação a cada atributo.

3. Determinação da pontuação global (contribuição à preferência) de cada alternativa, com base nos pesos dos atributos e sub-atributos obtidos em (2) para ordenar as alternativas ou selecionar uma delas.

5.2.1.1 DEFINIÇÃO DA HIERARQUIA DE ATRIBUTOS

A construção da hierarquia de atributos representa a percepção do(s) agente(s) de decisão

quanto aos aspectos (atributos e alternativas) considerados. Estruturar um problema

hierarquicamente significa dividí- lo em uma série de níveis de atributos, de forma que cada

atributo seja membro de um pequeno grupo de atributos no mesmo nível, todos eles

relacionados a um atributo único no nível imediatamente superior. O problema de decisão

pode ser, então, descrito graficamente na forma de uma hierarquia de atributos, em que, de

um lado, esteja a decisão a ser tomada (objetivo) e, do outro, as alternativas a classificar ou

dentre as quais deve-se eleger uma preferida (Figura 6).

Uma vez determinados os níveis hierárquicos, deve-se estabelecer, para cada grupo de

atributos (de sub-atributos e assim sucessivamente), pesos normalizados (Σpesos = 1) que

indicam as preferências relativas do agente de decisão, naquele nível hierárquico. No

exemplo da Figura 6, quatro matrizes de comparação seriam necessárias para determinação

dos pesos, uma para cada grupo envolto pelas linhas tracejadas.

Teoricamente, não há limite para o número de níveis ou quantidade de atributos que podem

ser considerados em um AHP. Existe, no entanto, um limite prático ditado pela capacidade

de alguns softwares de apoio existentes no mercado, de forma que, em problemas

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 148

complexos, é possível ter até sete níveis na hierarquia, e até 9 sub-atributos em cada grupo

de atributos.

Figura 6 – Construção de hierarquia de atributos.

5.2.1.2 DETERMINAÇÃO DE IMPORTÂNCIA RELATIVA

Os agentes de decisão normalmente têm dificuldade para atribuir precisamente pesos

cardinais para uma série de atributos simultaneamente. A complexidade na explicitação

destas preferências vem do fato de a mente humana ter dificuldade de comparar mais de

duas coisas ao mesmo tempo. No entanto, é possível realizar facilmente comparações em

pares, até que todas as alternativas possíveis sejam consideradas (Figura 7).

Figura 7 – Exemplo de comparação em pares: conjunto de três alternativas.

Atributo 1-n

Atributo 1-n

Atributo 1-n

objetivo (decisão) Atributo 2

Atributo 1

Atributo 3

sub-atributo 1

sub-atributo 2

sub-atributo 1

sub-atributo 2

sub-atributo 3

sub-atributo 1

sub-atributo 2

alternativa 1

alternativa 2

alternativa 3

alternativa 4

alternativa n

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 149

Por esta razão, a atribuição de pesos é realizada através de comparações pareadas sucessivas,

que fornecem um conjunto de pesos consistente e normalizado.

Identidade , reciprocidade e consistência de matrizes de comparação

O problema de decisão no AHP é como comparar a importância relativa dos atributos de

modo sistemático e quantitativo. Matematicamente, o objetivo é determinar os pesos não-

negativos wi dos atributos ai para i variando de 1 a n, onde n é o número de atributos. Se os

pesos w=(w1,..., wn) fossem conhecidos, a importância relativa do atributo ai comparado a aj

seria dada pela relação wi/wj (HAURIE, 2001).

Na comparação empírica de n atributos apenas contra o primeiro deles (a1), por exemplo, as

relações entre pesos seriam wi/w1 para i = 1 a n. Estes valores definem o peso w em relação

a um fator global, sendo possível representar o vetor w por um vetor normalizado, por

exemplo, fazendo a soma dos pesos igual a 1 (Eq. 3):

w ii

∑ = 1

Eq. 3

Combinando todos os n possíveis vetores-colunas pareados em uma matriz como a mostrada

na Eq. 4, chega-se ao ponto de partida da análise de SAATY (1980).

A

w w w w w w w ww ww w

w w w w

n

n n n

=

1 1 1 2 1 3 1

2 1

3 1

1

/ / / .. . // .. ./ .. .: .. ./ .. . /

Eq. 4

A abordagem AHP assume que, por definição, a matriz de comparação atende a três

propriedades especiais:

(1) identidade: pelo princípio de identidade, todos os todos os elementos na diagonal da

matriz são iguais a 1, pois se um atributo é sempre igualmente importante a si mesmo, a

comparação de um atributo contra si mesmo fornece relação entre pesos igual a 1 (wi/wi=1,

..., wn/wn=1). Este princípio reduz a quantidade de respostas necessárias para apenas

n(n-1)/2, sendo n o número de atributos.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 150

(2) reciprocidade: pelo princípio de reciprocidade, se o Atributo A é julgado como 2 vezes

tão importante quanto o Atributo B, então o Atributo B é 1/2 vez tão importante quanto o

Atributo A. Por este princípio, cada elemento abaixo da diagonal é igual ao inverso do

elemento correspondente acima da diagonal.

Os elementos da matriz A têm, portanto, a propriedade especial (Eq. 5).

aij = 1/aji, para todos os i e j Eq. 5

Neste caso, por teorema de álgebra linear, w é o vetor eigen da matriz A, com valor eigen

igual a n (Eq. 6):

Aw=nw Eq. 6

Com este procedimento específico, o AHP formaliza a conversão de um problema de

atribuição de pesos a atributos em um problema mais palpável de realizar uma série de

comparações entre pares de atributos concorrentes. Esta série de comparações em pares é

sumarizada em matrizes de comparação, que são matrizes quadradas (número de linhas

igual ao número de colunas) contendo as relações entre os elementos comparados (sub-

atributos, atributos ou alternativas), na forma geral mostrada na Tabela 9.

(3) consistência (transitividade cardinal perfeita): por consistência entende-se que, para

quaisquer três Atributos A, B e C, se A é julgado como x vezes mais importante que B, e B é

considerado como y vezes mais importante que B, então A deve ser xy vezes mais importante

que C. Em outras palavras, as colunas da matriz de comparação são múltiplos escalares

entre si, de forma que as colunas normalizadas (i.e.: onde cada célula é dividida pela soma

da coluna) são idênticas, e qualquer uma delas pode ser tomada para representar os valores

relativos das alternativas, como mostrado no exemplo da Tabela 10 e Tabela 11.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 151

Tabela 9 – Forma geral de matriz de comparação em pares.

Atributo 1 Atributo 2 Atributo 3 ... Atributo n

Atributo 1 1

importância do atributo 1 em relação

ao atributo 2

importância do atributo 1 em relação

ao atributo 3

...

importância do atributo 1 em relação

ao atributo n

Atributo 2

importância do atributo 2 em relação

ao atributo 1

1 ... ...

importância do atributo 2 em relação

ao atributo n

Atributo 3

importância do atributo 3 em relação

ao atributo 1

importância do atributo 3 em relação

ao atributo 2

1 ... ...

... ... ... ... 1 ...

Atributo n

importância do atributo n em relação

ao atributo 1

importância do atributo n em relação

ao atributo 2

importância do atributo n em relação

ao atributo 3

... 1

Tabela 10 - Matriz consistente de comparação em pares de sub-atributos dentro de um Atributo A.

Atributo A Sub-atributo 1 Sub-atributo 2 Sub-atributo 3

Sub- atributo 1 1 1/3 2

Sub- atributo 2 3 1 6

Sub- atributo 3 1/2 1/6 1

Os pesos relativos dos três sub-atributos, com base no Atributo A considerado, são obtidos

através da normalização das colunas, de forma que a mesma matriz acima pode ser indicada

como na Tabela 11.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 152

Tabela 11 - Matriz da Tabela 1 após normalização das colunas.

Atributo A Sub-atributo 1 Sub-atributo 2 Sub-atributo 3 Σ linhas Pesos

Sub- atributo 1 0.222 0.222 0.222 0,666 0,222

Sub- atributo 2 0.667 0.667 0.667 2,000 0,667

Sub- atributo 3 0.111 0.111 0.111 0,333 0,111

Σ matriz 3 1

As colunas normalizadas são idênticas, o que indica que as comparações realizadas na

matriz da Tabela 10 foram perfeitamente consistentes e que a importância relativa entre os

três sub-atributos, com base no Atributo A, poderia ter sido extraída diretamente a partir dos

valores normalizados da primeira coluna (sub-atributo 1 = 0,222; sub- atributo 2 = 0,667; e

sub- atributo 3 = 0,111), ou somando-se os valores em cada linha e dividindo pelo total da

matriz, como demonstrado pela coluna “Pesos” acrescentada à matriz original.

Notar que, se as comparações são feitas em pares e se transitividade cardinal perfeita

(consistência) é assumida, torna-se redundante comparar (A,C), uma vez feitas as

comparações (A,B) e (B,C). Mais ainda: em uma situação de consistência, apenas a

primeira linha (ou coluna) da matriz de comparação, precisa ser completada pelo agente

de decisão: os demais elementos da matriz poderiam ser facilmente calculados.

Inconsistência de matrizes de comparação

Alguns métodos utilizam a construção de matrizes de comparação a partir de n(n-1)/2

comparações pareadas independentes, que permitem que o agente de decisão faça

julgamentos não perfeitamente consistentes. Isto é permitido para (1) aumentar o número de

oportunidades para o agente de decisão expressar suas preferências cardinais; e (2) tentar

reproduzir a dificuldade prática do agente de decisão em ser perfeitamente consistente nos

julgamentos, especialmente quando são realizadas muitas comparações pareadas. Esta

possibilidade mostra-se útil pois, em qualquer processo de julgamento subjetivo há sempre

alguma margem de incerteza.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 153

A inconsistência dos julgamentos revela-se matematicamente na forma de matrizes com

colunas normalizadas não idênticas (Tabela 12 e Tabela 13), para as quais a Eq. 6 nem

sempre será satisfeita.

Tabela 12 – Exemplo de matriz não consistente.

Atributo A Sub-atributo 1 Sub-atributo 2 Sub-atributo 3

Sub- atributo 1 1 1/3 2

Sub- atributo 2 3 1 4

Sub- atributo 3 1/2 1/4 1

Tabela 13 – Matriz da Tabela 12 (matriz não consistente) após normalização das colunas.

Atributo A Sub-atributo 1 Sub-atributo 2 Sub-atributo 3 Σ linhas Pesos

Sub- atributo 1 0,222 0,211 0,286 3,333 0,255

Sub- atributo 2 0,667 0,632 0,571 8 0,611

Sub- atributo 3 0,111 0,158 0,143 1,75 0,134

Σ matriz 3 1

SAATY (1990) propôs que, nestes casos, seja derivado um vetor de pesos que tende a

compensar os erros nos pesos implícitos em cada coluna (ou linha) da matriz71, isto é:

1. o vetor de pesos w seja encontrado como o vetor eigen na forma da Eq. 7.

71 O AHP usa o método do vetor-eigen para converter a matriz de comparações pareadas em um vetor de pesos

normalizados (Eq. 7), e um teste de consistência com base no valor eigen correspondente(Eq. 8). Qualquer matriz quadrada M com n linhas e n colunas tem a ela associados n “vetores eigen” ei. (não necessariamente iguais) que satisfazem a seguinte equação: ?i e i = M e i , onde ?i é o valor eigen associado ao vetor eigen e i. O vetor eigen principal é o vetor e* associado ao valor eigen com maior valor absoluto ?max. ?max e* = M e*. Primeiro, encontra-se a solução e* para a matriz M igual à matriz de comparação desejada e, depois, normaliza-se os elementos do vetor final de pesos (w) para que sua soma seja igual a 1. Uma explicação mais detalhada do método do vetor eigen pode ser encontrada em NORRIS;MARSHALL (1995) e no trabalho de SAATY (1990), entre outros.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 154

Aw=?max w

onde

n é o valor eigen em situação perfeitamente consistente,

?max é o valor eigen máximo de A e ?max = n.

Eq. 7

2. Uma relação de consistência (CR) seja definida a partir do desvio do valor eigen

máximo (?max) em relação a n (valor eigen em situação perfeitamente consistente)

(Eq. 8).

CR = CI/ACI

onde

o índice de consistência CI é definido por CI = (?max-n)/(n-1); e

ACI é um número encontrado fazendo a média de CI em relação a um grande número de matrizes A aleatórias.

Eq. 8

Uma relação de consistência CR<0,1 é normalmente considerada como aceitável, por ser

uma situação próxima à situação ?max = n , em que a matriz A de comparação pareada é

totalmente consistente. Por esta razão, é freqüente a aplicação de um cut-off de consistência

igual a 0,1; isto é: são retidos apenas os dados empíricos que tenham relação de consistência

menor que 0,1 (HAURIE, 2001).

5.2.1.3 ESCALA DE IMPORTÂNCIA RELATIVA (ESCALA DE VALOR)

Como nos demais métodos aditivos, os julgamentos feitos no AHP são cardinais, em vez de

simplesmente ordinais, isto é: para cada par de atributos, o agente de decisão especifica não

só qual atributo considera mais importante, como também, quanto mais importante ele é

considerado em relação ao atributo concorrente.

Na abordagem clássica de SAATY, utiliza-se nas comparações pareadas uma escala linear

1,2,3....,9 para quantificar quão mais importante é um atributo em relação a outro. O valor

1, por exemplo, significa importância igual, enquanto o valor 9 significa importância muito

maior. Caso o atributo seja menos importante que o atributo concorrente, utiliza-se então o

inverso das preferências (1,1/2,1/3,...,1/9).

A opção arbitrária por uma escala linear e por um determinado valor máximo é

simplesmente um reflexo do problema geral de quantificar preferências em modelos de

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 155

decisão multi-atributos. É bastante razoável utilizar uma escala de avaliação positiva e

limitada, i.e. não permitir preferências infinitas, de modo que todos os elementos na matriz

A sejam finitos e positivos. No entanto, o uso de uma escala linear na abordagem AHP cria

imediatamente uma inconsistência (HAURIE, 2001).

Considerando, por exemplo, a situação com três atributos diferentes e uma escala com

valores possíveis 1/3, 1/2, 1, 2, 3. Supondo que um avaliador qualquer atribua valores em

uma seqüência crescente de forma a gerar a matriz A abaixo,

=

1232/112

3/12/11

A

Eq. 9

os vetores-colunas da matriz não serão proporcionais como eram os da matriz

perfeitamente consistente mostrada na Eq. 4. Isto pode acontecer ainda que tenham sido

fornecidas respostas consistentes em cada uma das comparações pareadas com base nos

atributos a1, a2 e a3. A adoção de um valor multiplicativo para a determinação dos intervalos

da escala de importância relativa (ex:1/4, 1/2, 1, 2, 4) resolve esta inconsistência (HAURIE,

2001)72.

5.2.1.4 DETERMINAÇÃO DA PONTUAÇÃO GLOBAL DE ALTERNATIVAS

Com a série completa de comparações sistemáticas e sucessivas de pares de elementos, com

relação ao atributo imediatamente acima deles na hierarquia, deduz-se os pesos relativos de

todos os elementos avaliados. A soma dos pesos dos elementos em cada nível hierárquico é

sempre igual a 1 (salvo diferenças de arredondamento). Uma vez obtidos os pesos em cada

72 Segundo este autor, a única escala que sempre evitará inconsistência é uma escala de avaliação multiplicativa que

tenha a forma geral mostrada na equação abaixo:

exp(J logb)

sendo:

J variando de 0 a J; e

b>1

Esta escala começa em 1 (importância igual) e termina no expoente da preferência máxima (J logb). Uma escala

consistente foi então definida por apenas dois parâmetros independentes: o número de preferências diferentes e a

preferência máxima.

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 156

nível hierárquico, a etapa final é a combinação dos pesos calculados nos diferentes níveis da

hierarquia para obtenção da pontuação global de cada alternativa.

Mantendo o exemplo da Figura 6, poderíamos ter uma matriz de decisão global na forma da

mostrada na tabela abaixo. A pontuação de cada alternativa seria obtida pelo somatório dos

produtos dos pontos atingidos pela alternativa no sub-atributo (Pij) pelo peso do sub-atributo

(wj) e pelo peso do atributo (Wk) (Eq. 10 e Tabela 14).

Palt = Σ Pij . wj

. Wk

Para i variando de 1 a n , j variando de 1 a m e k variando de 1 a o e Σw1 = 1 e ΣWk=1

Eq. 10

Tabela 14 – Exemplo de organização hipotético para a matriz para comparação de alternativas com base nos atributos e sub- atributos definidos na Figura 6.73

Atributo 1 W1

Atributo 2 W2

Atributo 3 Wo

Sub1

w1

Sub2

w2

Sub1

w3

Sub2

w4

Sub3

w5

Sub1

w6

Sub2

wm

Pontuação global

Palt

Alternativa 1 P1,1 P1,2 P1,3 P1,4 P1,5 P1,6 P1,m (P1,1 . w1

. W1+...+P1,m . wm

. Wo)

Alternativa 2 P2,1 P2,2 P2,3 P2,4 P2,5 P2,6 P2,m (P2,1 . w1

. W1+...+P2,m . wm

. Wo)

Alternativa 3 P3,1 P3,2 P3,3 P3,4 P3,5 P3,6 P3,m (P3,1 . w1

. W1+...+P3,m . wm

. Wo)

Alternativa 4 P4,1 P4,2 P4,3 P4,4 P4,5 P4,6 P4,m (P4,1 . w1

. W1+...+P4,m . wm

. Wo)

Alternativa n Pn,1 Pn,2 Pn,3 Pn,4 Pn,5 Pn,6 Pn,m (Pn,1 . w1

. W1+...+Pn,m . wm

. Wo)

para i variando de 1 a n , j variando de 1 a m e k variando de 1 a o

5.3 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO

5.3.1 SOBRE A DEFINIÇÃO DA ESTRUTURA DE AVALIAÇÃO

Indicadores são procurados para mostrar tendências nacionais e internacionais de

desenvolvimento social, econômico e ambiental e monitorar atentamente o progresso em

relação padrões sustentáveis de vida. Indicadores de desempenho são também utilizados no

contexto de métodos para avaliação ambiental de edifícios para mostrar melhoria em – e

73 Para se obter os pesos representados nesta tabela, 4 matrizes de comparação – não mostradas aqui - deveriam ser

construídas previamente (comparação entre os sub-atributos 1 e 2 do Atributo 1; entre os sub- atributos 1, 2 e 3 do Atributo 2; entre os sub-atributos 1 e 2 do Atributo 3; e, finalmente, entre os Atributos 1, 2 e 3).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 157

permitir comparações entre – edifícios individuais. Em ambas as aplicações, indicadores

fornecem aos seus usuários a retroalimentação necessária ao fazer benchmark de

desempenho e ilustrar a taxa e extensão do progresso, auxiliando na conscientização dos

problemas ambientais e seus reflexos sociais e econômicos (ou vice-versa), e nivelando uma

base para comparação entre tomada de decisões e planejamento estratégico. A busca por

indicadores levou conseqüentemente ao estudo da gama de estruturas ana líticas

desenvolvida para a sua organização ao longo das duas últimas décadas.

A maior parte das métricas identificadas na revisão das iniciativas mundiais de

desenvolvimento de indicadores concentrava-se na dimensão ambiental e era mais

apropriada para medir a saúde e a sustentabilidade de ecossistemas, comunidades ou

componentes ambientais específicos, como água ou ar. Muitas destas métricas não podem

ser aplicadas a edifícios ou aos seus efeitos, uma vez que eles não permite distinguir a

parcela de contribuição relativa dos edifícios ou do ambiente construído à saúde ou à

sustentabilidade de um dado ecossistema, comunidade ou componente ambiental de

interesse.

Reconhece-se, neste trabalho, a dificuldade em relacionar informações obtidas na escala do

edifício com o progresso do setor ou da nação em quaisquer das dimensões da

sustentabilidade. Defende-se, porém, a validade de se extrair indicadores relevantes para os

edifícios que, ainda que não possam ser imediatamente agregados para formar uma medida

global da sociedade, indiquem o caminho para (1) cooperação no cumprimento de metas

setoriais e nacionais e (2) a produção de um ambiente construído pautada por atitudes mais

responsáveis, com base na reflexão sobre seus efeitos no longo prazo.

Por outro lado, a avaliação integrada de itens ambientais, sociais e econômicos encontra

instrumentos na esfera das nações, como os indicadores da UN CSD; dos setores

econômicos, como os indicadores da CIRIA, para a construção civil do Reino Unido; e das

organizações, como as diretrizes de relato de sustentabilidade corporativa da GRI.

Propõe-se que a estrutura de avaliação seja construída com base nestes instrumentos; na

proposição de uma agenda pra construção sustentável no Brasil, organizada a partir da

estrutura temática utilizada pela UN CSD; e na análise dos métodos e projetos de normas

ISO relacionados à avaliação ambiental e de sustentabilidade de edifícios. A esta estrutura

de avaliação, foi relacionada uma lista de indicadores exaustiva (ver Capítulo 6 e Apêndice

7).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 158

Antes de esgotar o assunto, agenda setorial aqui proposta pretende estimular uma discussão

ainda pouco desenvolvida. Em termos gerais, as agências governamentais definem políticas

e a estrutura legislativa e fiscal em que as atividades de construção geram habitações, locais

de trabalho, equipamentos públicos e sistemas de transporte, mas a implementação de

estratégias é possível apenas através da adesão massiva do setor. Nestes dois pontos, apesar

de já serem notáveis as mudanças, o cenário brasileiro ainda está distante de exibir uma

estrutura de ação para a sustentabilidade bem definida e organizada, como a vista no Reino

Unido, por exemplo, caracterizada exatamente por uma ação governamental forte, que gerou

uma série de documentos orientativos e estratégias específicas para o setor74.

Ainda há um grande caminho a percorrer para superar problemas de habitação, infra-

estrutura e serviços urbanos no Brasil. O cumprimento de metas sociais depende em grande

medida de vontade política, mas também de uma maior aproximação do setor de construção

aos agentes sociais interessados. Adicionalmente, a busca de soluções inovadoras introduz

problemas técnicos relacionados ao desenvolvimento de alternativas tecnológicas para

atender às necessidades básicas de grande parcela da população, que aliem baixo custo a

baixo impacto ambiental. Não se espera que todas as ações e mudanças apontadas ocorram

imediatamente, mas todas elas estão ao alcance do setor.

5.3.2 SOBRE O USO DE AHP PARA DEFINIR O CRITÉRIO DE PONDERAÇÃO

Um método de avaliação envolve a análise de um grande número de itens. A GBTool, por

exemplo, avalia cerca de 100 itens, e eles referem-se apenas à avaliação ambiental do

edifício. Este número pode ser muito maior no caso de avaliações incluindo aspectos sociais

e econômicos. Para agilizar o entendimento dos perfis de saída da avaliação, torna-se

necessário definir uma hierarquia, e distribuir a pontuação dentro de um número limitado e

gerenciável de itens a avaliar.

Neste contexto, ao menos três aspectos sugerem a utilização do AHP: (1) a necessidade de

estabelecer uma hierarquia e identificar a importância relativa de itens concorrentes e

comparáveis (ordenamento), porém de naturezas diversas (quantitativa e qualitativa); (2) a

ausência de dados ou métodos para estabelecer quantitativamente esta importância relativa;

74 Sendo os principais deles a agenda governamental para sustentabilidade, intitulada A better quality of life (UK

GOVERNMENT, 1999) e a agenda setorial (Building a better quality of life, DETR, 2000), que, por sua vez, considerou o Relatório Egan (EGAN, 1998), sobre o aumento da eficiência do setor de construção britânico e a consulta Opportunities for change – consultation paper on a UK strategy for sustainable construction (DETR, 1998).

Capítulo 5 – Diretrizes e base metodológica para o desenvolvimento de um método de avaliação de sustentabilidade 159

e (3) a necessidade de realizar julgamentos de valor (subjetivos), porém de maneira

transparente e sistemática.

O AHP é um método bem estabelecido e testado de análise multi-atributos, que permite

incluir na mesma plataforma de decisão atributos conflitantes, monetários ou não. O método

apresenta algumas limitações intensamente discutidas em literatura específica75. Apesar de

não ter aceitação universal, a combinação de flexibilidade e facilidade de uso oferecida pelo

AHP contribuiu para a sua aplicação em uma ampla gama de problemas práticos de análise

multi-atributos, em áreas que vão desde finanças, avaliação de desempenho de funcionários,

classificação da qualidade de vida urbana, até planejamento de uso do solo.

Sugere-se, portanto, a sua utilização para registrar e manter a rastreabilidade do processo de

obtenção de pesos para os temas e categorias de desempenho em avaliação de edifícios, seja

pelo emprego de softwares existentes no mercado, como o ExpertChoice®, ou de ferramentas

simples de apoio, como a desenvolvida nesta pesquisa. Independentemente da ferramenta

utilizada, deve-se eliminar as inconsistências de julgamento, observando-se o princípio da

transitividade; e aquelas induzidas pela própria escala de importância relativa, adotando-se

uma escala com intervalos multiplicativos.

O próximo Capítulo apresenta sucintamente o conceito de avaliação inicialmente idealizado

e submetido para consulta às partes interessadas na construção civil do estado de São Paulo,

assim como as modificações que dela resultaram.

75 Especialmente o fenômeno de inversão de preferências (rank reversal), que é a alteração na ordem de preferência

quando uma alternativa é adicionada ou retirada do grupo analisado. O próprio SAATY defende seu método alegando que a inversão de preferências não é uma falha do método, pois pode ocorrer em situações reais de tomadas de decisão (NORRIS;MARSHALL, 1995).