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22-09-2015 Eleições arriscam atrasar primeira avaliação da ‘troika’ Luís Reis Pires [email protected] O novo Governo grego tem o tempo contado para pôr em mar- cha todas as obrigações com que se comprometeu até final de Ou- tubro. A ‘troika’ deveria rumar a Atenas nas próximas semanas, para a primeira avaliação ao res- gate, mas a visita pode atrasar li- geiramente, sabe o Económico. Logo após os resultados ofi- ciais, que lhe confirmaram a ree- leição, Alexis Tsipras deixou clara a sua prioridade para os próximos meses: negociar o alívio da dívida pública helénica. No entanto, segundo o que fi- cou estipulado no acordo com os credores, antes de poder renego- ciar o que seja, Atenas tem de apresentar o Orçamento do Esta- do para o próximo ano, um Recti- ficativo para este ano, o Docu- mento de Estratégia Orçamental para os próximos quatros anos e passar a primeira avaliação da ‘troika’ ao programa de resgate. As autoridades internacionais de- veriam regressar à Grécia algures na segunda quinzena de Outubro, para analisarem os documentos orçamentais e aferirem o cumpri- mento de algumas medidas prio- ritárias do memorando - como a subida do IVA, por exemplo, que já entrou em vigor. Margaritis Schinas, porta-voz da Comissão Europeia, não quis especificar ontem a data da visita da ‘troika’ - referindo-se apenas a “este Outono” -, mas acabou por dizer, à partida, “as coisas vão de- correr de acordo com calendário previsto”. No entanto, quer nos corredores de Bruxelas, quer nos do Fundo Monetário Internacio- nal (FMI), começa a ganhar força a hipótese de a primeira avaliação derrapar umas semanas, por cau- sa das eleições. Fonte ligada às au- toridades internacionais disse ao Económico ser “muito provável que o processo se atrase”, desva- lorizando o impacto de tal atraso. O Governo de transição que liderou a Grécia nas últimas se- manas foi preparando alguns dos dossiers necessários para a ava- liação, frisou ontem a Comissão Europeia, e há medidas prioritá- rias que já estão em vigor. O IVA é o exemplo mais óbvio, mas também os primeiros cortes nas reformas antecipadas e a subida da idade da reforma que vão en- trar em vigor já no início de Ou- tubro, com efeitos retroactivos a 1 de Julho. Mas a preparação dos docu- mentos orçamentais não se faz do dia para a noite e o Executivo he- lénico pode precisar de mais al- guns dias para completar a tarefa. Isto apesar de Euclid Tsakalotos ter sido reconduzido para liderar a pasta das Finanças, o que pode acelerar os trabalhos, uma vez que já está familiarizado com as contas públicas do país. Uma ou duas semanas de atra- so poderão não fazer grande dife- rença, mas os credores querem que a Grécia se mantenha o mais possível dentro dos calendários definidos, até porque só depois de resolvida a questão do alívio na dívida será possível clarificar o envolvimento do FMI no resgate. Por isso, ontem as mensagens dos credores foram todas no sentido de apelar a Tsipras para acelerar a formação de Governo e regressar rapidamente à implementação do programa (ver pág. 8). Recapitalização da banca dentro do prazo Outro ponto prioritário para a Grécia é a recapitalização da ban- ca - o próprio Tsipras colocou a questão no topo das prioridades do novo Executivo. O processo está dependente da conclusão dos testes de ‘stress’ ao sistema finan- ceiro helénico, que permitirá per- ceber as necessidades do mesmo após o controlo de capitais. Essa parte não vai ser atrasada pelas eleições garantiu já o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijssel- boem, frisando que os testes vão ser concluídos em Outubro. Na pior das hipóteses, os re- sultados serão conhecidos umas semanas antes da avaliação da ‘troika’, o que até pode ajudar nos trabalhos da revisão. Assumindo que a mesma decorre dentro do previsto, os bancos podem co- meçar a ser recapitalizados antes do final do ano, tal como ficou definido. O dinheiro para a banca vem do programa de resgate: es- tão dez mil milhões de euros já disponíveis no Mecanismo de Es- tabilidade Europeu para esse efei- to de um total de 25 mil milhões que o resgate de 86 mil milhões disponibiliza só para a banca. Não havendo percalços na primeira avaliação, a instituição liderada por Klaus Regling irá canalizar as verbas necessárias para Atenas. Com o montante de crédito malparado a explodir, a urgência deste tópico é sublinhado pelos analistas que temem o regresso da crise financeira grega. “A Grécia pode voltar mais depressa do que gostaríamos às manchetes dos jornais”, alerta Michael Jacobi- des, professor da London Business School. Na sua opinião “se o Go- verno mantiver a mesma falta de competência administrativa e de gestão, os problemas poderão surgir rapidamente”. Contactados BCE e FMI não quiseram fazer qualquer comen- tário. Grécia Trabalhos da primeira avaliação devem derrapar e, com eles, também a discussão sobre o alívio na dívida. Eleições na Grécia Destaque Uma ou duas semanas de atraso poderão não fazer grande diferença, mas os credores querem que a Grécia se mantenha o mais possível dentro dos calendários definidos. Medidas de austeridade e reformas laborais Entre impostos e cortes na despesa, Tsipras tem um duro programa para cumprir. O aumento da carga fiscal está previsto no programa de resga- te e parte dessas medidas já foram legisladas. Desde logo a reforma do IVA, que foi uma medida prioritária e até já entrou em vigor. No entanto, ainda há várias mexidas a fazer nos impostos, que serão implementadas ao longo dos próximos anos. A ques- tão do IVA era uma das que deveria estar pronta para a primeira avalia- ção da ‘troika’. A questão das pen- sões vai pelo mesmo caminho. Os Fundo para as privatizações O Syriza tentou travar algumas das privatizações previstas no anterior resgate, mas acabou por ter de as aceitar e até já pôs em marcha algu- mas, como o porto do Pireu e alguns aeroportos regionais. Uma das exi- gências da Alemanha para acordar o terceiro resgate até foi a constitui- ção de um fundo para as privatiza- ções, que deveria arrecadar 50 mil milhões de euros em activos heléni- VALOR DO FUNDO 50 mil milhões É o valor que deverá somar o fun- do para as privatizações, através de vários activos gregos que serão identificados nos próximos meses. primeiros cortes, sobretudo nas pensões antecipadas, e a subida da idade de reforma já foram legisla- dos, vão entrar em vigor em Outu- bro e são retroactivos a 1 de Julho. Mas o memorando de entendimento prevê mais acertos nas pensões, que terão de ser trabalhados nos próximos meses. Há ainda a questão da reforma laboral, que Tsipras ten- tou travar na primeira vez que che- gou ao poder. Acabou por secom- prometer a deixá-la em vigor e assi- nou até medidas adicionais que vão apertar o poder dos sindicatos e tra- zer novas regras para as negocia- ções colectivas. A implementação destas medidas também vai ser ana- lisada na primeira avaliação. cos. Deveria ser uma das medidas prioritárias, mas os credores acaba- ram por adiar a criação do fundo, que só deverá chegar ao terreno al- gures na Primavera. Mas deve come- çar a ser legislado ainda este ano. O líder do Syriza, Alexis Tsipras, foi ontem empossado primeiro-ministro, pelo Presidente grego Prokopis Pavlopoulos numa cerimónia no palácio presidencial em Atenas.

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22-09-2015

Eleições arriscamatrasar primeiraavaliação da ‘troika’Luís Reis [email protected]

O novo Governo grego tem otempo contado para pôr emmar-cha todas as obrigações com quese comprometeu até final de Ou-tubro. A ‘troika’ deveria rumar aAtenas nas próximas semanas,para a primeira avaliação ao res-gate, mas a visita pode atrasar li-geiramente, sabeoEconómico.

Logo após os resultados ofi-ciais, que lhe confirmaram a ree-leição, Alexis Tsipras deixou claraa suaprioridadepara os próximosmeses: negociar o alívio da dívidapúblicahelénica.

No entanto, segundo o que fi-cou estipulado no acordo com oscredores, antes de poder renego-ciar o que seja, Atenas tem deapresentar o Orçamento do Esta-dopara opróximoano, umRecti-ficativo para este ano, o Docu-mento de Estratégia Orçamentalpara os próximos quatros anos epassar a primeira avaliação da‘troika’ ao programa de resgate.As autoridades internacionais de-veriam regressar à Grécia alguresna segunda quinzena deOutubro,para analisarem os documentosorçamentais e aferiremocumpri-mento de algumas medidas prio-ritárias do memorando - como asubida do IVA, por exemplo, quejáentrouemvigor.

Margaritis Schinas, porta-vozda Comissão Europeia, não quisespecificar ontem a data da visitada ‘troika’-referindo-seapenasa“este Outono” -, mas acabou pordizer, àpartida,“ascoisasvãode-correr de acordo com calendárioprevisto”. No entanto, quer noscorredores de Bruxelas, quer nosdo Fundo Monetário Internacio-nal (FMI), começa a ganhar forçaa hipótese de a primeira avaliaçãoderrapar umas semanas, por cau-sadaseleições.Fonte ligadaàsau-toridades internacionais disse aoEconómico ser “muito provávelque o processo se atrase”, desva-

lorizando o impacto de tal atraso.O Governo de transição que

liderou a Grécia nas últimas se-manas foi preparando alguns dosdossiers necessários para a ava-liação, frisou ontem a ComissãoEuropeia, e há medidas prioritá-rias que já estão em vigor. O IVAé o exemplo mais óbvio, mastambém os primeiros cortes nasreformas antecipadas e a subidada idade da reforma que vão en-trar em vigor já no início de Ou-tubro, com efeitos retroactivos a1 de Julho.

Mas a preparação dos docu-mentos orçamentais não se faz dodia para a noite e o Executivo he-lénico pode precisar de mais al-guns dias para completar a tarefa.Isto apesar de Euclid Tsakalotoster sido reconduzidopara liderar apasta das Finanças, o que podeaceleraros trabalhos,umavezquejáestá familiarizadocomascontaspúblicasdopaís.

Uma ou duas semanas de atra-so poderão não fazer grande dife-rença, mas os credores queremque a Grécia se mantenha o maispossível dentro dos calendáriosdefinidos, até porque só depois deresolvida a questão do alívio nadívida será possível clarificar oenvolvimento do FMI no resgate.Por isso, ontemasmensagens doscredores foram todas no sentidode apelar a Tsipras para acelerar aformação de Governo e regressarrapidamente à implementação doprograma(verpág.8).

Recapitalização da bancadentro do prazoOutro ponto prioritário para aGrécia é a recapitalização da ban-ca - o próprio Tsipras colocou aquestão no topo das prioridadesdo novo Executivo. O processoestá dependente da conclusãodostestesde ‘stress’ ao sistema finan-ceirohelénico, quepermitiráper-ceber as necessidades do mesmoapós o controlo de capitais. Essaparte não vai ser atrasada pelaseleições garantiu já o presidentedo Eurogrupo, Jeroen Dijssel-boem, frisando que os testes vãoserconcluídosemOutubro.

Na pior das hipóteses, os re-sultados serão conhecidos umassemanas antes da avaliação da‘troika’, oqueatépodeajudarnostrabalhos da revisão. Assumindoque a mesma decorre dentro doprevisto, os bancos podem co-meçar a ser recapitalizados antesdo final do ano, tal como ficoudefinido. O dinheiro para a bancavem do programa de resgate: es-tão dez mil milhões de euros jádisponíveis noMecanismodeEs-tabilidadeEuropeuparaesse efei-to de um total de 25 mil milhõesque o resgate de 86 mil milhõesdisponibiliza só para a banca.Nãohavendo percalços na primeiraavaliação, a instituição lideradapor Klaus Regling irá canalizar asverbasnecessáriasparaAtenas.

Com o montante de créditomalparado a explodir, a urgênciadeste tópico é sublinhado pelosanalistas que tememoregressodacrise financeira grega. “A Gréciapode voltar mais depressa do quegostaríamos às manchetes dosjornais”, alerta Michael Jacobi-des,professordaLondonBusinessSchool. Na sua opinião “se o Go-verno mantiver a mesma falta decompetência administrativa e degestão, os problemas poderãosurgir rapidamente”.

Contactados BCE e FMI nãoquiseram fazer qualquer comen-tário.■

Grécia Trabalhos da primeira avaliação devem derrapar e, com eles,também a discussão sobre o alívio na dívida.

Eleições naGréciaDestaque

Uma ou duassemanas de atrasopoderão não fazergrande diferença,mas os credoresquerem que a Gréciase mantenha o maispossível dentro doscalendáriosdefinidos.

Medidas deausteridade ereformas laboraisEntre impostos e cortes na despesa,Tsipras temumduro programaparacumprir. O aumento da carga fiscalestá previsto no programade resga-te e parte dessasmedidas já foramlegisladas. Desde logo a reformadoIVA, que foi umamedida prioritária eaté já entrou emvigor. No entanto,ainda há váriasmexidas a fazer nosimpostos, que serão implementadasao longo dos próximos anos. A ques-tão do IVAera umadas que deveriaestar pronta para a primeira avalia-ção da ‘troika’. A questão das pen-sões vai pelomesmo caminho. Os

Fundo paraas privatizaçõesOSyriza tentou travar algumas dasprivatizações previstas no anteriorresgate,mas acabou por ter de asaceitar e até já pôs emmarcha algu-mas, comooporto doPireu e algunsaeroportos regionais. Umadas exi-gências daAlemanha para acordar oterceiro resgate até foi a constitui-ção de um fundo para as privatiza-ções, que deveria arrecadar 50milmilhões de euros emactivos heléni-

VALOR DO FUNDO

50 mil milhõesÉ o valor que deverá somar o fun-do para as privatizações, atravésde vários activos gregos que serãoidentificados nos próximos meses.

primeiros cortes, sobretudo naspensões antecipadas, e a subida daidade de reforma já foram legisla-dos, vão entrar emvigor emOutu-bro e são retroactivos a 1 de Julho.Mas omemorando de entendimentoprevêmais acertos nas pensões,que terão de ser trabalhados nospróximosmeses. Há ainda a questãoda reforma laboral, que Tsipras ten-tou travar na primeira vez que che-gou ao poder. Acabou por secom-prometer a deixá-la emvigor e assi-nou atémedidas adicionais que vãoapertar o poder dos sindicatos e tra-zer novas regras para as negocia-ções colectivas. A implementaçãodestasmedidas tambémvai ser ana-lisada na primeira avaliação.

cos. Deveria ser umadasmedidasprioritárias,mas os credores acaba-rampor adiar a criação do fundo,que só deverá chegar ao terreno al-gures naPrimavera.Mas deve come-çar a ser legislado ainda este ano.

O líder do Syriza, Alexis Tsipras, foi ontemempossado primeiro-ministro, peloPresidente grego Prokopis Pavlopoulos numacerimónia no palácio presidencial em Atenas.

22-09-2015A GRÉCIA E PORTUGALO académico grego Elias Soukiazisdisse à Lusa que os resultadosdas eleições na Grécia mantêma situação económica, mas

consolidam as posições políticasdo Syriza acabando por prejudicaros partidos de direita em Espanhae Portugal. Para o matemáticogrego, professor na Faculdade

de Economia da Universidadede Coimbra, apesar das mudançasregistadas no seio do Syriza,o resultado das eleiçõesde domingo “não pode ser

aproveitado” pelas forças políticasde direita que se encontramno poder em Espanha e Portugal,países que se encontramem pleno processo eleitoral.

Investidorescentram atençõesna execuçãodo programaPrincipais índices subiram, maspouco. Mercados estão agoraem modo “esperar para ver”.

Marta Marques [email protected]

A Grécia saiu, para já, do radardas principais preocupaçõesdos investidores europeus queontem reagiram com relativaindiferença ao resultado eleito-ral na Grécia que acabou pordeixar Syriza e Gregos Inde-pendentes no poder.

Os principais índices euro-peus encerraram com ganhosque variaram entre os 0,08%em Londres e 1,28% em Ams-terdão, sustentadas por ummovimento de recuperaçãoapós as quedas provocadas pelotom pessimista da Reserva Fe-deral norte-americana no finalda última semana. “Fundamen-talmente existem boas oportu-nidades de compra na Europa”,afirmava o gestor alemão Guil-lermo Sampere, à Bloomberg.

Já o PSI 20 avançou 1,17%animado pela subida de ‘rating’da S&P na sexta-feira, a qualdeixou a notação do país a umnível de sair de “lixo”. Atenasfoi mesmo a única praça a ficarno vermelho depois de ter dis-parado quase 23% nas últimastrês semanas, o que comparacom ganhos de 3,7% do EuroStoxx 600 nomesmo período.

O índice de referência gregoperdeu 0,58%, pressionadoprincipalmente pela banca,como Eurobank Ergasias e o Al-pha Bank a caírem 11,9% e9,7%, respectivamente, en-quanto o National Bank ofGreece resvalou 7,5%. No mer-cado de dívida, as ‘yields’ gre-gas corrigiram nos prazos maiscurtos, mas subiram ligeira-mente nas maturidades a dez,15 e 20 anos. Em nota de ‘re-search’, a Fitch destacava on-tem que “a separação da ala doSyriza mais veementemente‘antimemorando’ e a renovaçãodomandato eleitoral do primei-ro ministro Alexis Tsipras redu-

zem a incerteza política ime-diata que tinha emergido da de-cisão de convocar eleições”. Aagência de ‘rating’ adiantava,no entanto, que os riscos para osucesso do programa de ajusta-mento permanecem elevados eque será necessário algum tem-po para restaurar a confiançaentre a Grécia e os seus credo-res. Também aUBS alertava on-tem para a possibilidade daGrécia vir ainda a deixar a zonaeuro no próximo ano caso oprograma de resgate resvale.Ou seja, os últimos resultadoseleitorais afastam para já o riscopolítico mas os investidoresaguardam agora para ver se esteGoverno conseguirá levar o ter-ceiro programa de resgate daGrécia a bomporto.

Já o euro perdeu ontem faceàs principais divisas, apesar “davitória nas eleições gregas deum partido que hoje excluí apossibilidade do ‘Grexit’ ser re-velador de alguma confiançadepositada no futuro da uniãomonetária”, comentava ontemPedro Ricardo Santos, gestor daXTB Portugal em nota enviadaaos clientes. O euro caía quase1% face ao dólar ao final da tar-de, nummomento emque cres-ce a pressão sobre Mario Draghipara aumentar os estímulos nazona euro perante a manuten-ção de juros nos EUA. ■

Fonte: Bloomberg

ATENAS RESVALA

550

625

700

21 Set 1520 Ago 15

Evolução do índice de referênciagrego, em pontos, a um mês.

Alívio na dívida públicaA questão da dívida públicaé aquela que deverá merecer maiordestaque na Grécia,nos próximos meses. Quando assi-nou o memorando para o terceiroresgate, Tsipras exigiu renegociar ovalor da dívida. Os credores euro-peus rejeitaram sempre a hipótesede reestruturação, mas o FMI aca-bou por fazer pressão no sentidode um alívio na dívida. Consideran-do que a actual trajectória é clara-mente insustentável, até porque oserviço da dívida anula é superior a15% do PIB, a instituição lideradapor Christine Lagarde exigiu umasolução profunda para a questãoda dívida e impôs um alívio consi-derável na dívida helénica comocondição para participar financei-ramente no terceiro resgate. Oscredores europeus aceitaram dis-cutir o assunto com Atenas no Ou-tono, depois de a Grécia apresentaro Orçamento do Estado para o pró-ximo ano, um rectificativo para2015, o Documento de EstratégiaOrçamental para os próximos qua-tro anos e ultrapassar com sucessoa primeira avaliação da ‘troika’. Adiscussão sobre o alívio na dívidadeverá atrasar, caso a primeira ava- Fonte: FMI; *previsão

DÍVIDA HELÉNICA

120

135

150

165

180

20242015*2013

A Grécia vai terminar o ano comdívida acima de 176% do PIB.

liação acabe por também derraparno tempo. No entanto, acabarásempre por acontecer e os próprioscredores europeus têm urgênciaem resolver o problema, para pode-rem clarificar de uma vez por todaso envolvimento do FMI no resgate.A questão deve ficar resolvida ain-da este ano e, apesar de a zona eu-ro rejeitar falar em reestruturação,Christine Lagarde já avisou queserá necessário ir muito além daextensão de maturidades e redu-ção de juros que ficou prevista em2012, caso a Grécia cumprisse comas suas obrigações.

Recapitalizaçãoda bancaA recapitalização da banca éuma das prioridades a resolver,depois do mau estado em queos bancos ficaram com o controlode capitais. Os resultados dostestes de ‘stress’ devem serconhecidos no final de Outubroe isso permitirá perceber ao certoas necessidades de capitaldo sistema financeiro helénico.No entanto, é preciso tambémimplementar directivas europeiassobre o sector bancário e resolvercom urgência o problema docrédito malparado.As primeiras medidas nessesentido já foram legisladas,mas ainda há muito por fazer,nomeadamente no que dizrespeito à recuperação de créditoe ao reconhecimento deimparidades. Na primeiraavaliação, a ‘troika’ vai analisaros progressos feitos desde quehouve o acordo para o terceiroresgate. A recapitalização deveficar fechada até final do ano,o mais tardar. Pelo menos é esseo calendário com que Gréciae credores estão a trabalhar.

Alkis Konstantinidis / Reuters

22-09-2015

Destaque Eleições na Grécia

Eleições Líder do Syriza volta a ganhar eleições, mas tem pouco espaçopara erros. Bruxelas pede rapidez na implementação do programa.

Tsipras ganha mas nãotemmargem para erros

Margarida [email protected]

Alexis Tsipras, líder do Syriza,tomou ontem posse pela segun-da vez este ano. O núcleo durodo novo Governo da Gréciamantém-se: Panos Kammenos,líder dos Gregos Independen-tes, voltou a ser o escolhido paraformar uma coligação e assumira pasta da Defesa e os ministrosdas Finanças e da Economia se-rão osmesmos. Com a ida às ur-nas o chefe de Governo gregorenovou o voto de confiança doseleitores, mas arranca o man-dato com uma certeza: quasenão temmargempara erros.

Para Alexis Tsipras, a vitóriadeste domingo foi dupla. Pri-meiro, o líder do Syriza renovouo voto de confiança por partedos eleitores; e segundo, afas-tou os dissidentes que tinhamcolocado em causa a sua capa-cidade de governação no man-dato anterior. Ainda assim, ocaminho será tudo menos fácil:nem a aritmética do Parlamen-to, nem os mercados, nem aprópria Comissão Europeia per-mitem falhas.

De Bruxelas chegaram logoos primeiros sinais para pôr o péno acelerador. Há que imple-mentar, sem demoras, as medi-das de austeridade acordadasem troca do terceiro resgate daeconomia grega (no valor de 86mil milhões de euros). “Estou

“Vencedor todo-o-terreno”;“A era Tsipras”; “Vitória clarapara Tsipras”. Estas foramas manchetes ontem dealguns dos principais jornaisgregos. Sete meses depois,

os gregos voltam a dar o seuvoto a Alexis Tsipras temagora pela frente o árduotrabalho de implementaras reformas acordadas comos credores internacionais.

Jornais assinalam a era Tsipras

DOUGLAS J. ELLIOTT

‘Fellow’ de Estudos Económicos daBrookings Institution de Washington

TRÊS PERGUNTAS A...

“Os piores riscosjá pertencemao passado”Apesar das difíceis negociações queestão por vir com a UE, a Grécia eBruxelas vão acabar por chegar aacordo, diz o perito Douglas Elliott.Quais serão os primeiros passosdo novo Governo?Tsipras vai tentar negociar umaredução da dívida, enquanto ospartidos na oposição vão aumentara pressão sobre o Executivo e sobreos passos políticos mais difíceis.Existem fortes incentivos para aEuropa manter o fluxo de dinheiroao país e encontrar um novo deviver com os compromissos queserão necessários. Espero que

ambos os lados se queixem de muitoe levem a cabo mais negociações.Ainda assim, os piores riscos jápertencem ao passado. A Europa eos gregos vão encontrar uma formade avançar.A coligação é estável?Acaracterística comumquepermiteumaaliançaentreoSyriza eoAnel[Gregos Independentes] é queam-bosqueremcontinuar a trabalharcomaUEcombasenoacordodoVe-rão. Todosqueremmudanças,masnenhumpareceestar desejosoemarriscar umaquebranumacordoqueprovidencia o financiamentodequeaGrécia necessita. É por issoquevamos continuar a assistir a pro-gressosnoprocessode reformasexi-gidopelaEuropa.Que conclusão retira daseleições?O importante équeumamaioria si-gnificativa doseleitores edospolíti-cos estãoagora claramentea favordopaís continuar a trabalhar comaUE.Agrande surpresa foi as prefe-rências dos eleitores permaneceremsemelhantes àsdaeleiçãodeJanei-ro que levouoSyriza deTsipras aopoder. Adiferençaéquea facçãodeesquerdaque saiu doSyriza para for-maro seupartido seacaboupor tor-nar numfactor insignificantenapolí-tica grega.P.D.

Infografia: Marta Carvalho | [email protected]

confiante de que isto [os resul-tados] lhe proporcionam as ba-ses necessárias para formar ra-pidamente o novo Governo eusar o mandato democráticopara avançar com a implemen-tação do Programa de Ajusta-mento que fechou com os par-ceiros europeus durante o mêsde Agosto”, reagiu ontem opresidente da Comissão Euro-peia, Jean-Claude Juncker. “Hámuito trabalho pela frente e nãohá tempo a perder”, reforçou.

Donald Tusk, presidente doConselho Europeu, apelou a umpulso forte: “A sua dedicação eliderança na implementação doprograma de ajustamento é cru-cial para fazer a diferença na re-cuperação da economia grega”.

Tsipras respondeu com ne-gociações rápidas. Aos 145 de-putados conquistados peloSyriza, somou dez dos GregosIndependentes e reconduziutrês dos seus ministros: PanosKammenos, líder do partido jú-nior da coligaçãomantém omi-nistério da Defesa, EuclidTsakalotos continua com as Fi-nanças e George Stathakis foireconduzido como ministro daEconomia.

Mas ao continuar com omesmo partido de coligação,Tsipras dita um espaço curtopara erros nas negociações in-ternas: a maioria é asseguradapor quatro deputados. Se voltara perder apoio interno, comoaconteceu na legislatura ante-rior, a sua capacidade de imple-mentar o programa de resgatevolta a ficar comprometida.

Por fim, do lado dos merca-dos, a tolerância também serácurta. Apesar de vários analis-tas sublinharem a vantagem deo Governo contar agora comumamaioria que poderá dar es-tabilidade na implementaçãodas reformas, há todavia receiode que a Grécia volte a falharquando passar do papel à práti-ca. “O novo Governo grego vaicumprir as promessas de refor-ma no papel, mas tal como nosúltimos anos vai, emmuitos ca-sos, falhar a implementação naprática”, desconfiavam já doiseconomistas do Commerzbank,Joerg Kraemer e ChristophWeil, numa nota enviada aosinvestidores. ■

“Há muitotrabalho pelafrente e não hátempo a perder”,avisou ontem opresidente daComissãoEuropeia, Jean--Claude Juncker,por carta.

“A sua dedicação eliderança naimplementação doprograma deajustamento écrucial para fazera diferença naretoma daeconomia”, disseDonald Tusk.

“Liguei-lhe [aTsipras] umasegunda vez paraperguntar por querazão iria continuara coligação comaquele estranhopartido de extrema--direita”, criticouMartin Schulz.

22-09-2015

Destaque Eleições na Grécia

Estudo Recurso a sondagens mais baratas, com amostras pequenas eatravés de telefone fixo, resulta em desfasamentos face aos resultados.

Sondagens “falham” porfalta de investimento

Ana [email protected]

Eleições e referendo na Grécia,referendo da Escócia, últimaseleições no Reino Unido. O quetêm em comum? O desfasa-mento dos resultados eleitoraisface ao que foi divulgado nassondagens antes da ida à urnas.

No domingo voltou a aconte-cer na Grécia. Dois dias antes davotação as sondagens aponta-vam para um empate técnico enão era garantido que os doispartidos que hoje formam Go-verno (Syriza e os Gregos Inde-pendentes) iriam conseguiruma maioria absoluta. Acaboupor acontecer o contrário.

As sondagens “falham” e porvezes “há de facto alguma difi-culdade em perceber porqueacontece”, assume a directorade estudos daMarktest, BarbaraGomes. Por isso, os técnicos dosestudos de sondagens “devemter a preocupação em saber oque falhou” para que se possamafinar e corrigir as questõestécnicas e metodológicas. Opi-nião contrária tem Rui OliveiraCosta: as sondagens “não fa-lham”. Isto porque são o “retra-to de um momento” das inten-ções de voto, “não são previsõesde resultados eleitorais”, de-fende. Oliveira Costa não vê,portanto, “nada” para afinar e“nenhum outro método” alter-nativo para que se cheguem a

resultadosmais exactos.Mas Diogo Agostinho, um

dos autores do livro “Insondá-veis Sondagens” diz que caso ospartidos e os meios de comuni-cação social investissem maisnas sondagens seria possívelconseguir resultados maisexactos. “Há uma tendênciapara recorrer às sondagensmaisbaratas que têm as amostrasmais pequenas e são realizadasapenas através do telefonefixo”, alerta. O que acaba por“enviesar os resultados”, por-que com a limitação do telefonefixo são inquiridos apenas “re-formados e jovens, estando ex-cluída a população activa”.Além disso, “quem vota à direi-ta sente-semenos à vontade emrevelar o sentido de voto”, sen-do difícil contabilizar estes vo-tos, ao contrário de “quem votaà esquerda que revela commaisfacilidade”.

Portugal e o empate técnicoA duas semanas dos portugue-ses irem às urnas as sondagensapontam para um cenário deempate técnico. Os politólogosouvidos pelo Económico não

arriscam uma previsão dos re-sultados mas salientam o efeitodas sondagens junto dos parti-dos. Já junto das pessoas têmum efeito pouco mobilizador,garantem.

“As sondagens influenciamfundamentalmente os candida-tos, as estratégias e as mensa-gens”, diz António Costa Pinto,sublinhando que “são úteis parao futuro” dos partidos. “Há umainfluência directa nos partidosporque há um acompanhamen-to diário que resulta em flutua-ções de ânimo ou mudanças deestratégia”, remata João Cardo-so Rosas. O professor de CiênciaPolítica dámesmo o exemplo deAntónio Costa que radicalizou odiscurso nos últimos dias. “OPS tinha um discurso maisbrando e a partir do momentoque as sondagens não apontamnuma mobilização está a endu-recê-lo. Isso émuito visível”.

Mas, no que toca em mobili-zar o eleitorado, as sondagensnão têm o mesmo resultado. “Aabstenção é gerada por causasmais profundas: o desencantocom o sistema e o esvaziamentoda democracia”, diz CardosoRosas. Costa Pinto complemen-ta referindo o “efeito menor”das sondagens junto de um seg-mento “pequeno da sociedadeque aposta sempre em quem vaià frente”. Mas lembra: “Nin-guém ganha ou perde eleiçõespor causa das sondagens”. ■

Paulo SandeProfessor do Instituto de EstudosPolíticos da Universidade Católica

Tsipras jogou e ganhou. Derro-tou os partidos da oposição davelha “nomenclatura” tradicio-nal – o Pasok e a Nova Demo-cracia. Ganhou legitimidadenacional, afirmando-se como olíder grego dos novos tempos daGrécia – pelomenos para já.

Derrotou o inimigo interno,que externamente ganhara for-ma como partido de oposição: oUnidade Popular, apoiado por

Varoufakis, que nem no Parla-mento conseguiu entrar.

Derrotou a vontade interna-cional (veja-se a tomada de po-sição de Martin Schulz) – e emgrande parte interna – de vernormalizada a sua política dealianças, mantendo como alia-do preferencial (e único) o es-tranho e (ligeiramente) radicalANEL, o partido dos gregos in-dependentes, cujo líder era on-tem sem dúvida o mais ufanodos vencedores. Resistiu assimà tentação de se aliar ao To Po-tami ou à surpreendente União

ANÁLISE

‘Les jeux ne sont pas fais’

Além das sondagens que sãodivulgadas na comunicaçãosocial, os partidos têm vindo arecorrer cada vez mais àssondagens internas para“afinar a mensagem” quequerem passar. São sondagensque têm como base freguesias--modelo escolhidas pelospartidos onde é feito umacompanhamento diário comuma comparação face aos

resultados das últimas eleições.Mas Luís Bernardo, consultorde comunicação que trabalhouvárias campanhas do PS,explica que as sondagens sósão úteis para os partidos“quando há objectivos eresultados pré-definidos” comopor exemplo, “a que eleitoradose querem dirigir e se querempassar uma mensagem deestabilidade ou de ruptura”.

Sondagens internas

Na Grécia, as sondagens davam umempate técnico entre o Syriza e aNova Democracia.

Sondagens mobilizamos partidos, mas nãoas pessoas.

Paul Hanna / Reuters

dos Centristas, liberal, que fi-nalmente permitiu ao seu fun-dador, o popular Vassili Leven-tis, militante anti-corrupção,entrar no Parlamento.

Tsipras derrotou ainda assondagens, que consistente emuito ineficazmente previramum empate técnico entre oSyriza e a Nova Democracia.Tomou posse num tempo re-cord para os hábitos gregos, re-cebeu tributo de (insuspeitos)líderes europeus, sobretudo deesquerda mas também da direi-ta mais moderada, inflamou asesperanças europeias – não deuma ruptura com a austeridadee os programas da ‘troika’,

como prometera em Janeiro,mas de cumprimento do novoprograma de assistência basea-do num novo empréstimo (oterceiro) de cerca de 86 mil mi-lhões de euros.

Tsipras, surpreendentemen-te, venceu tudo e todos. Todos?Talvez não. Falta-lhe agoracumprir o referido programa deassistência, com as (duras) con-dições que o acompanham; fal-ta-lhe resolver o problema dadívida grega, que continua a au-mentar e é, como todos já perce-beram há muito, insustentável eum obstáculo inultrapassável àrecuperação da economia grega;falta-lhe devolver aos bancos do

seu país a capacidade de autono-mia e financeira que perderam;falta-lhe convencer os parceiroseuropeus de que o fluxo de refu-giados, sendo geográfica e cir-cunstancialmente um problemagrego, é sobretudo uma questãoeuropeia que só em solidarieda-de e com urgente vigor a Europaresolverá. Falta-lhe isso e muitomais: comomanter o seu partidounidoquandoasdificuldades re-crudescerem e a austeridade (ouo que lhe quiserem chamar) vol-tar a morder com os seus friosdentes de aço o frágil tecido so-cial helénico.

Tsipras venceu. Só o tempodirá se a vitória é de Pirro. ■

22-09-2015

Eleições gregasameaçam atrasarprimeira avaliaçãoda troika➥ P4 A 8