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33 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL JAIR FERREIRA DOS SANTOS COSTA GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL: O engenheiro civil enquanto gestor Feira de Santana - BA 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA

COLEGIADO DE ENGENHARIA CIVIL

JAIR FERREIRA DOS SANTOS COSTA

GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:

O engenheiro civil enquanto gestor

Feira de Santana - BA

2012

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JAIR FERREIRA DOS SANTOS COSTA

GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:

O engenheiro civil enquanto gestor

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, como requisito para a obtenção de título de bacharel em Engenharia Civil.

Professor Orientador: Prof. Dra. Kil Hyang Park

Feira de Santana - BA

2012

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JAIR FERREIRA DOS SANTOS COSTA

GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL:

O engenheiro civil enquanto gestor

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Colegiado de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, como requisito para a obtenção de título de bacharel em Engenharia Civil.

Feira de Santana, 26 de março de 2012.

____________________________________________________

Orientador: Prof. Dra. Kil Hyang Park

Universidade Estadual de Feira de Santana

____________________________________________________

Membro Convidado: Prof. Msc. Luis Claudio Alves Borja

Universidade Estadual de Feira de Santana

_____________________________________________________

Membro Convidado: Prof. Msc. Cristóvão César Carneiro Cordeiro

Universidade Estadual de Feira de Santana

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Dedico este trabalho a minha mãe Marilene,

pelo exemplo de vida, pelo amor e

dedicação, pelas palavras de incentivo e

conforto, pelas orações e bênçãos.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelo seu amor infinito me concedendo o dom da

vida, por iluminar e guiar meus passos, por ser meu porto seguro nas horas de

dificuldade e por conceder todas as graças alcançadas.

À Prof. Dra. Kil Hyang Park, por acreditar na minha capacidade, pela atenção,

dedicação e apoio dispensados na orientação fornecida para a elaboração deste

trabalho e meu desenvolvimento diante deste.

À Universidade Estadual de Feira de Santana, instituição que me fez crescer como

indivíduo e me renderam novas e grandes amizades, e a todo o corpo docente

desta, por todos os conhecimentos transmitidos e por possibilitar minha formação

profissional.

Aos meus pais, pela educação e valores ensinados, pelo carinho, apoio e incentivo e

pelo exemplo de fé e força.

Aos colegas de curso, em especial os colegas e novos amigos Márcio, Tiago, Dásio,

Lorena, Alexsandro, Laís, pelo respeito, pelas ideias e experiências trocadas, pelo

companheirismo, pelos bons momentos vividos ao longo curso.

E finalmente, a todos os colaboradores que direta ou indiretamente contribuíram não

só neste trabalho como em toda minha formação.

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RESUMO

COSTA, Jair Ferreira dos Santos - GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL: O engenheiro civil enquanto gestor – Trabalho de

Conclusão de Curso - UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), Feira de

Santana, 2012.

O presente trabalho tem como tema a gestão da cadeia de suprimentos na construção civil, dando ênfase ao novo cenário deste setor no Brasil visando aumentar a competitividade com a redução de custos, que incide diretamente na queda dos preços e com o aumento da qualidade no setor produtivo. O objetivo foi estudar como a gestão da cadeia de suprimentos pode melhorar o desempenho econômico e produtivo dos empreendimentos da construção civil tendo o engenheiro civil como um dos agentes desta atividade. O estudo teve como base conceitos e ferramentas de gestão da cadeia de suprimentos observando sua evolução e suas aplicações, a fim de trazer essas práticas para a indústria da construção civil e incentivar estudos mais aprofundados nesta área da administração desmistificando conceitos ultrapassados a esta área pelos engenheiros civis.

Palavras chave: gestão, cadeia de suprimentos, construção civil.

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ABSTRACT

COSTA, Jair Ferreira dos Santos. MANAGEMENT OF THE SUPPLY CHAIN IN CIVIL CONSTRUCTION: civil engineer as a manager - Work of conclusion of travel

- UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), Feira de Santana, 2012.

This work has as its theme the management of the supply chain in civil construction, giving emphasis to the new scenario of this sector in Brazil in order to increase competitiveness with the reduction of costs, which is directly in the fall of prices and with the increase of the quality in the productive sector. The objective was to study how the supply chain management can improve the economic performance and production of the enterprises of civil construction having civil engineer as one of the agents of this activity. The study was based concepts and tools of supply chain management by observing its evolution and its applications, in order to bring these practices for the construction industry and encourage further studies in this area of the administration demystifying outdated concepts to this area by civil engineers.

Key Words: management, supply chain, civil construction.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Sequencia resumida de uma Cadeia de Suprimentos ......................... 20 Figura 2: Diferenciação dos termos usados para a definição da Cadeia de Suprimentos segundo relação importância do setor x complexidade de

fornecedores ............................................................................................................ 27 Figura 3: Ampliação do escopo da logística ......................................................... 28 Figura 4: Integração dos processos da cadeia ..................................................... 29 Figura 5: A cadeia Logística da Indústria da Construção Civil ........................... 30

Figura 6: Fluxos Logísticos .................................................................................... 31 Figura 7: Focos de Gestão da Cadeia de Suprimentos ........................................ 33 Figura 8: Visão geral das áreas de conhecimento de projetos e os processos de gerenciamento de projetos. .............................................................................. 41

Figura 9: Atividades do Planejamento e Controle da Produção ......................... 44

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Causas dos problemas mais comuns nos canteiros de obras ........... 14 Tabela 2: Organização do Setor de Suprimentos ................................................. 22

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ICC – Indústria da Construção Civil

PIB – Produto Interno Bruto

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

SINDUSCON – Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil

RCD – Resíduos de Construção e demolição

ABNT – Associação Brasileiras de Normas Técnicas

NBR – Norma Brasileira

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

CSCMP – Council of Supply Chain Management Professionals

ABML – Associação Brasileira de Movimentação e Logística

SC – Supply Chain (Cadeia de Suprimentos)

CREA - Conselho Regional de Engenharia e Agronomia

CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção

CEE/CBIC – Comissão de Economia e Estatística da Câmara Brasileira da Indústria

da Construção

PAC – Programa de Aceleração do crescimento

PMCMV – Programa Minha Casa, Minha vida

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GCS – Gestão da cadeia de suprimentos

CLM – Council of Logistics Management

PCP – Planejamento e Controle de Produção

PERT - Program Evaluation and Review Technique

CPM - Critical Path Method

PMI - Project Management Institute

MRP – Material Requirements Planning

MPS – Master Production Schedule

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ................................................................................................... i

RESUMO ..................................................................................................................... ii

ABSTRACT ................................................................................................................ iii

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. iv

LISTA DE TABELAS .................................................................................................. v

LISTA DE ABREVIATURAS ...................................................................................... vi

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

2. CENÁRIO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL ................... 7

2.1. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO ..................................................................................... 7

2.2. IMPORTÂNCIA E CARACTERIZAÇÃO DA ICC ...................................................... 9

2.3. PROBLEMAS AINDA ENFRENTADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL ....................... 13

3. INTRODUÇÃO À TECNOLOGIA LOGÍSTICA ................................................... 18

3.1. CADEIA DE SUPRIMENTOS ................................................................................ 20

3.2. RELAÇÃO ENTRE LOGÍSTICA E CADEIA DE SUPRIMENTOS .......................... 23

3.3. A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS........................................................ 25

3.4. FLUXOS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS: UMA VISÃO SISTÊMICA .................. 29

3.5. FOCOS PARA A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS ............................... 32

3.6. MONITORANDO A CADEIA DE SUPRIMENTOS ................................................. 34

3.7. MELHORANDO O DESEMPENHO DA CADEIA ................................................... 35

4. O ENGENHEIRO ENQUANTO GESTOR .......................................................... 37

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 51

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1. INTRODUÇÃO

Após o estudo de viabilidade, planejamento, orçamento e compatibilização de um

projeto é hora de fazer o empreendimento se tornar realidade. Mais do que plantas e

desenhos com detalhes construtivos, é crescente a importância em se planejar e

executar um controle eficaz da aquisição e uso de materiais na construção civil. O

desempenho da gestão de suprimentos pode possibilitar que a execução do

empreendimento seja mais eficiente e eficaz e garantindo assim, um bom retorno

econômico à empresa construtora.

Segundo Ávila (2006), a administração de materiais transcende as fronteiras dos

canteiros de obras e se estende como parte das atividades administrativas que

envolvem o ciclo de um empreendimento buscando minimizar riscos e criar um

diferencial competitivo.

O estudo da gestão da cadeia de suprimentos é de grande importância, pois gera

impactos diretos nos custos e na qualidade do empreendimento. Os

empreendimentos de construção civil têm características que os diferem dos demais

setores produtivos. Estes costumam ter alto valor de investimento, gerando produtos

únicos e com desenvolvimento e duração finitos (início, meio e fim). Aspectos como

estes atribuem certo grau de incerteza dos gestores de empreendimentos na tomada

de decisão. Nesse sentido, a busca de vantagens competitivas para manter-se no

mercado está diretamente relacionada com tomada de decisões que minimizem

cada vez mais esses níveis de incerteza para assegurar o sucesso da organização.

Os materiais precisam ser adequadamente administrados para que não aconteçam

faltas que venham paralisar os serviços e nem haja excessos que elevem os custos

gerados pala imobilização e pelos desperdícios. O ideal é ter os materiais na

quantidade certa, no local certo e no tempo certo à disposição dos agentes

integrantes do processo construtivo.

Ainda pouco explorado pelas construtoras de médio e pequeno porte, a gestão da

cadeia de suprimentos é tratada em algumas literaturas como um assunto específico

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da gestão da produção, e sua abordagem se torna parcial e muito restrita em

relação a esta última, que é muito mais abrangente. Este fato serve de motivação

para o seu estudo devido a sua complexidade e diversidade ainda pouco explorada

e pouco utilizada por gerentes de obras civis, uma vez que, estes muitas vezes não

são devidamente orientados quanto à importância da gestão de produção e de

recursos materiais em seu processo de graduação. Talvez seja nesta lacuna que se

pode explicar a ineficiência dos processos construtivos aliado aos atrasos

tecnológicos, que vêm obstaculizando o desenvolvimento da indústria da construção

civil, aliada à baixa qualificação e motivação da mão de obra empregada nas suas

atividades.

Uma obra civil envolve uma grande variedade de materiais, a cadeia de

fornecedores é numerosa e complexa e há um grande número de agentes que

compõem o setor de materiais da construção. Entre os mais importantes estão as

regulamentações governamentais, a economia, a competição, as expectativas dos

clientes e a qualidade (ARNOLD, 2006). Neste sentido, a gestão da cadeia de

suprimentos apresenta-se, no atual ambiente de negócios, como uma ferramenta

que permite interrelacionar o mercado, a rede de distribuição, o processo de

produção e a atividade de compra de tal modo que os consumidores tenham um alto

nível de serviço ao menor custo total, simplificando assim o complexo processo de

negócios e ganhando eficiência (COSTA, 2005).

Esta característica descentralizadora da gestão de materiais comum entre os

empreendimentos resulta ainda na dificuldade de padronização e organização das

atividades no setor de materiais. Nota-se então que o papel da gestão de

suprimentos é balancear os conflitos existentes entre os objetivos da empresa,

objetivos de marketing, de finanças e de produção, e coordenar o fluxo de materiais

que entram, percorrem e saem da produção (ARNOLD, 2006). Existindo aí, uma

necessidade de integrar os processos e as informações que são compartilhadas

entre construtores e fornecedores ressaltando que, apesar da nítida importância da

gestão da cadeia de suprimentos Ballou (2000), Christopher, Bowersox e Closs

(2001), Gunasekaran (2004 apud COSTA, 2005), concordam que existe falta de

coerência no uso do termo e se associam diferentes conceitos a ele.

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Partindo destas visões, este trabalho irá mostrar a gestão da cadeia de suprimentos

sugerindo que é possível uma adequação à realidade das pequenas e médias

construtoras do município de Feira de Santana - BA desde que se faça uma

adaptação às necessidades destas a fim de obter vantagens competitivas. Sem

contar que, o estudo torna-se de importante relevância à figura do engenheiro civil,

que assume cada vez mais papel de administrador utilizando seu nível e

conhecimento técnico para embasar as suas decisões no tocante a administração do

empreendimento.

JUSTIFICATIVA

O novo ambiente econômico do país lança desafios aos setores produtivos a

procurarem novos procedimentos administrativos para atingir melhores resultados. O

patamar mínimo de uma empresa hoje é alcançar sua sobrevivência no mercado,

agora com prazos e lucros mais apertados e clientes mais exigentes. Como

consequência disto, setores como a indústria buscaram adquirir diferencial

competitivo explorando a administração logística.

Observando o desenvolvimento das grandes indústrias de manufatura após

adotarem modelos e ferramentas de administração da produção e gestão de

suprimentos, a exemplo da Toyota, que evoluíram o modo de como administrar

produção, estoques e toda a rede de suprimentos, a intenção seria trazer essa

realidade para a indústria da construção civil e ou pelo menos estudar a

aplicabilidade e/ou influência desse processo para a evolução das empresas da

construção civil.

A ideia de estudar a gestão da cadeia de suprimentos foi motivada pela observação

própria da deficiência sentida nos setores de suprimentos nas empresas de médio e

pequeno porte do município. Além de achar o tema relevante à formação

acadêmica, percebe-se que na instituição – UEFS (Universidade Estadual de Feira

de Santana) - existem trabalhos acadêmicos mais focados na logística, porém dando

outras ênfases de estudo. São abordados aspectos importantes sobre o tema em

disciplinas da grade curricular, contudo esse trabalho vem como propósito de

reforçar estudos mais aprofundados nessa linha.

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O sucesso obtido pelas indústrias automobilísticas na aplicação da gestão da cadeia

de suprimentos tem atraído o interesse das outras indústrias, como o caso da

indústria da construção civil.

Vrijhoef e Koskela (2000 apud ISATTO, 2005) dizem que a aplicação da gestão da

cadeia de suprimentos à construção civil tem caráter isolado e parcial indicando as

limitações quanto às transferências dos conceitos e práticas relacionadas e

argumenta ser necessária a definição clara dos papéis e possibilidades quanto sua

aplicação. É necessário um grande trabalho de abstração para tratar do assunto

focando na realidade da construção civil, sua aplicação ainda tem conceito bastante

amplo.

Segundo Taylor (2005, p.18),

“Dell, Wall Mart e outras empresas-modelo em cadeia de suprimentos não obtiveram sucesso por terem sido gerenciadas por gênios dos negócios. Conseguiram o sucesso porque entenderam os principais problemas que afetavam suas cadeias de suprimentos, comprometeram-se a encontrar soluções de longo prazo em vez de apenas apagar incêndios e tiveram persistência para seguir essas soluções à risca até que surtissem efeito”.

Outra inquietação é a de desmistificar a concepção de que um engenheiro civil é

apenas um responsável técnico e trazer a figura do engenheiro civil como um

administrador, o administrador do seu empreendimento. E, com essa visão de

administrador, ele possa mudar o modo de fazer engenharia, visto que, o mercado

demanda um novo perfil do profissional da engenharia civil.

O profissional engenheiro tem capacidade muito grande em lidar com a

complexidade e encontrar a melhor solução para a situação. No mercado moderno,

o nível de complexidade tem selecionado para a engenharia civil, os profissionais de

acordo com suas habilidades gerenciais, afinal o engenheiro civil também é um

administrador.

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OBJETIVOS

Objetivo geral

Estudar como a gestão da cadeia de suprimentos pode melhorar o desempenho

econômico e produtivo dos empreendimentos da construção civil

Objetivos Específicos

Estudar as práticas de gestão da cadeia de suprimentos na construção civil; e,

Mostrar como o engenheiro civil, no seu papel de gestor, pode contribuir para o

diferencial competitivo de uma empresa construtora.

Para orientar, portanto, a discussão proposta, o presente trabalho foi dividido em

quatro capítulos, no qual o primeiro deles traz uma explanação geral do escopo, a

razão de ser do trabalho, além dos objetivos e a metodologia da pesquisa

classificando o tipo de pesquisa. O segundo capítulo faz uma breve explanação de

como anda o cenário brasileiro do setor da construção civil. Em seguida, no terceiro

capítulo, são apresentadas as definições, abordagens e aspectos da tecnologia

logística e cadeia de suprimentos para embasar a pesquisa. O quarto capítulo, traz a

figura do engenheiro e suas atribuições enquanto gestor e uma breve discussão da

sua contribuição na gestão da cadeia de suprimentos. Finalmente, são apresentadas

as considerações finais.

O presente trabalho seguiu o modelo de caracterização metodológica proposta por

Appolinário (2006), os quais consideram sete tipologias de classificação: quanto à

natureza, finalidade, tipo de pesquisa, estratégia de coleta de dados (não se aplica a

este trabalho), fonte de informação, temporalidade e método de pesquisa para

delinear o trabalho quanto à forma de abordagem e quanto aos procedimentos

técnicos adotados:

Este trabalho teve como método de pesquisa o método dedutivo, partindo de

enunciados e observações gerais chegando a uma conclusão particular;

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Natureza predominantemente qualitativa - baseada no estudo e análise

subjetiva dos dados com base em observação e interpretação de fenômenos,

não possuindo assim, variáveis predeterminadas;

Teve a finalidade de pesquisa aplicada por conta de expressar uma

necessidade de mercado, contudo não serão desenvolvidos novos produtos

ou processos;

Trabalho de caráter descritivo, buscando interpretar a realidade e propor

melhorias sem nela interferir;

Pesquisa de caráter documental (livros, artigos, revistas, etc.), onde serão

revisadas bibliografias existentes com finalidade de melhor desenvolver o

tema proposto; e,

Temporalidade de caráter transversal, onde serão explorados dados obtidos

durante o desenvolvimento do trabalho, não importando o acompanhamento

evolutivo dos fatores envolvidos na pesquisa.

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2. CENÁRIO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL

2.1. HISTÓRICO E EVOLUÇÃO

Segundo a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), a partir do ciclo de

crescimento e desenvolvimento econômico do país, iniciado na década de 50, a

construção civil ganhou importância e começou a se destacar como atividade

industrial.

Para Aro e Amorim (2004 apud FRANCKLIN JUNIOR; AMARAL, 2008), as

mudanças socioeconômicas foram significativas a partir do final da década de 80 e

fizeram à indústria da construção civil questionar seu atraso tecnológico e seu modo

de agir e pensar no processo de produção. Por este motivo, a indústria da

construção civil teve que se atentar a três questões: a melhoria na qualidade dos

produtos finais, a modernização tecnológica (racionalização dos processos) e o

desenvolvimento de inovações tecnológicas (desenvolvimento de novos produtos).

Segundo Maués (1996), um primeiro sinal da evolução das empresas da construção

civil foi a racionalização do processo produtivo. Esta pode ser caracterizada como

uma ação coordenada entre os vários aspectos envolvidos desde a concepção até a

execução do empreendimento, como exemplo, a diminuição de desperdícios e o

aumento de produtividade objetivando melhorar o desempenho econômico e físico

do produto ao longo de sua vida útil. Vale salientar que, durante as fases de

produção de edificações as empresas buscam um equilíbrio entre custo, tempo e

qualidade, o que depende basicamente do gerenciamento empresarial da empresa.

Registros bibliográficos apontam que o processo de racionalização no setor da

construção civil no Brasil cresceu a partir dos anos 70, particularmente na

construção habitacional, onde várias medidas foram implantadas.

Segundo Farah (1990 apud MAUÉS, 1996), as propostas de racionalização da

construção surgiram no âmbito da industrialização do setor, tendo como paradigma

a produção fabril seriada, onde a incorporação de máquinas e ferramentas à

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produção criou um modelo específico de organização do trabalho, desenvolvido pelo

Taylorismo também conhecido como o “modelo da racionalização", posteriormente

aperfeiçoado pelo Fordismo.

A industrialização da construção, com base nestes modelos, criou a utopia de que a

adoção destes princípios de maneira ortodoxa levaria o setor a montar o seu produto

de uma só vez como no processo de montagem de carros na Ford onde os produtos

são feitos por máquinas numa unidade fabril.

De acordo com Le Corbusier (1987apud MAUÉS, 1996):

"... impossível esperar pela lenta colaboração dos sucessivos esforços do escavador, do pedreiro, do carpinteiro, do marceneiro, do colocador de ladrilhos, do encanador... as casas devem ser erguidas de uma só vez, feitas por máquinas em uma fábrica, montada como Ford monta os carros, sobre esteiras rolantes”.

Segundo Maués (1996), a industrialização da construção civil aqui no Brasil baseou-

se inicialmente na pré-fabricação pesada e em sistemas fechados, com a

padronização de produtos e a utilização de repetições nas suas atividades

produtivas. Mas, em decorrência de crises no setor, pela retração da demanda e

pela falta de apoio do setor público, ocorreu a diminuição da sua utilização, pois a

pré-fabricação pesada apresenta limitações técnicas e econômicas, ou seja, as

usinas necessitam operar com grandes escalas de produção, para tornarem-se

viáveis economicamente. Por outro lado, este tipo de solução tecnológica foi pouco

flexível, não sendo capaz de atender às novas características do mercado, com

base na intensificação e diversificação da construção de edifícios.

Neste novo contexto, surge como necessidade para as empresas, a reformulação

dos seus conceitos sobre a industrialização, já que esta sofreu uma redefinição para

atender a flexibilidade do processo produtivo. A mudança de estratégia é

fundamental devido à diversificação do produto e para poder atender com agilidade

as demandas heterogêneas consolidando-se desta forma a industrialização aberta,

baseada inicialmente em sistemas leves, compostos por elementos compatíveis e

que eram produzidos por várias indústrias das mais variadas cadeias.

Recentemente surge a tendência pela industrialização de componentes. Com esta

filosofia de trabalho, a construção no canteiro de obra tende cada vez mais, para a

montagem de componentes produzidos por uma diversidade de fabricantes. Desta

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forma, segundo Farah (1990 apud MAUÉS, 1996), o paradigma da racionalização

taylorista e fordista sobre a industrialização fechada deixou então de ter sentido,

dando lugar a um modelo com base na flexibilidade de produção e na participação

dos trabalhadores no controle do processo de trabalho.

Segundo Teixeira, Kemmer, Souza e Silva e Heineck (2004), na indústria da

construção as inovações experimentadas no início dos anos 90 foram analisadas no

contexto da estrutura conceitual que embasa os programas de qualidade e

produtividade. Nessa época vários autores estudaram tais inovações sempre

baseados nos princípios da teoria das construções enxutas, pesquisadas e

propostas por Koskela (1992; 2000).

No entanto, cabe ressaltar a necessidade de uma coordenação geral do processo de

produção da edificação, como uma condicionante da flexibilidade imposta pela nova

característica do mercado buscando-se então, uma fase mais ampla denominada de

"racionalidade do sistema", onde a coordenação entre projeto, planejamento,

execução, obra, central de componente e comercialização substituem a

racionalização parcial, que apenas enfocavam as atribuições envolvidas com o

processo de produção.

2.2. IMPORTÂNCIA E CARACTERIZAÇÃO DA ICC

A construção civil é composta por uma série de atividades com diferentes graus de

complexidade, que são ligadas entre si por uma vasta diversificação de produtos,

com processos tecnológicos variados, vinculando-se a diferentes tipos de demanda.

Ela abriga desde indústrias de tecnologia de ponta até milhares de microempresas

de serviços, a maior parte com baixo desenvolvimento tecnológico (MELLO;

AMORIM, 2009).

O dinamismo da construção civil é capaz de gerar efeitos que se reproduzem em

diferentes intensidades sobre o conjunto da economia, especialmente na indústria

de transformação (BREITBACH, 2009).

A Indústria da Construção Civil é composta por uma complexa cadeia produtiva que

abrange setores industriais diversos, tais como: mineração, siderurgia do aço,

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metalurgia do alumínio e do cobre, vidro, cerâmica, madeira, plásticos,

equipamentos elétricos e mecânicos, fios e cabos e diversos prestadores de

serviços, como escritórios de projetos arquitetônicos, serviços de engenharia,

empreiteiros etc.

A importância singular do Macro Setor da Construção, definido como o setor da

construção propriamente dito incluindo edificações, obras viárias e construção

pesada, acrescido dos segmentos fornecedores de matérias-primas e equipamentos

para a construção e dos setores de serviços e distribuição ligados à construção,

pode ser retratada em números, ou seja, através de indicadores percentuais.

Segundo o CEE/CBIC (Comissão de Economia e Estatística da Câmara Brasileira da

Indústria da Construção) através deste conceito mais moderno, é possível avaliar

melhor os efeitos multiplicadores setoriais da indústria de construção sobre o

processo produtivo, sua enorme capacidade de realização de investimentos, o seu

potencial de criação de empregos diretos e indiretos, além de seus efeitos benéficos

sobre a balança comercial e sobre o nível de inflação.

De acordo com o Informativo Econômico da ICC 2011 da CBIC, a Construção vem

registrando incremento consistente em suas atividades desde 2004, deixando para

trás décadas de dificuldades atingindo em 2010 um desempenho recorde. Esses

números entraram em um patamar de maior equilíbrio e sustentabilidade,

significando que o ciclo virtuoso iniciado em 2004 continua. E em 2011, esse

crescimento no setor foi justificado por alguns fatores como maior oferta de crédito

imobiliário, aumento do emprego formal, crescimento da renda familiar, estabilidade

macroeconômica, melhor previsibilidade da economia e as obras do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC) e Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV).

Com isso, de 2004 a 2010 a construção nacional cresceu 42,41%, o que representa

uma taxa média anual de 5,18%. No acumulado dos primeiros nove meses de 2011

o PIB da construção apresentou incremento de 3,8% em relação à igual período do

ano anterior, de acordo com os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE). O PIB da Construção Civil em 2010 foi de cerca de

R$165 bilhões, o que correspondeu a 5,3% do PIB total do Brasil. O setor tem sido

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um dos motores do crescimento do país e vem demonstrando porque exerce papel

de protagonista na atual agenda de desenvolvimento econômico.

Segundo Novaes (1996), como setor produtivo gerador de riquezas, a importância

da construção civil também pode ser medida, de modo geral e independente do país

e do seu nível de desenvolvimento econômico e tecnológico, pela significativa

parcela que representa no PIB.

Outra característica importante da construção, também apontada pelo CEE/CBIC

(1998; 2011), é o seu reduzido coeficiente de importação, que alcança menos que

2% de sua demanda total, de modo que o crescimento do setor não pressiona a

balança comercial e o balanço de pagamentos do país. Em princípio, a construção é

uma indústria que não depende de financiamentos externos. Ademais, os custos da

construção são perfeitamente compatíveis com a taxa média da inflação brasileira.

Enfim, todos esses fatores ajudam a consolidar o status que a construção civil tem

de “poderosa alavanca para o desenvolvimento” visto que, ela move direta e

indiretamente a maioria dos segmentos produtivos de um país.

Um outro aspecto marcante do setor da Construção Civil é a sua heterogeneidade.

Dentre as indústrias manufatureiras, a construção civil, principalmente no subsetor

edificações, é a indústria que menos utiliza a tecnologia logística em sua gestão, fato

que repercute significativamente na produtividade, qualidade, prazos, além de ter

altos índices de desperdício.

De acordo com Vieira (2006) a construção civil gera grandes impactos ao meio

ambiente tanto na obtenção de matéria prima, utilizando recursos naturais em

grandes quantidades, quanto às quantidades de RCD’s (Resíduos de Construção e

Demolição) gerados e que nem sempre tem destinação apropriada. Lembrando

ainda do seu grande impacto com relação ao uso do espaço urbano.

Segundo Warszawski (1983 apud HAGA, 2000), uma das mais importantes razões

para o baixo desenvolvimento tecnológico na construção civil, quando comparado

com outros setores produtivos, é o baixo esforço de pesquisas em empresas do

setor. Para os autores, o desenvolvimento de pesquisas em empresas de

construção depende da eficiência do fluxo de informações dos seguintes atores:

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instituições governamentais que concedem os projetos de pesquisa, instituições que

realizam as pesquisas, projetistas e construtores, e finalmente, os usuários que são

beneficiados pelos resultados da pesquisa.

Parte deste descaso é devido ao próprio desconhecimento de definições básicas

que permitiriam caracterizar as variáveis envolvidas no processo de construção,

como a definição de um empreendimento, que segundo Vieira (1988 apud HAGA,

2000, p.76) trata-se de:

“um conjunto de atividades, não rotineiras e multidisciplinares, destinadas a cumprir um determinado objetivo, caracterizadas por um início e um fim, delimitadas no tempo, compatibilizadas no custo e otimizadas no desempenho técnico e de produção. Assim, utiliza recursos materiais e humanos, empregados de acordo com um escopo de trabalho pré-estabelecido, um plano que fixa datas-marco e um planejamento que defini prioridades”.

Heineck e Tristão (1994 apud HAGA, 2000) apontam algumas características

negativas ainda presentes nas várias empresas de construção:

Projeto separado da produção – falta de integração entre sede e canteiros de

obra;

Analfabetismo e condições de marginalidade social dos operários aliado a

falta de sindicalismo atuante e inteligente – mostrando o baixo grau de

instrução da mão de obra e seu descaso perante o trabalho;

Autoritarismo – gerando conflitos e situações indesejáveis no ambiente de

trabalho;

Cultura do desperdício e desordem, atrelado à insalubridade nas frentes de

trabalho;

Complexidade de detalhes e variedade de insumos;

Imprevisibilidade nas durações das atividades e variação de consumo de

recursos – geralmente ligados ao grau de desenvolvimento e treinamento do

operário;

Altas taxas de rotatividade – segundo pesquisa do DIEESE (2011), o setor de

construção civil detém as maiores taxas de rotatividade de funcionários.

Adicionando-se ainda as peculiaridades levantadas por Garcia Meseguer (1991apud

HAGA, 2000), que são inerentes ao setor:

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Produtos geralmente únicos e não seriados;

Produtos fixos e operários móveis;

Especificações complexas e, segundo o autor, quase sempre contraditórias e

confusas (talvez pela precariedade dos projetos);

Responsabilidades dispersas e pouco definidas;

Falta de Integração do setor;

Processo fragmentado de construção;

Existência de perdas nas interfaces, devido a problemas de caráter

gerenciais, falta de projetos adequados, falta de planejamento, deficiências

em diversos processos, etc.

Ressaltando ainda outras peculiaridades talvez mais complexas levantadas

posteriormente por Warszawski (1983) e Garcia Meseguer (1991apud HAGA, 2000)

que são a questão especulativa do setor no ambiente nacional, onde o lucro

especulativo pode prevalecer sobre a eficiência produtiva, e segundo Gomes e

Rocha Lima jr. (1994 apud HAGA, 2000) o fato de não ser interessante para

investimentos de negócios diante da variabilidade dos preços dos insumos e da

expectativa de rentabilidade da produção em se tratando de unidades habitacionais.

2.3. PROBLEMAS AINDA ENFRENTADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Sabe-se que o desempenho operacional do sistema produtivo no setor da

construção civil no Brasil não acompanhou a evolução que foi sentida nos demais

setores industriais, convivendo ao longo dos anos com o desperdício e a

improvisação dentro de seu ambiente construtivo. Sabe-se que a logística na

construção civil encontra-se num estágio de evolução ainda muito precário em

comparação aos serviços da indústria seriada. Mas existem exceções é claro, há

grandes empresas que já exploram bem as práticas logísticas.

Segundo Vieira (2006), a acomodação dos empresários da construção civil

contabilizava a ineficiência dos processos e os desperdícios gerados no orçamento

do empreendimento ao invés de melhorar seu desempenho, como fizeram as

demais indústrias manufatureiras. Ainda de acordo com o autor, esta postura está

mudando devido ao aumento da competitividade do setor, o que vêm exigindo uma

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nova estratégia por parte das empresas onde a busca por melhorias contínuas nas

suas atividades se fazem necessários para garantir vantagem competitiva e garantir

rentabilidade diante as mudanças do mercado.

É fato também, que a falta de atenção de alguns gestores de obras ocasionam

muitos danos ao desenvolvimento de um empreendimento. Com base num artigo da

Revista Techoje (2012), a tabela a seguir enumera resumidamente a série de falhas

gerais comumente identificadas na construção civil, que poderiam ser evitadas na

sua maioria e que, segundo os autores, estas mostram a falta de domínio e controle

do projeto por parte dos gestores das respectivas áreas.

Tabela 1: Causas dos problemas mais comuns nos canteiros de obras

PLANEJAMENTO

Falta de previsão de mão de obra própria e contratada Falta de previsão de material Serviços sobredimensionados Mão de obra superestimada Erros de planejamento das atividades Falta de equipamentos Falta de definição do planejamento

PROJETO

Falta de projeto executivo da obra Falta de detalhamento e definição do projeto Alteração de projeto não informada Instalações inacessíveis Complexidade do projeto dificultando o entendimento Incompatibilidade de projetos

MÃO DE OBRA

Falta de mão de obra própria e contratada Baixa produção Absentismo elevado Falta de experiência e/ou treinamento

MATERIAL

Falta de material Material entregue com atraso Atraso com retenção de material importado na alfândega Má qualidade do material Material não informado no projeto

GERAL

Condições adversas do tempo Alteração da programação sem aviso prévio Atraso na tarefa antecedente Problemas durante a execução do serviço Retrabalho

Fonte: adaptado da Revista TecHoje (2012)

Identificando estas e outras causas antecipadamente é possível minimizar os

impactos com relação ao custo, prazo e qualidade do empreendimento.

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Uma constatação feita neste trabalho e agora reforçada por Alves e Tommelein

(2007) é que o gerenciamento adequado da cadeia de suprimentos da construção

pode ter grande impacto em economias locais e nacionais, dado o elevado volume

de negócios que movimenta.

Como já foi dito, com o processo evolutivo que vem ocorrendo nos últimos anos,

esta situação tem mudado muito e a área da produção começa a ter prioridade total

em função de uma pressão por competitividade, do aumento do potencial das novas

tecnologias de processos e, principalmente, da conscientização da valorização do

papel estratégico da manufatura Corrêa (1993 apud VIEIRA, 2006). Contudo, a

construção civil necessita de uma melhoria contínua do processo construtivo e das

condições gerenciais de seus canteiros de obras para que possa atingir objetivos

como a agilização das atividades construtivas, aumento da produtividade e do nível

de serviço e diminuição do desperdício.

Vale ressaltar que o baixo custo mão de obra brasileira é um dos fatores que

permitem o desperdício na sua utilização. Uma das características desse

desperdício é a constância do retrabalho, tão comumente identificado na análise

sistêmica sob a lente dos conceitos logísticos (SOBRAL, 1998).

Os grandes causadores de custos devidos à ineficiência do processo construtivo

devem-se às perdas e aos desperdícios que agora são tratados num enfoque

logístico. Segundo Vieira (2006) pode-se definir como perdas qualquer ineficiência

e/ou negligência no uso de materiais, mão de obra e equipamentos de forma a fazer

com que sejam utilizadas quantidades superiores às efetivamente necessárias à

produção de um referido bem, ou seja, utiliza-se mais quantidade sem, com isso,

agregar mais valor ao produto. Como exemplos dos grandes causadores de custo

no processo construtivo, Vieira (2006) e Barbosa, Muniz e Santos (2008) destacam

alguns problemas gerados por falhas na logística do canteiro, e que são

constantemente enfrentados pelos gestores de suprimentos:

Canteiro de obras mal planejado, ou seja, com layout desorganizado -

gerando problemas como necessidade de maiores espaços físicos,

contrariando a lógica da maioria das obras geralmente executadas nos

grandes centros, densamente habitados e com sérios problemas de espaço,

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além disso, conduz a uma maior circulação de materiais, equipamentos e

pessoas, resultando em maiores perdas de tempo e de materiais;

Mau planejamento dos estoques - levando a movimentações desnecessárias,

proporcionando quebras e desperdícios de materiais;

Incompatibilidade dos equipamentos com materiais a serem movimentados -

gerando perda de tempo e de materiais além da deterioração de materiais por

má armazenagem;

Falta de unitização dos materiais e componentes - conduzindo a um

excessivo manuseio, favorecendo perdas de materiais e tempo, etc.;

Perda de materiais em transportes;

Compras feitas com base no menor preço, refletindo em insumos de baixa

qualidade; etc.

Há ainda problemas que são causados por falha de outros setores do ambiente

construtivo, e que podem ser classificados como problemas gerados devido à falha

de gestão da produção. Conforme feita uma coletânea e classificação das falhas

recorrentes citadas por autores como Vieira (2006) e Barbosa, Muniz e Santos

(2008), citaremos para exemplificar, contudo não diz respeito ao enfoque do estudo.

Segue listagem:

Falhas nos programas de seleção, contratação e treinamento inadequado;

Atrasos de cronogramas, resultando em multas, custos financeiros,

improvisações, horas extras, etc.

Perdas de materiais:

o Por superdimensionamentos como consumo excessivo de cimento ou

outros aglomerantes por traços muito fortes;

o Correções de retrabalhos ocasionados por inconformidades com as

especificações ou por baixa qualidade destes;

o Problemas como ruptura, desaprumo e falta de esquadro em paredes,

ondulações em revestimentos, vazamentos ou entupimentos de

tubulações, pisos com caimentos invertidos, pinturas em superfícies

despreparadas;

Perda de tempo:

o Tempos gastos com mão de obra para execução de retrabalhos;

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o Tempos ociosos de mão de obra devido à falta de prática por

deficiência no planejamento da produção;

o Tempos ociosos de equipamentos por deficiência no planejamento da

produção e/ou ausência de uma política de manutenção;

Falhas na produção:

o Por correções de imperfeições construtivas com custos elevados

dentro do prazo de garantia;

o Frentes de serviço - por descontrole das equipes de serviços

interdependentes;

o Mão de obra - por deficiência ou mau dimensionamento das equipes,

bem como o desconhecimento da produtividade das mesmas;

o Material - por deficiência no planejamento ou controle dos materiais

para suprir a mão de obra;

o Retrabalhos - por falta de controle das etapas de serviços

intervenientes e deficiência de mão de obra gerando perda de tempo,

ou seja, serviços subsequentes têm que esperar por reparos, que se

aliam a perdas de materiais.

Frequentemente, o que se observa também nos canteiros de obra é que não existe

planejamento algum para a logística no processo construtivo e o planejamento da

produção, que por sua vez não é confiável, ou quando existe não é seguido. Os

pedidos e entregas de materiais são realizados somente quando a produção para

devido às faltas de material. Além disso, geralmente, as compras não levam em

conta os fatores de qualidade de material e serviços. São feitas considerando

essencialmente o preço mais baixo.

Estas constatações podem parecer repetitivas, mas, infelizmente sua elevada

ocorrência e a dificuldade das empresas em superá-las levam a necessidade da sua

observação. Diante destas, salvo exceções, nota-se por que a construção civil tem

status de indústria de cultura atrasada, visto a dificuldade de implantação de novas

tecnologias e aumento de qualidade e produtividade do setor.

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3. INTRODUÇÃO À TECNOLOGIA LOGÍSTICA

A literatura traz as definições de logística de duas formas. Pela definição formal

encontrada em muitos dicionários atuais, logística pode ser entendida de forma

objetiva como a área da gestão responsável por prover recursos, equipamentos e

informações para a execução de todas as atividades de uma empresa.

Na literatura formal, a palavra logística tem origem na língua francesa surgindo do

verbo “loger” tendo como significado alojar, hospedar; daí vem o termo “logistique”

fazendo referência à parte da arte militar relativa a planejamento, transporte e

suprimento de tropas em operações (VIEIRA, 2006). A logística foi implementada

nos exércitos com finalidade estratégica e obteve grande sucesso nas tropas em

frente de guerra pelas características de disciplina e obediência hierárquica destas

(VERLANGIERE, 1998 apud VIEIRA, 2006). Os gregos já muito antes a

denominavam como a arte aritmética aplicada, onde eram utilizados símbolos

matemáticos em vez de linguagem gramatical. Há registros também que nos

exércitos romanos e bizantinos já havia um oficial administrativo sob o título de

“lojista”.

Dado ao fato da sua rápida evolução para muitas outras áreas, a logística chegou a

conquistar ampla abrangência e atuação em diversos sistemas produtivos e

empresariais tornando-se ferramenta operacional; passou a ter importância

estratégica nas grandes empesas motivando estudiosos a considerar mais os

aspectos técnicos e empresariais, desenvolvendo então, uma conceituação mais

técnica atribuindo expressões menos específicas e mais abrangentes. Começa

então a surgir definições mais elaboradas sobre o assunto.

Numa das definições técnicas de maior destaque, o autor Daskim (1985) diz que a

logística pode ser definida como o planejamento e a operação dos sistemas físicos,

informacionais e gerenciais necessários para que os insumos e produtos superem

condicionantes espaciais e temporais de forma econômica, tendo como aliados

importantes recursos como computadores, softwares, telecomunicações e recursos

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multimídia. Assim, a logística tem a tecnologia de informação como principal agente

integrador e alimentador no processo gerencial.

Adotando uma definição mais atual sugerida por Council of Supply Chain

Management Professionals (CSCMP1):

"Logística é o processo de planejar, implementar e controlar, de forma eficiente e econômica, o fluxo de suprimentos e produtos, a armazenagem e o fluxo de informações correspondentes a todo o sistema desde a origem ao destino final, objetivando o atendimento às necessidades dos clientes" (VIEIRA, 2006, p.19).

De acordo com Neto (2001, p.1) a logística, deve ser entendida como o

“gerenciamento estratégico dos fluxos de materiais e das informações correlatas

para levar, de forma eficiente e eficaz, os produtos de uma origem a um destino”.

A logística é, portanto, uma metodologia ou processo administrativo que se baseia

fundamentalmente na conscientização para o emprego de conceitos, métodos,

técnicas e procedimentos, assim como na utilização da tecnologia de informação, de

forma a encaminhar a maximização do nível de serviço e da produtividade numa

cadeia de suprimentos.

Segundo Bowersox e Closs (2001apud MÔCHO; ROCHA, 2002), na década de 50,

a logística começou a ganhar importância nas empresas; era executada como uma

atividade informal, pois, não existia ainda nenhum conceito ou teoria formal de

logística. Nessa época não era dada a devida importância à logística, mesmo em

plena evolução dos conceitos de marketing por não se acreditar na integração das

funções logísticas e posterior aprimoramento do desempenho das empresas, visto

que, ainda não havia grande acesso a computadores e técnicas quantitativas. Havia

uma grande dificuldade em quantificar o retorno sobre os investimentos que

poderiam ser obtidos, não permitindo o entendimento dos administradores quanto a

estimar o real custo do estoque e o retorno financeiro que poderia ser obtido a partir

da redução do investimento em estoque. As condições instáveis da economia

pressionavam os empresários a gerir com foco somente em elevar os lucros e cortar

custos, sem deixar de falar na resistência natural às mudanças que implicariam

esses novos conceitos.

1 Antiga CLM (Council of Logistcs Management)

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Já em meados dos anos 80 e 90, fatores como a comercialização dos

microcomputadores, mudança nas regulamentações de transporte dos Estados

Unidos, a revolução da informação, a adoção de programas de qualidade e o

desenvolvimento de parcerias e alianças estratégicas deram novo rumo à prática

logística. Nesse momento, as empresas reestruturaram suas competências

logísticas a ponto desta adquirir importância empresarial estratégica.

3.1. CADEIA DE SUPRIMENTOS

O setor de suprimentos de uma empresa construtora tem a função de garantir o

contínuo abastecimento dos materiais necessários para os serviços a serem

executados na obra.

Segundo a ABML – Associação Brasileira de Movimentação e Logística, a Cadeia de

Suprimento (Supply Chain) é o conjunto de organizações que cria valor na forma de

produtos e serviços através de diferentes processos e atividades que vinculam

desde fornecedores de matérias primas até o consumidor final.

“Trata-se de uma rede de organizações conectadas e interdependentes, que trabalham conjuntamente, em regime de cooperação mútua, para controlar, gerenciar e aperfeiçoar o fluxo de matérias-primas e informação dos fornecedores para os clientes finais” (AITKEN, 1998 apud CHRISTOPHER, 2007, p.5).

Vieira (2006) aponta três grandes áreas de atuação da administração na logística

onde uma cadeia de suprimentos típica é composta de três fases, e o projeto da

cadeia mais adequada dependerá do papel de cada etapa necessário para

satisfazer as necessidades do consumidor final.

Figura 1: Sequencia resumida de uma Cadeia de Suprimentos

Fonte: (VIEIRA, 2006, p.21)

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Em resumo, as etapas da cadeia de suprimentos podem ser descritas como:

1. Suprimento (Administração de Materiais) – gerencia todo o processo

relacionado à aquisição de matéria prima e componentes;

2. Produção (Manufatura) – administra o fluxo de materiais e serviços dentro do

ambiente produtivo;

3. Distribuição Física – administra a demanda do cliente e dos canais de

distribuição logística.

Na primeira fase, destacam-se operações relativas a fluxo de materiais e

informações associadas desde a fonte até sua entrada no ciclo de produção tendo

como atividades principais o processamento de pedidos, recebimento de materiais,

armazenagem, administração de estoques, gestão de informações logísticas e

medidas de desempenho.

Na segunda fase, trata-se da produção em si, sendo importante aqui a sincronização

da produção com a demanda. As principais atividades são abastecer e fornecer

apoio à linha de produção, armazenagem, conferência qualitativa e documental e

medidas de desempenho.

Na terceira fase, que não se aplica ao nosso enfoque na construção civil, deve-se

garantir que os bens produzidos sejam entregues ao consumidor final em perfeitas

condições de uso destacando-se nesta etapa atividades como inspeção do produto

acabado, gestão e controle de documentos, gestão de fretes e informações

logísticas.

De acordo com Simchi-Levi, Kaminsky e Simchi-Levi (2003 apud ALVES;

TOMMELEIN, 2007), o gerenciamento das cadeias de suprimentos tem papel

fundamental no alcance de objetivos comuns às empresas e na geração de riquezas

para as mesmas. Porém, torna-se difícil o alcance desses objetivos devido à

complexidade das cadeias de suprimentos, aos interesses conflitantes de seus

participantes e às interações entre os participantes da cadeia através dos fluxos de

informação, dinheiro, produtos e serviços.

Estudos feitos por Laufer e Tucker (1987) e Koskela (1992 apud ALVES;

TOMMELEIN, 2007) apontam que as características das cadeias de suprimentos

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estão ligadas às características da indústria em questão. No caso da indústria da

construção civil, a fragmentação, instabilidade, projetos únicos e organizações

baseadas em projetos e alta dependência da mão de obra levam a definições de

características das cadeias de suprimentos propostas por Vrijhoef, Koskela (2000)

onde os suprimentos convergem para o canteiro de obras; organizações temporárias

(canteiro de obras) são formadas para suprir e construir um projeto de cada tipo e,

os produtos feitos a partir de uma solicitação onde cada projeto cria um novo

produto.

Fazendo uso de uma analogia feita por Barbosa, Muniz e Santos (2008), o canteiro

de obras pode ser tomado como uma unidade fabril com um olhar de indústria

seriada, existindo uma sucessão de serviços, manuseios, movimentações e

armazenagens, nessa analogia surgem às diversas organizações internas que

garantem as relações de continuidade da produção e de qualidade do produto. Com

caráter independente, as equipes de trabalho constituídas em cada etapa específica

da obra interagem, de um lado, com os fornecedores externos (fornecedores) e, do

outro lado, o consumidor interno (operários). Essa analogia é valida desde que se

contornem as peculiaridades da construção civil como imobilidade do produto, mão

de obra desqualificada e com alta rotatividade, alto custo e tempo elevado de

produção, etc.

Na construção civil, segundo Palácios (1994 apud HAGA, 2000), os setores de

suprimentos nas construtoras se organizam em três categorias básicas apontando

suas características:

Tabela 2: Organização do Setor de Suprimentos

Fonte: (PALÁCIOS, 1994 apud HAGA, 2000, p.79)

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A adoção de um dos tipos de organização citados vai depender do porte e do nível

de organização diante de cada empreendimento a qual a empresa estará

relacionada.

3.2. RELAÇÃO ENTRE LOGÍSTICA E CADEIA DE SUPRIMENTOS

Vários autores apontam diferenças entre cadeias de suprimentos e logística.

Enquanto a primeira é entendida como a integração dos processos chaves do

negócio, a partir do usuário final e através dos fornecedores de produtos, serviços e

informações que agregam valor aos clientes e a todos os envolvidos direta e

indiretamente, a segunda é considerada apenas parte do processo da cadeia de

suprimentos que planeja, implementa e controla o fluxo e o estoque de bens,

serviços e informações.

Bowersox, Cooper e Closs (2006) trazem uma comparação interessante onde à

cadeia de suprimentos pode também ser chamada de cadeias de valor2 ou cadeias

de demanda compreendendo empresas que colaboram para alavancar

posicionamento estratégico e melhorar eficiência das operações, e que a logística

seria somente o trabalho exigido para mover e posicionar o inventário na cadeia de

suprimentos.

De acordo com Filho, Jobim e Estrada (2002), nota-se em algumas das bibliografias

analisam as cadeias sob a perspectiva da logística, ou sob o enfoque da interação

de componentes interdependentes; em outras, as definições focalizam a distribuição

física ao longo da cadeia, ou ainda, conceituam em dois níveis distintos: estratégico

e tático. Estratégico no âmbito de negócios e tático no âmbito operacional.

Larson e Harlldorsson (2002 apud COSTA; RODRIGUEZ, LADEIRA, 2005)

baseando-se numa analise de posições acadêmicos e práticos dessa relação

“cadeia de suprimentos x logística” identificaram quatro perspectivas a respeito: re-

rotulista, tradicionalista, unionista e inter-seccionista.

2 Segundo Porter (1985 apud Isatto, 2005), é a denominação dada a um conjunto de atividades relacionadas dentro de uma determinada empresa de forma a projetar, produzir, comercializar, entregar e dar assistência técnica aos produtos com o objetivo de diagnosticar e identificar fontes para a obtenção de vantagens competitivas por meios de análise sistemática das atividades desenvolvidas.

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24

A primeira perspectiva, a re-rotulista defende que a cadeia de suprimentos, também

chamada de logística integrada, seja uma evolução da logística através de

combinações de modismos gerenciais.

Já a segunda, a tradicionalista, o conceito é visto como a logística fora da empresa,

incluindo clientes e fornecedores no processo. Esta perspectiva reduzia o

gerenciamento da cadeia de suprimentos a um tipo especial de orientação externa.

A perspectiva unionista surge da visão de que a logística é apenas uma parte

integrante da gestão da cadeia de suprimentos. Por fim, a quarta perspectiva, a

inter-seccionista enxergam a gestão da cadeia de suprimentos de forma ampla

integrando logística, marketing, operações e compras como elementos integradores

e estratégicos.

Semelhante à apresentada por Vieira (2006), Haga (2000) mostra uma visão onde o

gerenciamento logístico na indústria de manufatura abrangia duas grandes linhas: a

administração de materiais (representando atividades desde a fonte das matérias

primas até a entrada nas fábricas) e a distribuição física (transferência de produtos

acabados desde o local de produção até o consumidor final). Segundo ele, por este

fato, algumas bibliografias clássicas como MAGEE et. al. (1985), BOWERSOX

(1986); GOPAL & CAHILL (1992), BALLOU (1992) e LAMBERT & STOCK (1993)

entendiam a logística como simples técnicas que tratava dos fluxos de materiais

dentro de uma visão racional e econômica.

Já outros autores como Christopher (1997 apud HAGA, 2000) tratam a cadeia de

suprimentos como uma rede de organizações (numa relação de dois sentidos) de

diferentes processos e atividades que produzem valor na forma de produto e

serviços, os quais são colocados à disposição do consumidor final. Essa abordagem

proporciona uma visão de toda a cadeia de suprimentos como um único elo,

diferentemente da logística, que tem estrutura fragmentada em áreas funcionais

como compra, fabricação, distribuição e vendas de produtos.

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3.3. A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS

O conceito de gestão da cadeia de suprimentos está diretamente relacionado com a

evolução do escopo do conceito de logística, o qual se modificou de uma visão

interna de empresa, focada na administração de materiais e distribuição física dos

seus produtos aos clientes, para uma visão sistêmica da empresa, integrando os

seus fluxos de materiais e informações com fornecedores e canais de distribuição.

Um importante elemento comum ao longo de todas as abordagens e conceitos de

gestão de cadeias é a questão da visão sistêmica.

Autores mencionam a evolução da gestão da cadeia de suprimentos subdividindo-a

em três fases de acordo com a relação interdependência dos agentes envolvidos. A

primeira fase, que vai dos anos 50 e meados dos anos 60, modificações de ordem

tecnológica, social política e econômica começaram a mexer com a estrutura dos

setores produtivos. O bom momento vivido pela economia possibilitou a evolução da

logística no âmbito empresarial. A abordagem de custo total ganhou importância

depois de observações e estudos sobre a compensação de custos contribuindo

assim, para o início do enfoque de logística integrada. Além das contribuições no

desenvolvimento tecnológico, o pensamento organizacional da produção também foi

desenvolvido e nesse momento o enfoque central estabelecia “que o ótimo do todo

não resultava do somatório dos ótimos das partes, mas dependia de como as partes

integrariam e trabalhavam juntas” (AZAMBUJA, 2002, p.21). Porém ainda havia

conflitos a respeito desse novo enfoque visto que a visão “departamentalizada” do

Taylorismo e do Fordismo ainda prevalecia nas empresas.

Neste período também começa a ganhar força o conceito de agregação de valor ao

produto, valorizando o serviço logístico e a integração com atividades de manufatura

e marketing. Chegando aos anos 60, estudos começaram a considerar nas

pesquisas o fator tempo, que antes era negligenciado devido à facilidade de

localização. Tempo e local oferecem uma nova compreensão do processo logístico.

A segunda fase, dos anos 60 aos anos 80, é marcada pela forte pressão do

marketing na diversificação de produtos, melhor qualidade e na diminuição nos

custos, prazos e entregas da produção. A competitividade começa a se consolidar

como novo desafio para as empresas e nesse quesito os japoneses despontavam

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no mercado. Nesse período ocorreram mudanças importantes no modo de gerir a

produção, incertezas na economia levaram a alta gerência das empresas e dar

ênfase aos procedimentos adotando conceitos de administração da produção como

MRP (Material Requirement Planning) e JIT (Jus In Time). Nos anos 70, apesar de

os conceitos de logística integrada já estarem bem embasados, sua aplicação ainda

encontravam grandes resistências de ordem culturais. Mesmo assim ganhou

relevância dentro da estrutura organizacional de muitas empresas.

Na terceira fase, na década de 80, o conceito de gestão da cadeia de suprimento se

consolida graças ao avanço das comunicações e facilidades computacionais.

Bowersox et. al. (1996, apud AZAMBUJA, 2002, p.23) relata que “a possibilidade de

planejar recursos logísticos inter-relacionando informações de áreas como

marketing, produção e finanças, através de uma integração de base de dados, gerou

um aumento de produtividade sem precedentes”. Nesse período a informação passa

a ser componente fundamental do sistema logístico e a gestão da cadeia de

suprimentos faz com que a logística deixe de ter enfoque operacional para adquirir

caráter estratégico nas empresas evidenciando a relação entre o meio e o

desenvolvimento da gestão da cadeia.

Ainda nessa década, a expressão gestão da cadeia de suprimentos (GCS), utilizada

primeiramente por consultores vem recebendo atenção cada vez maior dos

empresários e pesquisadores, que têm se esforçado para contribuir na estruturação

do conceito.

Comumente, eram empregados termos como administração de materiais,

administração de suprimentos, administração de compras, área de materiais,

gerenciamento de suprimentos, gerenciamento de fornecedores, área de compras

dentre outros.

Além de planejar, organizar, implementar e controlar conforme definição formulada

primeiramente por Henry Fayol, a gestão visa coordenar os componentes da cadeia

não se esquecendo de dar a devida autonomia a estes perante suas atuação na

cadeia (ISATTO, 2005).

Teixeira e Zacarelli (1986 apud HAGA, 2000) apresentam uma abordagem que

permite conceituar e diferenciar o campo de aplicação de cada um dos termos

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segundo a complexidade do mercado fornecedor e a importância do setor de

suprimentos.

Figura 2: Diferenciação dos termos usados para a definição da Cadeia de Suprimentos segundo relação importância do setor x complexidade de fornecedores

Fonte: (TEIXEIRA; ZACARELLI, 1986 apud HAGA, 2000, p.17)

Segundo esta abordagem, quanto mais importante for a atividade de compras da

organização e quanto mais complexo for o mercado fornecedor, o termo gestão da

cadeia de suprimentos seria mais abrangente.

Um dos caminhos para compreender de forma objetiva o que seria a gestão da

cadeia de suprimentos em meio aos outros diversos termos seria relacionar a

mesma ao seu caráter operacional, o que remeteria à coordenação de fluxos de

materiais e informações no ambiente de trabalho delimitando suas interligações

(HAGA, 2000).

Alguns autores limitam o conceito apenas ao aspecto relacionado à gestão de

materiais. Slack et. al. (1997 apud AZAMBUJA, 2002), por exemplo, afirma que o

GCS significa “a gestão da cadeia de suprimentos completa de matérias primas,

manufatura, montagem e distribuição ao consumidor final”. Pires (1998 apud

AZAMBUJA, 2002) considera a GCS como uma visão expandida, atualizada e,

sobretudo, da administração de materiais tradicional como um todo, que abrange a

gestão de toda a cadeia produtiva de forma estratégica.

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Figura 3: Ampliação do escopo da logística

Fonte: (CHING, 1999 apud AZAMBUJA, 2002, p.24)

Essa visão de ampliação de escopo é reforçada pelas definições sobre a gestão da

logística mais aceitas, que são:

“[...] o processo de planejar, implementar e controlar eficientemente, ao custo correto, o fluxo e armazenagem de matérias-primas, estoques durante a produção e produtos acabados, e as informações relativas a estas atividades, desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o propósito de atender aos requisitos do cliente” (COUNCIL OF LOGISTICS MANAGEMENT, 1986 apud AZAMBUJA, 2002);

“GCS é uma forma integrada de planejar e controlar o fluxo de produtos, informações e recursos, desde os fornecedores até o cliente final, procurando administrar as relações na cadeia logística de forma cooperativa e para o benefício de todos os envolvidos” (CHING, 1999 apud AZAMBUJA, 2002, p.25).

Esse entendimento da GCS, no entanto, tem tomado novos rumos sugerindo a ideia

de integração e gestão de processos de negócio. Com base nessa filosofia, Ballou

et. al. (2000 apud AZAMBUJA, 2002) diz que a cadeia de suprimentos seria

composta pelo conjunto de atividades associadas com a transformação e fluxo de

mercadorias e serviços, incluindo também os fluxos de informações das fontes de

matéria prima até os usuários finais integrando as atividades tanto internas, quanto

externas das empresas. Já Christopher (1999 apud AZAMBUJA, 2002) acredita que

os processos são atividades fundamentais e servem para criar e fornecer valor ao

cliente. Assim, a GCS estaria voltado para o alcance, da maneira mais econômica,

da satisfação das exigências do consumidor final por meio da integração dos

processos na cadeia (Figura 4).

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Figura 4: Integração dos processos da cadeia

Fonte: (COOPER; LAMBERT, 2000 apud AZAMBUJA, 2002, p.25).

Vale ressaltar que para se alcançar a integração requerida pela GCS, os processos

precisam estar integrados com fornecedores e clientes com a devida transparência

no compartilhamento de informações. É um conceito que pode estar no nível das

questões estratégicas, ou seja, relacionado aos processos de negócio, como podem

estar também no nível operacional, como controle de fluxos e informações,

eliminação de custos e ineficiências diversas que envolvam quaisquer partes do

ciclo produtivo.

3.4. FLUXOS NA CADEIA DE SUPRIMENTOS: UMA VISÃO SISTÊMICA

Souza (1996 apud AZEVEDO, 1997) ressalta que a "cadeia produtiva que forma o

setor da Construção Civil é bastante complexa e heterogênea, contando com uma

grande diversidade de agentes intervenientes e de produtos parciais gerados ao

longo do processo de produção".

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Tendo em vista toda esta complexidade da cadeia produtiva da construção civil,

procurou-se interpretar o seu funcionamento através de um enfoque logístico.

Segundo Azevedo (1997), a empresa construtora funciona como o principal

integrante da cadeia sendo a responsável pela sincronia dos demais agentes

atuantes na cadeia de suprimentos. A Figura 5 mostra a forma sistêmica que as

atividades devem se inter-relacionar sendo de forma direta ou indiretamente com os

fluxos físicos e de informação.

Figura 5: A cadeia Logística da Indústria da Construção Civil

Fonte: (AZEVEDO, 1997)

A figura expõe, dentro de um caráter sistêmico, o funcionamento do processo da

cadeia produtiva e dos fluxos de materiais e informações onde um conjunto de

atividades predeterminadas pela empresa gera produtos que devem atender às

necessidades dos clientes finais.

Os mecanismos de comunicação e controle são frequentemente mencionados na

bibliografia como um aspecto chave para a gestão da cadeia de suprimentos em

termos da sua coordenação (BALLOU, GILBERT, MUKHERJEE, 2002 apud

ISATTO, 2005).

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De forma análoga, a visão sistêmica da cadeia de suprimentos também é

frequentemente abordada, levando a considerar que existe uma convergência tanto

na importância quanto da necessidade do estabelecimento desta para a gestão da

cadeia (ISATTO, 2005).

Segundo Koskela (1992 apud AZEVEDO, 1997), na construção civil, o canteiro de

obras (setor produtivo) é responsável pelas atividades de fluxo e processamento dos

materiais. Ele defende que a este cabe o papel da realização do produto final. O

referido autor ainda traz uma visualização dos processos administrativos e

operacionais do sistema logístico na construção civil conforme a Figura 6.

Figura 6: Fluxos Logísticos

Fonte: (AZEVEDO, 1997)

Onde:

Fluxo materiais como o mapeamento dos fluxos das matérias primas,

produtos em processos e produtos acabados;

Fluxo monetário-financeiro demonstrando o ciclo econômico (fluxo de caixa);

Fluxo informativo como gerador de informações necessárias tanto para o

controle do fluxo e caixa quanto para a manutenção dos demais fluxos

integrando todo o ciclo do produto desde o fornecedor até o cliente final.

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Segundo Dias (1996 apud AZEVEDO, 1997)

“a informação pode ser vista como o sangue vital de um sistema logístico. Sem um fluxo homogêneo e sem a transferência de informação, é impossível ao sistema logístico funcionar adequada e efetivamente. Com esse fim, é importante que a empresa desenvolva uma estratégia corporativa, adequada às suas necessidades de informação".

3.5. FOCOS PARA A GESTÃO DA CADEIA DE SUPRIMENTOS

O conceito de GCS desde sua interpretação fica claro os seus objetivos. Destes são

citados três objetivos que são considerados fundamentais por autores como

Azambuja (2002), Slack et. al. (1997), Pires (1998) e Ching (1999):

Satisfação dos clientes finais – este aspecto sugere aos membros da cadeia

maximizar seus potenciais para atender o consumidor final com maior

eficiência. Esta eficiência é retratada pela redução de custos e adição de

valor aos produtos finais. Produzir valores que sejam perceptíveis aos clientes

e superior aos concorrentes tendo como pontos principais a qualidade,

velocidade, confiabilidade a flexibilidade e vantagens de custo da produção.

Estratégias que possibilitem obtenção de novos clientes e a fidelização dos

antigos – junto com as estratégias de marketing, visam construir

relacionamentos duradouros com os clientes;

Gerenciamento eficaz e eficiente – simplificar e tornar a cadeia produtiva mais

eficiente sempre analisando a cadeia como um todo para poder solucionar

pontos críticos da cadeia.

Segundo estudo de London e Kenley (2001 apud ALVES; TOMMELEIN, 2007) uma

vez dada a estrutura da cadeia de suprimentos, os estudos que objetivam a melhoria

do seu desempenho deviam considerar suas especificidades e características dos

mercados locais, que segundo Koskela e Vrijhoef (2000 apud ALVES; TOMMELEIN,

2007) poderiam ter quatro focos de atividades (vide esquema na Figura 7) que

orientam trabalhos na gestão de suprimentos, que são:

1. Interação entre o canteiro de obras e seus fornecedores imediatos: Com o

objetivo de reduzir custos e as durações das atividades através da

cooperação entre empresas construtoras, empreiteiras e fornecedores;

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2. Foco na cadeia que fornece suprimentos ao canteiro de obras: Este tem o

objetivo de alcançar a redução de custos por meio de melhorias na logística,

tempo de funcionamento “lead time” e redução de estoques;

3. Transferência de atividades do canteiro para outras localidades: Objetivando

alcançar vantagens utilizando-se de ambientes com maiores controles, fora

do canteiro de obras;

4. Gerenciamento integrado da cadeia de suprimentos com o canteiro de obras:

Fazer com que fornecedores, empresas, clientes e empreiteiros trabalhem de

forma conjunta para melhorar como um todo o desempenho da cadeia de

suprimentos.

Figura 7: Focos de Gestão da Cadeia de Suprimentos

Fonte: (VRIJHOEF; KOSKELA, 2000 apud ALVES; TOMMELEIN, 2007, p.34)

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3.6. MONITORANDO A CADEIA DE SUPRIMENTOS

Muitos autores consideram o setor de suprimentos como a principal ligação entre o

setor administrativo e o canteiro de obras e entre a empresa e seus fornecedores e,

por isso, afirmam que o mesmo assume uma importância estratégica para obtenção

da qualidade na construção e redução do custo total dos empreendimentos.

(PALÁCIOS, 1995 apud OLIVEIRA, LONGO, 2008).

Segundo Oliveira e Longo (2008), acredita-se que tenha chegado o momento de

reformular essas antigas práticas que só trazem às empresas maiores custos de

construção, em função de entregas erradas, retrabalhos, atrasos, esperas e perdas

de produtividade. Porém, faltam muitas coisas a serem feitas para tentar reverter o

quadro que muitas empresas construtoras vivem em relação ao setor de

suprimentos que ainda tem como realidade:

As relações entre empresa construtora e fornecedores são pouco cordiais e

de curta duração, não se estabelecendo vínculos quanto à continuidade de

fornecimento;

As pessoas responsáveis por efetuar as compras, em geral, não possuem

habilidades técnicas para fazer muito mais do que obter, sempre o menor

preço possível, qualquer material solicitado;

Novos materiais e componentes são introduzidos no mercado a cada dia e

poucos fornecedores são descartados por razões de qualidade dos produtos

oferecidos, mesmo porque os fornecedores problemáticos não são facilmente

identificados, devido às deficiências no processo de comunicação obra

escritório;

Há carência de procedimentos para a seleção de fornecedores, uma vez que

existem inúmeros fornecedores para o mesmo produto, uns com mais

qualidade que outros;

O monitoramento da capacidade dos fornecedores em atender solicitações da

empresa construtora quanto a prazos e qualidade é pouco comum;

A inspeção de recebimento é frequentemente contornada e a

retroalimentação é limitada e não sistemática.

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3.7. MELHORANDO O DESEMPENHO DA CADEIA

Considerando-se que uma empresa difere substancialmente de outra, a escolha de

técnicas a serem utilizadas em verdade exige um estudo especial de diagnóstico da

empresa de construção. Entretanto, é consciente o fato de que as empresas de

pequeno porte são incapazes de realizar tal processo, bem como não possuem

recursos financeiros para tanto. No entanto, existem alguns aspectos que poderiam

proporcionar benefícios a quase todas as empresas (HAGA, 2000). Entre eles

podemos destacar os seguintes:

a) Padronização de materiais (matérias primas, componentes, etc.): existem

técnicas específicas para conseguir isto, que geralmente reduzem os custos e

diminuem os prazos de produção;

b) Utilização do conceito de cadastro de materiais: promove uma disciplina

adequada para manutenção, modificação e processamento de listas de

materiais;

c) Sistema de compras centralizadas e programadas: geram maior estabilidade

do relacionamento comprador-fornecedores.

Uma possibilidade de melhorar o desempenho logístico seria a mecanização, porém,

um aspecto limitador na implantação da movimentação mecanizada na construção

civil que também está relacionado com o custo de mão de obra barata é relativo aos

investimentos em máquinas e equipamentos, pois a aquisição dos equipamentos

acarreta desembolsos imediatos com retorno de médio prazo, sendo que a utilização

intensiva de mão de obra não exige montantes significativos de desembolso. Mas é

importante avaliar que padrão de qualidade e benefícios resultantes do investimento

em máquinas e equipamentos proporcionaram ao longo do tempo um diferencial no

desempenho operacional e redução de custos (SOBRAL, 1998).

Conforme a obtenção do sucesso conseguido ao superar os obstáculos e alcançar

os objetivos da GCS, temos como resultado da sua aplicação:

Reestruturação e consolidação de fornecedores e clientes a partir da redução

do número destes e aprofundamento das relações colaborativas;

O compartilhamento de informações e maior integração com clientes e

fornecedores favorecendo redução de níveis de estoques com entregas

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planejadas a partir da demanda da produção e da capacidade dos

fornecedores;

Resolução conjunta de problemas em qualquer estágio do projeto;

Concepção de produtos que possibilitem o maior desempenho da cadeia;

Compatibilização da estratégia competitiva e das medidas de desempenho da

cadeia produtiva.

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4. O ENGENHEIRO ENQUANTO GESTOR

O profissional da engenharia não é um simples aplicador de técnicas necessárias a

proporcionar conforto para a sociedade. Ele é um cidadão apto a propor, planejar,

comandar, pesquisar e atuar em prol do bem comum. De acordo com Avila e

Jungles (2006), é extremamente simplório pensar que o engenheiro civil é

meramente um técnico, dedicando seu tempo apenas a manusear números ou

conceber projetos.

É fato que, qualquer engenheiro da construção irá gerenciar, ou seja, liderar

equipes, planejar e executar serviços técnicos, desenvolver empreendimentos de

construção, etc. e, portanto, ele é tido como um profissional capaz de mobilizar

todos os recursos disponíveis para o cumprimento de suas responsabilidades. Uma

formação de administração/gerência eficaz deve desenvolver nestes profissionais

habilidades de negociação, articulação, liderança, entre outras características

inerentes às suas atribuições.

A literatura menciona a administração como um complexo de arte e ciência, arte

porque faz com que o homem desenvolva seus talentos nas relações interpessoais,

além de cultivar sua própria criatividade e ciência, pois seu campo de estudo visa ao

melhor entendimento do comportamento humano, de suas motivações e do

desempenho para o trabalho, bem como técnicas que aumentem sua produtividade.

Segundo autores como Henry Fayol, Luther Gulik, Peter F. Drucker compartilham a

ideia que administrar é planejar, organizar, comandar, controlar, recrutar, coordenar,

dirigir, informar, orçar, motivar, comunicar, avaliar, desenvolver pessoas, etc.

O engenheiro deverá administrar seu empreendimento e o gerenciar da melhor

forma possível. Gerenciar é definir metas, prover recursos e cobrar resultados, para

isto, ele deve compreender o funcionamento e inter-relacionamento das funções

exercidas pela empresa interna ou externamente.

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Segundo Avila e Jungles (2006, p.24), gerenciar é:

“a arte de dirigir e coordenar recursos humanos, materiais e financeiros, durante a sua execução de um empreendimento, usando técnicas de administração visando atingir qualquer objetivo predefinido quanto a tempo, custo, qualidade e segurança, necessário a propiciar a satisfação do cliente”.

Para obter sucesso na gerência de um empreendimento o engenheiro tem que estar

atento às suas atribuições e responsabilidades não abrindo mão de aspectos de

administração como proposto por Taylor no Princípio da Administração Científica

relatado por Ribeiro (2006) sendo descritos tais como planejamento, onde é

sugerida a substituição da improvisação, o critério individual do operário e a atuação

empírica pelo planejamento do método; seleção, preparo e treino dos trabalhadores

de acordo com suas aptidões, para que este produza mais e melhor; controle, o

trabalho para certificar-se de que está sendo executado de acordo com as normas

estabelecidas e que está obedecendo ao plano previsto; e, distribuição distintamente

às atribuições e responsabilidades para obter maior disciplina na execução do

trabalho.

O engenheiro administrador tem que ter em mente que ele possui responsabilidades

políticas, administrativas e tático-operacionais. Político por estabelecer diretrizes de

atuação, metas a serem atingidas e instituir normas de comportamento na

organização; Administrador, por ter responsabilidade de prover meios necessários à

realização das atividades; e, agente tático-operacional, por dispor de conhecimento

técnico para materializar os projetos.

Por estarem distantes da atividade técnico-administrativa da empresa, atribuições

como as citadas acima são difíceis de serem cumpridas por profissionais de outras

formações. Dentro desta perspectiva, transferir a responsabilidade da gestão de

processos, suprimentos ou da definição de preços para profissionais cujo domínio

das nuanças de engenharia foge a sua formação é, sem dúvida, algo preocupante.

O engenheiro civil, conforme ascende a posições mais altas na hierarquia das

organizações, sofre com o aumento das suas responsabilidades frente ao

desempenho da empresa e aumenta, também, seu nível de relacionamentos

interpessoais dentro ou fora da empresa. Para um bom desempenho das suas

atividades, torna-se necessário ter conhecimento nos diversos ramos da

administração.

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De acordo com Avila e Jungles (2006, p.3),

“mesmo não conhecendo com profundidade as técnicas que rege cada ramo, tenha a sensibilidade de avaliar a sua relevância e a importância no desempenho orgânico da empresa, mobilizando e contribuindo com profissionais formados em outros campos do conhecimento, visando aglutinar conhecimento interdisciplinar necessário a alcançar metas pré-estabelecidas e, consequentemente, o bom desempenho da organização”.

Ressaltando-se ainda da importância e responsabilidades do engenheiro residente,

muitas vezes estes assumem atividades administrativas devido à localização dos

empreendimentos, geralmente fora das sedes. Essa postura é sempre adotada

pelas empresas devido à facilidade de atribuição e redução de pessoal, assim como

o envolvimento e domínio que o profissional tem sobre os processos.

Embasados nas atribuições dos profissionais de engenharia definidas nos artigos 6°

e 7° da Lei Federal n°5.194, publicada em 24.12.1966 e tendo suas atividades

discriminadas na Resolução n°218 do CREA - Conselho Federal de Engenharia,

Arquitetura e Agronomia de 20.07.1973, os engenheiros dispõem de amparo legal

que os habilita ao desempenho das suas funções e para tanto, é fundamental que

este se mantenha atualizado tanto técnica como gerencialmente, participando da

evolução da profissão.

Associando os conhecimentos da tecnologia logística aos conhecimentos e

experiências construtivas o engenheiro civil poderá assumir a funções importantes

na operação logística dentro de seu empreendimento. Fazendo uma breve ressalva

diante desse fato, no caso de uma empresa de médio ou pequeno porte, o

engenheiro civil, na figura de engenheiro residente poderá atuar no processo

logístico programando e controlando toda a aquisição e fluxo de materiais, serviços,

mão de obra e a armazenagem com seu respectivo fluxo de informações

associadas, atribuindo-se a ele, portanto, a gestão da cadeia de suprimentos

necessários à produção, seja de materiais, serviços e mão de obra, cabendo a este

também a análise, acompanhamento e o controle das especificações técnicas do

projeto.

Assim, é necessário que o responsável técnico tenha conhecimento prévio do

empreendimento a ser executado, desde a fase inicial (elaboração do projeto) até a

última fase da obra (acabamento final). Ele deverá tomar para si a responsabilidade

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do planejamento e de todo o andamento da obra dando a atenção devida à logística

de suprimentos. Este profissional tem a função de integrar e coordenar os projetos

construtivos e compatibilizar a interdependência e a interveniência entre os mesmos

procurando, de todas as formas, minimizar problemas como a possibilidade de

descontinuidade da produção por indefinições ou soluções mal formuladas nas

interfaces entre diferentes projetos.

Nesse contexto, o profissional vai usar de um todo um conjunto de metodologias e

processos necessários à realização de um empreendimento que nada mais é a

utilização do gerenciamento. Este gerenciamento, segundo Avila e Jungles (2006) é

dividido em gerenciamento político e gerenciamento estratégico.

O gerenciamento político irá estabelecer os procedimentos necessários a criar

oportunidades de captação de novos serviços, ou seja, captar novos clientes. Este

fará a mediação entre o patrocinador da obra e seus projetistas e executores

estabelecendo responsabilidades e a definição de recursos e tecnologias a serem

mobilizadas.

Já o gerenciamento estratégico, que é o foco de estudo, visa atender às

oportunidades geradas pelo gerenciamento político, tendo o papel de dirigir as

atividades de forma a cumprir o estabelecido no nível político.

O gerenciamento estratégico é mais voltado às ações internas da empresa e

segundo o PMI (Project Management Institute) o universo de conhecimento

necessário para gerenciar projetos consiste no gerenciamento em nove áreas:

integração, escopo, tempo, dinheiro (custo), qualidade, comunicações, recursos,

contratos e fornecimentos e risco (Figura 8).

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Figura 8: Visão geral das áreas de conhecimento de projetos e os processos de gerenciamento de projetos.

Fonte: (PMBOK, 2004, p.11)

Destas, serão úteis para a gestão da cadeia de suprimentos na construção civil as

áreas gerenciamento de comunicações do projeto, gerenciamento de recursos

humanos e gerenciamento de aquisições do projeto.

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O gerenciamento com o objetivo de promover a eficácia do fluxo de informações,

para garantir a transparência na gestão e condições de controle das metas

estabelecidas evitando a ocorrência de falhas ou atrasos devido à falta de

entendimento das atividades a serem cumpridas ou alterações de estratégia ou

sequência destas. Neste será feito a distribuição das informações e relatórios de

desempenho do projeto.

O gerenciamento de recursos humanos irá organizar e gerenciar a equipe do projeto

garantindo a correta alocação de recursos nas atividades a serem realizadas para

que a produção mantenha seus índices de produtividade previstos no planejamento.

Neste será planejado os recursos humanos, será feita a contratação e/ou

mobilização das equipes.

Já o gerenciamento de aquisições do projeto ficará responsável pelas atividades de

aquisição de materiais e mão de obra, além do fluxo e logística de suprimentos de

forma a atender as expectativas do empreendimento. Neste será planejado as

compras e aquisições, seleção e contratação de fornecedores e administração de

contratos.

De posse dos conhecimentos supracitados, elabora-se o planejamento de médio

prazo, que por sua vez, servirá de parâmetros para a programação e controle de

fluxos de suprimentos, assim como, a armazenagem ao longo do desenvolvimento

da obra.

Deverão constar nesse planejamento:

a) Planejamento do canteiro de obras, de forma compatível com as

características e especificidades do empreendimento;

b) Planejamento das atividades a serem executadas, estabelecendo

cronogramas;

c) Caracterização das diversas atividades constituintes da obra e subdividir a

execução da mesma em tarefas, analisando suas interveniências;

d) Planejamento do tempo e espaço das necessidades de recursos materiais e

humanos;

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e) Acompanhamento do desenvolvimento dos serviços e tomada de decisões de

forma hábil e ágil para solucionar interveniências ou corrigir atrasos do

cronograma;

f) Desenvolvimento de um sistema estratégico de informações.

O planejamento tem grande importância em qualquer atividade e se torna um fator

decisivo no desempenho da produção. É fato que deficiências no planejamento e

controle da obra configuram uma das causas da baixa produtividade, elevadas

perdas e da baixa qualidade e dos produtos e serviços fruto da ICC.

Segundo Pires (1995 apud RIBEIRO, 2006), uma das várias questões importantes a

serem resolvidas dentro do processo de formulação e implementação de uma

estratégia de suprimentos diz respeito ao gerenciamento da produção, representado

principalmente pelas atividades de planejamento e controle da produção. A

antecipação das decisões da gerência reduz erros, minimiza perdas e diminui

tempos ociosos, aumentando então, a produtividade.

Nesse contexto o PCP (Planejamento e Controle da Produção) é um sistema, ou

seja, um processo que propicia a introdução de melhorias no processo de produção,

tendo o objetivo de auxiliar o gerente no desempenho das suas funções, facilitando

a comunicação entre os diferentes agentes da produção, dando transparência aos

processos de tomada de decisão. O PCP controla a atividade de decidir sobre o

melhor emprego dos recursos de produção, assegurando, assim, a execução do que

foi previsto no tempo e quantidade certa e com os recursos corretos.

Segundo Riggs (1981 apud RIBEIRO, 2006), a Figura 9 apresenta algumas

atividades estratégicas mais diretas do PCP, onde o resultado destas seria a

confecção de um programa mestre de produção, que por sua vez, torna-se muito útil

ao controle do fluxo de suprimentos e para a designação de atividades já que o

programa mestre irá orientar a produção. Esse processo é complexo e exige adoção

de estratégias e ferramentas para seu acompanhamento.

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Figura 9: Atividades do Planejamento e Controle da Produção

Fonte: (RIBEIRO, 2006)

Para tanto, é necessária uma visão sistêmica das atividades do PCP, a literatura

aborda que o plano inicial deve ser testado conforme os recursos disponíveis e a

capacidade de produção. Pires (2001 apud RIBEIRO, 2006) lista uma série de

atividades/etapas que segundo o mesmo são as principais atividades praticadas nas

empresas em relação ao PCP que são:

Carteiras de pedidos e previsão de vendas – inicia o planejamento da

produção estipulando quais, quantos e quando os produtos devem ser

produzidos;

Planejamento agregado – integrado com o planejamento financeiro,

estabelece os níveis de produção, estoques e capacidade de produção num

horizonte de médio prazo;

Planejamento das necessidades de materiais (MRP) – etapa em que são

definidas as necessidades de cada produto ou componente a ser produzido;

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Programa mestre de produção (MPS) – estabelece quando e em que

quantidade de cada produto num certo horizonte de planejamento;

Planejamento e controle da capacidade – estipulando por meio de parâmetros

adequados quais devem ser os níveis de produção;

Controle da produção – consiste no acompanhamento e tomada de decisões

durante cada etapa de produção objetivando o cumprimento dos prazos

estabelecidos; e,

Controle de estoques – visando conhecer e controlar os níveis de estoque de

produtos.

Para a construção civil, a melhor forma de planejar as ações futuras dentro do

ambiente de canteiro talvez seja considerar o processo de produção e os

respectivos fluxos de suprimentos demandados por este. Nesse contexto, as

considerações sobre fluxos estarão num horizonte de planejamento de médio prazo

tornando-se necessário também de curto prazo. Estes planejamentos tem caráter de

previsão tático-operacional e com o auxílio destes os gestores deverão prover e

administrar os recursos necessários à produção.

As decisões devem ser tomadas conforme as etapas de desenvolvimento do

empreendimento obedecendo às sequências estabelecidas e as devidas previsões

de execução, custos e recursos permitindo a fluidez das atividades do canteiro e

contribuindo para a racionalização dos processos produtivos.

Segundo Avila e Jungles (2006) é necessário que o engenheiro mantenha o

equilíbrio das funções gerenciais básicas (produção, finanças), pois, este deve

dispor de preparo ou capacidade de entendimento nessas áreas dado, numa

eventual necessidade de atuação conjunta com tais áreas. O autor defende que

quanto mais desenvolvida a capacidade de entendimento do funcionamento

orgânico e global da empresa, melhor será sua atuação profissional contribuindo

para o seu sucesso profissional e o sucesso da empresa em que atua.

Para a sobrevivência e bem estar profissional é necessário a atenção do engenheiro

quanto ao tempo de duração, qualidade e custo do empreendimento. Suas decisões

devem ser cuidadosamente planejadas não ficando espaço para deduções e

avaliações baseadas no sentimento quanto ao andamento da obra.

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O que permite o desenvolvimento do profissional e a manutenção existência da

empresa é a preocupação com o futuro, não há outra maneira de gerenciar senão

assumir responsabilidade constante e dispor de coragem para comandar sua

equipe. O grande desafio é resolver os problemas do dia a dia em tempo menor e

com um impacto maior e mais duradouro.

A melhor forma de administrar com a preocupação de resultados duradouros é

planejar as ações futuras a serem realizadas no ambiente construtivo. Para tal, o

planejamento de médio prazo, que possui objetivos táticos, deverá ser elaborado

para que o gerente possa identificar e selecionar quais serão os trabalhos e quais os

recursos necessários para a realização destes num horizonte de tempo de semanas

ou até meses. Daí, são designadas as tarefas e os ritmos de cada atividade de

acordo com a capacidade da mão de obra.

Neste nível de planejamento, uma das principais etapas da sua elaboração é a

análise de restrições. Esta irá “proteger” a produção diminuindo a propagação de

incertezas identificando e atacando as raízes do problema. Em consequência da

redução do grau de incerteza, aumenta-se a confiabilidade e previsibilidade do

cumprimento dos prazos de execução dos serviços permitindo aí a diminuição de

estoques e tempo de produção gerando economia financeira.

De acordo com Mendes Jr. (1999 apud RIBEIRO, 2006) para se utilizar tais

elementos de análise de rede devem o planejador deve detalhar todos os elementos

todos os elementos, tarefas, operações, atividades, necessários para a execução do

projeto; sequenciar todas as atividades a serem desenvolvidas com base nos

recursos disponíveis explicitando-se as possíveis restrições e estimar tempo para

cada atividade com base em dados como a produtividade da mão de obra

empregada nas respectivas atividades.

Técnicas de rede aliadas a ferramentas computacionais configuram recursos

importantíssimos no auxílio à gestão e, dependendo da capacidade de disseminação

de informações e do grau de comprometimento que os engenheiros conseguirem na

sua equipe sem dúvidas podem trazer grandes resultados e melhores desempenho

do setor da construção.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o novo cenário da ICC no Brasil, é notório que a elevada

competitividade, a busca pela excelência, o foco no cliente, as transformações nas

relações de mercado entre as empresas, entre outros aspectos, têm definido novos

paradigmas e imposto novos referenciais de competência para os participantes do

processo de produção no setor da construção civil.

Nesse contexto, a busca de melhor organização, melhor gestão, melhor qualidade,

maior produtividade, menores desperdícios, melhor emprego dos recursos, maior

segurança no trabalho, maior motivação dos trabalhadores, maior retorno social dos

recursos aplicados, menor impacto ambiental, menores preços dos “produtos”

construídos e menores custos dos empreendimentos da construção civil, entre

outros pontos, constitui objetivo que deve ser perseguido por todos os agentes

integrantes das cadeias de suprimentos inter-relacionadas do setor.

O presente estudo visa assim, contribuir para o desenvolvimento e implantação de

conceitos, metodologias e ferramentas voltados para a organização e a gestão de

sistemas de produção que conduzam à melhoria de eficiência e ao aumento de

competitividade dos agentes envolvidos no setor, em especial das empresas de

construção.

Em termos de gestão, as empresas tradicionalmente têm sido estruturadas em

departamentos para facilitar o foco, o estabelecimento de rotinas, a padronização e

o controle do trabalho. Acreditava-se que quanto melhor o desempenho específico

de uma função, maior seria a eficiência do processo em geral. Porém, uma visão de

gestão integrada redireciona essa ênfase tradicional na funcionalidade em um

esforço para se concentrar na realização do processo como um todo. Dentro desse

ponto de vista, três fatores podem melhorar a gestão da cadeia de suprimentos: a

colaboração, a extensão empresarial e a prestação de serviços integrados. As

empresas teriam uma necessidade de compartilhar informações e especialização de

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processos em torno do seu objetivo específico, sem esquecer claro da

competitividade entre as empresas do seu segmento.

Partindo desse pressuposto, uma solução para a gestão da cadeia de suprimentos

busca identificar e alcançar o menor custo total equilibrando as compensações que

existem entre interfaces. O foco principal da gestão é o menor custo total do

processo, que não necessariamente significa o menor custo para a função incluída

no processo. Por exemplo, uma empresa pode pagar mais por um transporte mais

rápido na entrega de um produto ao invés de assumir custos maiores com

estocagem total associada ao processo do mesmo produto.

Ainda com relação à cadeia de suprimentos, é de extrema importância a diminuição

dos problemas de comunicação entre o setor de suprimentos e as obras, quando a

empresa tem organização centralizada do setor. Para os processos internos, é

interessante utilizar computadores interligados entre si e formalizando processos

administrativos facilitando a fluidez de serviços e de materiais para a devida

aplicação nas obras. A disponibilidade destas informações aumenta a flexibilidade

com respeito de saber quanto, quando e onde os recursos podem ser utilizados para

obtenção de vantagem estratégica.

A logística, diante da sua elevada importância como um processo administrativo, foi

adotada nas empresas industriais seriadas, com benefícios inquestionáveis e vitais

ao bom desempenho das mesmas, também aplicável à indústria da construção civil,

porém, ainda se faz necessário um processo de conscientização e divulgação aos

empresários do setor, dos benefícios e as vantagens propiciadas pela tecnologia

logística, podendo ser, até mesmo como um diferencial estratégico e competitivo de

uma empresa.

Na construção civil, a logística inserida no processo construtivo, concentra-se

basicamente no contratante e nos fornecedores e subempreiteiros agrupados em

torno dele. Assim, a opção por delegar parte de sua produção para com intuito de

otimizá-la torna-se um fato cada vez mais recorrente ficando o gestor com uma

dependência cada vez maior nos fornecedores para a etapa de produção

observando aí uma tendência das construtoras em se tornarem empresa

montadoras de edifícios, em um movimento análogo ao da indústria automobilística,

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em que a integração de diversos subsistemas (estruturas, instalações etc.) por meio

de projeto e planejamento sistêmicos e de processos de gestão e controle

específicos no canteiro de obras torna-se o principal meio para a produção

(MOCHO; ROCHA, 2002).

Foram discutidos neste trabalho conceitos de logística, cadeia de suprimento e foi

mostrada que a evolução e aplicação dessas práticas por empresas de manufatura

trouxeram grandes benefícios econômicos chegando a conclusão do importante

diferencial que a gestão da cadeia de suprimentos pode proporcionar a empresa.

Conceitos esses que, através de um processo de abstração e equiparação à

realidade da construção civil, podem sim melhorar o desempenho econômico e

produtivo dos empreendimentos.

Se considerarmos os benefícios que podem ser obtidos a partir do pensamento

amplo e sistêmico da gestão da cadeia de suprimentos aliado ao planejamento e

controle da produção, os engenheiros devem buscar cada vez mais dominar essas

boas práticas a fim de alcançarem o máximo de produtividade e por sua vez,

garantirem o sucesso das suas empresas e elevarem o status da indústria da

construção com o desenvolvimento do setor.

A posição do engenheiro residente evidencia o caráter de administrador desse

profissional frente aos empreendimentos da construção civil. É crescente a busca

por este perfil de gerente entre os donos de construtoras e este pode ser o

diferencial dos novos profissionais que chegam ao mercado. Acredito que o

profissional que desenvolver seus talentos na área de gestão estará à frente dos

demais.

Espera-se com esse trabalho que seja dada uma maior atenção aos processos de

gestão por parte dos engenheiros civis e que estes revejam o modo como

administrar os empreendimentos da construção civil, principalmente nas pequenas e

médias empresas, já que estas são maioria entre as empresas do setor. O objetivo

da discursão feita neste trabalho não foi apresentar um modelo acabado, mas

despertar o interessado para uma visão do processo administrativo.

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SUJESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Dentre algumas possibilidades, sugiro:

a) Desenvolvimento de um modelo de gestão da cadeia de suprimentos

aplicáveis a empresas de pequeno porte;

b) Pesquisar como as pequenas e médias empresas estão gerenciando as

cadeias de suprimentos e como se dá o relacionamento com os fornecedores;

c) Fazer uma modelagem da cadeia de suprimentos e simular a integração dos

agentes envolvidos com o propósito de compatibilizar técnicas produtivas com

equipamentos e fluxos de suprimentos.

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