JOANNA DE ANGELIS - O SER CONSCIENTE

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    O SER CONSCIENTEDIVALDO PEREIRA FRANCO

    DITADO PELO ESPRITO JOANNA DE NGELIS

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    NDICE

    O Ser Consciente

    PRIMEIRA PARTE - A QUARTA FORACAPTULO 1 = A quarta fora

    CAPTULO 2 = Definio e conceitoCAPTULO 3 = O homem psicolgico maduroCAPTULO 4 = Modelos e paradigmasCAPTULO 5 = A nova estrutura do ser humano

    SEGUNDA PARTE - SER E PESSOACAPTULO 6 = A pessoaCAPTULO 7 = Fatores de desequilbrioCAPTULO 8 = Condies de progresso e harmonia

    TERCEIRA PARTE - PROBLEMAS E DESAFIOSCAPTULO 9 = xito e fracassoCAPTULO 10 = Dificuldades do egoCAPTULO 11 = Neurose

    QUARTA PARTE - FATORES DE DESINTEGRAO DA PERSONALIDADECAPTULO 12 = AutocompaixoCAPTULO 13 = QueixasCAPTULO 14 = Comportamentos exticos

    QUINTA PARTE - PROBLEMAS HUMANOSCAPTULO 15 = Problemas HumanosCAPTULO 16 = Gigantes da alma

    CAPTULO 17 = RessentimentoCAPTULO 18 = CimeCAPTULO 19 = InvejaCAPTULO 20 = Necessidade de valorizaoCAPTULO 21 = Padres de comportamento: mudanas

    SEXTA PARTE CONDICIONAMENTOSCAPTULO 22 = O bem e o malCAPTULO 23 = Paixo e libertao psicolgicaCAPTULO 24 = Enfermidade e cura

    STIMA PARTE - A CONQUISTA DO SELF

    CAPTULO 25 = A Conquista do SelfCAPTULO 26 = Mecanismos de fuga do egoCAPTULO 27 = Medo e morteCAPTULO 28 = Referenciais para a identificao do si

    OITAVA PARTE - SILNCIO INTERIORCAPTULO 29 = Silncio InteriorCAPTULO 30 = DesidentificaoCAPTULO 31 = Libertao dos contedos negativos

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    CAPTULO 32 = O Essencial

    NONA PARTE - A FELICIDADECAPTULO 33 = Prazer e gozoCAPTULO 34 = Felicidade em si mesmaCAPTULO 35 = Condies de felicidade

    CAPTULO 36 = Plenificao pela felicidade

    DCIMA PARTE - CONQUISTA DE SI MESMOCAPTULO 37 = O homem conscienteCAPTULO 38 = Ter e serCAPTULO 39 = A conquista de si mesmo

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    O Ser Consciente

    Esmagado por conflitos que no amainam de intensidade, o homemmoderno procura mecanismos escapistas, em vs tentativas de driblar asaflies transferindo-se para os setores do xito exterior, do aplauso e daadmirao social, embora os sentimentos permaneam agrilhoados e ferretea-

    dos pela angstia e pela insatisfao.As realizaes externas podem acalmar as ansiedades do corao,

    momentaneamente, no, porem, erradic-las, razo por que o triunfo externono apazigua interiormente.

    Condicionado para a conquista das coisas, na concepo da metaplenificadora, o indivduo procura soterrar os conflitos sob as preocupaescontnuas, mantendo-os, no entanto, vivos e pulsantes, at quando ressumame sobrepoem-se a todos os disfarces, desencadeando novos sofrimnentos eperturbaes devastadoras.

    O homem pode e deve ser considerado como sendo sua prpria mente.Aquilo que cultiva no campo ntimo, ou que o propele com insistncia a

    realizaes, constitui a sua essncia e legitimidade, que devem ser estudadaspacientemente, a fim de poder enfrentar os paradoxos existenciais parecer eser , as inquietaes e tendncias que o comandam, estabelecendo osparadigmas corretos para a jornada, liberado dos choques interiores emrelao ao comportamento externo.

    Ignorar uma situao no significa elimin-la ou super-la. Tal posturapermite que os seus fatores constitutivos cresam e se desenvolvam, at omomento em que se tornam insustentveis, chamando a ateno paraenfrent-los.

    O mesmo ocorre com os conflitos psicolgicos. Esto presentes nohomem, que, invariavelmente, no lhes d valor, evitando deter-se neles,analisar a prpria fragilidade, de modo a encontrar os recursos que lhe

    facultem dilu-los.Enraizados profundamente, apresentam-se na conscincia sob disfarcesdiferentes, desde os simples complexos de inferioridade, os narcisismos, aagressividade, a culpa, a timidez, at os estados graves de alienao mental.

    Todo conflito gera insegurana, que se expressa multifacetadamente,respondendo por inominveis comportamentos nas sombras do medo e dascondutas compulsivas.

    Suas vtimas padecem situaes muito afugentes, tombando no abandonode si mesmas, quando as resistncias disponveis se exaurem.

    O ser consciente deve trabalhar-se sempre, partindo do ponto inicial dasua realidade psicolgica, aceitando-se como e aprimorando-se sem cessar.

    Somente consegue essa lucidez aquele que se auto-analise, disposto a

    encontrar-se sem mscara, sem deteriorao. Para isso, no se julga, nem sejustifica, no se acusa nem se culpa. apenas descobre-se. identificao segue-se o trabalho da transformao interior para melhor,

    utilizando-se dos instrumentos do auto-amor, da auto-estima, da orao queestimula a capacidade de discernimento, da relaxao que libera das tenses,da meditao que faculta o crescimento interior.

    O auto-amor ensina-o a encontrar-se e desvela os potenciais de forantima nele jacentes.

    A auto-estima leva-o fraternidade, ao convvio saudvel com o seu

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    prximo, igualmente necessitado.A orao amplia-lhe a faculdade de entendimento da existncia e da Vida

    real.A relaxao proporciona-lhe harmonia, horizontes largos para a

    movimentao.A meditao ajuda-o a crescer de dentro para fora, realizando-se em

    amplitude e abrindo-lhe a percepo para os estados alterados de conscincia.O auto-conhecimento se torna uma necessidade prioritria na programtica existencial da criatura. Quem o posterga, no se realizasatisfatoriamente, porque permanece perdido em um espao escuro, ignoradodentro de si mesmo.

    Foi necessrio que surgissem a Psicologia Transpessoal e outras reasdoutrinrias com paradigmas bem definidos a respeito do ser humano integral,para que se pudesse propor vida melhores momentos e mais amplasperspectivas de felicidade.

    A contribuio da Parapsicologia, da Psicobiofsica, da Psicotrnica,ampliou os horizontes do homem, propiciou-lhe o encontro com outrasdimenses da vida e possibilidades extrafsicas de realizao, que

    permaneciam soterradas sob os escombros do inconsciente profundo, ouadormecidas nos alicerces da Conscincia.

    Antes, porm, de todas essas disciplinas psicolgicas e doutrinasparapsquicas, o Espiritismo descortinou para a criatura a valiosa possibilidadede ser consciente, concitando-a ao auto-encontro e autodescoberta arespeito da vida alm dos estreitos limites materiais.

    Perfeitamente identificado com os elevados objetivos da existnciaterrestre do ser humano, Allan Kardec questionou os Espritos Benfeitores.Qual o meio prtico mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida ede resistir atrao do mal?

    Eles responderam: Um sbio da Antigidade vo-lo disse. Conhece-te ati mesmo.(*)

    Comentando a resposta, Santo Agostinho, Esprito, entre outrasconsideraes explicitou: ... O conhecimento de si mesmo , portanto, a chavedo progresso individual. Mas, direis, como h de algum julgar-se a si mesmo?No est a a iluso do amor-prprio para atenuar asfaltas e torn-lasdesculpveis? O avarento se considera apenas econmico e previdente; oorgulhoso julga que em si s h dignidade. Isto muito real, mas tendes ummeio de verificao que no pode iludir-vos. Quando estiverdes indecisossobre o valor de uma de vossas aes, inquiri como a qualificareis se prati-cada por outra pessoa... E prosseguiu: ... d balano no seu dia moral para,a exemplo do comerciante, avaliar suas perdas e seus lucros, e eu vosasseguro que a conta destes ser mais avultada que a daquelas. Se puder

    dizer que foi bom o seu dia, poder dormir em paz e aguardar sem receio odespertar na outra vida.Na anlise diria e contnua dos atos, o auto e o alo-amor sero decisivos

    para a avaliao. A orao e a meditao iro constituir recurso complementarpara afixao das conquistas.

    Quem ora, fala; quem medita, ouve, dispondo dos recursos paraexteriorizar-se e interiorizar-se.

    H, no entanto, estruturas psicolgicas muito frgeis ou assinaladas pordistrbios de comportamento grave. Nesses casos, urge o concurso da Cincia

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    Esprita, com as terapias

    (*) O Livro dos Espri tos. 29 edio da FEB. Questo 919.

    profndas que dispe; e, de acordo com a intensidade do distrbio, torna-senecessria a ajuda do psicoterapeuta, conforme a especificidade do problema,

    que ser eqacionado pela Psicologia, pela Psicanlise ou pela Psiquiatria.Em muitos conflitos humanos, entretanto, ocorrem interfernciasespirituais variadas, gerando quadros de obsesses complexas, para os quaissomente as tcnicas espritas alcanam os resultados desejados, por setratarem, esses agentes pertubadores, de Entidades extracorpreas, pormportadores dos mesmos potenciais das suas vtimas: sentimentos e emoes,inteligncia e lucidez, experincias e vidas.

    *

    O ser consciente austero, mas sem carranca; jovial, porm semvulgaridade; complacente, no entanto sem conivncia; bondoso, todavia

    sem anuncia com o erro. Ajuda e promove aquele que lhe recebe o socorro,seguindo adiante sem cobrar retribuio.

    responsvel, e no se permite o vo repouso enquanto o dever oaguarda. Conhecendo suas possibilidades, coloca-as em ao sempre quenecessrio, aberto ao amor e ao bem.

    S o amadurecimento psicolgico, atravs das experincias vividas,libera a conscincia do ser; e, ao consegui-la, ei-lo feliz, conquistando a Terrada Promisso bblica.

    *

    Este modesto livro, que ora trazemos anlise do caro Leitor, pretende,sem presuno, auxili-lo na conquista da conscincia.

    No apresenta qualquer tcnica nova ou milagrosa. Estuda algumasproblemticas humanas luz da Quarta Fora em Psicologia, colocando umaponte na direo da Doutrina Esprita, que portadora de uma viso profundae integral do ser.

    Confiamos que ser til a algum que se encontre aflito ou fugindo de simesmo, ajudando-o na soluo do seu problema, e isto nos Compensarplenamente.

    Salvador, 19 de maio de 1993.Joanna de ngelis

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    PRIMEIRA PARTEA QUARTA FORA

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    1A quarta fora

    Os estudiosos da criatura humana, embora os rgidos controles exercidospelas conquistas freudianas, anelavam por ampliar os horizontes da compre-

    enso em torno de fenmenos complexos e abrangentes, transumanos,capazes de elucidar problemas profundos da personalidade.As explicaes junguianas amplas, procurando enfeixar nos arqutipos

    todas as ocorrncias da paranormalidade, deixaram espaos parareformulaes de conceitos e especulaes que se libertam dos modelos eparadigmas acadmicos, atendendo com mais cuidado, e observaes menosortodoxas, os acontecimentos desprezados, por considerados patolgicos oufraudulentos.

    Vez que outra, surgiram ensaios e tentativas de ampliao de contedos,como efeito das experincias de Rhine, Wilber, Grof, Kbler Ross, Moody Jr.,Maslow, Walsh, Vaughan, Assagioli, Capra e outros corajosos pioneiros, quese preocuparam em ir alm dos padres estabelecidos, penetrando a sonda da

    investigao no inconsciente e concluindo por novas realidades, antesexecradas, lentamente acumulando dados capazes de suportar refutao,critica e desprezo.

    Era necessrio revisar o potencial humano em toda a sua complexidade,sem preconceitos nem receios.

    As teorias apressadas, que pretendiam reduzir a alma a um epifenmenode vida efmera, vinham sendo superadas pelas pesquisas de laboratrio narea da Parapsicologia, da Psicobiofisica, da Psicotrnica e da Cincia Esprita,cujos dados valiosos avolumaram-se de tal forma, com a contribuio daTranscomunicao Instrumental, que no havia outra alternativa seno ampliaro esquema de interpretao do psiquismo, criando-se o que se convencionoudenominar como a Quarta Fora alm do Comportamentalismo

    (Behaviorismo), da Psicanlise e da Psicologia Humanista que aPsicologia Transpessoal ou profunda.Indispensvel coragem para enfrentar o cepticismo e a arrogncia dos

    acadmicos, dos reducionistas que, mesmo diante do numinoso, de Jung,permaneciam aferrados ao organicismo e hereditariedade, aos fatoresderivados das presses de toda ordem, s seqelas das enfermidadesinfecciosas, aos traumatismos fsicos e psicolgicos...

    Os avanos da Fsica Qntica, a Relatividade do Tempo e do Espao, aTeoria da Incerteza, abriram perspectivas psicolgicas dantes sequersonhadas, tendo-se em vista o conceito do vir-a-ser.

    A abrangncia da conscincia como estgio mais elevado do processoantropolgico-sociolgico-psicolgico do ser, passou a exigir mais acurada

    penetrao, ampliando o quadro de entendimento dos dementes (autist savantou sbio idiota), portadores de capacidades e aptides luminosas,perturbadoras... Revelando-se matemticos, msicos, artistas plsticos,lingistas que, de repente, romperam o vu do silncio e passaram acomunicar-se com lucidez, apresentando dotes de excepcional capacidaderealizadora, puseram-se a exigir elucidaes que destruam as tradiesnegativas, atualizando a predominncia do Esprito sobre a matria, da mentesobre o crebro gravemente danificado, assim demonstrando que preexistemaos rgos e os sobrevivem, ao invs de serem suas elaboraes ou efeitos

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    dos seus mecanismos.A grandiosa contribuio do pensamento oriental, de Buda a Vivekananda,

    a Ramakrishna e outros, dos taostas tibetanos aos fsicos nucleares, enseja areviso dos parmetros aceitos, bem como dos modelos estabelecidos,propondo a identificao de frmulas com aparncia diversa, no entanto, quese harmonizam, unindo as duas culturas a do passado e a do presente

    em uma sntese perfeita, em favor de um homem e de uma mulher holsticos,completos, ao revs de examinados em partes.Esse concurso que se vinha insinuando multissecularmente, logrou impor-

    se atravs das terapias liberadoras de conflitos, tais a meditao, a respirao,a orao, a magnetizao da gua, a bioenergia, os exerccios da tai-chi-chuan, o controle mental de inegveis resultados nas mais variadas reas docomportamento, do inter-relacionamento pessoal, da sade...

    Os diques erguidos pela intolerncia romperam-se ante as novasconquistas, e as tcnicas regressivas da memria, com exclusiva definioteraputica, o uso de algumas drogas psicodlicas como o cido lisrgico, ahipnose, demonstraram que muitos fatores psicopatognicos so anteriores concepo do ser, eliminando a predominncia gentica na condio de

    desencadeadora de psicoses, neuroses, conflitos e tormentos degeneradoresda personalidade...

    A telepatia, a clarividncia, os fenmenos retro e precognitivos, asectoplasmias, os deslocamentos de objetos sem contatos e outros facultarammais acurados exames do indivduo, que a anlise transpessoal pode abordarcom segurana ou neles apoiar-se, a fim de solucionar os enigmaspredominantes em pacientes marginalizados pelas outras correntes daPsicologia ou facilmente rotulados de psicopatas.

    O ser humano constitudo de elementos complexos, que escapam a umaobservao superficial.

    A conceituao materialista de forma alguma atende-lhe as necessidadesticas e sociolgicas, no logrando elucidar o ser psicolgico, exceto quando,ignorando-lhe a realidade transcendente, relega-a indiferena, desconsiderao catalogada de patologia irreversvel.

    O ser dual Esprito e matria do espiritualismo ortodoxo, permaneceincompleto, deixando escapar incontveis expresses de contedo, por falta doelemento intermedirio, processador de inmeros fenmenos que lhecompletam a existncia.

    Somente quando estudado na sua plenitude Esprito, perisprito ematria podem-se resolver todos os questionamentos e desafios que ocompem, alargando-lhe as possibilidades de desenvolvimento do deusinterno, facultando completude, realizao plenificadora, estado de Nirvana, desamadhi, ou de reino dos Cus que lhe cumpre alcanar.

    Essa gigantesca tarefa cabe moderna Psicologia Transpessoal ouQuarta Fora, que inicia um perodo de real compreenso da criatura como serindestrutvel que , fadado felicidade.

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    2Definio e conceito

    Definir, de alguma forma, limitar, restringir. Mesmo quando as definiesso elsticas, reduzem o pensamento e o enclausuram em palavras, retendo

    as largas possibilidades que necessitam ser penetradas.Conceituando a psicologia transpessoal, no nos podemos furtar aos seusparadigmas, que ampliam as linhas das definies clssicas da doutrina psico-lgica em si mesma, de modo a dar-lhe a abrangncia que alcana o serhumano na sua estrutura fsica, psquica e transcendental.

    Remontando-se histria do pensamento psicolgico, encontraremos osseus primeiros postulados na tica filosfica ancestral, que se iniciou noocidente com Anaxmenes e Anaxgoras, percorrendo todos os perodoshistricos at a sua formao organicista, na segunda metade do sculo 19, eprosseguindo pelas vrias escolas freudiana, junguiana, adleriana, enquanto seia ampliando nas concepes humanista, comportamentalista e psicanaltica.

    Nos seus primrdios, a cincia da alma encontrava-se embutida nos

    conceitos socrticos e platnicos, preocupados com a criatura humana dual,cujas origens se encontravam no mundo das idias, para onde retornava apso priplo carnal, a fim de experimentar felicidade ou desdita.

    A sua tica moral, otimista, estimulava ao equilbrio mente-corpo, condutasaudvel e solidariedade com as demais criaturas.

    Procedente de uma realidade metafsica, o ser a ela retornava com osomatrio das experincias adquiridas, que lhe plasmariam futurosrenascimentos na Terra, conforme os contedos existenciais vividos.

    Nessa paisagem, o planeta terrestre pode ser considerado uma escola, naqual se forma e aprimora o carter, desenvolvendo o germe divino que neledorme, qual ocorre na semente com o vegetal...

    Posteriormente, Aristteles lhe agregou a entelquia, e props uma

    criatura trinria, seguindo os modelos da filosofia oriental e recusando-se aceitao dos episdios reencarnacionistas necessrios evoluo.Concomitantemente, as propostas atomistas reduziam o ser humano ao

    amontoado de partculas infinitamente pequenas, esfricas, com ganchos,segundo uns, ou deles destitudos, conforme outros, unindo-se edesestruturando-se graas ao vcuo e ao movimento, resultando, portanto, docapricho do acaso que os rene e des agrega, produzindo vida e morte aosabor das ocorrncias anmalas, eventuais.

    Avanando, paralelamente, em antagonismo estrutural, alcanaramculminncias ora uma, ora outra corrente, atravs de So Tomaz de Aquino oude Leibniz, de Descartes ou Bacon...

    Enquanto o pensamento oriental estruturava o fenmeno psicolgico em

    um ser herdeiro de Deus e a Ele semelhante, isto , portador de recursosinimaginveis que lhe cabe desenvolver, ampliaram-se as concepes emtorno do universo, da criao, da vida, muito antes que a cultura ocidental seapercebesse da causalidade do existir.

    Como verdadeiro ponto de equilbrio apareceu o pensamento tico deJesus, colocando uma ponte psicolgica e filosfica entre as duas civilizaes,desenvolvendo o idealismo socrtico e o reencarnacionismo do vedanta e dabudismo, ento fecundado pelo amor, nico tesouro que logra produzir aplenificao do ser humano.

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    Psicoterapeuta superior, Jesus no foi apenas o filsofo e o psiclogo quecompreendeu os problemas humanos e ensejou contedos libertadores, maspermanece como terapeuta que rompeu as barreiras da personalidade dospacientes e penetrou-lhes a conscincia de onde arrancou a culpa, a fim deproporcionar a catarse salvadora e a recomposio da individualidade aturdida,quando no em total infelicidade.

    Possuidor de transcendente capacidade de penetrao nos arquivos doinconsciente individual e coletivo, Ele tornou-se o marco mais importante dapsicologia transpessoal, por adotar a postura mediante a qual considera oindivduo um ser essencialmente espiritual, em transitria existncia fsica, quefaz parte do seu programa de autoburilamento.

    Conscientizando as criaturas a respeito da sua responsabilidade pessoaldiante da vida, estabeleceu terapias de invulgar atualidade, trabalhando aestruturao da personalidade, com o passo de segurana para a aquisio daconscincia.

    No postulado no fazer ao prximo o que no deseja que ele lhe faa,estatuiu a condio de segurana para a identificao do indivduo consigomesmo, com o seu irmo e com o mundo no qual se encontra, proporcionando

    uma tica simples e facilmente aplicvel, no inter-relacionamento pessoal, semconflito nem culpa.

    Da mesma forma, propondo o auto-aperfeioamento pela superao daspaixes dissolventes, trouxe o futuro para o presente, tornando o reino doscus um estado de conscincia lcida, longe do sono, do sonho e das psicosestotalmente superadas.

    O Cristianismo, no entanto, atravs dos tempos, sofrendo as injunes dospseudoconversos, invariavelmente portadores de grandes traumas e conflitos,procurou castrar e coibir todas as fontes de prazer, as expresses existenciais,mediante regras e dogmas punitivos, que se caracterizaram pela represso,restrio e condenao.

    No obstante os luminares que, de vez em quando, buscaram libertar osindivduos do temor e do dio, levando-os confiana e ao amor, quais SoFrancisco de Assis, Santa Tereza de vila e alguns outros, predominaram aignorncia e o terror, produzindo uma conscincia de culpa coletiva, verdadeiroarqutipo de natureza punitiva, que venceu as geraes e ressurge, ainda hoje,nos indivduos e grupamentos sociais, fazendo-os responsveis pelo deicdiono Calvrio confundindo Jesus com Deus ou, mais remotamente, com aherana da tentao, em que Eva tombou, levando Ado ao erro, assimtornando a mulher inferior no processo humano da evoluo, em flagrantedesrespeito ao simbolismo da criao humana, que passou condio derealidade.

    O culto ao mito, ao smbolo, ao fantasioso, aceitao do modelo, so

    necessidades psicolgicas, para os mecanismos de transferncia da realidadee fugas da conscincia responsvel.Assumindo a postura teolgica, responde por males que se repetem

    milenarmente, possibilitando alienaes e desditas inimaginveis.A evoluo das cincias vem logrando anular esse efeito pernicioso, e,

    graas ao advento da psicologia esprita com Allan Kardec, recupera-se o serhumano do conflito em que se encontrava, promovendo-o condio depossuidor de valores preciosos que lhe cumpre desenvolver, embora a esforode trabalho paciente e constante.

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    A quarta fora, alargando as imensas possibilidades da psicologia, faz quesejam descortinadas as possibilidades mpares para a perfeita integrao dacriatura com o seu Criador, e da sua com a Conscincia Csmica, pulsante euniversal.

    Nesse homem transpessoal cantam, ento, as glrias da vida e se dilatamos dons nele existentes, em pleno desenvolvimento da sua realidade, que su-

    pera as culpas e as dores, as angstias e as inquietaes, tornando-o pleno efeliz.

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    3O homem psicolgico maduro

    O ser humano o mais alto e nobre investimento da vida, momentograndioso do processo evolutivo que, para atingir a sua culminncia, atravessa

    diferentes fases que lhe permitem a estruturao psicolgico, seuamadurecimento, sua individuao, conforme Jung.Ao atingir a idade adulta deve estar em condies de viver as suas

    responsabilidades e os desafios existenciais. comum, no entanto, perceber-se que o desenvolvimento fisiolgico raramente faz-se acompanhar do seucorrespondente emocional, o que se transforma em conflito, quando umaspecto no identificado com o outro. Em tal caso, o perodo infantil alonga-see predomina, fazendo-se caracterstica de uma personalidade instvel,atormentada, insegura, depressiva ou agressiva, ocultando-se sob vriosmecanismos perturbadores.

    O seu processo de amadurecimento psicolgico, portanto, pode sercomparado a uma larga gestao, cujo parto doloroso propicia especial

    plenificao.Procedente de atavismos agressivos, imantado ainda aos instintos, o sercresce sob presses que lhe despertam a necessidade de desabrochar osvalores adormecidos, qual semente que se intumesce sob as cargasesmagadoras do solo, a fim de libertar o vegetal embrionrio, que seagigantar atravs do tempo.

    Fatores compressivos e difceis de liberados, pelos processos castradoresdo ambiente, quase sempre contribuem para que se prolongue a sua imaturi-dade psicolgica.

    Do ponto de vista tradicional, apresentam-se os fatores hereditrios,psicossociais, econmicos, que colaboram positiva ou negativamente para odesenvolvimento psicolgico, quase sempre contribuindo para a preservao

    do estado de imaturidade.Graas sua constituio emocional e orgnica, na vida infantil o ser egocntrico, qual animal que no discerne, acreditando que tudo gira em tornodo seu universo, tornando-se, em conseqncia, impiedoso, por ser destitudode afetividade ainda no desenvolvida, que o propele liberdade excessiva eaos estados caprichosos de comportamento.

    Passado esse primeiro perodo, faz-se eglatra, acumulando tudo eapenas pensando em si, em fatigante esforo de completar-se, isolando -sesocialmente dos demais ou considerando as outras pessoas comodescartveis, cujo valor acaba quando desaparece a utilidade, de imediatoignorando-as, desprezando-as...

    Em sucesso, apresenta-se introvertido, egosta, possuindo sem repartir,

    detentor de coisas, no de paz pessoal.A imaturidade expressa-se atravs da preservao dos conflitos, graas

    aos quais muda de comportamento sem liberar-se da injuno causal, que soa frustrao, o desconforto moral, a presena da infncia. E mesmo quando seapresenta completado, as suas reaes prosseguem infantis, destitudas desensibilidade, no tormento de metas sem significado.

    Para ele, o sentido da vida permanece adstrito ao crculo estreito daaquisio de coisas e sujeio de outras pessoas aos seus caprichos. Torna-se ditador impiedoso, sicrio implacvel, juiz cruel. Proporciona-lhe prazer

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    mrbido a dependncia das massas e dos indivduos particularmente, fruindo,de maneira masoquista, do prazer na dor prpria ou alheia, desenvolvendo adegenerescncia afetiva at o naufrgio fatal...

    Certamente, fatores genticos contribuem para o desenvolvimento ou noda maturidade psicolgica, em se considerando as cargas hereditrias naconstituio orgnica, na cmara cerebral, na aparelhagem nervosa e

    glandular, especialmente nas de secreo endcrina, na constituio do sexo.Todavia, no podemos ignorar a preponderncia do modelo organizadorbiolgico (MOB) ou perisprito, responsvel pela harmonizao dosimplementos de que o Esprito se ir utilizar para o seu processo evolutivo nocorpo transitrio.

    Face a isso, cada pessoa a soma das suas experincias transatas, e suamente o veculo formador de quanto se lhe torna necessrio para o processoiluminativo.

    Essa percepo, o entendimento desse fator, faz-se relevante em qualquerproposta de psicologia trans-pessoal, no estudo das causalidades de todos osfenmenos humanos.

    Os velhos paradigmas e modelos sobre o homem cedem passo

    introduo do conceito do ser ancestral, com toda a historiografia das suasreencarnaes, que se tornam responsveis pelo desenvolvimento do euprofundo.

    A enunciada ciso entre o eu e o si, atvica, desaparece quando a anlisedo perisprito demonstra que a personalidade resulta da experincia de cadaetapa, mas a individualidade a soma de todas as realizaes nas sucessivasreencarnaes.

    Graas a esses fenmenos, as presses psicossociais ambiente,educao, lutas e atividades aparecem contribuindo, de uma ou de outraforma, para a realizao das metas ou reparao delas, em razo dosprocessos de mrito ou dbito de que cada um se faz portador.

    Todos nascem ou renascem nos ncleos familiares e sociais de quenecessitam para aprimorar-se, e no conforme se assevera tradicionalmente:que merecem.

    As cargas de genes e cromossomas, as condies psicos sociais eeconmicas, formam o quadro dos processos de burilamento moral-espiritual,resultantes da reencarnao caldeadora dos dispositivos individuais para aevoluo.

    Tal razo prepondera na elucidao das diferenas psicolgicas dosindivduos, mesmo entre os gmeos uniovulados, defluentes das conquistasanteriores.

    A maturidade psicolgica tem um curso acidentado, feito de sucessos erepeties, por formar um quadro muito complexo na individualidade humana.

    A sua primeira fase expressa-se como maturidade afetiva, quando o serdeixa de ser captativo por fenmeno atvico, para tornar-se ablativo, que afatalidade do processo no qual se encontra.

    Da posio receptiva egosta, profundamente perturbadora, surge anecessidade de crescer e ampliar o crculo de amigos, na sua condio deanimal gregrio, surgindo as primeiras expresses do amor.

    Expande o sentimento afetivo e compreende que o narcisismo e oegosmo somente conduzem auto-destruio, perturbao.

    O amor a chama que arde atraente, oferecendo claridade e calor, ao

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    tempo que alimenta com paz, face permuta de energias entre quem ama eaquele que se torna amado.

    Desenvolve-se ento uma empatia que arranca o ser do seu primitivismo,conduzindo-o imensa rea do progresso, onde a experincia de doaotorna-se enriquecedora, trabalhando pelo olvido do ser em si mesmo com alembrana constante do seu prximo.

    Quem aspira por ser amado mantm-se na imaturidade, na dependnciapsicolgica infantil, coercitiva, eglatra.A afetividade o campo central para a batalha entre as diversas paixes

    de posse e de renncia, de domnio e abnegao, ensejando a predominnciada doao plena.

    No amadurecimento afetivo, o ser esplende e supera-se.O prximo passo o amadurecimento mental, graas compreenso de

    que a vida rica de significados e o seu sentido a imortalidade.Com essa identificao alteram-se os interesses, e as paisagens se

    clareiam ao sol da razo, que consubstancia a f no homem, na vida e emDeus.

    O amadurecimento mental, que se adquire pela emoo e pelo

    conhecimento que discerne os valores constitutivos da filosofia existencial,amplia as perspectivas da realizao completadora.

    Somente aps lograr o amadurecimento afetivo, consegue o mental, porencontrar-se livre dos constrangimentos e das pseudonecessidadesemocionais.

    A conquista da razo relevante, por ser o princpio ordenador,responsvel pela formao do discernimento, que rene em um s conjunto asdiferentes conquistas intelectuais, a fim de que possa utilizar o pensamento demaneira justa, real e compatvel com a conscincia.

    A razo proporciona a superao do fenmeno infantil da iluso, dafantasia, responsvel pelo sofrimento, em se considerando a impermanncia etodos os acontecimentos e aspiraes fsicas.

    A mente, no seu contexto e complexidade, resulta de duas expresses dasua natureza: o intelecto e a razo, sendo a segunda de formao discursiva ea primeira de carter intuitivo.

    Disso decorrem duas condutas de aprendizagem no que tange aopensamento e ao seu uso correto.

    Pensar acertadamente uma meta elevada, porque nem todo ato depensar corretamente o , face interferncia dos desejos e supostasnecessidades. Assim, a concentrao nos objetivos ideais, distinguidos dosimaginados, leva correo do pensamento.

    H uma grande variao de nveis de pensamento, resultantes dasconquistas intelectuais.

    Para que ocorra o amadurecimento se torna indispensvel pensar,exercitando a mente e ampliando-lhe a capacidade de discernir.Logo se apresenta o desafio do amadurecimento moral, responsvel pela

    superao dos instintos, das sensaes grosseiras, imediatistas.A escala dos valores rompe os limites das convenincias restritivas e

    interesseiras, para apoiar-se nos cdigos da tica universal, ancestral eperene, que tm, por base, Deus, os seres, a natureza e o prprio indivduo,compreendendo-se que o limite da prpria liberdade comea na fronteira dodireito alheio, nunca aspirando para si o que no gostaria de receber de ou-

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    trem...A maturidade moral liberta, por despedaar os cdigos da hipocrisia e das

    circunstncias que facultam o desenvolvimento do egosmo, da vaidade, daautocracia.

    Essa realizao moral dinmica e entusiasta, alargando aspossibilidades de crescimento tico, esttico e espiritual do ser.

    Dois sensos morais surgem no contexto da maturao: o convencional que o aceito, oportunista e, s vezes, amoral ou imoral, porque impostopelas convenincias de cada poca, civilizao e cultura e o verdadeiro que supera os limites ocasionais e sObrepaira legtimo em todas as pocas,qual aquele estatudo no Declogo e no Sermo da montanha.

    A conquista da maturidade moral verdadeira torna-se indispensvel para aauto-realizao do ser e da sociedade em geral.

    Vencida essa etapa, a maturidade social surge naturalmente, porque,autoconhecendo-se e autotrabalhando-se, o homem psicolgico torna-seharmnico no grupo, aglutinador, compreensivo, lder natural, proporcionandobem-estar em sua volta e alegria de viver.

    O amadurecimento psicolgico imperativo que surge naturalmente, ou

    por necessidade que se estabelece no processo da evoluo.O ser imaturo, ambicioso, apaixonado, frustra-se, irrita-se sempre, mata e

    mata-se, porque o significado da sua vida o ego perturbador e finito, circular-estreito e sem metas.

    Superar o estado egocntrico, para tornar-se til socialmente, caracterizao rompimento com o crculo familiar da infncia e abre-o comunidade, que agrande escola da vida.

    O indivduo no pode viver sem relacionamentos, pois que, por contrrio,aliena-se.

    O seu desenvolvimento deflui dos contatos com a natureza e as criaturas,dos seus inter-relacionamentos pessoais, renunciando liberdade interior, afim de plenificar-se no grupo.

    Com o conflito embutido no comportamento pessoal, torna-se impossvel orelacionamento social. Indispensvel que sejam realizados encontros e experi-ncias de grupos, gerando adaptao e convivncia salutar com outraspessoas.

    Quem lograr a sua conscincia individual, supera a violncia, aseparatividade e, afetuoso, racional, integra o grupo social promovendo-o edesenvolvendo-se cada vez mais, rico de compreenso, fraternidade, amor epaz.

    O homem maduro psicologicamente vive a amplido infinita dasaspiraes do bom, do belo, do verdadeiro, e, esvado do ego, atinge o self,tornando-se homem integral, ideal, no rumo do infinito.

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    4Modelos e paradigmas

    O processo da evoluo antropolgico, sociolgico, psicolgico dahumanidade vem impondo, ao largo do tempo, necessrias releituras e

    revises de paradigmas variados, que entram em choque com as descobertasdo pensamento e a natural aceitao cultural de processus renovadores,estruturados na experincia humana diante dos conceitos tradicionais.

    Na rea psicolgica, por exemplo, a rigidez dos postulados ancestrais vemsofrendo fissuras estruturais diante da volumosa contribuio das filosofiasorientais, ora desveladas ao ocidente, ao mesmo tempo em que as conquistasrelevantes da Parapsicologia, da Psicotrnica, da Psicobiofsica, da FsicaQntica, da Biologia Molecular, vm confirmar os paradigmas do Espiritismo,dilatando o campo da realidade humana antes do bero e depois do tmulo, assim modificando a concepo dos estados alterados de conscincia, quedeixaram de ser patolgicos para se confirmarem como de naturezaparanormal.

    Como conseqncia, o estudo e a observao imparciais dos fenmenosanmicos e medinicos no mais se submetem aos modelos estreitos dapsicologia tradicional, tornando-se urgente a adoo do comportamentotranspessoal, face sua abrangncia, no que diz respeito ao homem integral.

    Criada pela necessidade de atualizao urgente de novos e complexosparadigmas, graas ao devotamento de homens e mulheres notveis, queaprofundaram na vida parafsica a sonda da investigao psicolgica, a quartafora pode contribuir para uma interpretao mais coerente e racional do serpensante, sem descartar a possibilidade da precedncia e sobrevivncia daconscincia concepo fetal, assim como anxia cerebral.

    Antes desprezadas ou marginalizadas por contundente preconceito, asmanifestaes paranormais deixaram de ser epifenmenos do sistema

    nervoso, para tornarem-se expresses da realidade em nveis mais profundosda conscincia humana.

    O advento da Psicologia Transpessoal ocorreu no momento grave dodesalinho comportamental das geraes novas, dos anos sessenta destesculo, e por se tornar evidente a necessidade do desenvolvimento daPsicologia Humanista, surgida na ocasio, mediante a ampliao dos seusconceitos e a aceitao de novos paradigmas, qual sucedeu, na dcadaimediata, consoante previra Maslow...

    Assim, a Psicologia Transpessoal tem como meta ampliar a sua rea depesquisa levando em conta as experincias do ser, em laboratrio e nocomportamento humano, vinculadas s necessidades do equilbrio da sadefisiopsquica e da satisfao plenificadora. Como resultado, estrutura-se nasconquistas da cincia contempornea, unidas s contribuies vivenciais daexperincia oriental, desenvolvendo as possibilidades adormecidas da criatura o seu incessante vir-a-ser.

    A sua proposta objetiva tornar-se parte das multidisciplinas docomportamento, que contribuem para o logro da sade mental.

    Impossvel descartar-se hoje os fatos decorrentes dos estados alteradosde conscincia, que so importantes para o equilbrio fisiolgico e o bem-estarpsicolgico dos indivduos.

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    5A nova estrutura do ser humano

    medida que a Psicologia vem aprofundando a sonda da investigao nosalicerces psquicos do ser, tentando compreender as alteraes da

    conscincia, mais se agigantam as perspectivas do conhecimento para tornar aexistncia humana mais digna de ser vivida.A sbita mudana de conceitos cartesiano-newtonianos a respeito de

    tempo e espao graas aos admirveis descobrimentos da fsica qntica,face aos nobres intentos vitoriosos das neurocincias e da Biologia molecular,em razo do aprofundado estudo do crebro atravs da holografia, diante daanlise cuidadosa dos estados alterados de conscincia por meio da hipnose,da aplicao de drogas psicodlicas, da meditao, ensejou melhor visoem torno do ser humano e sua grandiosa dimenso.

    Estudos acurados dos hemisfrios cerebrais concluram que o esquerdo responsvel pela razo e lgica, pelas funes verbais, pela globalizao,enquanto o direito se encarrega do comportamento mstico, indutivo, intuitivo,

    orientao espacial... Como conseqncia, estabeleceu-se que, nos ocidentais,o hemisfrio esquerdo mais desenvolvido do que o direito, esse mais usadopelos orientais e, por isso mesmo, portador de mais amplos recursos.

    Por outro lado, graas aos estudos e observaes de algunsneuropsiquiatras, constatou-se que todo o crebro detector da memria,necessitando de ser devassado para melhor compreender-se os mltiplosfenmenos paranormais de que se faz instrumento, ora inconscientemente,noutras ocasies mediante indues, concentraes e contribuiesconscientes.

    A Psicologia Transpessoal e a Parapsicologia, unindo-se para interpretaros estados alterados de conscincia, eliminando a esdrxula e tradicionalexplicao de que so fenmenos patolgicos, aproximam-se da realidade do

    Esprito, que indissocivel de todo acontecimento fsico e psquico.Toda a gama de fenmenos parapsicolgicos na ordem psigama clarividncia, telepatia, pre e retrocognio, escrita automtica ou psikapa transporte, ectoplasmia, desmaterializao, bicorporeidade conduz certezade um agente racional e lcido o Esprito como causa de todas asmanifestaes, encontrando-se encarnado ou no.

    O ser organicista, em razo disso, cede lugar ao indivduo psi ou espiritual,portador de percepes extra-sensoriais e faculdades medinicas, que lheconstituem instrumentos de trabalho e progresso, mediante as experinciascontinuadas na esteira das reencarnaes.

    O Esprito a base da Psicologia Transpessoal, conforme demonstra aCincia Esprita, em inumerveis experincias medinicas.

    Essa viso nova explica os desarranjos comportamentais, as diferenas decoeficiente intelectual, os estados patolgicos variados, ao mesmo tempoenriquecendo as psicoterapias com arsenal de informaes libertadoras,hauridas no estudo das obsesses, das reencarnaes e dos desconsertosmedinicos.

    Desse modo, o ser humano supera a condio reducionista a que foisubmetido por alguns psiclogos e amplia a dualidade corpo-esprito, paraapresentar-se em estrutura completa, que abarca todas as ocorrncias que lhesucedem.

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    Organizando o corpo somtico, o Esprito se utiliza dos equipamentos doperisprito, tornando-se o indivduo um ser trino, no qual a morte fsica dilui aforma sem aniquilar a sua realidade, transferindo, mediante o corpointermedirio, para o Esprito que sedia a vida, conquistas e prejuzos que lheprogramam os futuros renascimentos.

    A unicidade da existncia corporal no corresponde realidade, face s

    diferenas morais, culturais, sociais, psicolgicas, orgnicas, que caracterizamas criaturas humanas, estagirias nos mais diferentes patamares da vida.A reencarnao, pelo contrrio, faculta a compreenso dos fenmenos

    evolutivos, favorecendo todos os seres com as mesmas possibilidades decrescimento, desde a monera ao arcanjo, vivenciando as mesmasoportunidades e adquirindo sabedoria conquista do conhecimento e do amor que culmina em sua plenitude.

    Reconhecida a nova estrutura do ser humano Esprito, perisprito ematria a Psicologia pode melhor penetrar nos arcanos do inconsciente, quepossui todo o conhecimento de tempo passado, presente e futuro como adimenso de espao o infinito no finito.

    Sediando o Esprito, conforme a viso esprita assevera, a lei de Deus est

    escrita na conscincia (*) detentora da realidade, que a pouco e pouco se des-vela, conforme a evoluo do prprio ser, no seu processo de lapidao devalores e despertamento das leis que nela dormem latentes.

    Nos alicerces do inconsciente se encontram todas essas bnos que,lentamente, assomam conscincia e se tornam patrimnio da lucidez,fazendo o ser compreender que nem tudo quanto pode fazer, deve-o; damesma forma que nem tudo quanto deve, pode; conseguindo a sabedoria defazer somente o que deve e pode como membro consciente que age de acordocom a harmonia csmica.

    Esse, o grande desafio para a Psicologia profunda, qual seja, avanarcada dia mais na interpretao do ser humano, sem deter-se em modelosestticos, tradicionais, atenta s informaes das demais cincias e doEspiritismo, assumindo uma posio aberta e holstica.

    (*) Questo 621 de O Livro dos Espritos de Allan Kardec. - Nota daAutora espiritual.

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    SEGUNDA PARTESER E PESSOA

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    6A pessoa

    Bocio, poeta e filsofo da decadncia romana, nos sculos 5 e 6, definiua pessoa como constituda por uma substncia individual de natureza racional.

    A filosofia, atravs dos sculos, buscou demonstrar que a pessoa distintado indivduo e do ser psicofsico, o que deu margem a consideraes demora-das por pensadores e escolas variadas.

    Santo Tomaz de Aquino, por exemplo, preferiu seguir o conceito deBocio, que teve muita influncia significativa durante a Idade Mdia, enquantoEmmanuel Kant se apoiou em contedos mais profundos, quando da anliseda pessoa em si mesma.

    Do ponto de vista psicolgico, a pessoa um ser que se expressa emmltiplas dimenses, desde os seus contedos humanista, comportamentalistae existencial, a novos potenciais que estruturam o ser pleno.

    A psicologia ocidental, diferindo da oriental, manteve o conceito de pessoanos limites bero-tmulo com uma estruturao transitria, enquanto a outra

    sustenta a idia de uma realidade transcendente, embora a sua imanncia naexpresso da forma e relatividade corporal.Os estudos transpessoais, incorporando as teses orientais, consideram a

    pessoa um ser integral, cujas dimenses podem expressar-se em vriasmanifestaes, quais a conscincia, o comportamento, a personalidade, aidentificao, a individualidade, num ser complexo de expresso trinria.

    No apenas o corpo, o ser psicofsico, porm, a matria efeito , operisprito modelo organizador biolgico e o esprito a individualidadeeterna.

    No pretendemos inovar modelos, antes resumir correntes e apresentaruma sntese.

    A viso transpessoal esprita, porque completa, elucida os inmeros

    fenmenos paranormais de natureza anmica e medinica que caracterizam aexistncia humana. concedendo-lhe dinmica imortalista e contedo designificado, de causalidade.

    A pessoa, observada do ponto de vista imortal, preexistente ao corpo, esua origem perde-se nos milnios passados do processo evolutivo, desenvol-vendo-se fiel a uma fatalidade que se manifesta em cada experincia corporal reencarnao como aquisio de novos implementos, faculdades efunes que tangenciam ao crescimento e felicidade.

    A pessoa sintetiza, quando corporificada, as dimenses vrias que lhecumpre preservar e aprimorar, facultando o desabrochar de recursos que lhefazem embrionrios e so essenciais ao seu existir.

    A conscincia

    Jung definiu a conscincia como a relao dos contedos psquicos com oego, na medida em que essa relao percebida como tal pelo ego.

    A complexidade, no entanto, das conceituaes de conscincia, nemsempre responde aos contedos de que se constitui.

    Para entend-la, necessrio situ-la alm dos limites do sono, do sonho,do delrio, e estabelec-la como condio de tima ou lcida, na qual os

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    episdios psicticos cedem lugar normalidade, ao discernimento, aoequilbrio gerador de harmonia.

    A psicologia tradicional, aferrada ao organicismo ancestral, prefere ignoraros elevados nveis de conscincia, nos quais os estados alteradostranscendentes facultam a viso dilatada da realidade, sem os limites do realaceito, do real psictico, do real em sonho.

    As experincias nas diversas reas de conscincia alterada, conseguidaspor substncias psicodlicas ou atravs de meditao profunda, ao invs derevelarem situaes patolgicas, abrem perspectivas fascinantes para terapiasliberadoras e que proporcionam dilatao do conhecimento e do sentido maisamplo da vida.

    A psicologia filosfica do oriente sempre proporcionou os estados deplenitude e nirvana, ensejando a superao dos limites do estgio de nor-malidade, atravs de transes e da contemplao profunda.

    A conscincia adquirida a perfeita identificao do conhecimento e dofazer, do saber e do amar faculta a ampliao das prprias possibilidadespara penetrar em dimenses metafsicas, onde outras realidades so bases doser pessoal.

    O comportamento

    As atitudes que caracterizam a pessoa resultam do convvio social e dasaspiraes cultivadas, gerando a conscincia individual, que responde pela dogrupo social, face aplicao dos valores adquiridos.

    Ressaltam, no comportamento, as ambies do desejo, responsveis pelograu de libertao emocional, ou presdio, no qual o ser transita pelos vnculosque se permite desenvolver.

    A pessoa , acima de tudo, a sua mente. O que elabora, torna-se; quantocultiva, experimenta.

    A mente algema e libera, necessitando de austeras disciplinas para sercomandada, ao invs de ser a dominadora irredutvel.

    Nesse imperativo, o desejo expressa a qualidade evolutiva da pessoa,respondendo pela conduta e pelos fatores da decorrentes.

    O comportamento impe necessidades e as expressa simultaneamente,definindo a pessoa.

    Somente o autoconhecimento favorece o comportamento com aspossibilidades de desenvolvimento pessoal, estruturador profundo do serimortal.

    A personalidade

    Em permanente representao dos contedos mentais, e dominada pelaimposio das leis e costumes de cada poca e cultura, a personalidade repre-senta a aparncia para ser conhecida, no raro, em distonia com o eu profundoe real, gerador de conflitos.

    A personalidade transitria e assinala etapas reencarnacionistas,definidoras de experincias nos sexos, na cultura, na inteligncia, na arte e norelacionamento interpessoal.

    Cada pessoa reencarna com as caractersticas herdadas das experinciasanteriores e submete-se aos condicionamentos de cada fase, por ela transitan-

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    do com os seus sinais tipificadores.Assimilar todos os condicionamentos e exteriorizar uma personalidade

    consentnea com o ser real, eis o desafio da terapia transpessoal, trabalhandoa pessoa para que assuma a sua realidade positiva e superior, crescendo emcontedos mentais e desencarcerando-se, at permitir-se a perfeita harmoniaentre ser e parecer.

    A identificao

    De duas formas a pessoa se identifica com os valores do progresso:externa e internamente.

    A identificao externa impe as lutas e os conflitos da assimilao doscomportamentos sociais, nos quais o apego assume a condio maisimportante, a primeira e ltima da existncia.

    O apego externo, no entanto, menos danoso do que o interior,responsvel pelos vcios e paixes degenerativos, que conduzem a patologiasdolorosas, crueis.

    A identificao assinala o estgio de evoluo de cada pessoa, fadada

    elevao, que, para conseguir, deve liberar-se daqueles valores,desidentificando-se de hbitos milenrios, fixados, alguns, atavicamente, aospainis do ser, gerando falsas necessidades, que se tornam fundamentais,portanto responsveis pelo sofrimento nas suas vrias facetas.

    A psicologia oriental estabelece na iluso, na impermanncia da vidafsica, com as quais a pessoa se identifica, algumas preponderantes razespara o sofrimento.

    A desidentificao induz conquista de patamares elevados, metafsicos,nos quais o ser se auto-encontra e se realiza.

    A individualidade

    Somatrio de todas as experincias, a individualidade o ser pleno epotente, que alcanou a auto-realizao.

    Imperecvel, a individualidade o Esprito em si mesmo, que rene asdemais dimenses e sabe conscientemente o que fazer, quando faz-lo ecomo realiz-lo, para ser a pessoa integral, ideal.

    Enquanto a filosofia informava que a pessoa no o indivduo, na viso dapsicologia profunda, este, que superou os condicionamentos ecomportamentos pessoais de conscincia livre, o ser total, pessoa transitria,individualidade eterna.

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    7Fatores de desequilbrio

    A sade da criatura humana resulta de fatores essenciais que lhecompem o quadro de bem-estar: equilbrio mental, harmonia orgnica e

    ajustamento scio-econmico. Quando um desses elementos deixa de existir,pode-se considerar que a sade cede lugar perturbao, que afeta qualquerrea do conjunto psicofsico.

    Sendo, a criatura humana, constituda pela energia que o Esprito envia atodos os departamentos materiais e equipamentos nervosos, qualquer distoniaque a perturbe abre campo para a irrupo de doenas, a manifestao dedistrbios, que levam aos vrios desconsertos patolgicos, conhecidos comoenfermidades.

    Por isso, possvel que uma criatura, em processo degenerativo, possaaparentar sade, face ausncia momentnea dos sintomas que lhe permitemo registro, a percepo do insucesso.

    Da mesma forma, podemos considerar que, escrava da mente, a criatura

    transita do crcere dos sofrimentos aos portes da liberdade das doenas sade ou vice-versa atravs da energia direcionada ao bem, harmonia, ousob distonias, conflitos e traumas.

    De relevantes significados so os contedos negativos do comportamentoemocional, geradores das disritmias energticas, que passam a desvitalizar oscampos nos quais se movimentam, enfraquecendo-os e abrindo-os sintoniacom os microorganismos degenerativos.

    Entre os muitos fatores de destruio do equilbrio, anotemos o amor, aangstia, o rancor, o dio, que se convertem em gigantes da vida psicolgica,com poderes destrutivos, insuspeitveis.

    A mente desordenada, que cultiva paixes dissolventes, perde o rumo,passando a fixaes neurticas e somatizadoras, infelizes, que respondem

    pelos estados inarmnicos da psique, da emoo e do corpo.Os contedos do equilbrio expressam-se no comportamento, propiciandomodelos de criaturas desidentificadas com as manifestaes deletrias do meiosocial, das constries de vria ordem, das dominaes bacterianas.

    A auto-anlise, trabalhada pela insistncia de preservao dos ideaissuperiores da vida, o recurso preventivo para a manuteno do bem-estar eda sade nas suas vrias expresses.

    O amor

    Confundidas as sensaes imediatas do prazer com as emoesemuladoras do progresso moral, o amor constitui o grande demolidor das

    estruturas celulares, pela fora dos desejos de que se faz portador.Certamente, referimo-nos ao amor bruto, asselvajado, possessivo, que

    situa no desejo a sua maior carga de aspirao.Ocultando frustraes pertinazes e gerando mecanismos de transferncia

    neurtica, as personalidades atormentadas aferram-se ao amor-desejo, aoamor-sexo, ao amor-posse, ao amor-ambio, deixando-se consumir pelosvapores da perturbao, que a insistncia mental e insensata do gozodesenvolve em forma de incndio voraz.

    O atormentado fixa a sua identidade na necessidade do que denomina

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    amor e projeta-se, inconscientemente, sobre quem ele diz amar, impondo-secom sofreguido irrefrevel, ou acalentando intimamente a realizao do queanela, em terrvel desarmonia interior. A quanto mais aspira e frui, mais exige esofre; se no logra a realizao, mais se decompe, perdendo ou matando,com os raios venenosos da mente em desalinho, as defesas imunolgicas e avibrao de harmonia mental, logo tombando nos estados enfermios.

    A angstia

    A insegurana pessoal, decorrente de vrios fatores psicolgicos, gerainstabilidade de comportamento, facultando altas cargas de ansiedade e demedo.

    Sentindo-se incapaz de alcanar as metas a que se prope, o indivduotransita entre emoes em desconserto, refugiando-se em fenmenos deangstia, como efeito da impossibilidade de controlar os acontecimentos dasua vida.

    Enquanto transite nos primeiros nveis de conscincia, a carncia delucidez dos objetivos essenciais da vida lev-lo- a incertezas, porqanto, as

    suas, sero as buscas dos prazeres, das aspiraes egostas, das promoesda personalidade, sentindo-se fracassado quando no alcana essespatamares transitrios, equivocados, em relao felicidade.

    Aprisionando-se em errneos conceitos sobre a plenificao do eu, queconfunde com as ambies do ego, pensa que ter de relevante importncia,deixando de ser iluminado, portanto, superior aos condicionamentos epresses perturbadoras.

    A angstia, como efeito de frustrao, semelhante a densa carga txicaque se aspira lentamente, envenenando-se de tristeza injustificvel, que ter-mina, s vezes, como fuga espetacular pelo mecanismo da morte anelada, ousimplesmente ocorrida por efeito do desejo de desaparecer, para acabar com osofrimento.

    Normalmente, nos casos de angstia cultivada, esto em jogo osmecanismos masoquistas que, facultando o prazer pela dor, intentam inverter aordem dos fenmenos psicolgicos, mantendo o estado perturbador que, nopaciente, assume caractersticas de normalidade.

    O recurso para a superao dos estados de angstia, quando no tm umfator psictico, a conquista da autoconfiana, delineamento de valores reais eesforo por adquiri-los ou recorrendo ao auxlio de um profissional competente.

    As ocorrncias de insucesso devem ser avaliadas como treinamento paraoutras experincias, recurso-desafio para o crescimento intelectual,aprendizagem de novos mtodos de realizaes humanas.

    Exerccios de autocontrole, de reflexes otimistas, de aes

    enobrecedoras, funcionam como terapia libertadora da angstia, que deve serbanida dos sentimentos e do pensamento.

    O rancor

    Fenmeno natural decorrente da insegurana emocional, o rancor produzcidos destruidores de alta potencialidade, que consomem a energia vital eabrem espaos intercelulares para a distonia e a instalao das doenas.

    Entulho psquico, o rancor acarreta danos emocionais variados, que levam

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    a psicoses profundas e a episdios esquizofrnicos de difcil reparao.A criatura humana tem a destinao da plenitude. O seu passo existencial

    deve ser caracterizado pela confiana, e os acontecimentos desagradveisfazem-se acidentes de percurso, que no interrompem o plano geral daviagem, nunca impeditivos da chegada meta.

    Por isso, os acontecimentos impem, quando negativos, a necessidade de

    uma catarse libertadora, a fim de no se transformarem em resduos de m-goas e rancores que, de contnuo, assumem mais danoso contingente deocorrncia destrutiva.

    A psicoterapia do perdo, com os mecanismos da renncia dinmica,consegue eliminar as seqelas do insucesso, retirando o rancor das paisagensmentais e emocionais da criatura, sem o que se desarticulam os processos deharmonia e equilbrio psquico, emocional e fsico.

    O dio

    Etapa terminal do desarranjo comportamental, o dio txico fulminanteno oxignio da sade mental e fsica.

    Desenvolve-se, na sua rea, mediante a anlise injusta do comportamentodos outros em relao a si, e nunca ao inverso. Fazendo-se vtima, porquepassou a um conceito equivocado sobre a realidade, deixa-se consumir pelocomplexo de inferioridade, procedente da infncia castrada, e descarrega,inconscientemente, a sua falta de afetividade, a sua insegurana, o seu medode perda, a sua frustrao de desejo, em arremessos de ondas mentais dedio, at o momento da agressividade fsica, da violncia em qualquer formade manifestao.

    O dio estgio primevo da evoluo, atavicamente mantido no psiquismoe no emocional da criatura, que necessita ser transformado em amor, medianteterapias saudveis de bondade, de exerccios fraternais, de disciplinas davontade.

    Agentes poluidores e responsveis por distrbios emocionais de grandeporte, so eles os geradores de perturbaes dos aparelhos respiratrio,digestivo, circulatrio. Responsveis por cnceres fsicos, so as matrizes dasdesordens mentais e sociais que abalam a vida e o mundo.

    A sade da criatura humana procede do ser eterno, vem das experinciasem vidas anteriores, conforme ocorre com as enfermidades crmicas, noentanto, dependendo da conscincia, do comportamento, da personalidade eda identificao do ser com o que lhe agrada e com aquilo a que se apega naatualidade.

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    8Condies de progresso e harmonia

    Na estrutura profunda da individualidade humana, encontram-se asexperincias milenrias do ser, nem sempre harmonizadas entre si, geradoras

    de conflitos e complexos negativos que a atormentam.Atavicamente vinculada ainda s sensaes decorrentes da faixa primriapor onde transitou, a lbdo exerce-lhe poder preponderante no comportamento,conforme as constataes de Freud, que a considerou fator essencial na vidahumana. Observando os diversos fenmenos de conduta e as terrveis angs-tias, como exacerbaes da emotividade das criaturas, o mestre de Vienaorganizou todo o edifcio da psicanlise na manifestao sexual castradora ouliberada, bem como na complexa influncia maternopaternal, que desde ainfncia conduziu o ser sob os tabus perniciosos e as constries dos desejosirrealizados, das conscincias de culpa, dos implementos perturbadores dapersonalidade patolgica.

    Estamos, sem dvida, diante de fatores incontestveis, todavia adstritos s

    reas fenomenolgicas e no causais, em se considerando que, herdeiro de simesmo, o Esprito o autor do seu destino nunca ser demasiado repet-lo renascendo em lares nos quais mantm vnculos afetivos e familiares,conforme a sua conduta anterior.

    Face variedade de renascimentos, nem sempre consegue diluir aslembranas que permanecem em forma de tendncias e aptides, de desejos enecessidades. No digeridas, as frustraes, eis que se impem mais graves,ao ressurgirem, na sucesso das ocorrncias comportamentais, em forma dedistrbios psicolgicos de variada catalogao.

    Preocupada com o ser-mquina, a psicologia no tem ensejado umacompreenso maior da criatura, que fica, na viso reducionista, limitada a umfeixe de desejos e paixes primitivas.

    Em uma anlise transpessoal, o ser enriquece-se de valores que lhecumpre multiplicar cada vez mais, autoconhecendo-se e autodisciplinando -se, medida que a sua conscincia adquire lucidez e torna-se tima.

    Abrem-se-lhe ento as perspectivas antes cerradas, e facultam-se-lhe asoportunidades de dilatao do campo intelecto-emocional, passando a venceras seqelas das existncias anteriores, ainda predominantes no psiquismo,que se exteriorizam em forma de desarmonia.

    A desidentificao com os graves compromissos que ainda o atormentamtorna-se factvel, mediante a impregnao com outros ideais e aspiraes maisabrangentes quo agradveis, que passam a povoar-lhe a paisagem mental.

    Nesse esforo, faz-se vivel o autoconhecimento, como primeiro tentamede crescimento psicolgico. A necessidade de tornar a mente um espelho, e

    postar-se defronte dela desnudo, inadivel. Somente atravs de um exameda prpria realidade, observando-se sem emoo o que impede os sen-timentos de autocompaixo como os de autopromoo, de justificao ou culpa consegue-se um retrato fiel do que se , e do que cumpre fazer-se paramais amar-se e ajudar-se como segmento imediato do esforo.

    Enquanto a criatura no se despoja dos artifcios com que se oculta,evitando desnudar-se em uma atitude infantil repressiva, qualquer tentameexterior para o progresso e a harmonia resulta incuo, quando se no tornaperturbador.

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    Ningum culpado conscientemente de ser frgil, fragmentrio,ocorrncias naturais do processo de evoluo. No obstante, a permannciana postura denota imaturidade psicolgica ou manifestao patolgica docomportamento.

    Quando algum aspira por mudanas para melhor, irradia energiassaudveis, do campo mental, que contribuem para a realizao da meta.

    Atravs de contnuos esforos, direcionados para o objetivo, cria novoscondicionamentos que levam ao xito, como decorrncia normal do querer.Nenhum milagre ou inusitado ocorre, nessa atitude que resulta do empenhoindividual.

    O autodescobrimento tem por finalidade conscientizar a pessoa a respeitodo que necessita, de como realiz-lo e quando dar incio nova fase.Acomodada aos estados habituais, no se d conta das incalculveispossibilidades que lhe esto ao alcance, bastando-lhe apenas dispor-se adesdobr-las.

    O auto-encontro pode ser logrado atravs da meditao reflexvel, doesforo para fixar a mente nas idias positivas, buscando saber quem se , equal a finalidade da sua existncia corporal e do futuro que a aguarda.

    Equipada de honesto desejo de eqacionar-se, a esfinge perturbadoraatira-se ao mar do discernimento e desaparece, deixando o indivduo livreseguir, sem a maldita fatalidade de ser desditoso.

    A conscincia liberta-o das heranas paterno-maternais, produzindo oconhecimento lcido e benfico, que se torna filho capaz de conduzi-lo peloscaminhos da vida, sem a imposio caprichosa do deus-destino.

    Ao lado da meditao, encontra-se a ao solidria no concerto social, quealarga as possibilidades no campo onde se movimenta e promove o serprofundo, limpando-o dos caprichos do ego e liberando-o das arbitrriasinjunes limitadoras, angustiantes.

    O intercmbio social com objetivos fraternais rompe as amarras do medo,dando outra dimenso afetividade sem apego, sem paixo, sem desejo,sem neurose , facultando a harmonia pessoal sem ansiedade, semconflito, sem culpa , ensejando sade mental e emocional indispensveis fsica.

    As condies do progresso e harmonia do eu real propem um estudo dasvirtudes evanglicas, uma releitura dos seus fundamentos e posterior aplicaona conduta pessoal.

    Amor indistinto, manifestando-se em todas as expresses e comeandopor si prprio, com segurana de propsitos, metas e realizaes, o passoinicial da fase nova, ao lado do perdo liberador de ressentimentos, desgosto einferioridade geradora de reaes de violncia ou de depresso com carterautopunitivo.

    Na viso transpessoal, o progresso e a harmonia so conquistas internasdo ser humano, que se exteriorizam como entendimento da vida e atrao porela, num empenho incessante de crescer e jamais cansarse, saturar-se oudesistir.

    O progresso fatalidade da vida, e a harmonia resulta da conscinciadesperta para a conquista da sua plenificao.

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    TERCEIRA PARTEPROBLEMAS E DESAFIOS

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    9xito e fracasso

    O estado normal da criatura o de sade, no qual o bem-estar e oequilbrio proporcionam clima respirvel de satisfao.

    Elaborada para um ritmo harmnico de vida, a maquinaria fisiopsiquicaobedece a automatismos precisos, dos quais resultam a sade e asdisposies emocionais, para galgar-se patamares reais elevados nosprocessos das aspiraes idealistas.

    Ser pensante, destaca-se a criatura na escala zoolgica, compreendendoos mecanismos da vida e aplicando o conhecimento para os logros da auto-realizao e da autoplenificao que lhe constituem o pice da sade.

    Sade seria, portanto, um fenmeno natural. No fossem, do ponto devista biopsicolgico, as heranas genticas, os fatores psicossociais, asocorrncias familiares e o convvio do lar, o ser no atravessaria os caminhosdifceis dos distrbios e doenas perturbadoras.

    Considerado o ser apenas como uma mquina, teramos a vida sem

    finalidade nem objetivo, porqanto ele j nasceria sob os estigmas dosancestrais no que diz respeito s heranas genticas, ao lar condicionador e sociedade no caso das distonias e anormalidades, das sndromesdegenerativas e dos fenmenos patolgicos vrios, que determinam asdesgraas de uns, e, por outro lado, os propiciatrios para a felicidade, a sadee a beleza de reduzida faixa dos demais.

    Sem dvida, tal colocao falha pela ausncia de uma sustentao lgica,considerando todas as ocorrncias como procedentes do acaso fatalista eabsurdo...

    A anlise transpessoal do ser concede-lhe dignidade causal e destinaofinal, mediante a travessia do percurso que lhe cumpre trilhar, gerando osmeios felicitadores, ou desditosos, que so efeitos das suas realizaes

    precedentes.Passo a passo, desenvolvem-se os atributos da personalidade, ampliando-se os contedos da individualidade e aprimoram-se as aptides latentes queso o germe da presena divina em todos.

    Possuidor de recursos e potncias no dimensionadas, o ser desabrocha ecresce sob as condies que lhe so inerentes, cabendo-lhe seguir o heliotro-pismo superior que o leva sua destinao gloriosa.

    Impregnado pelas partculas e molculas materiais que o vestem,enquanto reencarnado, no raro a viso do xito apresenta-se-lhe distorcida,caracterizando-se como o deleite contnuo, resultante dos prazeres hedonistasque a posio social relevante e o poder poltico-econmico proporcionam,ensej ando um prolongado desfrutar.

    Esquecendo-se da impermanncia de tudo e da fugacidade do tempo pelo qual apenas transita, na sua dimenso de eternidade desgasta-se, en-velhece, adoece e morre... O imprevisvel surpreende-o, e surgem-lhe asaturao, o desinteresse, os sentimentos apaixonados e os frustrados,proporcionando desequilbrios interiores que se expressaro em tormentospara si e para os outros no inter-relacionamento pessoal.

    Na busca do xito, o ser, psicologicamente imaturo, investe todos osvalores, e na competio encontra o estmulo para galgar os degraus do desta-que, descendo moralmente, na escala dos padres, medida que ascende na

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    aparncia.Essa dicotomia de ocorrncias a interna e a externa resultar em

    infelicit-lo, perturbando-lhe o senso de avaliao e de considerao darealidade, talvez ferindo profundamente a pessoa.

    Caa-se o xito como se fosse, na floresta humana, o objetivo essencial vida, confundindo-se triunfo de fora com realizao de harmonia interior.

    Denigre-se ento o adversrio, que no o sabe, tornado assim por estar frente ou mais alto; segue-se-lhe o passo, ocupando-lhe o lugar imediatamenteinferior por ele deixado, at emparelhar-se-lhe e derrub-lo, assumindo-lhe aposio.

    Inevitavelmente, porque no permanecem espaos vazios nosrelacionamentos humanos, enquanto, por sua vez ascende, deixa o degrauaberto que logo estar ocupado por aqueloutro que lhe ser o substituto.

    O triunfo de hoje o prlogo do desencanto e das lgrimas de amanh;sorrisos se tornaro esgares, e aplausos far-se-o apedrejamentos,considerando-se, na populao humana, as mesmas aspiraes e osequivalentes conflitos.

    A criatura so as suas necessidades.

    O psiclogo americano pragmatista, William James, classificou os bitiposhumanos em espritos fracos e fortes, enquanto Ernesto Kretschmer, psiquiatraalemo, considerou as personalidades de acordo com a compleio doindivduo em pcnico, ou pessoa redonda; atltico, ou pessoa quadrada; e oastnico, pessoa delgada. Face a tal concluso, afirmou que h espritosesquizides e ciclotmicos, enquanto Carlos Gustavo Jung os considerouintrovertidos e extrovertidos.

    Em todos h uma nsia comum: os fracos fortalecerem-se, os ciclotmicosharmonizarem-se e os introvertidos exteriorizarem-se.

    As psicoterapias so aplicadas conforme as revelaes do inconsciente,arrancando dos arquivos do psiquismo os fatores que geraram os traumas edeterminaram os conflitos, interpretando as ocorrncias dos sonhos nosestados onricos e as liberaes catrsicas nas demoradas anlises.

    Nem sempre, porm, sero encontradas as matrizes de tais patologias,que esto profundamente registradas no Esprito, como decorrncia de condu-tas, de atividades, dos sucessos das reencarnaes passadas.

    Somente a sondagem cuidadosa dos arcanos do ser pretrito enseja oencontro das causas passadas, geradoras dos problemas atuais.

    Uma anlise transpessoal libera-o dos tabus, inclusive, da viso distorcidada realidade, que deixa de ser a exclusiva expresso terrena, para transport-la para a vida imortal, precedente ao corpo e a ele sobrevivente, demonstrandoque o xito, o triunfo, o fracasso, o insucesso, no se apresentam conforme aproposta social imediatista, porm outra mais significativa e poderosa.

    Convm determinar-se que o xito material pode significar fracassoemocional, espiritual, e, s vezes, o insucesso, a aparente falta de triunfoconstitui a plena vitria sobre si mesmo, suas paixes e pequenezes, umaforma de opo para o crescimento interior, ao invs do empenho peloamealhar de moedas e reunio de ttulos que no acalmam as emoes nemtranqilizam as ambies.

    Certamente, a criatura deve possuir e dispor de recursos necessrios parauma vida saudvel, consentnea com o grupo social no qual se encontra. Noentanto, o xito no pode ser medido em contas bancrias, prestgio na

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    comunidade e destaque poltico. Da mesma forma, no factvel definir-se porfracasso a ausncia desses trofus.

    Os homens e mulheres plenos, vitoriosos de todos os tempos, venceram-se, completaram-se e, sem qualquer tipo de conflito, optaram pela realizaointerior, respeitando todas as aspiraes e direitos dos demais indivduos,porm, a eles prprios impondo-se a auto-realizao que lhes propiciou sade

    mesmo quando enfermos , felicidade embora perseguidos algumasvezes e xito isto , a vitria no que anelavam, apesar de levados aomartrio.

    A viso transpessoal do xito e do fracasso est nsita na pessoa interior,real, a criatura harmonizada consigo mesma, com as outras pessoas, com anatureza e a vida.

    xito encontro, enquanto fracasso domnio pelo ego.O xito gera paz, e o fracasso inquieta.Auto-analisando-se, cada qual se descobre, assim dando-se conta do

    triunfo ou do insucesso, podendo recomear para alcanar o xito, nunca o fra-casso.

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    10Dificuldades do ego

    Caracterstica iniludvel de imaturidade psicolgica do indivduo, a suapreocupao em projetar o prprio ego.

    Atormentado pela ausncia de valores pessoais, quo inseguro nocomportamento, apega-se s atitudes afugentes da autopromoo, passando aviver em contnua inquietao, porque sempre insatisfeito.

    Afirmou Freud que o sofrimento inevitvel, considerando os grandesproblemas que aturdem os seres nas vrias expresses em que seexteriorizam.

    De fato, a transitoriedade da vida fsica responde pela morte rpida dailuso e pela destruio dos seus castelos, produzindo lamentveis estadosemocionais naqueles que se lhes agarram com todas as veras. Logopercebem-se de mos vazias, sem qualquer base em que apiem e firmem asaspiraes que acalentam.

    As diversas enfermidades e as variadas frustraes, que se radicam no

    ego, tm, porm, uma historio-grafia muito larga, transcendendo a existnciaatual, remontando ao passado espiritual do ser.No conhecendo a gnese das mesmas, o indivduo centraliza, nas

    necessidades de afirmao da personalidade, os seus anseios, derrapando nasvalas da projeo indbita do ego.

    Quando no se consegue aparecer atravs das realizaes edificantes,mascara-se, e promove situaes que vitaliza no ntimo, desde que chame aateno, faa-se notar.

    Em alguns casos, vitimado por conflitos rudes, elabora estados narcisistase afoga-se na contemplao da prpria imagem, em permanente estado dealienao do mundo real e das pessoas que o cercam.

    Patologicamente sente-se inferiorizado, e oculta o drama interior partindo

    para o exibicionismo, como mecanismo de fuga, sustentando-se em falsospedes-tais que desmoronam e produzem danos psicolgicos irreparveis.A criatura que no se conhece, atende ao ego, buscando tornar-se o

    centro das atenes mediante tricas e malquerenas, que estabelece com rarahabilidade, ou envolvendo-se nos mantos que a tornam vtima, para, dessemodo, inspirar simpatia, colimando o objetivo de ser admirada, tida em altaconta.

    Toda preocupao que se fixa, conduzindo a autopromoo, constitui sinalde alarme, denunciando manifestao dominadora do ego em desequilbrio,que logo gerar problemas.

    A conscientizao da transitoriedade da existncia fsica conduz o ser aocooperativismo e natural humildade, tendo em vista as realizaes que

    devem permanecer aps o seu desaparecimento orgnico.Por outro lado, o autodescobrimento amadurece o ser, facultando-lhe

    compreender a necessidade da discrio que induz ao crescimento interior, plenitude.

    Toda vez que algum se promove, chama a ateno, mas no se realiza.Pelo contrrio, agrada o ego e fica inquieto observando os competidoreseventuais, pois que, em todas as pessoas que se destacam v inimigos, faceao prprio desequilbrio, assim engendrando novas tcnicas para no ficar emsegundo plano, no passar ao esquecimento.

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    O tormento se lhe faz to pungente e perturbador que, em determinadasreas das artes, criou-se o brocardo: Que se fale mal de mim; mas que se fale,numa asseverao de que a evidncia lhes preenche o ego, mesmo quando negativa.

    A Psicologia Transpessoal, diante de tal estado, prope uma reviso doscontedos da personalidade, do ego, estabelecendo, como fator essencial no

    processo da busca da sade, a conquista do ser pleno, realizador,identificando-se preexistente ao corpo e a ele sobrevivente, sem o que a vidase lhe torna, realmente, um sofrimento inevitvel.

    Nas faixas da evoluo mais densa, em que estagia a grande molehumana, o sofrimento campeia, por ser uma forma de malho e de bigorna quetrabalham o indivduo, nele insculpindo o anjo e arrancando-lhe o demnio doprimitivismo a predominante.

    Cime, ressentimento, inveja, dio, maledicncia e um largo cortejo deemoes perturbadoras so os filhos diletos do ego, que deseja dominao e,na nsia de promover-se, nada mais logra do que projetar a prpria sombra,profundamente prejudicial, inqua.

    A superao dessa debilidade moral, dessa imaturidade psicolgica

    ocorrer, quando o paciente, de incio, vigiar as nascentes do corao,conforme props Jesus, o Psicoterapeuta Excelente, realizando um trabalho decrescimento emocional e uma realizao pessoal plenificadores.

    Qualquer escamoteamento da situao mrbida constitui risco para ocomportamento, face aos perigos que so produzidos pelos problemas do egodominador.

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    11Neurose

    Enfermidade apirtica, decorrente de perturbaes do sistema nervoso,sem qualquer leso anatmica de vulto, a neurose mal que perturba expressi-

    vo nmero de criaturas da mole humana.Com caractersticas prprias e sem causalidade cerebral, desequilibra aemoo e gera desajustes fisiolgicos sem patognese profunda.

    Para um melhor, breve, estudo metodolgico, recorremos a Freud, queclassificou as neuroses em dois grupos, embora a complexidade moderna deconceitos e variedades ora apresentados por especialistas.

    O clebre mdico vienense, que muito se interessou pelas neuroses,estabeleceu que as h verdadeiras e psiconeuroses. As primeiras decorrem defixaes e presses de vria ordem, desajustando o sistema nervoso, sem quenecessariamente o lesionem. Ao lado do mecanismo psicolgico causal,apresentam uma temporria perturbao orgnica. So elas: a neurastenia, ahipocondria, as de ansiedade, as de origem traumtica... Ao se instalarem,

    apresentam estados de angstia, de ansiedade, de insegurana, de medos...As segundas, porque de origem psicognica, conduzem a uma regresso defixaes da infncia, expressando-se como manifestaes de histeriaconversiva, ansiosa, incluindo os estados obsessivo e compulsivo.

    As neuroses, porque de apresentao sutil no seu comeo tiquesnervosos, repeties de palavras ou de gestos, dependncias de bengalaspsicolgicas, fixaes psquicas que se agravam grassam, na sociedade,especialmente em decorrncia de exigncias do grupo social e da coletividade,em formas de presses reais ou aparentes, que, nos temperamentos frgeis,produzem desarmonia, dando curso a inquietaes, s vezes, alarmantes.

    comum fazerem-se acompanhar de episdios e fenmenos somticosmui variados, como taquicardias, prises de ventre, dores que parecem reais. A

    medida que se agravam, podem levar a paralisias, distrbios de postura, defonao, movimentos desconexos...Quando se apresentam com manifestaes fbicas medos de

    ambientes fechados, de altura, de doenas, amnsia, etc. trazemcomponentes graves, de mais difcil recuperao.

    O quadro dos estados histricos, conversivos e ansiosos, radica-se napsique e tende a avanar para as fixaes obsessivas e compulsivasatormentantes.

    Generalizando a sua etiopatogenia, tambm podem manifestar-se emcarter misto, isto , verdadeiro e psicognico, simultaneamente, assumindopropores mais srias, a um passo dos estados psicticos, s vezes,irreversveis.

    No raro, as neuroses apresentam-se com carter de culpa, atormentandoo paciente com a inquietante idia de que, sobre todo mal e insucesso que lheacontece, a responsabilidade pertence-lhe. A manifestao do pensamento deculpa tem um significado autopunitivo, perturbador, que dissocia apersonalidade, fragmentando-a.

    Outras vezes, expressam-se como forma de transferncia, e anecessidade de culpar outrem aturde o paciente, que se apresenta sempre nacondio de vitima, buscando, fora de si, as razes que lhe justifiquem asocorrncias mnimas ou mximas que o desagradem. Quando ele no encontra

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    um responsvel prximo e direto, apela para a figura do abstrato coletivo: asociedade, o governo, Deus...

    Os estados neurticos so profundamente inquietadores e desarmonizamo psiquismo humano, necessitando receber conveniente terapia, bem comoperseverante esforo de recomposio psicolgica.

    Aprofundando-se a sonda da inquirio na psicognese dos fenmenos

    neurticos, defrontar-se-o as causas reais na conduta anterior do paciente,que atrelou a conscincia a comportamentos desvariados e passouinjustamente considerado, recebendo simpatia e amizade dos amigos econhecidos, quando deveria haver sido justiado, transferindo os receios einseguranas, que permaneceram camuflados por aparncia digna para a atualreencarnao, na qual assomam do inconsciente profundo as culpas e os con-flitos que ora se manifestam como processos reparadores.

    Eis por que, ao lado das neuroses, surgem episdios de obsessoespiritual que agravam a dbil constituio do enfermo, empurrando-o paraprocessos longos de loucura.

    Assim ocorre, porque as vtimas das suas aes ignbeis morreram,porm no se consumiram, e porque prosseguiram vivendo, reencontram, por

    afinidade de conscincia de dvida-e-cobrana, os adversrios, inflingindo-lhesento maior soma de aflies, a princpio telepaticamente, depois sujeitando-ospelo controle mental e, ainda, mais tarde, de natureza fsica, quando ocorremas subjugaes lamentveis.

    A conscincia inquieta, que reflete na psicologia do indivduo os estadosneurticos, encontra-se vinculada a acontecimentos pretritos, negativos, quoinfelizes.

    As molstias, particularmente na rea psquica, instalam-se, por seremdoentes da alma os seus portadores.

    Toda terapia liberativa deve ter como recurso de auxlio a renovao moraldo paciente, sua reeducao atravs das disciplinas espirituais da orao, dameditao, da relevante ao caridosa, por cujo meio ele se lenifica e seapazigua com aqueles que o odeiam e consigo mesmo, por constatar aexcelncia da prpria recuperao.

    Lentamente, a Psicologia Transpessoal identifica esses seres personalidades anmalas, dplices, etc. que interferem no comportamentodas criaturas humanas e as perturbam, no sendo outros, seno, as almas doshomens que antes viveram na Terra e permanecem vivos.

    Como terapia preventiva a qualquer distrbio neurtico, a auto-anlisefreqente, com o exame de conscincia correspondente, desidentificando-sedas matrizes perturbadoras do passado, e abrindo-se s realizaes deenobrecimento no presente, com os anseios da conquista tranqila do futuro.

    Certamente, conhecendo a etiopatogenia das enfermidades em geral,

    Jesus asseverou: A cada um segundo as suas obras...Atuar sempre com segurana aps saudvel reflexo, pensar com retidoe viver em paz consigo mesmo, representam o mais equilibrado e expressivocarter psicolgico de criatura portadora de sade mental.

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    12Autocompaixo

    Psicologicamente, o homem que cultiva a autopiedade desenvolvetormentos desnecessrios que o deprimem na razo direta em que a eles se

    entrega.Reflexes sobre dificuldades pessoais constituem fenmeno auxiliar paraaes dignificadoras, facultando a identificao dos recursos disponveis, bemcomo avaliao das atitudes que redundaram em insucesso ou desequilbrio, afim de as evitar no futuro ou corrigi-las quanto antes.

    Toda aprendizagem assenta-se nos critrios do erro e do acerto,selecionando as experincias consideradas saudveis, benficas, que se fixampela natural repetio.

    Desse modo, os insucessos so patamares que propiciam avanos paraque se alcancem degraus mais elevados.

    Quando, porm, o indivduo elege a posio de vtima da vida, assumindoa lamentvel condio de infelicidade, encontra-se a um passo de perturbaes

    emocionais graves, logo derrapando em psicopatologias devastadoras.A mente, conforme seja acionada pela vontade, torna-se crcere sombrioou asas de libertao, e ningum se lhe exime influncia.

    Conduzida pelos escuros corredores da lamentao, desatrelacondicionamentos que aprisionam o ser demoradamente.

    Por isso mesmo, o cultivo da autocompaixo, mediante a insistentereclamao em torno dos acontecimentos da vida, demonstrando insatisfaosistemtica, transforma-se em mecanismo masoquista de perturbadorapresena no psiquismo. A pseudo-aflio mantida converte-se em motivo dealegria, realizando um mecanismo de valorizao pessoal, cujo desviocomportamental plenifica o ego.

    Todo aquele que se faculta a autocompaixo neurtica portador de

    insegurana e de complexo de inferioridade, que disfara, recorrendo,inconscientemente, s transferncias da piedade por si mesmo, sem qualquerrespeito pelas demais pessoas. Desenvolve os sentimentos de indiferenapelos problemas dos outros, fechando-se no crculo diminuto da personalidademrbida.

    No seu atormentado ponto de vista, somente a sua uma situaodolorosa, digna de apoio e solidariedade. E, quando essas expresses desocorro lhe so dirigidas, reage, recusando-as, a fim de permanecer na posturade infelicidade que o torna feliz.

    Aquele que se entrega autocompaixo nunca se satisfaz com o que tem,com o que , com os valores de que dispe e pode movimentar. No raro,encontra-se mais bem aquinhoado do que a maioria das pessoas no seu grupo

    social; no entanto, reclama e convence-se da desdita que imagina,encarcerando-se no sofrimento e exteriorizando mal-estar volta, com quecontamina as pessoas que o cercam ou que se lhe acercam.

    Os grandes vitoriosos do mundo lutaram com tenacidade para romper oslimites, os problemas, as enfermidades, os desafios. No nasceram fortes; tor-naram-se vigorosos no fragor das batalhas travadas. No se detiveram nalamentao, porque investiram na ao todo o tempo disponvel.

    Milton, o poeta cego, prosseguiu escrevendo excelentes poemas, ao invsde lamentar-se; Beethoven continuou compondo, e com mais beleza, aps a

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    surdez total; Chopin, tuberculoso, deu seguimento s msicas ricas de ternura,entre crises de hemoptises, e Mozart, na misria, sofrendo competiesultrizes, traduziu para os ouvidos humanos as belas melodias que lhe vibravamna alma...

    Epcteto, escravo e doente, filosofava, estico; Demstenes, gago,recorreu a seixos da praia, colocando-os sobre a lngua, para corrigir a dico;

    Steinmetz, aleijado, contribuiu para o engrandecimento da Quimica...Franklin D. Roosevelt, vitimado pela poliomielite, tornou-se presidente daAmrica do Norte e colaborou grandemente para a paz mundial durante a Se-gunda Guerra; Helen Keller, cega, surda e muda, comoveu o mundo com a suacoragem, cultura, e amor a Deus, ao prximo, vida e a si prpria...

    A galeria expressiva e iluminada pelo gnio e pela coragem desseshomens e mulheres extraordinrios.

    Quando se mantm a autocompaixo, extermina-se o amor, no seamando, nem tampouco a ningum.

    O homem tem o dever de aprofundar meditaes em torno das aflies edos seus problemas, a fim de os superar.

    A desenvolvimento saudvel do ser psicolgico impele-o confiana e o

    induz atividade para a aquisio do sentido da vida, da sua finalidade.Quem de si se compadece, recusa-se a crescer e no luta, estagiando na

    amargura com a qual se compraz.Fator de desintegrao da personalidade, a auto-compaixo deve ser

    rechaada sempre e sem qualquer considerao, cedendo espao mental paraos tentames que levam vitria, sade emocional e harmonia ntima.

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    13Queixas

    O golfo de Corinto, na Grcia, regio de beleza mpar. As suas guas,em tonalidade azul-turquesa, parecem um espelho, emoldurado pelas

    montanhas que lhes resguardam a tranqilidade multimilenaria.No monte Parnaso, em lugar de destaque, erguia-se o santurio de Delfos,o mais importante da poca, onde se cultuava Apolo, o deus da razo, da cul-tura, da luz.

    Na mitologia grega arcaica, Apolo era o smbolo do conhecimento,eqacionador dos enigmas e dos conflitos. Para o seu templo, emconseqncia, acorriam multides aturdidas e ansiosas em busca deorientao, de segurana emocional, de soluo para os problemas.

    Psicanaliticamente, era um reduto onde nasciam as identificaesinconscientes do ser, organizadoras do eu. Ali, as sibilas, que transmitiam asrepostas do deus evocado, desempenhavam papel importante nocomportamento dos consulentes, bem como das cidades-estados que lhes

    buscavam ajuda, inspirao.Era o santurio no qual se sucediam os apelos, e se multiplicavam asqueixas dos desesperados, dos que necessitavam de so